O Gancho
Jornal labortatório dos estudantes do curso de Jornalismo da UEL Edição 3 | 2014
Ideia
Mulheres no domínio de seu corpo
Corpo
Poledance
Luta
Cultura a mais
Segmentos culturais de Londrina defendem programa que visa aumentar os investimentos no setor e impulsionar o cenário cultural da cidade.
Terra
Filhos da Ditadura
Expediente Ana Carolina Luz Angélica Miquelin Bruna Ferrari Fabrício Evaristo Fiama Heloísa Santos Lucas Peresin Marcos Gica Mariana Paschoal Mateus Dinali Maurício Paniza Wellington Victor Yvi Leise Jornal laboratório produzido pelo 4º ano noturno do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo da Universidade Estadual de Londrina, para disciplina de Edição de Jornal Laboratório, sob orientação do Profº Sílvio Demétrio. Edição 3 | Junho de 2014
Editorial Quando “O Gancho” surgiu, a ideia de dar voz e vez para assuntos que têm pouco espaço era o grande objetivo do projeto. Dar lugar para os mais diversos segmentos e permitir que se façam conhecidos movimentos sociais, culturas diferentes, iniciativas e qualquer tipo de ação que mereça ganhar, pelas suas ideias e seus objetivos, a atenção dos leitores. Nesta edição, mostramos a diversidade da nossa proposta. Tratamos da mulher e de seus direitos, em uma campanha desenvolvida dentro de uma igreja, pois religião, ao contrário do que diz o ditado, deve ser discutida, tanto quanto política e futebol. Trazemos a mulher não só na luta pessoal por seus direitos, mas como defensora de outros, às vezes mais fracos, diante das políticas públicas de uma sociedade que julga de maneira errada e precoce aquilo que desconhece. E completamos, contanto um pouco do poledance, uma atividade que trabalha a sedução feminina e nem por isso é vulgar ou deve ser vista com maus olhos, mas sim respeitada, pelo direito que todas têm de ser e fazer o que querem. Exploramos como viver a época mais sábia da sua vida, aquela que alguns veem como o fim, mas que pode ser apenas mas um começo, a velhice. E ainda lidando com o tempo, contamos um pouco de resquícios que a ditadura deixou pela cidade, mais especificamente na Universidade Estadual de Londrina. Coisas presentes no nosso dia a doa, assim como os problemas do dia a dia, aqueles que vivenciamos desde o transporte coletivo as lutas que travamos para ser ouvidos pelo poder público. E ainda, provando que nem só de polêmicas é feito “O Gancho”, uma dica sobre como achar bons lugares para comer em Londrina, ótimos para você sentar e ler toda essa edição, conhecendo e descobrindo o outro lado da moeda. Que a leitura seja boa, assim como foi a produção de cada linha escrita por esses futuros jornalistas.
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Ideia Mulheres no domínio de seu corpo
Foto de divulgação de Maria da Penha Maia Fernandes, que sofreu agressão do ex-marido e agora realiza palestras a mulheres vítimas de agressão
Arquivo IEAB
YVI LEÍSE Ela viu a morte duas vezes. Na primeira, o marido dela deu um tiro que a deixou paraplégica. Na segunda, tentou eletrocutá-la no chuveiro. Essa história nem todas as mulheres conhecem, mas foi a realidade de Maria da Penha Maia Fernandes, bioquímica que conseguiu emplacar uma lei que defende o direito das mulheres e leva seu nome. Sancionada em 2006 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a lei 11.340, a lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir a violência familiar contra a mulher. Em 2009 foi criada a Rede Social Lei Maria da Penha, que reúne pessoas interessadas em compartilhar informações sobre a lei e sua aplicação. O link de acesso é o: leimariadapenha.com.br. Foi pensando nas estatísticas desse tipo de violência, que a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, através do Sistema Anglicano de Diaconia e Desenvolvimento (SADD), criou a “Cartilha Prevenção e Enfrentamento à Violência Doméstica contra as Mulheres”, um instrumento para a capacitação de pessoas interessadas em trabalhar com esse tema. Os dados apontam que a cada 15 segundos, uma mulher é agredida no Brasil e em 81% dos casos a agressão é cometida por um conhecido da vítima. Dados de 2012 da Central de Atendimento à Mulher mostram que mais de mil ligações diárias são feitas para o número 180 (Central de Atendimento à Mulher), sendo denúncias encaminhadas às Delegacias da Mulher, Centro de Referência de Atendimento à Mulher,
Divulgação
Igreja realiza curso de prevenção à violência contra a mulher
Cartilha de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher, elaborada pela Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
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Acima, dados de 2012 sobre a violência contra a mulher, da Central de Atendimento à Mulher. Ao lado, cartaz de campanha contra a violência. promotorias e juizados relacionados ao caso. A cartilha foi distribuída pelas igrejas de todo o país e são realizados cursos de capacitação. Na igreja em Londrina, uma das responsáveis pelo treinamento, a psicóloga Evangelina Sanches, explica que a dinâmica da cartilha é ter encontros quinzenais e abertos a toda a comunidade. “Serão realizados no total dez encontros que abordam temas como a origem da violência doméstica, o perfil das mulheres em situação de violência e o perfil do agressor, e como a igreja pode ajudar”, esclarece. Em Londrina, a situação é de crescimento desse tipo de violência. Na Delegacia da Mulher foram realizados 225 boletins de ocorrência apenas em abril, uma média de sete denúncias por dia. Na 6ª Vara Criminal, tramitam 1.100 ações penais e 1.903 medidas protetivas. “O número é grande para a cidade e ainda temos de pensar no número de mulheres que tem medo de
