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LAMPIÃO

edição: OLIVIA MUSSATO E TABATHA CAMPELO | foto: leidiane vieira

Jornal Laboratório | Comunicação Social - Jornalismo | UFOP | Ano 1 - Edição Nº 1 - Junho de 2011

Cabanas Ocupação irregular na cidade paralela

Página 5

simião castro

Reativar ou não? Projeto de reabertura da Mina Del Rey preocupa população

Com 20 anos de atraso, transposição do córrego Catete promete solução em 180 dias

Limpeza urbana Varredoras de rua trabalham sem equipamento de proteção

Páginas 6 e 7

Filas na Policlínica Tempo de espera para atendimento odontológico é de até seis meses

Cães sem dono Descaso com animais abandonados revolta comunidade

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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Ana Sophia Figueiredo e Camila Dias

Editorial

Charge

Quem precisa de um jornal laboratório? José Marques de Melo diz que o jornal laboratório é instrumento básico do curso de Jornalismo, por integrar os estudantes na problemática da futura profissão. Porém, produzir um jornal faz mais do que nos integrar – nós, os futuros jornalistas – nas dúvidas e felicidades da profissão escolhida. Produzir um jornal significa a integração entre a universidade e a sociedade. Entre os visitantes e a cidade de Mariana. Entre os estudantes e a comunidade. Entre a vocalista Neila Ferreira e o repórter Allãn Passos. Entre o bairro Cabanas e o centro da cidade. Os problemas e as soluções. Entre as ruas, os entrevistados, as histórias e as letras impressas no papel. E, para as letras serem impressas, é preciso estar atento aos detalhes. Propor pautas como a situ-

ação de trabalho das varredoras ou a acessibilidade nas escolas demanda cuidados tanto na abordagem, quanto na transmissão das ideias. Temos ainda que andar muito, subir ladeiras, ligar repetidas vezes para o mesmo número de telefone, voltar outro dia. Tentamos não perder nada. E os detalhes continuam.

Buscamos entender Mariana pelo lado de dentro. Como recompensa, ganhamos de vez o status de moradores e queremos demonstrar isso no papel. Na edição, cada vírgula tem seu lugar. A mesma página lida e relida, medida, contada e recontada. A eterna discussão sobre o que vai estar na capa, sobre qual

é o espaço dedicado a cada assunto. São muitas ideias que transformam a todo momento um jornal em vários outros. A mesma cidade desdobrada em várias outras, sob uma porção de aspectos diferentes. Caminhar por aí, tentando enxergar a cidade com outros olhos, exigiu que tivéssemos lentes extras. Tentamos encontrar assuntos que da­riam uma boa conversa, que permaneceriam latejando na cabeça por alguns dias. Buscamos entender Mariana pelo lado de dentro. Como recompensa, ganhamos de vez o status de moradores e queremos demonstrar isso no papel. Cada matéria escolhida e desenvolvida está impressa porque teve fôlego para chegar até as páginas do jornal. Cada jornal foi entregue porque o fôlego do Lampião é você, leitor.

Opinião

Entre olhares CAMILA DIAS

Mariana e o dragão Cristiano Vilas Boas

Desde o dia em que a Vale anunciou sua pretensão de reativar a mina de minério de ferro praticamente dentro da área urbana da cidade, nós, moradores, não tivemos paz. Pressentimos a ameaça sem conseguir determinála com precisão. Só sabemos que o estrago será enorme. Danos irreparáveis à nossa saúde, ao nosso direito de bem-viver, à estrutura urbana já em colapso, ao nosso patrimônio histórico e ambiental. A mineradora nega. Fala em “convivência saudável”, em “mitigação” dos impactos. Acena com algumas poucas benesses econômicas. Prega a boa nova do progresso e apela para nossa suposta “vocação” para a mineração. Há quem acredite: “Que se tire minério debaixo da Sé se for o caso!” – andam fazendo coro por aí os convertidos à seita do desenvolvimento a todo custo. Como Mamon, o homem que, por causa de sua ambição material, foi condenado a passar a eternidade vivendo sob a forma de um dragão, esses profetas do progresso vendem a alma para o dragão da vez, que é chinês. Montanhas inteiras, e junto com elas as pes-

soas que nelas vivem, têm sido sacrificadas em nome do lucro cada vez maior. É que a ambição de um bicho desses não tem fim. Engole tudo que vê pela frente. Não é à toa que o símbolo da inflação é justamente um dragão. O do fim dos tempos também. O dragão é um e sempre o mesmo em todas as Minas: a exploração sem limites. Sem nada que o constranja, exige cada vez mais. Cidades inteiras. Agora quer Mariana, a cidade que vive a ameaça de ser oferecida em sacrifício a esse dragão desde seu nascimento. No seu hino, Mariana já lamenta sua sorte; chora as agressões sofridas ao longo dos séculos por causa da ambição e da exploração predatória do seu chão e pede socorro. Cabe a cada um de nós, que es­ colhemos essa cidade para viver, defender a Mariana dos cálidos sentimentos, cantada em verso e prosa – a Primaz de Minas. Afinal, Mariana é muito mais que minério de ferro. A história de Minas nasceu aqui. Esse chão é berço! Cabe a nós lutarmos para que ele não seja transformado em túmulo. Cristiano Vilas Boas é estudante de direito na Universidade Federal de Ouro Preto

FALA, CIDADÃO! A praia – Cada lugar é, à sua maneira, o mundo. Cada Prainha é, à sua maneira, o mundo. A rua que vem de lá é de asfalto, a daqui é de terra macia. Algo é certo, pipas no céu. Sorrisos ingênuos, mesmo que entre as embalagens de leite e as fraldas descartáveis. Em um sábado de sol, o escuro da água, o cheiro da falta de preocupação impregnava os sentidos. A Prainha contava, mesmo que de forma inconsciente, como a vida ali é solitária, cheia de lacunas e desconhecidos. A menina brinca descalça, com roupa amarela e roxa, com boneca no colo. As crianças correm, gritam por entre a sujeira. Mas alguns também brincam com os olhos, com a imaginação, essa inexplicável capacidade de nos transportar para todos os lugares possíveis. Havia um menino na cadeira de rodas, com um olhar de gente grande. Estava no andar de cima deste mesmo barranco, apenas observando. A sua mente parecia se esparramar ludicamente para um espaço onde tudo é permitido, até andar. (Camila Dias)

Lampejos desta edição “Elas tem que gastar a própria roupa para atender ao serviço público.” Darcy Carvalho, sobre as varredoras. p. 4

É grande a angústia dos moradores de Mariana com a execução das obras de transposição do córrego do Catete. Sobre a construção do túnel bala. p. 6 e 7

“Há vinte anos não tinha ônibus, a gente andava a pé e a luz era de querosene.” Maria Aparecida de Jesus, sobre o Cabanas. p. 5

“O que sobrará de Minas Gerais se não for barrado este processo de mineração?” Aida Anacleto, sobre a reativação da Mina Del-Rey. p. 3

Diferente

Mais humor

Achei a escolha do nome muito interessante, me chamou a atenção. O jornal se destacou entre os outros do mercado local. As reportagens deram ênfase à nossa região. Mas senti falta de esportes. Poderia ter mais serviços também, em um sentido de esperar o Lampião chegar para saber as oportunidades.

Excelente! Sugiro ter mais humor na próxima edição.

Edmilson Eloy José Rodrigues – balconista

Política clara Um jornal que trouxe a política de uma forma clara, que integrou as pessoas. Carlos Alberto Alves – professor

Leonardo dos Reis – comerciante

Engajado A criação do Lampião é uma mostra de que o curso de Jornalismo da UFOP preocupa-se com a configuração de espaços democráticos de circulação das informações, já que a sociedade necessita de veículos independentes como este. Parabéns aos estudantes e professores envolvidos na produção deste importante veículo de informação para a comunidade local. Marta Maia - professora da UFOP FALE VOCÊ TAMBÉM! para enviar sugestões de matérias, opiniões e críticas, escreva para jornallampiao@gmail.com

Jornal laboratório produzido pelos alunos do 6° período de Jornalismo D Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA)/Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) D Reitor: Prof. Dr. João Luiz Martins. Diretor do ICSA: Prof. Dr. José Artur dos Santos Ferreira. Chefe de departamento: Profa. Dra. Juçara Gorski Brittes.Presidente do Colegiado de Jornalismo: Profa. Dra. Marta Regina Maia D Professores responsáveis: Hila Rodrigues (Laboratório de Jornalismo Impresso), Anderson Medeiros (Fotografia) e Ricardo Augusto Orlando (Planejamento Visual) D Reportagem, fotografia e edição: Allãn Passos, Amanda Rodrigues, Ana Beatriz Noronha, Ana Cláudia Garcêz, Camila Dias, Douglas Gomides, Enrico Mencarelli, Fábio Seletti, Fernando Gentil, Izabella Magalhães, Leidiane Vieira, Lorena Caminhas, Luana Viana, Lucas Vasconcellos (Lucas Aellos), Lucas Borges, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mari Fonseca, Mateus Fagundes, Mayara Gouvea, Olívia Mussato, Paulo Dias, Raísa Geribello, Rodolfo Gregório, Sabrina Carvalho, Sara Oliveira, Simião Castro, Sophia Figueiredo, Tábata Romero, Tabatha Campelo, Thales Vilela Lelo D Projeto gráfico: Enrico Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mayara Gouvea, Simião Castro, Tábata Romero D Colaboração: Fábio Germano, Neto Medeiros D Impressão: Conceito Gráfica Editora Ltda D Tiragem: 3.000 exemplares. Endereço eletrônico: jornallampião@gmail.com. Endereço: Rua do Catete nº 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG.


