Ano 117 Nยบ 701/2014 R$ 12,00
Helicoverpa A guerra continua ESPECIAL
Bem-estar animal e abate humanitรกrio
A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ
Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)
Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.
www.timeagrobrasil.com.br
Ano 117 . Nº 701/2014
A LAVOURA
BEM-ESTAR ANIMAL E ABATE HUMANITÁRIO
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Menos sofrimento, mais lucro
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MANEJO
Boas práticas de vacinação
INSTALAÇÕES RURAIS
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Sem estresse, sem prejuízo
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CONTROLE BIOLÓGICO Helicoverpa: a guerra continua Indicação geográfica
Couro do Vale do Sinos
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Capacitação Produtores querem expandir o mercado do Queijo Canastra
SNA 117 ANOS
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Pesquisa O quanto dói?
Alimentação & Nutrição 26
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Global Agribusiness Forum Debates sobre os desafios do agronegócio marcam o Global Agribusiness Forum
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Equinos Exame de outono
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PANORAMA 10
SRB - Sociedade Rural Brasileira
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SOBRAPA 50 Organics Net
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animais de estimação
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EMPRESAS 64
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Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Almirante Ibsen de Gusmão Câmara Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta
Academia Nacional de Agricultura Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor
comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado
Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
Presidente:
Roberto Rodrigues
TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen
ISSN 0023-9135
Diretor Responsável Antonio Mello Alvarenga
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Editora Cristina Baran editoria@sna.agr.br
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Reportagem e redação Gabriel Chiappini redacao.alavoura@sna.agr.br
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Impressão Ediouro Gráfica e Editora Ltda www.ediouro.com.br
Colaboradores desta edição Amanda Melo Sant´Anna Araújo Cinthia Andruchak Freitas Daniela Miyasaka Deise Froelich Fernanda Diniz Gabriel Chiappini Ibsen de Gusmão Câmara Ivani Cunha Luís Alexandre Louzada Marcus Rezende Noêmia Lopes Rodrigo Tomba Ronaldo Luiz Vera Longuini
Endereço: Av. General Justo, 171 • 7º andar • CEP 20021-130 • Rio de Janeiro • RJ • Tel.: (21) 3231-6369 / 3231-6350 • Fax: (21) 2240-4189 Endereço eletrônico: www.sna.agr.br • e-mail: alavoura@sna.agr.br • redacao.alavoura@sna.agr.br
CARTA DA SNA
Mudanças climáticas e o agronegócio brasileiro Muito se fala sobre meio ambiente, emissões de gases na atmosfera e aquecimento global. São assuntos que mobilizam a atenção de grande parte da população mundial. O interesse é justificável, uma vez que estamos todos preocupados com o futuro, a sobrevivência das espécies e a nossa qualidade de vida. No entanto, determinados “profetas do apocalipse” fazem previsões catastróficas sem qualquer base científica. Alguns desses terroristas ambientais mais precipitados têm atribuído os recentes problemas climáticos do Brasil ao aquecimento global, ao desmatamento de nossas florestas e à agropecuária praticada no país. A realidade é que eventos climáticos semelhantes sempre existiram, com maior ou menor intensidade. Há dados históricos comprovando que situações de seca e inundações, embora não sejam corriqueiras, já aconteceram no passado. É bom ressaltar que, ao desmitificar informações equivocadas, não pretendemos invalidar a importância de atentar para nosso meio ambiente e acompanhar sua evolução, procurando incentivar a adoção de medidas que reduzam os impactos nocivos ao ecossistema global. O agronegócio brasileiro tem feito grandes progressos nos últimos anos. Somos um país campeão em produtividade e sustentabilidade. Nossa agropecuária ocupa apenas 28% do território nacional e gera, nesse espaço, 40% das exportações totais do país, 25% do PIB e um terço dos empregos brasileiros. Temos um importante programa de agricultura de baixo carbono, responsável por incentivar práticas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa. Dentre outros aspectos, o programa ABC abrange a recuperação de pastagens degradadas, a integração lavoura-pecuária-floresta, os sistemas de plantio direto, a fixação biológica do nitrogênio, a implantação de sistemas agroflorestais sustentáveis e o tratamento de dejetos animais. O Brasil também possui um programa de substituição de energia fóssil, poluente, por energia verde, que contribui para que tenhamos uma das matrizes energéticas mais equilibradas e limpas do planeta. Nossa legislação ambiental é uma das mais avançadas e rigorosas do mundo. O novo Código Florestal foi aprovado após
exaustivas discussões e negociações na Câmara dos Deputados e Senado Federal, com a participação de todos os segmentos da sociedade envolvidos no tema. O Cadastro Ambiental Rural é um indiscutível avanço para o conhecimento de nossa realidade territorial. A utilização das imagens obtidas por meio de satélites irá permitir o mapeamento e o controle de todas as propriedades rurais do país, das áreas de reserva legal e de preservação permanente. Tal monitoramento mostrará, de forma irrefutável, a base de recursos naturais e sua evolução ao longo do tempo. É sabido que a agricultura deve ser o setor da economia mais afetado pelas mudanças climáticas ao longo do século 21. Por essa razão, práticas sustentáveis são cada vez mais adotadas em toda cadeia produtiva de nossa agropecuária. Há resultados efetivos, principalmente no que concerne à mudança no uso da terra e das florestas — um dos principais indicadores acompanhados pelo Plano Nacional sobre Mudança do Clima. Nosso produtor rural preocupa-se com o meio ambiente e vê os recursos naturais como seu principal parceiro. Aliás, uma preocupação justificável. É cultivando a terra que os agricultores garantem sua sobrevivência. Este é seu patrimônio, de onde tiram seu sustento, onde investem e guardam suas esperanças de progresso econômico e social. * * * Nesta edição de A Lavoura, o leitor encontrará, dentre outras, excelentes matérias sobre o bem-estar animal e o abate humanitário. E, como fazemos há mais de 25 anos, publicamos com muito orgulho a seção da “Sobrapa”, elaborada pelo almirante Ibsen de Gusmão Câmara, que destaca importantes informações e comentários sobre questões ecológicas. É o meio ambiente tratado a sério, com abordagem atual e o rigor científico que o tema requer. Boa leitura.
Antonio
Alvarenga
Antonio Mello Alvarenga Neto
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Fotos Sebastião Marinho
SNA 117 anos de uma plataforma que reúna os interesses do agronegócio. Para tanto, precisamos trabalhar para renovar e consolidar as ações parlamentares que envolvem o agronegócio, no que diz respeito à bancada ruralista, como é geralmente conhecida no Congresso.” Segundo Alvarenga, faz-se necessária uma mobilização dos representantes do agro para alcançar significativos resultados em favor do segmento.
O presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Antonio Alvarenga, recebeu para almoço o exministro das Cidades, Márcio Fortes, que ressaltou o comprometimento da SNA com o país
SNA comemora 117 anos e reúne personalidades do agro
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Sociedade Nacional de Agricultura promoveu, em fevereiro, em sua sede, no centro do Rio, um almoço para comemorar seus 117 anos de fundação. Além de diretores e conselheiros da SNA, a confraternização contou com a presença de alguns políticos e personalidades de vários setores do agronegócio. Durante o evento, foram apresentados aspectos relevantes da economia nacional e de nossa agropecuária em 2014.
O presidente da instituição, Antonio Alvarenga, declarou que 2014 é o momento para o produtor rural conquistar maior reconhecimento e espaço político compatível com sua importância no cenário econômico e social brasileiro. “Afinal, temos uma agricultura das mais modernas do planeta, somos campeões em produtividade e sustentabilidade, estamos colhendo a maior safra da história do país, estimada em 196 milhões de toneladas, e geramos excedentes exportáveis de US$ 100 bilhões por ano”, enumerou. Alvarenga pontuou que o Brasil é um dos principais produtores de alimentos do mundo e o agro segue confirmando a sua importância para o equilíbrio da economia nacional, com participação de cerca de 41% na balança comercial total em 2013. “Somos responsáveis por um quarto do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil e um terço dos empregos gerados no país. É difícil imaginar o que seria da economia brasileira sem o agronegócio”, ressaltou.
Ano eleitoral
O presidente da SNA fez questão de reforçar o papel da instituição em ano de eleições. “Nosso dever é colaborar com os produtores rurais na construção
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“Precisamos lutar para que tenhamos um Ministério da Agricultura forte, que possa coordenar todas as políticas do setor. O que vemos hoje é uma situação lamentável: as políticas destinadas ao agronegócio vêm sendo decididas por outros ministérios, porque o Ministério da Agricultura não tem o comando das ações que impactam o setor. Não existe sequer sinergia entre os órgãos envolvidos com as questões agrícolas do país”, criticou. “Por este motivo, precisamos votar em quem tem o compromisso com o desenvolvimento agropecuário brasileiro”, resumiu o presidente da Sociedade Nacional de Agricultura.
Compromisso
Entre as diversas personalidades que compareceram à ocasião, o exministro das Cidades, Márcio Fortes, fez um retrospecto dos 117 anos da SNA, ressaltando que a instituição é comprometida com o país. “O espírito de fazer e de acontecer da SNA mostra resultados que praticamente salvam a balança comercial brasileira. O apoio irrestrito ao agronegócio revela que a presença de commodities na balança resulta em resultados positivos para o país”, disse, acrescentando que a SNA é uma das facilitadoras para auxiliar os agricultores a desenvolver suas atividades.
Gargalos
Em seu discurso, o ex-ministro chamou a atenção para a necessidade de ampliação do crédito para o agronegócio, já que o setor “tem enfrenta-
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do problemas nos cultivos de café, cana-de-açúcar, cacau, entre outros”.
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Também presente à cerimônia, João Sampaio, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), fez sua avaliação: “O agronegócio cresceu, se modificou, se modernizou, mas ainda sofre com um déficit de comunicação”. Sampaio destacou ainda o atual momento pré-eleitoral: “Depois de muitos anos, estamos sentindo uma inversão com candidatos procurando nosso setor para conversar. Parece que estão reconhecendo a importância do segmento no país. Por isso, precisamos de muita competência em torno dessa busca de apoio”, orientou.
Parcerias
O presidente do sistema OCB/Sescoop-RJ, Marcos Diaz, falou sobre a importância das parcerias para a promoção do agronegócio. “O Brasil pode avançar como um todo se existir integração com instituições sérias que promovem o bem-estar social”.
O cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Song Yang, reforçou a relevância da parceria entre o país asiático e o Brasil, citando a preocupação com a safra brasileira. “A China está disposta a apoiar os investimentos do Brasil em infraestrutura, com o intuito de fortalecer a posição da agricultura do país”, disse Yang, que ainda salientou a necessidade de se investir em ferrovias locais.
Cadastro Rural
Um dos assuntos em destaque durante o almoço de aniversário da Sociedade Nacional de Agricultura foi o Cadastro Rural Ambiental (CAR). O registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais, pretende unir as informações ambientais referentes à situação das Áreas de Preservação Permanente (APPs), áreas de Reserva Legal, florestas e remanescentes de vegetação nativa, Áreas de Uso Restrito e áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do Brasil.
Foto 2 - Lindolpho de Carvalho Dias (conselheiro da FGV) ao lado do cônsul-geral da China no Rio de Janeiro, Song Yang, que reforçou a importância da parceria entre o país asiático e o Brasil Foto 3 - Paulo Protásio, diretor da SNA, conversa com o secretário de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo da Silva; em seu discurso, o secretário lembrou que o Estado foi o segundo da federação a aderir ao Cadastro Ambiental Rural Foto 4 - Presenças marcantes durante o evento: a presidente da Câmara de Comércio França-Brasil, Claudine Bichara, a editora da revista A Lavoura, Cristina Baran Alvarenga, e a nutricionista Bia Rique
O CAR foi implantado em 2012, pela Lei nº 12.651, no âmbito do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima). Seu objetivo é obter dados estratégicos para o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do país, além do planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais. Representando a ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, o assessor especial Luis Antônio Correa de Carvalho ressaltou a importância da implantação do Cadastro Ambiental Rural no Brasil. “O CAR permite que o agricultor cumpra a determinação legal , que é a de registrar sua propriedade. O novo Código Florestal brasileiro, votado no Congresso após amplo debate, fez com que a lei número 12.651 saísse desse processo democrático, de forma que fosse simplificada (ao produtor rural) e a adesão ao A Lavoura - Nº 701/2014
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sistema fosse gratuita para o agricultor familiar. Mas, para tornar algo fácil, é preciso, às vezes, fazer algo difícil”, ponderou Carvalho.
Segundo ele, “se o agricultor não necessita georreferenciar (seu imóvel rural), é preciso, pelo menos, colocar à disposição de todos os agricultores do Brasil a imagem exata de suas propriedades, qual área de preservação permanente tem ali e qual reserva legal deveria ter”. A lei, citou Carvalho, determina que o cadastro seja feito pelos Estados, porém libera a União para subsidiar as informações, em certos casos de dificuldades concretas na hora de aderir ao CAR. “Alguns Estados preferiram criar seus próprios sistemas de cadastramento rural, mas o do governo federal é tão bom que muitos voltaram atrás, restando agora somente dois. Um exemplo foi o Mato Grosso, que criou um sistema, mas, na semana passada, decidiu aderir ao do governo”, informou.
Portaria
De acordo com o assessor especial do MMA, ainda falta liberar a portaria que determinará a data-limite para os produtores rurais aderirem ao Cadastro Ambiental Rural. “Cabe ao Ministério do Meio Ambiente dizer a data do início (do cadastramento), a partir da qual contará o prazo de um ano (para registrar o imóvel rural). Depois disso, se o agricultor não cadastrar sua propriedade, aí sim ele estará na ilegalidade.” Carvalho justificou a demora para liberação da data-limite para adesão ao CAR: “O Ministério do Meio Ambiente vem segurando essa portaria há mais de seis meses, dando tempo para que tudo esteja funcionando muito bem nos Estados, de forma a não jogar nas costas do agricultor o que é de responsabilidade do Estado brasileiro. Isto explica parte do atraso. Por outro lado, esta portaria também depende de um decreto a ser assinado pela presidente Dilma, regulamentando, inclusive, outros aspectos da lei”, completou.
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Foto 5 - Jorge Ávila, ex-presidente do INPI, e o vice-presidente da SNA, Tito Ryff, prestigiam os 117 anos da instituição Foto 6 - Presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Fiesp, João Sampaio disse que o agro sofre com déficit de comunicação Foto 7 - O deputado federal Alfredo Sirkis discursou sobre o Código Florestal durante o almoço
“O Cadastro Ambiental Rural está pronto. E, a meu ver, os brasileiros terão orgulho da construção do instrumento mais avançado do mundo. E nós poderemos dizer, daqui a um tempo, que dentro das propriedades rurais privadas brasileiras há mais áreas e florestas preservadas do que nas unidades de preservação. Ou seja, o agricultor não estará devendo nada”, finalizou Carvalho.
Avanços
Aproveitando o discurso do assessor especial do MMA sobre o Cadastramento Ambiental Rural, o secretário de Agricultura do Rio de Janeiro, Christino Áureo da Silva, lembrou que o Rio foi o segundo estado da federação a aderir ao
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SNA vai oferecer cursos de preparação na área militar
Foto 8 - Convidados puderam debater assuntos relativos à atual política agrícola. Da esq. p/ dir.: Sylvia Wachsner, coordenadora do CI Orgânicos; Yves Marie Gayet, diretor executivo da Câmara de Comércio França-Brasil; Pietro Novellino, presidente da Academia Nacional de Medicina; Sérgio Franklin Quintella, vice-presidente da FGV, e o engenheiro e produtor rural Lindolpho de Carvalho Dias.
novo sistema, junto ao Ministério do Meio Ambiente. “Hoje, temos 62,3 mil propriedades rurais cadastradas e geoferrenciadas no CAR”, destacou. O secretário mencionou ainda que, na mesma data em que a SNA comemorou os 117 anos de existência, ocorria o processamento da primeira folha de pagamento da Emater-Rio (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio de Janeiro), já com a implantação do plano de cargos e salários, que vinha sendo elaborado havia quase seis anos. “Praticamente dobramos os salários dos profissionais de extensão, mais que dobramos a remuneração daqueles envolvidos com a pesquisa agropecuária, corrigindo também as diferenças salariais dos funcionários da Defesa Agropecuária”, exemplificou. “Fizemos também um concurso, após 21 anos (sem um processo seletivo do gênero). Isso tudo mostra a importância de mantermos um profissional motivado, principalmente aquele envolvido com áreas de extensão e pesquisa, entre outros”, avaliou.
Confronto
O diretor geral do Sebrae, Evandro Peçanha, e representantes da Firjan, Associação Comercial do Rio de Janeiro, dentre outras entidades, também compareceram à comemoração, assim como o deputado federal Alfredo Sirkis, que citou o “confronto inevitável entre produtores rurais e ambientalistas” no que diz respeito às discussões que antecederam a implantação do novo Código Florestal brasileiro. “O debate poderia ter sido de união”, mas, segundo ele, não foi isto que ocorreu. “Perdemos essa oportunidade. Para mim, o setor da agricultura esteve muito mal representado pela bancada ruralista. Mas penso que algo de positivo saiu disso tudo, o CAR, um instrumento que será muito útil, futuramente, ao produtor rural.”
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urante o almoço em comemoração aos 117 anos da Sociedade Nacional da Agricultura, a entidade assinou um convênio com o Instituto Trompowsky, na ocasião representado pelo tenente-coronel Ubiratan Guedes. O acordo visa a preparar profissionais no âmbito militar, na área de Segurança do Trabalho, com a possibilidade de extensão a comunidades onde o Exército atua. Os cursos oferecidos serão realizados a partir de maio, na Escola Wencesláo Bello, mantida pela SNA no bairro da Penha, Rio de Janeiro.
Ubiratan Guedes explicou que o Instituto Trompowsky é credenciado pelo Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, portanto, terá a capacidade de emitir diploma do curso técnico de Segurança do Trabalho em todo o estado – permissão que, segundo ele, foi estendida a outros estados brasileiros por meio de uma portaria interministerial do Ministério da Defesa e do Ministério de Educação e Cultura. ”No Rio, vamos atuar em quase todos os municípios, também em São Paulo e Minas Gerais. No segundo semestre, serão Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará”, informou Guedes. “Os cursos desenvolvidos em parceria com a SNA trarão importância para o instituto, com o vasto conhecimento de 117 anos da entidade. Tenho certeza de que terão excelente conteúdo para essa juventude”, comemorou o vice-diretor do Instituto Trompowsky, entidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, registrada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro.
O presidente Antonio Alvarenga e o tenente-coronel Ubiratan Guedes assinam convênio entre a Sociedade Nacional de Agricultura e o Instituto Trompovsky, ao lado dos diretores da SNA, Rony de Oliveira e Antonio Freitas
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Texto Assessoria de Comunicações
Panorama
Delivery para bovinos Sistema móvel facilita alimentação de bovinos em propriedade no Rio Grande do Sul
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produtor Éder Luís Mombach, morador da Vila Tremônia, interior de Cerro Largo, no Rio Grande do Sul-RS, inovou ao implantar, em sua propriedade, um sistema alimentador móvel — simples e de baixo custo — para facilitar e dinamizar as práticas cotidianas de alimentação do gado.