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realizar uma denúncia”, avalia Sanches. A reverenda Lucia Dal Pont, da Paróquia São Lucas, em Londrina, participa da capacitação e explica que a importância da igreja nesse processo. “A igreja deve ser lugar de acolhimento seguro das mulheres em situação de violência, orientando e acompanhando às Redes de Enfrentamento e de Atendimento que existem. Também devemos estimular e promover a participação dos membros da igreja nesses tipos de capacitação”, sinaliza a reverenda. Após a realização de todos os encontros, o próximo passo é acompanhar o trabalho da Secretaria da Mulher e ver como a igreja e o treinamento recebido podem ajudar. Quem tiver o desejo de participar da capacitação pode entrar em contato com a reverenda Lúcia pelo telefone 3346-3610. As denúncias de qualquer tipo de violência devem ser feitas na Delegacia da Mulher, localizada na rua Marcílio Dias, 232, ou pelo número 180.
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Lis Sayuri
Divulgação
Lis Sayuri
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Imagens: Baixa Gastronomia
A reinvenção do Guia Gastronômico
Comida boa por um preço justo é a filosofia do blog Baixa Gastronomia MAURÍCIO PANIZA
Páginas amarelas da lista telefônica. Há algum tempo era uma das únicas opções para descobrir os restaurantes da cidade. Com a internet, vieram os blogs e as mídias sociais. Hoje, apesar das caras tortas de alguns, compartilhar os hábitos gastronômicos na web é prática comum. Foi justamente com a ideia de divulgar os bons pratos com preço justo de Londrina que surgiu o blog Baixa Gastronomia. Criado pelas jornalistas Tatiana Ribeiro e Maria Eduarda Oliveira em 2012, a fanpage no Facebook acumula mais de 7 mil curtidas e o blog está hospedado no Jornal de Londrina. Maria Eduarda (Duda) conversou com O GANCHO e fala sobre a ideia que fisgou os londrinenses pela boca. O GANCHO (O.G): Como surgiu o Baixa Gastronomia? BAIXA GASTRONOMIA (B.G): O Baixa Gastronomia surgiu com uma ideia em comum. Eu montei um grupo no Facebook que chamava Baixa Gastronomia, mas nunca postei nada. A Tati, que já estava com a ideia de um blog, viu o grupo e me chamou para conversar. Então ela montou toda esta estrutura do blog e começamos a postar. Eu e a Tati estudamos juntas na faculdade. O.G: Vocês esperavam que a ideia original tomaria a proporção atual, com o blog hospedado em um dos maiores jornais da cidade e mais de 7 mil curtidores no Facebook?
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B.G: Nós não imaginávamos que tomaria estas proporções! Começamos por achar a ideia legal mesmo e ficamos muito felizes com o resultado. O.G: Como é a equipe do Baixa Gastronomia hoje: quantas pessoas, quantos restaurantes são visitados por semana? B.G: No começo tínhamos duas pessoas que também postavam, a Talita Braga e a Renata Cabrera, mas elas mudaram de cidade. Hoje, as resenhas são feitas pela Tati, por mim e algumas pelo Caio. Não temos um número certo de quantos restaurantes são visitados por semana, mas sempre estamos buscando coisas novas para pôr no Baixa.
O.G: Como é o processo de visita e resenha dos restaurantes? É por indicação, convite dos donos dos restaurantes, ou pela própria equipe espontaneamente? B.G: Nós vamos até os estabelecimentos que gostamos ou que já ouvimos falar, tudo de forma espontânea. Pagamos a nossa conta em todos os lugares. O.G: O Baixa Gastronomia visita que tipos de estabelecimentos: só os econômicos, ou lugares mais sofisticados também merecem a atenção? B.G: Vamos a todos os lugares, não gostamos muito de fazer esta distinção de lugares sofisticados e econômicos. Queremos mostrar para as pessoas lugares em que possam comer bem por um preço justo. O.G: Qual é o retorno dos estabelecimentos e do próprio público após as publicações do Baixa Gastronomia? B.G: O público sempre comenta e interage, diz se gostou do lugar ou não. Isso é bem legal! Percebemos que os estabelecimentos gostam bastante, sempre agradecem e nos contam que o movimento melhora depois da postagem. O.G: Qual foi o post/restaurante visitado pelo Baixa Gastronomia que rendeu mais retorno do público? B.G: A Talita fez um post [em junho do ano passado] que foi o TOP 5 Coxinhas de Londrina e esse rendeu um público enorme. Até hoje recebemos comentários. O.G: Uma polêmica no mundo dos blogs é a questão dos posts pagos ou publiposts. Já aconteceu de algum empresário oferecer dinheiro ou assediar para que o Baixa Gastronomia vá ao restaurante e depois fale bem sobre ele? B.G: Deixamos bem claro que pagamos a nossa conta em todos os estabelecimentos e que só postamos se realmente gostamos do local. Acho que por isso nunca rolou nenhuma dessas situações. O.G: O local tem que ter quais características para ser visitado pelo BG? B.G: Qualquer lugar que tenha uma comida boa por um preço justo. O.G: O público pode indicar restaurantes para serem avaliados? De que forma? B.G: Sim. Adoramos dicas! Anotamos todas. O público pode enviar pelos comentários pelo blog, Instagram ou fanpage do Facebook. Lemos todos os nossos comentários. Se os leitores forem em algum lugar gostoso também podem usar a #baixagastronomialondrina para compartilhar a experiência com todo mundo!
