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A Lavoura DIRETOR RESPONSÁVEL Antonio Mello Alvarenga Neto EDITORA Cristina Baran editoria@sna.agr.br

ENDEREÇO Av. General Justo, 171 - 7º andar 20021-130 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 3231-6350 Fax: (21) 2240-4189 ENDEREÇO ELETRÔNICO www.sna.agr.br e-mails: alavoura@sna.agr.br redacao.alavoura@sna.agr.br

DIAGRAMAÇÃO / EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Paulo Américo Magalhães Tel: (21) 2580-1235 / 8126-5837 e-mail: pm5propaganda@terra.com.br COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:

Arminda Moreira de Carvalho Caio Fidry Cesário Ramalho da Silva Clarissa Lima Paes Edivaldo Del Grande Fernanda Diniz Guilherme Ferreira Viana Ibsen de Gusmão Câmara Jacira Collaço José de Sampaio Góes Joseani M. Antunes Kelly Beltrão Liliane Castelões Luís Alexandre Louzada Luiz Francisco Zafalon Marina Torres Richele Manoel Ronaldo de Albuquerque Ronaldo Luiz Soraya Pereira Valéria Costa Xico Graziano

É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. ISSN 0023-9135

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura

Capa: Danilo Moreira /

Embrapa Pecuária Sudeste

Site: www.cppse.embrapa.br

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A Lavoura ANO 114 - N O 683

MEIO AMBIENTE Alternativas para o desmatamento do Cerrado associam conservação à produção

O aumento da produtividade nas lavouras tradicionais é uma das receitas para diminuir o desmatamento

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PASTAGEM Técnicos recomendam planejamento antecipado para reforma de pastagens

A escolha da melhor semente de capim para ser plantada na propriedade é fundamental para a formação de boa pastagem

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FRUTICULTURA Maracujazeiro-azedo: menos defensivos e maior produtividade

O uso de variedades resistentes e técnicas de manejo integrado são medidas eficazes para o combate de doenças da cultura

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PECUÁRIA LEITEIRA

SNA 114 ANOS

Como melhorar (e manter) a qualidade do leite?

PANORAMA

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06 08 25

SOBRAPA

NOVAS CULTIVARES Novas cultivares de milho e sorgo atendem pequeno e agricultor empresarial

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CÓDIGO FLORESTAL Câmara de negociação pode dirimir divergências entre setores ambientalistas e produtivos

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SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA - SRB ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO ORGANICSNET BIOTECNOLOGIA LIVROS & PUBLICAÇÕES EMPRESAS OPINIÃO

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DIRETORIA GERAL

DIRETORES

PRESIDENTE

FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS HÉLIO MEIRELLES CARDOSO JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS RONALDO DE ALBUQUERQUE SÉRGIO G OMES M ALTA

A N T O N I O M E L L O A LVA R E N G A N E T O 1° VICE-PRESIDENTE

ALMIRANTE IBSEN

DE

GUSMÃO CÂMARA

2° VICE-PRESIDENTE

OSANÁ S ÓCRATES

DE

ARAÚJO ALMEIDA

3° VICE-PRESIDENTE

COMISSÃO FISCAL

JOEL NAEGELE

ROBERTO PARAÍSO ROCHA CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA PLÁCIDO MARCHON LEÃO

4° VICE-PRESIDENTE

TITO BRUNO BANDEIRA RYFF

FUNDADOR

Academia Nacional de Agricultura

E

DIRETORIA TÉCNICA LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO R O B E R T O F E R R E I R A D A S I LVA P I N T O M A R I A B E AT R I Z B L E Y M A R T I N S C O S TA ROSINA VILLEMOR CORDEIRO GUERRA S Y LV I A W A C H S N E R S Y LV I A D E B O T T O N B R A U T I G A M JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO MA R I A H E L E N A M A R T I N S F U R TA D O JAIME ROTSTEIN JOSÉ CARLOS DA FONSECA A N T Ô N I O D E A R A Ú J O F R E I TA S J R .

P AT R O N O : O C TAV I O M E L L O A LVA R E N G A

CADEIRA

PATRONO

TITULAR

01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41

E NNES DE S OUZA M OURA B RASIL C AMPOS DA P AZ B ARÃO DE C APANEMA A NTONINO F IALHO W ENCESLÁO B ELLO S YLVIO R ANGEL P ACHECO L EÃO L AURO M ULLER M IGUEL C ALMON L YRA C ASTRO A UGUSTO R AMOS S IMÕES L OPES E DUARDO C OTRIM P EDRO O SÓRIO T RAJANO DE M EDEIROS P AULINO F ERNANDES F ERNANDO C OSTA S ÉRGIO DE C ARVALHO G USTAVO D UTRA J OSÉ A UGUSTO T RINDADE I GNÁCIO T OSTA J OSÉ S ATURNINO B RITO J OSÉ B ONIFÁCIO L UIZ DE Q UEIROZ C ARLOS M OREIRA A LBERTO S AMPAIO E PAMINONDAS DE S OUZA A LBERTO T ORRES C ARLOS P EREIRA DE S Á F ORTES T HEODORO P ECKOLT R ICARDO DE C ARVALHO B ARBOSA R ODRIGUES G ONZAGA DE C AMPOS A MÉRICO B RAGA N AVARRO DE A NDRADE M ELLO L EITÃO A RISTIDES C AIRE V ITAL B RASIL G ETÚLIO V ARGAS E DGARD T EIXEIRA L EITE

R OBERTO F ERREIRA DA S ILVA P INTO J AIME R OTSTEIN E DUARDO E UGÊNIO G OUVÊA V IEIRA F RANCELINO P EREIRA L UIZ M ARCUS S UPLICY H AFERS R ONALDO DE A LBUQUERQUE T ITO B RUNO B ANDEIRA R YFF F LÁVIO M IRAGAIA P ERRI J OEL N AEGELE M ARCUS V INÍCIUS P RATINI DE M ORAES R OBERTO P AULO C ÉZAR DE A NDRADE R UBENS R ICUPERO P IERRE L ANDOLT A NTONIO E RMÍRIO DE M ORAES I SRAEL K LABIN

S YLVIA W ACHSNER A NTONIO D ELFIM N ETTO R OBERTO P ARAÍSO R OCHA J OÃO C ARLOS F AVERET P ORTO N ESTOR J OST A NTONIO C ABRERA M ANO F ILHO J ÓRIO D AUSTER A NTONIO C ARREIRA A NTONIO M ELLO A LVARENGA N ETO I BSEN DE G USMÃO C ÂMARA JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON J OSÉ C ARLOS A ZEVEDO DE M ENEZES A FONSO A RINOS DE M ELLO F RANCO R OBERTO R ODRIGUES J OÃO C ARLOS DE S OUZA M EIRELLES F ÁBIO DE S ALLES M EIRELLES L EOPOLDO G ARCIA B RANDÃO A LYSSON P AOLINELLI O SANÁ S ÓCRATES DE A RAÚJO A LMEIDA D ENISE F ROSSARD E DMUNDO B ARBOSA DA S ILVA E RLING S. L ORENTZEN

SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil e-mail: sna@sna.agr.br · http://www.sna.agr.br ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979

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S NA

Carta da

Investindo no Agronegócio

N M

oderno, eficiente e competitivo, o agronegócio brasileiro é uma das principais locomotivas da economia brasileira, sendo responsável por cerca de 1/3 do PIB, 42% das exportações e 37% dos empregos. O país já se firmou como um dos líderes mundiais na produção e no comércio internacional de produtos de origem agropecuária. Somos o maior produtor de café, cana de açúcar e laranja do mundo; o 2º maior produtor de soja e o maior exportador mundial de carne bovina e frangos. Em pouco tempo, seremos o principal polo mundial de algodão e biocombustíveis. Nossa produção de madeira, papel e celulose vem aumentando rapidamente e, graças à sua competitividade, vamos conquistando participação cada vez maior no comércio internacional. Nesse ambiente de prosperidade, os empreendimentos das cadeias produtivas do agronegócio têm grande potencial de crescimento. Com clima diversificado, chuvas regulares, energia solar abundante, boa distribuição de água doce, terras disponíveis e tecnologia apropriada, o Brasil apresenta boas perspectivas para o setor nas próximas décadas. Há inúmeras formas de participar desse boom do agronegócio, investindo em pequenos, médios ou grandes empreendimentos. Para aqueles que já estão no setor, é possível atrair capital para financiamento ou investimento direto. Também há boas oportunidades de investimentos privados em pesquisa e desenvolvimento tecnológico voltados para

o agronegócio. Para tratar desses temas, tão importantes e atuais, a SNA promoverá nos dias 21 e 22 de junho seu 12º Congresso de Agribusiness, no auditório da Confederação Nacional do Comercio, no Rio de Janeiro. Esperamos vocês lá! ••

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Promovemos recentemente uma reunião-almoço em São Paulo, com a presença dos ex-ministros da agricultura Delfim Neto, Pratini de Moraes e Antonio Cabrera. Também participaram o secretário de agricultura de São Paulo, João Sampaio e o ex-secretário João Carlos Meirelles. Foi gratificante notar o carinho e consideração que todos dedicam à SNA e ouvir reiterados elogios do exministro Delfim Neto à revista A Lavoura. Ele demonstrou ser um leitor atento e assíduo de nossa publicação. ••

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Nesta edição de A Lavoura, o leitor encontrará excelentes matérias sobre a integração lavoura-pecuária no cerrado e as novas cultivares de milho e sorgo. Nosso artigo de capa aborda a melhoria na qualidade do leite, sobretudo quanto às técnicas de ordenha e prevenção de doenças. A seção da Sobrapa traz relevantes e atualizadas informações sobre o meio ambiente e sustentabilidade. Boa leitura!

Antonio Mello Alvarenga Neto

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Academia Nacional de Agricultura será revitalizada C

São Paulo, coronel Ronaldo Severo Ramos, representando seu presidente Fabio Meirelles. Houve consenso quanto à necessidade de ampliar o número de membros da Academia e de manter sua característica multidisciplinar e abrangência nacional. Além disso, houve apoio à permanência da sede no Rio de Janeiro, pela tradição, projeção e o momento atual de retomada de desenvolvimento econômico e social da cidade. O ex-ministro Pratini de Moraes ressaltou a importância de incorporar à Academia personalidades provenientes das regiões onde o agronegócio tem se expandido nos últimos anos, como é o caso

de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí. O ex-ministro Antonio Cabrera sugeriu agregar pesquisadores e cientistas, incluindo especialistas em meio ambiente e Direito Agrário. O ministro Delfim Neto destacou a qualidade de A Lavoura, demonstrando-se um leitor assíduo e atento da revista, e sugeriu que a publicação seja a interface de comunicação entre a Academia e o setor agropecuário. Ao final da reunião, Antonio Alvarenga afirmou que, em breve, haverá uma nova reunião no Rio de Janeiro para dar sequência ao projeto de revitalização da Academia.

GERSON FILHO

om o objetivo de tratar da reestruturação e da revitalização da Academia Nacional de Agricultura, o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, promoveu, em março, uma reunião-almoço dos membros da Academia que residem em São Paulo. Participaram do encontro os ex-ministros Delfim Neto, Pratini de Moraes e Antonio Cabrera; o secretário de Agricultura de São Paulo, João Sampaio; os acadêmicos Flavio Perri e João Carlos Meirelles; o presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho, e o diretor da Federação de Agricultura de

GERSON FILHO

GERSON FILHO

Reunião da Academia em São Paulo: a partir da esquerda - João Sampaio, Pratini de Moraes, Delfim Neto, Antonio Alvarenga, Antonio Cabrera, Cesário Ramalho, Flávio Perri, coronel Ronaldo Severo Ramos e João Carlos Meirelles

Pratini e Cabrera discutiram a necessidade de incorporar à academia cientistas e personalidades de regiões onde o agronegócio está em franca expansão

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Ao lado de João Sampaio e de Antonio Alvarenga, o ex-ministro Delfim Neto (à dir.), elogiou a qualidade da revista A Lavoura

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INSTITUTO ATLÂNTICO

SNA defende reforma tributária

Durante seminário no auditório de O Globo, a Sociedade Nacional de Agricultura oficializou seu apoio ao Movimento Brasil Eficiente. A partir da esquerda: o presidente da SNA, Antonio Alvarenga; o vice-presidente da República, Michel Temer; o jornalista Merval Pereira, e o economista Paulo Rabello de Castro

ses da agropecuária nacional, Antonio Alvarenga afirmou que o agronegócio brasileiro é muito eficiente da “porteira para dentro”, mas sofre e perde valor da “porteira para fora”, principalmente em razão das mazelas da infraestrutura de transporte, armazenagem e exportação deficientes, e sobretudo da elevada tributação que recai sobre seus produtos. O presidente da SNA disse que os pesados encargos incidentes sobre os alimentos no Brasil são inconcebíveis, e alegou que a taxação prejudica principalmente as camadas mais carentes da população, além de dificultar as exportações. ”Dessa forma, nós,

SNA na Biofach 2011 O mercado brasileiro de orgânicos, apesar do potencial, está sendo prejudicado pela falta de inovação, parcerias e identidade. É o que constatou a diretora da Sociedade Nacional de Agricultura, Sylvia Wachsner, em recente visita à Biofach de Nuremberg (Alemanha), a maior feira de negócios de produtos orgânicos do mundo. De acordo com a coordenadora do Projeto OrganicsNet, “diversos países latinoamericanos, que estiveram presentes ao evento, se destacaram com produtos específicos, com maior valor agregado, e muitas ve-

zes concebidos por meio de parcerias que ajudam a manter uma forte identidade, no entanto o Brasil exporta produtos sem preocupação em termos de inovação, marketing ou prospecção de uma identificação de origem da marca”. Para Sylvia Wachsner, se o país quiser ganhar espaço no mercado externo, terá de trabalhar mais a valorização de seus produtos orgânicos, desde o conceito à identidade visual para consumo. “Infelizmente, falta uma visão empresarial macro” - adverte a diretora da SNA. Este ano, dez empreendimentos da agricultura familiar

do agronegócio, inconformados com a política fiscal brasileira, damos total apoio ao Movimento Brasil Eficiente”, concluiu Alvarenga. O vice-presidente Michel Temer viu com bons olhos a proposta de reforma fiscal discutida no evento, apesar de reconhecer que poderá haver dificuldades de tramitação no Congresso. Dentre outros convidados, participaram dos debates o economista Paulo Rabello de Castro, coordenador do Movimento Brasil Eficiente; o diretor do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Miguel Cançado e o jornalista Merval Pereira, de O Globo.

SYLVIA WACHSNER

O presidente da SNA, Antonio Alvarenga, participou do seminário Movimento Brasil Eficiente, promovido pelo jornal O Globo e pelo Instituto Atlântico, no mesmo painel que contou com a participação do vice-presidente Michel Temer, dentre outros. O evento teve por objetivo chamar a atenção da sociedade para a urgência de uma reforma tributária. Na ocasião, economistas, empresários e juristas se mostraram favoráveis à simplificação dos tributos e à implementação de novas regras para o controle dos gastos públicos. Representando a mais tradicional instituição voltada para defesa dos interes-

Estande do projeto Organics Brasil, durante a última edição a Biofach da Alemanha

de diferentes regiões do país participaram da Biofach, com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

Produtores brasileiros ocuparam um estande de 112 metros quadrados para expor e promover sessões de degustação de sua produção orgânica, incluindo cachaças, licores, açúcar mascavo, melado de cana, cacau em amêndoas, compostos de mel e própolis, sucos, óleos essenciais, café e doces, entre outros. A Biofach deste ano mostrou um aumento no número de certificadoras de comércio justo, a diminuição de intermediários na cadeia e maior demanda, por parte dos consumidores, de mais transparência do processo produtivo e do nível de conhecimento dos produtores de suas práticas ambientais.

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Norma de qualidade do café entra em vigor

CARLOS SILVA DOS SANTOS/MAPA

Consumidores terão à disposição produto de melhor qualidade, que passará pela fiscalização dos técnicos do Ministério da Agricultura

Toda a cadeia produtiva do café se beneficiará com as normas de qualidade

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ara garantir a qualidade do café brasileiro oferecido aos consumidores, entrou em vigor o Padrão Oficial de Classificação do Café Torrado em Grão e Torrado e Moído. A partir de agora, fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento vão colher amostras do produto nos pontos de venda e analisar duas questões: a presença de matérias estranhas e impurezas (se houve adição de outro produto ao café) e o percentual de umidade (teor de água). “Essa norma permitirá que o consumidor brasileiro tenha à sua disposição um café absolutamente puro, o que atende ao principal requisito de qualidade do produto. A ação é de interesse de toda a cadeia produtiva, principalmente dos produtores”, enfatiza o secretário de Produção e Agroenergia, Manoel Bertone. Após análise de microscopia, será considerado café dentro do padrão de qualidade aquele que apresentar percentual máximo de 1% de impure-

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zas, como cascas, paus e restos de folha do cafeeiro. Já o percentual máximo admitido de matérias estranhas (sementes de milho, açaí e fragmentos metálicos do moinho do café), será de 0,1%. Além disso, o produto deve ter, no máximo, 5% de umidade. Em caso de irregularidades, o industrial será notificado e terá três dias para contestar o resultado apresentado pelo Ministério da Agricultura. “Denominamos de solicitação de perícia. Um representante técnico da indústria realiza ou acompanha “in loco” uma nova análise na amostra de contraprova para saber se realmente o produto não está de acordo com as normas de qualidade”, informa o coordenador-geral de Qualidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Fábio Fernandes. Se as distorções em relação à norma legal forem confirmadas, será lavrado auto de infração e aberto processo administrativo. As penalidades poderão ser advertência, suspensão da comercialização, apreensão ou multa. Os valores

variam de R$ 2 mil a 5 mil, por lote. De acordo com a situação, a multa poderá ser acrescida de um percentual do valor comercial da mercadoria. Além dos testes de impureza e umidade, a análise sensorial avaliará a fragrância do pó, o aroma, a acidez, o sabor e a qualidade da bebida. A exigência desse teste foi prorrogada por dois anos, por meio da Instrução Normativa nº 6, publicada em 23 de fevereiro, no Diário Oficial da União (DOU). Após esse prazo, o produto passará a ser classificado em três denominações: “Café Padrão Único”, “Café Fora do Tipo” e “Café Desclassificado”. Para ser caracterizado como “Café Padrão Único”, o produto deverá apresentar no máximo 5% de umidade e 1% de impurezas. O café que apresentar resultados acima desses limites será denominado produto “Fora do Tipo”, e não poderá ser comercializado. Nesse caso, as indústrias terão de reprocessá-lo e enquadrá-lo dentro dos limites do “Café Padrão Único”. O produto que apresentar mal estado de conservação, odor e aparência impróprios, além de percentual de matérias estranhas, sedimentos e impurezas igual ou superior a 1,3% será desclassificado. Nessa condição, o café terá a venda proibida e caberá ao Ministério da Agricultura autorizar a utilização do produto para outros fins que não seja a alimentação humana.

Saiba mais O Padrão Oficial de Classificação do Café Torrado em Grão e do Café Torrado e Moído foi estabelecido na Instrução Normativa nº 16, publicada no dia 25 de maio de 2010. Na ocasião, determinouse o prazo de 270 dias para a norma entrar em vigor. Trata-se de uma norma inédita no mundo, construída durante três anos, por representantes do governo, instituições de pesquisa, produtores, indústria e empresas privadas. A iniciativa serve como exemplo de política pública de valorização do café e de defesa dos consumidores. Todos os produtos vegetais destinados diretamente à alimentação humana, importados ou relacionados à compra e venda do poder público devem ser classificados seguindo o padrão oficial do Ministério da Agricultura. A medida foi determinada pela Lei 9.972/2000. Hoje, 69 produtos estão padronizados. Entre eles, abacaxi, algodão, arroz, amendoim, farelo de soja, maçã, milho, pera, tomate e trigo. KELLY BELTRÃO

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IBRAF

Brasil deve voltar a crescer nas exportações de frutas frescas em 2011 O ano de 2010 ainda não foi dos mais fáceis para as exportações brasileiras de frutas frescas, apresentando ligeira queda de 2,6% em comparação ao ano anterior. Puxaram para baixo os números a venda de melões, maçãs, limões e bananas. Já a manga e a uva tiveram um incremento de 13% e 11,4% respectivamente, ou seja, nada menos que 124 mil toneladas de manga e 60,8 mil toneladas de uva abasteceram o exigente mercado externo durante o ano passado. A explicação para o bom desempenho de vendas externas dessas duas frutas no ano de 2010 é que seu pólo exportador fica na região do Nordeste brasileiro, onde o clima colaborou, diferente do cenário de 2009. O resultado foi uma safra com bom volume de produção e excelente qualidade de comercialização para o mercado externo. De acordo o engenheiro agrônomo do Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas, Cloves Ribeiro Neto, a queda nas vendas externas das demais frutas observadas nos dois últimos anos ocorreu devido à baixa demanda internacional, que ainda vive sob o reflexo da crise de 2008, principalmente a Europa, responsável pela compra de 78% da produção nacional de frutas. Outro fator apontado por ele foi a taxa cambial desfavorável. Moacyr Saraiva Fernandes, presidente do Ibraf, acredita na recuperação por parte dos países desenvolvidos para o ano de 2011, o que terá forte impacto sobre os produtores brasileiros. “Com a recuperação das economias da Europa e Esta-

Pesquisa estuda forma de inibir bactéria no queijo artesanal

Manga: 124.000 ton abasteceram o mercado externo em 2010

dos Unidos, a busca por nossos produtos deve subir naturalmente”, afirma.

