Exposição Passo a Passo - A História do Sapato

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EXPOSIÇÃO

PASSOAPASSO a história do sapato Aurora S’Thiago

de 11 a 30 de julho na galeria de artes do sesc londrina

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HISTÓRIA DOS

CALÇADOS 3


a.C. O início – 10.000

Calçado egípcio

Evidências mostram que a história do sapato começa a partir de 10.000 a.C., no final do período paleolítico (pinturas em cavernas na Espanha e no sul da França fazem referência ao calçado). Proteção para os pés das intempéries e para caminhar com mais segurança. Egípcios • 1539 – 1075 a.C. Ascensão e distinção social As sandálias são os primeiros calçados. Os faraós usavam sandálias e o povo, pés nus. Os materiais das sandálias eram de folhas de papiro trançadas, com detalhes diversos. O trabalho com peles se inicia com os egípcios, que se apropriam dos segredos de pintura dos persas e babilônicos. As técnicas artesanais de fabricação de calçados evoluem e a forma das sandálias indica que o indivíduo pertencia a uma certa posição.

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História

antiga

Mesopotâmia • Quarto milênio a.C. a 140 a.C. Sapatos de couro cru, amarrados aos pés por tiras do mesmo material. Os coturnos eram símbolo de alta posição social. Grécia • VI a.C a IV a.C Os guerreiros usavam sandálias amarradas nos tornozelos. Não diferenciavam o pé direito do esquerdo. A diferença entre sexos se dava pela coloração; as sandálias femininas eram mais coloridas. Sandália greco-romana séc. V a.C.

Roma • 753 a.C a 476 d.C.

Calceus, o tipo de bota usada frequentemente. O vermelho se referia aos oficiais, indo até o uso exclusivo do Imperador. Preto ou branco para os senadores; já as cores pastéis e com ornamento, para as mulheres. O calçado tradicional das legiões era a bota de cano curto que descobria os dedos. Bizantinos • 476 d.C. a 1453 d.C. Gosto pelo luxo. A partir do século IV, as formas mais características eram as pantufas, um tipo de calçado com bicos fechados e sem calcanhar, feitos em sola de couro e a parte de cima com couros coloridos e pontas bem pronunciadas. 5


antiga História

Idade Média • Séc. V a XV Tanto homens como mulheres usavam sapatos de couro abertos, que tinham uma forma semelhante à das sapatilhas. Os homens também usavam botas altas e baixas, atadas à frente e ao lado. O material mais corrente era a pele de vaca, mas as botas de qualidade superior eram feitas de pele de cabra.

Século XII Surgem as Poulaines, que se caracterizavam pelo estreitamento e alongamento das pontas. Quanto mais alto o nível na escala social, maior o bico e eram fabricadas em couros, veludos, brocados e bordados em fios de ouro. Padronização A padronização da numeração é de origem inglesa. O rei Eduardo (1272-1307) foi quem uniformizou as medidas. O salto Criado para elevar a altura das mulheres, os primeiros saltos foram em cortiça em forma de cunha, acompanhando o formato do arco do pé, elevando apenas o calcanhar. As plataformas e os saltos estão desde a Antiguidade associados a situações solenes e rituais, que estão relacionados a reverências e comportamento formalizados. As silhuetas ficam sensuais com o calcanhar elevado, projetando o tórax para frente e ressaltando os seios. Na França, Luiz XIV e Luiz XVI introduziram modelos de calçados masculinos de salto mais alto e quadrado, fivelas e ornamentos.

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séculos Através dos

Renascimento • Séc. XV e XVI A proteção e a praticidade dos sapatos privilegiam os sacerdotes, que usavam sapatos fechados de cor púrpura para se destacar dos fiéis durante as missas, enquanto o povo usava sandálias. Séculos XV e XVI Com a burguesia, os calçados tornam-se uma peça bastante trabalhada no vestuário. Cada roupa exige um calçado e este é fabricado com os mesmos tecidos e ornamentos. Os sapatos masculinos têm formas mais quadradas e largas, que permitem maior transpiração e conforto para os pés. As botas, um calçado inicialmente de uso dos exércitos, chegavam até a coxa. Século XVII No apogeu veneziano, luxo e riqueza com marcada influência oriental marcam os materiais empregados na fabricação, brocados, veludos e adamascados. Surgem as ciopines, que são calçados com as solas aumentadas com a intervenção do pattino, uma proteção para contato com o solo e a água. A primeira referência conhecida da manufatura do calçado na Inglaterra é de 1642, quando Thomas Pendleton forneceu 4.000 pares de sapatos e 600 pares de botas para o exército. As campanhas militares desta época iniciaram uma demanda substancial por botas e sapatos. Século XVIII Calçados em produção artesanal, para as novas exigências de praticidade e funcionamento. Surge o calçado para o trabalho e para o passeio. O estilo feminino são as botas em couro ou cetim, com saltos robustos e fechamentos laterais, com carreiras de pequenos botões ou amarrações com laços. Nos masculinos, todos são em couro preto e com elástico, que os torna mais confortáveis. 7


