A Lavoura 699

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Ano 116 Nº 699/2013 R$ 12,00

Café: mais demanda

pela qualidade Indicação de Procedência Café da Região do Cerrado Mineiro Óleos essenciais Mercado em expansão Praga Como enfrentar a Helicoverpa armigera


A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ

Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)

Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.

www.timeagrobrasil.com.br


A LAVOURA

Ano 116 . Nº 699/2013

café

• 16

Qualidade da cafeicultura: demandas mundiais e oportunidades

turismo eco-rural

• 30

Brejal O potencial do campo

44 •

praga

Um inimigo chamado Helicoverpa armigera

plantas bioativas Óleos essenciais: uma fonte de divisas a ser mais explorada no Brasil

• 48 27

Indicação geográfica “Café de atitude” gera valor compartilhado

40 •

Café

Café capixaba: bom, do campo à mesa

SNA 116 ANOS

06

54 •

Café

Tecnologia com sabor de sucesso

Organics Net

60 •

Manejo Bovino

Alimentação & Nutrição 22

64 •

Nutrição de precisão: simples e eficiente

Indústria Agrícola

Nova cevada cervejeira é importante e vantajosa para a indústria de malte

PANORAMA 10 21

SOBRAPA 36 SRB - Sociedade Rural Brasileira

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animais de estimação

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EMPRESAS 62 A Lavoura - Nº 699/2013

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Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Almirante Ibsen de Gusmão Câmara Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta

Academia Nacional de Agricultura Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor

comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado

Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41

Presidente:

Roberto Rodrigues

TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen

ISSN 0023-9135 Diretor Responsável Antonio Mello Alvarenga Editora Cristina Baran editoria@sna.agr.br Reportagem e redação Paula Guatimosim redacao.alavoura@sna.agr.br

Foto: Divulgação É proibida a reprodução parcial ou total de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos sem prévia autorização do editor. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores, não traduzindo necessariamente a opinião da revista A Lavoura e/ou da Sociedade Nacional de Agricultura.

Editoração e Arte I Graficci Tel: (21) 2213-0794 igraficci@igraficci.com.br Impressão Ediouro Gráfica e Editora Ltda www.ediouro.com.br

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Colaboradores desta edição Alicia Nascimento Aguiar Aymbiré Fonseca Bia Rique Deise Froelich Fábio Rynol Fernanda Domiciano Flávia Bessa Humberto Ribeiro Bizzo Ibsen de Gusmão Câmara Joseani M. Antunes Larissa Morais Luís Alexandre Louzada Paula Guatimosim Raiza Tronquin Raphael Santos Ronaldo Luiz Samantha Mapa Sara Maria Chalfoun Viviane Pujol Magro

Endereço: Av. General Justo, 171 • 7º andar • CEP 20021-130 • Rio de Janeiro • RJ • Tel.: (21) 3231-6369 / 3231-6350 • Fax: (21) 2240-4189 Endereço eletrônico: www.sna.agr.br • e-mail: alavoura@sna.agr.br • redacao.alavoura@sna.agr.br


CARTA DA SNA

2014: um ano político de valorização do agronegócio Desde meados do século passado, com o processo de industrialização e a frenética urbanização do país, o setor rural foi relegado a um plano inferior. Industriais, banqueiros e comerciantes eram valorizados, representavam a modernidade e formavam a “elite” da nação. Os agricultores eram classificados como caipiras, atrasados e pouco instruídos. A classe política voltava suas atenções para os moradores das áreas urbanas. As plataformas dos candidatos e os programas dos governos enfatizavam o desenvolvimento da indústria, o crescimento das cidades e a melhoria das condições de vida de seus habitantes. Esse panorama vem mudando nos últimos anos. O agronegócio prosperou graças às condições naturais do país e ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas, que proporcionaram vantagens comparativas e competitivas à nossa produção agropecuária. O Brasil cumpre sua vocação e consolida lugar de destaque como um dos maiores fornecedores de alimentos do mundo, com papel fundamental na equação global de segurança alimentar. Em 40 anos, deixamos de ser um país importador de alimentos para assumir uma posição invejável no comércio internacional. Fornecemos comida boa e barata para alimentar para 200 milhões de brasileiros e ainda produzimos excedentes exportáveis equivalentes a 100 bilhões de dólares por ano. Além disso, temos o mais avançado programa de geração de agroenergia do planeta.

Nesse contexto, o setor ganha importância política. Nas eleições de 2014 os candidatos precisarão mostrar com objetividade quais serão seus compromissos em relação ao desenvolvimento de nossa agropecuária. A SNA é uma instituição que não apoia partidos políticos e não se engaja em campanhas eleitorais deste ou daquele candidato. No entanto, temos o dever de colaborar com a construção de uma plataforma que reúna os interesses do agronegócio. Independentemente de seus respectivos partidos, estamos identificando os parlamentares que mais contribuíram para a defesa e o apoio ao setor. A bancada ruralista no Congresso demonstrou sua capacidade de articulação e mobilização, alcançando significativos resultados em favor do homem do campo. Vamos trabalhar em 2014 para que o agronegócio conquiste maior espaço político e seja atendido em suas legítimas reivindicações. * * * Nesta edição, o leitor ficará bem informado sobre a solenidade de premiação dos Destaques A Lavoura e sobre as homenagens especiais que prestamos em comemoração aos 40 anos da Embrapa e 20 anos da Abag.

As atenções se voltam para o sucesso do agronegócio, que responde por cerca de 37% dos empregos, 23% do PIB e 40% das exportações do país.

Também noticiamos a assinatura de um importante convênio com a FAO, para divulgação de conteúdo específico na revista A Lavoura. Estabelecemos ainda um convênio com o INPI, de incentivo às Indicações Geográficas. À propósito, não deixem de ler nesta edição uma bela matéria sobre o café do cerrado mineiro.

A imprensa passou a dar maior espaço para noticiar o setor, e os brasileiros, de forma geral, começaram a valorizar o homem do campo.

A partir desta edição, A Lavoura publicará a seção “Alimentação & Nutrição”. Neste número, trazemos uma entrevista com a renomada especialista Bia Rique.

Recente pesquisa da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) mostrou que 81% da população brasileira considera o agronegócio muito importante. Em algumas regiões, como é o caso do Centro Oeste, esse percentual sobe para 99%.

Boa leitura e feliz 2014!

Antonio Alvarenga Antonio Mello Alvarenga Neto

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SNA 116 anos

SNA assina importantes acordos com a FAO e o INPI

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urante a realização do 14º Congresso de Agribusiness, nos dias 7 e 8 de novembro, no Rio de Janeiro, a Sociedade Nacional de Agricultura assinou relevantes acordos com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU) e com o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).

No primeiro dia do evento, Alan Bojanic, representante no Brasil da FAO/ ONU firmou um convênio com o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, para o desenvolvimento de atividades conjuntas com o objetivo de difundir informações e ações voltadas para o agronegócio. Além disso, segundo o texto do acordo, a FAO propõe uma parceria com A Lavoura – a revista agrícola mais antiga do país – a fim de unir esforços para cumprir os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e da Cúpula Mundial sobre Alimentação de 2009”. A FAO também ressaltou o pioneirismo e o amplo alcance da publicação da SNA nos centros de pesquisa, universidades e bibliotecas do Brasil.

Insegurança alimentar

Bojanic destacou a importância do Brasil como um dos maiores produtores de alimentos do mundo e a cooperação com países que passam pela chamada “insegurança alimentar”. – Uma em cada quatro pessoas na África, por exemplo, não consome quantidade suficiente de alimentos para sua sobrevivência. Por outro lado, houve uma diminuição nos níveis de insegurança alimentar, mas muitos homens, mulheres e crianças ainda passam fome no mundo, reclamou o representante da FAO.

De acordo com o representante da FAO/ONU, Estados Unidos, Austrália, Rússia e Ucrânia, por exemplo, são grandes celeiros da produção de alimentos, mas não para a agricultura tropical. “O Brasil detém a centralidade, porém, precisa investir mais em tecnologia, assistência técnica e transmissão de conhecimentos”, observou.

Para atender à demanda por alimentos no planeta, a produção terá de aumentar 20% até 2020, informou Bojanic. “O Brasil poder vir a contribuir com até 40% deste crescimento. Em todo o mundo, devemos investir 83 bilhões de dólares em agricultura, até porque países do Sudeste e Sul da Ásia e países da África não terão condições de produzir quantidade suficiente de

Cristina Baran

Cristina Baran

Mesmo com a queda do número de famintos em nível global, Bojanic afirmou que 842 milhões ainda passam fome e, por isso, lamentou o fato de que 30% da

produção mundial de alimentos deva se perder, principalmente por causa de mudanças climáticas que estão modificando a situação das lavouras. “A agricultura tem de se adaptar, porque a segurança alimentar do futuro terá de vir do aumento da sua produtividade. E as tecnologias são fundamentais em busca de melhorias no campo”, ressaltou Bojanic.

O presidente da SNA, Antonio Alvarenga e o representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, assinam convênio que irá difundir informações e ações no âmbito do agronegócio

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Jorge Ávila, presidente do INPI, durante a assinatura do acordo: Propriedade Industrial como estratégia comercial de agregação de valor ao produto


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alimentos.” A meta da FAO é ter um milhão de toneladas a mais de alimentos até 2050 e, para isso, reforçou o representante da entidade, “o Brasil terá um papel fundamental”. Ainda durante o congresso, o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), Jorge Ávila, e o presidente da SNA, Antonio Alvarenga, firmaram acordo de cooperação técnica. Segundo o conteúdo do texto, o objetivo é “promover a disseminação e a capacitação sobre Inovação, Propriedade Industrial e Informação Tecnológica, especialmente as Indicações Geográficas/IG (Indicação de Procedência/IP e Denominação de Origem/DO) e Marcas Coletivas, para um melhor entendimento e uso do sistema de PI como fator estratégico para a promoção da inovação tecnológica, da competitividade e do desenvolvimento sustentável dos negócios do setor”.

O acordo também pretende consolidar a propriedade industrial como estratégia comercial de agregação de valor ao produto e de suporte à competitividade dos produtores brasileiros. O desenvolvimento, mapeamento e registro de novas IGs e Marcas Coletivas, para ampliar o rol de produtos protegidos, assim como a divulgação desses produtos sinalizados junto aos mercados interno e externo, são algumas das metas da cooperação.

“É uma forma de mostrar ao produtor que ele pode gerar valor para seus produtos através da propriedade intelectual, e vale para produtores de todos os tamanhos”, explicou Ávila. Alvarenga comemorou o acordo. “Quero agradecer a oportunidade de a SNA desenvolver um projeto em conjunto com o INPI que agregará conhecimento e capacitação ao produtor rural. A área de patentes é muito importante para o agro, pois dará suporte à competitividade dos produtos brasileiros”, finalizou

Fotos: Débora 70

Cooperação técnica para as Indicações Geográficas

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SNA e A Lavoura elegem os melhores do agronegócio brasileiro

Sociedade Nacional de Agricultura e a revista A Lavoura promoveram mais uma edição do tradicional prêmio “Destaque 2012/13”, durante o encerramento, no dia 8 de novembro, do 14º Congresso de Agribusiness. Dessa vez, dez nomes, entre personalidades e instituições, foram homenageados no auditório da Confederação Nacional do Comércio (CNC), no centro do Rio de Janeiro.

Destaques Especiais

A Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e a Embrapa, representadas por seus presidentes, respectivamente, Luiz Carlos Carvalho e Maurício Lopes, foram agraciadas com o “Destaque Especial SNA 2012/13″.

O presidente da Embrapa, Maurício Lopes, recebeu o prêmio “Destaque Especial SNA 2012/13″ pelos 40 anos de atuação do órgão no país. Lopes agradeceu a homenagem reforçando que o “Brasil passou por uma primeira revolução do setor agrícola, nos últimos 40 anos, e agora pas- 2

Foto 1 - Maurício Lopes, presidente da Embrapa (ao centro), recebe o Destaque Especial SNA que presta homenagem aos 40 anos de atuação da Embrapa no país; a seu lado, o ex-ministro Roberto Rodrigues (à esq.) e o presidente da SNA, Antonio Alvarenga

Foto 2 - O ex-ministro Allyson Paolinelli entrega o prêmio a Cesário Ramalho, presidente da SRB, que destacou a importância do congresso na defesa dos interesses dos agricultores e pecuaristas

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SNA 116 anos sará por uma segunda revolução, cujo sucesso vai depender de sermos capazes de responder às exigências do mercado e de ir além de produzir só alimentos, fibra e energia”. O presidente da SNA, Antonio Alvarenga, entregou o prêmio ao presidente da Abag, Luiz Carlos Carvalho. A entidade foi homenageada por sua atuação junto ao agronegócio por 20 anos. “Represento pessoas que influenciaram e influenciam a cadeia produtiva do agronegócio. Quero agradecer a todos da Abag”, disse Carvalho.

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Premiados

Este ano, receberam o “Destaque A Lavoura 2012/2013” Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira (SBR), na categoria “Representação Institucional”; Cristiano Walter Simon, consultor da Câmara Temática de Insumos Agropecuários do Conselho de Agronegócio do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa), na categoria “Tecnologia de Insumos”; Romeu Afonso de Souza Kiihl, diretor científico da Tropical Melhoramento e Genética, na categoria “Tecnologia de Produção”; o Plano ABC do Ministério da Agricultura, que à ocasião foi representado por Caio Tibério Dornelles da Rocha, gestor do programa do governo federal e secretário de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Mapa; Eduardo Assad, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), na categoria “Pesquisa”; o Jornal do Commercio (categoria “Comunicação”), que esteve representado por seu coordenador comercial, Cesar Augusto Figueiredo de Souza; André Ilha, diretor de Biodiversidade do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), na categoria “Meio Ambiente”, e Itaipu Binacional, por seu programa “Cultivando Água Boa”, sendo representada pelo engenheiro agrônomo João José Passini.

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Agradecimentos

Cesário Ramalho (SBR), ao receber o prêmio do ex-ministro Alysson Paolinelli, declarou: “Eu me sinto emocionado. Com muita humildade, recebo esta homenagem em 3

Foto 3 - Antonio Alvarenga entrega o Destaque Especial SNA a Luiz Carlos Carvalho, presidente da Abag: entidade foi homenageada por sua atuação junto à cadeia produtiva do agronegócio Foto 4 - Luis Carlos Guedes Pinto concede o prêmio a Cristiano Walter Simon, consultor da Câmara Temática de Insumos Agropecuários do Mapa, pela difusão de conhecimentos técnico-científicos Foto 5 - Cristina Baran, editora da revista A Lavoura, e Caio Rocha, secretário do Mapa: Plano ABC do Ministério da Agricultura, que defende tecnologias de produção sustentáveis e baixa emissão de carbono, ganhou o prêmio Destaque Foto 6 - O presidente da Academia Nacional de Agricultura, Roberto Rodrigues, presta homenagem a Romeu Afonso de Souza Kiihl, diretor Científico da Tropical Melhoramento e Genética, considerado “o pai da soja brasileira”

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Foto 7 - Diretor da SNA, Paulo Protásio presta homenagem a Eduardo Assad (Embrapa): reconhecimento no setor de pesquisas Foto 8 - Antônio Freitas, diretor da SNA, concede prêmio ao Jornal do Commercio: seu representante, o coordenador comercial Cesar Augusto Figueiredo de Sousa, lembrou os 186 anos do diário

7 nome da minha entidade, dos agricultores e dos pecuaristas brasileiros tão bem defendidos neste congresso”.

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O também ex-ministro Luis Carlos Guedes Pinto entregou o prêmio “Destaques” a Cristiano Simon (Mapa). “Para mim, é um reconhecimento importantíssimo após uma carreira de mais de 40 anos. Não sou cientista, mas procurei aprender e levar os conhecimentos técnico-científicos aos agricultores”, ressaltou Simon. Presidente da Academia Nacional da Agricultura, o ex-ministro Roberto Rodrigues entregou a honraria “Destaques A Lavoura 2012/2013″ a Romeu Kiihl, considerado o “pai da soja brasileira”. – Com quase 72 anos, a gente se torna mais um contador de histórias e não palestrante. Meu sonho, enquanto estudante, era trabalhar com melhoramento de arroz, mas, por um mal entendido, fui parar na soja. Fui criticado por um colega, porque a soja era um produto sem expressão. Hoje, só tenho a agradecer”, comemorou o contemplado.

Representando o Plano ABC do Ministério da Agricultura, Caio Rocha, ao ser homenageado por Cristina Baran, editora da revista A Lavoura, agradeceu: “Recebo este prêmio em nome do Mapa e de todos aqueles que se dedicam ao Plano ABC, que hoje já envolve dez ministérios. Tenho a alegria e a satisfação de ser o gestor deste projeto. E quero aproveitar a ocasião para homenagear Eduardo Assad (pesquisador da Embrapa, um dos contemplados da noite), mentor do projeto”.

O diretor da SNA, Paulo Protásio, concedeu o troféu a Eduardo Assad (Embrapa). “Agradeço por esse prêmio, mas vou dividi-lo com todos os meus colegas da Embrapa, principalmente com aqueles que me ajudaram a mudar a concepção de que a agricultura não é a vilã das mudanças climáticas e que é possível fazer uma agricultura com sustentabilidade”, discursou Assad.

Em nome do Jornal do Commercio, Cesar Augusto Figueiredo de Sousa, coordenador comercial do diário, destacou que “o jornal noticia, há 186 anos, os mais importantes fatos da economia, e o agronegócio tem merecido destaque nos últimos anos”. Ao ser agraciado pela coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da SNA, Sylvia Wachsner, com o prêmio “Destaques A Lavoura 2012/13″ na categoria Meio Ambiente, André Ilha (Inea) afirmou: “Estou lisonjeado por receber um prêmio ao final de um evento desta envergadura. Espero que possamos trilhar bons caminhos nestas áreas vitais que envolvem o agronegócio, para construir um mundo melhor”.

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Foto 9 - Sérgio Malta, diretor da SNA, entrega honraria ao representante da Itaipu Binacional, João José Passini: êxito do programa “Cultivando Água Boa” Foto 10 - André Ilha, diretor de Biodiversidade de Águas Protegidas do INEA, recebe prêmio na categoria “Meio Ambiente” das mãos da coordenadora do CI Orgânicos, da SNA, Sylvia Wachsner

Ao receber o prêmio das mãos do diretor da SNA, Sérgio Malta, em nome da Itaipu Binacional, João José Passini fez questão de salientar que “o prêmio não era da Itaipu e, sim, dos mais de dois mil parceiros que nós temos”. A Lavoura - Nº 699/2013

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Panorama

Guia avalia melhores árvores para pastagens Arborização de pastagens é uma alternativa para diversificar a renda do produtor rural, oferecer mais conforto ao animal, melhorar a fertilidade do solo e aumentar a produtividade do rebanho arborização de pastagens é uma alternativa para diversificar a renda do produtor rural, oferecer mais conforto ao animal, melhorar a fertilidade do solo e aumentar a produtividade do rebanho. Para ajudar na escolha das espécies, a Embrapa lançou o Guia Arbopasto: manual de identificação e seleção de espécies arbóreas para sistemas silvipastoris. O guia descreve 51 espécies diferentes que ocorrem naturalmente em pastagens e traz duas modalidades de classificação: as que possuem melhores características para fornecimento de serviços, tais como qualidade da sombra, dos frutos, de fornecimento de nitrogênio e as melhores árvores para produção de madeira. No total, foram avaliadas 15 características de cada espécie.

nos países que fazem fronteira com o Brasil, como Peru, Bolívia, Colômbia e Equador”, declara Andrade. O primeiro capítulo trata sobre a situação atual e as perspectivas para arborização de pastagens na América Latina; o segundo sobre conceitos, benefícios e métodos de implantação de sistemas silvipastoris; o terceiro sobre o método utilizado para classificar as espécies listadas e o último é o guia de espécies.

Sistemas integrados de produção Os sistemas silvipastoris integram árvores e pastagens para criação de animais e conferem maior sustentabilidade à atividade produtiva. Para o pesquisador da Embrapa Acre, Tadário Kamel, um dos autores do livro, o Guia

Carlos Maurício

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Parapará é uma das espécies catalogadas

Arbopasto pode ser um importante aliado para implantação desses sistemas. “Estudos já comprovaram os benefícios do uso dessas espécies listadas no Guia, tanto em sistemas de regeneração espontânea, como em sistemas em que as árvores são plantadas”, afirma.

