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1. Os Batalhões Académicos organizados na Universidade de Coimbra visaram a defesa da independência da Pátria, como foi o caso em 1644-1645 e em 1808-1811, ou a defesa da liberdade dos seus concidadãos contra ameaças de despotismo, como em 1826-1828, 1830-1834, 1837 e 1846-1847.

1.1. O primeiro de que existe desenvolvida notícia 1 foi constituído, em 1644-1645, no âmbito da Guerra da Restauração, em resposta a solicitação dirigida por D. João IV ao Reitor da Universidade, D. Manuel de Saldanha 2, que pessoalmente comandou os 630 estudantes, enquadrados por alguns professores, que marcharam para o Alentejo, em defesa da praça de Elvas, sitiada pelas tropas espanholas.

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1 Cfr. Francisco Carneiro de Figueiroa, Memórias da Universidade de Coimbra, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1937, págs. 138 e 139; Augusto Mendes Simões de Castro, Jornada da Universidade de Coimbra a Elvas em 1645, Elvas, Tipografia Progresso, 1901; P. M. Laranjo Coelho, Cartas de El-Rei D. João IV para diversas autoridades do Reino, Lisboa, Academia Portuguesa da História, 1940; Manuel Lopes de Almeida, Notícias da Aclamação e de outros sucessos, Coimbra, Tipografia Atlântida, 1940; Lígia Cruz, Alguns contributos para a história da Restauração em Coimbra ‒ Reinado de D. João IV, Coimbra, Biblioteca Municipal de Coimbra, 1982.

2 Manuel de Saldanha, filho de João de Saldanha (Comendador de Alcains e de Salvaterra, na Ordem de Cristo) e de Leonor de Meneses, natural de Lisboa, matriculou-se na Universidade de Coimbra em 1613 e licenciou-se em Cânones em 24/7/1620. Sendo Inquisidor em Évora, foi, em 8/9/1638, nomeado por D. Filipe III Reitor da Universidade de Coimbra, lugar de que tomou posse a 3/2/1639, e que exerceu até à sua morte, em 15/8/1659. Convocou, em 12/12/1640, o Claustro Pleno, no qual a Universidade reconheceu e aclamou D. João, Duque de Bragança, como Rei de Portugal. D. João IV confirmou-o no cargo de Reitor em 24/12/1640 e reconfirmou-o por duas vezes, em 14/11/1641 e em 17/5/1642. Foi designado bispo de Viseu (1642) e de Coimbra, não chegando a ser confirmado pela Santa Sé.

1.2. A eclosão das lutas liberais abriu nova época para a constituição de Batalhões Académicos. Em 1826, foi formado um Batalhão de estudantes liberais, comandado pelo major da Milícia de Tondela, Júlio César Feio de Figueiredo, composto de 6 companhias e 411 elementos, que, a 26 de dezembro, partiu para a Beira, forçando as tropas miguelistas a refugiar-se em Espanha; o Batalhão regressou a Coimbra a 3 de fevereiro de 1827, tendo suscitado polémica a negação da justificação das faltas dadas durante a campanha 3 .

Na sequência da revolta do Porto, de 16 de maio de 1828, contra o Governo de D. Miguel, procedeu-se em Coimbra ao alistamento em novo Corpo de Voluntários liberais, tendo a Junta de Coimbra, por portaria de 21 de junho, nomeado para seu Comandante o Doutor Manuel Pedro de Melo 4, e Segundo-Comandante o Doutor

