Jornal Notícias do Vale. Arquivo de Memória do Vale do Coa

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Arquivo de Memória do Vale do Côa

Nº 1 . MAI 2013 . Promotor: ACOA. Associação dos Amigos do Parque e Museu do Coa através do Clube UNESCO Entre Gerações . Gestão editorial: Setepés . Design: GSA Design . Este jornal é escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico .

NOTÍCIAS DO VALE Arquivo de Memória do Vale do Coa

GRANDE ENTREVISTA p. 2

Créditos: Foto gentilmente cedida pelo Arquivo familiar de Maria Helena Correia, primeira década do séc. XX, Pocinho.

MEMÓRIA EM FESTA A memória é um património valioso Recolher as tradições orais, modos de falar, cantigas e contos, fábulas e lendas, digitalizar fotografias, postais, cartas e outras memórias das gentes do Vale do Coa é o propósito dos eventos Memória em Festa que vai percorrer, entre junho e setembro deste ano, seis localidades daquela região do Vale do Coa: Cidadelhe, Quintã de Pêro Martins, Muxagata, Cardanha, Mazouco e S. Pedro de Rio Seco (ver programa e calendário na página 4). Memória em Festa é uma atividade do “Clube UNESCO Entre Gerações”, di-

namizado pela ACOA – Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa com o propósito de diminuir o isolamento dos idosos, através do estreitamento das relações entre os diferentes grupos etários, tendo como principal meio de ação o projeto projecto Arquivo de Memória. Dando continuidade ao trabalho de recolha de memórias iniciado em 2011 em Vila (pág.Nova 2) de Foz Côa, num projecto-piloto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o “Arquivo de Memória do Vale do Coa” prosseguirá o seu trabalho

de registo da História e conservação de documentos nos eventos “Memória em Festa” a realizar entre junho e setembro deste ano. Aos sábados e domingos os eventos “Memória em Festa” vão estar naquelas aldeias para entrevistar pessoas e digitalizar arquivos pessoais (fotografias, postais, cartas, etc.) para que as memórias das comunidades do Vale do Coa não se percam na erosão do tempo. As gerações atuais e vindouras agradecem a participação de todos. Sem a sua participação as memórias do Vale do Coa podem ficar perdidas para sempre. Contribua com as suas memórias e nos eventos Memória em Festa e permita que ajudemos a conservar de forma mais adequada as suas antigas fotografias, cartas, postais, para que se mantenham por muitos anos!

COSCORAIS, FILÕES E UM ABADE SEM CABEÇA, Assim se faz um arquivo de memórias

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NOTÍCIAS DO VALE

ABRIR A CAIXA DE RECORDAÇÕES PARA AJUDAR A FAZER A HISTÓRIA DO VALE DO COA Arranca no próximo dia 1 de Junho em Cidadelhe, Pinhel, mais uma atividade do “Arquivo de Memória do Vale do Coa” com o nome sugestivo de “Memória em Festa”. São seis eventos, a decorrer entre junho e setembro, em Cidadelhe (Pinhel), Quintã de Pêro Martins (Figueira de Castelo Rodrigo), Muxagata (Vila Nova de Foz Coa), Rio Seco (Almeida), Mazouco (Freixo de Espada à Cinta) e Cardanha (Torre de Moncorvo) e, como o nome indica, são eventos de recolha de memórias das gentes daquelas localidades.

têm uma história de vida ligada a um território que é o Vale do Coa, dos que o vivem e o viram transformar ao longo do tempo. Queremos que as pessoas recordem e partilhem connosco as suas vivências. Como era no passado o seu dia-a-dia; como trabalhavam; o que comiam; como passavam os serões; como eram vividos os momentos de brincadeira e de celebração. Paralelamente e associado a este trabalho de recolha de memórias, existe um manancial de material documental também ele portador de memórias e de

