Uma publicação da:
R$ 12,00
Ano 02 - Número 06 - 2012 - R$ 12,00
VITAL BRAZIL, HÁ QUASE 100 ANOS SALVANDO VIDAS.
VITAL BRAZIL,
ALMOST 100 YEARS SAVING LIVES. Animal Business-Brasil_1
O que o
COOPERATIVISMO
pode fazer por você?
O que é
COOPERATIVISMO?
O cooperativismo é a união de pessoas com objetivos econômicos, sociais e culturais comuns que têm a participação democrática, a solidariedade e a autonomia como referências fundamentais dos seus princípios. Como fruto dessa união, nasce uma organização cuja gestão baseiase na liberdade humana, na cooperação e na ajuda mútua com características legais específicas e que se propõe a obter um desempenho eficiente através da qualidade e da confiabilidade dos seus produtos e serviços. O cooperativismo é uma força que movimenta o país, gerando melhoria na qualidade de vida, emprego e renda, além de contribuir para a sustentabilidade e o desenvolvimento social.
O que é a
O que é o
OCB/RJ?
SESCOOP/RJ?
A Federação e Organização das Cooperativas Brasileiras do Estado do Rio de Janeiro (OCB/RJ) representa as cooperativas fluminenses, defendendo seus interesses perante as autoridades e a sociedade.
O Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Rio de Janeiro (Sescoop/RJ) realiza a capacitação e o treinamento de pessoas envolvidas no movimento cooperativista dirigentes, funcionários, cooperados e familiares.
A OCB/RJ atua nos 13 ramos do cooperativismo, garantindo, assim, um crescimento contínuo. São eles: agropecuário, consumo, crédito, educacional, especial, habitacional, infraestrutura, mineral, produção, saúde, trabalho, transporte e turismo.
O Sescoop/RJ tem como finalidade o incentivo à criação de novas cooperativas, a promoção social, monitoramento e o auxílio à gestão da instituição, dando orientações técnicas, administrativas, de tecnologia da informação, jurídicas e contábeis para o pleno funcionamento da cooperativa.
A OCB/RJ exerce ainda importante papel de representação política das cooperativas junto aos órgãos legislativos nas esferas municipal e estadual no Rio de Janeiro.
O Sescoop/RJ dá suporte à OCB/RJ e participa de todo o desenvolvimento social do trabalhador em cooperativa.
Na hora de contratar produtos e serviços, informese sobre as cooperativas que atuam no Estado do Rio de Janeiro. Oferecemos cursos gratuitos para cooperados, empregados e familiares de cooperativas filiadas e adimplentes ao Sistema OCB/SescoopRJ.
Entre em contato para saber mais. (21) 22320133 w 2_Animal w w . oBusiness-Brasil cbrj.coop.br
uma publicação da:
Irmã mais nova da “A Lavoura”, lançada pela SNA há 115 anos, a Animal Business-Brasil nesta edição está completando seu primeiro ano de vida, fiel ao seu propósito de ser uma revista que ajude a promover as exportações brasileiras de animais e de produtos de origem animal, estimular o investimento estrangeiro nesse campo específico da economia nacional e divulgar tecnologias avançadas desenvolvidas nos nossos centros de pesquisa. A matéria de capa deste número conta a história e as atividades de um dos nossos mais tradicionais e importantes centros de pesquisa biológica e do seu fundador, Vital Brazil Mineiro de Campanha. Na matéria “O crédito rural no Brasil” o leitor encontrará um bom resumo, escrito pelo economista Felipe Prince Silva, da Unicamp, de como funciona esse insumo fundamental do agronegócio. No item “sustentabilidade”, destaco o artigo do professor Roberto Arruda de Souza Lima, PhD da Esalq/Usp, sob o título “Manejo holístico de pastagem para equinos e ovinos”. O gado Gir Leiteiro vem alcançando resultados surpreendentes com produções diárias que chegam a alcançar 60 kg de leite, como nos mostra o especialista Silvio Pinheiro Queiroz. Agradecemos a boa aceitação dos leitores e o eficiente trabalho dos nossos colaboradores neste primeiro ano de publicação da Animal Business-Brasil.
Animal Business-Brasil, younger sister of the magazine “A Lavoura” (“Farming”) launched by SNA 115 years ago, is one year old in this edition, faithful to its purpose to be a magazine that helps to promote the export of Brazilian animals and products of animal origin, to stimulate foreign investment in this specific field of the national economy and to divulge advanced technologies developed in our research centers. The cover story of this issue talks about the history and activities of one of our most traditional and important centers for biologic research and of its founder, Vital Brazil Mineiro de Campanha. In the article “Rural credit in Brazil” the reader will find a good abstract written by Economist Felipe Prince Silva of Unicamp about how this fundamental input works in agribusiness. In the item “sustainability”, we point out the article of Professor Roberto Arruda de Souza Lima, PhD of Esalq/ Usp, under the title “Holistic management of pastures for equine and ovine”. Dairy Gir cattle have been achieving surprising results with daily production reaching 60 kg of milk as shown by specialist Silvio Pinheiro Queiroz. We are thankful for the good acceptance of readers and for the efficient work of our contributors during this first year of publishing of Animal Business-Brasil.
Luiz Octavio Pires Leal Editor
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DIRETORIA EXECUTIVA
DIRETORIA TÉCNICA
ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO PRESIDENTE
FRANCISCO JOSÉ VILELA SANTOS
ALMIRANTE IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA 1º VICE-PRESIDENTE
HÉLIO MEIRELLES CARDOSO
ALBERTO WERNECK DE FIGUEIREDO ANTONIO FREITAS CLAUDIO CAIADO JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON FERNANDO PIMENTEL JAIME ROTSTEIN JOSÉ MILTON DALLARI KATIA AGUIAR MARCIO E. SETTE FORTES DE ALMEIDA MARIA HELENA FURTADO MAURO REZENDE LOPES PAULO M. PROTÁSIO ROBERTO FERREIRA S.PINTO
JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZES
OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA 2º VICE-PRESIDENTE
LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS
JOEL NAEGELE 3º VICE-PRESIDENTE
RONALDO DE ALBUQUERQUE
TITO BRUNO BANDEIRA RYFF 4º VICE-PRESIDENTE
SÉRGIO GOMES MALTA
RONY RODRIGUES OLIVEIRA RUY BARRETO FILHO
COMISSÃO FISCAL CLAUDINE BICHARA DE OLIVEIRA MARIA CECÍLIA LADEIRA DE ALMEIDA PLÁCIDO MARCHON LEÃO ROBERTO PARAÍSO ROCHA RUI OTAVIO ANDRADE
SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA · Fundada em 16 de janeiro de 1897 · Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 - 7º andar · Tel.: (21) 3231-6350 · Fax: (21) 2240-4189 · Caixa Postal 1245 · CEP 20021-130 · Rio de Janeiro - Brasil
E-mail: sna@sna.agr.br · www.sna.agr.br
ESCOLA WENCESLÁO BELLO / FAGRAM · Av. Brasil, 9727 - Penha - CEP 21030-000 - Rio de Janeiro / RJ · Tel.: (21) 3977-9979
Academia Nacional de Agricultura.
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
CADEIRA
PATRONO
TITULAR
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ENNES DE SOUZA MOURA BRASIL CAMPOS DA PAZ BARÃO DE CAPANEMA ANTONINO FIALHO WENCESLÁO BELLO SYLVIO RANGEL PACHECO LEÃO LAURO MULLER MIGUEL CALMON LYRA CASTRO AUGUSTO RAMOS SIMÕES LOPES EDUARDO COTRIM PEDRO OSÓRIO TRAJANO DE MEDEIROS PAULINO FERNANDES FERNANDO COSTA SÉRGIO DE CARVALHO GUSTAVO DUTRA JOSÉ AUGUSTO TRINDADE IGNÁCIO TOSTA JOSÉ SATURNINO BRITO JOSÉ BONIFÁCIO LUIZ DE QUEIROZ CARLOS MOREIRA ALBERTO SAMPAIO EPAMINONDAS DE SOUZA ALBERTO TORRES CARLOS PEREIRA DE SÁ FORTES THEODORO PECKOLT RICARDO DE CARVALHO BARBOSA RODRIGUES GONZAGA DE CAMPOS AMÉRICO BRAGA NAVARRO DE ANDRADE MELLO LEITÃO ARISTIDES CAIRE VITAL BRASIL GETÚLIO VARGAS EDGARD TEIXEIRA LEITE
ROBERTO FERREIRA DA SILVA PINTO JAIME ROTSTEIN EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA FRANCELINO PEREIRA LUIZ MARCUS SUPLICY HAFERS RONALDO DE ALBUQUERQUE TITO BRUNO BANDEIRA RYFF
DIRETOR RESPONSÁVEL Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Luiz Octavio Pires Leal EDITOR piresleal@globo.com RELAÇÕES INTERNACIONAI Marcio Sette Fortes
DIAGRAMAÇÃO E ARTE Murilo Lins murilolins@terra.com.br PRODUÇÃO GRÁFICA Juvenil Siqueira SECRETARIA Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br
FLÁVIO MIRAGAIA PERRI JOEL NAEGELE MARCUS VINÍCIUS PRATINI DE MORAE ROBERTO PAULO CÉZAR DE ANDRADES RUBENS RICUPERO PIERRE LANDOLT ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES ISRAEL KLABIN SYLVIA WACHSNER ANTONIO DELFIM NETTO ROBERTO PARAÍSO ROCHA JOÃO CARLOS FAVERET PORTO ANTONIO CABRERA MANO FILHO JÓRIO DAUSTER ANTONIO CARREIRA ANTONIO MELLO ALVARENGA NETO IBSEN DE GUSMÃO CÂMARA JOHN RICHARD LEWIS THOMPSON JOSÉ CARLOS AZEVEDO DE MENEZE AFONSO ARINOS DE MELLO FRANCOS ROBERTO RODRIGUES JOÃO CARLOS DE SOUZA MEIRELLES FÁBIO DE SALLES MEIRELLES LEOPOLDO GARCIA BRANDÃO ALYSSON PAOLINELLI OSANÁ SÓCRATES DE ARAÚJO ALMEIDA DENISE FROSSARD ERLING S. LORENTZEN CONSULTORES Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br
É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. - End.: Rua Nova Jerusalém, 345 - Parte - Maré, CEP 21042-235, Rio de Janeiro, RJ - CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 FOTO de capa: Ney Braga - Código ISSN 2237-132X - Tiragem: 8.500 exemplares
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Animais da fauna brasileira Animals of the Brazilian fauna Por/Text Prof. Dr. Antonio Carlos Cunha Lacreta Junior Depto. De Medicina Veterinária – Universidade Federal de Lavras
Department of Veterinary Medicine – Federal University of Lavras
Sumário
Quando se pensa em uma serpente como animal de estimação, há quem ache muito estranho e esquisito! As serpentes estiveram e estão presentes em diversos momentos da civilização humana e são famosas desde os primórdios. Nas inscrições da Bíblia, foi uma serpente que corrompeu Eva, fazendo-a saborear o fruto da árvore da ciência, do bem e do mal. Talvez por isso, seja uma das metáforas mais utilizadas para os vilões e mal intencionados Summary
When one thinks about a snake as a pet, there are those who find it very strange and weird! At different times of human civilization, snakes were and still are present and are famous since the beginning of times. In the Bible scriptures it was a snake that corrupted Eve, causing her to taste the fruit of the tree of science, of good and evil. Perhaps for this reason it is one of the most used metaphores for villains and ill intentioned individuals.
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”São animais pacíficos e dóceis, extremamente lentos em terra, levando muito tempo para se deslocar em pequenas distâncias”
Cultuada por diversos povos é figura mitológica no antigo Oriente Médio; foi escolhida como algoz de uma das mais famosas rainhas, Cleópatra, a rainha do Egito. Conta a lenda que Hipócrates, o pai da medicina, quase foi morto pela picada de uma serpente peçonhenta que estava enrolada em seu cajado, por sua sabedoria e o poder do saber a dominou, portanto, imortalizou sua imagem nos símbolos das profissões que lidam com a saúde. Quando “dançam” encantadas pelas flautas dos hindus, atraem pessoas não só por curiosidade mas, também, porque promovem um efeito quase alucinógeno nos observadores. São temas de diversos programas de televisão e filmes “hollywoodianos”; utilizadas em shows e até cultos por determinadas religiões. Sua peçonha é pesquisada em diversos campos da ciência, tendo sua aplicação em antídotos e diversos outros produtos com fins terapêuticos. Por essas histórias, fatos e lendas, fica mais fácil entender como as serpentes fascinam e encantam pessoas, ao ponto destas as terem como animais de estimação. As serpentes estão incluídas na ordem Squamata que compõe a subordem Ophidea. Já foram descritas cerca de 2.930 espécies de serpentes no mundo e aproximadamente 10% delas estão no Brasil. São encontradas em quase todas as partes do globo terrestre, preferencialmente nas regiões temperadas e tropicais. Habitam diversos biomas, ocupando vários ambientes naturais: terrestre, subterrâneo, arbóreo e aquático. Esses animais são chamados de ectotermos, pois necessitam de uma fonte de calor externa para regular a tempe8_Animal Business-Brasil
ratura. Das 370 espécies que ocorrem no Brasil, 57 são peçonhentas e dividem-se entre as famílias Elapidae e Viperidae, as demais, não peçonhentas, estão distribuídas nas famílias Anilidae, Colubridae e Boidae. As serpentes pertencentes à família Boidae são as mais procuradas para criação em cativeiro e as mais comercializadas como pet exótico. Essa família é a mais primitiva entre as famílias de serpentes, sua existência data de 146 milhões de anos. Apresentam até hoje vestígios dos membros pélvicos, chamados popularmente de unhas ou esporões, localizados ao lado da cloaca. As serpentes píton da família Pitonidae, por vezes são confundidas erroneamente como membros dessa família. Existem 4 espécies da família Boidae no Brasil: Eunectes (Sucurí), Epicrates (Salamantas), Corallus (Suaçuboia e Periquitambóia) e a Boa (Jibóias), as três últimas divididas em duas subespécies cada. São tidas como uma das maiores serpentes do planeta, em tamanho e peso, a exemplo da Sucuri ou Anaconda (Eunectes murinus) com registro de animais com 11 metros de comprimento, podendo chegar a 250 quilos. Animais chamados de constrictores esmagam suas presas envolvendo-se em torno do corpo das mesmas até asfixiarem-nas. São áglifos (sem dentes), não possuem presa inoculadora de veneno e predam principalmente mamíferos, roedores, pássaros, lagartos e anfíbios. Dentre os Boídeos descreve-se sobre duas espécies de ocorrência nacional: a Boa constrictor e a Corallus caninus.
A Boa constrictor, ou Jibóia-constrictora é a segunda maior espécie de cobra do Brasil. Existem duas subespécies, a Boa constrictor amarali (Jibóia) e a Boa constrictor constrictor (Jibóia amazônica), esta última chegando a 4 metros de comprimento e 40 quilos de peso. Chegam a viver 30 anos e são encontradas em, praticamente, todas as regiões do Brasil; caatinga, cerrado, mata atlântica, floresta amazônica, restingas e mangues. Seu corpo é alongado roliço e ligeiramente comprido nas laterais. Possui cor camuflada, com tons de marrom, bege e cinza, sendo a Boa constrictor constrictor mais amarelada. São animais pacíficos e dóceis, extremamente lentos em terra, levando muito tempo para se deslocar em pequenas distâncias. Consideradas vivíparas, embora alguns pesquisadores a classifiquem como ovovivíparas produzem ninhadas entre 12 e 64 crias, que nascem com 40 cm de comprimento e 80 gramas de peso e a gestação pode durar 180 dias. Tem hábito noturno, vivendo a maior parte do tempo em árvores e se alimentam principalmente de aves, roedores e lagartos. A Corallus caninus, também conhecida como cobrapapagaio, arabóia, ararambóia, araumbóia, boaarborícola-esmeralda, jibóia-verde, periquitambóia e píton-verde-da-árvore, é um dos ofídeos mais bonitos e exuberantes do mundo, muito valorizada e desejada pelos amantes destes animais. Seu corpo é longo e fino, com o dorso verde apresentando barras transversais branco-amareladas e região ventral amarela. A cabeça é grande e pouco achatada, com o focinho ligeiramente curvado para baixo e bem distinta do corpo. Uma curiosidade é a fenda que possui na parte de cima da cabeça, que serve para acumular água da chuva, para ir bebendo aos poucos. É encontrada na região amazônica, possui hábito noturno e permanece a maior parte do tempo enrolada nos troncos das árvores, assumindo uma posição característica com a cabeça apoiada no centro das voltas do corpo. Adulta atinge dimensões entre 1,50 e 2,20 metros e alimen-
ta-se, principalmente, de aves e morcegos. Assim como as jibóias, são áglifas, embora possuam dentes grandes e poderosos, particularidade que lhe dá o nome (caninus). São ovovivíparas, a gestação dura em torno de 6 a 7 meses, parindo cerca de 6 a 18 filhotes. Os filhotes quando nascem possuem cor vermelha, amarela ou alaranjada (variação ortogenética da cor), mudando para o verde em 12 meses, que se intensifica com o passar da idade. São difíceis de serem reproduzidas em cativeiro, possuem uma índole mal-humorada e agressiva e não gostam muito de ser manipuladas. A criação e comercialização de serpentes no Brasil é regulamentada pelo IBAMA, que concede autorização para instalação de criatórios permanentes. A aquisição deve ser feita apenas em criatórios credenciados e de maneira alguma deve-se obter exemplares da natureza, o que caracteriza crime ambiental. Para o transpote em território nacional é exigido uma guia (GTA) expedida pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento, além de nota fiscal emitida por criador registrado. Para entrada dessas serpentes em outros países deve-se consultar a legislação local. Os exemplares de jibóia e periquitambóia custam em torno de R$1.500,00 a R$6.000,00 e, para aqueles que desejam criar esses animais, há necessidade de ambiente apropriado que possa mimetizar as condições naturais.