Manual “Trata-se de um manual para ajudar o produtor rural a fazer arborização de pastagens, tanto para escolher espécies a serem plantadas, quanto para manter as espécies que já ocorrem no pasto”, afirma o pesquisador da Embrapa Acre, Carlos Maurício de Andrade, um dos editores técnicos do Guia. Foram catalogadas árvores de pastagens no Acre e de Rondônia, mas a maioria das espécies ocorre, também, nos outros biomas brasileiros. “Das espécies avaliadas, 100% estão presentes na região norte, 76% no centro oeste, 53% no nordeste, 31% no sudeste e 20% no sul do Brasil, ou seja, é um guia de abrangência nacional e internacional, porque temos paisagens parecidas 10

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Melhores espécies A espécie que apresenta as melhores características para fornecimento de serviços foi o bordão-de-velho (Samanea tubulosa), árvore nativa, que ocorre principalmente na Amazônia e no Cerrado. “Em geral, as leguminosas, como é caso do bordão-de-velho, apresentam características interessantes devido a sua capacidade de fixar nitrogênio e arquitetura da copa, que permite passagem de luz solar adequada para o crescimento das gramíneas, dentre outros fatores”, afirma Andrade. Para a produção de madeira, o parapará (Jacaranda copaia) se destacou das demais espécies. Árvore nativa que ocorre na região norte, nordeste e centro-oeste, essa espécie cresce rápido e a madeira tem um bom valor de mercado. As outras 51 espécies estão listadas no Guia Arbopasto, que pode ser adquirido na Livraria Embrapa. www.embrapa.br/livraria.


Sem choro Cebola minimamente processada pode tornar-se um nicho de mercado cebola é uma das plantas de maior difusão do planeta e apresenta grande importância mundial, não só em termos de produção, mas também de consumo. No Brasil, é a terceira hortaliça mais cultivada e seu consumo é feito principalmente in natura como condimento ou tempero. Embora versátil em termos alimentares e culinários, essa hortaliça ainda tem pela frente um grande desafio para aumentar seu consumo, principalmente em se tratando da cebola roxa, pois a demanda por esta variedade de bulbo é pequena e concentra-se no Nordeste e entorno de Belo Horizonte (MG).

Para agregar valor nessa espécie de cebola, um estudo realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), sinalizou que os produtos minimamente processados vêm obtendo crescente participação no mercado de produtos frescos em função da praticidade que oferecem ao consumidor. No caso da cebola, o preparo do bulbo é o maior motivo de reclamações, já que por conter compostos voláteis, causam irritação aos olhos e deixam odor característico na mão do manipulador. Ao trabalhar com cebola minimamente processada, a atividade poderá trazer benefícios tanto aos produtores quanto ao consumidor, além de tornar-se um nicho de mercado.

Minimamente processada Desenvolvido pelo Programa de Pós-Graduação (PPG) em Ciência e Tecnologia de Alimentos, sob orientação de Ricardo Alfredo Kluge, do Departamento de Ciências Biológicas (LCB), o estudo buscou conhecer, com detalhes, a fisiologia e manuseio da cebola em questão. “Pensamos em

estudar o comportamento de cebola roxa minimamente processada a fim de avaliar seus aspectos fisiológicos, bioquímicos e microbiológicos. Para isso, foram testadas diferentes temperaturas de armazenamento, combinados com dois tipos de corte, e a influência de diferentes embalagens na vida útil desse produto”, explicou a cientista dos alimentos e responsável pela pesquisa, Natalia Dallocca Berno. A cientista afirmou que no cenário brasileiro atual, as temperaturas de comercialização e armazenamento raramente são respeitadas. Dessa forma, o estudo mostrou que quanto menor a temperatura, maior é a vida útil e a qualidade do produto, sendo que na temperatura de 0ºC, o produto pode durar até três vezes mais que se armazenado a 15ºC. “Isso gera um ganho tanto para o comerciante que terá menos descarte do produto ao longo da comercialização, quanto para o consumidor, que poderá adquirir produto com qualidade num maior prazo de validade”, disse a pesquisadora. Por outro lado, foram estudadas quatro embalagens facilmente encontradas e de preços baixos, pois a pesquisa observou que a embalagem também pode interferir na qualidade do produto, mantendo-a por mais tempo. “A escolha da embalagem adequada pode valorizar o produto não só na aparência geral, mas também na sua qualidade específica”. Outro aspecto interessante diz respeito à pungência da cebola, da sensação picante que os consumidores sentem ao comê-la. No caso da cebola roxa, a pungência pode ser ainda maior, dependendo da variedade e, nessa pesquisa, as etapas de processamento mínimo reduziram em até 50% a pungência da cebola roxa.

Antioxidante A cebola é um dos vegetais mais ricos em quercetina, poderoso composto com propriedades antioxidantes e anticarcinogênicas, e que apesar da redução de quercetina durante o armazenamento, a cebola minimamente processada ainda continha níveis elevados do composto. “Isso demonstra que o processamento mínimo ainda mantém a cebola como uma das hortaliças mais ricas em quercetinas”, finalizou a pesquisadora. Alicia Nascimento Aguiar ESALQ/USP

Natalia Dallocca Berno

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Etapa de descascamento manual no processamento mínimo de cebola “Crioula Roxa”

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Panorama

Que espécies de peixe podem substituir a sardinha?

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ainha absoluta das latas, a sardinha (Sardinella brasiliensis) responde por dois terços do mercado nacional de peixes em conserva, o qual faturou R$2,27 bilhões em 2009, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Alimentação. No entanto, ao longo dos anos, tem-se registrado um declínio dos estoques naturais de sardinha. Em 1970, o Brasil pescou 135 mil toneladas da espécie. Já no ano passado, a captura somou pouco mais de 90 mil toneladas. Para assegurar a proteção da sua reprodução, foi instituído o período de defeso, cinco meses anuais em que a pesca é proibida.

Embrapa Agroindústria de Alimentos

Com o objetivo de responder a esse gargalo da indústria conserveira e ampliar o mercado consumidor de pescados em conserva, alcançando novos nichos, especialistas da

“É um projeto abrangente que analisará a viabilidade econômica da produção, a aceitação do mercado consumidor, os processos tecnológicos de processamento da matrinxã e a transferência de boas práticas aos aquicultores interessados em produzir a espécie”, explica o analista Diego Neves que coordena o projeto ao lado da pesquisadora Patrícia Mochiaro, ambos da Embrapa Pesca e Aquicultura, em Palmas (TO).

Nicho de mercado “Caso a matrinxã se mostre mais onerosa que a sardinha, podemos inseri-la em outro nicho de mercado e testar outras espécies para substituir a sardinha-verdadeira”, informou Neves, apontando espécies conhecidas como sardinha-de-água-doce (Triportheus ssp., Hemiodus ssp., entre outras) como possíveis candidatas para a produção em conservas em substituição à espécie marinha.

das em apenas um hectare. Lembrando que, segundo dados da Embrapa Hortaliças, a média nacional de colheita de batata-doce é de 8 toneladas por hectare. Os benefícios de melhoria de renda, devido à excelente produtividade, têm feito muitos trabalhadores permanecerem junto de suas famílias, e desistirem, assim, de praticar o êxodo rural.

Batata-doce biofortificada rende 70 t./ha

Superprodução de batata-doce no Semiárido

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Rede BioFORT tem provocado com suas ações no nordeste um aumento significativo na produção agrícola da região semiárida. Especificamente no estado do Piauí, é possível observar casos como o da Escola Agrícola de São Miguel do Tapuio, que, na última safra de batata-doce biofortificada, conseguiu colher, em um metro quadrado, 7 kg do cultivar, resultando numa provável colheita de 70 tonela-

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Embrapa iniciaram o projeto “A matrinxã (Brycon cephalus) como alternativa à sardinha verdadeira (Sardinella brasiliensis) para enlatamento pela indústria de pescados”, e assim começar a testar essa e outras espécies de peixes propícias para a comercialização em lata.

A Lavoura - Nº 699/2013

O analista de transferência de tecnologia da Embrapa Meio-Norte, Marcos Jacob, coordena as ações da Rede BioFORT na região nordeste do país, transferindo tecnologia adequada para a elevação da produção dos agricultores familiares, que encontram na seca o maior adversário durante o plantio. “O grande diferencial está na forma inovadora de transferir a tecnologia, pois utiliza-se o princípio da “Segurança Produtiva”, conjunto de medidas necessárias à redução dos riscos de perda de produção e que possibilitem ao pequeno produtor rural produzir seu próprio alimento com garantia de colheita. Desenvolveu-se, assim, uma nova metodologia com base em pequenas áreas irrigadas por gotejamento ou outros sistemas com baixo consumo de água, para serem implantadas principalmente no Semiárido brasileiro, com aplicabilidade em qualquer situação em que o pequeno produtor não possua as condições mínimas para garantir êxito em seus sistemas produtivos.” “Hoje a presença do projeto BioFORT na região Nordeste tem tido resultados bastante animadores, possibilitando a pequenos produtores familiares produzir alimento de qualidade e em quantidade suficiente para o consumo próprio e ainda a venda de excedentes.” O analista lembra ainda que


Embrapa

Mercado de flores deve crescer até 12%

Estudos indicam que a matrinxã apresenta crescimento precoce e boa conversão alimentar, chegando a atingir entre 800 gramas a 1,2 quilo em um ano, e possui características que a tornam indicada para agricultores familiares. “De acordo com a literatura, a matrinxã pode se tornar importante tanto para a indústria conserveira de pescado como para pequenos produtores que podem fazer o processamento por meio de cooperativas”, colocou o analista da Embrapa. Fábio Reynol

Embrapa Pesca e Aquicultura

nenhum dos produtores teve uma colheita menor do que 25 toneladas por hectare depois de terem aderido os cultivares biofortificados às suas produções. Raphael Santos

Embrapa Agroindústria de Alimentos

A Rede BioFORT trabalha com alimentos que possuem maiores teores de pró-vitamina A, ferro e zinco, substâncias essenciais na prevenção de doenças relacionadas com a deficiência de micronutrientes no organismo (fome oculta) . A partir da técnica de cruzamento genético convencional, safras inteiras contendo cultivares de ampla adaptação e forte resistência são selecionadas e melhoradas, permitindo um aumento qualitativo na alimentação dos agricultores das regiões nordestinas. O feijão comum, o feijão caupi, o milho e a mandioca são algumas das outras culturas trabalhadas pelos projetos de biofortificação.

E

mbora, num primeiro momento, as flores e plantas ornamentais sejam consideradas produtos não essenciais para os consumidores, elas acompanham as pessoas em todas as ocasiões especiais de suas vidas, do nascimento à morte, estando presentes em todas as comemorações importantes: batizados, casamentos, aniversários, datas especiais, formaturas e outros grandes eventos. Trata-se de um mercado tão importante que tem registrado, em média, um crescimento da ordem de 12% ao ano, no Brasil, nos últimos sete anos. Os principais institutos e órgãos que cuidam da floricultura brasileira creditam esse constante crescimento do setor não só à estabilidade econômica, mas, principalmente, à qualidade alcançada e à diversidade dos produtos disponibilizados anualmente no mercado. O Brasil, em parceria com a Holanda, é um dos grandes desenvolvedores de novas variedades, com excelentes melhoristas genéticos (briders), que garantem sempre novidades, a cada ano, aliadas à maior durabilidade e qualidade das flores e plantas ornamentais. Essas novidades geralmente são apresentadas ao mercado consumidor durante a Expoflora, a maior exposição de flores e plantas ornamentais da América Latina, realizada todos os anos em Holambra, interior de São Paulo.

Números animadores Acompanhando o desempenho da economia mundial, o mercado de flores brasileiro mostra vigor e tem estimativas animadoras de crescimento em 2013. Enquanto o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu apenas 0,9% em 2012, o setor tem registrado um aumento médio anual nas vendas de 12%. A expectativa é que esse mercado feche o ano movimentando aproximadamente R$ 4,8 bilhões. São números animadores, compartilhados pelo Ibraflor – Instituto Brasileiro de Floricultura, pela Câmara Setorial Federal de Plantas e Flores e pela Cooperativa Veiling Holambra.

Produção brasileira O Brasil conta, atualmente, com 7,6 mil produtores de flores e plantas. Juntos, eles cultivam mais de 350 espécies com cerca de três mil variedades. Sendo assim, o mercado de flores é uma importante engrenagem na economia brasileira, responsável por 194 mil empregos diretos, sendo 49,5% (96 mil) das vagas relativas à produção; 39,7% (77 mil) relacionadas com o varejo; 3,1% (6 mil) na área de distribuição; e 7,7% (15 mil) em outras funções, principalmente de apoio.

Regis Fernando da Silva

A espécie matrinxã é alternativa para sardinha enlatada

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@bancodobrasil

/bancodobrasil

bb.com.br/agronegocios

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 • Ouvidoria BB 0800 729 5678 • Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088

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Parceria é isso. Trabalhar para fazer o País inteiro crescer. Obrigado, produtor rural.

Os campos brasileiros estão em boas mãos. Mãos responsáveis por 22,1% do PIB e por 33% dos empregos do País. Mãos que receberam do Governo Federal R$ 157 bilhões, o maior Plano Safra da história, e produziram acima do esperado. E é por isso que o Banco do Brasil, em nome dos brasileiros, agradece. Obrigado, produtor rural.

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Café

Qualidade da cafeicultura: demandas mundiais e oportunidades Sara Maria Chalfoun

Embrapa Café

Pesquisadora da EPAMIG Sul de Minas. Engenheira Agrônoma, Mestrado e Doutorado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Lavras (Ufla). e-mail: chalfoun@epamig.ufla.br

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O

café é uma das bebidas mais populares do mundo, sendo consumida em 50 países. Mas quem são esses clientes, o que desejam e como satisfazê-los? De maneira geral, tem havido mudanças no perfil dos consumidores, relativas à qualidade do produto final e origem do café. Estas alterações representam novas exigências e mais oportunidades. Essa nova conjuntura tem promovido uma revolução no campo, na manutenção dos esforços para a obtenção de bons índices de produtividade e no investimento em tecnologias visando à melhor qualidade. O cenário da cafeicultura passou — e continua passando — por uma grande transformação, que vem impondo alterações nos padrões de produção, na comercialização e no comportamento de todos os atores da cadeia produtiva. Como parte das mudanças na conduta dos cafeicultores, está a necessidade de ampliação de sua visão relativa à atividade, nos âmbitos abordados a seguir:

Seu território: histórico, localização em relação a centros consumidores, meios de transporte e comunicação, características da região que possam agregar valor ao produto final.

Sua propriedade e seu patrimônio:

Ambiente/clima: solo, exposição do terreno, reserva ambiental, presença de mananciais etc.

Instalações, máquinas, implementos e veículos. Com relação a esses itens, é recomendável a realização de um inventário periódico para dimensionamento das necessidades de ampliação, renovação ou reparos.

Seu entorno: aprofundar seu conhecimento sobre os vizinhos, fornecedores, parceiros comerciais e clientes, conservando o que é bom, contornando os problemas, e estabelecendo novas parcerias.

Seus colaboradores: sejam eles empregados ou membros da família, suas competências e necessidades profissionais e pessoais devem ser analisadas para que seja constituída uma equipe de trabalho.

Qualidade brasileira Recentemente, tem-se observado um grande reconhecimento do valor do café brasileiro, principalmente do produto de boa qualidade. Uma das possíveis causas desta valorização é a conjuntura colombiana. A Colômbia tem sido, historicamente, fornecedora do café considerado de qualidade superior, com uma produção média de 11 a 12 milhões de sacas anuais. Em 2008/2009 e 2009/2010 viu sua produção ser reduzida para 8 a 9 milhões de sacas, passando de segundo produtor mundial para terceiro, sendo ultrapassada pela Indonésia. A persistência dos fatores que provocaram a queda de produção colombiana, entre eles o ataque de pragas e doenças, gerou uma situação de pânico entre os agentes do mercado de café de qualidade, temerosos do risco de desabastecimento de um café com elevado conceito no mercado internacional; fama, em parte, decorrente de grandes e bem sucedidos esforços promocionais. Aquela valorização também é consequência de um outro fato: durante um período de quinze anos, torrefadoras que testaram crescente introdução do café Robusta (Conilon) em suas ligas, experimentaram estagnação no consumo. Já as torrefadoras que privilegiaram os cafés finos, mantiveram taxas crescentes de consumo. Finalmente, devemos considerar que, no ciclo de valorização das commodities no período/safras 2003–2009, o café Arábica não foi beneficiado. Já no ciclo atual de valorização das commodities, houve um alinhamento do café Arábica com o restante do conjunto do mercado, liderando-o com uma alta de 34% entre 2009 e 2010.

Embora a cafeicultura brasileira esteja começando a emergir de um longo período de crise, em alguns setores foram identificadas algumas oportunidades que representaram evoluções importantes. Entre elas estão a expansão do processo de exportação do café torrado e moído; a exploração de nichos ou segmentos de mercado (gourmet, expresso, orgânico e certificado); o processo de diferenciação (selo, classificação, regionalização); o processo de integração (associações e união de cooperativas); o processo de profissionalização do produtor, entre outras.

Embrapa Café/Epamig

Oportunidades

Boas práticas otimizam processo produtivo

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café

Fertitrading Fertilizantes

Cafeicultura moderna

Uma grande transformação vem impondo alteração nos padrões de produção

As boas práticas constituem o núcleo da moderna cafeicultura ao integrar, sob um só conceito, as exigências agronômicas e as do mercado. Um exemplo é o fato de que ao mesmo tempo em que reduzimos o custo de produção, por meio do uso racional de insumos, atendemos aos anseios do mercado comprador de adquirir produtos obtidos de maneira mais sustentável. As boas práticas são, portanto, um componente de competitividade, que permitem ao produtor rural diferenciar seu produto dos outros ofertados, com todas as demais implicações econômicas (maior qualidade, acesso a novos mercados e consolidação dos atuais, redução de custos etc).

Fertitrading Fertilizantes

Certificação

Terreiro de secagem de café

Ferramentas para a melhoria de qualidade da cafeicultura Entre as ferramentas para a melhoria da qualidade da cafeicultura estão o estabelecimento e adoção de programas de Boas Práticas em toda a cadeia produtiva: Programa de Boas Práticas Administrativas e Gerenciais; Agrícolas e de Processamento; Armazenamento e Transporte etc. Boas práticas nada mais são que um conjunto de procedimentos simples e eficazes que possibilitam um ambiente de trabalho mais satisfatório, otimizando, assim, todo o processo produtivo. Sua realização possibilita a entrada do produto final nos mercados mais sensíveis a essa agregação de valor e com crescente exigência de qualidade. 18

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Outra ferramenta de melhoria da qualidade da cafeicultura é a certificação, que reúne um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente da relação comercial, com o objetivo de atestar — publicamente e por escrito — que determinado produto, processo ou serviço está em conformidade com os requisitos especificados. Entre as vantagens da certificação está o processo de fidelização do comprador que se preocupa com a procedência, o respeito às normas de produção — ambientais e trabalhistas. A certificação pode atrair novos negócios, em um mundo que consome cada vez mais com base em critérios rígidos. Existem vários tipos de certificação (Fairtrade, Orgânico, Utz kapeh, Rainforest Alliance etc) e a escolha dependerá de vários fatores, entre eles, a estrutura da propriedade e o mercado que se pretende atender. Em comum, as diversas certificações possuem as dimensões ambiental, social e econômica, com diferenças na frequência e intensidade de suas abordagens nos Códigos de Conduta que regem os diferentes sistemas.


www.walcoo.com

Prejuízos causados pela broca-do-café e outras pragas repercutem até hoje

Nosso aprendizado provém, portanto, dos erros e acertos do passado — e assim evoluímos. O futuro será escrito e dependerá, em grande parte, de nossas ações. Profissionais, produtores, trabalhadores rurais, agentes financeiros, empresas privadas, enfim, todos os atores envolvidos na missão de zelar pelo futuro da cafeicultura brasileira.

O mercado gourmet está em franca expansão

O respeito às exigências climáticas da cultura, pois a história nos mostra o exemplo das severas geadas, às quais os cafeeiros e a própria atividade não sobrevivem.

O respeito ao próprio clima, já que a história recente demonstra que áreas que não possuíam um regime de chuvas bem distribuídas, passaram a exigir a aplicação de recursos de irrigação, resultando em elevação de custos.

A adoção criteriosa de medidas de conservação dos solos, pois conhecemos o legado de devastação decorrente do uso predatório dos mesmos.

A proteção de nossas lavouras contra o ingresso de doenças e pragas exóticas. Prejuízos causados com a entrada da broca-do-café (1910) e da ferrugem (1970) repercutem sobre a cafeicultura até hoje.

Não devemos, sobretudo, desafiar as leis de mercado, insistindo em aumentar o fornecimento de café de baixa qualidade ou de qualidade não diferenciada, diante de uma demanda mundial por um produto de boa qualidade.

