Uma Experiência Singular

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UMA EXPERIÊNCIA SINGULAR Couros. CampUrbis. Envolvimento da População Local Coordenação Henrique Praça

Promotor

Conceção e Gestão

Co-financiamento



O PROJETO DE ENVOLVIMENTO DOS MORADORES DE COUROS

14 DEAMBULAÇÕES PELA ZONA DE COUROS

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AS INICIATIVAS, OS EVENTOS E AS ATIVIDADES

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OLHARES COMPROMETIDOS

AVALIAÇÃO DO PROJETO

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Todos os males maiores e menores que assinalámos,fatoresdedegradaçãopolitica,social ecivilizacional,geradoresdemúltiplasdegradações quotidianas no seio da nossa existência, devem ser combatidos por intermédio de uma política regeneradoraquereformeprofundamenteanossa sociedadeeonossomododevida.Ahegemoniado quantitativoemdetrimentodoqualitativotemde acabar,assegurando,noentanto,aquantidadede bens e produtos destinados a suprimir a penúria, visando o desabrochamento das autonomias e inserindo as nas respetivas comunidades. Tal ressuscitaráasolidariedade,obrigandooegoísmo a recuar, fazendo que as pessoas se preocupem não só com a sobrevivência, isto é, com as obrigações do dia a dia, mas também com a vida em si, que se confunde com as relações com os outros e com o mundo, onde as emoções e as maravilhas estéticas devem ser consideradas um direito de todos e não um privilégio de alguns. HESSEL, Stéphane e MORIN, Edgar O Caminho da Esperança. Um apelo à Mobilização cívica, Planeta, Lisboa 2012.

Coube à Fraterna, enquanto Cooperativa de Interesse Público, cuja missão consigna o desenvolvimento de atividades que promovam a eliminação de situações de exclusão social e a promoção da coesão social, concretizar a operação imaterial da Parceria para a Regeneração Urbana de Couros. Projeto CampUrbis, denominada, Envolvimento da População Local. Para tal, foram realizadas atividades culturais, sociais e festivas, através de uma metodologiaparticipativaequeincluiupalestras,conferênciasedebatessobre o projeto (CampUrbis), o seu processo de implementação e os seus impactos. Foram realizadas sessões de apresentação de documentários acerca de temáticas relacionadas com o passado e o futuro de Couros, cruzando as memórias com registos mais prospetivos. Foram realizadas Exposições e eventos sobre o projeto Campurbis, enquanto momentos de celebração de pertenças identitárias e de revivificações de coletivos. Pretendeu-se,comasiniciativasreferidas,reforçaridentidadesesociabilidades urbanas face à requalificação urbana em curso. E são muitos os desafios que se colocam no presente, com os novos projetos de I&D levados a cabo em Couros pela Universidade do Minho e outros parceiros como o Instituto de Design, o programa Ciência Viva, o Centro de Pós-Graduação Avançada, sem nunca esquecer a memória de Couros para melhor perspetivar o futuro desta zona situada no seio da cidade de Guimarães. Ao mesmo tempo, e ao longo de todo este processo assistimos à revitalização da solidariedade entre pessoas, moradores/não moradores e entre os moradores e as instituições locais, como a Fraterna, o Cybercentro, a Pousada da Juventude, os Agrupamentos de Escolas, as Associações Locais… e os comerciantes locais. 5


Paraissocontribuíram,também,aconstituiçãodoConselhodeComunidade e muitos dos fóruns e atividades que foram desenvolvidas nos espaços dos atores sociais referidos, muitos deles com recursos que são verdadeiros testemunhos da memória dos sítios, ligada à indústria dos curtumes, que marca uma das épocas de afirmação económica desta região. Ao longo de um ano fomos um espaço de amizade e atenção aos outros que valorizou a empatia e a interajuda, um centro de iniciativa e inovação com momentos de informação e reflexão, um centro de voluntariado e mobilização permanente. Colocamos em campo a “política de humanização e de solicitude” referida por HESSEL e MORIN. Ao mesmo tempo, Couros ganhou uma nova vida com a dignificação e inovação dos espaços a utilizar e a aproximação das populações a esses espaços reapropriando-se deles para lhes dar sentido. Reforçou-se a abertura externa da zona urbana de Couros, promoveuse uma imagem de mudança alicerçada em novos referenciais de criatividade, cidadania e inovação social. No que diz respeito à Fraterna, enquanto ator chave de mobilização social e comunitária, potenciou-se o seu papel junto da comunidade

O bem viver pode parecer sinónimo de bem-estar, mas não é. Na nossa civilização este é sinal de conforto, posse de objetos e de bens, não tem a ver com bem viver, não tem a ver com a realização pessoal, as relações amorosas, a amizade, o sentido de comunidade. O bem viver, hoje em dias, deve incluir, sim, o bem-estar material, mas deve ser o contrário de uma conceção quantitativa que pensa conseguir bem-estar à custa do «sempre mais», devesignificarqualidadedevida,nãoquantidade de bens, e, englobar, antes de mais, o bem-estar afetivo, psíquico e moral. HESSEL, Stéphane e MORIN, Edgar O Caminho da Esperança. Um apelo à Mobilização cívica, Planeta, Lisboa 2012.

Findo o projeto é essencial continuar.

Paula Oliveira, Diretora Executiva da Fraterna.

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Agora vou a Couros

As cidades devem ser percorridas a pé, conversadas nos cafés, encontradas nos transportes públicos, olhadas de um banco de jardim, saboreadas nos restaurantes, entendidas nas memórias inscritas nas paredes, nas casas, nos lugares de culto religioso e de criação artística, nas bancas do mercado e nos festejos de rua. Nas árvores também, como código para uma leitura da urbanidade dos seus cidadãos. Percorri Guimarães, ao longo dos anos, em visitas frequentes : o castelo, o paço e o vila flor, a praça da oliveira, o toural e a rua da rainha, as nicolinas por uma vez. Nunca me encontrei com Couros. Agora sei que estava escondido, envergonhado. Agora sei que era um parente afastado, renegado. Agora sei também que há por ali memórias centenárias desenhadas geometricamente por mãos calejadas como só o trabalho árduo sabe esculpir: as pedras e os calos. Agora sei que há por ali casas com fachadas em paleta de verdes, azuis e brancos, alguns amarelos também, que descem a pequena colina em direção à ribeira. É certo que por ali cantou um trovador versos romanescos à moça de olhos verdes e trancinhas, de braços cruzados sobre o peitoril da janela. Se não é verdade da História, é certeza imaginada e para mim basta. Agora sei que há caminhos traçados entre muros de granito, que mais duro que a rocha era o labor da curtimenta das peles que por ali se fazia. Agora sei que ali as ruas não têm nomes de reis, rainhas, escritores e presidentes. São apenas de “Couros” da “Ramada” de “S. Francisco” de “Vila Flor”. Assim, sem pompa, mas com toda a circunstância. Não estavam ali as fábricas de curtimenta de couro? Acolá uma ramada? Mais adiante a igreja ou mais acima o palácio com o mesmo nome?

Agora vejo em Couros um futuro com formas diferentes que outras são as formas do fazer: o desenho do traço em vez do surrar da pele, a criação em vez do suor e do braço; a ciência do aço em vez da gravidade do cansaço; o perfume da rosa plantada no vaso em vez do estrume de pomba criada ao acaso; a cidade em vez do arrabalde. Porque agora, no coração de Couros, voam pássaros de asas líquidas à luz do dia e à noite ouvem-se os cantos dos seres sonhados pelos seus habitantes, disse-me um poeta à porta da “Ilha do Sabão” que não precisa de olhos para ver nem de ouvidos para ouvir. Pergunto-me: quantas cidades têm um largo do trovador e em que outros mares haverá uma ilha com aquele nome? Agora vou a Guimarães e passo sempre por Couros. Como deixar de fazê-lo? Não moram ali as pessoas com quem trabalhei, com quem me diverti, com quem conversei, de quem ouvi muitas histórias – sem maiúscula não vá a outra dar-se ao ciúme – neste último ano? Sim, vou a Couros, isso é certo, e a seguir saborear um doce na “Clarinha”, ali no Toural. . Apenas depende da hora e não da vontade. Isso também é certo. O Projeto “Couros.CampUrbis. Envolvimento da População Local” foi uma experiência de participação cívica única e intransferível. Se é certo que alguns processos e metodologias podem ser postos em prática noutros contextos comunitários, cumprindo-se assim uma das intenções desta publicação, não é menos certo que, para lá da singularidade do lugar, a envolvente presente durante o tempo em que decorreu o

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projeto foi única. Refiro-me, em particular, à reabilitação e requalificação urbana de Couros e ao evento Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura. Dizer que as circunstâncias foram singulares não equivale a dizer que foi fácil, simples de executar e sem dificuldades. Foi facilitado e foi excecional, pelas circunstâncias já apontadas e outras de que os capítulos deste livro dão conta. Retiro desta experiência, como lhe chamo acima, algumas aprendizagens e outros tantos conhecimentos. Acima de tudo que a participação e envolvimento dos cidadãos em projetos de natureza pública, como foi o caso, são úteis e benéficos para todos: para as comunidades, para os técnicos/especialistas e para os decisores políticos. O diálogo informado e a partilha de informação qualificada e atempada que aqueles processos promovem e permitem, antecipam conflitos e isso permite aproximar posições e gerar consensos, podem contribuir para melhorar e otimizar soluções técnicas e com isso servir melhor quem delas usufrui (cidadãos), entre outras vantagens que não cabem aqui enunciar. No entanto, esta experiência também me demonstrou, ainda que no global tenha sido muito positiva e com resultados visíveis, que há ainda um caminho a percorrer pelos protagonistas destes processos de participação e envolvimento cívico: os cidadãos, os técnicos/especialistas e os decisores. Habituados, uns e outros, a um modelo top down de formulação e implementação de projetos públicos, são ainda avessos à discussão plena, isto é, informada, e à partilha de soluções. Uns por comodidade, défice de espírito comunitário ou descrença na participação; outros porque estão ainda ancorados a um saber técnico protegido

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numa fortaleza disciplinar de cátedra, que apenas deve ser acessível e discutida entre pares; e outros por receio, infundado, de perda do domínio da decisão. Todos, portanto, ainda algo longe da prática a que apelava J. F. Kennedy, e cito de cor: “Não perguntes o que o teu pais pode fazer por ti, pergunta antes o que podes fazer pelo teu país.” Ou por um bairro, uma comunidade ou uma cidade. O aprofundamento da democracia participativa é ainda um desígnio por cumprir. Por último, quero deixar aqui os meus agradecimentos, sinceros e genuínos,pelacolaboração,pelaentrega,pelagenerosidade,peloconvívio, pelas histórias que me contaram, pelas cumplicidades geradas, em suma: pelas excelentes pessoas que encontrei em Couros, Guimarães. A todos os moradores de Couros que participaram nas diferentes iniciativas, eventos e atividades do projeto. Não posso mencionar todos, e foram muitos, porque podia, inadvertidamente, esquecer alguém e isso era uma injustiça. Ainda que sem nomear, estou certo que todos eles sabem a quem me refiro. Um grande abraço muito fraterno. Também a alguns outros vimaranenses, nativos ou adotivos, que foram aparecendo e colaborando. Aos orientadores e dinamizadores das atividades, para todos o meu obrigado pelo empenho, pela dedicação e pela competência: Marta Labastida, Daniel Duarte Pereira, Cidália Silva, Rute Carlos (Mapa da


Comunidade de Couros), Lia Oliveira (Presépio de Couros), Florbela Castro, da Cooperativa Cultural Mercado Azul (Oficinas de Artesanato Ecológico e Arraial Popular), ao Marcus Garcia Moreira (Exposição “À Luz do Dia” e oficina de Arte Postal), à Elisabete Pinto (palestra na preparação das visitas guiadas a Couros). À Fraterna, promotora do projeto, na pessoa da Paula Oliveira, Adelina Alves e Ana Rita Miranda. A colaboração foi excelente, verdadeiramente empenhada, proporcionando tudo o que foi necessário e possível. À Rita Fernandes, pela dedicação ao projeto e a todas as pessoas envolvidas. Pelas ideias que foi dando e pelo profissionalismo demonstrado, mas também pela sua generosidade. Por fim, a todas as instituições e pessoas individuais que com a sua colaboração e abertura às iniciativas de projeto muito contribuíram para o seu sucesso: à Escola de Arquitetura da Universidade do Minho, Paulo Cruz, Paulo Mendonça e Vicenzo Rizo; ao Instituto de Design de Guimarães, Ferri von Hattum e José Cardoso Teixeira; à Pousada da Juventude de Guimarães, em Couros, Júlia Monteiro; ao Agrupamento de Escolas Egas Moniz, Bernardina Soares; ao Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Marco Ferreira; à equipa de filmagens da GuimarãesTV.

Henrique Praça, coordenador do projeto

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INTRODUÇÃO

O contexto O projeto “Couros.CampUrbis. Envolvimento da População Local”, doravante designado por Couros.Envolvimento, que se irá descrever extensivamente nas páginas deste livro, é uma operação imaterial inscrita na “Parceria para a Regeneração Urbana de Couros – Projeto CampUrbis”, Políticas de Cidade, Polis XXI, promovida pela Câmara Municipal de Guimarães, que englobou um amplo leque de intervenções naquela zona da cidade de Guimarães, de qualificação do espaço público e do ambiente urbano, no período de 2010 a 2012. Entre as intervenções realizadas estão a recuperação e refuncionalização de antigas fábricas de curtumes para o acolhimento do novo Instituto de Design de Guimarães, o Centro de Estudo Pós-Graduados, ambos institutos da Universidade da Minho, o novo equipamento para a divulgação e comunicação de ciência – Ciência Viva –, bem como a requalificação de ruas e largos, a par de outras intervenções de menor escala.

Neste contexto, o projeto Couros. Envolvimento teve como principal finalidade aproximar e envolver os moradores de Couros naquele conjunto de intervenções de regeneração urbana, reivindicadas há muito pela população ali residente e aconselhadas pela UNESCO em consequência da atribuição da Classificação de Património Cultural da Humanidade, em 2001, ao Centro Histórico de Guimarães, uma vez que a zona de Couros integra a Zona Especial de Proteção à Zona Classificada como Património Cultural da Humanidade. A intervenção deste projeto esteve, portanto, centrada na realização de um conjunto, amplo e diversificado, de iniciativas, eventos e atividades, na interface entre as pessoas ali residentes e os processos de regeneração realizados no âmbito do projeto CampUrbis e as transformação e dinâmicas sociais, culturais e económicas que advirão, no futuro, em consequência daquele processo. Neste sentido, o projeto teve como missão fornecer chaves cognitivas para a identificação, interpretação e apropriação das intervenções de regeneração urbana, uma releitura do seu espaço físico envolvente e da integração das novas sociabilidades que são expectáveis, no futuro próximo, naquele lugar. Nos capítulo 1 e 2, onde se apresentam em detalhe as iniciativas, eventos e atividades realizadas, descrevem-se com mais pormenor os objetivos e o plano de ação deste projeto.

