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A Lavoura
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A Lavoura
DIRETOR RESPONSÁVEL Antonio Mello Alvarenga Neto EDITORA Cristina Baran editoria@sna.agr.br
ENDEREÇO Av. General Justo, 171 - 7º andar 20021-130 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (21) 3231-6350 Fax: (21) 2240-4189 ENDEREÇO ELETRÔNICO www.sna.agr.br e-mails: alavoura@sna.agr.br redacao.alavoura@sna.agr.br
DIAGRAMAÇÃO / EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Paulo Américo Magalhães Tel: (21) 2580-1235 / 8126-5837 e-mail: pm5propaganda@terra.com.br COLABORADORES DESTA EDIÇÃO:
Caio Albuquerque Caroline Jácome Costa Clélia Pacheco Daniela De Grandi Castro Freitas Eduardo Pinho Rodrigues Fernanda Domiciano Guilherme Araújo Guilherme Sabino Ometto Ibsen de Gusmão Câmara Isabella Vincoletto Jacira Collaço José Carlos Sousa Silva Juliana Caldas Luís Alexandre Louzada Marcelo de Almeida Silva Marcos Esteves Marcos Giesteira Maria Helena Tachinardi Maria Madalena Rinaldi Raquel Suzano Rodrigo Cezar Franzon Sebastião Pedro da Silva Neto Tiago Neves Pereira Valente
É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. ISSN 0023-9135
Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura
Capa: Tiago Neves Pereira
Valente tiagozootecnista@yahoo.com.br
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A Lavoura ANO 114 - N O 686
MILHO Aumento da produtividade depende da profissionalização do setor produtivo
Técnicas disponíveis podem aumentar o potencial produtivo nas lavouras de milho
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CANA-DE-AÇÚCAR Biorreguladores: nova tecnologia para maior produtividade e longevidade do canavial
O uso de biorreguladores na agricultura vem se tornando uma prática viável com o objetivo de explorar o potencial das culturas
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PEQUI Importância econômica, social e ambiental do pequizeiro
O grande número de utilização de seus subprodutos, colocam o pequizeiro entre as espécies de importância prioritária para domesticação e melhoramento genético
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HORTIFRUTIGRANJEIROS Perdas pós-colheita devem ser consideradas
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PECUÁRIA Eficiência alimentar como chave na seleção de bovinos de corte
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PECUÁRIA A escolha da melhor genética define o sucesso na pecuária
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SNA 114 ANOS
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PANORAMA
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SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA - SRB
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SOBRAPA
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ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
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BIOTECNOLOGIA
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ORGANICSNET
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SUSTENTABILIDADE
EMPRESAS
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Curtumes: de vilões do meio ambiente a fertilizantes do solo
OPINIÃO
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FRUTICULTURA Maçã Fuji: suculenta e nutritiva
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NOVIDADE Nova planta para a diversificação de pastagem
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ALIMENTAÇÃO Sal: de salvador a inimigo público
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DIRETORIA EXECUTIVA
DIRETORIA TÉCNICA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA JOEL NAEGELE TITO BRUNO BANDEIRA RYFF FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS HÉLIO MEIRELLES CARDOSO JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS RONALDO DE ALBUQUERQUE SÉRGIO GOMES MALTA
PRESIDENTE 1O VICE-PRESIDENTE 2O VICE-PRESIDENTE 3O VICE-PRESIDENTE 4O VICE-PRESIDENTE DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR DIRETOR
FUNDADOR
Academia Nacional de Agricultura
COMISSÃO FISCAL
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO ANTONIO FREITAS CLAUDIO CAIADO JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON FERNANDO PIMENTEL JAIME ROTSTEIN JOSÉ MILTON DALLARI KATIA AGUIAR
E
MARCIO SETTE FORTES DE ALMEIDA MARIA HELENA FURTADO MAURO REZENDE LOPES PAULO PROTÁSIO ROBERTO FERREIRA S. PINTO RONY RODRIGUES OLIVEIRA RUY BARRETO FILHO
CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA PLÁCIDO MARCHON LEÃO ROBERTO PARAÍSO ROCHA RUI OTAVIO ANDRADE
P AT R O N O : O C TAV I O M E L L O A LVA R E N G A
CADEIRA
PATRONO
TITULAR
01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
E NNES DE S OUZA M OURA B RASIL C AMPOS DA P AZ B ARÃO DE C APANEMA A NTONINO F IALHO W ENCESLÁO B ELLO S YLVIO R ANGEL P ACHECO L EÃO L AURO M ULLER M IGUEL C ALMON L YRA C ASTRO A UGUSTO R AMOS S IMÕES L OPES E DUARDO C OTRIM P EDRO O SÓRIO T RAJANO DE M EDEIROS P AULINO F ERNANDES F ERNANDO C OSTA S ÉRGIO DE C ARVALHO G USTAVO D UTRA J OSÉ A UGUSTO T RINDADE I GNÁCIO T OSTA J OSÉ S ATURNINO B RITO J OSÉ B ONIFÁCIO L UIZ DE Q UEIROZ C ARLOS M OREIRA A LBERTO S AMPAIO E PAMINONDAS DE S OUZA A LBERTO T ORRES C ARLOS P EREIRA DE S Á F ORTES T HEODORO P ECKOLT R ICARDO DE C ARVALHO B ARBOSA R ODRIGUES G ONZAGA DE C AMPOS A MÉRICO B RAGA N AVARRO DE A NDRADE M ELLO L EITÃO A RISTIDES C AIRE V ITAL B RASIL G ETÚLIO V ARGAS E DGARD T EIXEIRA L EITE
R OBERTO F ERREIRA DA S ILVA P INTO J AIME R OTSTEIN E DUARDO E UGÊNIO G OUVÊA V IEIRA F RANCELINO P EREIRA L UIZ M ARCUS S UPLICY H AFERS R ONALDO DE A LBUQUERQUE T ITO B RUNO B ANDEIRA R YFF F LÁVIO M IRAGAIA P ERRI J OEL N AEGELE M ARCUS V INÍCIUS P RATINI DE M ORAES R OBERTO P AULO C ÉZAR DE A NDRADE R UBENS R ICUPERO P IERRE L ANDOLT A NTONIO E RMÍRIO DE M ORAES I SRAEL K LABIN
S YLVIA W ACHSNER A NTONIO D ELFIM N ETTO R OBERTO P ARAÍSO R OCHA J OÃO C ARLOS F AVERET P ORTO
A NTONIO C ABRERA M ANO F ILHO J ÓRIO D AUSTER A NTONIO C ARREIRA A NTONIO M ELLO A LVARENGA N ETO I BSEN DE G USMÃO C ÂMARA JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON J OSÉ C ARLOS A ZEVEDO DE M ENEZES A FONSO A RINOS DE M ELLO F RANCO R OBERTO R ODRIGUES J OÃO C ARLOS DE S OUZA M EIRELLES F ÁBIO DE S ALLES M EIRELLES L EOPOLDO G ARCIA B RANDÃO A LYSSON P AOLINELLI O SANÁ S ÓCRATES DE A RAÚJO A LMEIDA D ENISE F ROSSARD E DMUNDO B ARBOSA DA S ILVA E RLING S. L ORENTZEN
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918
Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel. (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil e-mail: sna@sna.agr.br · http://www.sna.agr.br ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha CEP: 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel. (21) 3977-9979
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Carta da
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Novidades da primavera primavera chega com boas novas. Em breve, os leitores de A Lavoura receberão a revista “Animal Business Brasil”, nova publicação da SNA, focada na cadeia produtiva animal, que tem o objetivo de incentivar as exportações e os investimentos neste importante segmento do agronegócio brasileiro. Será uma revista bilíngue, com expressiva distribuição no exterior. Nosso compromisso é manter o mesmo padrão de qualidade alcançado por A Lavoura, que circula há 114 anos, e está cada vez mais moderna e atual. Além da mídia impressa, a SNA faz-se cada vez mais presente nas redes sociais, através do Facebook, Linkedin e Twitter, ampliando a abrangência de sua comunicação. Ao mesmo tempo em que fortalecemos nossa área de divulgação, acertamos uma boa parceria com a OCB/RJ e o Sescoop/ RJ, visando ao desenvolvimento do setor cooperativista no Rio de Janeiro. Pretendemos atuar principalmente no ensino e no treinamento profissional, além de promover ações voltadas para a sustentabilidade e responsabilidade social.
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No entanto, nem tudo são flores nesta primavera. Nuvens escuras no horizonte nos deixam apreensivos. Recentes intervenções governamentais na economia são preocupantes. Será uma volta ao passado? Como não bastassem as turbulências da economia internacional, a falta de coerência e as indefinições da política econômica do atual governo prejudicam a vida de
todos, sobretudo daqueles que necessitam tomar decisões empresariais. Nos últimos meses, assistimos a uma conturbada sucessão de alterações na cúpula governamental, com ministros e autoridades abatidos em pleno voo por denuncias de corrupção. Devemos saudar a nossa imprensa, livre e independente, que vem desempenhando função de fundamental importância no tabuleiro político-institucional brasileiro, suprindo a ausência de uma oposição, que se encontra fragilizada e sem liderança. No bojo dessas denúncias, houve troca de poder no Ministério da Agricultura, onde assumiu o deputado Mendes Ribeiro, prometendo realizar uma reforma radical no órgão. O objetivo é alcançar maior eficiência gerencial e recuperar o espaço político e as atribuições do ministério. Seu braço direito, o secretário-executivo José Carlos Vaz (ex-diretor do Banco do Brasil) é um profissional competente e bem intencionado. ••••••
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Esta edição de A Lavoura traz um novo visual, mais leve e moderno. O conteúdo continua de excelente qualidade. Há matérias sobre a utilização de biorreguladores na produção da cana-de-açúcar, o aumento racional na produtividade do milho, o aproveitamento de resíduos de curtumes na agricultura, dentre outros tantos artigos e reportagens de grande interesse para nosso agronegócio. Boa leitura !
Antonio Mello Alvarenga Neto
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CRISTINA BARAN
SNA debate o agronegócio
Durante a primeira reunião de sua nova diretoria, presidida por Antonio Alvarenga, a SNA colocou em pauta temas relevantes que serão incluídos em um plano de conteúdo estratégico para o agronegócio, a ser apresentado ao governo federal
o eleger novos membros para sua diretoria, a Sociedade Nacional de Agricultura deu mais um passo rumo ao objetivo de tornar-se um centro de referência e debates sobre o agronegócio. Durante a primeira reunião de sua nova diretoria, realizada no início de agosto, a SNA colocou em pauta alguns temas relevantes que deverão fazer parte de um plano, contendo propostas de conteúdo estratégico para o setor, e que será apresentado ao governo federal. Várias iniciativas foram debatidas, entre elas, a urgência na implementação de uma reforma tributária para desonerar a cadeia produtiva do agronegócio; a adoção de políticas diferenciadas para o setor, com incentivos à produção e à industrialização; apoio à inovação tecnológica aliada ao processo produtivo e à comercialização; gerenciamento, por satélite, do acompanhamento da produção agrícola; alternativas de longo prazo para a agricultura, em razão das mudanças climáticas que ocorrerão nas próximas décadas, e elaboração de uma agenda de atividades voltada para a conferência Rio + 20, que será realizada em 2012. Economia O diretor Márcio Fortes Sette de Almeida teceu comentários sobre a economia mundial, detalhando a recente crise nos EUA – país que teve sua nota de crédito rebaixada pela agência Standard & Poor’s. Fortes também fez referências à crise europeia e demonstrou preocupação com a imposição, por parte de alguns países, de barreiras não alfandegárias para as exportações brasileiras, fortemente concentradas em produtos primários. Seguindo a mesma linha da política internacional, José Milton Dallari, também diretor da SNA, alertou para a possibilidade de o Brasil perder um centro internacional de referência no controle e produção de vacinas contra a febre aftosa, o PAN AFTOSA, atualmente sediado no Rio de Janeiro. Dallari denunciou a falta de reconhecimento e apoio institucional por parte do governo em relação a este órgão. Infraestrutura O diretor também comentou a respeito das deficiências de infraestrutura no Brasil, principalmente nas rodovias e ferrovias, que impedem um desenvolvimento mais efetivo do agronegócio brasileiro, e alertou para a necessidade urgente de uma reforma fiscal, a fim de permitir a melhor competitividade dos produtos. Nesse aspecto, citou como exemplo a demanda emergencial de nova
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regulação tributária para a aplicação do PIS-COFINS sobre a comercialização do café. Por fim, o diretor registrou sua preocupação com a migração de mão-de-obra desqualificada, originária das regiões rurais, em função da crescente mecanização nos processos de colheita, especialmente em relação à cana-de-açúcar: “Cada máquina empregada no campo pode dispensar até 85 trabalhadores rurais”, declarou Dallari, acrescentando que “é preciso investir em programas de capacitação, como forma de combater o desemprego e garantir a essas pessoas condições de trabalho em outras atividades”. Cadeia do café Já o diretor Rui Barreto Filho chamou a atenção para a perda de vagas de empregos diretos para brasileiros na cadeia produtiva do café, em especial no setor da indústria. Barreto alegou que este problema é ocasionado pelos “muitos entraves provocados por uma equivocada política tributária de importação e exportação de café ‘in natura’ e industrializado”. Exportação Enriquecendo o debate, o vice-presidente Tito Riff fez referências a um momento de valorização de produtos agrícolas de exportação. No entanto, destacou que a pauta de exportações brasileiras é composta prioritariamente de produtos primários, o que impede a agregação de valor e ocupação de mão-de-obra nacional, que ocorreriam se os produtos fossem industrializados. Tito Riff sugeriu uma política nacional mais agressiva de estímulo ao processo de industrialização e exportação de produtos com maior valor agregado, beneficiando a política de empregos no Brasil. “Há necessidade de uma reforma tributária e de políticas de crédito, voltadas para esses objetivos” – enfatizou. Meio Ambiente A preocupação com o clima do planeta também ganhou destaque à ocasião. O vice-presidente da SNA, almirante Ibsen de Gusmão Câmara, alertou para a perspectiva real de mudança climática, principalmente com as reduções de precipitações pluviométricas e variações frequentes de temperatura. De acordo com o almirante, essas mudanças podem afetar fortemente o processo de produção de alimentos. “Isso não está sendo levado em consideração com a prioridade que seria necessária. A
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Vice-presidente Ibsen de Gusmão Câmara (à esq.), ao lado dos diretores Leopoldo Garcia Brandão e Alberto Figueiredo
agricultura não tem um plano estratégico de longo prazo para lidar com as mudanças climáticas que ocorrerão inexoravelmente nas próximas décadas. É preciso planejar, desde agora, as adaptações que se farão necessárias nas tecnologias de produção agrícola”, alertou. Tecnologia e gestão Também presente à reunião, a pesquisadora Kátia Aguiar fez referências à biotecnologia como investimento fundamental nas áreas de saúde, meio ambiente e agronegócio, com inequívocas demandas internacionais.
Revitalização da agroindústria canavieira de Campos - RJ novo secretário de Agricultura do município de Campos-RJ, Eduardo Crespo, participou da reunião na SNA, quando defendeu a necessidade de fomento da agroindústria da cana-de-açúcar na região, principalmente através do incremento da produtividade. Na ocasião, o secretário mencionou a instalação de novas unidades industriais (usinas) na cidade, pautadas pela mudança no paradigma de gestão. Porém, enumerou alguns
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Rui Barreto Filho, diretor da SNA, alertou para a perda de empregos diretos na cadeia do café
Ainda na área tecnológica, o diretor Paulo Protásio agradeceu à diretoria da SNA pela parceria que está sendo viabilizada, para a instalação de um escritório do consórcio em convênio com a EMBRAPA, que pretende desenvolver projetos de monitoramento de áreas produtivas via satélite. O objetivo é estabelecer uma eficiente ferramenta de planejamento das atividades do agronegócio brasileiro. Por outro lado, Rui Otávio Andrade, membro da Comissão Fiscal, chamou a atenção para a necessidade de desenvolvimento de projetos educacionais modernos, destinados ao agronegócio. “A maioria dos gestores ainda não domina ferramentas indispensáveis à tomada de decisões no ambiente competitivo e globalizado”, declarou. O diretor Leopoldo Garcia Brandão observou a carência de assistência técnica de qualidade, em todos os níveis da atividade econômica, em especial na agropecuária. Para ele, o problema é de ordem estrutural, e se resume à falta de conhecimento e informações que deveriam estar disponíveis para auxiliar na tomada de decisões por parte de pequenos, médios e grandes empresários. Demonstrando grande preocupação com a base econômica e social do país, Leopoldo Brandão afirmou que “o futuro não existirá se a base da população não receber, de imediato, os benefícios sociais de que necessita”.
desafios locais a serem enfrentados, entre eles, problemas de corporativismo e de logística, além da busca de competitividade em relação à pequena propriedade – fato que já se observa nas grandes e médias áreas de produção. CRISTINA BARAN
CRISTINA BARAN
CRISTINA BARAN
O diretor José Milton Dallari defendeu a reforma fiscal e investimentos na capacitação de trabalhadores rurais
CRISTINA BARAN
Márcio Fortes, diretor da SNA: preocupação com barreiras não alfandegárias para as exportações brasileiras
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José Carlos Azevedo de Menezes (diretor da SNA) e Eduardo Crespo (secretário de Agricultura de Campos)
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MARIA HELENA ELGUESABAL
SNA firma parceria com a OCB-RJ
A Sociedade Nacional de Agricultura firmou parceria com a Organização das Cooperativas Brasileiras do Rio de Janeiro. O objetivo é elaborar projetos voltados para o desenvolvimento das cooperativas do estado através da educação cooperativista e de treinamento. A OCB-RJ e o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (SESCOOP) investirão recursos para o aprimoramento de técnicos e produtores, em busca de melhores e mais eficientes práticas de produção e gestão. Joel Naegele (vice-presidente da SNA), Marcos Diaz (presidente da OCB-RJ), Antonio Alvarenga (presidente da O convênio SNA/OCB-RJ/SESCOOP pretende alcançar as áreas de pecuáSNA), e prof. Jorge Barros (superintendente técnico da OCBria de leite, fruticultura, produção de mel e piscicultura, dentre outros segRJ) mentos importantes do cooperativismo no Rio de Janeiro. As atividades serão desenvolvidas no campus educacional e ambiental da Sociedade Nacional de Agricultura, na avenida Brasil, no bairro da Penha. Segundo o vice-presidente da SNA, Joel Naegele, “a nova parceria promoverá o aperfeiçoamento do setor cooperativista do estado do Rio, que nos últimos anos sofreu esvaziamento em razão do encerramento das atividades de várias e tradicionais cooperativas”. A parceria também prevê o desenvolvimento de projetos conjuntos nas áreas do meio ambiente, sustentabilidade e responsabilidade social.
Como nem todas essas cidades têm produtores orgânicos, a ideia do governo é comprar os produtos de pequenos agricultores localizados perto de cada sede da Copa”, explicou a coordenadora do OrganicsNet. “Isso é uma oportunidade enorme para os prodecisão do governo federal de tornar a Copa de 2014 susdutores orgânicos, não só em relação aos chamados produtos vertentável, aliando sua imagem à questão ambiental, traz para des, como também para os produtos beneficiados, entre eles laos produtores orgânicos brasileiros oportunidades de ampliação ticínios e grãos, que figuram na alimentação de atletas e de visidos mercados consumidores. tantes”, acrescentou. Além dos orgâniO tema foi discutido no seminário cos, o comércio justo, a agricultura faGreen Rio – Oportunidades e Desafios da miliar e os produtos da biodiversidade Copa de 2014, promovido pelo portal Plasão os quatro indicadores que estarão neta Orgânico no auditório do Serviço integrados por ocasião da Copa. Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Para ampliar as informações sobre Empresas (Sebrae), no Rio de Janeiro. o mecado orgânico, o Ministério da AgriA coordenadora do Projeto Orgacultura deverá lançar, ainda no segunnicsNet, da Sociedade Nacional de Agrido semestre de 2011, dados estatísticos cultura e do Centro Sebrae de Inteligênatualizados sobre a produção de orgâcia em Orgânicos (CIO), Sylvia Wachsner, nicos no Brasil. Os últimos números inparticipou do evento e mostrou dados dicam a existência de cerca de 13 mil gerais sobre o mercado de orgânicos – produtores. que no Brasil já cresce 40% ao ano – e A palestra de abertura do semináSylvia Wachsner, coordenadora do OrganicsNet e do Centro destacou informações sobre a rede Orrio Green Rio ficou a cargo do coorganicsNet de produtores orgânicos, que de Inteligência em Orgânicos (CIO) denador da Câmara Temática de Meio atualmente congrega mais de 30 empresas de todo o Brasil. Ambiente e Sustentabilidade da Copa 2014, Cláudio Langoni. Ao abordar a implantação do CIO, a coordenadora do OrganicsTambém participaram do evento, entre outros, o secretário de Net afirmou que o novo projeto irá contribuir para o fortalecimenAgricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo da Silva; o preto da cadeia produtiva de alimentos e produtos orgânicos, por meio sidente da Pesagro, Sílvio Galvão; a diretora do Planeta Orgâda integração e difusão de informação e conhecimentos. nico, Maria Beatriz Martins Costa, além de representantes do Orgânicos na Copa de 2014 Sebrae-RJ das áreas de orgânicos, comércio justo e inovação “Na copa de 2014, o foco será as 12 cidades-sede dos jogos. tecnológica.
Copa sustentável recebe apoio da SNA
FABRICIO CAMELO
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Recursos hídricos em pauta A diretora da Sociedade Nacional de Agricultura, Maria Helena Martins Furtado, participou, em agosto, na Firjan, do III Pré-Encob / RJ – Encontro dos Comitês de Bacias Hidrográficas. O evento debateu o gerenciamento dos recursos hídricos nas grandes cidades. 8 OUTUBRO/2011
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Na ocasião, Maria Helena ressaltou que a SNA considera a agricultura uma área estratégica para todos os países do mundo. “É um setor que afeta a todos, indistintamente. Por isso, apesar de consumirmos mais de 69 % da água, somos os maiores interessados na conservação dos mananciais e dos aquíferos”. Estiveram presentes ao encontro representantes da Rede Brasil de Organis-
mos de Bacia (REBOB) e do Fórum de Comitês de Bacias Hidrográficas. Durante o evento, foi anunciada parceria entre o Plano Estadual de Recursos Hídricos, a Secretaria de Estado do Ambiente e a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (COPPETEC), para executar, pela primeira vez, no Rio, um projeto de gestão de águas.
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DULCE MAZER/EMBRAPA SOJA
Girassol para clima e solo brasileiros Girassol BRS 324
Os produtores brasileiros de girassol contam com duas novas opções para a safra 2011/2012. Já estão no mercado sementes das cultivares BRS 321 e BRS 324, desenvolvidas pela Embrapa Soja e comercializadas pelo Escritório de Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia em Dourados, MS. Atualmente, a maioria das sementes de girassol disponíveis no Brasil são produzidas por empresas estrangeiras. Os lançamentos da Embrapa foram desenvolvidos e adaptados especialmente às condições de clima e de solo brasileiros.