Conta a lenda, que Hipócrates, o pai da medicina, quase foi morto pela picada de uma serpente peçonhenta que estava enrolada em seu cajado. Por sua sabedoria e o poder do saber, a dominou e imortalizou sua imagem nos símbolos das profissões que lidam com a saúde. Animal Business-Brasil_9
CIĂŠNCIA & TECNOLOGIA Science and Technology Por/Text Adeildo Lopes Cavalcante
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Incubadora artificial de ovos dispensa decisões de operador
Uma incubadora artificial de ovos controlada por um sistema de lógica, sem a necessidade das ações e decisões de um operador, é a mais nova conquista do Laboratório de Instrumentação e Controle da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas. O sistema de controle foi simulado e demonstrou viabilidade por permitir capturar as ações do operador em determinadas situações que aperfeiçoam o processo de incubação. Entre as principais vantagens da estratégia de controle proposta está a possibilidade de se adequar o ambiente de incubação às exigências de cada etapa do desenvolvimento do embrião, permitindo aumentar a eclosão dos ovos e melhorar o sincronismo de nascimento. Um aspecto importante a ser observado é a dificuldade encontrada para se ter acesso aos incubatórios, em razão dos segredos de operação de cada empresa.
Embrapa lança nova linhagem de suíno light
Trata-se da linhagem MS 115, que representa a nova geração do suíno light desenvolvida pela Embrapa Suínos e Aves. Para o chefe geral dessa unidade e pesquisador responsável pelo desenvolvimento do novo suíno light, Elísio Figueiredo, a linhagem tem potencial genético para carne na carcaça acima de 62%, reduzida espessura de toucinho e ótima conformação, com excelente concentração de carne no lombo, pernil e paleta. O reprodutor confere ainda aos descendentes ótima conversão alimentar (ou seja, a quantidade de ração necessária para gerar cada quilo de peso vivo) até os 115 quilos, garantindo a rentabilidade da produção. Nos seus descendentes, o percentual de carne na carcaça é superior a 58% e a conversão alimentar de 2,21 quilos de ração para cada quilo de peso vivo.
Novos equipamentos para coleta de embriões A Embrapa Caprinos e Ovinos e a Embrapa Gado de Leite desenvolveram um circuito e uma sonda que operam em conjunto na coleta de embriões de caprinos e ovinos pela via transcervical. Com o novo método, os animais não precisam passar por intervenção cirúrgica, o que ocorre nos métodos tradicionais. “Além de promover maior bem estar, evitando sequelas físicas nos animais, o processo permite o aumento na taxa de recuperação de embriões, além de maior eficiência, controle e segurança na coleta”, explica o pesquisador Jeferson Ferreira da Fonseca, um dos inventores dos equipamentos. Atualmente, na coleta de embriões em caprinos e ovinos, faz-se uso de materiais adaptados de outras espécies. Animal Business-Brasil_11
Sistema de rastreabilidade de bovinos faz sucesso na Agrishow 2012
Um sistema de rastreabilidade de bovinos 100% nacional foi apresentado na edição 2012 da Agrishow − principal feira de negócios do setor agropecuário do Brasil − pela Embrapa Pecuária Sudeste e foi um dos destaques daquele evento. Já à venda, o sistema permite saber como foi produzida a carne bovina e por onde ela passou, resultando em um produto seguro e de qualidade. Desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste, em parceria com a empresa Animal Tag, a tecnologia monitora o trânsito dos animais por meio do Tag Ativo, um dispositivo eletrônico de identificação por radiofrequência, similar ao utilizado nos pedágios “Sem Parar” ou “Passe Fácil” das rodovias. O sistema é composto pelo Tag Ativo, um leitor fixo para leitura do Tag, brincos eletrônicos para identificação dos animais e um leitor portátil para leitura do brinco.
Vitelo Tropical: renda extra para o produtor de leite
Visando abrir mais uma frente de negócios para os produtores de leite, o Instituto Agronômico do Paraná, vinculado à Secretaria estadual de Agricultura, desenvolveu tecnologia para produção do que denominou Vitelo Tropical. Trata-se de um produto oriundo do bezerro leiteiro que, geralmente, é descartado ou vendido a preços irrisórios. De carne de baixo teor de gordura e maior maciez, o vitelo é abatido com seis a oito meses de idade, pesando 200 quilos aproximadamente. Opcionalmente, dependendo da conveniência, o animal pode ser abatido com até 290 quilos, sem grandes alterações na carcaça (cor da carne, maciez e suculência), a não ser as recomendadas por veterinário. Da carne desse animal também pode-se produzir embutidos e defumados de alta qualidade. 12_Animal Business-Brasil
Universidade de Viçosa desenvolve leite descontaminado
Pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, desenvolveram, depois de três anos de estudos, um tipo de leite de vaca descontaminado (livre de bactérias) e com todas as propriedades nutritivas mantidas, o que não ocorre nos processos tradicionais de esterilização. Para isso, utilizaram um processo denominado microfiltração. O processo tem por base a separação de substâncias: enquanto o leite passa por uma membrana (placa de cerâmica e óxido de zircônia com orifícios), as bactérias e as células somáticas da vaca ficam retidas. Depois da microfiltração, o leite é submetido à pasteurização para se enquadrar à legislação brasileira. Para contatos: Departamento de Tecnologia de Alimento da UFV: tels.: (31) 3899-2226; 3899-2227 e 3899-2228.
Técnica permite obter mais potros com uma dose de sêmen
Técnica desenvolvida pela Faculdade de Medina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, campus de Botucatu (SP), permite com uma dose de sêmen gerar até quatro potros contra apenas um com a utilização da inseminação convencional. Segundo os pesquisadores, com auxílio de um endoscópio humano, é possível colocar o sêmen mais próximo da junção útero-tubária, caminho natural para o espermatozoide alcançar o óvulo. Na técnica convencional, o espermatozoide não é depositado próximo do óvulo e necessita ultrapassar barreiras antes de atingi-lo. “Pela perda de fertilidade, ocasionada pelo congelamento, seriam necessárias, em média, três doses de sêmen para o nascimento de um potro”, diz o pesquisador Marco Antonio Alvarenga, veterinário responsável pela introdução da técnica de inseminação artificial por endoscopia no Brasil.
Rede de apoio aos produtores de rãs
A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) iniciou, em junho de 2012, a formação de uma rede de interação e aprendizagem para apoiar a cadeia produtiva da ranicultura (criação de rãs). O objetivo é permitir que os diversos criadores troquem experiências e conheçam as novas tecnologias destinadas à criação de rãs, por meio do contato com a Embrapa e com outras instituições, como a Universidade Federal do Paraná (UFPR). Entre as propostas da rede está a criação de um ambiente virtual e a realização de cursos periódicos, em que os criadores poderão mostrar as dificuldades, trocar experiências e conhecer novas técnicas. A Embrapa também pretende fazer um levantamento para conhecer melhor o setor e o perfil dos criadores. Animal Business-Brasil_13
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Instituto Vital Brazil Vital Brazil Institute Sumário
O Instituto Vital Brazil foi criado em 3 de junho de 1919, em Niterói/RJ, pelo cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha. Chamava-se Instituto de Higiene, Soroterapia e Veterinária. Anos mais tarde, o Instituto Vital Brazil viria a se tornar uma importante empresa privada de pesquisa e produção, fabricando produtos veterinários, biológicos (soros e vacinas) e farmacêuticos. O cientista Vital Brazil também foi fundador do Instituto Butantan, em São Paulo. Em 1957, a empresa foi vendida para o Governo do Estado do Rio de Janeiro, que mantém o modelo idealizado por seu fundador: ser uma instituição de pesquisa e produção de soros, vacinas e medicamentos. Summary
Vital Brazil Institute was founded on June 3, 1919 in Niterói, state of Rio de Janeiro, by the scientist Vital Brazil Mineiro da Campanha. It used to be called Institute of Hygiene, Serotherapy and Veterinary. Years later, Vital Brazil Institute would become an important private company for research and production, manufacturing veterinary, biological (serums and vaccines) and pharmaceutical products. The scientist Vital Brazil was also founder of the Butantan Institute in São Paulo. In 1957, the company was sold to the government of the state of Rio de Janeiro,which maintains the model idealized by its founder: to be an institute for research and production of serums, vaccines and medications.
INSTALAÇÕES Sede do Instituto Vital Brazil - O Instituto Vital Brazil (campus Niterói) ocupa uma área de 32 mil m². O prédio principal tem 4.126 m² e as outras construções da instituição somam 9.099 m², o que totaliza em 13.225 m² de área construída do Instituto Vital Brazil. Fazenda Vital Brazil - A Fazenda Vital Brazil foi inaugurada no dia 28 de abril de 2010. Com 17 alqueires, o espaço fica em Cachoeiras de Macacu e foi comprado com o objetivo de ser um lugar para a Animal Business-Brasil_15
criação dos equinos utilizados no processo da produção de imunoglobulinas e soros hiperimunes. A fazenda fica a, aproximadamente, 76 km da sede do instituto, no Km 23 da estrada RJ 122, em Cachoeiras de Macacu. Centro de Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (Cepe) - Pró-Idoso está situado em uma área de 2.756,40 m2, no bairro da Gávea, cidade do Rio de Janeiro. A infraestrutura do Cepe Pró-Idoso prevê a interação com diversos setores da sociedade em atividades de pesquisa, assistência, ensino e proposição de políticas públicas, com participação de instituições parceiras e pesquisadores associados; equipes das esferas municipal, estadual e federal; sociedades médicas, universidades e organismos nacionais e internacionais. ATIVIDADES Soros - O Vital Brazil é um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros e um dos quatro fornecedores de soros hiperimunes para o Ministério da Saúde, que os distribui por todo o Brasil. No instituto, são produzidos antídotos contra tétano, raiva e antipeçonhentos, usados no tratamento de acidentes com cobras, aranhas e escorpiões. Desde 2001 o Vital Brazil é único produtor brasileiro do soro contra o veneno da aranha viúva-negra. Os soros produzidos nos laboratórios oficiais não podem ser encontrados em farmácias e não são vendidos a particulares. São aplicados nos Polos de Atendimento, rede de hospitais estrategicamente localizados, para atendimento gratuito aos acidentados. Antibotrópico – contra o veneno das jararacas (incluindo as jararacuçus, urutus, caiçacas e jararacas pintadas) Anticrotálico – contra o veneno das cascavéis Antibotrópico-crotálico - contra o veneno de jararacas e cascavéis Antibotrópico-laquético – contra o veneno das jararacas e surucucus Antilatrodéctico – contra o veneno da aranha viúva-negra Antiescorpiônico – contra o veneno do escorpião amarelo Antitetânico – contra tétano Antirrábico – contra raiva Medicamentos – Em 2010, o instituto incorporouse à nova orientação do Governo Federal que con16_Animal Business-Brasil
1 - Cápsulas – Possui quatro formulações: 1,5mg, 3mg, 4,5mg e 6mg, em blisters de 15 cápsulas cada. 2 - Solução Oral – Em fase de desenvolvimento (teste de equivalência farmacêutica). A produção da parte líquida da rivastigmina será feita no próprio Vital Brazil. Octreotida – (em desenvolvimento – em fase de teste de estabilidade). O Instituto Vital Brazil produziu, em setembro de 2011, os primeiros 6mg de octreotida sintética. A substância, ainda em desenvolvimento, é essencial para a fabricação do medicamento que combate a acromegalia. A produção da octreotida faz parte de um termo de compromisso entre o Vital Brazil e o Ministério da Saúde, firmado em abril de 2010, que garante a compra do medicamento produzido pelo instituto.
sidera estratégica a parceria e a integração dos setores públicos e privados a fim de estimular a fabricação de medicamentos no Brasil e, assim, fortalecer o campo da Saúde. Com isso, retomou a produção de medicamentos sólidos de alta complexidade. Esta parceria gerou condições necessárias para desenvolver e produzir medicamentos de alto valor agregado, com garantia total de qualidade e de forma verticalizada. Rivastigmina – Em junho de 2012, o Instituto Vital Brazil iniciou a entrega do medicamento rivastigmina às Secretarias Estaduais de Saúde. A medicação foi encomendada pelo Ministério da Saúde e possui apresentação em cápsulas e solução oral. A partir de agora, o Ministério poderá atender aos usuários do SUS com menor custo. A distribuição é gratuita nos polos de atendimento do governo para os usuários cadastrados. O medicamento genérico hemitartarato de rivastigmina (rivastigmina) é indicado para o tratamento da Doença de Alzheimer. É um medicamento desenvolvido e produzido em nosso país, com registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O Vital Brazil é o único laboratório oficial responsável pela produção da rivastigmina. A produção é fruto da parceria com o Laboratório Farmacêutico Laborvida, com participação da EMS e das indústrias de química fina Globe e Nortec.
PESQUISA Laboratório de Biomarcadores (Biomarc) - foi criado no dia 8 de julho de 2008, com a proposta de utilizar a tecnologia do papel de filtro para agilizar e tornar mais baratos exames que tradicionalmente são feitos por punção venosa (procedimento que consiste em penetrar a veia com uma seringa para coletar o sangue). A tecnologia de papel de filtro utiliza apenas algumas gotas de sangue obtidas por meio de um pequeno furo no dedo do paciente. O método de coleta de sangue é simples, eficaz e não precisa de condições especiais de armazenamento e transporte das amostras. Atualmente, exames de sangue, feitos no molde tradicional, com garrote e tubos, podem acarretar problemas como coagulação do sangue, entre outros. Já o papel de filtro transporta o sangue seco e, em poucos dias, o resultado pode ser enviado por e-mail, fax ou outro que a localidade tiver disponível. Também elimina a necessidade de grandes investimentos em treinamento. Por hora, os exames são
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feitos apenas em gestantes com objetivo de reduzir a transmissão de doenças infecto-contagiosas de mãe para filho. Parque Tecnológico da Vida – Em outubro de 2010, o Instituto Vital Brazil, a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) e a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Niterói (SMCT) lançaram o Parque Tecnológico da Vida. O objetivo é sediar empreendimentos de pesquisa e desenvolvimento de micro e pequenas empresas de base tecnológica, unidades de PD&I de empresas, unidades de produção, facilidades compartilhadas e centros de capacitação de pessoas. O Parque visa a ampliar no estado o número de projetos, produtos e serviços de base biotecnológica, oferecendo oportunidades aos empreendimentos startups e estabelecendo parceria com as empresas já solidificadas por meio da incubação ou associação ao parque. Essas empresas terão à disposição toda infraestrutura das instituições parceiras. Uma das grandes preocupações é construir o Parque em estágios, objetivando diminuir os fatores de risco. A intenção é montar uma rede de parques voltados para as Ciências da Vida, a fim de se especializar em áreas como saúde, meio ambiente, agropecuária e industrial, tornando o estado do Rio uma referência na área.
