TrajetĂłrias uma breve reflexĂŁo sobre nossas matrizes culturais 2019
Presentes “O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.” Carlos Drummond de Andrade.
Nas culturas tradicionais cabe às gerações mais velhas preservar e transmitir códigos, valores e saberes essenciais para o bem comum. Na falta de modelos educativos formais, esses exemplos de autoridade inspiram uma conduta a ser seguida. Para esses indivíduos - e sociedades - a perda da memória coletiva poderia ser um golpe devastador, pois embotaria as referências de identidade e unidade construídas pela comunidade. No mundo contemporâneo, os lugares e papéis sociais tornaram-se mais flexíveis e intercambiáveis. A despeito de certa hegemonia das mídias de massa, uma pluralidade de vozes alcançou representação, produzindo discursos, questionando valores, experimentando novos arranjos e possibilidades de interagir no mundo. Diante das complexidades em disputa, os mais velhos foram sendo marginalizados; contudo, respeitar suas vivências, e se beneficiar de suas experiências e contribuições, denota uma atitude de convivência e cooperação entre os diversos grupos sociais. É nesse sentido que o Sesc realiza o projeto Trajetórias, com curadoria do jornalista Romualdo da Cruz Filho, que promove um espaço de compartilhamento entre idosos, protagonistas em suas áreas de atuação, e a comunidade piracicabana, tendo como ponto de partida aspectos da vida profissional dos convidados, o cotidiano e a dimensão pública que os colocam em sintonia com as gerações atuais e as questões instigantes da contemporaneidade. A questão do acelerado envelhecimento da população mundial enseja reflexões e transformações urgentes. Envelhecer é um processo natural que começa assim que se nasce. Assim, ao promover a cultura do envelhecimento por meio da valorização de idosos atuantes na comunidade, revelam-se inusitadas pistas de presente, a servir como bússolas, nessa aventura que é viver. Sesc São Paulo
Trajetórias Valorizar sua “gente”, que é sua identidade e a força motriz de uma cidade aberta a novas influências, mas que, ao mesmo tempo, busca preservar seus valores tradicionais como centro irradiador de uma cultura caipira, seja pela diversidade étnica, sotaque específico, pelo rio, pela sua posição geográfica, pelo acaso, pela força política, ou por todos esses fatores somados e misturados. A proposta é promover encontros com pessoas que se dedicam ao mundo do conhecimento e da arte e participam ativamente da dinâmica cultural e social da cidade, refletindo sobre a riqueza do material que produziram ao longo da vida e o valor que ainda preservam como fontes de pesquisa; e avaliar o significado desse longo processo e suas implicações pessoais, pensar sobre o processo de envelhecimento e as lembranças que marcaram o tempo. Os homenageados desta edição são referências em: artes plásticas, arquitetura, música e meio ambiente; escolhidos a partir dos seguintes critérios: reconhecimento público, vasta produção em suas respectivas áreas de especialidade e idade. Os encontros possuem uma estrutura flexível e interativa, com um entrevista ao vivo, complementada por esquetes e intervenções teatrais e musicais. Na conversa com o jornalista, cada convidado poderá falar sobre sua formação, os caminhos trilhados, os artistas e pensadores que os influenciaram, o resultado do seu trabalho e a relação com o seu processo de envelhecimento. Os encontros, dinâmicos e instigantes, realçam o protagonismo social do entrevistado e a importância do seu trabalho para se compreender a sociedade e a “Cultura Caipiracicabana”. O objetivo é provocar o convidado para que surjam histórias ainda pouco conhecidas pelo público em geral e que merecem ser compartilhadas, permitindo assim, um olhar caleidoscópio sob as matrizes culturais de uma cidade em permanente processo de transformação.
Rubens Leite do Canto Braga Dia 27 de março | às 19h Vocacionado para o mundo dos esportes, Rubens Braga nasceu em 23 de novembro de 1929. Formado em educação física pela USP, especializou-se em técnicas esportivas nas modalidades futebol, atletismo, basquetebol e voleibol. Em Piracicaba, além de professor, teve forte atuação política e social, sendo eleito vereador por vários mandatos e exercendo a função de presidente do Legislativo por duas vezes. Dentre seus projetos aprovados durante as legislaturas se destaca a criação da Guarda Mirim de Piracicaba, hoje Instituto Formar. Colecionador por hobby, locutor e comentarista esportivo por natureza, participou também da fundação da Associação dos Cronistas Esportivos de Piracicaba. Destacou-se na organização de campeonatos colegiais do Estado de São Paulo e Jogos Abertos do Interior. Teve uma longa atuação junto ao Esporte Clube XV de Novembro, começou como preparador físico, depois tornou-se técnico. Na diretoria da agremiação, foi vice-presidente, presidente e conselheiro vitalício.
