Princípio da Vola.lidade EXPOSIÇÃO COLETIVA – GRUPO TRANSITÓRIO Adélia Klinke Ana Sefair Mitre Célia Macedo Eder Roolt Jeff Chies Marcia Gadioli M. Luisa Editore Rafaela Jemmene Regina Sarreta Rita Balduino Curadoria: Juliana Monachesi
Transitório existe há um ano e meio como um grupo de pesquisa e discussão sobre arte contemporânea. A longo desse período, os ar.stas aqui reunidos acompanharam de perto as pesquisas e inquietações um do outro, o que torna a convivência entre seus trabalhos tão coerente. São obras de natureza diversa e suportes ou temas muitas vezes contrastantes, mas nasceram todas de um debate profundo sobre as caracterís.cas e a ideologia do espaço exposi.vo. O que muda no significado de uma obra quando ela é apresentada em diferentes contextos? Em um ambiente domés.co, por exemplo? Ou em uma exposição cole.va caó.ca que não iden.fica a autoria dos trabalhos? Qual obra escolher a cada situação? Sobre qual obra recai a decisão quando o contexto é uma mostra dupla, em que sua produção é posta para dialogar com a do ar.sta com cuja poé.ca você mais se iden.fica? Que ar.sta você escolheria para esse dueto? Todos estes foram exercícios de reflexão que o grupo fez junto e, apesar de O Princípio da Vola.lidade ser a sua primeira exposição cole.va, muitas outras -‐ ficcionais e altamente experimentais -‐ já fazem parte da história do Transitório. Quando a galeria Smith convidou o grupo para realizar uma exposição, foi um desdobramento lógico da dinâmica transitória pensar em reinventar o espaço exposi.vo. E, porque cada ar.sta do grupo tem sua pesquisa muito par.cular, uma conversa agitada e produ.va na Casa Contemporânea -‐ que abriga nosso cole.vo -‐ levou à ideia de embrulhar a galeria, como forma de unificar o conjunto e de tensionar a condição defini.va associada ao "trabalho acabado" para a galeria ou o museu. Com a ação de embrulhar a Smith, o grupo Transitório sinaliza que suas inves.gações estão constantemente em processo, que a exposição -‐ qualquer exposição -‐ é uma instância passageira da vida de um trabalho de arte. Isso não significa que os trabalhos não estejam acabados. Estão. E são todas obras maduras de ar.stas bastante consistentes. Mas uma obra finalizada, para um grupo de ar.stas que prioriza a pesquisa e as trocas (conceituais e afe.vas) em seu processo de criação, é apenas a potência inicial de tudo o que está por vir. Juliana Monachesi -‐ curadora
Adelia Klinke Nasceu em Jesuíta (PR). Vive e trabalha em Embú das Artes (SP). É formada em artes plás.cas pela Faculdade Santa Marcelina, São Paulo. Realizou exposições individuais no MAC Curi.ba, em 2008, na galeria Mônica Filgueiras (São Paulo), em 2006, no Centro de Cria.vidade de Curi.ba, em 2004, e Caminhos na Cor (1998), no Sesc Pinheiros, em São Paulo, entre outras. Entre as cole.vas de que par.cipou, destacam-‐se 2ª. Cole.va na Smith Galeria (2011), Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010), 60º Salão de Abril (2009), em Fortaleza, e Bienal de Arte do Triângulo (2007), em Uberlândia (MG).
Por que suas pinturas "saltaram" do plano para o espaço? Poderia contar como foi o processo de "conquista do tridimensional" na sua trajetória? Por uma necessidade de sair do quadrado ou do retângulo da tela e do papel, pois era como se eu es.vesse engessada no formato limitado que esses suportes me ofereciam. Então, depois de pesquisar alguns materiais, cheguei ao tecido, porque este preenchia alguns requisitos que são importantes para mim, como a transparência, a possibilidade de sobreposição e adição, além do que, sua forma é maleável. Aos poucos, a cada trabalho realizado, acrescentei volumes pendentes, torci, dobrei, sobrepus e, su.lmente, o trabalho foi escorregando para o chão, se alongando até o teto e ganhando o espaço. De certa forma, con.nuo trabalhando com pintura, porém em outros meios e suportes.
Como você avalia a relação entre figuração e abstração no seu trabalho em pintura, desenho e tridimensional?
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade?