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ANIMAIS Aracnário – O aracnário do Instituto Vital Brazil trabalha com pesquisa e extração de veneno de artrópodes. O plantel conta com, aproximadamente, 13 mil animais (10 mil aranhas e 3 mil escorpiões) criados para produção de soro. Dentre os acidentes mais comuns, destacam-se os com os escorpiões amarelos. Um fator que merece destaque é que apenas o Instituto Vital Brazil produz o soro contra a picada da aranha viúva-negra. Famosa pelo seu pequeno tamanho e pelas reações que causa no paciente, que podem levá-lo à morte. Biotério – O biotério é importante base da produção de soros e vacinas. O Laboratório de Controle Sanitário Animal, responsável por manter e controlar a saúde dos animais usados nos testes em geral, está também colaborando com o controle sanitário dos cavalos, além da já rotina com os quase 7 mil camundongos, 300 cobaias (preás), 700 coelhos e 200 ratos criados no Biotério. A missão é grande, não se resume à criação de animais usados para alimentar outras espécies. É um trabalho científi-
co que garante ao Instituto Vital Brazil a certeza de produtos de qualidade comprovada. Os animais de laboratório são utilizados em pesquisas biomédicas e produção de imunobiológicos. Estudos de anatomia, fisiologia, imunologia e virologia, dentre outros, são realizados nestes animais, o que permite um avanço, considerável, no desenvolvimento da ciência e da tecnologia em benefício da humanidade. Serpentário – O Instituto Vital Brazil possui dois serpentários, um na sede e outro na Fazenda. O da sede possui um plantel de aproximadamente 600 animais, dentre os quais estão cobras venenosas e também sem peçonha. 1 - Cobras Venenosas – São aquelas que representam risco de acidentes, pela picada e cujo veneno ocasiona diversos sintomas. Podem conduzir à morte caso não haja tratamento específico adequado. É importante que o tratamento seja rápido e realizado por profissionais de saúde qualificados, em unidades de atendimento médico especializadas. 2 - Cobras não-venenosas – Não representam risco de morte. Apesar de não terem veneno, acidentes com este tipo de cobra podem causar sintomas incômodos, como dor, dormência, vermelhidão, inchaço, febre, sensação de queimação e até mesmo a transmissão de tétano, infecções secundárias e outras doenças. É aconselhável procurar atendimento médico. Serpentário Fazenda - Como parte das comemorações dos 147 anos do cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha foi inaugurado, em 28 de abril de 2012, o Serpentário da Fazenda Vital Brazil (em Cachoeiras de Macacu). O modelo é exatamente o mesmo projetado pelo cientista e que funcionou durante décadas, a partir dos anos de 1920, no Instituto Vital Brazil, em Niterói. O conceito ecológico contido nestes ambientes foi criado para que as serpentes pudessem, facilmente, se adaptar e se reproduzir e representa mais uma das referências ao pioneirismo de Vital Brazil. SERVIÇOS Exposição Permanente - Cobras, aranhas e escorpiões podem ser vistos no Centro de Exposição Permanente, no jardim da entrada principal do Instituto Vital Brazil. A atração faz parte do roteiro turístico de Niterói. A exposição pode ser visitada todos os dias, em horário comercial (8h30 às 16h30) e nos fins de semana e feriados, das 8h30 até meio-dia.
Extração pública de veneno – Mensalmente, quem quiser poderá conferir extrações públicas de venenos de cobras e escorpiões e visitar algum setor da instituição (de pesquisa ou criação de animais). A iniciativa é parte do projeto “Um toque de ciência”, que tem o objetivo de informar e educar sobre animais peçonhentos, pesquisas e questões ambientais. O evento é gratuito e começa às 9h30 (toda última sexta-feira do mês). Durante a atividade, os biólogos e pesquisadores do Vital Brazil explicam, passo a passo, a retirada do veneno dos animais e, depois do processo da extração e durante a visita ao setor, respondem às dúvidas que surgirem. Biblioteca – Uma biblioteca especializada em medicina e veterinária. Assim pode ser definido o acervo disponível a estudantes e pesquisadores. Nela estão reunidos cerca de 2.200 livros e 70 periódicos, além de documentos originais das pesquisas de Vital Brazil, textos científicos, autobiográficos e discursos publicados em português, francês ou alemão. Outra atração é a exposição permanente de ciências naturais, que conta com material em cera e exemplos conservados de casos de câncer. Na Biblioteca do Instituto Vital Brazil há uma pequena exposição de cobras, escorpiões, aranhas e outros artrópodes conservados em álcool. Além dos animais, também são expostos fetos que despertam o interesse e a curiosidade dos visitantes. Além disso, uma pequena mostra de objetos utilizados pelo cientista Vital Brazil, fundador do instituto, pode ser conferida. O local é bastante agradável, com bancos ao ar livre e opções de lazer educativo. A Biblioteca atende uma média mensal de cerca de 100 visitantes, dispõe de uma sala de estudos e está aberta de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Palestras - O Instituto Vital Brazil oferece uma série de cursos e palestras por meio do seu Centro de Estudo. Estudantes podem solicitar palestras com biólogos direcionadas à idade e escolaridade de cada Animal Business-Brasil_19
grupo. Nossos profissionais usam linguagem simples, didática e de acordo com a faixa etária. Especialmente para o público infantil foram criados cartazes com desenhos e linguagem didática para facilitar o entendimento das crianças. O trabalho foi feito por equipe multidisciplinar do próprio instituto, envolvendo biólogos, pedagogos e jornalistas. Os desenhos mostram as características dos animais, hábitos, como se alimentam, formas de evitar acidentes e o que fazer se eles ocorrerem. As escolas interessadas em visitas especiais devem enviar pedido por escrito, via fax, com pelo menos 15 dias de antecedência. As equipes do Serpentário e dos Artrópodos prestam importante serviço à população, prefeituras e empresas. Além de criarem os animais dos quais serão extraídos os venenos para produção dos soros, elas capturam cobras, aranhas e escorpiões, dão consultoria e treinamentos. A cada ano mais de seis mil pessoas aprendem a identificar e a capturar as espécies, evitar infestações e a fazer o controle biológico, quando necessário, prevenindo acidentes com animais peçonhentos. Empresas (públicas ou privadas) interessadas em palestras sobre prevenção de acidentes com animais peçonhentos e primeiros socorros também podem solicitar o serviço. O treinamento pode ser dado no próprio Instituto Vital Brazil ou no local solicitado (dependendo do caso). Os participantes de treinamentos recebem certificado de participação. Exposição Itinerante - O Instituto Vital Brazil pode levar ao seu evento animais peçonhentos vivos e material didático sobre como conviver, evitar acidentes com estes bichos e primeiros socorros em caso de picadas. Os biólogos do instituto vão aos eventos e passam as principais informações sobre os animais peçonhentos para os participantes. São dois modelos de exposição, que variam de acordo com o porte do evento e o tamanho (e características) do local que o abrigará. A sensação do estande são os bichos vivos, como cobras, escorpiões e aranhas, levados aos eventos em aquários feitos em acrílico e com alças. Os visitantes recebem material explicativo e assistem a um vídeo sobre os animais. No local, há ainda gente especializada para tirar as dúvidas que surgirem. “Vital Brazil - Um Sonho Feliz de Ciência” - Inaugurada em maio de 2008, a exposição itinerante “Vital Brazil - Um Sonho Feliz de Ciência” tem três módulos: 20_Animal Business-Brasil
o primeiro (Os primeiros passos do fazer científico no Brasil) traça um breve panorama histórico sobre o processo de consolidação das instituições científicas brasileiras, vindo desde o século XIX até as primeiras décadas do século XX. O segundo focaliza a trajetória de Vital Brazil e o terceiro e último mostra, entre outras coisas, a contribuição da arte às ciências através da obra de um dos mais constantes colaboradores do cientista: Augusto Esteves, artista plástico e autor de um dos mais belos e preciosos acervos de ilustrações científicas em nosso país. A exposição “Vital Brazil - Um sonho feliz de ciência” é resultado da parceria do Instituo Vital Brazil com a Casa de Vital Brazil, museu mantido pela família do cientista na cidade mineira de Campanha.
No apoio ao diagn贸stico veterin谩rio Supporting veterinary diagnosis Texto e foto Luiz Octavio Pires Leal
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Sumário
Foi muito grande o progresso havido, nos últimos anos, no que se refere ao apoio ao diagnóstico em medicina veterinária. Atualmente, os clínicos e cirurgiões podem contar com equipamentos avançados em todos os campos, com destaque para as determinações químicas do sangue e outros flúidos, como também para o diagnóstico por imagem. Summary In the last years, the progress was huge as far as support to veterinary medicine diagnosis is concerned. Presently, medical doctors and surgeons may count on advanced equipment in all fields, with highlight to blood and other fluids chemical determinations as well as for diagnostic imaging.
A medicina veterinária brasileira vem conseguindo acompanhar os grandes avanços que vêm ocorrendo no Primeiro Mundo em termos de métodos, sistemas e equipamentos avançados e que hoje são considerados indispensáveis para um diagnóstico seguro, reduzindo tanto o risco como o tempo dos diferentes procedimentos e, às vezes, até mesmo o custo. No campo, por exemplo, da hematologia, um hemograma completo, que é básico num grande número de casos, pelo método antigo, demorava muito e dependia demais da capacidade e do treinamento do técnico. Hoje, com os equipamentos digitalizados, a precisão aumentou muito e o tempo foi, drasticamente, reduzido. O caso da radiografia, por exemplo, é icônico. Antes do advento da radiografia digital, o equipamento era muito maior e mais pesado, a quantidade de radiação maior, a revelação e secagem da chapa eram trabalhosas, demoradas e exigiam local próprio para 22_Animal Business-Brasil
o trabalho. O técnico enfrentava grande desconforto no laboratório e o risco de doenças graves causadas pela radiação eram significativos. Agora, com a radiografia digital, o trabalho é feito “a seco”, o resultado é imediato e lido na tela do computador onde a imagem pode ser vista de diversos ângulos, em close e com outros recursos que a moderna informática permite. E – muito importante – ela pode ser mandada, via-email, para qualquer lugar do planeta alcançável pela Internet. Um dos empreendimentos pioneiros no assunto é o CAD –Centro de Apoio Diagnóstico, fundado há duas décadas, no Rio e, atualmente, com duas sedes: uma no Jardim Botânico e outra na Tijuca, graças à visão das fundadoras, médicas veterinárias Simone Selem (de blusa vermelha) e Cláudia Daniel, que permanecem à frente do negócio. Elas explicam que o investimento não é pequeno e que, ao contrário do que acontecia antigamente, não há mais necessidade de fazer adaptações de equipamentos usados em medicina humana porque, já é possível comprar equipamentos fabricados especificamente para animais. Um desses equipamentos, que vem fazendo sucesso no CAD, por sua precisão, conforto e segurança permite ser programado para mais do que uma função em ultrassonografia sendo, inclusive, usado em cardiologia. Mas as veterinárias concordam na advertência de que os equipamentos, por mais modernos e eficientes que sejam, não passam de ferramentas que continuam dependendo da capacidade técnica, não apenas de quem os opera mas também e, principalmente, de quem interpreta os resultados quando confrontados com o exame clínico dos animais. Elas ressaltam que nada substitui uma boa formação e uma permanente disposição para a atualização científica.
Mel com Biodiversidade:
diversificando a criação de abelhas Honey with Biodiversity: diversifying apiculture
Por/Text Professora Maria Cristina Lorenzon, UFRRJ
Sumário
Comumente, o segmento de maior destaque na criação de abelhas é a cadeia apícola que envolve a criação da abelha melífera africanizada, exótica, cuja expansão, em nosso País, tem sido extraordinária nas últimas duas décadas. No Estado do Rio de Janeiro, um dos maiores centros consumidores de mel do país, a apicultura congrega apenas dois mil produtores, número insuficiente para atender a demanda interna, de mais de 1.500 toneladas ano. Summary Usually the most outstanding segment in bee breeding is the apiarian chain which involves the breeding of africanized honey bees, exotic, which expansion in our country has been extraordinary in the last two decades. In the state of Rio de Janeiro, one of the largest honey consuming centers, apiculture only congregates two thousand producers, an insufficient number to supply the internal demand of over 1,500 tons/year.
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Na região metropolitana são comercializados, principalmente, méis da floração de eucalipto e laranjeira, vindos de outros estados mas é dos apicultores fluminenses a produção mais procurada, os méis originários de florações silvestres como morrão-de-candeia, cambará, alecrim, assa-peixe, candeia e angico, que têm qualidade reconhecida pela sua isenção de resíduos de agrotóxicos. Ainda emergente, a meliponicultura no Estado do Rio desponta com a nobre alternativa de apoiar a conservação da Mata Atlântica, um dos maiores biomas de nosso planeta, em franco declínio. O segmento meliponícula envolve a criação das nossas abelhas indígenas, sem ferrão. São cerca de 40 espécies nativas da Mata Atlântica, das quais é possível criar pelo menos cinco, como as abelhas jataí, iraí, mandaçaia, uruçu amarela e rajada (nomes populares), por sua natureza dócil, pela facilidade de manejo e disponibilidade de tecnologia de criação aprimorada. Seu sistema de produção é exclusivamente artesanal, voltado principalmente para o aumento de suas populações em áreas de flora nativa; e a produção de mel, embora baixa, é de alto valor alimentício pois logo após colhido pode ser consumido sem necessidade de processamento industrial, comum na apicultura, que implica em perda parcial de sua qualidade original.
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O segmento menos conhecido é a criação de abelhas solitárias, com uma riqueza de mais de 300 espécies no domínio Mata Atlântica, com forte ação sobre a biodiversidade deste bioma. São também as de mais baixo custo: 2.000 ninhos-armadilha não ultrapassam R$ 50,00. Não são abundantes e são, praticamente, desconhecidas pelos criadores de abelhas. Com a redução dos sítios de nidificação, sua criação é imperiosa para proteção e restauração de sua população em declínio. Todos os segmentos que tratam da criação de abelhas se envolvem na polinização, trabalho essencial realizado por estes insetos para auxiliar na reprodução das plantas. Mas são as nossas abelhas indígenas as mais adaptadas para manter nossa flora tropical. Em face da diversidade de abelhas, que geram méis de origem excepcional de nossa flora tropical, produtores e técnicos se reuniram em Mangaratiba (Sul Fluminense), na 1ª Conferência Estadual sobre Abelhas, para discutir sobre sua conservação, qualidade dos produtos apícolas, uso sustentável do meio ambiente e, como a união faz a força, promover a cooperação. Juntos, vamos galgar níveis de produção e qualidade de seus alimentos que tornam o Estado do Rio merecedor de ser um dos maiores consumidores de mel. Para mais informações, acesse: www.ufrrj.br/conferenciaestadual_abelhas.
