Edição 03

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Sketchline

Editora Brainstorm 15 de Junho de 2016

N.03


Editorial Na Rua

CIberativismo

UM SOPRO DE ARTE


PRODUÇÂO INDEPEENDENTE

Em busca do tom perfeito

ALEXANDER RODCHENKO

PLUTÂO JÀ FOI PLANETA


Em todo o tempo que leva preparar cada edição, a equipe da Sketch enche seus caderninhos de informação, criatividade e poesia. Na nossa terceira, não é diferente. Três é um ótimo número, aliás, pra dizer que uma coisa deu certo, e olha que estamos só começando. Tentando aprimorar nossa visão de jornalismo eletrônico, trazemos, bimestralmente, essa revista linda de dar orgulho na mãe e que os leitores têm dado cada vez mais gás para continuarmos. Nesse mês de junho, você vai poder ler as crônicas e poesias que sempre estão por aqui, além de uma matéria sobre produção independente, que é uma opção cada vez mais corriqueira para artistas, escritores, jornalistas e músicos, como é o caso da Plutão já foi planeta, que vai ter o álbum resenhado nessa edição! Também temos um texto sobre ciberativismo, cada vez mais presente nas nossas redes sociais de cada dia, e uma visita feita a locais culturais belenenses. Leiam com carinho, que foi exatamente assim que a gente fez!

GABRiela cavalcante redatora


Na rua Essa edição veio cheia de dicas pra quem curte uma boa exposição, gosta de observar e refletir sobre imagens e fotos. Todas as exposições são gratuitas, então não tem nem desculpa pra deixar de ir. Mas tem livro e show também, então vem dar uma conferida e anotar logo na agenda.

Exposição "Arquivo 2.0 – DESMEMÓRIAS FOTOGRÁFICAS", de Flavya Mutran. Em exibição entre 17 de maio e 24 de junho Local: Espaço Cultural Banco da Amazônia Av. Presidente Vargas, 800 Horário: 9 às 17h (seg a sex) Contato: (91) 4008-3213 Valor: Grátis

Exposição "Um olhar contemporâneo sobre a Arte do Pará" Em exibição entre 12 de janeiro e 30 de outubro Local: Museu de Arte de Belém, Palácio Antônio Lemos, Praça D. Pedro II Horário: 10h às 18h (ter a sex) e 9h às 13h (sáb) Contato: (91) 98107-0864 Valor: Grátis Mostra Especial - coletiva de fotógrafos atuantes no Pará Em exibição entre 19 de abril e 19 de junho Local: Museu da UFPa (Av. Gov. José Malcher, 1192) Horário: 09h às 17h (seg a sex) Contato: (91) 3242-8340 Valor: Grátis NX ZERO "Tour Norte" Turnê comemorativa de 15 anos da banda. Data: 18 de junho (Sábado) Local: Café del Mar (Av Marechal Hermes n. 184) Horário: 21:00 Valor: Variando de R$50,00 a R$90,00 Pontos de vendas: Quiosque Café Del Mar (1° Piso Shopping Boulevard) e Humam Store (Shopping Bosque Grão Pará)


Arraiá Do Ezatamentchy - A Festa! O Arraiá aproveita o mês de junho pra fazer uma festa diferente, vai ter agito junino? Vai sim, mas também vai ter pop, funk, axé, brega, forró, eletrônico e muito rastapé. É pra não deixar ninguém parado e agradar a todos. Vale lembrar que vai ter muitas guloseimas e que o evento prometeu muitos brindes e surpresas. Data: 25 de junho (Sábado) Local: Café Del Mar Horário: 23:00 Ingressos disponíveis em: https://www.bilheteriadigital.com/bis e estão variando entre R$50,00 e R$100,00, mas quem tem meia, já sabe, não é?