Nunca deixei a figuração, mesmo que meu trabalho parecesse totalmente abstrato. Na pintura, por exemplo, as várias camadas de .nta escondem ou deixam aparecer partes de um desenho, distorcem ou apagam um momento dessa representação, o que sugere uma abstração. Busco as relações entre as cores, as transparências, os volumes, as junções e a repe.ção de algumas formas. Estas vão se tornando um todo, já não mais com as caracterís.cas iniciais, mas outra idéia transformada pela ação e com novas possibilidades... Este mesmo pensamento se aplica ao trabalho com tecidos e aos desenhos a lápis, caneta e .nta – sobre papel ou sobre tela. Não procuro formas fechadas e codificadas inicialmente, já que ao longo do processo constru.vo do trabalho elas podem até aparecer em um dado momento, mas em seguida podem ser apagadas e novamente transformadas somente numa mancha, num volume, sem necessariamente ser a representação de algo. Gosto das transformações que posso imprimir no trabalho ao longo do fazer, e aprecio os vários trabalhos encerrados em um único trabalho. Deixo veswgios do que foi e indicações das transformações ocorridas durante o processo. Quando trabalho com tecidos, todas essas questões estão sendo discu.das. A diferença é que o material é dócil ao meu comando e flexível às minhas ideias..
Pensei em um trabalho que não .vesse sua apresentação restrita à parede, mas que ocupasse o espaço de forma mais abrangente. Um corpo imprimindo modificações no espaço a par.r do instante em que este for colocado – seja no chão, suspenso no ar, ou mesmo na parede. Trabalhei volumes feitos com tecidos, linhas e costuras.
Ana Sefair Mitre
Se você pudesse ocupar a galeria Smith inteira com seus trabalhos, quais e como seriam as obras?
Natural de Juiz de Fora (MG). Vive e trabalha em São Paulo, SP Graduada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo, tem pós-‐ graduação latu sensu em história da arte pela Faculdade Armando Álvares Penteado. Entre as exposições cole.vas de que par.cipou, destacam-‐se Cidades Conwnuas (2012), no Condomínio Cultural (São Paulo), Programa Convivendo com Arte -‐ Conhecendo Ar.stas (2011), na Torre Santander (SP), Paço das Artes 40 Anos (2010), Em Torno de – Nos Limites da Arte (2009), na Funarte (SP), e Pintura-‐ Objeto (2009), no Carpe Diem (Lisboa).
Meu projeto seria percorrer o comprimento de parte da galeria com um trabalho na linha de execução deste que vou apresentar, porém com uma intenção de interferir diretamente no espaço. Outra proposta seria realizar uma instalação na qual as próprias paredes seriam o suporte, e a cor faria parte das entranhas deste suporte, brotaria de dentro para fora. Espaço e cor da forma mais direta e concreta. Dando seguimento a este pensamento, em outro projeto o espaço e a cor poderiam acontecer simultaneamente no campo do real e do virtual, numa escala em que o espectador fosse absorvido por esta fusão.
O que você busca ao ocultar quase completamente pinturas suas com os desenhos–cortes de papel?
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade?
Encontrar outros caminhos, outras maneiras de falar da pintura, é o meu maior desafio e o que mais impulsiona meu processo de trabalho. Qual o papel da pintura hoje? O que é pintura? O lugar da pintura se expandiu e tem se expandido con.nuamente. É uma questão em processo, penso. Os meus projetos nascem de uma necessidade de provocação. Estabelecer um jogo com o observador faz parte do trabalho, portanto o processo de experimentação dos meus projetos, a forma como eles acontecem, se torna um elemento cons.tu.vo deles. Busco uma interação a.va com o observador, que precisa ter uma postura a.va, procurar estes valores que estão camuflados. E, embora a primeira exploração se dê apenas por meio do olhar, é preciso que ele se desloque fisicamente para que o sen.do do olhar se aprofunde e talvez até o leve a duvidar do que está vendo.
Decidi a escala do meu trabalho a par.r do espaço que eu teria para ocupar e de todo o conjunto que faria parte desta cole.va. Fazendo uma analogia com a música, e pensando no todo como uma orquestra, vejo o meu trabalho como um instrumento de marcação de tempo, de percussão. Ou o silêncio, o espaço entre as notas. Demanda atenção, foco e dedicação para ser percebido e não ser abafado pelos sons do solo e da melodia dos outros instrumentos. A esté.ca tem um papel muito importante na minha poé.ca, mas é apenas uma porta de entrada para provocar questões de outra ordem. Gosto que a pintura aconteça nas entrelinhas, e esta postura já se coloca como uma questão não apenas esté.ca. Vivemos um tempo em que a realidade é mediada por diferentes disposi.vos. O conceito do real e do virtual são conceitos que estão se fundindo no nosso co.diano. Faço parte da geração que está vivendo esta mudança e que já vivenciou estes conceitos de maneira bem dis.nta.