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Convenções Coletivas
Instrumentos de melhoria das condições de trabalho rural. Collective Conventions
Instruments for the rural work conditions improvement
Fábio de Salles Meirelles Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo - FAESP President of the Federation of Agriculture and Livestock of the State of São Paulo – FAESP
O Estatuto do Trabalhador Rural – foi criado pela Lei 4.214, de 2 de maio de 1963, e trouxe aos homens do campo alguns direitos, fixando algumas garantias trabalhistas, tais como, salário mínimo, férias, aviso prévio, e alguns outros. Mais tarde, esses direitos foram ampliados, passando também a fazer parte de seu rol, o repouso semanal remunerado e a gratificação natalina. Sendo que, foi esta mesma Lei que fundamentou a criação das entidades sindicais. Em 8 de junho de 1973, foi editada a Lei 5.889, estatuindo novas normas reguladoras do trabalho rural e também revogando o Estatuto do Trabalhador Rural. Mas, foi somente com o advento da Constituição de 1988 que o trabalhador rural logrou ter os seus direitos tratados de maneira 26_Animal Business-Brasil
igualitária aos direitos consagrados aos trabalhadores urbanos, notadamente quanto à proteção previdenciária. Não obstante, e dadas às peculiaridades do trabalho do campo, alguns direitos ainda têm regulação específica na Lei 5.889/73 e seu Decreto regulamentador. Mas tais direitos derivam de leis. Aqui estamos para falar sobre as Convenções Coletivas. Nas convenções, os Sindicatos representando as respectivas categorias, tornam-se os próprios legisladores da relação trabalhista e do ambiente de trabalho. É próprio da lei ser genérica, ampla; é intrínseco às Convenções serem específicos, descendo às minúcias e particularidades das relações do trabalho, eliminando-se em termos de futuro os possíveis conflitos, porque aludidos
instrumentos normativos são pactuados dentro de uma vivida realidade, enquanto a lei às vezes torna-se utópica e fantasiosa. Assim no que se refere às Convenções Coletivas, ressalta-se que a grande vantagem desses instrumentos normativos é que podem albergar os assuntos relacionados a determinadas atividades locais ou regionais, normatizando sobre peculiaridades e facilitando o relacionamento entre empregado e empregador. Por isso os Sindicatos passaram a se aproveitar ao máximo desse mecanismo de negociação coletiva, pois os reflexos foram positivos, e para ambas as partes – empregados e empregadores, sem se olvidar que, de fato, referidas tratativas fortaleceram ainda mais os Sindicatos e os tornaram incrivelmente mais atuantes. Assim, além dos direitos consolidados, os trabalhadores rurais ainda poderiam se valer da negociação coletiva para buscar direitos e benefícios laborativos adicionais, no que se convencionou denominar “negociação coletiva de trabalho”. Isto proporcionou muitas vezes que sindicatos obtivessem vantagens para os seus representados tais como a pré-fixação de jornada in itinere, reajustes salariais além de recomposição inflacionária, remuneração de jornada extraordinária mais onerosa, dentre outras. Acrescente-se que as convenções coletivas, obrigam tanto os empregados sindicalizados como aqueles que não são. Já com relação aos empregadores as Convenções também fazem lei aos que são sindicalizados e aos que não são, numa determinada base territorial, desde que tenham o mesmo ramo econômico. Mas, como alguém uma vez disse – que a única coisa que não muda é a certeza de que tudo sempre muda. Em direito, diz-se existir uma crise quando os institutos jurídicos fornecidos pelo ordenamento para enfrentar determinadas situações passam a não ser capazes de oferecer respostas satisfatórias aos anseios de pacificação e estabilização existentes no seio social. Isto geralmente se verifica após transformações sociais profundas, que modificam as estruturas sobre as quais as próprias relações jurídicas fundavam suas premissas. Diz-se e com muita propriedade que os encargos trabalhistas são fatores de freio ao desenvolvimento e à criação de postos de trabalho; que a
legislação trabalhista impede as empresas de se manterem competitivas em face da globalização da economia. Alega-se, enfim, que não atenuar o rigor do Direito do Trabalho no Brasil representará, em médio prazo, a falência de companhias nacionais, o que traria como conseqüência desemprego e recessão. Modernamente, com o Estado de Direito cada vez mais refém das regras da política econômica mundial, sugere-se estar na flexibilização de direitos a resposta a tais questionamentos. Procurase, assim, alterar o papel atribuído à negociação coletiva de trabalho, pois outrora era forma de melhorar condições de trabalho, hoje seria meio para atenuar o rigor legal e instrumento de prevenção contra o desemprego. Uma premissa importante a ser considerada e inserta neste contexto, com relação ao aperfeiçoamento das negociações coletivas, trata-se do aprimoramento da mão de obra e qualificação dos trabalhadores rurais, realizado pelo nosso Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - Administração Regional de São Paulo, que até a presente data conta com aproximadamente 2,7 milhões de trabalhadores participantes que possui entre seus programas não somente alfabetização rural, mas centenas de cursos de qualificação que contribuem significativamente para instruir adequadamente os trabalhadores em suas interpretações nas negociações coletivas. O que demonstra uma perfeita integração entre trabalhador e empregador. Para concluir, nosso ponto é apenas deixar claro que a negociação coletiva era e é um tema essencial, não só para o estudo do Direito do Trabalho, mas para se pensar os problemas sociais brasileiros na atualidade. Por assim ser, é que acreditamos que as entidades sindicais rurais tem agido de maneira exemplar, seguindo princípios legais, em total prestígio aquele que por certo fala mais alto, o da boa-fé, construindo ao longo de quase quatro décadas normas consolidadas que se moldaram a evolução das praticas laborais ao longo da história, consagrando assim aquilo que apregoou Carnelutti, ou seja: A LEI É COMO UMA ROUPA FEITA, SERVE A TODAS SEM SERVIR BEM A NINGUÉM. JÁ A CONVENÇÃO COLETIVA É UMA ROUPA FEITA SOB MEDIDA. Animal Business-Brasil_27
Brasil diminui quantidade e melhora qualidade do Puro Sangue InglĂŞs Brazil shortens quantity and improves quality of the English Pure Bred Horse Texto e foto Luiz Octavio Pires Leal
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Sumário
Com apenas 4 mil matrizes da raça PSI-Puro Sangue Inglês e 3 mil produtos nascidos, por ano, a produção brasileira dessa raça de cavalos de corrida é muito inferior a de 30 anos mas a qualidade melhorou muito. A afirmação é do médico veterinário e treinador Léo Cury, professor aposentado da UFF, com impressionantes 1.500 vitórias em seu currículo de único veterinário/treinador do País. Ele tem, sob sua responsabilidade, 50 animais de corrida no Jockey Club Brasileiro.
Vet. Léo Cury
Summary
With only 4 thousand matrices of the PSI – (English Pure Bred) and 3 thousand offsprings per year, the Brazilian production of the race horse is very inferior to 30 years ago but the quality improved somewhat. This statement is of the veterinary doctor and horse trainer Léo Cury, retired Professor from UFF (Federal Fluminense University) with an impressive 1,500 victories in his Resumé as the only veterinary/trainer in the country. He has 50 race horses under his responsibility at the Brazilian Jockey Club.
O Brasil, na América do Sul, ocupa o segundo lugar na criação do cavalo Puro Sangue Inglês, em posição muito inferior à Argentina, principalmente no que se refere à quantidade, segundo o veterinário Cury. Essa afirmação é confirmada pelo advogado e criador de cavalos, Flávio Obino Filho, presidente da Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura e que tem animais sob os cuidados do nosso entrevistado. Ele é proprietário do Haras Capela de Sant’Ana e do Stud Casablanca, superintendente do Jockey Club do Rio Grande do Sul durante duas gestões, além de outros títulos e funções ligados às corridas de cavalos. Seguidor do trabalho iniciado por seu pai, há várias décadas, o criador esteve, em junho, visitando o Uruguai, a convite do Governo e, num encontro na presença do ministro da Economia e Planejamento, que é o responsável pelo fomento ao turfe naquele País, afirmou que, atualmente, eles estão 30 anos atrás do Brasil. A razão do convite foi solicitar ao Obino Filho, colaboração, através de intercâmbio e outras atividades, como a de realização de um leilão de matrizes brasileiras, capazes de melhorar a qualidade genética do plantel daquele País. Quanto à qualidade dos PSI – garante o criador – estamos no mesmo patamar da Argentina mas, em termos de quantidade, eles produzem três vezes e meia mais do que nós. No Brasil atual não há mais espaço para os cavalos de média qualidade, nos leilões. É que os R$15 mil gastos, em média, para produzir um potro, dificilmente serão recuperados se ele não for de boa qualidade. O turfe, em geral, mesmo em S.Paulo, não está vivendo seus melhores dias o que resulta em prêmios de valor muito baixo o que, por sua vez, desestimula todo o setor. Mas os criadores não estão parados e já se nota um movimento visando à revitalização dessa tradicional atividade. Animal Business-Brasil_29
ENTREVISTA Papel Social do Veterinário Prof. Milton Thiago de Mello Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária
-P- Qual o papel social do médico veterinário numa sociedade moderna? -R- O adjetivo “moderna” caracteriza bem o papel atual do veterinário na sociedade. Quando a profissão foi criada, formalmente, em 1761 em Lyon, com a primeira escola de veterinária, a preocupação era a de “ tratar as doenças dos animais”. Por isso as pessoas que tratavam da saúde dos animais foram chamadas de médicos veterinários e ainda são. Entretanto , dois séculos e meio se passaram e os desdobramentos, a partir dessa premissa, foram enormes. Expandiu-se a área de atuação do veterinário até nossos dias com dezenas de atividades ou especialidades nas quais ele tem que participar, além daquelas de sua função, também importante, como médico de animais: seja por imposição legal, seja pela própria exigência da sociedade. Dentre essas especialidades destacam-se as relacionadas com a saúde humana e a economia. No primeiro caso, a segurança alimentar ou qualidade dos alimentos e as zoonoses (doenças de animais que se transmitem ao homem), daí o conceito moderno de “uma única saúde”. No segundo caso, o grande papel na economia nacional, como participante do agronegócio: exportação de carnes , geração de empregos e PIB. -P- A fome mundial, como previu Malthus, caminha para patamares preocupantes , como a FAO 30_Animal Business-Brasil
não cansa de repetir. O problema assume dimensões ainda maiores quando se leva em conta que a produção de proteínas de alto valor biológico –assunto do âmbito da veterinária e da zootecnia - é muito cara. Na sua visão, qual o papel do veterinário no combate à fome nacional e mundial. -R- O problema da fome no mundo resulta de um fenômeno que, poucas vezes, é realçado: a explosão populacional. Esta se deve ao cumprimento, pelos seres humanos, do preceito do livro do Gênesis: “crescei e multiplicai-vos “. Apesar dos avanços da ciência, grandes religiões, como a católica e a islâmica persistem na recusa a aceitar os modernos métodos anti-concepcionais para o controle da natalidade. Desse modo, a perspectiva é que, dos 7 bilhões de habitantes atuais, o mundo alcançará a cifra espantosa de 9 bilhões dentro de 40 anos .Esses 2 bilhões a mais em 40 anos terão de ser alimentados, inclusive com as chamadas proteínas nobres, as de origem em animal (carnes, laticínios e ovos). É aí que entra o veterinário, não só como ator na produção desses alimentos como na qualidade dos mesmos até o consumidor final . É a repetida frase: “do pasto ao prato”. Toda essa cadeia sob a responsabilidade do veterinário. Não apenas a sanidade, o que é resumido na expressão moderna de segurança alimentar. Desse modo , está caracterizado o papel do veterinário no combate à fome nacional e mundial: respon-
sável pela produção de alimentos de origem animal, quantidade e qualidade. E, nem sempre, os cursos de veterinária preparam os jovens para tão importante missão. -P- Como o senhor explica o baixo prestígio do agronegócio brasileiro, apesar desse setor da economia nacional ser o responsável por quase 30% do PIB, 37% dos empregos e 44% das exportações ? -R- Por um fenômeno cultural atávico, muito bem explicado no editorial do Presidente da Sociedade Nacional de Agricultura –SNA, Dr. Antonio Mello Alvarenga Neto no ultimo número da revista “A Lavoura” (Ano 115 , nº 691/2012) , falta uma propaganda agressiva sobre esses números. Enquanto a indústria (carros, eletrodomésticos, informática, etc) martela, diariamente, por todos os meios possíveis de comunicação, seus resultados bons ou maus, o agronegócio, poucas vezes, ocupa o noticiário e muito menos é feita propaganda sistemática de seus êxitos. Como não existe esse “marketing”, a população, em geral, só toma conhecimento das más noticias, como frisou muito bem o Presidente da SNA. No caso específico da profissão veterinária, esta continua sendo apenas a do médico veterinário em vez de ser considerada responsável pela saúde humana (zoonoses e segurança alimentar) e importante componente ou pilar da economia como parte do agronegócio: exportação de carnes e outros produtos de origem animal, geração de empregos, participação no PIB, como visto antes. -P- Recentemente, famosa “chef de cuisine “ afirmou, em veículo de prestígio nacional, que não serviu carne de frango para os atletas olímpicos do Brasil, receosa de que aparecessem resíduos de hormônio nos eventuais exames anti-doping , quando sabe-se que não se administram hormônios em frangos de corte. Uma declaração dessas prejudica, enormemente, o consumo interno e as exportações brasileiras. O que o senhor aconselha a fazer em casos- e são muitos –como esse? -R- Mais uma vez ficou evidenciado o desconhecimento a respeito de alguns procedimentos básicos da profissão veterinária. O uso de hormônios e antibióticos, como auxiliares na engorda de animais, já foi procedimento padrão no mundo inteiro. Mais tarde foi abolido, totalmente, ou usado apenas em casos específicos, fora da produção. No Brasil isso foi conseguido graças ao importante e quase desconhecido
(pela população em geral ) Serviço de Inspeção Federal (SIF). Ele é a garantia da qualidade das exportações brasileiras de carnes e assim deverá continuar inclusive para as carnes destinadas ao consumo interno: “ O que é bom para os estrangeiros, tem que ser bom também para os brasileiros”. A segurança alimentar é uma das mais importantes atribuições do veterinário e deverá ser mais conhecida, do público em geral, incluindo o aspirante a veterinário . -P- Que conselhos pode oferecer a um candidato à profissão de médico veterinário ou um jovem formando ? -R- A palavra “conselho” é um pouco forte . Os jovens gostam de seguir a máxima de Pitigrilli: “ Não me deem conselhos, sei errar por mim”. Por isso não costumo aconselhar e sim mostrar caminhos. A pergunta tem dois aspectos: o primeiro, quando uma pessoa é candidata à profissão; o outro, quando já passou pelo curso de formação. No primeiro caso, os jovens são motivados, em geral, pelo amor ou carinho que sempre tiveram pelos animais, principalmente os de estimação: como tratar bem deles, cuidar de seu bem estar, etc. A esses aspirantes à profissão, mostrar-lhes qu,e além dessa importante parte, existem dezenas de atividades para as quais os veterinários têm que estar preparados por força de dispositivos legais ou exigências da sociedade como antes mencionado. A profissão veterinária permite voos intelectuais e/ou materiais que, nem sempre, são conhecidos . No segundo caso, o jovem terminou o curso de formação e a maioria está preparada para ser médico veterinário ou seja, cuidar da saúde dos animais. Durante os anos do curso recebeu uma boa base de conhecimentos que lhe permitirá escolher, depois de formado, entre dezenas de atividades que a sociedade espera do veterinário, além daquelas relacionadas com a sanidade animal. De acordo com suas tendências ou condições (financeiras, familiares, etc.) esse jovem deve, o mais rápido possível, buscar cursos depois da graduação, de curto, médio ou longo prazo para capacitar-se na especialidade escolhida. Nem sempre é fácil encontrá-los. Entretanto, graças aos modernos meios de comunicação, muitos deles podem ser feitos à distância e por isso a maioria tem o título apropriado de “educação à distância”, não presencial . Para terminar, a juventude, formada ou não em veterinária, deve tomar conhecimento da importância e amplitude da profissão. Animal Business-Brasil_31
Agropecuária brasileira busca conhecimentos técnicos para consolidar produção sustentável Brazilian agribusiness searches for technical knowledge to consolidate sustainable production Por/Text Kátia Abreu
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A Fundação é uma organização sem fins lucrativos, que promove a democracia liberal, a liberdade econômica, o respeito às leis e aos direitos humanos. Naumann, o fundador, foi um político liberal e padre protestante que faleceu, em 1919, aos 59 anos. A idéia é desenvolver cursos no Brasil, com a diretora brasileira da Fundação, juntamente com o Projeto Biomas que a CNA vem desenvolvendo em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), detentora de grande know-how de agropecuária tropical e que, nas últimas décadas, vem conseguindo sucessos científicos e técnicos reconhecidos internacionalmente. Segundo a presidente da CNA, o Projeto criará “vitrines tecnológicas” nos mais diferentes biomas brasileiros e já começou a ser implantado em regiões da Mata Atlântica e do Cerrado. A meta do Projeto é democratizar a pesquisa e as novas tecnologias, na imensa área rural brasileira, levando conhecimentos práticos aos produtores de pequeno e médio portes de modo a capacitá-los à execução das práticas de produção sustentáveis e que respeitem o meio ambiente.
Sumário
A Senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vem desenvolvendo esforços, com sua equipe técnica, visando formar uma base sólida de conhecimentos científicos e técnicos capazes de desenvolver sistemas, processos e métodos viáveis de produção agropecuária sustentável, no Brasil. Com esse objetivo, vem se informando, internamente e no exterior, como, por exemplo, na Fundação Friedrich Naumann para a Liberdade, em Potsdam, Alemanha. Summary Senator Kátia Abreu, President of the Brazilian Confederation of Agriculture and Livestock (CNA) has been making efforts with her technical team focusing on forming a solid scientific and technical base capable of developing feasible systems, processes and methods of sustainable agribusiness production in Brazil. With this objective, she has been gathering information both domestically and abroad such as at the Foundation Friedrich Naumann for Freedom in Potsdam, Germany.