3 Cf. Relação de todos os indivíduos que compuseram o Batalhão dos Voluntários Académicos, Coimbra, Imprensa de Trovão e Companhia, 1827; Relação de todos os indivíduos que compuseram o Batalhão dos Voluntários Académicos organizado e armado no ano letivo de 1826 para 1827, publicada por um dos próprios alistados, Coimbra, Imprensa de Trovão e Companhia, 1827, e agora fielmente reimpressa e acrescentada com algumas notas corretivas e ilustrativas, Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1828; Relação extraída dos mapas originais das três Companhias do Batalhão Rebelde de Voluntários Académicos, Coimbra, Real Imprensa da Universidade, 1828; Apologia dirigida à Nação Portuguesa para plena justificação do Corpo dos Voluntários Académicos do ano de 1826 contra as falsas e caluniosas imputações forjadas ao mesmo corpo pelos inimigos do Senhor D. Pedro IV e da Carta Constitucional, Coimbra, Imprensa de Trovão e Companhia, 1827; Coleção dos documentos que servem de fundamento e prova na apologia do Corpo dos Voluntários Académicos do ano de 1826 contra as falsas e caluniosas imputações forjadas ao mesmo corpo pelos inimigos do Senhor D. Pedro IV e da Carta Constitucional, Coimbra, Imprensa de Trovão e Companhia, 1827; Adição à apologia dos Voluntários Académicos ou Pensamentos sobre a Campanha do Batalhão dos Voluntários Académicos, por um soldado, Coimbra, Imprensa de Trovão e Companhia, 1827.

4 Manuel Pedro de Melo (Tavira, 6/9/1765 - Mealhada, 13/4/1833). Lente de Matemática (1801). Sócio da Academia Real das Ciências.

Joaquim António de Aguiar 5. Após a batalha de Cruz dos Mouroços, de 24 de junho, as tropas liberais retiraram para o Porto e, perseguidas pelos miguelistas, passaram para a Galiza e depois para o exílio em França e Inglaterra.

No exílio em Inglaterra, o Batalhão é reorganizado, seguindo depois na frota que transportou as tropas fiéis a D. Pedro para os Açores 6, donde regressam em 1832 e suportam o cerco do Porto. Parte do Batalhão Académico integra a expedição que desembarca no Algarve, participando nas operações realizadas no Alentejo, até à chegada vitoriosa em Lisboa, a 24 de julho de 1833. Após a entrada das forças liberais do Duque da Terceira em Coimbra, a 8 de maio de 1834, e a Concessão de Évora-Monte, este Batalhão Académico é dissolvido, a 20 de outubro desse ano.

1.3. Três anos volvidos, face à Revolta dos Marechais (Saldanha e Terceira), de julho de 1837, contra o Governo setembrista e à ameaça de Saldanha tomar Coimbra, o Governo (Sá da Bandeira e Passos Manuel) determina a organização de novo Batalhão

Perseguido pelas suas ideias liberais, refugiou-se em casa de um amigo em Ventosa do Bairro, em 1828, até à sua morte.

5 Joaquim António de Aguiar (Coimbra, 24/8/1792 - Lavradio, 26/5/1874). Doutor (1816) e Lente (1826) na Faculdade de Leis. Fez parte do Corpo de Voluntários Académicos de 1808. Deputado às Cortes (1826). Segundo-comandante do Batalhão Académico de 1828. Exilado em Inglaterra, tomou parte nas duas expedições liberais aos Açores. Participou no desembarque no Mindelo em 1832. Procurador-Geral da Coroa. Ministro do Reino (1833-1834, 1841-1842 e 1865-1866) e da Justiça (1834 e 1836) e Presidente do Ministério (1841-1842, 1860 e 1865-1868). Chefe do Partido Regenerador, foi várias vezes Deputado.

6 Cf. João Paulo Soares Luna, Memórias para servirem à história dos factos de patriotismo e valor praticados pelo distinto e bravo Corpo Académico que fez parte do Exército libertador, Lisboa, Tipografia Lisbonense, 1837; José Joaquim de Almeida Moura Coutinho, O ataque da Vila da Praia na Ilha Terceira em 11 de Agosto de 1829 ... e a memória histórica do Coronel Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado ou a glória do Batalhão de Voluntários da Rainha a Senhora Dona Maria II, Lisboa, Tipografia do Diretor, 1830.