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Leidiane Vieira e Simião Castro

MINA DEL REY simião castro

Mariana vista de cima: ao fundo, a Vila Maquiné e a área de exploração da Mina Del Rey. Apenas 2km separam a mina do centro da cidade. População teme pela queda na qualidade de vida

Reativação causa controvérsia

Embalada por discurso desenvolvimentista, Vale decide retomar exploração da Mina Del Rey. Impactos preocupam moradores das possíveis regiões afetadas Ana Beatriz Noronha

Na condição de maior mineradora do mundo, a Vale S.A já marcou para 2014 o início da exploração da Mina Del Rey, em Mariana. O anúncio formal foi feito durante a 11ª reunião ordinária da Câmara de Vereadores, quando o diretor geral da empresa, Artur de Melo, falou sobre o processo exploratório que deve durar cerca de dez anos. A decisão assusta parte dos habitantes da cidade, que teme os impactos da reativação da mina – em especial os que vivem próximo ao terreno que interessa à companhia. Esse receio resultou na criação da Associação Mariana Viva, presidida pela vereadora

Aída Anacleto (PT). O objetivo é centralizar as ações das pessoas que se sentem ameaçadas. Para Aída, trata-se de cumprir a lei e, sobretudo, de respeitar a população de Mariana. “É necessário garantir junto aos órgãos competentes o veto à reativação da Mina. O que sobrará de Minas Gerais se não for barrado este processo de mineração?”

AUDIÊNCIA Dia 22 junho, às 10h30, no Centro de Convenções de Mariana, haverá uma audiência pública para discutir a reabertura da Mina Del Rey.

Receio

A Vale detém o direito legal de mineração na área da Mina Del Rey. Porém, o problema levantado pelos moradores do condomínio Vila Del Rey, bairros Vila Maquiné, São Cristóvão e Gogô - onde existe um sítio arqueológico - está relacionado aos impactos da atividade de exploração. O morador do condomínio Vila Del Rey, Glauco de Freitas, preocupa-se com o abastecimento de água. “Toda parte norte da cidade é abastecida pelas nascentes na região de possível exploração. O que vai acontecer com elas?” A região da mina fica a cerca de 1 km do condomínio Vila Del Rey, e 2 km do centro.

A cidade ganha o quê? Camila Dias

A Vale S.A garante que a reativação da Mina Del Rey vai beneficiar a cidade. Em 29 de março, representantes da empresa se reuniram com moradores do Condomínio Del Rey para destacar os pontos positivos: geração de empregos, aumento da receita e desenvolvimento socioeconômico. Cerca de um mês depois, o promotor Antônio Carlos de Oliveira instaurou inquérito público civil e deu início às investigações em torno da ques-

tão. O ofício argumenta que a poeira, e eventuais explosões, podem prejudicar as edificações dos monumentos barrocos, tombados como patrimônio histórico. O inquérito alerta ainda para os riscos aos quais o sítio arqueológico do Gogô estará sujeito, pois fica próximo ao empreendimento. Por fim, diz que, hoje, não há como impedir a poluição do ar pelo pó de minério de ferro. Esse tipo de contaminação atmosférica afetaria diretamente a população.

ECONOMIA

Jogo de cintura para encher o tanque Luana Viana

Nos finais de semana em que visita seus filhos em Belo Horizonte, o comerciante Edson Santos aproveita para encher o tanque. Essa foi a alternativa encontrada por ele para driblar os preços altos dos combustíveis nos postos de Mariana. “É mais vantajoso abastecer na capital”, diz.

Mesmo com a queda no preço da gasolina, observada em todo o país, quem passa por Mariana descobre que o valor praticado na cidade ainda é abusivo. José Geraldo mora em Itabira e afirma que pagar um preço na faixa de R$ 2,90 por litro é “absurdo”. Ele garante que, na cidade de Juiz de Fora, é possível encontrar o litro simião castro

do combustível por R$ 2,67. Afirma ainda que não importa a bandeira do posto – o ideal é abastecer onde é mais barato. Frentista em Mariana há 15 anos, Elizângelo Martins conta que, embora os clientes ainda reclamem muito, no último mês o preço da gasolina caiu em função da queda do álcool. No estabele-

cimento em que trabalha, o combustível chegou a custar R$ 3,12, mas o preço atual é de R$ 2,99. Segundo Elizângelo, é vantajoso abastecer com álcool quando ele representa até 70% do valor da gasolina. Para saber se na cidade essa troca faz alguma diferença, basta dividir o preço do álcool pelo da gasolina. paulo dias

Combustível mais barato Paulo D ias

Os preços do etanol e da gasolina sofrem nova queda em Mariana, seguindo a tendência nacional. A safra da cana-de-açúcar, responsável pela oferta de etanol a preços mais baixos, é que provoca a redução. A Agência Nacional de Petróleo (ANP) registra que, no mês de maio, a queda dos preços do etanol e da gasolina comum foi, em média, de 15,8% e 4,2%, respectivamente. Em Mariana, o valor acompanhou a queda nacional no período: o preço médio do etanol passou de R$ 2,44 para R$ 2,11 o litro, enquanto o litro de gasolina caiu de R$ 3,09 para R$ 2,97.

Preço dos combustíveis cai em Mariana, seguindo tendência nacional, mas consumidor ainda precisa desembolsar muito para abastecer veículos na cidade

Os fatores que influenciam o preço pago pelo consumidor são vários. Entre eles, estão a carga tributária, a concorrência e os custos de cada posto de gasolina. De acordo com a Lei nº 9.478/1997, que vigora no Brasil desde 2002, os preços podem ser praticados livremente. Não há tabelamento ou necessidade de autorização para definir o preço final dos combustíveis.


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Luiza Lourenço e Rodolfo Gregório

LIMPEZA URBANA

Varredoras de rua sem proteção Equipamentos de segurança já foram distribuídos para as trabalhadoras, mas muitas ainda não utilizam por falta de fiscalização da Prefeitura Providências

A manda R odrigues

Uma pá, uma vassoura e um balde. Esses são, na maioria das vezes, os únicos equipamentos que cerca de 55 mulheres usam para limpar as ruas de Mariana. As varredoras, que trabalham nove horas por dia, não possuem uniforme e são vistas, muitas vezes, usando sapatos abertos durante a varredura. Além disso, não usam luvas, máscaras e carrinhos para a coleta do lixo. Segundo o estudo Varredores de rua: acidentes de trabalho ocorridos na cidade de Ribeirão Preto, publicado no final da década de 90, em São Paulo, varrer a rua é uma atividade capaz de provocar doenças. O motivo é a exposição constante dos trabalhadores ao sol, vento, chuva, barulho dos carros, além da poeira, que pode penetrar profundamente nos pulmões e causar irritação crônica. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), pela Norma Regulamentadora n° 6 (NR 6), considera que Equipamento de Proteção Individual (EPI) é todo dispositivo utilizado para proteger o trabalhador de riscos e ameaças à segurança e à saúde. No entanto, a secretária-adjunta de Limpeza Urbana, Denise C. de Almeida, garante que, este ano, todas as funcionárias já receberam o EPI – que inclui sapato, luvas, máscara, capa de chuva, óculos de segurança e boné. Segundo ela, o número de fiscais do trabalho da Prefeitura é insuficiente e as funcionárias resistem ao uso do material. A Secretaria pretende organizar palestras educativas sobre o uso do EPI.

A secretária de Limpeza Urbana, Denise C. de Almeida, garante que os uniformes já estão em orçamento. Segundo ela, a demora se deve à burocracia dos processos públicos. “Ainda tem que fazer licitação, para depois fazer a compra”, conta. A secretária também assegura que vários protetores solares foram adquiridos e serão distribuídos em breve, mas ainda não há uma data prevista.

“Tenho sempre que comprar roupas para trabalhar”

Ilustração: Raísa Geribello e Amanda ROdrigues. Foto: ANA BEATRiz noronha

C.P.

Varredora de rua há cerca de 11 anos, C.P. – como prefere ser identificada – acredita que apenas o uso do sapato é importante. Os demais itens a incomodam na hora de realizar as atividades. “Receber, nós recebemos, só não usa quem não quer”, afirma. Segundo a varredora, a maioria de suas colegas também não gosta de trabalhar com os equipamentos de se-

gurança. Na opinião de C.P., que sempre compra seu próprio protetor solar, a maior necessidade das trabalhadoras, agora, é um uniforme feito de um tecido mais leve, que não seja quente. “Tenho sempre que comprar roupas para trabalhar”, diz. Para o diretor de comunicação do Sindicato dos Servidores Públicos de Mariana (Sind-

Trabalhador invisível faz diferença Izabella Magalhães

Faça um exercício: tente se lembrar da última vez que jogou algum lixo no chão. Foi há 20 minutos? Talvez até se canse dessas palavras e jogue o jornal em qualquer lugar. Agora tente outro exercício: lembra da última vez que prestou atenção a uma varredora de rua, ou ao gari que recolhe o lixo em frente a sua casa? Pois é, talvez não se lembre.

José Batista, o Dêzinho, trabalha no jardim. “Recolho muito lixo, e milhares de folhas de quaresmeira todo dia”, conta ele, orgulhoso. Outra formiguinha, que prefere ser chamada apenas por Matilde, trabalha na rua Direita e comenta: “É muita quantidade de papel de bala e bituca de cigarro, é o que mais pego por aí”. Moradores, como o servente Eder Tulio Silva, observam que muitas pessoas passam ao lado das varredoras e, mesmo assim,

Aparecida e Matilde estão aí, pelas ruas de Mariana, cuidando de cada canto, cada esquina. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, essas pessoas são funcionárias da limpeza, e possuem um papel fundamental para deixar as ruas limpas e livres de doenças que podem resultar do lixo acumulado. Fotos: Ana Beatriz Noronha

No momento em que você lê esta reportagem, outros trabalhadores como Dêzinho, Maria

Lixo polui centro histórico Fernando Gentil

O baixo número de lixeiras no centro histórico de Mariana tem representado problemas não apenas do ponto de vista estético, mas também – e sobretudo – patrimonial. Além de sujar a cidade, o lixo contribui para a degradação das paredes, do chão, das praças. Alguns moradores acreditam que o quadro só será revertido a partir da disponibilização de novas lixeiras pelo poder público – e não apenas de ações de cunho educacional. “A conscientização é essencial para que as pessoas parem de jogar lixo na rua, por exemplo. Mas também é necessário que as ruas possuam lixeiras – para que essas pessoas não tenham ‘motivo’ para poluir a cidade”, avalia o estudante de economia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), André Spuri. “O problema do lixo não é só o visual, que já é um problemão, mas ele

também degrada as ruas, praças, a cidade”, assegura. A arquiteta Débora Queiroz, chefe do Escritório Técnico do Iphan de Mariana, explica que um dos motivos da inexistência de muitas lixeiras na cidade é o vandalismo. Por isso, defende medidas de cunho educacional. “A população brasileira precisa ser reeducada, e não somente no sentido de parar de atirar lixo nas ruas, mas também de aprender a apreciar e cuidar dos monumentos tombados. Isto inclui não grafitar ou pichar, não apoiar os pés nas paredes, pintar as casas quando necessário, entre outras ações”, explica. Ela admite que faltam lixeiras na cidade. “Recentemente, as lixeiras da Praça Cláudio Manoel (Praça da Sé) foram substituídas pelo mesmo modelo da praça Gomes Freire. Porém, o município não apresentou um plano mais amplo de implantação de equipamentos”. Fernando Gentil