Mais de 1,6 mil fazendas brasileiras podem exportar para a UE
Definidas as garantias para certificação oficial
O equipamento, feito de madeira e coberto com folhas de zinco, foi construído sobre dois eixos e quatro rodas de uma trilhadeira estacionária, que se encontrava em desuso na propriedade. O alimentador é formado por um fenil, um cocho e um saleiro. A estrutura de cinco metros de comprimento e 1,3 m de largura tem capacidade para 300 quilos de feno e 20 quilos de sal mineral. Assim, é possível ter uma oferta regular de feno e sal mineral ao rebanho, formado por 29 cabeças de gado de corte.
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União Europeia exige a identificação e certificação individual para importar carne bovina in natura do Brasil. Para oferecer essa garantia, é necessário que o produto exportado pelos frigoríficos atenda aos requisitos exigidos por aquele Bloco. Para aprovar esses procedimentos de rastreabilidade, quando forem utilizadas garantias para certificação oficial brasileira, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou no Diário Oficial da União (DOU) no final de março, a Instrução Normativa (IN) nº 6.
Segundo o produtor, os benefícios da invenção proporcionam menor perda de feno em função da existência do cocho logo abaixo do fenil. Outro ponto positivo, é que são evitados o pisoteio excessivo e a formação de lamaçais, uma vez que o alimentador é deslocado no piquete e acompanha os animais quando migram para outros piquetes.
“A IN nº 6 vem para regulamentar esse tema, definindo as regras necessárias quando a certificação oficial brasileira usar como base as garantias de rastreabilidade individual”, explica o fiscal federal agropecuário do Mapa, André Carneiro.
O sistema também facilita a recuperação das pastagens, sendo que o equipamento é periodicamente deslocado para outro local.
A garantia que trata a normativa do Ministério é uma exigência adicional e voluntária, acordada entre vendedores e compradores. Atualmente, mais de 1,6 mil fazendas do Brasil podem exportar carne bovina in natura para a UE.
Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar - Regional de Santa Rosa
“A manutenção das importações pela UE é importante para o país, já que o bloco é um dos mercados mais exigentes do mundo. Como outras nações seguem esse sistema, as diretrizes geram um impacto significativo nas vendas brasileiras de carne”, destaca o secretário de Defesa Agropecuária, Rodrigo Figueiredo.
Fonte: MAPA
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José Follmann
O Mapa é a instituição responsável por fiscalizar a identificação e certificação dos rebanhos nacionais de bovinos e bubalinos das propriedades participantes dos protocolos de adesão voluntária, por meio do Sistema de Identificação e Certificação de Bovinos e Bubalinos (Sisbov). Este trabalho é realizado em parceria com serviços estaduais de Defesa Agropecuária.
Deise Froelich
Alimentador móvel, idealizado pelos produtores gaúchos, é feito de madeira e coberto com zinco
Humberto de Castro
ABPA nasce como a maior associação de proteína animal do Brasil Empresas e entidades das cadeias agroindustriais de aves, ovos e suínos de todo o Brasil reuniram-se, no final de março, para criar a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que nasce a partir da junção da União Brasileira de Avicultura (UBABEF) e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS). Francisco Turra, ex-presidente da UBABEF, foi indicado para assumir o cargo de presidente executivo da nova entidade, que contará com duas vice-presidências: de aves, assumida pelo ex-diretor de Mercados da UBABEF, Ricardo Santin; e de suínos, comandada pelo ex-presidente da ABIPECS, Rui Eduardo Saldanha Vargas.
Ambiente paisagístico criado por Nivaldo Dellagostini para a edição 2013 da Expoflora
Paisagismo seleciona profissionais
Com a criação da ABPA, UBABEF e ABIPECS foram extintas como entidades representativas da avicultura e da suinocultura nacionais, respectivamente.
Expoflora 2014 abre inscrições para projetos da Mostra de Paisagismo e Jardinagem
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Expoflora inicia o processo de seleção dos profissionais interessados em participar da Mostra de Paisagismo e Jardinagem, marcada para acontecer durante o maior evento de flores e plantas ornamentais da América Latina. Este ano, o evento será realizado de 29 de agosto a 28 de setembro, de sexta-feira a domingo, das 9h às 19h, em Holambra, antiga colônia holandesa localizada a 140km da capital paulista. Nesta 33ª edição da Expoflora, a Mostra de Paisagismo e Jardinagem comemora 10 anos e consagra-se como uma das principais atrações do evento por apresentar sugestões, de renomados profissionais, que podem ser perfeitamente adaptáveis para ambientes de todos os tamanhos e custos. “A proposta é mostrar que todos podem ter um cantinho verde, tornando o ambiente mais saudável, aconchegante e bonito e, ainda, valorizando o imóvel, seja ele residencial ou corporativo”, explica a engenheira agrônoma Ana Rita Gimenes, que coordena a Mostra de Paisagismo e Jardinagem da Expoflora juntamente com Ralph Gerardus Dekker, ambos da Floral Design Brasil. Vera Longuini
A ABPA já nasce como maior entidade representativa do setor de proteína animal do Brasil: são 132 associados. Com a União, a meta é chegar a 150 associados.
Cadeias produtivas Com um Produto Interno Bruto (PIB) total de R$ 80 bilhões, juntas, as cadeias produtivas avícolas e suinícolas geram 1,756 milhão de empregos diretos — sendo mais de 400 mil deles apenas nas plantas frigoríficas — totalizando 4,155 milhões de postos de trabalho (entre diretos e indiretos). Somadas, as exportações de aves, ovos e suínos totalizaram quase US$ 10 bilhões em 2013, ou 4,1% das exportações totais do Brasil e 10% das exportações do agronegócio brasileiro. De acordo com Francisco Turra, um grupo de trabalho formado por associados e membros das diretorias da UBABEF e da ABIPECS realizou estudos de viabilidade e consultas aos associados durante mais de dois anos. Conforme explica, a ideia da nova entidade nasceu de empresas com produções em aves e suínos. “O objetivo foi construir uma entidade com representatividade ainda maior, que viabilizasse sinergias e ampliasse o papel político-social das antigas associações. São cadeias com demandas similares em vários aspectos, e que contam com modelos produtivos semelhantes e desafios equivalentes. A ABPA nasce para dar mais força institucional à cadeia da proteína animal brasileira, seja no mercado interno ou nas exportações”, destaca Turra. A Lavoura - Nº 701/2014
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Regulamentação já! Atraso na regulamentação do Cadastro Ambiental Rural (CAR) causa insegurança jurídica do setor da carne bovina
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Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), que representa as principais indústrias processadoras de carne bovina do país, está comprometida com as responsabilidades socioambientais assumidas pelo setor frente ao poder público e à sociedade civil. Dentre elas, destaca-se o esforço para a realização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), instrumento do novo Código Florestal, para as propriedades fornecedoras de gado para abate. Porém, o sistema de registro do CAR, o SiCAR, não foi aberto até o momento. Sua regulamentação está vinculada ao ato ministerial, cuja assinatura vem sendo postergada há pelo menos um ano. A ABIEC reitera que o atraso na regulamentação do novo Código Florestal implica em insegurança jurídica dos produtores rurais, uma vez que prazos e formas para regularização ambiental da propriedade rural dependem desta instrução normativa, a ser publicada após a regulamentação.
Abiec
O conhecimento público da forma atual de ocupação do solo brasileiro é uma informação que beneficia diversos setores, assim como cada um dos seus elos. Trata-se de um conhecimento necessário à orientação de políticas públicas, ao desenvolvimento das diversas regiões do país, e é informação estratégica para o setor privado, uma vez que garante o controle de sua cadeia de fornecimento. Ou seja, a implementação do CAR não representa apenas adequação à legislação vigente, mas também resultará em uma série de benefícios ao setor privado, em especial à enorme cadeia de produção de alimentos instalada no Brasil.
Cadastro garante ao consumidor a origem dos produtos
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Instrumento essencial O CAR, quando em pleno funcionamento, possibilitará ainda o desenvolvimento de um registro público eletrônico das informações ambientais dos imóveis rurais que fornecem matéria-prima às indústrias. É um instrumento essencial ao monitoramento da cadeia produtiva e sua relação com a conservação ambiental. O atraso na regulamentação da lei prejudica todos os elos da cadeia desde o produtor — que não tem acesso a informações essenciais relativas ao processo de adequação ambiental — até a indústria processadora e o varejo, elos que devem garantir ao consumidor a origem de seus produtos.
O atraso na regulamentação confere grande insegurança jurídica ao setor
A ABIEC vem trabalhando, junto aos seus associados, em iniciativas conjuntas com órgãos do governo, e também com organizações da sociedade civil, a fim de cooperar e dar celeridade ao processo de regularização socioambiental da cadeia da pecuária. O Brasil é hoje um importante fornecedor de alimentos para o mundo, atendendo diferentes mercados e altos níveis de exigências no que diz respeito à qualidade dos produtos, segurança e garantia de origem. Nesse sentido, os instrumentos da legislação ambiental brasileira, quando cumpridos, podem conferir segurança e vantagens comerciais. A ABIEC alerta para a urgência na regulamentação do CAR. O processo trará grandes benefícios aos elos públicos e privados da cadeia da carne bovina brasileira enquanto o atraso na regulamentação confere grande insegurança jurídica ao setor.
Armazenagem e estradas são principais gargalos
Divulgação
SOJA
Estudo da INTL FCStone aponta que o gargalo logístico no escoamento soja brasileira ocorre antes da mercadoria chegar aos portos
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escoamento da produção de soja no país é uma das maiores preocupações que se tem em relação à safra brasileira. Em razão disto, a INTL FCStone, consultoria de gerenciamento de risco com foco em commodities, realizou um estudo para entender qual o maior gargalo logístico que há neste processo. Concluiu que o problema está na maneira como o Brasil faz a sua soja chegar até o porto e não na capacidade e na infraestrutura dos portos brasileiros, que são deficitárias, mas não são o principal problema da cadeia. Segundo o estudo, o déficit na capacidade de armazenagem (especialmente nas fazendas) e a opção pelo modal rodoviário para percorrer grandes distâncias são os fatores que determinam a grande dificuldade que há no escoamento da produção e contribuem muito com as preocupações dos compradores sobre o momento da entrega do produto. Com isso, há uma pressão nos portos, principalmente em função dos entraves observados na trajetória da soja anteriormente ao embarque. “Para chegarmos a essa conclusão, comparamos os volumes de soja embarcados mensalmente pelo Brasil e pelos Estados Unidos, bem como as condições logísticas dos dois países em todos os seus aspectos: armazenagem, transporte e infraestrutura dos portos”, explica Natália Orlovicin, responsável pelo estudo. O estudo mostra que os portos brasileiros possuem capacidade para exportar na mesma medida que os Estados Unidos, mas a maneira como a logística se desenrola até a chegada da soja no porto é extremamente problemática no Brasil. A falta de capacidade de armazenagem nas propriedades e o meio de transporte inadequado utilizado para se escoar a produção até o porto causa uma situação caótica de filas em rodovias e, consequentemente, filas nos portos, no período que se segue à colheita da soja. “Dessa forma, é natural que os compradores internacionais, em especial a China, tenham receio quanto ao cumprimento dos prazos de entrega do produto brasileiro. Há gargalos que precisam ser resolvidos em todas as cadeias associadas à logística, para assim aumentar a competitivi-
Estudo realizado pela INTL FCStone afirma que mesmo com problemas, os portos brasileiros têm capacidade para escoar a soja brasileira, e que o gargalo logístico está na armazenagem e nas estradas
dade da soja brasileira no mercado externo”, completa Natália Orlovicin.
Armazenagem Um dos principais pontos a ser considerado na avaliação da eficiência logística brasileira diz respeito à capacidade de armazenagem, especialmente àquela instalada nas próprias fazendas. Raros agricultores possuem estrutura de silos metálicos nas propriedades. Com isso, os produtores brasileiros ficam dependentes de armazenagem de terceiros (que ainda é insuficiente no Brasil), causando um custo adicional, ou são forçados a escoar a maior parte da produção logo após a colheita, causando pressões sobre as rodovias, o frete e também nos portos. Parte desses caminhões servem, portanto, como silos no momento da safra. Além disso, os agricultores deixam de ter a possibilidade de escolha do melhor momento para vender a soja.
Modal Outro fator primordial para o funcionamento eficiente da logística é a existência de uma infraestrutura adequada de transporte para o escoamento da produção até o porto. No Brasil, “optou -se” pelo modal rodoviário no transporte da soja (herança histórica do transporte de cargas), o que não é o mais indicado, devido às grandes distâncias percorridas desde as regiões produtoras até os portos, acarretando em um custo muito alto. Com o aumento da produção da soja e a falta de infraestrutura de outros modais (ferroviário e hidroviário), foi preciso encontrar uma solução rápida para o problema do escoamento. Assim, investiu-se na construção de mais rodovias, que estão longe de ser o modo mais barato e eficiente para se transportar a soja no Brasil. Rodrigo Tomba
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Panorama
Curso de cultivo de cogumelos comestíveis e medicinais
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Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia promove, no período de 27 a 31 de maio de 2014, o 45º Curso de Cultivo de Cogumelos Comestíveis e Medicinais. O curso é voltado a produtores rurais, extensionistas, estudantes de graduação e pós-graduação, com o objetivo de capacitá-los na técnica chinesa de cultivo de cogumelos “JunCao”, adaptada para o Brasil, que é capaz de tornar o cultivo de cogumelos mais barato e ambientalmente mais saudável. As inscrições podem ser feitas pelo link: http://www.cenargen.embrapa.br/cursos/2014/curso_CultivoCogumelo.html até o dia 20 de maio. Estão sendo oferecidas 40 vagas. A técnica JunCao torna o cultivo de cogumelos mais barato, pois utiliza substratos de gramíneas, ao invés de troncos de madeira e serragem, como os meios de cultivo tradicionais. O curso será ministrado a partir de aulas práticas e teóricas. Além do cultivo, os participantes terão também acesso a conteúdos relacionados a esses fungos, como: morfologia, fisiologia, reprodução, classificação, caracterização química e biocontrole, entre outros.
Por que cultivar cogumelos? Os cogumelos são alimentos muito nutritivos — com quantidade de proteínas superior a da carne — de 28 a 34%, contra 14% da carne — e acima de alguns vegetais e frutas, ricos em vitaminas e carboidratos e com baixo teor de gordura. Em 1995, a pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Arailde Urben, trouxe a técnica JunCao da China e adaptou-a para o Brasil. De lá para cá ela tem se esforçado para divulgá-la junto aos produtores brasileiros, especialmente a partir de cursos, visando tornar o cultivo de cogumelos mais popular, já que a produção desses fungos no país é ainda inexpressiva quando comparada com outros países. O consumo de cogumelos per capita no Brasil é de apenas 160g/ano, contra 2 kg/ano na França, por exemplo. O banco genético de cogumelos para uso humano da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia conta atualmente com cerca de 400 espécies de cogumelos de
interesse alimentar e medicinal. A pesquisadora Arailde Urben enfatiza que ainda há muito a ser feito para a divulgação dos cogumelos no Brasil. “Os cogumelos nutricionais e medicinais são importantes para a saúde humana, porém ainda pouco conhecidos pela população brasileira. O curso vai ensinar as técnicas de cultivo de cogumelos comestíveis, incentivando também o seu consumo”, afirma. O último dia de realização do curso (sábado, 31 de maio) será dedicado à realização de palestras abertas ao público. Esses palestras que acontecem no auditório Assis Roberto de Bem da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Parque Estação Biológica – PqEB, final da Av. W5 Norte, atrás da 2ª DP, Asa Norte, Brasília/DF) e a entrada é franca. Fernanda Diniz
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
Técnica JunCao: saco com substrato para cultivo de cogumelo, no detalhe, saco recebendo as sementes
Fotos: Cláudio Bezerra
A pesquisadora Arailde Urben mostra resultado final
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Informatização do processo vai simplificar emissão de certificados e guias
Cristina Baran
Atualizadas as regras para trânsito de produtos de origem animal
Produtos de origem animal terão novos procedimentos para transporte Caio Albuquerque/Esalq Usp
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Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) está modernizando os procedimentos de controle do trânsito, dentro do país, de produtos de origem animal produzidos em estabelecimentos inspecionados pelo Serviço de Inspeção Federal. Os novos modelos de Certificado Sanitário Nacional (CSN) e Guia de Trânsito (GT) serão emitidos eletronicamente pelo Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal (Sigsif ). O estabelecimento dos modelos oficiais e procedimentos para transporte nacional de produtos de origem animal foram elaborados pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária (Dipoa/SDA) do Mapa. A publicação no Diário Oficial da União (DOU) ocorreu no início de abril por meio da Instrução Normativa nº 10. Com a informatização do processo, além da harmonização e maior segurança para a fiscalização, serão simplificados os procedimentos de emissão do CSN e GT, abolindo a utilização dos atuais formulários contínuos. “Isso garantirá maior transparência, pois serão mantidos os registros de certificação, que poderão ser verificados via remota, durante supervisões, auditorias ou missões estrangeiras”, explica o secretário de Defesa Agropecuária do Mapa, Rodrigo Figueiredo.
O novo procedimento permitirá também a rastreabilidade dos produtos de origem animal certificados, além do atendimento a demandas específicas no controle da cadeia produtiva e dos requisitos de países importadores.
Regionalização de frigoríficos em Minas Gerais atrai empreendedores
U SEAPA MG
m grupo de empreendedores mineiros do setor de frigoríficos já iniciou contatos com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) para participar do Programa de Regionalização de Frigoríficos de Minas Gerais (Profrig), criado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), com a coordenação do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). O anúncio foi feito pelo secretário Zé Silva, após encontro com dirigentes da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal (Afrig). Profrig vai estimular criação de 20 frigoríficos
Durante o encontro, o presidente da Afrig, Sílvio Silveira, e o vice-presidente da entidade, Cláudio Ney de Faria Maia, confirmaram que os empresários do setor têm demonstrado interesse em fazer parceria com o Estado para o desenvolvimento do Profrig. Anunciado no final de março pelo governador Antonio Anastasia no evento de lançamento da Agenda Estratégica Desenvolvimento Sustentável da Agri-
cultura de Minas Gerais 2014-2030, o programa pretende ampliar o abastecimento de carnes inspecionadas, principalmente nos pequenos municípios. Por meio do Profrig, será estimulada inicialmente a criação no Estado de cerca de 20 frigoríficos capacitados para o abate inspecionado de bovinos, suínos, caprinos e ovinos. “Estamos avaliando as propostas e informando aos interessados as necessidades para a instalação dos empreendimentos”, disse Zé Silva. Uma das possibilidades criação de novos frigoríficos no Estado é o consórcio entre municípios. Outra alternativa é a parceria público -privada (PPP). Ivani Cunha SEAPA MG
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STEPS/WSPA
bem-estar animal E ABATE HUMANITÁRIO
Sistema de nebulização evita o desgaste psicológico dos animais
Menos sofrimento, mais lucro Gabriel Chiappini
Recentes acontecimentos no Brasil despertaram a atenção dos cidadãos e consumidores sobre bem-estar animal e abate humanitário. Mas o que isso significa?