BRS 321 e 324: características As principais características do híbrido simples BRS 321 são o ciclo precoce, de 80 a 100 dias, o que facilita sua utilização no sistema produtivo, tanto na rotação como na sucessão de culturas, além da resistência a míldio, o bom teor de óleo nos aquênios, de 40 a 44%, e a boa adaptação em todas as regiões de cultivo de girassol no Brasil. Já a BRS 324 é uma cultivar de polinização aberta e apresenta como principais características o ciclo precoce, de 80 a 100 dias, o alto teor de óleo nos aquênios, de 45% a 49%, agregando valor à produção e a boa adaptação em todas as regiões de cultivo de girassol no Brasil. Em qualquer segmento produtivo, o girassol é uma excelente opção de cultivo tanto em rotação como em sucessão de culturas. Pela sua precocidade, a BRS 321 e a BRS 324 podem ser cultivadas antecipando a cultura principal de primaveraverão ou, na safrinha, após a colheita de verão.
Adaptação O girassol apresenta ampla adaptabilidade às condições do Brasil, com maior tolerância à seca, ao frio e ao calor do que a maioria das espécies cultivadas no País. As cultivares BRS 321 e BRS 324, por exemplo, são indicadas para os estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Sergipe e Bahia. Os grãos de girassol são usados principalmente para a extração de óleo, que podem ser destinados às indústrias de alimentos ou produção de biodiesel. Além disso, a torta ou farelo obtido do processo de extração é altamente protéico e pode ser utilizado na fabricação de ração animal. Para prevenir a ocorrência de doenças, é importante seguir a época de semeadura adequada para cada região. Nos estados do Centro-Oeste, o plantio deve ser feito do início de janeiro a meados de fevereiro; no Sudeste, de fevereiro a março; no Norte, do início de fevereiro a meados de março; no Paraná, do início de agosto a meados de outubro; no Rio Grande do Sul, de meados de julho ao fim de agosto; no oeste, sudeste e centro da Bahia, de novembro a janeiro; e em Sergipe e nordeste da Bahia, de maio a junho. O cultivo em solos corrigidos e a manutenção da fertilidade em níveis adequados são fundamentais para o bom desenvolvimento da planta, pois a cultura é exigente em boro e sensível à presença de alumínio trocável no solo. EDUARDO PINHO RODRIGUES - EMBRAPA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA
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Própolis verde inibe bactérias na fermentação etanólica Pesquisa avalia possibilidade de solução natural combater ação contaminante em ingrediente da ração animal As práticas usualmente utilizadas nas indústrias para reduzir a contaminação bacteriana são o tratamento ácido do creme de levedura e a aplicação de antibióticos. “No entanto, desde que foram detectados altos níveis de resíduos de antibióticos na levedura destinada à ração animal, seu uso tem sido evitado pela comunidade internacional”, comenta a engenheira agrônoma Ellen Karine Diniz Viégas. No programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Ellen avaliou a atividade antimicrobiana do extrato da própolis sobre as bactérias do gênero Lactobacillus fermentum e Bacillus subtillis, que são alguns dos contaminantes da fermentação alcoólica. “Buscamos reduzir prejuízos causados
ROBERTO AMARAL (USP/ESALQ ACOM)
esina natural produzida pelas abelhas e utilizada pelo homem, principalmente por suas características cicatrizantes e antibacterianas, a própolis demonstrou, em pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), potencial de contribuição para redução do uso de antimicrobianos comerciais. Os processos industriais de produção de álcool existentes no Brasil reutilizam o fermento em ciclos consecutivos. Paralelamente, o excedente da ação fermentativa produzida pela multiplicação das células de levedura durante esse processo é seco e comercializado, principalmente no mercado externo, como ingrediente para ração animal.
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Pesquisas com resina natural das abelhas buscam reduzir prejuízos por contaminação em ração animal
Exportações de carne suína, em agosto, caem 3,8% em volume; faturamento cresce 5,33%
ABIPECS
Brasil reduz dependência do mercado russo. Crescem vendas para Ucrânia e Hong Kong
“Felizmente, o crescimento das exportações de carne suína para Hong Kong e Ucrânia compensaram as perdas na Rússia. O Brasil reduziu a dependência do mercado russo de maneira significativa”, diz Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína - ABIPECS. Consequência do embargo sanitário decretado pela Rússia, em junho, e do câmbio desfavorável, as exportações de carne suína brasileira, em agosto, caíram 3,8% em volume na comparação com o mesmo mês de 2010. Já o faturamento aumentou 5,33% no período, segundo informações da ABIPECS. Em agosto, o preço médio registrou uma elevação de 9,46% em relação a agosto do ano passado. Queda de 3,41% em oito meses No acumulado do ano, em comparação aos oito primeiros meses de 2010, a queda nas exportações de carne suína foi de 3,41% em toneladas. A receita cresceu 7,43% no período. As vendas externas de carne suína, no período, Preparo da carne suína para o mercado externo
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Potencial Com apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (FAPEMA) e orientação da professora Sandra Helena da Cruz, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), da ESALQ, a pesquisa mostrou que o extrato de própolis tem potencial para ser utilizado no controle dos contaminantes bacterianos presentes nas fermentações etanólicas. Apesar do antimicrobiano comercial ter apresentado maior eficiência na redução da contaminação, o extrato de própolis proporcionou redução de 54,24% e 67,02% para Lactobacillus e Bacillus, respectivamente. “Embora estes números sejam expressivos, para utilização da própolis como antimicrobiano natural no controle dos contaminantes da fermentação etanólica, são necessários estudos acerca da viabilidade econômica”, esclarece a autora do trabalho. CAIO ALBUQUERQUE - ESALQ/USP
foram de 348.844 toneladas, com um faturamento de US$ 951,21 milhões. O Brasil exportou 45.887 toneladas em agosto, ante 47.689 t no mesmo mês do ano passado. A receita com os embarques atingiu US$ 122 milhões. Exportações para a Rússia despencam - Para a Rússia, as exportações despencaram, em agosto, 87,4% em t (2.922 toneladas em comparação com 23.132 t em agosto de 2010) e 85,4% em valor (US$ 8,9 milhões ante US$ 61,2 milhões), veja estatísicas ao lado. De janeiro a agosto, as vendas de carne suína para a Rússia somaram 115.568t, com uma receita de US$ 360 milhões. Isso significa uma queda de 30,31% em volume e 20,54% em valor. “Passou da hora de resolver o embargo russo. Com a finalização das negociações, as quais mostram o apoio do Brasil à entrada da Rússia na Organização Mundial do Comércio – OMC, resta a questão sanitária. O governo federal precisa agir com rapidez e firmeza”, diz Pedro de Camargo Neto. Aumento nas vendas para Ucrânia – Terceiro maior comprador, a Ucrânia surpreendeu, em agosto, com importações de 11.959 t, um crescimento de 197% em relação ao mesmo mês de 2010. Em receita, o aumento foi de 228% - US$ 34,4 milhões,
barradas na Europa, que só foram liberadas por meio de negociações, via embaixada. Agora, os produtos brasileiros não terão mais esse entrave”, prevê o coordenador-geral de Vinhos e Bebidas do Ministério da Agricultura, Helder Moreira Borges. A legislação determina que o vinho e derivados da uva destinados à exportação para a Comunidade Europeia atendam às definições ou categorias estabelecidas pelo bloco. A elaboração também precisa estar em conformidade com as práticas enológicas recomendadas e publicadas pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) ou autorizadas pela Comunidade Europeia.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aprovou o novo modelo de certificado de exportação de vinho e derivados da uva para a Comunidade Europeia. A medida está na Instrução Normativa nO 17. O formulário tem uma modificação em relação ao anterior, em atendimento às exigências das autoridades europeias. A partir de agora, o certificado será emitido pela área técnica especializada em bebida da Superintendência Federal localizada na região do estabelecimento exportador. Cabe ao responsável pela exportação o preenchimento das informações relativas ao certificado de origem. Os dados relativos ao boletim de análise deverão ser adicionados por representantes de laboratório da Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade AgropeVinhos para cuária. exportação: “Chegamos a ter cargas novo certificado RAQUEL AVIANI/ASCOM/MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
pela contaminação durante o processo fermentativo, além de buscar um antimicrobiano natural que não deixe resíduo nas leveduras”, contou a pesquisadora.
Certificado para exportação de vinho é aprovado
ante US$ 10,5 milhões em agosto de 2010. Hong Kong compra mais - No acumulado do ano, a Rússia ainda é o primeiro mercado da carne suína brasileira, seguido de Hong Kong. Para esse cliente, as vendas, em agosto, cresceram 164%: 14.822 t. De janeiro a agosto, Hong Kong importou do Brasil 79.498 t, um crescimento de 26,2% em volume e de 50,70% em valor (US$ 188,24 milhões).
MARCOS GIESTEIRA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Queda nas vendas para Argentina – As exportações de carne suína para a Argentina caíram 3,60% em volume, em agosto (3.363 t). De janeiro a agosto, as vendas para o país vizinho aumentaram 15,72%, de 21.794 t para 25.221 t. “A Argentina continua a dificultar a liberação de guias de importação em ação protecionista em desacordo com o Mercosul”, afirma o presidente da ABIPECS. MARIA HELENA TACHINARDI
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Soja no Cerrado: variedade superprecoce permitirá duas culturas no mesmo ano
Tomate: novos híbridos cereja
RAQUEL AVIANI/ASCOM/MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Cultivares foram desenvolvidas a partir de um contrato de cooperação, baseado na Lei de Inovação, entre a Embrapa Hortaliças e a empresa de sementes Agrocinco. Os produtores brasileiros de tomate terão novas opções nos segmentos Cereja e Santa Cruz. Tratam-se dos híbridos BRS Iracema, BRS Kiara e BRS Nagai, que deverão chegar ao mercado no início de 2012. Os materiais são fruto de uma parceria entre a Embrapa Hortaliças e a Agrocinco, empresa que atua há 11 anos no mercado brasileiro de sementes. BRS Kiara e BRS Nagai O BRS Kiara é um híbrido do tipo Santa Cruz, longa-vida, muito produtivo. Os frutos possuem firmeza média quando maduros e excelente sequência de pencas, além de rápido crescimento inicial. O BRS Nagai é outro híbrido do tipo Santa Cruz, mas possui frutos um pouco mais alongados. A cultivar destaca-se pela produtividade e possui tolerância a espécies de Begomovírus (geminiviroses) e resistência a espécies de Tospovirus (viracabeça). BRS Iracema Já o BRS Iracema é uma cultivar do tipo Cereja. Os frutos são firmes, apresentam boa durabilidade pós-colheita e excelente sequência de pencas.
Soja com ciclo abreviado em 90/100 dias
Nas próximas safras, o produtor de soja do Cerrado contará com uma variedade superprecoce adaptada às condições da região. O ciclo dessa planta será cerca de 30% menor que o das variedades atuais, ou seja, de 90 a 100 dias. A pesquisa, conduzida pela Embrapa Cerrados, está em fase final de seleção das variedades e as sementes devem estar disponíveis para o mercado em dois anos. “A grande vantagem é possibilitar ao produtor ter no mesmo ano agrícola duas culturas no campo. Isso é muito importante para o sistema produtivo”, destaca o pesquisador que coordena a pesquisa de soja na Unidade, Sebastião Pedro da Silva Neto. Outras vantagens O pesquisador explica que o encurtamento do ciclo permite também que se minimize a ocorrência de insetos e fungos, já que a planta fica menos exposta, o que acaba impactando no custo final da produção, pois se gasta menos com fungicidas. Ao utilizar as variedades de soja superprecoces o produtor estará otimizando o uso de máquinas e equipamentos agrícolas, mãode-obra e do próprio solo, que também será beneficiado com o adubo residual. “Sem esse tipo de alternativa, a agricultura no Cerrado fica menos competitiva, pois a margem de lucro está menor devido à elevação do custo dos fertilizantes e das tecnologias de produção em geral”, avalia. Outra vantagem de se utilizar as variedades de soja superprecoces destacada pelo pesquisador é que o produtor irá colher numa época diferenciada, o que permitirá conseguir melhores preços, já que o produto estará mais valorizado no mercado. “Nossa expectativa é termos soja colhida no final de janeiro”. Sebastião Pedro defende a importância de o Cerrado poder contar com duas culturas num mesmo ano safra, tanto em termos ambientais, já que as plantas são fixadoras de gás carbônico, quanto em termos sociais e econômicos. “Isso é possível desde que se tenha genética adequada”, pontua. A soja é o maior produto do agronegócio brasileiro e mais de 60% do que é produzido no país é plantado no Cerrado. No ano agrícola 2009-2010 os agricultores brasileiros colheram 67 milhões de toneladas do grão, o que representou uma safra recorde.
Propagação vegetativa ainda é um dos desafios para o início do cultivo de fruteiras nativas potencial de utilização de espécies nativas nos sistemas de produção, nas diversas regiões do Brasil, é assunto bastante frequente nos meios de pesquisa, acadêmico e rural. Existem boas perspectivas de comercialização de frutas nativas, principalmente em nichos de mercado ávidos que buscam novidades, especialmente em grandes centros. No entanto, na prática são poucos os resultados positivos e promissores. Isso se deve, em grande parte, à falta de conhecimento sobre as espécies nativas de modo geral. Quando a finalidade é a exploração econômica, alguns fatores devem ser considerados, entre eles a busca de um método adequado de propagação de propagação vegetativa, visando à formação de pomares uniformes e de qualidade. Um dos principais fatores que garantem o sucesso na produção de frutas é a qualidade das mudas utilizadas na implantação de um pomar. A produção de mudas de qualidade depende de cuidados que vão desde as instalações até a obtenção do material adequado, além da execução correta das práticas recomendadas para cada espécie. Na fruticultura comercial, o processo de produção de mudas, em geral, é realizado por propagação vegetativa assexuada ou clonal, que pode ser realizada por meio de diversos métodos, sendo a enxertia e a estaquia os principais. A propagação vegetativa tem por objetivo multiplicar plan-
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Baru: espécie nativa com potencial de utilização nos sistemas de produção
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BRS Kiara: tipo longa vida, muito produtivo e excelente sequência de pencas
LEANDRO LOBO / EMBRAPA HORTALIÇAS
Além disso, o híbrido apresenta resistência a nematóides do gênero Meloidogyne (gene Mi) e frutos com altos teores de sólidos solúveis (brix). O contrato para desenvolvimento dos híbridos teve como base a Lei de Inovação, que permite o investimento direto de empresas no desenvolvimento de produtos tecnológicos. “É uma união de esforços para o desenvolvimento de produtos”, explica o gerente de Planejamento e Negócios da Embrapa Transferência de Tecnologia, Raul Rosinha. A Unidade foi a responsável pela negociação do contrato de licenciamento dos materiais com a Agrocinco. Ele explica que a empresa terá exclusividade na comercialização das cultivares nos próximos dez anos. “Trata-se de uma alternativa interessante para a companhia e para a Embrapa, que poderá compor o portifólio de produtos da empresa”, diz. Marco histórico Para o pesquisador, Leonardo Boiteux, que coordena o programa de melhoramento de tomate da Embrapa Hortaliças, a parceria é um marco histórico na atuação da Unidade, pois permite que ela tenha um papel de maior importância no segmento. O pesquisador explica que o mercado de sementes de hortaliças está cada vez mais oligopolizado. Na opinião dele, o modelo de cooperação baseado na Lei de Inovação transforma a Embrapa numa alternativa mais viável para as pequenas e médias empresas de sementes. “Esse caminho tem sido buscado também por outras empresas. A expectativa é que novos contratos similares sejam firmados nos próximos anos”, acredita. MARCOS ESTEVES - EMBRAPA HORTALIÇAS
JOSÉ FELIPE RIBEIRO
tas com a garantia da manutenção das suas características agronômicas, como a qualidade de fruto e resistência a doenças. Entretanto, permanecem as mesmas necessidades climáticas e de solo, nutricionais e de manejo, o que é de extrema importância na formação dos pomares economicamente rentáveis. Em alguns
casos, as mudas podem ser produzidas por sementes. Porém, embora esse método tenha sido muito usado no passado, atualmente, o seu uso é restrito em espécies comerciais, quase que exclusivamente para obtenção de porta-enxertos, também conhecidos como “cavalos”. A propagação por sementes também é utilizada para plantas que não podem ser multiplicadas por outro meio e que a semente é a única forma viável de propagação, como é o caso do mamoeiro e do coqueiro, entre outras. Pode ser utilizada ainda para formar mudas de espécies que suportam bem a propagação sexuada, conservando suas características, como é o caso do maracujá; e também no melhoramento genético, com a finalidade de criar novas cultivares. Da mesma forma, é utilizada na propagação por sementes em estudos com espécies em fases iniciais de exploração, como é o caso das fruteiras nativas, em sua grande maioria. Para diversas espécies nativas são conhecidos trabalhos de seleção de matrizes com excelentes características agronômicas, e que poderiam viabilizar o início de cultivos. Entretanto, algumas medidas são necessárias para que essas frutíferas sejam introduzidas nos sistemas de produção. Uma das mais importantes é a oferta de mudas uniformes e de qualidade, o que implica no desenvolvimento de tecnologia para a propagação vegetativa de matrizes selecionadas. Embora na fruticultura comercial praticamente todas as cultivares plantadas são propagadas vegetativamente, quando se trata de nativas, um método eficiente de propagação é uma das principais dificuldades para que se possa iniciar o seu cultivo com sucesso. Mesmo para algumas espécies nativas para as quais já se conhece um método de propagação vegetativa eficiente, é necessário ampliar os estudos, de modo que a técnica possa ser difundida entre os viveiristas produtores de mudas. RODRIGO CEZAR FRANZON E JOSÉ CARLOS SOUSA SILVA - PESQUISADORES DA EMBRAPA CERRADOS
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CEAGESP
CEAGESP fecha primeiro semestre em alta de 2,7% na entrepostagem
CEAGESP movimentou 2,2 milhões de toneladas de hortifrutigranjeiros
A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP) fechou o primeiro semestre de 2011 com alta de 2,7% no volume de produtos comercializados, em comparação com o mesmo período do ano passado. As 12 centrais atacadistas administradas pela Companhia movimentaram 2,2 milhões de toneladas de frutas, verduras, legumes, diversos (batata, cebola, amendoim, coco seco e ovos) e pescados. Somente no Entreposto Terminal São Paulo (ETSP), principal unidade na rede, foram negociados pouco mais de 1,8 milhão de toneladas de produtos frescos, 0,4% a mais que o computado em 2010. Considerado a maior central de abastecimento da América Latina, o ETSP mais uma vez foi o recordista de comercialização, com participação de 79,3% do acumulado em tonelada e 81,5% em volume financeiro. No acumulado em volume de tonelada do primeiro semestre, laranja (9,7%), tomate (9,5%) e batata (7,8%) seguem no topo da lista dos produtos campeões de vendas. As 11 unidades localizadas no interior paulista registra-
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ram crescimento de 12,5% no volume de comercialização, superando as 474 mil toneladas, com destaque para Ribeirão Preto, Sorocaba e São José do Rio Preto, que juntas negociaram 266 mil toneladas. CEAGESP abastece mais de 60% da Grande São Paulo A CEAGESP, Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo foi criada em 31 de maio de 1969, a partir da fusão de duas companhias mantidas pelo Governo do Estado de São Paulo: o CEASA (Centro Estadual de Abastecimento) e a CAGESP (Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo). Desde 1997, a empresa está vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Atualmente, a CEAGESP administra uma rede de 34 unidades armazenadoras (19 ativas) e 12 entrepostos atacadistas, que asseguram o abastecimento de mais de 60% da Grande São Paulo, além de grande parte do Estado de São Paulo e outras cidades do País. RAQUEL SUZANO
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HORTIFRUTIGRANJEIROS
ANA ELISA DE GODOY – ESALQ/USP
Cuidado com o manuseio durante a colheita e seu transporte são essenciais para que a boa qualidade seja mantida
Perdas pós-colheita devem ser consideradas MARIA MADALENA RINALDI PESQUISADORA DA EMBRAPA CERRADOS
Apesar de o Brasil se caracterizar como um país altamente produtor, é também um dos países onde mais se perdem alimentos durante essa etapa período de pós-colheita, ou seja, aquele que se estende da colheita até o consumo do produto, é caracterizado por grandes perdas da qualidade mercadológica causadas por deteriorações. Os produtos agrícolas são organismos que continuam vivos depois de sua colheita, mantendo ativos todos os seus processos biológicos vitais. Devido a isso e ao alto teor de água em sua composição química, eles são altamente perecíveis. Para aumentar o tempo de conservação e reduzir as perdas pós-colheita, é importante que se conheçam e se utilizem práticas adequadas de manuseio durante as fases de colheita, armazenamento, comercialização e consumo. No Brasil, estima-se que entre a colheita e a chegada à mesa do consumidor, ocorram perdas de
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até 40% das frutas e hortaliças produzidas. Essas perdas podem ser de natureza quantitativa ou qualitativa, ocasionando assim redução no seu valor comercial. Produção de hortícolas: perdas comuns no pós-colheita As perdas durante a pós-colheita são fatores na produção de alimentos hortícolas. Apesar de o Brasil se caracterizar como um país altamente produtor, é também um dos países onde mais se perdem alimentos durante essa etapa. A falta de conhecimento dos processos fisiológicos dos frutos, bem como a falta de infraestrutura adequada e de uma logística de distribuição são os principais fatores responsáveis pelo elevado nível de perdas de pós-colheita observadas no país.
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CLAUDIO NORÕES
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GILMAR PELOTAS
Qualidade depende da tecnologia utilizada A qualidade dos frutos, na fase pós-colheita, vai depender da tecnologia utilizada na cadeia de comercialização. A seleção dessa tecnologia está relacionada ao destino do produto, seja para o consumo in natura seja para a indústria. A aplicação de métodos para reduzir os danos pós-colheita são medidas usuais em países desenvolvidos, enquanto, nos países em desenvolvimento, essas aplicações não são bem sucedidas, destinando-se, para o mercado interno, produtos de qualidade inferior. A qualidade do produto é feita no campo Os cuidados pós-colheita só conseguem manter a qualidade obtida na produção até o consumo. O produtor deve definir o melhor ponto de colheita que garanta a satisfação Consumo in natura ou do consumidor pelo produto e uma conserdestinação à indústria vação pós-colheita adequada. Ainda não se determinam tecnologia utilizada na produção tem um método definitivo para a determinação do momento exato para colheita de todos os frutos. Na determinação do ponto de colheita, devem ser levados em consideração fatores como destino do fruto, meio de transporte, intervalo entre a colheita e o consumo e as características intrínsecas do produto, já que o potencial de vida útil e armazenamento dos frutos dependem do seu estádio de maturação no momento da colheita. Cuidado com o manuseio é essencial O cuidado com o manuseio da frota durante a colheita é essencial para que sua boa qualidade seja mantida. Ter colhedores e ope-
O potencial de vida útil dos hortigranjeiros depende do seu estágio de maturação no momento da colheita
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A qualidade do produto começa no campo e precisa ser mantida até a comercialização
dem ser armazenados pelo maior espaço de tempo, sem perda de qualidade. O período de armazenamento depende principalmente da atividade respiratória do produto, suscetibilidade a perda de umidade e resistência aos microrganismos causadores de podridões.