Celia Macedo
Qual a importância do conceito de “ornamento” na sua obra e nas suas pesquisas como arIsta?
Nasceu em São Paulo, em 1962, onde vive e trabalha. Entre as exposições de que par.cipou, destacam-‐se Boîte Invaliden (2011), na Invaliden Eins Galerie, em Berlim, Programa Convivendo com Arte -‐ Conhecendo Ar.stas (2011), na Torre Santander (SP), Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010), 38º Salão de Arte Contemporânea Luiz Sacilo{o (2010), em Santo André, Em Torno de (2009), na Funarte (SP), Programa de Exposições MARP (2009), em Ribeirão Preto, Poé.cas da Natureza (2008), no MAC-‐USP, 59º Salão de Abril (2008), em Fortaleza, e 10ª Bienal de Santos (2006).
Acho que tudo começou principalmente pela minha formação em arquitetura e pela leitura de plantas ligadas ao projeto e ao paisagismo. Os primeiros desenhos eram um registro de observação, uma vista de cima, que evoluiu para a aproximação, o detalhamento e a u.lização do ornamento como ferramenta no preenchimento dos espaços. O branco do papel era totalmente tomado por um emaranhado de padrões e sobreposições. O ornamento me interessou muito pela diversidade de formas, influências culturais e de época, oferecendo inúmeras possibilidades de reinterpretação e aplicação no meu trabalho.
Como aconteceu – e como você interpreta – a presença cada vez mais forte do branco no espaço antes saturado de cor dos seus desenhos e pinturas? O branco no espaço foi uma necessidade e uma contraposição ao excesso de informações. Minha intenção foi fazer um desenho que saísse do plano, originando um corpo com sugestão de volume, peso e textura, como se ele es.vesse na iminência de mudar a sua estrutura e forma, segundo um universo próprio, que se desdobra vagarosamente.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Definido o espaço onde o trabalho seria realizado, decidi apresentar uma instalação com obras de formas e dimensões variáveis. O conjunto poderá ser observado de dois pontos de vista, a par.r do piso térreo e também do mezanino, assim como a obra poderá ser visualizada mais detalhadamente pelo espectador em movimento, ao u.lizar a escada. Reuni nesse conjunto trabalhos com composições mais saturadas plas.camente e outros, mais recentes, em que o “vazio” é incorporado ao plano. A forma como interpreto a natureza, a cor como fio condutor, e a expecta.va de provocar uma experiência sensorial são as principais questões desse trabalho.
Eder Roolt Nasceu em Santo André, em 1977, e vive e trabalha em Mauá, São Paulo. Graduado em engenharia química, realizou estudos livres de história da arte, fotografia e cerâmica. Autodidata, estuda artes desde a adolescência. Vem par.cipando do circuito de exposições com o grupo paulistano Aluga-‐se e dos salões de arte nacionais desde 2008. Recebeu o primeiro lugar no salão de Artes Plás.cas do Mapa Cultural Paulista de 2010 e foi um dos finalistas do prêmio Pipa em 2011. Em 2012, realizou sua primeira exposição individual em São Paulo, na galeria Oscar Cruz.
Por que você escolheu atuar como um pintor figuraIvo? Acredito que não existe um começo. Sempre gostei de artes, de todas elas. Antes de escolher ser pintor, estudei literatura, música, história da arte, cerâmica, fotografia etc. Comecei a estudar artes por volta dos 12 anos de idade por causa da Tarsila do Amaral. Aos 14 já conhecia Por.nari, Di Calvacan., Iberê, Mabe, Sacilo{o, Leonardo Da Vinci, Rembrandt, Vermeer, entre tantos outros. Apesar de a pintura sempre ter me fascinado, escolhi por muito tempo não ser pintor, porque pensava que era um mundo muito distante do meu. Acredito que, de certa maneira, a história da arte pesou nas minhas costas e, quando decidi pintar, eu não podia fazer “qualquer coisa”. A pintura é muito mais que apenas distribuir pigmentos sobre o suporte. Penso que não foi uma escolha, mas um caminho, do qual não consigo me afastar e pelo qual tenho verdadeira fascinação.