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A zona de Couros No contexto da intervenção da “Parceria para a Regeneração Urbana de Couros – Projeto CampUrbis” que contou com as intervenções de regeneração urbana já sumariamente descritas, é importante caraterizar de um modo breve aquela zona da cidade de Guimarães. Foi naquela zona da cidade, afastada do burgo vimaranense limitado pelas muralhas, que se estabeleceu, na Idade Média, um conjunto de atividades de curtimenta de couro, que séculos mais tarde viria a dar origem a uma verdadeira indústria. Para tal contribuiu: a localização nos arrabaldes da cidade; a água corrente, proveniente da ribeira de Santa Catarina que nasce na Penha e que ao atravessar aquela zona passa a designar-se por rio ou ribeira de Couros; a matéria prima abundante em toda a região envolvente; a força e tenacidade da mão de obra necessária à execução do conjunto de tarefas de curtição; as parcas ferramentas necessárias para aquelas atividades. De referir que a existência de água proveniente da ribeira de Couros não só era necessária para a boa curimenta das peles, como também para servir de vazadouro dos dejetos, abundantemente produzidos como resultado daquele processo. O crescimento desta atividade foi acompanhando o passar dos séculos, sendo que na primeira metade do séc. XX, contavam-se às dezenas as fábricas e às centenas os trabalhadores. No entanto, as melhorias no processo de curtimenta mantiveram-se quase inalteráveis, mantendo-se os tanques, ou pelames, a estrutura fundamental da atividade.

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As condições laborais eram penosas: o trabalho era duro, pesado e mal remunerado. Mas, se estas condições de trabalho pouco ou nada se diferenciavam das existentes noutras atividades, esta tinha um suplemento, em certo sentido discriminatório: o cheiro nauseabundo, repulsivo, que se pegava como peste aos trabalhadores. Quem trabalhava naquela atividade em Couros, nem com o seu melhor trajo domingueiro, assim trajado para a festa, se livrava daquele cheiro. Esse o sentido discriminatório referido, isto é, que se distingue, que se pode apontar: – “Este é de Couros (ou trabalha em Couros)”, assim se podia nomear, sem margem de erro, quem ali trabalhava. A expansão da cidade envolveu Couros. Mas se esta zona passou a ficar no centro da cidade raro era o cidadão que o integrava no seu percurso, mesmoqueissovalesseumacaminhadamaiscompridapelasruaseavenidas envolventesdolugar.Couroseradasfábricasedasgentesquelátrabalhavam, à exceção de um pequeno bairro para trabalhadores e de habitações esparsasnoterritório.Naenvolvente,estabelecia-seumafronteiraimaginária que diferenciava a zona de Couros e a bem dizer a discriminava. O couro produzido era de boa qualidade, famoso dentro e fora do pais. Alimentava uma população crescente de trabalhadores, de negócios complementares ou que tinham o couro como matéria prima. Fruto de circunstâncias que não cabe aqui referir, aquela atividade industrial inicia um processodedecadênciapaulatinanasegundametadedoséculoXX,massofre uma aceleração brutal na década de 70, com o encerramento de dezenas de fábricas.Abandonadasasfábricas,oterritóriotorna-seumapaisagemderuínas, inóspito, inseguro, a que apenas poucos moradores resistem.


É já por alturas da passagem do segundo milénio que a Câmara Municipal de Guimarães faz a primeira tentativa de revitalização da zona de Couros com a reconstrução e remodelação de um conjunto de edifícios de meados do séc. XIX, para ali instalar o Complexo Multifuncional de Couros constituído pela Pousada da Juventude, Cybercentro e a Fraterna – Centro Comunitário de Solidariedade e Integração Social. Em 2008, aproveitando a nomeação da cidade para Capital Europeia da Cultura, candidata a financiamentos no quadro da Operação Norte 2, da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte, com êxito, a “Parceria para Regeneração Urbana de Couros . Projeto CampUrbis”, de que resultaram as intervenções já descrita no início desta Introdução.

Por último as iniciativas com maior destaque e responsáveis por esta nova vitalidade de Couros: o projeto de reabilitação e generação urbana encetada no âmbito da “Parceria Para a Regeneração Urbana de Couros”, com as importantes operações já descritas, o projeto “Couros. CampUrbis. Envolvimento da População Local” cujos contributos serão descritos em pormenor noutro capítulo deste livro e o evento “Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura” ao promover iniciativas culturais descentralizadas por toda a cidade, incluindo Couros, ali promovendo iniciativas no âmbito da sua programação de celebração e de festa. O conjunto desta iniciativas valorizou aquele lugar a que importa juntar o reconhecimento feito pelo outros – o visitante, o turista, os outros moradores da cidade – aos moradores e aos que ali trabalham.

Em 2012 Couros está diferente apesar do muito que ainda há a fazer. Os vimaranenses já atravessam aquele lugar, há turistas curiosos que percorrem as ruas e fotografam os tanques de curtimenta em frente da Pousada da Juventude, há intervenções em algumas habitações por iniciativa de privados, os moradores estão mais orgulhosos do lugar que sempre foi o seu e há, sobretudo para o futuro, equipamentos que trarão novas dinâmicas sociais e culturais a Couros.

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Capítulo

O PROJETO DE ENVOLVIMENTO DOS MORADORES DE COUROS


Ainda antes de descrever as principais linhas orientadoras do projeto Couros. Envolvimento, as iniciativas, atividades e eventos que lhe deram corpo, descritas no capítulo seguinte, importa referir algumas notas, necessariamente breves e sucintas, do que entendemos por participação e envolvimento dos cidadãos, de modo a podermos enquadrar o projeto realizado em Couros.

PROCESSOS DE PARTICIPAÇÃO DOS CIDADÃOS There exists a tradition of public involvement, a cultural feeling in some societies that you should not just help your neighbour but help your neighbourhood . 1

Nesse sentido indicam-se duas definições, que corroboram diferentes olhares de encarar a participação, da mais abrangente “participação é sentir genuinamente que se faz parte de alguma coisa” (Eve Bevan, Sheperds Bush Healthy Living Centre) à mais específica “A participação é o esforço que as pessoas fazem para influenciar as decisões em matéria de políticas públicas” (Gary Stoker, Manchester University)3. O que importa salientar das múltiplas iniciativas de participação dos cidadãos, ainda que sob diferentes abordagens teóricas de partida, é que a participação contribui para promover a cidania, ajuda a gerir problemas complexos no desenho e prestação dos serviços públicos, a melhorar competências sociais das pessoas, a promover novos modelos de governação em especial aqueles diretamente relacionados com a gestão dos recursos para o séc. XXI. No dizer de Jordi Pascual, “A participação dos cidadãosnaelaboração,implementaçãoeavaliaçãodasdecisõespolíticasjá nãoéumameraopção,masumacaraterísticadasdemocraciasavançadas”4.

Sir Bernard Crick

Para começo de discurso a questão surge imperativa: – O que é a participação (dos cidadãos)? Atendendo à diversidade de práticas e de teorias, o que podemos adiantar com segurança é que a participação é um campo de estudo em emergência2, com muitos e diferentes atores, usando diferentes definições e com diferentes perspetivas.

1.  Existe uma tradição de participação pública, um imperativo cultural em algumas sociedades de que não devemos apenas ajudar o nosso vizinho, mas ajudar o nosso bairro, a nossa comunidade”. 2.  Epitote mais realista para países do centro e norte da Europa.

Com o objetivo de melhor contextualizar o referido na introdução deste capítulo, isto é, enquadrar o projeto Couros. Envolvimento nas práticas de participação dos cidadãos, podemos afirmar que aquelas práticas podem agrupar-se, genericamete, em três categorias principais: a) Participação Social, de que são exemplos, o envolvimento numa organização de voluntariado ou numa associação desportiva, recreativa, cultural, ambientalista, local, nacional ou de cariz global; 3.  Ambas as definições foram retiradas de “People & Participation. How to put citizens at the heart of decision-making”. Involve. London. 2005 4.  In, Guia para la participacíon ciudadana en el desarrollo de políticas culturales locales para ciudades europeas, Jordi Pascual i Ruiz, Sanjin Dragojevic, Philipp Dietachmair. Fundación Europea de la Cultura, Fundación Interarts, Associación ECUMEST. 2007. Fundácion Europea de la Cultura, pp. 12 15


b) Participação Pública, isto é, o envolvimento dos cidadãos com as diferentes estruturas e instituições do sistema democrático, de que são exemplo: participar em eleições ou num referendo local ou nacional; a participação efetiva numa consulta pública sobre a pedonalização de uma rua ou no âmbito de um processo mais amplo de regeneração urbana mediada por métodos e instrumentos muito diversificados5; a participação no desenho de um serviço público, por exemplo a estruturação de uma sala de atendimento de um hospital pelos próprios utentes do serviço; c) Participação Individual, isto é, as ações e escolhas que as pessoas tomam e que refletem os modelos de sociedade em que pretendem viver, por exemplo: a ação individual de boicote a um produto ou serviço de uma empresa em consequência de uma campanha organizada; a compra de produtos biológicos em detrimento de outros; a compra de produtos no âmbito do fair trade; a adoção de comportamentos ambientalmente responsáveis, como a relativa à separação de resíduos nas práticas quotidianas ou o uso de transportes públicos em detrimento de transporte individual. Esta categorização ajuda-nos a refletir não apenas no enquadramento do projeto Couros. Envolvimento, propósito primeiro desta introdução, mas ajuda-nos, por outro lado, a perspetivar de um outro modo, a participação dos cidadãos em Portugal. Em nosso entender, e ao contrário do que é habitual ouvirmos, a participação dos cidadãos em Portugal é efetiva, alargada em número e variada nas categorias, isto é, há uma cidadania mais forte e real do que aquela que é percebida pela generalidade das pessoas. Talvez os modelos, os métodos e os instrumentos apresentem ainda algum conservadorismo, careçam de inovação, sobretudo na categoria da participaçãopública,porpoucaaberturadaclassepolítica,sobretudolocal,a novos processos de intervenção e partilha de decisões. Mas também aqui se notam algumas mudanças. Quanto ao projeto Couros. Envolvimento, e como se verá a seguir, tratou-se de uma iniciativa que podemos agrupar, globalmente na categoria da Participação Pública, embora algumas atividades levadas a cabo pudessem ser de Participação Social, como é exemplo o Conselho de Comunidade criado para o efeito no âmbito da gestão do projeto. 5.  Ou mesmo a participação e envolvimento sobre um assunto que diz respeito a um país inteiro, como é exemplo o projeto “My Estónia” que envolveu cerca de 11 000 cidadãos, num evento aberto de brianstorming para gerar ideias sobre o futuro daquele país. 16


cognitivas – na perceção e processamento de informação – de intervenção, quer na expressão de desejos quer na expressão de alternativas, sugestões e soluçõesmaisconcretas,modelandoatitudesecomportamentosdecidadania, de proximidade ao projeto de regeneração urbana, construindo ao mesmo tempo sentimentos de pertença mais fortes ao lugar e aos outros, isto é, um processo de construção de identidade(s).

AS PRINCIPAIS LINHAS ORIENTADORES DO PROJETO COUROS . ENVOLVIMENTO O Plano de Ação The message is very simple: participation works 6

Por outras palavras, mas partilhando o mesmo sentido, na introdução ao projeto Couros. Envolvimento, referia-se: “Partimos da definição de espaço público enquanto espaços e lugares partilhados. Definimos o espaço público como incluindo tanto o tangível (físico) – ruas, praça, parques, edifícios – como o intangível – memória, emoção, aspiração, orgulho e poder.” Dessa forma foram elencados os quatro grandes temas do projeto: ›› A regeneração urbana de Couros, projeto CampUrbis. ›› A participação e capacitação da comunidade de Couros. ›› A sustentabilidade ambiental. ›› Advocacy7 e comunicação do projeto.

James Wolfensohn

Realizado no âmbito da operação CampUrbis, Regeneração Urbana de Couros, como já foi anteriormente referido, o projeto Couros. Envolvimento teve como principal finalidade aproximar a população, sobretudo os moradoresnaqualidadedeprimeiroseprincipaisdestinatários,daintervenção alioperada,tornando-osatores(participantesativos,portanto)naapropriação dosprocessosderequalificaçãodolugar–Couros.Nessesentido,asprincipais habilidades a trabalhar foram as de qualificação das habilidades sociais, quer

6.  A mensagem é muito simples: a participação funciona

Objetivos gerais Estabeleceram-sequatroobjetivosgeraisparaoprojetoCouros.Envolvimento: d) Fortalecer o quadro de competências e de habilidades sociais das populações,potenciando,emsimultâneo,capacidadesdeintervenção face ao espaço e competências de discussão e de envolvimento face ao projeto CampUrbis;

7.  Defesa empenhada 17


e) Criar uma plataforma de discussão e envolvimento com forte carga identitária, orientada para uma releitura do espaço e dos modos de vida, tendo em vista uma representação mais positiva da vivência na zona e na cidade, e um reforço das capacidades de enfrentar contextos de mudança tecnológica, social e cultural; f ) Reforçar a abertura da zona urbana de Couros e promover uma imagem de mudança, alicerçada em novos referenciais de criatividade, cidadania e de inovação social; g) Fortalecer e potenciar o papel da Fraterna – Centro Comunitário de Solidariedade e Integração Social, promotor do projeto, enquanto ator-chave de mobilização social e comunitária.

O Processo de Envolvimento Definir com clareza o processo é um passo importante e definidor do projeto de participação e das respetivas atividades onde se estabelecem os impactos a alcançar (esperados) e os meios para os alcançar. É na definição clara e objetiva destes parâmetros que se evitam equívocos e mal entendidos e se começa a gerar a confiança entre os parceiros envolvidos. O processo de avaliação de impacto, contínuo durante o processo, permite a reformulação dos meios e a alteração dos impactos que se pretendem. Foram então definidos, para o projeto na sua globalidade, os seguintes meios e impactos:

O propósito Levar os moradores de Couros a perceber a regeneração urbana em curso e a intervir na sua comunidade. Para tal serão realizadas atividades culturais, sociais e festivas e utilizadas metodologias de participação para aumentar a intervenção dos moradores nos desígnios da sua comunidade e alcançar melhorias reais no espaço público de Couros no futuro.

O contexto Zona de Couros, freguesia de S. Sebastião, Guimarães. Couros, antiga zona de produção de curtumes iniciou um processo de decadência com o encerramento daquela indústria a partir do anos 60 do séc. XX com consequências no abandono de habitantes e numa profunda degradação do espaço urbano. Atualmente o município está a promover, em conjunto com parceiros locais, uma intensa regeneração urbana na zona, com recuperação e refuncionalização de antigas fábricas de curtumes para a instalação de novos equipamentos e melhorias de arruamentos, pracetas e acessibilidades.

As pessoas Moradores de Couros; Instituições: Fraterna, enquanto promotor do projeto, Junta de Freguesia de S. Sebastião, CyberCentro, Pousada da Juventude, Agrupamento de Escolas Egas Moniz.

Retroação (avaliação)

PROPÓSITO

CONTEXTO

PESSOAS

MÉTODOS

IMPACTOS

Porquê?

Onde?

Quem?

Como?

O quê?

