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Frente a frente com o bullying

Diálogo e escuta ativa são ferramentas poderosas para combater violências que podem trazer graves consequências ao desenvolvimento dos estudantes

Exclusão social, dificuldade de identificação individual e problemas de autoestima são alguns dos sintomas mais comuns apresentados por estudantes que enfrentam o bullying no ambiente escolar. Essa é a famosa pauta que, infelizmente, nunca envelhece, todos já conhecem e continua sendo uma realidade em muitas escolas do Brasil. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) analisou dados do 9º ano do ensino fundamental das capitais brasileiras de 2009 e 2019 e apontou que 40,3% dos estudantes adolescentes do país já declararam ter sofrido bullying. 24,1% chegaram a apontar que “a vida não vale a pena”, de acordo com a pesquisa realizada pelo IBGE.

“O bullying acontece na variação de brincadeiras maldosas, que ultrapassam o limite de respeito, quando você perde a segurança física. Se torna uma provocação e intimidação que afeta diretamente a confiança”, aponta Mirian Cèlia Castellain

Guebert, pedagoga e professora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e do curso de Pedagogia da PUCPR. Esse sofrimento afeta o desempenho escolar e promove o medo, a dificuldade de concentração, e até mesmo dores físicas. “O estudante pede constantemente para sair da sala de aula, ir ao banheiro, é uma fuga do ambiente para tentar se sentir menos pior”, completa a pedagoga. A longo prazo, o bullying pode ocasionar quadros crônicos, como depressão, ansiedade, insônia, irritabilidade e, em casos mais graves, até suicídio. Para identificar estudantes que são vítimas desse tipo de agressão, a especialista indica que a atenção dos professores é primordial. “Os docentes precisam estar sempre atentos aos comportamentos dos alunos. Se ele está muito apático, não tem interação, é ríspido, agressivo, está sempre com uma condição de doença e não consegue terminar as atividades, é hora de ligar o sinal de alerta”, recomenda. A pedagoga acrescenta que não é somente na escola que o bullying acontece — ele pode vir de dentro de casa. “Esse tipo de violência tem uma questão cultural e o ideal é que a escola ofereça momentos com a família para identificar isso nos estudantes.

Têm famílias que não percebem nem que seus pequenos estão mutilados”, destaca. Além do ambiente físico, o bullying pode aparecer também no virtual, com o que conhecemos como cyberbullying. Como meio de combate ao bullying, Mirian aponta algumas formas eficientes de abordar o tema na escola, estabelecendo e fortalecendo uma cultura de não-violência:

DINÂMICAS: criar círculos restaurativos, com um bastão de fala, na qual apenas o aluno que está com o bastão pode falar. “Essa dinâmica é muito efetiva para criar a atitude de ouvir”, comenta a pedagoga. Para isso, ela indica que os estudantes realmente queiram participar da atividade e assim, criar um espaço seguro para o diálogo. “Todos os envolvidos podem se expressar e assim é possível entender as razões para cada atitude. São nestes momentos que percebemos os sintomas do bullying”, completa.

DIÁLOGOS ENTRE PARES: nessa proposta, um membro da escola se coloca como intermediador entre as pessoas envolvidas no caso de bullying e é proposto uma conversa com a vítima e com o agressor individualmente. Posteriormente é promovida uma conversa entre os dois lados.

PRÁTICAS RESTAURATIVAS: esse modelo visa restaurar o vínculo entre os sujeitos envolvidos e possibilita um acordo para que determinadas atitudes não aconteçam.

ESCUTA ATIVA: esse é um método que vem do campo jurídico e foca em compreender quatro elementos: a) o que está incomodando; b) qual a necessidade da pessoa; c) quais são os sentimentos envolvidos; d) o que esses sentimentos pedem. A partir do momento que se tem essa conversa e se observa cada um dos quatro elementos, é possível pensar em estratégias para minimizar ou prevenir o bullying.

Por fim, a docente da PUCPR destaca que é papel do professor estar não só atento ao aprendizado, mas também aos sentimentos dos seus alunos. “Quando há sofrimento emocional, é como se acendesse uma luz amarela em relação a vários tipos de violência. Nós, professores, precisamos fazer um monitoramento constante para possibilitar que os jovens verbalizem o que precisam para viver melhor”, finaliza.

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