Muitas vezes as pessoas transitam por Mariana sem perceber a ação e o trabalho das chamadas “formiguinhas”. Segundo uma varredora da cidade, que prefere se identificar apenas como Maria Aparecida, elas são chamadas assim pela semelhança com o trabalho desses insetos. “As formigas ficam cortando e cortando as folhas, pouco a pouco, e carregam. Nós ficamos recolhendo o lixo do mesmo jeito, todos os dias, um pouquinho de cada vez”, conta ela, fazendo os gestos com pá e vassoura em mãos.

jogam as coisas no chão. “Parece que não enxergam essas mulheres”, reclama. Para ele, ainda que pareça bobagem, um simples gesto de jogar um papel de bala no lixo, ou guardar no bolso, mostra o reconhecimento da importância do trabalho dessas mulheres. “Imagina Mariana sem elas? Eu estaria sentado, agora, num monte de entulho e lixo”, afirma.

serv), Darcy Carvalho, é inaceitável que essas funcionárias não tenham sequer um dispositivo de identificação. “Elas têm que gastar a própria roupa para atender ao serviço público”, protesta. Segundo ele, falta uma campanha educativa, por parte da Prefeitura, para conscientizar as trabalhadoras da importância dos itens de segurança de uso obrigatório.

No entanto, também há problemas com o tipo de material utilizado na limpeza. A coleta do lixo é feita em baldes comuns, impróprios para o manuseio nas ruas e não em carrinhos próprios. Segundo Denise, os carrinhos com rodas de borracha não são mais utilizados porque os moradores da cidade teriam reclamado do barulho. Ela admite que é preciso obter novos carrinhos, mais confortáveis, para as varredoras, mas não há previsão de compra do material. Para a secretária de Limpeza Urbana, é preciso mudar a cultura das trabalhadoras. “Acho que terei de tomar medidas mais enérgicas quanto ao uso dos equipamentos.” Ela acredita que, mesmo assim, vai ser preciso contar com a ajuda de um técnico de segurança do trabalho, só para atender às necessidades da Secretaria-Adjunta de Serviços Urbanos (Sasu), que tem cerca de 300 funcionários.

Cenas do cotidiano de quem zela pela limpeza e organização da cidade. Um trabalho diário que, muitas vezes, não tem sua importância reconhecida. Nas fotos, varredoras e jardineiros de Mariana

Lixo descartado de maneira incorreta nas ruas e jardins da cidade


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Lucas Aellos e Paulo Dias

CABANAS

Falta de condições vira negócio Expansão desenfreada e sem regulamentação no Complexo Cabanas deixa moradores da região expostos ao risco, sem esgoto, luz ou depósito de lixo Fotos: Leidiane Vieira

Izabella Magalhães

A expansão do Complexo Ca­ ba­­nas é feita sem regulamentação. Desde 2008, a região que fica en­ tre o bairro Cabanas e o Santa Ri­ ta, chamada Cabanas II, é ocupa­ da sem aprovação legal. O terreno está na área de preservação per­ manente do Parque Estadual do Itacolomi. Mas a posse é da CNP Agricultura e Pecuária Ltda. Hoje existem cerca de 180 fa­ mílias no terreno ocupado. Mui­ tas casas estão sendo construídas, e pequenas porções de terra têm sido loteadas. Segundo o presi­ dente da Associação de Morado­ res do Bairro Cabanas, Raimundo Silvestre, a situação é caótica. “O esgoto é jogado direto nas ruelas que eles abriram, só tem luz por­ que os moradores fazem gato, o li­ xo é depositado numa vala do la­ do das casas”, explica. Levantamento A equipe de reportagem do Lampião foi até o local e consta­ tou que, além da falta de sanea­ mento básico, existe outro proble­ ma grave: muitas pessoas que po­ deriam investir em áreas legais es­ tão construindo casas no terreno. Segundo levantamento feito pe­ la Prefeitura em 2010, apenas 36% dos moradores tinham renda infe­ rior ou igual a R$ 140. “Tem gen­ te que vendeu casa no bairro ou alugou e foi construir barraco na ocupação. Gente que não preci­ sa, que está fazendo negócio para ganhar dinheiro”, denuncia Rai­ mundo Silvestre. Algumas casas já possuem placa de “vende-se”. E, muitas vezes, o que está à venda é um imóvel que não pertence le­ galmente a quem faz a oferta.

Crescimento desregulado afeta Complexo Cabanas. Moradores vivem em uma espécie de cidade paralela, alguns quase nunca se deslocam para o centro

“O que não pode é aceitar a falta de dignidade humana. Ratos, lixo e crianças disputam o espaço. Isso não é vida” Raimundo Silvestre

O levantamento inicial da Pre­ feitura não teve continuidade e não gerou resoluções. De acordo com o coordenador de habitação da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, Marce­ lo Silva, essa situação é decorren­ te da instabilidade política. Para

ele, é difícil elaborar projetos com essa troca de prefeitos. “Você não sabe se vai ter seu emprego daqui a um ano”, diz. Os barracos erguidos no Caba­ nas II são simples. Algumas pes­ soas vieram da área rural, sem renda alguma. Mas nem todos chegaram nessa situação. Seguin­ do a ruela principal e virando à di­ reita, por exemplo, é possível ver uma nova construção. Muros al­ tos de concreto e um lote grande – todo assentado por máquinas próprias para o trabalho – mos­ tram que alguns moradores têm condições de construir em ter­ reno regularizado. Marcelo Silva explica que, como o terreno per­ tence a CNP, a Prefeitura não tem

condições de agir. Por outro lado, admite que o Executivo municipal nunca fez contato com a empre­ sa para tratar do assunto. “Oficial­ mente, não há nenhuma ação em curso sobre a situação no Cabanas II”, afirma. O chefe de Departamento de Regularização Fundiária do mu­ nicípio, Thiago de Castro, acredita que uma ação virá em algum mo­ mento, mas não para oficializar a ocupação. Para ele, a retirada das famílias que precisam de auxílio é o mais urgente. Segundo o presidente da As­ sociação de Moradores do Caba­ nas, Raimundo Silvestre, o Minis­ tério Público pode pressionar o poder municipal, para que ele se

posicione sobre a questão. “O que não pode é aceitar a falta de digni­ dade humana. Ratos, lixo e crian­ ças disputam o espaço. Isso não é vida”, argumenta. Atualmente, Raimundo tenta organizar os mo­ radores, mas alega que a dificul­ dade é grande, pois muitas pesso­ as estão apenas fazendo negócio e não se preocupam com melhorias. De acordo com a legislação brasileira, as diretrizes para uso do solo devem ser apresentadas ao governo municipal. Mesmo sen­ do área particular, a forma de se usar o espaço tem efeito no que é público. No Cabanas II, não hou­ ve nenhuma ação de planejamen­ to ou intervenção. A CNP preferiu não dar declarações sobre o caso.

Bairro é transformado em cidade paralela Leidiane Vieira

Sem planos de sair do bairro, moradores aguardam melhorias

Ocupação irregular é motivo de discussão Enrico Mencarelli

Novas casas populares a pre­ ços mais acessíveis serão cons­ truídas em outras regiões. A pro­ messa é da Prefeitura, que planeja comprar lotes em outros bairros. Porém, a proposta de loteamen­ tos acarretaria um outro proble­ ma: nem todos os moradores es­ tão dispostos a desfazer os laços já criados. A moradora Pauliane Silva, de 21 anos, disse à reporta­ gem do Lampião que não troca o Cabanas pelo centro. “Violência tem em todos os lugares, as pesso­ as têm preconceito. Aqui é muito bom de viver", garante ela.

Os técnicos da administração municipal alertam para as con­ sequências decorrentes da ocu­ pação. De acordo com o Chefe de Departamento de Regulariza­ ção Fundiária, Thiago de Castro, existe a possibilidade de inunda­ ção nas regiões mais baixas. Co­ mo até hoje não existe um estudo geológico da área que aponte as providências necessárias para evi­ tar o pior, todos os habitantes da região estão sujeitos aos riscos – tanto quem mora no bairro, quan­ to aqueles que vivem no entorno das águas. Um estudo do professor do De­ partamento de Geologia da Uni­

versidade Federal de Ouro Preto, Frederico Garcia Sobreira, apon­ ta que o escoamento precário na região pode gerar erosões e, con­ sequentemente, a desestruturação do terreno. Em 1988, quando o proces­ so de ocupação desenfreada dos bairros se intensificou, os gestores municipais não estavam preocu­ pados com o tratamento urbanís­ tico. Segundo Thiago de Castro, foi a troca constante de prefeitos que agravou o problema, na me­ dida em que os administradores faziam “vista grossa” diante das ações irregulares que envolviam a ocupação do lugar.

