FUNDAMENTOS DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
Ricardo Cardoso Marinho
FUNDAMENTOS DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
1ª Edição
Natal 2017 Ricardo Cardoso Marinho
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FUNDAMENTOS DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
FICHA TÉCNICA Diagramação: Dourado Estúdio Gráfico Capa: Dourado Estúdio Gráfico Revisão ortográfica: Profº Alcir L. Dias da Silveira ISBN: 978-85-911567-3-3
DIREITO AUTORAL: Esta obra não pode ser reproduzida, no todo ou em partes, através de qualquer meio, nem arquivada em banco de dados de qualquer espécie, sem prévia autorização do Autor.
A elaboração desta obra foi realizada com muita atenção e esmero. Porém podem ocorrer erros de digitação, impressão ou conceitual. Em qualquer das hipóteses, ficaríamos agradecidos de sermos informados para que realizemos a devida correção.
Contato: marinho.otorrino@gmail.com
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Sumário Detalhado
PREFÁCIL
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PARTE - I Medicina de Aviação 1 - INTRODUÇÃO 15 2 - A SAÚDE DO AERONAVEGANTE
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2.1 - ALIMENTAÇÃO
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2.2 - REPOUSO
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2.3 - ATIVIDADE FÍSICA
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2.4 - HIGIENE
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2.5 - EQUILÍBRIO EMOCIONAL
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3 - AGRESSÕES AUTOIMPOSTAS 23
3.1 - ETILISMO
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3.2 - TABAGISTMO
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3.3 - AUTOMEDICAÇÃO
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3.4 - FADIGA
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4 - A AERONAVE 27
4.1 - RUÍDOS E VIBRAÇÕES
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4.2 - ACELERAÇÃO
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4.3 - ELETRICIDADE ESTÁTICA
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4.4 - FATORES ERGONÔMICOS
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5 - O MEIO AEROESPACIAL
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6- DISTÚRBIOS ORGÂNICOS LIGADOS AO VOO
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6.1 - AERODILATAÇÃO
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6.2 - AEROEMBOLISMO
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6.3 - HIPÓXIA DE ATITUDE
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6.4 - HIPERVENTILAÇÃO
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6.5 - DESORIENTAÇÃO AEROESPACIAL
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6.6 - AEROCINETOSE
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6.7 - DISSICRONOSE
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Sumário Detalhado PARTE - II Transporte Aeromédico
1 - INTRODUÇÃO 43 2 - HISTÓRICO
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3 - CONCEITUAÇÕES 51 4- CARACTERÍSTICAS GERAIS DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
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5 - MODALIDADES DE TRANSPORTE AEROMÉDICO
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6 - DEFINIÇÃO VEICULAR
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7 - AERONAVES UTILIZADAS NO TRANSPORTE AEROMÉDICO
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8 - INSTITUIÇÃO OPERADORA DE TRANSPORTE AEROMÉDICO
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9 - EQUIPES PARTICIPANTES DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
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10 - EQUIPAMENTOS, MATERIAIS E MEDICAMENTOS
