Primeira Edição de O Gancho

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Jornal labortatório dos estudantes do curso de Jornalismo da UEL Edição 1 | 2014

Ideia

Maracatu em Londrina: “força que vem do céu”

Corpo

O corpo canta, o corpo grita

Luta

Por terra,voz e vez

O Gancho

Terra

Vista Bela dois anos depois

O Residencial Vista Bela seria um grande exemplo de habitação para o Brasil, mas o projeto foi um fiasco. A população “se vira nos 30” para suprir as necessidades


Expediente Ana Carolina Luz Angélica Miquelin Bruna Ferrari Fabrício Evaristo Fiama Heloísa Santos Lucas Peresin Marcos Gica Mariana Paschoal Mateus Dinali Maurício Paniza Nabila Haddad Wellington Victor Yvi Leise Jornal laboratório produzido pelo 4º ano noturno do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina, para disciplina de Edição de Jornal Laboratório, sob orientação do Profº Sílvio Demétrio. Edição 1 | Abril de 2014

Editorial

O Gancho O Portal Comunique-se publicou uma matéria em homenagem ao dia do jornalista - comemorado no dia 7 de abril - intitulada “orgulho pela profissão supera dificuldades”. Como fontes, o site ouviu jornalistas renomados: Carlos Alberto Sardenberg, Dennes Queiroz e Vanila Pontes. É fácil ter orgulho da profissão quando se tem sucesso. Já nos comentários, os “cidadãos comuns”, como nós, disparam críticas: “Não tenho orgulho nenhum da carreira de jornalista, infelizmente”; “Felizes daqueles que conseguem uma oportunidade e estabilidade nessa profissão. É difícil”. A equipe deste jornal, mesmo não tendo nomes conhecidos na imprensa global (ainda!), se encaixa no grupo que sente orgulho pela profissão que escolheu. Felizmente. Pelo menos é o que parece. Entre conversas de bar e de sala de aula, o que dá para ouvir é ambição, não financeira, mas de exercer da melhor maneira possível o sonho de ser jornalista. E quem sabe até conseguir melhorar o mundo. Parte desta vontade, garra e sonho se deve ao professor e jornalista José Maschio - o Ganchão. O nome do jornal não é coincidência. Estes estudantes que vos escrevem tiveram o privilégio de ver nos olhos de Gancho a paixão que é estar no jornalismo. E que é possível, sim, superar as dificuldades com o orgulho pela profissão. Em setembro de 2013, a mãe de uma dos jornalistas (estudantes) deste jornal veio indignada contar de um filme que ela assistira. “Como tem sujeira dentro do jornalismo”, disse ela, ao perguntar sobre o filme “O Informante”, de 1999. Ela disse – e depois foi confirmado pela sinopse – que o longa conta a história do ex-executivo da empresa de tabaco Brown & Willianson que denunciou a modificação das substâncias dos cigarros – para atenuar o vício – feita pela rede. O jornalista da CBS, interpretado por Al Pacino, ao tentar publicar a notícia, foi barrado. O canal ficou com medo de represálias. A espectadora, que lê e assiste a jornais diariamente, acreditava, até então, que esse jogo de interesses não existia. Por essas e outras que é nosso dever, como profissionais que já sentiram ou não isso na pele, mostrar a pessoas como ela que sim, o jornalismo é sujo. Mas é possível fazer diferente. E pegamos o gancho deste causo para mostrar o que fazemos de melhor.

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Renata Cabrera

José Maschio


Ideia

Maracatu em Londrina: “força que vem do céu”

O grupo Semente de Angola fez nascer e crescer, no norte do Paraná, a tradição do batuque recifense ANA CAROLINA LUZ Fotos: Lis Sayuri É onde termina a Rua Argentina e começa a Rua Mar del Plata na Vila Rodrigues que a magia do maracatu pernambucano acontece no norte do Paraná. A Vila Cultural Alma Brasil é o local de ensaio dos batuqueiros do Semente de Angola, que há 3 anos faz o ritmo nordestino do tipo “baque virado” ecoar em Londrina. Apadrinhado pela Nação Porto Rico do Recife, o grupo conta hoje com 30 batuqueiros. Alguns são músicos, outros são estudantes, artistas, veterinários, biólogos e psicólogos, que se aventuraram a aprender tocar um instrumento pelo simples prazer em fazer parte da manutenção deste rico elemento da cultura popular brasileira. Ritmo, folclore, espiritualidade e resistência se mesclam nessa prática de tradição afro-brasileira. Uma nação de maracatu é composta pelos batuqueiros e pela corte: “O maracatu nasce no Recife, dentro dos terreiros. É o simbolismo da coroação dos reis negros aqui no Brasil, pois muitos dos africanos escravizados que chegaram aqui eram príncipes em suas terras de origem. Então, quando se fala em maracatu, se fala em cortejo, em corte real”, explica Maurício Werner (35), um dos coordenadores do grupo em Londrina. Utilizando

Mùsica, dança, folclore, espiritualidade e muita animação são elementos que se mesclam na tradição do maracatu roupas descartadas pelos donos das fazendas, os escravos formavam uma corte, que além de reis e príncipes, tinha outras figuras da realeza representadas: duques, duquesas, barões, escravos, vassalos, baianas e representações

de orixás. Trata-se de um formato que possui clara influência portuguesa. Gonguê, alfaia, xiquerê, atabaque e caixa são os principais instrumentos utilizados no maracatu, e alguns deles também são portugueses. Porém,

basta os batuques começarem para se ter certeza: a alma do maracatu é negra. A música é de terreiro e o maracatu é afro-brasileiro. A diáspora do maracatu: do Recife para o mundo O ritmo passa a ser mais


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conhecido quando Chico Science e a Nação Zumbi criam o movimento do manguebeat na década de 90. O movimento consiste na crítica à valorização extrema da arte produzida no eixo Rio-São Paulo e à desigualdade social no Recife. De que forma essa crítica era feita? Através da mistura de gêneros universais, como pop e rock, com ritmos locais, como o maracatu. “Uma cerveja antes do almoço é muito bom pra ficar pensando melhor” é mais que uma afirmação (bastante certa!) ou um mero trecho de música bastante conhecido. É o maracatu saindo do Recife e conquistando o Brasil. A experiência no carnaval pernambucano Maurício explica que o Semente de Angola é na verdade um grupo para-folclórico: “O que existe aqui é um grupo percussivo. Não temos o cortejo e não vivemos em uma única comunidade, como no Recife, onde tudo começou. Lá, cada nação de maracatu está num bairro”, conta. Fernando Segantin (23) e Miguel Matoso (30) são alguns dos privilegiados do grupo que passaram o carnaval em Pernambuco, tocando e aprendendo com a Nação Porto Rico, e vivenciando a tradição no local em que ela se originou. Essa foi a terceira vez de Miguel, que também coordena o Semente de Angola. Ele conta que a experiência causa um choque de realidade muito grande. “Aqui a gente faz porque gosta, mas lá o maracatu representa o envolvimento e a união da comunidade, é o que tira a molecada da rua, é uma manifestação de toda a gente que mora lá. As pessoas passam um ano todo costurando fantasias e ensaiando, e ver nos olhos delas o entusiasmo e a fé com que eles fazem maracatu, não tem preço”, diz.

