Revista Voz da Igreja novembro

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Ano XIII - Edição 168 - Novembro de 2016

Luto, um exercício

contínuo de fortalecimento da fé No mês de Finados, confira algumas reflexões, mensagens e oração relacionadas a como lidamos com a partida dos que amamos.

Veja também A história do Cemitério Municipal São Francisco de Paula. P.9

A visão da Igreja sobre eutanásia, distanásia e ortotanásia. P. 14

+ artigos e novidades de nossa Arquidiocese

Oração e meditação para quem está de luto. P. 16

Álbum Catequético Litúrgico é lançado no Seminário de Catequese. P. 7


Ação Evangelizadora

CENTRO PASTORAL

Dom José Antônio Peruzzo Arcebispo da Arquidiocese de Curitiba

Editorial Neste mês de novembro temos, no dois, o Dia de Finados. A data inspirou uma reflexão muitas vezes difícil, mas também muitas vezes, necessária: como lidar com o Luto. Não apenas a partida de quem amamos, mas também como lidar com as perdas no dia a dia. Citamos aqui nosso Arcebispo em sua reflexão nessa Revista: “o luto é na sua realidade mais simples uma profunda experiência de dor. Quem passa a conhecer este sofrimento, sempre fala que é mais intenso do que o imaginado”. Porém é também um exercício contínuo de fortalecimento da fé. Lembremo-nos do apóstolo Paulo: “Porque quando estou fraco então é que sou forte” (2 Co 12:9-10). A morte sempre configurou um mistério para todo ser humano, causando dúvidas – motivo pelo qual este é o tema central desta Revista. Trazemos artigos complementares ao tema, como “a visão da Igreja sobre: eutanásia, distanasia e ortotanasia”, alguns conceitos sobre a vida após a morte. Renovamos nossa Revista também apresentando, além de reflexões e notícias, agora também orações, neste caso oração e meditação para quem está de luto. Neste tema delicado, crer na ressurreição de Jesus Cristo e na nossa ressurreição com Ele não diminui a dor, mas pode conferir sentido. A intenção é contribuir, seja como for, com o fortalecimento da fé por dias melhores às pessoas em luto. Como sempre, trazemos nesta edição também novidades de nossa Arquidiocese, como o Seminário da Catequese realizado em outubro, a realização do Seminário do Dízimo, o envolvimento de jovens na realização de Workshop Pastoral em um Santuário de nossa Arquidiocese, entre outras reflexões. A todos uma boa leitura e sempre fiquem à vontade para nos escrever, com sugestão de textos e artigos para circular em nossa Arquidiocese.

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A revista Voz da Igreja é uma publicação da Arquidiocese de Curitiba sob a orientação da Assessoria de Comunicação CONSELHO EDITORIAL - Arcebispo da Arquidiocese de Curitiba Dom José Antônio Peruzzo | Bispo da Arquidiocese de Curitiba: Dom José Mário Angonese | Chanceler: Pe. Jair Jacon | Ecônomo da Mitra: Pe. José Aparecido Pinto | Coordenador da Ação Evangelizadora: Pe. Alexsander Cordeiro Lopes | Coordenador geral do clero: Pe. Rivael de Jesus Nacimento | Jornalista responsável: Teodoro Travagin | Assessoria de Comunicação: Sintática Comunicação | Revisão: Aline Tozo | Revisão Teológica: Pe. Roberto Nentwig | Colaboração voluntária: 12 Comissões Pastorais| Apoio: Centro Pastoral | Projeto gráfico e diagramação: Sintática Comunicação | Foto da Capa: Patryck Madeira | Impressão: Gráfica ATP - Tiragem: 10 mil exemplares.

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Agenda Mensal dos Bispos Novembro/2016

Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

01 • Reunião do Setor Rebouças, no Santuário Sagrado Coração de Jesus • Programa Conhecendo a Palavra, na TV Evangelizar 02 • Missa de Finados, no Cemitério da Água Verde 03 • Missa de Abertura do Simpósio da Faculdade Vicentina • Reunião do Conselho Gestor da PPI • Reunião do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, na Cúria • Reunião da Associação do Meio Ambiente de Curitiba 04 • Reunião no Setor Campo Largo, Santuário Senhor Bom Jesus • Expediente na Cúria • Crisma na Paróquia Nossa Senhora das Dores 05 • Assembleia Arquidiocesana da Pastoral da Pessoa Idosa, Casa de Retiros Nossa Senhora da Salete • Crismas na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Campo Largo 06 • Crisma na Paróquia São José Operário, no Boqueirão 07 a 08 • Formação para o Clero de Cascavel 09 • Visita Pastoral na Paróquia Senhor Bom Jesus, Colombo 10 • Visita Fraterna ao Lar dos Meninos São Luiz • Expediente na Cúria • Crisma na Paróquia São José Operário, no Boqueirão 12 • Palestra no Congresso da Divina Misericórdia, no Santuário da Divina Misericórdia • Crisma na Paróquia Nossa Senhora da Cabeça • Missa na Comunidade Fonte de Encontro 13 • Missa do Padroeiro, na Paróquia Menino Jesus, em Porto Amazonas • Assembleia Arquidiocesana de Leigos, local a definir

15 • Programa Conhecendo a Palavra, na TV Evangelizar 16 • Visita no Seminário Rainha dos Apóstolos 17 • Expediente na Cúria • Missa no Hospital Marcelino Chanpagnat • Visita no Seminário Propedêutico 18 • Missa no Colégio Everest • Expediente na Cúria • Visita no Seminário São José 19 • Missa no Santuário Nossa Senhora de Fátima, Jubileu das Capelinhas • Crisma na Paróquia Senhor Bom Jesus, no Portão • Crisma na Paróquia São João Batista Precursor 20 • Crisma na Paróquia Nossa Senhora do Rocio • Missa de Encerramento do Ano da Misericórdia, no Santuário da Divina Misericórdia 21 a • Reunião do Conselho Permanente, 24 em Brasília 25 • Reunião dos Formadores, no Seminário Bom Pastor • Visita no Seminário Bom Pastor 26 • Missa de Abertura do Encontro das Novas Comunidades, na Comunidade Canção Nova • Crisma na Paróquia Nossa Senhora de Lourdes, no Jardim Botânico 27 • Missa da Padroeira, na Paróquia Nossa Senhora das Graças • Investidura dos MESCES do Setor Cabral, na Paróquia Nossa da Salette 29 • Reunião do Conselho Presbiteral, na Cúria • Programa Conhecendo a Palavra, na TV Evangelizar 30 • Expediente na Cúria • Visita ao Hospital das Clínicas • Formatura dos alunos do Colégio Arquidiocesano, no Seminário São José

Dom José Mário Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Curitiba Região Episcopal Norte Senhor Jesus, em Colombo 01 • Reunião do Setor Rebouças, no Santuário Sagrado Coração de Jesus 17 • Investidura dos MESCES do Setor • Reunião com a Equipe Missionária Orleans, na Paróquia São José na Cúria Trabalhador • Lançamento da Campanha de Evan- 18 • Reunião do Setor Almirante Tamangelização, no Seminário São José daré • Crisma na Paróquia Nossa Senhora 02 • Missa de Finados no Cemitério Municipal da Luz, em Pinhais • Reunião com os Coordenadores de 19 • Crisma na Paróquia Santo Agostinho Pastoral da Paróquia Senhor Bom • Crismas na Paróquia Nossa Senhora Jesus, Colombo da Conceição, em Almirante Tamandaré 03 • Reunião do Conselho Arquidiocesano de Pastoral, na Cúria 20 • Crismas na Paróquia Nossa Senhora • Atividades na Paróquia Senhor Bom Aparecida, em Pinhais Jesus, Colombo 22 • Expediente na Cúria • Crisma na Paróquia Nossa Senhora 04 • Reunião do Setor Campo Largo, no Santuário Senhor Bom Jesus do Rosário, em Colombo • Atividades na Paróquia Senhor Bom 23 • Crisma na Paróquia Nossa Senhora Jesus, Colombo do Rosário, em Colombo 24 • Crisma na Paróquia Nossa Senhora 05 • Crismas no Colégio Bom Jesus do Rosário, em Colombo 06 • Assembleia Arquidiocesana dos Diáconos, no Seminário Bom Pastor 25 • Missa na Cúria • Crismas na Paróquia Nossa Senhora • Reunião dos Formadores, no Semida Saúde, em Colombo nário Bom Pastor • Missa na Catedral, encerramento e 07 • Missa da Novena, no Santuário Nossa Senhora do Rocio, em Paranaguá. Formatura do IAFFE 26 • Crisma na Paróquia Imaculada 08 • Reunião da APAC • Atividades na Paróquia Senhor Bom Conceição, no Atuba Jesus, Colombo • Crisma na paróquia Maria Mãe da • Investidura dos MESCES do Setor Igreja Boqueirão, no Santuário Nossa 27 • Crisma na Comunidade Bethânia Senhora do Carmo 29 • Reunião do Conselho Presbiteral, na Cúria 09 a • Visita Pastoral na Paróquia Senhor • Missa na Paróquia Nossa Senhora da 20 Bom Jesus, em Colombo Boa Esperança 16 • Investidura dos MESCES da Paróquia


Palavra do Arcebispo

Dom José Antônio Peruzzo Arcebispo da Arquidiocese de Curitiba

Falando do Luto É a primeira vez que escrevo sobre este tema. A proximidade do dia de Finados o explica. Mas faço-o atendendo a um pedido da equipe editorial. Inevitavelmente, antes ou depois, eis o que a vida nos reserva: teremos que lidar com a morte dentro da nossa casa. É o que nunca desejamos, mas é também uma das mais consolidadas certezas da vida. E qualquer luto anuncia outra certeza: a da nossa partida. Parece uma temática repulsiva, acerca da qual ninguém tem apreço em abordar. Mas o realismo da vida e da morte não nos autoriza a ignorar. O luto é na sua realidade mais simples uma profunda experiência de dor, causada pela perda ou morte de alguém que amamos. Quem passa a conhecer este sofrimento, sempre fala que é mais intenso do que o imaginado. Somente a experiência permite conhecer sua profundidade. Comporta perdas, vazios, saudades, percepções da própria pobreza e muitas perguntas sem respostas. Ante a realidade dramática da perda de alguém que amamos a tristeza parece desfigurar tudo: a vida não tem sentido, as conquistas se tornam insignificantes, as relações não substituem o vazio aberto, as grandes causas já não têm nenhuma grandeza. São dias sem caminhos. Somente a fraqueza é “grande e forte”. Mas, paradoxalmente, quando respeitados os dias de luto, ele mesmo faz emergir perguntas decisivas acerca da vida. Para quem, em favor de quem queremos vivê-la? Ainda outras indagações podem aflorar e seguir seu curso. E para quem crê, ou melhor, para quem

quer fazer de sua vida uma grande resposta a Deus, até a morte, com suas dores e temores, passa a ter sentido. Em tal contexto, cada cristão pode se deixar perguntar: onde vou passar a eternidade? Não se trata de um interrogativo de tipo curiosidade intelectual. Antes, é uma realidade que se impõe até mesmo quando queremos ignorá-la. Quem crê na eternidade faz certas opções de vida. Quem duvida fará outras. Para nós cristãos crer na ressurreição de Jesus Cristo e na nossa ressurreição com Ele não diminui a dor e a tragédia da morte. Nem do luto. Mas não se trata de evitar o que é inexorável. Trata-se sim de conferir sentido ao que seria, se faltasse a fé em Jesus Cristo, apenas término e desaparecimento. Nem as maiores homenagens póstumas restituem a vida. Segue que a lide com a morte e a vivência do luto podem nos aproximar do que é essência e fundamento: a que e a quem consagramos a vida? Comecei pelo luto, é verdade. Mas fixar-se apenas nele, como se se tratasse apenas de uma fase da vida, superável dentro do tempo, equivaleria tão somente a adiar as grandes verdades da existência pessoal. O sucesso não vence a morte. As conquistas e triunfos também não. Permanece, pois, o caminho da reflexão honesta e realista. Neste mês de novembro, no qual o Dia de Finados e de todos os Santos estão em sequência, outra vez se apresenta a graça de renovar projetos de vida, aqueles que nos aproximam de Quem é maior do que a morte.