CRISTINA BARAN
radores adequadamente treinados para evitar todo e qualquer tipo de dano aos frutos durante o manuseio é imprescindível, uma vez que dela depende, em grande parte, o sucesso da sua comercialização in natura. Deve-se também usar carretas tracionadas por trator ou animal para retirar os contentores com frutos do pomar. Se a casa de embalagem for localizada perto do pomar, esses contentores podem ser transportados diretamente nesses veículos, caso contrário, deve-se utilizar caminhão. Nesse caso, o manuseio dos contentores deve ser mais cuidadoso, a fim de reduzir os danos físicos ao produto. Transporte do campo até a casa de embalagem O transporte do fruto do campo para a casa embalagem exige bastante cuidado, pois, geralmente, é nesse momento que ocorre a maior incidência de deteriorações físicas no produto, principalmente se a casa de embalagem estiver localizada muito distante do pomar e as vias de acesso não oferecerem condições adequadas para o tráfego. Esse transporte deve ser feito, se possível, por veículos com sistema de refrigeração, caso contrário, algumas medidas para amenizar os efeitos da elevação temperatura deverão ser tomadas, como por exemplo: cobrir o veículo com lona de cor clara, tomando o cuidado de deixar um espaço livre entre a lona e os contentores e na disposição dos contentores para permitir uma circulação de ar; reduzir o máximo possível o tempo entre a colheita e o transporte; se não for possível, paletizar a carga no campo para evitar o manuseio excessivo dos contentores e facilitar o transporte, devem-se empilhar os contentores no máximo em três camadas para evitar danos físicos aos frutos. As horas mais quentes do dia devem ser evitadas, pois o aquecimento dos frutos reduz o tempo de sua vida útil pós-colheita, acelerando assim os processos que levam a sua deterioração. As condições ideais de armazenamento variam de produto para produto e correspondem às condições nas quais esses produtos po-
GILMAR PELOTAS
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O sucesso de comercialização de hortifrutigranjeiros depende da boa qualidade dos produtos
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PECUÁRIA
Eficiência alimentar como chave na seleção de bovinos de corte T IAGO N EVES P EREIRA V ALENTE PÓS-DOUTOR EM NUTRIÇÃO DE RUMINANTES E FISCAL ESTADUAL AGROPECUÁRIO DA AGRODEFESA DE GOIÁS
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Perspectiva da utilização do consumo alimentar residual (CAR) para selecionar bovinos geneticamente superiores o custo da produção de sua carne na fazenda. Outra opção é trabalhar com animais geneticamente superiores, que respondam positivamente à alimentação, com potencial para ganhar peso comendo menos. Muitas vezes, percebe-se essa característica em alguns animais do mesmo grupo contemporâneo, com idades e pesos semelhantes: eles apresentam desempenhos diferenciados ao consumir a mesma quantidade de alimento. Este conceito de seleção de animais mais eficientes foi inicialmente desenvolvido na década de 60 com re-
torno não muito promissor. Porém, nos últimos anos, tem sido dada grande ênfase a este tipo de seleção em países como Austrália, EUA, Canadá e Brasil. A seleção é feita através da técnica de avaliação do consumo alimentar residual (CAR). Diferentemente da conversão alimentar, o CAR é calculado como a diferença entre consumo real e a quantidade de alimento que um animal deveria comer baseado no seu peso vivo médio durante um determinado período, mostrando uma prova de ganho de peso. Sendo assim, animais mais eficientes têm CAR negativo, enquanto os menos eficientes têm CAR positivo. O CAR é uma característica que apresenta variabilidade genética, passível de melhoramento por seleção e possui herdabilidade moderada. A herdabilidade mede o nível da correspondência entre o fenótipo e o valor genético de cada bovino, lembrando que o fenótipo é o conjunto de caracTIAGO VALENTE
pecuária de corte é cada vez mais competitiva e diversos recursos têm sido aplicados para se conseguir reduzir a idade do abate dos bovinos. Produzir mais carne em menos tempo é a meta e visa ao aumento da rentabilidade da propriedade. Uma das alternativas é a seleção de animais mais eficientes, que pode ser realizada de diferentes maneiras, como por exemplo, avaliando a conversão alimentar do bovino (kg consumo: kg ganho). Entretanto, esta seleção teria como desvantagem escolher animais apenas por tamanho ou nível de alimentação. Selecionar por conversão alimentar privilegia bovinos de maior porte, cujo maior inconveniente seria o aumento no requerimento da energia necessária para que o bovino desempenhe suas atividades básicas, como andar ou pastejar. Isto é chamado tecnicamente de energia que o animal gasta para sua mantença, necessariamente fazendo com que o animal tivesse maior consumo de alimento, elevando
Bovinos esperando suplemento contendo fonte adicional de proteína e energia durante o início da estação seca do ano na zona da mata de Minas Gerais
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terísticas observáveis como, por exemplo, o desenvolvimento ou a morfologia do animal. No Estado do Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) tem desenvolvido pesquisas na identificação destes bovinos mais eficientes, com CAR negativo, sob o comando do professor Carlos Augusto de Alencar Fontes. Sua equipe de pesquisa recentemente fez um experimento com bovinos castrados mestiços ½ sangue Nelore X Red Angus, criados em piquetes de pastagens rotacionadas de capim-mombaça. Os animais foram divididos em grupos: uma vez ao dia, grupos específicos recebiam ração concentrada (contendo proteína e energia) em cocho individual, onde diariamente se calculava o consumo real de ração concentrada (ofertada a 0,6% do peso vivo de cada animal por dia). Ao término do período de experimento, todos os animais foram abatidos para uma avaliação detalhada sobre o rendimento das carcaças.
Efeito do CAR ssobre a composição da carcaça
Bovinos nelore em pastejo: mesmo com idades semelhantes, alguns se destacam em ganho de peso
muscular). Este fato pode ser explicado porque o depósito de gordura na carcaça depende de maior aporte de energia, seja por maior ingestão de alimento ou de concentrado. A gordura lombar pode ser verificada com os bovinos vivos com auxílio de um aparelho de ultra-som. De qualquer forma, entende-se que a deposição da gordura na carcaça é menos eficiente do ponto de vista energético do que a deposição de proteína, que é objetivo da pesquisa. Porém, não existem estudos que comprovem alterações na maciez
TIAGO VALENTE
Muitos resultados de experimentos indicam que animais com CAR negativo tendem a apresentar espessura de gordura subcutânea adequada, não ocorrendo risco de terem uma carcaça com deficiência de cobertura externa de gordura, o que poderia desvalorizar o preço da carne no frigorífico. A falta de gordura leva ao encurtamento da carcaça durante o processo de refrigeração na câmara frigorífica. Mas, na prática, é observado que animais com CAR negativo tendem a ter carcaças mais magras e com menor marmoreio (gordura intra-
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PECUÁRIA
ou sabor da carne bovina após o animal ser classificado como mais ou menos eficiente – CAR negativo ou positivo.
Fatores que podem afetar o CAR Para que se mantenham vivos a produção de calor ocorre naturalmente nos mamíferos, mas em animais com CAR negativo a produção de calor corporal é menor. Já nos bovinos com CAR positivo, foram observados maiores pesos de órgãos como fígado, pulmões, abomaso (coagulador) e intestinos, que podem consumir 50% dos custos da energia destinada apenas à manutenção do bovino, sem considerar o ganho de peso. Isso explica o menor ganho de peso, porque a energia que poderia ser destinada ao ganho é em parte gasta nas próprias vísceras. Contudo, a seleção de animais com CAR negativo
Bovinos machos consumindo ração concentrada em baias individuais para identificação do CAR
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PECUÁRIA
Bovino com canga para coleta de gás metano (CH4) em estudo realizado na Universidade Federal do Norte Fluminense-UENF
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Animais mais eficientes e a produção de metano
Carcaça de bovino com CAR negativo (menor teor de gordura)
não é feita de acordo com o tamanho das vísceras, e sim de forma indireta: normalmente quando se seleciona animais mais eficientes eles já apresentam o menor tamanho de órgãos.
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O alimento consumido pelos ruminantes, após a fermentação ruminal, gera o gás metano (CH4), poluidor atmosférico e causador de agravamento do efeito estufa. Esta emissão pode variar de 8 a 14% do consumo de energia digestível do alimento, atingindo uma média de 28 litros de metano por kg de matéria seca consumida pelo bovino. Porém, estudos em outros países têm mostrado que pode haver redução da emissão de gás metano quando se utiliza animais com CAR negativo para o mesmo ganho de peso. Na UENF são desenvolvidos estudos sobre a emissão de gás metano por bovinos de corte com o auxílio de cangas especialmente fabricadas. O gás metano é coletado diretamente pela narina do animal, ficando armazenado na canga presa ao pescoço do bovino. Posteriormente, as cangas cheias são levadas ao laboratório e analisadas para verificar se animais mais eficientes (CAR negativo) real-
mente aproveitam melhor a energia dos alimentos, emitindo menos metano e poluindo menos o ambiente.
Retorno econômico e ambiental Selecionar animais mais eficientes – aqueles que têm mesmo ganho de peso com menor consumo de alimento –, pode ser economicamente muito significativo, principalmente quando se considera a redução de 400gramas a 1kg de matéria seca do alimento por dia – referente a um animal em fase de terminação confinado. E, ao se avaliar pelo aspecto ambiental, ocorreria redução do uso de nutrientes e a menor produção de poluentes como esterco, chorume, gás metano, óxido nitroso, etc. por unidade de carne produzida. Por todos os aspectos apresentados, pode-se concluir como tendência futura a seleção de animais de produção mais eficientes, para que o produtor possa ter mais lucro e contribuir com a preservação do meio ambiente.
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A escolha da melhor genética define o sucesso na pecuária
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C LÉLIA P ACHECO PECUARISTA, PROPRIETÁRIA DA FAZENDA SANTA SILVÉRIA (PIRATININGA, SP), PRODUTORA DA RAÇA BONSMARA E SÓCIA DA CIA. BONSMARA BEEF
Essa raça produz touros resistentes ao calor, capazes de percorrer grandes distâncias atrás das vacas, possibilitando plena adaptação ao clima quente, com fertilidade, precocidade e alta qualidade de carne número, mas longe de mostrar os excepcionais avanços da atividade, que dobrou a oferta de carne bovina em uma década e tem indicadores de eficácia cada vez mais elevados. Uma carne de ‘segunda’ proveniente de um boi de primeira além de ser muito saborosa - normalmente melhor que o filé mignon - chega às gôndolas com preços praticados no mercado, ou seja, sem o custo alto das carnes especiais. E o pecuarista recebe mais por isso. Cada vez mais o criador brasileiro moderno está investindo em tecnologia, em uma propriedade com parâmetros para a produção sustentável, preservando a água, matas e encostas. Ele sabe que sua fazenda necessita estar em equilíbrio com a natureza. Felizmente, para nós, consumidores e produtores, este pecuarista está ganhando espaço, pois o número de adeptos aumenta, comprovando que é possível produzir heterose com touro a campo ou inseminando aqueles que já têm nível de tecnologia maior.
Os sinais são vários e evidentes. Não se pode fechar os olhos para o aumento da procura por raças bovinas de alta produtividade - as chamadas raças adaptadas - e as taurinas, entre elas as britânicas, com bons ganhos de peso, cujos bezerros desmamam pesados e ganham peso rapidamente, estando prontos para o abate mais cedo. Em destaque novamente o chamado cruzamento industrial, ou seja: o touro adaptado ou europeu acasalado com vacas zebuínas ou meio sangue (zebu x taurino) e novo cruzamento com o touro adaptado, gerando o animal 3/4. Seus bezerros são de 15% a 20% mais pesados. Isso significa mais peso (e mais rápido) por carcaça e com carne de melhor qualidade, tendo no máximo 25% de zebu, segundo padrões internacionais. Hoje, isso é realidade e é possível em condições de campo. O Bonsmara, raça trazida da África do Sul, é o mais bem sucedido exemplo desse cruzamento. Seus primeiros embriões chegaram ao Brasil há mais ou menos uma década. Essa raça produz touros resistentes ao calor, capazes de percorrer grandes distâncias atrás das vacas, possibilitando plena adaptação ao clima quente, com fertilidade, precocidade e alta qualidade de carne. A pecuária brasileira tem várias oportunidades para manter a expansão. O mercado interno está aquecido e o externo cada vez maior e mais exigente. Os produtores devem fazer suas escolhas para participar ativamente desse processo. As opções estão aí. FAZENDA SANTA SILVÉRIA
studos internacionais mostram que consumidores de países em crescimento econômico, como o Brasil, sempre aumentam a procura por carnes em detrimento de outros alimentos. Com mais dinheiro para gastar, as pessoas dão preferência a carnes de melhor qualidade. Este novo nicho parece estar em franco crescimento: quem não quer comer picanha se tem dinheiro no bolso? Mas um boi que só tenha picanha nem a mais evoluída engenharia genética vai ser capaz de produzir. Talvez o caminho já esta sendo trilhado. Como produtores e frigoríficos vêm investindo em genética e tecnologia, produzimos hoje um boi cuja carcaça inteira é de primeira qualidade. Não só os cortes nobres do traseiro, mas também do dianteiro. Esse boi “moderno” gera carne que nada deixa a desejar àquela importada da Argentina, proveniente das fazendas do Pampa úmido. Mas ainda enfrentamos uma realidade que tem sua importância: o boi de “segunda”, que continua produzindo os chamados cortes de “primeira”, que não passam mais do que 25 kg da carcaça, e os de “segunda”, o restante da carcaça. Desperdício. Quando falamos do boi de “segunda”, estamos falando de produção e manejo antigos. Pecuaristas que não acreditam que é possível com a melhora na genética e no trato aumentar significativamente sua produção, gerando assim maiores ganhos. Esse criador tem o gado pronto para abate com mais de 48 meses. Os bezerros são desmamados com menos de 150 kg e as fêmeas têm a primeira cria com mais de três anos de idade. Para essa pecuária de ‘segunda’ a conta não fecha. Sem dúvida, esse não é mais o produtor que retrata a realidade da pecuária brasileira. Pode estar ainda em maior
A raça Bonsmara, sul-africana, se adaptou bem ao clima quente do Brasil
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rezado leitor de A Lavoura, aprecie o artigo do engenheiro agrônomo, e associado da Rural, Fernando Penteado Cardoso, que completou 97 anos em setembro. Sem dúvida nenhuma é um dos maiores nomes da agropecuária brasileira, a que dedicou uma vida inteira de trabalho. Uma de suas maiores contribuições aconteceu na transformação das terras fracas do Cerrado Brasileiro em solos férteis de alta produtividade (com utilização de tecnologia), naquilo que seu amigo e Prêmio Nobel da Paz, Norman Borlaug, sentenciou como o maior acontecimento na história da agricultura do século XX, em nível mundial. Em 2001, Fernando criou a Agrisus, entidade sem fins lucrativos, que trabalha exclusivamente com recursos próprios no apoio a projetos voltados à melhoria e conservação do solo. Graças a sua contribuição nos campos científico e humanitário, temos a convicção de que os produtores são capazes de alimentar o mundo e que para isso só precisam de melhores condições.
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Perigos infundados nas encostas e beiras
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Homenagem
FERNANDO PENTEADO CARDOSO ENG. AGR. SÊNIOR, ESALQ-USP 1936, APÓS SOBREVOAR A NO DE ALTA FLORESTA/MT
esde os primórdios da agricultura no Brasil, quando era inexistente a disponibilidade de fertilizantes, os agricultores perceberam que as terras mais férteis coincidiam com as encostas das serras, o que é explicável pela origem geológica desses solos. Essa preferência também se dava pelo menor risco de geadas, pois os danosos bolsões de ar frio se acumulam nas áreas planas. Ainda nesse período, o controle das invasoras se fazia na enxada e nas capinas morro acima, mas resultavam em escorrimentos que lavavam a terra em prejuízo da fertilidade. Alguns agricultores formaram cafezais e outras culturas alinhados em nível, com sulcos ou camalhões nas entrelinhas para proteção da erosão. Mesmo assim os resultados nem sempre eram satisfatórios nas plantações
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mantidas “no limpo” por capinas continuadas. Mais recenteFernando Penteado Cardoso mente, o recurso dos herbicidas e dos fertilizantes, completados pelas roçadeiras, tem permitido manter as encostas íngremes permanentemente recobertas de vegetação, com controle satisfatório da erosão e com melhoria da fertilidade. É o sistema de plantio direto. Os equipamentos motorizados de roçada, de adubação e de pulverização sobem e descem bem os morros, mas funcionam mal quando inclinados lateralmente nas plantações em nível. A mecanização vem justificando o plantio em linhas retas independentes das curvas de contorno. Na tromba d’água de Teresópolis observou-se que as encostas revestidas
O presidente prestigiou a cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento esário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira, esteve presente à cerimônia de transmissão de cargo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, na qual o deputado federal Mendes Ribeiro Filho assumiu a Pasta. De acordo com Ramalho, na ocasião, o ex-ministro da Agricultura, Wagner Rossi, fez um discurso brilhante e apontou questões relevantes que precisam ser resolvidas para que haja o desenvolvimento do setor e destacou a importância da atuação da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Sociedade Rural Brasileira (SRB). Em seu discurso, Mendes Ribeiro Filho enfatizou que aumentar os recursos para o programa de garantia do preço mínimo, para a ampliação do seguro agrícola e para a defesa sanitária será a prioridade de sua gestão.
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Rural presente na posse de Mendes Ribeiro Filho
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Cesário Ramalho da Silva (à esquerda) cumprimentou o novo ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho e ofereceu o apoio da Rural para o desenrolar de questões importantes para o setor
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de pastagem desde o topo foram menos vulneráveis do que onde havia vegetação de mata. A água escorria pela superfície sem impregnar e saturar o solo, deslizando morro abaixo. A erosão nas encostas não é mais problema. Resta analisar a utilização das margens dos rios, córregos e lagoas. Preliminarmente cumpre admitir que não está comprovado, por aferições in loco, que a vegetação arbórea é indispensável para proteger os barrancos marginais dos cursos de água e das lagoas, assim evitando erosões. Nas regiões de terras fracas as margens são abertas, sem qualquer vegetação original arbórea, salvo onde houve deposição de solo fértil, quando, então, formaram-se as matas ditas ciliares. Matas nativas Nas zonas de terra fértil a mata nativa chegava até as margens dos rios, córregos e lagoas e as aberturas nem sempre respeitaram a vegetação das beiras, seja porque as queimadas as atingiam, ou porque continham ervas tóxicas para o gado, ou ainda para proteção humana no combate ao anofelino
da malária. Nessas áreas, não se constatam desbarrancamentos, erosões e outras alterações explicáveis pela falta de vegetação alta. Deve-se considerar, ainda, que a perda de área produtiva pode chegar a 20% no caso de córregos separados de 300 metros, por exemplo, quando as terras são “bem servidas de água”. Ela será menor nas áreas mais secas, de riachos afastados, as quais poderiam se tornar mais valorizadas pelo menor desperdício de terra agricultável. Os urbanistas pouco afeitos às lides do campo, ainda que bem intencionados, podem ficar tranquilos: a agricultura moderna dispõe de recursos para melhorar e conservar o solo nas encostas íngremes. Outrossim, a inexistência de vegetação arbórea nas margens dos cursos e depósitos de água, não prejudica o ambiente nem a segurança do produtor. Os renques ribeirinhos podem, quando muito, apresentar uma bela paisagem. Os milhares de quilômetros de margens desnudas dificilmente – talvez nunca – virão a ser arborizadas
face aos custos envolvidos com cercas laterais, combate à formiga e às pragas, preço das mudas, serviço de plantio e replantio, capinas ou roçadas por um ou dois anos, tarefas a executar na condição de pouca mão de obra, própria da atividade agropecuária mecanizada. No Brasil, enormes áreas mais declivosas e ao longo dos cursos de água produzem milhões de toneladas de alimentos – arroz, café, frutas, hortaliças, etc. – trazendo tranquilidade e bem-estar às populações das cidades. Escassez de alimentos O mundo aproxima-se de uma fase de escassez de alimento em que se propõe um aumento de 40% na produção de cereais no Brasil. Obrigatoriedades de menor importância podem dificultar e restringir a produção de grãos que o mundo espera de nosso País. Cumpre, nessa contingência, remover restrições burocráticas e ideológicas para que a garra dos produtores venha a alcançar sua plenitude, como tem sido plenamente demonstrado pelo País a fora.
Roberto Ticoulat, vice-presidente da Rural, participou de audiência com o presidente do Senado, que se mostrou sensível aos problemas dos produtores vice-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Roberto Ticoulat, e demais representantes do agronegócio brasileiro reuniram-se recentemente com o presidente do Senado, José Sarney, para pedir a rápida aprovação do projeto de reforma do Código Florestal. Eles alegam que a demora na votação da proposta acarretaria em uma série de problemas na produção agrícola. Segundo Ticoulat, durante audiência, Sarney se mostrou sensível aos problemas dos produtores, mas não adiantou qual a sua posição a respeito do novo Código e não estabeleceu prazo para a votação da matéria na Casa. O presidente da Rural, Cesário Ramalho da Silva, está otimista quanto ao apoio dos demais senadores. “Se a eleição fosse hoje, os produtores venceriam”, defende. Em sua opinião, a sociedade se sensibilizou contra pessoas que querem inibir o crescimento do Brasil, como ONGs internacionais.