Seapa/MG

Existem ainda alguns aspectos relevantes no conjunto de fatores que condicionam o sucesso e, portanto, a qualidade da cafeicultura, que precisam ser consideradas:

A certificação agrega valor

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café

U

m fungo do bem que combate outros fungos prejudiciais à qualidade do café. Uma combinação de enzimas capaz de acelerar o processo de retirada da polpa do café. Duas soluções biotecnológicas desenvolvidas pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) que garantem sustentabilidade e ainda mais qualidade e produtividade ao agronegócio café. O ‘fungo do bem’, na vida real da ciência, se chama Cladosporium cladosporioides e, no dia a dia do produtor rural, pode valorizar a safra em no mínimo 30%, principalmente porque influencia diretamente na qualidade sensorial da bebida.

Tipo benéfico “Após vários trabalhos para identificar e controlar fungos que interferiam negativamente na qualidade do café, descobrimos um tipo que não era prejudicial. Ao contrário, ele se destacava por estar sempre associado a bebidas de qualidade”, afirma Sara Chalfoun, responsável pela pesquisa na Epamig, que contou com a parceria de Carlos Pimenta, da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Os resultados demonstraram que além de eliminar os agentes que causam o mofo nos grãos de café, principalmente em regiões úmidas, o uso do bioprotetor não onera o investimento, porque custa o mesmo que produtos químicos, o equivalente ao valor de três sacas por hectare. Desde 2004, quando os pesquisadores conseguiram isolar esse fungo, a tecnologia está patenteada. Afinal, o uso de bioprodutos é uma crescente demanda do mercado, sempre em busca de soluções sustentáveis que resultem em maior produtividade e mais qualidade.

Enzima para despolpa do café Atenta aos novos desafios, Sara Chalfoun, pesquisadora de café há quarenta anos, desenvolveu também um desmucilador enzimático que foi patenteado em 2010 por Epamig/Ufla/Fapemig e inventores. Essa combinação de enzimas elimina a polpa do café em duas horas e meia,

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Técnica manipula fungo Cladosporium cladosporioides (fungo do bem) em laborátório

Sara Chalfoun/Epamig

Bioprotetor promove qualidade sensorial à bebida, valorizando a safra de café em 30%, no mínimo

Sara Chalfoun/Epamig

Fungo “do bem” dá qualidade ao café

Agente bioprotetor para aplicação no campo

enquanto o processo tradicional leva 72 horas. “Otimizando o processo pós-colheita, o produtor consegue comercializar mais rapidamente a safra. Além disso, evita problemas com mudanças climáticas”, explica Chalfoun. Enquanto em países como México, Colômbia e Quênia a retirada da polpa do café — chamada despolpa ou desmucilagem — é bastante utilizada para preparar o café após a colheita. No Brasil, os produtores ainda optam pela secagem do fruto no terreiro. Mas a opção entre os dois métodos pode interferir na qualidade da bebida. “A desmucilagem evita a fermentação do fruto, e, com isso, aumenta a possibilidade de o produtor obter melhor padrão da bebida. Além disso, secar o café no terreiro requer uma área grande, e o processo é demorado. Usando o método da despolpa, o tempo cai para mais da metade, e, com a combinação de enzimas que desenvolvemos, gastase apenas duas horas e meia”, detalha a pesquisadora. Por isso, as pesquisas indicam que o processamento usando meio úmido é mais adequado, e, também, sustentável. A própria mistura de enzimas e micro-organismos, previamente selecionados, purifica a água. “Com isso, criase um ciclo, no qual a água resultante dos processos de lavagem do café pode ser reutilizada na própria lavoura, em sistemas de irrigação ou, ainda, ser devolvida ao meio ambiente, isenta de toxicidades”, destaca Sara Chalfoun. Samantha Mapa

Epamig


Divulgação

Jasmine: pioneirismo e inovação Os cookies são o carro-chefe da empresa

D

amian Allain é o diretor de Mercado da Jasmine, uma das marcas pioneiras no mercado de alimentos naturais e integrais no País. Há 23 anos no mercado, a empresa do Paraná comercializa mais de 130 produtos para 25 mil clientes, em todos os estados brasileiros. Todos os itens — entre cereais matinais, biscoitos e linha gourmet — são naturais, integrais, livres de aditivos químicos e 100% vegetais, ou seja, sem o uso de ingredientes de origem animal. Dentre as linhas de produtos, há os funcionais, diet, light, orgânicos e infantis. A marca lidera o segmento de cookies integrais, com uma fatia 40% acima do segundo colocado, conforme pesquisa Nielsen de 2013. Há 20 anos, o carro-chefe era a granola.

De origem familiar, a Jasmine Alimentos foi fundada pelos pais de Damian, que, adeptos da macrobiótica, tinham dificuldade em encontrar alimentos que se adaptassem à sua dieta saudável. Damian Allain destaca que as maiores inovações nesse segmento foram na aparência e sabor dos alimentos, pois não adianta ser saudável sem ter apelo visual e paladar. “A Jasmine sempre quebrou paradigmas”, afirma Allain, para quem a grande motivação do consumidor de produtos naturais é a saúde, já que o maior motivador das doenças modernas é a má alimentação.

Novidades Na Jasmine, o desenvolvimento de novos produtos é constante, e focado em acompanhar as exigências do consumidor. Em 2012, foram 35 lançamentos e a meta para 2013 é fechar o ano com a apresentação de mais 11 novidades ao mercado. Entre os destaques que deverão chegar aos consumidores, estão o GranCookies de aveia e berries (açai, goji e cranberry) e o GranCookies de aveia e nuts (castanha do Pará e de caju e amendoim).

Os alimentos orgânicos — nicho mais recente — representam 15% do negócio e mais de 30 itens. As exportações, centradas para países da América do Sul, ainda representam menos de 5% do faturamento. Mas durante a Biofach, realizada em junho de 2013, o empresário foi procurado por representantes dos Emirados Árabes e da Ásia interessados em importar produtos da marca. Alexandre Toro, gerente nacional de vendas da Jasmine, acredita que o crescimento deste setor é resultado da também crescente consciência da população de que “é muito mais barato se alimentar bem do que cuidar da doença”. Damian Allain, inclusive, credita à exigência dos próprios consumidores o aumento do espaço desse tipo de alimento nas gôndolas dos supermercados.

Insumos A Jasmine não produz os insumos usados na fabricação de seus produtos. Dá preferência à produção nacional, mas busca no mercado externo vários itens, já que, além da qualidade, precisa ter a garantia da quantidade fornecida. Para se ter uma ideia, só de aveia, o principal insumo, a empresa consome 100 mil toneladas ao ano. Aveia, cevada e trigo, cereais de inverno cuja produção nacional não é constante, são importados da Argentina, Canadá etc. Os chamados supergrãos como quinua, chia e amaranto, por exemplo, são provenientes dos países Andinos e o mais novo modismo, a Goji Berry, fruta líder em aminoácidos e antioxidantes, provém da Ásia. Apesar do expressivo crescimento médio de 35% ao ano, nos últimos três anos, Allain acha que o mercado doméstico está muito aquém do europeu e norte-americano. “Espero que o Brasil se desenvolva como esses dois países, superando o fator limitante da desinformação”, diz. A Lavoura - Nº 699/2013

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Por que

alimentar-se bem?

A

resposta parece simples: para se ter boa saúde! Uma alimentação adequada evita doenças e nos deixa mais preparados para as atividades cotidianas. Mas, sabemos nos alimentar de maneira apropriada? Por que precisamos de uma boa e equilibrada alimentação? Como selecionar nossos alimentos? Para responder essas e outras frequentes perguntas, a partir desta edição, A Lavoura terá uma nova e frutífera coluna: “Alimentação & Nutrição”. Pretendemos, além de trazer as novidades, abordar, de forma ampla, o universo dos alimentos, com o objetivo de contribuir para melhorar a qualidade de vida e a saúde dos leitores. No Brasil e em muitos outros países, a obesidade, por exemplo, já é um problema de saúde pública. Isso porque a população tem optado muito mais pela comida industrializada em detrimento do consumo de alimentos naturais e frescos como frutas, legumes e verduras, cereais integrais e proteínas minimamente processadas. Para a estreia da coluna, convidamos a renomada e respeitada nutricionista Bia Rique, especialista em psicossomática contemporânea e chefe do Serviço de Nutrição da 38ª enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, com dois livros publicados sobre o tema: “Novos conceitos de Alimentação Saudável e Tabela de Equivalências” e “Comer para emagrecer — Uma filosofia nutricional”

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Joaquim Nabuco

www.dietnutrition.wordpress.com

Entrevista • Bia Rique

Bia Rique é nutricionista especialista em psicossomática contemporânea

Esta é a realidade de muitos países, inclusive a do Brasil, em cujas regiões Norte e Nordeste ainda há milhares de pessoas que passam fome e, simultaneamente, convivem com a obesidade, decorrente do consumo excessivo de alimentos processados.

Então, a transição nutricional é um fenômeno diretamente associado à má distribuição de renda?

É importante o consumo de alimentos de todos os grupos, como cereais, legumes, frutas, proteínas etc

Qual a principal mudança de paradigma na alimentação dos últimos anos? Há 20 anos, a maior preocupação relacionada à alimentação era a fome. Hoje, o foco mundial, em qualquer país do mundo, é a obesidade. Os países pobres sofreram o que se denomina “transição nutricional”, ou seja, antes de erradicar completamente a fome, começaram a conviver com o problema da obesidade. A principal mudança de paradigma foi o advento dos alimentos processados e a pandemia da obesidade.

Você poderia explicar melhor esse fenômeno da transição nutricional? Transição nutricional é quando, num mesmo contexto, continua existindo fome, ao mesmo tempo em que acontece, também, o problema da obesidade.

Não é só um reflexo da má distribuição de renda, porque, mesmo em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo, que têm melhor distribuição da renda, ainda convivem com a fome associada à obesidade. Mas esta é uma fome que acomete pessoas obesas, uma fome decorrente de desigualdade do nível de instrução e até da renda, mas camuflada pela obesidade em massa. São pessoas que, mesmo obesas, estão mal nutridas. São adultos, adolescentes e até mesmo crianças, muito acima do peso ideal, em decorrência da mudança dos hábitos alimentares, ocorrida nos últimos anos. A redução da ingestão de alimentos naturais e saudáveis, como carboidratos complexos e fibras, por uma dieta rica em gorduras, açúcar e alimentos refinados, é um dos fatores responsáveis por esta epidemia mundial.

A representação da pirâmide alimentar foi uma conquista importante no final do século passado. Desde que foi elaborada, sua representação mudou muito? A pirâmide alimentar é renovada ou ligeiramente modificada a cada cinco anos em decorrência da renovação das “Guidelines for American”, que ocorre a cada cinco anos. Em meu primeiro livro — “Novos Conceitos de Alimentação Saudável e Tabela de Equivalências”, de 2008, traduzi essas ‘guidelines’ para americanos. É um livro com base científica, editado pela Tecmedd, que se fundiu com a editora Novo Conceito. Nesse livro, eu traduzi as guidelines de 2005. A pirâmide não era renovada desde 1992. Como as guidelines de 1995 e de 2000 não trouxeram mudanças significativas. Não houve renovação da pirâmide, que, até 2004, era um desenho, um ícone, com uma pirâmide em linhas horizontais, em cuja base estavam representados os alimentos que as pessoas mais poderiam consumir e, no topo, o que elas menos deveriam comer. A Lavoura - Nº 699/2013

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Quais as principais mudanças a partir das Guidelines de 2005? Como as guidelines de 2005 trouxeram muitas mudanças e novos conceitos — daí o título do meu livro — novidades significativamente diferentes e relevantes, houve a necessidade de se fazer essa nova pirâmide para incorporar os novos conceitos. Outra grande diferença na pirâmide de 2005 é que ela deixou de ser um mero desenho para consulta e passou a ser um portal. Quem acessa o portal mypyramid.gov pode navegar 48 horas e o conteúdo não acaba. Então, a maior mudança de paradigma da pirâmide de 2005 não foi a troca do formato do horizontal para o vertical. A guinada mais significativa foi, não só transformar o desenho para uma imagem em 3D, mas agregar um portal que disponibiliza informações de todos os conhecimentos possíveis e imagináveis na área da Nutrição: das doenças, à área de Saúde Pública. Em 2010, não houve grande mudança nas guidelines.

A pirâmide alimentar agora é representada com linhas verticais porque todos os alimentos são importantes

Quais os principais mitos derrubados nos últimos tempos? Na verdade, não se derrubou nenhum mito, porque a Ciência não muda tanto quanto as pessoas imaginam, ao contrário de quem estuda e acompanha. A maior mudança foi em relação às gorduras líquidas, porque foi constatado que o conceito de gordura ruim e boa era de difícil compreensão. Abordaram também a questão dos açúcares adicionados, como o xarope de glicose, que fornecem calorias adicionais sem a função nutricional dos açúcares naturais, como a frutose, por exemplo. Mas, a grande mudança, em minha opinião, são as calorias discricionárias, ou seja, as “calorias vazias”, disponíveis nos alimentos, e que podem ser consumidas ao longo do dia. Antes, as nutricionistas recomendavam apenas o que era ideal para se consumir no dia. Hoje, recomenda-se a quantidade de calorias com uma margem a mais, ou seja, que sobram depois de uma pessoa suprimir a sua necessidade calórica diária. No meu segundo livro — “Comer para emagrecer”, criei o conceito de “abusos programados”.

bellamysorganic.com.au

Explique melhor o que são calorias discricionárias? Cada indivíduo tem uma necessidade energética individual, como se fosse um orçamento financeiro. Este orçamento pode ser dividido entre “itens essenciais” e “extras”. Os “itens essenciais” são as quilocalorias que se precisa para atender as necessidades nutricionais. Alimentos pobres em gorduras e sem açúcares adicionados atendem as necessidades nutricionais com o mínimo possível de quilocalorias. Assim, sobram algumas quilocalorias “extras” para atingir as necessidades energéticas, fornecidas por “guloseimas”, gorduras sólidas, açúcares adicionados, álcool, ou em maior quantidade de alimentos de qualquer grupo.

Um prato saudável é formado por vários grupos de alimentos, que devem ser consumidos em quantidades diferentes

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The McGraw-Hill Companies, Inc.

Mas uma pesquisa de marketing revelou que a população americana não entendia a pirâmide. Após pesquisas, chegou-se à conclusão que uma pirâmide com linhas verticais era mais interessante, porque, na verdade, todos os alimentos são igualmente importantes. Desta forma, na nova pirâmide de linha vertical, cuja base é maior, há vários triângulos dentro de um mesmo triângulo. Por exemplo, os carboidratos que estão representados na base, podem ser mais consumidos, ao contrário dos que estão localizados mais acima. Na nova representação, o triângulo dos carboidratos é maior e mais significativo do que o triângulo das gorduras.

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Em geral, a quantidade de quilocalorias discricionárias permitida é pequena, entre 100 e 300 kcal, especialmente para pessoas não muito ativas. Há quem, na hora do almoço, já as usou todas. Outros, as utilizam em alimentos dos grupos principais, consumindo queijos gordurosos, leite integral etc. Alguns alimentos têm zero de quilocalorias discricionárias, como o leite e iogurte desnatados, as carnes magras, os vegetais e


www.artleo.com

frutas e, também, alguns cereais, por exemplo. Outros são compostos, parcialmente, por quilocalorias discricionárias, como leite semidesnatado e integral. Por último, existem aqueles compostos somente por quilocalorias discricionárias, como os refrigerantes, as bebidas alcoólicas, as gorduras sólidas, o açúcar refinado etc. São conhecidas popularmente por “calorias vazias”. Ou seja, podem engordar sem muito nutrir.

O que você chama de “abusos programados”? Acho que a dieta deve também incluir prazer. De nada adianta fazer dieta e ficar infeliz. O “abuso programado” é não se sentir culpado de, eventualmente, sair da dieta de forma planejada. Se você tem na agenda um super jantar na casa de amigos, planeje para comer a sobremesa nesse evento especial. Há mulheres que dependem do chocolate para atravessar a TPM. Então, deve se programar para comer o chocolate nessa fase. Precisamos descobrir quais são os alimentos que realmente nos dão prazer, aqueles impossíveis de abrirmos mão, para que o abuso programado valha à pena.

O que você recomendaria como fundamental para a maioria das pessoas que não dispõem de tempo para o preparo de alimentos saudáveis na residência? Minha resposta tem muito a ver com o perfil editorial da revista A ­ Lavoura, porque acho que a maior mudança necessária para a humanidade é melhorar a alimentação. Já é hora de a nutrição ser um assunto de Saúde Pública. É preciso que seja feito um esforço conjunto do Governo e a Sociedade (profissionais, empresas do setor, imprensa etc), para uma maior conscientização dos benefícios de uma alimentação adequada. Em relação ao Governo, seria a instituição de políticas públicas que incentivem a produção de alimentos mais saudáveis e sustentáveis. Os orgânicos são bons exemplos de uma

Prefira sempre as frutas, legumes e verduras frescas do que alimentos processados, que não são saudáveis

agricultura mais natural, já que não utilizam produtos químicos. Só dessa forma teremos uma oferta maior de alimentos saudáveis. Para completar, é urgente uma campanha de Saúde Pública que ensine as pessoas a comerem melhor, de forma mais equilibrada e saudável. Assim, esses esforços conjuntos fariam com que a população passasse a se alimentar de maneira mais apropriada, a ingerir mais vegetais, frutas e cereais integrais, que são alimentos sabidamente benéficos para nosso organismo. Vou além: deveria haver uma maior taxação para os alimentos não saudáveis, os processados e, em contrapartida, uma redução drástica no preço das frutas, legumes e vegetais, enfim, dos alimentos saudáveis, aumentando, assim, sua acessibilidade para a população.

É fundamental ter dietas diferentes conforme a faixa etária ou existe uma alimentação básica que deve ser seguida em qualquer idade? As recomendações devem ser personalizadas, mas não em função da idade, porém, conforme a história clínica de cada um.

Os alimentos funcionais viraram uma febre. Quinua, amaranto, linhaça, chia, ou tudo misturado na “ração humana”. Esses alimentos são indicados para todas as pessoas ou há restrições? São recomendados para a maioria das pessoas, mas a nutrição funcional não deve ser encarada como nutrição à parte ou suplementar, como vem aparecendo na imprensa. É como se a gente falasse que a cardiologia preventiva fosse uma cardiologia à parte, diferente. Todo cardiologista deve ter uma visão e atuação preventivas, assim como o dermatologista precisa fazer a prevenção do câncer de pele. Toda boa nutricionista deve incluir alimentos funcionais na dieta de seus pacientes, a partir de seu histórico e quadro individuais.

Se você tivesse que dar apenas um conselho sobre alimentação, qual seria? Aumentem o consumo de vegetais, frutas e legumes frescos e reduzam o consumo de alimentos processados.

De preferência orgânicos? Isso não é o mais importante. Até porque sabemos que os alimentos orgânicos ainda não estão ao alcance da maioria da população, pela escassez da oferta ou preço mais elevado. Mas, não podendo ser orgânico, que sejam os vegetais e as frutas frescos disponíveis no mercado mais próximo. A Lavoura - Nº 699/2013

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Leite funcional beneficia crianças, idosos e pecuária leiteira Resultados de pesquisa com leite funcional revelaram o aumento de 160% nos níveis de selênio, 33% de vitamina E nas crianças e ainda redução de 16% no LDL, conhecido como mau colesterol, nos idosos

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s pesquisas para o desenvolvimento do leite funcional — enriquecido com selênio, óleo de girassol e vitamina E — têm seus primeiros resultados divulgados. Pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) e da Universidade de São Paulo (USP), responsáveis pelos estudos, afirmam que as crianças que receberam o alimento tiveram aumento de 160% nos níveis de selênio no sangue e 33% no de vitamina E. Os idosos tiveram redução de 16% na quantidade de LDL (mau colesterol). Além dos resultados positivos para os humanos, a alimentação enriquecida ministrada às vacas, diminuiu em 30% a ocorrência da doença mastite nos animais, o que aumentou a produção de leite. A pesquisa da APTA e da USP é a única do Brasil que alia avaliação zootécnica com análise na saúde humana em um mesmo experimento. O leite de vaca é considerado um dos principais alimentos da nutrição humana por fornecer nutrientes fundamentais para o organismo como proteína, lactose, gordura, vitaminas e minerais. Dentre os minerais presentes, o cálcio é o mais importante, sendo responsável pelo crescimento, desenvolvimento e manutenção dos ossos e dentes. “A composição básica do leite bovino é direcionada às necessidades nutricionais dos bezerros. Ela pode ser modificada, por meio da alimentação das vacas, para torná-lo mais interessante à nutrição humana”, afirma o pesquisador da APTA, Luiz Carlos Roma Junior.