Exposição "Route 25" Em exibição entre 31 de maio e 29 de junho Local: Galeria de Arte do CCBEU/MABEU, Trav. Padre Eutíquio, 1309 Horário: 14h às 19h30 (seg a sex) e 9h às 13h (sáb) Contato: (91) 3221-6116 Valor: Grátis

Feira de troca e venda de livros na Praça da República (VIII Edição) Falando em produção independente, a feira é um exemplo de evento literário, que tem como ponto principal democratizar o acesso a leitura por meio da troca e venda entre os próprios leitores, levando em consideração o baixo custo. Dia: 26 de junho (Domingo) Local: Praça da República (Presidente Vargas, 66010-150) Horário: 8:30 às 13:00 Nota: Não esquece de levar um livro e fazer parte desse evento também.


Expediente Expediente Editorial - Gabriela Cavalcante Na Rua - Amanda Ferreira Um sopro de arte - Coranilo Ativismo na rede - Gabriella Salame Produção independente - Heleno Beckmann Em busca do tom perfeito - Heleno Beckmann e Rodolfo Dantas Ilustração - @4penas.rabisc0s_ Foto de capa e “Em busca do tom perfeito” - Heleno Beckmann Artista em foco: Alexander Rodchenko Leonardo Cabral Luta - Gabriella Salame Fluxo - Heleno Beckmann Plutão já foi planeta- Gabriela Cavalcante Revisão - Amanda Ferreira Revisão Gráfica - Amanda Ferreira Arte e diagramação - Heleno Beckmann, Leonardo Cabral e Otávio Henr Todos as imagens utilizadas pertencem a seus respectivos autores. Contato, sugestões e textos: revistasketchline@gmail.com www.facebook.com/sketchline



UM SOPRO DE ARTE O circuito cultural paraense sempre foi uma borbulhante e constante busca por expansão e desenvolvimento, porém sempre muito preso dentro do imaginário dos produtores e criadores artísticos. Contudo, a necessidade de expandir esse circuito para um maior número de espectadores, principalmente os mais jovens, criou o que hoje pode-se chamar de cantos culturais. Cantos culturais são aqueles espaços simples, porém charmosos, onde todo tipo de arte ou cultura é exposta aos olhos de qualquer um que esteja interessado em receber e filtrar aquela ideia. Normalmente são casas ou espaços simples alugadas e logo transformadas em um tipo de galeria cultural, onde produções, sejam estas literárias, visuais ou sonoras, são disponibilizadas e exibidas para conhecimento e entretenimento geral. Tais locais ganharam uma popularidade exorbitante nessa atualidade na qual a juventude está cada vez mais ávida por não apenas valorizar sua cultura já existente, como novos tipos de manifestação cultural. Com isso, também surgiram novas propostas de manifestação artística, marcadas pela originalidade e pela desconstrução social.


Um grande exemplo disso é o espaço de um casal de artistas visuais, Michelle Cunha e Raphíssima, no bairro da campina, trata-se de um porão de uma casa antiga, onde elas vivem e onde funciona seu atelier, que é aberto uma vez ao mês para que o público possa ver não apenas suas obras, mas seu espaço de criar, seu universo e sua identidade. O lugar ganhou carinhosamente o nome de ´´Sopro``, uma [c]asa atelier, e abriga diversas poesias e rabiscos de Raphíssima, assim como várias obras da graffiteira Michelle Cunha, presentes em diversas superfícies não tão convencionais na arte do graffiti. Seu canto cultural surge com a proposta de mostrar a arte política das duas artistas em sua própria casa, seu próprio habitat. O fato de o espaço ser também o lar das duas, faz com que esse ambiente tenha uma deliciosa atmosfera de casa, onde tudo parece ser muito acolhedor.


Nas paredes encontramos pinturas, poesias, graffitis, dentre outras obras que deixam o lugar com uma profusão de informações que pode ser deliciada durante horas. Raphíssima afirma que é um processo de extrema entrega, afinal ela e sua companheira estão abrindo algo tão íntimo como sua casa, para pessoas que ambas não conhecem, mas que vale muito a pena ao ver o recebimento e o reconhecimento dos seus trabalhos aos olhares curiosos dos visitantes. Michelle Cunha já interfere na cidade há muitos anos com seu traço tão característico, marcado pelas suas corujas e pássaros e mulheres. Responsável por parte da arte urbana nos nossos muros, agora enga jada no projeto de fazer da sua [c]asa atelier também um local de compartilhamento de cultura. Ela ainda cultiva mudas para trocar mensalmente, a cada Atelier Aberto, com os visitantes, tudo em seu jardim de inverno ilustrado com poesias e natureza. Enquanto isso, Raphíssima cria sua identidade tão marcante na produção dos seus livros e mini livros artesanais, repletos de desconstruções representadas de maneira artística, visual, literal e absolutamente inusitada. Seus fanzines, por exemplo, desconstroem padrões opressores criados pela sociedade de um jeito criativo, adaptável e fluente, mudando a concepção da obra em cada ponto de vista, mas sempre mantendo a proposta militante de defender a libertação de conceitos de opressão.