Outra preocupação da CNA refere-se à forma de enfrentar as mudanças climáticas, provocadas principalmente pelo efeito estufa e que, como é do conhecimento geral, têm grande influência sobre a produção agropecuária. O que tornou-se matéria unanimemente aceita tanto pelas autoridades oficiais de todo o Planeta como pelos produtores, individualmente, ou através da suas associações de classe e entidades interessadas no assunto, como a SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, é que os métodos e técnicas de produção precisam mudar, substituindo-se, gradativamente, o uso de substâncias químicas poluidoras, como os inseticidas e os fertilizantes químicos, por processos de produção sustentável que respeitem os direitos humanos do trabalhador rural e não sejam espoliadores do meio ambiente nem contaminem o consumidor. O grande desafio é fazer isso aumentando ou, no mínimo, mantendo a produtividade e, simultaneamente, aumentando a produção mundial de alimentos de modo a minorar a fome de milhões de pessoas e atender à demanda de uma população mundial crescente. Animal Business-Brasil_33
Por/Text Paulo Roque
Pets ganham site que organiza suas rotinas A Ourofino Saúde Animal, maior empresa nacional na produção de medicamentos veterinários há 25 anos, acaba de lançar o site “Amigo Pet”, que funciona como uma agenda eletrônica para os compromissos de cães e gatos. O serviço é inédito no país. Na página www. amigopetourofino.com.br o usuário encontra serviços online gratuitos, onde é possível criar o próprio RG do animal e também organizar uma rotina de cuidados que inclui dias e horários do banho e tosa, carteira de vacinação, horário dos medicamentos e das consultas veterinárias. Com o cadastro, o dono passa a receber lembretes sobre os dias de levar seu pet para tomar banho e tosar, e os horários de cada consulta e medicação. Tudo cadastrado em espaços específicos e com a possibilidade de recebimento de aviso dos compromissos via e-mail ou mensagem de celular. Além disso, é possível criar o RG do pet e compartilhar nas redes sociais e ainda uma carteira de saúde, com os registros de vacinação, controle de vermifugação e ectoparasitas. “Apesar de todo o amor e carinho que temos pelos nossos animais, muitas vezes nos perdemos nos horários da medicação, o que pode prejudicar no tratamento dos bichinhos. Com este serviço, ficou muito mais fácil medicá-los na hora certa”, afirma a médica veterinária da Ourofino, Karina Kowalesky. 34_Animal Business-Brasil
Decreto beneficia abatedouros paulistas de aves O governador Geraldo Alckmin assinou medida que beneficia os abatedouros paulistas de aves. O decreto concede ao setor crédito outorgado de Imposto sobre a Circulação de Mercadoria e Serviços (ICMS) equivalente a 5% sobre o valor das saídas internas e para o exterior de carne e demais produtos comestíveis resultantes do abate de aves (frescos, resfriados, congelados, salgados, secos, temperados ou defumados para conservação, desde que não enlatados ou cozidos). Segundo o governador, “isso vai garantir emprego, vai garantir a estabilidade do setor e, até mesmo, promover o seu crescimento. É uma medida importante para preservar o emprego e a competitividade da avicultura de São Paulo.Vale destacar ainda que o estado é o maior produtor de ovos do Brasil e está entre os quatro maiores produtores de frango”. O benefício vale até 31 de dezembro de 2012 e está condicionado às saídas promovidas por estabelecimento que efetue o abate no Estado de São Paulo. O objetivo do governo estadual é desonerar o setor, que tem sido afetado em razão de benefícios concedidos por outros Estados. O crédito outorgado de 5% será aplicado na proporção do valor das entradas de aves vivas para abate, originadas em São Paulo, em relação ao valor total de entradas de aves vivas para abate no estabelecimento. Nas saídas para o exterior, os abatedouros só terão direito ao benefício se a exportação for efetuada por meio de portos ou aeroportos paulistas. São Paulo é o quarto maior produtor nacional de carne de frango e responde por 13% dos abates de aves, atrás dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O consumo paulista de carne de frango chega a 1,38 milhão de toneladas.
Agrocentro lança Feileite 2012 Com a presença da imprensa e de representantes de empresas expositoras e associações de criadores, o Agrocentro realizou o lançamento da 6ª Feileite - Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite, no Centro de Exposições Imigrantes. Maior evento indoor da cadeia leiteira do mundo, a edição 2012, que acontecerá de 19 a 23 de novembro, traz uma inovação: a padronização do modelo dos estandes, para tornar mais fácil a participação de todos os interessados. Além dos eventos paralelos, cerca de 100, como seminários, congressos, cursos e workshops, acontecerá a 3ª edição do Troféu Balde de Ouro, considerado o “Oscar do Leite”.
Consumo de carnes Segundo as estimativas do Anualpec 2012, o consumo médio per capita anual de carnes no Brasil deve passar de 95,3 quilos em 2011 para 97,5 quilos neste ano. Entre as carnes, a fatia que mais deve crescer é a de frango: 4% superior à do ano passado, para 49,2 quilos per capita, conforme a expectativa da Informa Economics FNP. Já a carne bovina, terá elevação de 3% em 2012, para 33 quilos per capita.
Cadeia Produtiva da Carne leva propostas a Brasília Um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) para os pequenos e médios frigoríficos, em dificuldades financeiras, foi defendido por Francisco Maia, presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) e da Fenapec (Frente Nacional da Pecuária), na Câmara Federal no último dia 7 de agosto, durante audiência pública sobre a cadeia produtiva de bovinocultura de corte, realizada pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. Convocada pelo deputado federal Homero Pereira (PSD-MT), presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, a audiência serviu para mostrar que há consenso sobre a necessidade urgente da criação de um conselho paritário (o proposto Consecarne pela Fenapec) e também desenvolver campanhas de marketing para estimular o consumo da carne vermelha, além de um programa nacional de tipificação de carcaças. Segundo Maia, esta foi a primeira vez que a cadeia produtiva da pecuária levou, de forma organizada, suas reivindicações para Brasília, ressaltando que a Fenapec tem, atualmente, 16 entidades filiadas e tem outras 5 encaminhadas, passando a representar a pecuária nacional, num total de 200 milhões de cabeças de bovinos.
Batavo e Castrolanda se unem e lançam nova marca As cooperativas Batavo (Frísia) e Castrolanda lançaram uma nova marca no mercado, a Colônia Holandesa. A parceria intercooperativas foi oficializada no dia 7 de agosto, no Parque Dario Macedo, em Castro (PR), durante a abertura do Agroleite 2012. O nome da nova marca faz menção à região onde localizam-se as duas plantas industriais, nos Campos Gerais do Paraná, que tem o reconhecimento pela qualidade e tradição de produtos holandeses na área de lácteos. Os Campos Gerais é uma re-
gião tradicionalmente reconhecida pela produção sustentável. Localizadas em Ponta Grossa (Frísia) e Castro (Castrolanda), as duas cooperativas têm capacidade de industrialização diária para processar mais de 2 milhões de litros de leite. A Frísia emprega 107 pessoas e gera mais de 500 empregos indiretos. O investimento total nas duas fases é de mais de R$ 70 milhões de reais. A Castrolanda emprega 230 pessoas, com investimentos de R$ 75 milhões de reais. Animal Business-Brasil_35
USP estuda processo de compras de genética de gado de corte “O comportamento de compra do produtor rural é fruto de uma combinação do comportamento do cliente organizacional e do cliente de bens de consumo”. Esta é uma das conclusões do estudo “Análise do processo decisório de compra de inseminação artificial por pecuaristas de gado de corte”, que foi apresentado no 50º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural, por Roberto Fava Scare, professor doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP/USP). Realizado pelo Agrofea (Programa de Pesquisa em Agronegócio da FEA-RP), que contou com a participação dos alunos de graduação em Administração, Leonardo Silva Antolini e Felipe Perez Mirandola, o estudo concluiu, também, que o processo de compra de sêmen, pelos pecuaristas brasileiros apresenta peculiaridades e diferenças com base nos objetivos de cada um dos proprietários, no manejo do rebanho e conforme a estrutura e tamanho da propriedade. Um ponto em comum entre os compradores de sêmen, entretanto, é o fato de considerarem cada aquisição como uma nova compra. Isso porque, frequentemente, há uma nova busca por fornecedores de determinado tipo de sêmen. No caso dos grandes proprietários, envolvendo também a especificidade de touros. Os pecuaristas também dividem as mesmas preocupações ao comprar sêmen: o valor genético, preço, marca do revendedor e serviços. Porém, o modo como é feita a seleção do fornecedor varia conforme o tamanho da propriedade. Grandes pecuaristas não visam atributos de marca ou serviços oferecidos pela central. Eles relatam, entretanto, que os melhores touros, normalmente, são encontrados nas centrais de maior renome. Por outro lado, médios e pequenos proprietários selecionam fornecedores por meio de serviços de suporte dos consultores das centrais e das especificações genotípicas dos touros. 36_Animal Business-Brasil
Congresso debaterá aditivos na nutrição animal Auditório do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) será a sede do II Congresso sobre aditivos na alimentação animal, que acontecerá paralelamente à 27ª. Reunião Anual do CBNA (Colégio Brasileiro de Nutrição Animal), durante os dias 29 e 30 de novembro. Um dos objetivos é mostrar, através do o uso de aditivos (probióticos, prebióticos, ácidos orgânicos e óleos essenciais), o melhor aproveitamento dos alimentos para alimentação animal, tendo em vista o desalinhamento atual da oferta de grãos. De acordo com o CBNA, mais do que projeção, cenários como esses já fazem parte da rotina das empresas produtoras de proteína animal, tendo em vista à sustentabilidade do negócio. Isso exige melhoria de conversão alimentar, com redução da excreção de dejetos, resultando na queda significativa da eliminação no meio ambiente de nitrogênio, fósforo e outros compostos químicos. Este melhor aproveitamento dos alimentos reduz o custo de produção da proteína animal concomitantemente à garantia da segurança alimentar. O evento contará com a participação dos mais conceituados pesquisadores nacionais e estrangeiros e profissionais das principais empresas do setor. Os interessados em participar ou inscrever trabalhos para o “Prêmio CBNA de Pesquisa Científica”, deverão entrar em contato com o CBNA pelo e-mail cbna@lexxa.com.br. Mais informações e programação estão disponíveis no site do CBNA: http://www.cbna.com.br.
Brasileiro é eleito presidente da WPC O brasileiro Edir Nepomuceno da Silva é o novo presidente da Associação Mundial de Ciências Avícolas (WPSA). A eleição foi realizada durante o WPC 2012, dentro XXIV Congresso Mundial de Avicultura, promovido entre os dias 5 e 9 de agosto no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador, com a participação de representantes de 81 países. Edir Nepomuceno é, também, o atual presidente da FACTA (Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas). Além de ser responsável pela organização da próxima edição do evento, que será realizada em 2016 na China, dentre as ações previstas pelo novo presi-
dente da entidade, está a de otimizar o trabalho da WPSA no mundo, por meio da realização de eventos satélites em congressos e conferências do setor avícola. Outra proposta do novo presidente é promover a transferência tecnológica entre a avicultura brasileira com a de outros países como a África, que apresenta demanda para receber tecnologia na produção de aves.
Câmara aprova projeto de lei de genéricos veterinários A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 1080/03 que cria os medicamentos genéricos veterinários. O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) apoia a iniciativa, porém, segundo seu presidente, Benedito Fortes de Arruda, o Conselho mostra-se preocupado com a operacionalização, principalmente, para que sejam definidos os produtos de referência. O projeto já passou pelo Senado e segue para sanção da Presidente Dilma Rousseff. O Projeto de Lei define o que são produtos veterinários, medicamentos de referência, medicamentos similares e genéricos. Estes últimos podem diferir apenas quanto a tamanho, formato e prazo de validade, por exemplo, mas devem ter a mesma eficiência comprovada (bioequivalência). Para ser registrado junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o genérico veterinário deverá comprovar essa bioequivalência em relação ao medicamento de referência e atender a requisitos de taxa de excreção, resíduos e período de carência se usado em animais de consumo. Arruda explica que, atualmente, existem medicamentos registrados para a mesma indicação, porém, em seu registro, não há necessidade de que comprovem bioequivalência, já que são produtos diferenciados. Um exemplo é a ivermectina que
apresenta mais de 70 produtos com o mesmo principio ativo no mercado. A partir da criação dos genéricos serão exigidos esses testes, principalmente para que se garanta a igualdade nas características farmacológicas, ou seja, a forma como o medicamento se comporta no organismo (sua absorção, distribuição, biotransformação, metabolização e eliminação). A preocupação do CFMV está nos procedimentos para que um princípio ativo receba o título de genérico. Neste caso, a exemplo do que foi feito com os medicamentos humanos, será necessária a criação de medicamentos de referência, com especificações para cada espécie, via de aplicação etc. Essa referência é o parâmetro para os testes de bioequivalência entre produtos. O CFMV também entende que o Mapa, que cuidará do processo, precisará de mais técnicos para atender a demanda de novos registros. O Projeto de Lei 1089/03 permite o uso de medicamentos genéricos na medicina veterinária e estabelece preferência para eles nas compras governamentais. O texto estabelece que as penas e multas por descumprimento das regras desse decreto serão as da Lei 6.437/77, mais rígidas que as atuais. O texto é de autoria do então deputado e hoje senador, Benedito de Lira (PP-AL). Animal Business-Brasil_37
Exportações de couro A indústria coureira do Brasil exportou US$ 160 milhões em peles e couros no mês de julho de 2012. O valor representa um crescimento de 14,29% em relação ao montante exportado no mesmo período do ano passado. O aumento nas exportações confirma a projeção do Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) de recuperar o recuo de vendas para o mercado externo acumulado no primeiro semestre (-2,66%) e, possivelmente, superar 2011 no valor das exportações. O prognóstico positivo para o couro brasileiro no mercado internacional só está sendo possível pelo excelente posicionamento do produto junto aos países alvo para exportação. Trata-se de uma construção de relacionamento, imagem e qualidade nos últimos anos que permite ao couro brasileiro manter-se em ascensão e contornar as grandes dificuldades que se apresentam no mercado externo. A crise na Europa tem sido uma barreira para diversos segmentos e os sinais de retração de compradores são visíveis para vários países com tradição na produção coureira. Vale ressaltar que, na economia brasileira, o setor couro e peles ocupa a 7ª posição dos produtos semimanufaturados exportados e 24º posição em relação a todos os produtos exportados pelo Brasil. Conclui-se que o setor conseguiu manter a posição frente a outros produtos exportados.
Exportação carne suína (1) O acordo entre o Brasil e a Argentina, realizado no final de julho, permitiu a retomada das vendas de carne suína brasileira ao mercado vizinho. Em julho, o país embarcou 2.662 toneladas para a Argentina, uma queda de 5% na comparação com julho de 2011. “O volume vendido representa um bom começo”, avalia Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína – ABIPECS. “O acordo bilateral prevê a manutenção dos volumes 38_Animal Business-Brasil
de 2011. Seria, portanto, necessário exportar mais do que o volume de julho. Porém, é preciso lembrar que qualquer retomada exige algum tempo para atingir um nível de estabilidade. Sempre se perde um tempo entre a emissão da documentação necessária e a efetiva exportação”, diz Camargo Neto. A retomada dos embarques para a Argentina contribuiu para que as exportações brasileiras de carne suína aumentassem 22,54% em julho, ante igual período de 2011, totalizando 44.242 toneladas.
Exportação carne suína (2) Segundo a ABIPECS, outro fato positivo de julho é que a Rússia manteve a sua participação tradicional, tendo liderado o ranking dos compradores da carne suína brasileira. O Brasil vendeu para o mercado russo 11.854 t ante 3.983 t em julho de 2011. O aumento foi de 198%. Recorde-se que a Rússia, há pouco mais de um ano, decretou embargo à entrada do produto brasileiro em seu mercado. “O embargo aos três estados – Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso – permanece. Continuamos aguardando o resultado da recente missão veterinária russa que visitou seis estabelecimentos de suínos no RS, SC e PR. A recente polêmica veiculada
pela imprensa, sobre eventual exigência referente à utilização ou não do fármaco ractopamina, não preocupa, pois o Brasil já tem protocolo de produção segregada, podendo atender a este tipo de exigência com facilidade. “Continuamos com expectativa positiva”, afirma o presidente da ABIPECS. Os principais mercados para a carne suína brasileira, em julho, foram: Rússia, Hong Kong, Ucrânia, Angola, Argentina e Singapura. No acumulado do ano, em primeiro lugar no ranking encontra-se Hong Kong, seguido de Ucrânia, Rússia, Angola, Singapura e Uruguai.
Avicultura quer garantia de estoques de grãos Em encontro na sede da União Brasileira de Avicultura (UBABEF), que reuniu das principais cooperativas às maiores agroindústrias, representantes de todo o setor avícola demonstraram preocupação com os aumentos de preços do milho e da soja nos últimos meses, que já estão afetando a produção. A entidade estima, para o segundo semestre, um cenário de redução ainda maior da produção, acompanhado de desemprego, aumento dos preços da carne de frango e de redução das exportações. Segundo o presidente da UBABEF, Francisco Turra, “os aumentos globais de custos com esses insumos estão causando um efeito devastador para o setor. As indústrias precisam de garantias de estoques de grãos, como o farelo de soja, até o fim do ano. Para isto é necessária uma pronta ação do governo através dos leilões e Programas de Escoamento de Produção (PEPs) para os polos avícolas mais afetados”. Destacando que a avicultura também precisa de maior acesso ao crédito, pois “é injusto que os bancos não liberem mais recursos para um setor tão importante da economia nacional”. disse Turra. Turra informou que já ocorrem medidas defensivas como o fechamento de unidades, corte de turnos
ou a redução de horários de trabalho. “Os aumentos de custos com grãos já chegam a 70% este ano. Os produtores avícolas não têm como arcar com esses aumentos. Da mesma forma, não podem manter estoques, diante da falta de crédito. Inevitavelmente, os aumentos de custos serão repassados aos consumidores, tanto no Brasil, quanto lá fora”, acrescentou.