Académico (setembro de 1837), que assegurou a defesa da cidade, tendo sido rapidamente extinto, dada a cessação dessa ameaça (derrota dos Marechais em Ruivães, a 18 de setembro, e subsequente exílio dos mesmos, na sequência da assinatura, a 7 de outubro, da Convenção de Chaves).

1.4. A eclosão, em abril de 1846, da Revolta do Minho (Maria da Fonte) 7, que rapidamente se espalhou pelo País, contra o Governo de Costa Cabral, teve pronto eco em Coimbra, com a instituição de uma Junta Governativa, presidida por José Alexandre de Campos 8, que promoveu a organização de um Batalhão de Voluntários Académicos.

7 Cf. Intervenção estrangeira ou documentos históricos sobre a intervenção armada de França, Espanha e Inglaterra nos negócios internos de Portugal, no ano de 1847, Porto, Tipografia Faria Guimarães, 1848; Correspondência entre o Conde das Antas e os Ministros Plenipotenciários e outros Agentes das Potências signatárias do Protocolo de 21 de Maio de 1847, acompanhada de vários atos oficiais da Junta Provisória do Governo Supremo do Reino no Porto, e outros documentos, Lisboa, Tipografia do Borges, 1848; Correspondência entre o Visconde de Sá da Bandeira e os Ministros Plenipotenciários e outros Agentes das Potências signatárias do Protocolo de 21 de Maio de 1847, acompanhada de uma carta a Sua Majestade a Rainha e de outros documentos, Lisboa, Tipografia Neriana, 1848; Joaquim Palminha da Silva, A Revolução da Maria da Fonte, Porto, Afrontamento, 1978; Maria de Fátima Bonifácio, História da Guerra Civil da Patuleia 1846-47, Lisboa, Editorial Estampa, 1993; José

V. Capela e Rogério Borralheiro, A revolução do Minho de 1846: os difíceis anos de implantação do liberalismo, Braga, Governo Civil, 1997; José

V. Capela, A revolução do Minho de 1846, segundo os relatórios de Silva Cabral e Terena José, Porto, Afrontamento, 1999; Teresa Nunes Sousa, Maria da Fonte e Patuleia, Lisboa, Quidnovi, 2008; e Almeida Carvalho, A Batalha do Viso e a Revolta da Patuleia em Setúbal, organização, prefácio e notas de Álvaro Arranja, Setúbal, Centro de Estudos Bocagianos, 2013.

8 José Alexandre Caetano de Campos e Almeida (Sabugal, 1794 - Vilar

Torpim / Figueira de Castelo Rodrigo, 1850). Professor da Faculdade de Leis (1818). Preso no Limoeiro na sequência da Vila-Francada (1823), e depois em Almeida durante a usurpação de D. Miguel (1829-1834).

Numa primeira fase, que decorreu até setembro desse ano, quando a pacificação do País parecia estar assegurada, graças à atuação conciliadora do Governo de Palmela, que em 20 de maio substituíra o de Costa Cabral, e convocara eleições para as Cortes, com poderes de revisão constitucional, o Batalhão Académico não chegou a entrar em combate, limitando-se a fazer marchas até Redinha e Pombal.

Porém, por força do golpe palaciano da Emboscada de 6 de outubro, que afastou Palmela e instituiu um Governo chefiado por Saldanha, mas dominado pelos cabralistas, que desconvocou as eleições, suspendeu a Constituição e suprimiu a liberdade de imprensa, reacendeu-se, com mais intensidade, a revolta popular. Em Coimbra, o Governador Civil, Marquês (depois Duque) de Loulé 9, determina, a