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Post mais acessado elegeu as melhores coxinhas de Londrina Segundo a jornalista Maria Eduarda Oliveira, uma das criadoras do Baixa Gastronomia, o post de maior repercussão foi um ranking com as melhores coxinhas de Londrina, escrito por Talita Braga. O GANCHO foi atrás desse TOP 5, e traz a lista com os melhores quitutes da cidade. 5º lugar - Coxinha do UTOPIA Por quê? A coxinha é bem sequinha e tem bastante recheio. Onde? Avenida Paraná, 14 4º lugar - Pátio San Miguel Por quê? É farta no recheio com o autêntico Catupiry Onde? Avenida Higienópolis, 762 3º lugar - Lanchonete Gelo e Açúcar - Sucos e Salgados Por quê? É feita com massa de mandioca e combina bem com a carne Onde: Rua Senador Souza Naves, 132 2º lugar - Doce Sabor Por quê? O diferencial é a massa, bem temperada. Onde: Rua Pernambuco, 786 e Avenida Madre Leonia Milito, 1900 1º lugar - Coxinha da Rua Brasil Por quê? É sequinha, com massa crocante, recheio bem temperado. Onde? Rua Brasil, 922, entre as Ruas Alagoas e Espírito Santo.
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Terra O trabalho de quem ajuda a garantir os direitos dos índios Dentro do escritório é onde menos se fica, diz antropóloga do Ministério Público Federal (MPF) MAURÍCIO PANIZA YVI LEÍSE Fotos: Maurício Paniza Wellington Victor
A antropóloga Luciana Ramos trabalha há oito anos com os povos indígenas do Paraná. Mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), Luciana começou a estudar a cultura indígena ainda na graduação. Inicialmente, com povos da Amazônia e num momento posterior, com os povos indígenas do Paraná, quando passou a integrar o quadro de colaboradores do Ministério Público Federal (MPF). É a única antropóloga deste órgão público no estado. Luciana recebeu O GANCHO na sede da Procuradoria da República em Londrina. Ela fala sobre sua rotina de trabalho e o relacionamento com os povos indígenas da região. O GANCHO (O.G): Quantos povos indígenas existem no Paraná?
LUCIANA RAMOS (L.R):São três aqui na região: os guaranis, os kaingangs e os xetás. O.G: Quais são as principais dificuldades sociais enfrentadas por esses povos?
L.R: Quando você chega no Sul do Brasil, a realidade indígena é bem distinta do que em outras regiões do Brasil. As terras indígenas são muito diminutas. A consequência é que você tem populações em áreas densas, onde
o entorno é completamente degradado. Dentro da área indígena, sobram poucas alternativas produtivas e de sustentabilidade, que desencadeiam uma série de questões. Uma delas é essa necessidade do artesanato que é uma situação que você vê em Londrina. Outra é que as famílias dependem totalmente de programas sociais. Lidamos com essas questões no MPF. Eles vivem em estado de miserabilidade. O.G: Uma situação bastante comum
em Londrina são índios pedindo esmolas nos semáforos, muitas vezes acompanhados por crianças. Como devemos proceder ao presenciarmos isso?
L.R: Muitos índios gostam desse deslocamento pra cidade. Então, essa dinâmica de perambulação é própria deles. Para os kaingang, a esmola não é algo pejorativo. Muitas vezes eles percebem o branco ou o não-índio como generoso. A esmola não é interessante pois quem Foto 1*
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a oferece tem uma percepção negativa daquele que recebe. E o indígena não deveria ser tratado como um mendigo, porque ele não é. Essa é uma relação de inferiorização que não é interessante. Num sinaleiro, você colabora para que uma criança fique numa situação de risco. Se você der esmola, o índio vai voltar, porque é um meio eficiente de conseguir dinheiro. Eles estão na cidade, dependem de recursos e a quantidade que vem do artesanato é pouca em termos de lucratividade. As crianças desejam coisas. A gente tem um mundo de consumo e os indígenas também desejam isso. Eles querem comer determinadas coisas, experimentar e pedir esmola é um meio eficiente deles terem acesso a essas coisas. O.G: Geralmente a visão que a sociedade tem deles é pejorativa, não é?