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Rural cobra pressa na votação do novo Código Florestal
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A demora na aprovação do novo Código Florestal traz prejuízos financeiros para o Brasil e insegurança aos produtores rurais
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Rural reitera a necessidade de implementação do Consecitrus Preocupada com a falta de organização da citricultura, entidade busca solução para o desenvolvimento da cadeia produtiva diretor de Citricultura da Sociedade Rural Brasileira, Gastão Crocco, vem falando à mídia sobre importantes questões que travam o desenvolvimento do setor. Dentre os assuntos mais comentados por ele está a construção e implantação definitiva do Consecitrus. Crocco ressaltou a necessidade de organização da cadeia produtiva da laranja – especialmente produtores e indústrias – por meio de um Conselho nos moldes do Consecana (Conselho dos Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool). “Estamos trabalhando para atuar com o Consecitrus em duas frentes. A primeira será estudar os custos de produção da laranja e do suco, com o objetivo de precificar a matéria-prima de acordo. Para isso, precisamos ponderar os riscos da atividade e os investimentos da cadeia. O segundo pilar é mais político. Temos a meta de resolver entraves recorrentes como a descarga da fruta nas indústrias. O problema nesse caso é que o produtor recebe em kg/
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O investimento externo sempre foi muito importante para o Brasil e a falta dele pode trazer sérios prejuízos comerciais presidente da Sociedade Rural Brasileira, Cesário Ramalho da Silva, afirmou, após participar da reunião da Subcomissão de Terras Estrangeiras, da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, que as restrições impostas pelo governo federal à venda de imóveis rurais às empresas nacionais controladas por estrangeiros é assunto que preocupa o se-
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massa e quanto maior for o tempo entre a colheita e o processamento da fruta, mais peso se perde, podendo chegar a uma redução de até 15% de água.” Para tentar resolver o prejuízo dessa safra, a Rural remeteu carta às indústrias Citrovita Agro Industrial Ltda., Fischer S/A Agroindústria, Louis Dreyfus Commodities S.A. e Sucocítrico Cutrale Ltda, solicitando posicionamento a respeito da questão. Assista as entrevistas na íntegra acessando o site da Rural: www.srb.org.br.
tor agropecuário brasileiro. Para ele, o investimento externo sempre foi e continua sendo muito importante para o Brasil e que a falta dele pode trazer sérios prejuízos comerciais, em especial aos estados cuja economia depende substancialmente da agropecuária. Em sua opinião, toda a situação gerada pelo parecer da AGU criou insegurança
jurídica que pode estar atrasando a instalação de empresas no País. Como exemplo, citou a projeção da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) para o setor sucrooalcooleiro, que precisaria de investimentos de R$ 80 bilhões para conseguir suprir a demanda pelo etanol na próxima década, diante da crescente frota de automóveis flex no País.
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Capital estrangeiro é essencial ao agro
As conversas entre produtores avançam, rumo ao Consecitrus
“Sozinho, o setor sucroalcooleiro já nos dá a proporção da necessidade de investimentos que temos. O capital estrangeiro é, portanto, bem-vindo”, afirma Ramalho
Sociedade Rural Brasileira Rua Formosa, 367, 19O andar – Anhangabaú - Centro CEP 01049-000- São Paulo – SP Tel: (11) 3123-0666 – Fax: (11) 3223-1780 www.srb.org.br
Jornalista Responsável: Silvia Palhares – silviapalhares@srb.org.br
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Carta da S O B R A P A S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL
Vilipêndio contra as ONGs E
m seu lamentável parecer sobre o Substitutivo ao Projeto de Lei 1.876/99, relativo à revisão do Código Florestal, o Deputado Aldo Rebelo (PCdoB, SP) afirma: “Constrangidas pelas evidências de suas ambições mesquinhas, as nações ricas usam o longo braço de suas organizações não governamentais, que desembarcam no Brasil como portadoras da boa nova da defesa da natureza, mas não conseguem esconder a causa que verdadeiramente protegem – o interesse das nações onde têm suas sedes e de onde recebem farto financiamento.” Ideia semelhante expuseram no último Congresso de Agrobusiness a Senadora Katia Abreu e o ex-ministro Pratini de Moraes, ao afirmarem que as ONGs ocultam sob suas campanhas contra o desmatamento – especialmente o da Amazônia – os interesses de nações estrangeiras em prejudicar o desenvolvimento agropecuário do Brasil, visando a reduzir a concorrência que ele representa. Essas acusações gravíssimas são altamente ofensivas àqueles que labutam, em larga proporção com trabalho voluntário, contra a totalmente desnecessária destruição continuada de nosso riquíssimo patrimônio natural executada sob o falso pretexto de ser necessário expandir a produção de alimentos, objetivo que pode ser alcançado por outros meios. No desmascaramento dessas ofensas, cabe esclarecer o que são e o que fazem as organizações não-governamentais, mais citadas como ONGs. Conforme sua denominação faz entender, constituem instituições livremente criadas à revelia dos governos e destinadas a quaisquer finalidades, puramente dependentes das ideias e desejos de seus fundadores. Por via de regra, são organizadas como fundações, sociedades, associações ou institutos, e se destinam a atividades sociais, culturais ou ambientais. Com tamanha flexibilidade de propósitos e formas de organização, claro está que se apresentam com as mais diversas características e, na verdade, o único aspecto comum é serem não-governamentais e congregarem esforços de pessoas com ideais semelhantes. Há ONGs grandes e poderosas, médias ou minúsculas, e existem organizações internacionais, nacionais, regionais ou locais. Aqui, apenas focalizamos aquelas voltadas para os problemas ambientais. As ONGs internacionais possuem sedes localizadas em um país qualquer, às quais normalmente se vinculam organizações nacionais de diferentes outros países, com administrações próprias e alto grau de liberdade de deliberação, embora atuando segundo as linhas de uma política comum e mantendo uma relativa coordenação de ações. Como regra geral, suas deliberações em cada país são tomadas por um conselho composto de participantes nacionais, e elas recebem parte de seus recursos financeiros da organização-sede ou das congêneres, ainda que efetuem atividades próprias de arrecadação local. Exemplos de organizações desse tipo que têm ligações com o Brasil e atuam também em muitos outros países são as ONGs Conservation International, WWF, BirdLife International, Greenpeace, The Nature Conservancy e Fauna & Flora International, todas com importantes tra-
balhos executados no nosso País em prol da natureza. As ONGs puramente nacionais também podem receber recursos do exterior, normalmente dirigidos a um fim específico como, por exemplo, compra de terra para estabelecimento de reservas naturais privadas. No que se refere à defesa da natureza, dentre a extrema diversidade de propósitos a que as ONGs atuantes no Brasil se destinam, assumem papel de especial relevância aquelas voltadas para a proteção do patrimônio natural da Nação e ao uso sustentável de seus recursos, e são estas às quais evidentemente se dirigiram as acusações citadas no início desta Carta. Os participantes deste tipo de ONG, por princípio, são conscientes de que o “progresso” com características destrutivas é imoral e deve ser combatido, sendo admissíveis apenas as atividades econômicas compatíveis com o uso verdadeiramente sustentável dos recursos naturais, ou seja, aquelas “nas quais a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e as mudanças institucionais estejam todas em harmonia e revigorem tanto o potencial para atender às necessidades e aspirações humanas atuais, quanto às futuras”, definição de desenvolvimento sustentável acordada desde 1987 pela Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. De fato, não é ético e moralmente aceitável, nos dias de hoje, esbanjarmos recursos e dilapidarmos o patrimônio natural em detrimento das gerações futuras, apenas para atender às nossas próprias necessidades e aspirações presentes. Imputar aos que compartilham das ideias acima e as adotam em suas atividades institucionais a pecha de uma vergonhosa submissão a interesses estrangeiros é uma inominável ofensa, merecendo ser repelida com indignação e extremo vigor. Inexiste qualquer dúvida de ser o crescimento da produção agropecuária essencial para atender às exigências alimentares da população humana em expansão descontrolada, mas ele não poderá ser efetivada com prejuízo da diversidade biológica do planeta reconhecidamente em séria crise, conforme constatado com clareza na Conferência de Nagoya realizada em 2010 sob os auspícios das Nações Unidas. Atribuir intenções subalternas, antipatrióticas ou ingênuas àqueles que demonstram compreensão mais ampla dos problemas ambientais, atuais e futuros, não é apenas uma colossal injustiça, mas, também, uma demonstração de estreiteza de visão, focalizada apenas em ambições e interesses imediatos. Obviamente, dada a imperfeição da natureza humana, algumas ONGs têm sido utilizadas para fins menos nobres, como a mídia nos faz reconhecer em repetidas matérias sobre a devastadora corrupção vigente no País. Mas tais ações desprezíveis e indignas constituem procedimentos atípicos, não subordinados a interesses estrangeiros, e não justificam qualquer julgamento indiscriminado e injusto das ONGs que, na sua amplíssima maioria, prestam inestimáveis serviços à Nação e ao planeta.
Ibsen de Gusmão Câmara Presidente A Lavoura
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SOBRAPA S O C I E D A D E B R A S I L E I R A D E P R O T E Ç Ã O A M B I E N TAL
Citações O famoso poeta Carlos Drummond de Andrade, falecido em 1987, legou-nos o seguinte pensamento pleno de razão: “De que adiantará o enriquecimento nacional entre ruínas?” Não se sabe que fatos específicos levaram o notável escritor a se exprimir desta forma, mas seguramente suas palavras traduziram o desencanto com a destruição das riquezas naturais e culturais do País devida a inconsequentes iniciativas voltadas para geração do “progresso”, sem atentarem para seu lado negativo. Um país é grande quando consegue conciliar o aumento da riqueza com a preservação do patrimônio que já possui. No Brasil, monumentos históricos e biomas de beleza natural única e raro valor biológico têm sido eliminados em nome do progresso, quando medidas acauteladoras poderiam tê-los preservado ou pelo menos evitado os danos maiores. E fatos desta natureza continuam a ocorrer sob nossos olhos, sem que a Nação, inebriada com o aumento ambicionado do Produto Nacional Bruto, reaja em defesa do que merece ser resguardado em perpetuidade.
Natureza em perigo Os peixes cartilaginosos (classe Chondrichthyes), também denominados elasmobrânquios, englobam os tubarões, as arraias e as pouco conhecidas quimeras que se caracterizam por não possuírem um esqueleto ósseo e, sim, apenas cartilaginoso. No mundo, totalizam cerca de um milhar de espécies, muitíssimo menos que os denominados peixes ósseos, abundantes nos oceanos e ambientes de água doce e com mais de 24.000 espécies. Ao invés destes, os elasmobrânquios demonstram baixas taxas de fecundidade e vida longa, razões pelas quais possuem pouca capacidade de reposição populacional quando submetidas a pesca excessiva ou degradação de habitats. A essa vulnerabilidade somam-se os fatos de que algumas espécies se agregam em populações relativamente densas e em áreas definidas para alimentação ou procriação, e de que os berçários frequentemente se localizam em águas rasas. No Brasil são reconhecidas 169 espécies de elasmobrânquios e, como em quase todo o mundo, elas estão sendo vítimas de capturas excessivas e mal controladas. Para melhor conhecer a situação populacional desses animais nas águas sob jurisdição brasileira, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) desenvolveu uma avaliação preliminar dos riscos de extinção existentes. O resultado do estudo indicou que das 169 espécies, duas foram consideradas regionalmente extintas, 29 encontram-se na categoria “Criticamente em Perigo”, sete na de “Em Perigo” e 20 na de “Vulnerável”. Das demais, 47 foram consideradas como quase ameaçadas ou sob
baixo risco, e 59 não puderam ser avaliadas devido à insuficiência de dados. Contudo, essas informações foram consideradas como preliminares, porque as avaliações feitas ainda passarão por uma revisão científica antes de serem oficialmente reconhecidas. Tudo indica que a situação precária dos elasmobrânquios da fauna brasileira é devida à pesca excessiva e não regulamentada. Espécies comuns no passado encontramse hoje em colapso populacional, como o cação-anjo (Squatina sp.) e cação-bico-doce (Mustelus schmitti), dentre outras. Várias espécies já se acham incluídas em listas oficiais de espécies ameaçadas, mas mesmo assim continuam a ser capturadas ao longo das costa brasileira Os elasmobrânquios são peixes com uma longuíssima história evolutiva e têm conseguido sobreviver durante dezenas de milhões de anos às diferentes crises ambientais por que os mares já passaram ao longo do tempo geológico, mas agora enfrentam um novo perigo que não estão sendo capazes de evitar: o homem. Fonte: Ascom/ICMBio
A Ciência e o projeto de Código Florestal Pesquisadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Embrapa participaram em julho último de reunião com a Comissão de Meio Ambiente e Agricultura do Senado. De suas palavras, pinçamos algumas frases. O Prof. Pedro Aleixo, da SBPC, afirmou que “Os senadores serão responsáveis para encontrar um ponto de equilíbrio. Não adianta para o país uma solução em que uma parte vai ganhar; chegou a hora de um acordo.” Celso Manzato, da Embrapa, lembrou “que a preservação das matas nas propriedades privadas garante a manutenção dos aquíferos, controla pragas e assegura o desenvolvimento sustentável da própria agricultura”; e acrescentou que “a preservação dessas áreas [de mata] em terras que não têm potencial para plantio contribui para a polinização das plantas e o controle de pragas, que é um problema que já nos preocupa e está em estudo.” O pesquisador da ABC Elbio Rech Filho asseverou que “a lógica que deve mostrar a discussão [no Senado] é a que agrega crescimento econômico, inclusão social, preservação ambiental e desenvolvimento humano.” Na 63ª Reunião Anual da SBPC, a Agrônomo Antonio Donato Nobre, pesquisador do INPE e do INPA, afirmou que o Código Florestal aprovado pela Câmara de Deputados usou como base científica apenas um estudo de 2008 com “conclusões duvidosas e erradas, ainda não publicado”, de autoria de Evaristo de Miranda, pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite. Nesse estudo o autor afirma que “só 29% das terras agricultáveis estão disponíveis para a agricultura”. Para Nobre, o que Miranda fez foi ciência a “soldo, sob encomenda” com conclusões, que apesar de suas inconsistências, “foram avidamente apropriadas por poderosos interesses políticos e financeiros”. Fonte: Informativo Mater Natura no. 96, de agosto de 2011
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Nova avaliação da IUCN sobre espécies ameaçadas Em 2011 a União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN refez sua avaliação quanto ao número de espécies ameaçadas existentes no mundo. Obviamente, dada a carência de dados precisos quanto à fauna e à flora mundiais, o número de espécies suficientemente conhecidas para permitir uma rigorosa avaliação é muitíssimo menor do que o total existente, que sequer é conhecido com razoável precisão especialmente quanto aos microrganismos e à maioria dos invertebrados. Assim, o novo trabalho da IUCN deve ser considerado apenas uma amostragem, porém muito significativa para fins estatísticos. No trabalho, foi avaliado o status de 59.508 espécies da flora e da fauna, 900 a mais do que em 2010, e o resultado indicou que 3.981 estão na categoria “Criticamente em Perigo”, 5.566 na de “Em Perigo” e 9.998 na de “Vulnerável”. Dentre os vertebrados, a situação mais grave é a dos anfíbios, que se acham em acentuado declínio em amplas regiões do planeta.
tório e existe um caminho muito longo a percorrer, mas já existe a perspectiva de, no futuro, ser viável a produção industrial de hidrogênio usando a luz solar. Fonte: Science, 01-04-2011
A Índia recupera suas florestas A Índia, o segundo país mais populoso do mundo, com 1,21 bilhões de habitantes concentrados em uma área pouco maior do que um terço da do Brasil, pretende gastar o equivalente a cerca de dez bilhões de dólares americanos no plantio de novas florestas e no melhoramento daquelas já existentes, segundo consta em planejamento aprovado em fevereiro último pelo seu Conselho de Mudanças Climáticas. Embora ainda sujeito à esperada aprovação pelo Parlamento, esse planejamento denominado “Missão para a Índia Verde”, faz parte de um total de oito “missões” previstas no plano indiano para as mudanças climáticas, programado para ter início em 2012. Vale indagar: e o Brasil, o que pretende fazer? Fonte: Nature, 03-03-2011
Uma descoberta revolucionária A maior parte da energia usada no mundo decorre direta ou indiretamente da captura da energia solar pelas plantas pelo o processo de fotossíntese, mediante o qual a água (H2O) e o gás carbônico (CO2) são transformados em matéria orgânica vegetal, que serve de combustível para o metabolismo dos seres vivos, ou como biocombustível para gerar energia e movimentar as nossas máquinas. Carvão mineral, petróleo e gás natural nada mais são do que energia solar fossilizada, captada por plantas e animais que viveram em passado remoto. Fogem a essa regra geral apenas as energias hidráulica, solar e eólica, que em última análise decorrem do calor gerado pelo Sol movimentando a água e o ar, e a energia nuclear, gerada pela fissão dos átomos de alguns elementos radioativos, basicamente urânio. Até muito recentemente, o homem foi totalmente incapaz de imitar a fotossíntese das plantas. Agora, pela primeira vez na História, pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) conseguiram criar uma “folha artificial”, que reproduz quase completamente o que as naturais fazem. A nova descoberta tecnológica se baseia numa lâmina de sílica, do tamanho aproximado de uma carta de baralho, com catalizadores diversos nas duas faces. A lâmina absorve a luz solar e divide as moléculas d’água, gerando moléculas de H2 e O2. Evidentemente, o hidrogênio assim produzido, pelo menos teoricamente, poderá ser usado como combustível, dando origem novamente a água ao combinar-se com o oxigênio do ar. Em termos de energia, o dispositivo é capaz de converter 5,5% da luz solar incidente em hidrogênio. Isto significa que, em teoria, desde que haja acesso a água, poder-se-á obter de forma barata e limpa uma nova fonte renovável de combustível. Claro está que tudo ainda está em escala de labora-
A China apresenta suas metas ambientais para 2015 O surpreendente desenvolvimento tecnológico e econômico da China, aliado a séculos de exploração não sustentável de seus recursos naturais por uma imensa população, já cobraram um altíssimo custo ambiental. Os dirigentes do país, reconhecendo que ele não mais poderia ser suportado, resolveram aprovar um ambicioso planejamento quinquenal, anunciado recentemente pelo Primeiro-Ministro Wen Jiabao no Congresso Anual do Partido, em Beijing. Nos últimos cinco anos, a China aumentou seu Produto Interno Bruto (PIB) numa média de 11,2% ao ano, mas mesmo assim conseguiu reduzir em 19,1% o consumo de energia por unidade do PIB. A demanda química de oxigênio – uma medida da poluição orgânica da água – e a emissão de dióxido de enxofre também diminuíram respectivamente 12,5% e 14,3%. Dando continuidade a esse notável esforço na área ambiental, o novo plano quinquenal estabeleceu as seguintes metas: • Aumentar a proporção do uso de combustíveis não-fósseis de 8,3% para 11,4%. • Reduzir o uso de energia e de carvão respectivamente em 16% e 17%. • Reduzir a demanda química de oxigênio e de dióxido de enxofre em 8%. • Limitar o uso de energia a 4 bilhões de toneladas-equivalentes de carvão. • Aumentar a cobertura florestal para 21,7%. • Aumentar as reservas de madeira em 600 milhões de metros cúbicos. • Reduzir as emissões de amônia e de óxidos de nitrogênio em 10%. • Reduzir o uso da água por unidade de crescimento industrial em 30%.
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• Aumentar em 53% a eficiência de irrigação. Se a China vai conseguir cumprir tamanha tarefa é duvidoso, mas demonstra a seriedade com que os problemas ambientais são encarados pelos seus dirigentes. Fonte: Nature, 19-03-2011
Nova avaliação evidencia a situação grave dos bancos de coral O World Resources Institute, uma organização sediada em Washington, DC, que conforme seu nome indica se destina a avaliar as condições dos recursos naturais do mundo, publicou em fevereiro último uma estatística atualizando um estudo sobre os corais efetuado em 1998. Os novos dados coletados indicam que mais de 60% dos bancos de coral existentes no mundo estão ameaçados por atividades humanas exercidas localmente, tais como poluição e pesca predatória. Se forem levadas em conta outras pressões antrópicas globais, tais como aumento de temperatura da água do mar e acidificação dos oceanos, o percentual de risco nos dias atuais aumenta para 75%, sendo esperado que cresça para 90% em 2030. O estudo dá ênfase à importância dos bancos de coral como fonte de alimento para as populações locais e como proteção dos litorais, e avalia que a presente situação altamente desfavorável poderá ser revertida caso essas populações parem de utilizar praticas de exploração insustentáveis. Fonte: Nature, 03-03-2011
era uma enorme preocupação dos conservacionistas, que viam alarmados as rápidas mudanças em curso na região, sem que existissem áreas protegidas em número e extensão suficientes. Hoje, felizmente, as condições são muito mais favoráveis. A par da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) pertencente ao Serviço Social do Comércio (SESC) situada no Estado de Mato Grosso entre os rios Cuiabá e São Lourenço, com mais de 100.000 hectares rigidamente protegidos, instituiu-se recentemente a Rede de Proteção e Conservação da Serra do Amolar, também no mesmo estado, nas proximidades da citada serra. A Rede é constituída por diversas RPPNs que, juntamente com o Parque Nacional do Pantanal Matogrossense, uma reserva federal, cobre uma vasta área de terras protegidas quase totalmente contínua de 209.952 hectares. As áreas privadas que a constituem são as RPPNs Dorochê, Acurizal, Penha, Engenheiro Eliezer Batista e Rumo ao Oeste. A elas podemos também agregar a Fazenda Santa Teresa, com 63.000 que, embora não seja ainda uma RPPN, está sob os cuidados de uma proprietária com convicção conservacionista, que a preserva cuidadosamente. O conjunto de áreas protegidas da Rede acima citada, bem como a RPPN de propriedade do SESC, além de seu papel primordial de proteção da diversidade biológica do Pantanal, têm sido palco de repetidos trabalhos de pesquisa científica efetuados em parcerias formalmente firmadas com as universidades federais da região. Graças em grande parte à iniciativa privada, a conservação do Pantanal está felizmente progredindo significativamente.