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UTILIZADOS NO TRANSPORTE AEROMÉDICO
10.1 - DOTAÇÃO NAS AERONAVES DE RESGATE
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10.2 - DOTAÇÃO NAS AERONAVES DE TRANSPORTE
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11 - NORMAS PROTOCOLARES NO TRANSPORTE AEROMÉDICO
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11.1 - CRITÉRIOS GERAIS
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11.2 - CRITÉRIOS ADMINISTRATIVOS E OPERACIONAIS
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11.3 - CRITÉRIOS CLÍNICOS INDICATIVOS DO
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TRANSPORTE AEROMÉDICO 11.4 - CRITÉRIOS CLÍNICOS QUE CONTRA-INDICAM O
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TRANSPORTE AEROMÉDICO 11.5 - CRITÉRIOS LOGÍSTICOS
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12 - TRANSPORTE AEROMÉDICO DE PACIENTE CRÍTICO
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12.1 - PACIENTE CRÍTICO COM COMPROMETIMENTO DO SISTEMA RESPIRATÓRIO 12.2 - PACIENTE CRÍTICO COM COMPROMETIMENTO
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DO SISTEMA CARDIOVASCULAR
12.3 - PACIENTE CRÍTICO COM POLITRAUMATISMO
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12.4 - PACIENTE CRÍTICO - PEDIÁTRICO / NEONATO
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13 - NORMAS DE SEGURANÇA PARA O TRANSPORTE
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AEROMÉDICO
13.1 - REGRAS GERAIS DE SEGURANÇA NO
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TRANSPORTE AEROMÉDICO 13.2 - REGRAS DE SEGURANÇA NAS OPERAÇÕES DE
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POUSO E DECOLAGEM 13.3 - REGRAS DE SEGURANÇA NAS OPERAÇÕES DE
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EMBARQUE E DESEMBARQUE 13.4 - REGRAS DE SEGURANÇA NOS ACIDENTES EM
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TERRA COM AERONAVES DE ASA ROTATIVA 13.5 - REGRAS DE SEGURANÇA NOS ACIDENTES EM ÁGUA COM AERONAVES DE ASA ROTATIVA
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PARTE I MEDICINA DE AVIAÇÃO
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2. A SAÚDE DO AERONAVEGANTE
A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua saúde como o estado de bem-estar físico, psicológico e sociocultural de um indivíduo. Logo, para que se tenha uma boa condição de saúde, deverá existir um equilíbrio harmônico entre o corpo, a mente e o meio em que a pessoa vive e trabalha. O aeronavegante necessita ser portador de um perfeito estado de saúde, sob pena de agravar as patologias preexistentes, além de estar propenso a desenvolver outros distúrbios orgânicos como consequência de sua atividade laboral. Para que uma boa condição de saúde seja uma realidade na vida do aeronavegante, ele deve submeter-se a uma criteriosa avaliação psicofísica, tanto para o seu ingresso na vida aeronáutica como para sua continuidade na atividade aérea. Deve-se destacar que a periodicidade nas inspeções de saúde do aeronavegante decorre do fato de essa atividade profissional ser extremamente agressiva ao organismo humano. De um modo geral é através das medidas preventivas e dos procedimentos curativos, que o organismo humano busca alcançar uma boa condição de saúde física e mental. Assim sendo, pode-se dizer que os principais elementos integrantes da condição de saúde são: a alimentação, o repouso, a prática regular de atividade física, a higiene e o equilíbrio emocional.
2.1 Alimentação
Ter uma alimentação balanceada e individualizada, rica em proteinas, vitaminas, fibras, minerais, entre outros obtida por meio do consumo de frutas, verduras e legumes, é fator prioritário na aquisição e conservação de um organismo saudável.
