Revista Repensar | SM Educação

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Revista

ed. 1. ano 1. 2019

PENSAR A tecnologia e as relações sociais Precisamos aprender a viver um mundo novo e utilizar a tecnologia em favor das relações e da aprendizagem p. 10

Leitura e encantamentos Como tornar a leitura uma experiência prazerosa e que desperte a imaginação dos alunos p. 52

BNCC: A ESSÊNCIA DA APRENDIZAGEM A formação integral de nossos alunos e a busca de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. 2


A EDUCAÇÃO NOS MOVE

Em um mundo acelerado e cheio de transformações, a SM quer apoiar a escola na escolha dos melhores caminhos.

O blog A Educação nos Move é uma fonte de dicas e informações sobre os temas mais relevantes para a sala de aula no século 21, como cultura digital, aprendizagem com projetos, tecnologia educacional, habilidades e competências e muito mais. Acesse o blog e faça parte desse movimento por uma educação transformadora:

www.aeducacaonosmove.com.br

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ed. 1. ano 1. 2019

PENSAR Caro Educador,

Expediente

Diretor Geral SM Educação Elzimar Albuquerque

É com grande alegria que compartilhamos com você algumas reflexões sobre práticas em sala de aula focadas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), nas necessidades desta nova geração e na busca por uma formação cada vez mais real e significativa. Buscamos trazer algumas experiências, teorias e relatos que possam auxiliar o trabalho em sala, ampliando o olhar metodológico e as reflexões sobre o desenvolvimento de competências e habilidades esperadas para cada segmento da educação básica. Queremos compartilhar essas reflexões com o objetivo de tornar cada vez mais dinâmico o dia a dia em sala, com atividades apaixonantes e tornando nossos alunos cada vez mais protagonistas na construção de sua formação. Esperamos que cada artigo compartilhado possa trazer conhecimento e inspiração para seu trabalho em sala, para suas reuniões formativas e para incentivar outros estudos, sempre em parceria na jornada de construção da formação integral e do projeto de vida do aluno. Educar é um desafio ao qual vale a pena se dedicar. Vamos juntos? Aproveite a leitura! A Educação nos move!

Diretora Geral Fundação SM Maria do Pilar Lacerda Diretor Comercial Emanuel Adriano de Souza Diretor Serviços Educacionais Aldeir Antônio Neto Rocha Diretor de Marketing Vitor Hugo da Silva Vicente Diretor de Operações e Logística Eduardo Santos Gerente de Fabricação Alexander Dal Rovere Maeda Coordenador de Marketing Rodrigo De Stefano Porciuncula Analistas de Marketing Fernanda Blondin Adriana Aparecida Seixas Rocha Thais Graciadio Canola Ingrid Neto dos Santos Autoria dos artigos Tatiana de Jesus Pita  pitaassessoriaeducacional Revisão Wagner Roque Projeto Editorial Influid Digital Studio

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SUMÁRIO

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ed. 1. ano 1. 2019

Reflexões sobre a BNCC

A tecnologia e as relações sociais

18 22

O diálogo entre escola e família

Utilizando a tecnologia assistiva em sala de aula

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5 lições que aprendemos com escolas inovadoras

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Aprendizagem com projetos: alguns modelos que nos servem de inspiração

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A Arte como ferramenta interdisciplinar


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O olhar investigativo e a aprendizagem significativa

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Organizar o tempo

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Leitura e encantamentos: a Literatura na escola

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REFLEXÕES SOBRE A

BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é o conjunto de competências e habilidades que norteiam as aprendizagens essenciais que os alunos devem desenvolver ao longo da educação básica. Ela é um instrumento que direciona a organização curricular e a qualidade da 4

educação para todos, buscando acabar com as diferenças curriculares apresentadas nas diversas políticas educacionais de estados e municípios. Para a BNCC, competências são a mobilização do conceito, e as habilidades são atitudes e


valores para resolver as situações-problema diárias, sempre focando o pleno desenvolvimento do aluno como cidadão e presença de destaque no mercado. Com esse olhar, busca-se, portanto, a igualdade educacional, considerando as singularidades desse processo, o real acesso e a permanência de todos na escola, com direito a aprendizagem real e significativa. Para que esse aprendizado ocorra, é preciso garantir o foco na equidade, entendendo as necessidades diferentes dos alunos, buscando um planejamento que atenda a esse objetivo, acabando com a marginalização dos grupos. Nesse contexto, a missão da educação básica será promover uma educação integral, que visa à formação e ao desenvolvimento global: somos frutos de nossas relações com o meio e com o outro, reforçando a importância do olhar democrático e do respeito à pluralidade. Vivemos em um mundo que necessita de cidadãos criativos, proativos, que saibam partilhar, respeitar a pluralidade e resolver situações-problema de modo responsável e produtivo.

A escola não é mais um local para termos acesso a informações acumuladas ao longo da história. No espaço escolar, ao longo da educação básica, os estudantes são convidados a questionar, focar, analisar, discutir, interpretar, conceituar, trabalhar em equipe, respeitar e resolver situações-problema que lhes forem propostas. Esse é o sujeito que o novo cenário social espera, pronto para viver no contexto tecnológico, inovador e colaborativo. A BNCC se organiza para atender às necessidades por segmento da educação básica: Educação Infantil (campos de experiência) e Ensino Fundamental (competências e objetos de conhecimento por área). Para garantir os diretos éticos, estéticos e políticos, definidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais, determina as dez competências que permeiam toda a educação básica e que atendem às necessidades do século XXI: habilidades cognitivas e socioemocionais.

Competências gerais da BNCC: 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos para entender e explicar a realidade (Conceitos).

A missão da educação básica será promover uma educação integral, que visa à formação e ao desenvolvimento global.

2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências (Olhar investigativo, pensamento científico).

3. Valorizar e

fruir as diversas manifestações artísticas e culturais (Repertório cultural).

4. Utilizar

diferentes linguagens para se comunicar: verbal, não verbal, matemática, corporal, visual, sonora, digital, científica (Comunicação).

5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação em diversas práticas sociais (Cibercultura).

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6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências para a vida e o mundo do trabalho (Relações pessoais e de trabalho).

7. A rgumentar,

analisar dados, negociar, defender ponto de vista, respeitar e promover os direitos humanos e a melhoria do mundo (Diálogo).

8. Conhecer-se,

apreciar-se e cuidar da saúde física e emocional, compreender-se na diversidade humana, reconhecer suas emoções e as do outro (Autoconhecimento).

9. Exercitar

a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação (Valorização da diversidade e empatia).

10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade e resiliência (Ética e cidadania). Temos aqui o desenho da formação integral do estudante, em que a dinâmica escolar deve se dar a partir de uma sequência didática que permita compreensão dos conceitos, dos processos e da aplicação do que se aprende, evidenciando as experiências, as trocas, o diálogo e os valores.

BNCC e a Educação Infantil A Educação Infantil em nosso país teve uma grande mudança quando, a partir da Constituição Federal de 1988, tornou-se dever do Estado e com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, passou a ser parte integrante da educação básica. 6

Foi um grande ganho, pois esse segmento era considerado apenas um estágio preparatório para a escola, o que sabemos que não é verdadeiro. Esse é um período que inicia e fundamenta o processo educacional, em que começam as primeiras relações sociais fora do âmbito escolar. Nessa faixa etária, a experimentação é necessária para a construção do entendimento de quem somos, do mundo em que vivemos e como estabelecemos relações com o meio e com o outro. Os espaços escolares devem ampliar as experiências ligadas às concepções do binômio educar e cuidar, sugerindo a articulação entre o que os alunos vivenciam e as propostas pedagógicas para seu pleno desenvolvimento. Dessa maneira, a escola estabelecerá um diálogo efetivo com a família, conhecendo e respeitando a pluralidade cultural presente no meio em que estiver atuando.


Os espaços escolares devem ampliar as experiências ligadas às concepções do binômio educar e cuidar.

Para permitir o aprendizado real e significativo, deverá garantir as interações e brincadeiras como eixos estruturantes de suas práticas pedagógicas, determinadas na BNCC como seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento, sempre com o olhar na formação integral. Direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil:

1. C onviver com o meio e com o outro, utilizando as múltiplas linguagens.

2. Brincar de diversas formas, com diferentes linguagens, para ampliar seu entendimento de mundo e compreender valores e relações.

3. Participar ativamente das ações escolares, das discussões e relações entre todos os grupos (adultos e crianças).

4. Explorar

as múltiplas linguagens e ações de comunicação, ampliando seu repertório cultural.

5. Expressar suas ideias, hipóteses, sentimentos, opiniões, questionamentos.

Esses direitos nortearão as práticas em sala por meio de experiências e diálogo, tendo como foco o desenvolvimento da criança que observa, questiona, cria, levanta hipóteses, avalia, resolve problemas, convive de modo respeitoso e responsável com o meio e com o outro. Há aqui uma intencionalidade educativa nas ações promovidas pelos professores na Educação Infantil. O professor de Educação Infantil deverá planejar suas aulas de modo a garantir essas experimentações, definidas na BNCC, por meio dos campos de experiência que estabelecem os direitos de aprendizagem e determinam os objetivos de aprendizagem e conhecimento. Assim, fica aqui descrito e determinado que a Educação Infantil é um período de aprendizagem, com metas definidas, fazendo parte da educação básica. Os campos de experiência são:

1. O

eu, o outro e o nós: interagindo com o meio e com as demais pessoas, a criança vai criando sua identidade e o respeito ao outro, percebendo que faz parte de um grupo social com valores plurais a serem respeitados.

2. Corpo,

gestos e movimentos: compreender o próprio corpo, suas possibilidades, as manifestações corporais e culturais como formas de expressão. Entendimento dos cuidados corporais e maturidade dos movimentos.

3. Traços, sons, cores e formas: promover experiências para que as crianças possam desenvolver o senso estético e crítico por meio da manipulação de vários materiais, linguagens e contato com a pluralidade cultural.

6. C onhecer-se

e construir sua identidade pessoal, social e cultural. 7


Será mesmo que éramos mais felizes sem o “computador”? Ou será que apenas precisamos aprender a viver um mundo novo?

4. E scuta,

fala, pensamento e imaginação: ouvir, ver, imitar, falar, ler, escrever. A criança, ao desenvolver-se e ter contato com o meio e com o outro, vai percebendo as várias formas de comunicação e tendo a necessidade de usá-las para comunicar-se e expressar seus pensamentos e desejos. A Educação Infantil propõe situações de contato com a escuta, a leitura e a escrita no cotidiano e de modo natural.

5. E spaços,

tempos, quantidades, relações e transformações: compreender as variações de espaço e tempo, no mundo constituído por fenômenos naturais e socioculturais. A criança passa por experiências em que os participantes levantam hipóteses, consultam informações, discutem, buscam recursos para resolver situações-problema.

