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Novo secretário do Paraná inicia mandato com foco no fortalecimento da educação integral

Depois de atuar como diretor de educação no mandato de Renato Feder, Roni Miranda Vieira assume a gestão da Secretaria Estadual de Educação com a intenção de deixar um legado na educação integral

Gabrielly Domingues da Silva

Secretário, como começou a sua trajetória com a educação pública e quais caminhos te fizeram chegar ao cargo?

Roni Miranda Vieira: Fui aluno da rede estadual do Paraná e sempre estudei em escola pública. No ensino superior, fiz uma licenciatura em História e uma especialização em História e Geografia do Paraná, além de outros cursos. Em 2005, ingressei profissionalmente na rede estadual de ensino, como professor temporário. Logo, em 2009, assumi como professor concursado. Três anos depois, encarei o desafio de atuar como diretor escolar no Colégio Djalma Marinho, em Campo Largo e, em 2015, comecei a trabalhar mais efetivamente na gestão educacional, como assessor da chefia do Núcleo Regional de Educação da Área Norte. Entre o início de 2017 e o final de 2018, fui chefe do Núcleo Regional.

Foi em 2019 que ingressei na Secretaria Estadual de Educação. A convite do então secretário, Renato Feder, assumi a gerência do Departamento de Acompanhamento Pedagógico. Em abril de 2020, no auge da pandemia, passei para o cargo de diretor de educação da Seed.

Toda essa trajetória sempre foi pautada por resultados educacionais, principalmente de aprendizagem do estudante, seja enquanto professor, diretor de escola ou na Secretaria. Em minha experiência como diretor de escola, assumi a escola com os indicadores educacionais mais fragilizados do município e, com o Núcleo Regional de Educação da Área Norte não foi diferente: o norte da região metropolitana vive um cenário desafiador, pois está situada geograficamente no Vale do Ribeira. Mesmo diante desse cenário, acredito que conseguimos fazer um trabalho muito positivo na região, refor- çando a gestão e a estrutura das escolas, ao lado dos diretores escolares, que passaram a ter mais foco pedagógico, na aprendizagem dos estudantes.

Já como chefe de departamento na Seed, meu maior desafio foi a construção da consultoria pedagógica, um projeto inspirado em iniciativas presentes da rede de ensino de Nova Iorque e também em alguns estados brasileiros, especialmente em Goiás. Implantamos essa tutoria pedagógica, apoiando a gestão escolar e impactando o trabalho de diretores e da equipe pedagógica, com foco na aprendizagem e no combate ao abandono escolar. Também conseguimos virar uma chave e contribuir para que nossos diretores escolares, que tinham um perfil bastante administrativo, também passassem a olhar para a escola pelo viés pedagógico, com foco na aprendizagem.

Na pandemia, ao lado do secretário Renato Feder, colocamos o projeto Aula Paraná para funcionar. Esse projeto foi essencial para trabalhar com os estudantes da rede estadual de ensino de forma remota, seguindo os protocolos sanitários impostos pela onda de casos de Covid-19. Trabalhamos com canais de TV, canal no YouTube, com o aplicativo Aula Paraná, com a ferramenta Google Sala de Aula — que possibilitou a conexão com mais de 50 mil salas de aulas, alimentadas diariamente com conteúdos em vídeo, slides ou exercícios —, além de materiais impressos para alunos que não tinham acesso à internet ou aos equipamentos tecnológicos. Com o Aula Paraná, recebemos um reconhecimento da Fundação Getúlio Vargas por ser o estado que melhor atendeu os estudantes no período da pandemia. Depois, também fui responsável pela coordenação da volta às aulas presenciais. Conse- guimos fazer a retomada de forma tranquila, sem ruídos e com total controle dos ambientes escolares, para evitar um grande nível de contaminação. Tudo seguiu as recomendações da Secretaria Estadual de Saúde.