Linha do tempo

Diagrama 1 Meios e impactos

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Os métodos ›› Implementação de um Conselho de Comunidade de Couros formado por representantes de instituições da zona e moradores. ›› Realização de Fóruns sobre temas com particular relevância em Couros. ›› Aplicação da metodologia Parish Maps. ›› Aplicação da metodologia do Design Participativo. ›› Realização de oficinas que promovam a aquisição de novas competências pelos moradores. ›› Edição de um jornal que promova simultaneamente a divulgação das iniciativas, eventos e atividades do projeto num espaço alargado (cidade) e a opinião de moradores e não moradores em Couros. ›› Realização de iniciativas, eventos ou atividades, em Couros e no exterior, que promovam a zona de Couros a não moradores (vimaranenses e outros visitantes) e com isso o sentimento de reconhecimento e auto estima dos moradores (exposições, festividades).

›› Plano Estratégico Participado “Couros 2020” resultado das metodologias aplicadas.

Impactos ›› Afirmação dos moradores de Couros como parceiros (stakeholders) em alguns dos equipamentos de Couros e junto da autarquia (democracia participativa). ›› Concretização de propostas para o espaço urbano de Couros e os serviços comunitários (inovação social/melhoria dos serviços). ›› Aumento do sentimento de pertença ao lugar Couros. ›› Melhoria das relações sociais intermoradores de Couros (capital social) ›› Melhoraria das competências sociais dos moradores de Couros (capital social)

Plano de Ação CONSELHO DA COMUNIDADE

ADVOCACY E COMUNICAÇÃO

FORUM 1

FORUM 2

ATIVIDADES DA INICIATIVA DO CONSELHO DE COMUNIDADE

JORNAL “NOTÍCIAS DE COUROS”

MAPA DE COMUNIDADE (PARISH MAPS)

OFICINAS

PLANO ESTRATÉGICO PARTICIPADO (PEP)

EXPOSIÇÕES

WORKSHOP “DESIGN PARTICIPATIVO”

FORUM 3

FORUM 4

FORUM 5

FORUM 6

COUROS 2020

FESTIVIDADES Diagrama 2 Plano de Ação

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Capítulo

DEAMBULAÇÕES PELA ZONA DE COUROS


O projeto Couros.Envolvimento teve início em setembro de 2011 com um trabalho no âmbito da sociologia, a que chamámos “deambulações sociológicas” dado o caráter não científico, nem do método nem nos instrumentos concebidos e aplicados, e cujo objetivo foi traçar um retrato da população de Couros, público-alvo do projeto. Assim, os primeiros contatos com a população de Couros, incidindo principalmente nos seus moradores, foi realizado pela socióloga Rita Fernandes, que fez parte da equipa do projeto, que abordou e visitou uma parte muito significativa das habitações da zona de Couros. Desse trabalho resultou um conjunto de informações que se apresentam neste capítulo. Esta abordagem teve como objetivo esboçar um retrato sociológico, não representativo, da população com que o projeto trabalharia. Ao mesmo tempo, estas deambulações de caráter sociológico permitiram também o contato com as instituições locais, o CyberCentro, a Pousada da Juventude, a Junta de Freguesia de S. Sebastião e a Escola E.B. 2-3 Egas Moniz, nas pessoas dos seus dirigentes, com o objetivo de os colocar a par do projeto e convidá-los a participar no mesmo enquanto representantes das instituições públicas relevantes no contexto de Couros. Um pouco mais tarde foi importante o contato com a Universidade do Minho, quer na qualidade de parceiro na “Parceria para a Regeneração Urbana de Couros. Projeto CampUrbis”, de que o projeto Couros.Envolvimento fez parte, quer como instituição responsável pelo Instituto de Design de Guimarães, na altura em construção, fruto da reabilitação e refuncionalização da antiga Fábrica de Curtumes da Ramada.

Não esteve nos propósitos desta deambulação sociológica conhecer, contatar ou inquirir a totalidade da população de Couros, mas o maior número de pessoas possível, procurando obter um certo grau de representatividade de cada rua de Couros. Por não existir uma indicação precisa da população que habitava a zona de Couros, apenas um valor aproximado decorrente da interpretação dos últimos censos, 2011, partimos da pré-determinação de cerca de 170 habitantes. Assim sendo, foram aplicados 79 inquéritos, isto é, 46,5% do número total de moradores presumidos. O inquérito distribuído pelas habitações, foi muitas vezes preenchido pela própria socióloga, sobretudo junto dos moradores mais idosos, alguns com fraca mobilidade, aproveitando para uma conversa mais demorada e pormenorizada (o termo “inquérito por entrevista” não é aqui aplicado por razões de não ter sido preparado um instrumento rigoroso do ponto de vista científico). Os Quadro I e II, permitem concluir que a população inquirida em Couros apresenta uma estrutura que evidencia um envelhecimento acentuado e que a população ativa e de reformados é quase idêntica em número. No entanto, apesar de se observar que a população ativa constitui uma grande fatia, esta não corresponde, na opinião do Presidente da Junta de Freguesia, à realidade de Couros. Provavelmente, dada a aleatoriedade da amostra, a maior parte da população não terá respondido ao inquérito por não se encontrar em casa (mas em lares de terceira idade e centros de dia) ou por não ter capacidade para responder (demasiado idosos).

21


A maioria da população ocupa o seu tempo livre em tarefas que não envolvem destreza física, competências específicas ou a necessidade de sair de casa, como assistir à programação da televisão, a leitura e ouvir música, como está detalhado no Quadro III. Estas respostas permitiram verificar a existência de pouca diversidade nas formas como usam os seus tempos de lazer, o que também pode encontrar alguma fundamentação nas idades dos indivíduos inquiridos. No mesmo inquérito, a questão 2, relativa a “passatempos, coleções e interesses”nãoobteverespostaspassíveisdequantificação.Relativamente à questão 3, “Participa em alguma atividade em organizações locais” as respostas foram, quase na totalidade, negativas. Quando questionados sobre qual o evento/organização que melhor promove o encontro das pessoas da zona de Couros (Questão 4), houve comentários relativos às romarias de S. João, festividade com forte tradição, mas que entretanto, com a diminuição da população, se extinguiram. Destacaram-se 13 referências às festas tradicionais de Guimarães e 4 ao desporto.

Quadro I. Inquiridos por faixa etária.

22

IDADE

6-10

1

11-15

49

16-20

8

21-30

5

31-40

10

41-50

12

51-65

19

>65

20

TOTAL

79

Quadro II. Situação dos inquiridos perante o trabalho Trabalhadores

27

Reformados

26

Estudantes

15

Desempregados

8

Domésticas

3

TOTAL

79

Quadro III. Preferências dos inquiridos para ocupação dos tempos livres. OCUPAÇÃO DE TEMPOS LIVRES

Nº DE REFERÊNCIAS

Ver televisão

30

Desporto

20

Leitura

10

Cinema

8

Dança

6

Música

5

Teatro

2

Relativamente ao conhecimento do Projeto Couros.Envolvimento, antecipadamente divulgado, cerca de um terço dos inquiridos já tinham conhecimento do mesmo, embora com informação muito escassa, que foi obtida pelos jornais locais (8), pelos vizinhos (6), pela internet (6), pelas rádios locais (2) e ainda por outros meios (3) nas quais se incluíam a Fraterna, promotora do projeto, e a TV Guimarães. Por último foi pedido aos inquiridos que indicassem atividades em que gostariam de participar. Os resultados estão apresentados no Quadro IV. Relativamente a estes dados destaca-se, mais uma vez, a probabilidade de a faixa etária de uma parte significativa dos residentes condicionar a participação em muitas atividades por dificuldade de deslocação e locomoção dos mesmos.


Quadro IV. Iniciativas, eventos e atividades em que gostariam de participar INICIATIVAS, EVENTOS, ATIVIDADES

Nº DE REFERÊNCIAS

Realização de passeios

43

Atividades culinárias

32

Festas Populares

37

Dança/Bailes

30

Concertos de música

29

Conselho Comunitário

20

Fotografia

25

Moda

24

Património

23

Atividades de jardinagem

21

Leitura

17

Atividades do ambiente e ecologia

16

Teatro

14

Bordados

12

Pintura

11

Atividades de informática e Artes Digitais

10

Olaria

7

Arquitetura

8

Trabalhos em papel

5

Artes circenses

5

Durante o trabalho e a permanência em Couros realizado durante setembro de 2011, para além da aplicação do inquérito, que muitas vezes foi a própria socióloga a preencher, foram registadas muitas observações de comportamento dos moradores na sua vida quotidiana (horários, mobilidades,locaismaisfrequentados,etc),opiniõesrelativasàintervenção de regeneração urbana em curso na zona, motivos e padrões de decoração e embelezamento quer do interior das casas quer do exterior, bem quanto à topografia urbana da zona. De referir que algumas destas deambulações da socióloga foram acompanhadas pelo Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, Marco Ferreira, onde se inclui a zona de Couros, profundo conhecedor dos moradores, e ouvidos alguns dos principais responsáveis pelos equipamentos públicos ali instalados.

23


Capítulo

AS INICIATIVAS, OS EVENTOS E AS ATIVIDADES


Neste capítulo, o mais extenso desta publicação, descrevem-se as iniciativas, os eventos e as atividades realizadas no âmbito do projeto Couros.Envolvimento, ainda que o Fórum e a Exposição Final não possam ser descritos uma vez que se realizaram após a produção deste livro. No entanto adianta-se que este carateriza-se por ser um evento de encerramento do projeto, onde serão apresentados o próprio livro, o filme documentário realizado ao longo do projeto pela Guimarães TV, e a exposição apresentará os principais resultados alcançados e uma seleção de objetos produzidos no âmbito das atividades.

25


MAPA DA COMUNIDADE DE COUROS


1.

1. Sugestões dos moradores para melhorias em Couros. 2. No início, Janeiro de 2012, começavam a “nascer” os primeiros edifícios. A fase de decoração e pintura começaria muito mais tarde.

2.


4.

3. A arquiteta Marta Labastida ajuda uma moradora a desenhar num modelo já construído. As fotografias foram um precioso aliado da memória visual dos lugares e edifícios de Couros. 4. Neno, antigo jogador do Vitória de Guimarães foi um dos convidados a participar. 5. Olhar a planta de Couros para localizar os edifícios, era a primeira tarefa antes da construção dos modelos. Cortar, construir, desenhar e pintar: quatro tarefas executadas milhares de vezes

28

5.


6.

7.

6. Atenção e entreajuda protagonizada por estes três moradores 7. Muitas vezes não era fácil localizar e orientar os edifícios/modelos na planta. Exigia-se rigor e reflexão.

29


8.

10.

9.

8. A azul a ribeira de Couros. S達o visiveis os tamques (pelames) de curtimenta (pormenor da maqueta) 9. Teatro Jord達o(pormenor da maqueta). 10. Bairro Amadeu Miranda (pormenor da maqueta).

30


12.

31


13.

13. Casas do Largo do Trovador (pormenor da maqueta). 14. EdifĂ­cio da Ordem Terceira de S. Francisco. Ao lado a Rua de S. Francisco (pormenor da maqueta) 15. Casario junto Ă Pousada da Juventude (pormenor da maqueta)

14.

15.

32


16. Em primeiro plano o edifĂ­cio do Posto de Turismo (esquina) e o casario da Rua de Vila Flor paralela Ă Avenida Afonso Henriques. No canto superior direito a Escola EB23 Egas Moniz (vista geral da maqueta). 16.

33


17. Em primeiro plano o Largo do Trovador. Ao fundo a Pousada da Juventude e a seu lado o complexo de edifĂ­cios da Fraterna com um conjunto de tanques (pelames) em frente ao sequeiro (vista geral da maqueta). 17.

34


ALGUNS DADOS ESTATÍSTICOS O Quadro V, apresenta os dados relativos ao número de participantes e visitantes por iniciativa, evento e atividade realizada. Dadas as dificuldades de contagem ou em razão da natureza da participação optou-se por não apresentar, em alguns itens, números concretos para participantes

e visitantes. Apenas num caso se optou por uma estimativa; noutras os dados são provisórios porque as atividades estavam em curso à data da publicação desta edição e noutros ainda prevê-se mesmo a continuidade para lá do final do projeto.

Quadro V. Número de participantes e de visitantes por iniciativa, evento e atividade. INICIATIVA, EVENTO, ATIVIDADE

TÍTULO

CONSELHO DE COMUNIDADE

Conselho de Comunidade de Couros

FÓRUM

Couros. Passado, Presente e Futuro Couros. Ambiente e Sustentabilidade Design Participativo Teatro Jordão: o renascimento

OFICINA VISITA GUIADA

FESTA

PARTICIPANTES

11

6

Nº DE VISITANTES NÃO MORADORES EM COUROS

(convidados ou público)

132 a)

6

7 b)

60

40

5 c)

28

6

2 c)

22

10

5 c)

MORADORES EM COUROS

26

14

3 c)

Fórum-Festa

d)

d)

d)

Fórum-Exposição

e)

e)

e)

Artesanato ecológico “Soletas”

16

12

87

-

Arte Postal

2

12

0

-

Mapa da Comunidade de Couros

16

23

22

-

Decoração de ruas/Arraial

4

13

0

-

Visita guiada às obras de regeneração urbana (1º Fórum)

1

60

60

-

Visita-percurso no âmbito do design participativo (3º Fórum)

1

14

2

2

3 f)

6

0

5

Eu Sou Couros.Visitas guiadas pelos moradores a Couros

EXPOSIÇÃO

Nº DE AÇÕES/ SESSÕES

Presépio de Couros/Natal 2011

4

6

0

193

Mapa da Comunidade de Couros

1

10

0

738

À Luz do Dia (fotografia)

1

28

0

g)

Exposição final do projeto

1

h)

h)

h)

Arraial Popular

TOTAIS

1

14

5

1000 i)

68

466

252

1960

a) A média de participantes por reunião foi de 12 (mínimo 4 e máximo 24)

f ) Iniciativa lançada em julho/2012 e contabilizada apena até setembro/2012

b) Convidados, não moradores em Couros.

g) Não contabilizados devido ao facto de a exposição ter decorrido nas ruas de Couros entre julho e novembro de 2012

c) Oradores convidados para o Fórum d) Dada a natureza deste evento o número de participantes está contabilizado em “Festa-Arraial Popular”

h) Não contabilizado por ter decorrido após a produção desta edição/livro i) Estimativa de público

e) Este evento decorreu após a produção desta edição/livro. 35


AS INICIATIVAS, OS EVENTOS E AS ATIVIDADES Conselho de Comunidade de Couros Em funções desde o início do projeto, foi a primeira iniciativa realizada com os moradores, o Conselho reuniu-se mensalmente desde novembro de 2011 e dele fizeram parte como membros efetivos, um representante da Fraterna, promotora do projeto, o coordenador do projeto e representante da Setepés, produtora e gestora do projeto, o Presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, uma socióloga e membro da equipa do projeto, um arquiteto da Universidade do Minho, sendo os restantes elementos, que constituem a maioria do Conselho, cidadãos moradores em Couros. O Conselho da Comunidade de Couros, um grupo informal de cidadãos, tinha como missão acompanhar a execução do projeto, promovê-lo junto da comunidade local, propor e decidir atividades a realizar, para as quais teve um orçamento próprio, e afirmar-se como parceiro local junto das instituição locais e poderes públicos Foi elaborado um conjunto de regras simples de funcionamento, debatido e aprovado na primeira reunião: participação voluntária; aberto à participação de qualquer cidadão morador em Couros; decisões tomadas por consenso; a coordenação da reunião a cargo do gestor do projeto. Sendo as reuniões abertas à participação de qualquer morador, o número de participantes em cada sessão era muito variável, por vezes inferir à dezena, outras superior às duas dezenas. Foi deste Conselho que partiu a ideia para a realização do “Presépio de Couros” e da Exposição de Fotografia “À Luz do Dia”. A constituição deste Conselho foi muito importante no contexto do projeto. Destacam-se os seguintes resultados: ›› acelerou a integração da equipa de coordenação e gestão do projeto; ›› contribuiu para gerar confiança no projeto; ›› contribuiu para um maior conhecimento dos moradores entre si;

