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 PAPO DE ESPORTE PAG

PROFESSOR CEGO DE ARTE MARCIAL MINISTRA AULAS GRATUITAS HÁ 40 ANOS PARA JOVENS DE COMUNIDADE COM O INTUTO DE AFASTA-LOS DA CRIMINALIDADE.

Antônio Mauricio Santos ( Pai chocolate ) 62 anos , morador do bairro no vista alegre região oeste de Belo Horizonte é professor de Karajucá ,há 40 anos . Com um andar lento, apoiado em um bastão que usa como guia, este morador que ficou cego após um acidente de trabalho desce religiosamente os morros da comunidade para ministrar aulas gratuitas para os jovens da sua comunidade .

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Em julho de 1934, chega ao Brasil um japonês chamado YOSHIO KAMADA. Yoshio era perito em artes marciais, possuindo a graduação de 8º Dan de Judô, seu local de treinamento foi na KODOKAN ( escola criada por Jigoro Kano sediada no Japão ).

Mais tarde, em 1953, na cidade de Belo Horizonte, passa a lecionar Judô no Minas Tênis Clube Entre seus vários alunos encontra-se WALTER TEIXERA mas mais tarde torna-se um grande amigo. Mestre Yoshio ensinou tudo o que sabia de seu estilo e outros conhecimentos peculiares japoneses, o zen transcendente do budismo e outras joias espirituais de auto aperfeiçoamento do Oriente á Mestre Walter.

Sargento da Polícia Militar de Minas Gerais. Mestre Walter era faixa preta em Judô e na ocasião em que estava lotado no Batalhão de Guardas, foi convidado à ensinar para os policiais. Mestre Walter percebeu que para aumentar as chances de sucesso dos policiais em um combate real, seria interessante adicionar outras

técnicas de combate, como a luta em pé (chutes e socos) e a luta no solo (imobilizações, chaves de braço, estrangulamentos, etc), para além das projeções do Judô.

Desta mescla de estilos surgiu o Karajucá, no qual o objetivo é a subjugação do(s) oponente(s) no menor espaço de tempo possível, fundado em 20 de fevereiro de 1968, pelo Mestre Walter Teixeira, o nome Karajucá é uma junção da primeira sílaba das palavras KAmada, Razão, Justiça e Capacidade.

Pai chocolate Teve uma infância sofrida, de muita fome e dificuldade, sua família sempre estava de mudança pois seu pai trabalhava nas obras da Mendes Júnior que migravam de cidade , mas ainda assim o dinheiro era pouco e por muitas vezes no seu café da manhã comia fubá suado, e verduras do quintal no almoço .

O esporte entrou em sua vida após a rebeldia típica da adolescência, assim ele buscou nas Artes Marciaiso equilíbrio e por volta dos dezoito anos quando teve seu primeiro contato com Karajucá , “ Naquela época o treino era

muito severo ... se não treinasse direito levava golpes de vara de bambu do mestre, mas aprendi dentro do esporte meus limites,

disciplina, e respeito ” relata.

Desde daquele primeiro contato nunca deixou de treinar, aprendeu todas as técnicas do esporte , participou de vários campeonatos e torneios durante sua jornada de atleta , quando chegou ao nível de faixa verde começou a ministrar aulas gratuitas para os jovens da comunidade transmitindo o conhecimento que tinha obtido.

O incentivo para dar aulas na comunidade nasceu de sua percepção de um grande índice de violência e um grande aumento dos mesmos entrando para os ―caminhos errados ― assim se voluntariou em uma escola municipal da comunidade e deu inicio a suas aulas gratuitas de Karajucá, para os jovens e crianças da comunidade , com o propósito de afastar estes jovens dos caminhos tortuosos do crime.

iniciava naquele momento uma longa trajetória de voluntariado em prol dos jovens e da comunidade que o levaria a atuar em diversas escolas e locais da comunidade como ruas, praças e quadras.

Mas para além das aulas praticas de Karajucá , chocolate conversa , dá conselhos, e cobra severamente como um pai amoroso a frequência na escola, o respeito e obediências aos pais e aos outros da comunidade, mas sempre suas conversas tem o foco de afastar os jovens da criminalidade e ajudar na construção da personalidade destes jovens para guia-los no caminho da formação de um homem de bem .

Segundo ele um dos critérios para a formação de seus alunos como professores nas faixas mais altas é que os mesmos após adquirirem os conhecimentos práticos do esporte, atuem de forma voluntária em projetos sociais ministrando aulas gratuitas para novos jovens .

Pelas aulas de Chocolate já passaram centenas de jovens da comunidade, ele fala com orgulho que grandes talentos hoje atuantes no esporte começaram sua jornada dentro de suas aulas na comunidade e que há jovens se destacando no MMA como profissionais e em outras modalidades .

Ele possui um grande respeito de todos os moradores do Bairro Vista Alegre e de outros bairros no entorno , quando circula pela comunidade é que se percebe esse carinho pois a todo momento e chamado por algum moradora para conversar , dar conselhos ou mesmo dar uma demonstração de carinho como um abraço ou aperto de mão. ―Quando fiquei cego devido a um acidente

que sofri enquanto trabalhava na Fiat , já ministrava aulas na comunidade e naquela época passei por um grande período de depressão me lembro que perdi meu foco , não reconhecia a mim mesmo , não havia mais vontade ... então meus alunos percebendo isto me buscavam em casa todos os dias que haviam aula e me sentavam perto do

treino que passou a . 28

ser ministrado pelos alunos mais experientes isso tudo para o projeto não parar ... esse fato contribuiu muito para que eu saísse da depressão e entendi através da ação deles que eu era importante para a comunidade e que deveria reagir a depressão pois a comunidade estava lutando naquele momento por mim... ali me senti feliz e encontrei a força para lutar “

afirma Atualmente recebe apoio da Associação Primeiro de Maio, que fornece o espaço e outras logísticas necessárias para chocolate ministrar suas aulas semanais , onde tem uma média de 60 alunos de todas as idades.

Questionado sobre suas dificuldades a compra do quimonos para doar aos jovens segundo ele é uma dos seus grandes desafios , Chocolate não possui nenhum tipo de patrocínio oficial para custear seus gastos ou mesmo os gastos com os quimonos que doa aos alunos para praticarem suas aulas . “ Comprar o

Quimono pode ser um barreira para a criança treinar pois há pais em nossa comunidade que não tem condições financeiras para adquirir , assim muitas vezes compro com meu próprio

dinheiro, ou outro pai com mais condição apadrinha um aluno novo ...” e complementa

―outro desafio que enfrenta durante o dia a dia e não perder nenhum jovem para a vida do crime‖ finaliza a fala

Sobre seu grande sonho ele revela que é ter um espaço que seja seu dentro da comunidade com toda infraestrutura como tatames, armários, quimonos e outros para atender os jovens da comunidade. “ já dei aula na no meio da rua mesmo

por não ter um espaço coberto que desse para usar, porém nunca deixo de dar as aulas, pois quando chego já há vários jovens me esperando, é um compromisso de amor que tenho

para com eles e para a comunidade” revela.

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