A partir de toda essa experiência na educação paranaense, como você analisa o cenário educacional do nosso estado? Quais são os maiores desafios, os grandes destaques e as principais fragilidades que precisam ser superadas?

Roni Miranda Vieira: Acredito que o maior desafio dos últimos anos na educação paranaense são os estudantes dos anos iniciais, que estão em fase de alfabetização e letramento em matemática e língua portuguesa. Eles foram os mais impactados pela pandemia, porque alfabetizar alguém de forma remota é impossível. Na educação pública, isso é ainda mais forte, os pais normalmente não têm condições de dar apoio aos estudantes. O pai e a mãe saem de manhã para trabalhar e voltam só às 19h. Como vão dar o suporte que as crianças precisam? Ou seja, os estudantes da rede municipal foram mui- to mais impactados. Na rede estadual, nossas avaliações diagnósticas apontam que os estudantes foram impactados principalmente em matemática. Nas áreas de linguagens, conseguimos manter a aprendizagem e nossos indicadores não caíram. O que vinha sendo feito e que será continuado nos próximos anos dentro da Secretaria de Educação ataca duas grandes frentes prioritárias. Em primeiro lugar, estamos apostando na ampliação das escolas em tempo integral. No início da gestão do governador Ratinho Júnior, o Paraná tinha apenas 34 escolas integrais e agora estamos iniciando 2023 com 265 escolas. Outra ação muito forte que estamos investindo é o contraturno escolar: lá no início de 2019, o Paraná tinha em torno de 200 turmas de contraturno e agora temos 1.500 turmas. É um salto gigante, um grande destaque positivo. Além disso, dentro do horário regular das aulas, estamos trabalhando para melhorar o acesso e o uso de recursos tecnológicos. Se a pandemia deixou algum ganho para a área da educação foi o domínio da tecnologia pelos professores. Como eles passaram a utilizar e conhecer melhor as ferramentas, nós apostamos em algumas plataformas educacionais: no ano passado, introduzimos plataformas para o ensino de inglês, redação com inteligência artificial — ferramenta que foi desenvolvida dentro da própria secretaria —, aulas de programação e matemática para o sexto ano. Neste ano, vamos ampliar a plataforma de matemática para todos os estudantes do Paraná e incluir mais duas: o Leia Paraná, uma plataforma de leitura que disponibiliza dezenas de livros digitais; e o Desafio Paraná, uma plataforma de lição de casa, já utilizada dentro da rede privada, que, em breve, estará disponível também para os alunos da rede pública.

Todas essas plataformas foram utilizadas para apoiar o trabalho dos docentes, dos nossos professores. Com as plataformas, eles conseguem atingir um maior número de estudantes.

E em relação ao cenário nacional, qual é a sua análise?

Roni Miranda Vieira: Com certeza, a educação brasileira se encontra em uma situação crítica. Já não estávamos bem e a pandemia trouxe um agravamento para a situação, principalmente nas séries iniciais da educação básica, como já mencionado. Tivemos muitos meninos e meninas nessa etapa de ensino que foram muito impactados pela pandemia, principalmente as pessoas pobres, que foram mais comprometidas. Agora, é preciso que o Ministério da Educação, como o nosso maior ente da federação, priorize a educação básica, fazendo uma coordenação com foco nos resultados de aprendizagem e uma gestão focada no apoio aos estados e municípios. Esperamos e precisamos que os nossos recursos retornem para os estados e municípios, como políticas públicas educacionais que fortaleçam a educação e consigam trazer aqueles estudantes que acabaram ficando um pouco para trás.

Na gestão do secretário Renato Feder, alguns projetos e diretrizes se destacaram. Entre eles, podemos mencionar as parcerias público-privadas, os investimentos em tecnologia e a aposta em escolas do modelo cívico-militar. A nova gestão pretende seguir o mesmo modelo? Quais são as prioridades para os próximos quatro anos?

