Animal Business Brasil 10

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Uma publicação da:

Ano 03 - Número 10 - 2013 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

Hormônio no frango é Mentira

A alta tecnologia da nova zeLÂnDia RJ exporta couro de aniMaiS exóticoS

BeBeto Deputado quer delegacia especializada para defender animais

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uma publicação da:

o

tetracampeão José Roberto Gama de Oliveira, que ilustra a capa desta edição, mais conhecido como Bebeto, nasceu em Salvador no ano de 1964 e é o criador do famoso “gol de voleio”. Seu gesto de simular que estava embalando o filho recém-nascido, Matheus, ficou famoso no mundo todo. Deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Bebeto preocupa-se com o abandono crescente e os maus tratos com os animais em geral, notadamente – mais não somente – com os de companhia, como cães e gatos e os de estimação, como pássaros e outros. A produção e os serviços para animais vêm crescendo muito no Brasil, nos últimos 10 ou 15 anos, a ponto de sermos – atrás dos Estados Unidos – o segundo colocado nesse mercado bilionário. Mas o problema do abandono está crescendo na mesma proporção e a solução está longe de ser encontrada. Convencido disto o deputado Bebeto está trabalhando no sentido de criar uma Delegacia Especializada na Defesa dos Animais, iniciativa que merece todo o apoio. Tamanho não é documento e a Nova zelândia prova isso com o seu invejável padrão de vida, de desenvolvimento humano, e com uma renda per capita de US$30 mil,basicamente propiciada pelo alto grau tecnológico da sua agropecuária, que permite exportar 95% do total do leite produzido, além de carne da melhor qualidade. Matéria-prima de luxo valorizada pelas melhores grifes de moda, o couro de animais exóticos,

como peixes, avestruz e jacaré, exige tecnologia especializada que a empresa fluminense Nova Kaeru, localizada em Bemposta, desenvolveu para aplicação em bolsas, calçados, cintos e peças de vestuário. Esses couros especiais são exportados para diversos países da Europa, da Ásia e para os Estados Unidos. Há tempos, uma chef famosa, dona de restaurante, quando foi responsável pelo cardápio de atletas brasileiros numa competição internacional, eliminou o frango porque, contendo hormônios, poderia condenar os atletas no exame antidoping. E esse engano não é só dela. Muita gente acha que sem a aplicação de hormônios um frango não pode atingir mais de dois quilos de peso vivo com 40 dias de idade. Acontece que, como prova o especialista em nutrição animal, Alfredo Navarro de Andrade, com grau de Doutor pela Universidade de Purdue (USA), hormônio em ave não funciona. Esse desempenho extraordinário é o resultado de uma combinação de fatores, como genética, nutrição, manejo e profilaxia. O Brasil tem fazendas leiteiras que usam tecnologias de ponta comparáveis aos países mais avançados e um bom exemplo é a Agrindus S/A que, inclusive, produz leite com o selo Koscher, monitorado diretamente de Israel graças ao “milagre” da era digital. O leitor encontrará muitas outras matérias interessantes e úteis nesta décima edição da Animal Business-Brasil, que também está sendo distribuída em bancas selecionadas em praticamente todo o território nacional.

Luiz Octavio Pires Leal editor Animal Business-Brasil_3


Diretoria executiva

Diretoria técnica

Antonio Mello Alvarenga neto presidente

Francisco José Vilela Santos

Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente

Hélio Meirelles Cardoso

Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente

José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers

Joel Naegele 3º Vice-presidente

Ronaldo de Albuquerque

Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente

Sérgio Gomes Malta

Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto

Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho

COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979

Academia Nacional de Agricultura

Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br

Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Carvalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso

Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cézar de Andrades Rubens Ricupero Pierre Landolt Antonio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari João Sampaio Sylvia Wachsner Antonio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sergio Quintella Katia Abreu Antonio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Farina Antonio Mello Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luis Carlos Guedes Pinto Erling S. Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Raul Moreira Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial

É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 17.000

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Tecnologia Avançada na Produção de Leite

SENAR melhora produtividade do gado leiteiro no interior paulista

A mentira do hormônio no frango

Vantagens de investir na pecuária de corte brasileira

A compra de terras brasileiras por estrangeiros

Impacto do padrão logístico nas exportações de carne suína

RJ produz e exporta couro de animais exóticos para países da Europa, da Ásia e para os Estados Unidos

Papel do veterinário na produção de alimentos

Bebeto: “Está na hora de criar uma delegacia especializada para defender os animais”

Top News

A alta tecnologia do agronegócio na Nova Zelândia

Corrida de cavalos da raça Árabe

Ciência & Tecnologia

Boto-vermelho: criatura mitológica em perigo de extinção

Oportunidades de investimento na pecuária no estado do Rio de Janeiro

Opinião: A voz das ruas e a voz do campo

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Fotos: divulgação

Tecnologia Avançada

na Produção de Leite Segundo Roberto Jank Jr, presidente da Agrindus, empresa que produz 20 milhões de litros de leite/ano, a aposta no melhoramento genético do rebanho, os cuidados com o manejo e a atenção com qualidade são o diferencial da produtividade

Roberto Jank JR 6_Animal Business-Brasil


A

história da Agrindus S/A, localizada em Descalvado, importante bacia leiteira do Estado de São Paulo, começou em 1945. Na ocasião, a Fazenda Santa Rita tinha como foco principal o cultivo de café, além de leite, atividade que hoje ocupa 500 hectares dos 2 mil hectares da propriedade.

Vice-campeã Atualmente, a empresa é a segunda colocada no ranking dos maiores produtores de leite do Brasil. A empresa sempre se manteve no topo de produção nacional e, na última década, ganhou maior projeção com a industrialização do leite tipo A, cujo diferencial é a rastreabilidade total dos produtos, da origem do alimento das vacas, passando pela produção de bezerras até chegar ao leite envasado. O rebanho da propriedade é formado por 3.500 fêmeas da raça Holandesa Preto e Branco PO, registradas, das quais 1.400 em lactação. A sala de ordenha funciona 24 horas por dia e a produção diária alcança 50 mil litros de leite tipo A, com média de 35 litros/vaca/dia. “Vendemos leite diariamente em 60 cidades do Estado de São Paulo”, afirma Roberto Hugo Jank Jr., engenheiro

agrônomo, diretor presidente da Agrindus S/A, vice-presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Leite – Leite Brasil e membro da Láctea Brasil. Todos os animais têm pedigree e são registrados na Associação Brasileira da Raça Holandesa. “Possuímos o maior rebanho de fêmeas holandês registrado do País e produzimos 18 milhões de litros por ano. Nossa ideia é termos 1.800 vacas em lactação e uma produção anual de 20 milhões de litros, o que será possível com (a construção de) um novo free stall e uma sala de ordenha nova, duplo 30, recém-construídos”, conta Jank Jr. A expectativa é ampliar a produção para 65 mil litros por dia até 2015.

Melhoramento genético O sucesso do empreendimento se deve principalmente ao melhoramento genético do rebanho, que começou há 31 anos, com a introdução da inseminação artificial. Atualmente, a Agrindus utiliza todos os métodos de reprodução: transferência de embriões, FIV (fertilização in vitro) e IATF (inseminação artificial em tempo fixo). Na Santa Rita, a novilha começa a reprodução aos 14 meses.

Abaixo, sala de ordenha: profilaxia utiliza pré e pós-diping

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ordenha e outra. No local, há alimentação balanceada, à vontade, água limpa, sal mineral e todo o conforto possível, que inclui ventiladores e spray de água para que as vacas se refresquem quando a temperatura esquenta, além de um coçador.

cama de areia seca

As matrizes possuem chip eletrônico e a ordenha é computada individualmente.

o selo Koscher garante que o leite é processado segundo as estritas exigências da tradição judaica. toda a produção é monitorada, eletronicamente, à distância por técnicos localizados em israel

chip eletrônico Todas as matrizes possuem chip eletrônico e a ordenha é computada individualmente, para cada animal. O manejo das fêmeas constitui-se em três ordenhas diárias, no sistema de alojamento em free stall (baia livre), um galpão aberto, com acesso a piquete de capim, com liberdade para caminhadas, descanso e banhos de sol, onde as vacas se alimentam e descansam entre uma 8_Animal Business-Brasil

“A cama de areia seca é um diferencial do manejo”, diz Jank Jr.. A fazenda também possui maternidade, bezerreiro – onde ficam as crias depois de apartadas das mães e recebem os cuidados necessários, além de leite e alimentação quando chegam ao desmame – e sala de ordenha. A bezerra só fica com a mãe no dia do nascimento. Até dois meses de idade, recebe leite no balde e ração. Depois, vai para piquete com capim e ração. Depois da ordenha, o leite é imediatamente refrigerado e segue diretamente para a pasteurização por tubulação inoxidável fechada, sem passar por caminhão tanque, transbordo de produto, silos e tanques de terceiros. Daí vai para a homogeneização, envase e distribuição e, no dia seguinte, chega à casa do consumidor.

Laticínios Além do leite tipo A integral, semidesnatado e desnatado, envazado na própria fazenda, com a marca Letti, a empresa também produz iogurtes e creme pasteurizado. “A pasteurização elimina os micro-organismos nocivos à saúde, mantendo as propriedades nutritivas do leite”, informa Jank Jr., acrescentando que, para o controle de qualidade dos produtos, conta com laboratório próprio no laticínio. “A produção é toda própria, pois o leite tipo A não permite que o produto seja transportado em caminhões. Tem que ser canalizado diretamente da ordenha para o pasteurizador, sem o contato manual”, conta Jank Jr.

Boas práticas A propriedade também segue um Manual de Boas Práticas, além de realizar vários controles internos e externos. Atende à legislação federal e é fiscalizada pelo SIF (Serviço de Inspeção Federal), além de diversas auditorias internas e externas que ocorrem ao longo do ano.


No Free Stall, as vacas se alimentam e descansam com todo conforto térmico e físico

Desde 1992, o manejo nutricional do rebanho utiliza o sistema de ração completa misturada (total mixed ration – TMR), que proporciona uma composição nutricional equilibrada dos ingredientes, que são controlados, monitorados e ajustados, de forma que todas as vacas recebam a mesma dieta. São toneladas de ração composta de forragens e concentrados, ingredientes misturados de forma a obter uma mistura de conteúdo nutricional e conseguir boa eficiência econômica. Na Agrindus, a forragem principal é a silagem de milho, mas também são utilizados grãos fibrosos como polpa cítrica, caroço de algodão, farelo de soja, minerais, além de farelo e refinasil de milho.

Sanidade A assistência sanitária é feita por um médico veterinário, três vezes por semana, e o foco principal é a prevenção e inclui vacinações usuais,

que garantem um rebanho livre de brucelose e tuberculose. A profilaxia da ordenha utiliza o pré e pós-dipping (antes e depois da ordenha).

Administração O sistema de administração, setorizado, é dividido em setor de produção, industrialização e comercial, todos independentes, segundo o executivo que está preparando a empresa para o futuro. “Investimos R$ 2,5 milhões na construção de um free stall e uma sala de ordenha dotada de equipamentos de conforto térmico, com capacidade para mais 350 vacas, prevendo um crescimento de 20% da produção até 2017”, conta. Além disso, em 2013 e 2014 estão previstos investimentos de R$ 2,5 milhões em melhoramento genético, através do programa Gestor Leite, da CRV Lagoa, de Sertãozinho (SP), que criou a ferramenta Índice Econômico Brasileiro (IEB), que mede os ganhos em produtividade. Animal Business-Brasil_9


“Com o uso da genética, planejamos intensificar ainda mais a nossa produção e alcançar a produção anual de 24 milhões de litros de leite, com pelo menos 1,8 mil vacas em lactação”, prevê. Além da atividade leiteira, a Agrindus dedica-se à pecuária de corte, à avicultura e ao cultivo de laranja, além de ser autossuficiente na produção de alimentos para os animais. Também realiza um leilão anual, onde oferece gado Holandês PO com carga genética diferenciada. Atualmente, emprega 220 profissionais, em todas as atividades.

trajetória Em 1962, a expansão da atividade leiteira exigiu investimentos no plantio de milho para garantir a alimentação da vacada o ano todo. A ordenha mecânica foi implantada no local em 1963. Dois anos depois, o leite, que antes era destinado à indústria, passou a ser utilizado na própria fazenda, na produção de queijo, vendido sob a marca Queijo Agrindus. A nova atividade prosseguiu até 1973, quando a empresa decidiu produzir leite tipo B. A entrada no mercado de leite levou à unificação das unidades de confinamento e ordenha com a instalação de uma moderna unidade, em 1996. Em 2007, a Agrindus lançou a Letti, sua marca própria de leite tipo A, creme de leite fresco e iogurtes. A aposta na verticalização agregou valor à produção, que é diferenciada do mercado em qualidade e em biosseguridade, tanto pela rastreabilidade, quanto pelo aspecto de ser um leite fresco, pasteurizado, produzido e vendido localmente. “Além dos benefícios em possuir nossa própria marca, garantimos um preço mais estável ao longo do ano”, destaca. A empresa anuncia, para breve, o lançamento de queijo frescal de alta qualidade.

Selo Koscher Há mais de 10 anos, a Agrindus tem como cliente a comunidade judaica, um cliente bastante exigente e o leite deve estar de acordo com as normas judaicas. O leite ordenhado corre por uma linha subterrânea até os tanques de refrigeração. Um sistema de câmeras permite que a qualidade do produto seja monitorada 10_Animal Business-Brasil

do outro lado do mundo. O monitoramento é feito em Israel por clientes da fazenda que querem manter rígidos os padrões de qualidade do leite, exigidos pela comunidade judaica. A propriedade conquistou o selo Koscher, que permite o controle de qualidade à distância. A fiscalização é feita por meio de 16 câmeras instaladas em toda a cadeia produtiva e as imagens, em tempo real, são transmitidas via internet para o rabino. Essa é primeira vez que o certificado foi concedido para fazendas fora de Israel e Estados Unidos. “Tudo é rastreado e controlado, diferente de indústrias que compram leite de terceiros, que teriam mais dificuldades em realizar esse controle. Na prática, significa que o leite pode ser consumido com segurança”, afirma Jank Jr., lembrando que o selo Koscher, para 100% da produção, acompanha toda higiene do processo.

Sustentabilidade Os cuidados com o meio ambiente fazem parte da rotina da Fazenda Santa Rita, que desenvolve várias ações voltadas para minimizar o impacto da atividade leiteira. Uma delas é o aproveitamento integral dos efluentes (parte líquida e parte sólida do esterco produzido). Após tratamento anaeróbico, a parcela líquida é empregada na ferti-irrigação de gramíneas que são utilizadas na alimentação das vacas. “Desta forma, fecha-se um ciclo onde os nutrientes da grama alimentam a vaca que proporciona minerais para a forragem através do esterco”, explica Jank Jr. A fazenda também realiza reciclagem, com reuso da areia utilizada na cama das vacas, limpeza dos galpões, decantação, separação de esterco por gravidade, sem o consumo de energia elétrica. Além disso, faz o aproveitamento de águas pluviais, através de captação de chuva dos telhados para limpeza das instalações. “Quanto à parte que envolve a ordenha e produção do Leite Tipo A, vale ressaltar que o laticínio fica localizado ao lado da sala de ordenha das vacas. Desta forma, elimina-se o transporte de leite cru até as indústrias, fato que contribui com a redução da emissão de gases de efeito estufa”, finaliza o diretor presidente da empresa.