Especial para A Lavoura
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cenário é doloroso. Animais amontoados em gaiolas de metal, praticamente incapazes de moverem-se, ocupam, cada um, espaço com tamanho inferior ao de uma folha de papel. Essa é a realidade de 95% das galinhas poedeiras no Brasil, algo em torno de cem milhões de animais. Elas passam a vida inteira confinadas, ou até dois anos, neste sistema denominado “gaiolas em bateria". Muitas delas, nunca vêem a luz do sol.
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Neste sistema de confinamento, sequer podem esticar as asas ou realizar qualquer outro comportamento natural de uma galinha, como ciscar, tomar "banho de areia", construir e colocar ovos em ninhos. Já nos primeiros dias de vida, algumas têm a extremidade dos
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bicos cortados por uma lâmina quente, sem qualquer anestesia. É uma forma de prevenir possíveis surtos de arranque de penas. Aliás, o estresse psicológico é apenas uma das consequências do confinamento intensivo. Lesões físicas, perda de peso, doenças e fraturas ósseas são comuns nestes animais.
A vida dos suínos
Outra prática comum é o confinamento de matrizes suínas, porcas prenhes, em gaiolas de gestação. Estas gaiolas têm praticamente o tamanho do corpo dos animais, impedindo que eles sequer possam se virar dentro delas. As porcas, geralmente, são confinadas nestas gaiolas durante toda a gestação. Depois, são transferidas para as gaiolas de parição, e após o parto, re-inseminadas e alojadas novamente em gaiolas de gestação. “Isso acontece durante todas suas vidas, prenhez após prenhez, resultando em anos de imobilidade praticamente total”, afirma Carolina Galvani, gerente senior de Campanhas de Animais de Produção da Humane Society International-HSI.
Proteção dos animais Galvani é quem nos traz o relato dessas práticas intoleráveis. Ela é responsável da HSI no Brasil, pela divulgação de métodos alternativos de produção de animais, que respeitem o bem-estar. A HSI é uma das maiores organizações na luta pela proteção animal do mundo. No Brasil, a entidade trabalha com alguns programas, entre eles, a eliminação de práticas de confinamento intensivo de animais de produção, e o fim dos testes em animais para a elaboração de cosméticos.
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HSI
Galinhas em sistema freee-range
Aves poedeiras em gaiolas em bateria
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A situação dos suínos de produção é igualmente aflitiva. Ainda leitões, suas caudas são cortadas, também sem anestesia, para evitar o comportamento anormal de mordida da cauda. Este comportamento nada mais é que um sintoma de estresse, pois não podem fuçar ou cavar o solo, como fazem os porcos cerca de 50% do dia. Leitões, em sistemas industriais, também podem ter seus dentes cortados. Entretanto, o procedimento é doloroso, e, muitas vezes, pode gerar complicações, como infecções e sangramentos.
Animais transportados de maneira inadequada
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bem-estar animal E ABATE HUMANITÁRIO Com o processo de industrialização e desenvolvimento da agropecuária, a cadeia produtiva sofreu enormes mudanças ao longo dos anos. O resultado: apenas aspectos quantitativos dos animais passaram a receber a atenção dos produtores. Com isso, este modelo de criação atual, muitas vezes, é responsável pela causa de dor, medo, sofrimento, e até mesmo hematomas e fraturas, como já exposto, lamenta a gerente da HSI. “Felizmente, alternativas mais humanitárias às gaiolas já existem no Brasil, como a produção denominada free -range (ao ar livre)”, afirma Galvani. “As galinhas chamadas ‘caipira’ ou ‘orgânica’, por exemplo, têm acesso a áreas externas, podem se exercitar, usar poleiros, colocar ovos em ninhos etc”. Ações como esta estão sendo tomadas para garantir a sanidade animal em sua totalidade, física e psicológica, desde a criação, até o abate. Entre as alternativas de produção, estão a adoção de práticas para o bem-estar animal e de procedimentos de abate humanitário.
Conceitos básicos
As cinco liberdades: 1 Livre de fome e sede; 2 Livre de desconforto; 3 Livre de dor, ferimentos e doenças; 4 Livre de medo e angústia; 5 Livre para expressar seu comportamento natural. Estas cinco liberdades servem de base para uma série de legislações de bem -estar animal e abate humanitário ao redor do mundo. O abate humanitário é definido como o conjunto de procedimentos que garantem o mínimo de estresse e sofrimento aos animais, desde o manejo de embarque na propriedade rural até a operação de sangria no frigorífico. No Brasil, há uma legislação específica sobre o abate humanitário, o Decreto nº 30.961, de 1952, que torna o estabelecimento industrial responsável pela garantia do bem-estar dos animais, da sua chegada na indústria até o momento do abate, e a Instrução Normativa nº 3, de 2000, que regulamenta métodos de insensibilização para o abate dos animais. Porém, sobre o bem-estar animal, há somente a Instrução Normativa nº 56, de 2008, que faz apenas recomendações sobre boas práticas de manejo e transporte destes animais.
Comissão de bem-estar animal Diversos setores da sociedade, governo e iniciativa privada promovem ações de incentivo a práticas de bem-estar. Um exemplo é a Comissão Técnica Permanente de Bem-Estar Animal (CTPBEA), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), criada em 2008, e reestruturada em 2011. O objetivo desta Comissão é coordenar e fomentar ações em bem-estar dos animais de pro-
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O bem-estar animal consiste, basicamente, no estado de harmonia do animal em relação ao ambiente em que vive. As diretrizes deste conceito
envolvem desde a boa nutrição, até instalações adequadas, que permitam que os animais manifestem seu comportamento natural. Uma das teorias mais aceitas é o Conceito das Cinco Liberdades, descrito em 1965, no que ficou conhecido como Relatório Brambell.
HSI
X De um lado, uma matriz suína com seus leitões livres, do outro porcas confinadas em celas estreitas
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O bem-estar animal consiste, basicamente, no estado de harmonia do animal em relação ao ambiente em que vive
Uso de bandeiras facilita o manejo e diminui o estresse dos animais
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Selo de Bem-estar animal, no Brasil, emitido pela certificadora, Ecocert
dução e de interesse econômico nos diversos elos da cadeia pecuária. A médica veterinária, Liziè Buss, é uma das coordenadoras da CTPBEA. Ela afirma que há um interesse crescente do consumidor pelo tema. “A sociedade brasileira está bastante preocupada com o direito animal, quer discutir e colocar ‘em pauta’ este assunto”, revela Liziè. Ela explica que, do outro lado da cadeia, os produtores estão muito interessados no que há de novo em pesquisa e novos procedimentos. “Temos tido bastante demanda por parte deles, no que se refere a informações sobre bem -estar animal”.
Cooperação e capacitação A Comissão não está sozinha na luta pela diminuição do sofrimento dos animais de corte. Além de promover estas práticas em feiras, palestras e eventos acadêmicos, a ideia é fazer com que produtores tenham acesso a essas informações, demonstrando o manejo adequado. Para isso, o Mapa fechou um acordo com a WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal), dando fruto ao Programa Nacional de Abate Humanitário da WSPA (Steps), que visa à capacitação e ao treinamento de pessoas envolvidas com o manejo pré-abate e abate de animais de produção no Brasil. “Oferecemos um curso de capacitação, em conjunto com a WSPA, em que fornecemos treinamento em abate humanitário para frigoríficos”, conta Liziè. No total, o programa já capacitou aproximadamente 6 mil profissionais 20
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Abate humanitário: o método de insensibilização de bovinos induz a imediata perda da consciência e sensibilidade, impedindo a dor do animal
de frigorífico, fiscalização e de instituições, em 17 estados brasileiros. Estima-se que, com essa inciatiiva, já foram beneficiados mais de cinco bilhões de animais de produção, em mais de 250 frigoríficos no Brasil.
Adesão José Rodolfo Ciocca, gerente do programa, lembra que a forte adesão e interesse pelo Steps no país demonstram uma grande tendência de melhorar a realidade e se adaptar às novas exigências internacionais de bem-estar animal, o que gera redução de perdas aos frigoríficos, as quais estão associadas direta ou indiretamente, às práticas inadequadas. “É preciso promover as boas práticas na produção, tornando-a responsável e sustentável. Para isso, cabe aos profissionais da área multiplicar o conhecimento adquirido às pessoas que lidam diretamente com os animais”, afirma Ciocca.
Ganhos Práticas de bem-estar animal também afetam na lucratividade do produtor. Entre os ganhos, destacam-se, a melhora na qualidade da carne e da carcaça, maior resistência às doenças, segurança dos trabalhadores e dos animais, ganho de peso, e melhor desempenho reprodutivo. O manejo adequado dos animais reduz riscos de perda na produção. “Recursos e procedimentos adequados ao bem-estar, e uma consequente mudança na conduta da mão de obra envolvida, favorecem tanto os animais, como as pessoas”, lembra Ciocca. “O manejo calmo, por exemplo, favorece a redução de possíveis riscos, como fraturas e hematomas, que podem provocar danos à qualidade do produto”, acrescenta. Liziè também destaca a redução na ocorrência de fraturas e hematomas em animais, para quem adota práticas de bem-estar, lembrando que os frigoríficos costumam descartar as partes machucadas dos animais, causando prejuízo ao produtor no momento da comercialização. “Outra vantagem para o produtor que
Certificação Muitos produtores no Brasil estão preocupados em atender a demanda do consumidor que, a cada dia que passa, exige práticas mais humanas e responsáveis de criação animal. Mas de que forma o consumidor pode reconhecer o produto de origem animal, fabricado de acordo com normas de bem-estar? Uma da maneiras é através de selos e rótulos de certificação, como o Certified Humane, emitido no Brasil pela certificadora Ecocert, organismo privado de inspeção e certificação. Trata-se de um programa de certificação e de rotulagem de bem-estar animal. Para receber a certificação e utilizar o selo, o produtor e o processador deverão atender aos padrões da Humane Farm Animal Care (HFAC), fundação bene-
ficente sem fins lucrativos, que tem como missão melhorar o bem-estar de animais de fazendas e granjas. Estes padrões foram desenvolvidos baseados nas diretrizes da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals, em informações científicas atuais e em outros padrões e diretrizes práticas, reconhecidas para o cuidado apropriado de animais. Estes incluem as exigências mínimas referentes à criação, manejo, transporte e abate das diferentes espécies animais (bovino de corte, bovino leiteiro, frangos, suínos, ovinos etc.). A Ecocert explica que, “o objetivo do programa Certified Humane Raised & Handled é melhorar a vida de animais de criação”. Desde o início do programa, em 2003, milhões de animais são certificados anualmente. Hoje, é o único selo que requer tratamento humanitário dos animais, desde o nascimento, até o seu abate. “A qualidade das carnes, aves e produtos lácteos, que você consome e serve, dependem, pelo menos em parte, dos cuidados que os animais recebem na fazenda”.
Capacitação oferecida pela WSPA: método de condução dos suínos com placas
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respeita a sanidade animal é o melhoramento da sua imagem no âmbito mercadológico. Bem-estar animal também é sinônimo de produto com valor agregado”, ensina Liziè.
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bem-estar animal E ABATE HUMANITÁRIO Principais interessados “Na realidade brasileira, os principais interessados têm sido os produtores, uma vez que eles são responsáveis pelo ciclo completo de criação animal, e, em alguns casos, são os mediadores da venda final dos produtos certificados de origem animal”, conta a Ecocert. Segunda a certificadora, os abatedouros têm se mostrado um pouco relutantes em relação à certificação, uma vez que implica, em algumas instâncias, em mudanças nas práticas de rotina do local durante o abate. E a certificação também requer que haja um processo de rastreabilidade efetiva, uma vez que os produtos oriundos de animais certificados que são comercializados com o selo, não devem ser misturados àqueles produtos que não são certificados. Atualmente no Brasil, duas empresas possuem este selo, e no Peru há uma empresa. “Sentimos que de fato existe uma maior preocupação com o tema. Contudo, é difícil as empresas implementarem as modificações necessárias para a conquista do selo. Acreditamos que este é um mercado em ascensão e que este cenário deve se modificar breve, frente às demandas de consumidores preocupados com o tema e aptos a pagar mais por animais criados sob condições adequadas de bem-estar”, afirma a Ecocert.
Vantagens da certificação A vantagem desta certificação para os produtores e processadores, é a agregação de valor ao produto final, ou seja, pode-se vender um produto final certificado por um valor maior. “Aquele consumidor que compreende a importância do selo e tem o poder aquisitivo suficiente, com certeza, pagará mais por este produto”, afirma a Ecocert. Outra vantagem para o consumidor se refere à garantia de que os animais foram criados e abatidos sob as condições de bem-estar que competem às normas HFAC para cada espécie, ou seja, respeitando as suas necessidades básicas durante todo o seu ciclo de vida.
Métodos Alternativos O bem-estar animal, de uma forma geral, e, consequentemente, o Selo do Certified Humane Raised & Handled, implica: •
No respeito por parte do produtor às normas de bem-estar, aplicando-as aos animais, desde o nascimento, até o abate.
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Na garantia de que os animais tenham amplo espaço, abrigo e tratamento adequados, evitando o estresse.
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Na proibição do uso de antibióticos e hormônios, exceto para tratamento veterinário.
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Na não utilização de gaiolas, grades e amarras. Os animais precisam ser livres para agir conforme a sua natureza. As galinhas, por exemplo, devem poder bater suas asas e tomar "banhos de terra" e os suínos necessitam de espaço suficiente para se mover, cheirar e socializarem-se com outros suínos.
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Que os animais sejam tratados de forma compassiva, sem o uso de manejo brusco e agressão, ou abusos físicos.
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Que os produtores cumpram com os regulamentos ambientais e de segurança alimentar.
Carolina Galvani aponta uma série de métodos alternativos que diminuem o estresse e sofrimento dos animais de produção. “Um crescente número de pro-
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dutores está respondendo à oposição dos consumidores ao confinamento intensivo em gaiolas em bateria, e descobrindo que a produção sem gaiolas é economicamente viável e rentável em escala comercial”.
Animais livres Galvani explica melhor o sistema free-range. “Esse método normalmente combina o sistema em galpão, com acesso durante o dia a áreas externas”. Segundo ela, estas áreas precisam ter grande quantidade de vegetação e cobertura para proteger as aves de possíveis predadores. “Apesar do descanso, da construção de ninhos e da alimentação que ocorrem dentro do galpão, esse sistema permite que as aves se exercitem e tenham mais estímulo ambiental”, completa Galvani. Quanto aos sistemas alternativos às celas de gestação de suínos, Carolina ensina que a alternativa mais básica é transferir as porcas das celas para baias coletivas. “Muitos produtores de peso no cenário internacional, e alguns pioneiros no Brasil — como a Granja Miunça — já estão implementando sistemas de alojamento de matrizes suínas em grupo com sucesso, provando ser um sistema totalmente eficiente”, afirma Carolina. “Outros modelos também estão disponíveis, que não só lidam com problemas de bem-estar, mas também promovem benefícios ambientais e de sustentabilidade”, explica Carolina Galvani. São exemplos, o alojamento em grupo com cama alta e o sistema de galpão em arco, que possuem o chão coberto com palha, maravalha, areia ou grama, que permitem a ventilação natural e o alojamento de grupos em áreas maiores; e o sistema em pastagem com pequenos abrigos. Alguns produtores que usam esses sistemas, combinam a produção suína com a criação de outros animais, e até mesmo plantações, diversificando a produção e espalhando os animais em uma área maior, o que reduz a car-
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Confinamento em gaiolas em bateria convencionais é proibido em toda a União Europeia ga ambiental da produção concentrada e traz vantagens para comunidades rurais e qualidade de vida para os produtores. Treinamento de abate humanitário
Manejo adequado O manejo dos animais também merece atenção. Suínos e bovinos, por exemplo, podem ser humanitariamente manejados. Ao invés do tradicional bastão, os animais podem ser conduzidos por placas e bandeiras, reduzindo o estresse. Sistemas de nebulização também diminuem o desgaste psicológico dos animais. Eles consistem na pulverização de finas partículas de água sobre os animais, promovendo um conforto térmico para os animais.
Método elétrico: utiliza corrente elétrica. Pode ser realizado individualmente, com a colocação de eletrodos, ou em grupo, no caso de imersão das aves.
Carolina também recomenda o cuidado no transporte “o ideal é evitar o estresse já no transporte, sempre que possível, criar os animais no mesmo local ou bem próximo ao lugar de abate.”
Avanços pelo mundo
Atmosfera controlada: utiliza gases como o dióxido de carbono e mistura de gases atmosféricos, em que os animais ficam expostos até que alcancem estado de inconsciência. Galvani alerta sobre os cuidados pré-abate. “Não envie animais para o abate se os mesmos não estiverem saudáveis e aptos para o transporte. Em alguns casos, pode ser necessário o abate emergencial na própria fazenda”.
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O confinamento em gaiolas em bateria convencionais é proibido em toda a União Europeia, em diversos Estados americanos, no Butão e na capital da Austrália.
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A Unilever, fabricante da maionese Hellmann’s, anunciou que não usará mais ovos produzidos em gaiolas a partir de 2020, em todo o mundo, incluindo o Brasil.
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Starbucks, Burger King e Subway já estão usando ovos produzidos sem gaiolas em suas operações na Europa e nos EUA.
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Desde 2012, mais de 60 grandes empresas alimentícias comprometeram-se a não comprar mais carne suína produzida com o uso de celas de gestação.
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Grandes produtores mundiais, como Smithfield Foods, Cargill, Hormel e Tyson anunciaram planos de abandonar o confinamento de suínos em gaiolas.
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Na Nova Zelândia e Austrália, o confinamento de matrizes em gaiolas será descontinuado em 2015 e 2017, respectivamente.
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No início de março, o Canadá também anunciou que irá proibir a prática em todo o país.
Abate humanitário Um dos requisitos básicos para o abate humanitário, é a insensibilização do animal, através de procedimentos que induzem imediatamente à perda de consciência e sensibilidade, impedindo que o animal sinta qualquer tipo de dor até a sua morte. De acordo com a legislação brasileira, a insensibilização pode ser feita de três maneiras: Método mecânico: pistola de dardo cativo, em que o dardo penetra o córtex cerebral do animal, ou pistola que provoque um golpe no crânio. Método mais indicado para bovinos.