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BNCC e o Ensino Fundamental Nessa fase mais longa da educação básica, deve haver a valorização de aprendizagens que articulem as experiências vividas na Educação Infantil e a sistematização progressiva, característica dessa etapa. Para isso, é preciso respeitar as necessidades desse grupo, ampliando sua visão de mundo e as relações que ele estabelece com o meio e com o outro. O espaço escolar deve proporcionar situações de desafio e reflexões, em que a criança participa da construção real e significativa da aprendizagem. É preciso promover a progressiva construção da aprendizagem e ter sempre em mente a educação integral do estudante. Para esse segmento, a BNCC se organiza por:


Áreas do conhecimento

Ensino Médio

• Linguagens: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física, Língua Inglesa

• Ciências da Natureza

Homologado em dezembro de 2018, o texto que se refere à nova estrutura da BNCC para o Ensino Médio está começando a chegar nas escolas, promovendo debates sobre sua implantação.

• Ciências Humanas: História e Geografia

Áreas do conhecimento

• Ensino Religioso

Componentes curriculares (1aª à 3aª série)

Em cada área há a descrição da unidade temática, o objeto de conhecimento e a apresentação progressiva da habilidade para o ano indicado.

• Linguagens e suas tecnologias: Língua Portuguesa

A BNCC é um documento de grande importância para a busca constante da qualidade da Educação em nosso país. Temos uma ferramenta rica e bem estruturada que precisa de estudo, parceria, reflexão e disposição de todos para que atinja seu real objetivo: formação integral e de qualidade de nossas crianças.

• Ciências Humanas e Sociais Aplicadas

• Matemática

O trabalho é árduo por necessitar quebrar paradigmas, disposição para o novo, mudanças de planejamento e estratégias presentes em sala. Além de modificações na formação docente e de investimento em espaço e materiais. A função do espaço escolar deve ser a de criar situações de aprendizagem em que o aluno é desafiado a levantar hipóteses, analisar, refletir, argumentar, conceituar, aprender a fazer e a resolver as situações-problema que lhe forem apresentadas. Mas, acima de tudo, deve ser um espaço democrático e plural, em que o estudante é convidado a conviver, respeitar e integrar pessoas e o meio em que vive. A BNCC nos convida a mudar e a melhorar nossa sociedade e as gerações futuras. A educação é o caminho, e a tecnologia, a estratégia.

• Matemática e suas tecnologias: Matemática • Ciências da Natureza e suas tecnologias Na BNCC, o Ensino Médio está organizado em quatro áreas de conhecimento, conforme determina a LDB. A organização por áreas, como bem aponta o Parecer CNE/CP no 11/200925, “não exclui necessariamente as disciplinas, com suas especificidades e saberes próprios historicamente construídos, mas, sim, implica o fortalecimento das relações entre elas e a sua contextualização para apreensão e intervenção na realidade, requerendo trabalho conjugado e cooperativo dos seus professores no planejamento e na execução nos planos de ensino” (BRASIL, 2009, ênfases adicionadas). Em função das determinações da Lei no 13.415/2017, são detalhadas as habilidades de Língua Portuguesa e Matemática, considerando que esses componentes curriculares devem ser oferecidos nos três anos do Ensino Médio. Ainda assim, para garantir aos sistemas de ensino e às escolas a construção de currículos e propostas pedagógicas flexíveis e adequados à sua realidade, essas habilidades são apresentadas sem indicação de seriação (BNCC - p. 29).

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A TECNOLOGIA E AS RELAÇÕES SOCIAIS Como tudo começou... Em meados de 1988 chegava ao Brasil, para uso no meio acadêmico, a internet. No dia 17 de julho de 1994, o jornal Folha de S.Paulo dedicou a edição dominical do seu caderno Mais!, ao assunto, anunciando: “Nasce uma nova for10

ma de comunicação que ligará por computador milhões de pessoas em escala planetária”. Em caráter experimental, a Embratel começou a difundir para uso doméstico. Em 1996, o acesso à internet por linha discada já havia se expandido e Gilberto Gil lançou a música


“Pela internet”. E assim, nossa geração foi convidada a conhecer um mundo sem limites, sem fronteiras e onde tudo que desejássemos poderia estar ali armazenado. Mal sabíamos que esse novo mundo mudaria nosso modo de nos relacionarmos, fazermos negócios, trabalharmos, fazermos política, criarmos notícias e nos comunicarmos.

Sem perceber, começamos a “morar no mundo real e no mundo virtual”. A tecnologia já se fazia presente em todos os locais e, com isso, o mercado de trabalho também começou a mudar e a exigir outras habilidades, antes desnecessárias. As formas de aprender também se modificaram e os cursos a distância logo tomariam forma e ganhariam força.

Quando o novo século chegou, trouxe com ele o fenômeno da cibercultura, explicado por Pierre Lévy como “o desdobramento da relação da tecnologia com modernidade que se caracterizou pela dominação racional da natureza e do outro. A cibercultura seria uma atualização dessa dominação, centrada agora na transformação do mundo em dados binários para futura manipulação.

E nossa geração ia lentamente tentando se adaptar e conviver com essas mudanças. Enquanto isso, nascia “a geração do século XXI”, em meio a toda essa tecnologia e inovação.

A convergência entre informática e telecomunicação originará a sociedade da informação. De modo que o surgimento das novas possibilidades planetárias da comunicação digital está na origem da cibercultura. Se a modernidade se caracterizou pela apropriação técnica do social, a cibercultura se caracteriza pela apropriação social-midiática da técnica.”

Será mesmo que éramos mais felizes sem o “computador”? Ou será que apenas precisamos aprender a viver um mundo novo?

Sem percebermos, a geração alpha chegou... Dezoito anos se passaram desde que o novo século chegou. Estava em um restaurante almoçando com minha família quando observei duas garotinhas de mais ou menos cinco anos. Com o celular em mãos, uma delas gravava uma live, narrando quem estava ali, o que as pessoas faziam, o que comiam. Encerrou e disse: “pronto, já postei nosso almoço!”. Alpha é um termo usado pelo sociólogo australiano Mark McCrindle para designar a nova geração de crianças nascidas a partir de 2010. Essa geração, de acordo com o sociólogo, é determinada por pessoas muito mais independentes e com um potencial muito maior de resolver problemas do que seus pais e avós. Como uma geração que só conheceu o mundo virtual ao final dos anos 90, que se formou em uma escola em que os conceitos eram aprendidos e reproduzidos apenas e que foi para um mercado de trabalho em que o “bom funcionário era aquele que cumpria sua jornada e executava sua função da mesma forma”, pode, agora, lidar com uma criança questionadora, que, quando deseja 11


aprender alguma coisa, “procura um tutorial na rede”, que recebe um bombardeio de estímulos pelas redes e vive conectada?

Pânico ou novo olhar? Se pensarmos em tempo cronológico, em 30 anos aproximadamente, o mundo mudou consideravelmente e ainda estamos nos adaptando a todas essas alterações. O problema é que o tempo não espera e, por vezes, essa adaptação não permite análise ou erro. Isso, claro, nos causa medo e ansiedade.

Internet e as redes sociais: vilãs ou mocinhas? A presença da tecnologia em nosso cotidiano é fato, e a ideia não deve ser culpá-la ou inocentá-la. Precisamos aprender a usá-la com responsabilidade e qualidade, compartilhando esses saberes com nossos jovens e crianças. Assim como aprendemos as regras de convivência no mundo real, o mesmo se aplica ao mundo virtual.

O que li é verdadeiro?

É comum ouvirmos pessoas dizendo “no meu tempo éramos mais felizes sem computador”. “No meu tempo brincávamos mais, as crianças eram mais felizes”. “No meu tempo, as pessoas se olhavam nos olhos”.

Com a expansão das redes sociais virtuais e a democratização da informação na internet, surge o fenômeno das fake news. Todos podem produzir notícias ou divulgar ideias que nem sempre são verdadeiras.

Será mesmo que éramos mais felizes sem o “computador”? Ou será que apenas precisamos aprender a viver um mundo novo?

A mídia está recheada de notícias falsas. Há grupos criados para produzir informações com objetivos variados, como manipular a opinião pública, gerar amor ou ódio a determinados grupos, estimular ou não o consumo de produtos. Na eleição para presidente dos EUA, Donald Trump foi acusado de se valer desses grupos para vencer, produzindo notícias falsas sobre seus concorrentes. Os exércitos americano e inglês atacaram a Síria, em abril de 2018, assim que foram divulgadas imagens de adultos e crianças sendo atendidos após um ataque químico. Por sua vez, a Rússia e o governo da Síria disseram que as imagens eram apenas uma encenação. Em quem acreditar?

Todos podem produzir notícias ou divulgar ideias que nem sempre são verdadeiras.

Quem nunca curtiu ou compartilhou no Facebook uma notícia sem checar a sua veracidade?

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cuidados para evitar cair nas “armadilhas das falsas notícias”.

1. Checar a fonte. 2. Pesquisar a história do site, canal, grupo ou pessoa que está publicando a notícia.

3. Evitar sites sensacionalistas. 4. Ler a matéria completa e não apenas o título. 5. Checar outras notícias da mesma fonte para verificar a credibilidade da fonte.

6. Conferir a credibilidade e formação do autor. 7. Duvidar de textos que contenham erros de formatação e ortografia.

8. Conferir a data do post ou texto. 9. Pesquisar a mesma notícia em outras fontes para comparar e checar a veracidade da informação.

O que meus filhos estão vendo? Um dos grandes desafios que as famílias hoje enfrentam é lidar com o acesso de seus filhos às redes sociais e quanto tempo permanecem conectados. Ficam em dúvida, na maioria das vezes, se precisam vigiar os conteúdos, controlar tempo de acesso, quais aparelhos as crianças devem ter e com qual idade podem participar de redes sociais.

Os pequeninos... As crianças estão sendo bombardeadas por uma série de estímulos que acabam por prejudicar seu desenvolvimento e concentração. No mundo virtual, a mudança de foco e informações é muito rápida e isso acaba vindo para

o mundo real. A educadora Catherine L’Ecuyer, em seu livro Educar na curiosidade, nos fala sobre a importância de proporcionarmos às nossas crianças momentos de realidade, de admiração ao comum, ao meio, ouvir o entorno, sentir seu ritmo. São muitos os estudos que, seguindo essas necessidades da primeira infância, afirmam que até os dois anos as crianças deveriam não ter contato com aparelhos eletrônicos. O problema é que vemos cada vez mais o celular se tornar a babá, cena comum em restaurantes, lojas, parques. O bom seria se a babá pudesse ser o diálogo com os familiares, as cantigas, as brincadeiras.