Benefícios para crianças e idosos Pensando nisso, os pesquisadores da APTA e da USP alimentaram as vacas com uma quantidade maior do que a exigida de selênio e vitamina E. Com essa mudança, foi possível dobrar os níveis desses nutrientes no leite consumido, com autorização dos pais, por 90 crianças de uma escola municipal do interior de São Paulo. As crianças, da primeira a terceira série, que permanecem na escola por tempo integral, ingeriram o leite funcional por três meses. De acordo com os pesquisadores da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, Arlindo Saran Netto e Marcus Antonio Zanetti, a análise do sangue das crianças constatou nas que receberam leite desnatado (comum) redução de 15% na concentração de vitamina E no plasma sanguíneo e as que receberam o leite funcional acréscimo de 160% de selênio e 33% de vitamina E. A segunda parte do experimento foi realizada com 130 idosos, de 78 anos, moradores de um abrigo em Ribeirão Preto-SP. Segundo os pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, Hélio Vannucchi e Karina Pfrimer, a avaliação preliminar do consumo alimentar de idosos, sem considerar o consumo do leite ofertado, indicou o consumo de alta quantidade de gordura total, saturada, poli-insaturada e baixa quantidade de selênio e 26

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vitamina E, de acordo com a recomendação da faixa etária. “Dos exames avaliados antes e depois da suplementação, destacam-se o colesterol e o LDL, que apresentaram redução nos níveis plasmáticos nos grupos que consumiram o óleo de girassol”, afirma Pfrimer.

Animais também se beneficiam A dieta enriquecida ministrada para as vacas também trouxe benefícios aos animais, como redução de 30% na ocorrência da mastite. “O selênio e a vitamina E também agem com os antioxidantes, protegendo as membranas celulares contra substâncias tóxicas e radicais livres que podem causar sérios danos às estruturas das células, acelerando o processo de envelhecimento e desencadeando algumas formas cancerígenas”, afirma a pesquisadora da APTA, Márcia Saladini Vieira Salles. Fernanda Domiciano


Café da Região do Cerrado Mineiro

“Café de atitude” gera valor compartilhado

Federação dos Cafeicultores do Cerrado

O café produzido no Cerrado Mineiro resulta de um terroir influenciado pelas características exclusivas da região, que possui perfeita definição das estações climáticas, com verão quente e úmido e inverno ameno e seco. Solo, clima, variedades plantadas e sistemas de cultivo conferem identidade única ao café do Cerrado Mineiro.

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Café da Região do Cerrado Mineiro

Procedência

Federação dos Cafeicultores do Cerrado

Registro IG 990001 INPI Indicação de Procedência/2005 Área Geográfica Delimitada: 155 mil ha (55 municípios da região Noroeste de Minas Gerais) Altitude: de 800m a 1.300m

C

om altitude variando de 800m a 1.250m, temperatura entre 18°C e 23°C e índice pluviométrico de 1.600 mm por ano, a região é livre de geadas, uma das principais ameaças aos cafezais de outras regiões produtoras. Sua topografia plana favorece a mecanização das lavouras, cujos principais diferenciais são as floradas intensas e a maturação uniforme dos grãos, que permite a colheita concentrada.

O café da Região do Cerrado Mineiro obedece a um programa de avaliação de conformidade com o processo de certificação da propriedade produtora de café que avalia as boas práticas agrícolas, a responsabilidade social, a rastreabilidade e o respeito ao meio ambiente.

Características sensoriais

O selo também garante a qualidade mínima do produto, que deve atingir 75 pontos, conforme escala da Associação Americana de Cafés Especiais. Os lotes de café seguem para armazéns credenciados, onde são classificadas as características sensoriais e emitido um laudo. Em seguida, é expedido um certificado e cada saca de café recebe um lacre e um código de barras que pode ser rastreado.

Os aromas intensos, com notas que variam do caramelo a nozes, a acidez delicadamente cítrica, corpo moderado a encorpado e sabor achocolatado de longa duração, são as características do café produzido na região. O Café da Região do Cerrado Mineiro conquistou a Indicação de Procedência, do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), em 2005. O produto é garantido pelo Selo de Origem e Qualidade da Região do Cerrado Mineiro, que atesta a origem do café produzido, ou seja, na área demarcada que abrange 55 municípios da região noroeste de Minas Gerais.

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O café da Região do Cerrado Mineiro é cultivado em condições climáticas únicas do Cerrado de Minas Gerais, resultando em um produto com alto padrão de qualidade

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Federação dos Cafeicultores do Cerrado

Valor compartilhado “Café produzido com Atitude — ético, rastreável e de alta qualidade” é o lema dessa associação de produtores, organizados na Federação dos Cafeicultores do Cerrado, que reúne seis associações e oito cooperativas. Para eles, o “café de atitude” deve gerar “valor compartilhado” para todos os envolvidos. É papel da Fundação do Café do Cerrado atuar na geração de valor ao café para toda a cadeia produtiva. A Indicação Geográfica concedida pelo INPI protege e distingue o produto no mercado mundial. 

Informações Federação dos Cafeicultores do Cerrado www.cerradomineiro.org Tel.: (34) 3831-2096

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turismo eco-rural

Brejal

O potencial do campo

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โ ข

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A região do Brejal, a 50 minutos do centro de Petrópolis, é um convite para quem aprecia as belezas naturais. Localizada no vale da Serra do Taquaril, a região é cercada de verde, com matas preservadas, lagos e cachoeiras de água pura. A concentração de produtores de hortaliças, ervas aromáticas, legumes e frutas, conservas e geleias, trutas e escargots, e plantas para paisagismo e reflorestamento tornaram a região do Brejal um verdadeiro oásis, tanto para quem mora quanto para turistas, que podem visitar o circuito eco-rural e adquirir produtos orgânicos, naturais e saudáveis

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ercebendo o potencial da localidade rural do Brejal, que fica a mil metros de altitude na Serra do Taquaril, a 30 minutos do centro de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, um grupo de moradores, entre produtores, donos de haras, sítios, fazendas, pousadas e restaurantes, reuniu-se e formou o Circuito Eco-Rural — Caminhos do Brejal, em 2002.

Arquivo Sebrae

Com o apoio da prefeitura, eles decidiram abrir suas portas para a visitação tuMoradores do Brejal abriram suas portas para visitação

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Arquivo Sebrae

turismo eco-rural

rística, a fim de promover a região e, a partir do turismo rural, baseado na sustentabilidade local e na produção orgânica — a região é a maior produtora de orgânicos do Estado —, permitir ao turista um contato mais direto com a natureza e com as tradições locais. A iniciativa contou com apoio do Sebrae/RJ, que ofereceu consultorias e suporte para que fosse viabilizado o projeto.

Compromisso com a natureza O circuito proporciona ao turista inúmeras atividades, como caminhadas, cavalgadas, mountain bike, observação de pássaros e borboletas e alimentação saudável. Na região, são produzidos hortaliças, legumes e frutas, ovos, conservas e geleias, ervas aromáticas, escargots, trutas e também mudas de plantas específicas para paisagismo e reflorestamento. É na localidade que fica a sede do único entreposto de moluscos do estado do Rio de Janeiro, a Escargots Invernada. Alfredo Chaves, proprietário do negócio, produz e beneficia escargots há mais de 10 anos. Os moluscos são comercializados crus, cozidos ou preparados à moda “bourguignonne”. Com técnica que trouxe da Europa, Alfredo busca agora a certificação orgânica para a retirada do muco do molusco, para atender ao mercado de cosméticos. Ervas frescas são encontradas na tradicional “Provence”

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Arquivo Sebrae

No Brejal fica a sede do único entreposto de escargots do Estado, a “Escargots Invernada”


Quem acompanha de perto o trabalho dos produtores, percebe que eles respeitam a vegetação, a legislação do meio ambiente e atendem aos seus clientes (supermercados, restaurantes, hotéis, bufês e particulares do estado do Rio de Janeiro e da região de Petrópolis) com o compromisso de oferecer uma alimentação saudável e sem agrotóxicos. Esse engajamento pode ser percebido não somente no olhar, mas na forma como se expressam, no orgulho em dizer que amam o que fazem e principalmente no cuidado e tratamento com a natureza.

Participação Dentre as diversas iniciativas de incentivo ao setor, destaca-se a participação da Sociedade Nacional de Agricultura-SNA, que elaborou e implantou projetos como o OrganicsNet e o CI Orgânicos — Centro de Inteligência de Orgânicos, visando estimular e sedimentar ações voltadas para a agricultura orgânica no país. A SNA participa efetivamente de feiras, exposições e congressos, como o Green Rio e a ExpoSustentat, realizadas no Rio de Janeiro, e a Bio Brazil Fair, realizada em São Paulo. O intuito é viabilizar a participação de empresários do setor para a divulgação de seus produtos, promover as ações realizadas pelo órgão, além de fomentar a sustentabilidade e a prática de uma vida mais saudável. É importante destacar que os produtos orgânicos estão em alta no mercado. A produção vem crescendo nos últimos anos e ganhando espaço considerável nos cardápios brasileiros, utilizados por grandes chefs renomados da alta gastronomia.

da, bar e restaurante e uma loja onde são oferecidas ervas frescas e desidratadas, além de outros itens produzidos na propriedade.

Arte e cultura O circuito também engloba ações culturais. O Ateliê Arte em Comum, por exemplo, foi criado em 2004, com a reunião de nove artesãs e hoje tem sua sede em uma linda casinha localizada próxima ao Campo do Jurity, cedida para que pudesse ser um ponto de cultura e de encontro na região. O Sebrae/RJ e parceiros vêm atuando no desenvolvimento do artesanato e na relação sustentável do homem com o meio ambiente, ensinando técnicas de bordado e gestão do negócio por meio de oficinas de artesanato e criação de coleção. As ações deram tão certo que as artesãs já passaram a desenvolver seus próprios pontos, fazer exposições e participar de concursos. Para divulgar o circuito, existe um site próprio e perfis nas redes sociais. Além disso, há eventos como o Festival de Gastronomia Rural do Brejal, que contempla a gastronomia local e os concursos hípicos, que atraem muitos turistas. O Sebrae/RJ vem atuando por meio de cursos e consultorias com foco em planejamento estratégico e de gestão, como por exemplo o Negócio Certo Rural, em parceira com o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural). Por demanda dos próprios fazendeiros, oferece o curso com o objetivo de qualificar cerca de 30 jovens da região para repensar as atividades econômicas ligadas ao meio rural, prospectar e alavancar novos negócios, a fim de orientar o produtor a identificar áreas de investimento, analisar a viabilidade do negócio, elaborar projeto e gerenciar o empreendimento. No ano passado, o Sebrae/RJ realizou consultoria para análise do potencial do mercado interno, além da aplicação do programa Viatec, cujo objetivo é propor soluções de inovação para o setor. O circuito promove uma troca mútua, o que permite que todos os que fazem parte dele ganhem, assim como o turista, que pode experimentar e saborear uma vida mais tranquila e esquecer um pouco da correria das grandes cidades. Viviane Pujol Magro

Serviço: Caminhos do Brejal - Circuito Eco Rural • www.brejal.com Escargots Invernada • www.invernada.com.br • Tel: (24) 2259-2539 Provence • www.provence.com.br • Tel: (24) 2259-2044/2259-3117 Ateliê Arte em Comum • arteemcomum.blogspot.com • arteemcomum@gmail.com

Sul da França no Brejal

Arquivo Sebrae

A Provence Ervas Finas foi inaugurada em 1973, por Maria Lúcia e Joaquim Nabuco, e logo se tornou a maior produtora de ervas do país. Em meio a uma área de um milhão de metros quadrados de verde, conta com pousaVisitantes têm floriculturas variadas

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Do ar para a terra

Armazem Sustentável

turismo ecorural

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epois de 20 anos servindo os passageiros da Varig, o comissário de vôo Gustavo Aronovick aproveitou o valor recebido no Programa de Demissão Voluntária da companhia aérea, aos 47 anos, “para investir nele mesmo”. Neto e filho de excelentes cozinheiros, transformou seu hobby em negócio: o Armazém Sustentável, que produz conservas, geleias e outras delícias orgânicas, no Brejal. Formado em gastronomia pela Estácio de Sá, fez pós-graduação em Sevilha, com direito a mais dez meses de experiências em cozinhas de toda a Espanha. De volta ao Brasil, em 2009, aceitou a proposta para trabalhar num tradicional restaurante de Búzios. Durante a Semana Santa de 2010, sem poder se afastar do trabalho, não pôde aceitar o convite para participar do 1º Circuito de Gastronomia Rural do Brejal. Ainda assim, enviou 24 potes da sua receita de conserva orgânica de berinjela agridoce. Além de vender todos, o sócio Luiz Henrique Fonseca voltou para casa com a encomenda de mais 42 potes da iguaria. Gustavo, que já frequentava o Brejal nos fins de semana desde o início dos anos 2000, mudou-se, naquele mesmo ano, de vez para o sítio. A casa nova, construída para moradia, acabou abrigando a empresa por três anos. Mas a aquisição de um terreno contíguo vai viabilizar a construção de uma nova fábrica, nos moldes que exige a legislação, ainda em 2013.

Receita mais que provada A receita berinjela agridoce é resultado de quatro anos de aprimoramento e o carro-chefe do Armazém Sustentável. Por não ser muito fã de vinagre — ingrediente básico da maioria das receitas de conservas — Gustavo usa passas flambadas em vinho licoroso doce como substituto para amenizar o amargo da berinjela. É no próprio Brejal que os sócios adquirem a maior parte dos insumos para os produtos orgânicos do Armazém. “Só quando não há oferta é que compro de outra região”, garante. Referência na produção de orgânicos no estado do Rio de Janeiro, o Brejal dedica 32% do total da sua área plantada com o cultivo de orgânicos. Há 25 anos esse tipo de produto não representavam mais de 1%. Hoje o Brejal já responde por 75% do total de hortifrutigranjeiros in natura comercializados no estado.

Certificação Situada a mil metros de altitude, a região é cercada de remanescentes de Mata Atlântica nativa e berço de nascentes que garantem o frescor e a abundância de seus produtos. Com uma área de 20 mil m², o Armazém Sustentável alinha a sua filosofia a diversos aspectos do negócio. Os produtos são certificados pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG) do Brejal, vinculado à Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO). Pelo sistema, a responsabilidade pela garantia da origem orgânica do produto é compartilhada entre os diversos participantes da cadeira, como produtores, consumidores, técnicos etc.

Comércio e relações justas Gustavo e Luiz Henrique também fazem questão de promover o comércio justo entre os produtores agrícolas familiares locais. As geleias, por exemplo, são sazonais e de edição limitada, pois aproveitam a safra e a oferta das frutas da estação. Assim, eles não se obrigam a comprar insumos fora da região para man34

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A sede é situada em região cercada de remanescentes de Mata Atlântica

Geleias e compotas orgânicas

ter a produção ao longo do ano. Na hora de selecionar colaboradores, dão preferência aos moradores da comunidade, que recebem capacitação e contam com todos os direitos trabalhistas.

Visita agendada A convidativa sede do Armazém Sustentável pode ser desfrutada, pois é parte do roteiro de turismo Circuito Eco-Rural Caminhos do Brejal. Basta que a visita seja agendada com 24 horas de antecedência, que uma mesa estará posta com várias delícias para degustação. A arquitetura valoriza a luz natural, economizando energia; a coleta de lixo é seletiva e encaminhada para reciclagem e os produtos, embora elaborados artesanalmente, seguem rígidos padrões de qualidade. Com forte presença em todo o município de Petrópolis, os produtos do Armazém Sustentável também podem ser encontrados no Circuito de Feiras Orgânicas, lojas de produtos naturais e delicatessens do Rio de Janeiro. Sem pressa, os sócios planejam conquistar os mercados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Serviço: Armazém Sustentável • Tel: (24) 2259-2154 • armazemsustentavel@gmail.com


Cristina Baran

Qualidade

Valorizada A

s características ambientais, o clima e solo locais, e um estudo de mercado que apontou pouca oferta do produto, fizeram Claudine Bichara Oliveira, da Fazenda São Carlos, a optar pelo limão Tahiti para dar início à produção orgânica. A propriedade de 157 hectares, localizada em Posse, distrito de Petrópolis, destina três hectares ao cultivo do limão Tahiti. A produção crescente é direcionada para fornecedores de cestas de produtos em domicílio e os preços recebidos são, em média, 20% superiores aos dos produtos convencionais. Este ano, os pomares de limão certificado devem produzir 2.600 Kg. Para 2014, a estimativa é de que o volume chegue a 3.800 kg. Já a produção das quatro variedades de banana deverá quase dobrar, saltando dos atuais 1.270 Kg para 2.350 Kg no ano que vem.

A produção de banana orgânica deverá dobrar no próximo ano

Outras frutas Na fazenda ainda são cultivados, organicamente, abacate, açaí, acerola, amora, goiaba, fruta do conde, jabuticaba, jambo, laranja lima e pera, manga, maracujá, pitanga, tangerina e feijão guandu.

Manejo preventivo

Cristina Baran

Segundo Claudine, que conta com assessoria do engenheiro agrônomo Fábio Ramos, da Agrosuisse, a adubação é feita uma vez por ano, com uso de com-

O composto orgânico é produzido na fazenda posto orgânico produzido na propriedade a partir de materiais próprios (esterco bovino, poda de guandu, feijão de porco e massa vegetal, entre outros). Apesar de no local não haver incidência de pragas e doenças, é feito o manejo preventivo, anualmente, com a aplicação de pasta bordalesa e pulverização da calda.

Diversificação Para ampliar a diversificação, Claudine estuda introduzir a apicultura e o plantio de Physalis, uma fruta agridoce que alcança altos preços no mercado, rica em vitaminas A e C, fósforo e ferro, além de alcaloides e flavonoides.

Serviço:

O cultivo orgânico do limão Tahiti preserva insetos benéficos

Agrosuisse - Consultores em Agropecuária, Agroindústria e Desenvolvimento Rural consultoria@agrosuisse.com.br Tel: (21) 2247-0821 A Lavoura - Nº 699/2013

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Clima e segurança alimentar

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m setembro último, o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC) publicou parte de seu quinto relatório, revendo e atualizando o anterior, datado de 2007. O IPCC não faz pesquisas próprias, apenas examina o enorme número de novos trabalhos científicos publicados no período, reconsiderando suas conclusões anteriores e, como de costume, baseando-se em diferentes cenários do que pode vir a acontecer. Embora o que foi agora divulgado não apresente mudanças essenciais, algumas das novas conclusões são significativas, como adiante se vê.