L.R: Exato. A Gente olha pra eles e projeta o pior da nossa sociedade e na verdade eles têm uma outra visão de mundo. Por exemplo, é muito comum você ver os kaingangs deitados numa grama. Isso é uma postura corporal que se vê frequentemente na aldeia, é assim mesmo. Deitar numa calçada pra eles não é algo degradante. Pra eles é absolutamente normal. O.G: Como é seu relacionamento com as comunidades indígenas?
L.R: Aqui no Paraná eu já trabalho nas comunidades há oito anos. Já fui em todas. Você passa a conhecer as pessoas e as pessoas passam a conhecer esse trabalho. Hoje é fácil eu entrar nessas comunidades por essa relação, mas as vezes não é tranquilo para maioria das pessoas entrar, porque as comunidades são fechadas. Outra coisa que facilita meu trabalho é que os índios tem uma visão positiva do Ministério Público Federal. Ele é muito atuante nas questões indígenas. Os índios sabem e reconhecem. O.G: Como é seu dia de trabalho no MPF?
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L.R: Normalmente, o procurador recebe alguma demanda e eu vou à comunidade indígena buscar o olhar da antropologia para poder orientar o trabalho dele. Então meu cotidiano é o mais diverso: eu posso estar numa aldeia indígena fazendo coleta de dados para produção de alguma perícia ou redigindo essa perícia. Eu também participo de muitas reuniões com o governo. Tem trabalho dos mais diversos. Pode ser em conflitos dentro da comunidade. Participo de debates. Aqui dentro do escritório é onde menos se fica. O trabalho é bem interativo.
que falta?
O.G: Quando falamos em políticas públicas destinadas aos indígenas, o
L.R: Os índios são muito diferentes entre si em termos de etnia. Trabalhar
L.R: Muitas delas serem efetivadas, porque são lindas no papel, mas péssimas na prática. É preciso ouvir as comunidades porque elas muito mais do que nós tem condições de apontar onde as coisas estão falhando, embora o MPF esteja atuando constantemente, produzindo diagnósticos pra orientar essas políticas públicas. O.G: O que a Luciana Ramos, mulher branca, trouxe dos índios e leva pra vida?
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com Karajá é diferente de trabalhar com o Guarani, que é diferente de trabalhar com o Kaingang. Cada um tem sua visão de mundo. Eu acho que o que os índios me trouxeram foi que existem várias formas de estar no mundo. A nossa não é a única e não é a melhor.
“A Gente olha pra eles e projeta o pior da nossa sociedade e na verdade eles têm uma outra visão de mundo.” Luciana Ramos, antropóloga.
Foto 1* e 2: Família de índios kaingáng vivem no Vãre Centro Cultural Kaingáng (Londrina). Foto 3 (esq.): Luciana Ramos, antropóloga.
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FILHAS DA DITADURA Texto e fotos MARCOS GICA Leila Mendes de Vasconcellos em seu artigo “Por uma alternativa urbana para a universidade”, publicado no livro Cadernos Brasileiros de Arquitetura no ano de 1984, revelou sua preocupação em relação aos campi afastados das cidades. “O campus não pode ser a única alternativa espacial para a universidade, que deve pertencer à cidade, marcando sua presença na vida urbana. De nada valerão protestos e manifestações políticas originadas na universidade se esse segmento da sociedade não pode ser ouvido nem
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visto pela população”. A partir deste tema se tem o pensamento espacial do campus da UEL. O Ouvidor Geral e professor de arquitetura, Jorge Marão Carnielo Miguel, fala que o projeto do campus da UEL tem que ser entendido não apenas como arquitetura, mas também em seu contexto político. “É possível se pensar que o campus compartimentado da Universidade foi feito para se evitar conglomerações de estudantes e possíveis manifestações”. “Os anos passaram, e a UEL ainda sofre esse problema de falta de comunicação entre os departamentos”, argumenta Marão. O projeto arquitetônico da
UEL segue o padrão das grandes universidades construídas na época, como a USP (Universidade de São Paulo). O campus disperso e longe do meio urbano é uma consequência do cenário político da época de sua construção. Diminuir o contato entre estudantes de diferentes cursos, evitar as relações políticas de diferentes pensamentos, visando anular as manifestações e aglomerações era o pensamento ditatorial na construção destas universidades. O aluno de Arquitetura e Urbanismo, Matheus Bortoleto, 20,
diz que com o passar dos anos a UEL se remodelou e criou espaços de convivência entre os alunos, mas
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Junho de 2014 que ainda são insuficientes: “O RU (Restaurante Universitário) é um espaço onde diferentes cursos se encontram, mas é pouco, nós precisamos de um local de discussão universitária, um local comum ao estudante”. Por outro lado, o professor e diretor da PróReitoria de Planejamento e Desenvolvimento Físico, José Luiz Faraco, argumenta que o campus da UEL não teve influência política em sua criação: “não creio que haja qualquer relação com aspecto de ordem política, a questão do afastamento das edificações uma das outras tem diferentes motivos e preocupações”. Faraco afirma que o distanciamento entre as os departamentos está relacionado com o meio ambiente, desde a impermeabilização do solo até as condições de insolação, ventilação e arborização do campus, visando um habitat mais favorável ao estudante e menos impacto ao meio ambiente. Filha da ditadura, espaço de debates de ideias, um local plural da cidade, de manifestações conservadoras até ‘beijaço’ de protesto, este é o espaço da Universidade Estadual de Londrina.