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Manejo holístico de pastagem para equinos e ovinos Holistic Pasture Management for equine and ovine Por/Text P rofessor Roberto Arruda de Souza Lima, PhD - ESALQ/USP
Sumário
É notório o ganho de relevância e espaço das discussões relacionadas à sustentabilidade. O debate sobre o uso do solo para pastagens ocupa papel central nesta discussão, pois envolve práticas questionáveis desde sua formação (muitas vezes com queimadas e uso excessivo de produtos químicos) até as consequências de expansão da fronteira agrícola (com pastagens), avançando na Região Amazônica. Neste contexto, identificar alternativas que resultem em manejo mais sustentável das pastagens utilizadas por equinos tornase de grande importância. É necessária uma visão holística para adequada avaliação de alternativas, como a que será discutida neste artigo: a rotação de pastagens entre equinos e ovinos. 40_Animal Business-Brasil
Summary The gain in relevance and space of the discussions related to sustainability are notorious. The debate about the use of soil for pastures occupies a main role in this discussion because it involves questionable practices since its formation (often by burning and the excessive use of chemicals) up to the consequences of expansion of the agricultural frontier (with pastures) advancing into the Amazon Region. In this context identifying alternatives that result in a more sustainable management of pastures used by equine becomes of great importance. A holistic vision is necessary for an adequate evaluation of alternatives such as the one to be discussed in this article: the rotation of pastures between equine and ovine.
Para melhor compreensão da proposta sugerida neste artigo, é interessante uma breve revisão do que é o manejo holístico de pastagens. Dentro das diversas áreas das ciências, ao longo do tempo, surgiram diversas linhas de pensamento voltadas para uma visão sistêmica dos fenômenos, mostrando que não basta o conhecimento isolado das partes, por mais profundo que seja, para a compreensão do todo. Assim surgiu a biologia organísmica, a definição de ecossistemas e a Gestalt na psicologia. O todo é maior do que a soma das partes é a frase que sintetiza o pensamento sistêmico. De fato, as interações e sinergias entre as partes produzem resultados que, muitas vezes, distanciam da soma dos resultados individuais de cada parte. Torna-se necessário, portanto, ter uma visão do todo (holos, em grego) para compreender um sistema. Consequentemente, o adequado gerenciamento deve seguir um pensamento holístico, compreender que a natureza não é composta por compartimentos isolados, mas por um corpo único que, por motivos didáticos, fomos acostumados a analisar por partes. O mesmo ocorre, por exemplo, na medicina. Não basta conhecer em detalhes um rim, coração ou pulmão. Para compreender o organismo, diagnosticá-lo e tratá-lo, é necessário o conhecimento sistêmico, holístico. Em termos de pecuária, as raízes do pensamento holístico estão na obra do sul africano Ian Christian Smuts, de 1926, intitulada Holism and Evolution. Ao longo destes quase 90 anos, novas idéias e aplicações práticas foram desenvolvidas, destacando-se as contribuições do físico e químico francês André Marcel Voisin, que deu origem ao denominado Pastoreio Racional Voisin, difundido no mundo todo. Para compreender melhor o que é o gerenciamento holístico de pastagens é interessante destacar quais são seus quatro princípios fundamentais, o que é feito nos próximos parágrafos com base em textos de Alberto Miguel. O primeiro conceito fundamental do gerenciamento holístico é que a perspectiva holística é essencial. Ou seja, devemos ter sempre em mente que o todo é maior que a soma das partes. Recapitulando as lições de Smuts: (I) a natureza funciona em “todos” dentro de “todos”; (II) a natureza não tem partes ou limites; (III) o “todo” é maior do que a soma de suas partes e interligações; e (IV) nunca podemos entender o mundo natural estudando apenas suas partes e interconexões. Animal Business-Brasil_41
O segundo conceito fundamental do gerenciamento holístico refere-se à escala de friabilidade. Friabilidade é definido como a natureza daquilo que é friável, ou seja, que se fragmenta facilmente. Na natureza encontramos ambientes não friáveis (que têm alta resiliência) e friáveis (mais frágeis, que compõem a maior parte do planeta). Uma das principais características que tornam um ambiente mais ou menos friável é a umidade relativa, que favorece a presença de microrganismos e insetos em quantidade suficiente para decomposição de matéria orgânica. A ausência de umidade implica em sérias dificuldades para manutenção de vida animal e vegetal. Destaca-se que em ambientes não friáveis o descanso da área permite a recuperação da biodiversidade, o que não ocorre em ambientes friáveis, que tendem à desertificação. O terceiro conceito fundamental do gerenciamento holístico refere-se à conexão presa/predador. Os herbívoros de grande porte cumprem importante papel para tornar os ambientes menos friáveis. Ao pastarem, executam duas ações que favorecem a ação de microrganismos que atuam na decomposição (e incorporação) de nutrientes no solo. O pisoteio nas gramíneas aproxima as folhas do solo, deixando-as ao alcance dos microrganismos. A ingestão e digestão da forrageira transforma as folhas aéreas em fezes depositadas diretamente no solo, disponibilizando nutrientes. Os predadores estimulam a eficiência do pastoreio das presas. Primeiramente, pela indução à movimentação do rebanho, permitindo melhor distribuição tanto do pisoteio quanto da deposição das fezes. Mas há outro impacto da presença dos predadores: ao invés de pastarem mansamente, a aceleração do ritmo do movimento dos animais (por temerem os predadores) faz com que o impacto dos cascos no solo seja mais violento, quebrando a crosta, auxiliando na descompactação do solo, na infiltração de água e incorporação de matéria vegetal (e sementes). Adicionalmente, a constante movimentação dos animais diminui a permanência de matéria seca em pé, reduzindo as ocorrências de incêndios. O quarto conceito fundamental do gerenciamento holístico diz respeito à importância do tempo de repouso. Numa situação de criação extensiva em que os animais permanecem muito tempo em grandes áreas, acaba ocorrendo superpastejo nas áreas mais palatáveis e subpastejo nos locais onde o pasto é menos atrativo. Esta situação é perceptível visualmente. O tempo de repouso 42_Animal Business-Brasil
da pastagem acaba sendo insuficiente para a recuperação do que foi superpastejado e excessivo (inclusive provocando sombreamento das plantas) do que foi subpastejado. O tempo de repouso só é adequadamente dimensionado para todas plantas quando o pastoreio é uniforme. Isto remete à lotação que deve ser maior do que usualmente ocorre, provocando a concorrência entre os animais e eliminando o subpastejo. A rotação de pastagens entre equinos e ovinos é um exemplo de alternativas que podem aproximar a equinocultura ao manejo holístico de pastagem. Isto porque apresenta ganhos em diversas dimensões, em especial nos aspectos sanitários e econômicos. A introdução da criação de ovinos em haras acrescenta receitas (e lucros), reduz custos ligados aos aspectos sanitários e permite utilização mais racional da área destinada ao pastoreio. Iniciando pelos aspectos sanitários, é importante destacar que grande parte dos parasitas presentes nas fezes dos equinos difere daqueles encontrados em fezes de ovinos, conforme ilustrado no quadro 1. Por esse motivo, a criação alternada de equinos e ovinos tem sido observada como uma
Quadro 1 – Parasitoses mais comuns em ovinos e em equinos Parasitoses Ovinos Equinos Cooperia punctata Anoplocephala perfoliata Haemonchus contortus Cyathostomum spp. Oesophagostomum columbianum Gyalocephalus spp. Ostertagia ostertagi Oxyuris equi Strongyloides papillosus Parascaris equorum Trichostrongylus colubriformes Strongylus spp.
Fonte: Lima & Araujo (2011)
possibilidade efetiva de manejo sanitário e de controle de parasitoses em ambas espécies. Este controle eficaz implica em redução na utilização de medicamentos antiparasitários. Estudos acadêmicos, como os realizados por Eysker et al. (1986) e por Almeida et al. (2009), reforçam que a criação de ovinos com equinos produz efeitos positivos sobre o controle de parasitoses. Adicionalmente, e remetendo ao pensamento holístico, pode-se incluir (em consórcio) leguminosas o que, além da complementação, implica na redução de necessidade de adubação, diante da capacidade de fixação de nitrogênio dessas plan-
tas. Ou seja, redução de custos, melhor nutrição e menor impacto com adubação, características do manejo holístico. Entretanto, conforme mostrado em artigo de Lima & Araujo (2011), o grande ganho na rotação de pastejo entre equinos e ovinos está na otimização da utilização da área. Vejamos o porquê deste ganho. Os equinos são animais bastante seletivos na escolha da pastagem. Esses animais não se alimentam nas áreas em que defecam e urinam. O resultado desse hábito, comumente, é visível aos olhos mesmo do observador pouco treinado: o piquete, geralmente, apresenta manchas de áreas com plantas bem desenvolvidas (devido à adubação com as fezes e urina dos cavalos e ao não pastejo no mesmo local) e áreas superpastejadas. Conforme o manejo adotado, as áreas subpastejadas (rejeitadas pelos equinos) podem atingir 50% da área total. Nas áreas em que não há fezes e urina, o pastejo muitas vezes é superior ao desejado, agravado pela forma de alimentação do equino que, diferentemente do gado bovino, morde a forragem, cortando a planta rente ao solo. Isto favorece a degradação da área. Em termos econômicos, a não utilização da área onde equinos defecam e urinam, representa perda de cerca de um terço do volume aplicado na formação e manutenção de pastagens. Ao introduzir ovinos para pastejo exatamente nessas áreas desprezadas pelos equinos, ocorre uniformização do consumo da vegetação do piquete e efetivo uso de toda área formada de pastagem, diluindo o custo dos investimentos realizados. Deve ser destacado que equinos não têm problemas quanto ao cheiro e palatibilidade de áreas em que ovinos defecaram nem os ovinos apresentam restrição às áreas utilizadas pelos equinos, ou seja, não há restrição à rotação de pastejo. Passado cerca de um mês (ou seja, após a mineralização das fezes dos equinos e desaparecimento do odor característico), os cavalos podem retornar ao mesmo piquete, sem problemas de rejeição. A rotação de pastejo entre equinos e ovinos representa importantes contribuições, destacando-se a redução de problemas sanitários (e consequente redução de custos e de aplicação de medicamentos) e a maior proteção do solo (eliminando as atuais divisões de áreas superpastejadas, propensas à degradação, e áreas subpastejadas, com desperdício de investimentos de formação e manutenção de pastagem). Em outras palavras, é uma alternativa interessante para o manejo holístico de pastagem utilizada por equinos. Animal Business-Brasil_43
A expans達o do Cavalo Crioulo The expansion of the Crioulo horse Por/Text Roberto Arruda de Souza Lima
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Sumário
O Cavalo Crioulo, historicamente, foi importante para América do Sul, em especial para o Brasil e sua relevância tem aumentado nos últimos anos, com forte expansão da quantidade e qualidade do plantel. Neste artigo, iniciando com um breve resgate de sua história, são apresentadas algumas estatísticas e fatos que demonstram sua importância, não apenas para o Brasil, mas ultrapassando as fronteiras do país.
Summary Historically the Crioulo horse was important for South America, especially for Brazil and its relevance has been increasing during the last years, with strong expansion in quantity and quality of the herd. In this article, starting with a brief rescue of its history, a few statistics and facts which show its importance, not only for Brazil but surpassing the country’s borders will be presented.
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Nos países de colonização espanhola, a introdução do cavalo ocorreu principalmente pela sua função como arma de guerra. Já em sua segunda viagem à América, em 1493, Cristóvão Colombo trouxe alguns exemplares para a Ilha de São Domingo. Cortez, em 1519, utilizou cavalos trazidos da Europa nas suas expedições pelo México. Na América do Sul, a introdução do cavalo ocorreu em 1532, quando Pizarro utilizou cavalos na sua incursão no Peru. No mesmo ano, o cavalo foi trazido para Colômbia. Dois anos mais tarde, Pedro de Mendoza introduziu 100 cavalos na Argentina. Em 1535, Diogo de Almagro, no Chile e Ojeda, na Venezuela, trouxeram mais cavalos para o continente americano. Cabeça de Vaca (D. Alvar Nuñes Cabeza de Vaca) em 1541 levou uma tropa de cavalos para as colônias espanholas, atravessando o território brasileiro (Paraná e Santa Catarina). Juntamente com os animais trazidos por Mendoza para Argentina, parte desses animais contribuiu para o inicio da tropa no sul do Brasil. Observa-se, pelo exposto no parágrafo anterior, que fisicamente, o cavalo chegou ao extremo sul do Brasil ainda no século XVI, originário dos países vizinhos. Mas, com importância econômica distinta dos demais países (sua introdução não 46_Animal Business-Brasil
foi para uso militar), só se destacando mais tarde, na segunda metade do século XVIII, com a indústria do charque (carne-seca), na região entre o Rio Pelotas e São Gonçalo. A partir de então, rapidamente, a criação de cavalos no Rio Grande do Sul ganhou importância, transformando-se em fornecedor de equídeos para as demais regiões. Prado Jr (1962) estima que, no início do século XIX, as exportações anuais do Rio Grande do Sul, para as demais regiões, eram de 4 a 5 mil cavalos. A importância do cavalo no Rio Grande do Sul (e sua contribuição para formação econômica do Brasil) surgiu de sua utilização com o gado bovino. Foi o comércio de gado (incluindo o de cavalos) que contribuiu para ligar as regiões entre si, mantendo o país num bloco coeso, conforme já assinalava Simonsen (1969). Neste contexto, associado ao gado e com laços com os países vizinhos, que surgiu o Cavalo Crioulo no Brasil. A padronização da raça iniciou-se em 1931, com alguns criadores no Rio Grande do Sul, um ano antes da criação da Associação de Criadores desta raça. O vínculo com os países vizinhos permaneceu, tanto que em 1944, foi fundada a FICCC – Federação Interamericana de Criadores de Cavalos Crioulos, congregando as
associações de crioulistas do Brasil, Argentina, Uruguai e Chile. Já no ano seguinte foi realizada a primeira Exposição Internacional de Equinos Crioulos (Coelho, s/d). Enquanto os países vizinhos apresentaram grande evolução em outras raças – fato ilustrado pela incomparável qualidade do cavalo de polo argentino – o Cavalo Crioulo desenvolveu-se mais no Brasil, atingindo qualidade superior à encontrada nos demais países. Apesar das diferenças entre
os países, não apenas em qualidade, mas também na quantidade (o plantel de cavalos crioulos na Argentina é de 14.000 animais, cerca de 30 vezes menor que o brasileiro), as transações internacionais têm apresentado evolução positiva. O comércio entre o Brasil e o resto do mundo apresentou, neste século, elevada taxa de crescimento, tanto nas exportações quanto nas importações, exceto em 2010 (mas com recuperação já em 2011), conforme mostra a Figura 1.
