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A bela Ilha de Madeira e seus vinhos

A Bela Ilha da Madeira e Seus Vinhos

Bruno Vianna, DipWSET MW Student

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m 1776, era proclama-

Eda a independência dos Estados Unidos e, para a celebração, foi escolhido o Vinho Madeira, fato sempre lembrado e motivo de orgulho dos habitantes da Região Autônoma da Madeira, composta de 4 ilhas, duas delas (Madeira e Porto Santo) habitadas e demarcadas para a produção do Vinho Madeira. A paisagem é incomum e bela, com altas montanhas, matas, muita bananeira nas partes mais baixas e 408 ha de videiras, pulverizadas nas mãos de 1.749 pequenos produtores, que vendem suas uvas para apenas 8 produtores de vinho, em sua maioria de longa tradição e grande influência de negociantes ingleses.

O Vinho Madeira é um vinho fortificado, ou seja, recebe a adição de álcool durante a fermentação, elevando seu teor alcoólico para um valor entre 17% e 22%, cuja origem foi para torná-lo mais robusto para resistir à navegação até chegar à Inglaterra, como ocorreu também com o Vinho do Porto, Jerez e Marsala. Dependendo do momento em que o álcool é adicionado, há 5 diferentes graus de doçura no vinho Madeira: extra-seco, seco, meio-seco, meio-doce e doce.

A uva mais plantada é a Tinta Negra (53%), também a mais adaptada, fácil de produzir e que tem a capacidade de originar qualquer dos 5 tipos de vinho. Entretanto, as uvas brancas são as consideradas nobres, mas são específicas para cada grau de doçura: Sercial (extra-seco e seco), Verdelho (meio-seco), Boal (meio-doce) e Malvasia ou Malmsey (doce). Há outras castas permitidas, mas com produção muito menor.

O Brasil teve participação no sucesso do Vinho da Madeira. A ilha foi descoberta em 1419 e logo passou a ser um importante produtor de açúcar-de-cana, chamado de “ouro branco”. Com o descobrimento do Brasil, o açúcar daqui era muito mais barato, por ser produzido em áreas mais planas, não exigindo tantos escravos e obrigando a Madeira a substituir os canaviais por vinhas a partir de 1506. Em 1537, já passou a exportar para a Inglaterra. Como estava no caminho das Índias Orientais, era rota dos navios, que eram abastecidos de vinhos.

Alguns dos tonéis não conseguiam ser vendidos (nem bebidos durante a viagem) e, depois de cruzar duas vezes o equador, retornavam à Madeira. Provando este vinho (chamado de “Torna Viagem”), os produtores se admiraram ao ver que estava melhor que o mesmo vinho que havia permanecido em terra. Assim, resolveram simular o calor dos porões dos navios, aquecendo os vinhos pelo método chamado de “Estufagem”, que foi sendo aperfeiçoado e hoje dura no mínimo 3 meses, aquecendo-se os tanques entre 45°C a 50°C, o que confere um sabor caramelizado. Para os vinhos de mais alta gama, aí incluídos os de casta (branca) nobre, desenvolveu-se um método mais delicado, denominado “Canteiro”, colocando os tonéis em áreas quentes dos armazéns, por um mínimo de 2 anos, a temperaturas entre 20°C e 35°C.

A alta acidez dos vinhos da Madeira é um de seus maiores atrativos, equilibrando sempre seu álcool e açúcar com uma sensação de frescor e auxiliando muito nas harmonizações. Pelos seus diferentes estilos, apresenta muita flexibilidade para harmonização com diferentes tipos de comida, principalmente como acompanhamento de entradas, sobremesas e queijos, mas também degustado solo.

A maioria dos vinhos é feita com blend de diferentes safras. Os mais antigos têm uma indicação de idade (5, 10, 15, 20, 30, 40 e 50+ anos). Os de uma única safra são chamados de Colheita, sendo os tops denominados Frasqueira (ou Garrafeira), exigindo, no mínimo, 20 anos em Canteiro.

Em outubro de 2022, levei um grupo de associados da SBSomm para 5 dias de visitas técnicas na Madeira e, na sequência, passei mais uma semana lá em um curso de certificação de Educador de Vinho da Madeira, muito bem organizado pelo IVBAM (Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato da Madeira), o que aumentou minha admiração por esse estilo de vinho particular e raro.

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