A infância, na sua obra, é tema, metáfora ou circunstância? Diferente de como aconteceu com outros trabalhos que desenvolvi anteriormente, comecei a retratar a infância por intuição. Foi depois de uma discussão acalorada sobre arte, mesmo sem entender o porquê, mas no processo encontrei algumas respostas acerca do que estava ocorrendo na minha pesquisa cria.va. Primeiramente, acredito que recordei muita coisa da minha infância, havia muito esquecida; e aprendi a ser uma pessoa melhor em vários aspectos. De certa maneira, “acordei a criança adormecida dentro de mim”. Estes trabalhos terminaram por adquirir muitas instâncias de ques.onamentos, a ponto de me achar ingênuo por pensar que a pintura pode mudar alguma coisa. Ou, então, que a pintura vive um momento de imaturidade ou, até, que só sendo uma criança para acreditar na arte... Cada trabalho acabou conquistando sua própria forma pictórica, mas o diálogo com o espectador se amplia sempre, pois ele acaba criando suas próprias ficções. Ou seja, o que pode ser circunstância no trabalho também é metáfora e vice-‐versa.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Até o fechamento do material impresso da mostra, ainda não tenho uma definição da obra que será exposta, pois meu ateliê inteiro está na individual Festa An)conformista, na galeria Oscar Cruz. Então deixo essa pergunta para responder depois...
Jeff Chies
O que te mobilizou tanto na obra do Antony Gormley; quais paralelos você poderia traçar entre a sua produção e a dele?
É ar.sta plás.co e diretor de documentários, curtas-‐metragens e comerciais. Formado em comunicação social pela PUC de Porto Alegre, fez cursos de história da arte com Rodrigo Naves e de pintura, desde 2008, com Paulo Pasta. Seus trabalhos integraram as cole.vas Lugares (2012), no MAC Campinas, #1 Pigmento (2012), na Casa Contemporânea (SP), Cole.vo Terça ou Quarta (2011), na Pinacoteca da Universidade Feevale (Novo Hamburgo), I Am Who I Am (2010), no I-‐C Contemporary, em Berlim, Desejo de Debate: Pintura? (2010), no ateliê A Pipa (SP), entre outras.
Penso que a questão que move meu trabalho é construí-‐lo com meu corpo, meu corpo como metáfora da vida possível, exprimível através de uma manifestação „sica do ser em pensamento e espírito. Gostaria mesmo que eu conseguisse dentro de uma linguagem encontrar um ponto de contato profundo entre minha manifestação par.cular e „sica com algo mais abrangente e universal. Imagino que determinadas vontades podem parecer irrealizáveis, mas encontro isso em alguns ar.stas e sinto que posso perseguir algo assim. Me iden.fiquei com algumas questões na obra do Gormley e, apesar de escolhas diferentes, sinto a mesma vontade de a.var o espaço e espero uma resposta „sica, sensorial e mental de quem se aproxima da minha pintura.
Você tem invesIgado desdobramentos em arte sonora e/ou audiovisual para a sua pesquisa em pintura. Do que exatamente a pintura não consegue dar conta, em sua opinião? Não parto de uma impossibilidade e sim de um desdobramento. Além de pintar, sempre lidei com a imagem „lmica, a imagem em movimento, como gosto de pensar. Sinto que, ao filmar minhas pinturas, estou explorando uma construção nova no meu trabalho. Par.r de imagens abstratas, pintadas gestualmente, pode criar um universo sensorial espesso. Este universo, somado a uma música feita em camadas, pode resultar num trabalho com força e fruição. Mas ainda estou num processo inicial de descobertas desta nova experiência.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Quero que a pintura possa permanecer antes da super„cie das coisas, antes que as coisas apareçam como forma, antes de o gesto ser responsável pela narra.va. Busco um gesto ainda não decodificado, sem nomenclatura, e é neste lugar anterior à forma que fica a minha pintura, minha linguagem. O acúmulo de linguagens, não como uma discussão cínica e irônica dos procedimentos da pintura, mas como uma soma de maneiras e ideias de como arquitetar a pintura, me interessa. Os trabalhos que escolhi para esta exposição são um exemplo das soluções que venho vivendo e experimentando para construir minha pintura.
Marcia Gadioli Nasceu em São Paulo, onde vive e trabalha. É ar.sta visual formada pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2008). Desde 2005, par.cipa de exposições em salões de arte, galerias e espaços culturais. É membro do grupo de produção de arte contemporânea issotudoégrupo. Criou e dirige, desde 2009, com Marcelo Salles, a Casa Contemporânea. Realizou a individual MEMORIAR – Narrações Imaginárias de um Co.diano (2011), no AVA -‐ all visual arts (São Paulo), e integrou, entre outras cole.vas, Jeans: Tecendo Comentários entre Arte e Moda (2011), na Casa Contemporânea.