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Palavra de Dom Pedro

Dom Pedro Antônio Marchetti Fedalto Arcebispo Emérito de Curitiba

Está terminando o Ano da Misericórdia O Ano da Misericórdia, instituído pelo Papa Francisco, aberto no dia 8 de dezembro de 2015, está terminando no dia 20 de novembro deste ano, na festividade de Cristo Rei. Deus é a Misericórdia infinita. A palavra Misericórdia aparece 103 vezes na Bíblia, 72 vezes no Antigo Testamento, só nos Salmos 28 vezes e no Novo Testamento 31 vezes. Jesus Cristo encarnado, morto e ressuscitado é a misericórdia visível do Pai. Foi Maria que nos trouxe Cristo, a Misericórdia do Pai. Ela mesma canta no Magníficat, diante de sua prima Isabel: “Sua Misericórdia perdura de geração em geração” (Lc. 1,50). Zacarias, no nascimento de São João Batista, no seu canto do Benedictus: “Bendito seja o Senhor Deus que nos libertará de nossos inimigos que nos odeiam para nos trazer a Misericórdia prometida a nossos pais”. Lc. 1, 71 -72).

O Papa Francisco afirma: “a Misericórdia é a palavra que revela o amor da Santíssima Trindade. É a lei fundamental que reside no coração humano. É o caminho que une Deus e o homem, o único caminho que gera a paz no coração humano, inquieto enquanto não repousa na misericórdia divina”. Certamente o leitor, a esta altura, deve ter entrado na porta das igrejas em Curitiba para ganhar a Indulgência Plenária: Catedral, Santuários de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Nossa Senhora do Carmo, Nossa Senhora de Guadalupe, da Divina Misericórdia, Santa Rita de Cássia, de Schoenstat. A condição não é só entrar. São necessárias a Confissão Sacramental, a participação da Eucaristia, a Missa, com a comunhão e uma oração pelo Papa.

A quinta bem-aventurança de S. Mateus diz: “Bem-aventurados os Misericordiosos, porque alcançarão Misericórdia” (Mt. 5,7).

A Indulgência Plenária não é o perdão dos pecados, mas a remissão da pena pelo pecado grave cometido. Um exemplo muito simples: uma pessoa comete um homicídio. Arrepende-se diante do Juiz, prometendo que nunca mais vai matar alguém. A resposta do Juiz é: mesmo com todo o arrependimento deverá ficar tantos anos na cadeia para reparar o mal cometido. Na confissão, com o perdão do pecado grave o confessor dá uma penitência suave, leve. A Indulgência é a remissão da pena devida ao pecado grave e quem sabe até leve.

Mas quem é justo? “Se dissermos que não temos pecados enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós” (1 Jo, 1,8).

Por isso quem não aproveitou o Ano Santo, ainda é tempo para confessar-se bem, participar da missa e rezar pelo Papa, entrando numas destas igrejas.

Como é definida a Misericórdia? Santo Agostinho disse: “Confesso, Senhor, que és misericordioso em todas as tuas obras. O Senhor é bom e compassivo, misericordioso para com todos”.

Para concluir o Papa fez um apelo aos sacerdotes, dizendolhes explicitamente: “Não me cansarei jamais de insistir com os confessores que sejam verdadeiros sinais da Misericórdia do Pai, acolhendo bondosamente os fiéis, como fez o pai do filho pródigo que foi ao encontro com o amor do perdão, sem repreendê-lo por tudo que de mal fez na vida pregressa”.

Foi o próprio Cristo que disse: “Aprendei o que significa a Misericórdia. É a Misericórdia que eu quero e não o sacrifício, porque não vim chamar os justos e sim os pecadores” (Mt, 9,13).

São João Crisóstomo afirmava: “Tudo o que Deus faz procede de sua Misericórdia”. Santo Tomás de Aquino, com sua brilhante inteligência e sabedoria, diz: “a Misericórdia é a eterna perfeição de Deus Criador, Redentor e Salvador para com todas as criaturas humanas. Por meio de sua Misericórdia retira as criaturas de sua miséria”.

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O Papa Bento XVI disse: “A Misericórdia é o núcleo da mensagem do Evangelho”.

Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

Que cada católico termine bem o Ano Santo da Misericórdia, porque quem recebe de Deus a Indulgência Plenária entrará imediatamente no paraíso, mesmo que não morra logo. É só não pecar gravemente e até levemente. O próximo Ano Santo será em 2025, a não ser que o Papa estabeleça um novo. Até lá muitos vão morrer.


Murilo Martinhaki Secretário do Setor Juventude

Juventude

Nos últimos meses temos acompanhando a ampla mobilização estudantil e ocupações de suas instituições de ensino, através de uma série de mobilizações e intensificações do movimento que é contra a reforma do ensino médio proposta pelo governo federal por meio da Medida Provisória 746/2016. A principal crítica dos estudantes é o fato de a reforma ter sido desenvolvida sem a participação da comunidade e ainda reforçam o pedido por melhorias nas estruturas das escolas, apoio aos professores, melhor merenda, combate a corrupção, principalmente às que envolvem a merenda escolar. Essas ocupações se iniciaram em São Paulo e outros estados também aderiram ao movimento. O Paraná, que é um destes estados, contou ao menos até o fechamento desta edição da revista, com cerca de 850 escolas ocupadas. Existiu ainda um movimento em resposta, não tão organizado, também de estudantes, o “Desocupa já”, alegando que a ocupação das escolas não promove resultado eficaz, pelo contrário, prejudica os estudantesque que perdem suas aulas regulares, e serão prejudicados no vestibular.

ocupamos escolas! Somente dessa forma a gente consegue chamar atenção e ter visibilidade.” Nas manifestações de 2013, contra o aumento da passagem de ônibus, as obras bilionárias e a corrupção, vimos os estudantes atuantes a ponto de obterem resposta do seu próprio governo. Podemos concluir que independente de ser a melhor forma de protesto ou não, ela cumpre seu papel de pressionar o governo para que as demandas das juventudes, carentes de políticas públicas, sejam ouvidas. Que essa organização da juventude estudantil inspire todos os movimentos e grupos de jovens católicos a se unirem, se organizarem e se posicionarem diante de qualquer injustiça e ameaça à vida e como São João Paulo II tanto afirmou: Jovem, não tenha medo de ser santo, de ser de Deus, de ser jovem!

EXPEDIENTE SETOR JUVENTUDE: juventude@arquidiocesecwb.org.br / (41) 2105-6364 / 9605-4072 / 2105-6368 Murilo Martinhak / Assessor Eclesiástico: Pe. Waldir Zanon Junior. Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

Fotos: Movimento Ocupa Paraná

Os estudantes do movimento Ocupa Paraná, afirmam: “não é tão fácil ter visibilidade para a luta sem que se pare algo público. Os professores fazem greve e são ouvidos, os bancários fazem greve e são ouvidos, nós estudantes não fazemos greve, nós

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Animação Bíblico-Catequética

PARÓQUIA E INICIAÇÃO CRISTÃ No dia 23 de outubro, a Comissão Bíblica Catequética da Arquidiocese de Curitiba realizou o VIII Seminário Arquidiocesano de Catequese. O tema geral de estudo foi exatamente o título deste artigo. Mais de 500 catequistas estiveram reunidos em um dia de estudos, oração, partilhas e convivência. Frei João Fernades Reinert levou-nos a profundas reflexões sobre a catequese de inspiração catecumenal e a necessidade de uma paróquia mais catecumenal. Algumas ideias principais serão discorridas a seguir. A iniciação à vida cristã constitui atualmente uma das maiores riquezas da vida da Igreja. Se bem cuidada na vida eclesial propiciará uma catequese mais evangelizadora, mais missionária e mais iniciática. “Ou educamos na fé ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora” (DAp 287). A transmissão da fé nos tempos atuais é colocada em provas. As mudanças sociais e culturais causam também efeitos na vida eclesial e espiritual das pessoas. Trazemos à tona uma leitura breve da crise de fé:

• Constata-se o enfraquecimento da tradição, ou seja, a tradição não mais inicia na fé. Portanto, o catequista deve ser alguém que desperte para a fé e união com Jesus Cristo.

Na vida interna da Igreja também é desafiante o desinteresse pela iniciação à vida cristã. • A formação precária dos leigos e a ausência de novos ministérios na Igreja são sintomas de uma Igreja de cristandade. • Algumas estruturas paroquiais estão esgotadas. Quando a paróquia não é missionária cansa suas lideranças. Não se questiona o valor da paróquia na atualidade, e sim o modelo paroquial convencional e sacramental. Não haverá inspiração catecumenal na catequese e nas demais pastorais se não houver uma transformação no atual modelo paroquial. A paróquia nascida no século quarto praticamente se mantém imutável após dezessete séculos. O atual modelo de paróquia não é um instrumento eficaz de transmissão de fé, pois tende mais a sacramentalizar os que estão nela do que fazer-se missionária e gerar novos cristãos. • A crise de vivência comunitária: pensávamos que bastava trazer as pessoas para a igreja, hoje se percebe que é preciso levar a Igreja até as pessoas. Sem pequenas comunidades vivas e atrativas, torna-se impossível o crescimento da fé.

• Generalizou-se a crença sem pertença: relacionase com Deus, mas sem vínculo com a comunidade. A comunidade não me diz nada, não acrescenta mais nada. Sofremos a crise de identidade religiosa.

Fotos: Juliana Camargo e Geovanni C. De Luca - Pascom

• A crise dos sistemas de valores: o estado está afundado em dicotomias, a desunião e o radicalismo das religiões e suas guerras, a educação sem princípios e as famílias sem estruturas.