A enorme importância das abelhas É de conhecimento geral a importância das abelhas como agentes polinizadores no aumento da produção agrícola, mas geralmente não se tem ideia do que isto significa em termos financeiros. Um estudo divulgado pelas Nações Unidas, expondo as diferentes ameaças a que atualmente estão sujeitas as abelhas, principalmente o misterioso e abrangente fenômeno do abandono das colmeias, avalia que a contribuição desses insetos na produção de alimento, em termos mundiais, alcança o surpreendente montante de 153 bilhões de dólares. Fonte: Science, 18-03-2011
A iniciativa privada aumenta substancialmente a proteção do Pantanal O Pantanal Matogrossense é uma das raras regiões do País onde se pode constatar com facilidade a riqueza de nossa fauna. A região, ameaçada cada vez mais pelo desenvolvimento não sustentável, precisa urgentemente aumentar suas áreas sob proteção, para que esse riquíssimo acervo faunístico possa também ser apreciado e usufruído pelos nossos descendentes. Há três décadas, a proteção da natureza no Pantanal
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SOBRAPA Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental CONSELHO DIRETOR PRESIDENTE Ibsen de Gusmão Câmara DIRETORES Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho CONSELHO FISCAL Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin SUPLENTES Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond
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A maximização da produtividade somente tem sentido quando associada à otimização do uso de insumos, à sustentabilidade e à maior rentabilidade
Aumento da produtividade do milho depende da profissionalização do setor produtivo Altas produtividades do milho podem ser alcançadas
bter altas produtividades de milho, acima das 14 toneladas por hectare, é possível utilizando-se práticas sustentáveis e aumentar a média brasileira, hoje em torno das 4,5 toneladas? De acordo com estudos conduzidos por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo tendo como referência produtores de milho em todas as regiões brasileiras, é uma meta possível de ser alcançada. “Não é utopia”, sustenta José Carlos Cruz, da área de Fitotecnia da Empresa. Segundo ele, em levantamentos feitos a partir de 2009, em 1095 lavouras de milho, foram registrados rendimentos superiores a 12 toneladas por hectare em 326 propriedades, sendo que a maior produtividade foi de 16,53 toneladas. “Para se alcançar altos rendimentos é necessário que os agricultores dediquem atenção suficiente aos fatores de construção da produtividade. Alta produtividade não é algo que se alcança em uma única safra. É uma meta que se atinge gradualmente, ao longo dos anos, e por meio de ações que busquem, principalmente, melhorias do ambiente produtivo”, explica. Segundo ele, áreas de alta produtividade têm em comum o manejo que prioriza a produção de material orgânico, promovendo maior teor de matéria orgânica e boa qualidade operacional em todas as atividades. Entre essas recomendações, resultados de pesquisa indicam tanto o aprimoramento das condições do solo (aumento da matéria orgânica e da fertilidade, além das suas propriedades físicas e biológicas) como da forma de conduzir as operações de campo (tempo oportuno, máquinas e equipamentos adequados, precisão da agricultura, insumos de alta qualidade utilizados de forma racional e balanceada) e também a gerência adequada do processo como um todo. Cruz surpreende quando perguntado sobre a conciliação entre produtividade e a adoção de práticas sustentáveis: “dentro dos conceitos modernos de agricultura, a alta produtividade está intimamente associada com alta sustentabilidade”.
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Receita? Para o pesquisador José Carlos Cruz, embora seja constatada uma grande evolução no nível tecnológico utilizado na produção de milho no Brasil, a maximização da produtividade somente tem sentido quando associada à otimização do uso de insumos, à sustentabilidade e ào maior rentabilidade. No entanto, é muito comum verificar situações onde a quantidade de fertilizantes, especialmente o fósforo e o potássio, são aplicados acima da quantidade técnica recomendada (veja o box). “Também é comum o uso excessivo de inseticidas e fungicidas, onerando o custo de produção e comprometendo a saúde do produtor e o meio ambiente”, reforça o pesquisador. E continua: “máximas produtividades devem ser obtidas com eficiência. Não basta simplesmente aumentar o uso de insumos, mas utilizá-los de forma racional e balanceada, explorando o sinergismo entre as diferentes tecnologias”, pondera. O pesquisador afirma que um fator comum entre agricultores que detêm recordes de produtividade é a habilidade em identificar e manter um ambiente altamente produtivo no solo. Abaixo, conheça algumas diretrizes elencadas por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo como sendo preponderantes para se alcançar altos rendimentos. Sistema de plantio direto O produtor deverá procurar sempre aumentar o potencial produtivo de sua lavoura por meio de técnicas como o sistema de plantio direto, com adequado programa de rotação e sucessão de culturas, envolvendo inclusive o consórcio de milho com forrageiras (Integração Lavoura-Pecuária), visando o manejo conservacionista do solo e da água e a preservação do meio ambiente. Fertilidade do solo, exigências nutricionais e adubação A fertilidade dos solos, as exigências nutricionais e a adubação são componentes essenciais para a construção de um sistema de produção eficiente. A disponibilidade de nutrientes deve estar sinA Lavoura OUTUBRO/2011 29
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cronizada com o requerimento da cultura em quantidade, forma e tempo. Deve ser objetiva e, portanto, baseada em um diagnóstico através da análise do solo e na expectativa de produtividade da cultura. Altas produtividades significam maior exigência e maior extração de nutrientes do solo. Genética e qualidade da semente A semente pode ser considerada o principal insumo e incorpora várias outras tecnologias. De modo geral, a cultivar é responsável por 50% do rendimento final de uma lavoura. Consequentemente, a escolha correta da semente pode ser a razão do sucesso ou insucesso da lavoura. Na safra 2011/12, foram disponibilizados 316 cultivares convencionais e 173 transgênicas, com grande predominância de híbridos simples (60,32%) e triplos (20,04%), de maior potencial genético. Cerca de 60% das sementes, plantadas tanto na safra como na safrinha, são híbridos simples de alto potencial genético. No entanto, é fundamental utilizar um sistema de produção com nível tecnológico adequado para que essas sementes possam mostrar o seu potencial produtivo e o agricultor obter maior lucro. Manejo cultural O manejo cultural deve ser adequado para explorar ao máximo o potencial genético de uma cultivar em determinada condição edafoclimática (solo e clima), levando em consideração aspectos econômicos e a sustentabilidade do sistema de produção. Época de plantio O plantio de milho feito na época correta afeta diretamente a produção e a produtividade da lavoura e, consequentemente, o lucro do agricultor. O atraso no plantio dificulta também diversas operações agrícolas, como o controle de pragas e plantas daninhas, além de aumentar a ocorrência e a severidade de doenças, e é apontado como um dos principais fatores responsáveis pela baixa produtividade, principalmente do pequeno e médio produtor. Espaçamento e densidade de semeadura Levantamento realizado por técnicos da Embrapa Milho e Sorgo mostrou que entre produtores que alcançaram rendimentos de grãos superiores a 8 t/ha, 65% utilizaram uma densidade de semeadura superior a 65 mil plantas por hectare e cerca de 30% utilizaram uma densidade superior a 70 mil plantas por hectare. Manejo integrado de pragas O controle químico de pragas, doenças e plantas daninhas deve ser orientado dentro dos princípios de boas práticas agropecuárias, evitando onerar desnecessariamente o custo de produção e protegendo o agricultor e o meio ambiente. Embora a adoção de sementes de milho Bt tenha mudado drasticamente o manejo das lagartas na cultura do milho, a prática não elimina a necessidade de manejo de outras pragas. Agricultura de precisão Embora as tecnologias da agricultura de precisão possam ser utilizadas para a aplicação de diferentes insumos agrícolas (sementes e densidade de plantio, dosagem de pesticidas, monitoramento de pragas e doenças, etc.) foi no manejo da fertilidade do solo e no
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Espaçamento e densidade de semeadura corretos são importantes para obtenção de altos rendimentos de grãos
monitoramento da disponibilidade de nutrientes para as plantas que esse novo conceito de manejo apresentou os maiores benefícios. Fatores edafoclimáticos Em situações de altas produtividades, além dos fatores controláveis pelo homem, existem fatores edafoclimáticos que limitarão ou dificultarão o alcance desses rendimentos. Além da precipitação, as temperaturas noturnas e diurnas, a amplitude térmica, a duração do dia e a radiação solar, fatores condicionados pela região tropical, poderão limitar nossa produtividade. Um exemplo típico é a altitude. Os diferenciais entre as áreas de maior altitude e áreas baixas ainda existem devido à amplitude térmica; porém, com híbridos mais adaptados e aliados a novas tecnologias essas diferenças estão diminuindo consideravelmente, sendo possível em áreas de baixas altitudes ultrapassar as 12 t/ha de grãos (200 sacas/ha) ou 60 t/ha de forragem (35% de matéria seca). Gestão da implantação de melhorias A gestão do processo de produção deve ser direcionada para analisar e retirar os entraves ao melhor desempenho do sistema.
FERNANDO VALICENTE/EMBRAPA MILHO E SORGO
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O controle químico de pragas, doenças e plantas daninhas deve ser orientado
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Práticas permitem racionalizar uso de fertilizantese reduzir custos de produção Os gastos com fertilizantes representam de 30 a 40% dos custos variáveis de produção de grãos no Brasil. Neste cenário, práticas e recomendações que promovam o uso mais eficiente de nutrientes são estratégicas para garantir a competitividade do agricultor. Dados de pesquisas recentes fornecem indicativos de que há oportunidades para racionalizar o uso de fertilizantes, com maior eficiência técnica e econômica. Para saber como essa racionalização é possível, A Lavoura entrevistou o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Álvaro Vilela Resende. Confira, a seguir, as orientaçõesdo pesquisador sobre manejo de fertilidade do solo. A Lavoura: O gasto com fertilizantes onera bastante o custo de produção de milho. Para racionalizar este uso e reduzir o gasto? Álvaro Resende: É preciso conhecer a condição de fertilidade do solo para então se definir a quantidade de adubo a ser aplicada na lavoura. Infelizmente, grande parte dos agricultores faz essa definição de forma arbitrária, sem usar análise de solo ou outros critérios que devem ser considerados para a recomendação de fertilizantes de forma mais eficiente. Temos observado diversas situações de lavouras nas quais seria possível ajustar e mesmo reduzir a adubação, sem afetar a produtividade. Muitos agricultores têm utilizado adubações relativamente pesadas e em doses fixas, gerando excedentes que as culturas não utilizam e que vão se acumulando no solo ao longo do tempo. Por outro lado, é comum o descuido em relação ao manejo da acidez do solo. Aplicações insuficientes de calcário podem diminuir o potencial produtivo das lavouras, o que acaba contribuindo para a perda de eficiência no uso dos fertilizantes. A Lavoura: De que maneira o sistema de produção adotado (sistema de plantio convencional ou sistema de plantio direto) interfere no manejo da fertilidade do solo? Álvaro Resende: De modo geral, o sistema plantio direto permite a manutenção ou o aumento dos teores de matéria orgânica do solo. A matéria orgânica, além de atuar como fonte de nutrientes, contribui de forma muito expressiva para ampliar a capacidade de o solo armazenar os nutrientes adicionados via adubação. Esses efeitos do plantio direto têm se mostrado ainda mais importantes para as lavouras na região do Cerrado, cujos solos são naturalmente menos férteis, com baixa capacidade de retenção de nutrientes e mais propensos à exaustão da matéria orgânica. Adicionalmente, a maior diversidade de espécies vegetais, requerida para se estabelecer esquemas de rotação de culturas no plantio direto, favorece muito os processos de ciclagem de nutrientes no solo. Assim, a condução da lavoura em plantio direto tem proporcionado significativa melhoria da fertilidade do solo, que, com o tempo, passa a apresentar maiores estoques e eficiência de ciclagem de nu-
trientes. Em função desses fatores, seria menor a necessidade de fertilizantes no plantio direto comparativamente aos sistemas de plantio convencional com revolvimento do solo e monocultura. A Lavoura: Como pode ser analisada a fertilidade do solo para definir a adubação a ser feita? Álvaro Resende: Os resultados da análise do solo constituem a base para se conhecer a lavoura, estabelecer ajustes e refinar o manejo da fertilidade. Contudo, muitos agricultores e mesmo os técnicos que lhes dão assistência nem sempre dão o devido valor às informações contidas num laudo de análise do solo. É importante ressaltar que essas informações acumuladas no decorrer de várias safras permitem entender como está evoluindo a fertilidade e fazer aprimoramentos, com intervenções mais efetivas para incrementar o potencial produtivo das lavouras. Ainda não é rotina nas fazendas se proceder à integração de informações associando o manejo de corretivos e fertilizantes, o estado de fertilidade obtido no solo e a resposta em produtividade das culturas ao longo do tempo. A Lavoura: As recomendações oficiais de adubação têm sido seguidas pelos produtores e têm se mostrado adequadas atualmente? Álvaro Resende: As adubações praticadas pelos agricultores que vêm obtendo maiores tetos de produtividade não condizem com o que está prescrito nos boletins oficiais de recomendação de corretivos e fertilizantes. É provável que estejam cometendo excessos. Por outro lado, os boletins oficiais precisam ser atualizados, considerando as especificidades decorrentes da adoção do plantio direto, das diferentes combinações de culturas e do elevado potencial produtivo de cultivares mais modernas. Esses aspectos são objeto de pesquisas em andamento na Embrapa e instituições parceiras. A Lavoura: O nitrogênio é o nutriente que mais onera a produção de milho. Como seu uso pode ser mais eficiente? Álvaro Resende: Na recomendação de adubação deve se levar em conta os principais fatores determinantes da necessidade de nitrogênio a ser aplicado para o milho: a expectati-
va de produtividade a ser alcançada, o teor de matéria orgânica no solo e as culturas antecessoras ao milho. Há oportunidades para refinamentos na prática de adubação nitrogenada, sobretudo quanto à consideração dos efeitos dos dois últimos fatores, os quais estão diretamente relacionados à adoção do plantio direto. Temos exemplos claros de que a sequência de culturas afeta a qualidade da matéria orgânica e os estoques de nitrogênio no solo. O caso típico é que o milho cultivado após soja ou outra leguminosa necessita de menos nitrogênio na forma de fertilizante. Também algumas áreas de integração lavoura-pecuária envolvendo soja, braquiária e milho têm proporcionado elevada produtividade com doses modestas de nitrogênio. Portanto, ganhos de eficiência e redução de custo no uso desse nutriente são possíveis em determinadas situações, mas requerem interpretações mais elaboradas e assistência técnica de qualidade. A Lavoura: As correções de acidez de solo têm sido bem adotadas? Qual é a importância do uso de corretivos? Álvaro Resende: A otimização do aproveitamento de fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) pelas culturas depende de condições favoráveis ao crescimento e funcionamento das raízes. Condições apropriadas de pH e disponibilidade de cálcio e magnésio são obtidas mediante o uso de produtos corretivos da acidez do solo. Assim, aplicações de calcário e, eventualmente, gesso são requeridas periodicamente. Apesar de serem insumos baratos em comparação aos fertilizantes NPK, a necessidade de corretivos costuma ser relegada. Tem se verificado que mesmo lavouras consideradas tecnificadas podem, em determinados momentos, apresentar saturação por bases abaixo da ideal para as culturas de grãos. Além de restringir ganhos de produtividade, o uso insuficiente de corretivos acaba por diminuir a eficiência de uso do adubo NPK, redundando em pior desempenho econômico da propriedade. A Lavoura: Quais são benefícios, além da redução de gastos do agricultor, de uma maior eficiência do uso de fertilizantes? Álvaro Resende: O Brasil depende de importações maciças de fertilizantes. Ganhos globais de eficiência de seu uso na agricultura brasileira certamente resultarão em maior segurança estratégica para o País, incluindo o equilíbrio na balança comercial e o prolongamento da duração de nossas reservas minerais de fontes de nutrientes. Além disso, o nosso agricultor é cada vez mais pressionado em relação às questões ambientais associadas à exploração agrícola. Nesse aspecto, uma maior eficiência de uso de fertilizantes significa menor risco de contaminação ambiental por nutrientes. Se a adubação for dimensionada na medida do que é requerido/absorvido pela cultura, não há poluição. MARINA TORRES - EMBRAPA MILHO E SORGO
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Milhos especiais garantem renda extra O minimilho é a própria espigueta do milho colhido antes da polinização (detalhe)
segmento de produtores de milhos especiais que até há pouco vivia à margem dos produtores de milho em grão vem ganhando espaço e provocando reações positivas no mercado. Nas formas de milho verde, seja cozido, assado ou pamonha, o mercado já sinaliza oportunidades para quem aposta no tamanho em miniatura do milho. “A versatilidade que o minimilho permite, seja no seu uso em saladas, em sopas, misturado no arroz ou em massas, em cozidos de legumes ou de carnes e grelhados em azeite como guarnição, tem provocado a abertura de um novo nicho de mercado, que já começa a ser explorado por restaurantes finos, por exemplo”, explica Valéria Apa-
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recida Vieira Queiroz, pesquisadora da Embrapa Milho e Sorgo. Composto quase que em sua totalidade por água, o minimilho tem o diferencial de possuir menor valor calórico se comparado ao milho comum. É considerado uma hortaliça pelos cuidados que exige. Depois de colhido, deve ser imediatamente acondicionado em temperaturas que permitem sua conservação, entre 5O e 10OC. De importador – a maioria do minimilho consumido no Brasil vinha da Tailândia –, o produto vem ganhando adeptos entre os produtores rurais, principalmente os que utilizam mão-de-obra familiar; hoje o país já é autossuficiente em produção. E a receita é certa: os maiores consumidores são das classes A e B.
Para produzir minimilho, adianta o pesquisador Israel Alexandre Pereira Filho, também da Embrapa Milho e Sorgo, é necessário um cuidado especial na colheita. “O produtor deve visitar a lavoura todos os dias, pois o ponto de colheita é determinado pela emissão dos cabelos na espigueta. Dois dias depois de aparecerem, está na hora de colher”, diz Israel. No verão, o minimilho é colhido em até 45 dias, dependendo da precocidade da cultivar escolhida. No inverno, a colheita demora um pouco mais, chegando a até 75 dias. Acertar o dia da colheita é determinante, segundo ele. “O minimilho é a própria espigueta do milho de 4 a 12 cm antes da polinização. Se for polinizado, perde-se o valor comercial”, completa.
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Mercado promissor Em Minas Gerais, de acordo com o pesquisador Israel Filho, o produtor recebe até R$ 3,50 por quilo de minimilho minimamente processado.
Se já processado em conserva, o valor sobe para R$ 6,50. Outro atrativo de uma lavoura de minimilho é a economia de insumos. “O custo de produção é menor se compararmos ao cultivo de milho em grão, já que a ocorrência de pragas e doenças é atenuada pela exigência de uma colheita mais precoce”, afirma. Para Mário do Amaral Filho, produtor de milho na região de Ribeirão Preto-SP e que vem estudando o plantio de uma lavoura de minimilho para exportação, o empresário deve estar atento às exigências dos países importadores. “O contrato é muito minucioso e as exigências em relação à sanidade, à qualidade e ao armazenamento fará com que os produtores busquem um nível de excelência bastante elevado. Devemos nos adequar para que possamos apresentar competitividade”, resume. GUILHERME VIANA - EMBRAPA MILHO E SORGO
Como preparar embalagens e conservas o caso do minimilho minimamente processado, as espiguetas devem ser lavadas em água corrente, despalhadas, selecionadas e sanitizadas em água clorada a 100 ppm de cloro livre e, em seguida, embaladas em bandejinhas de isopor e cobertas com filme de PVC. Para preparar as conservas de minimilho, após o processo de sanitização das espiguetas em água clorada, deve-se efetuar o branqueamento mergulhando-as em água fervente por cerca de dois minutos e depois em água gelada. Em seguida, é preciso acomodar as EMBRAPA MILHO E SORGO
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Produto minimamente processado acondicionado em bandejas plásticas e de isopor
O minimilho tem valor comercial diferenciado
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O pesquisador adianta que trabalhos de melhoramento desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo estão em busca de uma cultivar específica de minimilho, de olho nas exigências de mercados consumidores. “Qualquer cultivar que suporte alta densidade de plantio pode ser usada para a produção de minimilho. No entanto, os países da União Europeia, principais importadores, têm preferência por cultivares de milho doce, que são mais saborosos e tenros”. Segundo Israel, uma das cultivares com a tecnologia Embrapa que mais tem atendido às exigências do mercado é a variedade BR 106, uma das mais plantadas no país.
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espiguetas em frascos de vidro devidamente higienizados em água fervente por 15 minutos e proceder ao envase com salmoura ácida (para preparar 1 litro de salmoura, utilize 500 ml de água potável, 500 ml de vidro de álcool branco, 1 colher de sopa cheia de sal e 1 de açúcar). Após o envase, deve-se retirar as bolhas de ar de dentro do frasco com o auxílio de uma faca sem ponta, tampá-los com tampas rosqueáveis novas de metal e realizar a pasteurização, colocando os vidros de minimilho Frascos de vidro precisam estar em banho-maria em devidamente higienizados embulição por 30 minutos (a água da panela deverá cobrir completamente os frascos). Após a pasteurização, deixar escorrer água da torneira nas bordas da panela até que os frascos fiquem mornos. A conserva está pronta! Para que as espiguetas adquiram o sabor adequado, é recomendável deixar o produto curtindo na salmoura por pelo menos uma semana antes de consumir.
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Fêmeas prenhes requerem tratos especiais e acompanhamento médico veterinário
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I SABELLA V INCOLETTO MÉDICA VETERINÁRIA DA VETNIL
A chegada de filhotes é sempre motivo de muita expectativa e felicidade. Cuidados com a fêmea prenhe, no entanto, antes e depois da gestação, são indispensáveis para a recuperação pós-parto e para uma ninhada saudável
Durante a lactação a demanda por cálcio das fêmeas aumenta bastante
onos de animais de estimação precisam estar atentos quanto ao trato da fêmea, para que ela seja capaz de dar à luz filhotes saudáveis. É um engano pensar que os cuidados se limitem ao período de gestação: antes mesmo de a fêmea entrar no cio, é preciso realizar a vermifugação e repetir a vacinação, para evitar que o animal adoeça e que transmita aos filhotes alguma enfermidade. A chegada de novas “fofurinhas’’ sempre é um momento de festa e expectativa para quem acompanha a gravidez da fêmea. O período de gestação das cadelas pode variar entre 58 e 63 dias e o das gatas entre 60 e 64 dias, podendo ocorrer intervalos maiores em algumas raças. Para saber se tudo está dentro da normalidade, é importante o acompanhamentanteo do médico veterinário responsável. O veterinário poderá orientar sobre as necessidades nutricionais e os cuidados da fêmea nesse período. “A fêmea prenhe precisa de uma dieta rica em energia e nutrientes, para que ocorra o bom desenvolvimen-
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to dos fetos. Nesse período e, principalmente, durante a lactação, a demanda de cálcio também é maior, sendo muitas vezes necessária a complementação com suplementos. Outro cuidado importante refere-se ao peso das fêmeas, que não deve ultrapassar a faixa de 15% a 25% do peso corporal durante a gestação. Os fetos mais pesados e fêmea obesa podem trazer complicações durante o parto. Pela redução do espaço abdominal devido ao crescimento dos fetos, muitas vezes a fêmea pode apresentar redução do apetite. Exercícios leves, como caminhadas, poderão ser mantidos. Também é aconselhável escolher um local da casa em que a fêmea se sinta bem para que o parto possa ser realizado sem estresse e com total segurança. Ademais, o acompanhamento veterinário e exames como a ultrassonografia, além de assegurar uma gravidez saudável, porão fim à curiosidade quanto ao número de “netinhos” que vêm por aí.