Novos mercados O Ibraf, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos - Apex-Brasil, realizou um estudo para analisar os mercados emergentes para as frutas e seus derivados, visando incluir novas áreas no Projeto de Promoção das Exportações das Frutas Brasileiras e seus Derivados – Brazilian Fruit. Países como Estados Unidos, Emirados Árabes, Arábia Saudita, África do Sul, Angola, Rússia, Hong Kong e China aparecem neste estudo como mercados em expansão para as frutas brasileiras e seus derivados. “Estamos atentos a estes mercados e de malas prontas para as principais feiras internacionais”, resume Moacyr. Ainda de acordo com o presidente do Ibraf, o principal empecilho para maior penetração das frutas brasileiras no exterior não é a qualidade ou oferta, mas a falta de acordos fitossanitários do governo com os mercados mais importantes, como os EUA e a China. rantindo segurança alimentar ao consumidor”, ressalta a pesquisadora. A expectativa é que o projeto esteja concluído até novembro deste ano. Segundo Denise Sobral, se for comprovada cientificamente que a nisina auxilia na redução do Staphylococcus aureus no queijo artesanal, o trabalho de pesquisa poderá ser utilizado como subsídio para que as queijarias solicitem a permissão para a utilização da técnica.

DENISE SOBRAL / EPAMIG

Pesquisadores do Instituto de Laticínios Cândido Tostes (ILCT), que pertence à Empresa de Pesquisa Agropecuária de Denominação de origem Minas Gerais (EPAMIG), estão acompanhando o processo de O queijo Minas artesanal foi legalizado pela Lei Estadual produção do queijo Minas artesanal em propriedades rurais de nº 14.185. Tradicionalmente, é produzido a partir dos rebaAraxá, do Cerrado e da Canastra. O objetivo é identificar formas nhos leiteiros das montanhas, por pequenas queijarias em de combater a bactéria Staphylococcus aureus, comum nos queipropriedades rurais de agricultura familiar nas regiões do jos produzidos artesanalmente por utiliSerro, Canastra, Araxá, Cerrado e Camzarem leite cru no processamento. Apepos das Vertentes, sem utilização de técsar de já existir no organismo, a bactéria nicas industriais. Dados da Emater espode causar intoxicação alimentar, infectimam que haja cerca de 10 mil produções e diarréia se encontrada em grandes tores nessas regiões. quantidades. Pela legislação, o queijo é consideraOs pesquisadores querem identificar do artesanal quando é fabricado sem a a concentração ideal de aplicação dessa utilização de técnicas industriais, como substância para inibir o aparecimento do ultrafiltração do leite, prensagem mecâStaphylococcus, explica Denise Sobral da nica, emprego de leite concentrado ou EPAMIG. A nisina é um agente em pó e proteínas láticas, enzimas coaantimicrobiano natural, inócuo para o gulantes de origem fúngica ou homem e possui alta eficácia como microbianas, além da utilização de leiconservante de alimentos. “A ideia é comte sem lactose, ou qualquer outro combater o Staphylococcus mantendo as caponente normal do leite e quaisquer ouracterísticas do queijo artesanal, sem in- Queijos artesanais são produzidos a partir do tras técnicas industriais que venham a terferir no processo de maturação, e ga- leite cru ser desenvolvidas. A Lavoura

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A mudança nas normas de classificação comercial do trigo brasileiro começa a vigorar em 1O de julho, mas o tema ainda é motivo de discussão entre lideranças do setor. Na hora da compra de insumos para a implantação das lavouras de inverno acontece a dúvida do produtor em relação a qual cultivar plantar. A Embrapa Trigo explica que a qualidade tecnológica do trigo afeta a elaboração de pães, massas e biscoitos. O trigo é reconhecidamente uma commoditie, com a liquidez regulada pelo mercado internacional. O ganho genético em produtividade foi de 44 kg/ha/ano, passando dos 700 kg/ha para 2.500 kg/ha. A produção de 5,6 milhões de toneladas em 2010 ainda foi insuficiente para atender a demanda brasileira de 10 milhões de toneladas. Contudo, o Brasil exportou 1,6 milhões de toneladas nesta safra. O desequilíbrio na balança entre produção e consumo está na qualidade industrial do trigo brasileiro. Do total consumido pela indústria, 60% é para a produção de pães, o que exige trigo da classe pão, com força de glúten (W) superior a 220. Porém, grande parte do trigo produzido nos últimos anos tem apresentado força de glúten abaixo de 180, classificado como trigo brando. “Para a fabricação do pão doméstico a farinha até pode ser aceita, mas o aumento do consumo do pãozinho francês da padaria, com casquinha crocante e bom volume, depende de valor mínimo

PAULO KURTZ / EMBRAPA TRIGO

Qualidade do trigo brasileiro

vares foram introduzidas na Argentina, resultando num trigo de menor força de glúten, um trigo pão que entra no Brasil com a farinha pronta. Por isso a pressão aumentou sobre o nosso produtor no quesito qualidade”.

O que muda na norma de classificação

O pão francês de padaria exige grãos de trigo de valor mínimo de 200 de força de glúten

de 200 de força de glúten”, explica a pesquisadora da Embrapa Trigo, Martha Z. de Miranda. De acordo com o chefe-geral da Embrapa Trigo, Sergio Roberto Dotto, a mudança no cenário agrícola não tem acontecido somente no Brasil: “Historicamente, a indústria brasileira importava da Argentina um trigo melhorador, com força de glúten de 350 que, misturado ao trigo brando brasileiro, permitia a mescla para a panificação. Hoje, novas culti-

A principal mudança na classificação técnica do trigo é o valor mínimo da força de glúten para o enquadramento como trigo pão, que passa de 180 para 220. A indicação do trigo brando deixa existir com a inclusão do trigo de uso doméstico (W=160), básico (W=100) e outros usos para qualquer valor abaixo de 100 (confira as tabelas na página ao lado). “Não significa que o produtor não vai poder vender o trigo como pão, mas certamente a indústria vai seguir este padrão internacional no momento da compra, assim como nos programas de aquisição do Governo”, esclarece a pesquisadora da Embrapa Trigo, Eliana Guarienti. Segundo Sergio Dotto, as discussões sobre as mudanças na legislação são alvo na cadeia produtiva do trigo há mais de 10 anos. Ele acredita que o Governo Federal não atenderá a reivindicação das organizações de produtores para prorrogar a vigência da norma: “O problema não está no produtor, mas principalmente no obtentor, responsável pelo desenvolvimento do material genético. Para registrar a qualidade tecnológica da cultivar, os obtentores seguem a classificação oficial brasileira e, sem alteração da norma, vão continuar mantendo um produto abaixo da demanda do mercado, ou seja,

CNA: bons preços do algodão devem estimular o aumento de produção e área plantada Segundo a Comissão de Cereais, Fibras e Oleaginosas a fibra virou uma das principais apostas na safra 2010/2011

O

s bons preços do algodão nos mercados interno e externo devem estimular os cotonicultores a produzir mais na safra 2010/2011. Esta é a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que, em sua primeira estimativa de safra deste ano, projeta para a cultura uma colheita 55% superior em relação à safra 2009/2010 e uma área plantada 45,3% maior. Segundo o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), José Mário Schreiner, com as cotações da fibra, as melhores dos últimos anos, o algodão se tornou uma das grandes apostas para esta safra com o objetivo de conseguir preços mais atraentes na comerci-

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alização. Essa avaliação ganha força diante da possibilidade de quebra de safra na Austrália, principal produtor mundial, devido a problemas climáticos que comprometeram o desenvolvimento das lavouras. Desta forma, acrescenta, haverá mais investimentos em tecnologia, com maior utilização de insumos. “Muitos estão, inclusive, substituindo culturas como a do milho pelo algodão”, explica. As previsões da estatal apontam uma produção de algodão de aproximadamente 4,7 milhões de toneladas em uma área plantada de 1,214 milhão de hectares. Na avaliação de Schreiner, além da remuneração atrativa, o clima tem sido extremamente favorável para o plantio da fibra nas principais regiões produtoras, fator que

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continuarão desenvolvendo cultivares que não servem para fazer pão”, explica o chefe-geral da Embrapa Trigo.

Dificuldades na implantação A primeira ação dos obtentores é a reclassificação de todas as cultivares que estão no mercado, além de estabelecer parâmetros para indicar a classe das cultivares. “Hoje não existe regra adequada para o obtentor indicar uma cultivar como trigo pão. O que se faz é analisar a qualidade tecnológica de um volume indefinido de amostras e fazer a média dos valores para indicar se é melhorador, pão ou brando. Na Embrapa Trigo a nova reclassificação prevê que num volume de amostras 80% precisam apresentar força de glúten acima de 220 para classificar como trigo pão. É uma maior segurança para o produtor, já que o valor varia muito em função das condições climáticas de cada região e de cada nova safra”, afirma Sergio Dotto. A falta de sementes para produção de trigo pão, segundo a Embrapa Transferência de Tecnologia, seria outra dificuldade no primeiro momento. O volume de sementes disponíveis para trigo pão seria suficiente para atender quase todas as regiões tritícolas, com exceção das regiões frias do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde a força de glúten varia muito entre diferentes locais. “A tendência é a redução no número de cultivares no mercado, com a cada vez maior regionalização das áreas tritícolas. A pesquisa pode indicar um grupo de cultivares para cooperativas e cerealistas de uma região, permitindo a identificação da área

de produção com um tipo pré-definido de trigo que serve de orientação tanto ao comprador quanto ao produtor”, defende o pesquisador Eduardo Caierão.

Avaliação da Emater/RS Na avaliação da Emater/RS, pela atual classificação de trigo (IN 7/2001), em 287 amostras da safra 2009, 55% seriam enquadradas como pão; pela nova classificação (IN 38/2010), das 287 amostras, apenas 13% seria trigo pão. Na observa-

ção da Ocepar, 47% do trigo da safra do Paraná 2008, uma das melhores da década, seria destinado a outros usos pela nova classificação. Apesar das dificuldades, os diferentes segmentos da cadeia produtiva do trigo concordam que as mudanças na norma de classificação são necessárias para garantir o escoamento da safra, facilitando a compra pela indústria brasileira e as exportações.

Norma atual: Instrução Normativa nO 7, 2001 Classe

Força de Glúten (W)

Número de Queda (s)

Brando

50

200

Pão

180

200

Melhorador

300

250

Outros Usos

Qualquer

<200

250

Durum

Nova norma: Instrução Normativa nO 38, 2010 Força de Glúten (W)

Estabilidade (min)

Número de Queda (s)

Melhorador

300

14

250

Pão

220

10

220

Doméstico

160

6

220

Básico

100

3

200

Qualquer

Qualquer

Qualquer

Classe

Outros Usos

JOSEANI M. ANTUNES0

EMBRAPA

pode contribuir também para a ampliação da produtividade, que deve crescer 6,4%.

Produção de grãos

Algodão: colheita deverá ser 55% superior à safra de 2009/2010

Em relação à produção total de grãos, a previsão da Conab para o período 2010/2011 ficou estável na comparação com a safra 2009/2010, com volume de 149,4 milhões toneladas, variação de apenas 0,2%. Para o presidente da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA, a confirmação dessa estimativa dependerá da regularidade das chuvas, principalmente na região Centro-Oeste para o bom andamento do plantio e da colheita de produtos como milho e soja. “Se o tempo favoreceu o plantio de algodão, ainda há incertezas climáticas para a sua colheita, assim como a de outras culturas para que a estimativa da Conab seja confirmada”, explica. Para a soja, a Conab prevê queda de 0,2% na colheita em relação à safra anterior. Para o milho, cuja área plantada tem sido substituída por soja e algodão principalmente, há projeção de queda de 5,8% na produção. Na avaliação da CNA, essa situação pode ser revertida em função das condições climáticas que, se forem favoráveis, podem minimizar a redução. Se o clima for favorável, não está descartada a possibilidade de uma variação positiva.

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Com a crescente produção nacional da romã, principalmente no semiárido, a Embrapa Agroindústria de Alimentos, em parceria com a Embrapa Semiárido e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), está dando início a pesquisas com o apoio do CNPq para agregar valor à produção de romã. A proposta é buscar outras formas de inserir a romã no mercado, sobretudo com o aproveitamento das frutas de aparência não comercial para elaboração de ingredientes antioxidantes. Considerada desde o império romano como um símbolo de riqueza, a romã contém, entre os diversos compostos bioativos, as antocianinas, que, assim como a vitamina C, Vitamina E e o betacaroteno, por ter deficiência de elétrons, captam facilmente os radicais livres. Estes radicais, se produzidos ou absorvidos em excesso, aumentam os riscos para doenças como hipertensão, cataratas, artrite e envelhecimento precoce. Isso pode ocorrer principalmente quando há demasiada ingestão de bebidas alcoólicas, intenso estresse e muita exposição à poluição, ao tabaco e ao sol, pois danificam as células saudáveis. De acordo com estudos da Universidade de Baroda, na Índia, o fruto tem três

CANDIDA CONCEIÇÃO / EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS

Romã será alvo de pesquisa para produção de ingredientes antioxidantes

vezes mais capacidade antioxidante que o vinho e o chá verde. Não é por acaso que os povos árabes acreditavam em suas propriedades para fins medicinais. A pesquisadora Regina Isabel Nogueira, da Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro-RJ), espera obter antocianina e compostos bioativos concentrando-os e os estabilizando por microencapsulação em spray drier. Nesse A romã tem três vezes mais capacidade antioxidante que o vinho e o chá verde processo, pequenas gotas de material líquido são recobertas com um fino filme protetor. Os maA pesquisadora ainda prevê a opção teriais microencapsulados (material atide cristalizar a casca da romã, expondovo ou núcleo) são envoltos num materia em contato com a calda de açúcar para al formador de filme (material de parereduzir em até 50% o teor de água. Com de ou agente encapsulante), onde cápsuisto, a fruta aumenta seu tempo de conlas extremamente pequenas podem libeservação e diminui seu peso e volume, gerar o conteúdo de forma controlada e sob rando economia no custo de transporte, condições específicas. Trata-se de uma além de adocicar seu sabor levemente tecnologia inovadora que tem sido emácido. pregada com êxito na indústria de cosEsse processo, por ser muito simples, méticos, farmacêutica e alimentícia. poderá despertar o interesse de produtoTambém será estudado o óleo obtires como uma forma de apresentar a frudo por prensagem das sementes da fruta para consumo de forma semelhante à ta com o objetivo de caracterizar o perencontrada hoje por meio do gengibre fil dos ácidos graxos e as propriedades cristalizado. CAIO FIDRY/SORAYA PEREIRA que possam interessar à indústria de alimentos.

Brasil vai sediar pela primeira vez conferência internacional de biotecnologia florestal IUFRO Tree Biotechnology 2011é o principal evento mundial nessa área e vai reunir cerca de 500 pessoas de 30 países Pela primeira vez o Brasil e a América Latina serão sede da conferência internacional IUFRO Tree Biotechnology 2011, o evento mais importante do mundo na área de biotecnologia florestal, promovido há mais de 20 anos pela União Internacional de Organizações de Pesquisa Florestal (IUFRO, sigla em inglês). A Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e a Veracel Celulose S.A. serão as instituições hospedeiras da conferência, que 12

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acontece no período de 26 de junho a 2 de julho, no Centro de convenções do Ecoresort Arraial d’Ajuda, em Arraial d’Ajuda, distrito de Porto Seguro, BA. A IUFRO é uma rede global não governamental e sem fins lucrativos que reúne cientistas florestais de vários países para promover cooperação técnica e ampliar o conhecimento sobre aspectos econômicos, sociais e ecológicos relacionados a florestas e árvores. Este ano, a conferência terá como tema “De genomas à

integração e geração de resultados” e deverá contar com a participação de cerca de 500 pessoas, sendo 300 brasileiros e 200 de outros países.

Ano Internacional das Florestas declarado pela ONU A conferência internacional ganha ainda mais importância em 2011, declarado pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional das Florestas. O objetivo é incrementar a conscientização mundial sobre a importância do manejo sustentável dos recursos florestais e a promoção do evento contribuirá significativamente para os propósitos da Embrapa de intensificar o apoio a atividades na área florestal.

A Lavoura

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FERNANDA DINIZ


CARLO SILVA SANTOS / MAPA

Cobertura contra aftosa alcança 97,3% Resultado refere-se à vacinação de bovinos e búfalos contra a doença nas duas etapas da campanha realizadas no último ano. Destaques foram os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins Em 2010, o índice de cobertura vacinal de bovinos e búfalos contra a febre aftosa alcançou 97,3%. Os destaques foram os estados de Mato Grosso, com 99,74%, Tocantins, com 99,52% e Mato Grosso do Sul, com 99,41% dos animais imunizados. O resultado das duas etapas de vacinação foi semelhante ao registrado em 2009, com 97,07%. “Para ampliarmos esse número, é necessário conscientizar ainda mais os produtores sobre a importância de vacinar o rebanho. Essa é uma questão estratégica para a manutenção e abertura de novos mercados e deve envolver o setor produtivo e os go-

Imunização do rebanho chegou a 97,3% no ano passado

vernos estaduais e federal”, declara o secretário de Defesa Agropecuária, Francisco Jardim. Jardim informa que o Ministério da Agricultura firmou um pacto com os secretários de Agricultura da região Nordeste, para investir em iniciativas e ampliar a classificação dos estados ainda considerados de risco médio para a doença. “Vamos consolidar, por exemplo, a base de dados do rebanho desses estados, intensificar as ações de vigilância e fisca-

lização e adequar a estrutura dos serviços veterinários oficiais”, afirma. As ações vão criar condições para o Brasil reconhecer a região como livre de febre aftosa com vacinação, neste ano, e encaminhar o pedido de reconhecimento para a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em 2012. Para isso, é necessário que os estados envolvidos cumpram os compromissos assumidos e os estudos a campo constatem ausência de circulação viral na região.

Safra menor de café deve elevar disputa por grãos de melhor qualidade

Brasil os cafés de melhor qualidade. A procura intensa por estes cafés gourmet fez com que o valor daqueles de melhor qualidade disparasse, valorizando consequentemente também os tradicionais”, explicam os Branco Peres. Outro fator é a desvalorização do dólar em relação às demais moedas, dessa maneira, os grandes fundos de investimento buscam refúgio em outros ativos financeiros como ações, ouro e comodities, valorizando e disparando o preço dos grãos. Contudo, o dinamismo do mercado de cafés finos e as grandes altas geradas pela demanda de consumo tanto no mercado interno como externo, devem compensar em longo prazo estas altas, como explicam os diretores da Torrefadora. “Não vemos de maneira negativa este momento do mercado, ao contrário, a economia está aquecida, os cafés finos têm ganhado muito espaço e hoje fazem parte do mix de produtos de cafeterias, grandes redes de alimentação, de supermercados, restaurantes, padarias, bares e até de postos de gasolina. Continuamos a investir no segmento e a obter excelentes resultados”, finalizam os executivos da Café do Centro.

CAFÉ DO CENTRO

A Companhia Peres, da torrefaNacional de abasdora Café do Centecimento – tro, a partir de juConab, divulgou nho deste ano, recentemente daquando começa a dos sobre a esticolheita do café, o mativa da Safra preço da saca co(2011/2012) de meça a se estabicafé arábica, que lizar. Entretanto, deve ficar entre antes disso, as 41,9 e 44,3 mitorrefadoras arlhões de sacas, cam com o auuma produção mento e precisam menor que a de fazer o repasse de Procura por cafés gourmet valorizou também os tradicionais 2010/2011, que foi maneira gradual de 48,1 milhões de sacas de 60 quilos. A ao mercado. queda na produção se deve ser afetada Os executivos explicam que desde jupela bianualidade, isto é, alternância de nho de 2010, o preço do café fino vem produção de maior e menor volume de um subindo, muito por conta da procura não ano para outro, dessa maneira, a oferta só no Brasil, mas também no exterior, de grãos do tipo arábica deve ser prejualém da expansão que o mercado de cadicada, acirrando a disputa entre torrefés superiores tem registrado ao longo dos fadoras para conseguir os melhores grãos últimos 15 anos no mundo. “A quebra de do mercado. safra na Colômbia e países da América Segundo Rafael e Rodrigo Branco Central fez com que o mundo buscasse no

RICHELE MANOEL

A Lavoura

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Volume é 25% maior do que o obtido no mesmo período do ano anterior

INPEV

Brasil destina corretamente mais de 5 mil toneladas de embalagens vazias de agrotóxicos no primeiro bimestre do ano

N

o primeiro bimestre de 2011, foram encaminhadas para o destino ambientalmente correto 5.280 toneladas de embalagens vazias de defensivos agrícolas, volume que representa um crescimento de 25% em relação ao mesmo período de 2010, quando foram processadas 4.234 toneladas. Somente em fevereiro, as unidades de recebimento do país retiraram 2.873 toneladas de embalagens do campo. De acordo com o levantamento do inpEV – instituto que representa a indústria fabricante de agrotóxicos para a destinação das embalagens vazias de seus produtos –, cerca de 90% das embalagens seguiram para reciclagem. Os estudos apontam que 12 estados apresentaram crescimento no volume destinado quando comparados os mesmos meses de 2010 e 2011. Os estados que tiveram maior destaque foram o Mato Grosso (1.292t), Rio Grande do Sul (664t), Goiás (617t), Minas Gerais (521t), Mato Grosso do Sul (402t) e Bahia (395t), que juntos respondem por 73% do volume total destinado em todo o país. A logística reversa desse material, grande responsável pela excelência do sistema, também contribuiu para o crescimento

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5.280 toneladas de embalagens vazias têm destino ambientalmente correto no primeiro bimestre de 2011

percentual de destinação no pe- O Pará cresceu 167%, seguido ríodo analisado. O Espírito San- pelo Rio Grande do Sul, com to registrou aumento de 171%. 95%, e Pernambuco, com 88%.