Vice-reitor da Universidade (1834), Deputado às Cortes (1834, 1837, 1838, 1840, 1842), foi o promotor da reforma setembrista da Universidade (1836), de que resultou a fusão das Faculdades de Cânones e de Leis numa única Faculdade de Direito, e o inspirador do Decreto de 17 de novembro de 1836, que criou os Liceus. Presidente do Congresso Constituinte (1837). Ministro da Justiça (1837-1839). Volta a ser preso em 1847. Em Lisboa foi membro da Sociedade Patriótica conhecida por Clube dos Camilos (1835) e Venerável da loja Urbiónia (1834-1836). Setembrista radical, fundou o periódico político O Piloto (Coimbra, 1836) e o Grito Nacional (1846). Governador civil de Coimbra (1846). Participa na Guerra da Patuleia (1847), integrando a Junta de Coimbra, sendo preso até à amnistia geral. Publicou, para além de diversos discursos parlamentares proferidos em 1841, o opúsculo Os acontecimentos de Março [de 1838] na capital, considerados nas suas causas e efeitos, memória dedicada aos amigos da Revolução de Setembro (Lisboa, 1838). Ver a sua biografia em A Revolução de Setembro, n.º 2626, de 21 de dezembro de 1850.

9 Nuno José Severo de Mendoça Rolim de Moura Barreto (Lisboa, 6/11/1804 - 22/5/1874), 9.º Conde de Vale de Reis, 2.º Marquês (1824) e 1.º Duque (1862) de Loulé, casado (1827) com a Infanta D. Ana de Jesus Maria (1806-1857), 9.ª e última filha de D. João VI. Cursou o Colégio Militar. Exilado em Inglaterra (1828), aderiu ao Partido liberal. Combateu como ajudante-de-campo de D. Pedro no cerco do Porto (1832). Ministro dos Negócios Estrangeiros e da Marinha (1833). Ingressou na esquerda liberal. De novo Ministro da Marinha (1835) e dos Estrangeiros (1835-1836).

Aderiu à Revolução de Setembro (1836). Governador civil de Coimbra

11 de outubro, a reorganização do Batalhão Académico. Desta feita, foi mais intensa a atividade do Batalhão, designadamente com integração na Divisão do chefe militar das forças populares, Conde das Antas, que marchou até Santarém. Após o desastre de Torres Vedras (22 de dezembro de 1846), o Batalhão assegura a retirada ordenada até ao Porto. Parte do Batalhão acompanha o Visconde de Sá da Bandeira, em fins de março de 1847, na expedição ao Sul, desembarcando em Lagos e marchando até Setúbal. Três dezenas de voluntários académicos participam na ação do Alto do Viso (1 de maio de 1847), na sequência da qual quatro perdem a vida. Imposto um armistício pelas Potências estrangeiras, os sobreviventes regressarão ao Porto em 15 de junho. Entretanto, no Porto, outra parte do Batalhão Académico embarca na Divisão Expedicionária comandada pelo Conde das Antas, que, a 31 de maio, é apresada pela Esquadra inglesa ao sair da barra do Porto e conduzida para Lisboa, sendo os seus elementos encarcerados no Forte de S. Julião da Barra. Finalmente, após a assinatura da Convenção de Gramido (29 de junho), as forças da Junta do Porto são desarmadas, e acaba por ser dissolvido o Batalhão Académico de 1846-1847.

Os elementos mais relevantes sobre este Batalhão foram reunidos em Notícia Histórica do Batalhão Académico de 1846-1847, Notas por António dos Santos Pereira Jardim, publicadas, com aditamentos, por António João Flores (Recolha de textos, introdução e notas por Mário Araújo Torres, Lisboa, Edições Ex-Libris, 2022).

2. No decurso das invasões francesas 10, por três vezes se organizaram Batalhões Académicos.

(1846), participa na Guerra da Patuleia, sendo um dos negociadores da Junta do Porto e subscritor da Convenção de Gramido (28/6/1847). Ministro da Marinha (1851) no 1.º Governo da Regeneração. Torna-se chefe do Partido Histórico (1856), representativo da ala esquerda da Regeneração.

10 Ver: Fernando Barreiros, Notícia histórica do Corpo Militar Académico de Coimbra: 1808-1811, Lisboa, Bertrand e Aillaud, 1918; Maria Ermelinda de Avelar Soares Fernandes Martins, Coimbra e a Guerra Peninsular, 2 volumes, Coimbra, Tipografia da Atlântida, 1944; Relação breve e verdadeira da entrada do Exército francês, chamado de Gironda, em Portugal, em novembro do ano de 1807, Lisboa, Simão Tadeu Ferreira, 1809.