O percentual de certeza de que a maior parte do aumento de temperatura em curso se deve a atividades humanas aumentou de 90% para 95%, ressaltando-se que mais de metade do aquecimento ocorrido entre 1951 e 2010 teve esta causa. A proporção atual de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera é a maior nos últimos 800.000 anos. Quatro cenários do aumento de temperatura previsto até 2100 foram avaliados. O mais favorável, admitindo que os governantes adotem as medidas acauteladoras adequadas, até hoje modestas e insatisfatórias, estima um aumento entre 0,3º C e 1,7º C até o fim do século. No cenário menos favorável, se tudo ocorrer como vem acontecendo até agora, o acréscimo previsto será entre 2,6º C e 4,8º C, o que seria desastroso. Deve-se acentuar que tais valores se referem a médias mundiais, podendo em alguns casos ultrapassar regionalmente mais de 8º C. O nível dos oceanos, considerando os dois cenários citados acima, deverá subir respectivamente até 55cm e 82cm, neste último caso suficiente para gerar graves problemas e elevadíssimos custos para atenuação. Esses aumentos serão devidos à expansão térmica da água do mar e ao derretimento das geleiras, o que já vem ocor-

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rendo. Um fato estranho constatado foi a redução da velocidade do aquecimento global, que atingiu 0,12º C por década entre 1951 e 2012, e apenas 0,05º C entre 1988 e 2012. Estudos indicam que esta redução pode ter sido eventual, devida ao aumento de aerossóis na atmosfera decorrente de erupções vulcânicas e de ações humanas, mas tudo indica que o ritmo do aquecimento voltará a subir. Como nas vezes anteriores, o relatório foi contestado por um número mínimo de cientistas, apenas 2,5% do total, que atribuem os acréscimos de temperatura a ciclos normais do planeta ou variação da irradiação solar. Tais opiniões discordantes, embora numericamente insignificantes, ajudam a aumentar as indecisões dos líderes mundiais quanto às medidas drásticas necessárias para atenuar o aquecimento e reduzir a probabilidade de ocorrência das gravíssimas consequências das mudanças no clima. Uma delas, de importância crucial, é a insegurança alimentar. Um excelente artigo publicado em 02-08-2013 na prestigiada revista científica Science (T.Wheeler & J. Von Braun – Climate Change Impacts on Global Food Security) indica que, embora o número de subnutridos no mundo tenha sido reduzido de 980 milhões, em 1990-92, para 850 milhões em 2010-12, foi constatada uma diminuição do ritmo de redução a partir 2007, devida ao preço dos alimentos, a eventos climáticos extremos e à volatibilidade econômica. Face a estes dados, avalia-se que será necessário um acréscimo de cerca de 50% na produção de alimentos até 2030. No caso de ocorrer substancial aumento de temperatura no futuro, as regiões mais impactadas negativamente na produção de alimentos serão toda a África, sul da Ásia, Austrália e América do Sul e, segundo indicado em mapa constante do citado artigo, as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil estarão entre elas. Hoje, as áreas mais afetadas pela fome situam-se nas regiões mais pobres, notadamente na África sul-saariana e sudeste da Ásia, áreas onde ocorrerão aqueles impactos. O artigo conclui que, quanto às mudanças climáticas, a segurança alimentar estará condicionada aos seguintes fatores: (1) os impactos dessas mudanças afetarão mais os pobres, que já sofrem com a fome; (2) as consequências para a desnutrição global, se nada for feito em resposta às mudanças climáticas, são potencialmente graves e serão exacerbadas com o tempo; (3) as disparidades alimentares devidas ao clima e à abrangência dos danos variarão de região para região, de comunidade para comunidade, e entre áreas rurais e urbanas; (4) as populações e as comunidades já vulneráveis aos efeitos extremos do clima tornar-se-ão ainda mais vulneráveis no futuro e menos resistentes aos choques climáticos; (5) as emissões de gases do efeito estufa, já ocorridas, continuarão a produzir seus efeitos nocivos nos próximos 20 ou 30 anos, exigindo ações imediatas de adaptação para a segurança alimentar nas próximas décadas; e (6) os efeitos climáticos extremos (grandes inundações, furacões violentos, secas intensas etc.) tornar-se-ão mais frequentes no futuro e aumentarão os riscos e as incertezas do sistema alimentar do mundo. Tudo o que foi exposto exige ações preventivas das lideranças mundiais para evitar-se uma situação catastrófica para uma população humana que deverá aumentar em dois ou três bilhões até o final do século. Ibsen de Gusmão Câmara

Presidente


Citações “A questão não é se devemos agir. Cientistas já reconheceram que o planeta está aquecendo e que a atividade humana está contribuindo para isto. A questão é se teremos a coragem de agir antes que seja tarde demais”. Presidente Barack Obama, em 25-06-2013 Quando o Presidente da nação mais rica e poderosa da Terra, uma das duas mais responsáveis pelas ações que levam ao aquecimento global, pronuncia esta afirmação contundente, enfrentando e não conseguindo superar as violentas pressões das atividades econômicas de se país, destacadamente as das indústrias carbonífera e petrolífera, podemos avaliar as dificuldades de as lideranças mundiais mais esclarecidas implantarem as duríssimas medidas necessárias para atenuar o aquecimento global e poupar as gerações futuras de graves situações sem retorno. Na verdade, o cérebro humano não foi programado pela evolução para temer grandes ameaças em um futuro remoto, e sim para priorizar aquelas muito menores, porém mais próximas no tempo.

Natureza em perigo Os macacos-prego, gênero (Gêneros Cebus e Sapajus), possuem numerosas espécies e se espalham pelas áreas de clima quente ou temperado nas Américas do Sul e Central. Muitas delas são relativamente comuns e não estão em extinção. Contudo, algumas se encontram com populações reduzidas. Aquela em maior perigo é Sapajus fulvus. A palavra fulvus, em latim, significa dourado ou ruivo, denominação apropriada pois esse macaco-prego é totalmente amarelo. Embora haja relatos antigos, datados de 1774, de um macaco amarelo nas matas do Nordeste, supostamente extinto, em 2006 a Ciência constatou a sua sobrevivência, ainda que em estado muito precário de conservação, justificando que o macaco amarelo seja considerado “Criticamente Ameaçado” pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). Ele sobrevive em áreas próximas de regiões densamente populosas do Nordeste do Brasil, onde restam apenas fragmentos ínfimos de florestas que possam abrigá-los, remanescentes da outrora exuberante Mata Atlântica. Levantamento efetuado em 2008 avaliou uma população total de apenas 180 indivíduos, distribuída em cerca de duas dúzias de subpopulações isoladas, nenhuma delas com mais de 15 exemplares. Contudo, pesquisas posteriores identificaram novas subpopulações, algumas ocupando áreas de caatinga, mais para o interior, nos Estados do Rio Grande do Norte e Paraíba, e outras

vivendo em manguezais arbórios, permitindo avaliar que talvez a população total se situe entre 1.000 e 2.000 indivíduos. Quase todas essas subpopulações estão distribuídas em locais desprotegidas, aumentando o risco de eliminação dos últimos hábitats residuais do primata. Contudo, algumas medidas têm sido tomadas para sua proteção e existem grupos de S. fulvus habitando reservas particulares, onde estão relativamente imunes à extinção, pelo menos por algum tempo.

Mais proteção para os cetáceos O Uruguai passou a considerar suas águas jurisdicionais como santuário de baleias e golfinhos, ficando proibidas todas as atividades destinadas a matar ou agredir cetáceos, bem com quaisquer outras ações que afetem as espécies que frequentem suas águas ( Informação de Areas Naturales Protegidas y Guardaparques, Ano XV no. 139). Como o Brasil desde 1987 possui legislação semelhante, os cetáceos agora estão protegidos — pelo menos teoricamente — em uma vasta área marítima da América do Sul. Contudo, devido à fiscalização precária, diversas espécies têm sido motivo de agressões deliberadas ou sofrem com as capturas não intencionais em artefatos de pesca, dentre eles as toninhas (Pontoporia blanvillei), uma das espécies de cetáceos mais ameaçados no mundo.

Animais atropelados Segundo informações divulgadas, cerca de 450 milhões de animais morrem anualmente nas estradas brasileiras, desde roedores a onças-pintadas. Ainda que esse número pareça exagerado, o problema existe e é grave. Basta percorrer estradas que atravessem regiões não urbanizadas para observar-se o número de animais mortos. Há algum tempo atrás, constatou-se o atropelamento e a morte de uma onça-pintada com colar de acompanhamento; no caso, uma pesquisa científica foi interrompida, com a perda de quantia expressiva de dinheiro destinado ao projeto. Esse fato facilmente comprovado evidencia a insensatez de defender-se a passagem de estradas dentro de parques nacionais e outros tipos de áreas protegidas, por vezes sob a denominação enganosa de “estrada-parque”. Um lamentável exemplo desse tipo de procedimento é o projeto de lei para a reabertura da infame Estrada do Colono, que cruzava o magnífico Parque Nacional do Iguaçu, um projeto demagógico voltado apenas para atender a interesses políticos.

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Seminário sobre Frutas da Mata Atlântica Em outubro último realizou-se no Instituto Florestal de São Paulo (IF/SP) o II Seminário sobre Frutas da Mata Atlântica, em prosseguimento ao primeiro, realizado em novembro de 2012. Nessa ocasião, o Dr. Paulo Nogueira Neto, um dos ícones da Conservação no Brasil, comentou que “Agora temos que passar da fase de arrecadar os frutos das matas existentes, partir para o cultivo mais ordenado e enriquecer as matas que sobreviveram.” Realmente, considerando que a Mata Atlântica tem diversas espécies saborosas de frutas, que podemos encontrar em algumas feiras do interior, nada justifica que não as aproveitemos de forma mais sistemática. Por que não manejá-las na natureza ou cultivá-las, fazer melhoramentos genéticos e comercializá-las de forma ampla? Encontramos com facilidade frutas estrangeiras importadas, mas é quase impossível achar e comprar frutas genuinamente brasileiras, algumas delas muito mais saborosas do que as importadas. É uma potencialidade da natureza ainda não explorada em nosso País o que não se justifica.

O dia em que a Terra entrou no vermelho Segundo a instituição internacional Global Footprint Network – GFN (Rede Global da Pegada Ecológica), parceira da conhecida ONG internacional WWF, no dia 20 de agosto último o consumo humano excedeu a capacidade de o planeta prover, de forma sustentável, a demanda de recursos prevista para todo o ano de 2013. A Global Footprint Network é uma instituição internacional que faz estudos sobre sustentabilidade e que tem escritórios nos EUA, Europa e Japão. A GFN criou o denominado o Earth Overshoot Day (Dia da Ultrapassagem da Terra, em tradução livre). Para chegar a essa conclusão, a GFN avaliou o que a humanidade necessita em termos de recursos naturais, ou seja a Pegada Ecológica, e comparou o resultado com a capacidade de reposição desses recursos pela natureza e sua possibilidade absorção de resíduos. Ou seja, em outras palavras, a data em que passamos a operar no vermelho, uma espécie de “Cheque Especial” no que se refere a recursos naturais, utilizando como empréstimo a capacidade futura da natureza para reposição dos recursos utilizados. Embora possamos contestar a exatidão dessa avaliação e, obviamente, a fixação de uma data precisa, ela constitui o ponto mais próximo a que podemos chegar para medirem-se as nossas demandas em face do que a natureza nos pode ceder. Dá uma imagem de quanto a humanidade está

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exaurindo os recursos do planeta, anos após ano. É evidente que, mais cedo ou mais tarde, a conta do “Cheque Especial” nos será cobrada.

Percentual das diferentes fontes de energia do País Segundo os dados divulgados pelo Ministério de Minas e Energia, a matriz energética do País, considerando-se os percentuais das diferentes fontes de energia em relação à geração total , nos anos de 2012 e 2030, não nos dá esperança de que as fontes renováveis assumam papel realmente relevante nesse horizonte futuro. De acordo com tais dados, o percentual atribuído aos combustíveis fósseis (no nosso caso, petróleo, gás natural e carvão mineral) foi de 56,1% em 2012 e será de 50,4% em 2030, uma redução mínima e que certamente em nada contribuirá para reduzir seus efeitos no aquecimento global, uma vez que o consumo total ao qual se aplica este percentual vai crescer. Por outro lado, as energias renováveis (álcool, bagaço de cana e outras renováveis, excetuadas as hidrelétricas) passarão de 28,6% para 23,1%, um retrocesso em termos percentuais. Quanto às hidrelétricas, os percentuais serão respectivamente 13,8% e 13,5%, uma pequena redução. Essas usinas não foram computadas junto às fontes renováveis porque na verdade não o são; elas afetam severamente o fluxo dos rios, alteram de forma significativa o equilíbrio ecológico da fauna aquática e, quando seus reservatórios afogam áreas florestadas, emitem grandes proporções de metano, um poderoso gás do efeito estufa. Tendo em vista os valores acima, a nossa matriz energética pouco será alterada proporcionalmente e a maior dependência continuará sendo nos combustíveis fósseis.

As precauções adotadas para a pesca no Índico imitam as do Atlântico A Comissão da Pesca do Atum no Oceano Índico (IOTC, na sigla em inglês) anunciou que os barcos de pesca empregados na pesca de espinhel terão que adotar medidas de redução da captura não intencional de aves marinhas. A pesca de espinhel é aquela que emprega linhas com quilômetros de extensão contendo grande quantidade de anzóis, com iscas avidamente procurados pelas aves marinhas, principalmente albatrozes e petréis. Avalia-se que


mais de 300.000 dessas aves se afogam a cada ano por tal razão. Esse tipo de pesca é a maior causa da ameaça de extinção de 17 das 22 espécies de albatrozes, aves de longa vida e baixas taxas de reprodução. As medidas adotadas para reduzir essa enormidade de perdas são principalmente pesos para manter as linhas submersas e pedaços de panos coloridos presos às linhas emersas para serem agitados pelo vento e assustarem as aves. A decisão da IOTC imita resolução já ratificada pela Comissão Internacional para a Conservação dos Atuns do Atlântico. Para os barcos brasileiros empenhados nesse tipo de pesca, o Projeto Albatroz, de uma ONG conservacionista nacional, tem colaborado há mais de 20 anos na implementação das medidas de proteção, mediante acompanhamento e educação ambiental, com resultados significativamente satisfatórios. Fonte: BirdLife International e Projeto Albatroz

Dizimação dos batráquios Já foi citada neste Informativo a estranha ocorrência da diminuição acentuada e rápida das populações de muitas espécies de sapos, rãs e pererecas em todo o mundo, incluindo a exterminação de algumas delas, para surpresa e preocupação dos zoólogos e conservacionistas. Durante muito tempo, pesquisas foram feitas sem sucesso em várias regiões do globo, até que se descobriu a causa principal dessa estranha ocorrência. Ao que tudo indica, o fato se deve à rápida disseminação de um fungo patogênico, Batrachochytium dendrobatidis, altamente letal para esses animais, provavelmente espalhado pelo planeta, pelo menos em parte, pela mobilidade dos meios atuais de transporte.

dentre elas o antílope adax, um tipo raro de gazela, o carneiro-da-barbária e uma espécie do quase extinto guepardo-do-deserto. Fruto de quase uma década de esforços internacionais, a criação da reserva foi fruto da cooperação entre autoridades esclarecidas do Niger, doações externas provenientes do Governo Francês, EUA, Fundo de Conservação do Saara, e da Convenção das Espécies Ameaçadas. A população local também se envolveu no processo de estabelecimento da área protegida, considerando a importância da iniciativa na preservação de seu modo de vida e dos recursos naturais dos quais depende. Fonte: Imprensa do Fundo de Conservação do Saara (2012)

Agora, tem sido aventada a hipótese de que o fungo pode ter contaminado os anfíbios devido à introdução de espécies invasoras tolerantes aos seus efeitos, que agem como reservatórios do agente patogênico. Pesquisadores, verificando como o fungo atingiu anfíbios em áreas protegidas remotas, constataram que certas espécies são capazes de tolerar a doença e a espalham em novas regiões. Na Serra Nevada da Califórnia, por exemplo, verificou-se que 67% dos indivíduos de uma espécie nativa da região oeste dos EUA estavam contaminados com o B. dendrobatidis, mas que, apesar disto, continuavam a sobreviver enquanto outros anfíbios da mesma área foram extirpados. Os autores do estudo sugeriram que essa espécie resistente podia portanto espalhar a doença pelas demais espécies da área. O mesmo mecanismo de transmissão pode ter acontecido em outras regiões, especialmente se espécies contaminadas, porém resistentes, tenham nelas sido introduzidas. Fonte: Oryx, V 46(3), julho de 2012

Um belo exemplo de um país pobre O Niger, uma das mais pobres nações da África, criou no ano passado a maior reserva natural do continente, cobrindo 100.000 km2, denominada Reserva Cultural e Natural Termit & Tim Touma. Situada na parte leste do país, ela dará um muito necessário abrigo a algumas das mais ameaçadas espécies no mundo,

CONSELHO DIRETOR Presidente Ibsen de Gusmão Câmara Diretores Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho Conselho Fiscal Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin Suplentes Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond

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INCAPER

Café

Café capixaba: bom, do campo à mesa 40

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INCAPER

Novas variedades de Conilon, classificadas internacionalmente como bebida superior, prometem aumentar a renda dos produtores do Espírito Santo, estado que responde 80% da produção nacional

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conquista da classificação internacional de “Bebida Superior” vem ampliando cada vez mais o mercado do café Conilon. Vinte anos após as primeiras cultivares recomendadas para o estado do Espírito Santo, três novas variedades clonais, melhoradas geneticamente, são lançadas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Incaper). Entre seus diferenciais, prometem melhorar a qualidade da cafeicultura capixaba e aumentar em 20% em média a renda dos produtores rurais. O Espírito Santo é o segundo maior produtor brasileiro de café e responde por 80% da produção de Conilon do País. A cafeicultura está presente em quase todos os municípios capixabas e representa 44% do PIB agrícola do estado. É a atividade que mais gera empregos e distribui renda no Espírito Santo. Envolve 131 mil famílias, gera cerca de 400 mil empregos e está presente em 60 mil propriedades rurais, em área total de 450 hectares, dos quais 280 mil hectares com Conilon. “Por trás da xícara tem gente, tem meio ambiente, tem política pública, tem quase trinta anos de pesquisa, tem o empenho do produtor rural, dos profissionais do Incaper e muitas outras Ao lado: A variedade precoce Diamante Incaper 8112 chega a produzir cerda de 40% a mais que a Emcapa 8131

Jequitibá Incaper 8122 tem maturação intermediária, e seu nome homenageia a árvore símbolo do ES

coisas envolvidas. A qualidade do café produzido no Espírito Santo está encantando o mundo”, afirma Evair Vieira de Melo, diretor-presidente do Incaper.

Novas variedades Resultado de mais de 20 anos de pesquisa e desenvolvimento, as novas variedades possuem diversas características que as diferenciam das variedades de Conilon disponíveis no mercado. Batizadas de “Diamante Incaper 8112”, “Jequitibá Incaper 8122” e “Centenária Incaper 813”, distinguem-se pela época de maturação dos frutos. Para o produtor, o escalonamento da colheita traz diversas vantagens, como a melhor gestão da mão de obra e a utilização mais adequada de terreiros e secadores. A alta produtividade das cultivares ajuda no aumento da produção na indústria cafeeira. E a excelente qualidade da bebida é a maior vantagem para o consumidor. As três novas variedades possuem alta produtividade, podendo alcançar rendimentos superiores a 120 sacas beneficiadas por hectare em plantios irrigados com alta tecnologia. Além disso, apresentam boa estabilidade de produção, uniformidade de maturação, moderada resistência à ferrugem.

Nomes duradouros Os nomes atribuídos às novas variedades clonais de café Conilon lançadas pelo Incaper, representam algo em comum: durabilidade, longevidade, perpetuidade.

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INCAPER

café

A variedade Centenária é alusão aos 100 anos do café Conilon do Estado

Diamante Incaper 8112 — Além de precioso, o diamante é o material mais duro que existe, e não pode ser riscado por nenhum outro material, senão o próprio diamante. Batizar a variedade precoce de “Diamante” indica resistência e reflete o quão valiosa é a cafeicultura capixaba. De maturação precoce, a variedade “Diamante Incaper 8112” é colhida no mês de maio. A produtividade média é de 80,73 sacas beneficiadas por hectare, o que supera em 39,19% a média da variedade Emcapa 8111 e, em 14,73%, a média da “Vitória Incaper 8142”, lançadas em 1993 e 2004, respectivamente.

Jequitibá Incaper 8122 — A variedade intermediária ganhou este nome em homenagem à árvore símbolo do Espírito Santo. Em tupi, Jequitibá significa “gigante da floresta”, tão imponente quanto a cafeicultura de Conilon no Espírito Santo. O nome “Jequitibá” foi dado à variedade de maturação intermediária numa referência à sustentabilidade, ao compromisso que a atividade tem com a preservação ambiental. De maturação intermediária, a colheita da variedade “Jequitibá Incaper 8122” concentra-se no mês de junho. A produtividade média da variedade “Jequitibá Incaper 8122” é de 88,75 sc.benef./ha. Superou em 47,92% e 26,07% a média da variedade “Emcapa 8121” (intermediária) e “Vitória Incaper 8142”, lançadas em 1993 e 2004, respectivamente, pelo Incaper.

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Centenária Incaper 8132 — Além de celebrar os 100 anos do café Conilon no Espírito Santo, comemorados em 2012, o nome da variedade clonal tardia denota a longevidade e durabilidade de tudo o que é secular. Uma respeitosa homenagem à vasta experiência do Estado no que se refere à cafeicultura do Conilon. De maturação tardia, a variedade é colhida no mês de julho. A produtividade média da variedade “Centenária Incaper 8132” é de 82,36 sc.benef./ha. Superou em 37,27% e 16,99% a média da variedade “Emcapa 8131” (tardia) e “Vitória Incaper 8142”, lançadas em 1993 e 2004, respectivamente pelo Incaper. •

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Como adquirir mudas Para ter acesso às novas variedades, os produtores rurais e demais interessados devem recorrer aos Escritórios Locais de Desenvolvimento Rural do Incaper, presentes em todos os municípios capixabas. Viveiristas cadastrados no Mapa multiplicarão as mudas. Atualmente a capacidade de produção é de 21 milhões de mudas por ano, mas a expectativa é que a quantidade chegue a 35 milhões. Flávia Bessa Embrapa Café


Agricultura não tem prestígio no governo, diz Eduardo Campos Na Rural, governador de Pernambuco e provável candidato à presidência ressalta que o setor está sem acesso ao centro nervoso do Planalto agricultura não tem prestígio no governo, afirmou o governador de Pernambuco e provável candidato à presidência da República, Eduardo Campos, em encontro com diretoria, conselho e convidados da Sociedade Rural Brasileira (SRB), na sede da entidade, em São Paulo (SP).