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Apesar de não fazer parte do candomblé, Fernando Segantin reconhece a relação do batuque com a religião: “Você tá em frente a uma igreja construída por escravos, e o maracatu tá tocando ali do lado. Isso é incrível, porque você sente a resistência, a luta do povo negro. Até porque o maracatu tem um fundamento religioso, e quando a gente toca, a gente evoca os espíritos dos que já se foram”. O fundamento religioso “Não existe maracatu sem candomblé”, afirma Maurício. Cada nação e cada grupo de maracatu

como o Semente de Angola é regido por um orixá, assim como cada pessoa e cada filho de santo o é. Quando há alguns anos o então Grupo Lata da Universidade Estadual de Londrina deixou de tocar ritmos variados para focarse no maracatu, o grupo foi buscar um fundamento com Dona Vilma Santos, então mãe de santo do terreiro Ilé Axé Ogum Megê, em Cambé. Os búzios indicaram Xangô, o elemento trovão, a força que vem do céu como o orixá pelo qual o grupo é regido. Dona Vilma, ou Yá Mukumby, passou a ser a

rainha da Semente de Angola. Após seu assassinato em agosto de 2013, o grupo passa por um momento de luto. “Não temos rainha agora. Estamos passando por um momento de reformulação. Atualmente o Semente de Angola tem um assentamento físico na casa da Mãe Rita, que era amiga da finada Dona Vilma”, explica Maurício. Ele ainda conta que apesar da forte relação entre maracatu e candomblé, poucos integrantes do Semente de Angola são praticantes da religião, “mas reconhecem a espiritualidade que


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Cultura Cultura Cultura Cultura

“Modernizar o passado é uma evolução musical”

“Da lama ao caos” - Chico Science e Nação Zumbi

o maracatu envolve e respeitam muito isso”. O grupo realiza apresentações eventuais em festas e manifestações populares. Quem quiser apreciar ou participar do Semente pode comparecer às oficinas do grupo todos os sábados às 14h30 na Vila Cultural Alma Brasil. Os integrantes convidam com entusiasmo todos os interessados, pois além de uma antiga forma de resistência e um reconhecido elemento da cultura popular, o maracatu é arte pra ver, ouvir e especialmente sentir.

ANA CAROLINA LUZ Brasil, 1990: a sociedade brasileira passava por um período de supervalorização da arte produzida no eixo Rio-São Paulo. É quando os grupos Nação Zumbi, Mundo Livre SA e Fred 04 criam o movimento do manguebeat, que ao mesclar maracatu com pop, rock, hip hop e música eletrônica, gritam de lá do Recife pra todo mundo ouvir: aqui também é Brasil e aqui também tem cultura. A crítica não para na questão cultural, já que as letras denunciam problemas sociais e exaltam líderes populares como Zumbi, Antonio Conselheiro e Lampião. Vítima de um acidente de carro, Chico Science se foi com apenas 31 anos. Os dois álbuns produzidos durante a curta carreira do artista representam um legado importantíssimo não só para a música brasileira, mas também para a cultura afro-brasileira e a população

pernambucana, que se viu representada em cada frase de cada canção da Nação Zumbi. A capital Recife chegou a ser um dos polos econômicos do país no século XVII, progresso que alcançou em decorrência da invasão e exploração holandesa nos mangues da região. A cidade, porém, não caminhou dentro dos moldes das exigências capitalistas, e sua população rapidamente se marginalizou. Hoje, Recife é uma das cidades mais violentas do mundo. “Da lama ao caos”, lançando em 1994, enérgico e dançante, é um grito do jovem Chico. Falou do atrasado e do evoluído, da problemática social pernambucana, da cidade que “se apresenta como o centro das ambições”: “A cidade não para, a cidade só cresce, o de cima sobre e o de baixo desce”. Chico Science é a voz da cultura popular em muitos sentidos: veio do povo, fez música sobre o povo e para o povo.

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Os primeiros passos na luta Em busca da união entre luta e infância, MST desenvolve atividades com as crianças do movimento BRUNA FERRARI Fotos: Yvi Leíse Assim como qualquer outra música infantil, o grito de ordem dos sem terrinhas, crianças do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), foi proclamado sem dificuldades pela jovem Milena, de dez anos, durante entrevista no Congresso Nacional do movimento que aconteceu em fevereiro deste ano. Milena saiu de casa, no Pará, e foi até Brasília com os pais, que foram participar do congresso. À ocasião, a Ciranda serviu também como auxílio às famílias que precisavam deixar as crianças entretidas e, ao mesmo tempo, à par dos assuntos discutidos pelo movimento no evento. A Ciranda Infantil do MST é um trabalho organizado e desenvolvido pelos membros do movimento durante qualquer evento. A Ciranda possibilita que os pais levem seus filhos e que essas crianças participem de atividades de acordo com sua faixa etária, sempre dentro dos enredos de luta do movimento. O educador e militante do setor de educação do MST, Alessando Mariano, conta que o espaço recebe crianças de zero a doze anos e planeja as atividades diárias delas de acordo com a idade. De acordo com ele, “a Ciranda trabalha com três objetivos principais: cuidar das crianças, oferecendo uma estrutura e assistência adequada; garantir que elas tenham acesso a conhecimentos e brincadeiras durante os eventos, tornando-se o

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espaço de participação delas; e, por último, formar a identidade dos sem-terrinhas, para que se reconheçam como parte do Movimento, mas expressem o que pensam conversando, pintando e escrevendo como crianças que são”. A luta pela educação no campo é um dos braços do movimento, que critica arduamente o fechamento de escolas nas áreas rurais e a transferência das crianças para instituições urbanas. Ainda de acordo com Mariano,

“Sou sem terrinha, já sei lutar Terra, escola e justiça popular” Hino dos Sem Terrinha

os resultados dessa mudança são crianças transferidas em péssimas condições para ter acesso à educação. “Desde transportes sem portas e com pneus carecas, sem vidros. A pior situação que nós vemos é nos estados do norte e nordeste, onde as crianças são levadas por caminhões”, conta o coordenador. Além do setor de educação do MST, que capacita educadores para trabalhar com as crianças nas cirandas, outros setores do movimento têm se envolvido


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“MENINO LIVRE, SOLTA PIPA E JOGA BOLA! Nossa ciranda convida tuas crianças pra dançar na roda. E de mãos dadas sonhando a liberdade a ser conquistada.” Samba produzido pelos Sem Terrinha do Pará em solidariedade às crianças palestinas

na discussão sobre a infância e articulado atividades com os sem terrinhas. Um exemplo é o coletivo de cultura, que produziu o CD Plantando Ciranda 3, com músicas criadas e gravadas por crianças de diversos estados do Brasil. Além do CD, o MST produz também a revista e o jornal

Sem terrinha, elaborados pelos setores de educação, cultura e comunicação do movimento. Militante do MST e mãe do Enzo, de 4 anos, Jovana Cestille ressalta que a Ciranda e os trabalhos desenvolvidos pelo movimento são fundamentais para a questão de gênero,

pois os espaços permitem uma participação maior das mulheres nos eventos. Para ela, “se não fosse a Ciranda, muitas mulheres não conseguiram participar de várias atividades, embora algumas vezes são os homens que levam os filhos consigo, mas estes são

números bem reduzidos.” A militante ressalta que, além disso, também é importante a inserção das crianças nas atividades do MST. “Desde pequeninos vão aprendendo a importância das lutas, das mobilizações, de lutarem por seus direitos.”