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Korin - divulgação
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Casos de sucesso Q
uando se fala em bem-estar animal no Brasil, a Korin Agropecuária é a principal referência. Uma das maiores fabricantes de produtos naturais e orgânicos do país, a empresa foi a primeira, em território nacional, a receber o selo Certified Humane. Reginaldo Morikawa, diretor superintendente da Korin, conta que a conquista do selo não foi muito difícil, já que a produção de animais da Korin seguia os preceitos da filosofia de Mokiti Okada, filósofo e espiritualista japonês. “De acordo com a filosofia, de Okada, os animais têm espírito, assim como as plantas e o solo, sendo assim, jamais devem ser maltratados. Com base nesse princípio, cumpríamos, praticamente, todas as normas exigidas para obtenção do selo”.
Cuidados na produção
Morikawa afirma que, diferentemente da produção convencional, as aves não sofrem a debicagem (procedimento de retirada da extremidade do bico), e não recebem antibióticos. “A saúde dos animais é conseguida através de probióticos, óleos naturais, e uma alimentação rica”.
Manejo dos animais
Aurora - divulgação
Anualmente, a Korin produz perto de 9,8 mil toneladas de carne de frango e 10,8 milhões de ovos livres de antibióticos. Morikawa explica alguns cuidados na criação das aves: “Os galpões, onde as galinhas são criadas, têm ambiência controlada e ventilação adequada, além disso, o número de aves por metro quadrado é menor. Na produção orgânica, além do galpão, as aves têm acesso a uma área externa para pastejo e banho de sol. Já no caso das galinhas poedeiras, elas ficam no chão, podendo botar seus ovos em ninhos e expressar seu comportamento natural”.
“Nós realizamos a apanha noturna, que acaba sendo mais cara, por conta do adicional noturno que pagamos aos funcionários”, explica Morikawa, “ao invés de levarmos as aves pelas pernas até o caminhão, colocamos canos de PVC, para que as caixas cheguem até onde os frangos estão. Eles são carregados pelo dorso, e colocados um por um nas caixas, em densidade menor que no sistema convencional”. Depois de colocadas no caminhão, uma cobertura impede que aves consigam visualizar o local do abate. A sala do abate também é escura, para que os animais fiquem calmos.
Reginaldo conta que, em 2010, eles fizeram uma pesquisa perguntando para clientes de um supermercado se eles pagariam mais por um produto que tivesse o selo de bem-estar animal. Na ocasião, apenas 30% dos que responderam a pesquisa estavam dispostos a pagar mais por uma carne certificada. “Em seguida, instalamos uma televisão, e mostramos, aos 70% que não pagariam a mais, um vídeo sobre os maus tratos sofridos por animais de produção, e refizemos a pergunta. O resultado: 100% do grupo dos 70%, a partir daquele momento, disseram que iriam dar preferência a carne que apresentasse o selo de bem-estar animal. Isso é a prova de que falta informação ao consumidor”, conclui Morikawa. 24
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Marfrig - divulgação
Consciência do consumidor
Reconhecimento Elaborado pela WSPA e pela Compassion in World Farming, organizações não governamentais em defesa dos animais, o relatório The Business Benchmark on Farm Animal Welfare 2013 analisou 70 grandes empresas alimentícias ao redor do mundo, com o objetivo de avaliar políticas internas em prol do bem-estar animal. Delas, a única empresa brasileira a participar da pesquisa foi a Marfrig, empresa de processamento de alimentos. E não fez feio, foi reconhecida como empresa completa em relação ao bem-estar animal. Na pesquisa, as empresas, depois de avaliadas, foram distribuídas em seis grupos, de acordo com o nível de comprometimento delas com o bem-estar animal. No ranking final, a Marfrig ficou em segundo lugar, ao lado de outras quatro empresas, e abaixo de apenas duas, consideradas líderes. Há dez anos, a Marfrig possui um setor específico de bem-estar animal, coordenado por Stavros Tseimazides. Ele conta que “é crescente a demanda de clientes querendo saber mais sobre o assunto e as práticas que as empresas têm tomado para minimizar o estresse dos animais’.
Respeito animal Stavros diz que “dentre as certificações que a Marfrig possui, é a única empresa de alimentos certificada como “Rainforest Alliance”, que dentre outros pontos, preconizam o bem-estar animal”. Além da Marfrig seguir as normas do serviço de Inspeção Federal, que garante a o bem-estar dos animais durante o abate, a empresa possui um programa de que oferece bonificações aos fornecedores que adotam práticas de bem-estar animal, o Marfrig Club. “De pecuaristas a caminhoneiros, todos são treinados e incentivados a seguir boas práticas que garantem o bem-estar”, afirma Stavros.
Lucratividade Cinco bilhões e 700 milhões de reais. Essa foi a receita da Aurora, uma das maiores indústrias de alimentos do Brasil, no ano passado. A empresa é um exemplo de que o respeito ao bem-estar animal e a adoção de práticas de abate humanitário podem gerar lucro. “Há mais de 10 anos a Aurora tem se preocupado com bem-estar animal, ao que chamamos de ‘qualidade ética da carne’”, afirma Eliana Renuncio, médica veterinária e assessora técnica da empresa. Ela conta que, nos últimos seis anos, a empresa vem investindo fortemente em adaptações físicas, seja em veículos de transporte, plantas frigoríficas e, até mesmo, em propriedades rurais, com o objetivo de minimizar o impacto do manejo nos animais. “Temos implementado treinamentos de toda a cadeia produtiva, englobando produtores, técnicos, transportadores e funcionários de frigoríficos” acrescenta Eliana.
Qualidade ética
Cuidado total com os animais é o foco da Korin, Aurora e Marfrig também se destacam em práticas de bem-estar animal
Em 2013, três milhões e meio de suínos e 187 milhões de aves foram abatidos nas instalações da Aurora. Todos de acordo com as normas de abate humanitário. “As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a qualidade ética dos alimentos que consomem”, explica Eliana, “as redes sociais têm democratizado o conhecimento em todas as áreas, não seria diferente com as informações sobre o processo de obtenção da carne, o que faz com que a empresa trabalhe com um conjunto de ações e com parceiros reconhecidos nesta área de atuação” afirma Eliana. Ente os parceiros estão a WSPA e a Embrapa, que oferecem treinamentos para os funcionários da Aurora. Quando se fala em oportunidades para a empresa que adota práticas de bem-estar animal, Eliana destaca: “Sem dúvida, a primeira oportunidade é o fornecimento de um produto que tenda as expectativas do consumidor em relação à qualidade ética do produto que ele está comprando. Além disso, “segurança dos trabalhadores e animais, facilitação do manejo, qualidade da carne e da carcaça, aumento da produtividade e lucratividade, são alguns dos benefícios”. A Lavoura - Nº 701/2014
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EPAGRI
Produtos da estação chegam ao consumidor a preços 50% mais baixos
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Mais frescos, baratos e saudáveis
Alimentos em plena safra enriquecem o cardápio
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rutas, legumes e verduras da estação são ingredientes ideais para uma nutrição equilibrada e saudável. Conhecendo o ritmo da natureza, é possível colocar na mesa produtos frescos e de qualidade e até economizar na alimentação da família. “As frutas e hortaliças colhidas de acordo com seu estado natural de reprodução tendem a estar no melhor potencial de nutrição e vitalidade, ou seja, concentram mais vitaminas e sais minerais, sabor, aroma e sumos naturais”, diz a nutricionista Lilian Castelani, extensionista da Epagri/Escritório Municipal de São Carlos. Lilian explica que, quando produzidos fora de época, alguns alimentos podem receber doses maiores de fertilizantes e agrotóxicos. “Mas isso não é regra, pois já existem variedades que produzem o ano inteiro.”
Armazenagem Outro fator que interfere nesses alimentos é a armazenagem. “Nesse período, algumas mudanças podem ocorrer nos frutos, desde a diminuição de água e sabor até a redução de nutrientes”, explica. Aproveitar a época da colheita também significa economizar. De acordo com dados das Centrais de Abastecimento (Ceasa), em safras boas, dependendo da região, os produtos da estação chegam ao consumidor cerca de 50% mais baratos do que em outras épocas. “O produto da safra, principalmente aquele produzido na região, tende a ter preço bem menor, também porque não foi transportado e não sofreu perdas no caminho”, diz a nutricionista.
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Luiz Moraes/ASN
Frutas e hortaliças da estação estão no seu melhor potencial nutritivo
É importante manter a variedade de frutas e hortaliças nas refeições diárias
Se consumir os alimentos da estação faz bem, melhor ainda é colhê-los em casa. Plantar espécies frutíferas e construir hortas nas propriedades ou até mesmo em áreas urbanas é uma alternativa barata e saudável que garante qualidade de vida em todas as estações. Em Santa Catarina, a Epagri incentiva práticas como essa no meio rural para melhorar a alimentação dos agricultores. A dica é avaliar o espaço e selecionar as culturas de acordo com o gosto da família. “No caso das frutíferas, escolha as que melhor se adaptem à região e frutas versáteis que podem ser consumidas cruas e também em sucos e geleias, para que sejam bem aproveitadas. Para a horta, as folhas verdes são as mais recomendadas, pois são de cultivo rápido e fácil e podem acompanhar qualquer refeição”, aconselha Lilian. Ervas e temperos como salsa, manjericão, hortelã, poejo, manjerona e orégano incrementam a horta e dão sabor e frescor às refeições.
Cardápio balanceado Com os alimentos que a natureza oferece em cada época, é possível montar um cardápio balanceado — basta usar a criatividade. “O importante é manter a variedade de frutas e hortaliças nas refeições diárias, o que garantirá o aporte de vitaminas e minerais necessários para toda a família”, orienta Lilian. Cinthia Andruchak Freitas
Epagri
O consumo de hortifrutigranjeiros frescos é muito benéfico para a saúde
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Cristina Baran
No quintal
DOSE: 5 ML
TEMPERATURA DE CONSERVAÇÃO DA VACINA: 2ºC A 8ºC
ANIMAIS: BOVINOS E BUBALINOS
LOCAL DE APLICAÇÃO: TÁBUA DO PESCOÇO
DECLARAÇÃO DA VACINAÇÃO: PROCURE O SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL DE SEU ESTADO.
CONFIRA O CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO EM SEU ESTADO. EM CASO DE DÚVIDA OU SUSPEITA DE FEBRE AFTOSA, PROCURE O SERVIÇO VETERINÁRIO OFICIAL. PARA SABER MAIS: ACESSE WWW.AGRICULTURA.GOV.BR OU LIGUE 0800 704 1995 APOIO:
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capacitação
Produtores querem expandir o mercado do Queijo Canastra Ações apoiadas pelo Sebrae Minas visam agregar valor ao produto e aumentar a comercialização em Minas Gerais
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ombado como Patrimônio Cultural e Imaterial Brasileiro, o Queijo Canastra completa em abril dois anos de certificação com Indicação Geográfica (IG) na modalidade de procedência. Para valorizar ainda mais o queijo produzido na Serra da Canastra, o Sebrae Minas promove uma série de ações para aumentar o valor agregado do produto e ampliar o mercado. No final de março, donos de restaurantes, lanchonetes e lojas de produtos artesanais de Belo Horizonte participaram de uma visita técnica para conhecer o processo produtivo do queijo e negociar com os produtores da região. Os compradores conheceram a produção e degustaram os queijos feitos por cerca de 20 produtores apoiados pelo Sebrae Minas. O objetivo da iniciativa é criar um diferencial de mercado para o produto e aumentar a comercialização em Minas Gerais. “Queremos que o queijo canastra seja reconhecido como um produto especial, com sua identidade e origem protegidas e deixe de ser comercializado como commodity”, afirma o analista da Unidade de Agronegócios do Sebrae Minas, Ricardo Boscaro.
Procedência A produção do queijo nas propriedades rurais é toda artesanal. A altitude e o clima são determinantes para as características do produto e contribuem para definir o terroir, a exemplo dos melhores queijos franceses e italianos. Aliás, esses são alguns dos requisitos para a denominação do Queijo Canastra, de acordo com o INPI. Para colocar em prática esses critérios, o Sebrae Minas também está trabalhando em parceria com os produtores. A ideia é estruturar e capacitar o conselho regulador para fiscalizar a produção, regulamentação Queijo Canastra "curado", mais valor agregado
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Arquivo IMA
As ações do Sebrae Minas começaram em 2013. Os produtores foram orientados sobre a importância do trabalho em grupo, o fortalecimento da associação dos produtores, a revisão do regulamento de uso da Indicação de Procedência e a análise do mercado. Um diagnóstico está sendo feito sobre a produção, distribuição e mercado do queijo produzido na região. Esse levantamento irá nortear outras ações do Sebrae para expansão de mercado e melhoria na gestão dos negócios.
do produto e registro de controle que, futuramente, será feito por meio de um selo de procedência. Com a Indicação de Procedência (IP), registro concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), a região que abrange as cidades de São Roque de Minas, Medeiros, Vargem Bonita, Tapiraí, Bambui, Delfinópolis e Pium-í, passou a ser reconhecida como a única produtora de Queijo Canastra do país. A região concentra hoje cerca de mil pequenos produtores que, juntos, fazem por ano mais de 4 mil toneladas do produto. Para produzir um quilo de Queijo Canastra são necessários de 10 a 12 litros de leite, coalho e fermento lácteo natural, tirados do próprio soro. Após ser produzido, o queijo é colocado no processo de maturação por, no mínimo, 22 dias, para o queijo “curar”, melhorando a qualidade e agregando valor ao produto.
manejo
Boas práticas de vacinação Daniela Miyasaka, médica veterinária Marcus Rezende, médico veterinário
Divulgação Ourofino Saúde Animal
Depto. Técnico Ourofino Saúde Animal
Vacinação adequada, sob orientação de um médico veterinário, é sinônimo de saúde para o rebanho e lucro para o produtor
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manejo
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Principais doenças
rebanho bovino brasileiro é destaque no cenário mundial e, por isso, é muito importante mantê-lo livre de doenças. Para garantir plena saúde, medidas sanitárias são importantes, dentre elas, a vacinação. No Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) preconiza a vacinação obrigatória para algumas doenças, como febre aftosa, raiva e brucelose. A vacinação contra clostridioses, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarreia viral bovina (BVD), leptospiroses, entre outras, previne prejuízos ao pecuarista. O bom resultado vacinal depende da qualidade da vacina, da resposta imune do animal e do processo de vacinação, que deve ser feito corretamente. Por isso, os pecuaristas precisam sempre consultar um médico veterinário. A dose, via de aplicação, e o programa de vacinação, devem ser respeitados. É muito importante a aquisição de vacinas de fabricantes confiáveis. O processo de vacinação precisa ser conduzido de maneira tranquila, de preferência nos horários mais frescos do dia. Animais doentes, estressados e debilitados não devem ser vacinados.
Manipulação da vacina A vacina deve ser mantida em geladeira. A melhor temperatura de conservação está entre 20 e 80 C. Durante o processo de vacinação, as vacinas ainda devem estar refrigeradas. Pode-se utilizar caixa de isopor com gelo, por exemplo, durante o manejo. Mas lembre-se, nunca guardar os frascos no congelador. O frasco da vacina precisa ser agitado antes de seu uso. É importante que se utilize todo o conteúdo, já que não é aconselhável guardar frascos abertos. As seringas e agulhas utilizadas necessitam estar sempre limpas e esterilizadas. Tenha cuidado com a contaminação de todo o material, para evitar abscessos nos animais vacinados. Durante a vacinação, é recomendado sempre trocar de agulha. As agulhas com ponta romba, com sujidades, contaminantes, ou que tenham caído no chão, devem ser substituídas. Em animais vacinados pela primeira vez, a dose reforço é muito importante para a obtenção de níveis ótimos de proteção (anticorpos). Para que o animal produza os anticorpos necessários à sua proteção, é imprescindível que seja vacinado em boas condições de saúde, e que não esteja sob administração de medicamentos imunossupressores, como, por exemplo, os que contêm corticóides. 32
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No Brasil, geralmente os animais são vacinados contra as seguintes enfermidades: Febre aftosa A vacinação contra febre aftosa é obrigatória em todos os Estados brasileiros, exceto Santa Catarina. Todas as vacinas são inativadas e acrescidas de adjuvante oleoso. O calendário é determinado pelo Mapa. Brucelose A vacina contra brucelose é feita em dose única e somente em fêmeas entre três e oito meses de idade, com amostra B19 de Brucellaabortus. A vacinação deve ser feita com orientação de um médico veterinário responsável, de acordo com a legislação vigente. Clostridioses A vacina para prevenção das clostridioses precisa ser aplicada em todos os animais, pois essas enfermidades causam a morte rapidamente e são impossíveis de serem erradicadas, já que os esporos das bactérias estão disseminados no ambiente. Em bezerros filhos de mães vacinadas, a primeira dose é recomendada a partir dos dois meses de idade, com reforço após 30 dias. Caso a mãe não tenha sido vacinada e a região seja de alto desafio, a primeira dose pode ser feita com duas semanas de idade, e o reforço 30 dias depois. Neste caso, é recomendado fazer a revacinação aos seis meses. Recomenda-se revacinar todos os animais anualmente.
A vacinação dos bovinos deve ser associada à imunização dos demais animais da propriedade O processo de vacinação dever ser conduzido de maneira tranquila
A vacinação contra o botulismo é realizada em regiões onde haja sua ocorrência. Geralmente, recomenda-se o uso de duas doses iniciais, com quatro a seis semanas de intervalo, e, a seguir, uma dose anual em todo o rebanho. Leptospirose A primeira dose da vacina contra leptospirose necessita ser aplicada entre quatro a seis meses de idade, com reforço quatro semanas após. Todo o rebanho deve ser vacinado a cada seis meses ou em intervalos menores, a critério do médico veterinário. Raiva bovina A vacinação conta a raiva bovina é feita em regiões onde existem colônias permanentes de morcegos hematófagos (sugadores de sangue). A vacinação se torna obrigatória em 100% dos animais quando aparecem focos esporádicos da doença, em certas regiões. A aplicação da vacina é anual e todo o rebanho deve ser
vacinado, independente de idade. O esquema recomendado são duas doses iniciais, com intervalo de 30 dias e revacinação anual de todos os animais. A vacinação dos bovinos deve ser associada à imunização dos demais animais existentes na propriedade, tais como cães, gatos, equídeos, suínos, caprinos e ovinos. IBR, BVD (Vírus) Recomenda-se a vacinação aos três meses de idade, com reforço após quatro semanas, com revacinação anual em dose única. É importante vacinar os animais em reprodução um mês antes do início da estação de monta. Divulgação Ourofino Saúde Animal
Botulismo
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manejo
O procedimento de vacinação, deve ser planejado com antecedência para evitar falhas no manejo na data programada. Antes da vacinação, é necessário fazer uma inspeção no tronco de contenção para verificar e recolher materiais que possam causar lesões nos animais, como pontas de madeiras e pregos. É importante estabelecer o cronograma para a vacinação e determinar o funcionário responsável pela atividade, desde a separação do gado, até o retorno dos animais ao pasto. Acompanhe as etapas a serem seguidas para realização dos procedimentos de vacinação, de acordo com as boas práticas.
Conferência dos equipamentos Realizar um “checklist” para verificar se todos os equipamentos necessários estão à disposição: •
Material para reposição: vidro e peças para seringa, agulhas, óleo lubrificante.