NOTÍCIAS DO VALE foi ouvir a equipa que dinamizou o “Arquivo de Memória do Vale do Coa” no seu ano de arranque, 2010/11: Alexandra Cerveira Lima (ACL), Bárbara Carvalho (BC), Inês Melhorado (IM), Mafalda Nicolau de Almeida (MNA), Maria Sottomayor (MS) e Ondina Monteiro (OM). histórias que podemos arquivar. Estamos sobretudo a falar dos arquivos familiares, contendo fotografias e documentos associados à vida de uma pessoa ou ao seu ofício, que são essenciais no processo de consolidação das informações recolhidas. Muitas das vezes, o facto de abrirmos a gaveta ou a “caixinha das recordações” permite materializar lembranças, trazendo o passado ao presente. NV. Vamos começar por si, Alexandra, até porque a ideia deste projeto é da sua autoria: o que é um Arquivo de Memória e qual a sua importância? ACL. É a principal atividade do “Clube UNESCO Entre Gerações”, projeto promovido pela ACOA — Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa. A ideia nasceu com um propósito: contribuir, de alguma forma, para que o isolamento dos utentes dos lares fosse amenizado. Pensámos que o ideal seria levar as crianças, os adolescentes e os jovens adultos até aos lares. E nasceu a ideia de se criar um arquivo conjunto. Um grande arquivo de memória que ajudasse a construir conhecimento. No fundo, fazermos em conjunto a História recente da região. Devo dizer que para o afinar desta ideia contribuiu em muito um conjunto de conversas com o diretor do Arquivo Nacional, Silvestre Lacerda, que nos alertou para a relevância de se conservar e digitalizar os pequenos arquivos familiares desta região raiana. NV. E o que há para arquivar no Vale do Coa, Bárbara? BC. Acima de tudo, queremos arquivar memórias, as memórias de pessoas que

NV. Voltando à sua resposta, Alexandra, e para compreendermos melhor todo o projeto diga-nos porque surgiu o Clube UNESCO Entre Gerações? ACL. Ao definirmos, em conjunto, os principais propósitos da ACOA, ficou claro que um deles seria contribuir para aproximar a Cultura das pessoas, o que significa também aproximar as pessoas do seu património. Ora a arte rupestre do Vale do Coa foi inscrita pela UNESCO na lista do Património Mundial e pensámos que seria muito interessante para este propósito alicercar na região o espírito UNESCO, na sua vertente mais humanista e social. A criação de um Clube UNESCO, em torno do qual a ACOA possa estabelecer parcerias e protocolos com diversas entidades para o desenvolvimento do projeto Arquivo de Memória, e talvez outros projetos futuros, pareceu-nos um caminho a trilhar. Em contacto com a Comissão Nacional da UNESCO verificámos que também seria interessante para a Comissão a fundação deste Clube. E assim nasceu o protocolo entre a ACOA e a Comissão Nacional da UNESCO, o Clube UNESCO Entre Gerações, que tomou o nome do Programa da Fundação Calouste Gul-

benkian que nos apoiou na criação do projeto-piloto do Arquivo de Memória em Vila Nova de Foz Coa.

NV. A Mafalda Nicolau de Almeida integrou a direção da ACOA – Associação de Amigos do Parque e Museu do Coa, promotora deste projeto. Como é que este projeto em concreto contribuiu para a concretização dos objetivos da ACOA? MNA. A ACOA tem como missão, e cito, proteger e valorizar o património do Vale do Coa nas suas diferentes dimensões culturais e naturais; dinamizar e promover o Museu do Coa enquanto plataforma cultural; incrementar o conhecimento, a investigação e a criatividade, estimulando a colaboração com parceiros nacionais e internacionais; fomentar a preservação e o ordenamento do território do Parque Arqueológico do Vale do Coa, desenvolvendo e promovendo a região do Coa e a qualidade de vida das suas populações. O projeto Arquivo de Memória do Vale do Coa é de tal forma abrangente que abarca a missão da ACOA quase na sua totalidade. NV. A Maria colaborou na organização destas atividades, desde a fase de recolha até à fase da criação do arquivo. Para já fale-nos como foi o seu trabalho em Foz Coa de organização da recolha.

MS. Há uma série de coisas a “organizar” antes e depois de qualquer recolha. Antes do mais, há que decidir quem se vai entrevistar, onde, como e porquê. Esse processo foi conduzido maioritariamente pela Inês Melhorado. Eu acompanhei-a em grande parte das entrevistas para dar apoio na recolha de imagem. Depois há a fase de organização pós-recolha que tem como objetivo final a inserção na base de dados de tudo aquilo que foi recolhido, processo que está a ser realizado pela Bárbara Carvalho. Entretanto pelo meio surgem infinitas possibilidades de trabalho e questões. O que fazer com todos estes conteúdos? Como recriá-los e torná-los parte do presente? Foi isto que tentei trabalhar com os alunos no 3º período, a noção de que as memórias representam muito mais do que uma evocação nostálgica do passado. NV. Bárbara, ao longo deste dois anos têm colaborado no projeto Arquivo da