O foco do seu olhar fotográfico é, em geral, bastante fechado, quase claustrofóbico, por quê? O que lhe parece tão interessante no detalhe – ou desinteressante no plano geral/ aberto/amplo? Encontro no equipamento a possibilidade de ir além, de ver detalhes que não veria sem ele e, assim, encontro outras imagens. Através de uma lente teleobje.va encontro imagens diferentes das que seriam comumente percebidas, ela oferece ângulo e aproximação que, mesmo essa aproximação ou deslocamento sendo possível fisicamente, não seriam possíveis com o mesmo recorte. Com isso, defino como resultado final uma imagem com caracterís.cas próprias, mas que, ao mesmo tempo, se mantém reconhecível em relação ao objeto. É como recortar o recorte, e mais uma vez recortar, ampliando cada vez mais o resultado final. Essa busca pelos detalhes que acontecem predominantemente com ângulos fechados ocorre, sobretudo, pela perda dos horizontes. Uma vez que meu campo de visão se fragmenta por causa das diversas construções, fica mais di„cil encontrar planos abertos.
Sua lente costuma se voltar para elementos pouco visíveis no contexto urbano: em fortaleza você registrou contêineres; em Porto Alegre, uma toalha pendurada na frente de um muro no fundo de uma galeria de arte. Como você avalia esse movimento? Digo sempre que minhas fotos são relacionadas às alterações urbanas. Por isso, esses elementos pouco comuns chamam muito a minha atenção. Os contêineres em Fortaleza, na praia, aparecem de forma paradoxal em relação aos de São Paulo, chamam a atenção, mas, em minha opinião, não alteram a paisagem nem tampouco perdem sua função; estão no local adequado, é o porto, chegam e saem. Aqui em São Paulo, onde fiz as fotos, estão localizados na zona leste, onde há um entroncamento ferroviário, em meio a uma movimentada via de acesso, com dificuldade de deslocamento. Os elementos que poderiam estar integrados à paisagem aqui na cidade, já que estou falando de empilhamentos, sobreposições, aglomeração e outras caracterís.cas peculiares a São Paulo, acabam destoando no cenário urbano. Já em Fortaleza, na praia, poderiam causar maior estranhamento e, na verdade, se integram melhor; existe espaço para eles, a amplidão acomoda-‐os. Ali, o plano aberto resolve. Com as toalhas acontece a mesma situação, são toalhas de banho no fundo de uma galeria, percebe-‐se que não é um trabalho de ar.sta, mas havia ali uma composição de cores e formas que se destacava do contexto em que estávamos e eram condizentes entre si.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Nesta seleção constam fotos que foram recortadas de três séries diferentes, de 2007, aproximadamente, até 2012. A série construções surgiu na observação das transformações ao meu redor. As construções começaram de forma abrupta e não alteraram só a configuração do bairro, mas também a convivência de cada um com seu espaço, um “viver em comum” que se tornou impossível, porque a construção se apresenta de forma soberana. Ela cresce, invade. Com a evolução das construções, são implantadas telas de proteção, e daí surgem as fotos da série aqui denominada telas. As telas, apesar de fazerem parte das construções, chamam minha atenção por outros mo.vos: deixam a obra sinistra porque ocultam o que está atrás, ao mesmo tempo em que deixam entrever a movimentação e as transformações; unificam aparência e forma do edi„cio; têm seu próprio movimento, adquirem novas formas, por conta da ação do tempo, e sugerem muitas possibilidades e significados. Quando são novas, muito brancas, sugerem o cuidado, a proteção daquilo que estão envolvendo, preciosidade. Com o vento, tornam-‐se navios portentosos, ou um novo edi„cio que flutua no céu e que põe em questão se há mesmo uma construção concreta ali atrás ou é tudo imaginação. Uma jangada! Um véu de noiva revolto... Com o tempo de uso, sua cor já está totalmente alterada e sua forma se apresenta rota, emaranhada, sem a função original, mas con.nua sinistra. Acumulam-‐se enroladas, amontoadas nas bandejas de proteção entre os andares, e parece até que esse emaranhado esconde um corpo caído. Será? Mas, se o céu es.ver azul e o vento mudar de direção, pode-‐se ver um corpo que dança suspenso no ar e que nem mesmo se apresenta como matéria. Já os contêineres surgem no meu deslocamento. A atenção se volta para elementos móveis, de grande circulação, ágeis, mas de aparência está.ca, pesada, que se destacam na paisagem e, ao mesmo tempo, se assemelham a ela pelo empilhamento e sobreposições, assim como as moradias da cidade se empilham e todos os elementos se sobrepõem. No meu trajeto diário, observo um pá.o de contêineres onde é comum ver uma grande movimentação deles sendo carregados pelos guindastes. A paisagem ali está sempre mudando: ora existem muitos, formando pilhas altas, ora poucos ou quase nenhum.