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Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016


É famosa, e ainda atual, a frase de Tertuliano: “cristãos não nascem, mas se tornam”. Os cristãos se tornam se o estilo catecumenal acontecer na comunidade. Somente uma Igreja que inicia é capaz de receber novos fiéis iniciados. Sem estruturas eclesiais renovadas e adultas, a inspiração catecumenal passará como um processo pastoral estranho no seio da Igreja. A inspiração catecumenal coloca a catequese em renovação, em perspectiva orante e em configuração missionária. É uma Igreja embalada pelo ato catequético celebrativo, pela gestualidade, pelos sinais visíveis e pela unidade sacramental.

A inspiração catecumenal lança luzes para a renovação pastoral paroquial e a paróquia em renovação consolidará na vida eclesial o dinamismo catecumenal. De um lado, a inspiração catecumenal se faz dependente de uma nova estrutura paroquial; por outro, ela a questiona, a promove, a ilumina. Uma paróquia catecumenal conduz para a inserção comunitária e propicia a experiência com Jesus Cristo. A inspiração catecumenal sinaliza para uma Igreja mais missionária.

Finalizando... Toda a reflexão trazida por Frei João Fernandes Reinart, nesse VIII Seminário, vem ratificar a coerência e a vivacidade com que a Comissão da Animação Bíblico-Catequética vem insistindo em seus projetos, que ainda se encontram em fase de consolidação, em inúmeras de nossas paróquias. Havemos de ressaltar que outras tantas paróquias de nossa arquidiocese vem redescobrindo a importância e a eficácia da inspiração catecumenal em todo e qualquer processo catequético. E o que é ainda mais significativo: vem colhendo frutos abundantes, com a conversão e a inserção na vida cristã de tantos fiéis! O Reino de Deus acontece quando há disposição, vontade, ardor, estudo e planejamento! Santa Mãe de Deus, ajuda-nos a sermos uma Igreja catecumenal e missionária.

Álbum Catequético-Litúrgico 2016/2017 No último dia 23 de outubro, durante o VIII Seminário Arquidiocesano de Catequese, foi lançado o ÁLBUM CATEQUÉTICO-LITÚRGICO 2016/2017! Ouça em nosso site www.arquidiocesedecuritiba.org.br as palavras de nosso arcebispo e das autoras dessa obra tão importante que tem o objetivo de unir CATEQUESE, LITURGIA E A FAMÍLIA!

VEM AÍ O IAFFE 2017! A partir de 21 de novembro estão abertas as inscrições para as Escolas e Cursos do IAFFE 2017, na cúria metropolitana! Atenção! No dia 20, última aula do IAFFE 2016, também estaremos acolhendo inscrições! Peça o folder por email (catequese@arquidiocesecwb.org.br) a partir de 16 de novembro! EXPEDIENTE COMISSÃO DA ANIMAÇÃO BÍBLICO-CATEQUÉTICA: catequese@arquidiocesecwb.org.br (41) 2105-6318 / Coordenação: Pe. Luciano Tokarski / Assessoria: Regina Fátima Menon. Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

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Pe. Rivael de Jesus Nacimento Reitor do Santuário Nossa Senhora de Lourdes Coordenador Geral do Clero

Reflexões

Aprendendo a conviver com a dor da partida de alguém que tanto amei! “Doeu demais e, quando dói do jeito que doeu. A gente chora e grita e urra, e põe pra fora aquela dor. E desafia o Criador e quem se mete a defendê-lo, comigo não foi diferente do que foi com tanta gente que perdeu um grande amor (Pe. Zezinho).

Como ser solidário com familiares ou amigos na hora da partida de alguém que tanto se amou? Ter a certeza que a vida eterna é a nossa esperança e que não se cansa. Quantas pessoas tem medo da morte, ou medo de ficar fragilizado em uma cama? Somos chamados a crer que morte é uma travessia em nossas vidas. A única certeza que temos é que Deus um dia nos tomará em seus braços e nos confortará diante de nossas misérias e nossas fraquezas. Pensamos que é isso que nos consola, a esperança cristã, a fé e a certeza do céu. No hospital desta capital uma cena marca a vida de um sacerdote, onde foi chamado para oferecer o sacramento da unção dos enfermos para uma fiel que se debatia em última agonia. Seu filho e sua neta o aguardavam no saguão de entrada e juntos foram até a Unidade de Tratamento Intensivo. Lá enquanto ele se preparava para o sacramento, o filho da idosa começa a chorar e em um misto de pranto e oração, rezava: - Mãe você está partindo, quero agradecer todas as coisas boas que vivemos juntos. Me perdoe mãe, pela falta de tempo, pelos dias que deixei de te visitar devido minha correria. Saiba o quanto foi importante em minha vida! E vira-se para o sacerdote e diz: - Padre veja os dedos de minha mãe, fragilizados pelo tempo, e gastos em tantos trabalhos. Quanto tricô minha mãe fez para criar-nos.

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Logo que o padre saiu daquele leito sua mãe faleceu. A cena nos inspira a reflexão. Sempre o que consola é a fé na vida eterna, as orações e a amizade. Em inúmeras exéquias que testemunhamos durante o ministério, creio que esses três elementos ajudam a sentir a consolação de Deus. A vida eterna é o que aspiramos neste mundo marcado por dores e sofrimentos. Em nossas vidas todos os dias somos convidados a tornar eternos todos os momentos, por mais simples que eles sejam em nosso cotidiano. Nossa oração é consoladora, é a vida de oração que sustenta uma família enlutada, que ajuda a curar a ferida pela perda do ente querido. Rezar e esperar todos os dias a consolação de Deus pela vida de oração. O outro elemento é a amizade. No momento de dor é o ombro amigo que se torna conforto e local de segurança. Neste mês de novembro iniciamos rezando pelos que já partiram. Que possamos crer sempre no mistério da vida em Deus. E que esta aqui não se acaba, pois fomos restaurados por Cristo, Palavra Eterna do Pai, que com sua Palavra nos diz: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá” (Jo 11, 26). Tenhamos a certeza que o céu é o destino de todos aqueles que são batizados e professam a fé no Ressuscitado.


Especial

Clarissa Grassi Mestra em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná, é presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais. Pesquisa cemitérios há 13 anos e é autora de 3 publicações sobre o Cemitério Municipal São Francisco de Paula.

Cemitério Municipal: a cidade dos mortos No alto do bairro São Francisco, distando cerca de um quilômetro do marco zero da cidade, está localizada a primeira necrópole curitibana. A invocação a São Francisco de Paula em seu nome é por muitos desconhecida, já que grande parte dos curitibanos ainda se refere ao local apenas como “Cemitério Municipal”. Inaugurado por Zacarias de Góes e Vasconcellos em dezembro de 1854, sua abertura marcou o ingresso da capital paranaense aos preceitos higienistas, que pregavam o término dos enterros ad sanctos – no piso ou paredes laterais das igrejas – e a inauguração dos cemitérios extramuros, fora do perímetro urbano.

Foto: Patryck Madeira

Ao longo de seus mais de 162 anos de história, o Cemitério Municipal foi repositório final para anônimos e personalidades, somando hoje, em seus 51.414 metros quadrados, mais de 80 mil sepultamentos. Assim como a cidade dos vivos, a necrópole dispõe de bairros onde tipologias construtivas diversas discursam sobre representações de vida e morte. Das estelas e oratórios esculpidos em mármore Carrara presentes no Centro Histórico, aos mausoléus suntuosos do Batel de políticos e ervateiros, periferia e bairro urbanizado também tiveram suas áreas delimitadas na ocupação progressiva da necrópole.

Entre suas ruas e alamedas, há espaços de destaque, ocupados por famílias influentes em túmulos suntuosos, assim como aqueles marginais, de construções mais simples, imbricados em relações de vizinhança. Diferentes estilos de vida e classes sociais estão representados em tipologias construtivas semelhantes às da cidade dos vivos. Do prestígio do político Vicente Machado, habitante de um dos primeiros mausoléus construídos no cemitério, à simplicidade de uma sepultura ocupada pelo ex-escravo Vicente Moreira de Freitas, um dos fundadores do Clube 13 de Maio, todos gozam da mesma condição: a de ecos de nosso passado. Ora relembrados, mas muitas vezes esquecidos, esses personagens recontam parte da história de Curitiba e do Estado do Paraná. Passear por suas alamedas é revisitar não apenas memórias gravadas na pedra, mas referências construtivas da cidade dos vivos, como o paranismo, o art deco, o ecletismo entre outras. Essa paisagem revela sem acanhamento ciclos migratórios e econômicos, a influência da religiosidade, a secularização do estado, mas, acima de tudo, a necessidade de se constituir uma memória para ser lida, vista e assim evitar o desaparecimento completo de nossos antepassados. Uma cidade de mortos para vivos.

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Especial

Daniele Jasniewski

Luto: Um

CRP 08/12483 - Psicóloga Atua na área de Psicologia Clínica com ênfase em situações de perda e luto

exercício contínuo de fortalecimento da fé Costumo dizer que a intensidade da dor do nosso luto é proporcional à intensidade do vínculo que temos com a pessoa falecida. Quanto maior o vínculo, maior será a dor da perda. À dor da perda damos o nome de luto, o qual, diferente de outras dores, não pode ser curado, mas sim, vivenciado. Então, o luto torna-se parte de nossas vidas, aprendemos a viver com ele. Mas como aprender a viver com uma dor? Como é possível seguir com nossas vidas após a perda de um ente querido? De que forma posso me reorganizar após a cruel, repentina e definitiva mudança em minha vida? Como posso ressignificar minha existência? A resposta para estes e vários outros questionamentos que explodem em nossas mentes durante o luto é a mesma: Fortaleça sua fé! A fé é o elixir definitivo para a dor da perda e, na medida em que a dor nos corrói, devemos aumentar a dose diária de fé, não na esperança de que esse elixir nos traga alívio ou nos faça superar o luto, pois o luto não alivia e não o superamos, mas, como dito anteriormente, aprendemos a viver com ele. Dessa forma, a fé age como uma aliada no aprendizado de como seguir a vida apesar do luto, que será eterno.

