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Almada Negreiros - O Pintor do Descompasso | Fernando Correia

José Sobral de Almada Negreiros é parte integrante da história da cultura portuguesa e, ele próprio, por si e pelo seu talento, é cultura.

Nasceu, desalinhado das convenções e dos dogmas, em São Tomé e Príncipe, na Trindade (Roça da Saudade) no dia 7 de Abril de 1893 e caminhou no tempo, entre Lisboa, Paris e Madrid, sempre pelo querer e pelo não querer da sua arte, da sua cultura, do seu espírito lutador que o obrigava a viver entre a transgressão e a provocação, com alguma agitação pelo meio, mas com a certeza do que precisava e desejava ser.

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Era um homem de querer e fazer e era um desenhador da palavra colorida, como atesta o seu perfil de integração na arte modernista e futurista, um bom prenúncio para toda uma vida polvilhada de independência que havia de cessar a 15 de Junho de 1970, no hospital de São Luís, por ventura do destino, no mesmo quarto donde tinha partido, para o Oriente Eterno, Fernando Pessoa.

Almada era o desenho, era a pintura, era o romance, era a poesia, era a dramaturgia e era Sarah Afonso, o seu amor derradeiro numa vida de paixões.

Almada era também o espírito, na sua caminhada fraterna pela igualdade, liberdade e lealdade, num assento de loja maçónica que influenciou decisivamente a sua vida.

Almada Negreiros foi igualmente a expressão mais justa da cultura, libertando – a do espectro político que era orientação ao tempo, defendendo sempre que tinha de haver uma total independência entre a arte e a política.

A revista “Orpheu”, que tanta história guarda, deu–lhe o aval da autenticidade cultural a que apenas os eleitos tinham direito e lutou, com ela, para tirar Portugal do seu descompasso histórico e limitativo, no sentido de acompanhar os movimentos artísticos e culturais europeus.

Tudo em Almada é notável desde que publicou os seus primeiros desenhos em 1911, passando pela “Sátira”, pela “Paródia”, pelo “Manifesto Anti-Dantas” que só podia resultar de um talentoso desalinhado, e pelo “Nome de Guerra” que em 1925 contribuiu para que Almada desse um passo na direcção necessária, com a finalidade de se encontrar a si próprio.

Mas para a história fica o seu retrato de Fernando Pessoa, pintado em cores de profunda admiração e respeito no ano de 1954.

Almada Negreiros escreveu para a vida, para o futuro e para que a história o traduzisse melhor as seguintes palavras de ajuda: “(…) Faço por confundir a minha sombra comigo: estou sempre às portas da vida, sempre lá, sempre às portas de mim (…)”

Certamente deu–se a conhecer melhor com este pensamento que contribuiu para que conquistasse a imortalidade.

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