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Terra Lugar de Índio Segregados, os indígenas conseguem pouco apoio na passagem pela cidade grande

Centro Cultural Kaingang está em situação de abando desde a retiradas famílias do fundo de vale

ANGÉLICA MIQUELIN WELLINGTON VICTOR Fotos: Wellington Victor Essa reportagem começou com uma ideia restrita à Casa de Passagem, que por enquanto é um abrigo provisório, mas com recursos liberados será um albergue definitivo para os índios que chegam à Londrina para vender artesanato. Entretanto, a questão indígena é tão ampla, complexa e até contraditória que o foco acabou mudando. Ao contrário do que geralmente acontece, conseguimos realizar todas as entrevistas a que nos propusemos, mas como não poderia deixar de acontecer, houve uma frustação. Na conversa com a Funai Londrina fomos enrolados, levamos um “bolo” e não entendemos nada. O interessante é que o único questionamento foi sobre programas de atendimento às comunidades indígenas, já que a região conta

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com seis reservas: Apucaraninha, Barão de Antonina, São Jerônimo da Serra, Laranjinha, Pinhalzinho e Mococa. Não houve uma resposta e fomos direcionados a Funai de Chapecó, a sede regional da instituição. Ok, tudo muito estranho, como uma instituição tão antiga e articulada não consegue falar sobre os programas que desenvolve? Entendemos que é uma unidade local, mas... Enfim, conversando com outras fontes descobrimos que a Funai está passando por um processo de reestruturação interna com redistribuição de terras e tarefas e que os funcionários “estão meio perdidos”. Nesse caso não é vergonha nenhuma dizer o que está acontecendo, mas a unidade preferiu omitir. Depois da decepção com a Funai, veio a luz desta matéria, a descoberta do trabalho da

Comissão Universidade para os Índios (CUIA) e do Vestibular Indígena. O trabalho da Comissão reunindo os estudantes, identificando as necessidades, fazendo um trabalho de pesquisa e uma atividade de extensão é bem bacana. Outra coisa que nos chamou a atenção foram os relatos dos estudantes indígenas, as dificuldades para se manter e se adaptar no ambiente universitário e o preconceito, que infelizmente ainda existe. Também é animador ver a perseverança desses jovens e adultos, a vontade de fazer mais pelo seu povo, de ajudar e de dar um retorno positivo a sua gente. O resultado dessas experiências, que pode ser uma visão superficial de dois jovens repórteres, mas que chama a atenção para questões mais profundas está impressa nas próximas linhas.


Os donos do território Povo de cultura, de crenças, de etnias. Os índios do Paraná e do Brasil sofreram e sofrem na mão do homem branco, homem ganancioso que por dinheiro e poder foi devastando, matando, ferindo o índio e sua natureza. A esse povo, ou a esses povos, a terra que lhes era de direito foi negada, foi tomada, vendida. Sua cultura, tão rica, foi corrompida e o homem índio foi se embranquecendo. Hoje, temos reservas, reservas para quem já foi dono. O índio pode

transitar entre o mundo da cidade e da aldeia, mas desde que não incomode. Que venha, mas volte. Os índios estão submetidos às leis brancas, a leis que oportunizam e em contrapartida segregam, mas oportunizam. Por meio da Lei 13.134 de 18 de abril de 2001 o Paraná, pioneiro na iniciativa, disponibilizou três vagas em cada Universidade Paranaense para que indígenas pudessem ingressar no ensino superior através de vagas suplementares. Em 2005 as vagas dobraram

e cada instituição de ensino, passou a receber seis estudantes indígenas. A luta, ainda que pequena, pode ser armada de conhecimento, pois, lugar de índio não é só na aldeia. Os primeiros habitantes desse chão têm mais que o direito de ter sua identidade, cultura e espaço respeitados, mas já que vivem em um ambiente dualista, podem aprender e utilizar os meios brancos para difundir seus costumes e defender sua raça.

prefeitura abriu as portas de uma Casa de Passagem provisória, para que eles possam se instalar enquanto estiverem na cidade, sob as seguintes regras: é necessário avisar sobre a chegada, ficar no máximo 20 dias, ter algum indígena responsável pelo retorno à aldeia e só podem se hospedar os índios que chegarem à Londrina para vender artesanato. Segundo Marlene Oliveira, coordenadora do Programa de Atendimento aos Índios Kaingangs da Secretaria de Assistência Social de Londrina, o acampamento improvisado “não era um local apropriado para eles ficarem, tinham famílias que estavam ali há mais de seis meses, tinham famílias que estavam ali porque estavam trabalhando na cidade, e aí não iam embora pra aldeia em função

disso”. A casa provisória está instalada na zona sul de Londrina, na antiga central de moagem da Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), há 10 km do centro. A casa definitiva será construída no mesmo local. A Secretaria está buscando recursos junto à Funai Brasília para a construção da Casa de Passagem definitiva. O projeto arquitetônico foi elaborado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano (Ippul) e já está finalizado. O orçamento para a construção do espaço está em R$ 800 mil. No momento não há nenhum indígena na casa. A expectativa é que em abril, devido às comemorações do Dia do Índio, a casa receba visitantes.

A casa do artesão Por ser uma cidade grande, próxima a seis terras indígenas, Londrina atrai índios comerciantes, turistas e trabalhadores. Os comerciantes chegam para vender artesanato, os turistas dão uma passada e vão embora e os trabalhadores são aqueles turistas que resolvem ficar e se estabelecer na cidade. Sem estrutura, os turistas, trabalhadores e comerciantes indígenas acabam improvisando acampamentos como o da Avenida Dez de Dezembro, ao lado do antigo Centro Cultural Kaingang. O local já foi um acampamento indígena com casas construídas pela prefeitura, mas depois de um incêndio foi desativado. Hoje é um lugar considerado impróprio para moradias, por se tratar de um fundo de vale. Convidando os indígenas a saírem desse local, a

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O índio na Universidade

Em 2013 foi realizado o 13º Vestibular dos Povos Indígenas do Paraná, um vestibular estadual unificado. Na seleção os indígenas escolhem a universidade em que desejam ingressar, mas não o curso. Os seis primeiros colocados em cada instituição escolhem o curso no momento da matrícula. O vestibular indígena é elaborado pela CUIA Estadual, que conta com membros da Comissão de cada universidade. A CUIA foi criada em 2005 com o objetivo de apoiar o desenvolvimento e a formação do aluno indígena durante sua permanência na universidade. Segundo o coordenador da CUIA UEL, Wagner do Amaral, “se criou no país, nos últimos onze anos, uma política afirmativa voltada aos povos indígenas, em consonância com as políticas afirmativas a partir das cotas raciais”. Em 2012, a CUIA UEL formulou um planejamento estratégico para repensar o ingresso e a permanência do estudante indígena na universidade. Uma das ações foi a implantação do “Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica”, implantado em 2014. O ciclo vai oferecer

um ano de formação básica nas áreas de Matemática, Português e Biologia, e possibilitar que os estudantes vivenciem o cotidiano universitário frequentando aulas dos cursos que lhes interessam. Além do trabalho no meio universitário a comissão está pesquisando a trajetória dos formados da UEL, UEM e UENP para investigar os objetivos e os caminhos dos indígenas que passaram pela universidade. Outra ação é o projeto de extensão de intervenção pedagógica nas escolas das aldeias. A CUIA UEL também está buscando recursos para construção de um Centro Cultural Indígena no Campus. Atualmente há 30 estudantes indígenas distribuídos em 14 cursos na UEL. Para a antropóloga Luciana Ramos, o número deve ser observado com otimismo. “Cada indígena que você consegue formar é uma vitória imensa, porque para eles é um processo de adaptação não só da universidade, eles vem de outra matriz cultural, oral, que não tem a coisa da escrita, para uma instituição onde a linguagem textual é a que tem valor”.