Memória muitas entidades, desde Escolas a Centros de Dia. Quer falar-nos desta colaboração? BC. Quando iniciámos o projeto em 2010, um dos principais vetores de desenvolvimento do mesmo focou-se na aproximação e contacto de várias gerações, sobretudo entre as mais novas, de idade escolar, e as mais velhas que se encontram inseridas em instituições de solidariedade social. Para atingirmos este objetivo foi necessário criar uma rede de parcerias local essencial para a concretização das ações previstas no projeto. Desde a autarquia local, à Santa Casa da Misericórdia, à Escola Secundária de V. N. de Foz Coa, à Fundação Coa Parque, ao Arquivo Nacional Torre do Tombo até à Comissão Nacional da UNESCO, quer através de um apoio mais institucional, quer através de um apoio logístico e humano, foi o envolvimento empenhado destas entidades que permitiu levar a bom porto o projeto-piloto. Após a sua conclusão, o projeto disseminou-se em Figueira de Castelo Rodrigo possibilitando, durante 3 meses de forma sistemática, o alargamento desta rede às instituições aí sediadas e a alguns centros de dia das freguesias deste concelho. Presentemente, ao ambicionarmos chegar a todos os concelhos do Vale do Coa, e tendo como ação de fundo a construção de um banco de dados de memórias da região, esta rede terá que, obrigatoriamente, ser ampliada a vários outros parceiros regionais, nacionais e internacionais. NV. O Arquivo de Memória do Vale do Coa vai iniciar uma nova etapa com atividades de recolha em várias localidades a partir de junho. Fale-nos, Alexandra, dessas atividades que estão previstas e onde se vão realizar. ACL. Candidatámos o alargamento do projeto Arquivo de Memória ao conjunto do Vale do Coa ao PROVERE do Coa. É nosso propósito criar uma dinâmica expressiva no território, redes, atuações, recolhas de testemunhos, atividades intergeracionais, e poder comunicar para o exterior este projeto. Pensamos que viverá sobretudo desta estreita relação, mesmo interdependência, entre residentes e visitantes, entre moradores e turistas, entre pessoas que procuram o território cá e quem o vive à distância. NV. Já agora, como é que as pessoas dessas localidades falou podem participar? Vai haver inscrições? ACL. De várias formas. Mas de momento interessa dar conta que iremos estar nestas aldeias sobretudo para mostrar o projeto, para ajudar a acondicionar pequenos espólios pessoais (quem não tem uma fotografia antiga que gostaria de ver melhor acondicionada para poder durar mais tempo?...) e para recolhermos alguns dos testemunhos riquíssimos que as pessoas guardam sobre as suas aldeias, as suas casas, a vida das últimas décadas, mudanças muito significativas, aspetos que permanecem. Para cada aldeia foi definido um fim-de-semana e um local (ver programa na página 4). Durante todo esse fim de semana as pessoas podem aparecer para conversar connosco e aí faremos as recolhas por meio de vídeo e da digitalização de documentos.


NOTÍCIAS DO VALE

NV. Uma das técnicas usadas pela equipa na recolha das memórias é a entrevista. Conte-nos, Inês, qual é a sua abordagem nestas entrevistas? Qualquer pessoa pode ser entrevistada? IM. Neste projeto, privilegiamos o método qualitativo, utilizando as histórias de vida como mecanismo de investigação e utilizando como técnica de recolha de informação a entrevista (semi-dirigida) com uso de guião. Foram realizadas entrevistas a uma pessoa num dado momento e outras efetuadas junto da mes-

ma pessoa em momentos diferentes. A recolha de informação pode estar relacionada com o presente ou realizando uma retrospetiva ao passado, falando sobre as suas experiências e memórias (conjunto de saberes, conhecimentos, acontecimentos concretos, as suas práticas e os seus sentidos, representações, tradições, expressões, aptidões, …) aquilo que no fundo constitui a sua identidade (local, individual e coletiva) e o seu património. NV. Ondina, as suas entrevistas decorreram de uma forma um pouco diferente em Figueira de Castelo Rodrigo, ao longo do seu estágio no Parque Natural do Douro Internacional. Quer-nos falar dessa experiência? OM. Foram feitas em lares da terceira idade. A experiência foi ótima, tanto a nível pessoal como profissional. Tive a oportunidade de conhecer a realidade local de cada freguesia do concelho de

COSCORAIS, FILÕES E UM ABADE SEM CABEÇA

Assim se faz um arquivo de memórias São já algumas dezenas de horas de entrevistas a par de algumas centenas de documentos digitalizados que o Arquivo de Memória do Vale do Coa tem em acervo para tratamento e posterior disponibilização na plataforma criada para o efeito. Antecipando esse momento disponibilizamos nesta edição alguns excertos de entrevistas conduzidas em 2011 nas localidade de Orgal e Vila Nova de Foz Coa.

