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Coluna – Destaque Científico
from REVISTA MEDICAÇÃO ED. DEZ 2022
by Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas
DESTAQUE CIENTÍFICO Hepatite C Crônica: podemos curar, mas ainda precisamos diagnosticar
Dr. Tiago Sevá Pereira
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Hepatite C como problema de saúde pública
A hepatite C crônica é uma doença infecciosa causada pelo vírus da hepatite C (HCV), que foi identificado em 1989 (antes disso, já se sabia existir uma “hepatite não-A não-B”), sendo uma das principais causas de cirrose hepática e do câncer de fígado e um dos maiores motivos para transplantes de fígado no Brasil e no mundo.
O HCV é classificado em genótipos de 1 a 6, e é transmitido principalmente pelo sangue, sendo as vias de contaminação possíveis: as transfusões sanguíneas (no Brasil, a testagem rotineira para HCV nos bancos de sangue foi iniciada em 1993), hemodiálise, contaminação por agulhas, seringas e materiais intravenosos; já a via sexual e a transmissão vertical têm menor potencial de contaminação.
Aproximadamente 80% dos pacientes são assintomáticos nas fases iniciais, e a cronificação ocorre em 60% a 85% dos casos não tratados, com evolução de 20% para cirrose, e entre 1% a 5% de desenvolvimento de carcinoma hepatocelular em 20 anos.
A hepatite C está associada a elevadas taxas de morbimortalidade, sendo atualmente um problema de saúde pública, com prevalência mundial que varia de 0,5% a 1,0%.
No Brasil, estima-se que existam aproximadamente 700 mil pessoas com hepatite C crônica, porém, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2022, apenas 279.872 casos foram notificados até 2021. (1)
O tratamento atual da hepatite C crônica
Atualmente, o tratamento da hepatite C crônica é baseado em Antivirais de Ação Direta (DAAs – da sigla em inglês) e tem taxas de cura do HCV superiores as 95%.
A incorporação dos DAAs no Brasil se deu com a publicação do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Hepatite C e Coinfecções de 2015 pelo Ministério da Saúde, e foi um marco no tratamento da doença, introduzindo esquemas de tratamento totalmente orais. Já com as diretrizes atuais para tratamento da Hepatite C no âmbito do SUS, o tratamento que é oferecido para todos os portadores de hepatite C crônica inclui drogas eficazes para todos os genótipos do HCV (Sofosbuvir/Velpatasvir ou Glecaprevir/Pibrentasvir), com poucos efeitos colaterais e posologia muito favorável (1 comprimido ao dia por 8 a 12 semanas na maioria dos casos, com possibilidade de inclusão de Ribavirina ou extensão do tempo a depender da presença de cirrose descompensada ou de não resposta a tratamentos prévios). (2)
Com o acesso ao tratamento atual, a ampla maioria dos casos diagnosticados já foi tratada com sucesso. Porém, a OMS estima que até 2020, apenas 30% dos portadores de Hepatite C tiveram diagnóstico da doença, o que faz com que grande parte dos pacientes não tenha tido a oportunidade de cura. (3)
Necessidade de rastrear e diagnosticar a hepatite C na população
A OMS estabeleceu metas para o diagnóstico e acesso ao tratamento da hepatite C. Neste documento, revisado em 2022 (3), propõe-se alcançar a meta de erradicação do HCV em 80% dos portadores, mas, para isso, o grande desafio é aumentar a taxa de diagnóstico dos 30% atuais para 90% entre os portadores de hepatite C até 2030.
Sendo assim, todo paciente atendido deveria ser testado, ao menos uma vez, com sorologia Anti-HCV. Este rastreamento é especialmente importante nos grupos de maior risco, que incluem: pessoas com mais de 40 anos, pacientes que receberam transfusão de sangue antes de 1993, com antecedente de uso de drogas ou de compartilhamento de seringas, pacientes em hemodiálise, portadores de HIV ou hepatite B e profissionais de saúde.
Somente com o diagnóstico poderemos erradicar a hepatite C.
Dr. Tiago Sevá Pereira é chefe da Disciplina de Gastroenterologia da Unicamp, médico hepatologista e gastroenterologista
Bibiografia
1 - Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2022 / Ministério da Saúde. https:// www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/ especiais/2022/boletim-epidemiologico-de-hepatites-virais-2022-numero-especial/view
2 - Nota Técnica Conjunta CAF/SES-SP e PEHV/CVE/CCD/SES-SP nº 04, de 19 de julho de 2022). https://www.saude.sp.gov.br/resources/ses/perfil/gestor/ assistencia-farmaceutica/notas-tecnicas/nota-tecnica-caf-e-ccd-04_2022.pdf
3 - Global health sector strategies on, respectively, HIV, viral hepatitis and sexually transmitted infections for the period 2022-2030. Geneva: World Health Organization; 2022. https://www.who.int/teams/global-hiv-hepatitis-and-stisprogrammes/strategies/global-health-sector-strategies