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Papel-toalha.
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Sabão e escova para limpeza das mãos.
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Lixeira para o descarte de materiais.
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Recipiente (panela) para ferver as pistolas.
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Ebulidor elétrico ou fogareiro.
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Pinça para retirar os materiais fervidos (ideal de madeira).
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Lápis ou caneta e ficha do rebanho para anotar quais vacinas foram aplicadas, qual marca da vacina e a data da vacinação.
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Seringas: estéreis e lubrificadas.
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Seringas adequadas e higienizadas prontas para o uso.
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Caixa térmica (isopor) com tampa para o bom armazenamento das vacinas.
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Gelo limpo e em abundância.
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Vacinas em volume adequado (número de doses).
Montagem da seringa de vacinação e agulhas É importante a desinfecção das seringas e agulhas momentos antes da vacinação. O número de agulhas deve ser suficiente para vacinar o rebanho. É recomendável haver na propriedade caixas de agulhas com tamanhos variados. Coloque todos os componentes da seringa separadamente no recipiente com água e deixe ferver por 15 minutos. Retire o material fervido e coloque sobre uma toalha de 34
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papel. Montar a seringa de acordo com a recomendação do fabricante e lubrificá-la.
Agulhas sugeridas para vacinação Vacinação subcutânea: 10x15 e 15x15 (vacina aquosa); 10x15, 10x18 e 12x18 (vacina oleosa). Intramuscular: 40 x 12. É interessante criar uma rotina para a troca de agulhas, embora o ideal seja uma agulha para cada animal, recomenda-se a troca a cada cinco a 10 animais. Agulhas cegas, tortas ou amassadas deverão ser descartadas. E, após desinfecção, colocar as agulhas sobre o papel-toalha.
Verificação das vacinas e gelo Verificar previamente a quantidade de vacinas que serão necessárias, validade e aspecto das mesmas.
Divulgação Ourofino Saúde Animal
Procedimentos de vacinação
É importante utilizar todo o conteúdo do frasco da vacina
Colocar, na caixa de isopor com tampa, gelo limpo e em quantidade suficiente para manter a temperatura da vacina entre 20 e 80 C, durante todo o procedimento. Leve para o curral todos os equipamentos recomendados no quadro ao lado em vermelho, e a caixa com vacinas e gelo.
Procedimentos pré-vacinação Carregamento da seringa Realizar movimentos circulares e vigorosos, de modo que a vacina seja completamente homogeneizada.
Ao homogeneizar a vacina em movimentos circulares, ao invés de agitar, a formação de bolhas é reduzida. Este processo minimiza a perda do produto e facilita o preenchimento da seringa. Encaixe a agulha na seringa e ajuste o êmbolo. Retire a quantidade necessária da vacina. Preencha toda a seringa (50 ml). Remova possíveis bolhas de ar. É importante utilizar agulha única para encher a seringa; vacine os animais com as outras agulhas, evitando assim a contaminação da vacina. Verifique o ajuste correto da dose, preenchimento da seringa. Contenção do animal Contenha os animais individualmente no tronco de contenção.
Aplicação da vacina O local da aplicação deve ser sempre na tábua do pescoço, evitando outras partes do corpo, como cupim, lombo, dorso e prega da cauda. Para a aplicação subcutânea, a seringa deverá ser posicionada paralelamente ao pescoço do animal. A pele precisa ser puxada, formando uma prega, onde será introduzida a agulha para aplicação da vacina. Depois de aplicada, aguarde um segundo para que não haja refluxo. Para aplicação intramuscular, a seringa deverá ser posicionada perpendicularmente ao pescoço do animal.
Soltura do animal e repetição do processo Observações durante o processo de vacinação: De tempos em tempos, verifique se a caixa de isopor permanece gelada. De cinco a dez animais, troque a agulha. Coloque as agulhas utilizadas no recipiente com água fervendo e retire conforme a necessidade do uso. Ao final da vacinação, observe os animais para identificar possíveis reações adversas.
Após o uso, lavagem e desinfecção da pistola e agulhas Retire a agulha e desmonte cuidadosamente a seringa, colocando as peças em um recipiente com a solução CB-30 TA, 10 ml, diluído em 20 litros de água. Lave todas as peças cuidadosamente com escova e esponjas limpas. Coloque as peças em um recipiente com água e deixe ferver por 15 minutos. Retire todas as peças da água fervente e coloque sobre uma toalha de papel; lembre-se de mantê-las cobertas, enquanto as peças secam. Após todos os procedimentos e pistola completamente seca, monte a seringa e guarde-a frouxa. Lubrifique com óleo específico indicado pelo fabricante. Recomenda-se guardar a seringa lubrificada e lavar antes do uso. Não é indicado fazer a lubrificação antes da vacinação para não correr o risco de o líquido lubrificante se misturar com a vacina. Guardar o equipamento em local limpo, fresco e organizado.
Revisão do processo e anotações gerais Após os procedimentos, deve-se fazer uma revisão e levantamento das melhorias necessárias. Uma vacinação adequada, de acordo com a orientação do médico veterinário e obedecendo as boas práticas, é sinal de saúde do rebanho e a lucratividade do negócio garantida! A Lavoura - Nº 701/2014
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pesquisa
O quanto dói? A
pesar da crescente preocupação nacional e internacional com o bem -estar dos animais, espécies pecuárias ainda são negligenciadas quando o assunto é dor. “A ausência de escalas cientificamente validadas que auxiliem produtores, veterinários e pesquisadores a reconhecer e a mensurar a dor nesses animais, contribui para o tratamento inapropriado ou insuficiente da dor”, afirma Stélio Pacca Loureiro Luna, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista (FMVZ/Unesp) de Botucatu (SP). Luna coordena um Projeto Temático que, desde 2010, busca propor e validar escalas que indiquem se, para determinado quadro clínico, é recomendável ou não aplicar analgésicos. O foco principal é a dor aguda pós-operatória em bovinos, equinos e suínos.
Alterações comportamentais As escalas são criadas a partir da análise de alterações comportamentais relacionadas a fatores como postura, posição da cabeça, locomoção, interação com o
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ambiente, ingestão de alimentos, atenção à ferida cirúrgica, entre outras. Para identificar e analisar as alterações, os pesquisadores gravam vídeos em momentos distintos: antes do procedimento, quando os animais estão sem dor; logo após a cirurgia, quando há um pico de dor; e depois da aplicação de analgésicos, quando se espera que já não haja dor.
Castração “O procedimento que adotamos para as três espécies estudadas foi a castração, por ser relativamente invasi-
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Pesquisadores criam escalas para avaliação da dor em bovinos, equinos e suínos No método mais adequado para castração, o equino deve ser sedado para evitar a dor pós-cirúrgica.
vo, atingir tecidos de alta sensibilidade, gerar uma inflamação grande e estar entre as cirurgias mais realizadas nesses animais”, explicou Luna. A etapa de filmagens, com cerca de 700 horas, já foi concluída. Os vídeos dos suínos, captados a partir de câmeras instaladas nas baias, estão em análise pela FMVZ/Unesp. As imagens dos equinos (também feitas a partir das baias) e dos bovinos (gravadas em pastos, com anteparos separando observador e boi, a fim de que a presença do primeiro não afetasse o comportamento do segundo) já passaram às fases seguintes: validação externa e cálculos estatísticos.
Avaliação da dor A validação do conteúdo, que dará forma às escalas, é feita por especialistas e pesquisadores vinculados a instituições parceiras no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Espanha e em outros países da América do Sul, como Uruguai e Argentina. Cada avaliador recebe trechos de vídeos sem ordem cronológica, ou seja, sem saber se o animal em questão foi filmado antes ou logo após a cirurgia ou, ainda, depois da medicação. Então, assinala, em uma tabela, se recomendaria a aplicação de analgésicos; classifica a dor de acordo com uma escala descritiva simples (sem dor = 0; dor leve = 1; dor moderada = 2, dor intensa =3); e indica quais alterações comportamentais consegue perceber a partir das imagens. Por fim, a equipe da FMVZ/Unesp recebe a devolutiva dos materiais, faz comparações com as suas conclusões iniciais e realiza análises estatísticas para compor escalas validadas em três idiomas (português, inglês e espanhol). São tabelas com a descrição das alterações comportamentais mais relevantes, acompanha-
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“Quando estiverem finalizados, os produtos finais do estudo serão pioneiros para dor aguda em bovinos e suínos, que ainda não contam com escalas validadas nacional ou internacionalmente”, disse o pesquisador. “Entre equinos, até então havia somente uma escala ortopédica, mas nada a respeito de tecidos moles, atingidos, por exemplo, pela castração.”
Novas ferramentas As novas ferramentas serão disponibilizadas gratuitamente no site Animal Pain, no qual a FMVZ/Unesp já publicou uma escala de dor aguda em gatos, resultado de um projeto de pós-doutorado supervisionado por Luna e apoiado pela FAPESP. Dois dos artigos relacionados a esse estudo podem ser lidos no Journal of Feline Medicine and Surgery e BMC Veterinary Research. “Ampliar os conhecimentos sobre a dor, e, assim, aplicar analgésicos com mais propriedade, é importante para o bem-estar dos animais e do ponto de vista prático. Isso porque pode haver ganhos para o produtor, como menor tempo de recuperação pós-operatória e redução de inflamações”, disse Luna.
Anestesia em suínos: só vantagens Ainda no âmbito do Projeto Temático, Luna orientou uma iniciação científica sobre os efeitos da castração de leitões com e sem o uso de anestésico local. A investigação concluiu que o ganho de peso nos animais castrados com anestesia é superior ao dos animais que não recebem anestésicos.
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Acima, gado castrado. No detalhe: bovino passa pelo procedimento cirúrgico
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das de vídeos e classificadas com notas que, somadas, resultam em um escore total. “A partir de um terço da pontuação máxima, por meio de cálculos matemáticos, considera-se que o animal é meritório de receber analgésicos”, afirmou Luna.
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pesquisa
“Em termos financeiros, há um ganho significativo para propriedades com milhares de animais. O procedimento cirúrgico fica um minuto mais lento, mas a relação custo-benefício é promissora. Sem contar que a medida colabora com o bem-estar animal e agrega valor ao produto perante o mercado consumidor”, disse Luna. A partir de tal comprovação, os pesquisadores esperam inspirar o uso de anestésicos em suínos durante outros procedimentos que, em geral, são feitos sem anestesia, como o corte da cauda e a extração de dentes.
Dor crônica em cães Por meio de um projeto de pós-doutorado, a equipe de Luna também busca estabelecer correlações entre o Índice de Dor Crônica de Helsinki (IDCH) — criado pela Universidade de Helsinque, na Finlândia, para avaliar a dor em cães — e experimentos realizados na própria FMVZ/Unesp. “Esse tipo de escala, referente a problemas crônicos, é feita a partir de relatos dos proprietários de cães, que, por conviverem diretamente com os animais, podem opinar sobre o humor, a disposição para brincar, entre outros fatores. Buscamos incorporar elementos mais objetivos a esse tipo de ferramenta, usando a análise de movimento (cinética) dos animais e plataforma de pressão (baropodometria)”, afirma Luna.
Osmar Dalla Costa/Embrapa Suínos e Aves
Para tanto, foram observados animais com displasia coxofemoral (um problema no assentamento da articulação entre o fêmur e a coxa), enquanto caminhavam sobre a plataforma de pressão. Os pesquisadores coletaram dados sobre a movimentação, a angulação das patas, a pressão exercida sobre o dispositivo e a distribuição do peso em cada membro. “Pretendemos correlacionar as medidas objetivas da locomoção com o IDCH a fim de aprimorar a mensuração da dor e indicar possíveis tratamentos”, disse Luna.
Estímulos nociceptivos em equinos Dois outros projetos, ambos de doutorado, estão vinculados ao Temático e interligados: uma tese busca padronizar e validar diferentes métodos de nocicepção — estímulos térmicos, mecânicos e elétricos capazes de provocar certo desconforto — em equinos e um segundo projeto visa avaliar o efeito de diferentes vias de administração de analgésicos, também em cavalos. “O objetivo é conhecer a eficácia e a duração de analgésicos frente aos estímulos que provocamos – primeiramente testados em nós mesmos, como forma de assegurar que não causam lesões, apenas incômodos”, explica Luna. Para tanto, animais saudáveis e conscientes recebem analgesia. Em seguida, são estimulados termicamente (com sensores que esquentam via controle remoto), mecanicamente (com
Curiosidade Pesquisa concluiu que o ganho de peso nos animais castrados com anestesia é superior ao dos animais que não recebem anestésicos
Leitões, em geral, têm suas caudas cortadas sem anestesia
um dispositivo semelhante ao que mede a pressão arterial em humanos) ou eletricamente (por meio de pequenos choques). “Se há desconforto, o animal levanta a pata, quando então interrompemos o estímulo. Assim, conseguimos avaliar se o analgésico faz efeito, se influencia no limiar do incômodo — em vez de o cavalo puxar a pata quando o sensor acusa 45 graus Celsius, ele o faz a 48 graus Celsius, por exemplo — e por quanto tempo a medicação faz efeito”, completa o professor da FMVZ/Unesp. Noêmia Lopes
Agência FAPESP
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Couro acabado do Vale do Sinos
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Único no mundo
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Diferentemente de outras Indicações Geográficas que têm o ambiente como grande diferencial, neste caso, o conhecimento instalado no Vale do Sinos — da arte de trabalhar o couro — é que fez a diferença e transformou a região em referência internacional na produção de couro acabado
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Colonização alemã A produção de couro acabado do Vale do Sinos tem suas origens na imigração alemã, iniciada em 1824, no Rio Grande do Sul. O contingente de imigrantes era composto, em sua maioria,
Sebrae
couro acabado do Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, é a primeira Indicação Geográfica-IG de um produto industrial brasileiro e o único couro certificado no mundo. A certificação abrange 44 municípios da região, que obedecem à uma produção industrial altamente controlada. As normas rígidas visam à qualidade e incluem, desde o recebimento da matéria-prima, até o produto final. Os vários tipos de couro produzidos e acabados do Vale do Sinos são utilizados para a confecção de calçados, vestuário, estofamentos etc.
junto ao MAPA flexibilizar um pouco as regras a fim de facilitar a entrada de outras, entre as 100 empresas estimadas na região, mas com cuidado para não prejudicar os pioneiros nesse processo, que tanto lutaram por esse diferencial”, diz Moacir Berger. Segundo ele, pesquisas recentes de mercado revelaram que o consumidor ainda não sabe o que é uma IG, nem mesmo seu valor, o que demonstra a necessidade de mais divulgação.
O couro certificado gera emprego e renda, atendendo às mais exigentes indústrias de calçados
A regulamentação da produção passa a ter referências em normas técnicas nacionais e internacionais, que protegem o produto nos mercados interno e externo, e seguem rígidos padrões de controle ambiental. Regras que também otimizam os processos de produção das indústrias, gerando ganhos e promovendo qualidade. Sete empresas, que geram 550 empregos diretos, estão autorizadas a exportarem o couro com IG.
Flexibilização Segundo o presidente da Associação das Indústrias de Couro do Rio Grande do Sul (Aicsul), Moacir Berger de Souza, as regras rígidas têm impedido o crescimento da certificação no Vale do Sinos. “Estamos tentando
Procedência Registro IG 200702 INPI Indicação de Procedência/2009 Área Geográfica Delimitada: 1.398 km² (44 municípios da região metropolitana de Porto Alegre-RS)
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Couro acabado do Vale do Sinos
Vale do Sinos: produção de couro iniciou-se com a chegada dos imigrantes alemães em 1824
por artífices — alfaiates, tecelões, sapateiros, seleiros, curtidores de couro, marceneiros e carpinteiros. Aliado a isso, o Rio Grande do Sul possuía, então, o maior rebanho bovino do país.
INPI
A indústria de elaboração de couros e peles bovinas agrega aproximadamente 800 empresas, que processam cerca de 40 milhões de peles por ano
No Brasil, 40 milhões de peles são processadas por ano
A demanda de mercado, impulsionada pelas guerras do século XIX e pela instalação da indústria calçadista no século XX, levou ao aperfeiçoamento da atividade produtora de insumos: a indústria de curtumes. Essa mão de obra qualificada foi fundamental para a consolidação da atividade coureira na região, uma IG baseada na arte do saber fazer. O Brasil é um dos maiores fabricantes de couro do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia. A indústria de elaboração de couros e peles bovinas agrega aproximadamente 800 empresas, que processam cerca de 40 milhões de peles por ano. O setor coureiro riograndense é composto por mais de 100 indústrias, que geram 13,7 mil empregos diretos. Em 2013, faturaram, juntas, US$ 1,2 bilhão com a venda de insumos para a indústria moveleira, automotiva, vestuário, artefatos e calçados, entre outras.
Informações Aicsul (Associação das Indústrias de Couro do Rio Grande do Sul) Tel.: (51) 3273-9100 www.aicsul.com.br 42 42 • • AALavoura Lavoura- -Nº Nº701/2014 701/2014
Autoridades prestigiam posse do novo presidente da Rural Comunicação SRB
por Ronaldo Luiz Governador Alckmin, senador Suplicy, o ex-presidente FHC, bem como o exgovernador Serra, o ex-prefeito Kassab e o pré-candidato ao governo de SP, Alexandre Padilha estiveram presentes, além de deputados, lideranças setoriais e empresariais do País
mas. O agronegócio brasileiro, disse, é um grande produto de inovação, onde realmente somos competitivos. “O produtor rural é um verdadeiro empresário do campo, e seja ele pequeno, médio ou grande, é o principal fator de sucesso do agronegócio.”
Autoridades prestigiaram a cerimônia de posse do novo presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, em São Paulo. Estiveram presentes o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin; o senador Eduardo Suplicy; o ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso; a secretária da Agricultura de São Paulo, Mônika Bergamaschi. O ex-prefeito da cidade São Paulo, Gilberto Kassab; o exgovernador, José Serra; e o pré-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha também marcaram presença.
Contudo, ponderou, para continuar em sua missão, o produtor precisa de Gustavo Diniz Junqueira, novo presidente previsibilidade, segurança jurídica, tecda Sociedade Rural Brasileira. nologia, infraestrutura logística, seguro, gestão e acesso a mercados. “O aumento de custos e o estrangulamento da renda do produtor tem que ser uma preocupação de toda a sociedade”, alertou. Gustavo Junqueira chamou a atenção para o fato de que independentemente de quem seja o futuro presidente da República, do Senado, da Câmara, do Supremo Tribunal Federal, o agronegócio tem que ser compreendido como essencial para o País.