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Fortalecer a fé é o objetivo basilar para que o luto torne-se suportável e possamos sair dele positivamente transformados. Devemos fortalecer a fé principalmente na sabedoria Divina que criou a natureza cíclica dos eventos que compõem nossas vidas, pois, se observarmos, vivemos em um mundo cíclico, cheio de estágios, fases e períodos, onde uns são mais prazerosos, outros, nem tanto. Temos, por exemplo, períodos diferentes do dia, as quatro fases da lua, quatro estações do ano, diferentes fases do desenvolvimento humano, etc. Da mesma forma que a natureza divide seus fenômenos em fases, assim também é o luto. De acordo com a psiquiatra Elizabeth Kubler-Ross o luto é um processo natural e saudável que se divide em cinco fases: Negação; Raiva; Negociação; Depressão e Aceitação. Cada fase possui suas próprias particularidades e manifestações, momentos mais tristes, momentos mais tempestuosos, mas a fé e a certeza de que um dia chegamos à fase da aceitação são os elementos fundamentais para que possamos viver com qualidade de vida, embora, em luto. A fase da aceitação não significa que o luto chegou ao fim, mas sim, que aprendemos a viver com ele. A fé é a luz que ilumina o caminho que nos leva à fase da aceitação e nos tira


da estagnação da fase da negação, ou da fase da depressão que nos impede de viver com boa qualidade de vida. A fé de que mesmo eu estando enfraquecido pela dor conseguirei chegar a um estágio melhor, onde a escuridão na qual o luto nos coloca será transformada em dias melhores. Nesse sentido, lembremo-nos do apóstolo Paulo que nos ensina uma valiosa lição sobre a fé durante nossas dores e fraquezas: “Porque quando estou fraco então é que sou forte” (2 Co 12:9-10). Neste versículo, Paulo, entre outras coisas, refere-se à força da fé que age em nós durante nossos momentos difíceis. No caso da perda de alguém que amamos, a força da fé nos coloca em movimento, apesar da dor paralisante do luto. Paulo também nos oferece um belo exemplo de como deve ser o exercício do trabalho de luto, devemos tornar forte a nossa fé e nossa fé nos fortalecerá, principalmente quando estivermos abatidos, derrotados, enfraquecidos. O luto torna-se também um momento de fortalecer a crença de que tudo passa, portanto, a dificul-

dade de viver com a dor também passará. O luto pode ser comparado ao processo de transformação da lagarta em borboleta, pois a lagarta fechase na escuridão solitária do casulo e lá permanece, sofrendo, mas confiante de que a natureza estará fazendo seu trabalho e a levará à uma nova fase de vida, a fase de poder voar mesmo depois de ter sentido a dor das mudanças, das separações, da solidão, da perda definitiva e irreversível de seu estado de lagarta. Da mesma forma, nós, seres humanos quando em situações de luto, devemos também nos permitir sofrer, chorar, sentir a raiva, a solidão e permitir todas as emoções e pensamentos negativos que surgem dentro do nosso casulo/luto, porém, mantendo nossa fé em dias melhores e de que chegar à fase da aceitação é possível. Portanto, mesmo após a morte de alguém que amo, se mantenho viva a minha fé, posso descobrir que ainda é possível viver com boa qualidade de vida apesar de trazer comigo a constante dor do luto e uma vez que o luto é constante, posso transformá-lo em um exercício contínuo de fortalecimento da fé.

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Família e Vida

Diácono Juares Celso Krun Assessor Eclesiástico da Comissão Família e Vida

Da vida à eternidade A vida termina com a morte? O Catecismo da Igreja Católica afirma que: “a morte é o termo da vida terrestre. Nossas vidas são medidas pelo tempo, ao longo do qual passamos por mudanças, envelhecemos e, como acontece com todos os seres vivos da terra, a morte aparece como o fim normal da vida. [...] a lembrança de nossa mortalidade serve também para recordar-nos de que temos um tempo limitado para realizar nossa vida” (cf. n. 1007). Infelizmente este tema da morte produz, na maioria das pessoas, uma atitude de rejeição muito forte. “Vamos mudar de assunto!” é uma das expressões usadas, mostrando o desconforto e o incômodo que causa.

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Há várias possibilidades para refletir sobre a morte. A própria morte, a morte do cônjuge, dos pais, dos filhos. A morte natural, a morte provocada, a morte violenta, a morte após uma doença. A relação vida e morte, a forma de enfrentar a morte, o luto. O capítulo 15 da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios pode ser um guia para nossa reflexão, visto que fala da ressurreição dos mortos, dando sentido à vida e à morte. Destaco aqui apenas os versículos 54 e 55: “quando, pois, este corpo corruptível estiver revestido da incorruptibilidade, e quando este corpo mortal estiver revestido da imortalidade, então se cumprirá a palavra da Es-


critura: «A morte foi tragada pela vitória. Onde está ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? (Os 13,14)»”. O Papa Francisco na exortação apostólica Amoris Laetitia ao tratar das perspectivas pastorais, no capítulo 6 com o subtítulo “Quando a morte crava o seu aguilhão”, lembra da importância de se estar atento ao tema e ao acompanhamento das pessoas que sofrem a perda de familiares: Não podemos deixar de oferecer a luz da fé para acompanhar as famílias que sofrem em tais momentos. O abandono seria uma falta de misericórdia e, ao mesmo tempo, perder uma oportunidade pastoral com o consequente fechamento para qualquer eventual ação evangelizadora (cf. AL n. 253). Outro aspecto é em relação à angústia de quem perdeu uma pessoa amada, em especial quando se trata de um filho ou uma filha, muitas vezes resultando naquela reação de se “chatear com Deus”: por que eu, Senhor? Por que justamente o nosso filho? Considere-se também a viuvez, em que alguns assimilam mais facilmente a nova condição, dedicando-se mais aos filhos e netos, enquanto outros necessitam do apoio da comunidade cristã, principalmente se forem indigentes (cf. AL n.254). O acompanhamento deve ser feito durante o período de luto pelos falecidos, momento em que são feitos questionamentos sobre as causas da morte, as omissões, as decisões, as dúvidas. E aqui é preciso ter atitude de “não morrer junto com quem

faleceu”, mas saber que temos ainda uma missão a cumprir e prolongar a tristeza não faz bem. Há um fato: aquela pessoa real se encontra no além. E é assim que tem que ser amada. Precisa-se aceitá-la transformada, como é e está agora. Vale lembrar de Maria Madalena querendo abraçar Jesus ressuscitado e ele pediu que ela não o tocasse (cf. Jo 20,17) para a levar a um encontro diferente (cf. AL n. 255). A fé nos assegura que Jesus ressuscitado sempre estará conosco e que aqueles que morrem têm uma nova vida, essa sim, plena. A Bíblia diz que Deus nos criou por amor e nos fez de um jeito que nossa vida não termina com a morte (cf. Sb 3, 2-3) e, de acordo com São Paulo, teremos um encontro com Cristo imediatamente após a morte: “‘desejo ardentemente partir para estar com Cristo” (Fl 1, 23). Com efeito, “os nossos entes queridos não desapareceram nas trevas do nada: a esperança assegura-nos que eles estão nas mãos bondosas e vigorosas de Deus” (cf. AL n. 256). Duas coisas importantes. A primeira é rezar por aqueles que morreram como uma forma de nos comunicarmos com eles (cf. AL n. 257). A segunda é que “se aceitarmos a morte, poderemos nos preparar para ela. [...] Quanto melhor vivermos nesta terra, tanto maior felicidade poderemos partilhar com os nossos entes queridos no céu. Quanto mais conseguirmos amadurecer e crescer, tanto mais poderemos levar-lhes coisas belas para o banquete celeste.” (AL n. 258).

EXPEDIENTE Comissão da Família e Vida: Assessor Eclesiástico: Diácono Juares Celso Krun Sonia Biscaia – soniaabs@arquidiocesecwb.org.br / 2105-6309

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Reflexão

Padre Juarez Rangel Coordenador do Núcleo de Bioética da Arquidiocese de Curitiba

A visão da Igreja sobre: eutanásia, distanásia e ortotanásia A morte sempre configurou um mistério para todo ser humano, causando dúvida, desconforto, distância. Porém, a maneira do acontecimento em si pode ressignificar toda uma vida, deste último suspiro no ato de partir, como quando dizemos: “morreu com dignidade” ou “partiu fora do tempo”.

Eutanásia: etimologicamente, a palavra eutanásia signi-

fica uma morte suave, boa, sem sofrimentos atrozes. Hoje já não se pensa e concorda tanto no significado originário do termo, mas se pensa, sobretudo, na intervenção da medicina para atenuar as dores da doença ou da agonia. Acontece que o termo é utilizado num sentido mais particular, como significado de “dar morte por compaixão” e para eliminar radicalmente os sofrimentos extremos, ou evitar o prolongamento de uma vida penosa que poderia trazer encargos demasiados pesados para as famílias ou para a sociedade. Por eutanásia entendemos uma ação ou omissão que, por sua natureza ou nas suas intenções, provoca a morte a fim de eliminar toda a dor. Portanto, consiste em todo o tipo de terapia ou atuação que visa objetiva e intencionalmente, a antecipação da morte.

Distanásia: (do grego dis, mal, algo mal feito, e thanatos,

morte) é etimologicamente o contrário da eutanásia. Consiste em atrasar o máximo possível o momento da morte usando todos os meios, ainda que não haja esperança alguma de cura, e ainda que isso signifique infligir ao moribundo sofrimentos adicionais e que, obviamente, não conseguiram afastar a inevitável morte, mas apenas atrasá-la umas horas ou alguns dias em condições deploráveis para o enfermo. Também pode ser utilizado como forma de prolongar a vida de modo artificial, sem perspectiva de cura ou

Ortotanásia: morte digna, sem abreviações desneces-

sárias e sem sofrimentos adicionais, isto é, “morte em seu tempo certo”. Com o prefixo grego orto, que significa “correto”, ortotanásia tem o sentido de morte “em seu tempo” certo, sem abreviação nem prolongamento desproporcionados do processo do morrer. “Consiste na aceitação razoável da morte natural. Isto não dispensa medidas analgésicas e humanistas cabíveis, eventual assistência psicológica e religiosa, mesmo quando a analgesia diminui a consciência e apressa a morte, como justificou” (Pio XII)

Posição da Igreja Católica segundo o Catecismo (nº 2276-2279): Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas para levar uma vida tão normal quanto possível. Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia consiste em por fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível. Assim, uma ação ou uma omissão que, em si ou na intenção, gera a morte a fim de suprimir a dor constitui um assassinato gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito ao Deus vivo, seu Criador. O erro em juízo no qual se pode ter caído de boa-fé não muda a natureza desse ato assassino.

melhora. É a agonia prolongada, é a morte com sofrimento físico ou psicológico do indivíduo. Distanásia significa prolongamento exagerado da morte de um paciente. Nesta conduta não se prolonga a vida propriamente dita, mas o processo de morrer. Pergunta-se até que ponto deve prolongar o processo do morrer quando não há mais esperança de reverter o quadro, ou seja, quando a morte é iminente. É chamada de também obstinação terapêutica.

É a situação em que se reconhece a inutilidade do tratamento para manter vivo o paciente. Neste caso, recorre-se aos cuidados paliativos sem, contudo, utilizar meios para abreviar a vida. É a situação intermediaria entre a eutanásia e distanásia. A ortotanásia, diferente da eutanásia, é sensível ao processo de humanização da morte e o alívio das dores e não incorre em prolongamentos abusivos com a aplicação de meios desproporcionais que imporiam sofrimentos adicionais. Pode-se entender no reconhecimento que a “hora” natural da partida chegou e Deus me espera, tendo vivido e cuidado da vida como dom, agora jaz a partida em paz.