O Complexo Cabanas possui posto de saúde, várias lojas de rou­ pa, quadra esportiva, escola mu­ nicipal e particular, casa lotérica, supermercado e muitos outros es­ tabelecimentos públicos e comer­ ciais. Construindo prédios e ca­ sas, abrindo novos negócios, ofe­ recendo novos serviços, os mora­ dores do lugar transformaram o complexo em sua própria cidade – uma cidade paralela à Mariana. De acordo com o presidente da Associação de Moradores do Bairro Cabanas, Raimundo Sil­ veira, só ali vivem sete mil pesso­ as – um número significativo, já que a cidade de Mariana tem cer­ ca de 54 mil habitantes, de acor­ do com o levantamento feito pe­ lo IBGE em 2010. O Complexo é formado pelos bairros Cabanas, Cartuxa, Vale Verde e Santa Rita de Cássia. São tantos os serviços oferecidos que alguns moradores dificilmente vão ao centro da ci­ dade. É o caso de José Geraldo da Cunha. “Vou lá embaixo uma vez por mês, é muito difícil eu ir pa­ ra a rua. Ir para lá por questão de

Gerações dividem o mesmo espaço

comércio não precisa, tem coisa lá no centro que é mais caro do que aqui. Duas passagens para o cen­ tro fica em R$ 3,60. Com esse di­ nheiro dá para você comprar al­ guma coisa miúda”, calcula ele. Dificuldades Moradora antiga, Maria Apa­ recida de Jesus ainda se lembra de alguns detalhes do cenário de 20 anos atrás, antes da expansão da região. “Aqui só tinha umas barra­ cas e eu catava lenha para sobrevi­ ver. Há vinte anos não tinha ôni­ bus, a gente andava a pé e a luz era de querosene”, relembra. A dona de casa Maria das Do­ res Machado também sofreu mui­ to nos primeiros anos que passou no bairro: “Saía para o mato pro­ curando água e lavava roupa em um poço sujo”. Lembra ainda que, durante muito tempo, foi obriga­ da a levar e buscar os dois filhos na escola carregando no colo o terceiro, que ainda era bebê. Ela assegura que hoje a situação me­ lhorou bastante. Atualmente, está entre aqueles moradores que só se deslocam até o centro de Mariana em casos de muita necessidade.


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LAMPIÃO D MARIAN

Edição: Ana Cláudia Garcêz. Colaboradores: Amanda Rodrigues, Enrico M

ESPECIAL

TRANSP

Obras de deslocamento do Córrego do Catete têm seis m

Fábio S eletti, M ateus Fa

Buracos e crateras causados por falta de manutenção em túnel ameaçava trânsito e casas do bairro Vila do Carmo

P

Leonardo Rodrigues

roblemas na região do bairro Vila do Carmo já davam sinais há muitos anos. Segundo os moradores, desde o loteamento do espaço, há mais de vinte anos, a ocorrência de buracos nas ruas era constante. “A Prefeitura vinha, tapava os buracos e pouco depois eles estavam novamente expostos”, diz a empresária Nanci J. M. Barbosa. A obra de canalização e drenagem do Córrego do Catete foi realizada pela Prefeitura na década de 1980 para construção do bairro Vila do Carmo e da Avenida Nossa Senhora do Carmo. Em fevereiro de 2009, uma cratera se abriu na rua Hélvio Moreira e, em uma semana, revelou as consequências dessa obra: o espaço entre a superfície e a tubulação estava oco, ameaçando casas e ruas. Para os moradores, os problemas apenas começavam. A empresária Nanci J. M. Barbosa acredita que o problema já existia há muito tempo. O asfalto cedia pouco a pouco e os buracos na rua eram mais frequentes. A Prefeitura realizava obras paliativas. Porém, o sistema nunca passou por manutenção adequada. Segundo ela, quando comprou seu terreno, no início dos anos 1990, não lhe informaram que a região havia sido drenada. “Se soubesse disso nem teria

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Tubulação situada abaixo da Rua Estrela do Oriente já estava desgastada e ameaçava casas e ruas

comprado o lote”, afirmou. Solução Após dois anos de discussões e obras que se arrastavam, a Prefeitura recebeu o apoio técnico da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop ) para investigar as causas e econtrar possíveis soluções para o problema. o

“Espero que acabe o mais rápido possível. Tem atrapalhado bastante os estacionamentos. A sinalização é falha. Tem também a questão da poeira. A ntônio Gabriel Fernandes, montador de móveis

“O loteamento foi feito em uma área bem degradada. Eu acho que realmente precisava fazer uma reforma por causa do risco aos imóveis.” Antônio C arlos dos Santos , Tec. de processos de usinas

Transtornos vivenciados pelos moradores Muitos foram os transtornos causados à professora Maria da Conceição Alves entre janeiro de 2008 e fevereiro de 2009. Moradora do bairro Vila do Carmo, ela viu, do dia para a noite, o asfalto em frente à sua casa ruir – e uma grande cratera se abrir na rua Hélvio Moreira. Mesmo com as dificuldades pelas quais passou, afirma que não quer sair da casa.

Esse loteamento era da Prefeitura. Nós compramos o lote da mão dela. Quando a gente comprou eu não sabia que passava o córrego aqui embaixo. Aí construímos a casa, levou uns cinco anos. E depois, com o passar dos anos, o problema começou a dar o sinal. L.: O que a prefeitura fez na época?

Maria da Conceição: De repente. No final de 2008, começaram a aparecer uns buracos (na rua). No dia do meu aniversário, 16 de janeiro, eu estava chegando de viagem, choveu muito e, no lote aqui do lado, havia um banheiro que caiu, afundou. A partir daí o buraco foi aumentando cada dia mais. Nós tivemos que sair às pressas da casa, que foi interditada pela Defesa Civil. Nós ficamos dois anos fora de casa.

M.C.: Eu mudei para a rua Dom Silvério. No início foi bem difícil, mas a Prefeitura assumiu a dívida dela (pagando o aluguel). Parece que uma das prioridades da Prefeitura era segurar a casa. Ela fez de tudo: investiu, chamou pessoas de fora para fazer o escoramento. O objetivo deles era não deixar a casa cair. E como a estrutura foi muito bem construída, bem forte, a casa ficou suspensa pelas sapatas (parte mais larga e inferior do alicerce). Se a casa caísse, eu acho que eles (a Prefeitura) iam se sentir muito derrotados.

L.: Desde quando vocês moram no local?

L.: Hoje a senhora tem medo de morar aqui?

M.C.: Eu mudei para Mariana em 2000. Em 1995, a gente comprou o lote. Não tinha quase nada aqui, pouquíssimas casas. Fomos os primeiros moradores. Nós e o hotel.

M.C.: Se eu tenho medo? Não. Agora a gente está mais seguro porque o córrego vai ser transposto. Eu não tenho medo porque nós tivemos pessoas que avaliaram se a gen-

Lampião: Como começou o problema?

te estava correndo risco ou não. Tenho um cunhado que é geólogo, ele veio aqui. O pessoal da Fundação Gorceix também esteve aqui. Eu poderia sair daqui para outro lugar, mas não quero. Eu quero a minha casa, que eu fiz, que eu construí, que levei anos para fazer com o meu gosto, comprei o meu material. E vou deixar? Problema afeta também hotelaria do local O acesso complicado pela cratera na rua Hélvio Moreira isolou os moradores e deixou vazio o Hotel Brasil Real. A proprietária do estabelecimento, Nanci Joventina Moura, estima que perdeu mais de 70% dos hóspedes, o que ocasionou na demissão de quatro dos dez funcionários. Neste ano as obras na rua foram concluídas, o que trouxe de volta o movimento e os empregados do Hotel. Mesmo assim, a empresária continua apreensiva. “Não me sinto totalmente segura”, relatou. Para ela, o atraso para solucionar o problema foi causado devido à instabilidade política da cidade. “Um dia era um prefeito, no dia seguinte era outro. Com quem nós iriamos reclamar?”, indagou a proprietária do Hotel.

Tubula está cor diz espec

A Prefeitura de M rou o professor do curs ria civil da Ufop, Rom mes, para que ele analis mas que envolvem o Cór Entre os problemas r ro Gomes constata que “h base do tubo” e “distorção ral do teto do tubo” – o teto d esses motivos, ele entende qu timento integral da canalizaç isso, o engenheiro recomendou caráter de máxima urgência, d canalização do Córrego do Ca ção integral do sistema de canal MCO” – a tubulação antiga. A análise resultou em um l encontra no site da Prefeitura www.mariana.mg.gov.br


07

NA, JUNHO DE 2011

Mencarelli, Lucas Lameira, Luiza Lourenço, Mari Fonseca e Tábata Romero

POSIÇÃO

meses para resolver problemas que já duram vinte anos

agundes e

Simião C astro

Com orçamento de 180 milhões, Prefeitura de Mariana pede empréstimo de 13 milhões para realizar a intervenção “Eu acho que está sendo um bom serviço. Se não fizer, prejudica tanto os moradores quanto a gente que depende da avenida. E estão trabalhando sem prejudicar o serviço da gente.” Elias Nascimento Oliveira, ajudante de construção civil

É

grande a ansiedade dos moradores de Mariana em torno da execução das obras de transposição do córrego do Catete. A empreitada só foi possível após a aprovação - por sete votos a dois -, pela Câmara de Vereadores, do empréstimo de R$ 13 milhões feito pelo poder municipal ao Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). O vereador Bruno Mól (PSDB) votou contra a contratação do empréstimo. Ele alega que Mariana possui um orçamento anual de R$ 180 milhões e que, além disso, existe um projeto de suplementação de recursos no âmbito da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano, já aprovado pela Câmara dos Vereadores. O projeto previa a liberação de R$ 28 milhões, que viabilizariam o pagamento da obra à vista. “Reconheço a necessidade da obra, mas entendo que o município tem arrecadação suficiente para dispensar o empréstimo.” O caráter de urgência da obra foi evidenciado há dois anos, quando uma cratera se abriu na rua Hélvio Moreira, revelando o péssimo estado da tubulação, que cedeu. No próximo período chuvoso, há riscos de desabamento na Avenida Nossa Senhora do Carmo e também na rua do Catete – o que levou a Prefeitura a contratar a empresa Completa Engenharia para realizar a transposição do córrego. Devido à necessidade emergencial da obra, a coordenadora de planejamento da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura, Fernanda Trindade, defendeu a dispensa de licitação. Segundo ela, a medida foi necessária para evitar um desastre no local.

laudo técnico, que se de Mariana - http://

Relatos de moradores Os problemas causados pelo envelhecimento da tubulação preocupam os moradores e comerciantes que se estabeleceram no Catete e na Avenida Nossa Senhora do Carmo. “Algumas pessoas que estavam perto do túnel chegaram a falar em mudança”, relata o morador Flavio Raimundo da Cruz. O morador também comentou que “a informação é de que a avenida inteira estava em risco” e que “uma casa chegou a trincar” – segundo o relato, a construção fica perto da quadra de Society Tairol. Maycon Mendes, gerente do Posto Sorriso, conta que seu patrão, José Geraldo Gomes, também ficou preocupado depois de ouvir do professor de Engenharia da Ufop que, se as obras não fossem realizadas, as casas da região estariam em risco. Entretanto, nem todas as pessoas instaladas na Avenida tem receio, como afirma João Carlos, funcionário da Denimotos, “está tudo tranqüilo”. Ele ressalta que houve diminuição no número de clientes, mas que “talvez não tenha relação com a obra”.