Comparativo de embalagens destinadas – Jan a Fev 2010 x 2011 Volume 2010 (t)

Volume 2011 (t)

Mato Grosso

895

1.292

44

Rio Grande do Sul

341

664

95

Goiás

501

617

23

Minas Gerais

371

521

40

Mato Grosso do Sul

305

402

32

Bahia

345

395

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Maranhão

85

110

29

Pernambuco

25

47

88

Piauí

25

32

25

Espírito Santo

9

25

171

Rio Grande do Norte

9

12

33

Pará

4

12

167

Sergipe

-

12

-

1.316

1.140

(13)

Outros

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Crescimento (%)

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ecuária leiteira EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

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Como melhorar (e manter) a qualidade do leite? L U I Z F R A N C I S C O Z A FA L O N PESQUISADOR DA EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

O atendimento das propriedades leiteiras por técnicos especializados é fundamental para a manutenção dos padrões mínimos de consumo do leite

O conhecimento de aspectos relacionados com a qualidade do produto é fundamental para que o leite brasileiro atinja os padrões mínimos para o consumo, exigidos pela legislação

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leite possui teores composicionais que conferem a ele características altamente nutritivas, que o tornam um produto de alta qualidade a partir do momento que é retirado do animal. Acredita-se erroneamente que a qualidade do leite é um atributo que pode ser melhorado após a ordenha do animal e depois de sua chegada aos laticínios. Em contrapartida, durante vários momentos da cadeia de produção, a qualidade do leite pode ser prejudicada pela ausência de medidas que garantam a manutenção da sua composição

normal ou que mantenham a sua qualidade microbiológica. A qualidade do produto na propriedade rural pode ser mantida pelo perfeito equilíbrio entre os diversos agentes envolvidos na sua obtenção. Dentre esses agentes, os principais são o animal e a pessoa responsável pela ordenha, num ambiente que tenha condições higiênicas. Após a retirada do leite, ele deve ser submetido imediatamente ao processo de refrigeração, processo fundamental antes de ser transportado até o estabelecimento processador. Desde a sua retirada até a chegada ao laticínio, o lei-

te pode apresentar a qualidade desejada se o animal é saudável e alimentado corretamente; se o ordenhador está em perfeitas condições de saúde e apresenta hábitos higiênicos; se o ambiente da ordenha e o local em que o animal permanece são limpos e se o manejo da ordenha não interferir na qualidade antes da chegada do leite ao laticínio. O fato de não ser possível melhorar a qualidade do leite após a sua saída da propriedade não significa que a qualidade do produto não possa ser prejudicada por processos ineficientes nos laticínios.

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ecuária leiteira

Uma vez que a pasteurização não reverte atividades incorretas conduzidas nas propriedades rurais que acarretam a perda da qualidade nem melhora os aspectos composicionais do produto, como os teores de gordura (deve-se combater o falso conceito de as gorduras serem completamente más), proteínas e vitaminas, atenção mais abrangente deve ser dispensada aos fatores que interferem na qualidade do leite no local onde ele é retirado dos animais, ou seja, no campo. Inicialmente, os animais que fornecerão o leite ao consumo humano devem estar em perfeitas condições de saúde. Os produtores devem submetê-los aos corretos esquemas de vacinação e de controle de doenças infecto-contagiosas que podem ser transmitidas por meio do consumo do produto. Além disso, quando efetivado o tratamento dos animais contra as mais variadas doenças o produtor deverá seguir os procedimentos para descartar o leite durante determinado período de carência, que varia de acordo com o medicamento utilizado.

Brucelose e tuberculose: zoonoses Doenças importantes como a brucelose e a tuberculose podem ser transmitidas por meio do leite ao homem, quando os animais estão doentes e quando não é feito o tratamento térmico adequado do produto. Porém, uma vez que a legislação brasileira preconiza o descarte de animais com essas doenças, a patologia mais importante relacionada com a qualidade do leite é a mastite, que é a inflamação da glândula mamária responsável por afetar a composição do produto e, consequentemente, a sua qualidade, além da quantidade de leite produzida pelo animal acometido. A mastite se apresenta sob duas formas: a clínica ou a subclínica. A primeira, caracterizada pelo leite ou a mama do animal estarem visivelmente alterados deve ser imediatamente tratada com produtos antimicrobianos, pois é causada principalmente por microrganismos. Nesse caso, o leite deve ser descartado e não deve ser misturado ao leite de animais sem a doença. A forma subclínica, entretanto, é aquela que está mais relacionada com a qualidade do produto, pois quando o animal a apresenta nem o leite nem a mama es-

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DANILO MOREIRA / EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

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Depois da retirada das teteiras, os tetos precisam ser higienizados com produto antisséptico adequado

tão alterados. Porém, o animal também tem redução da sua capacidade produtiva e o produto apresentará a sua qualidade alterada. Para o controle da doença, o acompanhamento permanente de um veterinário se faz necessário. Hábitos higiênicos do ordenhador durante a retirada do leite também estão relacionados com a qualidade do produto obtido. Vestimentas adequadas, não somente na ordenha manual, mas também na mecânica, e a necessidade de uma pessoa que auxilie na condução dos animais para o local de retirada do leite são fundamentais. A pessoa que ordenha os animais não deve ter outra atividade concomitante à da retirada do leite. Somente pessoas em perfeito estado de saúde e sem ferimentos nas mãos e braços devem ordenhar o animal. O responsável pela ordenha não deve fumar, escarrar, cuspir ou praticar qualquer outro ato não higiênico.

Rotina de ordenha: importante para a qualidade do leite A rotina adequada de ordenha deve ser seguida para a manutenção da qualidade do leite. O animal deve ser conduzido de forma calma até o local da or-

denha, sem o auxílio de pedaços de madeira, ferros, arames ou cordas. A pessoa responsável por essa condução deve estar calma e agir de maneira gentil. Muitas vezes é dada uma atenção secundária à vida pessoal do ordenhador ou de qualquer outro trabalhador na propriedade rural. Porém, como pode uma pessoa infeliz na função ou com problemas familiares trabalhar da maneira correta durante a obtenção do leite? A satisfação pessoal no trabalho e a qualidade do trabalho produzido estão proporcionalmente relacionadas. Após a entrada do animal no local onde será ordenhado, os primeiros jatos de leite de cada teto são desprezados para o diagnóstico da mastite clínica, com o uso do teste da caneca telada de fundo escuro. Após esse procedimento, verifica-se o quanto o animal apresenta sujidades nos tetos. Se estiverem sujos com barro ou esterco, eles devem ser lavados com água de boa qualidade e completamente secos. Em algumas propriedades, na dependência dos microrganismos que estão presentes na etiologia da mastite, se faz necessária a prévia antissepsia dos tetos, obedecendo-se um período de contato mínimo do agente antisséptico com os tetos.

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Após a retirada do leite, ele deve ser filtrado e submetido imediatamente ao processo de refrigeração

níveis de mastite subclínica em seu rebanho, um bom indicador é a contagem de células somáticas do leite total que é enviado ao laticínio. Um técnico especializado deve ajudar a propriedade a

DANILO MOREIRA / EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

Após essa antissepsia prévia, os tetos devem ser novamente secos com papel toalha descartável. O próximo passo é a ordenha propriamente dita. Tanto na ordenha manual quanto na mecânica, o responsável pela retirada do leite deve estar com as mãos limpas, as unhas curtas e obedecer aos demais procedimentos higiênicos colocados anteriormente. Quando a ordenha é mecânica, deve ser feita a colocação das teteiras com o cuidado de evitar a entrada de ar no sistema. O animal deve ser ordenhado completamente, pois a ordenha incompleta facilita a presença de leite residual e a ocorrência de mastite. Após a retirada das teteiras e o término da ordenha, os tetos precisam ser higienizados com produto antisséptico adequado e os animais devem sair calmamente do local de ordenha. Após esse procedimento, os animais ordenhados deverão permanecer em pé por um período mínimo de 45 minutos a uma hora para a correta ação do produto e o fechamento do esfíncter dos tetos, de modo a impedir a contaminação se entrarem em contato com o solo. Sempre que possível, deve-se ordenhar inicialmente os animais sadios, seguidos pelos animais com mastite subclínica e, por último, os animais com mastite clínica, cujo leite deve ser descartado. Essa sequência de ordenha tenta impedir a transmissão da doença. Para o produtor ter o conhecimento dos

EMBRAPA PECUÁRIA SUDESTE

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A alimentação adequada é essencial para que o animal mantenha boas condições de saúde e produtividade

identificar quando a contagem de células somáticas está relacionada com altos índices da forma subclínica da enfermidade, assim como orientar esse produtor sobre as medidas a serem tomadas para o seu controle e prevenção. Após a retirada do leite dos animais, ele deve ser filtrado e imediatamente resfriado, permanecendo por um período máximo de 48 horas na propriedade até o seu transporte ao estabelecimento processador, período que deve ser obedecido quando não for classificado como leite do tipo “A”. Esse processo de refrigeração do produto é fundamental para a manutenção da qualidade do leite e para o seu processamento sem perdas na indústria, evitando prejuízos. A questão não é como melhorar a qualidade do leite, mas sim como manter a sua qualidade. O atendimento das propriedades leiteiras, feito por técnicos especializados e com conhecimento dos aspectos relacionados com a qualidade do produto é fundamental para que o leite brasileiro atinja os padrões mínimos para o consumo, exigidos pela legislação. A Lavoura

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ecuária leiteira

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Qualificação no campo contribui para a prevenção da mastite Procedimentos básicos na higienização podem impedir a doença que mais afeta o rebanho leiteiro

Q

OUROFINO AGRONEGÓCIO

uanto custa tratar uma vaca com mastite? Nos Estados Unidos, estudos do National Mastitis Council já demonstraram prejuízos de aproximadamente US$ 200,00 para cada vaca infectada. Estimativas feitas no Brasil calcularam perdas de 17% do volume total de produção de leite em decorrência da doença. Se o número prevalecesse em 2008, por exemplo, quando a produção no país foi de 27 bilhões de litros, a perda seria de R$ 2,3 bilhões para o Brasil, segundo a Embrapa.

Os graves prejuízos causados por essa inflamação na glândula mamária são bastante conhecidos na pecuária leiteira. Essa enfermidade acarreta em grandes perdas econômicas para os produtores, sobretudo por causa da redução na produção, dos gastos com medicamentos, do aumento da mão de obra e também das penalidades aplicadas. Em vista desse problema, a Ourofino Agronegócio realiza frequentemente treinamentos em propriedades para conscientizar sobre os cuidados com a higiene e com a saúde do animal. O SIGA (Soluções Integradas em Gestão Agropecuária), desenvolvido pelo departamento técnico de bovinos, ressalta a importância da qualificação dos funcionários que lidam diretamente com o rebanho. “A mastite pode ser transmitida por meio da ordenha pelas mãos do ordenhador, que estejam contaminadas por leite infectado, ou seja, pela falta de higiene. Cuidados básicos, como o uso de luvas descartáveis, limpeza e desinfecção adequada dos equipamentos e cama, além da alimentação adequada dos animais, podem prevenir a mastite”, afirma a médica veterinária e gerente técnica da Ourofino, Daniela Miyasaka.

Vaca leiteira: mastite pode ser prevenida com cuidados básicos

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ecuária leiteira

EMBRAPA ACRE

ALCEU RICHETTI / EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE

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O teste da caneca de fundo escuro deve ser realizado diariamente

Para ajudar na prevenção à mastite, Miyasaka, que também é doutora em patologia animal, dá algumas dicas para o dia-a-dia na fazenda: 1) Estabeleça uma sequência na linha de ordenha: novilhas (vacas primíparas) de primeira cria; vacas que nunca tiveram mastite; vacas que tiveram mastite clínica há mais de seis meses; vacas que tiveram mastite clínica nos últimos seis meses; vacas com mastite subclínica. Separar do rebanho as vacas com mastite clínica e ordenhar separadamente. 2) Realize diariamente o teste da caneca de fundo escuro, com leite retirado nos três primeiros jatos. Esse teste permite o diagnóstico da mastite clínica e diminui o índice de contaminação do leite. 3) Faça a imersão dos tetos em solução desinfetante e deixe agir por 30 (trinta) segundos. 4) Utilize o papel-toalha descartável para fazer a secagem dos tetos (utilizar um papel para cada teto). 5) Coloque as teteiras e ajuste-as. Retire as teteiras quando terminar o fluxo de leite. 6) Para diminuir os casos da mastite, algumas terapias são essenciais: pré-dipping, pós-dipping e terapia da vaca seca.

EMBRAPA AGROBIOLOGIA

É preciso usar o papel toalha para secar os tetos

A manifestação da doença A mastite pode ser causada por agentes contagiosos ou ambientais. No primeiro caso, a doença é transmitida de uma vaca infectada para uma vaca sadia, principalmente durante a ordenha. Já os agentes ambientais estão presentes no ambiente em que o animal vive. “A grande quantidade de matéria orgânica e umidade da cama do animal, por exemplo, pode provocar o aumento do número de bactérias. É um problema que pode ser evitado”, diz a veterinária Daniela Miyasaka. Quanto à forma de manifestação, a mastite pode ser clínica ou subclínica. A mastite clínica apresenta sinais eviden-

As teteiras devem estar bem ajustadas à ordenhadeira

tes e por isso é de fácil diagnóstico, como aumento de temperatura, aparecimento de pus, grumos e mudanças nas características do leite. No caso da mastite subclínica, que não apresenta alterações visuais, é necessária a utilização de testes indiretos, como os exames com placas CMT – California Mastitis Test.

A Lavoura

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ovas cultivares

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Novas cultivares de milho e sorgo aten dem

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ma gama de cultivares de milho e sorgo para atender desde o pequeno produtor ao agricultor empresarial foi lançada pela Embrapa Milho e Sorgo, sendo três híbridos e uma variedade de milho e quatro híbridos de sorgo com dois propósitos: corte e pastejo e produção de grãos. Os lançamentos fazem parte do programa de melhoramento genético da Embrapa, que disponibiliza aos produtores cultivares cada vez mais produtivas e adaptadas às diferentes regiões do Brasil. Entre as cultivares de sorgo, destacam-se dois híbridos graníferos resistentes ao acamamento e indicados para plantios de safrinha nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, e dois híbridos de sorgo para corte e pastejo. Um dos diferenciais de uma dessas cultivares, o BRS 810, é a presença de um gene que confere maior digestibilidade e melhor conversão alimentar, com consequentes ganhos em produção de carne e leite na pecuária bovina.

EMBRAPA MILHO E SORGO

Novos materiais da Embrapa destinam-se ao co

EMBRAPA MILHO E SORGO

Milho: híbrido BRS 1055

BRS 332: sorgo com alto nível de produtividade

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BRS 1055: boa relação custo/benefício

Híbrido BRS 3040

Híbrido simples de milho de ciclo semiprecoce com porte médio/alto e grãos semidentados de cor avermelhada. Apresenta elevada produtividade e estabilidade de produção, alta prolificidade, elevada tolerância ao acamamento e quebramento, moderada resistência a quatro doenças foliares e é mau hospedeiro para o nematóide Melodoygenes javanica. Apresenta boa relação custo / benefício pela produtividade superior à maioria dos híbridos simples em diversos tipos de ambientes: de alta e baixa produtividade; com e sem estresse hídrico; safra e safrinha e terras altas e baixas. Para a produção de silagem, apresenta plantas de porte médio com ótima produção de massa e boa digestibilidade da matéria seca. Pode ser cultivado nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e estado do Paraná (Norte, Noroeste e Oeste do estado), para plantios de safra e safrinha, sem restrição de altitude. Recomenda-se evitar o plantio do BRS 1055 em épocas tardias de safrinha devido ao seu ciclo ser semiprecoce e em áreas com severa incidência de grãos ardidos e doenças foliares para as quais é suscetível.

Híbrido triplo de milho, ciclo precoce, com alta produtividade e estabilidade de produção; nos dados médios nos ensaios em que participou apresentou florescimento masculino e feminino de 55 dias, altura de planta de 217 cm e altura de espiga de 114 cm; muito boa tolerância ao acamamento e quebramento; mau hospedeiro para o nematóide Melodoygenes javanica; grãos dentados de cor laranja, recomendado para safra e safrinha em todo o país (exceto

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ten dem pequeno e agricultor empresarial GUILHERME FERREIRA VIANA EMBRAPA MILHO E SORGO

m-se ao corte e pastejo e produção de grãos Sorgo: híbrido BRS 332

O BRS 332 é um híbrido simples de sorgo granífero de porte médio e ciclo médio a tardio, com boa resistência ao acamamento e ampla adaptabilidade em plantios de sucessão nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Apresenta alto nível de produtividade e estabilidade de produção, com grãos vermelhos de boa qualidade, endosperma semiduro e de cor branca, tipo de panícula semiaberto. O híbrido BRS 332 é considerado moderadamente resistente à antracnose quando se compara o seu próprio desempenho e em relação às linhagens BR 005R e SC 283 consideradas padrões de resistência. Quando se compara à reação da linhagem Tx 623B (padrão de susceptibilidade), esse híbrido apresenta reação de resistência. O comportamento do BRS 332 em relação ao ataque de ferrugem o classifica como resistente. Comparando-se a sua reação com a de alguns outros híbridos comerciais e de cultivares susceptíveis verificou-se que esse híbrido apresenta alguma vantagem considerando-se as suas notas que são relativamente baixas. Não se observou incidência de cercosporiose, helmintosporiose, mancha zonada e mosaico, mesmo considerando-se que nos ambientes de avaliação do híbrido tenha sido observada a ocorrência dessas doenças. Por outro lado, apresenta susceptibilidade ao míldio em condições de casa de vegetação e susceptibilidade moderada em condições de campo. No entanto, o tratamento de sementes é suficiente para evitar a evolução da doença. Com relação ao ataque da doença açucarada do sorgo (“ergot”) as avaliações, no campo, em plantios de sucessão, o híbrido não se mostrou vulnerável.

região Subtropical). Para produção de silagem, apresentou plantas de porte médio com ótima produção de massa e excelente digestibilidade da matéria seca. Impacto: elevado retorno financeiro pela produtividade superior à maioria dos híbridos triplos, em diversos tipos de ambientes: de alta e baixa produtividade; com e sem estresse hídrico; safra e safrinha e altitudes acima e abaixo de 700m.

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utividade

BRS 3040: elevado retorno financeiro

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Híbrido BRS 330

Híbrido BRS 1060

Variedade de milho com ciclo precoce e bom potencial de produção. Planta com altura média de 242 cm (altura até a inserção da última folha); altura média de espigas de 132 cm; coloração das raízes aéreas com forte presença de antocianina; folhas de coloração verdeescuro; pendão médio e com forte manifestação da antocianina; espigas cilíndricas, com média de 14 fileiras de grãos; sabugo de coloração branca; espigas bem empalhadas; grãos semidentados, de coloração alaranjada; boa resistência ao acamamento e quebramento; boa uniformidade; recomendado para plantios de safra e safrinha para as regiões CentroOeste, Sudeste, Nordeste e para o Paraná (Norte, Noroeste e Oeste do estado).

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Variedade BRS CAIMBÉ

Híbrido simples de sorgo granífero de porte e ciclo médios com boa resistência ao acamamento e ampla adaptabilidade em plantios de sucessão nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Apresenta alto nível de produtividade e estabilidade de produção, com grãos vermelhos de boa qualidade, endosperma semiduro e de cor branca, tipo de panícula semiaberta. O híbrido BRS 330 é considerado moderadamente resistente à antracnose quando se compara o seu próprio desempenho em relação às linhagens BR 005R e SC 283, consideradas padrões de resistência. Quando se compara à reação da linhagem Tx 623B (padrão de susceptibilidade), esse híbrido apresenta reação de resistência. O comportamento do BRS 330 em relação ao ataque de ferrugem o classifica como resistente. Entretanto, comparando-se a sua reação com a de alguns outros híbridos comerciais e de cultivares susceptíveis, verificou-se que esse híbrido apresenta alguma vantagem considerando-se as suas notas que são relativamente bai-

EMBRAPA MILHO E SORGO

EMBRAPA MILHO E SORGO

Híbrido simples de milho de ciclo semiprecoce com porte baixo e grãos semidentados de cor avermelhada. Apresenta excelente tolerância ao acamamento e quebramento, elevada produtividade e estabilidade de produção, alta prolificidade, porte baixo, moderada resistência a duas doenças foliares e uma de colmo e é mau hospedeiro para o nematoide Melodoygenes javanica. Apresenta boa relação custo / benefício pela produtividade e tolerância ao acamamento e quebramento superiores à maioria dos híbridos simples, em diversos tipos de ambientes, com destaque para plantios em época de safrinha. BRS 1060: excelente tolerância ao acamamento e quebramento Para produção de silagem, apresenta plantas de porte médio com ótima produção de massa e ótima digestibilidade da matéria seca. Pode ser cultivado nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e estado do Paraná (Norte, Noroeste e Oeste do estado) para plantios de safra e safrinha, sem restrição de altitude. Recomendase evitar o plantio do BRS 1060 em épocas tardias de safrinha, devido ao seu ciclo ser semiprecoce, e em áreas com severa incidência de grãos ardidos e das doenças foliares para as quais é suscetível.