A reunião deu sequência ao ciclo de discussões que a Rural vem promovendo com futuros presidenciáveis. O primeiro foi, em julho, com o senador Aécio Neves. A presidenta Dilma Rousseff, candidata à reeleição, deverá ser a próxima a participar. Para uma plateia de produtores rurais, parlamentares, dirigentes setoriais, empresários, executivos, entre outros públicos ligados ao setor, Campos ressaltou que “não há audiência da agricultura com o centro nervoso do Palácio do Planalto”. Segundo o governador, há preconceito na máquina pública federal com a agricultura. “A pasta da Fazenda tem preconceito, a do Meio Ambiente tem preconceito”, salientou, mas ressalvando que isso também é culpa do setor, que não faz bem a narrativa de seus feitos. “Não se conhece direito as realizações do campo para o País, a ciência e tecnologia usadas na agricultura. O setor ainda é reativo ao se comunicar, e precisa melhorar isso para ser mais bem reconhecido, principalmente pela sociedade urbana.” O presidente da Rural, Cesário Ramalho da Silva, endossou Campos, assinalando que a agricultura precisa de mais carinho. “O setor precisa ser mais bem tratado pelo governo, em razão do que contribui para o País”, frisou Ramalho.

Carta aos agricultores De acordo com Campos, que também é presidente nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), não dá para o Brasil se desenvolver sem a agricultura, por depender dos resultados socioeconômicos gerados pelo setor. “O campo tem mais oportunidade para o País do que qualquer outra coisa”, acentuou, acrescentando que o Brasil desenvolveu a agricultura tropical mais importante e moderna do mundo. “Vamos fazer uma carta aos agricultores brasileiros, expondo nossas propostas.” E, segundo Campos, uma entidade como a Rural tem muito a contribuir para o desenho de um programa estratégico para o Brasil.

Aliança com Marina A aliança de Campos com a ex-ministra Marina Silva preocupa a agricultura, externou Ramalho ao governador. Para a Rural, historicamente, Marina demonstra preconceito com a agricultura, ancorando sua posição em ideologias que não coadunam com a realidade de um setor que cresce economicamente, buscando sintonia com o meio ambiente e o tecido social. Na avaliação da entidade, em seus anos à frente da pasta do Meio Ambiente, Marina não abriu diálogo com o setor, abdicando de qualquer relacionamento com os produtores rurais, mesmo diante de várias tentativas de contato tomadas pelo segmento.

Renato Scardoelli

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Segundo Eduardo Campos, há preconceito na máquina pública federal com a agricultura

“De fato, há um problema com Marina, mas Campos é um bom engenheiro capaz de construir uma ponte entre a agricultura e a ex-ministra, diminuindo assim o radicalismo da ex-senadora”, destacou Ramalho. De acordo com Campos, fazer um diálogo franco e respeitoso com a agricultura é o objetivo. “A agricultura sabe que a sustentabilidade é um valor cada vez mais procurado na gôndola dos supermercados”, disse o governador. “E, por exemplo, fomentar a energia renovável a partir de bases agrícolas, como o etanol, é unir a agricultura e o meio ambiente”, completou. No encontro, Ramalho também trouxe à tona o imbróglio instaurado no País em relação às demarcações de supostas reservas indígenas. “Produtores, sejam eles pequenos, médios ou grandes, estão desistindo da atividade em regiões do Mato Grosso do Sul, por exemplo, pela gravidade da situação.” Neste aspecto, o governador pontuou que o Brasil precisa recuperar o valor do respeito aos contratos, da segurança jurídica. Ronaldo Luiz

SRB

Sociedade Rural Brasileira Rua Formosa, 367 - 19º andar - Anhangabaú - Centro CEP: 01409-000 - São Paulo - SP Tel: (11) 3123-0666 . Fax: (11) 3223-1780 . www.srb.org.br Jornalista responsável: Renato Ponzio

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Maurício Meyer

PRAGA

Um inimigo chamado Helicoverpa armigera 44

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Embrapa Soja alerta que é preciso atenção à presença da praga nas lavouras recém-plantadas de soja, mas enfatiza que produtor deve aguardar o nível de ação recomendado (momento ideal do controle) para a aplicação de defensivos, que é de quatro lagartas por metro, na fase vegetativa, e duas na fase reprodutiva. Aplicações de inseticidas antecipadas apenas irão agravar ainda mais o problema, explica a empresa de pesquisa

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alta incidência de lagartas Helicoverpa armigera, difíceis de serem combatidas, em campos recém-germinados da nova safra de soja, levou produtores a fazerem aplicações de defensivos — muitas vezes precipitadas e desnecessárias — e acendeu a luz vermelha na Embrapa Soja e demais entidades ligadas à cadeia. A praga, identificada em 2012, causou prejuízo de R$ 2 bilhões nas lavouras da última safra (2012/2013) e contou com condições climáticas favoráveis para resistir, inclusive, ao período da entressafra. Por isso, ela merece muita atenção e monitoramento constante, mas não aplicações abusivas de inseticidas, que apenas selecionam insetos resistentes, eliminam os inimigos naturais da praga, resultando no agravamento do problema.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) declarou estado de emergência fitossanitária no oeste da Bahia e no estado do Mato Grosso. O prazo de vigência da declaração é de um ano e, na prática, significa que, neste período, os governos dos estados terão autoridade para adotar ações de controle à lagarta na área delimitada. Para as localidades onde o estado de emergência fitossanitária está declarado, a liberação da importação e uso emergencial de agrotóxicos, sem registro nos órgãos competentes, foi autorizada por um decreto sancionado no início de novembro pela presidente Dilma Rousseff.

Riscos no uso de defensivos É importante destacar que a Embrapa Soja, por sua vez, alerta aos produtores quanto aos riscos do uso defensivos de forma preventiva. “Mesmo em regiões com estado de emergência fitossanitária declarado, aplicações de inseticidas precisam ser feitas com base no monitoramento da praga e produtos seletivos aos inimigos naturais e outros insetos benéficos. Produtos menos impactantes ao homem e ao meio ambiente precisam ser sempre priorizados”, alerta o pesquisador entomologista Adeney Bueno, da Embrapa Soja. Os produtores de Mato Grosso também esperavam que fosse declarado estado de emergência no Estado. Diante da expectativa frustrada, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), em conjunto com o serviço de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, montou um sistema de alerta para a Helicoverpa armigera, com instalação de armadilhas de feromônio (hormônio sexual) da mariposa nas regiões produtoras para acompanhar a dispersão da praga.

Hora certa de aplicação Adeney Bueno explica que a Helicoverpa armigera pode diferir das demais lagartas por não ser exigente em sua dieta. Ela se alimenta de praticamente tudo o que brota no solo, incluindo restos de plantas da safra passada, brotações em meio à palha de cobertura do plantio direto, e até das plantas daninhas. Dessa forma, a esperada morte por inanição, entre uma lavoura e outra, não acontece. “Ela não é seletiva no hospedeiro e, sem deficiência de alimento, a população fica alta. Por isso, recomendamos eliminar o mato antes do novo plantio,” disse. Mas o especialista em manejo de pragas afirmou que, apesar de várias reclamações de produtores, a Embrapa Soja verificou que, em algumas áreas, principalmente do estado do Paraná, apesar de uma infestação generalizada, as lagartas eram bem pequenas e não ocorriam em uma intensidade alta. Isso significa que não são sobreviventes da dessecação ou da vegetação anterior. “Mesmo em intensidades baixas, os produtores estavam aplicando inseticidas, portanto, sem necessidade e de forma precipitada, o que só deve agravar o problema de pragas na cultura”, destaca. Ele lembra que as condições do clima no início do plantio e o atraso das chuvas (veranico), favoreceram a população de mariposas. “Essas pequenas lagartas são fruto da postura desses insetos”. O pesquisador acredita que o aumento da quantidade de chuva, quando ocorrer, irá auxiliar na morte mecânica das mariposas e as infestações poderão ser reduzidas naturalmente.

Importância da amostragem Muitas lavouras vistoriadas pela Embrapa Soja, atendendo ao chamado de produtores, não estavam com nível

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O especialista lembra que a aplicação de defensivos em hora errada pode agravar o problema, principalmente em função do inseticida utilizado, capaz de eliminar os inimigos naturais da praga — os insetos benéficos —, piorando ainda mais o problema. Por isso, a recomendação da Embrapa é que, caso haja necessidade de controle da praga, que seja usado um produto mais seletivo, menos impactante, como inseticidas dos grupos dos reguladores de crescimento de insetos, das diamidas ou das espinosinas, por exemplo, que, do ponto de vista ambiental, são mais interessantes. Ele também sugere como alternativa o controle biológico da lagarta, com o baculovírus. “O controle biológico com vírus ou bactéria é a melhor opção para o controle da Helicoverpa armigera nesta fase em que as lagartas ainda estão bem pequenas”, afirma.

Fase reprodutiva

O controle da Helicoverpa armigera é dificultado porque a lagarta se alimenta de praticamente tudo o que brota do solo

Edson Hirose

de infestação mínimo (quatro lagartas por metro na fase vegetativa) para aplicação de defensivos. “Acho que o alerta quanto à Helicoverpa armigera foi muito positivo, obrigando os produtores a ficarem mais atentos ao que acontece no campo. Por outro lado, criou uma situação de temor grande, levando o agricultor a aplicar inseticida sem necessidade”, diz Bueno. Segundo ele, o produtor não está fazendo a correta amostragem para quantificar com exatidão o momento exato de controlar a praga.

Fabiano Bastos/Embrapa Cerrados

PRAGA

Bueno diz que é preciso bastante atenção ao longo de todo o ciclo da soja, principalmente na fase reprodutiva, uma vez que a Helicoverpa armigera ataca flores e vagens, diferente de outras lagartas que têm preferência pelas folhas. “A soja é muito tolerante à perda de folhas, mas o mesmo não acontece com flores e vagens, que estão diretamente relacionadas à formação do grão e, por isso, ataques da praga na fase reprodutiva podem provocar grandes quebras na safra”, explica. Mariposa da Helicoverpa armigera

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โ ข

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Embrapa Agroindústria de Alimentos

plantas bioativas

Óleos essenciais:

uma fonte de divisas a ser mais explorada no Brasil Humberto Ribeiro Bizzo Químico Industrial, doutor em Química Orgânica, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos • humberto.bizzo@embrapa.br

Brasil tem vantagens na disputa de mercados de óleos essenciais. Hoje o país já lidera a produção de óleos extraídos dos cítricos 48

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Curiosidades O mercado mundial de óleos essenciais movimenta US$ 15 bilhões/ano


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Divulgação

Brasil tem lugar de destaque na produção de óleos essenciais e, ao lado da Índia, China e Indonésia, é considerado um dos quatro grandes produtores mundiais. A posição do Brasil deve-se, basicamente, aos óleos essenciais cítricos, obtidos como subprodutos da indústria de sucos. No entanto, o país sofre problemas crônicos como falta de padrão de qualidade, representatividade e baixos investimentos no setor. As oportunidades de mercado existem e o Brasil se favorece pela biodiversidade dos recursos naturais, uma economia estável e centros de pesquisa especializados. Falta uma orquestração efetiva entre governo, instituições de pesquisa, universidades e iniciativa privada, para obtenção de produtos com qualidade e preços capazes de disputar mercado.

Há, pelo menos, 300 óleos essenciais de interesse comercial no mundo e, entre os 18 mais importantes, o Brasil lidera a produção de dois: laranja (Citrus sinensis) e lima destilada (Citrus aurantifolia). De acordo com dados da Comtrade (United Nations Commodity Trade Statistics Database), os maiores consumidores de óleos essenciais no mundo são os EUA (40%) e a União Europeia (30%), sendo a França o país líder em importações. O mercado mundial movimenta US$ 15 bilhões/ano, apresentando crescimento aproximado de 11% por ano. Até 2004, o Brasil aparecia entre os principais fornecedores de óleos cítricos, tendo contribuído com 5% do total de óleos importados.

Rendimento dos cítricos

Mas o país pode muito mais. Uma extensa análise do potencial de fontes alternativas de óleos essenciais foi realizada pelo grupo do professor Otto Richard Gottlieb ao longo dos anos 1970. Estes trabalhos foram continuados mais tarde por pesquisadores da Universidade do Pará, liderados pelo professor José Guilherme Soares Maia, e são fonte importante de pesquisa que precisa ser melhor explorada, transformando conhecimento em riqueza.

Exploração predatória No entanto, vale ressaltar que a exploração predatória de recursos naturais tem conduzido à escassez de matérias-primas, incluindo óleos essenciais. Um caso representativo é a obtenção do óleo essencial rico em safrol, base para a síntese de butóxido de piperonila, um importante insumo para a

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O óleo essencial de laranja é extraído do pericarpo do fruto e tem sido empregado na perfumaria, em produtos farmacêuticos, alimentícios e em materiais de limpeza. O rendimento máximo de extração de óleos cítricos é de 0,4%, ou seja, para cada tonelada de fruta processada, são obtidos quatro quilos de óleo. Entre janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou cerca de 26,6 mil toneladas de óleos cítricos, conforme dados da base Aliceweb, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Campos e ramos de lavanda, matéria prima muito demandada pela indústria

indústria de inseticidas piretróides. As fontes originais — árvores de grande porte — já se esgotaram nos EUA e no Brasil. Atualmente, a China é o maior exportador mundial deste óleo. Seu processo de obtenção, entretanto, é também baseado em extrativismo. A descoberta de fontes sustentáveis para a produção desta matéria-prima é extremamente relevante, principalmente considerada a tendência de aumento de consumo dos inseticidas piretróides. A Lavoura - Nº 699/2013

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plantas bioativas

Os óleos essenciais brasileiros têm grande potencial para conquistar mercados

O óleo essencial dos cítricos é extraído do pericarpo do fruto

Biodiversidade brasileira Por conta desse histórico e numa visão perspectiva, podemos afirmar que o Brasil sai em vantagem na disputa por mercados. A biodiversidade brasileira e as fontes renováveis de produção, dão opções para novos produtos. A Embrapa Agroindústria de Alimentos, por exemplo, tem trabalho em parceria com outras unidades da empresa, bem como com universidades, para a prospecção, avaliação da composição e o desenvolvimento de novas aplicações para os óleos essenciais da biodiversidade brasileira, cuidando para que novas fontes de matérias-primas sejam estabelecidas em modelos de produção sustentável. 50

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Existem outros exemplos: recentemente, a Embrapa Recursos Genéticos introduziu 29 variedades de menta no país, cujo desenvolvimento está sendo avaliado em três biomas distintos. Experimentos agronômicos e o estabelecimento de práticas de manejo são necessários para que as espécies introduzidas possam ser cultivadas em escala comercial.

Investimento O investimento na seleção de matrizes, irrigação e mecanização de culturas são práticas que têm sido aplicadas com sucesso no Nordeste do país. A empresa Raros é um exemplo disso na produção de óleos essenciais como o vetiver e o patchouli. Este panorama demonstra que a produção de óleos essenciais no Brasil é, não somente viável, mas rentável. É importante ressaltar que, além dos incentivos governamentais — necessários, mas não suficientes —, a formalização de parcerias entre centros de pesquisa, universidades e iniciativa privada, é fundamental para que técnicas modernas de cultivo, seleção e melhoramento de plantas, sejam desenvolvidas e aplicadas. O mesmo vale para os processos agroindustriais, como forma de encontrar padrões de qualidade e preços competitivos. A produção brasileira tem potencial para conquistar mercados, mas seus atores precisam agir de forma mais estruturada e estratégica.

A indústria de cosméticos é uma das principais consumidoras de óleos essenciais Embrapa Agroindústria de Alimentos

Durante estudos com óleos essenciais de espécies amazônicas, o grupo do professor Maia encontrou uma nova fonte de safrol, nativa da região, a pimenta longa (Piper hispidinervum). Posteriormente, pesquisas agronômicas conduzidas na Embrapa Acre, nos anos 1990, resultaram em protocolos para o manejo e cultivo sustentável desta espécie, cujo óleo essencial apresentou teores de safrol acima de 90%.


O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do planeta, além de uma diversidade étnica e cultural, que reúne um importante conhecimento tradicional associado ao uso de plantas bioativas

O estudo destas plantas tem despertado grande interesse nos últimos anos, principalmente em função do seu aproveitamento na agroecologia e, mais recentemente, em função da criação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. O objetivo é facilitar a integração entre a medicina tradicional e a medicina complementar alternativa, especialmente, nos sistemas nacionais de atenção à saúde humana.

A calêndula tem importantes propriedades medicinais

Recursos federais Doze municípios de sete estados brasileiros foram selecionados em 2012 pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos para receber repasse de R$ 6,7 milhões do Ministério da Saúde. Os recursos foram repassados em outubro deste ano. Foi a primeira vez que o setor recebeu recursos federais, que deverão ser usados para desenvolver a cadeia produtiva de plantas medicinais e fitoterápicos. Mais de 40 municípios apresentaram propostas ao Ministério da Saúde. Dos 12 selecionados, três são do Paraná — Foz do Iguaçu, Pato Bragado e Toledo — estado que receberá R$ 2 milhões do total de recursos. Também foram beneficiados com recursos Betim (MG), Botucatu (SP), Brejo da Madre de Deus (PE), Diorama (GO), Itapeva (SP), João Monlevade (MG), Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro (RJ) e Satanrém (PA). Segundo informações do Ministério da Saúde, o investimento deverá ser aplicado na aquisição de medicamentos e materiais, contratação de pessoal e qualificação técnica, e promover a interação e a cooperação entre os agentes produtivos. Deverão ser considerados os conhecimentos tradicional e científico e a agricultura familiar. Divulgação

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edicinais, aromáticas, condimentares, inseticidas, repe­ lentes, tóxicas. Estas são algumas das plantas consideradas bioativas, ou seja, que possuem alguma ação sobre outros seres vivos e cujo efeito pode se manifestar tanto por sua simples presença no ambiente, quanto pelo uso de substâncias delas extraídas. Em busca do aproveitamento deste potencial, pesquisas vêm sendo desenvolvidas para o aperfeiçoamento de tecnologias e terapêuticas apropriadas.

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Diversidade revelada nas plantas bioativas

A popular camomila é uma das plantas medicinais exploradas

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), grande parte da população dos países em desenvolvimento — estima-se 80% — depende da medicina tradicional nos cuidados básicos com a saúde, mas 85% utilizam plantas e suas preparações. A Lavoura - Nº 699/2013

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Roberto Vieira

plantas bioativas

Aromas

do Cerrado Vellozzia, comum nos cerrados brasileiros

Pesquisadores se unem para identificar espécies aromáticas do Cerrado, formar um banco de dados e despertar o interesse comercial das indústrias de alimentos, cosméticos e perfumes egundo maior bioma brasileiro, superado apenas pelo amazônico, o Cerrado abrange 11 estados da Federação e ocupa 24% do território nacional. Sua rica diversidade botânica — estimada entre 10.000 e 12.000 espécies de plantas —, ainda pouco estudada, motivou um grupo de pesquisadores da Embrapa e de universidades públicas do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília a estudar as plantas aromáticas do Cerrado e atrair o interesse comercial das indústrias de cosméticos, perfumes e alimentos.

A ideia é parecida com o modelo adotado na Amazônia, onde indústrias firmam parcerias com as comunidades para a aquisição de matéria-prima. Segundo o coordenador do projeto, pesquisador Humberto Bizzo, da Embrapa Agroindústria de Alimentos, a ação antrópica sobre o bioma Cerrado é muito grande, podendo colocar em risco de extinção várias espécies. Isso porque além de grande parte da região estar próxima dos centros urbanos e sofrer pressão imobiliária, é justamente no Centro-Oeste que concentram as grandes extensões de monoculturas, como a da soja, por exemplo.

Opção de renda “O projeto pretende dar mais uma opção comercial para o homem do campo, em especial o pequeno produtor, que 52

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preservando a vegetação nativa, poderá ter mais uma fonte de renda”, explica Bizzo. Segundo ele, o trabalho da pesquisa não atende a uma demanda específica, mas a qualquer momento uma empresa de cosméticos, por exemplo, pode ter interesse nos óleos essenciais e se agregar ao projeto. A parRoberto Vieira

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A Hyptis, outra planta do Cerrado, possui características parecidas com as da lavanda


O projeto liderado pela Embrapa Agroindústria de Alimentos conta com as parcerias da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Cerrados, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade de Brasília e Universidade Federal de Juiz de Fora. A primeira etapa, já em curso, é o levantamento de campo para a criação de um banco de dados. É necessário identificar, coletar, classificar a espécie vegetal e fazer o depósito em herbário. A análise química e a avaliação sensorial são etapas para a montagem de uma coleção de extratos para futuras investigações de interesse para a indústria de aromas.

Cristina Baran

tir daí, ressalta, o mais importante é estabelecer uma negociação entre indústria e produtor, que seja justa para as comunidades envolvidas.