Em junho de 1808, após a conquista do Forte de S. Catarina, na Figueira da Foz, por um grupo de académicos e populares idos de Coimbra, sob o comando do sargento de Artilharia e estudante da Universidade, Bernardo António Zagalo, foi, por iniciativa do Vice-Reitor e Governador de Coimbra, Manuel Pais de Aragão Trigoso 11 (que dirigia a Universidade na ausência forçada em França do Reitor Francisco de Lemos de Faria Pereira Coutinho, nomeado por Junot, em fevereiro de 1808, para integrar a Deputação portuguesa que se ia encontrar com Napoleão em Baiona, ficando retido em Bordéua até finais de 1810 12), organizado um Batalhão Académico, tendo por comandante o Doutor Tristão Álvares da Costa Silveira 13. Este Batalhão participou na restauração do legítimo Governo de Portugal em Condeixa, Soure, Ega, Pombal, Leiria e Nazaré. Concentradas as forças portuguesas, do comando do General Bernardim Freire de Andrade, em Coimbra, uma parte do Batalhão Académico manteve-se na defesa da cidade e outra parte juntou-se às tropas britânicas, desembarcadas em Lavos (Figueira da Foz) nos primeiros dias de agosto, participando nas batalhas da Roliça e do Vimeiro, que determinaram a saída do Exército de Junot, na sequência da Convenção de Sintra.

11 Manuel Pais de Aragão Trigoso Pereira de Magalhães (Matacães / Torres Vedras, ? - ?, 1810), Doutor (1762) e Lente (1779) da Faculdade de Cânones, Vice-Reitor da Universidade (1804-1809). Fidalgo da Casa Real. Cónego e Arcediago da Sé de Viseu. Chefe do Corpo de Voluntários Académicos e Governador de Coimbra (1808-1809).

12 Cf. D. Francisco de Lemos, “Exposição dirigida a Sua Alteza Real o Principe Regente”, publicada por B. A. Serra de Mirabeau, O Instituto, vol. XLVI, 1899, págs. 145-156, 219-224, 272-275, 606-610, 726-732, 778784, 841-845 e 912-916.

13 Tristão Álvares da Costa Silveira (Elvas, 11/9/1768 - Coimbra, 1811). Doutor (1795) e Lente (1796) da Faculdade de Matemática. Tenente-coronel do Real Corpo de Engenheiros. Sargento-mor de Engenharia do Corpo de Voluntários Académicos. Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa.

Em 2 de janeiro de 1809, foram os estudantes da Universidade novamente convocados para se alistarem no Batalhão Académico, perante a iminência de nova invasão francesa. Um Destacamento de 150 elementos deste Batalhão, comandado pelo Doutor Fernando Saraiva Fragoso de Vasconcelos 14, secundado pelo Doutor José Bonifácio de Andrada e Silva 15, incorporou-se na Divisão do General Trant (encarregado por Beresford da defesa de Coimbra), que, a 31 de março, partiu para operar na linha do Rio Vouga. Reunidas as forças de Trant com as de Wellesley em Águeda, a 9 de maio, partiram para o Porto, onde entraram no dia 12. Após dois meses de serviço na guarnição do Porto, recebeu o Batalhão Académico ordem de marchar para as fronteiras da Beira (Almeida e Penamacor), após o que se recolheu a Coimbra.

Por edital emitido em Lisboa em novembro de 1810, pelo seu então Comandante, José Bonifácio de Andrada e Silva, foi o Batalhão novamente convocado, mas, desta feita, compareceram em menor número, por a Universidade ter estado encerrada no ano de

14 Fernando José Saraiva Fragoso de Vasconcelos (Manteigas, c. 1745 - ?, 1810). Doutor (1770) e Lente (1778) da Faculdade de Cânones. Colegial do Colégio de S. Paulo. O seu manuscrito Memórias do Corpo Militar Académico foi publicado por Maria Ermelinda Fernandes Martins, Coimbra e a Guerra Peninsular, citado na nota 10.