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Portanto, a impossibilidade de um descanso adequado, por qualquer que seja o motivo, favorece o aparecimento da fadiga ou da estafa. A instalação desse quadro, incidindo sobre um dos membros da tripulação, propicia a ocorrência de falha humana, comprometendo a segurança do voo. SOBREPESO
DIMINUIÇÃO DA IMUNIDADE
ALTERAÇÃO DO HUMOR (IRRITABILIDADE)
PROBLEMAS PELA PRIVAÇÃO DO SONO
AUMENTO DA PRESSÃO ARTERIAL
DIFICULDADE DE CONCENTRAÇÃO Fig. 02
2.3 Atividade física A prática de uma atividade física regular como, por exemplo, exercício aeróbico e exercícios de alongamento, é um relevante fator na manutenção da saúde de qualquer pessoa. Entretanto, quando se trata de um aeronavegante, tais exercícios adquirem uma importante conotação, em virtude do desgaste CONTROLE DO PESO CORPORAL MELHORA A MOBILIDADE ARTICULAR
DIMINUI A PRESSÃO ARTERIAL
BENEFÍCIOS DA ATIVIDADE FÍSICA
MELHORA A RESISTÊNCIA A INSULINA
MELHORA O PERFIL DOS LIPÍDEOS
MELHORA A RESISTÊNCIA FÍSICA
MELHORA A FORÇA MUSCULAR AUMENTA A DENSIDADE ÓSSEA
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Fig. 03
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os chamados efeitos colaterais dos medicamentos, os quais podem ser potencializados pela ação da altitude durante o voo. A automedicação, por parte dos tripulantes, em geral, deve ser evitada, já que pode colocar em risco sua saúde e vida, bem como a segurança do voo e dos passageiros. RISCOS DA AUTOMEDICAÇÃO Não obter efeito desejado Interações medicamentosas perigosas Uso da dose inadequada Reações alérgicas Mascaramento de doenças Intoxicações graves
Fig. 07
As drogas do grupo antialérgico, os descongestionantes sistêmicos e tópicos, os antidiarréicos derivados dos opiáceos, os tranquilizantes, os hipnóticos, os anorexígenos e os estimulantes do apetite, entre outros, são substâncias que incapacitam o aeronavegante para o desempenho de sua função. A utilização de qualquer uma dessas drogas pode provocar o afastamento do aeronavegante de suas atividades profissionais, por períodos de tempo a ser estabelecido após a avaliação médica.
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5. O MEIO AEROESPACIAL
Devido às suas características próprias, o meio aeroespacial é um ambiente bastante hostil e agressivo ao ser humano. O aeronavegante que, por força de seu trabalho, necessita frequentar esse ambiente reconhecidamente danoso ao organismo humano, torna-se muito mais vulnerável às agressões ocasionadas pela situação em apreço, quando comparado a qualquer outra pessoa. Fatores, como radiações cósmicas, luminosidade, umidade, temperatura e, principalmente, a pressão atmosférica afetam o aeronavegante, à medida que ele se afasta da superfície da terra. Portanto, cada um desses elementos deve ser objeto de cuidado e prevenção, em virtude da importância quanto à intensidade e diversidade de danos que eles podem provocar no organismo de um indivíduo.
Fig. 12
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Taquipneia, taquicardia, comportamento agressivo, euforia, cefaleia, vertigem, cianose nas extremidades, diminuição da memória, diminuição do raciocínio, diminuição da acuidade auditiva, diminuição da acuidade visual, alterações motoras e colapso respiratório são algumas das manifestações clínicas da hipóxia de altitude. Fig. 16 | O uso de O na hipóxia de altitude O tratamento consiste em administrar oxigênio à pessoa que está sob o efeito da hipóxia ou, também, diminuir a altitude da aeronave com a finalidade de se aumentar a concentração de oxigênio disponível no ar atmosférico. 2
6.4 Hiperventilação Conceitualmente, a hiperventilação é um fenômeno em que ocorre um incremento na frequência e na amplitude dos movimentos respiratórios. Ela, quando se refere à atividade aérea, é uma ocorrência secundária à instalação e ao desenvolvimento do quadro de hipóxia e, consequentemente, está relacionado à altitude a que o aeronavegante está exposto. Por sua vez, ela pode desencadear manifestações clínicas como, por exemplo: espasmos musculares, formigamentos, sensação de intumescimento das extremidades, vertigem, náuseas e, algumas Fig. 17 | Reduzir a hiperventilação vezes, desmaios. O tratamento consiste em solucionar a condição primária que desencadeou o quadro de hiperventilação como, por exemplo, no caso da hipóxia, administrando oxigênio ou diminuindo a altitude de voo da aeronave, com o intuito de aumentar a concentração de oxigênio no ar atmosférico disponível. 16
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6.7 Dissincronose
A dissincronose ou jet-lag é um fenômeno relacionado às alterações clínicas e metabólicas que acontece no organismo humano decorrente da falta de sincronia entre o relógio biológico (sincronizador interno) e os indicadores de tempo (sincronizador externo). Do ponto de vista da medicina de aviação, apenas o ritmo circadiano é o que apresenta real interesse, uma vez que a alteração ocorrida nesse ritmo afeta significativamente a tripulação e passageiros, em sua esfera orgânica, profissional e doméstica, desencadeando importantes distúrbios fisiopatológicos. A quebra do ritmo circadiano provoca no indivíduo distúrbios digestivos, fadiga, desarranjo da arquitetura do sono, irritabilidade, falta de concentração, alteração do senso crítico e baixo desempenho físico e mental. Tripulantes e passageiros, quando submetidos às modificações do ritmo circadiano, devem procurar adaptar-se progressivamente ao novo fuso horário ou procurar manter a rotina do local de origem se sua permanência, na atual localidade, for de curto espaço de tempo.