influência política local plural
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O prazer de envelhecer bem
Há 10 anos, o Centro de Educação Física da UEL oferece atividades físicas gratuitas para a terceira idade ANGÉLICA MIQUELIN FABRÍCIO EVARISTO Fotos: Fabrício Evaristo
á diziam nossos avós “depois dos 15 anos o tempo voa”, os janeiros e primaveras passam e as rugas e as dores chegam pra ficar. Envelhecer de forma saudável é uma preocupação pertinente que merece atenção. Nesta fase da vida percebe-se que o clichê médico “alimentação balanceada + exercício físico” realmente faz diferença.
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De acordo com último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado em 2010, 7,4% da população brasileira tem mais de 65 anos. O IBGE também mostra que a expectativa de vida do país passou de 68,6 anos em 2000 para 74,6 em 2013. Parece pouco, mas a tendência é que o número continue aumentando. Em Londrina, 12,72% da população total da cidade possui mais de 60 anos, um número bem maior que a média nacional. Com o envelhecimento da população,
cresce a necessidade de políticas públicas para atender as demandas desse grupo. Além de saúde, transporte e aposentadoria, é necessário oferecer atividades que possa garantir a qualidade de vida dessas pessoas, que motive e que faça o idoso interagir com a sociedade. Prestação de serviço Se o objetivo da universidade é gerar conhecimento e benefício à comunidade, ela também deve pensar e executar projetos direcionados ao idoso. Há 10 anos
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a Universidade Estadual de Londrina oferece atividades para a terceira idade por meio de projetos de extensão, grupos de pesquisa e por meio do programa Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati) - no momento, a Unati está parada, mas deve retomar as atividades no segundo semestre de 2014. Durante oito anos, professores e alunos de Educação Física que participavam do projeto “Envelhecimento Ativo” ofereceram atividades físicas gratuitas para os idosos. Em 2011 a iniciativa foi rebatizada para “Projeto viver: em busca do envelhecimento bem sucedido”, e atualmente atende 90 idosos divididos em três modalidades: habilidades motoras, ginástica aeróbica e alongamento. Segundo o coordenador, Denilson de Castro Teixeira, o objetivo “é melhorar a qualidade de vida do idoso, contribuir para que eles tenham uma boa capacidade física e também para que eles possam estar inseridos na sociedade, além de contribuir para a sensação de bemestar”, afirma. No início de 2014, os idosos foram divididos em três grupos com atividades diferentes. Os participantes fizeram exames antes de iniciar as atividades do semestre e irão fazer novos exames no final do semestre. A avaliação faz parte do projeto de pesquisa “Influência
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da prática esportiva sobre a capacidade de reação e de velocidade durante o envelhecimento”. De acordo com professora Juliana Bayeux Dascal, coordenadora da pesquisa, com a coleta dos dados será possível identificar qual a melhor exercício para os idosos que participam do projeto e montar um novo plano de atividades para 2015. A qualidade de vida na terceira idade depende dos hábitos da vida toda. Mas nunca é tarde para mudar a rotina e sair do sedentarismo. Teixeira garante que “o exercício físico ajuda o idoso a melhorar o equilíbrio e o desempenho nas atividades do dia-a-dia, deixando a pessoa mais independente”. Menos dores e mais amigos As atividades do Projeto Viver são realizadas todas as segundas, quartas e sextas-feiras, das 14h às 15h, no Centro de Educação Física e Esporte da Universidade de Londrina. (CEFE). A aposentada NELMA NOGUEIRA, 65 anos, participa do projeto há quatro anos. “Os exercícios mudaram a minha qualidade de vida e melhoraram as dores. Antes eu não conseguia deitar de lado e agora consigo”, disse a aposentada. Nelma também garante que sair de casa para se exercitar vale a pena. “É uma delícia! Vale por tudo, principalmente pelas gargalhadas”, afirma. GERALDINA DA SILVA RODRIGUES, 69 anos, esperou dois anos para entrar no projeto. Iniciou as atividades este ano. “São poucos meses, mas já dá pra sentir a diferença”, garante. O exercício também ajudou a aposentada a aliviar as dores. “Eu tinha um caroço na mão e ele já diminuiu devido aos alongamentos”. Geraldina viaja bastante, mas se esforça para ficar em dia com a saúde e conseguir aproveitar os prazeres da vida com disposição e alegria. Devido à estrutura, no momento não há vagas para participar do Projeto Viver, mas existe uma lista de espera. Os interessados podem entrar em contato pelo número 3371-5952.