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Foto: SEARA

A mentira do horm么nio no frango Por:

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Alfredo Navarro de Andrade, MSc, PhD Purdue University (USA)


Por que não usamos hormônios em frangos de corte? Eu trabalho com nutrição animal e estou em contato com fazendeiros, avicultores e fabricantes de ração animal e, em minha vida privada, convivo com médicos, advogados, enfim consumidores influentes. Quando encontro amigos no Clube, na hora do almoço ou do jantar, vem sempre à tona o assunto de segurança alimentar, seguido dos comentários do tipo: frango nem morto – estão cheios de hormônios, e complementam: “Não viram o último Jô Soares ou outro programa qualquer de entrevista quando o “Doutor Fulano”, assegurou que as meninas estão menstruando mais cedo porque estão comendo frango? Já viram um “Chester®” ? É a réplica do Ben Johnson, campeão olímpico canadense que teve sua medalha de ouro dos 100 m rasos confiscada pois confessou que “bombava” com “esteroides” quando foi pego no exame antidoping”. Estas afirmações me causam profunda frustação, pois a avicultura como cadeia alimentar, a vida toda lutou para oferecer, nas prateleiras dos supermercados, produtos da melhor qualidade com o menor custo possível, e, constantemente, se vê vítima destas afirmações oriundas daqueles que não sabem a diferença entre ciência e ficção. A última e das mais difundidas foi a da Chef Roberta Sudbrack, escolhida para fazer o cardápio dos atletas brasileiros nas olimpíadas de Londres, quando declarou que produziu um cardápio adequado às práticas esportivas, mas deixou o frango de fora para evitar riscos dos atletas serem apanhados nos exames antidoping, uma vez que frangos contêm resíduos de hormônios. Acredito que a chef não tenha consciência da besteira que disse e fez. Realmente, aos leigos pode parecer obra de alguma pílula mágica o incrível ganho tecnológico conseguido nos frangos pela conjugação de inúmeros fatores produtivos como: cuidados sanitários, nutrição, melhoramento genético con-

vencional e melhoria das condições ambientais. A avicultura foi sem dúvida a atividade que mais avançou tecnicamente dentro do segmento das carnes. Para ter uma ideia desta evolução, basta observar a tabela abaixo. O frango no passado era tão caro que o Aparício Torelli, o famoso humorista gaúcho, apelidado de “Barão de Itararé”, tinha uma de suas máximas: “Galinha custa tão caro que pobre só come quando um dos dois está doente”. O Barão estava certíssimo, mas as coisas mudaram e hoje o frango é a proteína animal mais barata e continua como a preferida dos hospitais pelo seu baixo custo, alto valor biológico e fácil digestão. Do ponto de vista zootécnico foi a maior passagem de ganho tecnológico do produtor para o consumidor. Esta questão tem sido abordada de forma errônea em função das muitas declarações de organizações não governamentais e também governamentais baseadas em testes e pesquisas malconduzidas. Existem, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, bem como no Brasil, produtores que anunciam frangos “Livres de Hormônios” (Hormone Free Chickens). A declaração não é mentirosa, pois hormônios não são usados nas criações de aves. No entanto, esta afirmação leva o consumidor a achar que o outro produto que não contém a mesma declaração, tenha hormônios. Exemplo deste tipo de propaganda enganosa foi feita há alguns anos no Brasil, quando alguns produtores de óleos vegetais começaram a colocar em seus rótulos – NÃO CONTÉM COLESTEROL. Pura verdade, pois colesterol não existe no reino vegetal, mas passava a ideia de que o outro produto sem esta afirmação tivesse colesterol. O problema foi a princípio resolvido com a alteração da frase para: NÃO CONTÉM COLESTEROL POR SER 100 % VEGETAL. Hoje, já ninguém se preocupa com o problema. Talvez a resposta seja colocar em todos os produtos avícolas a mensagem: “LIVRE DE HORMÔNIOS”.

Evolução da Avicultura de Corte Ano

Idade (dias)

Peso Médio (kg)

Consumo Ração (kg)

Conversão Alimentar

Custo US$/kg

1970

49

1,6

3,2

2,00

3,00

2000

40

2,2

3,87

1,76

0,72

Variação

1,2 Animal Business-Brasil_13


a avicultura não usa hormônios simplesmente porque eles não funcionam para aves

que as do regime de 1957 aos 42 dias de idade e também, as aves modernas (2001) consumiram menos da metade da ração que as de 1957 para atingirem o mesmo peso. Note também que as aves de 2001 tiveram, expresso como percentual do peso corporal, quase que o dobro de carne de peito que seus predecessores. Neste trabalho (Havenstein et al. 2003), estimou-se que 80% da melhoria foram devidos ao melhoramento genético, com a ração sendo responsável por 20% dos ganhos. No entanto, trabalhos como este são de pouco valia pois os falsos nutricionistas de fim de semana não têm acesso a eles, e no campo universitário o conhecimento sobre nutrição e fisiologia deixam muito a desejar. Na última Exposição Internacional de Avicultura (maior evento em Avicultura do mundo), em Atlanta, EUA, janeiro de 2013, mais de mil companhias mostraram seus produtos para a indústria avícola. Não havia uma única empresa apresentando ou mostrando produtos à base de hormônios para a avicultura. Isto nos faz retornar ao início de nosso artigo: Por que então os consumidores têm esta impressão? Ignorância total sobre a atividade e alguns anúncios de frangos sem hormônios.

não existe uma razão lógica para qualquer produtor adicionar hormônios à ração dos frangos. Os incríveis ganhos de produtividade obtidos através do melhoramento genético convencional (Não existe o uso de transgenia em avicultura) e melhorias gerais no manejo das criações, dispensam qualquer tipo deste estímulo. Um trabalho foi realizado, há alguns anos, com frangos de corte da linhagem Ross 308 (de 2001), onde foi comparado o desempenho das aves de 2001 com uma linhagem selecionada ao acaso para não demonstrar qualquer melhoramento genético, desde 1957. No teste foram utilizadas rações típicas de 2001 e de 1957. Os resultados estão na tabela 1. Observe que os pesos das aves de 2001 com ração de 2001 é aproximadamente 4 vezes maior

tabela 1. Peso corporal, conversão alimentar de frangos de corte machos aos 21, 42 e 84 dias de vida (dados de Havenstein et al., 2003) Peso corporal (g)

conversão alimentar

carne de peito

Linhagem

Dieta

21

42

84

21

42

84

42

84

2001

2001

791

2903

5958

1.31

1.58

2.68

19.5%

21.2%

2001

1957

647

2271

4661

1.48

1.88

3.26

17.0%

19.7%

-18.2%

-21.8%

-21.8%

13.0%

19.0%

21.6%

-12.8%

-7.1%

210

641

1907

1.78

2.05

2.95

11.2%

11.8%

Diferença* 1957

2001

1957

1957

Diferença**

184

591

1715

1.72

2.28

3.57

11.5%

12.0%

14.1%

8.5%

11.2%

3.5%

-10.1%

-17.4%

-2.6%

-1.7%

*Frangos de 2001 alimentados com ração de 1957 **Frangos de 1957 alimentados com ração de 2001 14_Animal Business-Brasil


A resposta correta é: A avicultura não usa hormônios porque ela é boazinha – A avicultura não usa hormônios simplesmente porque eles não funcionam para aves. Abaixo algumas informações que asseguram esse fato: Duas substâncias hormonais poderiam ser utilizadas em frangos: hormônio do crescimento e esteroides anabolizantes. Os hormônios não são eficientes. A administração de hormônio do crescimento não resulta em crescimento em frangos, da mesma forma que sua injeção em humanos não os torna um time de futebol vencedor. Crescimento é uma combinação extremamente complexa de funções metabólicas, dependentes de uma gama imensa de sinais endocrinológicos. A administração seria extremamente difícil. Da mesma forma que a insulina, que é usada no tratamento de diabetes, o hormônio do crescimento é uma proteína. Se qualquer um deles fosse administrado por via oral, seria rapidamente digerido da mesma forma que a proteína da soja ou do milho. Como é sabido por todos, diabéticos precisam receber injeções de insulina. Portanto, mesmo que tivesse algum efeito nos frangos, o hormônio do crescimento precisaria ser injetado de uma maneira bastante frequente. A logística de injetar centenas de milhares de frangos com hormônio ilustra a impossibilidade deste cenário. Mais ainda: pesquisas recentes revelam que a liberação de hormônio do crescimento natural em frangos ocorre na forma de pulsos com picos a cada 90 minutos. Isto indica que se hormônio do crescimento tivesse que ser administrado nos frangos teria que ser através de injeções intravenosas frequentes. Seu uso teria um custo elevadíssimo – Como o hormônio do crescimento de frangos (Gallus gallus, as vezes Gallus domesticus) não é produzido comercialmente, seu custo seria extremamente alto. Se 1 mg tivesse que ser administrado a um frango, o custo seria superior ao valor total do frango. Obviamente, isto não faz sentido comercialmente. Teria um impacto negativo no desempenho – O frango moderno tem sido geneticamente selecionado para crescer tão rápido que ocasionalmente encontra limites fisiológicos. Todos somos familiares com casos de homens jovens, que quando entram na puberdade, apresentam

uma fase de crescimento brusca. Este “surto” de crescimento é usualmente acompanhado de inflamação das juntas e outros problemas. Da mesma forma, o frango moderno vive no limite de seu máximo metabólico. De fato, ocasionalmente, a restrição alimentar é recomendada (por restrição física ou por redução na densidade nutricional) para reduzir a velocidade de crescimento e limitar a incidência de calos no peito, ataques cardíacos e ascites. Nas regiões tropicais, um brusco aumento na velocidade de crescimento resultaria certamente no aumento da mortalidade por “stress” térmico em algumas vezes. Desta forma, seria altamente imprudente forçar de forma súbita a velocidade de crescimento dos frangos. Certamente perguntarão: e os esteroides anabolizantes? O abuso ocasional de esteroides anabolizantes por atletas faz parte do cotidiano da imprensa. Certamente não há a menor dúvida que seu uso aumenta a massa muscular. Todavia, este efeito em atletas só é possível quando o uso de esteroides é combinado com rigoroso treinamento físico, como halterofilismo. O que torna a questão mais inverossímil ainda é o fato de que a parte mais valiosa do frango, o peito, é composta de músculos usados para levantar e baixar as asas. Frangos não têm voado por milhares de anos. Sem exercícios e sem benefícios de esteroides anabolizantes. Outro ponto importante - É frisar que os frangos crescem tão rapidamente que mesmo que fosse viável a injeção de hormônios sexuais nos frangos, eles afetariam o desenvolvimento das gônadas, em primeiro lugar. As aves (Gallus gallus) têm dois ovários, direito e esquerdo, Na medida em que amadurece, o ovário direito vai se atrofiando e apenas o esquerdo torna-se funcional. A atrofia do direito se deve a pequenas quantidades de androgênios produzidas pelo esquerdo. Dependendo da idade (mais jovem) a administração de hormônios altera esta diferenciação podendo o ovário esquerdo se transformar num ovotestis ou mesmo ter os dois funcionais, mas não haveria tempo hábil para qualquer modificação na velocidade de deposição muscular ou maturação do tecido ósseo. Concluindo: Os frangos são grandes e eficientes graças aos ganhos oriundos do melhoramento genético, nutrição superbalanceada, ambiente adequado e intenso controle de doenças. Animal Business-Brasil_15


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Foto: Photos.com

A compra de terras brasileiras

por estrangeiros Por: Ronaldo

de Albuquerque - diretor da Sociedade Nacional de Agricultura

Por meio de uma política agrária bem orientada, a aquisição de terras brasileiras por estrangeiros pode proporcionar às pessoas ou empresas que exerçam uma atividade na agricultura, um padrão de vida satisfatório em relação aos níveis gerais do país.

A

lém disso, assegura condições de visibilidade à exploração agrícola familiar; garante aos capitais investidos uma remuneração capaz e permite à agricultura condições de eficiência econômica e de eficácia social. 18_Animal Business-Brasil

Para se aumentar a produtividade de uma exploração agrícola é necessário um grande esforço, uma técnica apurada, algum tempo e grandes investimentos, visando ao incremento econômico e ao progresso social das diversas


regiões do país. O campo precisa, urgentemente, de infraestruturas indispensáveis a uma saudável e urgente evolução e à resolução dos seus problemas econômicos. Importa considerar que nenhum programa de desenvolvimento, com o aumento da produtividade nacional, será eficiente se não contar com investimentos externos para injetar dinheiro na agroindústria nacional. Em declaração feita em 2011 a um veículo de grande circulação nacional, o secretário de Agricultura da Bahia, Eduardo Salles disse: “O Brasil não é um país rico que possa dispensar investimento externo. As pessoas ainda não acordaram para o tamanho do prejuízo que essa restrição está causando”. Graças ao aperfeiçoamento das técnicas, ao aumento da produtividade, com os capitais empregados, com recursos técnicos modernos e integrando-se nos imperativos de desenvolvimento econômico, as famílias dos agricultores passarão a viver decentemente nas pequenas e médias explorações viáveis. A Constituição Federal de 1988, no art. 171, distingue a empresa brasileira da empresa brasileira de capital estrangeiro. Contudo, a Emenda Constitucional nº 6/95 revogou esse dispositivo. A Advocacia Geral da União, pelo parecer AGU/ QCQ nº 181/99, afirmava não haver diferença, liberando, assim, a aquisição de terras brasileiras. Em 15 de novembro de 2009, a AGU aprovou parecer contrário ao primeiro emitido pelo próprio órgão, com o argumento de que o § 1º da Lei nº 5.709 foi recepcionado pela Constituição de 1988 - por isso impõe restrições à aquisição de imóveis rurais por pessoa jurídica brasileira controlada por pessoas estrangeiras físicas ou jurídicas (neste caso, ´recepcionado´ significa que o sistema permite a leis anteriores, não incompatíveis com a Constituição, passem a valer como leis novas). Em agosto de 2010, esta última opinião expressa da AGU foi aprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O parecer é vinculante para o Poder Executivo, ou seja, orienta a todos os subordinados desse poder que aquela é a opinião a ser seguida. Esta é a sua força. Com isso, as empresas referidas não poderão adquirir imóveis rurais que tenham mais de 50 módulos (variam de 250 a 5.000 hectares, dependendo da região) de exploração indefinida. A soma de terras passíveis de aquisição pelas empresas estrangeiras não

é preciso, com regras claras, estabelecer os limites que não afetem o desenvolvimento harmonioso do Brasil poderão ultrapassar a 25% da superfície do município. As compras devem ser registradas em livros especiais, nos cartórios de Registro de Imóveis, e comunicadas, trimestralmente, à Corregedoria da Justiça dos Estados e ao MDA. Segundo opinião do advogado Antônio Meyer, que representa empresas e fundos estrangeiros ligados à compra de terras no Brasil para produção agrícola, “o próprio parecer admite a sua fraqueza, ao reconhecer que é necessária uma lei para regular o assunto. E isso gera uma repercussão séria no exterior, podendo, inclusive, prejudicar a imagem do país. Os investidores ficam propensos a temer o Brasil. Medo de que as regras do jogo do mercado sejam alteradas de uma hora para outra. A imagem do Brasil, junto aos investidores estrangeiros, sempre foi positiva. A lei de investimentos estrangeiros é muito antiga, de 1963, e até hoje o país mantém a segurança do investidor, que vem aqui, aplica o seu dinheiro, paga os seus impostos e, se quiser, reaplica os lucros ou manda o dinheiro para fora. Isso beneficiou muito o Brasil e o colocou na rota dos grandes investimentos. Agora, se as coisas começam a mudar, a repercussão será muito negativa. Atualmente, a AGU estuda criar o CONATER (Conselho Nacional de Terras Rurais) - órgão colegiado que teria a responsabilidade de autorizar a compra de áreas entre cinco e 500 mil hectares. Se for criado, o CONATER vai retirar funções do Congresso, que hoje avaliza vendas de áreas a partir de 50 módulos fiscais. O tamanho do módulo varia conforme o município. É preciso, com regras claras, estabelecer os limites que não afetem o desenvolvimento harmonioso do Brasil, isto é, flexibilizar as normas que restringem a venda de terras brasileiras a estrangeiros. Animal Business-Brasil_19


RJ produz e exporta couro

De aniMaiS exóticoS para países da Europa, da Ásia e para os Estados Unidos

Fotos: Luiz Octavio Pires Leal

Por: Luiz

Octavio Pires Leal

a fábrica fica em Bemposta, no município fluminense de Três Rios, a pouco mais de 100 km do Rio, na Região Serrana, de clima agradável.