Em seu pronunciamento, o novo presidente da entidade, acentuou que o Brasil tem que fazer escolhas e refor-
“Promover o agronegócio é uma questão de segurança nacional, e o setor tem que estar no centro do planejamento estratégico e do processo decisório do Brasil”, frisou. Ao finalizar, Gustavo Junqueira salientou que a Rural vai continuar a exercer a cidadania de cobrar do poder público as políticas certas para o desenvolvimento do País. Veja cobertura completa da posse no site da Rural: http://bit.ly/1dmoGr4
Planejamento e integração são essenciais para o agro, diz Rural no GAF Comunicação SRB
rentes elos da cadeia. Essa foi a principal mensagem do presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Gustavo Diniz Junqueira, em seu discurso no Global Agribusiness Forum – GAF 14, em São Paulo. Junqueira lembrou que atualmente apenas 15% da população brasileira está no campo e que, apesar disso, o gasto das famílias com alimentação está em torno de 15% do orçamento. “O agronegócio contribuiu para o aumento do poder aquisitivo da população. Não precisamos aumentar o preço real dos alimentos porque mesmo após enormes avanços, ainda há um enorme potencial de ganhos de eficiência na cadeia produtiva.” Gustavo Junqueira, da Rural, e Plinio Nastari, da Datagro, durante o GAF 14.
Presidente Gustavo Diniz Junqueira defendeu que é necessária uma maior integração da cadeia produtiva, desde a produção, passando por tecnologia, indústria chegando ao comércio e serviços. Planejar a produção rural e promover uma maior integração entre os dife-
Ele defendeu que é necessária uma maior integração da cadeia produtiva, desde a produção, passando por tecnologia, indústria chegando ao comércio e serviços. De acordo com o presidente da SRB, cada elo da cadeia deve ser produtivo, rentável e sustentável. Leia o discurso de Gustavo Diniz Junqueira no GAF 14: http://bit.ly/1gG3v9a Sociedade Rural Brasileira Rua Formosa, 367 - 19º andar - Anhangabaú - Centro CEP: 01409-000 - São Paulo - SP Tel: (11) 3123-0666 . Fax: (11) 3223-1780 . www.srb.org.br Jornalista responsável: Renato Ponzio Scardoelli
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INSTALAÇÕES RURAIS
Sem estresse,
sem prejuízo De novidade à regra, currais anti-estresse tornam-se indispensáveis para o produtor que deseja se manter competitivo no mercado brasileiro e internacional.
"O
respeito animal é uma demanda crescente da sociedade e tem pressionado o produtor no sentido de adequar-se à esta nova exigência de mercado”, afirma Pedro Paulo Pires, médico veterinário e pesquisador da Em-
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brapa Gado de Corte. A nova realidade de comércio exige que o bovinocultor adote práticas de bem-estar animal, e uma delas é a implementação do curral anti-estresse. Vicente Panucci, proprietário da Panucci Currais, explica que as principais características deste curral são o seu formato curvo e a seringa fechada nas laterais. Segundo ele, “são elementos
Panucci Currais/Divulgação
que impedem o animal de ver o ambiente externo, e não saiba para onde está indo. Este modelo de curral diminui bastante a ansiedade, evita aglomerações e a necessidade de gritos, ou do uso do bastão, que pode ocasionar lesões no animal”. Panucci revela que, atualmente, o curral anti-estresse é responsável por 90% do total do faturamento da empresa.
Manejo racional A proposta do curral é realizar um manejo racional. “Se antes era ‘na base da paulada’ e dos gritos, a ideia agora é substituir essas antigas e inadequadas práticas pelo manejo calmo. Além disso, as instalações precisam oferecer aos animais, sombra, água, e repartições maiores”, ensina Pedro Paulo. Também no ramo da construção de currais, Ildomar Ribeiro, à frente da Execução Currais, empresa que se dedica exclusivamente à construção de currais anti-estresse, explica que, “todo o projeto do curral é baseado no respeito ao comportamento natural do animal. O bovino, quando solto, realiza a pastagem em círculos, e não em linha reta, assim, o formato curvo é o ideal”.
Menos tempo O formato curvo, o coletivo, o embarcador e a seringa fechados, demandam menos mão de obra e menor tempo no manejo dos animais. “A seringa fechada impede a distração do animal, desse modo, ele atenderá prontamente ao comando. A tendência é que ele caminhe mais tranquilamente, sendo conduzido com mais facilidade e rapidez, e sem necessidade de ser tocado”, afirma Ribeiro. Vista aérea do curral antiestresse
Panucci explica que, “em comparação ao curral convencional, o anti-estresse necessita menos mão de obra e o tempo de embarque desses animais é reduzido”. Mas, ressalta: “é preciso que os profissionais sejam treinados e capacitados para a manobra do rebanho, para que haja maior segurança na lida e garanta, de fato, o manejo gentil dos animais”.
Menos prejuízo
O curral anti-estresse necessita menos mão-deobra e menos tempo para embarque dos animais
A perda de peso está entre as principais consequências de um manejo inadequado. “O estresse é emagrecedor”, diz o médico veterinário, Pedro Paulo. Ele não está só. Panucci lembra pesquisas que apontam que um animal pode perder até uma arroba ao ser posto em um curral com instalações inadequadas, e faz um cálculo: “o preço médio de um curral anti-estresse fabricado por nós, é de R$ 120 mil. Se pensarmos em uma entrega de 500 cabeças/ano, a R$ 90 a arroba, em dois anos e meio as perdas podem chegar a mais de R$ 112 mil”. Ou seja, recupera-se 80% do investimento, considerando apenas as perdas no peso do bovino.
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O embarcador fechado evita a distração do animal
anti-estresse também evitam o uso de materiais cortantes e perfurantes, tais como arame farpado, pregos e saliências. Possuem também pisos antiderrapantes, que evitam contusões e fraturas. “Se um animal bate em um parafuso saliente, irá fazer um hematoma na carcaça. No momento da venda dessa carne, o pedaço com o hematoma será descartado. Imagine o prejuízo para o produtor em perder meio quilo em cada parafuso”, alerta o pesquisador da Embrapa.
Execução Currais/Divulgação
Execução Currais/Divulgação
INSTALAÇÕES RURAIS
Piso anti derrapante diminui o risco de contusões
Porém, outros riscos estão envolvidos em instalações rurais que não pensam no bem estar-animal. Currais
Pedro Paulo Pires é enfático sobre a necessidade de adoção de melhores práticas no manejo animal. “O mercado está exigindo. A carne que apresenta o selo BPA, por exemplo, é melhor aceita pelo consumidor ‘verde’. O aumento de produtores que se interessam pelo bem estar-animal está de acordo com o crescimento no número de consumidores preocupados com a questão”, frisa o veterinário.
Execução Currais/Divulgação
Panucci Currais/Divulgação
Exigência de mercado
Pedro Pires se refere ao selo de Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de Corte (BPA), desenvolvido pela Embrapa, em parceria com outras entidades. Produtos de origem animal, que possuem este selo, cumpriram uma série de normas e de procedimentos que, além de tornarem os sistemas de produção mais rentáveis e competiti-
Mulher autista que revolucionou a produção animal Nascida em 1947, a americana Temple Grandin, doutora em Zootecnia, revolucionou a indústria mundial de produção de animais, com a criação de currais anti-estresse, e outras técnicas de bem-estar animal. Mais de 50% dos matadouros e criadores de gado americanos, incluindo os fornecedores da rede de fast food Mc Donald’s, utilizam os métodos e designs que ela criou. Diagnosticada com autismo, ainda na infância, quando adolescente criou a "máquina do abraço", uma engenhoca capaz de lhe pressionar como se estivesse sendo abraçada, o que a acalmava, assim como a outras pessoas com autismo. A partir daí, pensou em métodos capazes de acalmar os animais durante o pré-abate. Um deles foi o curral circular, em formato curvo. 46
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Execução Currais/Divulgação
Execução Currais/Divulgação
A perda de peso está entre as principais consequências de um manejo inadequado
O formato curvo facilita o manejo de bovinos, respeitando seu comportamento natural de pastar em círculos
Em 2010, foi eleita pela revista norte-americana Time com uma das 100 pessoas mais influentes do mundo, na categoria Heróis. No mesmo ano, teve sua vida contada no cinema, pelo filme Temple Grandin, vencedor de um Globo de Ouro e cinco Emmys, o maior prêmio da televisão mundial. Aos 66 anos, Grandin já publicou diversos livros sobre autismo e bem-estar animal, e continua dando palestras e viajando o mundo todo, prestando consultoria sobre as boas práticas de manejo pecuário.
vos, garantem também a oferta de alimentos seguros, oriundos de sistemas de produção sustentáveis, entre eles, o curral anti-estresse. “Não há como voltar atrás. O curral anti-estresse não é mais novidade, se tornou uma necessidade”, também decreta Ildomar Ribeiro. “Do comprador para o fornecedor, os mercados interno e externo exigem o manejo racional. Está virando regra: a fazenda que adota esse modelo se manterá competitiva”, assegura.
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Características do curral adequado, segundo as normas da BPA tas de pregos, parafusos ou ferragens, que possam provocar lesões nos animais.
Cercas •
Devem ser, preferencialmente, de arame liso com balancins, pois as de arame farpado podem provocar riscos e furos no couro do animal.
Pisos: •
Lascas e moirões não podem possuir saliências, farpas, pregos ou parafusos que possam ferir os animais.
É fundamental que sejam regulares e antiderrapantes, para prevenir a queda dos animais;
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As cercas eletrificadas precisam estar com a voltagem adequada, aterramento e isolamento seguros, a fim de evitar descargas elétricas.
A utilização de balança eletrônica, ou mecânica, é necessária para monitoramento do desenvolvimento ponderal dos animais;
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A construção do embarcadouro deve ser planejada de forma a facilitar a entrada dos animais no caminhão;
Corredores
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Para facilitar a condução dos animais, a propriedade necessita ter corredores para condução ao curral ou mudança de pasto. É preciso tomar precauções quanto às cercas dos corredores, conforme recomendações anteriores.
A rampa de acesso precisa ter inclinação suave e o último lance construído com aproximadamente 2,20m na horizontal;
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As paredes da rampa de acesso e do embarcadouro devem ser vedadas nas laterais para facilitar o embarque e reduzir o estresse dos animais;
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O nivelamento do piso de saída do embarcadouro precisa ser o mesmo do piso da carroceria do caminhão;
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É importante que a seringa do embarcadouro seja afunilada e, preferencialmente, vedada nas laterais.
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Curral Deve ser construído de forma a permitir a realização com eficiência, segurança e conforto, de todas as práticas necessárias ao trato do gado, tais como: apartação, marcação e identificação, castração, vacinação, descorna, inseminação, pesagem, controle de ecto e endoparasitos, exames ginecológico e andrológico, embarque e desembarque de animais. É importante considerar: Localização: •
Deve ser localizado, de preferência, em terreno elevado, firme e seco, situado em local estratégico, de modo a facilitar o manejo dos animais ou o seu embarque nos caminhões.
Paredes internas: •
No curral, no brete, no tronco de contenção e nas rampas de acesso do embarcadouro, estas devem ser lisas e livres de saliências, como pon-
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Instalações: •
É recomendada a limpeza periódica das instalações, principalmente brete, tronco e balança, para evitar o acúmulo de terra e esterco;
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A disponibilidade de pontos de água (torneira e bebedouros) e energia elétrica é muito importante;
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A disponibilidade, no curral ou nas suas proximidades, de um banheiro para uso dos funcionários é necessária;
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A disponibilidade de recipiente adequado para coleta do lixo produzido durante os trabalhos de manejo (exemplo: frascos vazios de vacinas e medicamentos) também é indispensável.
Debates sobre os desafios do agronegócio marcam o Global Agribusiness Forum
O
Global Agribusiness Forum, realizado em São Paulo nos dias 24 e 25 de março, reuniu os maiores representantes do agronegócio mundial. Entre as personalidades, estava a senadora e presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Katia Abreu. Ela lembrou que a produtividade agrícola brasileira quase triplicou nos últimos 36 anos, passando de 1.258 quilos por hectare para 3.507 quilos por hectare, resultado de grandes avanços tecnológicos no setor. “Temos muito orgulho desses números e do que construímos nos últimos anos. Éramos importadores de alimentos e, agora, somos potência agrícola”, acrescentou. “Há 40 anos, importávamos alimentos, as famílias comprometiam 48% do orçamento com alimentação. Hoje, estes gastos caíram para algo em torno de 14% a 20% do salário, graças ao aumento de produtividade que possibilitou acesso à comida barata e de boa qualidade. Com isso, sobrou renda para educar os filhos até a universidade, comprar eletrodomésticos etc.”, afirmou. A senadora destacou que isso foi possível graças ao desenvolvimento de novas tecnologias. E exemplificou que, nos últimos 36 anos, a produção de grãos e fibras cresceu 296%, passou de 46,9 milhões para 187 milhões de toneladas, enquanto a produtividade expandiu 178% no mesmo período, de 1.258 kg/hectare para 3.507 kg/hectare. A área plantada aumentou somente 42%,de 37,3 milhões para 53,3 milhões. “O Brasil produz em apenas 27,7% do território nacional, preservando 61% do país com florestas e outros tipos de vegetação nativa”, ressaltou. Segundo ela, através da aplicação de técnicas sustentáveis de produção, como rotação de culturas, agricultura de baixo carbono (plantio direto) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), a agropecuária brasileira poderá ter um ganho de 70 milhões de hectares de área para a produção de alimentos, colhendo duas safras anuais. “Sem derrubar uma só árvore, aumentaria em 131% a produção de grãos e fibras, passando de 187 milhões para 432 milhões de toneladas/ano. Na pe-
cuária, o volume de oferta de carne bovina saltaria de 9 milhões para 15 milhões de toneladas”, acrescentou.
Mudanças no campo Para a senadora, o problema da fome, hoje, acontece por falta de renda e não de comida. Acredita que, com as condições favoráveis de aumento de produção e produtividade, o país cumprirá a meta definida pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), de aumentar a produção de alimentos em 40% até 2050, ajudando a resolver o desafio de vencer a fome no mundo. Destacou que o agronegócio, hoje, é responsável por 40% das exportações, 37% dos empregos do país, quase 25% do PIB, além de sustentar o superávit da balança comercial brasileira por muitos anos. Acrescentou, ainda, que a idade média do empresário agrícola do Brasil é 45 anos, enquanto nos Estados Unidos é 58 anos e, no Japão, 67. “Isso é extraordinário. Temos que nos preocupar com a sucessão do agronegócio brasileiro”, comentou. A senadora frisou que a CNA é a favor de um acordo de livrecomércio entre os países do Mercosul e a União Europeia (UE) e que a Argentina tem evoluído lentamente nas negociações.
Comércio Exterior Quem também ressaltou a importância de mercado global foi o economista Antônio Delfim Netto. “O comércio exterior é a alavanca para construir o desenvolvimento econômico”, afirmou ele, que foi moderador do debate sobre os desafios da integração comercial na agricultura, abordado pelo embaixador Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). Segundo Delfim Netto, que destacou a importância da Embrapa, o setor agrícola é o que demonstra mais eficiência no Brasil. “Precisamos ter a ideia clara de que o setor privado não funciona sem um Estado eficiente e forte, e o Estado não é capaz de fazer nada sem o suporte do mercado.”
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Estamos destruindo a Terra? Nas discussões sobre temas ecológicos, algumas afirmações são feitas quanto a essa indagação. Para responder adequadamente à pergunta angustiante, meditemos sobre os conhecimentos que a Ciência acumulou sobre as histórias do planeta, da vida e do homem. A Terra surgiu há 4,6 bilhões de anos, na formação do sistema solar. Os primeiros indícios de vida microbiana datam aproximadamente de um bilhão de anos depois desse evento, mas só há cerca de 600 milhões surgiram plantas e animais multicelulares, que começaram a se diferenciar e multiplicar. A evolução a partir de então produziu as inúmeras formas de vida que ocuparam todos os ambientes habitáveis do planeta. Na sua história, a vida passou por profundas crises naturais que distintas vezes alteraram o curso da evolução, exterminando um enorme número das espécies então existentes. Conhecemos cinco dessas crises. A mais intensa aconteceu há 250 milhões de anos, eliminando 90% dos seres marinhos e 70% dos terrestres. A causa dessa gigantesca convulsão arrastou-se durante muitas dezenas de milhares de anos e foi atribuída a um ciclópico episódio de erupção vulcânica, ocorrido na região da atual Sibéria, com colossais derrames de lavas e emissões maciças de dióxido de carbono e outros gases tóxicos. Toda a química da atmosfera e dos oceanos foi alterada, criando ambientes profundamente nocivos à vida, que redundaram na extinção em massa. Outra crise houve há 200 milhões de anos, em menor escala e com causas ainda pouco conhecidas, gerando outro acentuado episódio de extinção. Uma terceira aconteceu há 65 milhões de anos, quando ocorreu outro imenso derrame de lavas, desta vez no subcontinente indiano, e quase simultaneamente um meteorito gigantesco, avaliado como tendo algo como dez quilômetros de diâmetro, atingiu o planeta com altíssima velocidade, na região do México atual. A monstruosa colisão e as erupções vulcânicas provocaram nova e profunda crise biológica à qual se atribui a extinção dos famosos dinossauros, além de muitas outras formas de vida no mar e na terra, incluindo ainda uma vasta redução da vegetação global. O importante, para dar resposta à pergunta inicial, é assinalar que, em cada uma dessas imensas crises, nunca presenciadas pelos seres humanos, cessadas suas causas e no decurso de tempo médio de dez milhões de anos após o evento, a vida na Terra recuperou sua pujança com o aparecimento de novas espécies, diferentes das anteriores mas descendentes daquelas que sobreviveram às devastações. A vida, portanto, tem evidenciado notável capacidade de resistência às grandes crises geológicas e biológicas. A história do gênero Homo, ao qual pertencemos, começou muito mas tarde, na África, há apenas dois milhões de anos aproximadamente, e o gênero no decorrer do tempo diversificou-se em diferentes espécies. Os primeiros vestígios da nossa, Homo sapiens, surgiram também na África, em depósitos fossilíferos datados de apenas 200.000 anos e, durante milhares de anos, ela conviveu com algumas das demais do gênero, hoje todas extintas. Só a nossa sobreviveu. Portanto, considerada a duração total da vida, nossa história ocupou apenas míseros 0,006% da sua existência na Terra. Obviamente, as escalas cronológicas da vida e do homem são extremamente diferentes nos dois casos. Para a vida, um milhão de anos pouco representa; para nós, hoje, é um inimaginável espaço de tempo. Os primeiros indícios da domesticação de plantas e animais datam de cerca de 12.000 anos e então teve início a consequente ocupação crescente e ininterrupta da Terra pelo homem, alterando e destruindo os ecossistemas naturais. Mas as pequenas dimensões das populações humanas e a carência de tecnologia limitaram durante muitas dezenas de séculos a importância dos impactos por elas causados. 50
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Na verdade, somente há aproximadamente dois séculos, com rápido crescimento da humanidade e o desenvolvimento cada vez mais rápido da tecnologia, eles passaram realmente a pesar no relacionamento do homem com a Terra. Hoje, com o crescimento exponencial da população humana, o brutal consumo e uso inconsequente dos recursos naturais, e a poluição em escala global e suas repercussões sobre o clima, fizeram com que o homem se tornasse um fator devastador para a diversidade biológica e para o equilíbrio dos ecossistemas, dos quais continuamos dependentes. É simplesmente impossível sequer imaginar-se a viabilidade de se manterem por mais dois ou três séculos as tendências da civilização atual e seus impactos crescentes sobre o meio ambiente. A atual civilização é claramente insustentável em médio ou longo prazos. Algo de muito grave inevitavelmente acontecerá. Surgiram, então, as idéias sobre destruição do planeta e de uma nova grande crise biológica, comparável às cinco anteriores. Nós ignoramos completamente qual será o destino de nossa espécie mas, como seres biológicos que somos, ela não é isenta de extinção, apesar do extraordinário desenvolvimento da genética e da tecnologia. Considerando a história da Terra e da vida, a resposta à pergunta inicial é que a destruição ameaça, não a Terra mas , sim, a humanidade e a nossa irresponsável civilização. A Terra, embora ferida, recuperar-se-á dentro de alguns milhões de anos como das outras vezes aconteceu e, portanto, não está ameaçada. Nós e a nossa civilização é que estamos. Mas, em conclusão a essas idéias, outra importante pergunta se impõe. Quem nos dias presentes, com os sérios problemas sociais e econômicos imediatos com que nos defrontamos, estará realmente preocupado com isto? Ibsen de Gusmão Câmara
Presidente
Citações “Somos uma praga na Terra. Ou limitamos o nosso consumo ou a natureza fará isto por nós” Este é um pensamento externado por Sir David Attenborough, conhecido naturalista britânico nascido em 1926, famoso por participar durante décadas de programas descrevendo o mundo natural e que focalizam a devastação do mundo pelo homem, bem como as soluções que poderiam ser tomadas para amenizar ou solucionar esse problema. Defende o ponto de vista de que nós, humanos, temos a responsabilidade de deixar para os nossos descendentes um planeta saudável e habitável por todas as espécies.