As espigas da BRS Caimbé têm em média 14 fileiras de grão

BRS 810: excelente palatabilidade e aceitaçã

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Hibrido simples de sorgo de pastejo. É mais uma alternativa para sistemas de produção de forragem à disposição de pecuaristas tecnificados. Seu uso preferencial como forrageira é corte verde e pastejo direto. Apresenta alto potencial de produção de matéria seca em cortes ou rebrotas sucessivas, podendo alcançar produtividades suBRS 802: alto potencial de produção de matéria seca periores a 20 t de matéria seca. ou 100 t de matéria verde por hectare. Produto versátil, adaptando-se facilmente a diversos sistemas de produção de forragem e agrosilvopastoril, sendo muito útil para produção de cobertura morta. Apresenta fácil estabelecimento a partir de sementes de alto poder germinativo e vigor, rápido crescimento a partir do vigésimo dia de vida, extraordinária capacidade de rebrota e perfilhamento, alta tolerância a estresses hídricos e de temperatura elevadas, alto valor nutritivo, excelente aceitação pelos animais, alta digestibilidade (ou degradabilidade pelo rúmen), excelente adaptação a sistemas de pastejo rotativo ou diferido e palha persistente no solo para cobertura morta e plantio direto. Boa resistência às principais doenças foliares, além da resistência ao míldio. EMBRAPA MILHO E SORGO

EMBRAPA MILHO E SORGO

Híbrido BRS 802

BRS 330: resistente à ferrugem

xas. Não se observou incidência de cercosporiose, helmintosporiose, mancha zonada e mosaico, mesmo considerando-se que nos ambientes de avaliação do híbrido tenha sido observada a ocorrência dessas doenças. Por outro lado, apresenta susceptibilidade ao míldio em condições de casa de vegetação e susceptibilidade moderada em condições de campo. Com relação ao ataque da doença açucarada do sorgo (“ergot”) as avaliações, no campo, em plantios de sucessão, o híbrido não se mostrou vulnerável.

Híbrido BRS 810 Descritores básicos: Híbrido de sorgo de pastejo oriundo do cruzamento entre as espécies Sorghum bicolor (L.) Moench. e Sorghum sudanense Piper. São plantas de ciclo anual, desenvolvem-se durante a estação do verão, alcançam de 1,5 m a 3,7 m de altura. Possuem folhas abundantes, longas e delgadas, colmos finos e suculentos e grande capacidade de perfilhamento Apresenta plantas mutantes bmr, ou seja, exibe uma pigmentação amarronzada na nervura das folhas e na medula do caule, associada aos tecidos lignificados a partir do momento em que a planta apresenta em torno de cinco folhas expandidas Essas plantas mutantes bmr possuem menor teor de lignina polimerizada e uma quantidade considerável de substâncias polifenólicas solúveis que não interferem na digestibilidade da parede celular como as ligninas normais. Apresenta abundante perfilhação, alta capacidade de rebrota, excelente palatabilidade e aceitação pelos animais, além de alto valor nutritivo. Esse híbrido é altamente resistente à seca e adaptado à produção de biomassa sob condições de estresse ambiental. Cresce muito rapidamente e com aproximadamente 30 a 40 dias já fornece um pasto de alta qualidade. Seu uso preferencial como forrageira é corte verde e pastejo direto. Apresenta alto potencial de produção de matéria seca em cortes ou rebrotas sucessivas. Boa resistência às principais doenças foliares, além da resistência ao míldio.

palatabilidade e aceitação pelos animais

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ódigo florestal

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Câmara de negociação pode dirimir divergências entre setores ambientalistas e produtivos

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izer que o ano só começa depois do Carnaval é mera constatação quando o assunto é o novo Código Florestal Brasileiro. Primeiro veio o Natal, depois a virada do ano, acompanhada pela renovação de boa parte do quadro de parlamentares no Congresso Nacional, e então o Carnaval. Agora, não há mais desculpas, muito menos motivos para que as regras que regularão a ocupação do solo brasileiro não sejam definidas. A discussão se alongou em demasia no ano passado, provocando antagonismos desnecessários entre ruralistas e ambientalistas. É verdade que, em certo ponto, pode haver um conflito de ideias, mas não há nessa discussão lado certo ou errado. Há na verdade um único lado que precisa ser considerado: o da sustentabilidade. E aí há que se entender a sustentabilidade de forma ampla – ambiental, social e econômica. O Brasil tem inegável vocação para o agronegócio. Conseguimos manter o superávit de nossa balança comercial apesar da falta de políticas agrícolas adequadas de comercialização, de liberação de crédito e de seguro no campo, sem contar o enorme esforço para driblar o mal da inflação, que por anos fez minar a rentabilidade das safras. Hoje vivemos um momento privilegiado de crescimento econômico. Somos um dos grandes fornecedores mundiais de alimentos. O PIB brasileiro do agronegócio atingiu 6,5% de crescimento nos últimos 10 anos, enquanto o PIB nacional teve 6% de crescimento no mesmo período, segundo dados do IBGE. O crescimento da agricultura (6,5%) se

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E D I VA L D O D E L G R A N D E PRESIDENTE DA ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS DO ESTADO DE SÃO PAULO

Fonte de muita polêmica ao longo de 2010, o novo Código Florestal Brasileiro ainda é alvo de debates entre representantes do agronegócio, ambientalistas e o setor de infraestrutura. Edivaldo Del Grande, presidente da Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo, comenta o papel do agronegócio na economia do país, que se destaca no cenário internacional deve ao aumento de produção de várias culturas importantes da lavoura brasileira, com destaque para soja (20,2%), trigo (20,1%), café (17,6%), milho (9,4%), cana (5,7%) e laranja (4,1%) e pela crescente penetração no mercado externo. Tudo isso é resultado de investimentos em tecnologia para aumento da produtividade e melhoria da qualidade do plantio. Momento econômico privilegiado A expectativa agora é que esses números cresçam ainda mais e temos potencial para isso. O crescimento é necessário para garantir a sustentabilidade econômica do país e de milhões de pessoas que dependem das atividades ligadas ao agronegócio para sobreviver. Envolvem não somente o produtor rural, mas toda a

engrenagem que se movimenta em seu entorno - insumos, transportes, distribuição e comércio. Por outro lado, o Brasil detém uma das maiores reservas intocadas de vegetação. Dos 850 milhões de hectares de área que possui, 537 milhões preservam boa parte de sua cobertura vegetal natural, seja ela floresta, caatinga, pampa ou outra, conforme estudo realizado por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP. Uma riqueza que não pode ficar exposta por falta de legislação. A criação de uma câmara de negociação na Câmara Federal para debater com representantes de ambientalistas e ruralistas o relatório do deputado Aldo Rebelo sobre a reforma do código pode ser uma boa iniciativa para que dali saia uma solução equilibrada. A falta de uma definição, mais do que desagradar a todos, causa incertezas e provoca prejuízos ao País, que depende de investimentos em infraestrutura para tornar sua produção cada vez mais eficiente e lucrativa – condição fundamental para garantir a permanência do homem no campo com qualidade de vida e geração constante de riquezas. Portanto, repensar o Código Florestal é urgente. Não é uma tarefa fácil. E o principal desafio está na diversidade encontrada no Brasil. Dificilmente haverá uma única norma capaz de atender a todas as necessidades do país. As especificidades de cada região exigem tratamentos diferenciados e definir uma normatização que contemple essas peculiaridades é fundamental para garantir a sustentabilidade ambiental, econômica e social do país.

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Carta da S O B R A P A

S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL

Contemporizando com o desastre N

o dizer de James Lovelock, cientista, ambientalista de renome mundial e propositor da teoria de Gaia, um incêndio necessita ser combatido logo em seu início ou se tornará incontrolável, e o mesmo vem acontecendo com o aquecimento global: o processo se acentua e resta pouco tempo para contê-lo.

Além de outros gases do efeito estufa geradores de consequências menos impactantes, a cada ano mais de duas dezenas de bilhões de toneladas de CO 2 são lançadas à atmosfera resultantes, em essência, da queima de combustíveis fósseis e das extensas queimadas de florestas. Apenas parte dessa colossal quantidade de gases é absorvida pelo plantio ou regeneração da vegetação e pelos oceanos, neste último caso também produzindo paralelamente sérios efeitos deletérios. A parte restante do gás produzido se soma às emissões dos anos anteriores, permanecendo na atmosfera e, por mais de um século, aquecendo-a cumulativamente. O alerta de Lovelock tem sido largamente ignorado pela humanidade. O Protocolo de Kyoto, em vigor desde 2005 e assinado por expressivo número de países – com a notável exceção dos EUA e da Austrália -, continua sendo o único ato internacional que quantificou a redução das emissões e, mesmo assim, só estabeleceu metas modestas, totalmente insatisfatórias; com vigência até 2012, ainda carece de definição quanto à sua renovação ou substituição. Os líderes mundiais continuam relutantes em aceitar quaisquer outras medidas efetivas para prevenir o que qualquer avaliação sensata nos leva a admitir, ou seja, ser hoje o aquecimento global a maior ameaça ao nosso tipo de civilização. Esperança havia de que em Copenhague, na conferência de 2009, um encontro de grande repercussão que contou com a com a presença de numerosos chefes de estado, fossem adotadas pelo menos algumas providências concretas para a contenção dessa ameaça. Após intermináveis discussões e persistentes divergências, chegou-se apenas a um arremedo de acordo, sem valor como compromisso internacional, ainda que nele tenham sido aventados alguns procedimentos importantes. Como é praxe nas reuniões improdutivas, as expectativas de um efetivo acordo foram transferidas para a seguinte, em Cancún, México. Os encontros preparatórios desta última conferência já indicavam um provável fracasso, que veio a se concretizar no final de 2010. Em lugar da aceitação de medidas precautórias eficazes para a atenuação das mudanças climáticas, prevaleceu a protelação, e a urgência óbvia foi mais uma vez negligenciada, adiando-se novamente as decisões realmente importantes para um novo encontro a

realizar-se no corrente ano, em Durban, África do Sul. Na verdade, alguns pequenos avanços se efetuaram: o “acordo” de Copenhague foi oficializado, criou-se um Fundo Verde para apoiar a adaptação dos países em desenvolvimento às consequências do aquecimento global (na sua maior parte para viger a partir de 2020), um pacto sobre a proteção de florestas (REED – Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação) aparenta ter recebido apoio geral, e, mais importante ainda, os 194 países representados, com a única omissão da Bolívia, acordaram em limitar o aumento de temperatura global, neste século, em 2OC, embora sem serem estabelecidas e aceitas metas de redução de emissões que possam viabilizar tal objetivo. Destaque-se que o Brasil teve no encontro uma atuação positiva, assumindo unilateralmente compromissos claros neste sentido. Em suma, mais um ano se perdeu para que a comunidade internacional admita a enormidade das ameaças pendentes e aceite as medidas penosas, mas indispensáveis, para evitar-se o pior. O aumento do aquecimento global em 2OC já trará consequências altamente indesejáveis e, sem o estabelecimento de metas claras e objetivas para tornar factível a limitação acordada, torna-se duvidosa sua concretização. Os resultados previsíveis de um descontrole nas mudanças climáticas, ainda que não possam ser mensurados com precisão, são claramente assustadores, dentre eles a redução da produção de alimentos em amplas regiões (incluindo parte do Brasil), migrações maciças de populações humanas, elevação do nível dos mares, aumento da frequência de ocorrências climáticas extremas, alteração das correntes marinhas e extinção em massa de espécies de plantas e animais, prenunciando profundos impactos ecológicos e econômicos e desestabilização social em todo o mundo. É verdade que, embora as mudanças climáticas em curso já se mostrem evidentes, não é totalmente impossível, no futuro, revelarem-se seus efeitos menos devastadores do que preveem as simulações até hoje divulgadas, mas o risco é por demais elevado para que se especule com a sorte. O futuro da humanidade está em jogo e as ameaças visualizadas evidenciam-se prováveis e inaceitáveis. O incêndio da metáfora de Lovelock progride e se agrava. Urge a nossa civilização adotar medidas acauteladoras e admitir o preço, ainda que muito elevado, para torná-lo controlável enquanto há tempo.

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S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL

Citações Deve-se a Martin Wolf, destacado jornalista britânico, um dos mais influentes comentaristas de assuntos econômicos do Financial Times, a seguinte afirmação: A humanidade só responde a catástrofes e, coletivamente, somos muito estúpidos. Considerando o comportamento das coletividades humanas, parece ter razão o ilustre jornalista. Realmente, temos demonstrado enorme insensibilidade para grandes ameaças que, embora óbvias, frequentemente são desprezadas. Ignoramos os limites do planeta, construímos cidades em zonas de alto risco, malbaratamos e exaurimos os recursos naturais visando a lucros imediatos e sem pensar em sua falta futura, criamos grandes problemas sociais totalmente desnecessários, desencadeamos guerras sem sentido, engendramos uma civilização perdulária e inviável a longo prazo e, agora, continuamos a desconhecer as advertências dos cientistas quanto à degradação do clima. A espécie humana parece preocupar-se menos com seu próprio futuro do que, instintivamente, o fazem os outros animais

Natureza em perigo No auge da era glacial, há cerca de 20.000 anos, o nível dos mares baixou no litoral brasileiro aproximadamente 130 metros, o que deixou em seco durante milhares de anos enormes extensões de terras, obviamente então ocupadas por fauna e flora. Com o aquecimento mundial gradativo que ocorreu desde então, o mar voltou a cobrir as áreas litorâneas alagadas, fazendo com que as suas partes mais elevadas tenham se transformado em ilhas, nas quais ficaram isolados pelo menos parte de seus antigos ocupantes, alguns dos quais, com o tempo, tornaram-se espécies novas distintas das existentes no continente. Esta é a provável origem de duas serpentes venenosas que hoje habitam ilhas no litoral de São Paulo, a jararaca-de-alcatrazes (Bothrops alcatraz) e a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis), ambas consideradas criticamente ameaçadas de extinção. A jararaca-de-alcatrazes existe apenas na ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, onde é encontrada nos resíduos de Mata Atlântica que a cobrem parcialmente. É particularmente comum sob os poleiros de aves marinhas, onde se acumulam seus excrementos, talvez em razão da concentração local de invertebrados, especialmente de centopeias, que juntamente com pequenos lagartos formam sua alimentação. É um réptil pequeno, de cor parda escura, com até 50 centímetros do rostro à cloaca. A jararaca-ilhoa é endêmica da ilha da Queimada Grande, no litoral sul do mesmo estado, onde ocorre em grande número. Acredita-se que na ilha, com pouco mais de 40 ha, exista uma população entre 1.500 a 2.000 indivíduos. A serpente, de cor parda amarelada, habita principalmente as partes da ilha cobertas por Mata Atlântica, embora tam-

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bém seja encontrada nas áreas descampadas. Com frequência se aloja nos galhos das árvores e arbustos. Sua principal alimentação é constituída por aves migratórias que fazem pouso na ilha, mas os indivíduos jovens se limitam aos pequenos lagartos, anfíbios e invertebrados. Seu veneno é muito potente, provavelmente para que faça rápido efeito em suas presas voadoras. Ambas as espécies encontram-se ameaçadas por degradação de hábitate e incêndios ocasionais, e, no caso da segunda, por capturas para o comércio ilegal, devido à sua raridade. As duas espécies estão incluídas na lista brasileira de espécies ameaçadas e na da IUCN, em ambas na categoria de “Criticamente ameaçada”. Fonte: Livro Vermelho, da Fundação Biodiversitas

A ONU autoriza a criação do IPBES Na 65ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de dezembro último, foi autorizada a criação do Painel Intergovernamental para a Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas - IPBES, que deverá funcionar à semelhança do Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas - IPCC, analisando e dando consistência aos estudos feitos por instituições científicas de todo o mundo no que se refere à situação da biodiversidade e aos serviços prestados para a humanidade pelos ecossistemas naturais. Tal como o IPCC, o novo órgão fará relatórios periódicos aos governos sobre o estado e as tendências dos ecossistemas e das espécies, apresentando sugestões sobre as respostas políticas necessárias. É de se esperar que o IPBES, consolidando as informações dispersas sobre a grave situação da diversidade biológica no mundo e divulgando-a amplamente, possa contribuir para atenuar a crise. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA ficou responsável pela estruturação do IPBES no decorrer de 2011.

Tentativa extrema Existem hoje cinco espécies de rinocerontes, duas na África e três na Ásia todas com populações na natureza muito reduzidas, vítimas que são da perda de hábitat, da caça ou de conflitos militares em suas regiões de origem. Há cerca de meio século, uma delas – o rinoceronte-branco da África – com uma população total de menos de 50 indivíduos, parecia destinado à extinção, mas medidas de conservação inteligentes e bem sucedidas reverteram a situação, sendo essa espécie, paradoxalmente, a menos ameaçada nos dias atuais. No entanto, esta afirmação é apenas uma meia verdade. Acontece que a espécie, cientificamente conhecida como Ceratotherium simum, o maior mamífero terrestre depois do elefante, é dividida em duas subspécies: o rinocerontebranco-do-sul (C.s. simum) e o do norte (C.s. cottoni), sendo que alguns zoólogos preferem considerar esta última como uma espécie separada devido a diferenças

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morfológicas significativas. O rinoceronte-branco-do-sul realmente foi salvo com as medidas acima citadas e hoje existe uma população razoavelmente saudável de cerca de 18.000 exemplares, mas seu primo do norte está em situação desesperadora. Em 2006, embora ainda existissem alguns exemplares em cativeiro, na natureza só foram contados quatro indivíduos da subespécie do norte; mas, em 2008, nenhum foi encontrado. Para agravar a situação, os últimos oito exemplares em cativeiro não se reproduziam. Foi então tentada uma medida desesperada: os últimos quatro indivíduos em cativeiro em condições de se reproduzirem foram transportados de um zoológico na República Tcheca para o Quênia, na esperança de que em seu ambiente natural possam procriar e fundar uma pequena população local. Esses quatro remanescentes chegaram bem ao seu destino e, aparentemente, já assumiram um comportamento normal em seu ambiente nativo, onde se encontram rigidamente protegidos e vigiados. A probabilidade de que tal medida extrema seja bem sucedida é realmente baixa, mas foi a única possível para que o rinoceronte-branco-do-norte não desapareça do planeta devido à ação humana. A ironia dessa situação lamentável é que o principal motivo para a caça desses animais magníficos é absolutamente fútil: a retirada dos seus chifres, para a fabricação de punhos de adagas cerimoniais, muito apreciadas em algumas regiões do Oriente Médio, ou como fonte de medicamento tradicional, sem qualquer ação efetiva. Fonte: Fauna & Flora, outubro de 2010

Surgem os animais transgênicos na alimentação Os animais geneticamente alterados vão começar a aparecer nas mesas dos consumidores. Dentro de menos de dois anos, espera-se que os órgãos responsáveis pela autorização da comercialização dos alimentos dos EUA deem licença para que um salmão com tal característica surja nos mercados. O animal recebeu de outra espécie genes que controlam o hormônio do crescimento, permitindo-lhe alcançar peso suficiente para comercialização em apenas um ano, ao invés de três, como seria normal. Alguns grupos de ambientalistas mostraram-se preocupados com a possibilidade de os peixes geneticamente modificados escaparem dos criadouros e procriarem na natureza com o salmão do Atlântico, mas os proponentes da nova variedade artificial alegam que, além das barreiras físicas previstas, as próprias modificações genéticas a tornam praticamente estéril, fazendo com que a possibilidade de cruzamento com as populações naturais sejam “infinitesimais”. O próximo animal a sofrer alteração transgênica será o porco. Um projeto no Canadá pretende criar uma variedade capaz de absorver melhor o elemento fósforo contido na sua alimentação. Isto evitará que suas fezes con-

taminem o ambiente com excesso desse elemento, propiciando a proliferação de algas nos corpos d’água e degradando-os. Ainda não existem iniciativas do gênero na Europa e o salmão transgênico deverá ser comercializado somente nos EUA, pelo menos inicialmente. Fonte: Nature, 16-09-2010

Projeto ambicioso na Amazônia O monitoramento em longo prazo dos gases emitidos pela floresta amazônica, especialmente dióxido de carbono (CO2), é importantíssimo para compreender-se melhor o papel do imenso bioma na constituição da atmosfera. Para tal fim, um projeto conjunto do Brasil e da Alemanha fará construir nas proximidades do rio Uatumã, a nordeste de Manaus, uma imensa torre metálica com 320 metros de altura (equivalente a de um prédio de 106 andares), além de outras menores. É fácil imaginarem-se as dificuldades de sua concretização, em plena floresta e longe das vias de comunicação. A iniciativa, única nos trópicos e no Hemisfério Sul, permitirá preencher um vazio de informações, uma vez que iniciativas semelhantes já existem na América do Norte, Europa e Sibéria. Na floresta amazônica, entre as árvores, a proporção de CO2 cai durante o dia para cerca de 360 partes por milhão (ppm), devido à fotossíntese, mas pode elevar-se a 500-600 ppm durante a noite, em decorrência da respiração da vegetação. Nas alturas, essas alterações bruscas se reduzem devido ao fato de o ar da floresta misturar-se com os ventos vindos do Atlântico, e a proporção se aproxima da media mundial, hoje em 387 ppm. As torres irão viabilizar o acompanhamento permanente do fenômeno. Estudos já realizados em áreas limitadas indicaram que as florestas tropicais acumulam CO2, e estes dados levaram a admitir-se que a totalidade da Floresta Amazônica age como um sumidouro desse gás do efeito estufa, mas a diversidade do bioma é de tal forma imensa que torna inseguras as extrapolações para a totalidade da floresta. As observações iniciais, realizadas em 2008-2009, parecem indicar que a Bacia Amazônica é mais ou menos neutra quanto ao balanço de carbono. Contudo, muitas perguntas permanecem no ar: Um excesso de CO2 na atmosfera poderá estimular o crescimento da floresta? A floresta reduzir-se-á com o aquecimento global, aumentando a quantidade de CO2 na atmosfera? Quais serão os efeitos do desmatamento e do desenvolvimento da região? Estas e outras perguntas o ousado projeto ajudará a responder. Fonte: Nature, 23-09-2010

Em defesa dos tubarões Apesar da má fama que imerecidamente têm, os tubarões são essenciais para o equilíbrio ecológico dos mares, além de constituírem um grupo notável de formas de vida que vem persistindo na natureza há centenas de

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S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL

milhões de anos. No que pese seu sucesso biológico ao longo de tanto tempo, na atualidade suas populações se encontram em rápido declínio devido às capturas desregradas em todo o mundo, basicamente para apenas aproveitarem-se suas “barbatanas”, ou mais apropriadamente dizendo, suas nadadeiras dorsais e laterais, apreciadas no Oriente como iguaria exótica. Esta atividade predatória, conhecida como finning, está ocorrendo em grande parte dos oceanos, inclusive no litoral do Brasil. Acredita-se que 73 milhões de tubarões são sacrificados no mundo a cada ano, estando algumas de suas populações já reduzidas em 90%. Em novembro último, a ONG Instituto Justiça Ambiental entrou, na Justiça Federal de Belém, PA, com uma ação judicial contra a indústria ilegal da pesca de tubarões praticante de finning. O fato se prende à apreensão de 3,5 toneladas de “barbatanas”, que correspondem à morte de aproximadamente 40.000 tubarões. É a quarta vez que a instituição move ação contra o mercado negro de “barbatanas” de tubarão. As duas primeiras foram ingressadas na Justiça Federal do Rio Grande do Sul, e a terceira, também em Belém. Em junho de 2010, a ação ajuizada requereu uma indenização de R$1,4 bilhão contra a empresa Sigel do Brasil, Comércio e Exportação Ltda., com filial no Brasil e sede no Panamá, e como tal ela teve repercussão internacional. Tendo em vista a situação de rápido decréscimo populacional dos tubarões, indaga-se de onde provêm e a que espécies correspondem as postas de cação vendidas congeladas pelas redes de supermercados, sem que se saiba se elas estão ou não incluídas na lista de espécies em extinção constantes da Instrução Normativa no. 05, do Ministério do Meio Ambiente.