3

6

meses

é o tempo previsto para a conclusão da obra.

O PROCESSO

1

Investigação do Terreno: ocorreu a avaliação do local onde está sendo feito o túnel para conhecer o terreno e definir quais técnicas deveriam ser utilizadas.

2

Poço de ataque (P.A.): abertura de 2,5m x 2,5m na superfície, por onde entram os trabalhadores da obra, as ferramentas e as peças pré-moldadas que compõem a estrutura do túnel subterrâneo.

3

Escavação: feita manualmente, a escavação é realizada ao mesmo tempo em que são montadas as peças pré-moldadas.

4

Seção: Trecho entre os poços de ataque. Uma seção aberta é sempre mais alta que a anterior. Ou seja, a seção iniciada no P.A. 1 está a 11m abaixo da superfície, enquanto a do P.A. 2 está a 11,5. Assim, consegue-se o desnível para que a água escorra.

5

Acabamento: após o término da montagem das peças e concretagem do piso, o espaço entre a estrutura e o solo do terreno, acima do túnel, será preenchido com solo-cimento.

4

ação rroída, cialista

Mariana procuso de engenhamero César Gosasse os problerrego do Catete. relatados, Romehouve corrosão da e colapso estrutudo tubo cedeu. Por ue há “compromeção existente”. Com u a “construção, em de novo sistema de atete” e a “recuperalização em Tubo AR-

“Em caráter de emergência, a contratação é direta. Senão a obra não é concluída no prazo”, explica, acrescentando que somente a Completa Engenharia domina a tecnologia exigida para as obras do Túnel Bala. “O ganho fundamental nisso é a obra não interferir na vida das pessoas na principal área de acesso da cidade.” Fernanda afirma ainda que, com o Túnel Bala, o problema será resolvido definitivamente. Segundo ela, a obra deve ser concluída em, no máximo, seis meses, podendo terminar até antes disso.

1

2 5


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Mateus Fagundes e Allãn Passos

SAÚDE

Espera por atendimento é grande Mesmo após a readequação do espaço, demora para agendamento de consulta odontológica na Policlínica Dr. Elias Salim Mansur chega até seis meses Leidiane Vieira

É grande a fila de espera para aqueles que procuram os serviços de odontologia da Policlínia Dr. Elias Salim Mansur, no bairro Barro Preto. Para agendar a primeira consulta, é preciso aguardar, em média, de três a seis meses. As consultas, incluindo os casos de emergência e de retorno, equivalem a algo em torno de 150 atendimentos por dia. Além disso, são muitos os pacientes que saem dos distritos e seguem para Mariana, na tentativa de fazer um tratamento dentário. Atualmente, apenas seis dos onze distritos da região contam com Equipes de Saúde da Família (ESF) – o antigo Plano de Saúde da Família (PSF) –, que oferecem atendimento odontológico. Além disso, é expressivo o número de pessoas que, mesmo vivendo em distritos onde as ESF atuam, têm se deslocado para Mariana. É o caso, por exemplo, da lavradora Maria Aparecida Almeida e da técnica de patologia clínica Marielza Venâncio, que vivem no

lEIDIANE VIEIRA

16

dentistas atendem na Policlínica

distrito de Cachoeira do Brumado, onde há ESF. Elas alegam que não conseguem vagas para atendimento junto às equipes de saúde da família que trabalham no local. De acordo com a coordenadora do Serviço de Saúde Bucal de Mariana, Eliane Cota, cada ESF dos distritos conta os serviços diários de um profissional. “Muitas pessoas não querem aguardar pelo atendimento numa lista de espera e, assim, seguem para Mariana, recorrendo ao atendimento de emergência”, explica. Apesar dos transtornos causados pela grande procura, muitas pessoas estão satisfeitas com o atendimento da clínica. A dona de casa Flo-

Moradores da cidade e dos distritos aguardam na fila para atendimento e marcação de consultas

ripes Odete Honoro, moradora do distrito de Padre Viegas, diz que os dentistas são muito atenciosos. A estudante Noemia Marques também aprova o serviço. “Gostei do atendimento, a dentista é ótima, parece que ela me conhece há anos”, comenta.

A clínica odontológica foi transferida no final do ano passado para um novo prédio, na Avenida do Contorno, próximo ao antigo endereço. Com a mudança, o número de equipamentos disponíveis foi ampliado e os serviços prestados passaram a ser ofe-

recidos em um único local. Antes,

o tratamento de canal era realizada no antigo Centro Municipal de Medicina Preventiva (Previve), que fica na rua Wenceslau Braz. Segundo Eliana Cota, há um projeto de Prótese em andamento, previsto para ainda este ano.

ACESSIBILIDADE

Escolas têm problemas para atender alunos com deficiência lucas lameira

Lucas Lameira

As escolas de Mariana encontram dificuldades relacionadas a infra-estrutura e qualidade de ensino para atender alunos com deficiência. Se por um lado há espaço e recurso para o atendimento especializado, ainda existem desafios para que as instituições de ensino garantam a inclusão dos alunos que possuem deficiência.

“Essa falta de especialização dificulta o trabalho do professor e, consequentemente, o aprendizado do aluno”, afirma Luciléia Siqueira da Silva, mãe da aluna Thaís Aparecida Celestina dos Santos. Thaís, aluna da segunda série na escola Monsenhor José Cota, tem Síndrome de Down. Luciléia conta que a filha passou por problemas de adaptação devido à troca constante do quadro de monitores: nos

Fernando Gentil

A pouca acessibilidade às vias públicas de Mariana é um problema enfrentado por vários cidadãos. Idosos, crianças, cadeirantes, portadores de deficiência visual, entre outros, precisam de rampas, calçadas planas e respeito dos demais habitantes. O estudante Luciano Silva Cipriano é cadeirante e alega que a topografia e o relevo da cidade são grandes desafios. “A maior dificuldade de andar numa cadeira de rodas na cidade é o fato de haver muitos morros e muito buraco”, diz ele. Luciano também critica as pessoas que nem sempre o respeitam. “Tem muita gente que encosta o carro nas rampas de acesso para deficiente. Isso atrapalha muito a nossa vida”, assegura.

“A escola não está preparada nem mesmo para o aluno sem deficiência”, afirma o vice-diretor da Escola Municipal Wilson Pimenta, Claudomiro Araújo da Fonseca. A instituição, localizada no bairro Santo Antônio, não possui recursos estruturais como rampas, corrimões e banheiros adaptados para facilitar o acesso do aluno com deficiência às instalações do prédio. “Era necessário que outros alunos me ajudassem porque os banheiros não eram adaptados para pessoas com deficiência”, lembra o ex-aluno da escola, Luciano Silva Cipriano. Mesmo possuindo rampas de acesso para cadeirantes e o auxílio de dez monitores para acompanhar os alunos, a Escola Municipal Monsenhor José Cota, do bairro Cabanas, enfrenta dificuldades com a qualidade do ensino. Os monitores, selecionados pela Prefeitura, cursaram apenas o magistério e não possuem o grau de especialização necessário para auxiliar os alunos de forma mais apropriada no ambiente escolar.

Desafio para os cadeirantes

A respeito do assunto, a chefe do escritório técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Débora Queiroz, destaca que é preciso

reduzir o número de automóveis nos centros históricos e melhorar os transportes públicos. Aponta ainda que nem sempre é possível conciliar defesa do patrimônio e acessibilidade. “É uma equação difícil. Ao mesmo tempo em que a Lei obriga a acessibilidade universal nas cidades, muitas vezes essas alterações podem descaracterizar as ruas e edificações tombadas sendo que o tombamento é, também, previsto em Lei”, argumenta. Segundo a arquiteta, tornar as vias públicas acessíveis é papel do poder público. “A Prefeitura de Mariana pode, a qualquer tempo, propor programas que visem ao melhoramento da acessibilidade na cidade, já que, de acordo com o inciso 8º do artigo 30 da Constituição Federal, cabe aos municípios ‘promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano’”.

Curso de Libras na Ufop S abrina Carvalho

Única escola com Sala de Recursos, Gomes Freire se destaca na cidade

últimos dois anos, quatro monitores diferentes acompanharam o desenvolvimento escolar de Thaís. Para auxiliar aos alunos com deficiência, foi criada na Escola Gomes Freire a Sala de Recursos. O local possui instrumentos para o atendimento a alunos com deficiência auditiva, visual, intelectual ou locomotora. São computadores, jogos e brinquedos pedagógicos e alfabetos em braile e na Língua Brasileira de Sinais (Libras). A professora Ercimar de Souza

Reis, responsável pela sala, explica que o trabalho realizado na sala de recursos não substitui o ensino regular, sendo um complemento para o desenvolvimento do aprendizado do aluno. A Sala de Recursos é destinada a estudantes de todas as idades, desde que estejam matriculados no ensino regular. O cadastro para a utilização do espaço pode ser feito em qualquer instituição de ensino. O serviço é oferecido a alunos de escolas públicas.

A Língua Brasileira de Sinais (Libras) tem atraído cada vez mais estudantes. Na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), ela é lecionada no curso de Letras desde o segundo semestre de 2010. Só este ano, 72 alunos já se matricularam – um número superior ao registrado no ano passado, de 64 discentes. A Disciplina, obrigatória para o quinto período, é ministrada em duas turmas como matéria eletiva para estudantes de outros cursos. De acordo com a professora Andreia Rocha, a maior divulgação da disciplina foi feita pelos próprios alunos. “Muitas pessoas que cursaram as aulas comentavam com os amigos que se matricularam nesse semestre”, explica.

A aluna Maria Luíza de Freitas Santos está segundo semestre da disciplina e diz que encontrou sua verdadeira vocação no estudo de Libras. A jovem afirma que pretende seguir a carreira de professora de Português como segunda língua, nome da cadeira que ensina a língua dos sinais. Mas o aprendizado de Libras não chama a atenção apenas dos alunos de Letras. De acordo com a professora Andreia Rocha, há pessoas de outros cursos que participam das aulas. Aluno de Ciências Econômicas, João Vitor Rocha se interessou pelo curso porque o irmão mais novo tem problemas auditivos. “É a primeira vez que estudo a libras, mas pretendo cursar as três cadeiras disponíveis”, afirma.