Maria Luisa Editore
O que você mais persegue em suas invesIgações pictóricas: a criação de espaço ou a descoberta da cor?
Nasceu em San.ago do Chile, em 1953. Vive e trabalha em São Paulo. Formada em desenho têx.l pela Universidad de Chile (1977) e em artes plás.cas pela Escola Panamericana de Artes de São Paulo (2004). Entre as exposições das quais par.cipou, destacam-‐se Programa de Exposições MARP (2011), no Museu de Arte Contemporâneo de Ribeirão Preto, Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010), Em Torno de -‐ Nos Limites da Arte (2010), na galeria da Funarte de SP, Salão de Arte Contemporâneo Luiz Sacilo{o (2010), em Santo André.
Na minha inves.gação pictórica, construção e cor andam juntas, mas se .vesse que escolher uma, seria construção.
Por que você optou pela Inta a óleo? E por que elegeu como assunto um Ipo de "construção" que precisa, necessariamente, passar por tão numerosas etapas e camadas de criação e desconstrução (ou destruição)? Trabalho com .nta óleo por sua plas.cidade, que me permite intervir na cor, criando diferentes nuances por um período prolongado de tempo. Minha pintura precisa de muitas camadas de .nta num processo de construção e desconstrução constante. Este fazer é de vital importância, estabelecendo um contraponto à rapidez da sociedade contemporânea.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Meu trabalho para a exposição foi pensado a par.r de uma ideia de arte do acaso, reaproveitando para fazer uma obra o que geralmente seria descartado no processo. As fitas-‐crepe com restos de .nta óleo, que são u.lizadas sempre em todo o meu processo pictórico, foram sendo coladas sobre papel-‐cartão, ao longo de todo o período de confecção de uma tela. Na exposição, as colagens de fita são apresentadas ao lado da pintura que lhes deu origem, o que permite empreender uma arqueologia de todo o processo de criação daquela tela, toda a escala de cor que foi percorrida. A história de uma pintura contada em outra pintura, feita de fitas.
Rafaela Jemmene
Se você precisasse passar um ano sem produzir nenhum objeto de arte, mas pudesse editar livros durante o período, quais e como seriam os livros que faria?
Nasceu em São Paulo, em 1970, onde vive e trabalha. Ar.sta visual, faz doutorado em poé.cas visuais no Ins.tuto de Artes da Unicamp. É mestre em artes pela mesma universidade e tem graduação em artes visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo (2008). Desde 2005, par.cipa de exposições em salões de arte, galerias e espaços culturais, no Brasil e no exterior. É uma das idealizadoras e organizadoras do projeto sobrelivros, que tem como obje.vo criar situações e ações com vistas à exposição, acervo, i.nerância e venda de arte impressa e múl.plos.
Uma das possibilidades seria um livro in.tulado em espaço diminuto, e seria sobre uma vivência que .ve, durante o período de aproximadamente um ano, em uma casa enorme, com diversas salas ocupadas por diferentes ar.stas, cada qual com sua busca e seu percurso. Eu de minha parte me man.ve em um espaço vazio, pelo menos por um período, e fiz diversas experimentações, em linguagens como fotografias digitais, desenhos digitais, vídeo; enfim, trabalhos que podem gerar múl.plos, isto é, não são trabalhos únicos, pressupõem .ragem. E com este pensamento também faria esta publicação já citada, pois ela teria uma .ragem, não seria única, não seria um catálogo ou uma reprodução da dissertação que fiz este ano, mas apresentaria o processo deste percurso. Gostaria de fazer outros trabalhos com palavras e frases apropriadas de outros ar.stas e autores, mas para não me alongar demais paro aqui, explicitando esta vontade de dar corpo a esta publicação.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Quais são as principais questões desta obra em parIcular?
