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2. A Língua Gestual Portuguesa
2. A Língua Gestual Portuguesa2
A “Língua Gestual” é a língua materna/natural de uma comunidade surda. Para a pessoa surda a aquisição da língua gestual é 13 feita de forma espontânea no interior da sua comunidade “com incrível rapidez e uniformidade, a língua natural da comunidade em que passaram os primeiros anos de vida – a sua língua materna – e usam-na criativamente como locutores, interlocutores ”. (Sim-Sim, 1997, p.15). É uma língua de produção manuo-motora e recepção visual, com vocabulário e organização próprios, que não deriva das línguas orais, nem pode ser considerada como sua representação, utilizada não apenas pelos surdos de cada comunidade mas, também, pelos ouvintes – seus parentes próximos, intérpretes, alguns professores e outros. (Amaral, Coutinho & Martins, 1994, p. 37). 2 Ainda que recentemente dois dos autores deste livro tenham proposto a designação Língua de Sinais Portuguesa ao invés de Língua Gestual Portuguesa, respeitamos a época em que este trabalho teve início e consideramos que, tratando-se da proposta de um guia regulador, devemos seguir o que está estatutariamente consagrado e não uma proposta que tem, sobretudo, propósitos de investigação terminológica e linguística. Preview
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Guia didático de Língua Gestual Portuguesa
Por língua entende-se, “um tipo de linguagem e define-se como um sistema abstrato de regras gramaticais que identificam sua estrutura nos seus diversos planos (do sons, da estrutura, da formação e classe de palavra, das estruturas frasais, da semântica, da contextualização e do uso) ” (Fernandes, 2003, p. 16). Assim podemos referir que a linguagem pode ser entendida como a capacidade inata, localizada no hemisfério esquerdo, que o ser humano tem em compreender e utilizar uma língua dependendo por isso de capacidades neurológicas e estímulos sociais.
A língua é todo um sistema organizado de signos arbitrários e 14 convencionais partilhados por uma comunidade. (Correia, 2009). Neste sentido, as línguas gestuais devem ser encaradas como línguas humanas, na medida em que obedecem a parâmetros linguísticos universais, como a arbitrariedade, a convencionalidade, a recursividade e a criatividade. Como sabemos não há uma língua gestual universal, mas sim diversas línguas gestuais de acordo com as comunidades que as utilizam. (Correia, 2009, p. 58). Uma das características da LGP é a arbitrariedade. Por arbitrário entenda-se a relação não directa que se estabelece entre a palavra e o objecto que designa. Por exemplo, não há nada no objecto “casa” que implique a configuração, localização, orientação, movimento e expressão caracterizam o gesto tipo para “casa” na LGP. (Correia, 2010, p. 15). Com efeito, os gestos podem ter tido origem e morfologia, numa primeira fase, de iconicidade ou transparência, pois não podemos Preview
A Língua Gestual Portuguesa
esquecer que a LGP é uma língua espacio-visual onde a representação do mundo se faz através do gesto descodificado pela visão, mas têm igualmente um alto grau de convencionalidade que acaba por os tornar opacos e por isso arbitrários. Os gestos icónicos “apresentam alguns elementos de semelhança com a realidade representada.” (Amaral et. al., 1994, p.45). No entanto, não podemos associar as línguas gestuais a uma forma de expressão mímica, pois embora existam estes gestos que podem ser compreendidos por pessoas que não dominem a LGP, para além dos gestos arbitrários existem também os gestos “semi-icónicos ou interpretativos”.3 15 Estes gestos são “todos aqueles que representam um objecto recorrendo à sinédoque ou a elementos caracterizados e/ou relacionáveis com o objecto ou acção.” (Correia, 2008, p. 67). A existência destes gestos “torna impossível a compreensão de um texto numa língua gestual por parte de quem não a compreenda enquanto sistema organizado.” (Correia, 2008, p. 67). Assim, e ainda de acordo com Correia, As línguas gestuais assumem características exclusivas que as distinguem, havendo, como no caso das línguas orais, uma pluralidade de idiomas. Prova disso, são a convencionalidade dos gestos, definidos e variáveis consoante as comunidades a que pertencem e a arbitrariedade que os caracteriza e que torna impossível a dedução de frases numa língua gestual apenas por comparação com 3 Gestos “semi-icónicos”. São exemplo deste tipo de gestos na LGP o gesto para REI cuja configuração e localização remete para um objecto associado à realeza, a coroa, e o gesto para DIA que consiste no movimento da mão em frente ao rosto, do queixo até à zona da testa, representando o movimento do nascer e elevar do sol.” (Correia, 2009, p. 62). Preview