Palavra dos estudantes O estudante indígena Alexandro Silva ingressou no curso de Administração na UEM em 2008, após muitas dificuldades, transferiu-se para a UEL e cursa o 3º ano da graduação. “São intelectuais que estão aqui, então, pra gente acompanhar esse pessoal é difícil, viemos da trajetória de uma educação muito defasada”, relata. A permanência do indígena na universidade ainda é delicada, o número de evasão é considerável e muitos que resistem levam dois, três anos a mais para se formarem, quando não migram de curso. “Pra mim faltou acompanhamento, tem um professor que ajuda quando for o caso, mas no meu caso não tem como eu procurar essa ajuda porque eu não moro aqui. Eu teria que marcar um dia, dormir aqui, para no outro dia eu

conversar com o professor”, compartilhou Thais Tanag Amaral, que está no 2º ano de História. A estudante Rosangela Moraes Viegas do 4º ano de Odontologia cobra por melhoria no valor das bolsas. “Esse ano eu vou gastar em torno de quatro mil. Pra mim está sendo muito difícil, a gente precisa pelo menos de um aumento no valor dessa bolsa para sobreviver aqui”. Rosangela, assim como muitos estudantes, usa o dinheiro da bolsa para pagar aluguel, despesas de casa, transporte e os custos da graduação. Os alunos indígenas recebem bolsa auxílio no valor de R$ 633,00 para estudante que não tem filho e R$ 950,00 para estudantes que tem filho.

Notas: Sobre o vestibular dos Povos Indígenas do Paraná: - os candidatos devem ser integrantes de comunidades indígenas situadas no Estado. - as inscrições geralmente são realizadas entre setembro e novembro; - as provas são realizadas em dezembro e o resultado é divulgado em Janeiro.

Sobre o Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica: - é uma iniciativa pioneira adotada pela UEL; - o Ciclo é composto por quatro módulos anuais: Terra e Identidade, Ciência e Saúde, Cidadania e Sustentabilidade e Cotidiano Acadêmico;

Projeto de Extensão: - semanalmente são realizadas visitas alternadas entre as seis terras indígenas do norte do Paraná; - o objetivo do projeto é ajudar na formação de professores indígenas e não indígenas que atuam nas aldeias; reforçar a construção da identidade indígena levando em conta princípios da interculturalidade, do bilinguismo e da dimensão comunitária.


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Vista Bela dois anos depois O Residencial Vista Bela seria um grande exemplo de habitação para o Brasil, mas o projeto foi um fiasco. A população “se vira nos 30” para suprir as necessidades

FABRÍCIO EVARISTO FIAMA HELOISA SANTOS Fotos: Wellington Victor Para falar bem a verdade, esta matéria é o desdobramento de uma ideia que nasceu em 2011. Ainda como calouros do curso de Jornalismo da UEL, Angélica Miquelin e Maurício Paniza se propuseram a realizar um ensaio fotográfico no recém-entregue conjunto habitacional Vista Bela (região Norte de Londrina) considerado, na época, o maior canteiro de obras do programa Minha Casa, Minha Vida no país. Conduzida por mãos iniciantes, mas que já demonstravam o faro jornalístico, a câmera registrou os contornos daquele novo bairro, a expressão dos moradores e também o descaso do poder público: longe do centro da cidade, com 2.712 moradias e, aproximadamente, 12 mil moradores, o Vista Bela não possuía escolas, creches, postos de saúde, mercados, farmácias, entre outros itens estruturais básicos para a sobrevivência humana digna. Todos esses serviços tinham que ser procurados pelas pessoas nos bairros vizinhos e, alguns, já aproveitavam a situação e faziam os primeiros “puxadinhos” com objetivo comercial. Logo após a entrega, a mídia cobrou do poder público uma explicação e a prefeitura se comprometeu a tomar medidas emergenciais e também efe-

tivas para a solução do problema. Mas, quase três anos depois, como está a situação do conjunto Vista Bela? As estruturas físicas para a execução de serviços básicos de educação e saúde, por exemplo, já foram construídas? E com relação ao projeto de construção, essas estruturas não foram pensadas no momento de sua elaboração? Com a missão de responder tais perguntas, nós (Fabrício Evaristo e Fiama Heloisa) abraçamos a ideia e fomos atrás das respostas. Falar com os moradores não foi difícil. Por mais que a mídia crie o estereótipo de bairro violento e perigoso, fomos muito bem recebidos pelas pessoas que entrevistamos, que responderam todas as perguntas sem medo. Já com o poder público, obter respostas não foi tão fácil. Sofremos com o descaso, o “empurra-empurra”, a burocracia; até que nos instantes finais fomos atendidos, mas não de maneira eficiente. Confira: Vivendo e se virando Quando perguntados se gostam de morar no conjunto Vista Bela, a resposta dos moradores varia. “Eu não gosto muito, falta segurança”, responde Priscila de Souza Javara, 22 anos, dona de casa. Já Tércio Roque, 33 anos, microempresário (dono de um “puxadinho” que é um bazar) comenta “é um

lugar bom para morar, só podia ter mais saúde”. A auxiliar de mercado, Amanda Priscila de Souza, 28 anos, é enfática em sua resposta: “eu gosto da minha casa, não do bairro”. Apesar da divergência nas opiniões dos moradores, a mesma questão está por trás de todas as respostas: a falta de infraestrutura. Sem comércio, sem escolas e creches a população encontrou saídas para fugir da necessidade. Em algumas casas foram construídos mercados, borracharias, casas de lanche, salão de beleza entre outros serviços básicos. Andando pelo bairro e ouvindo os moradores é possível perceber que pouco mudou. Os “puxadinhos” comerciais ampliaram e são os locais mais próximos para o consumo da população; também há dois mercados no bairro, mas há também a reclamação dos preços abusivos; a promessa das escolas não saiu do papel, segundo a moradora Guiomar Ribeiro (aposentada, 65 anos), o terreno destinado a uma delas já foi limpo há mais de um ano, mas a construção ainda não começou. Encontramos uma creche que fora construída em 2012, mas que só começou a funcionar em 2013, como explica o diretor do Centro Municipal de