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Thales Lelo e Sabrina Carvalho

Esportes

Torneio incentiva práticas esportivas Jogos promovidos pelo Sesi integram empresas do mundo todo. Em 2011, quatro empresas representam a cidade de Mariana para chegar à fase regional M ayara Gouvea

As etapas municipais dos Jogos Sesi 2011 começam em junho e este ano o objetivo principal da competição é estimular a prática de atividades físicas dentro das fábricas. “A gente quer incentivar os hábitos saudáveis dos trabalhadores das indústrias de Mariana, Ouro Preto e região”, explica a coordenadora da primeira fase da disputa, Giane Rodrigues. As fases municipais ocorrem até o final de julho e serão realizadas durante três sábados, em datas a serem definidas, mas a competição toda se estende até o ano que vem. São 12 modalidades de esporte, entre elas futsal, futebol de campo, tênis de mesa, peteca, entre outras, que podem levar os atletas às etapas regional, estadual, nacional e internacional. O Sesi - Mariana espera que um representante de cada categoria consiga chegar, pelos menos, à segunda fase da disputa. Mariana participa dos Jogos Sesi desde 2006. O melhor desempenho até hoje foi do atleta da mi-

neradora Vale S.A., Elicarlos José de Araújo, que conseguiu chegar até a fase nacional da edição passada, sediada em Salvador, Bahia. Em 2011, a última etapa da disputa será em Goiana (GO).

“A gente quer incentivar os hábitos saudáveis dos trabalhadores das indústrias” Giane Rodrigues

Este ano são quatro as indústrias que representam Mariana nos Jogos Sesi: Vale e OPM Empreendimentos, instaladas na própria cidade; RCT Serviços de Vulcanização, de Ouro Preto, e Delphi Automotive Systems do Brasil, em Itabirito. Em 2010, oito empresas se inscreveram nos jogos. Giane explica que a queda se deve a uma alteração no regulamento da competição. “Antes, todos os tipos de empresas podiam participar, agora o regulamento mudou e apenas

DATA

CRONOGRAMA DAS ETAPAS DOS JOGOS

31 de julho

Encerramento das fases municipais

Unidades Sedes

13 e 14 de agosto

Fase regional Centro Oeste

Sesi Divinópolis

20 e 21 de agosto

Fase regional Zona da Mata

Sesi Ubá

27 e 28 de agosto

Fase regional Norte

Sesi Pirapora

2 e 4 de setembro

Fase regional Leste

Sesi Manhuaçu

10 e 11 de setembro

Fase regional Metropolitana

Sesi Betim

16 a 18 de setembro

Fase regional Sul

Sesi Varginha

5 de outubro

Prazo final para inscrição dos Jogos Sesi Estadual e Meeting

GLE - BH

11 de outubro

Congresso Técnico dos Jogos Sesi Estadual MG

Sesi Betim

20 a 23 de outubro

Jogos Sesi Estadual MG

Vila Olímpica Sesi Uberlândia

22 de outubro

Meeting Estadual de Atletismo e Natação

Vila Olímpica Sesi Uberlândia

15 de novembro

Prazo final para inscrição dos Jogos Sesi Região Sudeste

GLE - BH

1 a 4 de dezembro

Jogos Sesi Região Sudeste

Vitória - ES

as indústrias competem”, diz. Carlos Roberto Oliveira trabalha como técnico em mecânica na Vale e há anos disputa no futebol Sete Master, onde cada time possui sete jogadores. Para ele, a mudança afetou os Jogos Sesi de

forma negativa, já que a interação entre os participantes agora está restrita somente aos funcionários de indústrias. “Antes a gente tinha maior contato com as pessoas, agora a gente perdeu a chance de fazer novas parcerias”, avalia.

Atividades físicas auxiliam desenvolvimento escolar

Os jovens jogadores de futebol de Mariana podem comemorar um maior espaço na seleção. Isso acontece porque houve uma mudança no trabalho da equipe que representa o futebol da cidade nas competições amadoras da região. A participação na Copa Estrada Real em 2011 contou com uma base de atletas que tinham, no máximo, 20 anos. A opção feita pela seleção de Mariana ganhou força e passou a integrar o regulamento da competição. A mudança foi vista com bons olhos pelos jogadores e pela comissão técnica. Mesmo com a eliminação ainda na primeira fase, o auxiliar técnico do time, Sandro

Encerramento

das fases municipais nas unidades sedes

Enrico Mencareli

Habilidades

Lu

s ca

La

me

ira

quem pratica atividades físicas está relacionada ao processo de aprendizado e memória. O jovem que experimenta algum esporte ou participa das atividades de educação física registra melhoras significativas nos quadros de atenção e raciocínio. Além disso, tende a aprender melhor uma série de conceitos considerados importantes pelas instituições de ensino, como o respeito aos professores e aos colegas de equipe. “Cada modalidade esportiva traz algum valor a ser acrescentado na vida dos jovens. As regras aprendidas em determinados jogos servem para que o jo-

Tatyany Patrícia dos Reis cursa o primeiro ano do ensino médio na Escola Estadual Dom Silvério e diz que o esporte abriu caminhos para que ela desenvolvesse habilidades em sua modalidade favorita, o vôlei. “Ser atleta de vôlei me proporcionou muitas experiências, como viagens para competições. Além disso, melhorou meu desempenho escolar. Penso que as instituições de ensino poderiam investir mais na prática esportiva. Assim, a participação e o destaque dos alunos nos times seria maior”, avalia. Para Célio Mol, a integração de práticas esportivas nas escolas é muitas vezes impossiblitada pela falta de estrutura. Isto reflete na ausência de quadras adequadas ao esporte e na falta de uniformes para as atividades físicas.

Seleção de Mariana aposta em jovens A llãn Passos

31/6

vem consiga ser mais disciplinado também em sua vida. Ele aprende o espírito de equipe e o valor do esforço para a vitória”, resalta Célio Mol.

Luiza Lourenço

A prática de atividades físicas frequentemente é associada a hábitos de vida saudável, principalmente quando está relacionada à fase de desenvolvimento de crianças e adolescentes. No processo de crescimento, praticar esportes pode contribuir não só para o desenvolvimento do corpo e da mente, como para evolução do comportamento dos jovens. O professor de Educação Física da Escola Estadual Dom Silvério, Célio Mol, destaca que a prática esportiva pode influenciar diversos aspectos do cotidiano de crianças e adolescentes. O primeiro deles diz respeito à capacidade de socialização. “Através da revelação das habilidades em um esporte, uma criança que é tímida e tem dificuldade para se relacionar no dia-a-dia, passa a se soltar mais e consegue vencer a timidez”, explica. Outra melhora no cotidiano de

LOCAL

Arcanjo, aprovou a participação dos jovens. “Claro que o objetivo era passar de fase, mas serviu para esse grupo ganhar experiência para os próximos anos. A grande maioria deles têm idade pra seguir com a gente. O grupo é muito responsável e disciplinado. Trabalhar com os jovens é melhor”, explica. O meia Thales Assumpção, de 17 anos, disse que apesar da grande responsabilidade que carrega, o fato da equipe ser formada somente por jovens dá mais confiança. “A gente tem mais oportunidade e, com o grupo formado só por atletas jovens, o jogador se gente mais à vontade”, explica. O atacante Juninho, de 26 anos, que fazia parte da equipe até o ano

passado, acha essa oportunidade importante para os mais novos, mas aponta um problema: “Faltam opções de jogadores com essa faixa etária na cidade. É difícil vencer o campeonato nessas condições por causa da estrutura e da falta de atletas nesta categoria”. De acordo com a Secretaria Municipal de Desportes, a mudança de parte da comissão técnica ocorre naturalmente a cada ano, mas a base dos atletas será mantida. Apenas 25% dos atletas não terão idade para disputar a competição e a expectativa é de que a continuidade do trabalho possa servir como fator positivo na busca por melhores resultados nas próximas competições.

Campeonato promove integraçao entre alunos de cursos da Ufop

Alunos da Ufop realizam campeonato de futsal Douglas Gomides

Mais de 150 alunos da Ufop em Mariana e pelo menos 19 times estão envolvidos na 16ª edição da Copa Cahis, realizada neste semestre. A competição, criada com o intuito de garantir a integração dos alunos dos campi da Universidade no município, atrai cada vez mais estudantes. A primeira edição do campeonato aconteceu em 1999 e, desde então, a Copa vem crescendo e ganhando mais apreciadores entre a comunidade local.

“O grande barato da Copa Cahis é seu caráter diferenciado. Todos podem jogar: desde aqueles que são realmente bons de bola, até aqueles que só querem juntar uma turma e participar da Copa” Rafael C amara

Inicialmente, o torneio contava apenas com a participação de alunos de História e Letras, do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Ufop. Mas com

a criação do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Icsa) no segundo semestre de 2008, o campeonato foi repensado e remodelado para que pudesse receber os alunos do novo prédio. Rafael Camara, aluno de Jornalismo, disputa pela terceira vez o campeonato. Segundo ele, a Copa Cahis consegue integrar, animar e atrair alunos do Icsa e do ICHS. “O grande barato da Copa Cahis é seu caráter diferenciado. A quadra é pequena e os jogos ficam muitos mais emocionantes. Sem espaço para grandes firulas e jogadas ensaiadas. Todos podem jogar: desde aqueles que são realmente bons de bola, até aqueles que só querem juntar uma turma e participar da Copa”, diz. O aluno Pablo Miranda, do curso de História, é um dos organizadores do torneio. Para ele, apesar das dificuldades, é muito prazeroso ver o campeonato ser realizado todos os semestres no ICHS. “Não temos nenhum retorno financeiro. Fazemos mais por amor ao esporte”, garante. Mas apesar do entusiasmo dos participantes e do público, os organizadores avaliam que a competição ainda conta com pouco apoio da Ufop. “Seria muito interessante se houvesse um auxilio mais efetivo da Universidade na Copa Cahis. Com essa ajuda, seria possível realizar um campeonato ainda melhor”, afirma Pablo.


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Douglas Gomides e Enrico Mencarelli

DENÚNCIA

Falta de canil revolta população Animais em Mariana e Ouro Preto sofrem com o desamparo e a ausência de locais capazes de oferecer abrigo, alimentação e cuidados básicos de saúde Olivia Mussato

serviços de recolhimento e de tratamento estão suspensos, assim como o encaminhamento para adoção de cães necessitados.