UM OLHAR SOBRE O

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SÉCULO XX


1900-1920

Os primeiros anos, talentos e temperamentos No início de 1900, a tônica é o progresso. Depara-se com um modo de vida inédito e moderno. Vive-se uma grande revolução cultural da sociedade. Surge a figura do estilista. Os sapatos têm estilo boneca, bicos arredondados, fechamentos em botões, bicolores, laços e peles como ornamentos, os saltos são grossos e baixos, explora-se o contraste entre as texturas, brilho versus opaco. Nos anos 20, Coco Chanel cria o tailleur e os sapatos brogue ingleses, bicolores com salto. Cria um sapato aberto no calcanhar que se torna clássico, o sapato chanel. Biqueiras em tons escuros nos sapatos claros, escolhe o tom pele como cor e assim diminui a proporção dos pés. As novas tecnologias são incorporadas e materiais inéditos são atualizados na fabricação. Sobre a base do decolletée, no clássico scarpin colocam-se saltos mais altos, com desenhos mais diversificados. Os novos estilistas Chanel, Poiret, Dior e Elza Schiaparelli criam uma nova era, reinventam formas e transformam o calçado em objeto de desejo. Surge um novo personagem – a moda: o bottier O primeiro grande bottier foi André Perugia. Criou sapatos black and white, sandálias deslumbrantes com tiras fininhas. Pinet se estabeleceu em Paris em1855 e cria o salto Pinet, mais fino e delicado. Mas, a nata parisiense do começo do século era Yanturni quem calçava. Os sapatos dos Estados Unidos ocupavam o primeiro lugar no mundo, contando com o talento de emigrantes da Itália. 9


TEMPOS

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MODERNOS


1920-1930

O MUNDO DE PERNAS PARA O AR Mulheres ativas, igualdade entre sexos, amor livre, e muito jazz. O culto à simplificação, aos esportes, ao ritmo e, sobretudo, a uma nova liberdade.

Tempo de estrelas Hollywood se transformou numa verdadeira fábrica de sonhos. O italiano Salvatore Ferragamo cria linhas geométricas caracterizadas por tiras que se prendiam no peito do pé, recortes, cortes e aberturas, com saltos rasos, médios ou altos. O pisar com segurança e estabilidade fazia as cabeças no pós-guerra. A escassez de couro como matéria-prima obriga a busca de novos materiais. Ferragamo é responsável pela introdução do uso interno do aço para suportar o arco do pé e adota a ráfia, o celofane, o crochê, a cortiça e o plástico.

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1930-1940

LUXO, RECESSÃO, MÚSICA E REPRESSÃO Tudo na sua hora e no devido lugar.

Os modelos passam a ser mais detalhados e reinam os bicolores. Surgem o salto plataforma, as tiras e coleiras no tornozelo. Os sapatos mais pesados, com salto grosso, abotinados ou de amarrar são cada vez mais usados, inclusive com calças compridas, sem grande aceitação no Brasil. Nos anos 40, são as musas do cinema e a reconstrução da Europa pós-guerra os grandes incentivadores do consumo de moda. Nos calçados, os bicos redondos, as plataformas em madeira recobertas de couro dominam. Sandálias: fetiche e fantasia Altíssimas, de salto plataforma, rebordadas por vidrilhos e paetês, como as usadas por Carmem Miranda. Em cena, as grandes estrelas do sapato Coco Chanel, Elza Schiaparelli, Alix Grès e Jeanne Lanvin. Apesar dos rigores da recessão econômica, continuaram produzindo modelos de alta costura. Mestre na arte de marchetaria, o francês Camille Di Mauro, criou requintados saltos decorativos. Roger Vivier, mestre sapateiro, criou obras de arte para os pés. Entre seus mais fiéis clientes, estava a Rainha Elizabeth II.