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Nossos jovens... Falando em crianças maiores e adolescentes, a preocupação passa do estímulo para a influência digital. Esse é outro fenômeno que cresce e deve ser compreendido e discutido. Há novos profissionais que desenvolvem esse trabalho, os youtubers e os influenciadores digitais em busca de likes e seguidores. A adolescência é um período de mudanças físicas e emocionais, de compreender a si e ao outro, e a necessidade de ser aceito em um grupo é muito importante. É aqui que esses “influenciadores digitais” e as redes podem se tornar “perigosos amigos”. Muitos desses canais mostram jovens em situações vexatórias, convidando ao consumo, estimulando o preconceito ou a violência. A escola e as famílias devem promover espaços para a discussão sobre a responsabilidade em relação ao que falamos. Ser um youtuber, ganhar muitos likes, fazer disso uma profissão não é o problema. Pelo contrário, mas devemos nos atentar ao que falamos e propagamos. Um trabalho interessante de se fazer na escola é o jogo do Curtir e compartilhar. Com a turma em círculo, discutir primeiro qual é o conceito da ação de curtir algo e compartilhar algo. Na sequência, distribuir placas com os sinais de curtir e de compartilhar. Mostrar vídeos e notícias positivas e negativas para que eles possam julgar se curtem ou não, e se compartilham. Quando curtirem, o que assumem? E se compartilham, qual a responsabilidade desse ato? Outras ações positivas são promover debates nas escolas, com famílias e alunos, levando pessoas que podem ajudar na reflexão, como advogados especialistas em crimes digitais, psicólogos, profissionais de tecnologia.

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São muitos os estudos que (...) afirmam que até os dois anos as crianças deveriam não ter contato com aparelhos eletrônicos.

Em casa, os familiares devem assistir aos canais com os quais os filhos estão tendo contato, falar sobre seus conteúdos e não simplesmente proibir. O diálogo é essencial.

Jogos para divertir ou para manipular? A gamificação é uma excelente estratégia pedagógica, e crescem ações nas salas de aula que tornam o aprendizado mais significativo e real. Com o avanço da tecnologia, os jogos estão cada vez mais reais e desafiadores. O problema está no tempo destinado ao jogo, em que ele se torna uma fuga, e saber qual a classificação dos jogos, já que alguns apresentam excesso de violência para crianças e adolescentes. A solução não é proibir o jogo, mas é importante conhecer o que os filhos estão jogando. Outros jogos aos quais as famílias e a escola devem estar atentas são os que incentivam automutilação, violência e até suicídio.


Cresce o número desse tipo de vídeo no YouTube: jogo do desmaio, Baleia Azul, o grupo The H4ters, vídeos que ensinam a se automutilar e a esconder dos adultos. Quem lida com jovens deve ter o hábito de

navegar em sites e no YouTube para ver o que está “rolando”, promovendo o diálogo e a reflexão. Não podemos ter contato com esses canais ou situações apenas quando provocam uma tragédia, muitas vezes próximas de nós ou dentro de nossas casas.

Quais habilidades a escola deve trabalhar, que são necessárias para a era digital? • Habilidade de uso da internet.

sistêmico e não apenas linear.

• Habilidade de uso de ferramentas tecnológicas interativas.

• Habilidade de se comportar de maneira ética nas redes sociais.

• Habilidade de comunicação verbal e escrita.

• Habilidade em viver em coletividade pela web.

• Habilidade de coletar informações fidedignas pela internet.

• Habilidade em respeitar pontos de vista opostos aos seus quando em convívio coletivo na web.

• Habilidade em certificar a veracidade da fonte informacional da internet. • Habilidade de pensar em um modelo mental

• Acuidade em perceber e interpretar as mais diferentes multimídias.

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Como fazer da sala de aula um espaço de aprendizado real e significativo? A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz na descrição das competências que devem ser adquiridas ao longo do Ensino Fundamental a que se refere à cultura digital, que é: “Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”. Atenta ao desenvolvimento integral das crianças, a escola deve promover sequências didáticas e estratégias que propiciem: questionamentos, foco, pesquisa, análise, interpretação, argumentação e a busca de estratégias para resolução de situação-problema. A criança sendo ativa em seu processo de aprendizagem, e o professor, mediador dessa ação. A escola não é mais um local de transmissão de conteúdo, mas um espaço de pesquisa, reflexão e trocas. Como nos fala Edgar Morin:

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“É necessário dizer que não é a quantidade de informações, nem a sofisticação em Matemática que podem dar sozinhas um conhecimento pertinente, mas sim a capacidade de colocar o conhecimento no contexto.” As metodologias ativas são ferramentas que devem estar presentes nas salas de aula.

Como evitar o ciberbullying? Os vídeos mais vistos e compartilhados nas redes são os que mostram pessoas sendo humilhadas ou em cenas vexatórias. Isso revela um hábito que temos em nos divertirmos com esse tipo de situação. Por exemplo, achamos engraçadas as “videocassetadas”. Muitas vezes, disfarçados de brincadeira, o preconceito e a humilhação acontecem nas escolas. Aquele que brinca, sempre olha com “espírito de diversão”; aquele que sofre nunca esquece o que sofreu. Potencializado pela velocidade das redes sociais, o ciberbullying, atitude que envolve o uso de tecnologias de informação e comunicação para dar apoio a comportamentos deliberados, repetidos e hostis praticados por um indivíduo ou grupo com a intenção de prejudicar o outro, vem preocupando cada vez mais docentes e familiares.


Devemos sempre trabalhar a importância da responsabilidade de nossos atos, o que falamos e o que escrevemos, o que compartilhamos no Facebook ou no WhatsApp. Qual a função dessas ferramentas e quando são usadas para propagar a intolerância, o preconceito ou para humilhar alguém? Assunto de extrema importância, precisa ser discutido nas escolas por meio de: palestras com profissionais, dinâmicas de grupo, debates de casos reais, trabalhos em equipe, discussão de regras de convivência, apresentação de como se prevenir e denunciar crimes virtuais.

A escola não é mais um local de transmissão de conteúdo, mas um espaço de pesquisa, reflexão e trocas.

Só depende de nós... As tecnologias ajudam na construção de uma comunicação mais clara, direta e global. Uma comunicação mais rápida e eficaz, que aproxima não só alunos e professores, mas também pais e responsáveis da escola. Só depende de como usamos e como nos relacionamos com elas. O diálogo e a reflexão não podem ser deixados de lado. Uma sociedade só evolui quando consegue formar cidadãos que sabem respeitar a diversidade e ter um olhar coletivo. A educação é o caminho, e a tecnologia, a estratégia.

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O DIÁLOGO ENTRE

ESCOLA Para começar a entender essa relação No âmbito familiar temos os primeiros contatos com o mundo e com outras pessoas, nos são ensinados valores e como nos comportar como todos em nossa casa. Com o passar do tempo, vamos crescendo e nosso contato com o mundo e com outros grupos sociais também se expande: agora, temos clubes, parques, o prédio, a rua, os locais religiosos e o lugar onde passaremos grande período de nossa vida e será responsável por parte de nosso desenvolvimento: a escola. Para Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês que nos brindou com grandes reflexões sobre a constituição da sociedade e suas desigualdades, a escola é um espaço de reprodução de estruturas sociais e de transferência de capitais de uma geração para outra. É nela que o legado econômico da família se transforma em capital cultural. E este, segundo o 18

&

sociólogo, está diretamente relacionado ao desempenho dos alunos na sala de aula. Eles tendem a ser julgados pela quantidade e pela qualidade do conhecimento que já trazem de casa, além de várias “heranças”, como a postura corporal e a habilidade de falar em público. Isto significa que, ao chegarmos no espaço escolar, somos o que herdamos de nossa família e vemos o mundo segundo nos foi ensinado por ela. Porém, na escola, cada um que ali está também trouxe essa herança de sua experiência familiar e é aqui que começa uma das tarefas da escola: nos fazer aprender a conviver em sociedade, respeitando as diferenças e buscando desenvolvimento pleno, do ponto de vista cognitivo, afetivo e social. A LDB (9394/96), em seu Artigo 2º, prevê: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu


&

FAMÍLIA

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Se o foco da educação é ponto de intersecção entre família e escola, ou seja, o pleno desenvolvimento do educando, onde está a dificuldade em ter qualidade nessa parceria?

Papéis definidos Para começarmos a desenhar um novo olhar sobre a parceria e o diálogo entre famílias e escolas, é preciso que todos tenham claro o papel de cada um na tarefa comum que receberam. Importante, antes de qualquer julgamento, lembrarmos que somos frutos das relações que vivemos, das experiências das quais participamos. Temos maneiras diferentes de olhar o mundo. Não somos iguais, somos únicos e temos nossos valores.

Quando uma família escolhe uma escola para que suas crianças possam frequentar e, nela, participar de experiências que lhes garantirão formação plena, deixam ali seu bem mais precioso e um pedaço de sua história. Em contrapartida, quando uma escola se propõe a tarefa de mediar um processo educativo que tem como foco o desenvolvimento pleno de seus alunos, tem consciência de que receberá pessoas com histórias e hábitos que podem divergir (corpo docente, discente e comunidade escolar). Até aqui, tudo aparentemente aceitável e sem problemas. Porém, na realidade, é este o ponto em que começam as divergências. Falar sobre a relação entre famílias e escola é a temática mais discutida nos últimos tempos na tentativa de tornar essa convivência pacífica e focada no pleno desenvolvimento dos alunos como prevê a LDB.

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Não há um plano único para o sucesso da relação entre as famílias e as escolas, mas há um olhar comum: ter como meta a criança.

Um dos motivos possíveis é a mistura dos papéis entre esses dois grupos. À escola cabe ser um espaço para socializar o conhecimento, promover o pleno desenvolvimento do aluno para que ele seja um cidadão atuante em nossa sociedade, promovendo caminhos que lhe permitam realizar seus projetos de vida, por meio de um ensino de qualidade. Às famílias cabe auxiliar suas crianças a conviver em sociedade, apoiá-las e dar subsídios para seu sucesso, sejam físicos, econômicos ou afetivos. Foco comum, mas papéis definidos. Não cabe à escola discutir como as famílias se constituem e não cabe às famílias querer impor à escola regras ou valores de seu convívio, haja vista que a escola é para todos e de todos, onde o respeito à diversidade deve ser primordial. Enquanto essa relação for de implicância e discussões sem fundamento, deixamos de lado a grande meta da educação: o pleno desenvolvimento da criança. 20

Como buscar diálogo e parceria? Não há um plano único para o sucesso da relação entre as famílias e as escolas, mas há um olhar comum: ter como meta a criança. Deixando os julgamentos de lado, podemos propor metas para essa parceria:

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Definir papéis Todo início de ano, nas reuniões coletivas, estabelecer com as famílias qual o papel de cada um, ao longo do ano, na tarefa de auxiliar a criança em seu desenvolvimento. Sugestões de registro: colocar painéis na entrada da escola para que todos possam registrar suas impressões sobre “A escola que esperamos para este ano: nosso papel neste processo”. Reservar no site da escola um espaço com o mesmo intuito. Assim, garantimos a participação de quem não pôde vir à reunião por motivos diversos. Resumir o que for acordado e mandar para as famílias os combinados impressos, deixando o acesso às informações também via site.


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Assembleias diretivas

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Periódicos quinzenais ou mensais Produzir periódicos para circulação interna com assuntos pertinentes ao desenvolvimento infantil, dicas para ajudar no acompanhamento escolar das crianças, divulgação de trabalhos dos alunos e professores, colunas escritas por docentes, discentes e familiares. Esse deve ser um canal vivo, que atenda às necessidades de cada escola.

