Revista Universidade & Sociedade n. 62 Especial

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130 anos da abolição da escravidão

Trabalho escravo contemporâneo:

a barbárie institucionalizada

Paulo Henrique Costa Mattos

Professor do Centro Universitário de Gurupi (UNIRG) E-mail: paulomattos1009@gmail.com

Resumo: O presente artigo objetiva demonstrar que o trabalho escravo no Brasil contemporâneo e os direitos humanos são polos opostos no caminho capitalista brasileiro, o que está levando o país a uma perigosa situação de barbárie social. A metodologia inclui, além da revisão de literatura, uma análise de dados sobre trabalho escravo contemporâneo de 1995 a 2017, demonstrando que o discurso do desenvolvimento do agronegócio é incompatível com a violência, evidenciando, inclusive, um estudo de caso na Amazônia Legal que demonstra as implicações do trabalho escravo com o modelo econômico brasileiro e ampliação das fronteiras agrícolas do Brasil.

Palavras-chave: Trabalho Escravo Contemporâneo. Barbárie Social. Direitos Humanos.

Escravidão ontem e hoje No dia 13/05/1888, a escravidão foi formalmente abolida no Brasil. Porém, a escravatura como controle total de uma pessoa por outra com fins de exploração econômica não é definitivamente um fenômeno do passado. No Brasil, 130 anos depois da Lei Áurea, que, em tese, pôs fim à escravidão, ainda temos o fenômeno da escravidão humana, presente em nossas relações de trabalho. A escravidão contemporânea assume características bastante distintas da escravidão colonial e imperial brasileira, quando milhões de negros africanos foram tratados como fôlego vivo, peças produtivas de uma engrenagem de exploração voltadas para 90

UNIVERSIDADE E SOCIEDADE #62 - EDIÇÃO ESPECIAL

atender aos interesses econômicos de uma elite escravocrata que tinha no trabalho de homens negros e mulheres negras sua principal fonte de renda e lucratividade. Porém, a escravidão contemporânea ainda possui uma forte dimensão racial. A escravidão no Brasil foi o cimento que deu liga ao desenvolvimento econômico do país por mais de 350 anos, sendo a escravização do negro africano, a partir do século XVI, o principal subsídio do sistema escravagista do Brasil colonial e imperial. Contudo, a escravidão contemporânea no Brasil atual não é uma mera continuidade da escravidão daquele período, embora as formas de trabalho análogas à escravidão


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