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por Gal Oppido
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VISUALIDADES PLURAIS As relações que estabelecemos com territórios da cidade, incluindo vínculos com as pessoas e grupos que habitam o espaço urbano, envolvem camadas e profundidades diversas. Afetos, sons, cheiros e memórias compõem um repositório multissensorial comumente acionado quando, para expressá-las, recorremos às linguagens artísticas. Se, no caso da fotografia, a particularidade do suporte coloca em dúvida as possibilidades de transpor para uma imagem (na perspectiva do artista) ou a de depreender de uma imagem (na perspectiva do público) sensações que ultrapassam o domínio do visível, talvez seja necessário evocar uma compreensão mais plural do que se entende por visualidade. Tomados frequentemente como sinônimos, os verbos “ver” e “olhar” podem engendrar campos de significação distintos. Lado a lado, evidenciam a diferença entre uma ação espontânea, inerte e passiva e outra que exige disposição, atenção e reflexão. O exercício que permite a elaboração e a apreensão de dimensões não literais dos registros visuais implica em somar, ao ato involuntário de enxergar, a intencionalidade de perceber e de se relacionar. Nesse esforço, a suspensão temporária dos próprios referenciais, a partir de um duplo movimento de estranhar o corriqueiro e familiarizar-se com o desconhecido, orienta o observador que deseja acessar os aspectos menos perceptíveis de um dado contexto, seja uma realidade distante, seja o entorno imediato. Imbuído dessa postura, o fotógrafo Gal Oppido transitou pela circunvizinhança do Sesc Campo Limpo e produziu registros que, agora, são apresentados – e, de certa forma, devolvidos – à comunidade. Ao destacar visualidades possíveis, a exposição Ver/Olhar enseja, também, a descoberta de mundos latentes, potencializando o reconhecimento estranhado de paisagens, pessoas e cenas cotidianas, que expandem e aprofundam relações de pertencimento. sesc são paulo
“Meu quintal é maior do que o mundo”, escreveu o poeta Manoel de Barros. Entender a poética do universo cotidiano é um exercício multisensorial: nosso corpo absorve milhares de informações, selecionamos e identificamos aquelas que nos dão prazer, outras que nem tanto e uma infinidade de sensações sobre as quais pouco temos a dizer naquele momento mas podem conter futuros interesses conforme caminhamos pela vida. Rappers, slammers e repentistas usam de suas observações diárias ao traduzir para o canto falado sensações que nos tocam de diferentes maneiras, assim como os grafiteiros que a partir de recursos simples nos oferecem peças gráfico-visuais que alimentam a cena urbana. A maneira como nos vestimos também é uma maneira de nos expressar publicamente, seja pelo desenho das vestes, seja pela textura que nos dá informações visuais e táteis. O aroma, o cheiro, a fragrância também podem levar a pensar numa imagem: o preparo do café da manhã pode ser representado por uma cena da cozinha, a imagem de uma pessoa pode ser estimulada a partir de seu perfume ou o odor sinistro de um rio ou represa pode ser expresso a partir de dejetos abandonados na sua margem... Caetano Veloso na canção Sampa e Criolo em Não Existe Amor em SP traduzem poeticamente o que seus sentidos processaram a partir da observação da nossa cidade. Todos os sentidos e suas sensações podem também ser expressos de maneira particular por fotografias e é este o estímulo que moveu este ensaio captado com telefone celular, onde o “ver” fisiológico dá lugar ao “olhar” sensitivo, afetivo e social.
gal oppido
Quando fomos convidados pelo Sesc a acompanhar o fotógrafo Gal Oppido para fotografar lugares e pessoas dos bairros no entorno da unidade Campo Limpo ficamos pensando no que seria interessante que as pessoas conhecessem. Quais são os lugares e pessoas que constroem a história dessa região? Que características têm seus moradores? Quem são as personagens que encontramos nas ruas e quais os lugares que ficam na nossa memória e que são reconhecidos por muitos? O que seria interessante mostrar da nossa região? Fomos traçando um roteiro, tentando incluir bairros que circundam o Sesc, mas, no decorrer, muitas vezes fomos surpreendidos e desviados pra outros novos lugares. Vivemos nessa região desde que nascemos. Aqui crescemos, aqui criamos vínculos afetivos, construímos nossa família e nosso trabalho, mas fomos a lugares que nunca nos chamaram a atenção antes e que, através do olhar curioso, atento, sensível e artístico do Gal, nos pareceram um outro lugar. As pessoas nem sempre querem ser fotografadas. Alguns até posaram para foto, mas outros, um tanto resistentes e desconfiados, foram, depois, seduzidos pela gentileza e delicadeza com que o Gal os abordou. Houve muito que se descobrir e conhecer nos bairros, nas ruas e nas histórias que ouvimos de cada pessoa fotografada. Nas frestas dos muros, nas sombras, nas folhas, nas paredes e nas marcas que cada um carrega. Foi uma ótima experiência sermos turistas por uns dias no nosso próprio bairro e poder contribuir de alguma forma para esta exposição.
robson padial e suzi aguiar
GAL OPPIDO Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP), foi docente da disciplina de Linguagem Visual na Faculdade de Arquitetura da Universidade Católica de Campinas, fotógrafo do Teatro Municipal e do Balé da Cidade de São Paulo, e fotógrafo colaborador da Vogue Brasil. Vencedor do Prêmio Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em 1991 como melhor fotógrafo pelo conjunto da obra. Vencedor do prêmio “Best of Category 2001 - Printing Industries of América” pelo projeto gráfico e fotografias do portfólio da Editora Gráfica TAKANO, Chicago, EUA. Desde 2001, ministra curso de Linguagem Fotográfica no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM-SP.