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Reuniões diferenciadas Agendar reuniões para que as famílias possam ter contato com o desenvolvimento de suas crianças (bimestrais ou trimestrais) e uma reunião periódica (mensal ou bimestral) para escola de formação, trazendo especialistas ou conduzida pelos docentes, com temáticas destinadas à formação das crianças.

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Formas de comunicação diferenciadas Importante lembrarmos que hoje as famílias se constituem de modos variados e que, na maioria dos casos, todos os membros trabalham. Buscar formas diferentes para que todos possam se comunicar, respeitando horários e organizações variadas, é necessário. Usar aplicativos que mostrem a rotina escolar dos alunos e possibilitem a troca de bilhetes e espaços nos sites. A tecnologia é um grande aliado na missão de estabelecer o diálogo.

Promover reuniões periódicas com a comunidade escolar (professores, alunos, funcionários, famílias, equipe gestora) para que possam discutir problemas e inovações para a escola.

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Projetos pedagógicos com a participação das famílias Incentivar os professores a convidar os familiares que puderem a participar das aulas por meio de projetos que contemplem suas expertises. Por exemplo: chamar familiares médicos para palestras de saúde, familiares marceneiros para as aulas de Matemática, familiares que cuidam de casa para as aulas de economia, gestão de gastos, culinária, rodas de histórias feitas pelas famílias, entre outros. Quem não puder ir à escola tem como alternativa gravar e apresentar suas participações.

Agregar sempre Corre pelas redes sociais uma frase que diz “Aprender a ler o que um olhar diz é alfabetizar sentimentos”. Esta deve ser a missão de todos que estão envolvidos com a Educação: olhar generosamente para o outro, compreender que vivemos em sociedade, que todos temos uma história e que respeitar o outro e a diversidade é a chave de uma sociedade melhor. Quanto mais ações agregadoras forem propostas pelas famílias e a escola, mais a criança perceberá que está sendo acolhida e que seu desenvolvimento pleno está garantido. 21


UTILIZANDO A

TECNOLOGIA ASSISTIVA EM SALA DE AULA

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Para começar o papo... O século XXI, como sabemos, nos trouxe um novo mundo de possibilidades: o mundo virtual. E, a partir de 2010, presenciamos o nascimento de uma geração imersa em tecnologias, inovações e rapidez de informações, que natu-

ralmente transita entre o mundo virtual e o real, é questionadora e criativa: a geração alpha. É comum vermos crianças ainda bem pequenas com um celular nas mãos e, habilidosamente, moverem seus dedinhos pela tela em busca do que as entretém. 23


E quando a tecnologia auxilia na qualidade de vida das pessoas? Com todas essas inovações, em um mundo que exige mais atenção e respeito à pluralidade cultural, a todas as possibilidades de viver e conviver presentes em nossa sociedade e à promoção da inclusão, surge uma área interdisciplinar que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços, cuja meta é promover a funcionalidade e a participação da pessoa com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida: a tecnologia assistiva. Propicia mais autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social. Mas, quando pensamos em tecnologia, logo nos vêm à mente ferramentas, processos e inovações que tornam nossa vida confortável. Muitas vezes há o conflito entre os benefícios e malefícios das criações tecnológicas para com nossa sociedade: tudo que o homem cria muda a vida das pessoas para o bem? Como máquinas ou processos podem causar danos ao meio ambiente? De qualquer modo, estamos sempre em busca de maneiras diferentes e mais eficazes de solucionar as situações-problema de nosso cotidiano, e nestes tempos, mais do que nunca. Para atender às necessidades e mudanças de nossa sociedade e formar de modo integral as crianças da geração alpha, as escolas buscam metodologias e recursos que tornam o espaço escolar um local de pesquisa e construção de saberes. 24

A tecnologia assistiva visa melhorar a vida diária e prática, oferece materiais pedagógicos e escolares especiais, comunicação aumentativa e alternativa, recursos de acessibilidade ao computador, orientação para adequação postural (mobiliário e posicionamento) e mobilidade, recursos para cegos ou com visão subnormal, recursos para surdos ou pessoas com déficits auditivos, projetos arquitetônicos e adaptações em veículos escolares para acessibilidade, entre outros. Quanto mais a tecnologia assistiva avança, maior é a acessibilidade, a valorização, a integração e a inclusão das pessoas com deficiência. O que ainda não é muito conhecido nos espaços escolares é que a tecnologia assistiva pode colaborar com as situações de aprendizagem de muitas crianças em sala.


“As escolas devem ajustar-se a todas as crianças, independentemente das suas condições físicas, sociais, linguísticas ou outras. Neste conceito devem incluir-se crianças com deficiência ou superdotadas, crianças da rua ou crianças que trabalham, crianças de populações imigradas ou nômades, crianças de minorias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de áreas ou grupos desfavorecidos ou marginais.” (Declaração de Salamanca, Unesco, 1994)

Como usar a tecnologia assistiva em sala? Há diversas opções de equipamentos tecnológicos disponíveis com recursos para facilitar o processo de ensino e aprendizagem de pessoas com deficiência, desde os que permitem a comunicação expressiva e receptiva das pessoas sem a fala ou com limitações da mesma, até equipamentos de entrada e saída (síntese de voz, Braille), com teclados modificados ou alternativos. Há também softwares especiais (de reconhecimento de voz, etc.) que possibilitam às pessoas com deficiência utilizar um computador. Podemos incluir ainda os suportes que facilitam a mobilidade, como cadeiras de rodas, próteses e aparelhos específicos. São muitas as opções que podem ser usadas pelos professores em sala. Vejam alguns exemplos de aplicativos e ferramentas: • Hand Talk: traduz automaticamente texto e áudio para a Língua de Sinais. • Clapp-in: aponta caminhos para pessoas com necessidades especiais, indicando locais acessíveis na cidade. • Tandera Dinheiro: aplicativo que ajuda deficientes visuais a identificar cédulas, evitando

que eles sejam enganados na hora de receber o troco no ato da compra, por exemplo. O funcionamento é simples: basta posicionar o celular sobre a nota para que o aplicativo verifique o dinheiro com o uso da câmera e diga seu valor. • Google TalkBack: aplicativo para pessoas com deficiência visual. Permite que o smartphone descreva tudo o que acontece na tela do aparelho, além de ler textos de páginas da internet ou mesmo e-mails, por exemplo. Isso facilita e muito a vida da pessoa na hora da navegação, incluindo-a de vez na grande rede. • Aramumo: criado por dois alunos do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Trata-se de um jogo que venceu o desafio promovido pelo Instituto ABCD para auxiliar na educação de jovens e crianças com problemas de dislexia e outros distúrbios que afetam a aprendizagem. O sistema se parece com palavras cruzadas. Só que, em vez de letras avulsas, o jogador deve utilizar sílabas para formar palavras. Assim, o usuário ouve uma série de palavras e deve encaixar as sílabas que aparecem flutuando na tela, dentro de bolhas, para formar palavras no tabuleiro virtual.

Quanto mais a tecnologia assistiva avança, maior é a acessibilidade, a valorização, a integração e a inclusão das pessoas com deficiência..

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• Que-fala!: oferece uma série de ilustrações identificadas por palavras escritas e em áudio. O usuário seleciona figuras que correspondam ao que ele quer dizer e pode até montar pequenas frases. • Daltonize Me Camera: fornece filtros para câmera, em tempo real, simulando os três tipos de daltonismo. Para daltônicos, o aplicativo oferece ajuda com o complexo algoritmo daltonize funcionando em tempo real e com alta performance, usando o máximo da aceleração de hardware OpenGL. • IBrailler Notes: permite escrever em Braille no iPad. Com ele, é possível digitar em Braille diretamente para criar, editar e compartilhar anotações. Para facilitar ainda mais seu uso, o app pode ser aproveitado em conjunto com o recurso VoiceOver, do iOS. • Minha Rotina Especial: aplicativo cuidadosamente planejado para estimular o desenvolvimento de crianças autistas. Integra informações diárias que deixam a rotina mais clara e organizada, diminuindo, assim, a ansiedade da criança caso surja uma atividade diferente, por exemplo. A ferramenta permite criar um planejamento detalhado e um passo a passo de toda e qualquer tarefa do dia. • Livox: vencedor do prêmio da ONU de melhor aplicativo de inclusão, o Livox é uma ferramenta brasileira que traduz para comando de voz os símbolos que aparecem na tela e são tocados pelo usuário. É benéfico para pessoas com dificuldades tanto de comunicação quanto motoras. Adaptado para mais de 25 línguas, o app já conta com repertório superior a 12 mil imagens.

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Respeitar para incluir Buscar recursos inovadores, criar situações de aprendizagem em que todos possam participar, compreender que há muitas possibilidades de nos comunicarmos. Essas atitudes ajudam a entender que a sala de aula, assim como nossa sociedade, deve ser um espaço de valorização e respeito a todos. Dar vez e voz a quem muitas vezes foi esquecido ou se achou incapaz é promover a formação integral dessa pessoa e de todos que estão a sua volta. Construir um espaço inovador e criativo é investir em talentos e pessoas, é ter um olhar generoso a cada palavra, a cada produção de todos os presentes na escola. É compreender que todos somos iguais e, ao mesmo tempo, completamente diferentes em nossas habilidades e dificuldades. Que somos um livro a ser lido com carinho. Assim atingiremos a meta descrita na BNCC que busca uma escola que preza a igualdade e a equidade.


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LIÇÕES QUE APRENDEMOS COM

ESCOLAS

INOVADORAS A mudança na Educação já é uma realidade: centenas de instituições no Brasil e no mundo colocam em prática abordagens e metodologias inovadoras no ensino, criando uma nova perspectiva para a relação entre professor e aluno, assim como maneiras diferentes de ensinar as crianças das novas gerações. 27


Felizmente, já temos grandes exemplos de instituições públicas e privadas no Brasil e no mundo que praticam inovação e colhem bons resultados. No Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro, uma das iniciativas integradas ao plano curricular é a inclusão de projetos de cidadania no cotidiano dos alunos para promover uma educação integral. A escola sueca Vittra Telefonplan aboliu os espaços tradicionais com salas fechadas e carteiras para investir em pátios abertos coletivos, onde os estudantes se reúnem para aprender com projetos. Já a Quest to Learn, nos Estados Unidos, é totalmente baseada na aprendizagem por jogos. O que essas instituições de ensino têm em comum? Algumas práticas que caracterizam o ensino inovador estão presentes em todas as escolas, sejam públicas, sejam privadas, nacionais ou internacionais:

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Foco nas habilidades do século XXI As dificuldades de aprendizado do aluno são consequência de inúmeros fatores, entre eles a priorização do desenvolvimento de habilidades e competências pensadas para gerações que não conviviam com a tecnologia. Escolas que quebram padrões valorizam o pensamento diferente, a criatividade e o espírito empreendedor do aluno desde cedo, colaborando para o desenvolvimento das habilidades relevantes para o século XXI.