Fig. 18 | Dissicronose por voos transmeridianos
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PARTE II TRANSPORTE AEROMÉDICO
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1. INTRODUÇÃO
De uma forma bem geral, pode-se dizer que o transporte aeromédico é o meio pelo qual se resgata ou se remove um indivíduo doente, utilizando-se helicóptero ou avião. Desde o início de sua história, o transporte aeromédico se caracteriza pela rapidez de sua resposta, suprindo necessidades diversas e constituindo uma alternativa bastante segura no deslocamento de pessoas doentes. O transporte aeromédico é considerado um segmento da chamada “medicina de transporte”, em cujo contexto encontramos balizadores logísticos, conceitos, normas e regulamentos, além de uma infinidade de outros elementos técnico-científicos relacionados à esfera clínica. O crescimento vertiginoso ocorrido nos últimos anos, no segmento do transporte aeromédico, deve-se a fatores, como: o avanço na tecnologia aeronáutica, o desenvolvimento de sofisticados equipamentos médicos portáteis e a necessidade de remover o paciente, de forma rápida e segura, para uma unidade hospitalar apta a prestar um atendimento médico de qualidade. Isso tem feito com que o transporte aeromédico, ao longo de sua trajetória, tenha apresentado importantes avanços tecnológicos no que diz respeito às aeronaves e equipamentos, fazendo com que sua utilização crescesse enormemente. Portanto, o crescimento e a credibilidade obtidos com esse procedimento só existem porque, além dos fatores acima relatados, as regras referentes ao bom desempenho do ato médico e dos cuidados de enfermagem constituem os alicerces capazes de diminuir ou anular os possíveis riscos de instabilidade orgânica presente em tal missão. Para que se obtenham sempre bons resultados nas missões de evacuação aeromédica, as entidades envolvidas com o referido serviço devem ter, como prioridade, um programa continuado de formação, atualização e
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O sacerdote brasileiro, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, considerado o “Pai da Aeroestação”, diante de toda a Corte em Lisboa, no pátio Casa da Índia, fez voar, em 1709, pela primeira vez, no mundo, o seu balão denominado “A Passarola”. Na plateia, além da realeza portuguesa, encontrava-se presente, nesse importante momento histórico mundial, o Núncio Apostólico em Lisboa, Michelangelo Dei Conti, que, anos mais tarde, viria ser o Papa Inocêncio XIII. Somente 74 anos após o feito de Bartolomeu de Gusmão, em 5 de junho de 1783, os irmãos Jacques e Joseph Montgolfier fizeram subir um balão cativo, em Annomay, na França. Em 15 de outubro do mesmo ano, o médico francês Pilatre de Rozier gozou do privilégio de ter sido a primeira pessoa da história da humanidade a fazer um voo num aeróstato. Fig. 20 | Pilatre de Rozier A partir de então, muitas foram as experiências realizadas com aeróstatos tripulados, com inúmeros acidentes, frequentemente, fatais em decorrência dos efeitos da altitude sobre o organismo humano. Foi então que, por volta de 1875, o médico fisiologista Paul Bert, considerado o Pai da fisiologia da altitude, passou a estudar e relatar os efeitos da altitude sobre o organismo humano. Em 1878, Paul Bert lançou sua obra clássica, “La Pression Barometrique”, a qual lhe valeu o prêmio bienal da Academia de Ciências da França. Fig. 21 | Paul Bert Passados, então, quase duzentos anos da bem sucedida demonstração aeronáutica realizada pelo Padre Bartolomeu de Gusmão, às 16 horas e 45 minutos de uma inesquecível tarde do dia 12 de novembro de 1906, no Campo de Bagatelle em Paris, sob o comando do ilustre cientista brasileiro Alberto Santos Dumont, o mais pesado 22
