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TERRITÓRIOS LÚDICOS

Exposição no Sesc Bom Retiro convida o público a percorrer narrativas plurais, além de participar de oficinas, bate-papos e contação de histórias

A exposição Karingana – Presenças negras no livro para as infâncias, em cartaz a partir de 15/7, no Sesc Bom Retiro, reúne 92 ilustrações assinadas por 50 artistas negros que se dedicam à literatura para as infâncias. A visita pode ser feita num percurso guiado pela circularidade, isto é, a partir de qualquer uma das entradas do espaço expositivo. A mostra convida, ainda, para uma programação com oficinas, cursos, bate-papos, mediação de leitura e contação de história.

Para Ana Luísa Sirota, gerente adjunta do Sesc Bom Retiro, essa produção deve ser evidenciada por sua “capacidade de materializar a diversidade de experiências, referências e subjetividades de seus criadores”. Ela destaca que houve uma “sensível ampliação do número de publicações de alguma forma dedicadas a questões étnico-raciais ou pautadas pela representatividade em sua autoria nos últimos 20 anos, também no contexto da Lei 10.639/2003, que tornou obrigatório o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas”, conta.

A exposição integra o Omodé: Festival Sesc de Arte e Cultura Negra para a Molecada, que celebra as culturas afro-brasileiras com teatro, dança, música, exibições de filmes, atividades físico-esportivas, ações formativas e bate-papos.

Karingana – Presenças negras no livro para as infâncias sescsp.org.br/omode esportes

Exposição coletiva com curadoria do Sesc Bom Retiro e Ananda Luz. De 15 de julho de 2023 a 28 de janeiro de 2024. Terça a sexta, das 9h às 20h. Sábados, das 10h às 20h. Domingos, das 10h às 18h. GRÁTIS.

Celina, já falecida, foi quem me fez ter amor pelos campos de futebol. Quando entrei na Globo e conheci alguns jornalistas, pensei: ‘Quero fazer isso. Vai me deixar perto do futebol’”.

Olho No Lance

Se reportar, noticiar ou apresentar o resultado dos jogos de uma Copa do Mundo já é tarefa das grandes, o que dizer da função de comentarista, historicamente associada à figura masculina? Esse é o desafio que Ana Thaís Matos assumiu em sua carreira profissional, tornando-se a primeira mulher a comentar um jogo do Brasil em Copa do Mundo em TV aberta. Sua voz e rosto ficaram conhecidos pelos telespectadores em 2022, na Copa do Mundo Masculina de Futebol, realizada no Catar.

A comentarista teve certeza de que seguiria carreira no jornalismo esportivo ainda durante a graduação, quando também integrou o time de futsal da faculdade: “As amigas do time que já atuavam na área me convenceram. Ainda rolava dúvida sobre qual área seguir, se política, cultura ou esporte”. O interesse e a experiência no futsal acabaram sendo o diferencial que a levaram de vez ao ofício. “Joguei futsal por 15 anos e, se não estava jogando, estava torcendo e, mais tarde, trabalhando. Ou seja, sou a soma da pequena torcedora, da jovem atleta e da eterna apaixonada por futebol”, resume.

Rompendo Estigmas

Ainda que a participação de mulheres nas funções de comunicação no mundo esportivo esteja em pleno crescimento, persiste a resistência de parte do público, por julgar que elas não detêm o domínio sobre o tema. Segundo Giovana Capucim e Silva, mestra em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisadora do assunto, o julgamento do futebol como espaço masculino foi construído há décadas, mas, aos poucos, vem sendo rompido. “Essa concepção se transforma, e mesmo que as mulheres sofram mais críticas do que os homens, elas se mantêm nesses espaços. Suas presenças são fundamentais e instigam a presença de mais mulheres daqui para o futuro”, defende a autora do livro Mulheres Impedidas – A proibição do futebol feminino na imprensa de São Paulo (Multifoco, 2017).

A pesquisadora avalia que houve uma mudança importante nesse cenário, especialmente a partir de 2015. “De lá para cá, temos um movimento de mulheres que já

TEMOS UM MOVIMENTO DE MULHERES QUE

JÁ ESTAVAM NARRANDO E COMENTANDO, POR

EXEMPLO, SAINDO DOS ESPAÇOS ALTERNATIVOS E OCUPANDO A GRANDE MÍDIA. (...) É IMPORTANTE

PORQUE, MESMO AOS POUCOS, ESTAMOS

CONSEGUINDO ROMPER COM ESSA IDEIA DE QUE O FUTEBOL É UM ESPAÇO DE RESERVA MASCULINA

Giovana Capucim e Silva, pesquisadora e escritora estavam narrando e comentando, por exemplo, saindo dos espaços alternativos e ocupando a grande mídia. Isso as coloca mais visíveis ao grande público que consome futebol no país. E é importante porque, mesmo aos poucos, estamos conseguindo romper com essa ideia de que o futebol é um espaço de reserva masculina”, reforça.

A chegada e consolidação da internet também foram fatores que permitiram a ampliação da presença feminina no futebol, movimento que posteriormente foi refletido nas mídias tradicionais, chegando à televisão. “As redes sociais foram as responsáveis por essa mobilização, através dos movimentos feministas. A rede permitiu e deu voz às mulheres e meninas que sempre amaram o futebol e nunca tiveram espaço nos meios tradicionais de comunicação. Além disso, acredito que passamos a nos indagar o porquê de não acompanharmos o mundial feminino como acompanhamos o mundial masculino”, analisa a narradora de futebol Luciana Mariano. esportes / para ver no sesc

A comentarista Ana Thaís Matos associa esse aumento da participação das mulheres a um contexto de mobilização mundial por ampliação de direitos no campo da discussão de gênero e no combate a preconceitos. Para ela, essa mudança traz novas perspectivas para o universo antes tão masculinizado do esporte.

Luciana Mariano, pioneira na narração de futebol em TV aberta, conta que, quando começou, não havia nenhum incentivo à prática por mulheres.

“Queremos contar a história a partir do nosso ponto de vista, da nossa vivência, experiência, diálogos e vocabulário. Como eu sempre digo, quem sabe o que é melhor para as mulheres são as mulheres. Então, nosso engajamento tem sido, e sempre foi, fundamental para sedimentar nossas conquistas”, aponta.

Já a jornalista Denise Thomaz enxerga benefícios para além das quatro linhas do campo, expandindo a conquista das mulheres em outras frentes. “Reivindicar direitos e deixar claro que mulheres são capazes de qualquer coisa é fundamental. O crescimento de interesse pela modalidade passa também por sua divulgação”, finaliza.

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