O curtimento sem cromo permite as mais variadas colorações

M

otivo de orgulho para o diretor financeiro, Paulo Amaury, é o fato do processamento do couro das diversas espécies exóticas dispensar a chamada química pesada, grande agressora do meio ambiente. Como o processo não usa cromo, que dá ao couro uma tonalidade azulada, os produtos da fábrica de Bemposta são brancos o que permite o tingimento nas cores e tonalidades exatas encomendadas pelos estilistas. A empresa processa, entre outros, couro de pirarucu, o maior peixe fluvial do mundo, proveniente das comunidades indígenas e ribeirinhas da Amazônia; de salmão, das águas frias do norte Europeu; de jacaré do Pantanal brasileiro e o de avestruz, que é importado.

o melhor do mundo O couro do pirarucu produzido pela empresa fluminense Nova Kaeru conquistou o prêmio de Melhor Couro Exótico do Mundo, em 2012, na Feira Internacional de Hong Kong (Asian Pacific Leather Fair). 20_Animal Business-Brasil

Produtos feitos com couros exóticos


Essa vitória foi a consequência de vinte anos de pesquisa do diretor técnico, Eduardo Filgueiras que iniciou seu trabalho curtindo couro de rã da sua própria criação, aliado à pesquisa para a obtenção de matérias-primas nas mais distantes localidades do interior do Brasil.

Aparando as arestas

No mundo da moda Esses couros especiais são caros e usados em sapatos, botas, bolsas, vestuário e também em artigos de decoração de grifes conhecidas de origem brasileira, europeia, asiática e norte-americana. A empresa conta na sua equipe com o gestor de negócios internacionais poliglota, Roberto (Bob) Kurrels com um MBA de Negócios Internacionais pelo IBMEC. Ele vive mais no avião, divulgando e vendendo os produtos e participando de feiras internacionais, do que em terra firme.

Paulo Amaury - fundador e diretor financeiro

Quem compra Sessenta por cento das vendas são feitas para o mercado interno e 40% para o exterior. As vendas totalizam entre R$ 400 mil e R$ 500 mil mensais, mas a empresa pretende chegar a um total de R$ 8 milhões em 2015. Os principais importadores desses couros de luxo são: Estados Unidos

35%

Europa

25%

Ásia

30%

Outros

10%

Secando couro de salmão.

O diferencial Além do processamento dos couros ser feito com produtos que não agridem o meio ambiente, o grande diferencial é a técnica desenvolvida pela Empresa e patenteada que permite a emenda não aparente e segura de diversos couros pequenos numa manta de grandes dimensões, o que é fundamental para a fabricação, pela indústria da moda, dos mais diferentes produtos. Tradicionalmente duro, o técnico da Kaeru consegue tornar macio o couro do jacaré, ampliando sua aplicação.

Bob Kurrels e Eduardo Filgueiras Animal Business-Brasil_21


Fotos: Raul Moreira

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“Está na hora de criar uma delegacia especializada para defender os animais” Preocupado com o bem-estar dos animais, o famoso craque Bebeto não se conforma com o aspecto predominantemente comercial que vem dominando certos setores do pet-business brasileiro que falham ao não informar detalhadamente aos compradores o trabalho e a despesa que cães e gatos dão para poderem ser criados com conforto e segurança. O resultado é que o abandono desses animais cresce em escala geométrica. Para lutar contra essa desumanidade ele quer criar uma delegacia policial especializada

Senhor deputado Bebeto, que tipo de sentimento ou sentimentos fizeram com que o senhor levasse para casa um cão vira-lata encontrado num lixão? Seu amor pelos animais é coisa antiga? Teve animais na infância? Na verdade, a minha filha, Stéphannie, foi quem achou a cachorrinha. Ela faz um trabalho de missionária no lixão de Gramacho. Numa dessas idas, ela viu uma pequena vira-lata quase morrendo num cantinho. A cachorrinha era bem magrinha, maltratada, estava sem comer e sem beber água, sem abrigo e quase não se mexia de tão fraquinha. Minha filha decidiu adotá-la e levá-la para casa. Foi uma surpresa e tanto, porque não esperávamos um outro bichinho em nossa casa, já que temos outros três cachorros (dois yorkshires e uma fox paulistinha ) e dez curiós. Eu adoro animais desde a minha infância na Bahia. Já tive vários: cabra, pônei, arara, papagaio, cobra, tartaruga, tatu, macaco-barrigudo e macaco-prego... Nossa! Foram muitos bichos que tive. Acho tão bacana ter um bichinho em casa. Eles nos fazem companhia, são amigos e

nos alegram tanto. Não consigo compreender quem não goste de animais.

Quando o senhor tomou essa providência, ocorreu-lhe que estaria correndo o risco de, junto com ele, levar também doenças que poderiam contaminar a si próprio e aos membros da sua família? Teve o cuidado de levar o animal para ser examinado por um veterinário clínico de pequenos animais ? Claro que sabíamos dos riscos e, por isso mesmo, tomamos todas as providências necessárias e prontamente. Levamos ao médico veterinário clínico. Ela estava com vermes e tratamos. Demos as vacinas, alimentamos e fizemos com que Amora - esse foi o nome como a batizamos - voltasse a ser um animal feliz e muito saudável. Ela estava quase morrendo, mal se mexia. E sobreviveu! Hoje em dia, Amora mora no coração de todos nós. É uma bagunceira, adora brincar, corre à beça e é muito carinhosa. Às vezes, eu chego à casa cansado, mas ela pula no meu colo e faz toda a diferença. O meu estresse

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vai embora. Assim como quando estou com os meus curiós. Os passarinhos me relaxam e são uma terapia para mim.

Sua consciência de que os animais, tanto os domésticos como os selvagens, são seres vivos, que sofrem mental e fisicamente e que precisam de respeito e cuidados, nasceu quando e onde? Eu sempre tive essa consciência, desde pequeno, convivendo com os bichos. Todos sabem que sou um cara muito tranquilo. Mas se tem algo que me tira do sério é a crueldade contra animais. Eu fico chocado toda vez que eu leio nos jornais ou assisto às reportagens na TV sobre maus-tratos a cachorros, gatos, cavalos e a outros animais. Tão indignado que sou em relação a essas maldades contra os animais, que eu decidi apoiar veementemente a criação de uma delegacia especializada para a proteção e defesa dos animais no Rio de Janeiro. Por causa da minha consciência, eu fiz uma indicação ao governador do Estado do Rio, Sérgio Cabral, para que se crie uma delegacia de proteção aos animais. Essa minha indicação tomou ainda mais força quando outros parlamentares assinaram um manifesto pedindo uma polícia especializada, que foi publicado no Diário Oficial da Alerj. Esse documento foi entregue à chefe de Polícia Civil, Martha Rocha. Quantos casos bárbaros temos visto nos últimos anos, não é mesmo? Tivemos recentemente o caso do cavalo que arrastava charrete na Ilha de Paquetá. Fraco e subnutrido devido à carga excessiva que carregava, ele teve que ser sacrificado. Quem não se lembra das cenas revoltantes do rapaz que jogava água no focinho dos cachorros e os agredia com socos e pancadas na cabeça, na hora do banho, em uma pet shop do Engenho de Dentro, no subúrbio do Rio? É de partir o coração tamanha covardia. É fato notório que no nosso Estado como nos demais que constituem a federação brasileira, há ainda muito a ser feito em termos de proteção dos animais, apesar do esforço indiscutível de muitas instituições e pessoas físicas abnegadas e de boa vontade. E isso não apenas em defesa dos próprios animais como também da população que corre riscos efetivos representados

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Denise compartilha com o Bebeto o amor pelos animais

pelos animais de rua, abandonados à própria sorte, e que são foco de doenças transmissíveis tanto aos outros animais como à população, em geral. A mais conhecida delas é a raiva, que não tem cura. Mas há muitas outras.

A sua ideia de criar uma Delegacia de Proteção dos Animais, segundo entendemos, tem como objetivo principal a punição do infrator, através de multas, o que, realmente funciona, como o caso dos motoristas alcoolizados vem demonstrando. Mas, não acha que uma ampla campanha educativa deveria representar parte importante do seu projeto ? Com certeza. Já está em meus planos. Vamos fazer em breve uma campanha informativa e de conscientização nas redes sociais. E também tenho agendado visita a vários abrigos. Quero saber quais são as necessidades e tentar ajudar. E o mais importante: estou na luta para a criação da delegacia para o proteção dos animais. Atualmente, todos esses crimes contra os nossos bichos são investigados por policiais da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), que também precisam se dedicar a crimes contra o ecossistema. Instalando-se uma unidade especializada, todos sairiam lucrando. Com uma equipe treinada para apurar casos de


maus-tratos a animais domésticos, esses crimes seriam resolvidos com mais rapidez e iríamos otimizar o tempo. Sendo assim, os policiais da DPMA não seriam mais sobrecarregados e tratariam apenas de situações ligadas ao meio ambiente. Já existe esse tipo de delegacia focada nos animais em Minas Gerais, São Paulo, na Bahia e no Paraná. Precisamos seguir o exemplo e implementar essa ideia aqui no Rio. Temos que ter uma posição mais enérgica para punir esses delinquentes que se divertem espancando, torturando e abandonando os animais nas ruas. É inconcebível alguém ter satisfação em negar ao animal assistência veterinária quando precisa, acorrentá-lo, mutilá-lo ou envenená-lo. Como pode não abrigá-lo da luz, da chuva ou do frio? Ou deixá-lo em local sem ventilação e sem higiene, não lhe dar comida nem água diariamente e forçá-lo a trabalho pesado além de suas forças? Como alguém pode fazer mal a um cachorro, por exemplo, que é tão nosso amigo? Como dizem: amigo fiel. Uma unidade especializada também estimularia o aumento do número de denúncias. Às vezes, as pessoas não sabem a quem procurar para denunciar esses monstros e muitos acabam não sendo penalizados. Os animais não merecem tanto sofrimento. Mas só vamos ter mais velocidade nessas investigações através de uma delegacia com equipe treinada para esses casos. Eu dou total apoio às ONGs e aos ativistas defensores dos animais e visto a camisa desta ótima causa.

O senhor, principalmente em decorrência da sua profissão de desportista de prestígio mundial, teve a oportunidade de verificar como esse assunto é tratado em outros países? Pode nos contar ? Como todos sabem, eu viajei muito jogando futebol e morei fora do país. Vivi na Espanha e lá e em vários outros países da Europa por onde passei, eu pude ver que os animais são tratados igual a filho, com um carinho impressionante. Fora que em muitos restaurantes e shoppings é liberada a entrada de animais. Aqui, no Brasil, isso tudo é muito recente. Existem alguns poucos estabelecimentos que permitem. Temos um longo caminho pela frente, mas eu sou um cara otimista e tenho certeza de que vamos conseguir proteger nossos animais queridos.

Delegacia Especializada de Proteção dos Animais A proposta do deputado Bebeto ao governador Sérgio Cabral de criação dessa delegacia faz sentido e merece o apoio de todos. O Brasil é o segundo mercado de animais de estimação e companhia do mundo, sendo superado apenas pelos Estados Unidos. E esse mercado vem crescendo muito a cada ano. Trata-se de um mercado bilionário cujo faturamento em produtos e serviços atingiu, em 2012, R$14,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). A estimativa é que no Brasil existam 37 milhões de gatos e 21 milhões de cães, mas infelizmente, na medida em que esses números crescem, cresce também a quantidade de irresponsáveis que abandonam e maltratam os animais, não apenas cães e gatos como outras espécies aí incluídas: as aves e os cavalos. Bebeto pretende promover uma grande campanha em defesa da causa dos animais, paralelamente à criação de uma delegacia policial especializada, o que é uma excelente iniciativa do craque.

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A alta tecnologia

do agronegócio na Nova Zelândia Luiz Octavio Pires Leal

Foto: Zoe Tester – NZTE

Por:

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Com apenas 4,4 milhões de habitantes, esse país isolado no sudeste do Oceano Pacífico, dividido em duas ilhas principais, a Ilha do Norte e a Ilha do Sul, e um dos mais altos índices de desenvolvimento humano do mundo, de idioma predominantemente inglês, com renda per capita de cerca de US$ 30 mil, produz (e exporta) carne ovina, leite e laticínios com tecnologia avançada e alta produtividade.

A

Nova Zelândia tem uma longa e orgulhosa história no agronegócio. Mais do que qualquer outro país desenvolvido, a economia, as pessoas e o ambiente da Nova Zelândia dependem do sucesso das nossas indústrias baseadas na terra” – afirma Hon Steven Joyce, Ministro do Desenvolvimento Econômico, Ciências e Inovação em concordância com o Ministro de Indústrias Primárias Hon Nathan Guy (correspondente ao nosso Ministro da Agricultura).

Cultura da inovação Segundo os dois ministros, “O grau de exposição do setor agrícola da Nova Zelândia aos mercados internacionais único, com mais de 95% da produção de leite exportada. Tal ambiente promoveu uma cultura de inovação permanente, com empresas da Nova Zelândia demonstrando uma habilidade inata para comercializar a investigação científica, levando ao surgimento de uma indústria primária de classe mundial”. A Nova Zelândia construiu com sucesso sistemas altamente competitivos e eficientes de produção primária e exporta para todos os quadrantes do globo.

Integração “Através da integração da tecnologia líder de mercado” – afirmam as citadas autoridades neozelandesas - “nossos experientes operadores processam grandes volumes de produção e comercializam esses produtos numa ampla gama de mercados internacionais, particularmente os produtos lácteos e carne de ovinos de alta qualidade. A experiência da Nova Zelândia em agronegócios fornece a solução de problemas em ambientes complexos em todo o mundo”.

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Foto: Zoe Tester – NZTE

Ordenha com equipamento moderno

Um dos diferenciais importantes, sob o ponto de vista da economia da produção, é o know-how que os produtores neozelandeses adquiriram, com a passagem do tempo, nos sistemas de produção em pastagens. Eles garantem que suas empresas, “centradas em soluções”, estão bem equipadas para atender à crescente demanda global por alimentos “seguros e confiáveis”.

Enfrentando o risco da fome Até o ano de 2050, a produção agrícola global precisará aumentar em 70% para poder alimentar uma população que crescerá dos atuais sete para nove bilhões de habitantes. Segundo afirmam as autoridades daquele país, “A Nova Zelândia está bem posicionada para enfrentar os desafios decorrentes de uma série de megatendências internacionais. As economias estão crescendo, as populações estão aumentando e sua florescente classe média está procurando fontes seguras e confiáveis de alimentos”. 28_Animal Business-Brasil

Foto: Zoe Tester – NZTE

Produção em pastagens


Foto: NzTE

o agronegócio é a espinha dorsal da nova zelândia e os produtos primários contribuem com mais de dois terços dos bens exportados pelo país a espinha dorsal O agronegócio é a espinha dorsal da Nova zelândia. Há 100 anos, os pioneiros descobriram que o clima temperado (médias entre 10 – 16°C) e os solos do país eram apropriados para a exploração de pastagens e começaram o desenvolvimento de sistemas de produção de alimentos de uma pecuária de expressão mundial. Os produtos primários contribuem com mais de dois terços dos bens exportados pelo país.

transferência de tecnologia Segundo a opinião dos especialistas em agrostologia “existem oportunidades consideráveis para modificar e adaptar o sistema de pastejo da Nova zelândia e aplicar esse conhecimento em outros climas e localizações geográficas”. Num sistema de exploração em pastagem, os fazendeiros maximizam a produção convertendo o pasto e outras forragens em produtos lácteos e carne por meio do manejo eficiente.