36

›› ajudou a promoveu e divulgou as iniciativas, eventos e atividades na comunidade; ›› aumentou e aproximou significativamente o conhecimento das instituições locais, como a Fraterna, a Pousada da Juventude, o novo IDG –Instituto de Design de Guimarães, pelos moradores; ›› promoveu positivamente o conceito e os benefícios que podem advir para uma comunidade de iniciativas de participação e de práticas, mesmo informais, desta natureza. Em jeito de balanço e para confirmar, em parte, o que antes foi dito, transcreve-se uma entrevista coletiva feita ao Conselho de Comunidade pelo jornal “Notícias de Couros”1. NC – O Conselho de Comunidade de Couros faz parte do projeto “Couros. CampUrbis.EnvolvimentodaPopulaçãoLocal”,temacompanhadooprojeto e tem proposto atividades, lembro, por exemplo, o Presépio de Couros. Qual o balanço que fazem da atividade deste Conselho? CCC – “Tem sido muito importante, desde logo porque agora conhecemos melhor mais moradores que antes não conhecíamos”; “Destaco o convívio que tem sido muito bom”; “Tem sido útil na medida em que tem contribuído para dar a conhecer melhor esta zona da cidade”; “Embora pouco participado, o que se tem feito já é alguma coisa”. NC – O Conselho da Comunidade de Couros é um grupo, está aberto à participação de qualquer morador de Couros, reúne-se uma vez por mês, todos os que aqui estão estão-no porque gostam certamente de Couros. O que pode fazer este Conselho por Couros? Que outras funções poderia ter? CCC – “Pode colocar Couros no mapa”; “Tem contribuído para conhecer melhorasinstituiçõeslocais,comoaFraterna,aPousadadaJuventude,onovo IDG –Instituto de Design de Guimarães”, a Escola Egas Moniz. Todos têm colaborado muito com este projeto”;“Pode afirmar Couros que estava muito abandonado, e agora aumentou o convívio entre os moradores”.

1.  Notícias de Couros, nº 4, maio de 2012. O jornal “Notícias de Couros”, do qual se publicaram seis números, foi um suporte de comunicação produzido no âmbito do projeto Couros.Envolvimento.


NC – O projeto “Couros. CampUrbis. Envolvimento da População Local” termina em finais de setembro. O Conselho de Comunidade é para continuar? Qual é a vontade deste Conselho? O que é preciso fazer para que esta iniciativa não morra no fim do projeto? CCC – “Por mim, e penso que posso falar por todos, deve continuar”; “Agora que se começou era uma pena não continuar”; “Para continuar é preciso que alguém dos presentes tomasse a iniciativa de ser o motor”;“É preciso uma liderança, caso contrário isto morre”;“Estamos com vontade de continuar, mas é preciso gente nova”. (entrevista coletiva realizada a 10 de maio de 2012)

37


Fóruns

Fórum. Couros: ambiente e sustentabilidade 17 de dezembro de 2011, Escola Básica do 2º e 3º Ciclo Egas Moniz

Os Fóruns temáticos tiveram como finalidade constituírem-se como espaços de informação e debate sobre temas relacionados com Couros, perspetivando-se também os impactos das intervenções de regeneração urbana efetuadas no futuro da zona. Pretendia-se, portanto, implementar um conjunto de debates que pudessem contribuir para descodificar as intervenções urbanas, o propósito, os objetivos e os impactos, ouvindo políticos, especialista e a população e, sobretudo, os moradores. Daí a multiplicidade de temas, cruzando memórias e cultura com aspetos mais prospetivos: a regeneração urbana em Couros e no contexto da cidade; a relevância cultural e patrimonial de Couros; as questões ambientais; os novos equipamentos saídos das intervenções nas antigas fábricas de curtumes; os modelos de participação pública. Uma vez que foram sempre abertos à população da cidade, foram também um momento de comunicação do projeto Couros.Envolvimento, quer aos moradores quer aos outros vimaranenses participantes nestes Fóruns. Foram realizados seis Fóruns de que se transcreve sumariamente o programa e os intervenientes.

Fórum. Couros: passado, presente e futuro. 29 de outubro de 2011, Auditório da Fraterna

›› Estratégia global para a cidade e o projeto de regeneração urbana de Couros. Domingos Bragança, Vice-Presidente da C.M. de Guimarães ›› Urbanismo e arquitetura. Alexandra Gesta, Vereadora da C.M. de Guimarães ›› O plano de Couros e a Universidade do Minho. José Cardoso Teixeira, Professor da U. Minho ›› Os homens do “Burgo de Couros”: marcas no presente do passado da indústria de curtumes em Guimarães. Elisabete Pinto ›› Projeto Couros.CampUrbis. Envolvimento da População Local. Paula Oliveira, Diretora Executiva da Fraterna e Henrique Praça, coordenador do projeto. ›› Apresentação do Conselho de Comunidade. Henrique Praça ›› (No âmbito deste Fórum realizou-se uma visita guiada às obras de regeneração urbana que será descrita mais adiante na atividade “Visitas Guiadas”) 38

›› Dicas para a poupança de energia. Ana Cristina Costa, Quercus ›› Ribeira de Couros, um registo fotográfico. José Cunha e Manuel Fernandes, AVE Associação Vimaranense para a Ecologia (No âmbito deste Fórum foram distribuídas aos participantes lâmpadas de baixo consumo e inaugurado o Presépio de Couros, descrito mais adiante na atividade “Exposições”).


Fórum. Design Participativo. Linhas imaginárias/Imaginar Linhas 14 de abril de 2012, Auditório da Fraterna Comissário: José Bártolo, ESAD

›› Arte Pública e Retórica: o discurso (das formas) no coração do projeto (como conversação). Mário Caeiro, ESAD ›› Ver em Baixo a Olhar para Cima. Marta Traquina, FBAUL ›› Inclusão social e comunidades participantes. Rosa Alice Branco. ESAD ›› O Instituto de Design de Guimarães. Ferrie van Hattum. U. Minho (No âmbito deste Fórum realizou-se ainda uma walkshop – visita de trabalho – com um grupo de moradores e designers a que se seguiu uma reunião de trabalho. Ambas serão descritas na atividade“Visitas Guiadas”)

Fórum. Teatro Jordão: o renascimento 2 de junho de 2012, Auditório da Fraterna

Inaugurado em 1938, o Teatro Jordão foi o principal espaço cultural da cidade durante décadas, acabando por ser encerrado em 1993. Na fase de preparação da candidatura a Capital Europeia da Cultura 2012, a Câmara Municipal viu uma oportunidade de recuperar para a cidade aquele teatro, tendo algum tempo depois encetado negociações com os proprietários para a compra do edifício. Para este Fórum foram convidadas a Câmara Municipal de Guimarães, entidade promotora do projeto de recuperação, a Universidade do Minho e a Academia de MúsicaValentim Moreira de Sá, enquanto entidades beneficiárias, para dar a conhecer os objetivos e proposta para a regeneração daquele extinto teatro, bem como as perspetivas programáticas e funcionais previstas. Foram intervenientes pela Câmara Municipal, António Magalhães, Presidente, Francisca Abreu, Vereadora da Cultura, José Cardoso Teixeira e Francesca Ryaner, da Universidade do Minho e Armindo Costa Sá Cachada, da Academia de Música Valentim Moreira de Sá.

39


40


Fórum-Festa. Arraial Popular 14 de julho de 2012, Rua da Ramada e pátio exterior do Instituto de Design de Guimarães

Este foi um fórum de festa, de convívio, muito reivindicado pela população local e proposto pelo Conselho de Comunidade. O arraial popular contou com um programa variado: barraquinhas de vendas, comes-e-bebes, música ambiente, rancho folclórico e atuações musicais.

Oficinas Foram realizadas várias oficinas com a participação dos moradores de Couros, embora algumas tenham sido abertas a outros participantes. Estas oficinas foram muito participadas e resultaram em trabalhos finais que tiveram destinos diversos, entre as quais, exposições.

Nas semanas que antecederam o arraial os moradores de Couros participaram numa oficina de decoração para engalanar a Rua da Ramada e o pátio do Instituto de Design de Guimarães onde foi montado um palco para a animação musical. Foram colocadas barraquinhas onde moradores de Couros venderam artesanato, petiscos e bolos. A organização deste arraial e das oficinas de decoração estiveram a cargo da Cooperativa Cultural Mercado Azul, de Guimarães,

Mapa da Comunidade de Couros

Fórum-Exposição

Na prática, os cidadãos da comunidade são convidados a construir uma maqueta da sua zona urbana, em oficinas dinamizadas por um arquiteto. Ao longo das sessões a troca de informações e o debate entre todos – de notar que podem ser pontualmente convidados especialista em matérias relacionados com os objetivos específicos elencados – promove a proposição de ideias e soluções pelos cidadãos para a sua comunidade. Todas as sugestões são depois colocadas na maqueta ou expostas em suportes escolhidos para o efeito: cartões, fotografias, desenhos, mapas, vídeos,etc.Alistagemdessaspropostasdevemserenviadasàsentidadesou organizaçõescomresponsabilidadesnasmatériasemcausaou,emnalguns casos,podemserconcretizadaspelospróprioscidadãosdessacomunidade. Concluído o processo realiza-se uma exposição final de modo a que outros cidadãos que não tenham participado na construção da maqueta possam também contribuir com sugestões, sendo que esta contribuição deverá ser ponderada pelos participantes “os construtores” da maqueta.

10 de novembro de 2012

O programa destes último Fórum foi inteiramente dedicado à apresentação e debate dos resultados do projeto, quer através da apresentação do livro “Uma experiência singular” quer através de uma exposição final que apresentou alguns marcos do projeto e objetos resultado das oficinas realizadas, o vídeo realizados ao longo do período e o making-of em vídeo. No Fórum foi ainda apresentado um livro resultado de uma investigação realizada pela jornalista Elisabete Pinto, sobre o passado industrial de Couros.

A metodologia de participação e envolvimento“Parish Maps”foi o suporte teórico para a realização desta oficina a que foi dado o nome de “Mapa da Comunidade de Couros2”. Esta metodologia tem como objetivo promover e incentivar nos cidadãos de uma comunidade a informação, o debate e a proposição de ideias e soluções para a sua comunidade nas áreas do urbanismo, da economia, da cultura, do social e do ambiente.

A oficina “Mapa da Comunidade de Couros”, seguindo a metodologia apresentada no parágrafo anterior, estendeu-se por 16 sessões, realizadas aos sábados, de janeiro a abril de 2012, e teve como temáticas mais relevante as questões relacionadas com a regeneração urbana de Couros, aliás em consonância com a envolvente – as obras patentes na zona – à data da realização desta oficina. Desta iniciativa resultaram algumas

2.  Ver fotografias no início deste capítulo. 41


propostas específicas para Couros, nas áreas dos espaços verdes (parque urbano), da iluminação pública e da segurança. A participação foi bastante elevada envolvendo 45 cidadãos, dos quais 23 eram moradores em Couros. Para além da participação destes cidadãos individuais, estiveram envolvidas, ainda que de um modo muito pontual, alunos de uma escola, de um jardim infantil e séniores do centro de dia da Fraterna. A equipa de arquitetos, quatro, acompanhou e esteve presente em todas as sessões, contribuindo para a grande dinamização e convívio que se gerou durante a oficina. No final do trabalho a maqueta foi exposta ao público durante um mês, nas instalações do Instituto de Design de Guimarães, tendo sido visitada por mais e sete centenas de pessoas. Quadro VI. O Mapa da Comunidade de Couros em números ITEM

NÚMERO

Sessões da oficina

16 a)

Horas de trabalho

1130 b)

Participantes (individuais)

45 c)

Instituições participantes

3

Arquitetos

4

Edifícios construídos

142

Propostas apresentadas

12

Visitantes da Exposição

738

a) Sábados, das 10h às 17h b) Produto da média de participantes/sessão pelo número médio de horas do participante/sessão pelo número total de sessões. c) Dos quais 23 moradores em Couros.

42

Oficina de Artesanato Ecológico “Soletas” Soletas era o calçado tradicional dos trabalhadores das fábricas de Couros, com ligeiras variações para homens e mulheres. Procurou-se recordar aqueles tempos intervencionando soletas de madeira em branco. Nesta oficina, de decoração de soletas, participaram moradores e alunos do 1º e 2º ciclo do Agrupamento de Escolas Egas Moniz, sediada em Couros.


Oficina de Arte Postal No âmbito da exposição “À Luz do Dia”, que adiante se descreve em mais pormenor, foi realizada uma oficina de arte postal dinamizada pelo fotógrafo, Marcus Garcia Moreira. Os participantes foram convidados a trazer materiais diversos, entre os quais fotografias antigas de Couros e mesmo fotografias pessoais. Com estes materiais foram realizados dezenas de projetos de postais, dos quais forma selecionados dois para produção gráfica.

43


Visitas Guiadas Visita às obras de regeneração urbana de Couros No âmbito do 1º Fórum de Couros, em grande parte dedicado à contextualização do processo de regeneração urbana de Couros, realizou-se uma visita guiada por arquitetos e engenheiros da Câmara Municipal de Guimarães, na qual participaram cerca de 120 pessoas, entre moradores e não moradores de Couros. A visita teve início no novo edifício do Instituto de Design de Guimarães, fruto da requalificação da antiga Fábrica de Curtumes da Ramada, seguindo-se as ruas intervencionadas e as intervenções em curso nas antigas fábricas de curtumes que darão lugar a um novo Ciência Viva e ao Instituto de Estudos Avançados da Universidade do Minho.

Walkshop “Design participativo” O Fórum “Design Participativo” foi pensado para incorporar uma componente prática envolvendo designers e moradores. Esta atividade, denominada“Walkshop”, teve duas componentes: a primeira, realizada na manhã que antecedeu o Fórum, foi uma visita guiada a Couros realizada por um conjunto de moradores. Nela os moradores foram apresentado a história da indústria de curtumes, visitando locais emblemáticos de Couros e perspetivando as novas intervenções de regeneração em curso. Acompanhou também esta visita o Diretor IDG, Instituto de Design de Guimarães, Ferrie van Hattum, que acompanhou o grupo às novas instalaçõesdaqueleequipamento.Asegundaparte,realizadaumasemana depois, foi uma reunião com o mesmo grupo, moradores e designers, onde se discutiram e apresentaram de ideias para Couros, no âmbito da participaçãoeenvolvimentodosmoradores.Foinestainiciativaquenasceu o projeto “Eu Sou Couros. Visitas guiadas pelo moradores a Couros”.