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O objetivo é melhorar a qualidade de vida do idoso, contribuir para que eles tenham uma boa capacidade física e também para que eles possam estar inseridos na sociedade, além de contribuir para a sensação de bemestar”, afirma o professor Denilson
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POLEDANCE Uma ginástica em uma barra vertical, a atividade ganha espaço entre homens e mulheres que procuram esta forma de expressão corporal aliada à desenvoltura física
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O Gancho Texto e fotos: NABILA HADDAD
É só deixar os estereótipos de lado para descobrir que o pole dance é uma atividade de grandes benefícios ao equilíbrio do corpo e da mente. Disponível para homens e mulheres, ele tem duas vertentes e vários níveis de experiência. Pode levar o corpo a milhares de posições. Alternativa divertida, o pole dance como atividade física, não é coisa de boate, e não carrega a vulgaridade consigo. Ele trabalha com técnicas de dança e desenvolve força, flexibilidade, resistência e consciência corporal, emagrece e tonifica. Neyva de Oliveira, graduada em Educação Física, é pioneira no ensino de pole dance em Londrina e reforça a quebra do mito sobre a atividade “muita gente acha que é coisa de boate, de prostituição e quem julga assim é por ignorância, por não conhecer o assunto. Sim, existe gente nestes lugares que está envolvido com isso. Mas tem que entender que é uma coisa feminina, e não vulgar”. A educadora física começou a lecionar há quatro anos, e foi logo depois de decidir procurar por novas ideias, “conheci o pole dance por vídeos do YouTube, estava procurando por coisas diferentes e cheguei até Grazzy Brugner (educadora física certificada em Pole Dance, pelo Art Dance Studio), com quem me capacitei, em Curitiba”. Rumo a uma definição, Neyva explica que o pole dance é um esporte, mas prefere enquadrálo como arte. “Quando tratado assim, posso trabalhar com aspectos culturais, assim como trabalha o circo, a ginástica rítmica, o ballet. Praticar o pole dance é trabalhar vários sentidos, não só o corpo”. Dividido entre duas abordagens, Polefitness, que abrange a parte acrobática e trabalho do corpo, e Pole arte, que usa de técnicas de dança, aliado aos atributos físicos, pode ser praticado em dupla na mesma barra. Existem apresentações com grandes grupos com cada praticante em uma barra. Os níveis de experiência são classificados por básico, intermediário e master, e dentro de cada um deles subníveis que são compostos pelos giros básicos, movimentos de força, segurar na barra e movimentos crescentes. A evolução acontece a partir da complexidade, mas cada um tem seu ritmo e o desenvolvimento é individual. Paula Martins é enfermeira. Aluna há 10 meses, se encontrou no pole dance por não se adaptar a
“Posso trabalhar [o pole dance] com aspectos culturais, assim como trabalha o circo, a ginástica rítmica, o ballet”
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Junho de 2014 outros esportes. “As aulas são aulas lúdicas, você vem, se diverte, supera seus limites. Você fica bem, com disposição, e é bom para o seu corpo. [O pole dance] aliou a parte física com a dança, que eu gosto muito. Então para mim foi a combinação perfeita, não pretendo parar mais”. O fortalecimento não se limita aos músculos. A advogada Naiara Poliseli, 30, identifica no pole dance muito mais que o desenvolvimento físico, “você começa a conhecer seu corpo e você vê evolução nele. Cada movimento que você consegue fazer é uma realização, uma conquista e isso aumenta sua autoestima”. Durante as aulas as alunas se ajudam com dicas para melhorar os movimentos e esse apoio traz um resultado maior ainda. “O pole dance pode mudar a vida das pessoas nos quesitos de confiança e autoestima. Ele é uma atividade que reúne as pessoas e proporciona divertimento, trabalho emocional, psicológico, não é monótono”, reforça Neyva. É preciso praticar com a pele em contato com a barra, por isso, shorts curto para os homens e top e shortinho para as mulheres. Para quem estranhar, a resposta está na ponta da língua de Naiara, “o que eu pratico é uma ginástica na barra vertical. Toda ginasta usa colant. Se eu usar um colant eu caio da barra, porque é a pele