Manejo Gado de corte, vacas leiteiras e ovelhas são alimentados principalmente no pasto, com feno, silagem e culturas utilizadas nos meses de inverno, quando o crescimento do pasto é mais lento. Os animais pastam durante todo o ano, com um planejamento cuidadoso de intensidade de lotação e rotação, programa de renovação do pasto, escolha de cultivares e aplicação de adubo.

custo menor Demanda de capital e custos operacionais muito menores são dois dos principais benefícios de um sistema de exploração com pastagem, comparado a outros sistemas de produção.

Ovelhas no pasto

Segundo os especialistas neozelandeses, “Os sistemas tradicionais de confinamento operados, na maioria dos outros mercados, têm o gado alojado em celeiros ou em confinamento, um sistema que envolve consideravelmente mais infraestrutura (edifícios e maquinaria) e requer investimentos para a alimentação e custos muito maiores. Esses sistemas são mais vulneráveis aos custos flutuantes dos insumos, como os preços do milho e do óleo”.

tecnologias inovadoras Na busca por sistemas agropecuários mais inteligentes e mais eficientes, os produtores da Nova zelândia mantêm estreito contato com a comunidade científica e do agronegócio. Muito comumente, eles desenvolvem trabalhos conjuntos com os centros de pesquisa na busca de tecnologias inovadoras. A região Central da Ilha do Norte, principalmente, está conquistando fama como o “Vale do Silício do agronegócio”. Animal Business-Brasil_29


Foto: Zoe Tester – NZTE

O equipamento possibilita a um operador ordenhar 400 vacas / hora

A região sedia, além de modernas empresas do agronegócio, vários institutos e universidades dedicados à pesquisa de ponta. Esses centros de pesquisa colaboram com os fazendeiros e com as empresas para desenvolver soluções que combatem os fatores que afetam a produção e o desempenho das fazendas, como a formação da pastagem, a conservação do solo e da água e o controle das pragas.

a tecnologia também permitiu aos fazendeiros lidar com mais animais, reduzindo, ao mesmo tempo, o custo da mão de obra. As granjas leiteiras têm, atualmente, um maior número de vacas sendo ordenhadas por menos pessoas como resultado direto das inovações desenvolvidas na fazenda, tais como removedores automáticos de teteiras, spray de tetas, lavadores de currar, amostragem de leite, alimentação e portões para manejo.

Ordenha supereficiente

Educação

A indústria da Nova Zelândia alcançou níveis tão elevados de eficiência, que seus sistemas de alta tecnologia permitem que, um único operador seja capaz de manejar a ordenha de até 400 vacas, por hora. Os técnicos neozelandeses explicam como isso é possível. “Como as fazendas aumentaram em escala ao longo dos anos,

A qualificação de pessoal, através de modernos sistemas de educação, é um dos pilares responsáveis pelos altos níveis de produtividade alcançados pela pecuária da Nova Zelândia. O país está sempre disposto a receber estudantes de outros países e a compartilhar com eles técnicas e informações capazes de melhorar a produtividade em seus países de origem.

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Por: Adeildo

Lopes Cavalcante

Pesquisa mostra que queijo frescal não é nocivo à saúde O queijo minas frescal não apresenta riscos para a saúde se for conservado sob refrigera-

ção durante o prazo de validade de 30 dias. Essa foi a principal conclusão de uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz através do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição (unidade de Piracicaba-SP). “Os queijos analisados apresentaram alterações químicas e o desenvolvimento de alguns micro-organismos ao longo de 30 dias, mas permaneceram próprios para serem consumidos”, explica a química responsável pela pesquisa, Naiane Sangaletti. O objetivo do trabalho foi detectar mudanças nos queijos, envolvendo sabor, odor, aroma, cor, aparência e textura. De todas as amostras provadas, nenhuma apresentou mudanças significativas quanto a esses quesitos.

Novidade: dieta de gado em confinamento sem capim Ao contrário do que ocorre na maioria das criações de gado em confinamento, já é possível, nesse sistema de produção, criar animais sem fazer uso de capim na dieta deles. A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Goiás (UFG) e da Universidade São Marcos, de São Paulo, em parceria com a empresa goiana Agrocria, especializada em nutrição animal. De acordo com o estudo (inédito no Brasil), a dieta dos animais é dividida em 85% de milho e 15% de um composto denominado núcleo proteico-mineral-vitamínico peletizado. O novo sistema oferece, entre outros benefícios, diminuição do período de engorda para o abate, que é concluído em dois anos (no sistema tradicional o prazo é de três anos), e criação de animais em um espaço reduzido, liberando a

área da fazenda para outros usos. Outra vantagem, a distribuição da dieta aos animais é muito mais fácil do que no sistema tradicional, sendo possível tratá-los a pé ou com carroça.

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Seleção de ovinos para engorda e abate Pesquisa recém-concluída pela Embrapa Caprinos e Ovinos mostra como o produtor de ovinos pode tornar sua criação mais lucrativa, diminuindo o tempo de terminação (engorda para abate) e reduzindo o risco de doenças e despesas com medicamentos dos animais. Para isso, o produtor deve encaminhar os animais à terminação logo após a desmama (60 a 75 dias) e que não apresentem problemas no casco ou miíases (infecções na pele causadas por larvas de moscas, conhecidas popularmente como “bicheiras”). Além disso, devem ser vacinados contra as doenças principais, como clostridiose e raiva e também vermifugados. A adoção desses procedimentos, segundo os pesquisadores, garante um melhor padrão de qualidade para a carne dos animais, atendendo às demandas do mercado.

UFMG desenvolve teste para diagnóstico da anemia equina A doença (infecciosa) ataca cavalos, jumentos, mulas e burros; é incurável e o animal afetado tem que ser sacrificado. Para desenvolver o teste (inédito no país), os pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) usaram, pela primeira vez para detectar a doença, o teste Elisa, bastante utilizado em outros tipos de diagnósticos. As principais vantagens do novo teste são a rapidez e a segurança, importantes para os criadores que precisam transportar equinos, já que o teste negativo é obrigatório para o trânsito de animais, diz o professor Rômulo Cerqueira Leite, coordenador da pesquisa.

Embalagem para transporte de ovos sem refrigeração Foi desenvolvida na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (unidade de Jaboticabal - SP), uma embalagem para o transporte e armazenamento de ovos sem refrigeração e impermeável a líquidos e gases, a qual evita a desidratação dos ovos e contaminação por micro-organismos. Além dessas vantagens, a embalagem é dotada de meios que impedem choques dos ovos, reduzem os riscos de contaminação alimentar e preservam a qualidade inicial dos ovos por quatro semanas. 32_Animal Business-Brasil


Bolinho de carne de tilápia pronto para o consumo Fruto de pesquisa realizada pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, foi desenvolvido naquela instituição um produto com carne de tilápia para ser comercializado como “fast food” (comida rápida). Para elaboração do produto utilizou-se carne de tilápias criadas em cativeiro. Chamado de ”quenelle” (espécie de bolinho), o produto é congelado e já vem pronto para o consumo, sendo necessário apenas assar. Segundo os pesquisadores que trabalharam no desenvolvimento do quenelle, o produto é rico em proteínas, possui baixo teor de calorias e gorduras e pode durar até 120 dias armazenado em congelador.

Biscoito de pescado ganha “Prêmio Josué de Castro” O projeto intitulado ”Desenvolvimento de biscoito à base de carne mecanicamente separada de peixes subutilizados”, do Instituto de Pesca, da Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, foi classificado em primeiro lugar na categoria “pesquisa científica” do Prêmio Josué de Castro de Combate à Fome e à Desnutrição, promovido pelo Conselho Estadual de Segurança Alimentar (Consea - SP). O estudo avaliou os atributos nutricionais, funcionais e sensoriais, tanto do biscoito seco como do frito ou assado em micro-ondas, além de estimar a estabilidade do biscoito seco durante estocagem por 180 dias. Os pesquisadores concluíram que o biscoito de pescado pode tornar-se fonte de nutrientes essenciais, especialmente para crianças e jovens, além de apresentar potencial como produto comercial para pequenas empresas, impulsionando economias regionais.

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Entrevista

Christino Áureo,

Fotos: Secretaria de Agricultura

Secretário de Agricultura e Pecuária

A abertura de estradas vicinais é fundamental para o escoamento da produção

Oportunidades de investimento na pecuária no estado do Rio de Janeiro Aproximadamente do tamanho da Dinamarca (43,6 mil km2 de área) e com 8,4% da população do total do Brasil, o Rio de Janeiro é o estado com maior densidade demográfica. Faz parte do bioma Mata Atlântica, tem 635 km2 de costa e dois climas: tropical, na baixada, e tropical de altitude, no planalto. O índice pluviométrico varia em 1.000 e 1.500 milímetros. 34_Animal Business-Brasil


respeito ao percentual de crescimento. Evidentemente não estamos aqui falando em números absolutos, mas sim destacando que no período comparado de 2003 a 2009, o Estado do Rio apresentou o maior percentual. Isso se deu principalmente em função da evolução da cadeia de produção do complexo horti, também chamado FLV, com aumento exponencial segundo o IBGE. Esse dado é extremamente animador e aponta para a continuidade na evolução.

Quais as perspectivas de aumento desse percentual? As perspectivas de aumento são reais. Estamos estimulando como nunca a produção, principalmente nas cadeias de proteína animal. Além do foco na pecuária leiteira, agora também estamos direcionando esforços para a produção de carne, com uso de tecnologia para aumento da produtividade e desenvolvimento de rebanhos destinados à carne de melhor qualidade. Quais os incentivos que o RJ oferece para quem quer investir no Estado? Inúmeros. Iniciando pela Lei 4.177, conhecida como Lei Rio Agro, elaborada pela Secretaria de Agricultura e encaminhada pelo Governo do Estado, que foi fundamental para a criação de uma série de avanços no setor. A Lei 5.703 é outra que também concede incentivos para o segmento. Contamos ainda com a Rio Log, Lei 4.173 e suas modificações, que trata de logística e cadeias de abastecimento. Outro importante

Fábrica da Nestlé em Três Rios

Foto: Robson Oliveira

Foto: Robson Oliveira

Qual a porcentagem do setor agropecuário do RJ em relação ao PIB total do Estado? Noutras palavras: com quanto (% e valor) este setor contribui para o PIB do RJ? A moderna fórmula de cálculo do PIB dos estados adota a metodologia que trata o agronegócio como um todo e não somente uma de suas etapas. Esse método contempla os resultados desde antes da porteira, como a produção de insumos e tudo o que se refere ao âmbito da propriedade, até o pós porteira, como o beneficiamento e a distribuição. Essa forma de cálculo vem sendo implementada através de pesquisa do CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada - da Universidade de São Paulo USP. Esse trabalho muito respeitado, também é desenvolvido pelo CEPEA para outros estados brasileiros. Os levantamentos mais recentes, que alcançam até o ano de 2010 indicam uma participação do setor do agronegócio no Rio de Janeiro próxima de 4%. Percentual bastante significativo para um estado que é responsável por quase 80% da produção de petróleo nacional. Os números indicam um PIB em crescimento e com números absolutos situados próximos R$ 13 bilhões. O segmento do agronegócio fluminense apresentou crescimento muito relevante. Comparados os números de 2009 aos do ano de 2003, quando teve início o estudo do CEPEA, o Rio de Janeiro foi o que apresentou o maior percentual de crescimento do agronegócio entre os estados da Região Sudeste. Superando, inclusive, São Paulo e Minas Gerais no que diz

Secretário Christino Áureo na Feira Rio Genética em Paraiba do Sul Animal Business-Brasil_35


Foto: Robson Oliveira

O RJ desenvolve um avançado programa de Genética para aumentar a produtividade do gado de leite

incentivo é concedido pela Lei 5.814, que isenta de ICMS carnes, frango, pescados, etc. A esse leque, soma-se a Lei 5.636, também conhecida como Lei Cabral, que apoia inúmeras formas de empreendimentos, principalmente aqueles voltados à agroindústria, seja ela de processamento de carne, leite ou vegetais.

Que argumentos - além dos incentivos - o Secretário pode citar para atrair investimentos na pecuária e na produção dos POA? Somos o primeiro estado brasileiro a isentar completamente toda a cadeia de produtos de origem animal. Não há incidência de ICMS quando o processamento ocorre dentro do estado. E, para aquelas onde existe alíquota estabelecida, há uma presunção de crédito de forma a zerar no fim da operação a incidência do tributo. Os incentivos são indiscutíveis como forma de atração. Além disso, o Rio de Janeiro tem hoje uma atuação de programas para fomento do setor agropecuário como nunca teve. Um exemplo é o programa Rio Genética, que já aplicou R$ 20 milhões do Tesouro do Estado para financiar o pequeno produtor na aquisição de animais de qualidade. Já financiamos com esses recursos o animal de número 6 mil. Só para se ter uma ideia, o Pró Genética, programa de âmbito nacional implantado em vários estados, ainda não alcançou 36_AnimalBusiness-Brasil Business-Brasil 36_Animal

esse número. Esse cenário traduz o grande feito do programa do governo do Rio de Janeiro para melhoramento genético de seu rebanho leiteiro. Outro destaque é o programa Rio Leite, com suas diversas ações para o desenvolvimento e fortalecimento da atividade leiteira. Entre elas, a distribuição de tanques de resfriamento pelo interior, que servem de base para melhorar a logística de captação do produto. A melhoria da infraestrutura nos municípios do interior tem sido também foco dessa atuação. O programa Estradas da Produção, da secretaria de Agricultura, com mais de R$ 100 milhões aplicados, representa o maior investimento já feito pelo governo do estado para a recuperação e manutenção das estradas vicinais, importantes vias para o escoamento da produção rural. Desde 2009, já foram recuperados 6,8 mil quilômetros dessa malha.

Qual a solução para a má qualidade da maior parte dos estabelecimentos de abate funcionando no RJ? Melhorar a qualidade. E é isso o que está sendo feito. Os estabelecimentos de abate no estado passaram por processo de avaliação pelo Serviço de Inspeção Estadual com vista a sua adequação de regularidade. Essa ação já resultou no fechamento de unidades, intervenções em outras com suspensão temporária de atividades e autuações. A partir disso, esses


Qual a porcentagem dos alimentos fornecidos ao mercado da cidade do Rio de Janeiro pelo próprio Estado? Nas cadeias produtivas em que o Rio de Janeiro tem vocação o percentual vem se elevando. No complexo horti, chamado de FLV, por exemplo, esse percentual já gira em torno de 75% a 80% e vem crescendo significativamente. No que diz respeito à produção de leiteira, também registramos expansão. Saltamos de 460 milhões de litros de leite em 2006 para 610 milhões no ano de 2012. Podemos afirmar que o percentual de participação no mercado será maior naquilo em que temos vocação. Evidentemente que nas cadeias de grãos, por exemplo, onde não temos topografia nem área para produção, essa não é uma meta a ser atingida. No entanto, volto a enfatizar que, se a atividade é uma vocação da agropecuária fluminense, como a pecuária leiteira, a produção de LFV, de flores e de frutas, o Rio vai cada vez mais buscar uma maior participação na oferta de produtos ao mercado. Cite exemplos de investimentos importantes feitos nos últimos anos no setor da produção pecuária e de produtos de origem animal. O retorno da Nestlé ao estado, com investimentos superiores a R$ 100 milhões na construção de uma fábrica, em Três Rios; a planta da BRF que será inaugurada no início do próximo ano, em Barra do Piraí, representando investimento de R$ 150 milhões; Laticínios Marília, no Norte fluminense, a Quatá, que adquiriu a planta do Leite Glória, em Itaperuna e está expandindo suas atividades, a LBR que comprou a antiga planta industrial da Nestlé, em Barra Mansa, para produção da marca Parmalat, entre outras. Na área de pescado, o grupo Camil adquiriu a fábrica do grupo Coqueiros e está ampliando sua produção.