Figura 1 – Brasil: Exportações e importações de Cavalos Crioulos, 1990 a 2011. Nota: Corrente de comércio representa a soma das exportações com as importações. Fonte: ABCCC (2012)
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Este maior relacionamento internacional pode ser observado, não apenas no comércio internacional, mas também na realização de eventos. No calendário oficial da ABCCC (Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Crioulos) de provas realizadas em 2011, que apresentou 11 eventos fora do Brasil, como Buenos Aires, Pellegrini e Montevidéu. Ainda com referência à internacionalização da criação brasileira, merece destaque a recente inciativa de focar também o mercado europeu, em especial a Alemanha, país que já possui cerca de mil cavalos crioulos. Para introdução do cavalo brasileiro na Europa houve, neste ano, importante divulgação no tradicional festival de Aachen
(Alemanha), com material de divulgação em estandes e desfiles em todos os dias do festival mostrando a raça ao público europeu. A internacionalização ocorre não apenas com as exportações e importações, inclusive as temporárias, mas também na prestação de serviços e atividades relacionadas com a raça. Exemplo disso, técnico da ABCCC participou na equipe julgadora da Exposição de Palermo (Argentina), organizada pela associação argentina da raça, assim como a apresentação de trabalhos acadêmicos sobre o Cavalo Crioulo, em eventos internacionais. A expansão da raça também ocorre internamente, nas diversas regiões brasileiras. Nos últimos
Figura 2 – Brasil: Evolução dos registros na ABCCC, 1990 a 2011. Fonte: ABCCC (2012)
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dez anos, Brasília já se consolidou como um importante núcleo criatório, ilustrando a presença na Região Centro-Oeste. O Nordeste também tem sido bem receptivo aos animais, com o Cavalo Crioulo também participando da vaquejada, modalidade de grande importância econômica no equibusiness, com inúmeros e concorridos eventos nos diversos estados brasileiros. Os números do serviço de registro genealógico da ABCCC confirmam o forte crescimento da criação nos últimos anos, conforme pode ser observado na Figura 2. Os leilões têm sido uma importante ferramenta de comercialização da raça, apresentando rendas e
lotes em quantidades crescentes (Figura 3). Em 2011, foram realizados 162 leilões, de acordo com a publicação DBO. No total, 5.431 lotes foram arrematados com arrecadação de R$ 82.843.690. O valor médio dos lotes foi de R$ 15.253,86. Pelo exposto, observa-se que a criação do Cavalo Crioulo tem apresentado importante evolução nos últimos anos. Atualmente, esta raça já é uma das três principais criadas no Brasil. Estima-se que a movimentação financeira representada pelo Cavalo Crioulo atinge o significativo montante de R$ 1,28 bilhões / ano no Brasil, gerando um total de 238 mil postos de trabalho. Figura 3 – Evolução dos leilões de Cavalos Crioulos, de 1998 a 2011. Fonte: DBO (2012)
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O sucesso do Gir Leiteiro The success of Dairy Gir Por/Text Silvio Pinheiro Queiroz
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Sumário
Fruto de rigoroso e persistente trabalho de seleção genética, o Gir Leiteiro vem alcançando resultados surpreendentes para um gado indiano, com produções diárias que chegam a alcançar 60 kg de leite. Outra conquista importante é a persistência do período de lactação com a duração média de 293 dias, por ano. O leite tem, em média, a seguinte composição: gordura – 4,04%; proteína – 3,03%; lactose – 4,58% e sólidos totais – 12,81%. Nos leilões já foram atingidos preços na faixa dos dois milhões de reais para reprodutores de elite. Summary As a result of severe and persistent genetic selection work, Dairy Gir has been reaching surprising results for Indian cattle, with a daily production that may reach 60 kg of milk. Another important conquest is the persistence of the lactation period lasting an average of 293 days per year. Milk has in average the following composition: fat – 4.04%; protein – 3.03%; lactose – 4.58% and total solids– 12.81%. About two million “Reais” (R$) have already been reached for elite reproducers in auctions. Animal Business-Brasil_51
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A HISTÓRIA DA RAÇA Os registros disponíveis apontam para o inicio do século XX – 1906, as primeiras importações de destaque de animais vivos da raça Gir desde sua origem, na Índia, para o Brasil. Essas importações, oficiais, se sucederam em maior escala até o ano de 1962, com a vinda de animais vivos. Em todas elas os relatos demonstram verdadeiras sagas com ocorrências de dificuldades de diversas naturezas, desde a localização e aquisição dos animais em sua origem, os custos, a documentação de liberação, principalmente para a importação, transporte etc. Em que pese todas essas dificuldades vencidas, o que valoriza o empreendedorismo e determinação de nossos pecuaristas de então, podemos verificar, hoje, que ocorreu uma variação muito grande no tocante à qualidade funcional e padrão racial dos animais aqui chegados e objetos dessas importações. Este fato, aliado às características próprias da raça, gerou uma diversidade muito grande na conformação e pelagem dos animais hoje existentes no Brasil, amparadas pelo padrão racial definido no âmbito da ABCZ. A partir desses animais formaram-se os planteis da raça Gir hoje conhecidos no Brasil e suas mais diversas linhagens, fruto do trabalho de criadores e selecionadores com diferentes objetivos econômicos e funcionais. Decorrente, certamente, do contexto de um Brasil eminentemente rural até o início da segunda metade do século XX – anos 1950/60, bem como de outros fatores inerentes aos interesses dos pecuaristas da época, da produção e consumo de alimentos etc, a raça Gir foi mais intensamente selecionada para produção de carne, tendo dominado e liderado o mercado de genética zebuína até o início dos anos 70. Paralelamente, mas de forma mais tímida, ocorreu o processo de seleção funcional da raça para produção de leite. Os registros dos primeiros controles leiteiros como ferramenta de verificação da produção com objetivos de seleção remontam aos anos 30. Desde então tem-se notícias de animais da mesma raça selecionados com objetivos funcionais bem distintos e antagônicos zootecnicamente, quais sejam: para transformar alimento em carne ou em leite, desenvolvendo, obviamente, biotipos bem diferentes. Como, estatisticamente, a herdabilidade da característica para produção de leite é mais baixa, Animal Business-Brasil_53
requerendo maior tempo para a manifestação da evidência dos resultados dos trabalhos de seleção, os poucos selecionadores que permaneceram nesta atividade decidiram, em 1980, unir seus esforços particulares para, de maneira associativista, buscar através de metodologia científica, a exemplo do que já existia para raças européias, maior agilidade e melhores resultados para os seus trabalhos de seleção. Em Setembro de 1980 foi, então, fundada a Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro – ABCGIL, com o objetivo expresso de buscar o fomento da seleção da raça Gir na função para produção de leite através da utilização de métodos científicos. Firmou-se então a parceria com a EMBRAPA – Gado de Leite – CNPGL e, em 1985, iniciaram-se os trabalhos do Programa Nacional de Melhoramento do Gir Leiteiro – PNMGL, cujos resultados do teste de progênie de touros, após 27 anos de trabalho ininterrupto, são conhecidos mundialmente como de grande sucesso no auxilio ao selecionador de Gir Leiteiro e aos produtores de leite em países tropicais. Os ganhos de produção obtidos com o trabalho de seleção funcional aplicados à raça Gir para produção de leite, com base nos resultados do PNMGL, possibilitam que eu, hoje, possa afirmar que o Gir Leiteiro é fruto da perspicácia , visão do futuro e persistência dos criadores, bem como da competência dos pesquisadores brasileiros. RESULTADOS Precisamos distinguir pelo menos dois regimes de trabalho/manejo com o Gir Leiteiro para exprimir a evolução e/ou o estágio atual de produção da raça. Em regime natural utilizado na produção comercial de leite onde o custo do produto é fator preponderante e determinado pela indústria, os criadores de Gir Leiteiro têm conseguido bons resultados considerando que a média de produção tem sido satisfatória e a composição do leite bastante valorizada pelos laticínios. Para melhor demonstrar a evolução da produção do Gir Leiteiro com dados das medições do PNMGL, anexo o Gráfico a seguir. • Média de Produção: 3.576 kg de leite (real) em 305 dias e 4.527 kg de leite (ajustado à idade adulta) em 305 dias. 54_Animal Business-Brasil
Obs.: Por Ano de nascimento das Fêmeas.
Leiteiro adulta. Para novilha, a marca de 50 kg já está próxima de ser superada. Um dado significativo dos critérios da seleção funcional promovida pelos selecionadores de Gir Leiteiro é a persistência (duração ) da lactação. Podemos conferir a evolução pelo gráfico abaixo, onde a duração média atual é de 293 dias de lactação.
É imperioso ressaltar a importância das provas de produção, os concursos leiteiros realizados nas exposições especializadas, onde os animais são submetidos a desafios nutricionais e de manejo para produção, exigindo a máxima expressão de sua genética. São nestas provas que podemos constatar de forma mais significativa a evolução da raça. Os recordes têm sido constantes, sendo que, atualmente, já foi ultrapassada a marca dos 60 kg diários para uma vaca Gir
Para a constituição do leite, o mesmo acompanhamento do PNMGL informa os seguintes dados médios: • Gordura: 4,04% • Proteína: 3,03% • Lactose: 4,58% • Sólidos totais: 12,81%. Nestes quesitos posso afirmar que, em algumas propriedades que não participam do PNMGL e que possuem manejo mais profissionalizado, os valores são mais satisfatórios. Um outro fato demonstrativo da evolução da seleção promovida com os avanços da seleção focada em objetivos funcionais é a média da idade ao primeiro parto que está estampada no gráfico a seguir: Média atual de idade ao primeiro parto: 35,6 meses
Obs.: Por Ano de nascimento das Fêmeas.
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Valores de reprodutores alcançados nos leilões mais recentes. Para esta questão, também, é importante separar o que é leilão de animais tidos como elite e animais de produção. Em leilões onde são ofertados os animais de maior valor genético, considerados animais de elite, recordistas de produção, campeões de pista e seus descendentes, onde a utilização é para multiplicação intensiva da genética, os valores dependem do momento do animal e do interesse do mercado. Nestes casos os preços dependem bastante dos atributos e, normalmente, têm atingido valores expressivos, alcançando marcas que já ultrapassaram os dois milhões de reais, para vacas diferenciadas, em mais de uma oportunidade. Nos 15 leilões realizados na 78ª Expozebu, em maio deste ano, a média geral ultrapassou os R$ 40.000,00. A procura por animais considerados de elite tem sido sustentada pelo que a raça tem oferecido na formação de planteis de atendimento a uma pecuária leiteira sustentável e em franca expansão. Em leilões de produção, com frequência também bastante significativa, sustentada pela procura e pelos valores de mercado, a oferta tem sido acolhida pelo mercado com bons preços para gado de leite. Nós, criadores, gostaríamos de ver as vendas mais ativas nas fazendas. Acredito que isto possa contribuir para bons negócios para ambos os lados. Nos leilões de elite a maior oferta é de fêmeas e nos leilões de produção, tanto machos para servir em planteis de genética composta, como fêmeas são objeto de ofertas. REPRODUÇÃO Para participar do Programa de Melhoramento do Gir Leiteiro é necessário a aplicação de tecnologia. A inseminação artificial é imperiosa pois é feita pela ABCGIL, a distribuição de sêmen dos touros em teste. Além disto, as técnicas de transferência de embriões são muitíssimo utilizadas na formação dos planteis de elite e na multiplicação dos animais de maior valor genético. Sêmen e embriões. Para estes itens de genética os valores de comercialização seguem os de animais com maior valorização para os de maior valor genético. O sêmen ainda é bastante utilizado nos planteis de genética composta, o que aumenta a procura. Mas 56_Animal Business-Brasil
os valores são bastante atrativos para o usuário. Para os embriões, os preços já foram mais expressivos. Atualmente, o mercado é receptivo para aqueles de maior valor genético ou de animais campeões em concursos leiteiros. COMERCIALIZAÇÃO:O BRASIL EXPORTA? Sim. O mercado internacional está bastante receptivo para o Gir Leiteiro. Países de ambiente tropical e com pecuária leiteira em expansão têm procurado adquirir esta genética zebuína em franca especialização para produção de leite. Até mesmo a Índia tem demonstrado interesse em conhecer o trabalho com esta raça zebuína realizado no Brasil. Mas o principal mercado são os países da América do Sul e Central. Recentemente ( 5/7 de Junho ) no Congresso da Federação Pan Americana do Leite - FEPALE, realizado em Assunção - Paraguai, onde participamos como conferencista pela ABCGIL, constatamos o grande interesse dos produtores de leite e da indústria de todos os 21 países representados, em conhecer o Gir Leiteiro. Para explicitar os números do mercado internacional, inserimos o gráfico da ASBIA a seguir.
Silvio Queiroz Pinheiro
GIR LEITEIRO
GIROLANDO
GUZERÁ
HOLANDES
JERSEY
O DESTAQUE É PARA O GIR LEITEIRO. Venda de sêmen em 2011: 768.190 doses Participação na venda de sêmen (Raças Nacionais leiteiras): 46,16% Participação nas exportações de sêmen (Raças Nacionais leiteiras): 71,5% CRIADORES A ABCGIL conta hoje com 360 sócios ativos. Cada qual com seu potencial e característica de criação. Somente não temos associados nos estados de Santa Catarina, Acre, Roraima e Amapá. Só por isto posso afirmar que todos servem de exemplo por acreditarem na raça e promoverem sua a expansão.
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O BEIJUPIRÁ:
Estudo de aceitação e alternativas gastronomica Por/Text Raúl Malvino Madrid LABOMAR UFC – IBAMA CE
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INTRODUÇÃO Segundo a FAO até 2035 serão necessárias 40 milhões de toneladas a mais do que se produz atualmente. Existe consenso que as capturas mundiais, de forma geral, já chegaram ao máximo sustentável, cabendo à aquicultura a única opção de atingir esse déficit acima referido. Esta premissa não está errada segundo alguns dos grandes pensadores mundiais. Lester Brown: menciona no seu livro EcoEconomia: “Nessa nova situação, a eficiência diversificada com a qual os grãos estão sendo transformados em proteína - carnes de boi, porco, aves e peixes - está determinando as tendências de produção. O gado confinado requer aproximadamente 7 quilos de ração concentrada por quilo adicional de peso “em pé”. Nos suínos, a relação é quase de 4 para 1. Frangos são muito mais eficientes, com uma relação de 2 para 1. Os peixes, inclusive as espécies herbívoras e onívoras, requerem menos de 2 quilos de grãos concentrados por quilo de ganho. Por sua vez, quando perguntaram a Peter Druque o que estava por vir em termos do futuro, respondeu: “Novas e inesperadas indústrias vão surgir, sem dúvida alguma, e rapidamente. Uma delas já está entre nós: a biotecnologia. Outra é a criação de peixe. Nos próximos 50 anos, a criação de peixes pode nos transformar de caçadores e de coletores marinhos em pecuaristas marinhos. Exatamente como mais ou menos 10.000 anos atrás, uma inovação semelhante transformou nossos ancestrais de caçadores e extrativistas em agricultores e pastores. Brasil está mostrando sua competência tecnológica na pecuá-
ria, participando com 34,0% (USD 15,0 bilhões) do trading mundial das carnes (USD 44,00 bilhões), mas na produção aquícola e pesqueira ainda se mostra incapaz. Sua participação no trading de pescado (USD 108,0 bilhões) é de apenas 0,2% (USD 240,0 milhões). É indiscutível o potencial do Brasil para o desenvolvimento da aquicultura: 13,7% de toda a água disponível do planeta; 7.408 km de linha de costa; 4,4 milhões de km2 de ZEE; 2,5 milhões de áreas estuarinas; Um milhão de hectares propícios para carcinicultura marinha; 1 milhão de hectares propícias para a carcinicultura marinha; mais de 9 milhões de hectares de águas represadas; uma das maiores produções de grão do mundo; ótimas
condições climáticas, especialmente no nordeste. É incabível que num país com tantos recursos naturais para o desenvolvimento da aquicultura, no ano passado, tenha importado o equivalente a pescado inteiro quase A 800 mil toneladas, ou seja: quase à mesma quantidade de pescado produzida em todo o País pela pesca extrativa marítima. Referida importação correspondeu a um desembolso de divisas da ordem de R$ 1,5 bilhões. Esse grande aumento das importações deve-se principalmente a grande incorporação dos Brasileiros às classes A, B e C, Segundo a Fundação Getúlio Vargas (11/09/2010), nos últimos 6 anos foram 35,6 milhões de brasileiros incorporadas nas classes citadas. Somente a classe C é representada por 94,9 milhões de pessoas. Segundo a mesma Fundação (16/08/2011) avisou que, desde 2003, nada menos que 50 milhões de emergentes – “mais do que uma Espanha” – foram incorporados ao mercado de consumo. Pelas informações precedentes verifica-se que existe no Brasil um grande mercado interno de espécies nobres para uma futura produção provenientes da aquicultura, e neste sentido o Ministério da Pesca e Aquicultura - MPA está atento a esta possibilidade. Entre os projetos financiados pelo MPA, através do CNPq, está a piscicultura marinha, dando prioridade ao desenvolvimento tecnológico do cultivo de beijupirá. Por exigência do referido Ministério as instituições de pesquisa deveriam assumir também os estudos de viabilidade econômica e de mercado. O Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará – LABOMAR/UFC, entre outras atividades, e atendendo as exigências do MPA, vem executando um estudo de mercado para o beijupirá cultivado. A presente publicação visa comentar alguns resultados obtidos a partir da degustação de diversas preparações do beijupirá por profissionais da área de gastronomia. METODOLOGIA A coordenação do estudo de mercado contratou o professor Victor Perez Castaño da Escola de Gastronomia do Valle do Aller do Principado de Astúrias com a finalidade de ministrar aulas aos donos e chefs de restaurantes e alunos e professores de gastronomia sobre as diversas preparações de beijupirá cultivado. Foram realizados cursos (9) de um dia cada nas cidades de Recife, Brasília e Animal Business-Brasil_59
Fortaleza. Cada turma tinha entre 10 a 20 alunos. Após a conclusão do curso, depois de ser capacitado na preparação de diversas receitas elaboradas a partir de beijupirá, o aluno teve que responder um questionário (anexo 1) com seis perguntas. Também foram realizadas em restaurantes das cidades de Olinda PE, Brasília DF e Fortaleza CE avaliadas, em questionário específico, quatro preparações de beijupirá (sashimi, ceviche, pochê e à chapa) por autoridades governamentais, donos de restaurantes, atacadistas de pescados, entre outros. Por último, foram distribuídos beijupirá a três restaurantes japoneses de Recife, Brasília e Fortaleza para que seus proprietários transformassem o lombo de referida espécie em sashimi e fosse ofertada gratuitamente a seus clientes para efeito de avaliação e comparação com os sashimis preparados de espécies tradicionais. Também se solicitou neste caso que os degustadores preenchessem um questionário específico. CONSIDERAÇÕES FINAIS De forma bem resumida e sem detalhar as respostas das diferentes qualificações dos participantes dos cursos, as diferenças entre cidades pesquisadas, os resultados da avaliação estatística obtidos no cruzamento de cor, textura e sabor, os donos de restaurantes, os atacadistas de pescados, os professores e os alunos de gastronomia, entre outros, as respostas fornecidas são resumidas nos seguintes comentários: 60_Animal Business-Brasil
1. Os resultados obtidos permitem formular uma estratégia para uma melhor comercialização do beijupirá cultivado, bem como para estabelecer uma logística de cultivo, importante base para apresentar cenários econômicos que serão motivo de estudos posteriores; 2. Em geral a qualidade do beijupirá cultivado foi muito bem aceita entre os participantes dos cursos de gastronomia; das degustações realizadas por convidados em restaurantes e consumidores em restaurantes japoneses; 3. Destaque para a melhor aceitação da receita grelhado na chapa e também considerada a forma que mais se adapta ao compará-la com outras preparações; 4. O filé sem pele seria o produto preferido no momento da compra; 5. Os detalhes da expectativa do preço e o peso devem ser mais bem trabalhados, houve uma dispersão muito grande de opiniões; 6. Muito importante o fato de que os entrevistados consideraram a qualidade como o atributo principal na compra do pescado. Essa característica somente pode ser oferecida pelo pescado cultivado; 7. Os participantes dos cursos apreciam o salmão, o sirigado e o robalo mais que o beijupirá, mas colocam este pescado cultivado com melhor aceitação que a pescada amarela, tilápia, surubim, dourada, tambaqui, cavala e pangasus. Resultado similar foi dado pelos participantes da degustação em restaurantes. Neste caso o robalo foi considerado inferior ao beijupirá; 8. A avaliação realizada aos produtos de sashimi, ceviche, pochê e à chapa consideradas muito positivas; 9. Os atributos de cor, textura e sabor do sashimi de beijupirá foram muito bem avaliados pelos consumidores habituais deste produto em restaurantes japoneses; 10. A carne do beijupirá tem atributos para participar do sashimi como opção de carne branca. A apresentação na íntegra deste estudo e todas as palestras, disponibilizadas pelos palestrantes, podem ser acessados, pelo site http://www. sebrae.com.br/uf/rio-de-janeiro/atuacao-e-projetos/desenvolvimento-territorial Lidia Espindola Área de Desenvolvimento Territorial e Agronegócios.