“As aulas são aulas lúdicas, você vem, se diverte, supera seus limites” Paula Martins
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“É a pele que me segura na barra” Naiara Poliseli
Luta
Novas linhas que atendem ao Terminal
Ao todo, oito novas linhas foram criadas depois da inauguração do dos usuários do transporte públi
ao trabalho é a 312 – Jd. Santa Madalena. Esta linha agora só faz o trajeto bairro – Terminal Zona Oeste e não passa mais nas avenidas O Terminal da Zona Oeste de Tiradentes, Juscelino Kubistchek, Londrina começou a operar no dia Rua Benjamin Constant e, por fim, 23 de abril e desde este dia divide Terminal Central. Do novo terminal, opiniões. À época da inauguração Leila tem de pegar um ônibus até do novo terminal, o gerente o Terminal Central e, aí sim, uma de transportes da Companhia linha que passe perto de onde Municipal de Trânsito e Urbanismo trabalha. (CMTU), Wilson de Jesus, afirmou O novo terminal também que os novos trajetos iam facilitar acarretou na extinção de outras a vida dos usuários do transporte cinco linhas. Como é o caso da público ao reduzir o tempo de 304 – Campus (via Bandeirantes). viagem em 20 minutos – de acordo O itinerário suprimido passava pelo com estimativa da companhia Shopping Catuaí, Universidade – porque eles não iam mais ter Estadual de Londrina, de passar pelo bairro Bandeirantes, centro da cidade. avenidas Arthur E se este for o Thomas, Tiradentes, problema? Juscelino Kubistchek, A empregada rua Benjamin doméstica, Leila Constant e Terminal Maria Januário, Central. mora no Jardim A Transportes Santiago, zona Grande Londrina oeste, e trabalha divulgou no site que no centro há todas as linhas extintas mais de 20 foram substituídas. No anos. De acordo entanto, a “substituta” com ela, assim Leila Maria Januário – de acordo com como vários a empresa de outros vizinhos transportes – da 304, de bairro, as que é a 933, faz apenas parte do mudanças não foram favoráveis. O itinerário da antiga linha. O caminho trajeto para o trabalho ficou mais agora é Terminal Vivi Xavier – Jd. longo e complicado. “O terminal Vista Bela – Terminal Zona oeste – chama Zona Oeste, mas quem UEL – Shopping Catuaí – avenida mora na região só foi prejudicado. Arthur Thomas. Antes eu pegava só um ônibus para Estudante do Colégio da chegar ao centro. Agora, tenho de Aplicação da UEL (campus), Pedro, pegar três”. é morador do Jardim Sabará – que A linha que Leila usa para ir Texto e fotos MARIANA PASCHOAL
“O terminal chama Zona Oeste, mas quem mora na região só foi prejudicado”
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As linhas de ônibus que passam pela UEL têm de atender a mais usuários depois da extinção da linha 304 - Campus (via Bandeirantes)
l Zona Oeste não suprem linhas extintas
o novo terminal e cinco foram suprimidas. Mudanças dividem opinião ico e da administração da cidade.
fica ao lado do Jardim Bandeirantes – e reclama porque os moradores da região perderam uma opção de linha que liga os bairros da redondeza à UEL e ao centro. É a mesma queixa do universitário João Henrique Diniz, que mora na Avenida Maringá, próximo ao Colégio Marista, e usava a linha 304 para ir e voltar da UEL. “Quase não passa ônibus na Tiradentes agora. Preciso pegar as outras linhas da UEL, descer no terminal central e pegar outro para casa. A viagem ficou bem mais demorada e os ônibus mais lotados”. O aumento de passageiros das linhas de ônibus que atendem à UEL foi notado pela reportagem depois da extinção da 304, mas o número de carros das linhas que sobreviveram não aumentou. Das oito novas linhas criadas para atender ao novo terminal, nenhuma substitui integralmente as cinco extintas. Há gente que diga que “enquanto eles dão com uma mão, tiram com a outra”. Não é assim que se melhora a mobilidade urbana de Londrina, que há muito tempo precisa ser desenvolvida. Ônibus lotados e sucateados são rotina na cidade. Itinerários e horários mal planejados também. Os responsáveis por esta organização querem concentrar os carros na periferia, mas esquecem que o centro ainda é a região na qual há maior concentração de trabalhadores da cidade. É preciso atender às duas demandas, sem restrições.
Universitários espalham, pela UEL, abaixo assinado para a volta da linha 304.