A França resolve dar destino definitivo a seu lixo nuclear Meio quilômetro abaixo de uma plantação de trigo, engenheiros e técnicos franceses estão verificando em sofisticado laboratório subterrâneo as condições geológicas do sítio para constatar se as rochas circundantes permitirão realmente abrigar resíduos altamente radioativos. Se as condições forem favoráveis, como é previsto, sob uma área de 30 quilômetros quadrados será construído até 2025 um depósito para resíduos de longa duração e de alta e media radioatividade. A iniciativa da França não está isolada. Enquanto os EUA hesitam em dar solução definitiva para o problema de seus resíduos nucleares, mantendo a interminável discussão sobre a construção do depósito em Yucca Mountain, a Finlândia e e Suécia pretendem dispor de seus depósitos definitivos em 2020-2025, e a Alemanha, em 2035. A França gera 80% de suas necessidades de energia elétrica em 58 usinas nucleares, que contam com forte apoio político dos partidos, e a opinião pública aceita bem tal forma de energia. Contrariamente ao que acontece 28

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nos EUA, não há oposição à construção do planejado depósito. Quando completado, nele serão depositados 4.300 metros cúbicos de rejeitos de alta radioatividade e longa duração, já produzidos, além de outros 42.000 metros cúbicos dos de media radioatividade. Na sua maior parte, tais volumes são decorrentes do funcionamento das usinas de energia. Os estudos para a localização do depósito envolvem a colocação de cerca de 3.500 sensores, que medirão todas as condições mecânicas, químicas e hidrológicas das rochas. Os dados serão utilizados em modelos que as caracterizarão e avaliarão seu comportamento por períodos que irão abranger desde décadas até mais de um milhão de anos. Na França, a maior parte do combustível nuclear é reprocessado e os resíduos de alta radiotividade disto resultantes, embora correspondam a apenas 0,2% do volume total do conjunto de rejeitos, abrangem 95% da radioatividade total. Estes resíduos serão vitrificados, incluídos em vasos de aço inoxidável e estes colocados em barris de aço comum, a serem encerrados definitivamente em perfurações feitas na rocha. Os rejeitos de média radioatividade serão comprimidos, encerrados em vasilhames de aço e concretados, sendo depois depositados em túneis. A exposição acima mostra que a deposição final dos rejeitos radioativos é tarefa complexa e caríssima. Embora a energia nuclear seja uma das melhores alternativas para reduzir o efeito estufa, há este alto preço a pagar. Fonte; Nature, 12-08-2010

SOBRAPA Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental CONSELHO DIRETOR PRESIDENTE Ibsen de Gusmão Câmara DIRETORES Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho Rogério Marinho CONSELHO FISCAL Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin SUPLENTES Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond

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Alternativas para o desmatamento do Cerrado associam conservação à produção

LOURIVAL VILELA

A integração lavoura pecuária é uma das alternativas viáveis e proporciona vantagens aos produtores

Integração lavoura-pecuária: benefícios ambientais

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egundo dados do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama, quase metade da cobertura original do Cerrado brasileiro foi desmatada. Os números divulgados apontam que uma área de vegetação nativa superior ao estado do Mato Grosso já cedeu lugar para plantações de soja, pecuária e exploração de madeira. Para evitar a abertura de novas áreas, a pesquisa agropecuária aponta alternativas viáveis que podem ser adotadas na região para associar a conservação do Cerrado à produção.

Uma delas é a integração lavourapecuária, estudada há mais de 20 anos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa. Segundo o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lourival Vilela, esse sistema permite a intensificação do uso das áreas já abertas pela pecuária e lavouras de grãos. A rotação entre áreas de pasto e de lavoura resulta em ganhos de produtividade. Isso é especialmente interessante para os pastos, que hoje estão, em sua maioria degradados, principalmente devido à deficiência de nu-

trientes. O pesquisador explica que atualmente a taxa de lotação média no Cerrado é de uma cabeça de gado por hectare. “Caso esse número seja aumentado para 1,4 cabeça, 11 milhões de hectares poderão ser alocados para outros usos”, avalia. Além dos benefícios ambientais, a integração entre a lavoura e a pecuária proporciona vantagens aos produtores. Entre elas, Vilela enumera a melhora na qualidade química, física e biológica do solo; a quebra no ciclo de pragas e doenças nas lavouras; e a di-

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Plantio direto com qualidade no Cerrado solo. sistema plantio direto foi estabeleÁrea cultivada cido no sul do Brasil no final de 1960, Atualmente a área total cultivada em com a disponibilidade dos primeiros herplantio direto no Brasil é de aproximadabicidas dessecantes, beneficiando-se muimente 18 milhões de hectares, sendo 28% to dos resultados das pesquisas sobre (5 milhões de hectares), localizadas no adubação verde e plantas de cobertura. Cerrado. Porém, as condições edafoclimáNo início da década de 1980, essa prátiticas do Cerrado dificultam muito o culca começou a ser adotada também pelos tivo na entressafra ou safrinha (período produtores do Cerrado. No entanto, o uso de seca) e o estabelecimento de cobertude plantas de cobertura praticamente não ra eficiente do solo. Isso ocorre porque há fazia parte dos agroecossistemas em restrições à produção de biomassa e tamplantio direto, exceto em algumas áreas bém uma decomposição acelerada dos reonde se cultivava o milheto em sucessão síduos vegetais. Assim, o sistema plantio à soja (safrinha). Essa situação se mandireto no Cerrado é caracterizado pela tém até hoje, já que as condições edafobaixa adoção de plantas de cobertura e roclimáticas do Cerrado dificultam bastantação de culturas, consequentemente, te o cultivo na entressafra, no longo perípouca palhada odo de seca. na superfície do No entanto, solo. Porém, é importante mesmo com uma ressaltar que, baixa manutenpara atingir seu ção de cobertura potencial de bedo solo, se houver nefícios, o sisterotação adequama plantio direda de cultivos, a to deve ser ciclagem de nuacompanhado trientes irá favode rotação de recer a produtivicultivos, includade das cultuindo espécies ras e a produção vegetais melhode biomassa dos radoras/condiciagroecossisteonadoras do mas. solo. Essas espéA produção cies vegetais, dessa biomassa também denominadas de Culturas em sistema de plantio direto no cerrado vegetal é um dos principais parâplantas de cometros a ser considerados na formação da bertura, devem compor um sistema palhada na superfície. Fatores relacionaagrícola que apresente eficiente coberdos à composição química do material vetura do solo e ciclagem de nutrientes, getal (razão entre o carbono e o nitrogênio, consequentemente, incrementos dos esteores de lignina, celulose, hemicelulose, toques de carbono e nitrogênio, mitigafenóis e polifenóis, além de outros composção de gases de efeito estufa, controle de tos orgânicos) também são relevantes para plantas invasoras e melhoria das proo estabelecimento de cobertura do solo no priedades físico-hídricas, químicas e bisistema plantio direto. ológicas do solo. Tudo isso tem reflexos Espécies vegetais na produtividade das culturas. O acúPor isso, um dos objetivos das pesquimulo de resíduos vegetais na superfície sas sobre plantas usadas como cobertudo solo é fundamental para que o sistera em sistema plantio direto no Cerrado ma plantio direto atinja sua maior efié buscar espécies vegetais que possuem ciência, incluindo o sequestro de carbodecomposição mais lenta de seus resíduno, que está diretamente associado a os vegetais. A razão entre carbono e nitroum bom suprimento de nitrogênio no

Milho: plantio direto pode aumentar a produção

minuição dos riscos de produção e de preço, pois há diversificação de atividades, uma vez que o produtor pode investir em diversas alternativas simultaneamente. Há também ganhos de produtividade. Enquanto cada hectare de pasto formado pelo sistema proporciona de 15 a 40 arrobas (em equivalente carcaça) por ano, a mesma área no sistema tradicional produz de 3 a 4 arrobas. Devido a esses ganhos, a tecnologia já começa a ser adotada por produtores da região. Para o pesquisador Djalma Martinhão, o aumento da produtividade nas lavouras tradicionais, proporcionado pela pesquisa agropecuária, também pode ser uma receita para diminuir o desmatamento. De acordo com ele, esse resultado pode ser conquistado a partir do uso do plantio direto, da rotação de culturas e da correção da acidez do solo por meio de calcário e gesso. Segundo dados de pesquisas recentes conduzidas pela Embrapa Cerrados, por exemplo, enquanto os fertilizantes em lavoura em cultivo convencional têm uma eficiência de uso de 57%, os que são aplicados no plantio direto registram eficiência de 77%. “Com isso poderíamos aumentar a produção total de soja e milho em 9 milhões de toneladas e pouparmos a abertura de 3 milhões de hectares”, afirma Djalma.

NILTON PIRES / EMBRAPA AGROPECUÁRIA OESTE

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CLARISSA LIMA PAES – EMBRAPA CERRADOS

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ARMINDA MOREIRA DE CARVALHO PESQUISADORA DA EMBRAPA CERRADOS

Manejo de adubação garante melhor pastagem em sistema de integração lavoura-pecuária

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manejo da adubação em áreas de inbraquiária na linha e braquiária na entretegração lavoura-pecuária (ILP) pode linha, quatro tratamentos com milho solteimelhorar a qualidade das pastagens e garo e um com braquiária solteira. rantir boa produtividade de milho, segunFoi observado que o tratamento em que do demonstrou experimento realizado na 100% da adubação de plantio é colocada na Embrapa Milho e Sorgo. linha do milho (sistema convencional) não A pesquisa foi feita com avaliação de resultou em ganhos de produtividade do ceconsórcio da cultura do milho com capim real e afetou negativamente o capim braquiária para forbraquiária da entreliragem. Essa tecnolonha. gia de ILP é a que desA fertilização de perta maior interesse maior volume de entre produtores, solo, com a adubação conforme explica o tanto na linha do mipesquisador Ramon lho como também Alvarenga. Isso porem linhas laterais, que é possível produnão comprometeu a zir grãos ou silagem produtividade do cede milho e, depois da real. “Possivelmencolheita, tem-se uma te, os nutrientes dos pastagem que, em adubos puderam ser pouco tempo (aproxiabsorvidos por maimadamente 30 dias), or volume de raízes estará disponível que cresceram em para uso. condições de menor Um dos fatores concentração salina, que comprometem o devido à melhor disrendimento e a qualitribuição do fertilidade da produção do Consórcio de milho com capim possibilita zante no solo”, expliprodução de grãos e pastagem milho nesse tipo de ca Ramon. consórcio é a competição do capim nos priResultados meiros 50 dias após o plantio. “Essa quesOs resultados demonstraram que o tão estará resolvida com a aplicação de crescimento das plantas de milho não foi subdose de herbicida pós-emergente seletiafetado significativamente pela braquiária, vo ao milho”, orienta o pesquisador. Entremesmo quando não houve uso de herbicida. tanto, há outros aspectos que precisam ser Ou seja, a pressão de competição exercida solucionados. Um deles é a necessidade de pelo milho no consórcio, por si só, já afeta a dar condições mais favoráveis para que o braquiária que assim tem diminuída a sua capim da entrelinha cresça numa taxa secapacidade de competição. melhante ao capim da linha do milho que Por outro lado, a braquiária cresceu merecebe adubo. nos no consórcio, principalmente as plantas “Observa-se que depois da colheita da lana linha do milho. Esses dados são de granvoura de milho o capim da linha, que cresce de importância por demonstrar que a tecnonuma situação mais favorável devido aos ferlogia usada é compatível com os objetivos da tilizantes residuais, tende a abafar o da entrenão interferência da forrageira no crescilinha, mesmo sob pastejo controlado. O pasto mento da lavoura e de formação de pastafica com falhas e produz menos, as touceiras gem em seguida à colheita do milho, conforde capim ficam maiores e causam transtornos me propõe a ILP. quando a nova lavoura for semeada na área”, O pesquisador Ramon Alvarenga conexplica Ramon Alvarenga. clui que os resultados do experimento perSolução do problema mitem recomendar, para solo já recuperaPara tentar solucionar esse problema, do quimicamente, a adubação de plantio do foi conduzido o experimento que testou diconsórcio de milho com braquiária distriferentes estratégias de adubação. Buscoubuída, na proporção de 33-34-33% ou de 25se avaliar como manter a produtividade do 50-25%, em sulcos de plantio do milho com milho e melhorar a pastagem, com melhor braquiária e laterais somente com braquinutrição do capim da entrelinha. ária para sistemas de integração lavouraForam analisados nove tratamentos, pecuária. MARINA TORRES – EMBRAPA MILHO E SORGO sendo quatro em consórcio de milho com MARINA TORRES / EMBRAPA MILHO E SORGO

gênio é o parâmetro comumente utilizado para inferir sobre a decomponibilidade (capacidade de se decompor) do material vegetal. Entretanto, trabalhos mostram índices mais elevados de decomposição de resíduos vegetais de gramíneas (por exemplo, brachiaria ruziziensis) em relação às leguminosas (por exemplo, o feijão guandu) que possuem menor razão entre carbono e nitrogênio. Esses estudos sugerem também que outras características – como teores de lignina, celulose e hemicelulose – podem estar relacionadas com o processo de decomposição dessas plantas. Altos teores de lignina inibem a decomposição dos resíduos vegetais, favorecendo o estabelecimento de cobertura do solo. Por outro lado, elevadas concentrações de hemicelulose e baixos teores de lignina resultam em decomposição mais acelerada, consequentemente, em ciclagem mais rápida de nutrientes favorecendo a absorção de nutrientes pela cultura que será cultivada na sequência do sistema de produção. Deve-se considerar, ainda, a importância do fornecimento de nitrogênio quando se cultiva leguminosas como planta de cobertura, seja pela fixação biológica do ar atmosférico, seja pela incorporação de biomassa, proporcionando melhoria da fertilidade química do solo e economia de fertilizantes nitrogenados. Por exemplo, do uso de mucunas, guandu, crotalárias e feijão-bravo-do-ceará, quando cultivadas no período chuvoso, com elevada produção de fitomassa, podem incorporar até 280 quilogramas por hectare, sendo acima de 50% resultantes da fixação biológica. Esse nitrogênio corresponde a mais de 100 quilogramas por hectare comprovando seu potencial na redução das aplicações de fertilizantes nitrogenados. Portanto, o sistema plantio direto para atingir seu potencial de benefícios deverá ser acompanhado de rotação de cultivos, incluindo espécies vegetais melhoradoras/condicionadoras do solo, e que, além de proporcionarem cobertura, promovam a ciclagem de nutrientes, consequentemente, incrementos dos estoques de carbono e nitrogênio, mitigação de gases de efeito estufa, melhoria das propriedades físico-hídricas, químicas e biológicas do solo em geral, controle de plantas invasoras, pragas e doenças. Destaca-se que o sequestro de carbono está diretamente associado a um bom suprimento de nitrogênio no solo.

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Novo Código Florestal é melhor para o Brasil Ao encampar a necessidade de alterações no código, o agro quer somente o respaldo jurídico de continuar produzindo sob o arcabouço de uma nova lei, que proteja recursos naturais sem tolher a atividade rural, estratégica para o desenvolvimento do Brasil C ESÁRIO R AMALHO

DA

S ILVA Cesário Ramalho da Silva

PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

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Presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), assinalou que o projeto de mudança do Código Florestal é uma das prioridades da casa. Esta definição abre nova oportunidade para que a Sociedade Rural Brasileira ratifique apoio ao projeto do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP) e reforce esclarecimentos acerca do conteúdo da proposta. Constantemente consultada pela mídia (Globo News, Folha de S. Paulo, Jovem Pan), a Rural tem incessantemente reiterado que o projeto do deputado Rebelo tem como objetivo eliminar o emaranhado jurídico presente na legislação ambiental, o qual impede o agro de produzir em conformidade com a lei. Vale ressaltar que, em nenhuma hipótese, a proposta para mudança do código permite novos desmatamentos. Ao ser aprovado, o projeto do deputado Rebelo fará o Brasil abandonar o ‘Frankenstein’ que é o atual código, criando condições para que o País discuta, de maneira técnica e equilibrada, o futuro da ocupação do solo. Hoje, a legislação ambiental é o “calcanhar de Aquiles” da produção rural. O Brasil tem atualmente 63% de seu território coberto com florestas e vegetação natural. Somos o campeão mundial da preservação. Agora, é insensato reflorestar, como determina a lei vigente, áreas que estão produzindo alimentos, cultivadas de modo sustentado há muitos e muitos anos. Especi-

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almente num momento de forte demanda interna e externa e preços subindo, o que traz ameaças de inflação e riscos à estabilidade econômica. Não se pode intitular como desmatadores quem cumpriu o que determinava a lei, com o objetivo de produzir. Por isso, o projeto do deputado Rebelo não prega qualquer tipo de anistia. Hoje, quem desmata não é produtor rural, mas sim indivíduos que atuam à revelia da lei. Condenados injustamente Produtores e proprietários rurais vem sendo injustamente condenados a recompor florestas que foram suprimidas sob o amparo da lei e, até, com incentivos do Estado. Equivale a condenar um proprietário a demolir um prédio construído há séculos porque mudaram as disposições do zoneamento urbano. A Constituição proíbe a retroatividade de novas leis. O reflorestamento de áreas agrícolas consolidadas deixaria milhares de produtores, pequenos, médios e grandes, sujeitos a punições administrativas e criminais ligadas a atividades que não contrariaram a lei quando ocorreram. O reflorestamento ocasionaria em perdas de receita, produção, postos de trabalho e geração de tributos. Isto tudo, sem considerar o custo elevado e fora do alcance dos produtores para realizar a recomposição de Reserva Legal. Só em São Paulo este custo está estimado em cerca de R$ 14,8 bilhões. Entendemos, por exemplo, que a

soma de Áreas de Preservação Permanente com Reserva Legal torna a lei mais palatável, sem prejuízo ao meio ambiente. Alterações no Código Florestal Ao encampar a necessidade de alterações no código, o agro quer somente o respaldo jurídico de continuar produzindo sob o arcabouço de uma nova lei, que proteja recursos naturais sem tolher a atividade rural, estratégica para o desenvolvimento do Brasil. Em audiências com o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, e os deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária, presidida pelo deputado Moreira Mendes (PPS-RO), constatamos o alinhamento de posicionamentos com o setor privado. As mudanças propostas não são favoráveis a este ou aquele segmento e sim em benefício de toda sociedade brasileira. A experiência de décadas mostra que as tentativas de aplicação do Código Florestal previstas na legislação em vigor são simplistas e inaplicáveis na maioria dos casos. O mais indicado, então, seria fazer como em outros países, onde a ocupação das áreas é feita de modo racional, com análise de técnico habilitado. Para a Rural, o debate não pode ser extremado. A polarização não é saudável. Por isso, a entidade acredita que todas questões serão discutidas amplamente, de forma democrática, durante a tramitação do projeto no Congresso Nacional.