Natureza em perigo Há duas aves consideradas extintas no Brasil, a arara-azul-pequena (Anodorhynchus glaucus) e o maçarico-esquimó (Numenius borealis), porém, há uma remota possibilidade desta última ainda existir. Era uma ave tipicamente habitante de ambientes campestres, mas que também ocorria em regiões praianas, na zona costeira e, raramente, em brejos e banhados. Tinha porte médio e cor pardo-acinzentada, com manchas de outra coloração no dorso. Uma característica era o bico longo e fortemente curvado. Fazia enormes migrações, pois nidificava numa faixa costeira do Alasca, do oeste do Canadá e do noroeste dos EUA, e, nas suas migrações, atingia a margem leste da América do Norte, prosseguia através do mar do Caribe, interior da América do Sul e atingia o sul da Argentina e do Chile, onde passava o inverno. Na Brasil, atravessava os estados do Amazonas, Mato Grosso e São Paulo.
Possivelmente era comum no início do Século XIX, quando foram capturados no Brasil 11 exemplares, as únicas ocorrências comprovadas da ave em nosso País. É considerada extinta em todo o território brasileiro. Na lista mundial de espécies ameaçadas da UICN, consta como “Criticamente em Perigo”. As causas possíveis de sua muito provável extinção são caça e a destruição do hábitat pela agricultura. Alimentava-se de todo tipo de invertebrados e, principalmente, de uma espécie de gafanhoto, existente nas América do Norte, e a sua extinção pode ter sido acelerada pelo uso de agrotóxicos.
As árvores das matas nativas crescem continuamente Um grande grupo de pesquisadores mediu 673.046 árvores a cada cinco a dez anos, em matas nativas de áreas preservadas em diferentes continentes e em distintos tipos de florestas. Ao todo foram analisadas 403 espécies, cada uma com pelo menos 40 exemplares medidos periodicamente. Na média, as árvores tinham 92 centímetros de diâmetro e as maiores atingiam 2,7 metros. Constatou-se que quanto maior é a árvore, mais ela cresce, sendo que 97% delas aumentam de tamanho até morrer. Em média, uma árvore com um metro na altura do peito aumenta em peso 103 quilogramos por ano, sendo que, dependendo da espécie, pode haver uma variação de dez a 290 quilos. As conclusões indicam que as florestas nativas são um enorme reservatório de carbono e que, portanto, se forem queimadas ou apodrecerem liberam grandes quantidades desse gás e agravam o efeito estufa. Quando aumentam de peso produzem mais celulose e consequentemente retiram CO2 da atmosfera e assim se tornam importantes no sequestro deste gás. O estudo também indicou que a contribuição das árvores grandes é maior do que se estimava. Uma árvore com um metro de diâmetro pode fixar a mesma quantidade de CO2 quanto uma dúzia daquelas medindo somente 30 centímetros. Esses resultados do estudo evidenciam que a prática corrente de, no manejo florestal, cortar as árvores maiores, por ter-se imaginado que elas não crescem mais, é totalmente incorreta. Fonte: Boletim da SNS, de 07-02-2014, com base no artigo Rate of tree carbon acculation increases continously with the tree size, publicado na revista Nature.
Continua a devastação dos rinocerontes Em 2013 a caça ilegal de rinocerontes na África do Sul sacrificou 1.004 animais, um crescimento significativo em relação a 2012. Fontes do Ministério do Meio Ambiente daquele país informam que os números dos rinocerontes abatidos, em 2010, 2011 e 2012, foram respectivamente 373, 448 e 668. Em sua maior parte, esses animais foram caçados no Parque Nacional do Kruger, e isso aconteceu apesar da ajuda do Exército e do uso de drones. Estima-se que o número de rinocerontes remanescentes nesse parque, onde supostamente estão protegidos, é de 8.500 a 9.500. A razão principal dessa matança continuada é o uso dos chifres na medicina tradicional da Ásia. A Lavoura - Nº 701/2014
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Desaparecem os grandes predadores selvagens Mais de 75% de 31 espécies de carnívoros selvagens estão desaparecendo, segundo artigo publicado na revista Science, em 09 de janeiro último, devido à perda de hábitat, caça e escassez de presas. Dezessete delas ocupam agora menos de metade do território em que antes existiam. As regiões mais afetadas pelo desaparecimento são sudeste da Ásia, sul e leste da África, e Amazônia. Muitas delas estão ameaçadas em escala local ou global. Os carismáticos leões, que em tempos históricos habitavam quase toda a África e se estendiam da Grécia ao sul da China, hoje somente sobrevivem em um minúsculo parque nacional da Índia e em áreas restritas e desconectadas da África. Na África Ocidental, estão em colapso catastrófico, com um número total de cerca de 400 indivíduos. Em 2005, acreditava-se que existiam leões em 21 áreas protegidas dessa região; agora, avalia-se que só subsistem em quatro, representando somente 1,1% do seu território original. Em apenas uma dessas áreas existem mais do que 50 leões.
Novas normas adotadas para a elaboração de listas brasileiras de espécies ameaçadas A Portaria no. 43 do Ministério do Meio Ambiente (MMA), publicada em 05-02-2014, determina que todas as novas listas de espécies ameaçadas ou consideradas em risco de extinção deverão obedecer a padrões internacionais de avaliação de risco, com atualização anual e verificação geral a cada cinco anos. Foi instituído também um Programa Nacional de Espécies Ameaçadas (Pró -Espécies), com o objetivo de adotar ações de prevenção, conservação, manejo e gestão, visando a minimizar as ameaças e os riscos de extinção. O MMA pretende oferecer subsídios ao desenvolvimento de ações capacitadas a retirar as espécies das listas o mais cedo possível. O Programa Pró-Especies deverá oferecer uma base estratégica nacional de conservação da biodiversidade, dando mais solidez a todo o processo. Os critérios adotados agora são os mesmos da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e obedecem os termos da Convenção de Diversidade Bio52
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lógica aprovada pelo Brasil. No Pró-Espécies é prevista a elaboração de Planos de Ação Nacionais para a conservação das espécies ameaçadas. Nos últimos dez anos, o ICMBio já elaborou 53 desses planos. Os critérios da IUCN abrangem as seguintes categorias para as espécies sob risco ou extintas: Extinta (extinção total), Extinta na Natureza (sobrevivência só em cativeiro), Criticamente em Perigo (risco extremamente alto de extinção), Em Perigo (alto risco de extinção), Vulneráveis (passíveis de inclusão nas categorias das consideradas em perigo) e Quase Ameaçadas (podendo se enquadrar no futuro em uma das categorias de ameaça). A iniciativa do MMA é digna dos maiores elogios e será de imenso valor para a proteção do número crescente de nossas espécies ameaçadas. Resta apenas saber se o Governo proverá recursos materiais e pessoais suficientes para a execução da complexa tarefa, ou se ela permanecerá apenas no campo das boas intenções.
A Espanha avança no cumprimento dos compromissos assumidos na Convenção de Diversidade Biológica A Espanha pretende ampliar de 1% para 8% as áreas marinhas de suas águas jurisdicionais que gozam de algum tipo de proteção e, assim, se aproxima bastante de alcançar pelo menos 10% de áreas marinhas protegidas até o ano 2020, compromisso assumido – também pelo Brasil - na reunião dos membros da Convenção de Diversidade, em 2010. Após cinco anos de estudos e de campanhas, neste ano foi finalizado o projeto de inventariarem-se áreas para o estabelecimento de uma rede de áreas marinhas protegidas. Participaram do projeto mais de 200 pessoas, sendo 150 delas pesquisadores. A rede, além de preservar a vida marinha nas áreas designadas, beneficiará também a pesca, devido ao chamado “efeito reserva”, segundo o qual a proteção de uma área, com exclusão de pesca, aumenta a quantidade de pescado nas suas proximidades em razão da sua proliferação no interior das reservas e a migração para outras áreas fora delas. E o Brasil, cumprirá seu compromisso? Desconhecemse medidas neste sentido, em um país onde os assuntos de pesca e conservação dos recursos marinhos são atribuição de muitos órgãos distintos e descoordenados, alguns deles com diferentes objetivos divergentes. Fonte: BoletinAreaProtegidas y guardaparques no. 143/2014.
Evitando a crise da biosfera Um importante trabalho publicado na conceituada revista Nature, no ano passado, mostra como o estabelecimento de pontos de vista em comum podem ser criados entre a Ciência e a Sociedade. O estudo indica como as influências das ações humanas estão levando os ecossistemas globais para uma rápida e irreversível mudança em escala global. Esse trabalho intitulado “Mantendo os sistemas de suporte à vida humana no Século XXI” foi apoiado por mais de 500 pesquisadores dos problemas relativos às mudanças globais, cujos estudos abrangem todos os continentes. Ele previne que, se providências corretivas não sejam imediatamente adotadas, voltadas para as mudanças climáticas, perda da diversidade biológica, extinções, contaminação do meio ambiente, crescimento da população humana e uso exagerado dos recursos naturais, esses problemas degradarão nossa qualidade de vida dentro de poucos decênios. O trabalho já está catalisando interações entre governos, universidades, lideranças e cientistas no sentido de educar os políticos locais quanto aos problemas globais e estimular suas soluções. Fonte: Nature, 30-05-3013
A extinção é para sempre?
pécies próximas e recriar, em parte, o DNA da extinta. No que pese o extraordinário feito científico que será alcançado se alguma dessas tentativas tiver êxito, muitas críticas têm surgido quanto a praticidade dessas experiências. Para efetivamente recriar a espécie, um só exemplar “ressuscitado” não basta; seria necessário repetir a técnica muitas vezes para obter-se uma população geneticamente viável. Além disto, muitos animais situados em posição mais elevada na escala zoológica, como aves e mamíferos, só sobrevivem quando imitam o comportamento de seus pais, o que seria impossível. Além disto, o altíssimo custo da iniciativa, com resultados duvidosos, recomenda que os recursos disponíveis sejam melhor aplicados na preservação das inúmeras outras espécies ainda vivas sob ameaça de próxima extinção.
O número de espécies de animais e plantas em perigo de extinção por ações humanas cresce sem cessar e algumas delas já foram realmente eliminadas, em tempos relativamente recentes, como por exemplo o auroque, o ancestral selvagem dos bovinos de linhagens européias, ou o tigre-da-tasmânia, que na realidade não era um tigre e sim o maior marsupial carnívoro então existente, com a aparência de um cão, cujo último exemplar conhecido morreu no ano de 1936 em um zoológico australiano. Nos últimos anos, com o surpreendente progresso da Genética, têm surgido idéias e estudos ousados para recriar alguns desses animais. Três métodos estão em cogitação: (1) naqueles que deixaram formas domesticadas, como no caso do auroque, pode ser usada “seleção reversa”, mediante seleção das características dessas formas domesticadas que lembram as do animal extinto; (2) clonagem, usando material genético criopreservado da espécie extinta; (3) e engenharia genética, utilizando o DNA de espécies aparentadas para reconstruir o do animal extinto. No primeiro caso, na verdade, não se recria a espécie e, sim, um animal semelhante em aparência ao extinto; isto está sendo tentado com o auroque, desde 2008. No segundo, necessita-se obter material genético bem conservado da espécie extinta. Isto foi feito com uma cabra selvagem recentemente exterminada, o ibex-dos-pirineus; depois de numerosas tentativas, usando uma fêmea de espécie afim para a gestação, conseguiu-se o nascimento de um feto, que logo morreu devido a deformação nos pulmões. No terceiro método, quando há material orgânico bem conservado, como por exemplo material taxidermizado, pode-se tentar usá-lo para modificar as células de es-
CONSELHO DIRETOR Presidente Ibsen de Gusmão Câmara Diretores Maria Colares Felipe da Conceição Olympio Faissol Pinto Cecília Beatriz Veiga Soares Malena Barreto Flávio Miragaia Perri Elton Leme Filho Conselho Fiscal Luiz Carlos dos Santos Ricardo Cravo Albin Suplentes Jonathas do Rego Monteiro Luiz Felipe Carvalho Pedro Augusto Graña Drummond
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Controle Biológico
Helicoverpa:
Divulgação/Koppert
a Guerra continua 54
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Novas armas de controle biológico contra a lagarta, que já causou enorme prejuízo aos produtores brasileiros, chegam ao mercado este ano
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m exército composto de vírus, parasitóides e feromônios está entre as novidades disponíveis ao produtor para combater a lagarta Helicoverpa armigera. É o caso do parasitóide Trichogramma pretiosum, vespa e inimigo natural, capaz de atacar mariposas e ovos da praga que vem tirando o sono e a renda dos sojicultores, desde a safra passada. Distribuídos no Brasil pela BUG Agentes Biológicos, 45 bilhões de Trichogrammas estão indo para o campo de batalha apenas nesta safra de soja (2013/2014), em cerca de 150 mil hectares. Para chegar a esse número, foi feito um cálculo a partir da recomendação de liberação de 100 mil vespas por hectare em cada liberação. O ideal é fazer três liberações de vespas no período vegetativo e duas na fase reprodutiva da soja, na proporção de 40% e 60%, respectivamente.
Menos inseticida e mais sustentabilidade Estima-se que atualmente 16 países estão criando em massa quase 20 espécies de Trichogramma para liberações em 18 milhões de hectares. Estas vespas pertencem ao grupo de insetos entomófagos mais usado em diversas nações para o controle biológico. Elas atuam parasitando os ovos das principais pragas que atacam culturas como soja, algodão, milho e feijão. Além de mais eficiente e econômico (R$ 35 por liberação) — no mínimo 40% mais barato que o inseticida —, o controle bio-
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Maurício Meyer
Controle Biológico
Helicoverpa armigera ataca a fava da soja
lógico da Helicoverpa armigera com o parasitóide evita a contaminação decorrente dos inseticidas no solo, nos cursos d’água, e em quem aplica o produto.
Fotos: Divulgação/BUG
Divulgação/BUG
Diogo Carvalho, diretor executivo da BUG, conta que em cinco anos de análise dos resultados de campo, houve casos de redução de mais de 50% do uso de inseticida e até de suspensão total do uso do controle químico, como no município
de Eduardo Magalhães, na Bahia. “Em lavouras de feijão irrigado a eficiência chega a 85%”, diz ele, que, nesta safra, está colhendo os resultados do controle biológico nas lavouras de soja.
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Crisálidas das vespas, estágio intermediário entre a larva e a fase adulta. No laboratório, funcionários da BUG trabalham na produção de ovos de vespa, para depois serem colados na cartela.
Divulgação/BUG
Divulgação/FMC
Cartilha explica ao produtor como identificar a helicoverpa.
Aplicação do parasita na planta. No detalhe, cartela da Bug, que consegue proteger 1 hectare de plantação. São 24 células destacáveis contendo ovos de vespas.
E quem pensa que a introdução do parasitóide pode provocar um desequilíbrio ambiental está enganado, pois a vespa só se multiplica se houver a praga, ou seja, como é um parasitóide, depende da praga para se reproduzir; só sobrevive se houver ovos para parasitar. Assim, o fim da praga é também o fim do parasitóide. “Quanto mais o produtor usar, maior será o controle porque haverá mais chance de o parasitóide se instalar nas lavouras. Dessa forma, também estaremos manejando a resistência do inseto ao inseticida”, finaliza Diogo Carvalho.
Gerais, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Maranhão, o feronômio faz parte de uma armadilha, desenvolvida pela FMC, que atrai a mariposa da lagarta, já na fase adulta, o que permite ao agricultor a identificação e monitoramento da praga nas lavouras.
Helicoverpa vira história em quadrinhos “FMC em identificando o inimigo”. Com esse título, uma das principais empresas no segmento de defensivos agrícolas do país, a FMC Agricultural Solutions, criou uma história em quadrinhos, para contar o passo a passo de como fazer a identificação da lagarta e o manejo de outra nova solução tecnológica no combate à Helicoverpa: o feromônio Plato. Com cadastro obtido nos estados da Bahia, Mato Grosso, Goiás, Minas
“Os produtores vêm sofrendo em determinar se essa lagarta está presente em sua lavoura e correm o risco de adotar medidas de controle não eficientes”, explica Adriano Roland, gerente de produtos inseticidas da FMC. “Com o feromônio Plato para Helicoverpa armigera, além de auxiliar na identificação da praga, o produtor poderá definir o melhor o manejo a ser adotado, conseguindo uma melhor proteção da sua lavoura, melhorando sua produtividade e rentabilidade. O produtor vai saber com quem ele está lutando”, acrescenta Roland.
Curiosidade A utilização do trichogramma é, no mínimo, 40% mais barata que o inseticida convencional
obteve, no final do ano passado, a aprovação de emergência no Brasil para combate à lagarta Helicoverpa. A aprovação do Ministério da Agricultura para uso do produto é válida por dois anos.
Aprovação de emergência
O Diplomata pertencente à família do baculovírus. Os baculovírus são seguros e não causam riscos à saúde humana, além de não originarem sintomas fitóxicos nas plantas após a aplicação.