Juntas, ambas criam esse espaço criativo, inusitado, aconchegante e repleto de arte. Um porão cultural inspirador tanto para quem já está no meio a consideráveis anos quanto para a juventude que entra agora no cenário cultural paraense. A [c]asa atelier Sopro nos passa exatamente essa imagem, essa fluência do Sopro, esse sentimento de que tudo naquele espaço sempre será fluente e mutável, aquelas paredes sempre darão espaço a novas obras, aqueles papéis sempre darão margem a novas poesias, porém a essência criativa do local sempre será a mesma. Aconchegante como uma casa, não apenas de Michelle, não apenas de Raphíssima, mas da arte como um todo.




Produção Independente Do jornalismo à musica:como as iniciativas livres têm mudado a dinâmica mercado.


Todos nós nascemos artistas, nascemos com vontade de pintar, escrever, cantar e dançar, a arte faz parte da essência do que é ser humano. Mas logo que envelhecemos, todos nós percebemos que continuar artista é a parte mais difícil, percebemos o quanto é difícil viver das nossas criações, talvez até impossível em mundo que a cada dia nos obriga a escolher mais cedo uma profissão que nos dê dinheiro e que nos faça ser “bem sucedidos”, afinal, “viver de música/teatro/pintura não vai te dar um futuro” quantos de nós já não ouvimos isso? Nos últimos anos, entretanto, algo tem mudado, a nova geração de produtores independentes criou uma cena onde cada vez mais a mistura entre o empreendedorismo e o fazer artístico se torna uma linha tênue. Há uma gama de artistas que utilizam o espaço das cidades como um laboratório de experimentação se apropriando, assimilando e adaptando espaços artísticos em prol de um mercado de arte, que vem se construindo, e apesar de despretensioso e negligenciado pelo poder público, vem se provando altamente lucrativo e além disso uma grande ferramenta para a integração social de áreas marginalizadas. Por outro lado, há movimentos que se recusam a aderir a esse sistema, para eles a arte tem o papel de provocar diálogos, ocupar e é claro, resistir. A reconfiguração do mercado autoral, a partir da internet e das mídias sociais permitiu que grupos que antes eram esparsos e tinham pouca comunicação entre si pudessem se organizar e fazer algo novo, organizar ocupações e eventos em prol de revitalizar e utilizar espaços antes impensados, muitas vezes sem a pretensão de lucro.


Um desses movimentos ficou muito conhecido na cidade de Belém, o chamado Solar das Artes que foi realizado pela primeira vez durante a virada cultural 2014, utilizou um espaço antes esquecido pelo poder público para a realização de uma partilha artística onde qualquer um poderia expor seu trabalho sem curadoria, com o simples intuito de dar espaço aos artistas da cidade. O solar das Artes mais tarde viria a se tornar um movimento de resistência política e de crítica ao descaso do governo com o Solar da Beira e mais que isso com a cultura do estado. Outro evento que ocorre todos os anos na cidade de São Paulo é a feira plana: “A Plana é um feira anual de publicações independentes, que reúne editores, artistas, coletivos, fotógrafos, designers, galerias, editoras fictícias e ativistas guerrilheiros para venda, troca e lançamento de livros de artista, zines, jornais e quadrinhos.” A plana diferente do solar das artes, é um evento que visa dar espaço de venda e não apenas de amostra para os produtores independentes, a feira esta totalmente fora do circuito tradicional das editoras e livrarias, onde você pode encontrar desde edições extremamente sofisticadas, até publicações que parecem simples xerox, como os fanzines da década de 80. Na feira são todos independentes, editoras representando autores, autores se auto-publicando, e todos buscam de forma simples, barata e prática imprimir e fazer circular seu trabalho, sua arte.