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O aluno é protagonista da aula Permitir que a classe escolha alguns temas de que mais gosta para estudar, por exemplo, é incentivar que o aluno tenha autonomia no aprendizado. Esse voto de confiança estimula o protagonismo dos estudantes e os faz ter senso de responsabilidade por seu aprendizado, exercitando o conhecimento em lições que têm sentido em seu contexto. A abordagem é relevante porque o comportamento independente que é estimulado e a aplicação do conhecimento nas atividades são muito similares aos desafios que eles enfrentarão na vida adulta.


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Flexibilização do trabalho do docente É comum encontrar professores que preferem não utilizar o material fornecido pela escola e propõem novas atividades que não estavam previstas nos planos de aula. As escolas inovadoras permitem e incentivam que o educador repense sua metodologia de ensino conforme o andamento de cada turma, considerando suas peculiaridades e dificuldades. Afinal, cada classe é formada por alunos únicos, que aprendem de maneiras distintas e exigem abordagens diferentes do professor.

O maior legado que a escola pode deixar para o aluno é a consciência de que o verdadeiro aprendizado é para toda a vida e o interesse em aprender depende de si mesmo. Nesse sentido, as propostas inovadoras que vemos surgir agem como estimulantes desse interesse. Ou seja, a vontade genuína de aprender precisa acompanhar o aluno durante toda a sua vida, independentemente da existência de vínculo a uma instituição formal de ensino.

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A interdisciplinaridade é transformadora A convergência de saberes é muito valorizada nas novas metodologias, como na aprendizagem por projetos, por exemplo. Os projetos exigem que as disciplinas tradicionais – Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, Artes, etc. – sejam diluídas em áreas do conhecimento interdisciplinares. A pedagogia de projetos ajuda a quebrar o estigma de deficiência em disciplinas específicas ao estimular a aplicação do conhecimento diretamente para resolução de problemas e desafios.

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Valorização do brincar Na educação das crianças, o brincar é tão importante quanto o letramento em si, especialmente em um mundo onde a infância é dominada por smartphones e tablets. Por isso, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) define que brincar é um direito de aprendizagem essencial na Educação Infantil. Não queremos ensinar as crianças a ler e escrever sem que explorem as brincadeiras, os espaços coletivos, a generosidade e o descobrimento de sensações e de seu lugar no mundo. A educação inovadora aproveita as vantagens da tecnologia sem excluir o direito de aprender brincando.

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APRENDIZAGEM COM

PROJETOS: ALGUNS MODELOS QUE NOS SERVEM DE INSPIRAÇÃO Fernando Hernández, tendo como referência John Dewey, já há muito nos convida a pensarmos uma educação baseada em projetos, relacionando a aprendizagem com a prática, formando o sujeito de modo integral para vi30

ver em sociedade e interagir no meio em que vive. Para essa formação, a escola deixa de ser o espaço que transmite o conhecimento e passa a ser o lugar em que o aluno é o protagonista da ação de ensinar e aprender por


A escola deixa de ser o espaço que transmite o conhecimento e passa a ser o lugar em que o aluno é o protagonista.

Cada vez mais podemos ver escolas buscando a estratégia do trabalho com projetos como uma das ferramentas que auxiliarão na formação integral de seus alunos. Para inspirar sua prática, reunimos alguns exemplos de escolas que trabalham com essa metodologia.

EMEF Desembargador Amorim Lima (São Paulo) meio do projeto em que está engajado. Em 1998, Hernández publicou um de seus livros que fala sobre o assunto, e hoje já está na 5a edição, A organização do currículo por projetos de trabalho. O que podemos perceber é que não é de hoje que educadores sentem a necessidade de mudar a dinâmica do processo de ensino e aprendizagem. Mas com a chegada do século XXI e as novidades tecnológicas que ele trouxe, essas mudanças tornaram-se mais do que urgentes e presentes em nossas escolas, pois o mundo em que estamos vivendo e para onde caminhamos já não mais aceita um olhar fragmentado.

A escola fica no bairro do Butantã, em São Paulo, e desde 1996, com a chegada da senhora Ana Elisa Siqueira, atual diretora, as mudanças começaram. Com um quadro de evasão e abandono, a primeira inovação foi derrubar os muros e abrir o estabelecimento de ensino nos fins de semana para a comunidade e melhorar os espaços de convivência. A escola passou a oferecer cursos extracurriculares, e os alunos de turmas mais avançadas começaram a atuar como monitores. Assim, a comunidade e as famílias foram se engajando cada vez mais nas atividades. Em 2002, o Conselho da Escola, constituído por pais e professores, começou a analisar 31


NuVu Studio (EUA) as questões que causavam os problemas de aprendizagem entre os alunos. Em 2003, estudaram a proposta do trabalho com projetos e a metodologia da Escola da Ponte, em Portugal. Ao longo de 2004 e 2005, junto com a Secretaria Municipal de Educação (SME), a assessoria na escola e o Conselho, foi organizado o Projeto Político Pedagógico da Escola. A partir daí, a instituição tornou-se uma escola diferenciada e seus alunos passaram a ter a oportunidade de aprender por meio de projetos, com uma organização curricular melhor, o que resultou em uma participação muito mais ativa. Este é um belo exemplo de que podemos implantar a inovação em nossas escolas, com a participação de toda a comunidade escolar, com base em estudos e amparados pela legislação, garantindo a formação de nossos alunos. Vale a visita ao site do estabelecimento de ensino para conhecer todos os projetos desenvolvidos e entender um pouco mais desse excelente trabalho. Saiba mais em: https://amorimlima.org.br 32

Essa é uma escola privada que fica em Boston. O estudo é baseado em projeto. O aluno define seu projeto e deve chegar a um produto final, de modo colaborativo, dando forma ao processo de execução. Essa etapa precisa ser registrada em portfólios, que são analisados a fim de estimular o estudante a pensar no produto que está desenvolvendo, no respectivo desempenho e no bem que essa iniciativa proporcionará à comunidade em que ele está inserido. Saiba mais em: https://www.facebook.com/nuvustudio

Reggio Emilia (Itália) Região do norte da Itália, que viveu no pós-guerra uma fase especial em que as mulheres precisavam de um lugar para deixar suas crianças para poderem trabalhar. Mas não podia ser um lugar qualquer, deveria ser um espaço de qualidade. E é na Villa Cella que a comunidade constrói a Scuole Comunale dell Infanzia, e o jovem pedagogo Loris Malaguzzi ajuda o grupo a organizar a autogestão comunitária. Em 1963, ele articula a rede de escolas e creches de educação infantil da região, que passam a ter uma visão socio-construtivista por meio de experiências, vivências e fazeres.


As crianças brincam, experimentam, vivenciam, desenvolvem seus projetos. No Brasil, a Escola Bakhita, localizada em São Paulo, se inspira nessa proposta para organizar seu trabalho. Saiba mais em: La educación infantil em Reggio Emilia. Loris Malaguzzi. Editora Octaedro. O papel do ateliê na educação infantil – A inspiração de Reggio Emilia. Lella Gandini et alii. Editora Penso-Artmed.

Colégio Visconde de Porto Seguro (São Paulo) e CEU Pimentas (Guarulhos) Os alunos do Colégio Visconde de Porto Seguro trabalham projetos em laboratórios preparados em parceria com a Universidade de Massachusetts, nos makerspaces, para os projetos que visam ao trabalho que desenvolve a Cultura Maker. Maker significa a ideia de “faça por si”, “fazedor”, “faça por si mesmo”. É a cultura de que qualquer pessoa comum é capaz de construir, consertar, criar, inovar, modificar ou fabricar o que sentir necessidade.

A Cultura Maker propõe, para a escola, uma estratégia de trabalho por meio de projetos que colaboram para o desenvolvimento das competências estabelecidas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para formação integral do sujeito ao longo da educação básica. O perfil maker é de alguém com visão inovadora, que sabe se comunicar em rede, argumentar, lidar com tecnologias, planejar, tem postura de pesquisador, é criativo, usa os conhecimentos e os processos a favor de seus projetos, tem foco, autogestão, olhar de empatia e colaboração. Com a mesma finalidade, só que no contraturno, os alunos de seis CEUS do município de Guarulhos, em São Paulo, trabalham em seus projetos com a ajuda dos monitores do Fab Social. É possível inovar e colocar na sua rotina o trabalho com projetos. Reúna-se com sua equipe pedagógica e, juntos, vejam estes e outros tantos casos de sucesso e busquem as adequações necessárias para sua realidade. O importante é ter em mente que a metodologia de projetos visa ao protagonismo do aluno, ao desenvolvimento de um olhar interdisciplinar, à solução de uma situação-problema por meio da pesquisa, da construção de conhecimento, do desenvolvimento de estratégias, do trabalho colaborativo, das experimentações, do desenvolvimento do olhar investigativo. Inspire-se!! Inove!! Repense!! 33


A

ARTE

COMO FERRAMENTA INTERDISCIPLINAR 34


tamos inseridos. Eles compreenderão as produções artísticas como manifestações culturais presentes em nossa sociedade, entendendo a pluralidade que nos cerca, respeitando o outro e exercitando a convivência. O componente curricular de Arte vai além da simples reprodução de técnicas ou apreciação. Oferece a possibilidade da troca cultural, do estudo, da análise e da valorização dos grupos sociais, de momentos de nossa história e do exercício de ouvir outros pontos de vista, respeitar outros olhares sobre o mundo em que vivemos. Para que haja o pleno desenvolvimento das linguagens propostas em Arte, a BNCC estabelece descrição de seis dimensões do conhecimento, que perpassam de modo simultâneo e integrado às linguagens artísticas. Possibilitam aos alunos a experiência nessa área, o olhar sobre os contextos sociais e culturais. São elas: • Criação: trata do fazer artístico, a materialização estética de sentimentos, ideias, desejos e representações em processos, acontecimentos e produções individuais ou coletivas. • Crítica: impressões sobre o novo, articulação entre ação e pensamento propositivos, envolvendo aspectos estéticos, políticos, históricos, filosóficos, sociais, econômicos e culturais.

A Arte e a BNCC O texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta o componente curricular de Arte como forma de expressão por meio das linguagens de Teatro, Dança, Artes Visuais e Música, que possibilitarão aos alunos vivenciar, explorar, produzir, refletir o mundo em que es-

• Estesia: sensibilidade, percepção do eu e do outro. O corpo tona-se protagonista das experiências vividas. • Expressão: exteriorizar e manifestar as criações subjetivas por meio de procedimentos artísticos, com ações individuais e coletivas. 35


• Fruição: deleitar-se, ter prazer, estranhar, sensibilizar-se ao participar de ações culturais e artísticas. • Reflexão: construir argumentos e ponderações sobre as fruições, as experiências e os processos criativos, artísticos e culturais. Percebe-se então que as linguagens artísticas e as dimensões do conhecimento estão presentes em todos os componentes curriculares. Estimulam um olhar interdisciplinar, por meio das práticas artísticas, que possibilitam o compartilhar e as investigativas, contribuindo para a lógica e a organização dos processos de criação, presentes na dinâmica do estudo de Arte.