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Política agrícola e gerenciamento ambiental Melhor que restringir as áreas agricultáveis é induzir os fazendeiros a produzir com tecnologias mais adequadas. Para isto é necessário que o produtor rural seja instruído e receba assistência técnica especializada sobre a interação agricultura/meio ambiente. JOSÉ

DE

S AMPAIO G ÓES

DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE MEIO AMBIENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

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humanidade sempre competiu com a natureza por alimento. A imagem idílica do Jardim do Éden, onde os homens estão em harmonia com a natureza, é apenas uma miragem. A situação real é uma constante luta contra os caprichos do clima, a infestação de ervas daninhas, as doenças e as pragas. Os ecossistemas atingem seus equilíbrios naturais por meio de uma batalha sem tréguas, de espécies competindo por território e alimentos. O homem, por meio da agricultura, atividade pastoril e do manejo de florestas, tem influenciado nesta batalha alterando as paisagens naturais, favorecendo algumas espécies em detrimento de outras e modificando os ecossistemas segundo suas necessidades. Por longo tempo, a tecnologia humana possibilitou que o crescimento populacional e nossa capacidade de produzir alimentos, ocorressem harmonicamente com as forças naturais. Entretanto, a explosão demográfica e o acelerado avanço tecnológico dos últimos cinqüenta anos, resultaram, em certas partes do planeta, numa interferência tão pesada sobre a natureza que corremos o risco de destruí-la. Tornou-se imperativo, para a humanidade, criar princípios e estratégias para conseguir uma coexistêcia harmônica com o planeta que nos abriga. Como partir de um ecossistema natural e atingir um novo equilíbrio, capaz de atender as necessidades de nossa população e salvaguardando, ao mesmo tempo, o potencial produtivo dos recursos naturais básicos. A prioridade, sem sombra de dúvida, é erradicar a fome e a miséria. Pessoas famintas não se preocupam em proteger o meio ambiente. Os recursos básicos

precisam ser melhor utilizados, o solo precisa ser protegido, os recursos hídricos melhor explorados, os recursos genéticos conservados e os efeitos tóxicos do controle de pragas evitados. Precisamos para isto desenvolver novas tecnologias. Todas estas recomendações foram ouvidas quarenta anos atrás por ocasião da primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo em junho de 1972. Elas são, basicamente, as estratégias para se desenvolver uma agricultura auto-sustentável. Desenvolver fórmulas que conciliem desenvolvimento agrícola com proteção ambiental, entretanto, depende fundamentalmente do papel que os agricultores têm em nossa sociedade. Atividade vital A agricultura é uma atividade de vital importância para a humanidade, ela produz o alimento do mundo, portanto tem que ser considerada prioritária na ordem econômica. É fundamental que o setor rural resolva seus próprios problemas em todos os níveis, com a participação do agricultor, silvicultor, pescador, associações de produtores, ministros e agências especializadas regionais e internacionais. Eles devem opinar sobre a distribuição dos recursos nacionais e no estabelecimento da política agrícola. Esta postura deve ser adotada, com seriedade, nacional e internacionalmente, pois de outra forma, os danos ecológicos continuarão ocorrendo. Permitir que outros ministérios interfiram nas atividades do ministério da agricultura, significa por em risco a produção de alimentos. Tão importante quanto produzir alimento é transportálo, armazená-lo e processá-lo industrialmente.

José de Sampaio Góes

Recentemente, em nosso País tumultuou-se toda a cadeia agro - alimentar com políticas econômicas destinadas a combater a inflação, isto levou o setor produtivo rural à penúria. A miséria é péssima conselheira. Como podemos esperar que agricultores miseráveis preocupem-se com proteção ambiental? Política ambiental Em nome de uma política ambiental fala-se, no Brasil, em reduzir as áreas plantadas das fazendas. Nosso complexo agro-industrial alimentar mais importante, como sabemos, está estabelecido nas regiões mais povoadas, próximas aos portos e bem servidas de infra-estrutura. Impor restrições à sua exploração causará diminuição na produção de bens, dever-se-á então obtê-los em outras regiões, ainda não exploradas, muito mais sensíveis sob o aspecto ambiental e não servidas de infra-estrutura. Melhor que restringir as áreas agricultáveis é induzir os fazendeiros a produzir com tecnologias mais adequadas. Para isto é necessário que o produtor rural seja instruído e receba assistência técnica especializada sobre a interação agricultura/meio ambiente. Em suma, gerenciamento ambiental na área da produção agro-silvo-pastoril, deve ser de responsabilidade técnica exclusiva dos: engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, zootecnistas e médicos veterinários, cada um segundo suas atribuições profissionais; e a política agrícola deve ser estabelecida pelo ministério da agricultura, visando perenizar a oferta dos produtos. Nada é mais estratégico para uma nação que o adequado abastecimento de sua população.

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Rural aprova subvenção paulista para mercado futuro Governo estadual bancará 50% do prêmio ao produtor que optar por fazer contrato de opção para soja, milho, café e boi. Presidente da Rural, Cesário Ramalho da Silva, ressalta que a medida sempre foi uma reivindicação do setor e que o produtor vai se sentir mais estimulado.

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rodutores rurais do Estado de São Paulo vão receber proteção contra perdas por meio de contratos atrelados com a Bolsa de Valores de São Paulo, com a finalidade de proteger o preço da safra em uma medida que vale para o milho, a soja,

Nossa terra Para estabelecer boas políticas ambientais é preciso dar voz e voto a Estados, municípios, produtores rurais, empresários e comunidades locais. Lamentavelmente, as políticas ambientais têm sido conduzidas de forma isolada pelas instituições especializadas na matéria.

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o mundo, são limitadas e preciosas as terras aptas à agricultura. As limitações mais fáceis de compreender são as climáticas. Não há calor suficiente para agricultura nos polos, na Patagônia, na Taiga, nas cordilheiras e nas montanhas. Em outras áreas falta água, como as zonas desérticas ou semi-áridas. Outras limitações são de relevo. Nas encostas muito inclinadas, com rampa longa, o escorrimento da água carrega o solo e os fertilizantes. Há também áreas sujeitas à inundação, onde a atividade agrícola fica comprometida. Há limitações também relativas às características dos solos. Os muito arenosos não retêm água e nutrientes. Já os solos argilosos estão sujeitos ao encharcamento. Nos solos rasos, as raízes não têm espaço para crescer. Solos pedregosos ou com camadas de impedimento físicas ou químicas não podem ser cultivados. Há também solos salinizados, pobres em nutrientes, excessi-

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o café e o boi gordo. O objetivo da parceria do governo paulista é custear metade dos possíveis prejuízos dos agricultores. Se o preço cair até o vencimento do contrato, o produtor exerce a opção de venda pelo valor estipulado anteriormente. Já, na alta, ele poderá entregar a mercadoria com uma valorização e o teto de subvenção chega a R$ 24 mil. O presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, ressalta que a medida sempre foi uma reivindicação do setor. “Nós tivemos chuvas imensas e secas terríveis, como vimos poucas vezes e que pegou o Rio Grande do Sul. Então esse seguro de renda é algo que precisamos muito porque ele vai atender o pequeno produtor.” Ramalho elogia o pioneirismo do Estado de São Paulo. “Esse decreto é pequeno, é modesto, mas acho que é um referencial de São Paulo que vai incentivar, despertar e chamar a atenção para fazer isso crescer.” O secretário estadual da Agricultura, João Sampaio, destacou que a subvenção é uma forma de prevenir possíveis perdas. Segundo ele, a Secretaria prepara um convênio com o Banco do Brasil para operacionalizar o projeto.

vamente alcalinos ou ácidos. Com exceção da falta de calor, encontramos no Brasil todas as limitações relatadas. O sertão nordestino, por exemplo, só pode ser usado pela agricultura com tecnologia sofisticada. A falta de entendimento deste processo “ a manutenção de métodos de cultivo tradicionais “ manteve a situação de pobreza lá, apesar do aporte de dinheiro público. Já a conquista do Cerrado, onde predominam solos ácidos e pobres, foi uma grande vitória da agronomia. “Amazônias” Para muitos, a Amazônia é uma floresta uniforme, imensa, intocada, impossível de ser trabalhada. Isso é errado. São muitas as “Amazônias”. Lá existem campos, cerrados e florestas, com diversas situações de solo e relevo. O desafio é a ocupação racional da região, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas. A regra de manter 80% de reserva legal em cada imóvel só serve para quintuplicar distâncias e aumentar custos. O correto é ocupar de modo planejado, definir áreas em grandes blocos para agricultura e implantar os sistemas de transportes necessários. Definir e proteger os grandes blocos de florestas destinados à conservação. Não só decretar Unidades de Conservação, mas implantá-las, indenizar e dar destino às populações que ocupam essas áreas. O macrozoneamento anunciado pelo Ministério do Meio Ambiente deveria ser concebido e implantado por um colegiado de ministérios, a fim de constituir um guia para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. No Pantanal, o uso brando dos recursos naturais e a pecuária extensiva preservam o ecossistema. Mas, o Código Florestal ob-

soleto coloca a pecuária da região na ilegalidade. No Sul e Sudeste, de ocupação intensa e antiga, os problemas são outros. São Paulo tem densidade populacional superior à da França. O território é recortado em pequenas áreas por rodovias, ferrovias, cidades, barragens, etc. Nessas condições, a recuperação dos ecossistemas depende de planejamento, da possibilidade de restaurar áreas e conectar fragmentos. Para estabelecer boas políticas ambientais é preciso dar voz e voto a Estados, municípios, agricultores, empresários e comunidades locais. Planejamento O bom planejamento do uso e da ocupação do território é essencial ao desenvolvimento sustentável. Mas, é necessário estabelecer mecanismos inteligentes. Política tributária, incentivos fiscais, políticas de renda, pagamentos por serviços ambientais e, em muitos casos, subsídios estatais. Os benefícios são para todos, e os custos precisam ser distribuídos de forma que sejam vistos como justos pela sociedade. Lamentavelmente, as políticas ambientais têm sido conduzidas de forma isolada pelas instituições especializadas na matéria. O resultado são políticas de comando e controle. Políticas de coerção. Promotor, processo, polícia, multa, licença para qualquer atividade. E isso é muito ruim. Investimentos são postergados ou abandonados, empregos são perdidos, custos aumentam, a competitividade da economia brasileira se reduz, e os ganhos ambientais são inexpressivos. É hora de mudar. CESÁRIO RAMALHO DA SILVA PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

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Futuro é carne magra e macia O mercado mundial de carne bovina passa por transformações relacionadas às novas exigências do consumidor. Diante deste cenário, o futuro será de quem produzir carnes magras, macias e, obviamente, saborosas. Sendo assim, carnes mais gordurosas – geralmente originárias de raças europeias - perderão espaço para outros tipos, como as provenientes do gado zebu, matriz do rebanho nacional. Esta tendência é uma boa notícia para a indústria de alimentos do Brasil, que, pela combinação de tecnologia e matéria-prima de qualidade (gado zebu) conseguirá produzir uma carne magra, macia e suculenta. Este foi o principal recado que o professor-doutor Pedro Eduardo de Felício da

FEA/UNICAMP deu em palestra realizada em fevereiro na sede da Sociedade Rural Brasileira (SRB), na capital paulista. O evento foi uma iniciativa do Núcleo Feminino do Agronegócio (NFA), vinculado à Rural. Considerado uma das maiores autoridades em carne bovina no País, Felício discorreu sobre os principais aspectos técnicos que têm influência na qualidade da carne: segurança, higiene, cor, maciez, sabor e suculência. Desafio Segundo o professor, o Brasil tem um enorme a desafio a vencer em relação a boas práticas de produção agropecuária. De acordo com Felício, a cadeia produtiva da carne bovina precisa melhorar eficiência nas mais

Professor-doutor Pedro Eduardo de Felício da FEA/UNICAMP

diversas etapas de produção e distribuição. Ou seja, do manejo pré-abate, abate, resfriamento, passando pela desossa, estocagem, expedição, chegando à comercialização. Além das questões técnicas e comerciais, o professor lembrou também que não adiantará nada produzirmos a melhor carne do mundo se este processo agredir o meio ambiente.

Marketing verde: engodo ou legítimo? N a agenda do mundo dos negócios hoje um compromisso mais que presente é a sustentabilidade. Tema explorado de maneira recorrente na mídia – em alguns casos, para falar a verdade, sem muita propriedade sobre o assunto -, a sustentabilidade é muitas vezes confundida com o polêmico “marketing verde”. Para discutir a questão, resgatei trechos de uma reportagem de julho de 2010 da “Folha de S. Paulo” (intitulada “Produto sustentável ainda gera confusão”), que, apesar de alguns meses de publicação, continua extremamente atual. A matéria trabalha a tese de que “a oferta crescente de bens ecologicamente corretos esconde uma espécie de ‘lavagem verde’, na qual a sustentabilidade é mero marketing.” De cara, vemos que o marketing é abordado de maneira pejorativa, o que reforça a ideia que tenho de que o “marketing precisa de marketing”. De fato muitas empresas que se autointitulam sustentáveis não são mesmo. Só passam um verniz de ‘sustentabilidade’ em suas peças de comunicação, sem ter algo concreto, que justifique a adoção do discurso ‘sustentável’. Mas, por outro lado, empresas que tornam público o

que de fato fizeram em termos sustentáveis agem de maneira legítima. A reportagem assinala que uma das maiores dificuldades é conseguir diferenciar quem é realmente sustentável de quem só usa esse argumento para vender mais. A matéria cita pesquisa que incluiu a visita a 15 lojas (supermercados, farmácias, livrarias etc.) em busca de rótulos com apelo socioambiental. Foram encontrados 501 produtos de diferentes categorias, que, juntos, somaram 887 apelos. Por fim, a reportagem apura que empresas que usam argumentos sustentáveis em seus produtos devem ficar atentas para a desconfiança do consumidor em relação ao tema. Segundo diversas pesquisas, diz a matéria, a maior parte dos consumidores acredita que as empresas não transmitem suas informações de caráter socioambiental de modo apropriado. Ou seja: usam esse tipo de informação apenas para aparecer bem na foto e vender mais produtos. Bem, podemos pegar esta matéria e discutirmos a questão do “marketing verde”. Em que situações ele é legítimo e em quais é engodo? Por exemplo, convido o leitor a pensar em empresas que

parecem só divulgar que são “sustentáveis”, mas que não passam credibilidade com relação a isso. E, por outro lado, pensar em quais transmitem credibilidade. Sustentabilidade periférica O que vejo é que como a coisa é incipiente a maioria das empresas trata a sustentabilidade como um assunto, uma ação periférica, compartimentada, isolada, alheia à estratégia de negócios. Existem empresas que adotam o discurso sustentável apenas como subterfúgio para provocar aderência do tema à sua imagem. Por outro lado, outras abordam a questão de forma ainda tímida porque estão se familiarizando com o assunto antes de procurar colocar a sustentabilidade na espinha dorsal de seus respectivos negócios. Um ponto é que a sustentabilidade para ser legítima e realmente fazer diferença precisa estar nas empresas de maneira transversal, permeando todas as áreas e assim fazendo parte de tudo o que a empresa pensa e faz. O caminho é esse aí… Sustentabilidade custa Contudo, o produto que de fato tem algo de concreto e genuíno em termos de sustentabilidade a oferecer ainda é mais caro que produtos ditos “insustentáveis”. O preço tem peso significa-

tivo como critério de compra. Todavia, acredito que isso lentamente, de maneira gradual, vai mudar. As pessoas passarão a valorizar os atributos de sustentabilidade como fator de decisão de compra e ao mesmo tempo, a empresa que investe em processos e produtos sustentáveis passará a colher resultados em termos de redução de custos também, o que acarretará em preços mais competitivos. Não sei se estou sendo otimista demais, mas o item “redução de custos”, a partir da sustentabilidade, pode se refletir no preço futuramente. Ademais, hoje a sustentabilidade pode não ser um diferencial significativo para o consumidor final, mas para outros públicos já é. Por exemplo, para concessão de crédito, critérios sustentáveis são considerados. Vejo muito isso no agronegócio, um dos setores em que presto serviço na área de comunicação. Em algumas situações, Banco do Brasil e BNDES só dão crédito para empreendimentos que respeitam, por exemplo, a legislação trabalhista e ambiental. A despeito destas leis precisarem de ajustes, atrelá-las à liberação de recursos é um princípio de mudança. Já atualizar as leis é outra história… RONALDO LUIZ MENDES ARAUJO COORDENADOR DO NÚCLEO DE COMUNICAÇÃO DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

Sociedade Rural Brasileira Rua Formosa, 367, 19º andar – Anhangabaú - Centro CEP 01049-000- São Paulo – SP Tel: (11) 3222-0666 – Fax: (11) 3223-1780 www.srb.org.br

Jornalista Responsável: Ronaldo Luiz – ronaldo@srb.org.br Co-redador: Renato Ponzio

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Técnicos recomendam planejamento antecipado para reforma de pastagens

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O planejamento inclui a análise do solo, para se verificar a necessidade de adubação e correção, a escolha da forrageira que melhor se adapta às condições da terra e verificar a qualidade das sementes

A escolha da semente de capim a ser plantada na propriedade é fundamental para se obter pasto produtivo

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departamento técnico Matsuda, responsável pelo setor de sementes do Grupo Matsuda, está recomendando aos pecuaristas e produtores rurais que pretendam reformar suas pastagens, para que iniciem, na fase de transição das águas para a seca, o planejamento de todas as fases do trabalho. Segundo o engenheiro agrônomo do Grupo Matsuda, Marcelo Ronaldo Villa, esta é a fase em que o produtor “já pode começar a pensar no total da área que deseja reformar e planejar a melhor maneira de fazer isso, incluindo a análise de solo, para ver o nível de fertilidade e verificar a necessidade de adubar ou corrigir o solo”. Além disso, segundo Villa, o produtor também deve desde já, escolher a forrageira que melhor se adapte às condições da área, levando em consideração a fertilidade, a topografia e o clima, e de poder decidir também, com antecedência, quais as características das forrageiras mais adequadas, de acordo com a espécie ou a categoria animal que pretende colocar na nova área de pastagem reformada”, esclarece. Marcelo Villa explica que “as pastagens brasileiras, na maioria das vezes, são estabelecidas nas áreas menos nobres das propriedades, em locais de topografia irregular, em solos de baixa fertilidade e ácidos, enfim, em locais que não são utilizados e não servem para a agricultura”. Além dos diversos erros de manejo, ainda segundo o técnico, essas pastagens se encontram degradadas nos mais variados estágios e as principais causas são “a perda da fertilidade natural do solo, a infestação por ervas daninhas, a infestação por insetos, erosões, problemas com algumas doenças e escolha inadequada da espécie forrageira, o que causa problemas de adaptação edafoclimática da espécie escolhida”. De acordo com Marcelo Ronaldo Villa, é possível se classificar a degradação das pastagens “em vários níveis diferentes, cabendo ao agrônomo identificar esse estado e propor as medidas corretivas necessárias. Mas tudo tem que estar no planejamento, para que, a partir do segundo semestre, quando se inicia a estação das águas, a reforma ou recuperação possa de fato ser iniciada.”. Para o técnico, a degradação das pastagens pode ser entendida como “a evolução de um processo que leva à perda das qualidades mínimas necessárias para a boa nutrição dos animais e – o que também é grave – a de se manter protegida dos ataques de pragas e doenças”.

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Pasto degradado: perda da fertilidade natural do solo

Pastagem infestada por ervas daninhas

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As sementes corretas

Preparo adequado do solo: importante para boa pastagem

A escolha da melhor semente de capim para ser plantada na propriedade é um ponto fundamental para se formar uma boa pastagem. Essa escolha é, muitas vezes, relegada ao segundo plano, segundo o técnico da Matsuda, para quem “os gastos com sementes de boa qualidade representam menos de 10% do custo total da formação da pastagem. O preço médio para se formar uma boa pastagem é calculada em R$ 1 mil por hectare, mas que pode variar conforme os níveis de fertilidade do solo, exigências da forrageira e o nível de produtividade desejado”. A adoção dessa prática aumenta a perenidade dos pastos melhorando a oferta e qualidade da forragem aos animais. Marcelo Ronaldo Villa chama a atenção dos produtores usuários de sementes de forrageiras para a Legislação que regulamenta os padrões mínimos destas sementes. A Instrução Normativa nº 30 de 21/05/08 determina que a pureza e a germinação mínimas, seja de 60%. Esta alteração é bastante importante, uma vez que esses novos padrões aumentam significativamente a qualidade das sementes de forrageiras. O técnico alerta ainda para o perigo das “sementes piratas” que, apesar de serem mais econômicas, possuem baixa qualidade, tornando o preço caríssimo no final. Essas sementes piratas podem contaminar a propriedade com ervas daninhas, doenças, insetos e outras pragas que comprometem toda a atividade da propriedade. Marcelo Villa destaca o ótimo trabalho de fiscalização que o Ministério da Agricultura vem realizando, “o que tem contribuído significativamente para coibir as sementes piratas do mercado e checar a qualidade das comercializadas”, finaliza.

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Por que os gatos brincam? Além da própria diversão gerada pela brincadeira, para o gato, brincar é questão de sobrevivência SYLVIA WACHSNER

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brincadeira faz parte do aprendizado e da socialização do animal, mas, para os felinos, o divertimento também é a forma de manter o instinto da “caça”. À elegância do passo manso e silencioso, os felinos espreitam suas presas e sorrateiramente dão o bote, distinguindo bem as particularidades de cada vítima. Gato que é gato explora o ambiente, desenvolve a concentração, aprimora o ataque e a defesa e se torna ativo por meio das brincadeiras. Apesar de domesticados, as brincadeiras que estimulam o instinto de “caça”, geram entretenimento As brincadeiras estimulam o instinto de “caça” ao felino. Sem percee manutenção de suas estruturas ber, essa atividade também é a orgânicas”. razão da saúde física do animal A veterinária explica que a inque, ao exercitar-se, evita o disposição dos gatos para a brinestresse e o ganho de peso. cadeira pode indicar um problema Suplementos na de ordem emocional, como o alimentação dos felinos estresse. “O felino se distrai brinSegundo a veterinária do lacando e isso gera bem-estar a ele. boratório Vetnil, Isabella VincoQuando o felino não se sentir atraletto, é importante considerar suído pelas brincadeiras ou brinqueplementos na alimentação dos dos oferecidos pelo proprietário, felinos. “Animais ativos precisam este comportamento requer atenda reposição de vitaminas essenção especial e uma avaliação veteciais, além de minerais e aminorinária mais detalhada, para se ácidos, como os encontrados no obter um diagnóstico preciso”, saAminomix Pet, para a construção lienta Vincoletto.