O alho é um potente bactericida

Plantas medicinais também para o uso veterinário

Potenciais O engenheiro agrônomo Roberto Fontes Vieira, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargem), destaca que algumas famílias de plantas do Cerrado são bastante promissoras. Ele cita a Arnica (Lychnophora eriocides), da família das Compostas; o Hyptis sp., da família das Labiatas, que possui características semelhantes a outras plantas exóticas da mesma família como a lavanda, o hortelã, o manjericão e a alfazema; e a Vellozia sp., da família das Velloziaceas. Mas tudo ainda precisa ser estudado e comprovado, como já foi feito com a candeia e a sucupira, cujos óleos têm aplicação medicinal. “Até mesmo a copaíba do Cerrado ainda não mereceu a mesma atenção que a nativa da Amazônia”, esclarece Vieira.

Mercado em expansão

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obrina para mastite e inflamação, carqueja para a digestão, cidreira para verminose, tansagem e picão para tristeza, arruda para mosca-do-chifre, boldo para diarreia. Na natureza são encontradas diferentes possibilidades de prevenir e tratar doenças em animais, especialmente o gado de leite. Na Emater/RS-Ascar, há mais de mil recomendações de plantas medicinais para o uso veterinário. O trabalho envolve receitas caseiras utilizadas pela cultura popular, produzidas a partir de mais de 200 ervas e plantas medicinais existentes na região. Segundo o assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, médico veterinário Jorge João Lunardi, elas são utilizadas na forma seca ou verde, além de comporem formulações de produtos caseiros como chás, tinturas, infusões, pomadas, detergentes, sabões, desinfetantes e sais minerais.

A utilização de produtos naturais em alimentos, cosméticos e perfumes tem sido incrementada para suprir um mercado consumidor em expansão e também para atender a requisitos de uma legislação cada vez mais restritiva em relação ao uso de produtos sintéticos. Os biomas do hemisfério sul, particularmente o africano e o sul-americano, ainda pouco explorados se considerado o número de espécies estudadas e as conhecidas, constituem fontes de recursos naturais de grande potencial.

Formulações

No Brasil, o Cerrado já é considerado um dos “hotspots” no planeta em relação à necessidade de práticas de conservação. Sua flora rica e diversificada vem sofrendo maior ameaça que a flora amazônica. Depois de extraído o óleo essencial e/ou o extrato da espécie aromática, é preciso realizar uma avaliação sensorial para determinação de seu uso potencial na formulação de perfumes. São essas informações que comporão o banco de dados de produtos da cadeia produtiva de plantas aromáticas.

“O objetivo principal do uso caseiro de plantas medicinais em animais é, sobretudo, diminuir o uso abusivo de químicos em animais, o que pode causar complicações no rebanho, na qualidade do leite e na saúde humana”, explica Lunardi.

As formulações e receitas, também disponíveis nos escritórios municipais da Emater/RS-Ascar, são apresentadas aos agricultores após efetivação na prática e/ou busca da validação científica. O alho, por exemplo, é muito utilizado no manejo do gado leiteiro, em diferentes situações, entre elas, mastite, inflamação, carrapato, berne, mosca-do-chifre, verminose, pós-parto, cascos e bicheiras.

Deise Froelich

Emater/RS-Ascar - Regional de Santa Rosa

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Café

Embrapa Café

Tecnologia com sabor de sucesso

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Entrevista • Aymbiré Fonseca

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Espírito Santo é o único estado brasileiro que tem produção significativa das duas espécies — Arábica e Conilon — com rendimento anual de cerca de 12,5 milhões de sacas, provenientes de 60 mil propriedades, das quais, mais de 73% são de base familiar. A produtividade média geral registrada é de 27,77 sacas por hectare. Tais números colocam o Estado como o maior produtor de café conilon do Brasil, com 78% da produção nacional, e o segundo maior produtor brasileiro de café (somando-se a produção de Arábica e Conilon), representando cerca de 25% da produção nacional e o terceiro maior produtor de café arábica. Por trás deste sucesso está a pesquisa, o desenvolvimento e inovação gerados pelo Incaper, que ganhou novo fôlego com a criação do Consórcio Pesquisa Café, em 1997. Para falar um pouco sobre essa história, entrevistamos Aymbiré Fonseca, pesquisador da Embrapa Café no Incaper.

Qual a importância socioeconômica da cafeicultura para o estado do Espírito Santo? A cafeicultura do conilon é uma das atividades mais importantes nos aspectos econômico e social no Espírito Santo, principalmente na geração de empregos e renda. Maior programa mundial de pesquisas para esta cultura, o Consórcio Pesquisa Café, fundado em 1997, é um arranjo estratégico composto por dez instituições de pesquisa, ensino e extensão rural, localizadas nas principais regiões produtoras do País. Coordenado pela Embrapa Café, busca, através de um programa de pesquisa, desenvolver tecnologias para cada etapa da cadeia produtiva do café. Presente em todos os municípios do Espírito Santo, exceto Vitória, a cafeicultura capixaba (Arábica e Conilon) é a atividade com grande poder de geração de empregos no Estado. É o sustentáculo econômico de 80% dos municípios e responde por 43% do PIB agrícola. A totalidade da cadeia produtiva gera cerca de 400 mil postos de trabalho ao ano, de forma direta e indireta. Só no setor

de produção, envolve 131 mil famílias, sendo o tamanho médio das lavouras de 7,5 ha.

Como o Incaper contribuiu para o desenvolvimento dessa atividade? O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) é uma das instituições participantes do Consórcio. Em mais de 25 anos de pesquisa em café conilon no Incaper, foram desenvolvidos diferentes conhecimentos básicos, produtos, processos e tecnologias que têm sido amplamente utilizados pelos cafeicultores. Bons exemplos são as variedades melhoradas, aprimoramento das tecnologias para produção de mudas clonais de qualidade superior, recomendações de espaçamentos, poda programada, plantio em linhas, adubações, manejo de pragas e doenças, práticas de conservação de solo, manejo de irrigação e tecnologias de colheita, secagem, beneficiamento e armazenamento.

E os ganhos de produtividade, são expressivos? O uso das tecnologias tem contribuído para que, desde o período de lançamento das primeiras variedades clonais de café, em 1993, até hoje, a produtividade média estadual aumentasse 277%, saltando de 9,2 sacas beneficiadas/ha para 34,7 sacas beneficiadas/ha, enquanto a produção aumentou cerca de 304%, passando de 2,4 milhões de sacas para 9,7 milhões de sacas, com um aumento de apenas 11% da área plantada.

Quais foram os avanços da pesquisa que permitiram e permitem a expansão da cultura no Brasil? Quais as novas fronteiras agrícolas do café? São muitos e importantes avanços. Merecem destaque a utilização de variedades adaptadas, resistentes ao calor e a certas doenças e pragas; o emprego de técnicas de manejo de plantas eficazes na retenção de água no solo e/ou no controle do seu escorrimento superficial, na redução da exposição do solo à insolação direta e seu efeito danoso na microbiota presente; na redução das variações bienais de produção e na longevidade dos cafeeiros; avanços constantes em aspectos relativos à nutrição e a fertilização de solos, bem como disponibilidade de formulações com liberação mais lenta e gradativa de nutrientes; emprego de diferentes sistemas e irrigação; adensamento; cultivos protegidos com árvores que auxiliam na mitigação dos efeitos de temperaturas mais elevadas além de reduzir a influencia negativa de ventos mais fortes, entre muitos outros, não menos importantes. O café Conilon, apesar de mais recente no Brasil, encontra-se bastante concentrado no Espírito Santo, mas também migrou para as regiões Norte, Centro Oeste e AALavoura Lavoura- -Nº Nº699/2013 699/2013 • • 55 55


café

Nordeste, notadamente para os estados de Rondônia e região Sul Litorânea da Bahia, respectivamente, o segundo e terceiro produtores nacionais da espécie. Em cada uma dessas regiões, a espécie vem sendo estudada constantemente em vários aspectos, inclusive quanto a possibilidade de cultivos em muitos ambientes mais particulares, existentes em cada uma delas, como é o caso do próprio Espírito Santo. Há, hoje, tecnologias que permitem ainda expansão desta atividade em outros ambientes do país. A questão da expansão pode não ser exatamente a disponibilidade tecnológica, mas estratégica, haja vista as implicações de ofertas excessivas do produto no mercado.

Qual o percentual plantado atualmente de café Arábica e Conilon no País? De acordo com a última estimativa da Conab, de setembro de 2013, a área total cultivada com café no Brasil é da ordem de 2,31 milhões de hectares, dos quais, 1,82 milhões de Arábica e 489 mil de Conilon. A produção se divide em 77% de Arábica e 23% de Conilon. O Espírito Santo é responsável por 75,5% da produção brasileira de Conilon, terceiro produtor Arábica do País e, considerando as duas espécies, é o segundo maior produtor de café do Brasil, superado apenas por Minas Gerais.

Qual o índice de mecanização das lavouras brasileiras? Nas lavouras não mecanizadas, quais os avanços na relação à mão de obra rural, cada vez mais escassa? Qual a contribuição da agricultura de precisão? As iniciativas para mecanização em lavouras de Conilon são relativamente recentes. Estes trabalhos vêm sendo motivados por uma série de necessidades, relacionadas, sobretudo, aos procedimentos da colhei56 56 • • AALavoura Lavoura- -Nº Nº699/2013 699/2013

Precisão significa ocorrer de forma precisa, sem excessos de carências

ta e pós-colheita, quando se concentra a necessidade de mão de obra, que representa, em média, 50% do custo variável do produto final. Uma série de parceiros do Incaper, tanto da iniciativa pública quanto privada, vem procurando aprimorar os equipamentos e os processos envolvendo a colheita, muitas vezes associando-a à pratica da realização da poda, visando racionalizar o sistema do ponto de vista econômico. O Incaper trabalha ainda no desenvolvimento de processos de condução de plantas mais ajustados ao processo de colheita, que difere expressivamente da colheita do Arábica, haja vista as diferentes formas de condução das plantas e das lavouras entre as duas espécies. Trabalha também na seleção de plantas com arquitetura mais compacta, visando a facilitar a utilização de máquinas desenvolvidas, em princípio, para a colheita do Arábica. Em outras etapas da produção de café, a mecanização (ou a semimecanização) tem sido empregada, indistintamente para o Arábica e o Conilon. No preparo solo, na abertura de covas, na aplicação de corretivos, fertilizantes, defensivos etc. A maior ou menor intensidade da mecanização está relacionada às condições de relevo. De forma geral, a mecanização da atividade no Brasil vem se limitando às regiões com menos declive, como no Cerrado e parte do Sul de Minas. Há, contudo, crescimento das atividades mecanizadas ou semimecanizadas na cafeicultura brasileira, em busca da redução de custos e da manutenção de nossa competividade no mercado. Os processos de mecanização ou quaisquer formas de automação empregada, bem como práticas de irrigação, fertirrigação, monitoramento e controle de pragas e doenças, são exemplos de práticas consideradas “de precisão”, dado ao fato que precisão significa “ocorrer de forma precisa”, sem excessos ou carências; e no devido tempo, de forma a reduzir custos, aumentar a eficácia e manter o melhor controle sobre as operações realizadas. Os cafeicultores, mesmo sem a exata dimensão da imperiosa necessidade de adoção de metodologias de maior precisão no que tange às suas atividades, vêm adotando, paulatinamente, um conjunto de medidas a elas associadas, que tendem a melhorar todo processo produtivo.

Quais os principais avanços relacionados à sustentabilidade. A sustentabilidade de uma determinada atividade envolve questões de ordem social, ambiental e econômica. Considera um conjunto de procedimentos que englobam princípios pessoais, critérios legais, aspectos filosóficos e mesmo uma visão de marketing e mercadológica, na busca de conferir diferenciação e valorização dos produtos, além dos agronômicos, agrupados nas “boas práticas agrícolas”. Mais da metade da produção brasileira de café é destinada principalmente aos países da União Europeia, Estados Unidos e A Lavoura - Nº 699/2013

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Japão, todos muito exigentes quanto às questões relacionadas à forma com que o produto é obtido, além da qualidade intrínseca do mesmo. Por isso, a priorização da produção sustentável é imprescincível.

O que mudou com a criação do Consórcio Pesquisa Café? Tudo mudou para muito melhor com o Consórcio. As instituições de pesquisa brasileiras iniciaram um trabalho de forma inédita, passando a atuar de forma participativa e integrada. As equipes, que trabalharam mais de cinco anos pensando o Consórcio, já haviam rompido as barreiras das áreas físicas em que atuavam e emprestaram suas expertises em assuntos estratégicos às demais. Isso encurtou o tempo e aumentou a eficiência necessária para se chegar a resultados inovadores. Novas bases tecnológicas foram estabelecidas para a evolução do agronegócio no País e precisam ser mantidas para a manutenção da competitividade brasileira na produção de café.

Quais as principais tecnologias transformadoras que mudaram a cafeicultura no ES? A criação/obtenção de variedades melhoradas, a criação de ampla parceria com municípios, cooperativas, associações de produtores e viveiris-

tas para disponibilização de material propagativo das variedades, por meio da instalação de jardins clonais em todas as regiões do Estado; o desenvolvimento de sistema de produção de mudas por pequenos viveiristas ou nas próprias propriedades; os ajustamentos para recomendação de espaçamentos e densidades de plantio e de populações de hastes produtivas por área, em função das condições do solo e do clima do local e do sistema produtivo adotado; os ajustamentos frequentes dos métodos de análise, interpretação e recomendação de adubação e calagem; o desenvolvimento e recomendação do sistema de podas denominado “Poda Programa de Ciclo”; o plantio em linhas; o emprego de irrigação e fertirrigação; a adequação dos processos e métodos de colheita e pós-colheita para o Conilon, visando à obtenção de um produto e melhor qualidade.

Conte-nos sobre o projeto Renova Sul O programa “Renova Sul Conilon” está inserido no Plano Estratégico da Agricultura Capixaba para o período de 2011/2014 como um importante conjunto de iniciativas. As ações contemplam linhas estratégicas, como renovação e revigoramento de lavouras para o aumento da eficácia produtiva e evolução da qualidade do produto e de processos relacionados à atividade. Isso contribui para o desenvolvimento rural sustentável do Estado e fortalece as bases necessárias para o alcance das metas preconizadas no Plano Estratégico de Desenvolvimento da Agricultura Capixaba para o período 2007/2025. Entre as Metas estabelecidas para o período de 2012 a 2025, destacam-se renovar e/ou revigorar 6.000 ha/ano do parque de café Conilon da região de abrangência do programa, equivalente a 5% do parque atualmente existente; elevar a produtividade média do Conilon no Estado, dos atuais 34,7 para 42,9 sacas beneficiadas/ha; atingir, na região de abrangência do programa, uma produtividade média igual à média estadual em 2025, passando de 25 para 42,9 sacas/ha (crescimento de 71,6%); aumentar a produção total de café Conilon na região, dos atuais 1,6 para 3,0 milhões de sacas, sem expressivo aumento da área cultivada; obter, ao menos, 20% da produção total de café Conilon da região classificado como café de qualidade superior; beneficiar 20 mil famílias de pequenos cafeicultores (cerca de 60 mil pessoas) inseridos na região de abrangência do programa. O programa abrange uma área total de 70 mil ha (64 mil ha em produção), envolvendo 28 municípios.

Além do aumento da produtividade, qual a contribuição da pesquisa para a melhoria da qualidade no Conilon no Estado?

Novas variedades lançadas pelo Incaper, após 28 anos de pesquisa, diferem de todas as demais

Desenvolvendo tecnologias focadas na espécie, orientando os cafeicultores sobre as vantagens de se alcançar um produto com a qualidade requerida pelas indústrias de transformação e dos consumidores finais, bem como acerca dos cuidados e adoção de técnicas mais estreitamente relacionadas à obtenção de cafés superiores. A obtenção de materiais genéticos (variedades) possuidores de atributos qualitativos, também tem sido importante para esta evolução. As novas variedades do Incaper: “Diamante Incaper 8112”, “Incaper 8122” e “Centenária Incaper 8132”, lançadas em 2013, após 28 anos de pesquisa, apresentam características valorizadas pela indústria de café solúvel e para o consumidor final, diferenciando-a de todas as demais existentes até o presente, em se tratando de materiais genéticos do grupo “Robusta”. AALavoura Lavoura- -Nº Nº699/2013 699/2013 • • 57 57


animais de estimação

Animais de estimação e crianças:

uma relação que faz bem

Conheça benefícios que os pets trazem ao desenvolvimento dos pequenos e dicas para escolher o melhor amigo do seu filho

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m amiguinho animal pode ser uma ótima opção para os pais que priorizam um ambiente saudável para o desenvolvimento de seus filhos. Além da noção de companheirismo, a convivência com os pets pode acrescentar diversos ensinamentos aos pequenos, desde que bem supervisionada por adultos. Pediatras e veterinários recomendam a adoção de um bichinho de estimação, para as famílias que ainda não o tem, a partir dos três anos de idade da criança, já que é nessa idade que elas começam a desenvolver a maioria das habilidades motoras, conseguindo controlar melhor a força e os movimentos para interagir com os bichos. Outro motivo para a recomendação é

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O convívio com os pets ajuda a desenvolver a sociabilidade

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o acúmulo de trabalho: bebês e filhotes requerem muitos cuidados e atenção redobrada, então é melhor esperar a criança crescer um pouquinho para agregar mais um integrante à família. Além de ajudar no desenvolvimento motor, o convívio com os pets proporciona um melhor desenvolvimento da sociabilidade de uma criança. Saber dividir a atenção, respeitar o animal e trocar carinhos com o bicho reflete na capacidade interativa dos pequenos, tornado-os mais receptivos.

Responsabilidade Outro ponto positivo dessa relação é a noção de responsabilidade. Pais podem repassar aos filhos uma ou duas tarefas relacionadas ao cuidado dos animais de estimação. A iniciativa é recomendada para crianças a partir de sete anos, porém, com ressalvas, conforme aponta a veterinária da Vetnil, Isabella Vincoletto. “Cuidar de animais requer responsabilidades que nem sempre podem ser repassadas a uma criança. O melhor é dar tarefas mais simples a elas, como trocar a água ou dar petiscos aos pets. Nas demais atividades, a criança pode acompanhar e ajudar, mas um adulto deve ser o responsável”.


Uma relação que gera saúde

Escolhendo o companheiro de aventuras Agora que ficou claro que o relacionamento com animais de estimação faz bem às crianças, é preciso escolher qual será o melhor companheiro para elas. Segundo Vincoletto, alguns pontos devem ser levados em conta na hora de eleger o bichinho. “É preciso checar o local que se tem disponível para criar o pet e verificar que tipo de animal se encaixa melhor na rotina da família. Cães de médio e grande portes requerem um espaço maior para correr e brincar, e também disposição dos donos para passeios diários. Já gatos e cachorros pequenos adaptam-se bem a apartamento e casas menores”. Segundo a veterinária, algumas raças têm temperamento muito dócil, como é o caso do Pastor Alemão, Labrador, Beagle, Boxer, Cocker Spaniel e o Staffbull. O gato Balinês e o Siamês também são muito fáceis de convívio. Isso, no entanto, não exclui outras raças de cães e gatos ou mesmo animais sem raça definida, que também podem ser ótimas companhias. “Uma boa dica é pesquisar os hábitos peculiares de cada raça, sem deixar de lado, é claro, a preferência e a simpatia da criança pelo animal”.

Casinha comestível para roedores

Divulgação

De acordo com uma pesquisa da Universidade de Melbourne, na Austrália, pessoas que cresceram em contato com animais têm até 30% menos chance de desenvolver alergias do que as que não tiveram um melhor amigo animal na infância. Outro benefício para a saúde é o incentivo à atividade física: brincar com os pets faz com que a criança gaste mais energia, desenvolvendo o condicionamento físico e afastando o sedentarismo. Além disso, estudos apontam que interagir com os animais pode ajudar a aliviar o estresse, inclusive de crianças.

Novos Aliados

Casinha comestível para roedores e coelhos

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s roedores e os coelhos caíram no gosto de crianças e adultos como animais de estimação. Dóceis, carinhosos e fáceis de lidar, eles dão um toque na alegria do lar. Pensando nos cuidados para essas espécies, a Nutriconpet lançou dois novos produtos que prometem agradar aos donos e deixar a vida dos animais mais nutritiva e divertida: a casa comestível Nutrihome e a ração para coelhos Nutrirabbit.

Nutrihome Como o próprio nome diz, esses animais possuem a necessidade de roer. Isto acontece porque seus dentes crescem constantemente e se não forem desgastados podem causar lesões ou até perfurar o céu da boca. Para que isto não aconteça, é importante disponibilizar objetos para roer, que não causem riscos à vida deles. Uma ótima opção é a Nutrihome. O lançamento da Nutriconpet é uma casinha comestível para roedores, composta por sementes encontradas na natureza e feno de alfafa. É destinada a hamster, topolino, gerbil, chinchila, entre outros roedores. O pet ficará seguro e nutrido ao mesmo tempo.