Se, no ano seguinte ao término da proposta anterior, você não pudesse produzir nenhum livro e nenhum objeto ar[sIco durante mais um ano, que outras soluções poéIcas você buscaria? É uma questão di„cil, porém, vamos considerar que o que aqui é designado como objeto possa ser entendido como algo que tem uma materialidade „sica, isto é, pode ser tocado, toma um lugar no espaço „sico, não é virtual. Como solução poé.ca, eu buscaria o vídeo, a fotografia digital projetada, e até mesmo um trabalho que pudesse ser acessado diretamente na internet, talvez um blog ou algum .po de publicação virtual, porém penso que para este momento não seria necessário, pois, ainda estamos no plano das aspirações mais ligadas aos sonhos e às possibilidades de atuação. E, desta forma, esta seria uma escolha per.nente. Não quero dizer que as linguagens aqui citadas não tenham sua materialidade, mas acredito que, buscando um caminho sem objeto, esta seria minha escolha. Na verdade, este caminho aqui citado, talvez seja o percurso que começarei a trilhar durante um período de meu processo.
Para realizar o trabalho apresentado na Galeria Smith fiz uma visita, andei pela galeria, .rei fotos, medi alguns espaços, e no final do percurso me deparei com um grade branca que fica na janela do escritório da Galeria. É uma grade comum, mas naquele momento ela me fazia pensar em tudo que aquela casa foi, antes de ser este espaço de arte. Pensei novamente em questões importantes para mim que relacionam o tempo e sua passagem em um determinado espaço e como as camadas de tempo se formam, criando a memória do lugar. E assim o lugar e o tempo estão juntos, é di„cil pensar em um sem pensar no outro. E foi pensando no espaço, nas suas ressigifinicações que o transformam em lugar, na passagem do tempo e suas camadas que impregnam um lugar mesmo que não seja percebido por nós com facilidade, que fiz este trabalho. E a pergunta que fica no ar: e a vola.lidade? E seguindo o pensamento nesta direção, pensei em fazer algo especifico para o lugar, pois este trabalho só faz sen.do exposto na Galeria Smith. Visto que, é a grade do escritório que se encontra na galeria, que foi copiada e reproduzida, em seu tamanho original. Na escolha que fiz ao reproduzi-‐la, a percebemos mais pelos seus vazios, que pela grade, porque ao desenhá-‐la em meu computador, eu deixei os seus vazios em negro, e assim ela retorna ao espaço da Galeria evidenciando seus vazios. E para enfa.zar a sua curta existência e sua vola.lidade, este trabalho será realizado em adesivo de recorte e será instalado diretamente na parede da Galeria, e assim quando acabar a exposição, sua vida e seu sen.do como trabalho arws.co também se vão, ficando como memória, e fazendo com sua curta presença neste lugar, mais uma camada de tempo e espaço na parede da Galeria Smith.
Regina Sarreta
Desenhar é uma forma de meditar? O que você encontra antes, durante e depois de um desenho?
Nasceu em Igarapava, SP, em 1958. Vive e trabalha em São Paulo. Realizou exposições individuais na Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, e no Museu de Arte Contemporânea de Ribeirão Preto, em 2007. Par.cipou, entre outras, das cole.vas Troyart Exposição Internacional (2011), no Mube, SP, Ateliê Fidalga no Paço das Artes (2010), Photo Fidalga Quase Galeria (2010), no Espaço T, no Porto, 10 + 20 (2010), na galeria Emma Thomas (SP), Em Torno de (2009), na Funarte (SP), e Poé.cas da Natureza (2008), curadoria de Ká.a Canton no MAC-‐USP.
Desenhar, para mim, é uma forma de livre expressão. Representando meus pensamentos internos, onde não há limites entre o imaginário e o real, entre o mundo dos sonhos e das memórias. Uso o desenho num trabalho obsessivo, em que a repe.ção elimina o superficial e o desnecessário. Por meio do papel ou da tela, estou comunicando o não visto, o espiritual, o subconsciente. Inicio o desenho com algumas formas que, no decorrer do trabalho, vão se transformando: ora se expandindo, ora se fechando em um desenho con.do e hermé.co. As linhas que se repetem de forma obsessiva, essa repe.ção é um mantra.