O crédito rural no Brasil Rural credit in Brazil Por/Text Felipe Prince Silva Economista, mestre em Economia Agrícola pela UNICAMP Sócio da Consultoria Agrosecurity Gestão de Agro-Ativos Analista de Inteligência de Mercado da Agrometrika Serviços de Gestão de Crédito Economist, Master in Agricultural Economy UNICAMP Partner of Consultoria Agrosecurity Gestão de Agro-Ativos Market Intelligence Analyst of Agrometrika Serviços de Gestão de Crédito
Sumário
A criação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1965, envolveu um esforço institucional para congregar diversos agentes com o intuito de financiar o crescimento da agricultura no Brasil. Assim, a década de 1970 foi caracterizada por um crescimento dos recursos para o setor, oriundos principalmente do sistema bancário, através de crédito controlado e subsidiado pelo Estado. No entanto, com a crise fiscal e de endividamento na década 1980, houve queda dos recursos destinados ao financiamento agrícola no Brasil por parte do Estado. Nesse contexto, o mercado precisou se organizar para desenvolver mecanismos privados de crédito com o objetivo de atender à demanda do setor, que cresceu fortemente a partir do final da década de 1970 no país, especialmente, em função da expansão da produção agrícola no Centro-Oeste. Atualmente, junto com os bancos e as cooperativas de crédito, as empresas fornecedoras de insumos, tradings, agroindústrias e exportadores também atuam como agentes importantes na concessão de crédito aos produtores, através de instrumentos criados a partir da década de 1990. Summary
The creation of the National Rural Credit System, in 1965, involved an institutional effort to congregate several agents with the purpose of financing the growth of agriculture in Brazil. Thus, the decade of 1970 was characterized by a growth of funds for the sector, mainly coming from the banking system through controlled credit and subsidized by the State. However, with the fiscal crisis and indebtedness in the decade of 1980 there was a drop in the funds destined to agricultural financing in Brazil by the State. In this context it was necessary for the market to be reorganized and to develop private credit mechanisms targeting to meet the sector’s demand that strongly grew in the country as of the end of the seventies, especially due to the expansion in agricultural production in the MidWest. Presently, together with banks and credit cooperatives, the inputs supplying companies, tradings and agroindustries also act as important agents in the concession of credit to farmers through the instruments created as of the decade of 1990.
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CRIAÇÃO DO SISTEMA NACIONAL DE CRÉDITO RURAL (SNCR) O primeiro mecanismo oficial de financiamento rural no Brasil ocorreu no primeiro governo de Getúlio Vargas, em 1931, quando a principal atividade econômica do país era o café. Os instrumentos criados na época para sustentar as atividades do setor foram a Carteira de Crédito Agrícola e Industrial (CREAI) do Banco do Brasil e o Departamento do Café. No entanto, nas décadas seguintes (1940-50), pouca importância foi atribuída ao setor rural por parte do Estado, o que se caracterizou pela ausência de mecanismos e instrumentos de intervenção mais efetivos. O grande marco do financiamento brasileiro da agricultura ocorreu mesmo em 1965, através da Lei 4.829, que criou o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), agregando agentes como: Banco Central, Banco do Brasil, bancos estaduais, bancos regionais de desenvolvimento, bancos privados, caixas econômicas, sociedades de crédito, investimento e financiamento, cooperativas, órgãos de assistência técnica e extensão rural. O objetivo do SNCR era fortalecer a 62_Animal Business-Brasil
classe dos produtores rurais através do financiamento de seus custos e da criação de incentivos para a formação de capitais e novas tecnologias no campo. As principais fontes de financiamento criadas na década de 1960 eram duas: 1) Destinação de recursos lastreados no Tesouro Nacional, através de fundos e programas (recursos fiscais e parafiscais) administrados pelo Banco Central e repassados aos produtores, principalmente, por intermédio do Banco do Brasil e 2) Exigibilidade de 10% sobre os depósitos à vista dos bancos comerciais, com destinação ao financiamento do setor agropecuário. Além dessas duas fontes de financiamento, diversos incentivos e subsídios foram criados ao setor na década de 1960. A taxa de juros cobrada nos empréstimos aos produtores, por exemplo, não podia ser superior a 75% das taxas cobradas nos bancos comerciais em operações normais. Outros incentivos foram dados, como o financiamento com taxas reais de juros que chegaram a ser negativas e com prazos e carências elásticas. O principal banco de financiamento do setor agropecuário, nesse período,
foi o Banco do Brasil, que operava em nome do Tesouro. Um dos grandes mecanismos para a emissão de crédito ocorria através da chamada Conta Movimento, que era uma conta “elástica” que o Tesouro mantinha junto ao Banco do Brasil, permitindo que este realizasse operações de crédito e simplesmente debitasse da Conta Movimento. Em última instância, esse mecanismo conferia a cada agência do Banco do Brasil a função de emissor de moeda, já que não havia limites para a emissão de crédito. Esse mecanismo foi abolido em 1985, já que impossibilitava um controle monetário e fiscal mais rígido por parte do Estado. Até a década de 1980, houve uma forte participação do Estado como financiador do setor agrícola no Brasil. No entanto, com a crise fiscal que ocorreu a partir da primeira metade da década de 1980, houve diminuição da sua capacidade de expansão de crédito para atender às crescentes demandas do setor. Nesse contexto, foi necessário o desenvolvimento de mecanismos privados de financiamento agrícola, que foram estimulados pelo próprio desenvolvimento e modernização do setor, especialmente
na região Centro-Oeste, a nova fronteira agrícola da época. Assim, inicia-se uma série de inovações para buscar de fontes extraordinárias de financiamento, como a operacionalização da “Soja Verde” no financiamento da produção de soja no Cerrado nos anos 1980 e a emissão de títulos privados. A partir desse mecanismo, as tradings multinacionais passam a ter papel fundamental no fornecimento de recursos para os produtores que, em contrapartida, lhes garantiam o devido abastecimento com o fornecimento da matéria-prima. A introdução dessa inovação aumentou, significativamente, a disponibilidade de recursos para o financiamento do setor, já que essas empresas tinham maior acesso aos mercados de crédito internacional, além de terem acesso a mecanismo de hedging através de contratos em bolsas de mercadoria internacionais. PÓS-DÉCADA DE 1990: NOVO PADRÃO DE FINANCIAMENTO A partir da década de 1990, começa a surgir no Brasil um novo padrão de financiamento rural, caracterizado por maior participação dos agentes Animal Business-Brasil_63
privados na destinação de recursos ao setor. No entanto, mesmo a participação dos setores privados tendeu a ser limitada, não disponibilizando crédito suficiente para a classe produtora como um todo. Essa participação limitada pode ser explicada, basicamente, por dois motivos: a primeira é o cenário de endividamento da classe produtora na época, o que diminuiu a sua credibilidade em relação aos agentes financiadores. A segunda era a própria política econômica vigente, especialmente após o plano de estabilização de 1994, caracterizado por juros elevados, o que dificultava ainda mais a tomada de crédito por parte dos produtores. A partir da segunda metade dessa década, a participação dos bancos privados no repasse de crédito rural aumentou, significativamente. Em 1995, o repasse dos bancos privados representava 12,3% do total de crédito bancário agropecuário, contra 87,7% de repasse dos bancos públicos. Já no início de 2010, a participação dos bancos privados subiu para 41,9% do volume total de crédito agropecuário, contra 58,1% dos bancos públicos. Figura 1 - Evolução da participação de bancos privados e públicos no repasse de crédito agropecuário ao produtor – R$ bilhões
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Fonte: Banco Central
Nessa época, surgem no país instrumentos alternativos de captação de recursos por parte dos produtores, como a Cédula de Produto Rural (CPR), criada pela Lei 8.929, de 24/08/1994, na modalidade física. A CPR é um tipo de contrato a termo, em que o produtor recebe, antecipadamente, um montante em dinheiro correspondente à quantidade de produto comprometida para entrega futura. Ou seja, o produtor vende a termo sua produção, recebendo o valor da venda à vista, comprometendo-se a entregar o produto negociado na quantidade, qualidade, data e local estipulados. Por se tratar de um contrato a termo, destaca-se que a CPR também funciona como um instrumento de proteção de preços para o produtor. Dessa forma, ao utilizar a CPR, o produtor rea-
liza um hedging de venda já que, quando emitido o título, o preço é travado, estando o produtor assim protegido contra movimentos de baixa. No entanto, a exclusividade de liquidação física da CPR impedia a expansão do negócio para demais agentes que desejavam participar do financiamento do crédito rural no país, já que era grande a dificuldade de se conciliar um comprador que demandasse um produto com as mesmas especificações que o produtor ofertava. Isso impedia uma expansão mais significativa da CPR entre os produtores e agentes financiadores. Nesse sentido, em 2001, foi criada a CPR com liquidação financeira, para incorporar novos agentes participantes do financiamento do agronegócio como um todo, aumentando os potencias compradores de CPR. A diferença fundamental entre as duas modalidades de CPR (liquidação física e financeira) é que a última não exige a liquidação do contrato unicamente por intermédio de entrega física da mercadoria do produtor para o seu financiador, mas também permite que a liquidação seja feita em dinheiro, através da conversão do valor da mercadoria. Assim, a CPR aumentou as opções de financiamento dos produtores agrícolas e provocou um processo de desintermediação bancária no financiamento ao setor. Houve um aumento da liquidez e maior atração de investidores institucionais, o que contribuiu para o fortalecimento dos Complexos Agroindustriais do Brasil, especialmente no segmento de grãos. Em 2004, através da Lei 11.076/2004, foram criados cinco novos títulos de financiamento do agronegócio que, a exemplo da CPR, também representam uma forma de captar recursos no mercado financeiro por parte dos agentes do agronegócio. Os títulos criados foram cinco: CDCA/WA (Certificado de Depósito Agropecuário e Warrant Agropecuário), LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e CDCA (Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio). Esses títulos também servem para captação de recursos por parte de armazéns, instituições financeiras e companhias securitizadoras de direitos creditórios. Assim, junto com a CPR, os novos títulos do agronegócio contribuíram para complementar os recursos disponibilizados pelo Estado para o financiamento do setor, através de instrumentos mais estruturados e atrativos para as instituições
Figura 2 - Modelos de financiamento rural no Brasil
financeiras e pela maior canalização de recursos de fundos de investimento para o agronegócio. MODELOS DE FINANCIAMENTO ATUAL Atualmente, podemos dividir os mecanismos de financiamento rural em dois grandes grupos: 1) Crédito rural bancário e 2) Crédito rural comercial ou informal. Os agentes participantes do primeiro grupo são os bancos comerciais e as cooperativas de crédito, que são regidos por normas do Banco Central e compõem o Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). Dentro do crédito rural bancário, enquadra-se o crédito oficial, sendo que parte dele é disponibilizado através de juros subsidiados pelo Governo. Na Safra 2011/12, por exemplo, as taxas de juros na contratação de custeio variaram entre 6,75% a.a. para os recursos controlados a até 10,75% a.a. para os recursos livres. A taxa de juros controlada, bem como o volume de crédito disponibilizado para as atividades agrícolas, são anunciados anualmente pelo Ministério da Agricultura, através do Plano Agrícola e Pecuário, conhecido também como Plano Safra. Em relação ao grupo de crédito rural comercial ou informal, os agentes participantes são os fornecedores e distribuidores de insumos, as tradings, cerealistas, agroindústrias e exportadores. O mecanismo de financiamento ocorre através de adiantamento de recursos para compra antecipada da safra e, pelos fornecedores e distribuidores de insumos, o crédito ocorre através da concessão de prazo-safra para pagamento. As operações de troca (“barter”) também são muito importantes e ocorrem através da entrega do produto Animal Business-Brasil_65
após a colheita como forma de pagamento pelo insumo adquirido antes do plantio, a uma paridade pré-definida na negociação. Segundo dados do Banco Central, em 2011, o total de crédito agropecuário repassado pelos bancos e cooperativas (crédito bancário, grupo 1) foi de R$ 94,1 bilhões, divididos em R$ 64,9 bilhões para a agricultura e R$ 29,2 bilhões para a pecuária. A maior parte do crédito destina-se para atividades de custeio, que representou R$ 53,1 bilhões, conforme a Tabela 1: Tabela 1 - Crédito agropecuário repassado por bancos e cooperativas em 2011 por atividade e finalidade (R$ bilhões) Atividade/Finalidade Agrícola Pecuária Total
Custeio 39,6 13,4 53,1
Investimento 12,3 12,4 24,6
Comercialização 13,0 3,4 16,4
Total 64,9 29,2 94,1
Tabela 2 – Fontes de recursos de crédito rural concedido a produtores e cooperativas - 2011 Fontes de Recursos Recursos Obrigatórios Poupança Rural Fundos Constitucionais Recursos BNDES/Finame Recursos Livres Recursos do Funcafe Recursos Externos - 63 Rural FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador Recursos de Outras Fontes Recursos do Tesouro Recursos Governos Estaduais Total
R$ mil 44.526.683,4 28.976.099,2 7.182.326,0 6.429.006,1 2.658.414,9 1.471.693,1 1.341.918,1 1.226.704,6 138.560,0 128.575,3 32.685,3 94.112.666,5
% 47,3% 30,8% 7,6% 6,8% 2,8% 1,6% 1,4% 1,3% 0,1% 0,1% 0,0% 100,0%
Fonte: BACEN (2011), Anuário Estatístico de Crédito Rural.
Figura 3 - Matriz de financiamento de custeio da soja nas regiões Sul e Centro-Oeste
Fonte: BACEN (2011), Anuário Estatístico de Crédito Rural.
As principais fontes de financiamento do crédito rural são os recursos obrigatórios (exigibilidade de 28% sobre os depósitos à vista), que contribuíram com 47,3% do crédito em 2011, a poupança rural, com participação de 30,8% e os Fundos Constitucionais, com participação de 7,6%. Ainda são utilizados recursos do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para o crédito rural. Conforme dados levantados pela nossa consultoria, a Agrosecurity, a participação do crédito bancário é significativamente maior no Sul do Brasil no financiamento da cadeia de grãos. Já no Centro-Oeste, há uma presença mais efetiva do crédito comercial ou informal, com atuação mais forte dos fornecedores de insumos e tradings no financiamento da produção, conforme demonstrado na Figura 3.
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Fonte: Agrosecurity
Dessa forma, atualmente, os recursos privados exercem um papel tão importante quanto os recursos públicos para o financiamento da atividade rural no Brasil. E não apenas os bancos e cooperativas de crédito são os responsáveis por disponibilizar esses recursos, mas também os agentes comerciais que fazem parte da cadeia produtiva com um todo, através da concessão de prazo na venda dos insumos e da compra da safra com pagamento antecipado ao produtor. Esses agentes exercem uma influência crescente na disponibilização de crédito ao produtor no Brasil
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