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PET SOCIETY
Produto evita que cães mastiguem qualquer coisa que encontrem pela frente Spray amargo pode ser utilizado como ferramenta educativa, inibindo ações de mordeduras e lambeduras, impedindo a destruição de móveis e objetos, protegendo talas e curativos e ajudando a evitar lesões na pele A mania que os cães têm de roer objetos e móveis muitas vezes é apenas uma das necessidades típicas da natureza canina. Para evitar os problemas provocados por esse hábito, o pior erro que se pode cometer é manter os pets trancados por muito tempo ou afastados do convívio direto com a família, pois isso só deixa os cães mais ansiosos e sem oportunidade para aprenderem a viver socialmente de forma adequada. Por isso, é muito importante repelir os pets das áreas indesejadas, mas sem afastá-los da família. A Pet Society possui a ferramenta ideal para ajudar a condicionar o comportamento dos cães que tiram seus donos do sério e evitar a destruição de móveis e objetos: o Bitter Max®. Vendido em embalagem de spray de 90ml, o Bitter Max® é formulado com
A mania de roer móveis e objetos diminui com a aplicação do produto
benzoato de denatônio, responsável pelo gosto extremamente desagradável. O produto é ideal para ser aplicado em móveis, rodapés, tapetes ou qualquer objeto que os cães adoram mastigar, repelindo o animal pelo paladar amargo. Altamente eficiente, o Bitter Max® não faz mal ao animal nem deixa resíduos tóxicos no ambiente. Além disso, o produto não incomoda as pessoas por possuir um cheiro agradável. Também indicado em tratamentos pós-cirúrgicos, o Bitter Max® inibe ações de mordeduras e lambeduras, protegendo talas e curativos. O produto ajuda, ainda, a evitar a dermatite psicogênica, cau-
sadora de lesões na pele, decorrentes de comportamento obsessivo de lambedura das patas pelo animal. “Por possuir um sabor desagradável, o Bitter Max® repele o animal quando ele coloca o objeto na boca, fazendo com que ele perca o interesse em poucas tentativas, tornando-o um poderoso auxiliar na educação doméstica dos animais e impedindo-os de danificar objetos e de causar lesões neles próprios”, explica a médica veterinária Cleiser Kurashima, supervisora de marketing da Pet Society. “Além disso, o produto é totalmente atóxico e não proporciona qualquer risco à saúde do animal”, completa.
Cresce incidência de doenças genéticas em cães Uma pesquisa realizada no Reino Unido apontou que cães de raça, os chamados cães com pedrigree, estão sofrendo cada vez mais doenças genéticas graves em consequência de anos de cruzamento entre animais com parentesco próximo. Para aperfeiçoar e embelezar as raças, muitos criadores cruzam animais da mesma família, o que resulta em uma explosão de doenças genéticas. Entre os problemas hereditários mais comuns estão a displasia coxo-femural, que ataca sobretudo as raças grandes e as de crescimento rápido. A doença caracteriza-se por alterações degenerativas na articulação e pode resultar num processo muito doloroso. Mais de 40% dos cães da raça São Bernardo, por exemplo, possuem a doença. Segundo a médica veterinária Isabella Vincoletto, da Mais de 40% da raça São Bernardo possuem a doença
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Vetnil, em problemas relacionados à articulação, como a displasia coxo-femural, a luxação de patela e displasia de cotovelo, é necessário, na maioria dos casos, tratamento cirúrgico. No entanto, é possível oferecer medicamentos que possam melhorar o quadro clínico do animal. É o caso do Condroton, da Vetnil, que atua na prevenção e tratamento dos problemas osteoarticulares mais comuns nos cães, pois contém em sua formulação o sulfato de condroitina A e glucosamina, que são importantes agentes naturais regeneradores das cartilagens danificadas. Entre os principais ingredientes na formulação do Condroton, estão ainda o colágeno, vitamina C e manganês. “Quando o animal apresenta alterações nas articulações, é importante consultar um veterinário de confiança para saber mais sobre os benefícios do Condroton”, afirma Isabella Vincoletto. Os comprimidos são altamente palatáveis e monopartidos, para facilitar a administração. O Condroton possui duas opções de comprimidos - 500mg e 1000mg. O medicamento é utilizado por via oral. Para mais informações, acesse www.vetnil.com.br ou entre em contato pelo SAC 0800 10 91 97.
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FRUTICULTURA ma das cinco maiores produtoras de maçãs do país, a Sanjo é uma cooperativa agrícola que tem a sua história de sucesso baseada na qualidade de sua produção agrícola, favorecida pela adaptação singular da variedade Fuji ao clima da serra catarinense, em São Joaquim. Conquistando cada vez mais consumidores no Brasil, Fundada em 1995 e formada originalmente por imigrantes de origem japonea variedade Fuji se beneficia do frio de 7OC do sa, oriundos da cooperativa Cotia em São inverno da serra catarinense. Esta tentadora fruta Paulo, a Sanjo alcançou sucesso efetivo como especialista em maçãs Fuji, graças também mostra seu lado benéfico, auxiliando no ao trabalho pioneiro do prof. Kenshi controle do colesterol, textura firme e boa Ushirozawa. conservação, além de um sabor mais doce Ainda nos anos 70, ele trouxe para o Brasil a maçã Fuji – cujo nome remedo que a popular Gala te ao imponente vulcão japonês - e encontrou na serra catarinense as condições climáticas ideais para o seu cultivo, na altitude de mais 1300 metros e na média de 700 horas de frio anual nos meses de inverno. Por conta disso, a cidade hoje guarda a macieira matriz da espécie Fuji no Brasil e também um monumento ao professor Ushirozawa, que podem ser visitados na Estação Experimental da Epagri. Uma das frutas mais antigas cultivadas pelo homem, estima-se que hoje existam mais de 7500 variedades de maçãs espalhadas pelo mundo. No Brasil, a variedade mais consumida ainda é a maçã Gala, mas a Fuji tem crescido no padrão de consumo, principalmente nas regiões Sul e Sudeste. A Sanjo produz ambas as variedades em grande volume, comercializadas em todo o país nas marcas Sanjo, Dádiva, Pomerana e Hoshi.
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Diferenças As diferenças entre as maçãs Gala e Fuji são bem acentuadas: a Fuji é uma maçã mais crocante e suculenta, em seu processo de maturação ainda no pé inicia uma formação do mel – Pingo de Mel – que nada mais é do que o acúmulo de frutose. Esta característica única acontece em pequenos volumes colhidos nos meses de maio e junho, que propicia a esta variedade um sabor único. Seu sabor é mais doce e menos ácido do que a Gala, além de demorar mais tempo a ficar com uma textura “farinhenta”, o que amplia significativamente a sua durabilidade. Em relação ao cultivo, a floração das macieiras ocorre entre setembro e outubro, sendo que e a colheita da maçã Fuji começa em março e se estende até maio, enquanto a da Gala se encerra no fim do verão. Os fatores climáticos ideais para uma boa safra incluem: frio constante no inverno, com acúmulo de pelo menos 700 horas com temperatura abaixo de 7,2OC; na primavera, temperaturas altas e sem chuva 36
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Com sabor mais doce, a variedade Fuji vem ganhando mercado no Sudeste
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SANJO
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Maçã Fuji: suculenta e nutritiva
para uma boa polinização; e no verão, chuvas regulares com bons períodos de insolação, para garantir uma boa coloração das maçãs. A safra de maçã Fuji deste ano representou 71% do volume total produzido pela Sanjo. A preferência da população pela variedade Gala é vista pela empresa como uma questão cultural: “O brasileiro em geral come pelo olho, e a maçã Gala certamente é mais vistosa”, afirma Sr. Roberto Katto, presidente. Além do sabor, as maçãs da Sanjo, sejam elas Fuji ou Gala, carregam todos os amplos benefícios de saúde e nutrição associados ao consumo da fruta, como o controle do colesterol, a prevenção de alergias e irritações físicas, a formação de cálculos, a limpeza do sangue e a prevenção do câncer no aparelho digestivo.
As macieiras se adaptaram bem ao inverno catarinense
sua moderna unidade fabril. Os benefícios incluem a segurança alimentar, o controle biológico natural de pragas e doenças e a consequente preservação ambiental. A Sanjo Cooperativa Agrícola de São Joaquim (SC) é uma das maiores produtoras de maçãs do Brasil. A partir de 2002,
a empresa passou a investir também na produção de vinhos finos de altitude, utilizando-se dos mesmos processos de qualidade e tecnologia que integram os valores essenciais de sua fruticultura.
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Pioneirismo Isso porque a empresa é pioneira no Brasil na obtenção do selo de Produção Integrada da Maçã (PIM), um sistema certificado pelo Inmetro, que garante a qualidade da fruta em todas as fases de produção, armazenagem e classificação – sendo a maçã a primeira fruta no Brasil a ter uma metodologia de controle dentro deste sistema. Com seus 1100 hectares de maçãs cultivados dentro do sistema PIM, hoje a Sanjo consegue rastrear todo o caminho percorrido por cada fruta colhida pelos 78 integrantes de sua cooperativa e armazenadas nas câmeras frias de
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FRUTICULTURA
Na indústria, as maçãs passam por processo de lavagem e refrigeração
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ALIMENTAÇÃO
Sal: de salvador a inimigo público á 500 mil anos, o homem teria dominado o fogo, diferenciando-se de forma definitiva de seus ancestrais. Historiadores da préhistória admitem que, de início, o fogo foi utilizado para cozer os alimentos, e, bem mais tarde, para outros fins. Cozinhar aparece na história da alimentação como todo tipo de preparação como, por exemplo, a fervura, secagem ou lavagem prolongada para eliminar extratos amargos e tóxicos. Sob esta rubrica podemos falar de vários procedimentos de conservação de alimentos: além da secagem e defumação de carnes – práticas usadas desde a era paleolítica – há outras que surgiram aparentemente mais tarde, como a salga e a fermentação. Todo tempero ou cozimento tinha uma dupla função: tornar os alimentos mais fáceis de digerir e mais saborosos. A propósito do sal, destacam-se duas funções principais: conferir aos alimentos sabor e conservação. Magnus de Milão, no início do século XIV, já havia ressaltado a dupla função deste tempero: “O sal [...] dá sabor às comidas e elimina o mal que deriva [...] de uma certa umidade aquosa e indigesta.” Atualmente, cai por terra a premissa de Magnus o que é saboroso se digere melhor. O uso excessivo do sal (sódio) pode trazer problemas para a saúde humana, destacando-se os males advindos da hipertensão, terceiro principal fator de risco associado à mortalidade mundial. Hipertensão cresce Uma pesquisa do Ministério da Saúde mostra que a proporção de brasileiros com hipertensão arterial vem crescendo, não apenas entre os idosos, mas também entre jovens e mulheres. No Brasil, o consumo de sal é considerado abusivo e perigoso, podendo chegar a doze graCAIO FRIDY
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Em nome do sabor, o brasileiro geralmente exagera em usar o sal
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DANIELA DE GRANDI CASTRO FREITAS DOUTORA EM TECNOLOGIA DE ALIMENTOS E PESQUISADORA DA EMBRAPA AGROINDÚSTRIA DE ALIMENTOS
Pesquisa poderá contribuir para a redução de sódio na dieta brasileira e dos riscos de saúde relacionados à elevada ingestão de sal através de alimentos industrializados mas diários por pessoa. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o consumo individual deve ser inferior a 5 gramas de cloreto de sódio (sal) por dia. No Fórum da OMS sobre a Redução da Ingestão de Sal em Populações, realizado em 2006, em Paris (França), concluiu-se que devem ser implementadas políticas para diminuir a ingestão de sal trabalhando em três áreas principais: produção de alimentos com menores teores de sódio; mudanças no ambiente para assegurar que os alimentos mais saudáveis sejam a melhor alternativa para o consumidor e promoção da saúde e educação alimentar em todos os grupos sociais.
No Brasil, existem ações do Ministério da Saúde no sentido de orientar a população para a procura de alimentos mais saudáveis. Da mesma forma, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), através de seu grupo de trabalho relativo a alimentos processados, tem indicado a necessidade das indústrias reduzirem os teores de sal nos produtos. Porém, a luta das autoridades contra o uso exagerado de sal esbarra nos argumentos de grande parte da indústria alimentícia: a redução do sal interfere diretamente no sabor dos produtos industrializados. Ciência a serviço da questão Algumas soluções podem estar na tentativa de uso de sais substitutos do cloreto de sódio. O desafio é superar o problema do gosto amargo e do sabor metálico que aparecem quando a substituição é feita. A Embrapa Agroindústria de Alimentos (Rio de Janeiro), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp-SP) e a Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ), vem conduzindo um projeto de pesquisa que propõe desenvolver um sal com teor de sódio reduzido, para ser usado em formulações sem perda significativa do sabor “original” dos produtos. Nesta proposta, são aplicadas técnicas da análise sensorial visando aumentar o conhecimento de alguns sais minerais utilizados como substitutos de cloreto de sódio que, ao mesmo tempo, permita a sensação do gosto salgado e menor alteração de sabor. A pesquisa se completará com um estudo biológico para avaliar os efeitos do uso do substituto de sódio na dieta de uma população de ratos wisters. O resultado poderá contribuir para a redução de sódio na dieta brasileira e dos riscos de saúde relacionados à elevada ingestão de sal através de alimentos industrializados.
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EMBRAPA GADO DE CORTE
NOVIDADE
Nova planta para a diversificação de pastagem
BRS Tupi: rápido crescimento e florescimento
Novo pasto de florescimento mais precoce é desenvolvido pela Embrapa mbrapa Gado de Corte lançou a cultivar de Brachiaria humidicola, BRS Tupi, uma nova opção de pasto. A BRS Tupi é uma alternativa de uso para áreas úmidas sujeitas a alagamentos temporários e chega numa boa hora já que existem no mercado poucos materiais disponíveis para solos rasos e com problemas de drenagem. Segundo pesquisadores, em comparação à humidicola comum, a BRS Tupi apresentou desempenho animal superior na seca, sustentando uma lotação animal mais alta e garantindo uma produção de 53 quilos de peso vivo por hectare, comparada a 20 quilos da outra
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em um determinado período de avaliação.
Florescimento precoce A planta é de florescimento mais precoce e tem tendência a acamar – informa Rodrigo Amorim, um dos pesquisadores da Embrapa que trabalha com a planta. Para evitar o problema a recomendação é fazer um pastejo mais intenso na primavera. “A BRS Tupi cresce e floresce rápido e tende a acamar demais, com isso o manejo deve ser cuidadoso, com ajustes da carga animal o que vai depender do tipo de solo onde foi plantado. Em solos mais férteis pode-se colocar uma carga animal mais alta e em solos menos férteis uma car-
ga menor, em torno de 1 UA (unidade animal = 450 quilos de peso vivo)”, esclarece Amorim. A BRS Tupi é resultado de uma seleção de plantas coletadas em Burundi, no leste da África pelo CIAT (Centro Internacional de Agricultura Tropical) da Colômbia, entre os anos de 1984 e 1985. Os trabalhos de seleção duraram 18 anos e foram coordenados pela Embrapa. A cultivar Tupi deve ser semeada nas águas, de outubro a fevereiro, com quatro quilos de sementes puras viáveis, na profundidade de três a cinco centímetros profundidade. ELIANA CEZAR - EMBRAPA GADO DE CORTE
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CANA-DE-AÇÚCAR
MARCELO
DE
A L M E I D A S I L VA
ENGENHEIRO AGRÔNOMO, PESQUISADOR CIENTÍFICO DA AGÊNCIA PAULISTA DE TECNOLOGIA DOS AGRONEGÓCIOS – APTA
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Biorreguladores: nova tecnolo gia e longevidade do Biorreguladores são substâncias sintéticas que podem ser aplicadas diretamente nas plantas para alterar seus processos vitais e estruturas visando ao incremento de produção s plantas produzem substâncias orgânicas, definidas como hormônios vegetais que, em concentrações muito baixas, são responsáveis por efeitos marcantes no desenvolvimento, promovidos por meio de alteração nos processos fisiológicos e morfológicos, influenciando nas respostas aos fatores ambientais. Até pouco tempo, conhecia-se apenas cinco grupos de hormônios (auxinas, giberelinas, citocininas, etileno e ácido abscísico). Entretanto, recentemente foi confirmada a existência de outros grupos de hormônios vegetais, como os brassinoesteroides, os jasmonatos, os salicilatos e as poliaminas. Dentre estes, três têm relevante importância no crescimento e desenvolvimento das plantas, as auxinas, as giberelinas e as citocininas. Na agricultura moderna, altamente tecnificada, em que se busca alta rentabilidade financeira por meio de melhores produções por área, com cultivares melhoradas, melhor balanço nutricional, proteção fitossanitária e adequação na exploração do ambiente de produção, uma das técnicas avançadas que vêm sendo adotadas no manejo fitotécnico das culturas é a aplicação de reguladores vegetais. Os reguladores vegetais ou biorreguladores são definidos como substâncias sintéticas, similares aos grupos de hormônios vegetais, que podem ser aplicadas diretamente nas plantas para alterar seus processos vitais e estruturais, com a finalidade de incrementar a produção, melhorar a qualidade e facilitar a colheita. Essas substâncias também agem modificando a morfologia e a fisiologia da planta, podendo-se levar a alterações qualitativas e quantitativas na produção. Desta forma, são exemplos de subs-
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A produtividade do canavial aumenta com o maior
tâncias sintéticas com atividades similares aos dos hormônios vegetais, o ácido indolbutírico (IBA), a cinetina e o ácido giberélico.
Prática viável Uso de biorreguladores na agricultura vem se tornando uma prática viável com o objetivo de explorar o potencial produtivo das culturas. Os biorreguladores atuam numa regulação ativa dos processos fisiológicos da planta, propiciando respostas viáveis economicamente. A cana-de-açúcar é uma cultura de grande importância econômica, social e ambiental, pelas grandes áreas
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número de
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olo gia para maior produtividade de do canavial
om o maior
celular e aumentar a absorção de água e nutrientes pela cultura. Uma combinação bastante estudada em canade-açúcar e com efetivo aumento de produtividade de colmos e de açúcar tanto em cana-planta quanto em cana-soca é a de um regulador vegetal composto por 90 mg/L de cinetina, 50 mg/L de ácido giberélico e 50 mg/ L de ácido 4-indol-3-ilbutírico. Em cana-planta, resultados de pesquisa têm demonstrado que a aplicação desse regulador vegetal tanto no sulco de plantio quanto na parte aérea tem aumentado a produtividade de colmos de 6 a 21%, sendo a magnitude das respostas dependente das cultivares e dos ambientes de produção. Pelo acompanhamento nas diversas fases de desenvolvimento e crescimento da cultura, tem-se observado que o principal componente responsável por esse aumento de produtividade tem sido o aumento na população de colmos por metro, uma vez que o número de colmos é um dos componentes da produtividade, juntamente com altura, diâmetro e densidade. Essa maior quantidade de colmos na colheita é o resultado proporcionado pelo biorregulador em termos de maior brotação inicial das gemas, refletindo em menor número de falhas e, portanto, melhor competição com ervas daninhas no início do desenvolvimento, e como consequência, levando ao maior perfilhamento durante todo o desenvolvimento do canavial. Em plantios mecanizados também tem ocorrido maior brotação, reduzindo as falhas.
Mais crescimento radicular
número de colmos, onde a planta acumula açúcar
plantadas, por gerar matéria-prima como base para as agroindústrias do açúcar, etanol e aguardente, além de representar para o nosso país uma enorme fonte de geração de empregos e renda no meio rural. Atualmente, com a utilização de técnicas avançadas para o cultivo de cana-de-açúcar, aumentos quantitativos e qualitativos na produção podem ser alcançados com a aplicação de reguladores vegetais. Melhores benefícios são obtidos com a aplicação de combinações dessas substâncias sobre a cana-de-açúcar, visando incrementar o crescimento e desenvolvimento vegetal, estimular a divisão
Também tem sido considerado favorável ao aumento de produtividade de colmos o maior crescimento radicular proporcionado pelo biorregulador. Um maior sistema radicular favorece o aproveitamento de fertilizantes e também leva à maior tolerância à deficiência hídrica. Todos esses fatores conduzem a um canavial mais homogêneo, com colmos de maior diâmetro e uniformidade em altura, favorecendo a colheita mecânica e o rendimento das colhedoras. Em cana-planta tem-se constatado aumento na produtividade de açúcar, na ordem de 1,3 a 3,4 toneladas de açúcar por hectare. Esta maior produtividade é atribuída ao número aumentado de colmos, onde está contida a sacarose. Vale lembrar que os colmos são o principal veículo de transporte de sacarose para a indústria. Em cana-soca, os ganhos em produtividade de colmos com a aplicação desse bioregulador na fase de perfilhamento da soqueira têm variado de 8 a 25%, lembrandose que as respostas são variáveis dependentes das cultiA Lavoura OUTUBRO/2011 41
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vares e do ambiente de produção. A produtividade de açúcar tem aumentado de 0,9 a 3,8 toneladas de açúcar por hectare.
Cultura semi-perene
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A cana-de-açúcar tem como característica de, após o plantio, ocorrerem colheitas anuais e rebrotas, as quais a fazem ser considerada uma cultura semi-perene. A cada ciclo de colheita dos colmos tem início a brotação da soca, e um novo processo de perfilhamento é estabelecido. Entretanto, mantém-se um canavial economicamente produtivo por cinco a seis cortes, quando a produtividade média atinge ao redor de 65 t/ha. Assim, uma forma de maximizar a economicidade desta atividade agrícola seria aumentar a longevidade da cultura. Nesse sentido, o uso desse regulador vegetal em soqueira de cana de cortes avançados, que estariam na programação de áreas de reforma, tem propiciado aumentos de 9 a 25% na produtividade de colmos. Assim,
em áreas consideradas candidatas à renovação devido à baixa produtividade, o produto poderia entrar em um programa de revitalização de soqueiras, resultando em redução de custos com as operações de renovação de área e plantio, tornando a cultura mais rentável. Entretanto, como os incrementos de produtividade podem ser obtidos desde os primeiros cortes das soqueiras, o uso dessa tecnologia, ao longo de todo o ciclo, torna-se uma alternativa importante para aumentos das médias de produtividade das unidades produtoras. Portanto, existe uma série de resultados que indicam que o uso do regulador vegetal constituído por 90 mg/L de cinetina, 50 mg/L de ácido giberélico e 50 mg/L de ácido 4-indol-3-ilbutírico promove incremento de produtividade na cultura da cana-de-açúcar, tornando-se uma opção de nova tecnologia disponível para os produtores em busca de maior eficiência na produção.