ROBSON PADIAL (BINHO) Poeta, autor do livro “Postesia” e co-autor do livro “Donde Miras Dois Poetas e Um Caminho”. É o idealizador do Sarau do Binho que acontece há 15 anos na zona sul de São Paulo e também da Expedición Donde Miras (Caminhada Cultural pela América Latina), da Bicicloteca (Biblioteca em Bicicletas) e do projeto Postesia (Poesia nos Postes). É um dos produtores da FELIZS – Feira Literária da Zona Sul.
SUZI AGUIAR Educadora, articuladora e produtora de coletivos. Organiza o Sarau do Binho e participa de projetos de incentivo à leitura como a Bicicloteca, Livro no Ponto e FELIZS - Feira Literária da Zona Sul.
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LEGENDAS PÁGINAS Capa - Dona Nice na Agência Solano Trindade - Vila Pirajussara 2, 3 - Detalhe de grafitte 8 - Johny Mutcho - Jardim Helga 9 - Campo de futebol na Favela Pantanal, ao lado da ONG Capão Cidadão, no Capão Redondo 10 - Agência Solano Trindade - Vila Pirajussara 11 - Nino Grafiteiro - Vila Prel 12 - Ferro-velho na Av. Carlos Lacerda 13 - Banheiro no Bar do Lucas, no Jd. Umarizal 14, 15, 16 - Parque Santo Dias - Capão Redondo 17 - Detalhe ferro-velho 18 - Viela no Capão Redondo 19 - Gustavo de Moura e Yago Felipe Meireles Ferreira - Terminal de Ônibus Campo Limpo 20, 21 - Pano de molho em balde 22 - Estrada do Campo Limpo, em frente ao Terminal de Ônibus Campo Limpo 23 - Natanael C. Silva no Parque Santo Dias - Capão Redondo 24,25 - Binho na Agência Solano Trindade - Vila Pirajussara 26 - Thiago Morales - Próximo ao terminal de Ônibus Campo Limpo 27 - Detalhe de braço da Dona Maria - Vila Prel 28 - Estruturas em bambu 29 - Parque de diversões na Praça do Campo Limpo 30, 31 - Lava-rápido no Jardim Rebouças 32 - Bacias na feira no Jardim Umarizal 33 - Casa de artigos religiosos, Pilão de Ouro, na Estrada do Campo Limpo, Jardim Taboão 34 - Alex Barcelos na Agência Solano Trindade - Vila Pirajussara 35 - Cleydson Catarina no Espaço Clariô de Teatro - Taboão da Serra 36, 37 - Copo de café 38, 39, 40, 41 - Campo de futebol, na Favela Pantanal, ao lado da ONG Capão Cidadão, no Capão Redondo 42, 43 - Vista parcial de paisagem - Capão Redondo 44 - Reflexo no capô de um carro 45 - Garrafa carbonizada
SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO ADMINISTRAÇÃO REGIONAL NO ESTADO DE SÃO PAULO PRESIDENTE DO CONSELHO REGIONAL
Abram Szajman DIRETOR DO DEPARTAMENTO REGIONAL
Danilo Santos de Miranda SUPERINTENDÊNCIAS TÉCNICO-SOCIAL Joel Naimayer Padula COMUNICAÇÃO SOCIAL Ivan Giannini ADMINISTRAÇÃO Luiz Deoclécio Massaro Galina ASSESSORIA TÉCNICA E DE PLANEJAMENTO Sérgio José Battistelli GERÊNCIAS ARTES VISUAIS E TECNOLOGIA Juliana Braga de Mattos ESTUDOS E DESENVOLVIMENTO Marta Raquel Colabone ARTES GRÁFICAS Hélcio Magalhães SESC CAMPO LIMPO Mario Fernandes VER OLHAR - GAL OPPIDO CURADORIA Robson Padial e Suzi Aguiar EQUIPE SESC Alberto Brito Meira, Aline Tafner Almeida, Beatriz Esteves
Gomes, Carlo Silva, Carolina Barmell, Heidy Lucia, Ilona Hertel, Karina Musumeci, Leonardo Borges, Luciano Teixeira de Souza, Mario Matos, Nilva Luz, Renato Pereira, Ricardo Paschoal, Thaís Emília T. Marques PRODUÇÃO Marcus Vinícius Santos e Aline Arroyo EXECUÇÃO DO PROJETO CENOTÉCNICO E AUDIOVISUAL Eprom e DR Multimídia
18 de junho a 29 de setembro de 2019 terça a sexta, das 13h30 às 21h30 sábado, domingo e feriado, das 10h às 18h30 Sesc Campo Limpo Rua Nossa Senhora do Bom Conselho, 120 CEP: 05763-470 - São Paulo - SP tel. (11) 5510 - 2700
/SESCCAMPOLIMPO
sescsp.org.br