Referência utilizada: Pe. Mário Marcelo Coelho, scj. O que a Igreja Ensina... Ed. Canção Nova.

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Dimensão Social

João Ferreira Santiago Teólogo, Poeta e Militante.

Perder e ganhar faz parte da vida e nos ensina a viver São muitas as formas com as quais a sociedade lida com o tema da perda. Aprendemos desde cedo, por exemplo, que o contrário de perder é ganhar, e mais ainda, que ganhar é coisa de quem é forte e inteligente! E perder, então, é coisa de quem é fraco e, no mínimo, menos inteligente. Essa pedagogia nos é apresentada desde quando a gente nasce e é legitimada por diversas formas de ação. Somos “educados” desde pequenos para competir. É isso o que nos ensinam as dinâmicas da catequese, da sala de aula, das brincadeiras em família e, com isso, temos dificuldades de aprender com as derrotas e com as perdas. Aprender a como lidar com as perdas, mesmo que aparentemente pequenas, não é uma tarefa simples. Mas é essencial. O luto, por exemplo, é sempre algo que nos desacomoda, nos enfraquece e nos faz refletir. Nos ensina? Certamente que sim. A sabedoria popular e antiga, dita nas palavras de minha avó materna, dona Maria Do Carmo, diz que “é a dor quem nos ensina a gemer”. A dor da perda deve estar incluída aí. Jesus, no entanto, nos ensina que “pois quem quiser salvar a própria vida, a perderá; mas quem perder a própria vida por causa de mim, a encontrará” (Mateus 16, 25).

toda a nossa estrutura. Há quem diga que é bobeira, certamente não sabe o que é amar, ou então não sabe o que é perder um amor! A Igreja precisa entender que no amor que aproxima duas pessoas, sejam dois adolescentes, sejam pessoas idosas, ali está presente o amor de Deus. Não pode existir amor maior ou amor menor. Existe amor! Perder um amor é sempre uma perda significativa, em qualquer circunstância. Perder um emprego, o que muitas vezes é relativizada, e outras vezes até se busca culpar quem o perde por isso, leva muitas famílias à desestruturação. Por vezes leva a pessoa a perder, mesmo que por determinado tempo, a própria fé. Humanizamo-nos também à medida que nos vamos tornando mais sensíveis às perdas dos outros. Entre as diversas perdas estão também os sonhos. Perder a capacidade de sonhar, ou mesmo de acreditar nos sonhos, é uma grande perda. Afinal, como diz, na canção, “Guerreiro Menino”, o poeta Gonzaguinha, “Um homem se humilha, se castram seu sonho. Seu sonho é sua vida. E a vida é trabalho. E sem o seu trabalho, um homem não tem honra. E sem a sua honra, se morre, se mata. Não dá pra ser feliz. Não dá pra ser feliz”.

O nosso tempo também nos diz, de diversas formas, que um dos bens mais preciosos e que não se deve perdê-lo por qualquer coisa é o tempo. Aliás, depois que o tempo virou moeda, a vida virou mercadoria. Parar para meditar, para ouvir alguém, sobretudo quando se trata de pobre, é visto como perda de tempo. Jesus, no entanto, vivia “perdendo” tempo assim. Há muitos ainda que consideram perder tempo ler um livro, ouvir os pássaros cantando nas árvores da praça, livres e soltos. Dispor-se a ouvir as mesmas histórias repetidas como se fosse pela primeira vez, de um idoso ou de uma criança, então, nem se fala!

Todos nós conhecemos alguém que perdeu o horário, perdendo assim um lugar no ônibus, ou no avião, perdendo com isso, uma reunião, um negócio, uma festa e até dinheiro, ou o emprego. Porém, sabemos também de pessoas que ganharam a vida, ou deixaram de perdê-la, por causa de um atraso. Quantas pessoas que perdem o horário agendado para uma consulta médica a qual esperam há meses! E, sobretudo, os jovens que perdem o horário para fazer a prova do vestibular e veem o portão se fechando à sua frente, adiando seu sonho por seis meses ou por um ano! Resta-nos saber que de todas estas situações tiramos lições, aprendizados.

A vida cura a vida, e como escola educa a gente e nos ensina o essencial. Inclusive nos ensina que há perdas que são essenciais para o nosso crescimento humano, intelectual e espiritual. O que não significa ser fácil lidar com elas. Vamos perdendo a partir da hora em que nascemos. Perdemos o conforto da vida uterina que, pelo ganho do desenvolvimento vai se tornando desconforto. Nascemos e vamos acumulando perdas. Desde o colo ou dos colos, o peito, a mamadeira, os mimos. Ganhamos crescimento, autonomia, mobilidade, mais liberdade. Aprendemos a caminhar. São ganhos que nos levam para novas fases da vida. Assim parece ser a vida, para ganhar algo se tem que saber perder. Aprendemos com os mais velhos que ninguém pode ter tudo, ganhar tudo. Os grandes atletas para ganhar títulos e medalhas abrem mão de lazer e de conforto. O que entendemos e o lugar que damos às perdas e aos ganhos influenciam os vínculos que nos permitimos ter e manter e o nível de pertencimento que nos permitimos construir. Somos influenciados pelas ditas pequenas perdas. Pequenas para quem? Podemos nos perguntar. Assim, a vitória ou a derrota do time no final de semana afeta o humor e a emoção de muita gente! Ou não? A perda de um amor nos desestabiliza em

A vida, então, como escola, onde não se pode matricular por mais de uma vez, é como diz a música de Guilherme Arantes, “Aprendendo a jogar”, tão bem interpretada por Elis Regina, “Vivendo e aprendendo a jogar. Vivendo e aprendendo a jogar. Nem sempre ganhando. Nem sempre perdendo. Mas, aprendendo a jogar”. Afinal, perder e ganhar faz parte da vida e nos ensina a viver. E se a gente observar com a sabedoria que só o tempo e o distanciamento dos fatos nos permitem, aprendemos mais com as perdas. São poucos os momentos da vida que nos revelam tanto de nós mesmos quanto as perdas. Nesta aventura incrível que é a vida na terra, mesmo concordando com o filósofo Mario Sérgio Cortela que a gente não aprende errando, mas corrigindo os erros, o nosso grande desafio é não perdermos a capacidade de sempre inventarmos novas formas de errar. No contexto bíblico, ninguém parece ter lidado mais com as perdas do que Jó, e vem dele também uma lição que nos serve de referência. Esperemos o desfecho dos fatos para darmos a última palavra. “Reconheço que tudo podes, nenhum projeto para ti é irrealizável. Sim falei, sem compreender, de maravilhas que excedem o meu saber. Meu ouvido ouvira falar de ti, mas agora meus próprios olhos te viram. Por isso eu caio em prantos e me arrependo, sobre o pó e sobre a cinza” (Jó 42, 2).

EXPEDIENTE COMISSÃO DA DIMENSÃO SOCIAL: dimensaosocial@arquidiocesecwb.org.br. (41) 2105-6326 | Coordenadores: Pe. Antônio Fabris, Diácono Gilberto Félis e Diácono Antônio Carlos Bez | Maria Inês Costa: (41) 2105-6326 Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

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Liturgia

Pe. José Airton de Oliveira

Oração e meditação para quem está de luto Que a paz do Senhor esteja com todos! Através desta mensagem queremos rezar a partir da palavra de Deus, que nos consola diante da perda de um ente querido que amamos tanto. Somente através da oração é que o Senhor nos conforta para superarmos as tristezas da vida que nos marcam profundamente e às vezes fica difícil superar. Neste sentido, lemos na primeira carta de São Pedro: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo por sua grande misericórdia. Ressuscitando a Jesus Cristo dos mortos, ele nos fez renascer para uma esperança viva. Para uma herança que não se corrompe, não se mancha e não murcha. Esta herança está reservada no céu para vocês que, graças à fé, estão guardados pela força de Deus para a salvação que está prestes a revelar-se no final dos tempos.” (1 Pe. 1,3-5).

Senhor Deus nosso Pai, celeste e misericordioso, pedimos hoje por todos os que vivem a experiência de morte de seu familiar ou amigo, curai as feridas, sarai as dores da alma para que não nos desesperemos e confiemos em tua misericórdia. Que nossa esperança seja em ti que nos salva e dá o descanso a todos os que adormeceram. Suscitai o dom da fé na Ressurreição. Cremos em ti que a vida vence a morte, assim como o Pai ressuscitou o seu filho também cremos na ressurreição que um dia todos receberemos por tua graça. Ajudai Senhor a superar a dor. Ajudai-nos a aceitar a tua vontade na nossa vida, que possamos compreender que a nossa vida é passagem para a eternidade e que possamos nos preparar dignamente para este dia, na certeza que um dia receberemos a herança que nos está sendo preparada no céu para nós, fortalecei e aliviai todos os nossos sofrimentos diante da realidade da morte. Que as almas dos fiéis defuntos pela misericórdia de Deus descansem em paz. Amém. Por Cristo Nosso Senhor.

EXPEDIENTE Comissão Litúrgica: peairton@hotmail.com / (41) 2105-6363 / Coordenação: Pe. José Airton de Oliveira

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Pe. Roberto Nentwig

Reflexão

Reitor do Seminário Filosófico Bom Pastor

Alguns pontos sobre a vida após a morte Como podemos saber sobre a vida depois da morte? Jesus mesmo disse: “Tende fé em Deus. Tende fé em mim também. Na casa do meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar-vos um lugar” (Jo 14,1-2). Cremos revelação realizada por Jesus, em suas palavras. Nossa certeza está alicerçada em sua ressurreição. Por que orar pelos mortos? Nós, católicos, acreditamos que a morte não nos priva de uma “comunicação” com os irmãos e irmãs. Assim, podemos rezar pelos que já partiram. Quando fazemos isso, unimo-nos aos falecidos amando-os em Deus, pois toda oração é um gesto de amor. Se esta é eficaz para ajudar os vivos, será também útil para dar forças para aqueles que precisam completar o seu caminho. A fundamentação bíblica mais clara a este respeito está em 2 Mac 12,38s. O texto nos diz que Judas Macabeus percebeu que os soldados mortos de seu exército tinham cometido idolatria; diante da prática dos idólatras, o exército fez súplicas para que Deus perdoasse o pecado cometido. Rezamos pelos mortos para que eles completem o que ainda falta para serem plenos, pois apenas desfrutaremos da glória quando estivermos plenamente convertidos. O Céu não é um lugar em que se entra, mas a participação do amor de Deus de acordo com a mudança de cada pessoa. Quem não muda o coração aqui, terá a mesma dificuldade para fazê-lo depois da morte. O que chamamos de Purgatório não é um lugar de tormentos, mas uma última oportunidade de conversão para Deus, de total empobrecimento de si, uma graça que Deus nos concede para que sejamos plenos à estatura do Cristo Jesus (Ef 4,13). O que falta para o ser humano completar na sua vida, alcançando a unidade em Deus é uma oferta gratuita. Deus acrescenta de graça, realizando segundo a disposição da pessoa uma última e definitiva “evolução na morte”. A nossa oração dá forças para que os falecidos façam este caminho. Interessante observar o que nos diz São Paulo: 1 Cor 3,9-15. O que significa dizer que Deus julgará os vivos e os mortos? Na morte, não nos encontraremos com um soberano aterrador, mas com Jesus Cristo, aquele que acolhe a todos com misericórdia. No encontro com Deus, a pessoa conhece a si mesma, tendo consciência de como foi a sua vida e qual era o projeto de Deus para a sua existência. A dor do encontro com Deus é perceber que Ele tinha um belíssimo plano para a sua vida, mas este não se concretizou. Assim, não é Deus que julga de fora, mas o próprio ser humano se julga, quando Deus revela a ele, com total