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Bazar do Tércio: primeiro ponto comercial do bairro. “A freguesia aqui é grande. As pessoas já têm confiança aqui”, diz Guedes Educação Infantil (CMEI), José Aparecido da Silva. “O CMEI atende a 160 crianças de 4 a 6 anos. 40 delas em período integral e 120 em meio período. Entre os critérios de seleção estão as crianças em situação de risco social, as que necessitam de inclusão, e aquelas na qual as mães recebem o Bolsa Família. Porém, embora não seja um critério legal, atendemos às crianças das mães que trabalham. Infelizmente, o espaço é muito pequeno e a demanda é muito grande. Eu acredito que a prefeitura tem trabalhado para atender a população, mas é difícil. Deveria haver um planejamento anterior para que não houvesse essa deficiência”, lamenta Silva. A reclamação de Amanda Priscila de Souza traz a tona outro grave problema que os moradores de lá vivenciam: o preconceito. Ela conta que, quando procurava emprego em outros bairros, precisava mentir o local onde mora. “Eu me senti humilhada. As pessoas me diziam: mas você escreve tão bem, tem certeza que mora lá mesmo (no Vista Bela)?”. Para ela, a culpa disso é da imprensa que só passa o lado ruim do local, dando a impressão de que todos os moradores do Vista Bela são bandidos, perigosos,

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analfabetos. Como se já não bastasse a dificuldade de se viver lá... A saga pela informação De acordo com a Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011), todos os cidadãos têm direito constitucional de acesso às informações públicas. A Lei também estabelece procedimentos para facilitar e agilizar o acesso a esses dados por qualquer pessoa. Da mesma forma, espera-se que as pessoas que ocupam cargos públicos contribuam com o acesso à informação quando solicitadas. Porém, não tem sido assim tão fácil. Pelo menos, não em Londrina. Procurado pela reportagem, o presidente da Cohab, José Roberto Hoffman, inicialmente não quis dar entrevista. O presidente informou estar com a agenda “lotada” e que, para termos acesso aos dados do Vista Bela, era preciso abrir um protocolo. Depois de quase 15 dias de tentativas, procuramos então o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Londrina (Ippul), o único que nos deu respostas, ainda que não de forma completa. De acordo com Jéssica Tussi, estagiária responsável pela pasta de Diretriz de Planejamento do Instituto, em

Lan House construída ao lado do Bazar do Guedes é um dos únicos locais de de entretenimento que há no bairro.


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projetos como o do Vista Bela, o Ippul é responsável pela Diretriz de Loteamento. Esse documento é feito no início do projeto com base no parecer de quatro secretarias municipais (CMTU, SEMA, Secretaria de Educação e Topografia), os técnicos desses órgãos discutem o que seria o ideal para o lote e indicam o que deve conter no projeto. O Ippul finaliza a Diretriz de Loteamento e encaminha para a Secretaria de Obras, a qual é responsável pela execução do projeto, mas tem total autonomia para interferir no projeto original. Como explica Tussi, “o resultado final depende deles (da Secretaria de Obras)”. No documento final do Ippul que foi mostrado a nossa reportagem (com data de 10 de julho de 2002, assinado pela então diretora do Instituto e por um arquiteto urbanista responsável), foi possível constatar somente a solicitação de uma área, com medidas específicas, para a construção de escolas no conjunto. Procuramos então a Secretaria de Obras para saber porque pelo menos a escola “não saiu do papel”, mas o Diretor de Loteamento, Ossamu Kaminagakura, não quis ceder entrevista, mas indicou: “A obra do Vista Bela já está finalizada, não podemos responder por isso, vocês devem procurar a Cohab”. Ou seja, voltamos ao início. Procuramos novamente a Cohab. A secretária do presidente pediu ao repórter Fabrício Evaristo que deixasse o número de seu telefone que ela retornaria sobre a possibilidade de uma entrevista. De forma inesperada, sem nada combinado, José Roberto Hoffman ligou para o repórter na tarde de sextafeira (21) e respondeu, de forma técnica e rápida, as perguntas que já haviam sido enviadas dias atrás em seu e-mail, a pedido do mesmo para saber do que se tratava a entrevista. Nas palavras de Hoffman: “os equipamentos (creches, escolas e afins) foram pensados pelo poder público anterior, porém não cumpridas. A questão é que o município não tinha os 6% da verba que o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) (I), através dos Recursos FAR (Fundo de Arrendamento Residencial), destinava para a edificação dos equipamentos de educação, saúde e outros complementares à habitação (destinados à assistência social)”. E mesmo assim colocaram as pessoas para morar lá? Por que não esperaram o levantamento da verba e a construção desses equipamentos para entregar a obra? Seriam perguntas que poderíamos fazer, mas não conseguimos pela forma como a entrevista se realizou. Pedimos desculpas aos nossos leitores! Pudemos perceber, no desenvolvimento desta matéria, que a infraestrutura básica para os moradores do Vista Bela chegou a ser pensada e estruturada, mas no momento da execução outros interesses se sobressaíram – econômicos talvez? – e as necessidades básicas do povo foram deixadas de lado.

Relato de um estudante de jornalismo frustrado Tentamos o contato com a Cohab para esclarecer a’O GANCHO o porquê de não haver políticas públicas que garantam os direitos básicos da população. Porém, não obtivemos respostas convincentes. A informação que recebemos foi a que não seria possível nos responder no momento, pois seria preciso buscar informações no sistema, considerando que o Vista Bela é um projeto que teve início na gestão passada. Além disso, era preciso protocolar o nosso pedido de entrevista para de fato conseguirmos as informações que buscávamos com o presidente da Cohab. Não fizemos o protocolo, pois era preciso esperar até 20 dias para que chegasse em nossas mãos. Não é matéria para uma revista mensal, tínhamos um curto tempo pra entregar o material pronto. Depois de muito insistir tentamos sanar as dúvidas com o Instituto de Pesquisa e Planejamento de Londrina (Ippul), que nos deu respostas, porém incompletas. Depois de duas semanas, na sexta-feira (21), a Folha de Londrina publica uma matéria sobre a precária situação do Vista Bela, na qual o presidente da Cohab, José Roberto Hoffman era uma das fontes da reportagem, e respondia justamente as perguntas que pretendíamos fazer a ele. No fim da tarde recebo uma ligação sua, na qual ele respondeu rapidamente as questões por telefone. Segundo ele, o poder público anterior pensou sim na estrutura do bairro, porém não foram cumpridas. “A questão é que o município não tinha os 6% da verba que o Programa Minha Casa Minha Vida (I) - Recursos FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) destinava para a edificação dos equipamentos de educação, saúde e outros complementares à habitação (destinados à assistência social)”, afirmou ele. Um descaso com a população, submetendo-a a um lugar totalmente sem estrutura para se morar. Um descaso conosco, por omitir (num primeiro momento) uma informação que é pública, afinal a Lei nº 12.527 de 18 de novembro de 2011 diz que todos os cidadãos têm direito constitucional de acesso às informações públicas. Assim como o projeto residencial do Vista Bela, essa lei é um fracasso. (F.E.)

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Corpo Corpo e música. Estas são as máximas do projeto “Livro de cabeceira - Música na pele ” idealizado pelo fotografo londrinense Luiz Augusto Rodrigues. O jornal O Gancho entrevistou o fotógrafo, que detalhou um pouco mais o projeto.

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O corpo canta,

MARCOS GICA Fotos: Luiz Augusto Rodrigues

COMO O PROJETO MÚSICA NA PELE FAZ AS PESSOAS MOSTRAREM O CORPO DELAS?

tirei, eu descobri que as pessoas estavam usando não só a letra, mas sim a linguagem corporal, as poses, a reação. As pessoas começaram a escrever em lugares sensacionais, por exemplo, uma das ultimas fotos é de uma moça que pediu para ficar anônima, que teve câncer nos seios e necessitou retirar uma parte da mama e onde ela escolheu escrever a música foi bem na marca da cicatriz. Isso foi uma coisa muito legal, ela usou a foto como arma psicológica.