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que o ar, denominado de 14 Bis, decola de forma triunfante, diante de uma plateia constituída por mais de mil pessoas. Para o conhecimento de todos aqueles que lerem este livro, com o objetivo de homenagear a memória desse notável brasileiro, relacionamos algumas, entre tantas outras geniais invenções suas como, por exemplo: o dirigível, regulagem quente-frio do chuveiro, a porta de correr, o Fig. 22 | Santos Dumont hangar, o ultraleve, o aeroporto, o simulador de voo, a palavra inglesa “airport”, o horizonte artificial, o “cálculo da área alar”, a “relação peso x potência” e o relógio de pulso. O reconhecimento da comunidade aeronáutica internacional aos feitos realizados por Alberto Santos Dumont aconteceu em 20 de julho 1973 quando teve o seu nome conferido a uma cratera da lua, em solenidade no Museu do Ar e do Espaço da Smithsonian Instituition (EUA), à qual estiveram presentes a aviadora brasileira, Anésia Pinheiro, e o comandante da Apolo 11, Michael Collins, além do diretor do referido Instituto. Convém atentar-se para o fato de que Júlio Verne foi quem, em 1866, em sua Obra “Robur O Conquistador”, usou, pela primeira vez, o termo ambulância aérea, referindo-se a um aeróstato, denominado de Albatroz, o qual teria sido utilizado para a realização de um resgate aéreo. O primeiro relato histórico de transporte aeromédico data de 1870, por ocasião da Guerra Franco-Prussiana, quando o transporte dos enfermos foi feito por meio de balões. Fig. 23 | Júlio Verne Por outro lado, o primeiro relato histórico, em que se utilizou o avião no transporte de paciente, foi em 1916, durante a I Guerra Mundial.
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4. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO TRANSPORTE AEROMÉDICO
O transporte aeromédico tem como principal vantagem a diminuição da mortalidade dos feridos e doentes graves, provavelmente, por se tratar de um meio rápido e de seguro deslocamento. Por outro lado, as desvantagens são os custos operacionais, as alterações clínicas ocasionadas pela altitude de voo (disbarismo, hipóxia e temperatura), os distúrbios clínicos ligados à aeronave (ruídos, vibrações, baixa umidade do ar de cabine e alimentação) e ao seu deslocamento (mudanças climáticas, dissincronose e fadiga). O transporte aeromédico se constitui numa complexa operação na qual participam fatores de ordem logística, estratégica, financeira, médica, legal e ética, necessitando que as equipes envolvidas nesse processo trabalhem de forma coordenada e sinérgica. Essa sincronização tem como objetivo promover uma eficiente ação coordenada entre os profissionais envolvidos no transporte aeromédico. Quando este tipo de ação coordenada acontece, especificamente, no interior da aeronave, entre os membros da tripulação participantes da missão, seja em uma situação de rotina ou de emergência, ela é denominada de “coordenação de cabine” ou “crew coordination”. Assim sendo, esta complexa modalidade de transporte necessita, para sua adequada execução, de um bom planejamento, fazendo com que ele aconteça de maneira consistente, utilizando parâmetros científicos advindos do conhecimento teórico e prático, presentes no processo como um todo. Levando-se em conta essa alta complexidade operacional do transporte aeromédico, somada ao fato de que este procedimento envolve, de forma direta e inquestionável, a vida e a saúde de seres