As seis dimensões do conhecimento facilitam a compreensão do mundo em que estamos inseridos, o entendimento da história passada, a relação com os fatos do presente, buscando novas possibilidades para o futuro. Nos fazem pensar na construção de nossas produções textuais, em nossas argumentações, reflexões e análises. Nos levam a entender o mundo e como o homem se relaciona com o meio, de modo positivo ou negativo. Nos ajudam a desenvolver um olhar pesquisador, crítico e criativo. O componente curricular de Arte se apresenta como uma linguagem indispensável para a comunicação com o meio e com o outro. Assim, deixa de ser apenas um espaço para desenvolver habilidades manuais como era o trabalho na antiga disciplina de Educação Artística. Desde a Educação Infantil, passando por todo o Ensino Fundamental, as linguagens artísticas devem ser utilizadas como ferramentas para a formação integral dos alunos. “Atividades que facilitem um trânsito criativo, fluido e desfragmentado entre as linguagens artísticas podem construir uma rede de interlocução, inclusive, com a literatura e com outros componentes curriculares. Temas, assuntos ou habilidades afins de diferentes componentes podem compor projetos nos quais saberes se integrem, gerando experiências de aprendizagem amplas e complexas.”

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Como desenvolver atividades interdisciplinares A escola, hoje, deve ser um espaço que ensina a perguntar e não mais apenas responder. Sendo assim, ao planejarmos nossas aulas, devemos começar a apresentação dos saberes por meio de uma pergunta e conduzir os alunos a buscar as respostas e aplicá-las em situações reais. Importante que nossos alunos compreendam que somos produtores de história, que nossas ações modificam o meio em que estamos inseridos, de modo positivo ou negativo. Para nos comunicarmos com o outro e com o meio, utilizamos as múltiplas linguagens (oral, escrita, matemática e artísticas). Deste modo, percebemos o processo interdisciplinar ao organizarmos os saberes, conduzindo os alunos a um aprendizado real e significativo. Estudando as manifestações culturais O trabalho com as manifestações culturais pode ser uma boa temática interdisciplinar. Possibilita foco em todos os segmentos, dando ênfase a habilidades e conteúdos de cada ano.

vos, o que é tradição – comidas, vestes, danças, cerimônias. Como essas festas se relacionam com os processos históricos de nossa sociedade (se foram trazidas por grupos que povoaram o país, se estão ligadas a culturas dos povos que recebemos, se têm a função da manutenção de um elemento cultural de algum desses grupos, se estavam relacionadas a cultivos ou colheitas em algum tempo - e se essas comemorações ainda são mantidas). Como as festas tradicionais movimentam economicamente uma região. Importante ressaltar, para a reflexão dos alunos, que mesmo as festas religiosas são consideradas manifestações culturais por retratar hábitos e valores de um grupo e podem nos contar sobre nossa história.

As linguagens artísticas revelam o comportamento de uma sociedade e nos ajudam a compreender quem somos e onde vivemos(...)

Algumas ideias para o trabalho com essa temática: • As festas tradicionais de nossa região Com essa temática, podemos desenvolver discussões sobre a origem dessas festas, os motivos que as tornaram tradição, que modificações sofreram ao longo dos tempos e por quais moti-

• Obras de arte Quadros e objetos podem nos contar muito sobre um período ou um grupo social. Use a leitura de imagens e objetos para o estudo de hábitos de um período, a relação das pessoas com o meio, a maneira como elas se comportavam. Conduza as discussões e reflexões dos alunos além do que apenas estão vendo. Incentive-os a pesquisar sobre o artista que fez a obra, em que época, as ideias que podem nos contar suas intenções. Estude objetos de estimação das famílias de cada aluno. Permita que troquem histórias entre eles. Ajude-os a perceber que objetos existen-

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tes em nossas casas hoje serão os documentos históricos do amanhã. Que nossos pertences contam o que somos, no que acreditamos, qual nossa posição na sociedade. • Fotografias As fotografias são registros históricos que nos contam sobre as relações das pessoas umas com as outras e com o meio em que vivem. O trabalho de análise e reflexão sobre as imagens não pode se restringir a apenas descrever o que os alunos estão observando, mas o que podemos perceber de determinados período, local ou pessoas. Por exemplo: ao observamos uma foto de nosso bairro, em que podem aparecer mais casas ou partes verdes, as perguntas que devemos fazer ao compararmos com a situação atual são: o que levou à diminuição das áreas verdes? O que modificou os tipos de moradias (de casas para prédios)? Outro exemplo: uma família reunida para a foto e uma família, hoje, tirando uma selfie. Quem podia ter um retrato (custo e função)? Que roupas usavam para o dia da foto (uma ocasião especial)? Qual a posição das pessoas na foto (hierarquia familiar)? Hoje, quem pode tirar uma foto e o que isso significa (poder da imagem e a democratização da ação)? • Lendas e mitos Como as histórias podem nos ensinar sobre povos, crenças, valores, ideias, poderes, saberes. Aqui vale o resgate do contador de histórias, da tradição oral, de tribos e grupos que ensinavam por meio de rodas de histórias. O valor desses textos. A relação que eles tinham com o meio, com a saúde, com os hábitos, valores. Por que o tempo muda as histórias? Vale um trabalho bem interessante com os contos de fadas e as mudanças ao longo do tempo na função que sempre tiveram e nas linguagens que utilizaram (oral, escrita, cinema). Por exemplo: quem era a Branca de Neve da versão dos 38

Irmãos Grimm, a Branca de Neve da Disney e a Branca de Neve de hoje, no filme Branca de Neve e o caçador. Da menina que tem uma função na sociedade, para o casamento e procriação, para a menina que toma decisões e não depende de ninguém na hora de fazer o que deseja. Por que essas mudanças ocorreram? • Teatro, dança e música Como essas linguagens mudam ao longo do tempo e também estão ligadas a valores e hábitos de um grupo. Por exemplo: nos grandes bailes que tinham a função de apresentar as moças para a sociedade. As danças para homens e para mulheres em determinados grupos. Quando a dança e a música estão ligadas a rituais de passagem (unidade temática de Ciências em Vida e Evolução) ou a rituais de trabalho ou plantio. Estudar períodos históricos analisando os tipos de músicas da época (a ditadura militar no Brasil estudada pelas músicas). O comportamento das pessoas e suas preferências musicais (quando gostamos de um tipo de música, muitas vezes ligamos a um modo de vida. Por exemplo, apreciamos música sertaneja, nos vestimos com roupas que lembrem o campo, vamos a festas ou lugares ligados a esse cenário, usamos gírias e termos típicos desse grupo). As linguagens artísticas revelam o comportamento de uma sociedade e nos ajudam a compreender quem somos e onde vivemos, buscando respeito e partilha de pontos de vista diferentes. A escola deve ser o espaço que promove a inovação, o olhar crítico e criativo.


O OLHAR INVESTIGATIVO E A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Para iniciar nossas ref1exões Aprendendo a andar, o bebê levanta-se com dificuldade, apoia-se no que vê pela frente e começa a caminhar. Passo a passo, tentando equilibrar-se, encarando o desafio de controlar seu corpo. Em meio a todo esse trabalho, ele olha a seu redor e com alegria e entusias-

mo encanta-se com o mundo que vê e com cada coisa que descobre: texturas, sensações, cheiros, sons despertam o prazer de conquistar novos saberes. O mundo é um grande espaço de descobertas. 39


Conforme a criança cresce e vai dominando o controle de seu corpo e expandindo seus conhecimentos sobre o mundo e os outros, amplia sua interação e seu olhar investigativo. Imaginem um grupo de crianças brincando no jardim. No meio da brincadeira encontram um tatu-bola. Todos em volta do bichinho começam a questionar o fato de ele virar uma bolinha e levantam os motivos. Cutucam o tatu-bola, pegam na mão, cheiram, colocam em lugares diferentes, tudo para testar o momento em que ele vira bolinha. Depois de muito conversarem e testarem, correm para o adulto que estiver perto, colocam as mãos na cintura – e quando criança pequena coloca as mãos na cintura, é porque a coisa é séria – e dizem com muita firmeza suas conclusões sobre o tatu-bola. Para o adulto, apenas uma cena fofa, resultante de uma brincadeira no jardim. Para as crianças, uma descoberta científica. Elas foram capazes de desenhar uma pergunta, levantar hipóteses, trocar conhecimentos, fazer testes e concluir sua descoberta.

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Esse olhar investigativo com que enxergamos o mundo quando somos crianças, esse prazer em descobrir coisas, essa maneira de construir nossas aprendizagens por meio das experiências que vivemos não podem ser abandonados ao longo de nosso processo formativo. Precisamos ampliar esses fatores, compreendendo que é por meio da pergunta, do olhar investigativo, que se constrói o conceito e se cria o novo. O mundo em que vivemos hoje é movido pela Ciência e Tecnologia. A constante busca por inovação dita comportamentos e consumo, transformando o meio em que vivemos, ora de modo positivo, ora de modo negativo. Precisamos de uma geração que olhe curiosamente para o mundo em que está inserida, reflita sobre as ações do homem e a responsabilidade que temos com o meio e com o outro e produza tecnologia. Para isso, deve levar em consideração os fatores éticos, políticos e culturais.


10. Autonomia

1. Conhecimento

9. Empatia e cooperação

8. Autoconhecimento e autocuidado

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2. Pensamento científico, crítico e criativo 3. Senso estético

Competências gerais

7. Autogestão

6. Cultura digital

4. Comunicação

5. Argumentação Fonte: Porvir

As Ciências Naturais e a BNCC A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresenta a área de Ciências Naturais como um espaço de grande importância para a formação integral do aluno e para a construção mais sustentável e responsável dos indivíduos com o meio. Tem como meta o desenvolvimento do letramento científico, que significa a compreensão e interpretação do mundo (natural, social e tecnológico), transformando-o com a relação que será capaz de fazer entre os conceitos teóricos e os processos científicos aprendidos (BNCC – p. 319). O componente curricular de Ciências deixa de ser um conjunto apenas de conceitos e processos científicos. É a organização de conteúdos que colaboram para a interação do sujeito com e no mundo, de modo que ele se torne um cidadão consciente e participativo, que tem como princípios a ética e o olhar sustentável. Para garantir essa formação integral, a área de Ciências Naturais precisa oferecer acesso à diversidade dos conhecimentos e, gradativamente, aos processos e práticas da investigação científica (BNCC – p. 319).

Neste ponto começamos a entender que a aprendizagem significativa se dará a partir do momento em que resgatarmos o prazer da descoberta que tínhamos na primeira infância e quando nossas aulas partirem de uma pergunta, que será respondida ao longo de um período. Também vale aqui a reflexão de como esse movimento que tem foco no componente de Ciências deve estar presente em todos os demais componentes, reforçando o olhar interdisciplinar e o aprendizado integrado. Percebemos isso na delimitação das dez competências gerais que a BNCC propõe para a formação integral do sujeito, desde a Educação Infantil até o término do Ensino Fundamental, conduzindo a pesquisa, o pensamento científico, a construção da argumentação por meio do diálogo e da reflexão. A ideia é buscar soluções para o meio em que vivemos, com empatia e cooperação, como vemos no quadro acima.