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Eu Sou Couros. Visitas guiadas pelos moradores a Couros. Esta atividade, iniciada em julho de 2012, foi criada no Fórum “Design Participativo” no decurso do trabalho realizado pelos designers e moradores no “Walkshop” já descrito. Trata-se de visitas guiadas pelo moradores a visitantes de Guimarães que, através da marcação no site criado para o efeito (www.eusoucourostour.pt) têm acesso gratuito a uma visita personalizada a Couros. Cada grupo é acompanhado por um ou dois moradores que, com os conhecimentos pessoais que têm da zona e das suas próprias vivências, realizam um percurso mostrando alguns dos aspetos mais caraterísticos de Couros. Tendo em conta as competências linguísticasdosmoradoresquesedisponibilizampararealizarestaatividade, foram criadas visitas em português, inglês e russo. Esta é uma atividade que fica disponível para lá do encerramento do projeto, caso as dinâmicas criadas e o interesse dos moradores se mantenham.


Exposições As diferentes exposições realizadas resultaram de trabalhos em oficinas participadas pelos moradores de Couros, com exceção da exposição de fotografia que foi um trabalho de retratos de moradores realizados por um fotógrafo.

Presépio Comunitário Para o Natal de 2011 foi construído um Presépio Comunitário num antigo sequeiro de couros outrora pertencente a uma fábrica de curtimenta e que foi recuperado fazendo agora parte das instalações da Fraterna. Foi convidada uma cenógrafa que orientou e acompanhou um pequeno grupo de moradores na construção do Presépio. Para a sua criação foram utilizados restos de couros, na verdade algumas dezenas de quilos,

fornecidos por uma empresa local fornecedora de couro para sapatos e botas. As tradicionais figuras do presépio foram todas modeladas em arame e cobertas pelos restos de couro, num padrão de cores limitado às do tingimento que aquela fábrica produz. Os moradores forneceram alguns dos restantes materiais utilizados, como restos de tecidos. Musgo recolhido na Pena e palha foram os restantes materiais utilizados. Após a sua construção o Presépio ficou em exposição pública no período de 20 de dezembro a dia 6 de janeiro de 2012. Esta atividade foi a primeira a ser proposta pelo Conselho de Comunidade.

Mapa da Comunidade e Soletas Resultado das oficinas “Mapa da Comunidade de Couros” e “Artesanato Ecológico – Soletas”foi realizada uma exposição, em duas salas distintas do Instituto de Design de Guimarães, durante um mês. Foi uma oportunidade de mostrar à cidade o trabalho que estava a ser feito em Couros e um modo de atrair mais visitantes áquela zona da cidade de Guimarães. 45


À Luz do Dia Uma das iniciativas mais discutidas no Conselho de Comunidade foi a realização de uma atividade no âmbito da fotografia. Inicialmente os moradores propuseram que fosse feita uma recolha de fotografias antigas de Couros e que dessa recolha fosse feita uma exposição. Cedo se verificou que o acervo era muito limitado, disperso e de difícil recolha. Daí que outras propostas fossem apresentadas e discutidas. E assim nasceu a ideia de realizar retratos aos moradores que se disponibilizassem, reproduzidos em telas de grande formato para serem expostas nas ruas de Couros. “À Luz do Dia”, que decorreu de 30 de junho a 30 novembro de 2012, foi uma exposição de fotografias de grande formato, retratos de moradores de Couros realizados pelo fotógrafo Marcus Garcia Moreira. Foram expostos em paredes, ruínas e muros nas ruas de Couros, reproduzidas em telas de dimensões variadas (ver páginas 49 e seguintes). No desdobrável realizado para efeitos de divulgação da Exposição podia ler-se: “A escolha pelo retrato tem, desde logo, a intenção de servir como lugar de confrontação e diálogo, num primeiro instante, entre cada uma das pessoas fotografadas e o próprio fotógrafo, mas também num segundo instante,omomentodasuareceçãoenquantoobjetodeexposiçãopública, que no caso adquire uma dimensão um pouco maior do que o habitual. Esta dimensão e a rua enquanto lugar eleito para mostrar o trabalho nada tevedeintençãoexibicionistaoumesmoespetacular,elaganhasentidopela vontade do autor em libertá-los dos espaços convencionais das galerias, mas também enquanto possibilidade de atribuir a cada pessoa retratada qualidades que nos estão vedadas em grande parte da nossa vivência quotidiana.” E mais adiante, “Todos os retratos foram realizados durante o dia e os locais escolhidos de forma a que pudessem acrescentar mais um dado na leitura dessa paisagem única que é cada pessoa”. Esta foi a atividade de maior visibilidade pública, em grande parte pelo formato de exibição – ao ar livre, nas ruas. Foi certamente vista por alguns milhares de pessoas que passaram ou visitaram Couros, não apenas porque estávamos em ano de Capital Europeia da Cultura, mas porque a regeneração urbana de Couros isso permitiu. Mas, mais importante do que a sua visibilidade, a atividade que mais contribui, muito por força do reconhecimento público, para aumentar a autoestima dos moradores e a sua relação identitária ao lugar Couros. 46

O reconhecimento dos outros, força motriz da autoestima, é também fator importante nos processo de participação e envolvimento dos cidadãos, sobretudo num caso particular como este, em que os moradores se sentiam esquecidos vivendo numa zona em acentuada degradação urbana e isolada da cidade, ainda que central. Nem sempre são as periferias das cidades onde se manifestam estes sentimentos.

Exposição Final do Projeto Realizada após a publicação deste livro, a Exposição Final do Projeto foi mais um momento de mostra do conjunto das atividades realizadas no âmbito do projeto “Couros.Envolvimento”. Do programa consta: ›› Mostra dos objetos produzidos (maqueta de Couros, soletas, postais, cartazes, jornal “Notícias de Couros”). ›› Exibição do filme-documentário do projeto ›› Lançamento e apresentação do livro do projeto “Uma experiência singular”.


Festa-Arraial Popular

Couros.2020

A Festa-Arraial foi mais uma atividade que nasceu do debate no Conselho de Comunidade. Sem festividade nem comemorações na zona, a população reivindicou a sua festa. Mobilizados para oficinas de decoração de rua dinamizadas pela Cooperativa Mercado Azul, organizadora desta Festa-Arraial, para a tendinhas de venda de comes-ebebes e de artesanato, os moradores participaram em grande número. Cerca de um milhar de pessoas passaram neste arraial, esgotando todos os comes-e-bebes que os diferentes moradores confecionaram, bailando ao som do rancho folclórico de Creixomil e do artista popular convidado para animação. Foi um momento de confraternização e de alegria.

Não sendo uma atividade, antes um resultado, Couros2020 é um conjunto de sugestões e recomendações a apresentar no Relatório Final deste projeto3 ao promotor de Couros.Envolvimento, a Fraterna. Aquelas serão geradas pela agregação das conclusões provindas de algumas das iniciativas e atividades realizadas, das propostas contidas na avaliação e das conclusões finais em resultado da avaliação do projeto Couros. Envolvimento. Por último, referir que elas serão apresentadas e debatidas no Conselho de Comunidade antes da sua fixação no Relatório referido.

Lançada a festividade a pergunta que se impõe: haverá continuidade? A resposta está nas mãos dos moradores de Couros e das instituições que ali estão localizadas.

3.  A edição deste livro antecedeu em cerca de um mês e meio a apresentação do Relatório Final. 47


Ă€ LUZ DO DIA

Marcus Garcia Moreira

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Capítulo

OLHARES COMPROMETIDOS


Neste capítulo apresentam-se testemunhos de pessoas que estiveram ligadas ao projeto, como parte integrante da equipa ou como moradores de Couros e participantes nas atividades. São textos muito diferentes, mas todos expressando a sua visão muito particular. São os melhores retratos do projeto: pessoais, genuínos e comprometidos.

conto tudo, explico tudo mais do que uma vez – Ó doutora nós não temos tempo para isso, envolvimento? Mas afinal isso serve para quê? Temos os netos, os filhos, temos dificuldade em andar e estamos velhos – são as observações que registo. – Mas quer saber o quê? Dançar, isso sim, gosto de dançar, de música. Eu prefiro aprender a cozinhar, mas ó menina, quer entrar, beber uma água, está calor!

Sobre o envolvimento da população de Couros: apontamentos de uma socióloga no terreno.

Fico. Fico mais do que o tempo do inquérito e na minha memória vão-se registando momentos. Abrem-se as portas das casas pequenas, nas vielas de Couros; nos prédios são poucos os que atendem: ouço vozes, televisão, mas a maioria (dizem-me) estão desabitados (alguns embargados) e os que ali habitam são jovens, não têm tempo, confirmam os restantes moradores. – Envolvimento? Eu respondo ao inquérito, diga lá o que quer saber mas participar não conte muito com isso, para que é que isso serve? Aqui ninguém quer participar, é cada um para o seu lado.

Estávamos em pleno verão de 2011 e em Guimarães fazia muito calor. Era o primeiro dia em Couros, o primeiro contato com a sua população. Os dados revelados eram insuficientes e pouco concretos. Por ali vivem aproximadamente 170 pessoas, sendo a maior parte idosos e, certamente, pouco disponíveis para a participação (disseram-nos). Parti com essa ideia, umapopulaçãopoucoativa,envelhecida.Algunsprédiosnovosprometiam a existência de jovens e talvez aí, sim, talvez aí, conseguisse apelar à participação comunitária, ao envolvimento no projeto. Começo por bater às portas das pequenas casas que fazem parte dos percursos mais acidentados de Couros. Pedrinhas em paralelo brilham no chão e o sol queima os seus muros enfeitados de vasos e flores, muitas flores e alguma roupa a secar. Tento adivinhar quem vive lá dentro. Bato uma, duas vezes. As portas abrem-se após uma espreitadela curiosa. Abrem-se quando me identifico, digo: – Olá, sou da Fraterna e venho fazer-lhe umas perguntas, pode ser? – Ó menina é sobre as obras? É que se é sobre as obras eu estou muito zangado!. Esta observação repete-se várias vezes. Esclareço a minha intenção, aplicar um inquérito – Mais um? Andam por aí os da Câmara sempre a fazer inquéritos e as ruas estão esta desgraça! A Abordagem exige um sorriso e muito esclarecimento:

Fico renitente, volto à ruas. Nas casinhas baixas passo de vizinho em vizinho. A curiosidade joga a meu favor e deixo-me ir. Dar-lhes a palavra, a ela, à população, é somar pontos neste processo. Afinal, é tudo uma questão de "saber ouvir". O começo é rude, mas amacia com o tempo de conversa. Desabafam, não estão habituados a que lhes seja perguntada a opinião e quando o fazem raramente é levada em conta. As ruas calcetadas são obstáculos à mobilidade dos mais velhos, as águas da ribeira de Couros entram-lhes pela porta, os restauros efetuados nas pequenas casas não correspondem às necessidades de alguns dos idosos, – Foram pensadas para quando morrermos, para os estudantes, mais jovens, que podem subir e descer escadas. A mim tiraram-me a cozinha deste lado, da rua, percebe? Eu estava a maior parte do tempo na cozinha, com a janela aberta, tinha luz, ar e via a vizinhança a passar. Agora é ali dentro, um buraco, sinto-me isolada. Desabafam. 75


A simpatia dá, por vezes, lugar à revolta quando se fala de Câmara, de obras e de futuros arranjos. Sentada nos sofás, nas cadeiras, na soleira das portas, registo o que gostam, as histórias de Couros, o que os motiva, as intrigas, as relações, os afetos. Entre um copo de água e um convite para o almoço escuto as suas histórias de vida. O que os levou para Couros, o trabalho nas fábricas, o alcoolismo como chaga social, os cheiros nauseabundos dos tanques, os casamentos, os filhos que partiram, percursos trilhados que marcam cada pedra da calçada dura, como a vida. À espreita, em muitas janelas, estão as flores: – Isto é muito bonito na primavera menina, eu gosto muito de colocar aqui flores mas parece que vai ser proibido, depois das obras, a Câmara não deixa. Tenho pena. Não me deixaram colocar os vasos cá fora, diz que é por causa dos arquitetos, é o que dizem! No outono de Couros. À medida que percorro as ruas, constato que a maioria são realmente idosos mas encontram-se Holandeses que passaram por cá e ficaram; Brasileiros que se apaixonaram; uma Russa; familiares dos donos das fábricas de Couros agarrados à memória local, estudantes (poucos) que nem sabem que ali é Couros e outros "novos moradores" a quem a zona não diz muito. Os raros casos de jovens que consigo entrevistar não tem tempo: – Temos as aulas, temos que estudar e aqui não temos amizades, nesta zona. Percebo que teremos algumas dificuldades no terreno: as relações humanas, a motivação para a participação. Entrevistados 70 moradores e com algumas ideias na manga o primeiro Fórum aconteceu. Apareceram 90 pessoas, a maioria moradores de Couros, e na visita integrada no Fórum, mais de uma centena. Uma surpresa. – Foi giro. Recordámos o passado, o que era Couros, vimos antigos vizinhos. Na visita às obras de regeneração em curso na zona, visitou-se a fábrica da Ramada – o futuro Instituto de Design de Guimarães -, a participação foi elevada e as memórias escutadas em cada canto – Era aqui que eu trabalhava, ia comer à Piedade e bebia um copo lá, isto aqui fazia muito frio. Sentia-se a emoção, ouviam-se os suspiros e pelos meus dedos iam-se escapando histórias que ouvia às pingas. Percorria-se a fábrica com saudade e a memória de um tempo doloroso, de trabalho muito duro, que persiste em cada morador/trabalhador.