Nutrirabbit Os coelhos são animais dóceis que necessitam de cuidados especiais e uma dieta saudável quando são criados como animais de estimação. Um dos lançamentos da Nutriconpet foi elaborado especialmente para ajudar na saúde e nutrição desses animais. Um alimento completo elaborado para atender às exigências nutricionais de coelhos de pequeno e grande porte. Rico em Vitaminas A e C, Complexo B e Probióticos, além de cenoura e alfafa — fonte de fibras essenciais para o crescimento saudável do pet.

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manejo bovino

Nutrição de precisão:

simples e eficiente

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Redução de proteínas na dieta de bovinos diminui custos e impacto ambiental

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proveitar ao máximo o alimento ingerido pelo animal, aumentando a eficiência e reduzindo os impactos ambientais. Este é o objetivo de um ramo recente da ciência animal, a chamada nutrição de precisão. Por meio de ajustes na dieta de bovinos e ovinos, é possível eliminar excessos, economizar e poluir menos o meio ambiente, sem perder os requisitos nutricionais necessários ao crescimento e à produtividade dos animais. Um dos defensores do novo conceito, o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste (São Carlos, SP) Alexandre Pedroso aposta na redução do uso de proteínas na dieta de vacas em lactação. Testes feitos no sistema de produção de leite da Embrapa mostram que, em muitos casos, é possível diminuir o teor de proteínas da dieta sem comprometer o desempenho do animal. As proteínas são os compostos mais caros na dieta animal, assim como ocorre na alimentação humana. Portanto, utilizar menos farelo de soja, farelo de algodão e farelo de amendoim, para citar as fontes de proteína mais comuns no Brasil, significa economia.

Vantagens Na Embrapa Pecuária Sudeste, Alexandre fez um teste em 2012 num rebanho de 90 vacas em lactação, com produção média de 27 quilos de leite por vaca/dia. No período das águas, em que as vacas pastejam forragem de alta qualidade, foi possível diminuir a inclusão de fontes proteicas em 62 quilos por dia, aumentando o milho e reduzindo o farelo de soja. Isso representou uma economia de R$ 1,32 por vaca diariamente. No período, o dinheiro poupado totalizou R$ 24.870. E as vantagens não são apenas econômicas. Eliminar o excesso de proteína da dieta significa menos nitrogênio excretado pelos animais. O nitrogênio é o principal elemento das proteínas, além de potencialmente poluidor de águas e solos. Experimentos com resultados semelhantes têm sido relatados por importantes publicações científicas e técnicas nos Estados Unidos.

A alimentação de precisão elimina excessos, gera economia e polui menos

Alexandre Pedroso/Embrapa Pecuária Sudeste

Na prática, para saber se seu rebanho consome mais nutrientes do que o necessário, é preciso contar com o auxílio de um profissional capacitado em nutrição animal, para avaliar a dieta.

Medidas simples Eliminar o uso excessivo proteínas é apenas um dos itens estudados pela nutrição de precisão. Outras possibilidades são buscar a eficiência no uso de minerais e de energia, por exemplo. Para isso, segundo Alexandre, não são necessárias máquinas sofisticadas. “Nutrição de precisão é basicamente ser preciso ao alimentar os animais: elevar os padrões de qualidade, ter um controle rígido do fluxo de insumos, evitar desperdícios, entre outras medidas simples”, explica. Larissa Morais

Embrapa Pecuária Sudeste

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Angélica Luersen

EMPRESAS

De sabor delicado, o queijo é um dos mais valorizados no mundo

Queijo Grana padano como o importado Indústria queijeira catarinense aumenta produção do ‘grana padano’

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Gran Mestri, fabricante catarinense do queijo tipo grana padano, uma das variedades mais nobres do mundo, está multiplicando por dez a produção em seu novo parque industrial, na cidade de Guaraciaba (extremo oeste do Estado). A indústria também vem apostando na linha de queijos especiais — pecorino, parmesão, montanhês e goya — e na manteiga. “Teremos um produto igual ou melhor do que o importado. Vamos produzir manteiga do nível da Président (França) e um parmesão equiparável ao Calcar (Uruguai)”, aposta Acari Menestrina, proprietário da Gran Mestri. Com 12 mil metros quadrados de área construída — seis vezes maior do que a primeira unidade da marca — a nova fábrica aumentou a produção anterior de mil quilos para 30 toneladas/dia além de sua capacidade de estocagem, em doze câmaras frias, passando para um milhão de quilos de queijo. A previsão é de que, com nova unidade, o faturamento seja de R$ 150 milhões/ano.

O que é o queijo grana padano De paladar delicado e aroma frutado, os queijos da variedade grana padano têm origem milenar na região da Padânia, norte da Itália. Segundo a lenda, religiosos que criavam bovinos de leite tiveram produção superior às necessidades da população, e, para conservar o excedente, elaboraram um queijo de massa dura, que durante a cura mantinha inalteradas as propriedades nutritivas do leite e conferia ao produto um sabor excepcional. A estrutura granulosa justificou o nome de grana, e com o passar dos anos, o sabor doce e agradável ganhou o

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mundo como uma referência italiana. É recomendado para crianças, gestantes, idosos e esportistas que precisam repor imediatamente as energias. Apenas 30 gramas da variedade suprem 60% das necessidades diárias de cálcio. A produção exige cuidados, que vão da seleção à preparação das propriedades, qualificação das famílias e padronização dos procedimentos, como a alimentação do gado e atenção aos aspectos higiênicos e sanitários. “É uma exigência para que o leite tenha altíssima qualidade, pois o queijo tipo grana é um produto vivo, muito delicado”, relata Menestrina. Para produzir um quilo do queijo, são necessários 15 litros de leite e as peças, em média, pesam 40 kg. Para garantir a qualidade exigida do leite, a empresa oferece assistência integral aos fornecedores, com apoio à gestão da propriedade, assistência técnica e cuidados especiais com relação à dieta. A alimentação das vacas deve ser à base de capim e a complementação alimentar só é permitida para as que produzem mais de dez litros/dia) e ao bem-estar animal. www.granmestri.com.br


O Reverin Plus, um produto da MSD Saúde Animal, já pode ser encontrado pelos produtores rurais nas gôndolas das revendas. Sua principal característica é a associação de um antimicrobiano (oxitetraciclina) com um anti-inflamatório (diclofecado sódico), não hormonal. É administrado em dose única. O fabricante explica que o produto é um aliado do médico veterinário e do pecuarista para o tratamento das infecções, com alta eficácia, controlando a inflamação do animal, com uma ótima recuperação clínica.

Indicações

Agente de limpeza sustentável agropecuária

para

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Reverin Plus é indicado no tratamento e controle eficaz das infecções causadas por bactérias sensíveis ao princípio ativo da formulação, tais como: Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Dichelobacter nodosus, Fusobacterium necrophorum, Corynebacterium bovis, Pasteurella multocida, Arcanobacterium (Corynebacterium) pyogenes, Listeria monocytogenes, Moraxella bovis, Salmonella Typhimurium, Clostridium perfringens, Streptococcus agalactiae, Streptococcus dysgalactiae, Streptococcus uberis, Streptococcus pneumoniae e Shigella flexeneri.

A DPM Tecnologia trouxe para o Brasil o Biosativa, um agente de limpeza bioativo, solúvel em água, 100% biodegradável, não tóxico e que não agride o meio ambiente. É indicado para a limpeza na agricultura e pecuária. É um produto feito com ingredientes naturais para remoção de manchas e sujeiras geradas por gorduras, óleos, entre outros. Possui surfactantes inovadores com enorme poder de limpeza, que não são maléficos a nenhum organismo, não irrita a pele e não polui a água. Plantas e animais que entram em contato com o produto não são prejudicados. É adequado para a limpeza de silos, estábulos, pátios de fazenda, salas de máquina e baias, além de equipamentos agrícolas, motores, entre outros. Também pode ser usado para limpar animais contaminados, por exemplo, com petróleo. Onde encontrar: (21) 2714-9268 www.dpmtecnologia.com.br

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Controle das infecções em dose única Biomantas de fibras de coco têm melhores resultados em custo e biodegrabilidade

Biomantas aproveitam 100% da casca do coco

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Frysk Industrial, empresa do grupo baiano Aurantiaca, vem investindo forte no mercado de fibra de coco desde o começo de 2013, com a marca de biomantas e biorrolos Fibraztech. Com a produção de biomantas e biorrolos limitada no País, as construtoras e mineradoras que tem dificuldade em conseguir o produto em grande escala para solucionar problemas em seus projetos e obras, que incluem recuperação de áreas degradas e contenção de tabules, agora podem contar com os produtos da Fibraztech, que possuem qualidade elevada e alta capacidade de produção. Com um investimento de mais de 250 milhões, a empresa atua em toda a cadeia produtiva do coco em uma das maiores regiões produtoras do Brasil, no município de Conde, no litoral da Bahia. Além disso, a Frysk Industrial é responsável pelo aproveitamento de 100% da casca do fruto e tem como principal objetivo produzir as melhores fibras e biomantas de coco do mercado. “Hoje temos capacidade para entregar aos nossos fornecedores uma grande quantidade do produto e com uma qualidade excepcional”, reforça o vice-presidente da Aurantiaca, Roberto Lessa.

Biomantas As biomantas já estão sendo aplicadas no setor de bioengenharia, na recuperação de áreas degradadas, erosões, em obras emergenciais, proteção de cursos d´água e também no agronegócio. Segundo Lessa, o material ainda tem potencial para atender ao mercado automotivo, na utilização das fibras e compósitos em assentos, encostos, apoios de cabeça, forro de portas, tapetes, teto, porta-luvas entre outros. Como as biomantas antierosivas são fabricadas industrialmente a partir das fibras vegetais, as elaboradas com fibra de coco apresentam os melhores resultados no quesito custo, tempo de resposta e biodegrabilidade. As fibras são costuradas formando uma trama bem resistente e protegida por redes de polipropileno ou juta, o que permite uma vida útil suficiente para os vários ciclos de germinação, além de serem altamente sustentáveis. A Lavoura - Nº 699/2013

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Luiz Eichelberger

INDÚSTRIA AGRÍCOLA

Cultivar de cevada irrigada BRS Itanema

Nova cevada cervejeira

é importante e vantajosa para a indústria de malte

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cevada cervejeira BRS Itanema tem ciclo precoce e maior tamanho de grãos, além de potencial de rendimento superior a 7.000 kg/ha. É adaptada às principais regiões irrigadas de SP, GO, DF e MG. Seus grãos alcançam classificação média superior a 85% de Classe 1 e o malte apresenta perfil de qualidade que atende às especificações da indústria cervejeira. Com ciclo de uma semana a dez dias mais curto que as demais alternativas em cultivo — BRS Sampa e BRS Manduri — a BRS Itanema será alternativa importante e vantajosa para o mix de cultivares praticado pela indústria de malte. A cultivar é fruto da parceria entre a Embrapa Trigo e a Malteria do Vale. 64

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A cultivar BRS Itanema é o lançamento da Embrapa Trigo e da Malteria do Vale para atender à demanda de cevada cervejeira nos cultivos irrigados de SP, GO, MG e DF. No Brasil, a área de cevada deverá crescer 15%, ultrapassando os 120 mil hectares. Crescimento A área de cevada no Brasil cresce pelo terceiro ano consecutivo, apesar das frustrações com o clima, que levaram à quebra de 30% na última safra. A previsão é chegar aos 123 mil hectares neste ano, distribuídos no RS (63 mil ha), PR (53 mil ha), SC (4 mil ha) e SP (3


mil ha). O rendimento médio projetado é de 3 mil kg/ha. O período de semeadura se estende até meados de julho. No estado de São Paulo, a cevada é cultivada em sistema irrigado há seis anos, período em que a área aumentou 43% e a produção praticamente duplicou. A principal empresa do ramo é a Malteria do Vale, de Taubaté (SP), que fomenta 3 mil ha junto a 60 produtores. De acordo com o engenheiro agrônomo da Malteria, Emílio Gotti Filho, a principal dificuldade da cevada é a competição do espaço irrigado com culturas mais rentáveis, como batata e feijão. A estratégia da empresa foi antecipar o início da semeadura para o mês de abril, permitindo colher a cevada com cerca de 110 dias e depois ainda fazer o plantio do feijão. “São duas excelentes safras, considerando que a cevada tem produzido rendimentos médios próximos a 5 mil kg/ha. A antecipação do plantio também diminui os riscos de chuvas de primavera na colheita”, explica Gotti. No Paraná, o fomento da cevada é realizado pela Cooperativa Agrária, que administra a maltaria Agromalte, em Entre Rios. O cultivo existe desde 1973 e, atualmente, envolve 180 famílias numa área que varia de 30 a 35 mil hectares. A cevada é a principal cultura de inverno e está gradativamente roubando espaço do trigo na região centro-sul do Paraná. Na safra 2011/2012, mais de 4 mil hectares migraram do trigo para a cevada. Desde 2006, a área de cevada dobrou, com produtividades sempre acima de 3 mil kg/ha. Além do rendimento, cerca de 1 mil kg/ha superior ao trigo, a cevada tem o ciclo mais curto, o que permite a entrada da soja mais cedo na lavoura. Segundo dados de pesquisa da FAPA/Agrária, a soja plantada na resteva da cevada pode resultar em ganho de até cinco sacos por hectare, quando comparado ao resultado após trigo.

Cevada do Brasil Para o pesquisador da AmBev, Mauri Botini, “a cevada do Brasil não fica devendo para qualquer cevada do mundo. Nós temos excelente produtividade, qualidade e produção de malte. O grande limitador é o clima. Gostaríamos de não precisar importar cevada da Europa e sim gerar divisas aqui, na América Latina”, afirma Mauri, lembrando que o clima frustrou a produção nos três principais países produtores na América Latina — Brasil, Argentina e Uruguai — responsáveis por 70% da produção de malte da AmBev. A expectativa da empresa, líder mundial no segmento de cervejas, é crescer 20% ao ano na área de cevada cervejeira no Brasil, especialmente nas regiões onde a qualidade dos grãos é mais estável. Somente em 2012, o número de produtores ligados à empresa aumentou 33%, localizados em grande maioria no Rio Grande do Sul. Estudo apresentando pelo pesquisador da Cooperativa Agrária, Noemir Antoniazzi, avaliou que, desde a década de 1970, quando iniciaram as pesquisas com melhoramento de cevada no Brasil, o rendimento médio das lavouras passou

Somos competitivos em qualidade e em rendimento, mas precisamos produzir cultivares com mais resistência a doenças de 1.700 kg/ha para 4 mil kg/ha. O teor de proteínas, indicativo de qualidade para a indústria, reduziu de 14% para 10% e o extrato de malte passou de 80% para 84%, avaliação conforme das sete cultivares mais plantadas no estado do Paraná no período 1973-2012. “O esforço da pesquisa possibilitou aumentar a competitividade da cevada brasileira frente a concorrência externa”, afirma Antoniazzi.

Sistema brasileiro de produção Apesar de a Austrália estar posicionada como o 6º maior produtor mundial de cevada em 2012, as variações do clima ainda causam grandes oscilações na produção. Em anos chuvosos, produtores cultivam oleaginosas como a canola e, em anos secos, é a vez da cevada e do trigo. O sistema brasileiro de produção de cevada e, principalmente, a organização da cadeia produtiva, chamaram a atenção do pesquisador Jason Eglinton, da Universidade de Adelaide, na Austrália, que visitou o país em meados do ano e ficou impressionado com os resultados apresentados pela pesquisa. “Na média, nossos rendimentos são de 2 mil kg/ha — a metade do que tem-se obtido aqui no Brasil. E a forma como pequenos grupos orientam a produção também é um exemplo para garantir maior liquidez na venda dos grãos, padronizando a qualidade do malte brasileiro”, avaliou Eglinton. “Hoje nós atingimos um patamar, sob o ponto de vista genético, competitivo em qualidade e também em rendimento, mas precisamos produzir cultivares que tenham melhor perfil de resistência a doenças, tanto para reduzir os custos de produção, quanto para gerar uma produção mais limpa, com menos agroquímicos na lavoura”, conclui o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella, lembrando que, atualmente, o oídio é um grande problema na cevada brasileira, além da giberela, que é um problema mundial nos cereais.

Comparativo safras 2011, 2012 e estimativa 2013 (Outubro/2013) Safra Área (mil ha) Produção (mil toneladas) Qualidade de malte (%) Rendimento (média kg/ha)

2011

2012

2013

94

110

95

317

255

305

85

67

80

3.376

2.302

3.200

Fonte: Embrapa Trigo Joseani M. Antunes Embrapa Trigo

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Indústria agrícola

Influência da madeira de carvalho no processo de produção da cerveja foi analisado em pesquisa

C

onsiderada a bebida alcoólica mais consumida no Brasil, a cerveja possui uma vasta gama de cores, sabores, aromas, graduações alcoólicas, entre outros aspectos resultantes de seus diferentes processos de fabricação. Pequenas mudanças durante a produção, como os tempos e temperaturas de cozimento, fermentação, maturação e ingredientes, são responsáveis pela variedade que o mercado oferece. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), estima-se que atualmente existam mais de 20 mil tipos de cerveja no mundo.

A maturação, por exemplo, é a etapa que consiste no armazenamento da cerveja fermentada em baixas temperaturas, próximas a 0ºC, durante um determinado período de tempo. “Neste processo, ocorre a precipitação de leveduras e proteínas (trub frio) que proporcionam clarificação e aprimoramento do aroma e sabor, devido a ocorrência de importantes alterações químicas”, conta a engenheira agrônoma Patricia Wyler. A fim de atender às expectativas dos atuais consumidores, diversos experimentos têm sido realizados, focando o desenvolvimento de novos produtos.

Aromas Em estudo realizado na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), a pesquisadora estudou a influência da maturação da cerveja em contato com a madeira de carvalho. O elevado potencial aromático do tostado interno dos barris feitos com esse tipo de madeira, permitem imprimir aromas de torrefação como café, chocolate, caramelo e pão torrado. “Recipientes produzidos com o carvalho possibilitam uma armazenagem eficiente da bebida, além de melhorar sensorialmente sua qualidade fisioquímica. Esses barris são usados para a maturação de bebidas alcoólicas como uísque, conhaque, cachaça e vinho”, afirma Patricia. No Laboratório de Fermentação e Destilação, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (LAN), a engenheira testou cubos com três diferentes níveis de tosta, para verificar qual delas proporciona a maior extração de compostos.

Maturando Cervejas maturadas a 0°C foram produzidas, durante três meses, em garrafas de vidro de 600 ml, barris de carvalho e recipientes plásticos com cubos de carvalho, na dose de 66

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Gerhard Waller(Acom/Esalq)

Cerveja combinada com carvalho

Cubos de madeira com três diferentes tipos de tosta foram testados

3g/l, provenientes de três níveis diferentes de tosta (leve, média, e alta). A cerveja utilizada foi a Lager, devido a sua baixa fermentação e graduação alcoólica (4,5%). Das cervejas oriundas dos diferentes tratamentos, foram analisadas graduação alcoólica, pH, acidez total, turbidez, fenólicos totais, cor e amargor, compostos voláteis (aldeídos, ésteres e álcoois superiores) por Cromatografia gasosa (FID), compostos fenólicos de baixo peso molecular por Cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC).

Notas de madeira O resultado principal apontou que a cerveja maturada apresentou notas de madeira em seu aroma. A bebida que recebeu cubos de carvalho com tosta alta apresentou quantidades maiores de compostos aromáticos, comparada àquela mantida no barril. Já a tosta média apresentou quantidades altas, porém inferior ao barril, concluindo que o uso dos fragmentos é uma alternativa mais barata e acessível aos fabricantes. Segundo a pesquisadora, “a técnica de maturar cerveja com madeira já é utilizada por várias empresas, mas não há estudos científicos sobre o assunto. Essa pesquisa dá suporte para que cervejarias e/ou cervejeiros possam utilizar tais técnicas, além de servir como base para novas pesquisas”. A análise mostrou, ainda, que não houve alterações físico-químicas que pudessem ser atribuídas ao armazenamento com madeira. Os compostos voláteis tiveram pequenas alterações, mas os compostos fenólicos de baixo peso molecular foram os que apresentaram maiores incrementos no período de três meses de maturação. Mediante teste de preferência sensorial, não houve diferença na aceitação entre as cervejas maturadas com cubos de madeira, barril e em garrafas de vidro. “No entanto, futuros estudos ainda são necessários para que seja possível obter um produto de qualidade que possa satisfazer ao consumidor e seja acessível à indústria”, finaliza a engenheira. Raiza Tronquin USP/ESALQ


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Almir Sater

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Paula Fernandes


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