clareza, a bondade de suas ações e as consequências dos seus pecados. Jesus nos ensina que quando chegarmos diante do Rei, Ele não nos perguntará sobre atos religiosos, nem fará lista de pecados, mas nos perguntará se tivemos a capacidade de reconhecê-lo na pessoa do irmão. O que nos salva é a caridade: é dar de beber a quem tem sede, de comer a quem tem fome, é consolar quem sofre... (Mt 25,31ss.). E o Céu? O Céu não é somente uma conquista, mas um dom de Deus, que deseja que todos participem de sua morada, que nenhum de seus filhos e filhas se perca (Jo. 6,39). Não podemos acreditar em um Deus que quer a nossa condenação, nem achar que vamos sozinhos, somente pelos nossos esforços, para o céu. Não acreditamos em um mundo totalmente espiritualizado, mas na ressurreição dos mortos. Oficialmente, a Igreja ensina que aguardamos (mesmo aqueles que já veem Deus face a face) o dia da plenitude do Reino definitivo. Então acontecerá a ressurreição dos mortos. Deus nos dará um corpo imperecível (cf. 1Cor 15) e renovará toda a criação – o mundo visível, material (cf. Rm 8,19-22). Portanto, este mundo não deve ser desprezado, pois será renovado para a glória de Deus. Na morada do Céu seremos nós mesmos, com nossa consciência, e teremos a lembrança de nossa história e das pessoas que conviveram conosco. Por que meditar sobre a morte? A vida é passageira. Presenciamos mortes de idosos, de jovens, mortes previsíveis e repentinas. Não sabemos quando será o fim de nossa vida terrena. Lembrar-se dos que morreram é uma boa oportunidade para pensar sobre a nossa vida. A existência terrena tem consequências eternas. O que cada um de nós está fazendo de sua vida? Estamos preparados para fazer a nossa páscoa para a vida totalmente renovada e prometida pelo Senhor? Vivemos na esperança Vivemos movidos pela esperança da eternidade. Nossa fé vive unida à esperança. A saudade dos entes queridos não deve ser maior do que a certeza da vitória “escrita e gravada com ponteiro de ferro e com chumbo, cravada na rocha para sempre” (Jó 19,24). A verdadeira esperança cristã não nos faz desprezar este mundo, esperando a felicidade para além da morte. Pelo contrário, movidos pelo que virá, lutamos para que o Céu seja antecipado aqui e agora, empenhando-nos em realizar sinais do Reino. Quanto mais humano este mundo for, mais perto do Céu ele estará. Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

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Clóvis Venâncio Mensagem da Equipe Arquidiocesana da Pastoral do Dízimo

Dízimo

Transitoriedade da vida terrena

e a solidariedade cristã

Em novembro, nós católicos somos convidados - de modo especial - a exercitarmos nossos compromissos de cristãos, a nos conscientizarmos sobre a transitoriedade de nossa vida neste mundo e, consequentemente, permanecermos alertas para não sermos pegos de surpresa, procurando sempre orar e vigiar com vistas a alcançarmos a esperança viva de salvação que se experimenta a partir da fé. Com efeito, o mês tem início com as solenidades de “Todos os Santos e Santas”, as celebrações do “Dia de Finados” e contempla, também, o encerramento do ano litúrgico que se dá com a solenidade de “Cristo Rei”, que neste ano será no domingo, dia 20. É um tempo em que a Igreja, como nossa mãe e mestra, procura estimular os fiéis em geral a refletirem sobre o significado e verdadeiro sentido de nossa “passagem” por este mundo. De fato, a mencionada passagem é o tempo que nos é concedido pelo Criador para buscarmos conhecer e por em prática, como autênticos cristãos, os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo contidos nos

Evangelhos, Cartas Apostólicas e demais livros que, na Bíblia, compõem o “Novo Testamento”. Assim conscientizados, saberemos que uma das formas de estarmos vigilantes é vivenciarmos fraternalmente a partilha de tudo o que somos e de tudo o que temos, desapegando-nos dos bens materiais ao não considerálos como de propriedade exclusiva nossa, já que deste mundo, materialmente falando, nada levaremos. Dentro deste contexto, na Igreja Católica, compete à Pastoral do Dízimo tornar evidente aos fiéis, que a contribuição dizimal, de forma espontânea e generosa, caracteriza um autêntico processo de conversão pessoal, considerando que o Dízimo é, realmente, uma expressão concreta de partilha e amor a Deus e aos irmãos. Portanto, além de se manter em permanente contato com Deus pela oração e pela reflexão sobre Sua Palavra, estar vigilante implica, inclusive, em praticar as obras de misericórdia e solidariedade com os irmãos, pois, como nos diz São Tiago, “a fé sem as obras é morta em si mesma e não nos alcança a salvação eterna” (Tg 2, 17).

O QUE FOI O 17º SEMINÁRIO ARQUIDIOCESANO DA PASTORAL DO DÍZIMO O evento realizado na Casa de Retiros Nossa Senhora do Mossunguê ocorreu no domingo, dia 9 de outubro, e contou com a participação de 170 pessoas provenientes de 53 paróquias de nossa Arquidiocese. O evento teve como assessor o padre Jerônimo Gasques, integrante da Diocese da Presidente Prudente-SP, profundo conhecedor do assunto Dízimo. Ele abordou com clareza o conteúdo do recente documento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que se constituiu no tema proposto para o Seminário, qual seja, “Aspectos do documento 106 da CNBB – O Dízimo na Comunidade de

Fé”, insistindo categoricamente sobre a necessidade de os integrantes da Pastoral do Dízimo se aprofundarem no conhecimento deste e dos demais documentos que constituem as Diretrizes da Igreja Católica para o processo de evangelização no Brasil. Outrossim, o padre Jerônimo, em suas exposições, procurou dar ênfase sobre a necessária integração das Equipes Paroquiais do Dízimo com os CAEPs, Pastorais Sociais e, especialmente, com as equipes da catequese paroquial, com vistas ao bom êxito do processo de evangelização.

EXPEDIENTE

COMISSÃO DA DIMENSÃO ECONÔMICA E DÍZIMO: Coordenador da Comissão: João Coraiola Filho Padre Referencial da Pastoral do Dízimo: Pe. Anderson Bonin / Coordenador da Pastoral do Dízimo: William Michon

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Destaque

Asilo São Vicente de Paulo:

90 anos de acolhida aos que mais precisam No início da década de 1920, a cidade de Curitiba contava com quase 80 mil habitantes e já enfrentava os mesmos problemas das grandes cidades com o aumento da população e, ao mesmo tempo, do número de idosos sem famílias, crianças abandonadas, pessoas com transtornos mentais. Em 1922 o governador do Paraná à época, Caetano Munhoz da Rocha, afirmou que era necessário criar um “Asylo de Mendicância” onde estas pessoas pudessem encontrar abrigo, alimento, vestuário e amparo moral. Naquele mesmo ano a construção do Asilo foi autorizada, com a utilização do terreno doado pela Prefeitura de Curitiba. No dia 30 de outubro de 1926 o Asilo São Vicente de Paulo era fundado como lar de caridade, concebido para atender as necessidades de uma cidade que começava a enfrentar os dramas e impasses do crescimento urbano. O evento contou com a presença de várias autoridades e foi manchete de capa nos jornais Gazeta do Povo e O Estado do Paraná. Desde sua fundação até o ano de 2004 o Asilo foi administrado com muito zelo pela Congregação das Irmãs Passionistas de São Paulo da Cruz.

Asilo na época da fundação.

Nestes 90 anos de existência há muita história para ser contada. Um dos fatos marcantes aconteceu durante a visita do Papa João Paulo II a Curitiba, que no segundo dia de sua passagem pela capital abençoou idosas da instituição, que acompanhavam a celebração no Centro Cívico. Mantido desde 2009 pela Ação Social do Paraná, coordenada pelo Padre José Aparecido Pinto, o Asilo é responsável atualmente por garantir o bem-estar de 160 idosas em atendimento de longa permanência, dirigido a mulheres que possuem graus diferenciados de dependência que demandam cuidados específicos. O Asilo é referência no atendimento à pessoa idosa. No local, elas contam com todos os cuidados diários e com um atendimento humanizado, incentivando a autonomia e respeitando a individualidade, proporcionando assim maior qualidade de vida. Além de toda assistência, as idosas são envolvidas em atividades de lazer, culturais e educativas. Fica o agradecimento a todos que contribuíram, direta ou indiretamente, para a construção desta tão importante instituição que a tantas pessoas acolheu.

Altar na capela antiga e capela atual. É vinculada à Paróquia Senhor Bom Jesus do Cabral.

Conheça o Asilo São Vicente de Paulo End: R. São Vicente, 100 – Juvevê Curitiba-PR Fone: (41) 3313-5353 Site: www.asilosaovicente.org.br

Toda contribuição para manter a qualidade de vida e bem estar das idosas é bem vinda Arquidiocese de Curitiba | Novembro 2016

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Dimensão Missionária - COMIDI

Em sua comunidade já tem a Infância e Adolescência Missionária? Não? Então saiba como implantar através de 12 passos!

1. A SEMENTE: Alguém na comunidade já ouviu fa- 8. A METODOLOGIA: A Infância e Adolescência lar, ou leu, ou tem experiência de vida na IAM? Eles são a sementinha da qual pode surgir a grande árvore desta Obra Missionária. Assim, quem tem a primeira ideia deverá começar a falar sobre ela com outras pessoas.

2. O TERRENO: O primeiro passo a ser dado para implantar a IAM é falar com os responsáveis da Igreja local. Sem o apoio e a aprovação da liderança da Igreja local não se deve começar a IAM.

3. A EQUIPE: Uma vez colocada a semente e garantido o espaço na Igreja local é necessário que se forme uma equipe de, pelo menos, três ou quatro pessoas, que se disponham a levar em frente este trabalho.

4. O PREPARO: Esta “Equipe” deverá primeiro estudar a Obra: história, carisma, diretrizes e orientações, metodologia de trabalho, espiritualidade, objetivos e finalidades.

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. O CONVITE: O convite é feito a todas as crianças e/ou adolescentes da paróquia, da comunidade. Campos privilegiados para lançar o chamado são: as famílias engajadas na vida da paróquia ou comunidade.