NOVAS LINHAS:
LINHAS ALTERADAS:
300 – Terminal Zona Oeste / Centro 316 – Terminal Zona Oeste / Jd. Leonor 350 – Expresso Terminal Zona Oeste / Terminal Central 807 – Terminal Zona Oeste / Centro Cívico / Jd. San Fernando 808 – Jd. Bandeirantes / Jd. Tókio / Centro / Av. Robert Koch 931 – Terminal Zona Oeste / Londrina Norte Shopping 932 – Terminal Zona Oeste / Terminal Ouro Verde / Terminal Vivi Xavier 933 – Terminal Vivi Xavier / Jd. Vista Bela / Terminal Zona Oeste / UEL / Shopping Catuaí
303 – Terminal Zona Oeste / Jd. Tókio 309 – Terminal Zona Oeste / Pq. Ney Braga 310 – Terminal Zona Oeste / Jd. Do Sol / Terminal Central 311 – Jd. Santa Rita / Terminal Zona Oeste / Terminal Central 312 – Terminal Zona Oeste / Jd. Santa Madalena 313 – Jd. Santa Madalena / Terminal Zona Oeste 810 – Terminal Zona Oeste / Av. Tiradentes / Centro / Av. São João 904 – Terminal Zona Oeste / UEL / Shopping Catuaí / Terminal Acapulco / Jd. São Lourenço
LINHAS SUPRIMIDAS (EXTINTAS): 304 – Campus – Via Jd. Bandeirantes 421 – Santiago II / Londrina Norte Shopping 701 – Rápido San Fernando 902 – Milton Gavetti / Tiradentes 912 – Terminal Ouro Verde / UEL – Via Jd. Tókio / Leonor Os itinerários novos e modificados estão disponívels no site www. tcgl.com.br
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O Gancho
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Cultura a mais Segmentos culturais de Londrina defendem programa que visa aumentar os investimentos no setor e impulsionar o cenário cultural da cidade. Texto e fotos BRUNA FERRARI
Fotos da Mobilização “Cultura é mais” realizada no dia 10 de maio, no calçadão de Londrina com a participação de vários grupos culturais da cidade
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Nos últimos meses, um grupo formado pelo Conselho Municipal e Secretaria Municipal de Cultura de Londrina, com apoio de vários segmentos culturais de cidade, têm lutado pela aprovação do “Programa Rede de Infraestrutura, Formação, Produção e Circulação Cultural no Município de Londrina”. As diretrizes desse programa surgiram dentro da Conferência Municipal de Cultura, realizada em julho de 2013 no município. Chamado de “Cultura é mais” o grupo realizou no dia 10 de Maio um cortejo no calçadão de Londrina, com apresentações de teatro, circo, grupos de Hip Hop, do Movimento dos Artistas de Rua de Londrina, o MARL, entre outros que apoiam a causa. Na mesma semana, no dia 06, as propostas foram levadas à Câmara de Vereadores e na semana anterior, entregue em mãos ao prefeito Alexandre Kireeff, que na data, segundo membros do grupo que participaram da reunião, aprovou o projeto. Entre as demandas do programa estão o investimento de 1% do orçamento do município para o Programa Municipal de Inventivo à Cultura (Promic), que atualmente recebe 0,30%, 3% para a Secretária Municipal de Cultura, a liberação de prédios e espaços públicos para instalação de projetos e ações culturais, além da melhoria dos espaços já existentes na cidade, e realização de concurso público para aumentar o quadro de funcionários. O coordenador do cineclube “A Hora Mágica” e conselheiro do setor de cinema do Conselho Municipal de Cultura, Luis Henrique Mioto, afirma que a situação do setor em Londrina é crítico e que precisa ser revista. Segundo ele, o que se pede
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através desse programa é na verdade a recuperação de um orçamento que há dez anos era investido na área. “É uma mobilização por melhorias em vários setores e várias deficiências históricas. A principal é a recuperação do orçamento. Há dez anos, quando o Promic surgiu, ele tinha 1 % do orçamento do município. Com o tempo foi sendo retalhado por meio das várias gestões e agora tem menos de 0,30% do orçamento”. Para Luis, com o aumento de investimentos para a Secretaria de Cultura, as outras demandas acabam sendo atendidas, mas nem todas dependem apenas de verba, como explica: “Existem demandas que não dependem do aumento dessa verba, mas sim de vontade política do poder executivo. A questão do orçamento depende dos vereadores, mas existe uma demanda da liberação de espaços públicos ociosos. Espaços que são públicos mas estão parados. Esses lugares poderiam ser utilizados para espaços culturais e apesar disso depender de orçamento para
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recuperar, depende também de vontade política, a gente está solicitando uma listagem desses lugares faz tempo e não há resposta quanto a isso.” A proposta feita pelo grupo busca também descentralizar as ações culturais em Londrina, criando espaços nas periferias da cidade e proporcionando o acesso a toda população, o que segundo José Mendes de Souza, ativista do movimento negro de Londrina e integrante do “Cultura é mais” é extremamente importante, já que vivemos em uma sociedade com educação tecnicista: “Quando você fala em cultura, você fala em oportunização. A gente tem uma educação no Brasil voltada a uma coisa tecnicista. Você não vê uma educação voltada para pessoa ser um músico, um artista de rua. E de que maneira você consegue isso? Através de verbas para o Promic, levando teatro, música e outras ações para escolas, assim as crianças se conhecem essas áreas e se engajam na construção de uma sociedade igualitária. Você dá oportunidade
da criança se envolver com cultura e não com outras coisas, você possibilita que elas conheçam outros sabores da vida.” Segundo José, hoje são investidos R$ 2,7 milhões para o Promic, considerado por ele pouco, comparado aos R$ 3,8 milhões que foram investidos em 2008. Apesar das mobilizações do grupo, de acordo com Luis, o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) (com as orientações e metas para a elaboração e execução do orçamento do próximo ano), que foi apresentado pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Tecnologia, dia 13 de junho aos vereadores, não alterou os valores de investimentos em cultura. A Lei Orçamentária Anual (LOA), que estabelece as receitas e despesas finais do município deve ser aprovada apenas em agosto e até lá o grupo pretende continuar organizando mobilizações para que a demanda seja atendida.