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EXEMPLOS DE AERONAVES DE ASAS FIXAS UTILIZADAS NO TRANSPORTE AEROMÉDICO: 1) AERONAVE: king Air C90 B Capacidade: 3 Passageiros Velocidade: 385 Km/h Autonomia: 05:00 horas
2) AERONAVE: Learjet 35A Capacidade: 7 Passageiros Velocidade: 820 km/h Autonomia: 05:20 horas
EXEMPLOS DE AERONAVES DE ASAS ROTATIVAS UTILIZADAS NO TRANSPORTE AEROMÉDICO: 1) AERONAVE: Esquilo AS 350 Capacidade: 3 Passageiros Velocidade: 220 Km/h Autonomia: 03:30 horas
2) AERONAVE: Agusta A 190 K2 Capacidade: 4 Passageiros Velocidade: 260 Km/h Autonomia: 02:30 horas
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12. O TRANSPORTE AEROMÉDICO DO PACIENTE CRÍTICO
Segundo a Resolução 466 MS/SVS 04/06/98. considera-se um paciente de risco de vida todo aquele que apresentar alguma condição potencialmente determinante da instabilidade de sua homeostase, enquanto que o paciente grave é aquele que apresente instabilidade de um ou mais sistemas orgânicos, devido a alterações agudas ou agudizadas, ameaçadora da vida. Ainda dentro desse aspecto conceitual, pode-se dizer que o paciente crítico é todo aquele que, por disfunção ou falência de um ou mais órgão ou sistema, necessita de procedimentos terapêuticos e de monitorização especiais, para manutenção de sua condição vital. Partindo do acima exposto, o transporte aeromédico, muita das vezes, passa a ser a única opção encontrada para se poder oferecer ao paciente crítico um tratamento médico adequado em uma unidade hospitalar de referência. Dessa forma, quando se tem um paciente crítico que seja um potencial candidato a se submeter ao transporte aeromédico, devem-se considerar dois importantes parâmetros, entre outros, que são: I) a decisão de realizar o transporte aeromédico; II) a razão de se realizar esse tipo de transporte. Assim sendo, a decisão de realizar o transporte aeromédico de um paciente crítico deve ser baseada na avaliação dos benefícios diante dos riscos potenciais. Já a razão para se realizar esse tipo de procedimento baseia-se na necessidade de obter recursos, humanos/diagnósticos/terapêuticos, não disponíveis no local em que se encontra o paciente. Em decorrência da complexidade, da instabilidade e da fragilidade da condição de saúde desse tipo de paciente, pelo fato de ele apresentar
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13. NORMAS DE SEGURANÇA PARA O TRANSPORTE AEROMÉDICO
O item segurança, em seu mais amplo sentido, é sem dúvida um dos mais importantes no complexo contexto do sistema aeronáutico, motivo pelo qual deve sempre ocupar uma situação de destaque quando o assunto é transporte aeromédico. Dentro deste contexto, toda missão deve sempre ser precedida de um briefing, momento em que os participantes analisarão e estabelecerão parâmetro quanto à sua execução. Além disso, após o seu término, os participantes devem realizar o chamado debriefing, em que serão avaliadas as lições aprendidas com os erros e acertos ocorridos na missão. 13.1 Regras gerais de segurança Ao se priorizar a segurança de uma missão, deve-se começar pela elaboração de um bom plano de voo, a fim de beneficiar diretamente o paciente aerotransportado, brindando-o com um transporte rápido e confortável, além de preencher os requisitos de segurança para todos os seus participantes. Neste espaço será dado ênfase as normas e procedimentos de segurança relacionadas às missões envolvendo aeronaves de asas rotativas, principalmente, na modalidade do tipo resgate. É importante atentar para a questão acima exposta, uma vez que em um estudo realizado no México sobre segurança de voo, envolvendo helicópteros em missões de resgate, a National Transportation Safety Board (NTSB-EEUU) constatou que o mau tempo e um voo minimamente planejado foram os principais responsáveis pelos acidentes ocorridos nesse tipo de missão. É de suma importância que todos os membros da tripulação, de uma operação de transporte aeromédico, em especial quando se tratar de