Temos também, nesse momento, diversas propostas em elaboração visando à modificação da cadeia de produção de carnes, com a vinda de novos produtores agroindustriais para o estado. Enfim, uma série de investimentos já concretizados e outros que serão feitos ao longo dos próximos anos.

Quais as principais linhas de atuação da Secretaria, no setor pecuário, previstas para os próximos anos? Continuar intensamente apoiando o setor através dos programas de melhoramento genético e da melhoria completa do serviço de inspeção estadual. Numa linha atuaremos com o fomento, enquanto intensificaremos as ações de fiscalização. Hoje já dispomos de sistema informatizado muito eficiente de controle sanitário e de trânsito de animais das diversas espécies, realizado através da GTA eletrônica. Registramos também grandes avanços no cadastro e georreferenciamento das propriedades rurais. Estamos em vias de promover completa reestruturação nas carreiras e no funcionamento do setor de fiscalização e apoio ao produtor. Vamos intensificar o programa Rio Genética carnes, fazendo com que o Rio de Janeiro aumente seu número de matrizes e caminhe na direção da pecuária de altíssima qualidade. Se não dispomos de área, temos que buscar a produção de carnes nobres, com maior valor agregado. Programas como esse não existiam no passado e é justamente isso que faz hoje a secretaria ter uma nova perspectiva para o futuro. Foto: Robson Oliveira

estabelecimentos ficam obrigados a apresentar cronograma de melhorias estruturais, buscando adequar a rede estadual para que ela preste um bom serviço. O resultado desse trabalho ficou patente em episódio recente, quando por todo o país foram expostos problemas no abate de bovinos em diversos estados. Situação esta que não foi identificada nos estabelecimentos sob inspeção estadual no Rio de Janeiro.

Tanque de resfriamento de leite Animal Business-Brasil_37


A grande agricultura brasileira, exportadora, é de alto rendimento e consegue índices de produtividade iguais ou superiores aos dos países de agricultura mais adiantada do mundo.

Extensão rural Levar ao campo as conquistas da pesquisa agrícola e ensiná-las ao produtor, e na mão inversa, informar aos centros de pesquisa as necessidades do campo é a função da extensão rural. É trabalho difícil que exige técnica e persistência da parte dos extensionistas, pois convencer a um produtor que “sempre trabalhou assim” que é preciso mudar, não é tarefa fácil.

38_Animal Business-Brasil

SENAR O SENAR - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (saar@senar.org.br) desenvolve uma série de atividades no campo através dos mais variados cursos gratuitos visando ao progresso das zonas rurais e das famílias dos agricultores de todo o território nacional.

Foto: Arquivo SENAR

É

o caso, por exemplo, da carne vermelha, da carne de frango, da soja, da cana-de-açúcar e da laranja, mas o mesmo não acontece, ainda, na agricultura familiar, na pequena agricultura, cujos índices de produtividade, em grande parte dos casos, ainda têm baixa produtividade. Mas aumentar a produtividade dessas pequenas propriedades tem grande importância, uma vez que é delas que provem mais da metade dos alimentos de consumo interno.

Aprendendo na prática


Foto: Arquivo SENAR

Vacas leiteiras no pasto

Produtividade do leite Um bom exemplo do trabalho do SENAR é o realizado no município de Santa Albertina, pequeno município localizado no noroeste do estado de São Paulo com cerca de 6 mil habitantes e pertencente à microrregião de Jales. Trata-se de um município relativamente recente, fundado em 1947 com terras doadas pela família Schmidt. O programa desenvolvido pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, em parceria com a Prefeitura Municipal de Santa Albertina e Casa da Agricultura, tem como objetivo fazer com que o produtor alcance, em curto prazo, aumento da produção de leite e melhores ganhos com recursos de baixo custo aplicados principalmente no pasto. O curso é desenvolvido de fevereiro a novembro numa propriedade que serve como demonstração e é dividido em 16 módulos, num total de 420 horas, incluindo diversas atividades que acontecem no dia a dia da propriedade rural, desde o planejamento até a parte produtiva.

Teoria e prática Segundo informa o instrutor, José Alberto Matos, as informações sempre são passadas nas formas teóricas e práticas, “de maneira que o aluno se sinta motivado e possa ter um melhor aproveitamento da técnica aplicada ao seu cotidiano”.

Práticas sustentáveis O instrutor Matos ressalta que as aulas “utilizam práticas sustentáveis, como o uso racio-

nal da água, visando a um investimento mais consciente, barato e que promova melhores resultados”. Entre os módulos ensinados estão o manejo das pastagens, o plantio do canavial, o gerenciamento da propriedade, a alimentação, a qualidade do leite, a sanidade do animal, a reprodução, o manejo das vacas e a irrigação.

Resultados O produtor de leite Nivaldo Gonçalves, por exemplo, bem cedo já começou a colher os frutos dos ensinamentos que recebeu. Em poucos dias de aulas práticas e algumas mudanças na forma de alimentação do gado no cocho, foi possível obter bons resultados gastando menos. “Antes, com 23 vacas, eu conseguia retirar apenas 250 litros de leite por dia, e após pouco tempo de aprendizado tenho um rendimento de 380 litros por dia”. O aumento da produtividade representou R$ 100,00 a mais por dia no orçamento do produtor, aumento este que está fazendo diferença no dia a dia da família do Nivaldo que, animado, está investindo mais na criação de gado de leite.

Serviços O SENAR informa que, além do Pró-Leite, oferece, através do Sindicado Rural de Jales, outros cursos e programas de capacitação para o produtor, o trabalhador rural e suas famílias. Animal Business-Brasil_39


Vantagens de investir na pecuĂĄria de corte brasileira Por: Professor

Fernando Roberto de Freitas Almeida economista agrĂ­cola - instituto e estudos estratĂŠgicos da UFF

40_Animal Business-Brasil


O Brasil possui boas vantagens comparativas para a expansão da agricultura e da pecuária sem provocar grandes pressões em preços de terras e de alimentos / ração

Animal Business-Brasil_41


É

pecuária bovina é um dos elementos formadores da identidade nacional brasileira. O gado bovino foi trazido ao Brasil logo nas primeiras décadas da ocupação portuguesa, nos anos 30 do século XVI, para servir como força de tração nos engenhos. Logo se disseminou pela vasta colônia, expandindo-se por duas frentes, os chamados “sertões de fora”, pelo litoral, e “sertões de dentro”, seguindo os rios, em especial o rio São Francisco, por muito tempo denominado como “rio da integração nacional”. De fato, a ocupação do interior nordestino teria sido impossível sem os rebanhos, de onde tudo se aproveitava, exceto o berro, como já disse a sabedoria popular. A implantação de fazendas de gado dos padres jesuítas igualmente serviu ao delineamento e garantia de posse

42_Animal Business-Brasil

de fronteiras distantes, na Amazônia, em Roraima e Marajó, além até mesmo da tentativa de conquista da estratégica saída do Rio da Prata, com a Colônia do Sacramento, hoje a cidade de Colônia, na República Oriental do Uruguai. Atualmente, a atividade econômica que ocupa a maior extensão de terras no Brasil é a pecuária bovina, sendo o país o detentor do maior rebanho mundial comercial, tendo em vista que o gigantesco rebanho indiano é preservado por motivação religiosa. Em artigo publicado pela Embrapa, os pesquisadores Glauco Rodrigues Carvalho e Alziro Vasconcelos Carneiro mostram que, em termos de área ocupada com lavouras, os EUA são os primeiros, secundados pela Índia, China e Rússia, enquanto o Brasil aparece na quinta posi-


ção com 59 milhões de hectares (ha), sendo aliás, o quinto maior país em território contínuo do mundo. Em terras com pastagens e áreas não utilizadas, porém, o país tem destaque, por possuir aproximadamente 330 milhões de hectares. Vale dizer que esse espaço é mais de três vezes maior do que o mesmo nos Estados Unidos e na Rússia e nove vezes superior ao da Austrália. Utilizando dados da FAO/ONU, conclui-se que a Terra tem uma superfície de 13,04 bilhões de hectares dos quais 4,15 bilhões não são cultiváveis; 3,87 bilhões são bosques e 5,02 bilhões são áreas agrícolas. A superfície agrícola total possui 69,5% em pastagens e 30,5% em agricultura. Países com territórios também extensos, como a Austrália e

Pecuaristas também se beneficiam do novo Programa agricultura de Baixo carbono (aBc) com juros de 5% a.a. para a integração Lavoura-PecuáriaFloresta (LPF) a Rússia, enfrentam problemas de degradação e contaminação do solo e tão-somente 11% e 13% de seus territórios, respectivamente, são potencialmente aráveis. No Brasil, cerca de 46% do território têm potencial arável. Em termos absolutos, o Brasil é o detentor de maior área de terras potenciais aráveis, quase quatrocentos milhões de hectares. Pelo trabalho, vê-se que “o Brasil possui boas vantagens comparativas para a expansão da agricultura e da pecuária sem provocar grandes pressões em preços de terras e de alimentos/ ração.” Os custos de suplementação alimentar também são competitivos e a disponibilidade de pastagens é um grande diferencial. Outros países lidam com problemas ainda ausentes por aqui, principalmente derivados do esgotamento das fronteiras e da substituição da pecuária por produtos de exportação como a soja, ou ligados a áreas energéticas novas, como a cana-de-açúcar e o milho, além de dificuldades climáticas que têm sido acentuadas, recentemente. Embora tais fenômenos também se verifiquem em nosso país, a disponibilidade de terras e a possibilidade de incorporação de novas tecnologias dá à pecuária brasileira outras vantagens, além do fato de que a população do país já apresenta taxas de crescimento declinantes e é majoritariamente urbana. Os EUA notabilizam-se por seus indicadores zootécnicos e aplicação intensiva de tecnologia, mas já incorporaram o que existe de mais Animal Business-Brasil_43


a pecuária brasileira é, como o próprio País, um universo de grande complexidade, com produtores altamente qualificados e informados convivendo com outros tipicamente artesanais

avançado, o que ainda não é o caso brasileiro, enquanto russos e indianos lidam, respectivamente, com dificuldades climáticas e pressões demográficas. O novo grande agente no sistema internacional, a República Popular da China, tem necessidade de alimentar uma população gigantesca, cujos ganhos de renda estão fazendo com que procure mais proteína animal na alimentação, mas o país teria que despender recursos colossais no preparo das pastagens, tendo restrições graves ao uso da água. As maiores taxas de desfrute bovino do mundo encontram-se na Rússia e na China. Na primeira, isto ocorre devido ao desestímulo à criação, devido à menor competitividade, em relação a outros produtores. No território chinês, não se adotam as mesmas técnicas e formas de criação dos países mais desenvolvidos, como os EUA. Naquele país, por exemplo, o gado é abatido bem antes do peso ideal. Observa-se que os chineses estão no limite de sua capacidade de abate, e seu consumo cresce acima do crescimento do rebanho. A expectativa é de que se tornem um grande importador, aumentando ainda mais sua importância na economia agrícola mundial, pelo lado da demanda, embora venha a declinar sua necessidade de aquisições de outros produtos, pela simples razão de seu colossal ciclo de montagem de infraestrutura estar-se completando. Considerando a importância do agronegócio para a economia brasileira, numa conjuntura in44_Animal Business-Brasil

ternacional de forte concorrência por mercados que ainda estão fortemente impactados pelas crises de 2008/09 e de queda na produção de produtos industrializados, o governo federal vem procurando apoiar o setor. Assim, o mais importante organismo para o acompanhamento estatístico da produção primária no mundo, que é o Departamento (Ministério) de Agricultura do governo dos EUA, o USDA tem registrado cuidadosamente o andamento da pecuária brasileira. Segundo ele, o suporte financeiro dado pelo governo central para a renovação do rebanho bovino, melhoramento genético, renovação das pastagens e preços sustentados do gado mantém – e se preocupa em manter – as boas posições alcançadas pela pecuária do Brasil, em termos globais. De acordo com o Departamento, por exemplo, o rebanho bovino deverá alcançar quase 210 milhões de cabeças até o final de 2013. Conforme levantamento de Beef Point, com efeito, o Plano Agrícola e Pecuário para o ano comercial de 2012-13 (1/10/2012 a 30/09/2013), anunciou um total de R$ 115,2 bilhões, com juros favorecidos para as lavouras, e orientado à exportação, incluindo R$ 750.000,00 por produtor para a renovação das pastagens e renovação dos rebanhos mediante melhoramento genético, com pagamento em cinco anos e carência de um ano e meio. Concomitantemente, grandes frigoríficos ampliaram o financiamento para seus fornecedores de gado bovino, como o existente para a integração na produção de aves e suínos. Pecuaristas também se beneficiam do novo Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), com juros de 5,5% a.a. para a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF). Como o país tem cerca de 90 milhões de hectares de pastagens degradadas, o uso dos recursos desse programa poderá ser de grande importância no futuro. O subsetor do agronegócio brasileiro mais apoiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, é justamente o de carnes, e o suporte à cadeia da carne bovina só tem aumentado, em razão da política adotada em conformidade com o conceito de Estado Logístico, que é como se considera o Estado brasileiro, no século XXI. De acordo com essa visão, cabe ao governo federal definir e apoiar empresas “campeãs nacionais”, de


modo semelhante ao que se costuma fazer em países desenvolvidos. Mais da metade do mercado mundial de carne bovina, atualmente, é controlada por empresas brasileiras. Novas tecnologias na criação e reposicionamento das indústrias asseguraram o alcance da atual expressão global da pecuária de corte brasileira. Simultaneamente aos avanços na genética, nutrição e sanidade bovinas, houve a modernização das indústrias ligadas ao setor, de que algumas das mais destacadas anunciaram abertura de seus capitais e participação no Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo, obtendo ainda mais recursos para seus investimentos. As grandes proporções que a atividade criatória apresenta em nosso país, evidentemente, também trazem preocupações com a questão do ambiente, um dos grandes temas de nossa época. Destaque-se que diversos estudos têm analisado a questão do desmatamento na Amazônia, mostrando que, entre os vários fatores que contribuem para este problema, encontra-se a chegada da pecuária. Contudo, usualmente, ela não é a causa primária, costumando vir depois que houve a ocupação por madeireiras, em terras que acabam se tornando devolutas. A intensificação na atividade criatória precisa ser desenvolvida, tendo em vista, também, que a própria facilitação do crédito oficial auxilia no crescimento do setor. Como apontaram Chagas, Gurgel e Chagas (Pecuaristas reagem a preço? Estimando a elasticidade-preço da intensificação do uso da terra na pecuária): “O debate coloca a questão da intensificação da atividade pecuária como uma das alternativas para a redução do desmatamento, uma vez que a criação de uma maior quantidade de animais em uma dada área reduziria a quantidade de terra necessária para a atividade pecuária.” A difusão das técnicas de pastoreio intensivo, que são mais praticadas na Região Sul, poderá ir aos poucos alterando – para melhor – o desempenho e a imagem do setor. BeefPoint igualmente registrou que um fator de ordem geoeconômica também beneficia o setor exportador pecuário brasileiro, no ano corrente. Nos anos 80, o governo brasileiro havia encomendado duas análises quanto ao futuro da integração sul-americana, sendo um dedicado às relações com a Argentina e outro com a Venezuela, em razão das imensas reservas de

hidrocarbonetos desse país (consideradas, desde julho de 2012, pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo como as maiores do mundo), mas o sucesso da aproximação com Buenos Aires deixou relegado a segundo plano o outro projeto. Em anos recentes, com o desejo venezuelano de aderir ao Mercosul, as transações comerciais com aquele país tiveram crescimento acentuado. Desse modo, o USDA previu um aumento de 20% nas exportações de gado em 2013, devido principalmente à maior exportação à Venezuela e aos preços competitivos do gado no Brasil. Embora haja divergências em fatores de conversão entre a fonte americana e as brasileiras, o USDA apresenta alguns números, para a atividade pecuária brasileira recente (tabela p. 50). Apesar de a crise internacional permanecer, a desvalorização do real favorece as exportações do país e o USDA estimou que possam aumentar em até 8% em 2013, atingindo mercados como os da China, Egito, Cuba, Iraque e Marrocos, bem como até aumentar as vendas para a União Europeia, devido ao fato de bom número de fazendas brasileiras estarem no programa de rastreabilidade europeu, isto além de os EUA estarem recuperando suas compras de carne bovina processada. De fato, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) divulgou que a exportação brasileira de carne bovina in natura nos três primeiros meses de 2013 em quantidade e em faturamento o mesmo período de 2012, embora tenha declinado, se a comparação for feita com

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o último trimestre ao ano anterior. Também houve recuo nos preços, já que o preço médio da tonelada de carne bovina in natura exportada de janeiro a março de 2013 recuou 5,6% e 3,5% frente à igual período de 2012 e ao quarto trimestre de 2012. Em termos dos compradores, destacaram-se a Rússia (29%), Hong Kong (18,5%), Venezuela (14,4%), Chile (7,2%), Egito (6,9%), Irã (2,7%), Itália (2,5%), Israel (2,4%), Holanda (1,9%) e Líbia (1,8%), com 87,2% das importações do produto. A pecuária brasileira é, como o próprio país, um universo de grande complexidade, com produtores altamente qualificados e informados, convivendo com outros tipicamente artesanais, desprovidos de recursos essenciais a

uma inserção segura nos mercados nacional e externo. O Ministério da Agricultura manifesta sua preocupação com os índices sanitários, dada a extensão continental do país, e com a permanência de vulnerabilidades estratégicas, como a questão da persistência de doenças, destacando-se a febre aftosa, em que a descoberta de eventuais focos prejudica a imagem do país como um todo. O mesmo fenômeno aqui citado, de aumento do nível de renda dos consumidores chineses, verifica-se no Brasil, dado com destaque mundial, e em outros mercados “emergentes” e também se associa a maiores exigências de qualidade da carne bovina, para o que todos os produtores deverão estar cada vez mais atentos.