Paulino Fernandez da Silva “Zé Risonho” Dia 29 de maio | às 19h Mineiro de Pirapora do Bom Jesus, Paulino Fernandez da Silva, o popular Zé Risonho, nasceu em 22 de junho de 1931. Iniciou carreira artística nos anos 40, como palhaço do Circo Piolin, em São Paulo. Apaixonado pelo acordeon, sofreu forte influência de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, que lhe sugeriu o nome artístico, pelo seu sorriso fácil. Nos anos 50, ingressou para o mundo do cinema, participando como coadjuvante em diversos filmes, dentre os quais, O Porão das Condenadas, O Homem que Virou Suco e O Desconhecido. Contracenou inclusive com Mazzaropi, antes de sua fama na Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Esteve na Discoteca do Chacrinha, Programa do Silvio Santos, entre outros auditórios populares famosos da TV brasileira. Na TV Record participou da novela Cidadão Brasileiro. Foi tema de um curta-metragem intitulado O Sonho de Zé Risonho. Chegou em Piracicaba em 1955, onde fincou suas raízes.
Otto Jesu Crocomo Dia 26 de junho | às 19h Professor Emérito da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), o piracicabano Otto Jesu Crocomo nasceu em 23 de Setembro de 1932. Aluno do Grupo Escolar Barão do Rio Branco, do Externato São José e do Colégio Piracicabano, é um dos fundadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA). Ingressou na Esalq em 1953. Graduou-se engenheiro agrônomo na Classe 1956. Tornou-se livre docente em Química Orgânica e Biológica em 1959. Em 1971 conquistou o Titulo de Professor Titular em Bioquímica. Lecionou na Faculdade de Odontologia de Piracicaba(1959/1960)), além de universidades da América Latina, América do Norte e Europa. Em 1971, introduziu no Brasil a tecnologia de cultura de tecido de plantas. Em 1981 criou o Centro de Biotecnologia Agrícola (Cebtec), na Esalq, prédio que leva o seu nome. Participou de inúmeros Congressos e Reuniões Científicas no Brasil e no Exterior. Publicou inúmeros trabalhos e livros científicos. Recentemente, em Nova Iorque, publicou o livro “Reflections & Connections – Uma Jornada Pela Ciência da Vida”, em 2014, ao lado de Willian R. Sharp e Julius P. Kreier, e em 2018, com esses e outros colaboradores, editou, em Columbus, Ohio, o livro “Pathways to Collaboration”. Aposentou-se em 1989, mas continuou na ativa até 2003, retirando-se definitivamente da vida acadêmica na ESALQ em 2011. O pioneirismo de Crocomo e R. Sharp resultou no embrião da biotecnologia de plantas no Brasil. O Professor Crocomo reside em Piracicaba, com a família.
Monsenhor Jorge Simão Miguel Dia 25 de setembro | às 19h Natural de Capivari (SP), Monsenhor Jorge nasceu em 7 de maio de 1928. Ingressou no Seminário Diocesano de Campinas e 1943. Transferiu-se para o Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo, em 1949, onde cursou Filosofia e Teologia. Foi ordenado diácono em 1955. Em 1956, depois de ser ordenado sacerdote por Dom Ernesto de Paula, passou a trabalhar em Piracicaba. Por dois anos foi professor e ministro de disciplina no Seminário Diocesano Imaculada Conceição. Foi nomeado pároco por Dom Ernesto, em 1960, ofício que exerceu por mais de 46 anos. Entre as grandes realizações de seu paroquiato, destaca-se a construção da nova igreja matriz, entre 1964 e 1972. Como Vigário Geral passou a ser chamado de monsenhor, com o título oficial recebido em 1980. Em 2002, o papa lhe concedeu o terceiro grau dos monsenhores, nomeando-o ‘Monsenhor Protonotário Apostólico Supra-numerário’. É o único da diocese distinguido com essa alta honraria.
Thereza Alves
Dia 13 de novembro | às 19h A Cantora piracicabana Thereza Alves nasceu em 7 de fevereiro de 1941. Iniciou carreira musical aos 7 anos, quando ainda era aluna do Instituto Baronesa de Rezende. Sua primeira apresentação profissional aconteceu no programa de calouros da Rádio Difusora, com a música ‘Abandono’, de Maria Ângela. Trabalhou na Rádio Bandeirantes, em São Paulo, no programa sertanejo do Capitão Furtado, com quem gravou várias músicas. A partir dessa fase, começou a tomar mais gosto pelo universo artístico, passando a atuar na TV Paulista (atual Rede Globo) e Record. Aos 77 anos de vida e 62, só de atividade artística, ganhou o Troféu Governador do Estado de São Paulo, da Secretaria de Cultura, na categoria música. Formada pela Unimep, sempre equilibrou o trabalho de escritório com os palcos de São Paulo. Hoje é proprietária de um escritório de administração de empresa e contabilidade, com a filha. Apesar de aposentada, na música não dispensa convites para shows.
Foto: Gustavo Vitti
Romualdo Filho
Fotos: Thiago Altafini
Mediador e idealizador do projeto, o jornalista é mestre em Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba, foi editor de cultura do Jornal de Piracicaba e repórter de A Tribuna Piracicabana. Na dissertação de mestrado analisou o quadro O Derrubador Brasileiro, de Almeida Júnior, com destaque à cultura regional, em especial a de Itu, para dimensionar o caipira representado na obra e seus múltiplos significados. Atualmente é assessor de imprensa da Prefeitura de Piracicaba.
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