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. A SELEÇÃO: O convite para participar do grupo da Infância ou da Adolescência Missionária deve apresentar às crianças e adolescentes a seriedade do compromisso que estão assumindo. Oração, sacrifício e solidariedade.

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. O GRUPO: As crianças e adolescentes que aceitarem a proposta deverão ser organizados em grupos de 12 crianças e/ou adolescentes, ou conforme a realidade local, em que cada grupo seja acompanhado por um/a assessor/a.

EXPEDIENTE

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Missionária têm um método, chamado de Quatro Áreas Integradas. Isto significa que cada tema, cada assunto é trabalhado em quatro perspectivas diferentes, porém integrados, que interagem: realidade missionária; espiritualidade missionária; compromisso missionário e vida de grupo.

9. A ORGANIZAÇÃO: Nos primeiros meses, o grupo das crianças ou dos adolescentes missionários deverá ser orientado pelo/a Assessor/a, que preparará seus membros para caminharem sozinhos.

10. A FORMAÇÃO DOS COORDENADORES: Crianças e adolescentes não nascem prontos para dirigir o grupo. Precisam de preparação. Isto será feito pessoalmente pelo/a assessor/a, mas também cada ano a paróquia/diocese organizará um Encontro de Formação para Coordenadores.

11.

A FORMAÇÃO PERMANENTE DOS ASSESSORES: Os/As Assessores/as são a alma da IAM. Deles depende em muito a perseverança das crianças e adolescentes, a fidelidade ao carisma da Obra, o trabalho de conjunto com as pastorais da Igreja local. Para isso também os/as assessores/as precisam cuidar muito da sua formação permanente.

12. TRANSBORDAR: A IAM deve estar aberta para ser multiplicadora do ideal missionário no meio do Povo de Deus.

Ficou com vontade de implantar a IAM em sua comunidade ou paróquia? Faça contato com Ir. Patricia ou Patryck no Centro de Pastoral 2105-6375 / 2105-6376.

COMISSÃO DIMENSÃO MISSIONÁRIA: (41) 2105-6375 comidi@arquidiocesecwb.org.br / Ir. Patrícia / Patryck (41) 2105-6376


Está chegando em nossas comunidades o Caminhando 30 e neste ano ele está organizado com os seguintes passos: PARA O ANIMADOR: Em poucos parágrafos, o autor apresenta para o animador do grupo orientações básicas acerca da condução do encontro e na preparação do mesmo. 1 – ACOLHIDA: Com a Acolhida dos donos da casa; Oração para o início do encontro; Canto inicial; A apresentação do tema do encontro. 2 – FATO DA VIDA: É contado um fato da vida para que a reflexão parta sempre da realidade. 3 – PARA CONVERSAR: Momento onde os participantes partilham as impressões sobre o fato lido e comparam com a sua própria experiência de vida. 4 – PALAVRA DE DEUS: Este é o momento central do encontro. Cada membro do grupo deverá ter a sua Bíblia, para que todos possam acompanhar bem a leitura. Nesta edição do CAMINAHANDO a Arquidiocese elaborou um CD que auxiliará os grupos neste momento. 5 – PALAVRA DA IGREJA: Aqui encontra-se uma explicação ou complementação do tema abordado no encontro: uma ajuda teológica, doutrinal ou um aprofundamento para a reflexão. 6 – PALAVRA DA COMUNIDADE: Após a escuta atenta da “PALAVRA DE DEUS” e do conteúdo “PALAVRA DA IGREJA”, o próximo passo é a palavra e a ação da pequena comunidade orante. O que o Senhor nos pede? O que faremos de fato? 7 – PALAVRA PARA DEUS: A oração comunitária conclui o encontro da Pequena Comunidade de Fé. Há sempre uma sugestão, que pode ser alterada pelo grupo, conforme inspiração da pequena comunidade reunida. Valores de cada KIT com os quatro fascículos: Até 100 unidades: R$ 7,00 . De 101 a 500 unidades: R$ 6,50. Acima de 500 unidades: R$ 6,00. CD (audiobook): R$ 5,00. A cada 10 conjuntos de “Caminhando 30”, a comunidade recebe gratuitamente os CDs com a Leitura Orante. Solicite: sac@arquidiocesecwb.org.br - (41) 2105 6325

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Painel Informativo

Pe. Danilo Pena Assessor da Pastoral da Aids – Arquidiocese de Curitiba e Regional Sul 2

Pastoral da Aids:

“compaixão é o que eu quero” Vivemos em tempos de Aids. Essa afirmação toca a nossa realidade e nos faz reconhecer que a “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, trouxe ao mundo não somente mais uma doença sem cura, mas acima disso, um fator de total rediscussão de conceitos, preconceitos e comportamentos. Transformou-se em um problema mundial e não pode ser analisada apenas em seus aspectos clínicos. Ela impôs diversos desafios no campo das ciências, não só médicas, mas também sociais e da religião. Suas particularidades motivaram também a Igreja a um movimento inquieto, olhando para tudo aquilo que a sociedade brasileira insistentemente recusava-se olhar: a desigualdade, o preconceito, a hipocrisia, as profundas fragilidades do sistema de saúde, a fragilidade das relações pessoais. Atenta a essa realidade e ciente que a Aids exige uma ação global para seu efetivo enfrentamento, a Igreja fez surgir em sua caminhada evangelizadora um serviço pastoral, sensível e misericordioso a essa demanda: a Pastoral da Aids. Entre seus objetivos destaca-se o desejo de evangelizar, à luz dos desafios que a epidemia de HIV / Aids impõe à comunidade humana, por meio de ações de solidariedade, acolhida e empoderamento, promovendo, em Jesus Cristo, a vida e a dignidade humana. Seu carisma está amparado em cinco pilares: prevenção, mística e espiritualidade, acolhida e solidariedade, incidência política, articulação e parcerias. Em sintonia com a Igreja no Brasil, sua força está presente nos milhares de líderes espalhados em vários estados. São homens e mulheres que fizeram uma profunda experiência de Jesus e buscam ter os mesmos sentimentos e as mesmas atitudes do Mestre. Tratase de um trabalho de prevenção e assistência, favorecendo um olhar humanizado às pessoas vivendo com aids, acolhendo seus dramas e suas vitórias, sendo presença misericordiosa e fraterna. Outra importante questão é engajamento nas instâncias de controle social e políticas públicas, com o foco na defesa dos direi-

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tos das pessoas soropositivas, lutando para que todos tenham o tratamento gratuito com medicamentos, exames, acompanhamento multidisciplinar e atendimento integral. Em Curitiba, a Pastoral da Aids também está aberta à perspectiva da “Igreja em saída”. Comprometendo-se com todo o impulso missionário da “comunidade cristã”, multiplicando os espaços de formação, reforçando e reanimando as lideranças que já trabalham com este carisma. A opção de acolhida com as pessoas que vivem com HIV/Aids, vem sendo reforçada, em especial os que estão nas comunidades de risco social ou em situação de pobreza e exclusão, enfatizando que o estigma e preconceito ainda são os maiores inimigos e que efetivamente levam várias e vários à morte. O compromisso da Pastoral da Aids é o resultado de uma fé encarnada, viva e pulsante, contemplando os valores do Coração de Cristo como condições fundamentais para a construção do Reinado de Deus. Como Igreja peregrina, é próprio da sua missão fortalecer essa identidade na atualização da utopia de Jesus, tecendo nossa história na coerência e fidelidade ao evangelho, na defesa irrestrita e acolhida amorosa das pessoas que vivem com HIV e Aids.


ORLANDO POLIDORO JUNIOR

Artigo do Leitor

Bacharelando em Teologia PUCPR

Reino de Deus:

Discernimento e Vivência A expressão Reino de Deus era bastante utilizada no judaísmo – crendo que Deus será O Rei verdadeiramente justo. Só Ele poderá realizar o ideal de um rei capaz de proteger os pobres e marginalizados de todo tipo. Por isso, quando Jesus anuncia a chegada do Reino, encontra muitos adeptos. Frequentemente, Jesus apresenta o Reino no sentido escatológico – final dos tempos –Parusia (cf. Mc 9,1; Lc 13,28), mas também proclama a grande novidade de que o Reino irrompe e atua já, agora, hoje (cf. Mt 12,28 e paralelos; Lc 4,18-21; Mt 21,31; Lc 17,20-21), esta última citação é muito clara: O Reino já está no meio de vós.

Reino de Deus, ou Reino dos céus? São variações linguísticas (sinônimos), mas se referem à mesma ideia (cf. Mt 19,23-24). O termo Reino de Deus está contextualizado em toda a Bíblia, sendo tema principal do Segundo Testamento – centro de toda vida e de toda pregação de Jesus (cf. Mc 1,15; Mt 4,23; Lc 4,43; 8,1). O Evangelho de Lucas é o que mais apresenta o termo Reino de Deus, mas a referência Reino dos céus consta somente no Evangelho de Mateus. No conjunto do Segundo Testamento, a expressão Reino de Deus aparece 122 vezes, sendo 99 vezes nos Evangelhos Sinóticos, e destas, 90 pertencem às palavras de Jesus. No Evangelho de São João e nos restantes escritos do Novo Testamento, a expressão tem poucas referências.

Mas o que é o Reino, onde fica? A palavra é um substantivo, e tem vários sentidos indicativos: pessoas, lugares, sentimentos, vidas, coisas, etc. Refletindo com sabedoria sobre cada um destes indicativos, compreendemos que toda a criação faz parte do Reino (cf. Sl 102,19), e sendo assim, aqui e agora,

já somos consagrados como seus integrantes (cf. CIC 916 e 931).

Em que consiste o Reino de Deus? O Reino de Deus implica um mundo novo em que o mal e o sofrimento são vencidos, onde prevalecem a justiça, a paz e alegria no Espírito Santo (cf. Rm 14,17). “Este Reino manifesta-se lucidamente aos homens na palavra, nas obras e na presença de Cristo” (CIC 764).

Jesus e o Reino de Deus Orígenes caracterizou Jesus como a autobasileia, isto é, como o Reino de Deus em pessoa. Para bem compreendermos o Verdadeiro significado da vinda de Jesus e sua benevolência em nossas vidas –, através de seus ensinamentos [...], em diversos momentos sua missão de proclamar o Reino foi intensamente fervorosa, anunciando-o de várias formas: atitudes de misericórdia e de caridade plena ao próximo, curas, milagres, parábolas = convites para entrar no Reino.

Como desfrutar este Reino agora? “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6,33). Quando “pela graça”, contemplamos que o Reino já se faz presente (cf. Lc 17, 21), e que o Amor-Ágape de Deus é Justiça, Paz e Alegria no Espírito Santo (cf. Rm 14,17) – somente pela fé somos capazes de sentir e de suscitar o quanto devemos viver hoje, gloriosamente, o Reino de Deus.

POR CRISTO, COM CRISTO, E EM CRISTO.