LUIZ AUGUSTO RODRIGUES: A sacada do música na pele é que a gente não consegue ter as próprias palavras pra passar uma mensagem e todo mundo é muito musical. Quando a ideia nasceu, era simplesmente ir e escrever uma letra de música, como tatuagem, no corpo, como se o corpo fosse COMO ESTE CASO DA MULHER QUE PERDEU A um tela limpa. A partir da segunda foto que eu MAMA, COMO AS PESSOAS SUPREM A FALTA DE


o corpo grita ALGO POR MEIO DO PROJETO MÚSICA NA PELE?

VOCÊ CHEGOU A UM MOMENTO DO PROJETO QUE COMEÇOU A FOTOGRAR OS MÚSICOS, COMO ZECA BALEIRO, HUMBERTO Já tiveram algumas situações de eu me GESSINGER (Engenheiros do Hawaii). O emocionar muito para fazer as fotos, por ARTISTA REPRESENTA ESSA ESCRITA NA exemplo, uma moça fotografada no passado PELE DIFERENTE? que tem paralisia facial. Ela resolveu escrever uma frase da Mallu Magalhães, que é “o que Você sabe que o artista nunca foi o alvo do eu tenho de torta, eu tenho de feliz”. Ai ela projeto, mas eu tive a chance de topar com me contou que ela era muito caçoada e o essa galera. O primeiro foi o Zeca Baleiro e dia que ela resolveu assumir que ela tinha a depois tive a chance de fazer com outros paralisia e o jeito dela era esse mesmo ela foi como o Gessinger. Uma vez eu estava com muito mais feliz. o Fernando Anitelli do Teatro Mágico e eu

perguntei pra ele _ Como você vê isso, uma música tua, que você pensou vai pro corpo de outra pessoa que interpreta do jeito dela, traz pra vida dela e eterniza como a foto no corpo dela? – Ele olhou e me respondeu, “Cara, eu acho isso sensacional”

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O Gancho FAZ UM ANO QUE VOCÊ LANÇOU O LIVRO MÚSICA NA PELE. O QUE MUDOU DESTE ANO PRA CÁ?

Mudou tudo! O projeto abriu todas as portas imagináveis, com o Teatro Mágico, com o Barão Vermelho, com o Zeca Baleiro. Eu tinha a ideia de fazer um projeto fotográfico, eu queria fazer algo pra mudar a mesmice da fotografia que eu via aqui na cidade. Via fotógrafos excelentes da cidade tirando foto de prédinho ali, foto do lago [igapó]. Acho que sou o único fotografo que não tem foto do lago. Um exemplo de como minha vida mudou; Eu estava em Bento Gonçalves (Rio Grande do Sul) com uma banda londrinense e perdi a minha blusa, ai uma moça achou e era conhecida do dono da boate, peguei o contato dela e pedi pra ela me levar no hotel que eu estava, deu uma hora e meia ela chegou lá com a blusa me devolveu e eu dei um livro pra ela de presente pela gentileza ela olhou o livro e não acreditou que era eu. Acho que isso é a parte mais importante, a realização pessoal, tanto minha quando, por exemplo, tive aquela foto do Gessinger na capa do facebook dele, quanto das pessoas que são eternizadas na fotografia.

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INSPIRAÇÃO O LIVRO DE CABECEIRA ( The Pillow Book) Sedução e Desejo são as fontes de sua inspiração. Em Kiotto, no Japão dos anos 70, a jovem Nagiko (Vivian Wu) comemora o seu aniversário com um estranho ritual. Seu pai escreve em seu rosto uma benção enquanto sua tia lê "um livro de cabeceira" escrito por Sei Shonagon, há quase mil anos. Nagiko cresce entre livros, papéis e escritas em corpos nus e essa sua odisséia sexual, se repete como um ritual a cada ano, mesmo com sua vida tomando rumos cada vez mais excitantes. Obrigada a aceitar um casamento arranjado, ela descobre segredos íntimos de seu pai enquanto o desejo pela escrita em seu corpo cresce a cada dia se transformando em uma verdadeira obsessão... até conhecer Jerome (Ewan McGregor) um tradutor inglês. Um homem bissexual que irá mudar seu destino e transformar seus desejos mais secretos em realidade! (Texto - Divulgação)

Divulgação

Título no Brasil: O Livro de Cabeceira Título Original: The Pillow Book Ano de Lançamento: 1996 Gênero: Drama Duração: 120 minutos Direção: Peter Greenway


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Tosse, tosse tosse A vida inteira que podia ter sido e que não foi MATEUS DINALI Pobre doença, vítima de sua própria existência, parasita de seus enfermos, culpados por quererem viver demais. Peste cinzenta, tísica pulmonar ou doença do peito. Doença do amor de Marguerite Gautier, “Dama das camélias” de Dumas Filho, prostituta de condes e nobres. Terrível moléstia do Romantismo, Mal do século que trouxe consigo “pessimismo extremo, sensação de perda, tristeza, inquietude mórbida, tédio irremissível e sem causa, sofrimento cósmico, desencanto pelo cotidiano, culto do mistério e do sonho, desilusão amorosa, nostalgia, atração pelo infinito e depressão profunda; males físicos, mentais e imaginários que levam à morte precoce. Ou ao suicídio”. Pelo menos é o que diz Moisés Massaud. Pobre tuberculose. Pobres tuberculosos. Manuel Bandeira desbanca a técnica da biologia com seu sutil tango argentino em meio a tanto sentimentalismo: “Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos. A vida inteira que podia ter sido e que não foi. Tosse, tosse, tosse. Mandou chamar o médico: -Diga trinta e três. -Trinta e três... trinta e três... trinta e três... -Respire -O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado. -Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax? -Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.

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abril de 2014 Por muitas vezes, escritores e poetas deixaram de invocá-la como “tuberculose”, por uma simples licença poética ou por ser um grande tabu para o século XIX, época vitimada pela enfermidade que matou milhares e que ainda hoje se aproveita de seus hospedeiros e de um simples contato entre pessoas para perpetuar sua história de longos tratamentos e, nos piores casos, óbitos. Dostoiévski, por exemplo, refere-se à sua Catierina Ivanova como “tísica”, em “Crime e castigo”. Já a protagonista de “Lucíola”, de José de Alencar, sofreu com fortes febres antes de morrer nos braços de seu amado Paulo. Talvez pelas suspeitas de que a gravidez de Lúcia corria riscos, mas sendo prostituta e renomada personagem romântica, não é de se espantar que tais febres fossem decorrentes da moléstia do romantismo: “O doutor, um dos mais hábeis parteiros da corte, procurou desvanecer os receios de Lúcia, assegurando-lhe que seu filho vivia. (...) À noite declarou-se a febre; uma febre intensa que a fez delirar. (...) – ‘(um remédio) Para aliviála do incômodo. Logo que lançar o aborto, ficará inteiramente boa’. (disse o médico) A instâncias minhas bebeu finalmente o remédio, que nenhum efeito produziu”. Pergunte-se: se nenhum efeito produziu, não seria mais uma vítima da doença do amor? Mesmo temida e devastadora para a humanidade, a tuberculose foi pintada pelos poetas e escritores como a doença dos boêmios que trocavam o dia pela noite e das prostitutas que, entre o amor e o sexo, tinham destino certo na morte precoce. Tavernas fechadas eram o lugar perfeito para o encontro entre a enfermidade e suas vítimas, estas, em sua maioria, jovens homens e mulheres inspirados pelas idealizações românticas e pela vida desregrada. Cada amante das palavras que se encontrou com Senhor Mal do Século, deixou-se levar por seus sentimentos e temperamentos, uns doces outros amargos, ora tristes, ora sarcásticos. “Eu sei que vou morrer... dentro do meu peito um mal terrível me devora a vida.”, choraminga Castro Alves em sua “Mocidade e Morte”. “A febre me queima a fronte. E dos túmulos a aragem roça-me a pálida face, mas no delírio e na febre, sempre teu rosto contemplo.”, sofre de amores Casimiro de Abreu, “No leito”. “Vomitar o pulmão na noite horrível em que se deita sangue pela boca! (...) Alucinado, vendo em cada escarro, o retrato da própria consciência”, desabafa amargurado Augusto dos Anjos, com “Os doentes”. E por fim, Jamil Almansur Haddad se afunda em suas ilusões e ironias...