Figueira de Castelo Rodrigo. Conhecer as próprias freguesias onde os lares estão inseridos, a sua cultura, as tradições, os usos e costumes de cada uma. Também tive a oportunidade de conhecer seres humanos extraordinários que apesar

das peripécias da vida, com realidades muito diferentes da atualidade, continuam a recordar a sua vida passada com um sorriso que enche a alma a qualquer pessoa que esteja com eles a fazer as entrevistas. É muito satisfatório saber que apesar de estar a fazer as entrevistas (que era o meu trabalho), também, estava a contribuir para um dia diferente de cada idoso e estava a criar laços de amizade duradouros. NV. Para além das entrevistas de que nos falou, diga-nos, Inês, o que podem trazer as pessoas que quiserem participar nas iniciativas de recolha de memórias que vão ser retomadas em força nos próximos meses? IM. As pessoas podem trazer documentos escritos, desenhos, fotografias, diplomas, documentos que tiveram utilizações limitadas no tempo, cartas e até outros objetos que contem uma história. Acima de tudo que tragam boa disposição! NV. A Bárbara tem neste momento a seu cargo a plataforma digital do arquivo. Para que serve a plataforma e para quando está previsto a consulta pelo público? BC. Não basta entrevistar e recolher in-

formação, é preciso organizá-la para que possa ser disponibilizada às pessoas e a futuros investigadores. Queremos que o Arquivo de Memória do Vale do Coa se torne num arquivo vivo. Para isso, estamos neste momento a sistematizar toda a informação numa base de dados relacional que permite trabalhar o conjunto de dados que resulta das entrevistas. Será sobre esta base que posteriormente se criará uma plataforma digital disponível na web, onde todos os interessados poderão consultar conteúdos desenvolvidos no âmbito do projeto. Esta plataforma servirá, por um lado, para disponibilizar a informação recolhida e tratada, por outro, esperamos que se torne num canal de comunicação e sobretudo num meio de divulgação eficaz deste projeto, permitindo levá-lo a todos aqueles que queiram contribuir com informações, documentos, publicações ou estudos e que chegue aqueles que, não estando hoje a viver no Vale do Coa, possam estar mais perto das suas origens e contribuírem para a construção deste arquivo. A plataforma encontra-se neste momento em construção, ainda temos um longo trabalho pela frente mas queremos que esteja disponível no final deste ano de 2013. NV. Uma pergunta para si, Mafalda: fale-nos da sua visão do impacto do projeto no Vale do Coa daqui a cinco anos, em 2018. Não falta muito é pouco depois de amanhã. MNA. Um Vale do Coa com um património de valor indiscutível, a arte do Coa, que foi capaz de se renovar e perpetuar o espírito da criatividade humana. Um Vale do Coa capaz de gerar conteúdos passíveis de serem reinterpretados, reutilizados através de diferentes perspetivas. Um Vale do Coa que conserva e protege o património mas sendo ao mesmo tempo capaz de inovar e utilizar o património como uma forma de integração social. Um Vale do Coa mais humano, dinâmico e criativo.

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NV. Estamos a chegar ao fim. Alexandra: qual o balanço que faz do Arquivo de Memória do Vale do Coa e o que espera para as novas atividades, nomeadamente os eventos Memória em Festa que se iniciam já no próximo dia 1 de Junho em Cidadelhe? O projeto-piloto correu muito bem, neste momento estamos já numa nova fase e a planear os próximos anos. Queremos ter um website que possa mostrar com vigor os resultados do projeto. E que seja dinâmico. Ativo. E queremos mostrar à comunidade científica que há manancial de informação interessante para poderem tratar. Já, ou num futuro próximo. Quanto à Memória em Festa, será um momento em que o Arquivo se enriquecerá com testemunhos, em que, todos juntos, poderemos contribuir para fazer a História da região. Mas também espero que as pessoas aproveitem para organizar os seus pequenos arquivos. Sabe que 2 ou 3 postais, meia dúzia de fotografias, umas faturas antigas, uma carta, já constituem um manancial de informação histórica muito interessante?! Por isso nos dispomos a ajudar as pessoas a organizar e levar para casa mais organizados e mais conservados para o futuro os seus documentos da História local. Mas também queremos que seja o que o nome expressa: um tempo festivo. Esta foi a entrevista a quem pensou e está a executar o projeto Arquivo de Memória do Vale do Coa. No próximo número vamos conversar com os dirigentes da ACOA, o Presidente Pedro Bacelar de Vasconcelos e o Vice-Presidente João Muralha, a associação promotora deste projeto. Até lá, vá a uma das aldeias nas datas indicadas na última página do Notícias do Vale. Há pessoas à sua espera para arquivar memórias locais.