Roni Miranda Vieira: Além das escolas cívico-militares, vale reforçar que tivemos um grande aumento no número de escolas integrais também, como já mencionado. Hoje, temos 210 escolas cívico-militares e 260 escolas integrais. Nossa prioridade é continuar apostando nesse fortalecimento das escolas integrais, com o objetivo de chegar em 400 escolas que oferecem essa modalidade de ensino. Também vamos dar continuidade ao trabalho realizado junto às escolas cívi- co-militares e, como contamos com os militares da reserva, temos um público muito restrito para o volume das escolas estaduais. Por isso, nesse momento estamos com o plano de manter as escolas cívicas e aperfeiçoar ainda mais o atendimento nas escolas cívico-militares. Na relação público-privado, temos duas escolas que serão acompanhadas ao longo do ano. Se esse projeto rodar bem e tiver sucesso no atendimento e nos resultados educacionais, vamos ampliar.

O que nós fazemos é dar opções aos pais paranaenses: se o pai quer colocar seu filho na escola pública regular, ele coloca; se o pai prefere uma escola integral, ele também tem essa opção, assim como a cívico-militar. A decisão é da família.

É importante destacar também que, proporcionalmente, o Paraná tem o maior número de alunos matriculados no ensino técnico do Brasil. Então, é mais uma opção que a gente oferece aos estudantes paranaenses.

O ensino médio do Paraná vem apresentando resultados de destaque no Ideb, em uma ascensão importante. Que estratégias serão adotadas para manter esse crescimento Ideb, sem perder de vista a questão da equidade?

Roni Miranda Vieira: Acredito que o Ideb é um indicador que também mede a questão da equidade, porque ele está atrelado a dois pontos principais: a proficiência ou aprendizagem e o fluxo do estudante, ou seja, se ele tem continuidade na sua vida escolar. Isso é muito importante, pois não adianta ter uma escola que seleciona alunos e tem a melhor proficiência, mas do outro lado, ter centenas de meninas e meninos fora da escola. Então, uma escola que reprova muito vai ter um baixo Ideb, assim como as escolas que aprovam automaticamente. Existe um equilíbrio neste indicador.

O Paraná chegou nos bons resultados principalmente por conta do trabalho dos nossos professores. A gestão anterior da Secretaria de Educação trouxe foco e o objetivo comum a todos de fazer uma educação focada em resultados de proficiência. Com isso, conseguimos levar suporte aos professores e mais tecnologia para dentro da sala de aula, com melhores equipamentos e qualidade na internet, além de ter feito um trabalho importante com os gestores, promovendo uma gestão mais pedagógica. Esse conjunto de ações trouxe um ganho muito grande. Outro grande diferencial são as avaliações diagnósticas realizadas trimestralmente com os estudantes, possibilitando que os professores percebam as lacunas de aprendizagem de cada aluno e realizem as intervenções cabíveis para superá-las. É assim que conseguimos mapear em quais habilidades os estudantes apresentam maior deficiência. Também realizamos o programa “Presente na Escola”, focado na frequência dos estudantes. Encaramos a frequência como um batimento cardíaco, que precisa ser acompanhada diariamente. Antigamente, os professores olhavam para a frequência e o aprendizado dos estudantes só no final do bimestre ou trimestre, quando já não tinha muito o que fazer para resgatar um estudantes. Como agora temos um acompanhamento diário ou semanal, os diretores e a equipe pedagógica conseguem fazer uma busca ativa com os professores e a família para que o estudante não falte. A conta é muito simples: o estudante na escola aprende, o estudante fora da escola não aprende.

De que forma a Seed pretende dialogar com as escolas e universidades particulares do Paraná?