Brasil: produção, oferta e demanda – 2011, 2012 e 2013 Dados de produção, oferta e demanda Número de animais, gados 2011 2012

Estoques de gados totais iniciais Estoques iniciais de gados leiteiros Estoques iniciais de gado de corte Produção (CalfCrop) Importações totais Oferta total Exportações totais Abate de vacas Abate de bezerros Outros abates Abate totais Perdas Estoques finais Distribuição total Balanço do estoque Variação no estoque Produção/vacas Abates/estoque Abates/oferta total Fonte: BeefPoint Newsletter

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USDA oficial 190.925 38.185 53.458 49.445 5 240.375 405 10.750 300 28.050 39.100 3.320 197.550 240.375 6.625 3 54 20 16

Novos dados 190.925 38.185 53.458 49.445 5 240.375 405 10.750 300 28.050 39.100 3.320 197.550 240.375 6.625 3 54 20 16

2013 USDA oficial 197.550 39.510 55.230 49.690 15 247.255 500 10.750 300 28.735 28.735 3.250 203.720 247.255 6.170 3 52 20 16

Novos dados 197.550 39.510 55.230 49.690 2 247.242 490 10.750 300 28.735 28.735 3.250 203.717 247.242 6.167 3 52 20 16

Novos dados 203.717 40.695 56.890 50.185 2 253.904 590 10.780 300 29.302 29.302 3.220 209.712 253.904 5.995 3 51 20 16

1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças 1000 cabeças porcentagem porcentagem porcentagem porcentagem


Foto: Shutterstock

Impacto do padrão logístico nas exportações de carne suína Por:

Marcelo Miele, Ari Jarbas Sandi, Airton Kunz e João Dionísio Henn

Pesquisadores da EMBRAPA/Suínos e Aves

Introdução No atual padrão logístico do agronegócio brasileiro, predomina o modal rodoviário para o transporte de cargas a grandes distâncias e, também, a concentração das exportações nos portos das regiões Sul e do Sudeste. Esse padrão não apenas reduz a competitividade brasileira em relação aos concorrentes internacionais, como, também, impacta a competitividade relativa entre as regiões produtoras. De fato,

regiões deficitárias em milho, como é o caso do Oeste Catarinense, veem seu suprimento do grão encarecer pela falta de ferrovias e, por outro lado, regiões distantes dos portos como o Norte Mato-grossense veem seus custos de distribuição aumentar tanto pela falta de ferrovias quanto, principalmente, pelo fato de suas exportações seguirem na direção Norte-Sul, ao invés de buscar alternativas nos portos do Norte e do Nordeste, mais próximos dos principais imporAnimal Business-Brasil_47


tadores do produto brasileiro. Além de impactar na competitividade, o atual padrão logístico também contribui para uma maior emissão de gases de efeito estufa (GEE). O Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) preveem os seguintes projetos que contemplam os principais corredores de exportação das regiões Centro-Oeste e Sul: • Finalização da Ferrovia Norte-Sul (FNS, ou EF-151) e construção da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (FICO, ou EF354), interligando as regiões exportadoras de MT e GO aos portos do Nordeste (Itaqui, MA) por meio da Estrada de Ferro Carajás (EFC) ou do Norte (Belém, PA); • Pavimentação e recuperação da rodovia BR163 entre o norte de MT e o porto de Santarém (PA) e a construção de um terminal de containers; • Construção, ampliação e remodelagem de um conjunto de obras ferroviárias na região Sul, ligando o Oeste de SC e o Noroeste do RS aos portos de Itajaí (SC) e Rio Grande (RS) e às regiões produtoras de grãos no Centro-Oeste.

o modal rodoviário predomina no transporte de cargas e também a concentração nos portos da regiões Sul e Sudeste. esse padrão reduz a competitividade brasileira Os benefícios esperados com estas obras de infraestrutura são a redução do custo do transporte, o menor consumo de óleo diesel e consequente menor emissão de GEE e, no caso das exportações do Centro-Oeste, a redução das distâncias marítimas para os portos dos principais países importadores. Na Figura 1, apresenta-se a situação atual e três cenários futuros para a configuração dos corredores de exportação em SC e MT.

Diferença na competitividade entre o Sul e o centro-oeste As principais diferenças nos custos de produção entre as duas regiões estudadas são o menor preço do milho e do custo com alimen-

Figura 1. Principais rotas de escoamento das exportações de carne suína em SC e MT e rotas alternativas previstas no PNLT.

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as principais diferenças dos custos de produção entre as regiões Sul e centro-oeste são o menor valor do milho e dos outros alimentos para animais no centro-oeste tação animal no Centro-Oeste e, por outro lado, o menor custo da integração e do transporte na região Sul. Como resultado, os custos agregados em MT são inferiores aos de SC, mas é importante salientar que a carne exportada da região Centro-Oeste perde competitividade à medida que o produto se desloca até o porto de Itajaí (Figura 2), sendo que a vantagem de custo do MT na ração de 29,4% se reduz para uma vantagem de apenas 6,3% para a carne suína posta no porto de exportação (FOB). Isso reflete maiores distâncias percorridas e maiores custos de produção não associados à ração (mão de obra e instalações suinícolas). Desta forma, investimentos em infraestrutura de transporte e logística têm o potencial não apenas de melhorar a competitividade das exportações brasileiras, mas também, alterar a competitividade comparada entre as regiões exportadoras. 4.339

4.682 4.388

3.883

2.603 2.059

2.630 2.165

2.122

1.454

-605 Ração

MT

SC

-481 Suíno vivo na porteira

-465 Suíno vivo na plataforma de abate

-456 Meia carcaça na saída do frigorífico

-294 Meia carcaça no porto (FOB)

Diferença (MT-SC)

Figura 2. Diferenciais de custos agregados entre MT e SC, no cenário atual, por elo da cadeia produtiva (R$/ton. equiv. carcaça).

Obs: Média de preços entre 2007 e 2010, atualizados pelo IGP-DI e sem distorções provocadas pelas políticas públicas.

impacto na competitividade A introdução do modal ferroviário em SC pode trazer como benefícios econômicos a redução nos custos com transporte até o porto

de exportação e a redução do preço do milho importado de outros Estados, em especial da região Centro-Oeste, devido à redução no valor do frete. Tendo em vista as distâncias e quantidades envolvidas, a redução no custo de transporte do milho gera maior benefício econômico em SC do que o transporte da carne até o porto. O escoamento da produção de MT pela rodovia BR163 até o porto de Santarém (PA) reduz os custos com transporte em função da menor distância percorrida. A introdução do modal ferroviário e escoamento da produção de MT pelo porto de Itaqui (MA) também pode reduzir os custos com transporte, mas devido à mudança de modal, tendo em vista que neste cenário há um incremento na distância percorrida (Tabela 1). Todos os cenários analisados apresentaram potencial de aumento da margem bruta e do lucro agregado, que é o somatório dos lucros de todos os agentes do corredor de exportação. Isso ocorre devido à redução de custos com insumos (óleo diesel) e apesar do aumento do custo de capital nos cenários envolvendo ferrovias (requerem maior investimento do que o transporte rodoviário). Tanto em termos absolutos quanto relativos, o cenário que apresenta o maior potencial de aumento no lucro agregado é a mudança de porto das exportações de MT, de Itajaí para Santarém (86 R$/t antes dos impostos diretos e 51 R$/t depois dos impostos diretos), seguido pela mudança para o modal ferroviário em SC (35 R$/t e 22 R$/t) e, por fim, o escoamento da produção de MT por ferrovia até o porto de Itaqui (21 R$/t e 9 R$/t). A introdução do corredor de exportação BR163-Satarém também apresentou o maior impacto potencial na lucratividade (razão entre lucro e custo dos fatores de produção como capital e mão de obra), seguido pela introdução do modal ferroviário em SC. Apesar de apresentar o maior aumento na margem bruta, o escoamento das exportações por ferrovia até o porto de Itaqui reduz a lucratividade em função do maior uso de capital nas ferrovias (Tabela 2). Animal Business-Brasil_49


Tabela 1. Distância e valor do frete nos cenários atual e futuros. Distâncias e valores de frete

Cenários

Distância da agroindústria até o porto de exportação (km)

Atual Futuro Diferença

Valor do frete da agroindústria até o porto de exportação (R$/t. de carne)

Atual Futuro Diferença

Valor do frete interestadual do milho (R$/t. de milho) *

Atual Futuro Diferença

SC com ferrovia

Benefício econômico (R$/t. de carne)

MT BR163 Santarém

MT FNS-Itaqui

2.291 1.410 -881 -38,5% 310,00 190,52 -119,48 -38,5%

2.291 2.717 426 18,6% 310,00 301,20 -8,80 -2,8%

119,48

8,80

532 532 0 0,0% 71,99 70,30 -1,68 -2,3% 70,91 41,16 -29,74 -41,9% 27,36**

Fontes: elaborado pelos autores a partir de Sifreca, ANTT, IPEA e Google Maps.

Tabela 2. Indicadores comparados dos cenários futuros analisados (variação %) Indicadores agregados da cadeia produtiva

Cenários futuros SC com ferrovia

MT BR163 - Santarém

MT FNS-Itaqui

Custo com insumos

-1,5

-2,3

-3,8

Custo com fatores de produção

2,9

0,1

13,0

Margem bruta

3,2

3,7

6,3

Lucro antes dos impostos diretos

3,6

6,4

1,6

Lucro depois dos impostos diretos

3,2

5,5

1,0

Lucratividade

0,9

6,5

-10,1

Fontes: elaborado pelos autores.

Impacto nas emissões de gases de efeito estufa As emissões de GEE no transporte são pequenas quando comparadas às emissões na produção agropecuária (grãos, suínos e aplicação de dejetos no solo). Note-se que projetos com biodigestores e outras tecnologias de tratamento de dejetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), bem como 50_Animal Business-Brasil

a mitigação das emissões no plantio de grãos e na aplicação de dejetos no solo, geram uma redução nas emissões de GEE muito superiores àquelas que se pode atingir com as mudanças logísticas acima descritas. Apesar disso, é importante ressaltar que, quando se analisam apenas as emissões das atividades de transporte (ração, leitões, suínos e carne suína e seus derivados), verifica-se o potencial para reduzir as emissões de 28% a 55% (Figura 3).


203

203

146 112 91

81 57

52 29

36

SC com ferrovia Situação atual

55 28

MT BR163 - Santarém Cenário futuro

MT FNS Redução

Redução (%)

Figura 3. Estimativa das emissões de GEE no transporte interno, por cenário analisado (kg de CO2 equivalente/t de carne).

Impacto nos fretes marítimos O principal destino das exportações de carne suína brasileira na última década foi a Rússia e, mais recentemente, os países do Leste Asiático. Assim, o escoamento da produção do Centro-Oeste pelos portos do Norte do país implica em redução das distâncias até o seu destino final (custo CIF). Mesmo a alternativa de escoamento pelo porto de Itaqui (MA), apesar de aumentar a distância interna, reduz a distância marítima até o porto de São Petersburgo em mais de 2,5 mil km e a distância total em mais de 2,1 mil km (ou -15%). No caso da alternativa por Santarém (PA), as distâncias internas também diminuem, totalizando uma redução de mais de quase 2,4 mil km (ou -17%).

Considerações finais A região Centro-Oeste apresenta uma clara vantagem competitiva em relação à região Sul, mas esta vantagem se reduz ao longo do corredor de exportação devido a maiores custos, sobretudo com logística de transporte. Todos os cenários futuros analisados têm o potencial de impactar positivamente na competitividade das exportações de carne suína e na redução das suas emissões de GEE. Em termos de comparação regional, a inversão do fluxo de exportação de carne suína da região Centro-Oeste da direção Norte-Sul para a direção Sul-Norte aumenta a competitividade das exportações desta região em relação àque-

las da região Sul. Por outro lado, o barateamento no frete do milho para as regiões deficitárias impacta positivamente a competitividade da região Sul. Outra observação importante é que o cenário logístico de menor impacto econômico é aquele que apresentou o maior potencial de redução nas emissões de GEE no transporte interno. Por isso entende-se que projetos que se propõem a alterar a logística de transporte do agronegócio brasileiro no sentido de encurtar distâncias ou utilizar modais mais eficientes em termos energéticos também devem ser considerados pelo Brasil nas negociações globais sobre mudança climática. O presente estudo se propôs estimar o impacto de projetos de infraestrutura que estão em implantação ou ainda em fase de estudo. Esses cenários são de médio ou longo prazo, e dependem da superação de inúmeros obstáculos e entraves para se constituírem em alternativa para a logística de exportação de carne suína. Enquanto que as obras da FNS e da BR163 se encontram em estágio avançado de implantação, a FICO e a expansão da malha ferroviária ligando o Oeste de SC às regiões exportadoras de milho e ao porto de Itajaí estão ainda na fase de projeto. Em geral, as ferrovias brasileiras são voltadas ao transporte a granel, não estando plenamente preparadas para containers refrigerados. Há ainda a necessidade de assegurar que não haja contaminação a partir de outras cargas como minério de ferro e combustíveis. O mesmo ocorre com os portos de Itaqui e Santarém. No caso de Santarém, há ainda impedimentos ambientais e sociais a serem superados, além da regulamentação e cobrança do trânsito de navios de longo curso nas rotas fluviais do Amazonas até o Oceano Atlântico. Por fim, se deve levar em conta as mudanças no marco regulatório para o transporte ferroviário. Para finalizar, há um conjunto de obras de infraestrutura de logística de transporte previstas no PAC e no PNLT que permitem vislumbrar a ampliação da “fronteira logística” brasileira nos próximos dez anos, de forma a acompanhar as demandas crescentes da expansão da “fronteira agrícola”. Animal Business-Brasil_51


Papel do veterinário na produção de alimentos Por:

Milton Thiago de Mello,

Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária

É fácil prever que num futuro próximo a sociedade exigirá o concurso dos veterinários no setor da segurança alimentar.