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Isto se dará ao construirmos nossas sequências didáticas, começando por uma pergunta, levantando hipóteses, promovendo pesquisa, análise, reflexão, debate, sistematização e aplicação do que foi discutido em uma situação real. Com isso, espera-se formar cidadãos autônomos, que tenham um novo olhar sobre o mundo em que vivem, tomando decisões conscientes e sustentáveis, pautadas em princípios éticos e pensando no bem comum.

A contribuição das aulas investigativas no componente de Ciências O processo investigativo “deve ser entendido como elemento central na formação dos estudantes, em um sentido mais amplo, e cujo desenvolvimento deve ser atrelado a situações didáticas planejadas ao longo de toda a educação básica, de modo a possibilitar aos alunos revisitar de forma reflexiva seus conhecimentos e sua compreensão acerca do mundo em que vivem” (BNCC – p. 320). Isto será possível com atividades desafiadoras em que os alunos possam definir problemas, levantar hipóteses, analisar e representar resultados, comunicar conclusões e propor intervenções. A BNCC propõe que esse processo passe por um conjunto de ações didáticas que colaboram para o aprendizado e o desenvolvimento desse olhar. Ao lado podemos ver o quadro apresentado na área de Ciências Naturais que nos ajuda a refletir e organizar essas situações de aprendizagem em sala:

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• Observar o mundo a sua volta e fazer perguntas.

Definição de problemas

• Analisar demandas, delinear problemas e planejar investigações. • Propor hipóteses.

• Planejar e realizar atividades de campo (experimentos, observações, leituras, visitas, ambientes virtuais, etc.). • Desenvolver e utilizar ferramentas, inclusive digitais, para coleta, análise e representação de dados (imagens, esquemas, tabelas, gráficos, quadros, diagramas, mapas, modelos, representações de sistemas, fluxogramas, mapas conceituais, simulações, aplicativos, etc.).

Levantamento, análise e representação

• Avaliar informação (validade, coerência e adequação ao problema formulado). • Elaborar explicações e/ou modelos. • Associar explicações e/ou modelos à evolução histórica dos conhecimentos científicos envolvidos. • Selecionar e construir argumentos com base em evidências, modelos e/ou conhecimentos científicos. • Aprimorar seus saberes e incorporar, gradualmente, e de modo significativo, o conhecimento científico. • Desenvolver soluções para problemas cotidianos, usando diferentes ferramentas, inclusive digitais.

• Organizar e/ou extrapolar conclusões. • Relatar informações de forma oral, escrita ou multimodal. • Apresentar, de forma sistemática, dados e resultados de investigações.

Comunicação

• Participar de discussões de caráter científico com colegas, professores, familiares e comunidade em geral. • Considerar contra-argumentos para rever processos investigativos e conclusões.

• Implementar soluções e avaliar sua eficácia para resolver problemas cotidianos.

Intervenção

• Desenvolver ações de intervenção para melhorar a qualidade de vida individual, coletiva e socioambiental.


Dicas para organizar uma atividade investigativa em Ciências Quando falamos em organizarmos atividades investigativas em aulas de Ciências para o desenvolvimento do olhar científico dos alunos, devemos pensar não só nos experimentos em laboratórios, mas em questionamentos, manipulação de materiais, observação, expressão e comunicação, verificação das hipóteses levantadas. Por isso, a dica é começarmos sempre as aulas com um questionamento que os leve a reflexão sobre o que será tratado no período que determinarmos (uma unidade, um mês, um bimestre). Utilizarmos pequenos vídeos, cases, imagens, reportagens, histórias curtas, permitindo que os alunos iniciem suas reflexões com a análise de uma situação real para construir o aprendizado dos conceitos científicos.

olhar prático, relacionado ao que estão estudando e com a pergunta inicial. Os alunos devem ir para as aulas práticas munidos de uma pergunta a ser respondida ao longo da atividade. A partir daí, poderão elaborar um roteiro que inclua a organização do experimento, a descrição da ação, a análise dos resultados e a conclusão do que vivenciaram. Vale lembrar que ao escolhermos um experimento, devemos atentar sobre os materiais que serão utilizados, segurança, a escolha do local e a garantia de que todos poderão manipular os materiais e fazer os experimentos.

Dessa maneira, o aprendizado se tornará real e significativo, formando cidadãos do mundo e para o mundo.

Importante propor o levantamento de hipóteses, anotá-las e retomá-las no fim do processo para que os alunos percebam como seus conceitos mudaram, o que aprenderam e o que confirmaram.

Crie momentos de trocas e estudos de textos variados para que compreendam os conceitos científicos. Nas aulas de experimentos, procure criar situações desafiadoras que contribuam para que os alunos percebam que estão testando um

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Importante destacar que essa ação vale para todas as idades. Cada segmento poderá fazer seus registros por meio das linguagens que os alunos já dominam (desenho, escrita).

O grande objetivo que essas atividades devem focar é proporcionar aos alunos um espaço em que se envolvam progressivamente com as manifestações dos fenômenos naturais. Eles poderão fazer conjecturas, experimentando, errando, interagindo com colegas, com os professores, expondo seus pontos de vista, suas suposições, confrontando-os com outros e com os resultados experimentais para testar sua pertinência e validade. Dessa maneira, o aprendizado se tornará real e significativo, formando cidadãos do mundo e para o mundo.


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ORGANIZAR O

TEMPO Na nova dinâmica em que vivemos, com mudanças na forma de aprender, se relacionar, trabalhar, na qual muitas profissões se transformaram, algumas acabaram e outras estão prestes a surgir, se faz necessário desenvolver competências para nos adaptarmos a essas mudanças e obtermos sucesso. 46

Ser organizado, cumprir metas, ter o hábito da formação continuada, gerir compromissos, trabalhar sem supervisão, ter um olhar empreendedor e ser proativo são características esperadas pelo mercado de trabalho. Atividade freelance, em home office, empresas sem ho-


rários fixos de expediente, mas com metas de produção e entregas são cada dia mais presentes na vida das pessoas. Mas não pense que a flexibilidade de horários e de entregas é uma tarefa simples. É preciso autogestão, capacidade de estabelecer metas, com prazos e objetivos claros. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) nos convida a trabalhar essas competências com as crianças a fim de contribuirmos para sua formação pessoal e profissional, para que sejam capazes de traçar seu projeto de vida, de se relacionar com o meio e com o outro. “Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.” (Competência geral 6 – BNCC – p. 9)

Os muros físicos do estabelecimento de ensino são quebrados, dando lugar a uma dinâmica de aprendizagem que ocorre em qualquer lugar ou tempo(...)

Essas competências se desenvolvem com a prática de habilidades específicas trabalhadas por meio de experimentos e vivências em que o sujeito é convidado a fazer, discutir, interpretar, criar, refletir, organizar, sistematizar, compor, aprender, ensinar, conviver, trocar, analisar, concluir, avaliar. No espaço escolar, essas ações estarão presentes nas sequências didáticas desenvolvidas pelos docentes, garantindo o aprendizado real e significativo. Contudo, essa formação e o aprendizado não se dão apenas na escola. Cada vez mais os muros físicos do estabelecimento de ensino são quebrados, dando lugar a uma dinâmica de aprendizagem que ocorre em qualquer lugar ou tempo, com as possibilidades do uso de plataformas para estudo e discussões. Com esta nova perspectiva, o tempo destinado ao estudo e à realização de tarefas em casa ganha uma nova importância na formação das crianças. Deixa de ser apenas o processo de executar tarefas relacionadas aos conteúdos que estão sendo vistos em sala de aula para tornar-se o momento de extensão da escola, com maiores possibilidades de aprendizagens, em novos ambientes, desenvolvendo as competências esperadas para o mercado de trabalho. As escolas já estão mudando sua maneira de planejar e organizar as aulas, e o estudo e a implantação da BNCC ajudam nessa tarefa. Mas e as famílias? Como ajudá-las na tarefa de criar espaços de aprendizagem em casa e valorizar o estudo e o desenvolvimento das produções sugeridas para casa?

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Recado para as famílias A hora de fazer as atividades de estudo em casa nem sempre é um momento tranquilo em algumas famílias. Geralmente, todos na casa trabalham, e as crianças e os jovens têm várias atividades ao longo do dia, o que torna “a hora de estudar e fazer as tarefas” um momento de sofrimento para todos. O cenário pode mudar se começarmos a estabelecer acordos e metas para esse momento e delimitarmos as responsabilidades de cada um. Não existem fórmulas prontas, mas há algumas sugestões que podem melhorar esse processo. 1. A função do estudo (escola e família) A primeira conversa sobre a função do estudo e das atividades de casa deve se dar entre a escola e os responsáveis pelos alunos. O diálogo e a participação ativa das famílias na escolarização de seus filhos são fatores de extrema importância. Muitas vezes, as famílias têm dificuldades em lidar com o momento de estudo em casa ou porque seus filhos não querem fazer as tarefas ou por não saber como ajudá-los. Cabe à escola auxiliá-los nessa dinâmica, com palestras, sugestões, reuniões e esclarecimentos. A parceria entre escola e família é o sucesso do desenvolvimento do aluno. 2. A função do estudo (escola, família, alunos) Tendo clara a função do estudo e das atividades entre escola e famílias, é hora de envolver as crianças e os jovens nessa discussão. Propor, no início do ano letivo, espaços de reflexão com as turmas sobre a função do estudo, a responsabilidade de cada um em seu processo de formação, apresentação de dicas de organização de rotinas, definição de metas, como agir quando temos dúvidas, como

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Para cobrarmos responsabilidade é preciso ajudá-los com ferramentas que possibilitarão essa ação. Muitas vezes cobramos ações que não foram ensinadas.

estudar, como fazer trabalhos em grupo e individuais. Para cobrarmos responsabilidade é preciso ajudá-los com ferramentas que possibilitarão essa ação. Muitas vezes cobramos atitudes que não foram ensinadas. Outro ponto importante para as famílias e para os docentes é deixar claro para as crianças e os jovens que a responsabilidade na produção das atividades e no estudo é deles. 3. Definindo uma rotina, estabelecendo metas Em casa, a sugestão é criar com as crianças e os jovens um quadro de rotina (exemplo ao lado), que deve ficar exposto no espaço de estudo, com as tarefas a serem desenvolvidas. Nesse quadro devem aparecer as horas de estudo, as atividades extras e os momentos de lazer. Vale definir com eles qual horário preferem destinar ao estudo. Para melhor resultado dessas ações, é preciso garantir que as crianças e os jovens se sintam parte do processo. Esta rotina deve sempre ser preenchida por eles.