“Noutros tempos a morte Tinha asas e voava Hoje ela me veio Montando um cavalo E eu irei na garupa Numa viagem veloz Putupum, putupum Onde eu compro a passagem No meu leito de doente Para o país sossegado País louro da morte Onde um pulmão escavado Serve de passaporte, Putupum, putupum É um país sossegado Que não tem hemoptise; É uma terra decente, Sem escarros no chão, Putupum, putupum. País sem suores frios, Sem cadeiras de lona, Sem bacilos de Koch Putupum, putupum E onde o vil pneumotórax Por certo é ignorado Putupum, putupum Putupum”.

Castro Alves

Casimiro de Abreu

Augusto dos Anjos

Manuel Bandeira

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Luta

Por terra, voz e vez Mais de 15 mil pessoas marcharam pelas ruas de Brasília exigindo Reforma Agrária

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Texto e fotos: YVI LEÍSE De diversas formas de luta é constituída nossa sociedade atual. Desde os primórdios da humanidade, lutamos. Lutamos contra a escravidão, pela liberdade, por direitos iguais, por democracia, por terra e por transformações sociais. Geralmente as lutas são encabeçadas por movimentos ou organizações sociais e englobam um grande conjunto de pessoas que buscam o mesmo ideal. “O movimento luta não apenas por terra, mas por reforma agrária e por transformação social. E isso pressupõe dizer que a gente luta por um novo modelo de sociedade, uma sociedade onde não exista exploração, o preconceito e o racismo”. Essa é a definição de luta para o militante Edson do Nascimento, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Fundado há 30 anos, a principal bandeira de luta do MST é a reforma agrária - e uma reforma agrária popular - a qual busca a divisão de terras, o fim do latifúndio e a superação de um modelo de produção difundido pelo agronegócio. Para a acampada do estado de São Paulo, Fátima Elizabete Martins, o fato de o Estado estar dominado pela burguesia impede muitos avanços na sociedade. Além disso, ela ainda acredita que “sem as lutas não acontece reforma agrária. O dia em que acabar o movimento social e o dia que acabar as lutas,

no Brasil, se acaba a reforma agrária”. Além da luta por terra, a dirigente de um assentamento em Pernambuco, Maria Aparecida do Nascimento, acredita que outro desafio do MST é fazer com que os governantes prestem assistência aos sem terra que estão na base, nos acampamentos e assentamentos, e que necessitam de projetos de habitação, saúde e educação. “Nós estamos sempre reivindicando, mas o processo é lento. Mas nem por isso a gente vai parar, cada vez mais a gente está mobilizado para mostrar pro governo que nós estamos aqui”. Durante o VI Congresso Nacional do MST, realizado


Lutas camponesas e urbanas sinalizam a importância de movimentos sociais na sociedade em Brasília no início de fevereiro de 2014, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG), Alberto Bloch, sinalizou que a luta pela reforma agrária só será possível quando ocorrer também outras reformas essenciais, como a reforma política, eleitoral, judiciária, tributária e dos meios de comunicação. Foi pensando nesses outros tipos de reforma que se articulou o movimento social autônomo Levante Popular da Juventude, uma organização de jovens militantes que tem por foco a transformação da sociedade. Uma das principais marcas do movimento são os escrachos, quando são expostas todas as críticas

dos jovens aos modelos que são considerados ideais pela sociedade. Em um dos atos houve a Ação Fora Globo, pela democratização da mídia, e outro se baseou na luta por memória, verdade e justiça, realizado na época em que estavam sendo analisados os casos de tortura durante a ditadura militar na Comissão Nacional da Verdade. A representante da organização na Bahia, Thays Carvalho, explica que o Levante baseou-se nas experiências dos movimentos do campo, como o MST, MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e Via Campesina para levar uma organização ao meio urbano, nas universidades e

Reforma Agrária será possível com outras reformas na sociedade

escolas. “A ideia do Levante é tentar dar unidade às diversas juventudes, as do meio estudantil, das favelas e dos movimentos camponeses”, afirma. O movimento iniciou suas atividades em 2005, no Rio Grande do Sul, e desde então passou a circular pelo Brasil

tendo aproximadamente três mil jovens que participam das atividades. Em 2012, o Levante se tornou um movimento nacional que luta por reforma política, democratização dos meios de comunicação, melhoria educacional, dentre outros. Uma frase atribuída ao líder

francês Napoleão Bonaparte diz que “todo homem luta com mais bravura pelos seus interesses do que pelos seus direitos”. Os movimentos sociais, no entanto, fogem da premissa egocêntrica e buscam igualdade para todos. Todos merecem um pedaço de terra, de voz e de vez.

Levante Popular da Juventude busca dar unidade aos jovens do meio rural e urbano

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A luta de quem luta por um

“Transporte não deve ser comércio, é direito”, defende membro fundador do Comitê p Texto e foto: MAURICIO PANIZA No início do ano, o anúncio do aumento do preço da tarifa do transporte coletivo em Londrina, de R$ 2,30 para R$ 2,65, gerou uma série de protestos encabeçados pelo Comitê do Passe Livre, Redução da Tarifa e Estatização do Transporte Coletivo. O professor universitário Evaristo Colman faz parte desse movimento desde sua pré-fundação e fala sobre os quase 10 anos de luta por um transporte público melhor. Origem do comitê O Comitê teve origem no seio da Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 2003, tendo como cenário a saída de uma greve de seis meses, entre setembro de 2001 e março de 2002 -uma das maiores greves vividas pela universidade, e de um aumento do preço da passagem em Londrina, de R$ 1,35 para R$ 1,60, na gestão do ex-prefeito Nedson Micheletti. O aumento “abusivo e ilegal”, nas palavras do professor Colman, foi contestado pelos estudantes da UEL, que passaram a realizar o “Pula Catraca” como forma de protesto, deixando de pagar a passagem no trajeto UEL – centro. Alguns dias depois, a Polícia e a Grande Londrina “endureceram” e um ônibus