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Lançámos a primeira reunião do Conselho de Comunidade e 4 moradores apareceram guiados pela curiosidade. Apresentaram-se os objetivos do projeto e decidiu-se fazer um presépio de Couros para o Natal desse ano. Chegados ao inverno, O "jornal de Couros" foi dando voz à população e aparticipaçãonasdiversasatividadescomeçou.Timidamente,apareceram meia dúzia de moradores para fazer o presépio de Couros e mais de uma centena e meia para o contemplar. O Conselho de Comunidade, de sessão em sessão cada vez mais participado – por vezes mais de duas dezenas de moaradores – proporcionou-lhes o espaço para troca de ideias – Ninguém quer participar menina e eu também não, diziam sempre, em cada reunião. E na próxima lá estavam, orgulhosos das atividades em que iam participando. Construiu-se Couros em ponto pequeno numa "maqueta" onde as histórias pontuaram os dias de trabalho. E foram muitos sábados!. Partilharam-sesonhosedesgostos,conheceram-sevizinhosquemoravam mesmo ali ao lado mas com quem nunca se tinham cruzado. Trocaram-se telefones,partilharam-seresponsabilidadesnasinaugurações/exposições dos trabalhos efetuados. O orgulho da participação no projeto “Couros. Envolvimento” fortaleceu-se ainda mais com a presença do Presidente da Câmara, de vereadores, do ex-jogador do Vitória da Guimarães "Neno" e de outros convidades que foram trazendo a Couros a importância do passado na construção do presente. Começou a Capital da Cultura, veio gente, muita gente ver as atividades da população. De poucos passaram a muitos, reuniram, construíram, fizeram-se festas e deram-se abraços. Trocaram-se sorrisos, ideias. A gente de Couros, a tímida gente de Couros que “não existia”, afinal estava ali. Sempre poucos, diziam, mas cada vez mais. Contradição? Não, apenas um modo de ser. E afinal não há só idosos, há jovens também, que foram sabendo, foram vendo Couros crescer em novas estruturas e numa nova abertura ao turismo e à população. As ruas foram arranjadas, a primavera lançou a cor que despertou ao som das soletas pintadas pelos meninos da escola e pela população. – Já nos quiseram comprar as soletas, sabe doutora! Eu vou andar com as minhas na rua. A participação consolidou-se na exposição de fotografias expostas na rua. – Até somos conhecidos pelos turistas, passam aqui e perguntam se eu sou a senhora que estou na rua da Ramada, ainda me rio! – O fotógrafo podia era ter tirado as rugas que eu não tenho assim tantas,


ou tenho? – Olhe eu não gosto de me ver exposta na rua mas diga lá ó fotógrafo se eu posso ir ao cabeleireiro, arranjada até tiro a fotografia. – Ó Sr. Fotógrafo venha a minha casa, é tão linda! . Por estas incursões Couros abriu-se e revelou-se: – Isto agora está muito bonito, as ruas novas, tudo mais arranjado, é pena...não participarem mais. 24 participaram na exposição de fotografia, muitos mais ficaram com essa sede. A população é arrojada, divertida, há pintores naif, há costureiras, boas cozinheiras, bordadeiras, sobretudo graciosos seres humanos que se envolveram com o projeto. Mostraram os seus saberes e despertaram para outros. Inauguramos o verão ao som do "arraial popular" decorado por eles, organizado por eles, vivido intensamente por eles. Fecha-se o projeto: – Ó menina mas isto agora era bom continuar. Isto foi muito importante apesar de participarem sempre poucos...mas e agora? Não é que tenha tempo para vir mas agora é que isto estava bom! Muitas histórias teria aqui para contar, são necessárias muitos dias, muitas horas para conhecer a população. Um a um fazem-se os contatos. É sempre necessário ouvir todas as histórias, esperar tranquilamente que façam as suas rotinas para, depois, se sentarem connosco e, pacientemente, soltarem o que lhes vai na alma. A vida de uma socióloga no terreno traduz-se em aventura permanente adocicada pela panóplia de histórias da gente do nosso País, pequenos, pequeninos apontamentos mas são muito, porque são voz de gente!

O sociólogo que se interessa pelo quotidianoprocuraintegrarnoeatravésdo conhecimentooqueestápróximo;inventa (nosentidodein-venire),salientandotodos os fragmentos de situações minúsculas, banalidades que, por sedimentação, constituem o essencial da existência. Maffesoli, M. (1998, p.47-48)

Rita Fernandes, socióloga da equipa do projeto

Dar Vida A Couros Moradora na Rua de Couros há 44 anos, ainda sou do tempo que só havia fábricas de couros. Anos depois, umas arderam, outras faliram.Tudo ficou completamente abandonado. Mais tarde, por sorte do destino, por sermos uma cidade muito antiga e bonita, tudosemodificou,parafelicidadedetodosnós,principalmenteazonadeCouros. “Dar Vida A Couros”, o slogan do projeto“Couros. CampUrbis. Envolvimento da População Local”, surgiu em 2011. Logo nesse ano participei no “Presépio” ajudando a fazer todas as imagens com vestidos em restos de couro. Obrigado àqueles que estiveram à frente deste evento. Semanas depois fui convidada a participar noutras atividades, que para mim foram o máximo. Fazer a maqueta da zona de Couros em miniatura, que consistia mais propriamente em fazer as casas em ponto minúsculo e, em simultâneo as “Soletas”. No dia14 de abril de 2012 foi a inauguração deste evento. No fim ofereceram-nos um almoço. Foram convidados profissionais envolvidos no projeto que por sua vez nos convidaram a fazermos uma visita guiada pela zona de Couros. Foi um dia para mim cheio de emoções. Na semana seguinte ficaram eles de fazer uma visita guiada aos moradores que trabalharam no projeto, mas São Pedro não deixou. A chuva era tanta que acabamos por ficar na Pousada da Juventude a dar ideias para outras atividades para a nossa zona. Depois trabalhámos na Exposição “À Luz do Dia”. Tiraram aos moradores fotografias, para serem expostas pela zona de Couros. Criamos postais. Havendo uns dias de pausa, trabalhámos noutro evento que fez parte do mesmo projeto, o “Arraial”, que foi super divertido. Trabalhar à noite para fazer a decoração das ruas, foi super bonito. Foram milhares de horas de trabalho, mas foi por gosto. Eu esqueci os meus problemas, as mágoas, conheci muita gente, arranjei muitos amigos, fiz muitas amizades que espero que sejam para continuar. Agradeço a todos os arquitetos e arquiteatas, portugueses e estrangeiros, a paciência que tiveram para nos ensinar a todos, sempre com um sorriso. Nunca nos deixaram tratá-los por “Arquiteto (a)”, mas sempre preferiram ser tratados como outra pessoa qualquer. O meu muito obrigado, porque sem eles nada disto seria possível. Nunca vou esquecer este momento de participação para a melhoria da zona de Couros, mais concretamente da Rua onde moro há 44 anos. Maria Luísa Mendes Faria, moradora em Couros 77


A minha Rua

O meu testemunho sobre Couros

Sendo um jovem nascido e criado na Rua de Couros, aos 31 anos dou o meu testemunho. Não fiz parte de todos os eventos, mas estive sempre atento. Tive sempre em casa quem me desse as novidades, não fosse eu ter uma mãe que ficava eufórica de tanta alegria que sentia de participar em tudo isto. Vi todo o trabalho que fez. Eu participei no projeto “À Luz Do Dia” tendo também a minha fotografia exposta juntamente com a de outros moradores e gostei muito de todo este trabalho.

Sou Couros, por laços matrimoniais e já lá vão cerca de 50 anos, passei a ser de Couros. Quando assisti ao primeiro Fórum, fiquei desconfiado e cético, quanto aos resultados da iniciativa levada a cabo pela Câmara Municipal de Guimarães, Fraterna e Setepés.

O meu muito obrigado a todos os que estiveram por trás de todo este projeto.

Presépio de Couros, trabalhado com carinho por ser representativo do Nascimento de Jesus, feito com pedaços de peles de couros, com a colaboração dos (poucos) moradores de Couros, lá surgiu belo e diferente, mas com a dignidade e o significado que a época assim exigia. Visitado por centenas de pessoas que ficavam encantadas com o mesmo.

David Tiago Faria Dias, morador em Couros

Participar e dar vida a Couros Sou moradora, nascida e criada na Rua de Couros. Eu e o meu marido, fomos convidados para participar e dar vida a COUROS. Em 2011 começamos pela construção do Presépio, depois em 2012 participamos na construção da Maquete (em miniatura) do Burgo de COUROS, onde construímos, CASAS, IGREJAS, FÁBRICAS e RUAS. Ao mesmo tempo, decoramos as SOLETAS, calçado dos pobres do antigamente, fizemos POSTAIS, colaboramos nas fotos que estão expostas em diversos lugares do Burgo de COUROS. Decoramos e fizemos o arraial de S. JOÃO, com sardinhada e seus derivados, a seguir fizemos a FEIRINHA na Ramada, com a venda de diversos produtos, a preços económicos, com música ao vivo e atualmente estamos a fazer uma horta Biológica, que serve também para ponto de encontro e convívio, com as amizades que entretanto se foram fazendo. Isto tudo se deve aos nossos professores, que com muita paciência e sabedoria, nos foram instruindo e orientando, o que muito nos orgulhamos e muito agradecemos. Portanto para todos aqueles que colaboraram e nos ajudaram neste projeto, para que COUROS se tornasse mais conhecido e visitado, o nosso muito obrigado. Esménia Silva, moradora em Couros

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Pé ante pé, e de mansinho, as iniciativas lá foram surgindo e levadas a efeito, e devo reconhecer que para surpresa minha acabaram por ter sido um êxito.

Maqueta de couros, nova iniciativa onde voltaram a colaborar mais alguns moradores locais, que com a ajuda de alguns arquitetos, e depois de muitos sábados de trabalho, foi possível levar a cabo a missão de ser construída uma maqueta com toda a zona de Couros. Trabalho notável reconhecido por centenas de visitantes a quando da sua exposição ao público. Simultaneamente também foi mostrado ao público uma exposição de soletas ou socas, como lhes chamaram os mais atentos, com trabalhos artísticos de muito bom gosto. Entretanto realizaram alguns Fóruns de muito interesse, que enriqueceu de conhecimentos, quem assistiu. Outra iniciativa que não posso deixar de fazer referência foi a festa, o Arraial Popular levada e cabo pelos moradores. Por lá passaram centenas de pessoas que assistiram ao espetáculo e se deliciaram com as iguarias por lá apresentadas pelos moradores. Isto é Couros, com todas as iniciativas e com a requalificação levada a cabo pela nossa autarquia. Guimarães Capital Europeia de Cultura e Couros está no mapa, tornou-se num local de visita quase obrigatória para quem nos visita. Tive o privilégio de ter sido guia, na zona de Couros na iniciativa EuSouCouros, para alguns turistas que nos visitaram e que mostravam a sua perplexidade pela forma cuidada e surpreendente como esta zona foi, e está a ser requalificada. Guimarães está a ser invadida por gentes de todos as partes de Portugal e do Mundo. Mas… não há bela sem se não…neste momento, com a requalificação já quase concluída, olho


com algum pessimismo para o mesmo. Espero que os responsáveis autárquicos (Junta de Freguesia de S. Sebastião e Câmara Municipal), promovam iniciativas para que esta zona de Couros, tenha o mínimo de dignidade. Neste momento, as viaturas estacionam nos passeios e os peões têm de caminhar pelo meio da rua. Temos locais que estão a tornar-se urinóis públicos, o tanque muito bonito colocado no Largo do Trovador, (inacabado) está transformado num depósito de lixo! Isto é Uma Praça, iniciativa levada a cabo pela CEC2012, local onde se realizaram vários espetáculos e eventos interessantes, está a tornar-se num local de tráfico e consumo de drogas, estando a ser vandalizado pelos frequentadores indesejados pelos moradores, mas que não têm autoridade para os afastarem de lá. Sou Couros Manuel Salgado Ferreira

Eu faço parte Certo dia a minha campaínha tocou, abri a porta era uma menina muito simpática, apresentou-se como sendo a Rita Fernandes, conversamos sobre o projeto “Couros.CampUrbis”, projeto esse que consistia no envolvimento da população local onde iriam participar todos os moradores da zona de Couros. Chegou o dia da primeira reunião1; então deparei-me com pessoas que não me entusiasmaram para participar nesse projeto. Entretanto não apareci mais às reuniões. No passado mês de dezembro (2011), teve inicio o primeiro projeto que consistia, porque a época que se aproximava era o Natal, na construção de um “presépio”, na qual também não participei. Entretanto voltei a ser contatada pela menina Rita Fernandes que me informou que iria haver nova reunião do Conselho de Comunidade.

Mais uma vez fui à reunião, convencida que iria ficar com a mesma opinião, isto é, não participar em nada do projeto. No final da reunião fiquei com uma opinião diferente. Foi a partir daí que nunca mais desisti, talvez porque as pessoas que participaram na reunião transmitiram mais confiança e todos juntos demos uma nova vida a “COUROS”. Construímos a maquete da zona de couros; foi muito interessante, mas bastante difícil, mas com a ajuda valiosa dos arquitetos, grande equipa, pois sem ajuda deles esta maqueta não tinha pernas para andar. Projeto seguinte, a oficina de soletas; todos os moradores que faziam parte fizeram as soletas, umas pintadas outras bordadas outras com aplicações, foi muito interessante. Passo seguinte: a exposição fotográfica e a oficina da arte postal. Quem diria que um dos postais selecionados iria ser o meu, por uns momentos senti-me uma adolescente na disciplina de trabalhos manuais! E por fim não esquecendo o arraial e a construção da mini “HORTA”. É saudável mexer na terra ver de dia para dia as pequenas sementes a crescer, mais entusiasmo nos dá, porque é algo que sai das mãos, do coração, sendo a mini horta o nosso ponto de encontro, nesse local falamos, rimos, convivemos… Ao longo destes projetos em que participei não sei dizer qual foi o projeto que mais me agradou, embora conhecesse as pessoas do dia a dia, para mim foi uma mais valia as amizades que criamos e pelo convívio entre todos. Tenho que agradecer ao Srº Henrique Praça, à menina Rita Fernandes, à Drª Paula Oliveira e aos arquitetos Daniel Duarte, Marta Labastida, Cidália Silva e Rute Carlos; e ainda à Florbela Castro e à Chiara, ao fotógrafo Marcus Moreira, a todos os moradores que participaram, o meu muito obrigado por tornar possível este projeto. Maria Amélia Carvalho Lopes Martins, moradora em Couros.

1.  Primeira reunião preparatória para a implementação do futuro Conselho de Comunidade de Couros. 79


Tudo é possível com a ajuda de todos. Fotografia do projeto “Isto é uma Praça“, Coletivo ESTERNI, Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.

Couros tem vida Quando decidi participar nas atividades que iam decorrer em Couros nunca esperei que se desse esta revolução em Couros. Foi tudo muito positivo, aumentou o turismo e fomos incentivados, em cada dia, a melhorar Couros. Adorei fazer estas atividades porque me fez acreditar que Couros tem VIDA.

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A minha vida é em Couros, se me mudasse, a minha felicidade ia ser outra; aqui as pessoas são simpáticas e por isso é que nos juntamos para este programa de atividades, a erguer com grande orgulho. As atividades foram todas muito interessantes. Foram propostas que ficarão na minha vida para sempre. Adorei, adorei muito. Eu espero que este projeto dure mais tempo, porque mal não está a fazer, mas benefícios está a trazer. COUROS É A MINHA VIDA!!! Mafalda Ribeiro, 12 anos, moradora em Couros

Não comprometer o “sonho” de fazer a diferença!

Disse-lhes que conhecia muito bem Couros, que o meu avô tinha tido em tempos uma fábrica nesta zona! Ela entusiasmou-se, começava a identificar costumes e histórias, e eu fiquei orgulhosa, afinal sempre posso dar o meu contributo, afinal eu estava ligada a este lugar, eu também tinha uma história, mas rezava para que não me fizesse muitas perguntas. Eu apenas sabia vagamente onde se situava a fábrica! Pensei, vou ter de fazer algumas pesquisas, tenho de saber mais sobre a minha história, a história da minha família em Couros! Entrámos numa casa de uma senhora já de idade que vivia sozinha. Vi fotografias numa mesinha de entrada, tentei reconhecer algum rosto, a minha ansiedade de me aliar a esta gente, consumia-me! Fui fazendo perguntas sobre as fotografias, a senhora era adorável! Foi respondendo e contando a sua história, mostrou-nos todos os compartimentos da casa e eu aí imaginando como seria viver aqui!