O DIA DO CASAMENTO D. Maria e Sr. Américo Em que dia foi? Foi no dia 5 de Maio… D. Maria Olhe, fui vestida com um vestidinho que comprámos o tecido e mandei fazer a uma costureira […] Era castanho, não era branco, ainda não se usava, pronto… também ia bonita [Sr. Américo – Ai, se ia!], mas não ia como agora as noivas, não é… mas não era só eu, eram todas. […] Nesse tempo não havia cerimónia, era um vestidinho limpinho, pois com certeza, e uns sapatinhos e pronto…, a roupinha toda nova, a estrear, mas pronto…, umas era em castanho, outras era em cinzento, outras, olhe…, era como gostavam de ir […]. Sr. Américo No dia do nosso casamento foram 81 pessoas…foi muita despesa! D. Maria Ai! Foi muita despesa, mas nós todos vaidosos! Só iam as famílias de um lado e do outro, a mocidade foi toda, que nessa altura havia muita e pronto, e a gente naquela altura, a despesa estava feita, os pais já estavam prevenidos… fizeram aqui em casa a comida… era o que se podia arranjar, comprava-se uma ovelha, por exemplo, e se não fosse uma eram duas, conforme o pessoal e as pessoas cá cozinhavam, faziam a sopa,

faziam isto, faziam aquilo, e faziam-se bolas de azeite, coscorais, biscoitos…, pães-de-ló, ao fim do comer punha-se aquela rolada de tudo pelas mesas todas. E era assim a vida…depois do comer havia baile até às tantas. Quem se enfadava, ia mais cedo, quem não se enfadava, ficava até mais tarde.

Excerto da entrevista ao Sr. Américo Monteiro e Sra. Maria Monteiro . Créditos: Localidade – Orgal . Data da recolha – 12/07/2011 . Inês Melhorado e Maria Sottomayor . Edição – Maria Sottomayor . Transcrição – Bárbara Carvalho (continua página 4)


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NOTÍCIAS DO VALE

“NO TEMPO DO MINÉRIO” […] Tinha 12 anos, já andava no minério…o meu irmão andava com o meu pai e eu já andava também… ia para Santo Amaro a pé, íamos pela Costa, Srº dos Aflitos abaixo, direitos a Santo Amaro, e depois de Santo Amaro íamos direitos aos Sobradais…era muito longe! […] E vínhamos pelos caminhos, cantávamos e dançávamos e tudo, e chegávamos cá, depois de subir as ladeiras, frescas que nem uma alface e depois, às vezes, levava ovos fritos com acelga e metíamos num pão, ainda não havia as merendeiras como agora…metíamos no pão, aquele pão untado com o ovinho, chegava lá e, Oh! Antes de trabalhar já me vou a satisfazer, antes que me o roubem […] os rapazes deixavam descuidar a gente e iam-nos às sacas […]. Os homens andavam nos filões e depois… deitavam aquelas fragas abaixo e o minério estava naquelas fendas… como é que aquilo se ia ali a juntar como que era ouro? Aquilo era, não sei, parece que era…maravilhas do Senhor, que fazia aquilo! Como é que, no meio das fragas, nas fendas, entre umas e as outras,

criavam aqueles bocados? Parecia queijo velho! Era dali que extraíam o volfrâmio e o estanho! Ainda andei ao estanho no Monte Meão, atrás da Srª da Veiga, e era então volfrâmio, entre os túneis, que era como que eram assim lasquinhas, que o volfrâmio luzia muito e era muito caro! Era mais caro que o “xalitre”, o “xalitre” era o branco e o estanho era o minério preto…pois…, eu andei lá até que vieram as concessões, sempre andava lá! […] Quem trabalha sempre recolhe qualquer coisa, do trabalho é que vem tudo! Excerto da entrevista à Sra. Elisa Pereira . Créditos: Localidade – Vila Nova de Foz Coa . Data da recolha – 12/06/2011 . Entrevista e Vídeo – Inês Melhorado . Edição – Maria Sottomayor . Transcrição – Bárbara Carvalho