Com suas rebrotas anuais, a cana é uma cultura semi-perene
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Tecnologia reduz perdas na colheita da cana ouco se aproveita do melhoramento genético das variedades de cana-de-açúcar se não houver manejo adequado no campo. Os pacotes tecnológicos desenvolvidos nos últimos 40 anos resultaram no dobro do número de rebrotas da cana, entretanto, o manejo inadequado pode jogar por terra essas conquistas. Um exemplo está na colheita mecanizada, que pode diminuir o potencial de rebrotas das soqueiras pelo forte impacto e por aumentar a ocorrência de fungos e doenças. Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC) reduz de 3,4% para 0,2% a quantidade de soqueiras arrancadas que, portanto, não rebrotam mais. A pesquisa mostra que a mudança do sistema de corte de base da cana feito com lâminas retangulares e com corte por impacto — utilizado normalmente — para o sistema desenvolvido pelo IAC, com lâminas serrilhadas e corte por deslizamento, reduz também o ataque de fungos e doenças às soqueiras e diminui a deterioração da cana que chega para as usinas. Esse tipo de lâmina aliado com o corte é um estudo inédito no País. No estudo do IAC, depois de colher toda a cana, as soqueiras foram classificadas entre intactas, semi-abaladas, abaladas e arrancadas. No modo convencional, apenas 54,3%
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das soqueiras se mantinham intactas, enquanto que pelo sistema IAC o índice chega a 71,5%, um ganho de 31,7%. Segundo o pesquisador do IAC, Roberto da Cunha Mello, os cortadores de base que vêm sendo utilizados, além de causar alto volume de perdas de cana, também provocam redução na produtividade potencial devido aos danos causados na soqueira. Melhoramento genético Atualmente, a cana-de-açúcar consegue ter entre cinco e seis rebrotas, graças às pesquisas com melhoramento genético. “Não adianta desenvolver uma variedade de cana perfeita se não gerarmos um ambiente externo adequado. O manejo equivocado reduz a expressão das características genéticas. A quantidade de rebrota da cana dobrou nos últimos 40 anos por conta do uso de pacotes tecnológicos e a colheita é uma das características que influenciam no bom resultado de uma variedade”, explica o pesquisador do IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell, responsável pelo Programa Cana IAC, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Colheita mecanizada A colheita mecanizada da cana-de-açúcar possui a vantagem de ser mais rápida e ter melhores condições de trabalho que a colheita manual, porém, as perdas causadas pela
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Com o sistema de corte de base feito com lâminas serrilhadas e por deslizamento (detalhes), há uma sensível redução nas perdas totais na colheita mecanizada da cana-de-açúcar
mecanização chegam a 15%, enquanto esse percentual é de apenas 5% no processo manual. “Com o sistema de corte de base feito com lâminas serrilhadas e por deslizamento desenvolvido pelo IAC, há uma sensível redução nas perdas totais”, diz Roberto da Cunha Mello, pesquisador do IAC. Segundo Landell, 70% dos canaviais paulistas são colhidos por máquinas e a tendência é que nos próximos anos o índice atinja 100%. Mello explica que as colhedoras cortam a cana em sua base pelo impacto, usando um disco rotativo com múltiplas lâminas. “O rolo defletor empurra a cana para frente antes de cortá-la para facilitar a alimentação pelos rolos alimentadores. A deflexão e o corte de base são responsáveis por danos na soqueira e na cana colhida”. O pesquisador faz uma analogia para facilitar a compreensão do estrago causado na planta pela força do sistema anterior. “Se você pegar um tomate e cortá-lo com um único impacto da faca, vai espirrar tomate pela sua cozinha inteira, mas se você cortá-lo com uma faca de serrinha, não vai danificar tanto”, exemplifica Mello. Outra vantagem para os produtores de cana é a durabilidade das lâminas, que sofrem menor desgaste por ser possível colher a cana levemente acima da superfície do solo. Enquanto as lâminas convencionais têm que ser trocadas diariamente, as serrilhadas duram em média seis dias. No sistema estudado pelo IAC, o investimento na troca das lâminas é maior — cerca de quatro vezes mais que as em uso — mas o investimento é logo revertido em lucro, devido à durabilidade e também à quantidade de tempo gasto na troca das lâminas, que pode ser convertido em trabalho no campo. Mais benefícios Segundo Mello, outro benefício para as usinas está na redução da deterioração da matéria-prima que chega para ser processada. Depois de cortada, a cana começa a se deteriorar (oxidar). Como nesse sistema ela não sofre tanto dano, há uma redução nesse processo. O sistema com lâminas serrilhadas e inclinadas e o corte por deslizamento ainda reduz a quantidade de terra na cana fornecida às usinas. Há dez anos o Instituto Agronômico trabalha nessas pesquisas de corte de cana com lâmina serrilhada. O IAC teve como parceiros na pesquisa as usinas São Martinho, da cidade de Pradópolis, Equipav, do Oeste Paulista, e foram financiadas pela agência de fomento australiana Sugar Research and Development Corporation. O estudo teve também o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os testes foram realizados em campo nas safras de 2006, 2007 e 2008. CARLA GOMES E FERNANDA DOMICIANO - IAC
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Modernas variedades de cana-de-açúcar levada produtividade e concentração de sacarose. Ideais para atender diferentes condições edafoclimáticas do Centro-Sul do Brasil e adaptadas à canavicultura moderna, que envolve a colheita mecânica crua. Essas são as principais características das doze variedades de cana-de-açúcar desenvolvidas pelo Instituto Agronômico-IAC. Em setembro de 2010 o IAC lançou três variedades de cana:a IACSP 95-5094, IACSP 96-2042 e IACSP 96-3060. As novas variedades apresentam vantagem na produção de biomassa em relação à maioria dos materiais em uso, de acordo com o pesquisador e diretor do Centro de Cana do lAC, Marcos Guimaraes de Andrade Landell. “Entre produtividade de biomassa e teor de sacarose as novas variedades estão produzindo 10% a mais que as usadas na primeira metade desta década”. Esse ganho pode chegar aos 30% se os produtores explorarem o potencial desses materiais, associando-os aos ambientes de produção adequados A variedade IAC 91-1099, por exemplo, se destaca pela elevada produtividade e concentração de sacarose. Comparadas com materiais bastante cultivados comercialmente, sua produtividade foi superior em 11% às variedades existentes no mercad. “A lAC 91-1099 garante ainda uma boa produtividade mesmo em cortes avançados, com produção superior em 20% a dos materiais que apresentam esse mesmo perfil, seu caráter rústico-estável possibilita o cultivo em ambientes médios a desfavoráveis”, destaca o pesquisador. As variedades de cana IACSP 93-3046, IACSP 94-2094 e IACSP 94-2101, têm perfil de maturação para o meio e fim de safra, atendendo as condições edafoclimáticas do Centro-SuI do Brasil. De acordo com o pesquisador do lAC, Marcos Landell, nessa principal região produtora do Brasil, a safra é dividida em três estações: outubro (abriljunho), inverno (julho-setembro) e a primavera (outubro-novembro). Nesses períodos, o volume de cana produzido é de 25%, 45% e 30% respectivamente. “Percebe-se a gran-
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IACSP 96-3060: para atender às demandas da agroindústria
de importância das safras de inverno e primavera, que reúnem 75% do total de volume de matéria-prima”, explica Landell. Daí a importância dessas variedades adequadas à colheita nos meses de maior volume de produção Transferência de tecnologia A transferência da tecnologia para a região do cerrado é uma das preocupações do Instituto Agronômico, que busca em suas pesquisas de melhoramento genético, variedades aptas a atender esta região do país, já que o bom desempenho dos canaviais paulistas não pode ser implementado em outras regiões, com o simples transporte de plantas. É necessária a transferência de tecnologia desenvolvida, especificamente para a região do cerrado. Cinco são as variedades desenvolvidas pelo lAC, que se destacam na adaptação ao cerrado, são elas a IACSP 95-5000, lAC 91-1099, IACSP 94-2101, IACSP 93-3046, IACSP 9442094, todas essas são adaptadas a canavicultura moderna, que envolve a colheita mecânica crua. A expectativa é que as novas variedades lançadas em setembro passado, também apresentem ótimos resultados nas condições de deficiência hídrica. A IACSP 95-5094 e IACSP 96-2042 também tem adaptação muito boa a região e trazem a perspectiva de otimizar a produtividade nas regiões secas, antes ocupadas por pastagens. A IACSP 96-3060 tem longo período de utilização, característica que contribui na logística da cadeia de produção por flexibilizar o período de colheita. Apresenta também excelente resposta em área orgânica. “Os três materiais são exce-
lentes, cada um é otimizado em condições mais especificas, de acordo com o perfil regional”, diz Landell. Algumas das variedades têm perfil mais rústico o que as faz atender a região originalmente ocupada pelo Cerrado. São elas: lAC 91-1099, IACSP 9333046, IACSP 94-2094 e IACSP 95-5000. Demandas Em relação ao nível de maturação, os frutos do programa de melhoramento genético de cana-de-açúcar do lAC atendem a diferentes demandas, ao atingirem o nível de sacarose ideal para o corte em diferentes períodos. A lAC 91-1099 e IACSP 95500 apresentam boa capacidade de acumular sacarose ao longo da safra, tornando-se uma boa opção para corte entre o inverno e a primavera – o que corresponde ao período de julho e novembro. Já a IACSP 95-3028 chama a atenção pela precocidade de maturação, o que beneficia a colheita durante o período de menor volume de produção. “Para a IACSP 95-3028, colhida no início da safra – um momento bastante crítico para o acumulo de sacarose – o teor percentual desse açúcar pode ser 7,5% superior ao das variedades ainda cultivadas e utilizadas no início da safra”, pontua o pesquisador do lAC, Mauro Alexandre Xavier. As tres variedades, IACSP 95-5094 IACSP 96-2042 e IACSP 96-3060 têm ainda perfil para atender também aos critérios agroambientais e·à demanda atual da agroindústria. A IACSP 95-5094, IACSP 96-2042 e IACSP 96-3060 são adequados ao plantio mecânico e à colheita mecânica crua, dispensando a queima.
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CARLA GOMES E FERNANDA DOMICIANO - IAC
nfrentando perdas de 10 a 50% com a seca, dependendo da região e da época de plantio, o setor sucroalcooleiro pode ter uma alternativa com as primeiras plantas transgênicas. Desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a planta tem grande potencial para aumentar a produção física de cana e de seus derivados, como o etanol. De forma geral, as áreas de expansão da cana têm como características solos com baixa fertilidade, altas temperaturas e baixa precipitação pluviométrica. Atualmente, ainda não existe variedade de cana-de-açúcar transgênica comercial. As mudas foram selecionadas em laboratório, e já estão em estágio de multiplicação in vitro. Posteriormente, elas serão avaliadas na “casa de vegeta-
EMBRAPA
Embrapa desenvolve cana-de-açúcar tolerante à seca
E
Mudas selecionadas em laboratório para multiplicação in vitro
ção”, estufas usadas na produção de plantas para fins comerciais ou de pesquisa. Até maio de 2012 serão avaliadas as características de tolerância à seca, e as plantas que apresentarem melhor desempenho poderão ter testes de campo, mediante aprovação do Comitê Técnico Nacional de Biossegurança (CTNBio). As pesquisas com transgenia em cana-de-açúcar vêm sendo desenvolvidas, desde 2008, sob a coordenação do pesquisador Hugo Bruno Correa Molina-
ri, da Embrapa Agroenergia (Brasília/DF). O trabalho tem apoio dos laboratórios da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia da mesma cidade, que possuem características exigidas pelo CTNBio para estudos com organismos geneticamente modificados. A pesquisa também tem o apoio da Japan Internacional Research Center for Agricultural Sciences (Jircas), empresa de pesquisa vinculada ao governo japonês. Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Professor do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) defende transgênicos no Brasil Análises de 15 anos de uso dos transgênicos no Brasil indicam grandes benefícios ambientais e redução no uso de defensivos químicos. Baseandose em pesquisas e monitoramento das culturas, o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e engenheiro agrônomo Marcelo Gravina de Moraes aponta as vantagens deste cultivo para o país. Em entrevista ao CIB, entidade da qual é membro, o professor afirma que a a integração entre biotecnologia, genética clássica, uso de defensivos químicos e outras técnicas agrícolas é uma alternativa para melhorar ainda mais a relação entre a agricultura e a sustentabilidade. Num cenário que coloca a agricultura do Brasil entre as mais modernas e produtivas do mundo, o volume da produção cresceu mais que 100% enquanto a área plantada aumentou apenas 25% em 20 anos. “O uso de plantas transgênicas também tem impacto positivo no ambiente, pois o aumento da produtividade dos cultivos diminui
a necessidade de crescimento da área plantada, o que favorece a manutenção de áreas destinadas à preservação ambiental”, afirma o engenheiro agrônomo, citando estudos de Brookes & Barfoot, 2009. Estes cientistas avaliaram que, entre 1996 e 2008, o uso dos transgênicos resultou na redução de 352 milhões de Kg de defensivos no mundo. O professor Marcelo Moraes também lembra o menor uso de combustível fóssil, como o óleo diesel dos tratores. Ao permitir que agricultores combinem técnicas como o plantio direto, há uma redução da dependência do preparo do solo – e consequentemente menor uso do maquinário, inclusive para as aplicações de defensivos. Segundo estudo da consultoria Céleres de 2011, a redução no uso de ingrediente ativo no período de 1996/97 a 2009/10, nas lavouras com culturas transgênicas no Brasil, foi de 9,6 mil toneladas. Já a produção agroecológica, sem a adoção de transgênicos, adubos quí-
micos e defensivos agrícolas é considerada “utópica” pelo membro da CIB. “Não considero essa possibilidade aplicável na escala necessária de demanda da agricultura brasileira, seja de grandes cultivos como a soja, milho e algodão, como a de outros produtos. Uma diminuição de uso de tecnologias modernas resultaria na redução dos índices de produtividade e, muito provavelmente, na menor qualidade e segurança do produto colhido”, alerta. “O reflexo de tais medidas é o empobrecimento do produtor, com reflexos em toda a cadeia produtiva, em especial na renda da população de pequenas cidades e seu setor de serviços. O efeito poderá ser ainda ambientalmente mais perverso e contrário à solução do problema, pois acabaria resultando na necessidade de maior expansão da área cultivada para compensar as perdas de produtividade. Isso significaria em maior degradação ambiental”, analisa o professor. Fonte: CIB - Conselho de Informações sobre Biotecnologia
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PEQUI
Importância econômica, social e ambiental do pequizeiro SEBASTIÃO PEDRO
DA
SILVA NETO, CAROLINE JÁCOME COSTA
ESALQ/USP
PESQUISADORES DA EMBRAPA CERRADOS
A flor do pequizeiro alimenta abelhas, morcegos e pássaros que intervém no ecossistema do Cerrado
O pequizeiro é uma espécie arbórea, nativa do cerrado brasileiro, considerada de significativa importância econômica, social e ambiental. O elevado valor nutricional da polpa dos frutos e o grande número de aplicações de seus subprodutos a colocam entre as espécies de importância prioritária, em termos de domesticação e melhoramento genético, entre todas as espécies nativas do Cerrado 46
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pequizeiro é considerado uma espécie de interesse econômico, principalmente devido ao uso de seus frutos na culinária, como fonte de vitaminas e na extração de óleos para a fabricação de cosméticos. Os frutos são utilizados na alimentação humana e na indústria caseira para extração de óleos e produção de licores. O caroço, com a polpa (mesocarpo), é cozido com arroz; feijão; carnes; batido com leite; usado para o preparo de licor e para extração de manteiga. O óleo da polpa tem efeito tonificante, além de atuar contra bronquites, gripes, resfriados e no controle de tumores. Os frutos contêm vitamina A e C, tiamina, proteínas e sais minerais, sendo o óleo de pequi utilizado na medicina popular para sanar problemas oftalmológicos relacionados à deficiência de vitamina A, uma vez que a planta apresenta altíssimo teor de carotenoides.
O
JOZENEIDA AGUIAR/EMBRAPA CERRADOS
PEQUI
As frutas são intensamente exploradas pelo extrativismo
Indústria cosmética Na indústria cosmética, fabricam-se cremes para a pele tendo o pequi como componente. Na medicina popular, é utilizado para tratamento de problemas respiratórios; afrodisíaco; e suas folhas são adstringentes, além de estimular a produção da bílis. A casca do pequizeiro, além de ser utilizada em curtumes, é tintorial, fornecendo tinta amarelo-castanha, bastante empregada pelos tecelões artesanais. É considerada planta ornamental pela beleza de suas copas e flores. Os frutos são consumidos por várias espécies da fauna regional, auxiliando a disseminação da espécie.
Análises físico-químicas dos componentes nutricionais informam 20 mil µg/100g de vitamina A, 12 mg de vitamina C, 30 µg de tiamina, 463 µg de riboflavina e 387 µg de niacina. O pequi se destaca com 2,64% de proteína e 20% de lipídios. O teor de fibra bruta contida na polpa do pequi é considerado alto, aproximadamente 13%. O pequi apresenta valores considerados intermediários de carboidratos, 19,60%; e acidez titulável de 0,9 a 2,0. Quanto aos sais minerais, a polpa do pequi apresentou Na (20 µg/g); Fe (15,57 µg/g); Mn (5,69 µg/g); Zn (5,32 µg/g); Cu (4 µg/g); Mg (0,05 µg/g); P (0,06 µg/g); e K (0,18 µg/g).
JOZENEIDA AGUIAR/EMBRAPA CERRADOS
A comercialização da madeira do pequizeiro é proibida, mas o habitat da árvore tem se reduzido
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PEQUI
LEO MIRANDA/EMBRAPA CERRADOS
O pequi se destaca entre as frutas nativas do Cerrado por apresentar 2,23% de pectina; 78,72 mg de vitamina C por 100 g, valor superior ao de frutas tradicionalmente cultivadas e consumidas pela população brasileira, como a laranja (40,9 mg/100 g) e o limão (26,4 mg/ 100 g). O teor de caroteno da polpa do pequi (7,46 mg/100 mg de material) é superado apenas pela polpa de buriti (16,7 mg/100 mg de material).
Extrativismo Em estudos realizados nas comunidades do Norte de Minas Gerais, foi observado que a vegetação do Cerrado nas proximidades dessas comunidades é explorada de forma extrativista. O pequizeiro é um exemplo dessa realidade, sendo uma espécie bastante promissora que pode ser empregada em programas de revegetação de áreas degradadas e em programas de renda familiar. A utilização do pequi na culinária é bastante difundida entre os povos habitantes do Cerrado brasileiro, assim pode ser encontrada uma grande variedade de pratos típicos confeccionados com o caroço do pequi. Além de auxiliar na complementação alimentar da população, os produtos obtidos pelo processamento culinário do pequi propicia o aumento da renda familiar. O valor econômico do pequizeiro é notado pela presença de fábricas de licor de pequi no Norte de Minas Gerais, que produzem milhares de caixas de licor por ano, o que representa dezenas de empregos permanentes e uma expressiva contribuição anual em ICMS e IPI. Outro subproduto do pequi, a castanha, pode ser utilizada como ingrediente de farofas, doces e paçocas, comercializada in natura. Das castanhas também se extrai óleo. O fruto in natura sem casca é ofertado por dúzia ou por litro (equivalente a 1,5 dúzias). Uma dúzia de pequi era vendida, na beira das estradas que cortam o Centro-Oeste brasileiro, ao preço médio de R$ 4,00, em dezembro de 2010. Para os produtores rurais do Norte de Minas Gerais, o pequi contribui com 17,73% da renda familiar, atrás apenas do feijão (33,52%) e da mandioca (32,64%). Embora a produção anual de frutos seja irregular entre safras, estima-se a produção extrativista com base em 45 indivíduos/ha e com 180 kg/ha de polpa, 33 kg/ha de amêndoas, 199 kg/ha de óleo de polpa e 15 kg de óleo de amêndoas.
Importância ambiental Sua importância ambiental está expressa pela Portaria Federal 54, de 5 de março de 1987, do antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), hoje Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que impede o corte e a comercialização de sua madeira em todo o território nacional. As flores e frutos do pequizeiro se constituem em alimentos para abelhas, insetos, morcegos, pássaros e mamíferos que desempenham papel importante na fitofisionomia do Bioma
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Todo o fruto do pequi é aproveitado
Cerrado. A presença do pequizeiro é importante para garantir a sobrevivência de muitas espécies vegetais e animais que são essenciais ao equilíbrio do ecossistema na região do Cerrado. Com o avanço das atividades agrosilvopastoris e expansão das cidades no Centro-Oeste brasileiro, tem havido uma intensa redução da população de pequizeiros. A espécie predomina nos solos mais planos do Bioma Cerrado, que são os mais adequados para a mecanização agrícola e para atividades econômicas como a implantação de pastagens, lavouras de grãos e reflorestamento. Portanto, as populações de pequizeiros estão ficando restritas às áreas de reservas ambientais ou de preservação permanente. Nessas áreas, que já são restritas em extensão e nem sempre preservadas, os frutos dos pequizeiros são coletados intensamente para consumo das populações regionais ou para venda nos centros urbanos da região Centro-Oeste. Isso diminui a quantidade de sementes remanescentes que germinariam para repovoamento dos pequizais nativos.
Domesticação Considerando que em plantios comerciais de pequi a população de plantas por hectare poderia ser elevada de forma muito significativa em relação ao sistema extrativo, e considerando, na produção cultivada, o plantio de indivíduos melhorados e (ou) clonados obtidos a partir de matrizes agronomicamente superiores, o potencial de elevação da produtividade a partir do melhoramento genético e domesticação da espécie é muito grande. Dada a demanda pelo fruto, são relevantes os estudos para a domesticação do pequizeiro visando à seleção de genótipos mais produtivos e de melhor qualidade, bem como o desenvolvimento de métodos eficientes de produção de mudas tendo em vista a produção agronômica do pequi.