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Pascom

Eva Gislane Pascom

para que os jovens conheçam pastorais e movimentos Confira experiência no Santuário Nossa Senhora do Carmo “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais.”1 Com essas palavras, Jesus já visualizava a necessidade de crianças, adolescentes e jovens serem participativos de uma Igreja aberta e acolhedora. Com o objetivo de informar os jovens que estão em turmas de iniciação cristã sobre as pastorais e seus carisma, nesse dia 24 de setembro aconteceu no Santuário Nossa Senhora do Carmo um Workshop Pastoral. A realização desse momento contou com a contribuição de todas as lideranças das pastorais atuantes no Santuário e também com a participação de alguns coordenadores arquidiocesanos. Observando os jovens que ali estavam com entusiasmo e alegria me remeteu ao documento nº 100 da CNBB: A paróquia precisa ter abertura para incentivar a presença e a atuação dos jovens cristãos. É importante considerar que “a juventude mora no coração da Igreja”2, o que implica encontrar formas adequadas para anunciar o amor de Jesus Cristo a todos os jovens. E não tem amor maior que servir sua comunidade. Padre Chemin coloca-se muito bem em suas palavras sobre a necessidade de contribuir para uma igreja diaconal.

1 Mt 19,14 2 CNBB, Evangelização da Juventude, doc. 85,n.1

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“Todos nós temos dons, talentos e carismas... e os crismados que tanto receberam na catequese e é preciso que depois eles possam servir o nosso Santuário, por isso eles estão se integrando... conhecendo todos os movimentos e pastorais”. Conforme Leonardo, que participa do convívio cristão jovem no Santuário do Carmo, fala que: “Os jovens estão desinformados, falta o conhecimento das pastorais atuantes assim como os carismas desses movimentos vivos da igreja”. No Diretório Arquidiocesano da Iniciação Cristã, nas orientações práticas diz: Inserção na comunidade: ao longo do itinerário, os catequizandos devem ser integrados nas atividades da comunidade. A paróquia deve se preparar para criar espaços para que haja uma acolhida eficaz daqueles que recebem o sacramento da Confirmação, começando a partir da 4ª Etapa: criar grupos de adolescentes, envolver nos serviços da liturgia, aproveitar os catequizandos na catequese infantil, infância missionária, ou qualquer outra iniciativa que se caracteriza como atividade pós-Crisma.3 Mas me pergunto: Como os jovens podem contribuir com seus dons sem o conhecimento de onde aplicá-los?

Fotos: Thiago Andrey –Pascom

Workshop Pastoral


Há 50 anos o Concílio Vaticano II na Constituição Pastoral: Gaudium et Spes, no tema Responsabilidade e Participação nos diz: O Homem se fortalece, quando compreende as inevitáveis necessidades da vida social, assume as exigências multiformes da solidariedade humana e se responsabiliza pelo serviço à comunidade humana . Por isso deve se estimular a vontade de todos em participar das iniciativas comunitárias. Mas para que todos os cidadãos estejam dispostos a participar da vida dos diversos grupos, dos quais consta o corpo social, é necessário que encontrem nestes grupos os bens que os atraiam e os disponham para o serviço dos seus semelhantes. Podemos pensar com razão em depositar o futuro da humanidade nas mãos daqueles que são capazes de transmitir às gerações futuras de amanhã razões de viver e de esperar.5 E como podemos atrair pessoas para os diversos carismas em nossa paróquia ou comunidade sem o conhecimento do que cada uma faz e, principalmente, sem o testemunho de quem aplica em sua vida esse serviço para a comunidade? A Sara, que participou desse WorkShop, em sua pequenez e simplicidade nos dá um testemunho da grandiosidade em servir: “a gente vai levando a palavra para as pessoas, aí tem umas pessoas lá que estão sem fé, daí a gente fala um pouco, daí a pessoa vem e começa a ficar mais alegre, mais feliz, e é isso que o IAM faz.” Conforme Sr. Valdir Pergoretti, que veio visitar o workshop do Santuário do Carmo para presenciar a experiência e assim levar essa estrutura para o Santuário do Sagrado Coração de Jesus no Água Verde, comentou sobre a alegria no rosto das pessoas que ali estavam, representando suas respectivas pastorais com seus testemunhos.

aproveitar não só para os jovens, mas também para toda a família do crismando, os pais se motivem em atuar em uma pastoral e vejam que isso é uma forma de encaminhar seus filhos.” E assim Sr. Valdir será um multiplicador desse evento no Santuário Sagrado Coração. E novamente o Documento da CNBB Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia, nos ilumina: Em razão disso, a comunidade cristã anuncia Jesus Cristo e acolhe novos membros que, pelo Batismo, se tornam discípulos do Senhor, para testemunharem com palavras e gestos o Evangelho do Reino de Deus. Essa missão impulsiona as comunidades a expandir a mensagem de Cristo além de suas fronteiras geográficas.6 Parabéns a essa iniciativa de buscar possibilidades de apresentar e oferecer os diversos trabalhos que nossa igreja possui, contribuindo para uma vivência testemunhal da nossa formação como cristãos. Todos nós somos chamados pelo nosso batismo em ser co-responsáveis pela construção do reino de Deus, e um dos tijolinhos nessa construção é servir sua comunidade com amor e alegria, testemunhando com sua vida o que Jesus nos ensinou e nos incentiva. A viver em comunidade atendendo as necessidades pastorais que são os membros desse grande corpo místico de Jesus Cristo. E transformar nossa comunidade em uma pastoral orgânica a serviço da Palavra. Logo teremos em outros setores essa iniciativa, de implantar o Workshop Pastoral. E assim levar aos nossos jovens a necessidade de tê-los atuando com seus dons, seu dinamismo, sua criatividade e principalmente com seu sorriso, indo além das fronteiras geográficas e humanas, mas atendendo o chamado do coração. LOUVADO SEJA DEUS POR TUDO ISSO!

“Estou vendo os coordenadores das pastorais fazendo essa apresentação com muita motivação. Então eu acho isso fantástico, eu acho que é um caminho que foi aberto. E aqui eu vejo outra coisa também, pode se

O que está acontecendo em sua paróquia ou comunidade para mostrar aos jovens a riqueza de servir em uma pastoral ou movimento? EXPEDIENTE

3 Diretório Arquidiocesano da Iniciação a Vida Cristã, pg 47 4 Gaudiem et Spes, nr 295 5 Gaudiem et Spes, nr 296 6 Comunidade de Comunidades: Uma nova Paróquia, nº 92

PASTORAL DA COMUNICAÇÃO: pascom@arquidiocesecwb.org.br (41)9999-0121 | Coordenador: Antonio Kayser

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Painel do Leitor

Destinação via Imposto de Renda Não custa nada a mais beneficiar a parte menos favorecida da população Estamos nos aproximando do final do ano este é o período importante para empresas e pessoas físicas se planejarem para o Imposto de Renda que será declarado no ano que vem, referente ao ano de 2016. É o momento de planejar o que fazer com a parte do Imposto de Renda que será devido. Que tal destinar aos Fundos da Infância e da Adolescência (FIAs) e aos Fundos do Idoso. O objetivo é apoiar obras sociais que contribuem para a parcela menos favorecida da população. Além de ser simples, a destinação dos recursos não custa nada a mais para quem faz a contribuição desta forma: o contribuinte não pagará a mais pela destinação, apenas permitirá que parte de sua arrecadação seja aplicada em projetos sociais. Essa destinação pode ser feita até o final de dezembro. Ao destinar seu imposto devido a estes fundos você está atuando na proteção e defesa dos direitos das crianças, adolescentes e idosos. Tanto pessoas físicas, quanto pessoas jurídicas podem fazer a destinação. O limite da doação é de 6% para as pessoas física, e de 1% do valor do Imposto de Renda para as pessoas jurídicas.

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Como doar? • Fundo Estadual Pessoa Idosa: Realizar o Depósito em conta corrente. Titular da Conta: Fundo Estadual dos Direitos do Idoso - Fipar_CNPJ 14.225.701/0001-33. Conta Banco do Brasil. Agência: 3793-1. Conta Corrente: 9521-4. Será emitido um comprovante de doação para cada doador mediante prévia solicitação e apresentação de comprovante de depósito feito em favor do Fipar. Contato: cedi@seds.pr.gov.br / (41) 3210-2415

• Fundos Municipais da Infância e Adolescência e de Pessoa Idosa: Acesse o site fas.curitiba.gov.br, preencha o formulário do Guia para Doação. Um boleto bancário para recolhimento da doação será emitido. Após a emissão e quitação do boleto bancário, o doador receberá por e-mail o recibo de comprovação da doação. Sugestão: escolha a opção de doar diretamente para as entidades e projetos cadastrados nestes fundos, especialmente as obras sociais que você já conheça.


Clero em Reunião Para Formação Aconteceu entre os dias 18 a 20 de outubro a XXIII Assembleia Geral do Clero da Arquidiocese de Curitiba, com objetivo de proporcionar formação aos Presbíteros da Arquidiocese. Com o tema “Vida e Ministério do Presbítero nos dias atuais”, o evento contou com assessoria do Padre Rafael Solano, sacerdote da arquidiocese de Londrina (PR), consultor da CNBB setor Vida e Família. O evento foi realizado na Casa de Retiros Nossa Senhora do Mossunguê, e abordou os seguintes temas: o presbítero e a ética, atitudes éticas no ministério e no Presbitério, ética e sexualidade, ética e participação do Presbitério na Pólis e novas perspectivas sob o diaconato permanente em nossa Arquidiocese.

Encontros Pela Paz com candidatos à Prefeitura

Durante o ano de 2016 a Arquidiocese de Curitiba tem promovido os chamados Encontros Pela Paz – eventos que têm o intuito de envolver os cristãos na política, de forma pacífica e consciente. No dia 20 de outubro, os candidatos Ney Leprevost e Rafael Greca se encontraram no evento, sob o tema “Cuidar do bem comum”. No encontro, os candidatos conversaram por cerca de duas horas com os mais de 100 presentes que estiveram na plateia. Dom Peruzzo, du-

rante o evento, ressaltou que o Encontro Pela Paz se difere de um debate, pois, ao contrário deste, o encontro visa encontrar e buscar o bem comum, inteirando os leigos católicos na política. O Encontro Pela Paz foi organizado pelo Conselho de Leigos da Arquidiocese e contou com perguntas realizadas por cada comissão arquidiocesana. Nos dias 21 e 24 de outubro houve também o bate-papo com os candidatos a vice prefeito.

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Álbum Catequético-Litúrgico Catequese e Liturgia – Fontes da Iniciação Cristã – Ano A

Caminhando 30 Subsídio para grupos de reflexão nas famílias para o ano litúrgico

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Contato: sac@arquidiocesecwb.org.br (41) 2105 6325

Agenda 2017 Agenda da Arquidiocese de Curitiba do ano de 2017 com calendário e mensagens diárias, em espiral. Valor: R$ 22,00


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