Neste campo de batalha, o Diplomata, nome popular para nucleopolyhedrovirus Helicoverpa armigera (HearNPV), é mais uma das novidades que chegam ao mercado. Fabricado na Suíça, o vírus, com distribuição exclusiva da Koppert,
Ele será utilizado no país não só para o controle da Helicoverpa armigera, como também de outras espécies da lagarta que atingem as lavouras de milho espiga (Helicoverpa zea) e fumo (Helicoverpa virescens). A Lavoura - Nº 701/2014
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Cristina Baran
Produtos orgânicos da Coopernatural
Parceiros do OrganicsNet na Copa do Mundo O
resultado da chamada pública está disponível no site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). A comercialização será feita em 10 das 12 cidades que receberão jogos do torneio: Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. “Entre os dias 11 e 27 de junho, cada quiosque terá seis representantes da agricultura familiar para promover o consumo de alimentos saudáveis. A campanha vai mostrar aos consumidores, brasileiro e estrangeiro, o potencial da agricultura familiar brasileira, que está cada vez mais organizada e estruturada para atender ao mercado”, destaca o secretário nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Arnoldo de Campos.
Novos mercados De acordo com o secretário, a campanha também pretende promover a abertura de novos mercados de comercialização, deixar uma cadeia produtiva mais estruturada, além de gerar renda e inserir produtivamente os agricultores familiares. A Campanha Brasil Orgânico e Sustentável é uma iniciativa do governo federal, realizada pelo MDS e pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e Ministério do Esporte, em parceria com a Agência de Cooperação Alemã (GIZ), o Programa das Nações Unidades para o Meio Ambiente (Pnuma) e a Associação Brasil Orgânico e Sustentável (Abrasos).
Coopernatural A Coopernatural (Cooperativa Vida Natural) reúne produtores rurais orgânicos da Serra Gaúcha, que desde 2001, produzem, de maneira orgânica e sustentável, frutas, verduras, laticínios, geléias, doces, compotas, conservas, molhos, ervas, chás, melado, mel, sucos, vinhos e espumantes. Todos os produtos são certificados pela Rede ECOVIDA. Os produtos vêm das propriedades próprias, ou de parceiros, localizadas no município de Picada Café, a 80 quilômetros de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Atualmente, a cooperativa reúne 27 famílias.
Coopernatural e Fazenda Iranita estão entre as cooperativas que irão vender produtos da agricultura familiar nos quiosques da Campanha Brasil Orgânico e Sustentável, durante a Copa do Mundo.
Fazenda Iranita Desde 2005, a Fazenda Iranita, localizada no interior do Rio de Janeiro, dedica-se à produção de alimentos orgânicos, todos certificados pela ABIO, sem a utilização de adubos químicos ou agrotóxicos, buscando a qualidade de forma sustentável. Isso assegura ao consumidor uma agricultura mais saudável, com respeito às normas do comércio justo, preservando o meio ambiente e respeitando o homem do campo. O produto, que os frequentadores dos jogos da Copa poderão degustar, é o café orgânico 100% arábica. A produção é colhida toda no pano, lavada e despolpada em uma estrutura adequada para esse processo, o que proporciona um café de melhor qualidade. Parte da lavoura é produzida em parceria com trabalhadores da região, fortalecendo as relações humanas e estimulando a qualidade de vida dessas pessoas. A Lavoura - Nº 701/2014
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EQUINOS - MANEJO
Exame de outono Amanda Melo Sant'Anna Araújo
Médica Veterinária, Mestre em Ciência Animal - Professora Voluntária de Equideocultura e Fisiologia da Reprodução na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri
Depois de terminar uma estação de monta, é hora de se iniciar o trabalho para que o próximo período reprodutivo seja um sucesso
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om o término do verão, é comum acharmos que o trabalho com reprodução também está chegando ao fim, pelo menos até a próxima estação de monta. Porém, é após a conclusão de uma estação de monta que se inicia o trabalho para que o próximo período reprodutivo seja um sucesso. E, como isso se dá? Com a realização dos exames ginecológicos e andrológicos dos reprodutores, ou, simplesmente, “exame de outono”. Este exame tem como objetivo identificar a capacidade reprodutiva e eventuais problemas tanto nas matrizes, quanto com nos garanhões. E o leitor deve estar se perguntando: mas estes exames não podem ser realizados durante a estação? Claro que podem, mas, quando realizado com antecedência, ao surgirem eventuais problemas, existe tempo hábil antes do início do período reprodutivo para um possível tratamento, quando for necessário. E, desta forma, não haverá perda de tempo, quando o cio for fértil, a matriz estará apta a gestar.
Métodos reprodutivos
Amanda Melo Sant´Anna Araújo
Além disso, podemos ainda pré-determinar o melhor método reprodutivo a ser utilizado para cada animal. Se o problema for detectado tardiamente na estação de monta, poderá haver perda de sêmen, repetição de cio, infecções uterinas,
perdas embrionárias e, só mais tarde, é que o problema será identificado. Pode, então, acontecer de não restar tempo suficiente nesta estação para o tratamento — e posterior cobertura. E no que consiste este exame? É um exame completo que avalia as condições reprodutivas da égua ou do garanhão, onde se investiga as causas de possíveis falhas de prenhez, e as condições uterinas. Faz-se ainda a avaliação de éguas virgens que serão inseridas nos programas reprodutivos. São realizados ultra-sonografia endometrial e exames complementares como os de citologia uterina, bacteriológico e, quando necessário, biópsia uterina. A conformação da vulva é uma preocupação importante para o prognóstico reprodutivo, uma vez que existe a patologia denominada pneumovagina, que se caracteriza pela entrada de ar pela vagina, devido ao mal posicionamento da vulva, acometendo o útero de infecções, e que, em alguns casos, poderá ser corrigido com cirurgia.
Prevenção Desta forma, podemos prevenir processos infecciosos e também tratar precocemente infecções já instaladas, evitando que haja a redução de fertilidade ou ainda infertilidade nos animais. Podemos, igualmente, descartar animais, que apresentem processos degenerativos de difícil tratamento, como a endometriose, evitando prejuízos. Nos garanhões, este exame é utilizado para verificarmos sua fertilidade e, assim, determinarmos a capacidade reprodutiva e o melhor método de coO exame identifica a capacidade reprodutiva dos animais
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Amanda Melo Sant´Anna Araújo
O garanhão no momento da monta
bertura para cada reprodutor. Para tal é coletado, através de vagina artificial, o sêmen do garanhão em questão após esgotamento seriado. São analisados os seguintes parâmetros: macroscopicamente — volume, odor, coloração, pH e microscopicamente — concentração, motilidade, vigor e morfologia. Deve-se, ainda, fazer o teste de libido.
Seleção do plantel Em razão do crescimento da equinocultura nacional, é muito importante a atuação conjunta do médico veterinário, proprietário e criador, no sentido de
melhorar a produtividade e seleção do plantel de maneira lucrativa para o criador. É neste momento também que iremos observar, classificar e agrupar os animais de acordo com a categoria (égua parida, primeira cria, vazia. Ou garanhão iniciante experiente, idoso), escore corporal (magra, normal, obesa) e sua saúde (verme, carrapato, babesia), para facilitar o manejo e tratar aqueles que necessitarem. Aliados a todos estes cuidados, devemos ainda observar o estado nutricional do plantel e nunca descuidar do manejo sanitário para que tenhamos uma estação de monta sem surpresas e com bons índices de concepção, gestação e nascimento.
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Saúde animal na dose certa
João Borges/Divulgação
animais de estimação
Cresce o faturamento das farmácias de manipulação para atender ao setor pet uem tem animal de estimação sabe como é difícil administrar um medicamento veterinário. Eles relutam, cospem os comprimidos, fazem manha. Para ajudar neste desafio, medicamentos veterinários de manipulação ganham o mercado. Criada em 2004, pela farmacêutica Sandra Schuster, a DrogaVET, empresa pioneira e maior rede de farmácias de manipulação veterinária do Brasil, investe em fórmulas elaboradas para criar medicamentos mais palatáveis ao gosto do animal.
Divulgação
“Um dos diferenciais da manipulação veterinária é exatamente a facilidade na administração do medicamento, pois permite que a medicação seja oferecida em forma de biscoitos, xaropes, pomadas e shampoos”, explica Sandra. “E ainda com a possibilidade de personalizar de acordo com o sabor preferido do animal”. Picanha, salsicha, atum, bacon, pão, queijo são alguns dos sabores disponíveis. Medicamentos em forma de biscoitos facilitam a administração
antibióticos, cardiotônicos, cremes cicatrizantes, antipulgas, vermífugos, complexos vitamínicos etc”, conta Sandra. A manipulação veterinária permite a associação de diversos princípios-ativos, potencializando a eficiência e a velocidade no tratamento, bem como a produção de medicamentos exclusivos que não existem no mercado de medicamentos industrializados.
Inovação Laboratório de uma das unidades da DrogaVet
Benefícios Além dessa vantagem, os medicamentos manipulados oferecem outros benefícios, como a dosagem de acordo com o peso animal, a associação de medicamentos, e a redução do estresse do animal no momento da administração. Fora isso, os produtos não contêm açúcares, corantes ou conservantes. “São produtos destinados para tratamento de diversas doenças, sejam elas crônicas ou agudas, como, por exemplo: 62
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Investindo em tecnologia e inovação, todos os medicamentos são manipulados em cada unidade da DrogaVET. Atualmente, são duas unidades próprias e 16 franquias. “Cada franquia conta com pelo menos um farmacêutico magistral, um veterinário e técnicos de laboratório”, explica Sandra Schuster. Em 2013, a rede faturou R$ 19 milhões. De acordo com Sandra, o mercado está crescendo, pois a manipulação de medicamentos ainda é novidade. “Notamos que, após os proprietários conhecerem nossos produtos e confiarem no tratamento, eles se tornam clientes frequentes. Nossa expectativa é crescer 10% em 2014”. Até 2017, a DrogaVET pretende chegar a 50 unidades.
Zoetis
Teste apresenta resultado em 10 minutos
Chega ao Brasil o primeiro teste de gravidez para cadelas e gatas
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Zoetis apresenta ao mercado brasileiro o primeiro teste de gravidez voltado para cadelas e gatas: o Witness Relaxin. Realizado no consultório do médico veterinário, utilizando uma pequena amostra de soro ou plasma das fêmeas, o exame é indicado para o monitoramento da prenhez, situação reprodutiva desconhecida, avaliação da necessidade de um tratamento de pseudociese, confirmação de reabsorção fetal, além de confirmação de prenhez indesejada antes do tratamento abortivo. Em cadelas deve ser feito 27 dias após a ovulação e em gatas, 31 após o acasalamento. O resultado é apresentado, com exatidão, em até 10 minutos.
Moda pet: Bandana para cachorros Fashion e descolada, a Bandana Zee Dog vai embelezar e garantir um charme extra aos pets om tantas novidades no mercado pet, não há quem resista aos mimos para agradar e embelezar os animais de estimação.
Pensando nisso, o Petshop.com.br, maior loja virtual de produtos para pet do país, apresenta um acessório para os apaixonados por cães. A Bandana Zee.Dog, marca que tem a filosofia de produzir produtos para cães e donos descolados, vai dar um toque de estilo e personalidade nos bichinhos. A peça, confeccionada em 100% algodão, é confortável e versátil. Com a Bandana Zee.Dog o seu cão vai arrasar nos passeios e atrair todos os olhares para si.
Zee-Dog
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A bandana é da Zee.Dog, marca lifestyle de produtos para cachorro. Com a filosofia conectar cães e pessoas, a empresa desenvolve diversos produtos estilosos, criativos e funcionais para os pets. Gostou da dica? Estes e muitos outros artigos para o seu animalzinho, podem ser encontrados no Petshop.com.br, a maior loja virtual de produtos para pet do Brasil. www.petshop.com.br Cão com bandana: cheio de estilo
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Homogeneizador e redutor de amostras multicanais
Biovet
Gehaka
EMPRESAS
Produto é liberado por tempo mais prolongado, aumentando a eficácia contra parasitas
E Com o homogeneizador é possívels e obter em poucos segundos a amostra representativa do lote que você está analisando, sem manusear os grãos.
ste homogeneizador e redutor de amostras fabricado pela Ind. e Com. Eletro-Eletrônica Gehaka Ltda é o equipamento ideal para a obtenção da amostra de trabalho na classificação de grãos. Trabalhando por gravidade, pode receber grandes amostras de grãos realizando a homogeneização e a redução da amostra através da passagem por quarteadores sobrepostos em forma de cascata.
Sem qualquer contato manual, a amostra de trabalho obtida com este equipamento é a mais representativa do lote, gerando confiança na armazenagem e na comercialização dos grãos. O homogeneizador Gehaka está disponível em dois modelos: Multicanais 8:1, que reduz a amostra inicial para 10% (*) e Multicanais 16:1, que reduz a amostra inicial para 3,5% (*).
Aplicador Costal de Granulados
Guarany
(*) Dados aproximados para as culturas de milho e soja.
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Guarany está lançando o Aplicador Costal de Granulados. O novo equipamento é voltado para os pequenos e médios produtores e faz aplicação manual de produtos granulados, tais como: fertilizantes, inseticidas e nematicidas. O fabricante explica que, com sistema de aplicação de dupla função, o Aplicador Costal de Granulados da Guarany faz aplicações precisas de forma dosificada (grama/ acionamento) e contínua (grama/minuto), além de possuir design inovador do tanque, o que permite um escoamento uniforme dos Aplicador, além de preciso, evita o desperdício grânulos até a última dosagem. Todas estas funções estão ao alcance do operador por meio de um comando manual do tipo joystick que alia conforto na operação e rapidez nas mudanças de dosagens e funções.
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Produto contra vermes e ectoparasitos
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Linha PEC do Laboratório Biovet disponibilizou no mercado Iver-Vet 3.5. O produto é um antiparasitário concentrado injetável, à base de ivermectina, utilizado para combater parasitas internos e externos que acometem os bovinos. A formulação concentrada de Iver-Vet 3.5 permite que os parasitas sejam combatidos de forma mais eficiente, devido à liberação do produto de maneira mais constante e por um período mais prolongado. Esta diferenciação está nas características de seu veículo que, quando em repouso, tem aparência de um gel de alta viscosidade. Para facilitar a aplicação, o produto se torna mais fluido após a agitação do frasco.
Assim, Iver-Vet 3.5 resulta em melhor eficiência no combate aos parasitas, com um intervalo maior entre manejos, permitindo que os animais pastem por mais tempo e aumentem, dessa forma, sua produtividade, explica o fabricante.
Aditivo promove crescimento de aves
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nragold, aditivo promotor de crescimento para aves, foi lançado recentemente pela Ourofino Agronegócio. Produzido à base de enramicina, o Enragold possui múltiplas funções. De acordo com Luciano Catelli, médico veterinário e gerente técnico da Unidade de Negócios Aves e Suínos da Ourofino, a primeira delas é a ação bactericida, ou seja, o poder de eliminar as bactérias gram-positivas, como a Clostridium perfringens, causadora da enterite necrótica. A segunda, é a promoção do crescimento das aves. Ao ser administrado desde os primeiros dias de vida do animal, o produto proporciona ganho de peso e melhora da conversão alimentar, que se estende durante todas as fases da vida, além de contribuir para a absorção dos nutrientes contidos na ração. O Enragold é comercializado em embalagens de 25 kg, em apresentação granulada, para ser misturada à ração. Pode ser utilizado em qualquer fase da vida, tanto nos programas de inverno das granjas, quanto nos de verão. Um dos diferenciais do produto é o fato de não apresentar carência, já que por agir apenas no trato gastrointestinal da ave, a carne do animal pode ser consumida mesmo após a sua aplicação.
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ara contribuir com um melhor desempenho da cultura da maçã e assim promover maior rentabilidade ao pomicultor, a Tradecorp criou o Clube da Maçã. Os objetivos da iniciativa são simples: promover o uso e difusão de novas tecnologias desenvolvidas pela empresa junto aos produtores de maçã, através da implantação de áreas experimentais, acompanhamento com visitas frequentes aos técnicos e encarregados de campo, registros de aplicações das recomendações, dias de campo com presença de técnicos e produtores, registros fotográficos, orientações para levantamento das informações dos resultados obtidos. “Em resumo, organizar toda a planificação de um banco de dados, visando a elaboração de um relatório de resultados ao final de cada safra”, explica o consultor André Guttler.
Como solucionar os problemas da pomicultura? As adversidades climáticas interferem na qualidade e tamanho final de frutos. Alguns exemplos são ocorrências de geadas tardias após início da brotação, estresses hídricos do final da primavera até o início da colheita, altas temperaturas noturnas na fase de pré-colheita e excesso de umidade relativa do ar. Os membros do clube recebem orientações para melhoria da produtividade com a aplicação da nutrição complementar. “Inicialmente são concentradas em duas linhas de manejo: a primeira no sentido de melhorar a padronização de calibres de frutos e diminuição da mão de obra de colheita; e a segunda para antecipação da maturação fisiológica, possibilitando o escalonamento e precocidade na colheita”, coloca Guttler. As recomen-
dações e posicionamentos são ajustados para cada região produtora, com adequação à realidade e condições climáticas locais. O Clube da Maçã está presente nas principais regiões produtoras no sul do Brasil, nas cidades de Campo Tenente (PR), Porto Amazonas (PR), Lapa (PR), Fraiburgo (SC), Lages (SC), Bom Retiro (SC), São Joaquim (SC), Pouso Redondo (SC) e Vacaria (RS).
Pré-requisitos para participação do clube Guttler explica que o principal pré-requisito para participar do clube é que o produtor perceba o perfil diferenciado proposto pela Tradecorp, “onde o trabalho conduzido de forma conjunta poderá transformar-se num grande aliado, capaz de proporcionar resultados positivos na obtenção de frutos de maior qualidade, com incremento da sua receita final”.
Quer fazer parte deste clube? É só entrar em contato com André Guttler através dos telefones (49) 9930.9911 ou (49) 8889.2921 e do e-mail andre.guttler@gmail.com.
Gilmar R. Nachtigall/EFCT-Embrapa Uva e Vinho
Divulgação Ourofino
Um dos diferenciais desse melhorador é que a carne do animal pode ser consumida mesmo após sua aplicação
Clube da Maçã
Membros recebem orientação para melhoria da produção
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Realização
CO O
Feira Internacional dos Cerrados
O Mundo do Agronegócio NO CORAÇÃO DO BRASIL Novidades tecnológicas Empresas de insumos agrícolas e pecuários, máquinas e implementos agrícolas
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maio 2014
Instituições nacionais e internacionais Pavilhão internacional
Entrada franca BR 251 km 05 PAD-DF - Brasília - DF
Seminários e eventos técnicos
Espaço de Valorização da Agricultura Familiar - EVAF
Rodada internacional de negócios
Instituições financeiras
Dia de Campo sobre Tecnologias ABC
www.agrobrasilia.com.br
Coordenação
Patrocínio
CO OPA - DF
BANCO DE BRASÍLIA
Apoio
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Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural
F PA - D
Ministério do Desenvolvimento Agrário
Ministério de Agricultura, Pecuário e Abastecimento
A pecuária possui um grande parceiro capaz de contribuir para o seu desenvolvimento sustentável em todo o estado. Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que, na pecuária, não existe bicho de sete cabeças.
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