Roni Miranda Vieira: Nossa gestão é feita de diálogo e a pergunta que nós sempre fazemos é: “Isso é bom para a educação do Paraná?”. Se a resposta for positiva, vamos fazer parcerias. Caso contrário, não fazemos. Para nós, é uma avaliação muito simples de ser feita: para que a parceria seja realizada, o trabalho precisa estar voltado para a educação básica. Com a rede privada, nós já temos duas escolas parceiras. Também temos uma parceria com a Unicesumar em nosso ensino técnico e, além disso, temos um programa com estudantes de cursos de licenciatura de diversas instituições públicas e privadas, que apoiam os alunos da rede estadual na recomposição da aprendizagem.

Para finalizar, que legado você espera deixar como secretário estadual de educação?

Roni Miranda Vieira: Essa é uma boa pergunta, eu penso nisso todos os dias. O legado que eu quero deixar é de aprendizagem com equidade, para o estudante preto, branco, indígena, de todo o canto do Paraná. Espero contribuir com a aprendizagem real, deixar uma marca muito forte na educação em tempo integral, fortalecer ainda mais o uso de tecnologias nas escolas, a formação continuada dos nossos professores e deixar o Paraná com a melhor educação da América Latina. Esse é o meu desejo para o final desses quatro anos de gestão.

Calendário de eventos

Aspectos da Organização da Escola e Práticas Pedagógicas e A Educação Pós-Pandemia

Quando: 03 de maio, às 19h

Local: Regional Campos Gerais

Palestrantes: Esméria de Lourdes Saveli e Marcos Meier

Primeiros Socorros e Lei Lucas

Quando: 15 de abril, às 09h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: CSP Assessoria e Treinamento

Análise Econômica e Setorial

Quando: 25 de abril, às 14h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Rodrigo Capelato

Avaliação in loco: Reflexões sobre os resultados (Padrão decisório e recurso)

Quando: 26 e 27 de abril, às 14h

Local: Zoom

Palestrante: Dra. Aparecida do Carmo Frigeri Berchior (Ilape)

Jornada De Inclus O

Local: Sinepe/PR Curitiba

Módulo II - Aspectos PedagógicosLegislação e Normas

Quando: 20 de abril, às 14h

Palestrantes: Fátima Chueire Hollanda e Naura Nanci Muniz Santos

Novo Ensino Médio: como preparar sua escola?

Quando: 10 de maio, às 14h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrantes: Fátima Chueire

Hollanda e Naura Nanci Muniz Santos

Inteligência Emocional dos Educadores

Quando: 16 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Jane Haddad

Módulo III - A Prática em Sala de Aula

Quando: 18 de abril, às 14h

Palestrante: Wania Emerich Burmester

Módulo IV - TEA - Principais comorbidades: como orientar famílias e professores?

Quando: 21 de junho, às 14h

Palestrante: Sergio Antoniuk

Bullying e Cyberbullying

Quando: 23 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrantes: Victória Esmanhotto e Felipe Américo Moraes

Limites Adequados, Filhos

Felizes

Quando: 14 de maio, às 19h

Local: Sinepe/PR Curitiba

Palestrante: Marcos Meier

Novas escolas associadas:

• LCCA - Educação e Treinamento - 19/01/2023 - Palmas/PR

• Faculdade Evangélica Mackenzie - Fempar - 19/01/2023 - Curitiba/PR

• Escola Evangélica Boas Novas - 16/02/2023 - Ponta Grossa/PR

• Colégio Adventista – Ponta Grossa - 16/02/2023 - Ponta Grossa/PR

• Colégio Excelência - 23/02/2023 - Curitiba/PR

• Escola Phoenix - 23/02/2023 - Cascavel/PR

• Centro Educacional Pedacinho de Vida - 10/03/2023 - Medianeira/PR

• Proz Educação Profissional - Curitiba - 28/03/2023 - Curitiba/PR

• Escola Espaço Edukare - 28/03/2023 - Curitiba/PR

• Colmeia Montessori - 28/03/2023 - São José dos Pinhais/PR

• Centro de Educação Infantil Primeiros Passos28/03/2023 - São José dos Pinhais/PR

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