Olívia Mussato

Kayra, Neston e Baleia vivem bem. Eles têm comida, companhia e uma boa cama para dormir. Mas a realidade não é a mesma para todos os cães em Mariana e Ouro Preto. O comerciante Elógio Pontes cuida com apreço da boxer Kayra e de Neston e Baleia, ambos da raça basset. Os cães são vacinados, alimentados com ração e vivem em um espaço adequado. Mas quem sabe o que é feito dos animais sem dono e sem cuidados nas duas cidades? Sem canil municipal e sem uma política apropriada, o destino de animais maltratados ou abandonados é incerto na região.

A situação não é diferente em Ouro Preto. Não há recolhimento de animais em vias públicas porque a Prefeitura não tem carrocinha. O setor de Controle de Zoonoses também passa pelos trâmites que envolvem a contratação de uma empresa terceirizada para realizar os serviços. A situação deixa vários moradores da região indignados. Uma das moradoras de Mariana – que não quis ser identificada – cuida há mais de um ano de um cachorro encontrado nas ruas e reclama da falta de políticas públicas que zelem pelos animais. “Não há nenhum órgão que proteja e evite casos de maus tratos e até surtos de doenças, como parvovirose e cinomose, em animais da cidade. O município deveria atentar para o problema, garantindo o bem estar de cães e gatos encontrados aqui”, ressalta.

Em Mariana, o canil está desativado e não há previsão para que a instalação volte a funcionar. De acordo com o setor de Vigilância Epidemiológica e Zoonoses da Prefeitura, o contrato com a empresa terceirizada PSC terminou em abril deste ano e não há data estipulada para novo processo de licitação. Enquanto isso, os

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Abusos e maus tratos contra animais são considerados crimes ambientais pela Lei Federal nº 9.605 e devem ser comunicados à Polícia Militar. Abandonar animais, mantê-los sem comida por muito tempo ou deixá-los em lugares impróprios e sem higiene, agressão física e envenenamento são exemplos de maus tratos aos quais diversos animais estão sujeitos.

Alguns moradores compram filhotes, desistem dos cães quando eles crescem e soltam os animais nas ruas

Cidadão pode evitar abandono de animais Sara O liveira

Quando as pessoas andam pelas ruas de Mariana e se deparam com animais abandonados, sujos, famintos e maltratados, raramente pensam em cuidar ou procurar um destino melhor para eles. Geralmente, ideias desse tipo só ocorrem às pessoas quando algum cachorro revira o lixo ou suja a calçada de alguém. Há quem acredite, porém, que esse tipo de problema pode ser resolvido se cada cidadão fizer a sua parte. É o caso de João Bosco Maciel. Ambientalista e técnico em veterinária, ele é conhecido na cidade por sua paixão por animais . Há cerca de dez anos, João Bosco começou a receber telefonemas de pessoas que não sabiam

como lidar com seus próprios cães – em especial quando os animais tumultuavam o ambiente em que viviam. Elas pediam socorro e foi assim que ele passou a ajudar várias famílias a lidar com seus animais domésticos. João conhece algumas técnicas de adestramento, mas também é chamado para recolher cães abandonados (e, às vezes, até animais silvestres) que vivem nas ruas. O ambientalista explica que o grande problema é que as pessoas compram um cachorro filhote e, de certa forma, acabam se desiludindo quando o animal cresce. Quando não conseguem outra pessoa para cuidar, acabam soltando o cão na rua, transferindo deveres e obrigações para o mu-

BEM ESTAR

Cansado de se deparar com o abandono e o descaso, João Bosco resolveu fazer a sua parte para que a cidade se torne um lugar melhor. Recolhe os animais desamparados e os repassa a quem possa cuidar deles. O problema é que João Bosco só pode recolher animais domésticos apropriados para o repasse a outras famílias – já que não há como se responsabilizar permanentemente por todos os animais abandonados no município. O restante fica por conta da Prefeitura, que nem sempre recolhe e cuida de todos os animais nessa situação.

COMUNICAÇÃO

Inverno exige cuidados com a saúde Lucas Aellos

nicípio. “A sociedade vê esses cachorros como empecilho, mas quem provocou o problema foi a própria sociedade”, diz ele.

e

Tábata Romero

Com a chegada do outono e do inverno, muitos moradores de Mariana sofrem com problemas respiratórios. É assim no país inteiro. A baixa umidade relativa do ar é um fator que contribui para o aumento das alergias respiratórias e também para a maior incidência de queimadas, dispersando resíduos que comprometem ainda mais a saúde dos alérgicos.

DICAS PARA AMENIZAR O CLIMA SECO DO INVERNO

A llãn Passos

Algumas soluções caseiras podem ajudar a combater os problemas desse período do ano. Márcio Alves, doutor em Saúde Coletiva e professor do curso de medicina na Universidade Federal de Juiz de Fora, explica o que fazer para se prevenir das doenças comuns nessa época.

D Evite fumar ou se expor a ambientes com muita poeira ou fumaça. Cigarro e tempo seco contribuem para problemas respiratórios.

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, as alergias atingem, em média, 30% da população mundial. Durante o inverno, o ar frio e a falta de umidade ressecam as vias respiratórias, causando alergias, espirros, bronquite e até sangramentos. Geraldo Camelo, funcionário público, sofre de rinite e diz que durante o inverno as crises acontecem com mais frequência. “Varrer a casa é o mais difícil. Tenho certeza que vou espirrar por mais de meia hora, sem parar”, diz.

A dispersão dos resíduos e da fumaça é comum durante todas as estações do ano, mas aumenta no inverno devido ao vento forte e ao tempo seco. Asma, conjuntivite, irritação nos olhos e garganta são exemplos de doenças causadas pelas queimadas.

D Aumente

ILUSTRAÇÕES: LUCAS LAMEIRA e TÁbata Romero

Nessa época, as queimadas são muito comuns. A estiagem resseca as plantações e os riscos de incêndio são maiores, especialmente em função da prática de alguns proprietários de terra, que costumam atear fogo em determinadas áreas, para limpar o terreno.

Twitter é nova aposta da Prefeitura

D Evitar ao máximo o contato com bichos de pelúcia, tapetes e produtos que possuam pelos e que possam acumular poeira e ácaros.

a ingestão de líquidos. Isso melhora a qualidade das secreções produzidas pelo corpo contra o tempo seco.

D No caso de queimadas, mantenha todas as portas e janelas fechadas enquanto há a dispersão de resíduos e fumaça.

D Mantenha o ambiente com circulação de ar. As bactérias ficam mais concentradas em ambientes fechados.

D Umidifique o ar. Se não tiver um vaporizador, pode colocar uma toalha molhada no quarto e estendê-la.

Desde o início do ano, a Prefeitura de Mariana utiliza o Twitter. É mais um meio para a divulgação de informação e também para o contato com a imprensa e a população. É a primeira conta oficial da Prefeitura no site. O assessor de comunicação da Prefeitura, Lincon Zarbietti, explica que o objetivo da ferramenta é criar um canal de comunicação entre a Prefeitura e o internauta. “Uma parcela considerável da população e boa parte dos jornais aqui, de Mariana, já tem twitter. E o nosso Twitter tem feito bastante sucesso. Temos recebido muitas perguntas e comentários”, comemora. O assessor afirma que o Twitter não eliminou outras formas de comunicação já usadas, mas atua como elemento auxiliar na divulgação das informações de maneira mais ágil. O estudante de Jornalismo, Marcelo Nahime Júnior já usou o Twitter e aprova a iniciativa. “Acho que a adequação do poder público a essas redes sociais está sendo fundamental para garantir maior interação com a sociedade. Eu enviei um tweet e logo me responderam com os contatos que eu precisava”, conta ele. Quem se interessar em falar com a Prefeitura pelo Twitter é só seguir @PrefMariana ou acessar www.twitter.com/prefmariana.


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Lucas Borges e Sara Oliveira

CULTURA

Das garagens para os palcos Falta de regularização e caráter informal dificulta a assinatura de contratos para participação nos principais eventos da cidade de Mariana A vocalista da Banda Kollares acredita que a regularização das bandas facilitaria esse processo e vê a unificação dos músicos como solução para o problema. “Seria importante sermos regularizados como microempresa, mas o problema é a falta de uma renda fixa. Acho que o ideal seria a criação de uma associação para que ela pudesse intermediar essa relação e repassar as oportunidades às bandas, igualmente”, afirma. O vocalista da Banda Limity Natural concorda com a criação de uma associação, mas acha que o apoio não deve se limitar ao campo financeiro. “As bandas precisam se sentir acolhidas pelo município. Não há mais festivais com essa finalidade e a participação das bandas nas maiores festas da cidade é muito pequena”, avalia. O secretário da Cultura reforça a dificuldade burocrática para contratar as bandas. Segundo ele, sem uma associação ou uma empresa encarregada de intermediar o negócio, a Prefeitura contrata pessoas físicas. “Os valores dos impostos são maiores, o processo fica bem mais complicado porque se contrata uma só pessoa da banda. A partir daí, foge ao controle da secretaria”, explica. Os contratos para este ano com as bandas já estão sendo feitos e a novidade

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é que, desta vez, todos receberão o mesmo valor e farão o mesmo número de shows. Os cadastros das bandas já podem ser feitos na Secretaria de Cultura e Turismo. A participação de cada grupo se dará de acordo com as demandas apresentadas pelos organizadores dos eventos na cidade e nos distritos.