I

sso decorre da explosão populacional. No momento estamos com 7 bilhões mais ou menos e dentro de 40 anos seremos 9 bilhões. Esses 2 bilhões a mais precisam comer. Assim, o alimento passará a ser a nova moeda do século XXI. No século XIX a moeda eram as máquinas da Revolução Industrial e a dona do mundo era a Inglaterra, porque tinha as máquinas, movimentadas com as correias feitas com o couro do peixe-boi da Amazônia. Essa moeda possibilitou que a Rainha Vitória afirmasse: “O sol nunca se põe no Império Britânico”. Veio o século passado e a nova moeda foi a energia do petróleo, substituindo na maquinaria a energia obtida do carvão de pedra inglês e da madeira das colônias. E essa nova moeda ficou de propriedade dos Estados Unidos.

lebre Relatório modificou todo o ensino médico dos Estados Unidos.

A necessidade de melhorar o ensino O ensino médico que no Brasil está precisando ser modificado. E espero também que o ensino veterinário seja modificado e que muitos cursos sejam fechados. Há necessidade urgente de ser modificado para melhor o ensino veterinário no Brasil.

Agora, veio a nova moeda do Século XXI, que é o alimento, e nós veterinários temos grande responsabilidade no assunto. Ela fará com que o Brasil vença seu atraso na saúde, na segurança e na educação. Tudo como fizeram os Estados Unidos exatamente há um século. A corrupção que havia lá é a mesma que existe hoje aqui, apenas com um século de diferença. A educação, a pior possível. Então, com a nova moeda apareceram líderes. No caso da medicina, apareceu um grande líder: Flexner. Seu cé52_Animal Business-Brasil

Foto: Raul Moreira

Alimento, a moeda do século XXI


as quatro necessidades básicas A explosão populacional humana determina quatro necessidades básicas: alimento, energia, habitação e matéria-prima. Dessas quatro necessidades, uma delas gerou a moeda do século passado: a energia do petróleo. A próxima moeda é o alimento. Na produção de alimentos de origem animal temos concorrentes. No caso da carne, por exemplo: Austrália, Estados Unidos e um pouquinho da União Europeia.

a dificuldade das barreiras Surgem barreiras de todos os tipos. Inicialmente foram as barreiras tarifárias comandadas pela OMC – Organização Mundial do Comércio. Depois, vieram as barreiras sanitárias e depois a exigência do bem-estar animal. Um indivíduo da Noruega, há 10 anos, na OIE, dizia que tem que haver a barreira do bem-estar animal e o Brasil venceu e vence tudo isso com o seu boi “clorofilado” (alimentado a pasto). E, finalmente, a rastreabilidade, que o Brasil também venceu.

recapacitação de pessoal Toda produção de alimentos de origem animal necessitará de veterinários qualificados. Será uma verdadeira reorganização das atividades e aproveitamento da mão de obra constituída pela massa de veterinários atuais e dos que serão formados, para atender às necessidades do “rolo compressor” da agropecuária. Há necessidade da recapacitação de uma grande porcentagem de veterinários e principalmente desses que estão aparecendo nas mais de 200 escolas, porque esses irão encontrar a clínica saturada. E o que fazem eles? Vão para cursinhos se preparar para fazer concurso para a Polícia Federal, prestar concurso para ser segurança ou ascensorista do Senado Federal. Não somente os veterinários mas também os graduados em outros cursos superiores.

Participação da academia A recapacitação dos profissionais, em curto prazo, é tarefa na qual a Academia Brasileira de Medicina Veterinária terá grande participação.

a moeda do futuro é o alimento e toda a produção de alimentos de origem animal necessitará de veterinários qualificados

A preocupação de interessar veterinários em sua recapacitação, diante do levantamento do problema da segurança alimentar em veículos de grande penetração, como o programa Fantástico, da TV Globo e a revista Veja, por exemplo, deixou de ser apenas da Academia e passou para o domínio público.

uma só inspeção O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a indústria exportadora de carnes pretendem que as exigências atendidas pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF), sejam as mesmas para os respectivos serviços de inspeção estaduais e municipais. Trata-se da indispensável descentralização dos serviços de inspeção com a condição de serem mantidas as exigências do SIF.

apoio da Sna Assim como vem prestando importante colaboração para as reuniões da Academia, cedendo suas instalações e oferecendo apoio logístico, a SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, também apoiará, na pessoa do seu presidente, administrador de empresas Antonio Mello Alvarenga, e da diretoria da Entidade, os cursos rápidos de recapacitação que estão em fase de estudo.

Animal Business-Brasil_53


Por: Paulo

Roque

Ovinos e caprinos fizeram sucesso na exposição em SP Neste ano, ovinos e caprinos dividiram espaço com os bovinos durante a 19ª Feicorte, realizada em São Paulo (SP). A maior exposição indoor de pecuária em todo mundo abrigou a Feinco Preview, dedicada ao mercado dos pequenos ruminantes, uma parceria entre o Agrocentro com a Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper). O evento foi considerado um sucesso, ao reunir mais de 600 ovinos Dorper e White Dorper e 100 caprinos Anglo Nubiano e movimentou pouco mais de R$ 330 mil com três leilões. “Conseguimos integrar duas cadeias produtivas importantes, uma aprendendo com a outra”, diz Carla Tucillo, diretora do Agrocentro, que promoveu a Feinco Preview em parceria com a Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper). O pavilhão de 4.200 m² teve grande movimento e recebeu, inclusive, a visita de pecuaristas interessados em diversificar. “A ovinocultura trabalha com preços históricos nunca antes experimentados. Esse foi um dos motivos que levaram ao sucesso da exposição”, afirma Paulo Franzine, presidente da ABCDorper.

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A maior das edições da Feicorte A Feicorte 2013 (Feira Internacional da Cadeia Produtiva da Carne), promovida pelo Agrocentro, no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo (SP), de 17 a 21 de junho, foi considerada, pelos seus organizadores, a edição mais abrangente entre as 19 realizadas até agora. Além da presença de 4 mil animais de 20 raças bovinas e duas ovinas, a Feicorte sediou eventos como a 2ª Feimuares (Feira de Muares e Asininos), com a exposição de jumentos, burros e mulas; Feinco Preview com leilões de ovinos, cursos, palestras, julgamentos, Espaço Gourmet e concurso de carcaças e um shopping de cavalos lusitanos. Em 50 mil m², 250 empresas de referência nos segmentos de genética, saúde e nutrição animal, órgãos de desenvolvimento e pesquisas, máquinas e equipamentos, frigoríficos e entidades representativas apresentaram suas novidades. A feira recebeu 26 mil visitantes, dentre os quais 67% criadores de gado e foram realizados 12 leilões, que movimentaram aproximadamente R$ 9,5 milhões.


Bem-estar animal pode virar disciplina nas faculdades A Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) apresentou moção para inclusão da disciplina Bem-Estar Animal na grade curricular de ensino das faculdades de Medicina Veterinária, Zootecnia, Ciências Biológicas e áreas afins. A proposta foi apresentada durante Workshop Internacional de Bem-Estar dos Animais de Produção, na cidade de São Pedro (SP) e será encaminhada ao Ministério da Educação (MEC) com a assinatura dos cerca de 400 participantes do evento promovido pela WSPA em parceria com o MAPA, a Embrapa e a Unesp. Das cerca de 300 universidades brasileiras, 90 já possuem uma disciplina ou interlocução com o tema bem-estar animal.

Convenção Campolina destaca cavalo de sela Realizada na cidade histórica de Tiradentes (MG), nos dias 21 e 22 de junho, a Convenção Nacional do Cavalo Campolina contou com discussões importantes sobre cavalos de sela. Um dos principais destaques foi morfologia funcional, tema abordado por José Renato da Costa Caiado, doutor em Produção Animal pela Universidade Estadual Norte Fluminense (UENF) e árbitro respeitado na equinocultura. “Quando avaliamos um cavalo, não podemos atentar apenas ao que agrada aos olhos. Temos que observar seu conjunto zootécnico, ou seja, tudo aquilo que precisa na hora da equitação”, disse logo na abertura de sua apresentação.

Bem-estar animal e a indústria de alimentos As práticas voltadas ao bem-estar dos animais de produção não vêm sendo devidamente administradas e divulgadas pela indústria alimentícia. É o que revela relatório do Benchmark Negócios Bem-Estar Animal Farm ou Business Benchmark on Farm Animal Welfare (BBFAW), que avaliou cerca de 70 empresas mundiais do setor. O estudo foi elaborado com o apoio das principais organizações dedicadas ao bem-estar animal, além da Compassion in World Farming e da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) e mostra que muitas empresas não estão gerenciando de maneira eficaz os riscos ou as oportunidades associados ao bem-estar dos animais de produção, e que a maioria delas ainda não divulgou as políticas que vêm adotando neste sentido. Foram incluídas na avaliação empresas de três setores: varejistas e atacadistas, bares e restaurantes (categoria que inclui vários fornecedores de serviços) e produtores e fabricantes.

Brasil livre da peste equina O Brasil foi considerado livre da peste equina pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), durante a 81ª Sessão Geral da Assembleia Mundial de Delegados da OIE, realizada em Paris, no período de 26 a 31 do último mês de maio. Outra resolução favorável ao país é a que mantém o status de risco insignificante para Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) – mais conhecida como “vaca louca”. Animal Business-Brasil_55


México incomoda

O presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Fernando Lopa e o CEO da Marfrig Beef, James Cruden assinam carta de intenção na Feicorte.

ABHB e Marfrig reforçam parceria A Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB) e o Grupo Marfrig assinaram, durante a Feicorte 2013, em São Paulo, uma carta de intenção para a criação do Programa Fomento Marfrig Hereford. A carta foi assinada pelo presidente da ABHB, Fernando Lopa e o CEO da Marfrig Beef, James Cruden e o Programa deve ser colocado em prática na temporada 2013/2014 de estação de monta. O Programa representa um novo passo de uma parceria já existente entre a ABHB e a Marfrig que premia animais com a qualidade superior a fim de aumentar a oferta de matéria-prima. Durante a Feicorte foi anunciada também uma nova tabela de bonificação da Marfrig para produtores de todo o Brasil, que premiará em até 10% do valor de venda de balcão para animais Hereford Braford. A nova tabela entra em vigor em 1º de julho.

Durante o encontro de Francisco Turra, da UBABEF, com o presidente da ALA do CEPA da Argentina, Roberto Domenech, em Buenos Aires, além da sanidade, o incremento das exportações de Brasil e Argentina também fez parte das conversações, como a abertura do mercado mexicano para a exportação de produtos avícolas dos dois países. O ponto alto da reunião ficou por conta dos debates pela constituição de acordos bilaterais para ampliação do comércio internacional. “Foi comum a inquietação de todos com relação ao isolamento enfrentado por ambos os países com relação aos acordos que estão firmados pelo mundo, algo que é especialmente ruim para a iniciativa privada brasileira e argentina. Por esse motivo, vamos trabalhar em prol da constituição de acordos que aconteçam mesmo sem a adesão de todos os países-membros do Mercosul”, destaca o presidente da UBABEF.

Influenza Aviária A avicultura nacional está preparada contra a ocorrência de focos de Influenza Aviária pelo mundo, inclusive em sua nova variedade, a H7N9, recentemente descoberta no leste e no centro da China, garante a União Brasileira de Avicultura (UBABEF), acentuando que o Brasil, entre os maiores produtores do mundo, é o único que nunca registrou um foco da enfermidade. Para isso, através de seu Programa de Biosseguridade, a entidade recomenda uma série de medidas preventivas que estão sendo seguidas pelas agroindústrias associadas. Entre elas, a proibição de visita de estrangeiros às granjas avícolas do País. Conforme o diretor de Produção e Técnico Científico da UBABEF, Ariel Antônio Mendes, a produção avícola brasileira tem contado com total apoio do Ministério da Agricultura, especialmente por meio do Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), para manter o país livre da enfermidade. 56_Animal Business-Brasil


Exportação de carne brasileira Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), as exportações brasileiras de carne bovina, entre janeiro e maio de 2013, atingiram faturamento recorde em comparação com o mesmo período em anos anteriores: superou US$ 2,5 bilhões (aproximadamente R$ 5,3 bilhões), 15% superior ao registrado nos primeiros cinco meses do ano passado, quando as vendas atingiram a marca de US$ 2,1 bilhões (R$ 4,6 bilhões). O crescimento também foi registrado no volume das exportações, que fechou em 562 mil toneladas, índice 22,57% maior em relação a 2012. Hong Kong manteve a posição de maior comprador no período, com um crescimento de 63%, no total de toneladas, um total de 142 mil toneladas. A Rússia aparece como segundo mercado, com um crescimento de 10% no total de toneladas exportadas, seguida pela União Europeia, Venezuela e Chile. O Irã manteve o forte ritmo de crescimento nas aquisições de carne bovina brasileira, registrando um crescimento de 198%. No que diz respeito à categoria de carne mais negociada, o produto in natura é o mais comercializado, com um percentual de toneladas exportadas 28% superior em relação a 2012.

Cartilha eletrônica orienta sobre gripe aviária O Ministério da Agricultura lançou duas cartilhas em formato eletrônico para alertar aos passageiros em aeroportos e aos produtores brasileiros sobre os riscos da influenza aviária. O objetivo principal da ação é manter a produção aviária brasileira livre da doença. Desenvolvido pelo Departamento de Saúde Animal do Mapa, o material contém informações sobre sinais da doença entre as aves. Entre eles, estão o aumento repentino da mortalidade das aves em um período de 72 horas e mudanças de comportamento, como redução no consumo de ração e andar “cambaleante” das aves. O Brasil é o maior exportador mundial de carne de frango. Em 2012, foram vendidos US$ 7,2 bilhões do produto para mais de 140 países.

Japão retoma importação de carne suína catarinense O Japão volta a importar carne suína de Santa Catarina. Foram sete anos de negociações e as vendas serão reiniciadas assim que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) enviar ao governo japonês a lista de estabelecimentos exportadores que atendem aos requisitos sanitários do país. Esta lista encontra-se em elaboração pela Secretaria de Defesa Agropecuária, em consulta com as empresas. O Secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, observou que a abertura do mercado japonês ocorre em um ótimo momento para o setor, tendo em vista que a Ucrânia, que era o segundo maior importador de carne suína brasileira, suspendeu as importações do produto desde o dia 30 de março de 2013 sob alegação da presença da bactéria listeria em lotes de carnes oriundas do Brasil. “Será o primeiro país que se beneficiará do reconhecimento de zona livre de febre aftosa para exportar carne suína para o Japão. Até agora, o Japão só aceitava importações de carnes de animais susceptíveis à doença se o país fosse inteiramente livre”, explicou. Em 2012 os principais fornecedores de carne suína in natura para o Japão foram Estados Unidos (US$ 2,1 bilhões), União Europeia (US$ 1,4 bilhão) e Canadá (US$ 1,1 bilhao). No ano passado, o Brasil – que é o quarto maior exportador de carne suína in natura do mundo – vendeu o produto para 63 mercados, totalizando US$ 1,3 bilhão (quase 500 mil toneladas). Santa Catarina está no topo da lista dos Estados exportadores, vendendo US$ 492 milhões, isto é, cerca de 181 mil toneladas em 2012.