Nós precisávamos construir a cidade que nós queremos viver, sem esperar apoio ou patrocínios” “

Sem processos burocráticos, sem intermediários, sem contrato, tudo fluindo como tem que ser. A feira só cresce a cada ano, duplicando seu público a cada edição , as pessoas começaram a entender o valor de comprar diretamente de quem produz. O fluxo desses movimentos prova o quanto o sistema em que vivemos está falido. O Solar das artes e a feira plana criaram um legado e uma nova visão de que “ Nós precisávamos construir a cidade que nós queremos viver, sem esperar apoio ou patrocínios”. Novos eventos como esse vem surgindo em todos os cantos do país, alguns com motivações diferentes, as vezes movidos por iniciativas privadas, o que não é um problema quando a proposta é criar uma cena cultural viva e ativa no coração das metrópoles brasileiras.



Um dos eventos que ocorrem na cidade de Belém é o “Traz teu trampo” um evento de partilha artística que tem como proposta “ Alavancar artistas que se encontravam na sombra de nossas mangueiras, fora do alcance de galerias e da mídia, logo veio a proposta de tornar visível toda essa arte que se mantinha oculta por cada viela da nossa querida manga city, criando uma verdadeira exposição comunitária, onde os próprios participantes eram seus curadores, onde qualquer expressão artística era permitida e recebida de portas abertas, logo começamos a implementar nossos eventos com a entrada de palestras, trazendo para uma mesa redonda artistas destaques nacionais para debater com nosso publico e tirar suas duvidas sobre o mundo artístico ao qual respiram.” nas palavras de Kaio Sauma coordenador do evento. Eventos como o Traz Teu Trampo são extremamente importantes para cidade como Belém que tem um cenário artístico riquíssimo, porém muitas vezes negligenciado. “O objetivo do evento é valorizar a diversidade das expressões artísticas, e o artista em si. Sobretudo impera a troca de conhecimento artístico e social do mundo da arte. Contatos de diversos tipos são trocados, trazendo possível ascendência de eminentes artistas que por sua vez ainda não tiveram a oportunidade de despir sua arte perante aos olhos de outros, e simultaneamente vendo a arte de outros exposta da mesma forma.” explica Sauma. Os eventos como o “Traz Teu Trampo” são essenciais para formação de uma cidade cada vez mais idependente artisticamente,criando espaços autônomos de exposição, dando voz e força aos novos artistas.


Em várias partes do mundo, sozinhos ou em grupo, repórteres estão reinventando o fazer da profissão, experimentando novas formas de trazer informações para o público, seja por meio de revistas digitais, canais de notícia no YouTube, blogs ou fanzines, o que motiva esses profissionais é uma grande sede de mudança, que aumenta a cada dia mais entre os jornalistas. Esses profissionais estão criando um novo jornalismo, lúcidos e politizados tentam trazer para os leitores visões fora do circuito tradicional da mídia. Mas quem são esses jornalistas? Na maioria das vezes são jovens estudantes que entendem a importância de um jornalismo independente e livre de interesses, o mercado tradicional muitas vezes não agrada esses profissionais, que têm uma grande necessidade de inovação e precisam de um espaço para a criação de suas próprias narrativas. Essas narrativas na maioria das vezes são extremamente importantes para os movimentos considerados marginalizados e fora do circuito tradicional.

O jornalismo independente cria espaço e dá voz a esses movimentos, mostram o outro lado da moeda de muitos acontecimentos. Em 2013 durante os protestos que balançaram o país, vários coletivos de mídia surgiram com o objetivo único de cobrir os protestos. A cobertura desses eventos era feita de dentro para fora dando uma visão completamente diferenciada dos acontecimentos, esse movimento foi um passo enorme para o jornalismo brasileiro. De lá para cá inúmeros movimentos e inciativas de jornalismo independente surgiram em diversas partes do país, uma dessas iniciativas é a revista digital “Na Cuia”. A “Na cuia” é um dos expoentes do jornalismo independente paraense, é uma revista digital que trata principalmente de assuntos pertinentes à arte e cultura belenense.