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Em uma cidade como Mariana, com tantas opções no campo da cultura, inclusive no cenário musical, as chamadas “bandas de garagem” encontram dificuldades para se manterem em atividade. A Prefeitura, principal fonte de recursos para os projetos musicais do município, nem sempre consegue atender a todos, e as dificuldades financeiras para essas bandas ficam ainda mais evidentes. Espalhadas pelos bairros e distritos, as bandas de garagem sobrevivem em função do sonho e da expectativa dos músicos - jovens, em sua maioria - que buscam reconhecimento pelo menos no cenário regional. Na ausência de apoio fixo e garantido, a manutenção dos grupos acaba custeada pelos próprios músicos e seus familiares, e pela renda proveniente das apresentações particulares que realizam. De acordo com secretário de Cultura e Turismo de Mariana, Cristiano Casemiro dos Santos, a informalidade e o caráter quase impessoal que marca o gerenciamento desses grupos dificultam as relações comerciais entre a Prefeitura e as bandas. “A vulnerabilidade das bandas é muito grande. A formação muda constantemente e os músicos fazem parte de mais de um conjunto ao mesmo tempo. E,

além disso, essas bandas não possuem uma atividade reconhecida como algo institucionalizado juridicamente”, afirma. A vocalista e uma das fundadoras da banda Kollares, Neila Ferreira, acredita que as bandas mudam tanto justamente por causa da falta de oportunidades de apresentações. “Muitos músicos fazem parte de mais de uma banda em busca de uma renda que considerem justa, já que existe espaço para todos, mas esse espaço é mal distribuído”, aponta. O vocalista da Banda Limity Natural, Bruno Ramos, concorda que falta organização nesse contato entre as bandas e a Prefeitura. “Deveria haver um planejamento para que todos soubessem quando e como fazer contratos com a Prefeitura. Todos deveriam ter oportunidade para mostrar seu trabalho”, defende. O secretário de Cultura e Turismo orienta as bandas a se cadastrarem e se regularizarem como entidades. “Um caminho é procurar a ACIAM, Associação Comercial Industrial e Agropecuária de Mariana, e se informar sobre os procedimentos para se tornar empresa jurídica de caráter individual”, sugere. A ACIAM auxilia nesse processo, mas, para isso, uma banda não pode ter renda anual superior a R$ 36 mil.

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A llãn Passos

Banda Limity Natural, do vocalista Bruno (foto), se mantém com apresentações em eventos particulares e recursos próprios

Conservatório consolida trajetória de música

TIRINHA

Tábata Romero Garcia

A música habita Mariana. Seja na rua, dentro das igreja, um luau na praça, nas corporações musicais. São mais de dez bandas registradas em cartório e pelo menos cinco corais. E quem ensinava a música até 28 de maio de 2010 eram pais, tios, avós, amigos e os mestres das bandas. Um ensino artesanal, quase hereditário. A data marca o início do Conservatório de Música Mestre Vicente Ângelo das Mercês, entidade destinada ao ensino da música em Mariana. Como consta no site da instituição, o Conservatório nasceu de um “desejo ardente” – dos diretores, regentes, professores e integrantes da Orquestra e Coro Mestre Vicente – de sustentar um espaço de comunhão, de lazer e de estudo da música. A tarefa tem sido cumprida em um casarão na Rua da Glória, no centro da cidade. A iniciativa de instalar o Conservatório foi de Efraim Leopoldo Rocha, 48 anos, presidente da instituição mantenedora. Moveu recursos, pediu patrocínio, levantou o nome do lugar e ainda fez o espaço se multiplicar em quatro. Efraim não é músico, mas é apaixonado – e talvez o conservatório seja movido à paixão. A entidade não tem fins lucrativos, não tem subsídio do

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HORIZONTAIS: 1- (?) do Carmo: curso d`água marianense. 2- Companhia. 3- Relativo aos descendentes de africanos. 4Dom (?) (?): avô da Princesa Isabel. 5- Partido. 6- Rua do (?), 166, Centro, CEP 35420-000, Mariana-MG: endereço do ICSA - Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas. 7- Argola de corrente. 8- Beija-flor. 9- Agremiação como o Marianense Futebol Clube. 10- Nascido em Minas Gerais. VERTICAIS: 1 -Importante via do centro de Mariana. 3 - Estilo artístico do mestre Aleijadinho. 4- Quantidade de anos em um século. 5 - Praça fronteira a uma igreja; adro. 6 - Faça oração; ore. 7 - Coloquei data. 8 - Tornar oco 8 “(?) da cara preta”: cantiga de ninar. 10 - Aquele que trabalha no garimpo.

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governo e não tem patrocínio fixo. Sobrevive do auxílio de patrocinadores e do apoio do deputado federal Vitor Penido (DEM-MG). Também existe uma taxa de manutenção para os futuros músicos. “Cada aluno que pode contribui com dez reais por mês para ajudar na manutenção da casa. Aqueles que não podem não precisam pagar a taxa”, diz Efraim. Logo no início das atividades do Conservatório, as vagas já se esgotaram nos primeiros dias de inscrição. “Seria muito mais fácil adequar um número restrito de alunos às nossas dependências do que ampliar o espaço para atender à comunidade como um todo”, diz o presidente da instituição. Mas, mesmo assim, houve um esforço em adquirir mais espaço para ministrar as aulas. Hoje, o Conservatório conta com quatro espaços: o central na Rua da Glória, onde fica a administração e também onde são ministradas as aulas práticas; uma casa na Rua Monsenhor Horta, onde ocorrem as aulas teóricas e de percussão; uma sala na Rua André Corsino, na qual os grupos do Conservatório com mais integrantes ensaiam; e um último espaço no bairro da Cartuxa, uma região afastada do centro, onde funciona uma escola de música que atende os moradores locais.

passatempos@live.com

Tabata romero

Solução dessa edição - Horizontais: 1 - Ribeirão. 2 - CIA. 3 - Afro. 4 - Pedro I. 5 - Ido. 6 - Catete. 7 - Elo. 8 - Colibri. 9 - Time. 10 - Mineiro. 8 Verticais: 1- Rua Direita. 3 - Barroco. 4 - Cem. 5 - Pátio. 6 - Reze. 7 - Datei. 8 - Ocar, Boi. 10 - Garimpeiro. Solução da edição anterior – Horizontais: 1 - Minas Gerais 8 CVRD. 2 - Foice. 3 - Rio 8 Halo 8 JR 8 Lan. 4 - MN 8 Congada. 5 - Almeida 8 MV 8 CP 8 MV. 6 - NS 8 AT 8 RU 8 Ei 8 Chorume. 7 - Guarani 8 Ló. 8 - Nau 8 Osso 8 PIB. 9 - Carmo. 10 - Edil 8 Entronizado. Verticais: 1 – Marianense. 2 – LS. 3 – Não 8 Luci. 4 – Mea 8 Al. 5 – Schnitger. 6 – MA. 7 – Enluarado. 8 – UR. 9 – AG 8 CM 8 De. 10 – Novena. 11 – Sé 8 II 8 LT. -12 – JG. 13 – Francisco. 14 – Do. 15 – Itacolomi. 16 – CC 8 Pró. 17 - Vela 8 Pia. 18 – MM. 19 – De Novembro.

Conservatório traz Painel Funarte de Regencia Coral, inédito em MG


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LAMPIÃO D MARIANA, JUNHO DE 2011 Edição: Lorena Caminhas e Tábata Romero

Será que você transita por aqui? Fotos: Ana Beatriz Noronha. Ilustrações: Amanda Rodrigues, Lucas Lameira e Tábata Romero

A na Beatriz N oronha

Quarta-feira de sol forte, 16h37, aquele céu azul lindo, com uma claridade fora do comum e um calor que sussurra aos ouvidos – por favor, uma cachoeira! Um pouco d’água, sossego e, se possível, uma dose menor de tarefas e rotinas cansativas. Passos pra lá, passos pra cá. Aquele barulho de buzinas que mais parecem gritar na rua em coro com os sinos que, claro, são mais elegantes; conversas, palavras, muitas e soltas pelas esquinas. Mais carros, sinal fechado! Siga... Siga e pare. Como seria bom parar um pouco, neste meio de semana que não está nem lá, nem cá, esse entre – lugar de afazeres acumulados, o cotidiano fervendo igual ou até mais do que o sol desses estranhos dias de outono, em que as coisas já deveriam ser outras. Engraçado como o clima, as folhas das árvores, que ainda não caíram, e as tardes ensolaradas a lembrar os dias mais quentes de verão, parecem também tão ou mais perdidos e alucinados que nós, a circular pelas ruas com os dias e a cabeça cheios, deveras cheios. O trânsito de gente, carros, bicicletas, palavras, pés apressados. Passos contemplativos e até mesmo desligados, alimentam o dia-a-dia neste centro desta histórica dona Mariana, com suas ruas, seus movimentos e suas pessoas. Mas o sol, que lá de cima parece estar muito mais próximo em tardes tão quentes assim, na verdade tem também uma brisa boa e uma beleza declarada.

Há detalhes inusitados, imperceptíveis, tão comuns, tão próximos uns dos outros e entre todos esses pedestres, estes caminhantes que se lançam às ruas todos os dias, indo e vindo... Pras casas, empregos, encontros, saudades, vontades, estudos, pra onde os passos os levam, nos levam e, por vezes, nos param. É, há algumas paradas obrigatórias entre os caminhos e algumas esperas necessárias. 17h20, ponto de ônibus. Parada, quase obrigatória.

Transitam os devaneios, os pensamentos, borbulhando nas mãos inquietas sobre o joelho, enquanto os olhos miram lá adiante pra ver se o ônibus, já atrasado, resolve aparecer. Tanto pensamento se movimentando nos olhos se movendo de um lado ao outro, parando um pouco pra descansar sem nem piscar enquanto fita o terminal turístico...

Cabeças encostadas, apoiadas na estrutura que sustenta uma pequena cobertura para os que esperam por seus ônibus e por tudo que virá com eles, possíveis destinos. Então transitam gente, transitam carros, transitam os anseios e sim...

Sem se expressar em voz, os pensamentos movimentam os gestos, os corpos e as expressões. Levantam-se, alguns com pressa pela agilidade imposta pelos pés que os guiam. Outros perdidos, só observando. Alguns realmente entretidos, lá dentro, nas mãos que sustentam aquele livro que detém a atenção dos olhos. Alguns ainda flutuantes na leveza daquele sorriso. E há aqueles também submersos, nas mãos segurando a testa e mexendo nos cabelos, tentando sair por algum lado...

Estes e todos aqueles outros, os seus, e até os meus. Atravessam a roleta, miram um lugar pra se apoiar, sentados ou não, e continuam pulsando rua afora. Rumo ao fim de tarde em casa; à ligação que irá fazer; à voz que irá ouvir; à bagunça do quarto do filho; ao abraço esperado; às constatações de hoje; às boas sensações do agora; aos anseios de mudanças; às preocupações com o que virá ou não; e de tantas outras diversas formas e sentidos pra continuar a transitar de novo... Amanhã, enquanto esperam.


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