MEMÓRIA EM FESTA ARQUIVO DE MEMÓRIA DO VALE DO COA

“A PARTIDA DA AMÊNDOA” […] Era um acontecimento social importantíssimo! Importante para mim e penso que para toda a gente da minha idade, pelas histórias contadas durante a partida da amêndoa que normalmente se fazia à noite […] à noite é que se juntava tudo …eram histórias giríssimas, de arrepiar, de meter medo de meia-noite mas que eu adorava…era a história das bruxas e das feiticeiras e do abade sem cabeça […] na fonte quando se vai para a Srª da Veiga, diziam que aparecia lá um abade montado num cavalo, sem cabeça, porque lhe tinha sido cortada, porque namorava com uma donzela e a família dela, como ele era clérigo, cortou-lhe a cabeça, pronto, como castigo, e então ele apareceria sempre no mesmo sítio de encontro que era na fonte do abade sem cabeça […], ninguém arredava pé, durante a noite toda, depois havia sempre a festa ao fim, quando acabava a partida, havia sempre comes e bebes… em todas as casas onde se estava a partir a amêndoa…é engraçado porque, há duas fases distintas na minha memória da partida

Guardar para lembrar Conte-nos as suas histórias e tradições por palavras, fotografias ou outros documentos. Guardaremos tudo num arquivo para lembrar no futuro.

da amêndoa - é uma fase onde se faziam as coisas gratuitamente, os amigos e vizinhos juntavam-se e era recíproca, portanto, todos partiam a amêndoa de todos e partir de uma certa altura não, começou a ser pago a peso, cada quilo de amêndoa que se partia pagava-se um tanto e aí acho que foi quando as coisas se começaram a esfriar. Excerto da entrevista à Sra. Márcia Pimenta . Créditos: Localidade – Vila Nova de Foz Coa . Data da recolha – 31/05/2011 . Entrevista e vídeo – Inês Melhorado e Maria Sottomayor . Edição – Maria Sottomayor . Transcrição – Bárbara Carvalho

ESPERAMOS POR SI NESTAS DATAS E LOCAIS

PROGRAMA CIDADELHE, PINHEL

31 Maio, 22h00. Apresentação do projeto 1 e 2 de Junho, 10hoo - 17hoo. Recolhas. Local: Centro Difusor

QUINTÃ DE PERO MARTINS, FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO

5 Julho, 22hoo. Apresentação do projeto 6 e 7 de Julho, 10hoo - 17hoo. Recolhas Local: Lagar de azeite da aldeia

CARDANHA, TORRE DE MONCORVO 19 Julho, 22h00. Apresentação do projeto 20 e 21 Julho, 10h00 às 17h00. Recolhas Local: a designar

MUXAGATA, VILA NOVA DE FOZ COA

26 de Julho, 22h00. Apresentação do projeto 27 e 28 de Julho, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Junta de Freguesia

MAZOUCO, FREIXO DE ESPADA À CINTA

3 e 4 de Agosto, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Junta de Freguesia

S. PEDRO DE RIO SECO, ALMEIDA

Todas as fotografias e outros documentos que nos trouxer serão devidamente acondicionados e devolvidos no próprio momento.

7 e 8 de Setembro, 10h00 - 17h00. Recolhas. Local: Associação Rio Vivo, Casa do Quartel

PARCERIAS NO ÂMBITO DO ARQUIVO DE MEMÓRIA DO VALE DO COA – CLUBE UNESCO ENTRE GERAÇÕES: A.C.D.R. de Freixo de Numão / Agrupamento de Escolas de Figueira de Castelo Rodrigo / Arquivo Nacional Torre do Tombo / Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Coa / Comissão Nacional da UNESCO / Escola Secundária Tenente Coronel Adão Carrapatoso, Vila Nova de Foz Coa / Junta de Freguesia de Vila Nova de Foz Coa / Lares e Centros de Dia de Figueira de Castelo Rodrigo / Fundação Coa Parque / Santa Casa da Misericórdia – Lar Nª Sra. da Veiga / Sistemas de Futuro

PROMOTOR

FINANCIAMENTO

PRODUÇÃO


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