Estávamos no primeiro dia de intervenção direta em Couros. O Projeto tinha iniciado há pouco tempo e a Rita Fernandes ia iniciar as visitas à população. Eramos acompanhadas pelo Presidente da Junta, e a ideia era conhecer os habitantes de Couros, as suas histórias, perceber como viviam, como olhavam aquela zona…

A parte de cima da casa tinha muito sol e umas vistas fantásticas! Da varanda, consegui identificar a Fraterna, a avenida dos “meus sonhos”de criança e muitas outras casas, igualmente típicas e parecidas com a que eu estava a visitar. Pensei, gostava de viver aqui. Será que há casas à venda! O Presidente da Junta disse-me que algumas estavam a sofrer intervenções e melhoramentos. Ótimo, esta zona merece um olhar atento. Alguém “teve olho”, vou-me pôr atenta!

Descemos a rua que vai dar à Ilha do Sabão…fiquei impressionada! Era um sítio acolhedor, caraterístico por ainda manter os traços iniciais da sua construção,ruasestreitasepequenas,senhorasàjanelaquecumprimentavam todos os que passavam, era um lugar quase familiar. Não conhecia este sítio, não conhecia Couros e, por momentos, senti-me envergonhada!

Com o tempo percebi, estava certa. Esta zona da cidade era especial! Senti-me uma sortuda por estar envolvida neste projeto. Podia conhecer melhor estas pessoas, fazer algo por uma identidade comum que só quem cá vive ou viveu, pode sentir! E eu afinal também fazia parte dela! Estava comprometida!

A Rita, que é do Porto e estava aqui para iniciar o projeto na “minha cidade”, fazia-me perguntas sobre esta “gente”, sobre as ruas e histórias, e eu não sabia de nada! Tentei disfarçar, eles não poderiam saber que eu não conhecia este lugar! Costumava passar aqui em criança…eram as ruas apertadas que me levavam até à Avenida D. Afonso Henriques, a grande avenida que tinha o Centro Comercial, com muitas luzes e muita gente, na altura, o único, uma inovação que tinha chegado à cidade, onde num só espaço se podia comprar tudo, olhar as montras sem ser preciso a minha mãe me segurar na mão, não havia carros e eu podia correr em liberdade.

Comprometida porque queria disponibilizar a minha atenção a esta“ideia”, Comprometida porque sabia que o tempo de execução do projeto era limitado, Comprometida porque não sabia o quanto as pessoas nos iam aceitar, Com o tempo percebi que a população é que se comprometeu connosco Obrigando-nos a agir para não comprometer o “sonho” de fazer a diferença! Ana Rita Miranda, equipa do projeto

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Capítulo

AVALIAÇÃO DO PROJETO


Apresenta-se neste capítulo a avaliação de grau 1 “Satisfação” realizada a dois grupos de pessoas: participantes, moradores de Couros; outros participantes no projeto que inclui tanto dinamizadores de atividades como outras pessoas com informação relevante sobre o mesmo por dele estarem próximos ou com ele terem contatado de perto.

Participantes, moradores de Couros Narealizaçãodestaavaliaçãofoiconstituídaumaamostrarepresentativada população de participantes (apenas moradores em Couros), no total de 10. A análise do Quadro VII mostra que as atividades mais participadas foram o Conselho de Comunidade, o Mapa da Comunidade e a Organização da Festa Popular. Aquela com menor participação foi o Jornal “Notícias de Couros” e Visitas Guiadas a Couros/EuSouCouros. À que notar que o jornal foi encarado mais como meio de divulgação do projeto, dada as características da população de Couros, e menos como atividade de participação, embora tivesse sido criada uma secção “Opinião” aberta à participação de qualquer leitor (morador ou não morador em Couros), que foi sempre preenchida em todas as edições.

Quanto à avaliação das iniciativas, eventos e atividades, gráfico 1, os participantes deram nota muito positiva, situando-se no nível máximo “Muito interessante” ou muito próximo deste. À questão formulada para inquirir as iniciativas, eventos ou atividades que gostariam de manter no futuro, estão em destaque o Conselho de Comunidade, o jornal “Notícias de Couros”, o Presépio de Couros, a organização da Festa – Arraial Popular e as atividades que resultaram de oficinas tais como, “Mapa da Comunidade” e “Soletas”. Em relação a estas oficinas, seriam mais adequado para futuro, propor oficinas sobre novos conteúdos que trabalhassem novas competências. Por fim, a avaliação dos moradores quanto à consecução do objetivo geral do projeto, “Envolver os moradores na apropriação do espaço de Couros e no futuro da zona”, e ao nível da sua concretização, foi também bastante positiva, repartida igualmente pelos níveis “Relativamente alcançado” e “Totalmente alcançado”. No que diz respeito a este assunto, e afim de melhor enquadrar as condições da sua exequibilidade, é necessário referir que o projeto “Couros.Envolvimento” teve início sensivelmente um ano após o começo das obras de regeneração urbana de Couros, ainda que estivesse previsto para ser iniciado antes destas, como seria normal num projeto desta natureza e com aquele objetivo geral. Por outro lado, e em consequência do atraso referido, o projeto “Couros.Envolvimento” teve que executar o seu programa e plano de ação em sensivelmente um ano, período de tempo muito curto para os objetivos pretendidos.

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QUADRO VII. Número de respostas por atividade em que participou. ATIVIDADES

Gráfico 2. Indique três atividades que gostaria de manter no futuro.

TOTAL

Conselho de Comunidade

10

Conselho de Comunidade

10

Presépio de Couros

6

10

Jornal de “Notícias Couros”

4

Presépio de Couros

Foruns Temáticos

8

Jornal de “Notícias de Couros”

10

Mapa da Comunidade

9

Foruns Temáticos

“À Luz do Dia” (Exposição de Fotografia)

6

Visitas guiadas a Couros

5

Mapa da Comunidades

Oficina Arte Postal

8

Oficina de Soletas

10

“À luz do Dia” (Exposição de Fotografia)

8

6

Visitas guiadas a Couros

8

Oficina de decoração para arraial popular/festa

9

8

Organização da “Festa Popular”

10

Oficina Arte Postal

Gráfico 1. Das atividades em que participou, qual a que achou mais interessante? Conselho de Comunidade

3,6

Presépio de Couros

Foruns Temáticos

Oficina de Soletas

10

Oficina de decoração para arraial popular / festa

10

Organização da “Festa Popular”

10

4

Jornal de “Notícias de Couros”

3,8

Gráfico 3. O objetivo geral do projeto “Couros CampUrbis. Envolvimento da População Local” foi o de envolver os moradores na apropriação do espaço de Couros e no futuro da zona. Acha que esse objetivo foi alcançado?

3,4

Mapa da Comunidades

4

“À luz do Dia” (Exposição de Fotografia)

3,8

Totalmente alcançado

50%

Visitas guiadas a Couros

3,8

Relativamente alcançado

50%

Oficina Arte Postal

4

Oficina de decoração para arraial popular / festa Organização da “Festa Popular”

Não foi alcançado

3,9

Oficina de Soletas 3,9

3,8

Escala: 1 nada interessante / 2 pouco interessante / 3 interessante / 4 muito interessante

84

8

0%


Outros participantes no projeto. Pediu-se igualmente a um conjunto de pessoas que participaram na qualidade de dinamizadores de atividades ou que acompanharam algumas iniciativas e eventos que fizessem uma avaliação do projeto “Couros. Envolvimento”,umavezquetinhaminformaçãoprivilegiadasobreomesmo. O Quadro VIII foi apenas utilizado para controlo permitindo identificar as iniciativas, eventos ou atividades que não foram objeto de avaliação, tais como, o Presépio de Couros, o jornal “Notícias de Couros”, e as visitas guiadas a Couros, por nelas não terem participado ou delas não terem informação suficiente.

Os testemunhos que a seguir se transcrevem na íntegra são as diferentes respostas ao item “O objetivo geral do projeto Couros CampUrbis. Envolvimento da população foi o de envolver os moradores na apropriação do espaço de Couros e no futuro da zona. Indique a sua opinião quanto à efetiva concretização deste objetivo.” Qualquertipodeatividadequelanceodesafioparaoencontroeconfrontode ideias,procurandoeestimulandoaparticipaçãodeumapopulaçãoemgeral, terá garantida resultados. O“projeto [Couros.CampUrbis. Envolvimento da População Local] para além das carcterísticas que referi teve a vantagem de tersidodesenvolvidoaolongodeumperíododetempoconsideráveloquepor sisópotenciouasrelaçõeseoaprofundamentodeferramentasemétodosde trabalho, acompanhado por um reflexo nas mentalidades e vivências.

Quadro VIII. Número de respostas por atividade em que participou ou acompanhou.

ATIVIDADES

NÚMERO DE PARTICIPANTES

Formação do Conselho de Comunidade (reuniões mensais de moradores)

3

Presépio de Couros (construção comunitária proposta pelo Conselho de Comunidade)

0

Edição do Jornal “Notícias de Couros” (publicado de 2 em 2 meses)

0

Fóruns temáticos (realização de 6 foruns sobre temas de interesse local)

5

Mapa da Comunidade (construção comunitária da maqueta de Couros)

2

“À luz do dia” (exposição de fotografias: retratos de moradores)

2

Visitas guiadas a Couros realizadas pelos moradores a visitantes de Guimarães

0

Oficina de arte postal

1

Oficina de artesanato ecológico e tradicional – soletas

1

Oficina de decoração para arraial popular/ festa

1

Organização de uma festa popular

4

Otrabalhodesenvolvidofoibemestruturado,meritório,eforamcriadasbases importantes. No entanto, o perfil dos moradores mais assíduos poderá não favorecerumprojetodecontinuidadeindependente.Mesmoassim,aideiade umbairroativoeofavorecimentodasuaautoestimaforamfeitosinequívocos. Aabordagemdeproximidadepreconizadapeloprojetocativouosmoradores que participaram nas atividades a que tive oportunidade de assistir. A transformação do espaço público motivada pelas obras [Regeneração Urbana] teve este acompanhamento imaterial, assistindo-se a uma valorizaçãodaspessoas,doslugaresedosespaçosprivados.Courosjáélocal depassagem,podendo-seencurtarcaminhoparapercorrerapédistâncias que outrora eram mais longas para se evitar os locais referenciados com a marginalidade e a degradação. Espero sinceramente que os resultados desteprojetocontribuamparaevidenciarasingularidadedesteespaço,onde é possível compreender a evolução económica e social registada nos dois últimos séculos em Guimarães. Foimuitosatisfatórioemrelaçãoàexperiênciadosparticipantes.Nãoatingiu o número de participantes esperado. Considero que este projeto foi muito interessante e apesar de ainda não ter alcançadoplenamenteosseusobjetivosfoidadoumpassoimportantíssimo para que a população se apropriasse de um espaço da cidade nobre e pleno de história. Não se deve deixar morrer este projeto.

85


Naminhaopinião,foiimportanteparaosmoradoresqueseenvolveramneste projeto,poderemacompanhareparticiparnatransformaçãodasuazona.Isto fezcomquesentissemCouroscomoumespaçomais‘seu’e,consequentemente, com que se preocupassem mais com a sua preservação e com o seu futuro. Tambémaosercriadaumanovadinâmicanazona,tantoanívelsocialcomono espaço público, geraram-se novos hábitos, a nível vivencial e relacional.

Quadro VIII que não participaram ou não tiveram informação relevante sobre estas atividades.

Acredito que foi estabelecida uma base e uma infraestrutura que permitirá aosmoradorescontinuarcomumaaçãodeapropriaçãodopróprioespaçoe ativar-se para o futuro da zona.

Gráfico 4. Avalie o grau em que os objetivos específicos do projeto foram atingidos

Pediu-se também a este grupo que indicasse as atividades a manter no futuro (Gráfico 6). Aqui foi clara a opção pelo “Conselho de Comunidade”, os “Fóruns” e as “Visitas Guiadas”.

0%

Houve atividades de animação que foram participadas pelos moradores. A apropriação é ainda insuficiente (p. ex., o logradouro criado [Projeto Isto é uma Praça] já começou a ser vandalizado). Quanto ao futuro, ninguém sabe. O certo é que Couros não deve ser metido numa muralha virtual que isole este espaço do resto da cidade (como no mapa do folheto “Eu sou Couros–visitasguiadaspelosmoradores”).Note-sequeoespaçodeCouros foi“redesenhado”sem a participação efetiva dos residentes e dos restantes cidadãos de Guimarães, pelo que, em certa medida, o projeto Couros CampUrbis de envolvimento da população é um projeto espúrio. Para além destes testemunhos foi pedido a este grupo que avaliasse a consecução dos diferentes objetivos específicos do projeto, o interesse das diferentesatividadesrealizadaseasatividadequedeveriammanter-senofuturo. A leitura do gráfico 4 permite concluir que três dos cinco objetivos específicos tiveram uma apreciação muito positiva, situando-se entre “parcialmente atingido” e “totalmente atingido” com destaque para o objetivo “Valorizar as vivências humanas da comunidade de Couros”. Os dois restantes, dos cinco em apreciação, apresentam valores mais baixos de consecução, mesmo assim ainda positivos. As atividades mais interessantes para a consecução dos objetivos específicos, como nos indica o gráfico 5, foram o “Conselho de Comunidade”, o “Mapa da Comunidade”, a Exposição de Fotografias “À Luz do Dia”, a “Festa Popular”, as “Visitas guiadas a Couros pelos moradores” e a “Edição do Jornal de Notícias de Couros”. Os Forúns temáticos tem também interessantes ainda que um pouco menores. As restantes atividades embora tenham também valores elevados para os itens “Interessante” e “Muito interessante” não devem ser valorizadas nos resultados da avaliação deste grupo uma vez que estes participantes indicam, no

Objetivonãoatingido

22%

Valorizar vivências humanas da comunidade de Couros

78% 0%

Semconhecimento

0%

Envolver os moradores e instituições locais (Fraterna; IDG; Pousada da Juventude e Escola E.B.2.3. Egas Moniz)

67% 21% 12%

Envolver os moradores na apropriação do processo de regeneração urbana

12% 44% 44% 0%

11%

Envolver os moradores na apropriação do lugar (Couros)

22% 67% 0% 0% 56%

Preparar a comunidade para enfrentar, acompanhar e participar na mudança social, cultural e económica

33% 11%

86

Objetivoatingidosparcialmente

Objetivototalmenteatingido


Gráfico 5. Indique, consoante a escala, o grau de interesse de cada atividade para a consecução dos objetivos atrás referidos, tendo em conta as particularidades da população alvo.

Formação do Conselho de Comunidade (reuniões mensais de moradores)

0%

nadainteressante

0%

poucointeressante 22%

0%

Mapa da Comunidade (construção comunitária da maqueta de Couros)

interessante 78%

Oficina de artesanato ecológico e tradicional - soletas

0% 25%

muito interessante

“À luz do dia” (exposição de fotografias: retratos de moradores)

44%

0%

Oficina de decoração para arraial popular/ festa

11% 22%

44%

38% 62%

0%

Visitas guiadas a Couros realizadas pelos moradores a visitantes de Guimarães

0% 33%

0%

0%

Organização de uma festa popular

22% 78%

67%

0%

Fóruns temáticos (realização de 6 fóruns sobre temas de interesse local)

0%

67%

0%

Edição do Jornal “Notícias de Couros” (publicado de 2/2 meses)

25% 63%

0%

12%

12%

75%

0%

Presépio de Couros (construção comunitáriaproposta pelo Conselho de Com.)