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Parceiros Outros parceiros do OrganicsNet também estiveram presentes na BioBrasil, com estandes independentes, onde promoveram e comercializaram seus produtos, entre eles, a Korin, com seus frangos orgânicos e sua linha de vegetais congelaPOR L UÍS A LEXANDRE L OUZADA dos; a Jasmine e seus biscoitos; a Via Pax Bio, que lançou nova linha de polpas orgânicas de tomate; o Sítio do Moinho, e sua O projeto Orgarecém-lançada linha nicsNet, da SociedaBioSprout de grãos de Nacional de Agrigerminados, a Secale, cultura, esteve preque mostrou uma linha sente, no mês de jupães elaborados, e a lho, em duas imporEcobio, que lançou sua tantes feiras na capilinha de alimentos sem tal paulista: a FIPAN, glúten, com destaque Feira Internacional para a farinha de trigo de Panificação, e a sarraceno. BioBrazil Fair, que reA coordenadora do úne produtores, loOrganicsNet particijistas, fornecedores, pou como palestrante distribuidores, atado 7º Fórum de Agricadistas e empreencultura Orgânica e Susdedores do setor ortentável - ocasião em gânico. que abordou o tema A coordenadora do “Acesso ao Mercado projeto Organicsde Orgânicos: OportuO estande do OrganicsNet foi um dos mais visitados da BioBrazil Fair, que recebeu 21,7 Net, da SNA, Sylvia nidades e Desafios”. mil pessoas em quatro dias Wachsner, proferiu paSylvia Wachsner lestra na FIPAN sobre o tema: “Produtos Orgânicos e sua Utiliapresentou um panorama da produção agrícola em países vizização na Panificação”. nhos, como o caso do Peru, por exemplo, maior exportador munNa BioBrazil Fair, o estande do OrganicsNet foi um dos mais dial de café, banana e cacau orgânicos – posto que, segundo ela, visitados da feira, que recebeu 21,7 mil pessoas em quatro deve ser almejado pelo Brasil – e lamentou a falta de estatístidias. Produtos certificados e com valor agregado como o hicas confiáveis sobre o setor no país. “O único dado concreto se gienizador de alimentos e purificador de água da Clor-In, o refere ao número de produtores orgânicos cadastrados no Mimate da Herbal e o brownie da Cultivar Brazil, ganharam a nistério da Agricultura, que somam 13,2 mil até o momento”. A atenção do público, assim como os pães de mel e bolos da coordenadora do projeto de orgânicos da SNA também destaRudá; as geleias, sucos e conservas de berinjela comercialicou a importância do atual marco regulatório brasileiro, que cozadas pela Amora Verde; os doces e biscoitos do Sítio Quameçou a vigorar em janeiro deste ano. A partir dele, explicou resmeiras, e as misturas para bolos, pães e pizzas da TFF AliSylvia, os produtos orgânicos passaram a estampar obrigatoriamentos. mente um selo de autenticidade. FABRÍCIO CAMELO
OrganicsNet presente em importantes feiras
OrganicsNet participa de seminário no Acre A coordenadora do projeto OrganicsNet da SNA, Sylvia Wachsner, participou, nos dias 14 e 15 de setembro de 2011, do workshop de Incubadoras de Base Tecnológica, na cidade de Rio Branco (Acre). O evento foi realizado pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (IFAC) com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento do estado e levar aos participantes conhecimentos que estimulem o empreendedorismo. Em sua palestra, Sylvia Wachsner lembrou que o empreendedor é aquele que procura oportunidades além daquelas que atualmente controla, escuta e aprende do mercado. “No agronegócio, o empreendedor deve focar seu trabalho na totalidade da cadeia produtiva, ou seja, desde antes da porteira até o consumidor, e deve ainda
compreender as oportunidades e os entraves da cadeia, bem como analisar como poderá agregar valor e colocar novos produtos no mercado”. Na opinião da coordenadora do OrganicsNet, “os empreendedores no Acre, que é um estado amazônico, com uma história distinta em relação a outros estados brasileiros, deveriam estudar como oferecer produtos diferenciados, ligados à biodiversidade”. Sylvia assinalou que existe uma enorme demanda, pela indústria de cosméticos e alimentos orgânicos, por produtos sustentáveis de estados amazônicos. “É preciso criar parcerias entre as universidades, o setor público e o privado, no intuito de planejar iniciativas que caracterizem o Acre na base da sustentabilida-
de e da biodiversidade, e que sirvam para incrementar o movimento econômico do estado. Os empreendedores precisam ainda vislumbrar as oportunidades que se apresentam, como a finalização da rodovia interoceânica que liga o estado com o Pacífico, atravessando o Peru” – destacou. Além disso, Sylvia sublinhou a importância de investimento nos produtores rurais acreanos para a criação de uma agricultura sustentável, reduzindo, dessa forma, a elevada importação e consumo de produtos agrícolas de outros estados que pesam no orçamento da população. Participaram do workshop em Rio Branco o reitor e professores do IFAC, representantes do governo do Acre, Sebrae e alunos dos diversos campi do instituto.
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Do laboratório ao campo Durante o mestrado, o pesquisador realizou estudos em laboratório e casa de vegetação, e no doutorado, Martines transferiu suas ações para o campo. Assim, um experimento foi instalado em Rolândia com objetivos de avaliar a perda de nitrogênio por volatilização da amônia, as alterações 50
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Curtumes: de vilões do a fertilizant es d Pesquisa da ESALQ indica melhor
SANJO
Brasil é um dos maiores exportadores de couro do mundo, processando cerca de 42 milhões de peles por ano. Ocorre que para a obtenção de um produto que atinja alto padrão de qualidade no mercado, o tratamento desse material é realizado com significativa demanda de produtos químicos como cloreto de sódio, hidróxido de amônio, bactericidas, enzimas proteolíticas, cal hidratada, sulfeto de sódio, sulfato de amônio, ácido sulfúrico, ácido fórmico e sais de cromo, dando origem ao couro denominado de “wet blue”. Até a década de 1980, a maioria dos curtumes brasileiros gerava, como resíduo desse tratamento, dois tipos de lodos, o de caleiro e o lodo primário. “Os curtumes são conhecidos como vilões do meio ambiente; essa idéia vem ainda do tempo em que não havia nenhum tratamento dos resíduos, sendo que estes eram totalmente despejados em rios”, comenta o agrônomo Alexandre Martin Martines, autor da tese “Avaliação ambiental e agronômica do uso de lodo de curtume no solo”, desenvolvida no programa de pós-graduação em Solos e Nutrição de Plantas da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). Orientado pela professora Dra. Elke Jurandy Bran Nogueira Cardoso, do departamento de Ciência do Solo (LSO), o autor da pesquisa conta que seu interesse pelo assunto teve início ainda na graduação, na Universidade Estadual de Londrina (UEL). “Na cidade em que eu nasci, em Rolândia (PR), há um curtume que aplica parte de seus resíduos numa área agrícola próxima a suas instalações. Eu passava por lá durante a graduação e sempre tinha curiosidade em saber quais os impactos positivos e negativos para o solo daquele manejo. Então, naquela época, conversando com o Dr. Mário Miyazawa, pesquisador da área de solos do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), acabei conhecendo um pouco mais sobre o tema, inteirandome sobre metais pesados, enfim, fui pesquisar sobre a questão. Quando ingressei no mestrado, aqui na ESALQ, resolvi aprofundar meus conhecimentos nessa área”. No mestrado, iniciado em 2002, trabalhou com dois tipos de materiais que eram aplicados em solo agrícola por aquela indústria. “Nossa proposta foi trabalhar com dois resíduos do curtume: o lodo primário, um resíduo rico em nitrogênio e com baixo teor de cromo em decorrência da separação dos efluentes que contêm Cr, manejo esse que não era adotado pelos curtumes antigamente, e que viabilizou sua aplicação em conjunto com o lodo de caleiro, que é um material com grande quantidade de cal, não tem cromo e apresenta um pH elevado. A mistura desses dois lodos, quando aplicada ao solo, funciona como corretivo e fertilizante além de ser uma alternativa para disposição e reciclagem desses resíduos”.
ESALQ/USP
SUSTENTABILIDADE
Aplicação de lodo: após 4 meses o solo está apto para receber uma cultura agrícola
microbiológicas do solo, a lixiviação de nitrogênio mineral, a produtividade da cultura do milho e o efeito residual, após a aplicação de doses crescentes do lodo de curtume no solo. Tendo como parâmetro a norma P4 233 da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), que apresenta critérios para uso de lodos de curtumes em áreas agrícolas. “O material permaneceu no campo durante dois anos, em um experimento de longa duração, financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de NíCom sabor mais vel Superior (CAPES), e ali pudemos observar a viabilidade doce, a variedade de aplicação e testar as conseqüências de doses crescentes Fuji vem ganhando mercado no para as características do solo”, comenta o Sudeste pesquisador.
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uso d
SUSTENTABILIDADE
ões do meio ambiente ant es do solo
melhor
uso de lodo de curtume no solo
ais, o que viabilizou o seu emprego em solo agrícola. Esses dois resíduos são produzidos em grande quantidade, sendo que, em média, somente 5% do volume total são sólidos e a porção líquida que sobra é água. Em geral, O manejo se dá pela aplicação direta em uma determinada área, durante cerca de quatro meses e, após esse período, o solo está apto para receber uma cultura agrícola. No entanto, Martines ressalva a necessidade de se definir principalmente o teor de nitrogênio e sódio nas doses aplicadas no solo. “Podemos perceber que essa é uma alternativa viável, traz benefícios para a agricultura, mas tem alguns pontos que precisam ser considerados com cuidado. A redução do teor de Cr, que é tóxico para os seres vivos, no lodo primário possibilitou sua utilização em conjunto com o lodo do caleiro em área agrícola, não sendo mais este o fator limitante na determinação da dose a ser aplicada. Contudo, altos teores de nitrogênio no solo, na forma de nitrato, decorrentes da mineralização da fração orgânica do lodo de curtume, podem proporcionar impactos negativos, principalmente quando a mineralização não é sincronizada com a absorção pelas plantas, possibilitando sua movimentação e consequente contaminação das águas superficiais e subterrâneas. Já o sódio pode causar limitações no desenvolvimento das plantas, dispersão de argilas e até dispersão da matéria orgânica.
Técnicas específicas de manejo
ra agrícola
O foco anterior das pesquisas envolvendo curtumes era a avaliação do efeito do cromo no solo. Os estudos com lodo de curtume tiveram seu início no Rio Grande do Sul, região onde temos uma maior concentração dessa atividade. “Quando se verificou a presença do cromo, um metal pesado que pode apresentar problemas ambientais significativos, os órgãos fiscalizadores intensificaram as tentativas de minimizar o descarte no ambiente. Então os curtumes modificaram seu projeto e hoje boa parte dessas empresas já consegue separar o material com alto teor de cromo, liberando lodos sem ou com pouco cromo”, conta Martines. Viabilidade em solo agrícola Na prática, o agrônomo misturou esses dois materi-
Assim, as características físico-químicas desse resíduo exigem técnicas específicas de manejo, como incorporá-lo ao solo, evitando que ele fique na superfície, o que facilita perda de nitrogênio por volatilização. Além disso, a pesquisa indica que se deva aplicar o resíduo em um período mais próximo do plantio, possibilitando um melhor aproveitamento pelas plantas e diminuindo o risco de contaminação do lençol freático por lixiviação. Com a aplicação correta, em doses adequadas, o agricultor obtém grande economia, visto que esse manejo permite abolir os corretivos e fertilizantes nitrogenados. Para o curtume, diminuem os custos de tratamento e disposição de uma imensa quantidade desse lodo, amenizando assim o impacto ambiental. Além disso, a incorporação da dose de 521 kg ha-1 de nitrogênio na forma de lodo proporcionou ganho de produtividade de grãos em 11% em comparação ao tratamento convencional”, explica o agrônomo. “O resultado da pesquisa traz novas informações sobre o manejo adequado do lodo de curtume resultando em aumento de produtividade agrícola sem causar danos ambientais. Essas informações serão apresentadas à CETESB, que pretende revisar a norma de aplicação que vigora desde 1999. “Assim como ocorreu no caso do lodo de esgoto, pretendemos que a norma da CETESB seja a base para uma norma federal para o uso de lodo de curtume, uma vez que apenas os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul contam com normatização para uso de resíduos nesse segmento, sendo que hoje temos curtumes espalhados por todo o país”, conclui Alexandre Matins Martines. CAIO RODRIGO ALBUQUERQUE - ESALQ/USP
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DIVULGAÇÃO
Recorde na venda de veículos novos no Brasil reflete na heveicultura No primeiro semestre o país registrou 1,07 milhão de veículos vendidos A demanda de borracha, natural e sintética, por parte das montadoras tem registrado aumento significativo no Brasil, sobretudo, durante os seis primeiros meses do ano, quando o país alcançou recorde na venda de veículos novos, foram vendidas 1,07 milhão de unidades. A perspectiva da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) para todo o ano é de que as vendas cheguem a 3,69 milhões de veículos, o que corresponde a uma média de 14,76 milhões de pneus novos, número que causa inquietação entre as companhias, já que a produção brasileira de borracha não é suficiente para suprir a demanda.
“As indústrias têm se preocupado com a disponibilidade da matéria-prima borracha natural. Hoje em dia, observase um movimento de aproximação de alguns fabricantes de pneus junto aos produtores rurais. No entanto, o desafio do Brasil de elevar a produção de borracha requer um engajamento da iniciativa privada e do governo”, explica Heiko Rossmann, diretor secretário da Apabor (Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de Borracha). Segundo Rossmann, existe uma estimativa de que 90% do consumo brasileiro de borracha seja destinado à indústria automobilística. “Cerca de 80% é absor-
Ônibus em São Paulo usam diesel renovável de cana-de-açúcar A crescente necessidade de diesel com baixo teor de enxofre no Brasil gera uma forte demanda para o Diesel de Cana™ da Amyris A Amyris Brasil S.A. iniciou o fornecimento de diesel renovável derivado da cana-deaçúcar da Amyris(conhecido localmente como Diesel de Cana™) para 160 ônibus da cidade de São Paulo. Os ônibus operados pela Viação Santa Brígida já utilizam uma mistura de dez por cento de diesel renovável da Amyris e os restantes noventa por cento de biodiesel e diesel de petróleo são fornecidos pela Petrobras Distribuidora. O contrato de fornecimento vai até o final de 2012.
Resultados positivos “Após o lançamento bem sucedido de nossa primeira unidade de produção em escala industrial e os resultados positivos dos testes com frotas no Brasil, estamos entusiasmados por sermos o fornecedor comercial de combustível renovável para ônibus na
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Sangrador em propriedade localizada em Jaci/SP
vido na fabricação de pneumáticos, enquanto que 50% do volume restante, ou seja, 10% do volume total, deve ser empregado na fabricação de artefatos de borracha destinados às montadoras”, acrescenta.
Produção A projeção para 2011 é de que a produção de borracha seca chegue a 135 mil toneladas, mesmo com a quebra da safra no primeiro semestre, causada pelo excesso de chuvas no noroeste paulista.
maior cidade brasileira. Ao longo do próximo ano, à medida que expandirmos nossos acordos de fornecimento com as frotas de ônibus de São Paulo, esperamos alcançar $10-12 milhões em vendas anuais de diesel”, disse John Melo, CEO da Amyris. “A crescente demanda por diesel com baixo teor de enxofre no Brasil cria uma grande oportunidade para destacarmos a superioridade do desempenho e dos benefícios de nosso diesel renovável, ao mesmo tempo em que possibilita ao país reduzir a importação de diesel, que compreende aproximadamente 20 por cento da necessidade de diesel no Brasil em 2010”, explica John Melo.
Menos combustíveis fósseis A cidade de São Paulo tem mais de
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As importações brasileiras do elastômero somam 124,5 mil toneladas, ou US$ 589,9 milhões, no período de janeiro a junho de 2011. Comparado ao mesmo período do ano passado, o volume importado é 5,1% menor, mas o valor gasto é 58,4% superior. “Associada à lenta expansão da área plantada no Brasil, a demanda torna a heveicultura um negócio ainda mais atraente como opção de investimento”, diz o diretor da associação.
15.000 ônibus que consomem cerca de 450 milhões de litros de diesel por ano. O diesel de cana-de-açúcar da Amyris vai ajudar a cidade a alcançar a meta de reduzir o uso de combustíveis fósseis no sistema de transporte público. Em consonância com a legislação municipal, São Paulo está trabalhando para reduzir o uso de diesel fóssil em 10 por cento a cada ano até 2018.
Marco “Esse é um grande marco tanto para a Amyris quanto para a cidade de São Paulo. Com tecnologias inovadoras e matéria-prima local, São Paulo reduzirá sua dependência de combustíveis fósseis, diminuindo as emissões. Os testes que realizamos no ano passado com nossos parceiros, a SPTrans, a Mercedes-Benz, a Petrobras Distribuidora e a Viação Santa Brígida confirmaram que uma mistura de dez por cento do diesel da Amyris no diesel de baixo teor de enxofre da Petrobrás (B5 S50) pode reduzir a opacidade (fumaça) em até 40 por cento”, disse Paulo Diniz, presidente da Amyris Brasil S.A. www.amyris.com A fumaça gerada por ônibus pode diminuir até 40% com diesel de cana-de-açúcar
22/9/2011, 16:57
VILLAGGIO GRANDO
Confiança no código aberto A catarinense Villaggio Grando é a primeira vinícola brasileira a adotar o uso do chamado QR code, o código eletrônico que permite ao consumidor fotografar/escanear o selo presente no winetag (rótulo) dos vinhos com o seu celular ou smartphone e receber instantaneamente na tela mais informações sobre as principais características do produto. A novidade está presente nos 9 diferentes rótulos de vinhos e espumantes da Vinícola VG a medida em que as safras vão sendo renovadas a partir de 2010, oferecendo aos consumidores uma ficha técnica mais detalhada de cada vinho bem como as observações e notas atribuídas pelos usuários do sistema. Localizada no município de Água Doce (SC) e especializada em vinhos finos de atitude, a Villaggio Grando investe na tecnologia código QR como forma de salientar ainda mais a sua transparência na relação com os consumidores, ao abrir espaço para a opinião e troca de in-
Espumante rose (detalhe) e outros rótulos da Vinícola Villaggio Grando terão código eletrônico
formações entre os mesmos. Código eletrônico “O uso deste código eletrônico é, acima de tudo, a prova de qualidade da vinícola VG, já que se alguém falar bem ou mal de um determinado vinho, esta informação vai estar presente no seu rótulo”, afirma o diretor da Villaggio Grando, Guilherme Sulsbach Grando. Localizada no município de Água Doce, nos campos de altitude de Santa Catarina, a vinícola Villaggio Grando re-
úne características ímpares de solo e clima, próprios para o desenvolvimento de seus vinhedos. São 42 hectares e 15 varietais, cultivadas em harmonia com à natureza, para a produção de vinhos tintos, brancos, rosé e espumantes em tiragens limitadas, que traduzem o terroir autêntico de umas das regiões mais frias do país. www.villaggiogrando.com.br
Softwares para o desenvolvimento e otimização de produtos e processos A acatec (www.acatec.com.br) lançou pacote de softwares baseados em métodos multivariados de análise, amplamente usados em indústrias de ponta no exterior para o desenvolvimento e otimização de produtos e processos industriais.
produtos, aperfeiçoamento e controle de processos.
Melhor alternativa
Tubo gotejador para irrigação de áreas extensas A John Deere Water lançou no mercado o tubo gotejador D5000, adequado para irrigação de áreas extensas, em culturas como cana, algodão, grãos e café. É autoregulável e por isso pode ser utilizado também em terrenos acidentados, nos quais mantém a uniformidade da vazão, independente da variação de pressão. Outra característica do tubo é o labirinto grande, que reduz o risco do entupimento e garante uma aplicação com maior qualidade. Dependendo da cultura no qual ele está sendo aplicado, ele pode ser utilizado tanto na superfície como enterrado no solo. www.johndeere.com.br
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A razão do sucesso da metodologia de análise multivariada se deve, principalmente, pela crescente sofisticação das técnicas instrumentais, impulsionada por novas tecnologias em equipamentos e computadores. “Este novo cenário gera uma quantidade de informações gigantesca, que requer métodos de tratamentos de dados mais complexos do ponto de vista matemático e estatístico”, diz Luiz Felipe M. de Aquino, gerente de vendas e serviço da Acatec. www.acatec.com.br
JOHN DEERE WATER
Segundo pesquisadores de universidades brasileiras que trabalham com o tema, esta metodologia é a melhor alternativa para interpretação de dados e aquisição do máximo de informações sobre um sistema de maneira a otimizá-lo e controlá-lo de modo efetivo, diminuindo tempo e custos no desenvolvimento de
Sucesso
Tubo gotejador: Gotejador D5000: para áreas extensas
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O brasileiro certo no lugar certo GUILHERME S ABINO O METTO ENGENHEIRO (EESC/USP), É VICE-PRESIDENTE DO GRUPO SÃO MARTINHO, VICE-PRESIDENTE DA FIESP E COORDENADOR DO COMITÊ DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS DA ENTIDADE
“A principal ajuda que o governo brasileiro poderá oferecer ao nosso ilustre cidadão e também à população da Terra é a execução de uma política cada vez mais eficaz para a agropecuária nacional, que tem sido um exemplo de como é possível conciliar a cultura de alimentos com a proteção ambiental”
atendimento à convocação do G20 no sentido de que a agência contribua, no âmbito das maiores economias do Planeta, para que haja mais transparência no mercado internacional de alimentos. Tal avanço, aliás, é coerente com uma das principais gestões da política externa brasileira nos últimos anos, no tocante ao aumento do poder de decisão daquele grupo, ante o antigo predomínio do G8. Por isso, foi muito estimulante observar a declaração da presidente Dilma Rousseff, de que dará todo apoio a Graziano em sua nova missão. Com certeza, a principal ajuda que o governo brasileiro poderá oferecer ao nosso ilustre cidadão e também à população da Terra é a execução de uma política cada vez mais eficaz para a agropecuária nacional, que tem sido um exemplo de como é possível conciliar a cultura de alimentos com a proteção ambiental. Ademais, nossa produção é imprescindível para reverter os anúncios, da própria FAO, de consecutiva majoração da comida. Posição privilegiada Nesse contexto, temos posição privilegiada, graças ao avanço de nosso agronegócio, que deverá continuar crescendo em 2011. Em 2010, a sua exportação foi recorde, com vendas de US$ 76,4 bilhões, 18% maiores do que em 2009 (US$ 64,7 bilhões). As importações aumentaram 35,2%, passando de US$ 9,9 bilhões para US$ 13,4 bilhões. Com isso, o comércio exterior setorial teve superávit de R$ 63 bilhões no ano passado, maior do que o do País como um todo (cerca de R$ 20 bilhões). Ou seja, sustentou o saldo positivo da balança comercial brasileira em 2010.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Alimentar nove bilhões de terráqueos até 2050, sem que a demanda crescente torne os preços proibitivos e a produção devaste o ambiente e agrave as mudanças climáticas, é o grande desafio da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), organismo responsável pela articulação multilateral dessa questão decisiva para a humanidade. Considerando a dimensão e complexidade da tarefa, foi muito pertinente a eleição do brasileiro José Graziano da Silva, ex-coordenador do “Fome Zero”, para o cargo de diretor-geral da agência, que assume posição cada vez mais destacada no conglomerado da ONU. Segurança alimentar Trata-se do técnico e executivo certo, pelo currículo e entendimento do problema, cidadão do país, síntese da equação da sustentabilidade, no posto mais adequado para promover uma nova política mundial relacionada à segurança alimentar. Muito antes de tomar posse, no início de 2012, Graziano já disse a que veio, diagnosticando com precisão os avanços que a FAO precisa empreender, como a melhoria do apoio aos países da África, ação política para reduzir as assimetrias regionais, maiores esforços para aliviar os impactos provocados por desastres naturais, ampliação de seu papel de consultora em setores como biocombustíveis e trabalho para eliminar barreiras comerciais. Transparência Também será importante o José Graziano da Silva: promoção de nova política mundial de segurança alimentar
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A Lavoura
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Agronegócio É inegável o significado de nosso agronegócio, que representa 27% do PIB do Brasil, 37% dos empregos e 42% das exportações, que conquistou 215 mercados internacionais, que é o terceiro exportador mundial, que obteve 84% de ganho de produtividade na soja desde 1990 e 122% no milho e registrou 950% de crescimento das vendas externas de carne de frango. Além disso, com a produção de biocombustíveis, em especial o etanol, o setor, por meio dos carros flex, retira 80 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera. É todo esse suporte e know how, junto com seu notável currículo, que Graziano leva à FAO para enfrentar a luta contra a fome do mundo!
A Lavoura
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