Completamente politizados, a Na Cuia vê seu jornalismo não apenas como um meio de informação, mas também como um meio de resistência “O fazer artístico e o fazer politico estão extremamente interligados, um não existe sem o outro” como afirma Juliana Araújo. O projeto surgiu em 2014 e possui 12 edições recheadas de conteúdo cultural e politizado extremamente pertinentes para a cidade, conta com uma equipe de 12 estudantes de jornalismo e publicidade que buscam realizar: “A verdadeira função do jornalismo, que é fazer serviço público, e todos nós sempre enxergamos isso”, ressalta Juliana. O formato de revista digital foi escolhido porque “todos nós gostávamos de escrever para impresso, mas não para jornal, logo a revista foi uma alternativa” explica Matheus Botelho, redator. Em suas edições lançadas até hoje, a Na Cuia, como outros jornalistas independentes, buscam prezar pelo circuito alternativo de cultura da cidade de Belém se estabelecendo como um dos principais meios de divulgação dos mesmos, e vem fazendo um ótimo trabalho de facilitação de informações, crítica e dispersamento de conhecimento. Observando esses movimentos por um lado positivo, o jornalismo brasileiro anda, mesmo que a passos curtos, à um rumo de transparência, afinal, um novo jornalismo não só é possível como necessário, e é está sendo concretizado.


Em Busca do Cada vez mais quando se fala em música seja ela do barzinho, de rua ou dos grandes festivais é impossível não pensar no artista independente e toda a cultura que o cerca, desde as gravações feitas no quarto de casa ou até os shows escondidos feitos nos barzinhos da cidade. Mas afinal, o que um artista precisa para ser independente? Tecnicamente não estar ligado a nenhuma gravadora, mas será que é só isso? Ser independente é mais que uma questão de gravadoras, é uma questão de espírito, de sentir a música na forma mais pura, de ouvir os instrumentos soarem em consonância e principalmente saber que aquela música não depende de incentivos, é apenas o músico e a sua própria força de vontade tomando força, som e forma. O Brasil é um centro da música independente, e falando de independente não tem como não falar do rock, que é um dos gêneros musicais mais vivos no meio, rock é difícil de se fazer em qualquer lugar do Brasil, mas existem bandas que provam que esse gênero jamais vai morrer. Inúmeras bandas escolheram não depender de incentivos e simplesmente criar, afinal “ser independente é criar, independente do que aconteça.” Os maiores exemplos no rock atual são o Vivendo do Ócio, que produziu alguns de seus álbuns 100% independentes e é uma banda que faz muito sucesso no meio “mainstream” quebrando a ideia de que o independente necessariamente é o alternativo.


tom perfeito


Em Belém o cenário independente parece estar mais vivo do que nunca, começando pelos festivais como o Se Rasgum e Sonido que trazem bandas e artistas (nacionais e internacionais) todos os anos para a cidade, a maioria delas independente como foi o caso do Bass Drum Of Death banda norte americana, que participou do festival em 2014. Além das bandas de sangue tipicamente paraense como o Molho Negro, Turbo, Blocked Bones e a guitarrada do nosso último entrevistado , Félix Robatto. Além do rock existem outros inúmeros estilos e músicos independentes de potencial em terras paraenses. Um deles é Rafael Lima, que produz sob o nome de Kid from Amazon, e nos últimos anos vem ganhando cada vez mais reconhecimento no mercado tocando em casas noturnas da cidade. Por se tratar de um artista independente, Kid from Amazon produz por conta própria músicas inteiras sozinho em sua casa. Em entrevista a revista, ele nos conta que começou a produzir com quinze anos em programas convencionais de edição de música e que desde ai não parou mais. Hoje em dia ele conta com alguns equipamentos e programas profissionais para trabalhar. O que mais chama atenção em seu talento é que o mesmo consegue ser um instrumental inteiro sozinho, além de claro produzir músicas como ninguém. Kid from Amazon classifica seu gênero como eletrônico experimental, trazendo consigo uma diversidade de estilos com influências de diversos subgêneros em apenas uma música, assim conseguindo criar uma base totalmente original de vários experimentos.