15 José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 13/6/1763 - Rio de Janeiro, 6/4/1838). Bacharel em Filosofia (1787) e formado em Leis (1788), foi Lente de Metalurgia (1801-1814). Intendente-geral das Minas e Metais do Reino (1800), Intendente da Polícia no Porto (1809), Desembargador da Relação do Porto. Superintendente do Mondego e Obras Públicas do Mondego. Autor de vasta obra. Sócio da Academia Real das Ciências. Major (1808), Tenente-coronel (1809) e Comandante (1810) do Corpo de Voluntários Académicos. Regressou ao Brasil em 1819, onde foi Deputado à Assembleia Geral Constituinte e Ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros do Império do Brasil (1822). Autor do Projeto de Constituição para o Império do Brasil (1823), é considerado o Patriarca da Independência do Brasil. Ver: Henrique de Campos Ferreira Lima, José Bonifácio de Andrada e Silva: major, tenente-coronel e comandante do Corpo Militar Académico em 1809-1810, Coimbra, Coimbra Editora, 1942.

1810-1811. Operando na Estremadura, até Óbidos, foi o Batalhão Académico dissolvido em 15 de abril de 1811.

3. No presente volume reúnem-se as memórias das campanhas do Corpo Militar Académico da Universidade de Coimbra, integrado por largas centenas de estudantes (625 em 1808 e 542 em 1809) e professores (77 em 1808 e 114 em 1809), ao longo das três invasões francesas, escritas por participantes nelas (ver suas biografias na última secção desta edição): dois Lentes de Cânones, Francisco José Saraiva Fragoso de Vasconcelos (Manteigas, 1745 - Coimbra, 1810), comandante do Corpo Militar de Lentes e Doutores em 1808 e Coronel do Corpo Militar Académico em 1809, que comandou no terreno toda a campanha de 1809, de Coimbra ao Porto e depois na Marcha às Fronteiras da Beira; e José Inácio da Rocha Peniz (Moura, 1750 - Porto, 1811), Furriel do Corpo Militar de Lentes e Doutores em 1808 e Major do Corpo Militar Académico em 1809; o Lente de Metalurgia, José Bonifácio de Andrada e Silva (Santos, 1763 - Rio de Janeiro, 1838), Sargento do Corpo Militar de Lentes e Doutores e Major do Corpo Militar Académico em 1808, Tenente-Coronel do mesmo Corpo em 1809 e Coronel e Comandante em 1810-1811; e dois estudantes de Leis, Alexandre Tomás de Morais Sarmento (Baía, 1786 - Lisboa, 1840), 1.º Visconde do Banho, e Ovídio Saraiva de Carvalho e Silva (Parnaíba / Piauí, 1787 - Rio de Janeiro, 1852), ambos soldados dos Corpos Militares Académicos de 1808 e de 1809.

É a presente a primeira vez que é editada em Portugal a obra deste último, O Patriotismo Académico, publicada no Rio de Janeiro, em 1812, de que se conhece um único exemplar entre nós (na Biblioteca Nacional de Portugal). Essa obra contém a mais completa relação dos factos ocorridos ao longo das campanhas, representando a ampliação do seu opúsculo Narração das Marchas e Feitos do Corpo Militar Académico desde 31 de março, em que saiu de Coimbra, até 12 de maio, sua entrada no Porto, publicado em Coimbra em 1809.

Reproduzem-se as listagens da organização e composição dos diferentes Corpos, elaboradas por Maria Ermelinda de Avelar Soares

Fernandes Martins, Coimbra e a Guerra Peninsular, 2 volumes, Coimbra, Tipografia da Atlântida, 1944.

Inserem-se sucintas notas biográficas de alguns dos mais destacados membros dos Batalhões.

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