Exemplo de Quadro de rotina

Horário

Segunda

8h às 12h

Aula

12h30 às 13h30

Almoço e descanso

13h30 às 14h30

Hora do estudo

14h30 às 15h30

Brincar

Terça

Quarta

Quinta

Sexta

Sábado

Domingo

Visita à casa da vovó Aniversário do João

15h30 às Aula de judô 16h30 16h30 às 17h30 19h às 20h

Jantar com a família

Outro ponto de destaque para essa rotina ser colocada em prática é o hábito do controle da hora para cada atividade, como combinado. Vale ajudá-los a controlar o tempo de execução de cada tarefa e cobrar quando não cumprido. 4. Organizando o espaço de estudo Encontrar um local na casa para que as crianças os e jovens possam estudar e fazer as atividades. Escolher um espaço arejado, com uma mesa e cadeira de tamanho adequado,

com materiais para estudo, sem brinquedos ou objetos que possam causar distração. Em caso de irmãos, estabelecer um local para cada um, evitando que se distraiam ou brinquem. Manter esses locais sempre em ordem é necessário para que as crianças e os jovens se sintam motivados a utilizá-los. Se não houver um ambiente que possa ser apenas para estudo, uma boa opção é criar uma caixa com os materiais destinados para essa atividade e montar uma área na mesa de jantar. 49


5. Orientando e apoiando O papel das famílias deve ser de orientar e apoiar o estudo e a execução das atividades, não pode ser um momento de conflitos nem se tornar tarefa dos adultos. Muitas vezes, pelo comportamento das crianças ou por querer que tudo seja entregue logo, algumas famílias acabam executando a tarefa pelos filhos. Ajudamos organizando o espaço, tirando pequenas dúvidas, apoiando, nunca fazendo por eles. Quando a criança ou o jovem não souberem fazer a tarefa de casa, aconselhamos a dialogar com eles para que verbalizem suas dúvidas e as direcionem para o professor em sala, no dia seguinte. Se for trabalho de pesquisa e escrita, que eles possam buscar fontes seguras, leiam o que selecionaram e escrevam o que entenderam, nunca copiando apenas. Caso deixem de fazer tarefas ou trabalhos, as crianças e os jovens devem se responsabilizar por seus atos e compreender o que significa isso para seu desenvolvimento. Ligar para a 50

escola ou mandar bilhetes tentando justificar ou conseguir novos prazos de entrega não contribui para a aprendizagem. 6. Hora do estudo Muitos jovens e crianças ficam com medo ou aflitos em vésperas de semanas de provas. Isso ocorre porque temos o hábito de estudar para esses testes somente na semana em que ocorrerão, o que causa temor e a sensação de uma quantidade muito grande de conteúdos a serem entendidos. Na verdade, ao longo do processo de aprendizagem, todo dia aprendemos algo novo que se complementa. Já há um número significativo de escolas que não determinam mais semanas de provas por terem, ao longo dos períodos, atividades que já são avaliativas, não precisando de um dia específico para isso. Em casa, esse hábito de somente estudar na véspera pode ser mudado com o combinado de que todos os dias, na hora do estudo, os filhos devem ler e recordar o que foi visto em sala. Vale ressaltar que precisamos aconselhá-los a nunca decorar, mas compreender o que estudaram.


Uma boa dica é, ao final do tempo de estudo, pedir que eles contem o que estudaram. 7. Palavras de apoio Incentivo e palavras de apoio são muito valiosos para desenvolver nas crianças e nos jovens confiança e autoestima. Ao terminarem suas tarefas, conseguirem bom desempenho, desenvolverem projetos, o apoio é primordial. Tão importante quanto as palavras que parabenizam o sucesso é o apoio quando eles tiverem problemas. O diálogo com as crianças e os jovens sobre o motivo das dificuldades, a busca de alternativas juntos e as conversas com a escola são tão valiosos quanto os elogios. 8. Parceria escola e família As famílias e a escola devem ser parceiras na tarefa de formar crianças e jovens. O diálogo via agenda, e-mail ou pessoalmente precisa ser constante. Eles se sentirão seguros e se empenharão quando perceberem esse envolvimento.

Atitudes positivas, organização, diálogo e colaboração são a chave para a mudança de hábitos de que as crianças e os jovens precisam. Vale tentar construir juntos o melhor caminho para cada família.

Tão importante quanto as palavras que parabenizam o sucesso é o apoio quando eles tiverem problemas.

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LEITU ENCANTA

A LITERATURA NA ESCOLA

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RA E MENTOS Me lembro com muito carinho de minha primeira professora, dona Regina, nos levando à sala de leitura para escolhermos um livro para lermos. Ela dizia que seria uma grande viagem e que cada livro tinha algo diferente para nos contar.

Foi assim que dona Regina nos apresentou o mundo da leitura. Os anos passaram, me tornei professora e contadora de histórias, e a cada livro que abro me lembro da doce voz de minha amada professora dizendo: “prepare-se para uma nova viagem!”. 53


E desta mesma forma sempre procurei passar aos meus alunos, de todas as idades, que ler é ter a oportunidade de conhecer um novo mundo que está ali a nossa disposição, com uma magia a mais: cada vez que lemos a história descobrimos novos caminhos. Mas se ler é tão bom e tão encantador, por que estamos entre os países que menos consomem livros? Por que é tão complicado fazer nossos alunos lerem? Como adquirir esse hábito? Vamos começar a pensar na palavra hábito. Entre os muitos significados que encontramos no dicionário, temos “Prática repetida que se torna conhecimento ou experiência”.

dos, culturas diferentes, situações que fazem refletir sobre a vida. Agora, é hora de colocar em prática nosso projeto. O primeiro passo é convidar todos a participar desse projeto, começando pelos professores e funcionários. Que tal um espaço para compartilhar livros entre professores e funcionários? Cada um pode trazer um livro para trocar com o grupo, ou a escola pode montar uma biblioteca com títulos variados, não só para formação, mas para entretenimento.

Bem, nossa primeira missão será despertar nas pessoas o hábito de ler, de modo que essa prática se torne agradavelmente repetitiva, uma experiência deliciosa em nossa vida, um vício saudável.

Agora, vamos espalhar os livros pela escola? Sim, no recreio, nas salas de espera, perto da cantina, deixar alguns pufes e estantes no pátio, para leitura. A ideia é que todos tenham acesso aos livros em horários livres entre as aulas, nos períodos contrários às aulas principais, nos intervalos.

Missão definida, partimos para o segundo passo: o encantamento de dona Regina. Apresentar bons textos que proporcionem conhecer bons argumentos, personagens bem desenha-

Convidar as famílias também deve fazer parte de nosso projeto. Criar na biblioteca da escola um espaço para que a comunidade escolar possa ter acesso a livros de títulos variados.

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Para apresentar o projeto, as crianças farão uma campanha chamando as famílias para a leitura na escola, mostrando esse espaço, as vantagens do lugar com poltronas confortáveis, a possibilidade de os pais lerem enquanto aguardam os filhos fazerem atividades extras ou até mesmo lerem para seus filhos. A biblioteca transforma-se em um lugar aberto ao público, com áreas demarcadas e separadas para estudo e pesquisa isolados, com poltronas, pufes e tapetes para leituras de toda a comunidade escolar (funcionários em horário de almoço, famílias aguardando filhos, crianças em horários vagos de atividades), espaços para trabalhos dos docentes com as turmas e projetos do(a) bibliotecário(a), como saraus e contação de histórias. Em sala de aula, de modo geral, trabalhamos bem, principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais, as rodas de história e os projetos de leitura. Mas à medida que as turmas vão crescendo, as leituras acabam se tornando ligadas ao componente curricular de Língua Portuguesa e a uma prova ou trabalho. E aqui, sem perceber, matamos o encanto do livro.

Para podermos potencializar essas leituras mensais ou bimestrais em nossas escolas, o primeiro passo é uma escolha interdisciplinar. Optar por temáticas que possam ser trabalhadas de modo a propor uma discussão ao longo do período escolhido sobre um assunto comum aos componentes. Isto vale para o Ensino Fundamental I, II e Ensino Médio. Com os títulos e temáticas escolhidos, criar com os alunos roteiros de leitura e discussões, com ações antes da leitura (levantamento de hipóteses sobre a temática a ser discutida), durante a leitura e pós-leitura (com o projeto propriamente descrito, lembrando que o livro é um caminho para iniciar a discussão).

Ler um bom livro torna-se um recurso pedagógico interdisciplinar que permite ampliar as discussões em sala e formar de modo integral nossos alunos.

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Quando o aluno passa a participar de grupos de discussão após leituras, começa a perceber pontos de vista diferenciados, analisa cenários apresentados pelo texto e pelos colegas, melhora sua argumentação, amplia vocabulário, consegue enxergar novas perspectivas para situações do cotidiano, muda sua visão de mundo. Ler um bom livro torna-se um recurso pedagógico interdisciplinar que permite ampliar as discussões em sala e formar de modo integral nossos alunos, como espera a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). “Durante a leitura, as habilidades operam de forma articulada. Dado o desenvolvimento de uma autonomia de leitura em termos de fluência e progressão, é difícil discretizar um grau ou mesmo uma habilidade, não existindo muitos pré-requisitos (a não ser em termos de conhecimentos prévios), pois os caminhos para a construção dos sentidos são diversos. O interesse por um tema pode ser tão grande que mobiliza para leituras mais desafiadoras, que, por mais que possam não contar com uma compreensão mais fina do texto, podem, em função de relações estabelecidas com conhecimentos ou leituras anteriores, possibilitar entendimentos parciais que respondam aos interesses/objetivos em pauta. O grau de envolvimento com uma personagem ou um universo ficcional, em função da leitura de livros e HQs anteriores, da vivência com filmes e games relacionados, da participação em comunidades de fãs etc., pode ser tamanho que encoraje a leitura de trechos de maior extensão e complexidade lexical ou sintática dos que os em geral lidos.” (BNCC – p. 74)

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A nós, docentes, cabe a tarefa de escolher bem os livros aos quais nossos alunos terão acesso, buscando histórias interessantes, gêneros variados, enredos e personagens bem amarrados. Planejando estratégias que desenvolvam as habilidades esperadas para o eixo leitura, mas sempre utilizando o livro com um olhar interdisciplinar. Precisamos criar o hábito de presentear nossos amigos, filhos e alunos com livros. Precisamos criar o hábito de ler para nos divertirmos. Precisamos criar o hábito de ter o livro como um companheiro de muitas aventuras, assim como as crianças pequenas se divertem com os contos de fadas. Hábitos se adquirem com a repetição e o prazer envolvido na ação. Livros devem ser hábitos que encantam e levam prazer. Vamos convidar toda a comunidade escolar professores, alunos, funcionários e famílias - a se envolver e se encantar com o livro. Espero que todos possam ouvir a doce voz de dona Regina ao abrir um livro dizendo: “prepare-se para uma nova viagem!”. Boa viagem a todos!


adas_pnld2018.pdf

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7/7/17

10:47Planejar AM aulas, elaborar provas, corrigi-las, lançar notas e fazer reuniões. Uma lista que não para de crescer. Não é fácil otimizar seu tempo com tantos desafios para encarar, não é? 1 8 3 9 4 3

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