Ao ser questionado sobre o atual cenário da música independente, ele nos conta: “Temos produtores bastante focados em trazer visibilidade a cena independente, fazê-la crescer, etc. Mas ainda é um caminho complicado fazer música sem olhar para os lados. Precisamos incentivar mais a produção independente aqui, pra fortalecer projetos e impedir que muitas coisas fiquem somente no mundo das ideias.” Atualmente, Kid from Amazon conta somente com as mídias sociais para divulgar (gratuitamente) seus trabalhos, como YouTube e SoundCloud. Certamente ser independente no ramo não é um caminho fácil a se percorrer, principalmente em um estado como Pará. Entretanto há muitos artistas que conseguiram progredir e levar seu trabalho ao país inteiro, mas no fim das contas o que importa é trabalhar com o que se gosta e se dedicar nisso que com certeza irá dar certo.


ALEXAnDEr

Rodchenko DESIGnEr, F0T0GrAF0 E

RUSS0 Texto e Diagrmação por

LE0nArD0 CABrAL ascido no ano de 1981 em St.Petersburg, Alexander Rodchenko foi um dos fundadores e um dos ou o principal artista do chamado Construtivismo Russo, um movimento que acreditava que a arte deveria ter um papel prático e socialmente útil, como uma faceta da produção industrial. onhecido principalmente como designer e fotógrafo, Rodchenko também foi pintor e escultor, e se utilizou disso

N

C





Luta Luta avidamente pelo o que é teu Não esqueça a espada na pedra Carregue sempre mais uma arma, de argumentos, na boca A história não é feita com o silêncio ou acomodação O mundo dá voltas, Reviravoltas, Mas nunca atrasa o tempo de revoluções Inglesa, Cubana, Chinesa, E um grande propósito: transformação


FLUXO O que em nós é nosso? O único não seria um destroço Que persiste após? Perder-se-á conosco, E esta marca a fogo Que há no ser mais tosco morrerá sem rogo? Crimes sem perdão Dores sem conforto Vácuo, confusão Nunca terão porto E até a hora mais rara Que nossa ânsia hiberna Tombará na avara Nublidade eterna


plutÃo

jÁ foi planeta a viagem que nÃo foi perdida


Ele era planeta, depois deixou de ser. Nome do deus romano que cuida do submundo dos mortos e que não tem nada a ver com essa banda, Plutão, agora, é estrela e está brilhando mais do que nunca. O grupo surgiu em 2013 e já contou que Plutão Já Foi Planeta veio de uma matéria jornalística, da época que Plutão deixou de ser planeta. Apesar de incomum, o nome combina com o estilo etéreo da banda, que transita – aliás, como a órbita do seu homenageado ex-planeta – entre as vertentes musicais, principalmente um indie e pop rock, se espelhando em bandas como Los Hermanos, e complementando os instrumentos base – guitarra, baixo e bateria – com teclado, ukulele, escaleta e sintetizador. O disco “Daqui pra lá” foi produzido pela própria banda, gravado no Estúdio DoSol, que também é um centro cultural em Natal que apresenta muitas bandas potiguares em seu espaço. Na época, a formação do grupo não era a mesma. Podemos ouvir Natália Noronha no vocal, assim como os guitarristas Gustavo Arruda e Sapulha Campos – que também cantam –, mas o baterista que se faz presente no álbum, Raphael Andrade, foi substituído por Kahlil Oliveira, e o antigo baixista, Rafael Bezerra, deu lugar à Vitória de Santi, que, por sinal, foi muito elogiada por Paulo Ricardo no segundo domingo do programa “SuperStar”.