Qual a sua opinião sobre o conceito de "série" e o de "versão”? Qual deles lhe interessa mais em suas pesquisas e produção? Uso as séries quando percebo que o trabalho vai ter muitas idas e vindas, e que também posso retomar aquela série em qualquer momento. Trata-‐se de um trabalho que não se esgota, por exemplo, realizo uma série de preenchimento há 8 anos e sinto que ela ainda não se esgotou. Uma versão seria contar sobre o trabalho explicando minuciosamente como foi elaborado, pesquisado. Ou fazer de outra forma, uma nova versão, quase uma releitura. Eu me interesso mais pelas séries, porque posso voltar a elas a qualquer momento e sempre adicionando a elas novas pesquisas e experiências.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? Esta obra foi pensada primeiro para o espaço exposi.vo, sobretudo pelo impacto e interesse pelo amplo pé direito da galeria. Sempre usei pequenos formatos para o desenho e vi a possibilidade de transgredir esta prá.ca incorporando ao trabalho desta extensão de espaço. Assim, propus um trabalho de 6,30 x 0,65 cm dividido em três partes. Uma forma de incorporar a este trabalho o desenvolvimento co.diano de desenhos menores foi apresentar, ao lado desta forma imensa que começa no teto e chega ao chão, também uma obra de pequena dimensão.
Rita Balduino Nasceu em São Paulo, onde vive e trabalha. Ar.sta visual, tem pós-‐ graduação em artes visuais pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo. Entre as exposições cole.vas de que par.cipou, destacam-‐se Circulando SP – Construção de uma Paisagem Temporária, no Parque do Povo, com organização de Regina Carmona; II Bienal Internacional de Pequenos Formatos, na Venezuela; V Mostra Internacional de Gravura, no Uruguai; Labyrint 9: Botkyrka Konsthall, na Suécia; I Encontro Internacional de Gravura Postal, na Colômbia; I Bienal do Triângulo Mineiro, em Uberlândia.
Por que o digital? E por que, dentro do digital, uma arqueologia do não-‐digital -‐ ou do pré-‐digital? Por meio do digital, encontro uma forma de operar num campo de possibilidades dado, no qual procuro o que não é esperado entre as repe.ções maquínicas. Creio que seja por isso que as imagens-‐erro, as falhas, me interessam. Outro aspecto que considero importante no trabalho digital é a possibilidade de capturar, acumular, fazer camadas e recombinar; coisas que transformam o tempo no motor das operações poé.cas. Meus trabalhos se dão por captação fotográfica em movimento. Capturo os rastros do movimento. Em alguns trabalhos, são rastros do próprio gesto fotográfico, em outros, capturo imagens de movimento geradas em computador. Embora eu opere em meio digital, não lido com as imagens em sua virtualidade pura. Sinto necessidade de dar alguma materialidade para a minha produção. A imagem digital carrega uma inesgotabilidade de transformações em sua super„cie sem suporte (e isto pode ser in-‐suportável!). Dar fisicalidade a ela, por meio das impressões, é um jeito de ter uma saída mais sensorial. O processo de fatura pode ser digital, usar máquina e matemá.ca, mas o fim do processo é o humano.
O que você pensa da transitoriedade? E da transiIvidade? A transitoriedade é condição inerente aos mortais, mas estamos vivendo num tempo de muitas transformações e isto está gerando uma inflação de transitoriedades. Muito se fala da aceleração dos processos e da efemeridade das coisas. Sinto que esta inflação põe em risco a ligação efe.va com nosso entorno. Já o transi.vo, embora guarde um sen.do semelhante com relação ao que é passageiro, carrega uma carga de transmissão. Algo que vai de um ao outro, assim como na gramá.ca. Isto me parece mais relacional do que a transitoriedade.
Como você concebeu o trabalho que vai apresentar na exposição O Princípio da Vola/lidade? A escolha desta forma de materialização da imagem se deu a par.r da busca por uma ambientação, um dos temas pesquisados no grupo, e também pelo conceito da exposição. Adesivar a parede é uma resposta à questão da transitoriedade. A obra só exis.rá enquanto a exposição durar. Além disso, este trabalho é uma imagem e tem como wtulo o horário exato de sua captura: Dezesseis Horas, 25 Minutos, 35 Segundos, uma referência à vola.lidade do tempo. Escolher uma imagem, dentro de uma longa série, foi tarefa di„cil. Adotei como critério de escolha a idéia de expansão como expressão de movimento, me lembrando, com isso, do poeta português Adelino Torres que diz, em sua poesia Alteridade: o movimento não é um estado, mas uma mudança de estado. Vola.lidade do movimento, vola.lidade do tempo.
Apoio:
Marcelo Salles Arquitetura _____________________________
Agradecimentos:
Igor Sisto
montagem Kleber Gonçalves do Vale Danilo Frank EC Visual
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