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Solar de Poetas
José Sepúlveda
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Poetas
Quantos poemas fiz, quantas belezas Mandei a meu amor quando era meu, Quantas loucuras vãs, quantas vilezas Ridículas contei, quantas, ó céu!
Chamaram-me poeta, quais nobrezas! Que és tu, irmão poeta, mais que eu? Poemas são palavras, são certezas Que a mais singela frase enterneceu.
Poetas somos nós, é toda a gente Que vive neste mundo e é somente A forma de escrever que em nós varia
Se alguns dizem poemas a cantar, Também os há que os dizem sem falar E quem, silente e só, faz poesia!
José Sepúlveda
Perfume
Senti o teu perfume, de repente, Entrei no nosso mundo de prazer, Olhei-te nos teus olhos ternamente, Rendi-me aos teus encantos de mulher
Ai, minha amada, tudo é diferente Se estás perto de mim! Teu nobre ser Me inspira, me dá forças, me faz gente E em ti encontro um novo alvorecer
Se quero ter-te sempre em mim presente, Se anseio que tu sejas minha mente, É por te querer bem, minha querida
Que nada em ti me é indiferente, Eu quero-te sentir ardentemente Momento após momento em minha vida
José Sepúlveda
Rosas
Aqui te envio rosas, minha amada… São rosas que eu espalho à tua frente Para que possa ter-te bem presente, Bem perto de minha alma apaixonada…
E quando, pela alta madrugada, Tu fazes parte do meu corpo e mente Me sinto como vão delinquente Vagueando tão sozinho nessa estrada
São rosas de toucar que eu algum dia, Seguindo para além da fantasia, Hei de entregar-te em suave amanhecer…
E quando as minhas rosas te entregar Descobrirei, por fim, como encontrar, De novo essa alegria de viver
José Sepúlveda
Poeta
Pegou numas palavras ocas, vãs, Tiradas do seu antro de venturas… Juntou-lhes coisas boas, coisas más E polvilhou com frases bem maduras
E o sentimento livre que se faz De coisas simples, quem sabe, inseguras Partiu à descoberta, sem afãs, De vivo colorido, imagens puras…
E de repente viu-se confrontado Com mil palavras, num amontoado… Poliu-as, burilou-as, deu-lhes brilho…
Deixou gritar bem alto o pensamento Em plena liberdade… e num momento Soltou seu grito: - Ó Deus, nasceu-me filho!
José Sepúlveda
Sonho
Eu quero ser poeta, talvez louco, Daqueles a quem nada satisfaz, Eu quero nesta vida ser capaz De desventrar as coisas, pouco a pouco.
Viver a vida, o sonho, a ilusão, Na efémera esperança de encontrar Os trilhos desse incerto caminhar Que há de alimentar essa paixão.
Eu quero ser poeta sonhador, Sentir o desafio que acarreta Ficar na dependência de uma pena,
Se, nesse anseio, em busca desse amor, Concretizar o sonho e for poeta, A vida será sempre o meu poema!
José Sepúlveda
Tela da Vida
Lancei meus sentimentos numa tela E pus‐me a pincelar na noite escura Olhei e então notei ser tão singela A tela desta minha vida obscura
Pintei naquela tela uma aguarela Com as cores que ditava o coração Senti‐me aprisionado numa cela De amor, de fantasia e de ilusão
E quando já no fim olhei meu quadro Fiquei olhando um lado, o outro lado, A minha estrada em cores ressarcida
Nos traços dessa tela eu descobri As sensações estranhas que vivi Nas tensas pinceladas desta vida
José Sepúlveda