0%

0% 33% 67%

0%

0% 44% 56%

Oficina de arte postal

12% 38% 50%

87


Gráfico 6. A manter duas destas atividades no futuro, indique quais (apenas duas) Formação do Conselho de Comunidade (reuniões mensais de moradores) Presépio de Couros (construçãocomunitária proposta pelo Conselho de Com.)

37%

0%

Edição do Jornal “Notícias de Couros” (publicado de 2/2 meses)

16%

Mapa da Comunidade (construçãocomunitária da maqueta de Couros)

0%

“À luz do dia” (exposição de fotografias: retratos de moradores)

0%

Visitas guiadas a Couros realizadas pelos moradores a visitantes de Guimarães

16%

Oficina de arte postal

0%

Oficina de artesanato ecológico e tradicional – soletas

0%

Oficina de decoração para arraial popular/ festa Organização de uma festa popular

88

Realização de atividades regulares nos espaços de Couros (logradouro, Fraterna,Cybercentro...)promovidasoucoorganizadasporassociaçõeslocais e pela autarquia.

5%

Fóruns temáticos (realização de 6 fóruns sobre temas de interesse local)

Dado que a uma das preocupações manifestada pelos moradores que participaram regularmente nas iniciativas, eventos e atividades do projeto “Couros.Envolvimento” foi a falta de adesão de outros moradores da zona com particular destaque para os jovens e jovens-adultos, pediu-se a este grupo a sugestão de estratégias que pudessem conduzir, no futuro, ao envolvimento de mais moradores, incluindo aquelas faixas etárias. Reproduzem-se, na íntegra, as sugestões apontadas:

Em primeiro lugar persistência e continuidade de forma a existir um verdadeiro desenvolvimento do que foi realizado. Quanto à adesão talvez nesta fase seja difícil conseguir atividades que sejam ao mesmo tempo aliciantesaosjovenseaomesmotempoamoradoresmaisidosos.Osjovens procuram 2 coisas: diversão ou adquirir conhecimentos e experiências que lhesproporcionemferramentasparadesenvolverumaatividadeprofissional (estágios, formações com grupos pequenos nas poucas mas já algumas estruturas que existem em Couros – Cybercentro, Fraterna, Pousada da juventude, Instituto de Design, Hostel ou junto de pequenos empresários quedesenvolvematividadeemCouros).Adiversãopodepassarporeventos que sirvam para apresentar os resultados dessas formações e estágios. Esta apresentação seria feita através de formas mais apelativas aos jovens comrecursoàsnovastecnologias(projeções,intervençãonoespaçopúblico, ocupação de espaços devolutos obrigando-os a participarem enquanto criadores e responsáveis pelo evento, etc.) Criar atividades específicas para cada faixa etária, que em determinado momento se cruzam umas com as outras.

5%

21%

Entendo que é necessário efetuar uma análise em torno das caraterísticas dosdiferentespúblicosresidentesnoquarteirão,partindodeumadefinição sobre a área geográfica respeitante à Zona de Couros. O Centro Cultural de Vila Flor é Couros? A Avenida D. João IV é Couros? A Avenida D. Afonso Henriques é Couros? AVenerável OrdemTerceira de S. Francisco? E o Bairro Amadeu Miranda? E os antigos moradores da Rua de Vila Verde, da Rua de Couros, do Largo do Trovador, da Rua de Vila Flor, da Rua da Ramada e do Largo do Cidade... E os trabalhadores (e seus familiares) das antigas fábricas de curtumes? Vivem em diferentes paragens, mas o seu“coração”


bate sempre que a memória daquele espaço é evocada. O Agrupamento de Escolas Egas Moniz, a Fraterna, o Cybercento e os novos equipamentos da Universidade pelas suas caraterísticas de proximidade com públicos diversificados (os seus clientes) devem ser instituições a privilegiar no envolvimento comunitário pretendido. Se calhar incorporar temáticas próximas aos seus interesses desde a tecnologia,eventoslúdicoscomreferênciasgeracionaismaisamplas...édifícil atingir sempre todos os públicos. A participação deveria ser uma prática comum e estimulado desde a escola... mas como não é essa a realidade, é preciso continuar a tentar... Todos os projetos têm a sua fase de desenvolvimento/maturação, tempo necessário para que todo o tipo de população se envolva e os sintam como seus. Assim considero que foi lançada uma semente que não deve ser abandonada e talvez construir uma 2ª fase do projeto a partir das sugestões da população mais jovem.

Realizar atividades mais atrativas para esta faixa etária.Tentar perceber os seusinteressesecanalizá-losparaaçõesquesepossamdesenvolvernazona. Realização de debates públicos sobre a situação presente e sobre o futuro de Couros, onde todos são convidados a expor as suas ideias livremente. Melhorar a informação sobre as atividades realizadas através de cartazes, flyers e web (facebook, blogs, web sites, etc.). Proporatividadesinicialmentedirecionadassóparaestetipodepúblicopara depoisenvolvê-losematividadesdecomparticipaçãocomoutrasfaixasdeidade Criar atividades nas ausas letivas para crianças e jovens. Por último, foi pedido a este grupo que fizesse uma avaliação global do projeto indicando três palavras que melhor o descrevesse e ainda uma análise SWOT da Zona de Couros. Os resultados são apresentados na lista seguinte e no Quadro IX.

BASE PARA DESENVOLVIMENTO FUTURO.

MERITÓRIO, HUMANO E “DE FUTURO”.

MOTIVADOR, INTERDISCIPLINAR, DESPERTADOR DE SENTIMENTOS DE PERTENÇA FORTES.

INTERESSANTE, EXPERIMENTAL, PRÓXIMO.

INOVADOR, CRIATIVO E ENVOLVENTE.

RELEVANTE, TRANSFORMADOR, AMBICIOSO.

COMUNITÁRIO, AUTÊNTICO, DINÂMICO.

INTERESSANTE, MAS EXTEMPORÂNEO.

89


QUADRO IX. Análise SWOT da zona de Couros

PONTOS FORTES

PONTOS FRACOS

AMEAÇAS

OPORTUNIDADES

Carisma do património edificado.

Despovoamento e abandono.

Poluição ribeirinha.

Re-valorizar a dimensão ambiental da ribeira de Couros.

Reabilitação, história e localização; grande curiosidade por parte de visitantes estrangeiros.

Pouco diálogo com a cidade.

Descontinuidade na atenção e desenvolvimento efetuado neste último ano.

Desenvolvimento turístico (nacional e estrangeiro) e criação de novos empregos nessa área.

Património físico e localização.

Poucos motivos de interesse para fixação de atividades económicas.

Excessiva “musealização”.

O final das obras de requalificação urbana e ambiental (incluindo novos equipamentos).

Legado patrimonial ímpar com espaços públicos requalificados e imóveis com funcionalidades variadas.

Complexidade da divulgação da sua importância para afirmação económica de Guimarães.

Perder-se a memória dos lugares por falta de um espaço físico capaz de acolher os futuros visitantes.

Nos setores do turismo, património, ensino, I&D.

História, moradores.

Acessos; descaracterização de algumas partes.

A crise económica; falta de investimento privado.

Novos programas e novos utentes.

Localização da zona de Couros no coração da cidade; requalificação da zona de Couros.

Elevada percentagem de população envelhecida, desabituada a ter uma opinião e a ser devidamente ouvida e valorizada.

Ausência de dinamizadores (técnicos) que já conheçam as caraterísticas desta zona da cidade e da sua população; perda de entusiasmo e de um capital, principalmente humano, já conquistado.

Guimarães – A Capital Europeia da Cultura – tem sido a oportunidade para fazer renascer o antigo coração industrial da cidade, devemos aproveitar estas infraestruturas para manter esta zona valorizada no período pós CEC, aproveitando o projeto de Guimarães Capital Europeia do Desporto.

Zona bonita e com um passado histórico muito interessante e de grande relevo para a cidade de Guimarães.

Acessos à zona, ausência de comércio atrativo, falta de segurança à noite.

Falta de adesão/cuidado da população.

Novo ponto de atração para a cidade; criação de uma nova dinâmica na zona.

Conclusões Outcomes are the fundamental difference that a process makes, its overall results and impacts. [...] the clear statement of exactly what is sought from the process. 1

1.  O que é essencial num processo ou projeto é a diferença fundamenteal gerado pelos seus resultados e impactos […] isto é, a descrição clara daquilo que, em rigor o projeto pretendia. People & Participation. How to put citizens at the heart of decision-making”. Involve. London. 2005. Pág. 38

90


As conclusões finais aqui apresentadas são a conjugação da avaliação apresentada nos dois primeiros pontos deste capítulo, da opinião do Conselho de Comunidade, em parte publicada no jornal “Notícias de Couros”2 e da análise da equipa do projeto e do seu promotor, a Fraterna. Em primeiro lugar importa, portanto, responder objetivamente à questão: “Qual ou quais as diferenças fundamentais que este projeto (processo) provocou, isto é, quais os seus resultados e impactos?”. Claramente e com segurança podemos afirmar: ›› Melhoria significativa nas relações interpessoais dos moradores. ›› Melhoria significativa na autoestima dos moradores. ›› Melhoria significativa no conhecimento e nas relações entre os moradores e as instituições localizadas em Couros (Fraterna, Pousada da Juventude, Instituto de Design) e Câmara Municipal de Guimarães. ›› Melhorias significativas na relação de pertença à comunidade e da identidade de lugar (Couros). ›› Aumento de competências dos moradores, nomeadamente quanto aos modelos de participação e envolvimento. ›› Reconhecimento, por via da informação e do conhecimento, das melhoriassignificativasintroduzidaspelaregeneraçãourbanarealizada em Couros. ›› Aumento do reconhecimento e valorização do património local. ›› Diminuição significativa do isolamento da zona de Couros face à restante cidade. No entanto, não seria correto nem justo referir que os resultados e impactos aqui apresentados sejam consequência exclusiva do(s) processo(s) posto em prático pelo projeto “Couros.Envolvimento”. Em verdade, resultam com maior ou menor contribuição, da regeneração urbana realizada em Couros e também da realização do evento Capital Europeia da Cultura. Esta virtuosa conjugação de fatores, participação e envolvimento (Projeto “Couros. Envolvimento”), regeneração urbana (Projeto CampUrbis) e evento cultural (Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura), irrepetível, contribuiu, em graus diferentes, para aqueles resultados e impactos. Mas também podemos afirmar que sem o projeto “Couros. Envolvimento” não só as outras iniciativas tinham um muito menor impacto nos moradores de Couros como alguns resultados não

se teriam verificado, por exemplo, o aumento do capital social de parte da população de Couros. Como nota final apontamos como fatores muito positivos: ›› O Conselho de Comunidade é, talvez, um dos legados do projeto, bem como as relações dos moradores com as instituições presentes na zona de Couros. A ter continuidade, pode ter um papel importante nas sociabilidades e na promoção dos processos de participação e envolvimento. ›› Os fatores de identidade são mais fortes. O reconhecimento e valorização do património local é mais informada. ›› Os cidadãos moradores, as instituições locais e as autoridades municipais estão mais próximos. ›› Os moradores estão civicamente mais empenhados e mais exigentes. Também melhor apetrechados de modelos e práticas de participação e envolvimento. ›› A vivência e apropriação do lugar é mais efetiva, quer pelos moradores quer pelos restantes cidadãos. Por fim, referir alguns aspetos menos positivos e algumas dificuldades encontradas, apontando-se, em alguns casos, as suas causas. ›› A adesão da população ao projeto nem sempre atingiu os números espectáveis. Em parte esse facto pode imputar-se à caraterísticas dos moradoresdazona,porexemplo,aexistênciadeumnúmerosignificativo de pessoas de faixa etária elevada, algumas das quais apresentam muitas dificuldades de mobilidade. Por outro lado a população mais jovem, por exemplo crianças, é muito escassa em Couros. ›› O tempo de realização do projeto foi muito curto (um ano), o que teve como consequência a realização de atividades a um ritmo elevado. A título de exemplo: os fóruns (seis) realizaram-se a um ritmo de um a cada dois meses. O projeto deveria ter começado ainda antes do processo de regeneração urbana de modo a conseguir-se uma maior eficácia na consecução de alguns dos objetivos e maior espaçamento na realização das atividades.

2.  Conselho de Comunidade de Couros. A participação passa por aqui. Notícias de Couros, 4ª edição, maio 2012, pág.2 91


FICHA TÉCNICA Título

Participantes no Conselho

Orientador da Oficina

Edição

Uma experiência singular

de Comunidade de Couros

de “Arte Postal”

Fraterna Centro Comunitário de

Couros.CampUrbis. Envolvimento

(Efetivos, por inerência de funções)

Marcus Garcia Moreira

Solidariedade e Integração Social

da População Local

Henrique Praça, Marco Ferreira, Paula Oliveira, Rita Fernandes, Vicenzo Rizo

Orientador da Oficina de

Impressão

Promotor

(Moradores de Couros)

“Decorações de rua/Arraial”

Empresa Diário do Porto. Lda

Fraterna Centro Comunitário de

Adão Vale, Adélia Dias, Ana Filipa, Ana

Cooperativa Cultural Mercado Azul,

Solidariedade e Integração Social

Pereira Rodrigues, Anabela Campos,

Florbela Castro

Tiragem

DiamantinoSoaresSilva,EsméniaSilva,

Desfigura Artesanato.

500 ex. Depósito legal

Presidente da Direção

Fernanda Pires, Hendrick Hekkers, Jan

António Magalhães

Kees, Joaquim Costa, José Agostinho

Fotografias da Exposição

Diretora Executiva

da Silva, Luís Miguel, Manuel Salgado

“À Luz do Dia”

Paula Oliveira

Ferreira, Mafalda Pereira, Mafalda

Marcus Garcia Moreira

Colaboradora

Ribeiro, Maria Amélia Martins, Maria

Ana Rita Miranda

Isabel P. Quintão, Maria José Costa,

Walkshop (Design Participativo)

ISBN 978-989-97826-1-7

Maria José Freitas, Maria Luísa Faria,

Lúcio Magri, ESAD

Guimarães, novembro de 2012

Conceção e gestão

Noémia Guimarães, Orlando Aguiar,

Rosa Alice Branco, ESAD

Edição gratuita

Setepés

Tatiana Atashova, Vitor Oliiveira.

Coordenador do proieto

Cenografia do “Presépio

Organização da Festa-Arraial

Promotor

Henrique Praça

Comunitário”

Cooperativa Cultural Mercado Azul,

Lia Oliveira

Florbela Castro

Socióloga Rita Fernandes

Colaboradores: Orientadores da Oficina “Mapa da

Sara Sousa

Comunidade de Couros”

Selma Machado

Comunicação

Marta Labastida, arquiteta, Escola de

João Carvalho

Catarina Castro

Arquitetura da Universidade do Minho

Simão Mota Leite

Henrique Praça

Daniel Duarte Pereira, arquiteto

Rodrigo Pereira

Cidália Silva, arquiteta

Ana Lopes

Rute Carlos, arquiteta

Ana Ferreira.

Design GSA Design

Orientadores da Oficina de Gestão Editorial

Artesanato Ecológico “Soletas”

Setepés

Cooperativa Cultural Mercado Azul, Florbela Castro Ricardo Dias

92

Conceção e Gestão

Participação

Co-financiamento



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