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d) Manter-se a uma distância segura do local de manobra e pouso da aeronave, devendo redobrar a atenção em relação ao rotor de cauda; e) Aguardar a completa estabilização da aeronave no solo (ressonância no solo); f) Manter o paciente em local seguro e com todo apoio necessário, Fig. 29 cuidando para evitar expô-lo ao sopro do rotor e à poeira ocasionada pelo seu funcionamento; g) A solicitação para se aproximar da aeronave deve ser feita pela equipe de solo sempre pelo setor frontal dela e por meio de contato visual com o piloto; h) A equipe de solo deve aguardar a competente autorização e as diretrizes necessárias, para só então realizar a aproximação da aeronave. Esta orientação serve também quando da realização do desembarque; i) A forma padrão de embarque e desembarque poderá sofrer modificação, dependendo do tipo da aeronave, do tipo de missão e das condições meteorológicas e do terreno; j) Normalmente, a aproximação segura à aeronave deve ser realizada pelo setor frontal no perímetro compreendido entre 3 e 9 horas; k) Caso um dos integrantes da missão venha apresentar, durante o deslocamento, a chamada cegueira momentânea, deve sentar-se próximo à aeronave e aguardar o auxílio da tripulação; l) Por ocasião do deslocamento, os integrantes da missão devem manter seu corpo curvado, alertando para o fato de que ao se aproximar da aeronave sentirá uma resistência ao deslocamento ocasionado pelo sopro do rotor do vetor aéreo; m) Quando do deslocamento com a prancha de imobilização dorsal, ela deve ser transportada sempre na altura da cintura e nunca na posição vertical; n) Durante o deslocamento da equipe com o paciente, seja no embarque ou desembarque, deve-se cuidar para não se deixar nenhum material ou equipamento solto, evitando-se, desse modo, sua colisão com os rotores ou a entrada no motor da aeronave. Realizar sempre uma 30
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BIBLIOGRAFIA Abrahão. PTM, Regulamentação Médica para o Transporte Aeromédico no Brasil. Palestra proferida no I Fórum de Medicina Aeroespacial do Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2 de agosto 2011. Acunã FG, Márquez EC. Transporte aeromédico: Ficción y realidad. Asociación Mexicana de Medicina y Cirurgia de Trauma, Vol. 4, número 2, pp 70-76. may - ago 2001. Disponível em: http://www.medigraphic.com/pdfs/trauma/tm-2001/tm012f.pdf Alves CV. Transporte Aeromédico. Palestra proferida no I Fórum de Medicina Aeroespacial do Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2 de agosto 2011. Antuñano MJ. Aeromedical Safety Considerations for Transportation of Patients by Airline. Palestra proferida no I Fórum de Medicina Aeroespacial do Conselho Federal de Medicina. Brasília, 2 de agosto 2011. ANVISA. Portaria Nº 466/MS/SVS de 4 de junho de 1998. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/portaria466_98.htm Costa JC, Protásio KL, Brasileiro ME. A hipóxia é a principal alteração fisiológica no transporte aeromédico. Revista Eletrônica de Enfermagem do Centro de Estudos de Enfermagem e Nutrição Disponível em: http://www.ceen.com.br/conteudo/downloads/4552_65. pdf ?PHPSESSID=736cf67ea1e2c1bce2bda41ee0b79ba1
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