Com sete faixas, os cinco integrantes originais te levam numa viagem, da qual dá pra se absorver bastante coisa, ou, talvez, até uma história, que não fica tão clara assim, se ouvido na ordem certa. Te aconselho a escutar esse cd como se lesse C. S. Lewis, que publicou As Crônicas de Nárnia totalmente fora da ordem cronológica. Quem sabe você não entende o que estou querendo dizer. Comece sua viagem com o ukulele de “Viagem Perdida”. A vibe indie folk toma conta dessa que é, provavelmente a música mais conhecida da banda. A voz de Natália narra, com um refrão que não sai da cabeça – e composição dela, vale ressaltar – como é inútil tentar fugir dos seus problemas por simples distração. Essa faixa, protagonista da primeira aparição da banda no SuperStar, com certeza compete pelo posto

de melhor do álbum, mas não foi só por isso que a escolhi para começar nossa história. Ela não consegue se desvincular do fato de que seu amor quer sair da própria mente. Ela não é assim. E, por isso, ele tenta se justificar em “A Hora”. Originalmente, é a sexta canção do disco, e traz uma melancolia que lembra as letras de Cícero. Ele canta na rua, apressado, com hora marcada, e joga a culpa nela: “Eu sou o que você me faz”. Mas ela não volta atrás. Parte para o imperativo. “Suma daqui”, canta, meio indecisa, com a voz suave e marcante de Natália Noronha, percorrendo a melodia agradável, de bateria tímida, “mas se você vier, passe por aqui pra me ver”. A composição é de Sapulha Campos. Em “Haverá de se”, a voz é coletiva.


Mas, “haverá de se” o quê? Primeiro, nos perguntamos se o nome da canção não está escrito errado. Não seria “haverá de ser”? Mas, depois de 28 segundos de introdução, eles te explicam que “haverá de se dizer”, “de se explicar” e muitas coisas mais, transformando o indie em rock na metade da música. O casal, daí, já mergulhou na separação. “Se a falta já não mais se faz de quem correu e levou embora a mais doce e longa das horas”. É, eles se separaram de vez. Mas não perca a esperança! “Será que eu disse adeus a quem só me queria ter por bem?”. Pule da faixa dois para a cinco, e vai ver – ou melhor, ouvir – outra harmonia melancólica, mas, dessa vez, de arrependimento. A voz começa masculina, e se junta à feminina da metade pro final, que é quando a bateria aparece com mais força. A tristeza fica alegre, e você, inevitavelmente, fica também. “A quem me deu a mão eu vou voltar, sentir o teu rosto”. Depois, Sapulha inicia a apaixonada faixa-título “Daqui pra lá” com uma escaleta, cuja melodia nos transporta para dentro da música com uma atmosfera romântica e parisiense. Essa é, também, uma das melhores do álbum, ainda mais com o vocal masculino, não competindo, mas complementando a voz de Natália, que só quer uma canção, uma chuva e “deixar o tempo pra depois”. E ele continua: “Nunca é demais a paz que você me traz”. E, sem nem mexer na posição original dela, vem a sétima faixa, pra combinar com o nome da banda, a pop “Você já não é mais planeta” termina a história. Com o background de uma melodia animada e sem nenhum resquício de tristeza das outras, Natália canta sobre o casal que é tão diferente, “eu de Marte, tu de Plutão”. Duas mentes diferentes que acabaram juntas, afinal “a diferença não faz diferença se você é você”. Depois desse encanto todo, muita gente já está girando na órbita da Plutão. Pra ajudar mais ainda, o álbum está completo em várias plataformas, como YouTube e Spotify, além de disponibilizado para download gratuito na página deles no Band Camp. Você pode ouvir na ordem normal, na minha ordem meio maluca ou na sua própria, porque eu prometo que o material é bom de todo jeito e a viagem não vai ser perdida.


Amanda Ferreira Graduanda em Administração na Universidade Federal do Pará.

Gabriella Salame Graduanda de Comunicação Social com ênfase em Jornalismo na Universidade da Amazônia.

Gabriela Cavalcante Graduanda de Comunicação Social com ênfase em Jornalismo na Universidade Federal do Rio Grande Do Norte.

Heleno Beckmann Graduando de Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda na Universidade da Amazônia.


Filipe Lobato Graduando de Comunicação Social com ênfase em Publicidade e Propaganda na Universidade da Amazônia.

Coranilo Graduando em Cinema e audiovisual na Universidade Federal do Pará.

Henrique Franco Graduando de comunicação social com ênfase em Publicidade e Propaganda na Universidade da Amazônia.

Leonardo Cabral Graduando em Artes visuais na Universidade da Amazônia.



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