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1940-1950

A GUERRA QUEBRANDO CONVENÇÕES E LIBERANDO A MODA Em tempos adversos...imaginação. Materiais alternativos como a cortiça, a madeira e a ráfia revelam-se sedutores e são recebidos como solução de moda. Na América, adaptações de sapatilhas de balé ganham a rua. Livres da influência francesa durante a guerra, Inglaterra e Estados Unidos dão os primeiros passos à construção de sua própria indústria e estilo.

Surgem o famoso stiletto, sapatos de salto alto fino tipo agulha e bicos finos alongados. Cristian Dior e seu colaborador Roger Vivier criam o conceito de vestir o pé e alongar a perna. Perugia, Ferragamo e Jaques Fath são nomes importantes neste período e através destes mestres elaboram-se novas formas, bicos, desenhos de salto e proporções. A era dos Rádios e dos Musicais Arrancando suspiros, os novos sapatos e sandálias provocam sonhos de amor e consumo. As plataformas multicoloridas e a exuberância tropical de Carmem Miranda são pura vitalidade e alegria. E as sandálias de salto tiveram seu momento de glória, com detalhes como turbantes, flores, botões, laçarotes, pedrarias, além da “coleirinha“nos tornozelos.

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1950-1960

Rock e Alta Costura Alguns sapatos foram protagonistas da história dos anos 50 tanto quanto seus usuários ou criadores. James Dean, Marlon Brando, Elvis Presley, Marilyn Monroe, Sophia Loren e Audrey Hepburn. Até Pablo Picasso criou um modelo para Perugia, que produziu em tiragem superlimitada. Os sapateiros da época fazem arte com modelos excêntricos, como o salto mola de Perugia e os saltos bola de Roger Vivier. Os saltos agulha, trabalhados na França e Itália por Ferragamo, recebem o reforço do aço para não quebrarem, sendo decorados com pedrarias, peles, penas de pavão e bordados em geral. O termo salto stiletto surgiu em 1953, o salto agulha em 1955. Marilyn Monroe declara: “Não sei quem inventou o salto alto. Mas toda mulher deve muito a ele”. As mulheres e homens o cobiçavam pela sedução. A imprensa alerta sobre o risco que os saltos são para os ossos e ligamentos dos pés. Chanel, aos 71 anos, volta com sapatos bicolores e baixos, que concorriam com os agulhas.

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1960-1970

Todo poder ao jovem Roupas com mais liberdade de movimento, menos acinturadas, mais retas e soltas, que derivam uma nova tendência para sapatos. Os saltos são altos, retos, baixos e largos, a ponta é mais aguda, adquirindo linhas mais confortáveis. Em 1964, surgem as formas clean, vigorosas e geométricas com faixas de texturas e cores contrastantes, que suavizam linhas arredondadas. Recortes circulares e retangulares se popularizam. Sapatos mais pesados, coordenados para acompanhar roupas mais curtas. Meiascalças lisas, estampadas ou com texturas. No final dos anos 60, as calças passam a ser usadas com botas ou sapatos extremamente femininos, sinalizando a diferença entre o homem e a mulher. Surgem os looks espaciais e os mocassins pretos para jovens.

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1970-1980

O sonho acabou Cultura Hippie, folk, étnico e individualismo.

Plataformas enormes, metalizadas, saltos Anabella, com as cores do arco-íris, botas trançadas com tiras e fitas. As possibilidades dos materiais eram infinitas. Uso dos sintéticos, plásticos, vinil, verniz e todos os tipos de brilho. Materiais naturais, rústicos, como camurça, juta, lona e a corda. Aplicações, bordados, galões, passamarias, estampa de tapeçaria, batik e outros étnicos. Por volta de 1973, surgem os sapatos e sandálias com fitas trançadas nas pernas e a bota em transmutação. Fazem sucesso as espadrilles e alpargatas de lona, camurça e cetim. A partir de 1975, o design fica menos irreverente, dá forma ao estilo. As botas curtas em couro, os sintéticos vão para o solado. Sandálias baixas, altas, altíssimas com tiras finíssimas em tramas sedutoras. Boom do Sportswear Busca do conforto e praticidade. Invasão dos trainings e de todos os trajes de esportes: tênis, mocassins e sapatilhas supercoloridas.