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Suplementação Os animais necessitam de nutrientes para diversas funções vitais, por isso a importância de oferecer a eles a reposição de vitaminas que o corpo requer Animais de estimação requerem vitaminas ao longo da vida. Quando filhotes, a suplementação é essencial para a formação dos tecidos e o crescimento. Na fase adulta, as necessidades mudam e o que deve ser considerado é a quantidade de nutrientes que o animal precisa para manter as funções metabólicas e o bom funcionamento do organismo.

Exigências nutricionais De acordo com a veterinária do laboratório Vetnil, Isabella Vincoletto, é importante oferecer uma ração balanceada ao pet, rica em nutrientes. No entanto, esclarece a especialista, os animais apresentam diferentes exigências nutricionais e estas variam de acordo com a espécie, a idade, o estado fisiológico, o sexo do animal, as condições do ambiente em que vivem, o quanto de atividade física que praticam, entre outras variáveis. “As diversas fases da vida requerem ao corpo di-

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Camas, colchonetes e coleiras com estampas inspiradas na Selva As camas e colchonetes são laváveis e atóxicos


ntação animal: por que e quando fazer? Segundo Vincoletto, em animais atletas, idosos ou prenhes, pelo fato de a perda energética ser maior, há necessidade de cuidados especiais quanto à suplementação. “Suplementos ricos em calorias, como o Nutralife, da Vetnil, são indicados para a melhora nutricional de pequenos animais. Além de estimular o apetite, a suplementação otimiza a performance de animais em treinamento e repõe nutrientes indispensáveis a fêmeVETNIL

ferentes níveis de vitaminas, aminoácidos, minerais e outros componentes essenciais, daí a importância da suplementação”, explica.

as prenhes ou lactantes. Outros suplementos, como o Aminomix Pet, também do laboratório Vetnil, fornece níveis ideais de minerais, vitaminas e aminoácidos, essenciais para a saúde do pet”.

Produtos desenvolvidos para animais A especialista lembra também que o indicado é utilizar produtos desenvolvidos especialmente para os pets para a suplementação, pois a administração de vitaminas para uso humano pode ser perigosa, levar à intoxicação e até à morte. Por isso, suplementar a dieta dos animais com produtos de alta qualidade é a melhor alternativa para garantir o bem-estar e todos os nutrientes essenciais aos animais de estimação.

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... os suplementos Nutralife, rico em calorias

PET BAG

Animais atletas precisam de cuidados especiais como...

As caminhas vêm com travesseirinho para maior conforto dos cães

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nspirada na selva, a nova coleção de camas, colchonetes e coleiras da Pet Bag conta com estampas de onça e tigre e são encontradas no tamanho P, M, G. Confeccionadas com o tecido conhecido como Suede, aos produtos da Pet Bag proporcionam muito conforto aos Pets, são laváveis e atóxicos. Para os pets descansarem melhor, todas as caminhas vem com travesseirinho super macio. Para completar a coleção, a grife lançou as coleiras, também, com estampas de tigre e onça, feita com o mesmo tecido, além dos detalhes com metal em dourado que não enferrujam. As coleiras são reforçadas para dar mais segurança aos donos dos pets.

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Novos híbridos contribuem para a racionalização do uso de defensivos agrícolas e aumento de produtividade, resultando em maior renda ao produtor

Maracujazeiro-azedo: menos defensivos e maior produtividade Gigante Amarelo: variedade tem alta produtividade de frutos

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to de aproximadamente 20 pesquisadores. A parceria com a Embrapa Transferência de Tecnologia tem permitido avaliações destes híbridos em Unidades Demonstrativas em diferentes regiões do Brasil, principalmente no Distrito Federal e nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso, Pará e Paraná, além da realização de Dias de Campo. A produção e venda das sementes híbridas são realizadas pela Embrapa Transferência de Tecnologia.

Gigante Amarelo: alta produtividade O híbrido de maracujazeiro-azedo BRS Gigante Amarelo é de alta produtividade. Nas condições do Distrito Federal, por exemplo, a produtividade tem alcançado 42 t/ha no primeiro ano, mesmo com ataque de virose. No segundo ano de produção, a produtividade fica em torno de 20 a 25 t/ha, dependendo do manejo. A coloração externa dessa variedade é amarelo brilhante e a polpa é de

cor amarelo forte (maior quantidade de vitamina C). Tem boa tolerância à antracnose e bacteriose, mas é susceptível à virose, verrugose e às doenças causadas por patógenos de solo. Não há informação sobre maiores danos causados por pragas.

Ouro Vermelho: alto teor de vitamina C A BRS Ouro Vermelho é o híbrido de maracujazeiro-azedo com maior quantidade de vitamina C, com a polpa de cor amarelo forte. A produtividade nas condições do Distrito Federal tem ficado em torno de 40 t/ha no primeiro ano, sem a polinização manual. É tolerante a doenças foliares, incluindo a virose. Em diferentes locais, tem-se comportado como tolerante a doenças causadas por patógenos do solo.

Sol do Cerrado: tolerância a doenças foliares O híbrido BRS Sol do Cerrado também tem coloração externa amarelo brilhante e coloração de polpa amarelo for-

GUSTAVO PORPINO

s produtores de maracujá podem contar com variedades de frutos com maior resistência e tolerância a doenças, menor dependência da polinização artificial, maior longevidade, vigor e alta produtividade. Os varejistas têm agora produtos mais resistentes ao transporte e que podem ficar mais tempo nas prateleiras. Para o consumidor, os principais atrativos são a maior quantidade de vitamina C nos frutos e bom rendimento da polpa. A Embrapa disponibilizou os híbridos de maracujazeiro-azedo BRS Gigante Amarelo, BRS Sol do Cerrado e BRS Ouro Vermelho, que irão beneficiar toda cadeia produtiva do maracujá. Estes híbridos de maracujazeiro contribuem para a racionalização do uso de defensivos agrícolas e o aumento de produtividade, o que resulta na diminuição dos custos de produção da cultura com potencial aumento da renda do produtor e diminuição do preço do produto para o consumidor. Com a redução do uso de defensivos agrícolas também é esperada a redução dos riscos à saúde dos produtores rurais e dos consumidores, além do aumento da qualidade mercadológica devido à menor presença de resíduos em frutos.

Impactos ambientais Os impactos ambientais também são reduzidos no processo produtivo do maracujá. A diminuição do uso de defensivos agrícolas, pela incorporação de resistência múltipla a doenças, além de diminuir os resíduos de agroquímicos no solo, no ar e na água resultará na melhoria e otimização do uso de recursos naturais pela maior produção por unidade de área. Os híbridos são o resultado de 15 a 20 anos de pesquisas desenvolvidas pela Embrapa Cerrados e diversas instituições parceiras e o envolvimen-

Gigante amarelo tem polpa amarelo forte

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CFABIO FALEIRO / EMBRAPA CERRADOS

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Ouro Vermelho é o híbrido de maracujá azedo com maior quantidade de vitamina C

te. A produtividade nas condições do Distrito Federal, assim como o BRS Ouro Vermelho, chega a 40 t/ha no primeiro ano, sem o uso de polinização manual. No segundo ano de produção, a produtividade fica em torno de 20 a 25 t/ha. Tem tolerância a doenças foliares, como bacteriose, antracnose e virose, mas é susceptível a doenças causadas por patógenos de solo. Ainda não foram constatados maiores danos causados por pragas.

Manejo Nas condições do Distrito Federal, normalmente, os híbridos são irrigados e plantados no período de maio a julho, com espaçamento de 2,5 m x 2,5 m. Têm floração o ano todo, com maior concentração na

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época seca. Há indicadores de adaptação dessas cultivares na altitude de 376 a 1.100 m e plantio em qualquer época do ano (quando irrigado), em diferentes tipos de solo. Não se adapta a regiões sujeitas a geadas. Os três híbridos são resistentes ao transporte, permitem maior tempo de prateleira, bom rendimento da polpa, e seus frutos são para indústria e mesa.

Melhoramento genético O uso de espécies silvestres tem mostrado grande potencial para melhoramento genético, principalmente como fontes de genes de resistência a doenças. De acordo com o pesquisador da Embrapa Cerrados, Fábio Faleiro, nos últimos anos tem-se observado

problemas sérios com várias doenças na cultura do maracujazeiro, as quais depreciam a qualidade do fruto, diminuindo seu valor comercial, e reduzem a produtividade e a longevidade da cultura. O uso de variedades resistentes e outras técnicas de manejo integrado são medidas mais eficazes, econômicas e ecologicamente corretas de controle de doenças. O desenvolvimento de variedades resistentes a doenças é estratégico visando à redução de custos de produção, segurança de trabalhadores agrícolas e consumidores, qualidade mercadológica, preservação do ambiente e sustentabilidade do agronegócio.

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Maracujás ornamentais: exuberância, beleza e cores vibrantes

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flor do maracujá, também conhecida como flor da paixão, tem mais motivos para inspirar poetas e paisagistas na ornamentação de poemas e crônicas e, claro, de jardins, pérgulas e borboletários. O cruzamento de duas espécies da planta, conseguido por pesquisadores da Embrapa resultou em três híbridos com flores de formação e coloração diferenciadas. As novas variedades chegaram ao mercado no segundo semestre de 2008. Os híbridos BRS Estrela do Cerrado, BRS Rubiflora e BRS Roseflora são as primeiras variedades de maracujazeiro ornamental apresentadas no Brasil. Foram desenvolvidos pela Embrapa Cerrados e Embrapa Transferência de Tecnologia, ambos de Brasília-DF, e são uma alternativa inovadora para o mercado de plantas ornamentais.

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Os maracujás ornamentais são indicados para paisagismo por terem flores exuberantes, belas e com cores vibrantes...

Paisagismo Os três híbridos são indicados para o paisagismo em função da exuberância, beleza e cores vibrantes de suas flores, aliadas à rusticidade observada em condições de cultivo. Florescem continuamente com picos de junho a novembro nas condições do Distrito Federal, com grande quantidade de flores. Têm como característica a resistência às principais doenças do maracujazeiro, especialmente as de raízes. A polinização manual aumenta a produção dos frutos, que são pequenos e ácidos, podendo também ser utilizados para sucos. As três novas variedades têm potencial para utilização como porta-enxerto para o maracujazeiro comercial.

... entre eles está o híbrido Estrela do Cerrado

O híbrido BRS Estrela do Cerrado foi obtido a partir do cruzamento entre as espécies silvestres Passiflora coccinea Aubl., de flores vermelhas, e Passiflora setacea DC., de flores brancas. Já as plantas do BRS Roseflora e BRS Rubiflora foram obtidas a partir do retrocruzamento entre BRS Estrela do Cerrado e Passiflora setacea e Passiflora coccinea, respectivamente. LILIANE CASTELÕES – EMBRAPA CERRADOS VALÉRIA COSTA – EMBRAPA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA

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JACIRA S . COLLAÇO MÉDICA VETERINÁRIA

Água, veículo de saúde Tanto hoje como há 30 anos uma preocupação não envelhece: a limpeza dos alimentos que serão consumidos em nossos lares. Mas tal processo não prescinde da qualidade da água, que pode ser a própria fonte de contaminação de verduras, frutas e qualquer outro componente de nossa alimentação. Uma das “armas” contra contaminantes biológicos da água é o velho e conhecido cloro, nome popular dos produtos usados da panela à piscina – mas

que agora auxilia até o produtor orgânico. Há três anos investindo na expansão e modernização da empresa carioca Acuapura, o administrador João Pedro Cabral de Menezes abraçou o conceito de higienização de alimentos, incluindo os orgânicos, através do tratamento da água. Em entrevista à Lavoura, Menezes conta sua trajetória como diretor da empresa e seus projetos, sempre no intuito de manter a segurança alimentar para o consumidor.

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A Lavoura - Como foi a criação do aqui, apenas sofreu uma ampliação. Hoje, tidade e modo correto de uso – isso porClor-in? temos capacidade para crescer 15 vezes que há concentrações diferentes, como, O produto foi elaborado há 30 anos o volume de produção. Além disso, é de por exemplo, nas pastilhas. Desta maneinos laboratórios da Aeronáutica e era fácil acesso aos funcionários. ra, por exemplo, a diferença fundamendestinado a tratar a água dos soldados. A Lavoura - Como pesquisa para tal do Clor-in para o antigo hábito de laQuando a legislação para o setor mililançar novos produtos? var as verduras com vinagre é a segurantar de produção foi alterada, a patente Temos um laboratório de desenvolviça de que, após cerca de 20 minutos, do Clor-in foi comprada por meu pai, mento de novos produtos e técnicos prómicro-organismos causadores de doenças que a alterou para o tratamento de prios, o que é requerido pela Anvisa, além são eliminados. água para consumo humano há 17 de a consultoria nos ajudar na identificaA Lavoura - A Acuapura produz anos. Investimos inicialmente no uso ção de novas oportunidades. sua matéria-prima? industrial do produto, com fórmulas A Lavoura - Como o consumidor Não, importamos o componente prinmais concentradas para grandes volupode identificar o produto mais adecipal, que é o di-cloro-s-triazinetrione de mes, e há 10 anos o foco voltou-se para quado às suas necessidades, já que sódio, um derivado clorado de origem orprodutos de uso doméstico. Já em 2006 há diversas aplicações? gânica totalmente inócuo à saúde dos anieste último tipo superou o uso industriO principal cuidado que tivemos no mais e seres humanos e que não tem proal. Assim, o produto tem uma aplicação redesenho das embalagens foi facilitar dução nacional. Contudo, não há dificulbem diversificada, seja no camping, na essa identificação para os consumidores. dade de importar o princípio ativo, pois cozinha e até para tratar água do proDesde então, os produtos trazem explicaexiste uma boa variedade de fornecedodutor que use uma cisterna ou caixa res. Quanto às fórmulas, ela são próprições na embalagem em termos de quand’água, bem como alimentos em grande escala nos restaurantes. A Lavoura - Explique o processo de reestruturação da empresa. Contratamos a empresa RFDATA Consultoria de gestão e marketing e, com a orientação do consultor Luiz Fillipe Ribeiro, que também é engenheiro químico, mudamos alguns conceitos. Dentre outras ações, fizemos uma reavaliação do nosso portfólio de produtos e redesenhamos as embalagens, já que as antigas davam uma ideia de medicamentos, além de buscarmos novas possibilidades de expansão do negócio. A Lavoura - Foi vantajoso instalar uma fábrica em plena região urbana da cidade do Rio de Janeiro? Sim, a fábrica sempre se localizou A boa qualidade microbiológica da água é imprescindível no preparo dos alimentos 44

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de negócios de varejo, com vendas em farmácias e supermercados. Estes últimos são o nosso foco, e já chegamos a 500 lojas. Posteriormente, planejamos atingir Minas Gerais e São Paulo. Agora vemos uma oportunidade também no segmento de restaurantes. Neles, há uma grande perda Diversas embalagens do produto expostas durante a BioFach de alimentos, ainda América Latina, em SP mais em restauranA Lavoura - Como a empresa intes que cobram por quilo. Tais locais têm veste em divulgação? alto giro de insumos, e acredito que posProcuramos meios alternativos: mansamos atendê-los, pois já elaboramos uma temos um site, que vem sendo remodelaestratégia focada nos pequenos restaudo. Divulgamos os produtos em revistas rantes. especializadas e também aumentamos o A Lavoura - O que mais encarece trabalho de promoção nos supermercados, a manutenção do seu negócio? colocando expositores especiais para orgaA folha de pagamento, transporte e nizar e destacar o produto nas bancadas. impostos vêm mais ou menos em sequênA Lavoura - E quanto a distribuicia, bem como a divulgação. Para esta dores e/ou vendedores? É difícil última é preciso promotores, com um cusencontrá-los? to um pouco alto de manutenção. Sim, pois o reconhecimento da importância de se tratar a água e alimentos – a higienização – por parte da população em geral ainda é novo. Além disso, as pessoas não têm uma cultura de prevenção de doenças por meio de produtos como o Clor-in. A Lavoura - A Acuapura participa de feiras e eventos? Sim, mas observo que o resultado da maioria, para a empresa, não se reverte em negócios fechados a curto prazo. Contudo, eventos assim servem de aprendizado. A Lavoura - O que lhe atraiu em sua atividade? Deseja manter-se nela ou vê oportunidades em outros setores? Pretendo continuar pois vejo que o mercado de tratamento de água é muito A Lavoura - Existem planos de examplo e importante, bem como a higienipansão da empresa? zação de alimentos. O Brasil ainda tem Sim, mas no segmento de varejo que80% das internações no sistema público remos primeiro nos fortalecer na cidade de saúde relacionadas a doenças de veido Rio para depois pensar numa expanculação hídrica. Dessa maneira, acredito são para o interior do estado e o restante que não atingimos nem 1% das possibilido país. Isso está relacionado às nossas dades do mercado. Tenho ânimo também limitações orçamentárias para a distripor trabalhar em algo que é para o bem buição e divulgação. Já para os segmenda população, sabendo que tenho o metos profissionais como indústrias, lhor produto – talvez apenas gerar lucro prestadores de serviços e produtores de não me trouxesse tanta satisfação. orgânicos temos planos mais ambiciosos COLABOROU FREDERICO MOURA de curto prazo.

O Brasil tem 80% das internações no sistema público de saúde relacionada a problemas hídricos.

as da empresa e adequadas para cada fim, como mencionei. A Lavoura - Como foi o processo de certificação do Clor in? Demorado, pois simplesmente não existia classificação para o produto, que é inovador. Assim, levamos cinco anos comercializando com permissão, mas agora estamos devidamente certificados pelo IBD. A Lavoura - Qual o limite de uma fórmula química ser considerada própria para uso em orgânicos? De acordo com a lei brasileira, o Clor in foi classificado como “insumo aprovado” para uso na sanitização de produtos orgânicos. Suas diversas apresentações têm permissão para ser usadas em alimentos orgânicos pois não deixam resíduos após eliminar os micro-organismos contaminantes e prejudiciais à saúde. Diferentemente dos derivados clorados inorgânicos (hipocloritos), os produtos Clor in não formam os chamados trihalometanos, substâncias cancerígenas produzidas pela reação do cloro inorgânico com as substâncias orgânicas contidas na água. Outras diferenças importantes do Clor in são a sua alta estabilidade, concentrações de cloro padronizadas, além de seu princípio ativo atóxico – o que geralmente não ocorre com alguns produtos comuns no mercado. Em termos de meio ambiente, a substância usada é facilmente degradada, tendo uma concentração de metais pesados 10.000 vezes abaixo dos limites preconizados pelo Conama 20 (documentação que determina os padrões de potabilidade da água). Por fim, se usado nas doses recomendadas, o Clor in também não altera as características organolépticas da água e dos alimentos, como sabor, odor ou cor. A Lavoura - A concorrência com os produtos químicos comuns é forte? Como buscam sua fatia de mercado? Há concorrência com outros, mas a maioria é à base de derivados inorgânicos e eles não têm certificação. Quanto à fatia de mercado, na verdade, há vários mercados a serem explorados. Assim, buscamos garantir a presença de nossos produtos em lojas, supermercados e farmácias, além do atendimento direto a algumas empresas. No segmento de insumos para produtos orgânicos, ainda somos os únicos com certificação, até onde sei. A Lavoura - Como está a distribuição de seus produtos e negócios no Rio de Janeiro? A cidade concentra 80% do volume

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POR

JACIRA S. C OLLAÇO

DOWN AGRO

A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e o Centro de Arroz e Feijão estão desenvolvendo o primeiro feijão transgênico do mundo. A nova variedade de feijão foi modificada para resistir ao vírus do mosaico dourado, o pior inimigo dessa cultura na América do Sul. No Brasil, a doença está presente em todas as regiões e, se atingir a plantação ainda na fase inicial, pode causar perdas de até 100% na produção. A iniciativa é resultado de mais de 10 anos de pesquisa e, segundo a Embrapa, marca um feito inédito no Brasil: são as primeiras plantas transgênicas totalmente produzidas por uma instituição pública de pesquisa. Além dos centros da Embrapa Arroz e Feijão e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, as análises de biossegurança envolveram os centros da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Embrapa Agrobiologia e a Universidade Estadual Paulista (Unesp). Para chegar às variedades geneticamente modificadas, os pesquisadores Francisco Aragão, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e Josias Faria, da Embrapa Arroz e Feijão, utilizaram quatro estratégias de transformação genética. A alteração principal foi fazer com que a planta produzisse uma molécula de RNA – que pode catalisar importantes reações biológicas, uma delas sendo um mecanismo de defesa contra o vírus mosaico dourado. “Mimetizamos o sistema natural”, diz Aragão, explicando que a grande vantagem dessa técnica é que não há produção de novas proteínas nas plantas. Desta maneira são evitados sintomas alérgicos ou tóxicos, além da vantagem da resistência a várias estirpes do mesmo vírus. As pesquisas a campo com o feijão transgênico da Embrapa são realizadas desde 2006 em Sete Lagoas (MG), Londrina (PR) e Santo Antônio de Goiás (GO), regiões de alta produção no país. Em todos

EMBRAPA

Mais uma pesquisa inovadora da Embrapa

Aparência saudável do feijão... ...cujas plantas podem ter perdas de até 100% se forem infestadas pela mosca-branca, transmissora do vírus do mosaico dourado

os casos, os grãos foram infectados naturalmente pelo mosaico dourado. Os transgênicos, diz Aragão, não apresentaram sintomas da doença. Os convencionais tiveram de 80% a 90% das plantas afetadas. Contudo, para 2011 está prevista a liberação para cultivo comercial de feijão, que aguarda o parecer positivo da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Fonte: Globo Rural Online

Uma conferência especial para o amendoim FITOSAÚDE

Em Brasília, em junho, cerca de 100 cientistas de 10 países dedicados à biotecnologia aplicada ao amendoim se reunirão pela primeira vez no Brasil e na América do Sul, na V Conferência Internacional da Comunidade Científica de Amendoim. Pesquisadores do Brasil, Argentina, China, Estados Unidos, Índia e outros países discutirão a importância de ferramentas modernas como biotecnologia e genômica para aumentar a produtividade, a qualidade e a sePesquisadores procuram aumentar a produtividade gurança das pesquisas sobre a do amendoim planta. A Conferência é resultado de uma iniA Embrapa Recursos Genéticos e Biciativa denominada Avanços em Arachis otecnologia sediará o evento, cuja imporatravés de Genômica e Biotecnologia tância é explicada por uma das coorde(AAGB), promovida pela comunidade cinadoras da instituição, Soraya Bertioli. entífica internacional para facilitar a co“O amendoim é uma leguminosa de granmunicação entre cientistas e indústria de importância na alimentação humana no desenvolvimento de novas variedades e o gênero é originário do Brasil. Por isso, de amendoim com maior qualidade e a realização desse evento no país marca aceitação pelo consumidor. Segundo uma espécie de volta às origens. Tem reBertioli, apesar de ser uma cultura muialmente um significado muito especial to importante do ponto de vista econômipara nós, cientistas”.