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cheio de estudantes foi parar na delegacia. Na ocasião, eles ficaram fechados no veículo por três horas, enquanto a situação era resolvida por vias jurídicas. No princípio, os estudantes secundaristas não participavam das mobilizações com o pessoal da UEL, porque, segundo o professor Evaristo, havia promessas de que seria concedido passe livre social a esses estudantes. O Passe Livre Social não veio e os estudantes secundaristas se juntaram ao movimento que estava em formação. No dia 13 de junho de 2003 houve uma passeata encabeçada por estudantes secundaristas, do Centro Cívico ao Terminal, que culminou em um protesto contra o aumento da passagem. Em meio à confusão, a Prefeitura ordenou a saída dos ônibus e o então comandante da PM Rubens Guimarães – atual secretário da Defesa Social, fez cumprir a ordem. O estudante Anderson Maurilio foi atropelado por um ônibus e faleceu alguns dias depois. “O nosso envolvimento começou a partir dali”, afirma Colman. Em 2005, com o surgimento de novas manifestações, os militantes do movimento estudantil e integrantes de partidos políticos começaram a se reunir. Na época, já se havia notícia da criação de outros núcleos de

Parada de ônibus no Terminal Urba

Movimentos de Passe Livre (MPLs) em outras cidades do Brasil. “Aqui em Londrina preferimos denominar o movimento de Comitê pelo Passe Livre, Redução da Tarifa e Estatização do transporte”, lembra o professor. MPLs autônomos Embora o movimento

social seja popularmente conhecido por Movimento Passe Livre, Evaristo Colman explica que Comitêpelo Passe Livre, Redução da Tarifa e Estatização de Londrina não tem nenhum vínculo junto a outros núcleos de MPL, como em São Paulo, por exemplo. O que pode

existir é uma parceria em atividades conjuntas, como em eventos para discussão de questões envolvendo o transporte público. Segundo o professor, alguns núcleos de MPLs tomam decisões com base em consenso e muitos são obrigados a renunciar suas posições.


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m transporte público melhor

pelo Passe Livre, Redução da Tarifa e Estatização do Transporte Coletivo de Londrina Foto: Mauricio Paniza

ano de Londrina, no início da manhã

“Não existe consenso sobre questões políticas. Tem que usar via democrática, o voto”, explica. Outra justificativa do professor para preterir o consenso é a de que “um movimento social é amplo, plural, ele tem que acolher todas correntes que são favoráveis à luta coletiva”.

Formas de atuação A crença do Comitê pelo Passe Livre em Londrina é a de que o transporte é um direito do cidadão, assim como a Saúde e a Educação deveriam ser, preferencialmente, serviços gratuitos. O professor Evaristo Colman explica

que é necessário combater o monopólio do transporte coletivo. Para isso, o comitê enxerga na estatização uma saída. Alguns comitês de MPLs pelo Brasil defendem a criação de políticas de Tarifa Zero, em que o Estado paga às empresas o transporte público utilizado pelos

cidadãos, e esse dinheiro teria origem do aumento de impostos das pessoas com maior poder aquisitivo. Esse tipo de proposta é rejeitada pelo Comitê do Passe Livre de Londrina: “Há dois problemas. O primeiro é que a política garante o lucro da empresa, tendo em vista que a despesa do transporte público seria paga pelo Estado. Em segundo lugar, a ideia de aumentar imposto dos mais ricos é uma ilusão porque quem vota e decide sobre aumento de impostos são os representantes dessa gente e imagina que uma Assembleia, uma Câmara, um Senado vai aprovar um aumento de impostos. Isso não vai acontecer nunca, é uma ilusão demagógica pra uma época de eleição”, explica. Em relação à intervenção do comitê na realidade local, é utilizado o método da ação direta. O professor Evaristo justifica que não adianta esperar que algum vereador faça um projeto de lei pelo Passe Livre, porque há diversos projetos de lei que nunca deram em nada “O único jeito é através da organização da população na rua, da juventude, do trabalhador”, conclui. Nos anos de história do Comitê, inclusive, já houve tentativas de aproximação de pessoas com fins eleitoreiros, mas elas sempre são descartadas,

recorda o professor. Participação da população O numero de participantes do Comitê é variado. O grupo já chegou a contar com 150 pessoas. Na época dos protestos que marcaram o aumento da tarifa de ônibus em Londrina neste início de ano, houve reuniões com aproximadamente 60 pessoas. O professor Evaristo Colman enxerga que esse fenômeno é natural no contexto de um movimento social. “A vida cotidiana é permeada por estímulos que isolam o indivíduo para o plano privado, para sua subjetividade e interesses mais mesquinhos”, justifica. No entanto, o professor reconhece que a falta de institucionalização do Comitê acaba por prejudicar a convocação das pessoas para compor o movimento. Mesmo assim, por ora não existe interesse em ter o Comitê institucionalizado. “Se institucionalizar vira uma burocracia. Virando uma burocracia, facilita sua cooptação pra virar um aparato eleitoral de alguém”. Como participar As reuniões do Comitê pelo Passe Livre são realizadas quinzenalmente, aos sábados à tarde, na sede do DCE (Rua Hugo Cabral, esquina com Rua Piauí), e está aberta a qualquer cidadão. O e-mail de contato do CPL é passelivrelondrina@yahoo.

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Memória Memória Memória Memória

Polêmica na Folha de Londrina MAURÍCIO PANIZA No dia 23 de janeiro, após o 3º protesto contra o aumento da tarifa de ônibus para o valor de R$ 2,65, o Comitê pelo Passe Livre se reuniu com o prefeito Alexandre Kireeff. A reunião foi acompanhada pela imprensa e foi capa da Folha de Londrina no

dia seguinte. O jornalista Murilo Pajolla, assessor do Comitê pelo Passe Livre, foi fotografado com o dedo em riste na direção do prefeito Alexandre Kireeff, e acabou foto de capa do jornal. A polêmica mobilizou discussões nas redes sociais entre os londrinenses. Para alguns, o jornalista foi mal educado com o prefeito.

Sobre a polêmica, Murilo explica que a reunião foi pacífica. “Havíamos topado participar porque era uma chance de colocar as reinvindicações, de dar mais publicidade e deixar clara qual é a intenção do Comitê pelo Passe Livre”. Segundo o jornalista, não houve nenhuma fala exaltada na reunião. “Eu sou descendente de

italiano, eu falo com a mão. Eu expliquei para ele [prefeito] por que a gente achava que a tarifa tinha que ser mais baixa e por que a estatização era viável”. Em relação à capa do jornal, ele acredita que a imagem foi precisa, mas ao optar pela foto, o editor optou pelo sensacionalismo. “A foto Foto: Ricardo Chicarelli/Folha de Londrina

não exprimiu o teor da reunião, mas por outro lado pode ter passado a imagem de que o MPL não é subserviente à Prefeitura”. No entanto, o jornalista acredita que o “leitor médio” preferiu interpretar o ato como uma atitude de má educação ou rispidez, por falta de conhecimento sobre os movimentos sociais. A reunião terminou sem acordo entre o Comitê Passe Livre. Murilo explicou que poderia ter sido feito um acordo para reduzir o preço da passagem em alguns centavos, possibilitando uma boa imagem à Prefeitura e ao Comitê. No entanto, o Comitê propôs ao prefeito a estatização do transporte público, pois só dessa forma pode haver consequências efetivas na vida do estudante e do trabalhador.

A polêmica imagem do dedo de Murilo Pajolla em riste durante reunião com o prefeito da cidade

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