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A QUESTÃO NÃO É SOBRE SER OU NÃO SER RACISTA, MAS SIM O QUE TORNA POSSÍVEL O RACISMO E A AÇÃO DO RACISTA
linha de corte, da impossibilidade de convivência, do extermínio, da eliminação. Há, então, uma virada de chave, inclusive simbolicamente, de negociação dos símbolos que não sejam ligados ao extremismo, ao fascismo, à extrema direita, à louvação dos elementos tidos como brancos e ao repúdio total a tudo que é cultura negra e indígena. Isso está sendo alimentado, criando uma nova forma de se pensar a questão racial no Brasil.
Estrutural
Cenas de agressões racistas só são possíveis porque existe uma configuração de mundo que torna a raça possível e, portanto, dá sentido para esse tipo de agressão. Se não existisse a raça como algo subjacente a essas relações sociais, não faria sentido falar de racismo, pois o racismo não surge naquele momento, ele é anterior. Os indivíduos envolvidos nas cenas de racismo são classificados como racialmente distintos. Assim, a raça é o elemento que configura a nossa subjetividade, a nossa consciência e o nosso inconsciente. Todos nós somos constituídos a partir da racialização, ou seja, o racismo nos constituiu enquanto sujeitos. A questão não é sobre ser ou não ser racista, mas sim o que torna possível o racismo e a ação do racista. As teorias liberais estão muito preocupadas com a intenção. A grande pergunta que precisa ser feita é: Por que negros e indígenas estão vivendo as condições mais precárias da vida social?
Lutas
Como o racismo é um processo histórico e político, ou seja, de conflitos, as lutas sociais e as reivindicações vão fazendo com que esses elementos constitutivos da estrutura social também tenham de se adaptar, se modificar e se transformar. Poucas pessoas têm dúvida em relação a como as políticas de ações afirmativas e de cotas raciais só acontecem por conta de uma luta política muito forte e importante dos movimentos negros. A luta política fez com que esses espaços fossem abertos. Vejam a questão ambiental, por exemplo. Para viver do jeito que vivemos, estamos destruindo as condições de existência do planeta. Você imagina, então, o que a gente faz com a questão racial e com pessoas cuja vida, dentro desse sistema de classificação, vale menos. E as consequências da destruição do meio ambiente nós sabemos quem é que sofre.
Ancestralidade
A nossa luta, a luta política, é de um lugar que tenta unir a dimensão do passado, presente e futuro. A gente se define a partir do futuro. Nossos ancestrais da diáspora africana estavam sempre pensando em abrir as portas para o futuro. E eles se fizeram a partir dessa dimensão do futuro, mas carregando consigo os mortos. Os efeitos da política de cotas no Brasil são radicais. Nossa estrutura de universidade é muito melhor, por exemplo, do que nos Estados Unidos. Nós temos universidade pública, e nossa defesa a ela tem que ser total. Isso significa que a universidade é parte de um projeto político central, de formação das pessoas que vão dirigir o Brasil. Então, se você mudar a maneira de ingresso e a composição racial da universidade, você embaralha e muda também o processo de criação da raça. Essa foi a sacada genial do movimento negro: pedindo para entrar na universidade.
Assista, na íntegra, ao bate-papo Racismo
Estrutural, com participação de Silvio Almeida e mediação de Chico Pinheiro. A atividade foi realizada em dezembro de 2022, no Sesc Vila Mariana, pelo projeto Sempre um Papo