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co, as informações sobre o cultivo de amendoim estavam muito dispersas no mundo. Por isso, a iniciativa de criar a AAGB foi determinante, pois vem possibilitando a troca de experiências entre os países em relação às pesquisas de amendoim, com foco em biotecnologia e genômica. A pesquisadora revela que a base genética da cultura de amendoim é restrita, por isso serão discutidas ferramentas para sua ampliação, tendo como objetivo tornar essa cultura mais competitiva. Uma das pesquisas se dedica ao cruzamento com parentes silvestres a partir de ferramentas moleculares, aumentando a produtividade por hectare sem ampliar a fronteira agrícola. Para ampliar essa discussão, a Conferência terá sessões técnicas e palestras envolvendo várias áreas do conhecimento, como: recursos genéticos, diversidade alélica, melhoramento, recursos genômicos, genômica comparativa, estresses bióticos e abióticos, entre outros. As inscrições estão abertas (em inglês) através do site da Cenargen, http:/ /www.cenargen.embrapa.br/aagb2011/ aagb06_registration.html.

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Fonte: Embrapa


Almanaque do Campo N

inguém valoriza aquilo que desconhece. Esse pensamento motiva desde sempre minha carreira pública ligada ao campo. Acredito que a sociedade urbana somente vai valorizar nossa agricultura quando receber, na linguagem adequada, as devidas informações sobre a produção agropecuária. Engenheiro agrônomo de formação, eu cultivo há anos o ofício de comunicador escrevendo e falando por aí afora, nas salas de aula e nos congressos, na política e nos veículos de comunicação do país, como o jornal O Estado de São Paulo. Dessa minha militância surgiu a ideia de escrever o Almanaque do Campo, meu novo livro. Sempre me chamou a atenção o enorme grau de desconhecimento dos urbanóides sobre a agenda rural. Seja com respeito aos importantes dados da economia agrária, seja sobre fatos e curiosidades banais dos cultivos e das criações. Assim, resolvi selecionálos, colocando-os num livro de cabeceira. Lembro-me, quando morava na fazenda Sta Clementina, em Araras, no interior paulista, dos deliciosos almanaques devorados pela leitura ávida de quem, ainda criança, queria saber mais sobre o mundo no qual vivia. Naquela época, entre os anos de 1950 e 60, o ruralismo ainda imperava. O grande escritor Ignácio de Loyolla Brandão,

que me presenteou com a “orelha” do livro, teve as mesmas recordações. Depois disso, já crescido e formado, eu sentia que até as conversas dos agricultores ou de muitos técnicos do setor deixavam a desejar quando falavam de nós mesmos. Faltava, julgava eu, certa consistência nos discursos que ouvia em defesa da roça. Estudioso que sempre fui, pretendi dar mais

substância à nossa prosa. Mais tarde, fazendo meu doutorado na FGV/SP, espantei-me definitivamente com o desconhecimento de meus colegas, notórias pessoas da cidade, sobre o meio rural brasileiro. Chamavam-me, eles, de caipira, pela minha cultura e meu linguajar um pouco, não muito, carregado. Eu, de meu lado, os considerava verdadeiros caipiras urbanos. Eles não sabiam nem se batata dá em árvore ou no chão! O Almanaque do Campo nasceu dessa minha angústia em transmitir para as pessoas da cidade o básico da labuta agrícola, incluindo as duas vertentes básicas, animal e vegetal. O livro contém, através de verbetes, noções elementares sobre tudo o que se cria e se planta na terra. Quer saber a diferença entre o burro e o cavalo, ou do pato com o marreco? A resposta está no Almanaque do Campo! Como eu disse, o Almanaque serve também para a nossa turma. Informações úteis sobre onde e como se produz, a origem das espécies, dados sobre mercado externo, lendas e curiosidades, enfim, espero ter lançado uma leitura útil e agradável a todos. Conhecendo melhor sobre o campo, talvez nossa sociedade o valorize mais. Afinal, sem o árduo trabalho dos produtores rurais, as cidades não teriam crescido. Não haveria comida, e nem a cerveja existiria! Maiores informações: www.agrobrasil.agr.br Xico Graziano

A história do queijo, a obra-prima do leite Q

ue tal um alimento feito de vísceras de tatus e veados que custava 4 mil reais, em dinheiro de hoje, era transportado por burros, em jacás forrados com folha de bananeira e na Semana Santa substituia a carne no cardápio das caravelas? Pois bem, essas são algumas das passagens curiosas do queijo no Brasil, como narra João Castanho Dias em Uma longa e deliciosa viagem. Com cerca de 200 ilustrações, em formato grande e capa dura, 172 páginas, é o primeiro livro da história do queijo no país, no qual entram nomes ilustres, como do alemão Joan Nieuhof, inventor da mistura café com leite no século 17. O autor informa que a primeira queijaria brasileira foi fundada na Bahia, em 1581, por padres jesuítas, os mesmos que tiveram lotes de queijos expropriados pelo Marquês de Pombal quando ele os expulsou do Brasil. Maurício de Nassau também entra

no livro como importador de queijos da Holanda para seu exército de mercenários sitiado no Recife e como importador de gatos europeus para combater ratos

nos armazéns de comida na cidade. O primeiro surto no país do produto foi no ciclo do ouro em Minas Gerais, com os garimpeiros escondendo pepitas dentro dos queijos para não pagar impostos cobrados por Portugal. O segundo surto foi na vinda ao Rio de Janeiro da corte de Dom João VI que, amante de queijos, contribuiu para enraizar o hábito do seu consumo no país. “É uma história que passa longe de São Paulo, então uma cidade de pobres, sendo os queijos para os ricos, como dizia o padre Anchieta”, explica o autor que apresenta, com exclusividade, as dez maiores queijarias e os cinco queijos terroir do Brasil. Lançamento da Editora Barleus por R$ 130,00, com frete incluso para todo o Brasil, e patrocínio da Globalfood pela Lei Rouanet. Pedidos para GV8 Web & Marketing, tels (11) 2858-4864, (21) 4063-4142 e (14) 3372-7454. Mais sobre o livro em www.editorabarleus.com.br

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HUSQVARNA

Equipamentos para granjas A Husqvarna desenvolveu o Kit Aviário, composto pelo Motocultivador TR 430, um novo modelo que chega ao mercado com motor mais potente e eficiente; e por duas opções de Sopradores, o 125BVx e 356BTx – responsáveis pela limpeza interna e externa do aviário. Segundo o fabricante, o TR 430 é ideal para revolver a cama aviária e deixar a superfície mais fofa, evitando assim a formação de calosidades no frango, problema que prejudica produtividade do aviário. Com a ação do equipamento, a qualidade da carne do frango é aprimorada, valorizando a produção do criador, explica a Husqvarna. Já os Sopradores são ideais, informa a empresa, para limpeza de penas, impurezas e até mesmo da refrigeração interMotocultivador TR 430: baixos ruídos e menor emissão de poluentes na. A escolha do modelo vai de acordo com as dimensões do local, pois lugares de maior extensão necessitam da versão mais ta, segundo o fabricante, em 70% a vida útil das maravalhas, de seis para potente do equipamento que, no caso, trata-se do modelo 356BTX. dez lotes de frango, reduzindo o custo em 40%. E esclarece que o motoculDe acordo com a Husqvarna, grande parte das granjas no país tem tivador revolve a terra, deixando-a livre de doenças e permitindo com que adotado o novo método de tratamento dos frangos, estimulados pela faciseja utilizada por mais tempo, além de fazer com todo o material vire adulidade na operação e pelo retorno financeiro. Só o motocultivador aumenbo, não sendo necessário jogá-lo fora, como é feito normalmente.

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Seguro agrícola inédito no Brasil Novidade cobre o risco da perda de receita pela ação combinada de riscos climáticos e/ou variação no preço da soja

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O equipamento é ecologicamente correto e não agride a saúde da família, além de ser uma tecnologia genuinamente brasileira. A Amicus Inovações lançou o Zen Repelente Eletrônico Zen Repelente Eletrônico: em sua gama de pro- tecnologia brasileira dutos inovadores. O produto é capaz de repelir pernilongos, ratos e morcegos sem o uso de produtos químicos. Trata-se de uma tecnologia inovadora, que por meio de um potente ultrassom repele essas pragas de forma eficiente, além de ser atóxico e antialérgico. Para utilizar o equipamento, basta possuir tomadas 110V ou 220V e plugar o Zen Repelente Eletrônico. O ultrassom utilizado no Zen é imperceptível àaudição humana. É totalmente seguro à saúde das pessoas e animais de estimação, podendo ser usado sem receio, explica o fabricante. Segundo a Amicus Inovações, outra vantagem do Zen Repelente é que ele não produz interferência em outros aparelhos eletroeletrônicos e não é necessário trocar o refil do equipamento. O consumo de energia é baixissimo segundo o fabricante e consome até 100 vezes menos energia que uma lâmpada. A empresa ainda oferece 2 anos de garantia do produto. Mais informações: www.amicus.com.br IC

A pecuária leiteira está de olho na qualidade. E para apoiar a evolução do setor, o Laboratório Biovet lançou O Quallyxine tem dois Quallyxine, antibióticos conjugados intramamário para vacas em lactação, indicado para o tratamento de mastites ambientais e contagiosas (agudas e crônicas). O fabricante esclarece que o Quallyxine leva em seu princípio ativo dois antibióticos conjugados (Cefalexina e Neomicina), que potencializam o tratamento num período curto, de apenas dois dias. A Cefalexina atua no exterior da bactéria. Impede a formação da parede bacteriana e promove um rápido controle da infecção. Por sua vez, a Neomicina atua no interior da bactéria. Ao interromper a síntese de proteínas bacterianas, elimina o problema. Segundo a Biovet, outro componente a destacar em Quallyxine é a Prednisolona, que tem potente ação antiinflamatória e atua na redução do inchaço, da dor e da febre local Além disso, para facilitar a aplicação e diminuir a possibilidade de contaminações, as embalagens de Quallyxine acompanham seringas estéreis, embaladas uma a uma para maior segurança e eficácia.

Repelente eletrônico para pernilongos, ratos e morcegos AM

LABORATÓRIO BIOVET

Medicamento contra a mastite

A UBF Seguros lançou no mercado brasileiro um produto do seguro agrícola inédito para a cultura de soja. A novidade é que a apólice, cobre um percentual da receita esperada pelo agricultor, diferente dos produtos tradicionais que cobrem através da produtividade somente o valor de custeio da produção. Com o novo produto a receita esperada é determinada pela expectativa de produção multiplicada pelo preço futuro da soja na bolsa de Chicago. Este produto atende uma reinvindicação antiga dos agricultores que estão preocupados não só com os riscos climáticos, mas também com a volatilidade do preço internacional, dois fatores que definem o resultado final da safra e que fogem ao seu controle. O cálculo da indenização leva em conta a diferença entre a receita garantida e a obtida, sendo que esta última é calculada multiplicando-se a produção colhida pelo preço da soja na Bolsa de Chicago no mês de colheita. O período de apuração do preço vem definido na apólice de seguro, explica Luiz Roberto Foz, presidente da UBF Seguros S.A. “O segurado tem neste seguro uma cobertura mais ampla do que o modelo tradicional que somente cobre as perdas ocasionadas pelos riscos climáticos”, explica.

A Lavoura

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GEA FARM TECHNOLOGIES

VALTRA

Pulverizador inova na tecnologia de absorção

gotejamento e a melhor aderência, aumentam o tempo de contato do produto com os tetos e, consequentemente, sua ação antisséptica, explica a empresa. Cientes de que a contaminação ambiental e a Segundo o fabricante, o poder de fixação do exposição a doenças infecciosas são riscos consTheraFlex garante a cobertutantes nos rebanhos leiteiros, a ra de 90% dos tetos, mantenGEA Farm Technologies lança sua do as vacas livres da ação das solução no auxílio ao produtor que bactérias presentes no ambideseja garantir a alta qualidade de ente, que podem penetrar pela sua produção. Trata-se do superfície da pele, causando TheraFlex – novo antisséptico infecções como a mastite. Asiodado para tetos. sim, o produtor consegue De acordo com o fabricante, manter a saúde de seu rebaum dos seus principais diferencinho. O iodo combate os prinais é a maior aderência à pele dos cipais patógenos causadores animais, proporcionando uma da mastite, reduzindo efetivaaplicação mais eficaz, com baixo mente os novos casos de teor de gotejamento, responsável mastite em animais destinapelo aumento do rendimento e dos à produção de leite. penetração nas dobras da pele, Outra característica do proevitando o desperdício e culmiduto é a presença de componando em economia ao produtor. nentes emolientes na sua forAinda buscando um melhor aproveitamento do produto, o Antisséptico iodado para tetos mulação, resultando na proteção da pele dos tetos, deixanantisséptico possui um alto podo-a mais hidratada e flexível, der de marcação. O iodo presente na sua comestimulando o restabelecimento natural da umidaposição faz com que o TheraFlex tenha uma cor de e da oleosidade da superfície da pele dos teescura, bem característica, auxiliando a aplicação tos. A aplicação do desinfetante deve ocorrer no do ordenhador, que consegue visualizar com clafinal de cada ordenha e, no intervalo entre elas, o reza a área onde o produto foi colocado, asseproduto continua a agir. gurando a efetividade da aplicação. O baixo

Antisséptico Iodado para tetos

A Valtra, marca do Grupo AGCO, acaba de lançar o Pulverizador BS 3020H, para a aplicação de defensivos. O fabricante explica que a máquina mantém a estabilidade em diferentes tipos de topografia e solo com o sistema de chassi do tipo flexível, independente do obstáculo. Segundo a Valtra, o lançamento foi desenvolvido e testado em terrenos com obstáculos de até 50 cm e o resultado foi efetivo. O movimento da máquina, mesmo em maiores velocidades, não desestabiliza a barra de aplicação. O BS 3020H é construído em aço liga estrutural sem a utilização de solda, característica que garante grande resistência à ruptura, esclarece o fabricante. Segundo a empresa, o BS 3020H mantém ainda o vão livre de 1,5m com diferentes opções de rodado, permitindo o trabalho em culturas de maior porte. A transmissão do pulverizador é hidrostática 4x4 cruzada permanente, com três velocidades. O chassi Flex Frame mantém a máquina sempre tracionada em qualquer tipo de terreno. Outros itens do pulverizador BS 3020H que garantem produtividade na rotina de aplicação de defensivos nas lavouras são o tanque de produto com capacidade para 3 mil litros e as barras de pulverização de 24 ou 28m, dividas em cinco ou sete seções.

Sensor para medir umidade da terra Produto pioneiro no mercado brasileiro permite reduzir o consumo de água na irrigação do solo Baseada nos mesmos conceitos para medir a umidade do ar, a empresa Sencer, lançou um sistema sensor para medir a umidade da terra. Os sensores cerâmicos nanoestruturados foram desenvolvidos a partir de pesquisas acadêmicas e prometem contribuir para a redução no volume de água e de energia elétrica em relação à irrigação sem controle algum. Segundo a Sencer, são necessários quatro sistemas de sensores para cada hectare de terra, mas

o número pode variar de acordo com o solo. Quanto mais homogêneo o solo, menor o número de sensores necessários. Os sensores são acoplados a um medidor, que será utilizado periodicamente pelo agricultor para determinar a umidade do solo. A partir desses dados, o produtor rural pode definir o volume de água realmente necessário para irrigar a plantação. É o que se chama de irrigação inteligente, explica o fabricante.

SENCER

O Pulverizador BR 3020H permite o trabalho em culturas de maior porte

Sensor para medir umidade da terra

A Lavoura

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O Brasil produtivo espera por uma justiça agrária RONALDO

DE

ALBUQUERQUE

DIRETOR DA SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA

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Direito Agrário patrocina a personalidade da exploração agrária em sua realidade econômico-jurídica, em sua continuidade técnico-administrativa e em seu valor social e humano. Corrige os desajustamentos criados durante os processos de desenvolvimento econômico, tendo sempre em conta o bemestar e a dignidade humana das classes que intervêm na produção. O Direito Agrário, conceituado como “um conjunto de princípios e normas de Direito Público e Direito Privado, que visa a disciplinar as relações emergentes da atividade rural, com base na função social da terra”, segundo definição do professor Fernando Pereira Sodero, destaca-se como um ramo autônomo do Direito, já consagrado pela norma constitucional do Artigo 22, inciso I, da Constituição Federal de 1988. No Brasil, se estabeleceram dispositivos agrários norteados pelo Estatuto da Terra e a regulamentação que se seguiu, procurando emprestar à matéria rumo novo em seu direito substantivo. Temos de nos preocupar com o que está acontecendo agora. Como consequência, há necessidade, dentro da realidade brasileira, de se criar uma estrutura jurídica destinada a regular melhor a repartição do produto social. A indústria e os serviços já desfrutam, em sua plenitude, de um consagrado Direito do Trabalho. O campo fica sempre em nítida desvantagem. É primordial dar a cada um o que é seu, no tempo e na medida certos. Somente conseguiremos isso criando a Justiça Agrária autônoma, dotada de fisionomia própria, jurisdicional, para melhor distribuir justiça eficiente e rápida, com juízes que venham munidos de saber jurídico agrário. A Justiça Agrária contribuirá, é lícito presumir, para a preservação de um clima de ordem e paz em benefício do Brasil. Com ela teremos a jurisprudência agrária, que é uma das forças propulsoras e criadoras do Direito. Tramitação de projetos

O agrarista deve participar da tramitação de projetos referentes ao Direito e Justiça Agrários, em curso no Congresso Nacional, pois, como estudioso dos problemas agrários, sente a necessidade do Direito Agrário Positivo fazer parte da realidade jurídica brasileira e a de ter uma aplicação condizente com sua alta peculiaridade. Na tarefa de renovação da nossa 50

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agricultura, cabe ao agrarista procurar soluções justas e convenientes para esse fim. Através do Direito Agrário e da Justiça Agrária, pode-se encontrar novos horizontes e ansiadas possibilidades da paz reinar nos campos. Para isso, a Comissão de Direito Agrário do IAB-RJ apresentou moção à presidência desse Instituto, considerando ser do mais alto interesse e da maior oportunidade o fomento, nas faculdades de Direito, de uma cadeira de Direito Agrário. Merece referência a opinião de Caio Mario Pereira da Silva, ao afirmar em seu consagrado livro “Condomínio e Incorporações” (Ed. Forense,1967), a necessidade de serem criados órgãos jurisdicionais especializados na aplicação da matéria jurídica agrária, no estudo e na divulgação do Direito Agrário e da Justiça Agrária. Octavio Mello Alvarenga: política agrária

Há mais de quatro décadas, destacou-se Octavio Mello Alvarenga como lutador incansável pela criação da Justiça Agrária autônoma no Brasil. Com sua cultura sempre renovada, com o senso profundo e vivo, traçou-nos em seus livros e na imprensa, o quadro real do Brasil, com teses atuais sobre política agrária, fundiária e ambiental. Sua obra, “Política e Direito Agroambiental” (Ed. Forense), exerce forte influência entre os estudiosos do Direito Agrário. Reflete também a reação das classes dominantes, ainda não sensíveis à situação do homem do campo, e os fatores econômicos contra a criação da Justiça Agrária. Da mesma forma, não se justifica a alegação de falta de verbas ou da grande despesa que se faria em face da implantação dessa Justiça. Chegamos à conclusão de que o processo da Reforma Agrária jamais pode estar desvinculado da ação do jurista, com sensibilidade necessária, para compreender que o Direito tem de acompanhar forçosamente a realidade social, sob pena de não se concretizar a Justiça. Confirmam-se as palavras judiosas de Del Vecchio, que se seguem, ao abordarem o feliz enlace que deve ter o binômio agricultores e legisladores, quando diz: “A lendária paz nos campos deve ser uma paz operosa, e a obra dos agricultores iluminada pela técnica deve corresponder à dos legisladores, iluminada pela Justiça”.

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