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1980-1990

Ambivalência e sofisticação Os sapatos femininos perdem altura. Calçados fechados com ares masculinos, pesados, baixos e amarrados. As sandálias têm solados grossos e as sapatilhas buscam inspiração nos pés dos camponeses orientais ou nos uniformes colegiais. Os timberlands se multiplicam, vestindo homens e mulheres, em couro, camurça de sola crepe. É o bom gosto andrógino em resposta à agressividade viril as botinhas de trabalho. DOC Martens As botas Doc Martens criadas para os operários viram acessórios cult. Os primeiros a usar foram os gays e depois os rebeldes, para então serem copiadas pelos estilistas. É o jogo de contrastes criando um novo erotismo. Ambivalência é a palavra correspondente à sexualidade moderna. Pop star, um estilo As botinhas de verniz e os sapatos de salto de Madonna refletem pelo design o erotismo implícito em suas canções. A androginia de Prince e Michael Jackson é copiada. O estilo kitch de Elton John e as botinas pontiagudas de Mick Jagger viram modelos. No Brasil, os cantores sertanejos lançam suas etiquetas. A força dos esportes Nike, Reebok, Adidas, Puma, Alpargatas, nasce o calçado de maior status da década. Tenistas, ginastas, jogadores são os novos ídolos. A alta tecnologia desenvolvida pela indústria, os novos materiais sintéticos criam novos tênis, modelos diferentes para diversas funções. 17


1990 Fim de século e o mundo não acabou Mistura de estilos e espontaneidade marcaram esSa década.

De Versace a Gap, de John Galliano e Gaultier a Alexandre Mc Queen, a Ocimar Versolatto e Prada. É a década da sandália Havaiana, da Alpargatas com grande estilo. Em 1994, elas passam a ser policromáticas e ganham variações fashion. Sapatos muito leves e de salto fino atingiram a sua plenitude. As mules voltavam. No calçado masculino, marcaram presença as sandálias e os sapatos abertos em forma de babuchas, para serem usadas no verão. Impulsionados por uma vida saudável, de culto ao corpo, nascem os calçados NIKE, ALL STAR, REEBOK, ADIDAS, PUMA, todos eles alcançando um grande brilho e notoriedade. Existe agora um calçado para correr, outro para dançar, outro para caminhar e ainda outro para o seu desporto preferido.

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Anos 2000

Tempos de Shoe–Mania Manolo Blahnik, Christian Louboutin e Jimmy Choo, designers de sapatos femininos de altíssimo luxo criam modelos para a smexy, a mulher esperta e sexy. Sobem nas passarelas pontas bicudas chiquérrimas, fashion-fetichistas em remake dos anos 50. Voltam os laços, paetês e bordados. A influência técnica oriental criou uma vertente de onda de excessos, o hippie chic. Explosão de sandálias lindas, da rasteira à plataforma; depois veio a Anabella. Cruzando o chique com o casual, o hit entrou de sola nas Havaianas que ganhou status em todo o planeta. A Melissa, pioneira em1984, tornou-se objeto de desejo e culto. O masculino ganhou o sapatênis com bico quadrado em formato Hugo Boss. Designers como Bruno Magli redesenharam a forma em ângulo agudo com leveza, conforto, futurismo e design. O computador tornou o tênis uma peça democrática e uma obra de versões originais e geniais, conforto e tecnologia, com edições fashion assinadas por Stella McCartney e Issey Miyake. O sapato está galgando novas fronteiras estéticas com nomes como Hussein Chalayan, Martin Margiela, Alexander Mcqueen, Vivienne Westwood e Thierry Mugler. Pesquisa e ousadia movem a moda e hoje a criação do calçado nasce no laboratório. É uma metamorfose ambulante que desafia o equilíbrio e a gravidade com arte e engenharia. Manolo Blahnik, Jimmy Choo, Hugo Boss, Bruno Magli, Manolo, Antonio Berardi, John Galliano, Marc Jacobs, Miu-Miu, Nicholas Guequiere, Zanotti, Sergio Rossi.

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Presidente Sistema Fecomércio Sesc Senac PR Darci Piana Diretor Regional Sesc PR Dimas Fonseca Gerente Executivo do Sesc Londrina Cilas Fonseca Vianna Arte e editoração Núcleo de Comunicação e Marketing: Christiane Kaku Textos Museu Nacional dos Calçados Francal – Edição 40 anos Fotografias e imagens Acervos – Francal Museu Nacional do Calçado Assintecal Adilson Orikassa Exposição de Cerâmica Aurora S’Thiago

Realização:

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