O Ministério orienta para que, em caso de suspeitas, o produtor deve isolar a área e procurar um médico veterinário do Serviço Estadual de Defesa Sanitária Animal ou da Superintendência Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do seu estado. Outra forma é entrar em contato com a ouvidoria do Ministério da Agricultura pelo telefone 0800 704 1995 GRÁTIS 0800 704 1995 . Animal Business-Brasil_57


Lei beneficia piscicultores de Mato Grosso

Brasil recebe mestre queijeiro italiano Um dos principais mestres queijeiros da Itália, Angelo Citro, que trabalha no controle dos laticínios produtores de mozzarellas de búfalas na província de Salerno, Estado de Campana, esteve no Brasil a convite da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos e pela Comissão do Selo de Pureza 100% Búfalo para visitar laticínios que compõem o programa de certificação do Selo de Pureza 100% Búfalo, durante o mês de junho. A visita teve como finalidade melhorar a qualidade e a técnica de nossa produção, por meio de parcerias com instituições empenhadas no destaque do produto nacional, cujo mercado interno ainda é maciçamente permeado por misturas com leites de vaca e substâncias clareadoras, enganando o consumidor e barateando a produção de um queijo que é considerado nobre e cuja adulteração em países como a Itália é quase um sacrilégio para o consumidor e para o governo.

Oportunidades no mercado de carne Halal No último dia 11 de junho, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) realizou um workshop para discutir as oportunidades no mercado de carne Halal em Brasília, contando com a presença de mais de 20 embaixadores de países muçulmanos no Brasil, incluindo nações como Egito, Arábia Saudita e Turquia. O evento foi marcado pela apresenta58_Animal Business-Brasil

Com a entrada em vigor, no Mato Grosso, da lei 9.933, desde o último dia 7 de junho, os piscicultores que possuem até cinco hectares de lâmina d’água em tanque escavado e represa ou até 10 mil metros cúbicos (m³) de água em tanque-rede, sendo considerados de pequeno porte, estão dispensados de licenciamento ambiental e pagamento de taxas de registro. Eles devem apenas se inscrever no cadastro de exploração e criação de peixe do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea), cujo formulário pode ser preenchido gratuitamente em uma das unidades do órgão. Segundo dados da Associação Mato-grossense de Aquicultura (Aquamat), no Estado existem aproximadamente 1.200 produtores, sendo cerca de 90% considerados pequenos. As principais espécies produzidas são o tambatinga, tambacu, tambaqui, pintado e matrinxã. A produção em 2012 foi de 45 mil toneladas e tem como mercados os Estados de Goiás, Tocantis, São Paulo e o Distrito Federal. O custo com o licenciamento e o pagamento de taxas girava em torno de R$ 15 mil a R$ 20 mil, o que inviabilizava o acesso dos pequenos produtores.

ção do lacre eletrônico - uma nova tecnologia, desenvolvida em parceria pela ABIEC, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Instituto de Tecnologia de Software, Ceitec e Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) – que já está em testes para utilização na exportação de carne Halal. Após alcançar receita de US$ 1,5 bilhão em 2012 com a exportação de carne bovina para países muçulmanos, produzida de acordo com os princípios do Islã, o Brasil estima ampliar suas vendas em até 10% neste ano.


Ucrânia volta a importar carne suína do Brasil A Ucrânia voltou a importar carne suína do Brasil. Um dos maiores compradores de carne suína brasileira havia suspendido as compras do país meses atrás, alegando ter encontrado uma bactéria em produtos provenientes de frigoríficos de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O embargo foi imposto pelo governo ucraniano em março, quando as compras foram suspensas sob o argumento de que havia sido registrada a presença da bactéria Listeria em alguns lotes. Com isso, as exportações brasileiras de carne suína caíram 18% em maio. Especialistas do serviço estatal de medicina veterinária da Ucrânia habilitaram seis empresas

para realizarem a exportação, sendo que cinco delas são de carne suína resfriada e congelada em embalagem a vácuo, produtos de carne suína, subprodutos suínos e a sexta é de peixe fresco congelado.

Senepol ganha força no cruzamento industrial O Brasil tem se tornado uma referência em genética e comercialização de genética Senepol, um taurino originário das Ilhas Virgens de San Croix. A raça é fruto do cruzamento do N’Dama, nativo do Senegal (África), e do Red Poll (Inglaterra) e tem apresentado características satisfatórias aos pecuaristas. Precocidade, qualidade de carne e acabamento de carcaça são algumas das vantagens da utilização de reprodutores taurinos em vacas zebuínas. Com genótipos e fenótipos condizentes com as condições de produção da pecuária nacional, a raça Senepol se destacou. A seleção do gado baseou-se muito em endogamia devido às condições geográficas das ilhas caribenhas, dando origem a um grau de pureza sanguínea muito

forte, por se tratar de um rebanho de origem fechada. Essa seleção favoreceu a rusticidade da raça e diferenciou este taurino para o cruzamento industrial. Características como tolerância ao calor, imunidade a doenças, precocidade, grande conversão alimentar, longevidade e baixa manutenção nutricional, têm favorecido o pecuarista, tanto em condições econômicas quanto de manejo. O crescimento da raça acontece a passos largos. As emissões de registros de animais PO (Puro de Origem) e PC (Puro por Cruzamento) totalizaram 21 mil documentos em 2012. Um crescimento de 50% comparado a 2010, segundo dados da Associação Brasileira dos Criadores de Bovinos Senepol (ABCB Senepol).

Influenza Aviária 2 No último dia 24 de junho, o presidente executivo da UBABEF, Francisco Turra, participou de encontro com o presidente da Associação Latino-americana de Avicultura (ALA) e do Centro de Empresas Processadoras Avícolas (CEPA) da Argentina, Roberto Domenech. O encontro aconteceu na sede da CEPA, em Buenos Aires, contou com a presença de empresários de agroindústrias produtoras e exportadoras argentinas. Na oportunidade, Turra destacou a necessidade do fortalecimento de um trabalho com o objetivo de blindar os países da América Latina com relação à ocorrência de focos de Influenza Aviária, especialmente após o registro de novas variedades, como o H7N9, recentemente descoberto na China. Nunca houve registro de casos nos países do Mercosul e, em julho, a ALA promoverá uma grande reunião, com participação de técnicos do governo e da iniciativa privada de cada país-membro, para constituir um plano de defesa continental. Animal Business-Brasil_59


Fotos: Ricardo Saliba

Cavalo de corrida da raça Árabe

Corrida de cavalos

da raça Árabe O que são Seguindo a tendência que vem ocorrendo nos maiores mercados de cavalos da raça Árabe, no mundo, a Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Árabe (ABCCA) está reintroduzindo as corridas como forma de ampliar o leque de opções para o uso e a comercialização da produção de seus criadores associados. A grande diferença, desta vez, é que o treinamen-

60_Animal Business-Brasil

to e páreos serão corridos em Cidade Jardim, o maior e mais importante hipódromo brasileiro.

Quem corre As corridas terão início com Puros-Sangues Árabes de 3 anos em diante. Poderão ser garanhões, fêmeas e castrados, mas devem estar domados e apresentarem boa índole.


Em breve a Diretoria da ABCCA estará apresentando uma lista de treinadores e jóqueis credenciados.

Como Páreos nas distâncias entre 1.200m a 2.000m em areia ou grama, de acordo com o que é realizado em todos os 17 países que correm regularmente com cavalos árabes. Em um primeiro momento, os páreos serão formados por faixas etárias e sexo, em seguida obedecerão às normas do Código Nacional de Corridas, com seleção por resultados, pesos especiais etc. Os animais ficarão alojados em pavilhões exclusivos do Cavalo Árabe. Em um destes pavilhões, está sendo montada a sede do Cavalo Árabe de Corrida e que, além de congregar os arabistas, terá o objetivo de divulgar o cavalo da raça Árabe entre o turfistas. Importante: Exames de AIE e Mormo deverão ser apresentados na chegada dos animais. Todos os animais terão como condição mínima antes da estreia, treinarem por 60 dias e participar do workout obrigatório para tomada de tempos mínimos e avaliação veterinária.

te Médio e Austrália. Em 2012 foram corridos 472 páreos de Puros-Sangues Árabes que redundaram numa dotação de mais de 7 milhões de Euros em premiação aos ganhadores. O cavalo da raça Árabe estará entrando nas corridas num momento muito especial do setor. Em acordo com a Rede Bandeirantes, que está assumindo o Canal do Jockey, e empresas internacionais de apostas (Churchill Downs e Codere), o Jockey Clube estará dando um tratamento muito mais profissional à modalidade, o que certamente conquistará um novo público. Esta nova atividade da raça vai proporcionar um novo e rico mercado, inclusive com alcance internacional para os criadores brasileiros.

Quando Os páreos terão início a partir de setembro.

Quanto

A inconfundível elegância do cavalo Árabe

A estada e o treinamento custarão em torno de R$ 1.500,00 por animal, fora eventuais despesas extras veterinárias. As dotações dos páreos estão sendo levantadas através de ações especiais por parte de criadores. Além disso, serão realizados: leilão de coberturas, busca de patrocínios e reserva de parte das inscrições para as premiações.

Porque As corridas representam hoje um mercado em franca expansão do cavalo árabe no mundo. Segundo a IFAHR – International Federation of Arabian Horse Racing Authorities – a raça corre regularmente em 17 países da América do Norte, Europa, OrienAnimal Business-Brasil_61


Boto-vermelho:

criatura mitológica em perigo de extinção Por:

N

Drª Vera Maria Ferreira da Silva1,2 e M.Sc. Nívia A. S do Carmo1,2

Foto: Nívia do Carmo

o mundo existem cerca de 90 espécies de cetáceos. Cetáceos são mamíferos aquáticos conhecidos como baleias e golfinhos totalmente adaptados à vida aquática. De modo geral, esses animais são marinhos e vivem nos oceanos. No entanto, existem algumas exceções exclusivamente fluviais, que vivem em bacias de grandes rios no mundo como, por exemplo, na bacia Amazônica no norte da América do Sul, na bacia do rio Yang-Tsé na China e dos rios Indus, Ganges e Brahmaputra no subcontinente indiano. Os golfinhos de rio, por estarem mais próximos do homem e o seu hábitat

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sobrepondo áreas de atividades humanas, são as espécies de golfinhos mais ameaçadas e estão seriamente afetadas por diversas atividades antropogênicas ao longo da sua distribuição. Os golfinhos do subcontinente indiano são considerados espécies ameaçadas, enquanto o golfinho da China, o baiji (Lipotes vexillifer), desde 2006 foi declarado tecnicamente extinto devido à sobrepesca, à alteração e degradação do ambiente fluvial, e à interação negativa com a pesca. Na Amazônia ocorrem as únicas espécies de golfinhos fluviais do Novo Mundo; o boto-vermelho, com duas espécies e o boto- tucuxi ou boto-


Boto vermelho O boto-vermelho, como vamos chamar essa mitológica criatura das águas Amazônicas, é o maior dos golfinhos de água-doce. Os machos são bem maiores e mais robustos do que as fêmeas e chegam a medir 250 cm e pesar 200 kg. As fêmeas raramente ultrapassam 220 cm e 155 kg. Quando nascem são cinza escuro e ficam Ao lado: Boto-vermelho, Inia geoffrensis, pode-se observar o melão no topo da cabeça, que é a estrutura utilizada na ecolocalização, o longo rosto e o pequeno, mas funcional, olho.

Foto: Projeto Boto

Boto-vermelho, Inia geoffrensis, mostrando a abertura nasal, por onde ele respira, o longo rosto, as peitorais largas, e a longa e baixa quilha dorsal despigmentada Foto: Projeto Boto

-cinza. O tucuxi é um dos menores golfinhos do mundo, alcançando no máximo 150 cm de comprimento e 53 kg de peso, e a única exceção da típica família de golfinhos marinhos Delphinidae a viver em água-doce. O boto-vermelho tem uma distribuição bastante ampla nos rios da bacia Amazônica no Brasil, na Bolívia, Colômbia, no Equador, no Peru e na Venezuela e sua distribuição está limitada por grandes cachoeiras, fortes corredeiras, áreas muito rasas e de águas frias. Duas espécies são reconhecidas atualmente: o boto da Bolívia (Inia boliviensis), que ocorre na bacia do rio Madeira-Beni-Mamoré, e que se encontra atualmente isolado pela barragem da UHE de Santo Antônio, logo acima da cidade de Porto Velho, em Rondônia. Essa população é pequena e restrita enquanto o seu congênere Inia geoffrensis, conhecido como boto-vermelho ou boto-cor-de-rosa, além de abundante, habita os principais rios e tributários da bacia Amazônica. Antes de ser denominado boto-vermelho pelos colonizadores europeus, esse golfinho de rio era conhecido como Piraiá-guará, que em tupy-guarani significa “peixe-vermelho”. O nome boto-cor-de-rosa, popularizou-se no Brasil na década de 80 quando o documentário do famoso explorador francês “Jacques Cousteau na Amazônia” foi traduzido ao pé da letra do inglês para o português - Pink dolphin como golfinho cor-de-rosa e posteriormente popularizado como boto-cor-de-rosa, para diferenciá-lo do boto-cinza, o tucuxi. Naquela ocasião, muitas pessoas acreditaram que era uma nova espécie de boto que havia sido descoberta, mas na realidade foi apenas uma nova denominação popular para um animal já bem conhecido nos rios da Amazônia brasileira, o boto-vermelho.

Boto-vermelho, Inia geoffrensis, evidenciando a coloração rosa brilhante, a robustez corporal, as nadadeiras peitorais grandes e largas, o olho pequeno, a protuberância do melão e o longo rosto

mais claros na medida em que crescem. Machos adultos são mais rosados que as fêmeas e a cor rosada brilhante é uma propaganda honesta da sua boa forma física e capacidade reprodutiva. Nos machos, parte dessa coloração rosada se deve à abrasão e perda de epiderme durante as intensas interações agonísticas e intraespecíficas na competição pelo acesso à fêmea em estro. O boto-vermelho é o único mamífero além do homem, que utiliza objetos como ornamento para se exibir para as fêmeas; tais como galhos, Animal Business-Brasil_63


objetos flutuantes, feixes de capim, pedaços de barro e argila etc.

Longevidade Assim como os golfinhos marinhos, o boto-vermelho vive bastante, podendo alcançar mais de 50 anos de idade. As fêmeas atingem a maturidade sexual antes dos machos, por volta de 6-7 anos, enquanto os machos atingem sua maturidade por volta dos 10 anos. A gravidez dura cerca de 10-11 meses e somente um filhote é produzido por gestação. Assim como quase todos os organismos vivos na Amazônia, o boto-vermelho também sofre grande influência do ciclo hidrológico dos rios da região, e tanto seus movimentos sazonais quanto vários aspectos da sua biologia são marcadamente ligados as flutuações do nível dos rios como a vazante, seca, enchente e cheia. O pico de nascimentos, por exemplo, ocorre no início da vazante/seca, quando a disponibilidade de alimentos é maior e a fêmea pode suprir as demandas energéticas do final da gestação e lactação. Os filhotes são amamentados por cerca de três anos, mas podem permanecer com a mãe por períodos mais prolongados. Quando as águas abaixam, na vazante, os animais são for64_Animal Business-Brasil

Foto: Projeto Boto

Foto: Projeto Boto

Tucuxi (Sotalia fluviatilis). Nota-se as semelhanças desse golfinho com seus congêneres marinhos: o corpo hidrodinâmico, as nadadeiras peitorais estreitas e finas, a nadadeira dorsal alta e curta, o melão não proeminente na cabeça redonda, e o rosto curto e largo

Boto-vermelho em comportamento de corte, quando se exibe para as fêmeas, carregando plantas aquáticas. Pode também carregar galhos, pedaços de barro ou argila e outros objetos encontrados nos rios

assim como os golfinhos marinhos, o boto-vermelho pode alcançar 65 anos de idade çados a migrarem para os canais principais onde permanecem até os rios voltarem a transbordar. Durante a cheia, no entanto, eles penetram na floresta alagada em busca de suas presas. Além de apresentarem pronunciado dimorfismo, esses golfinhos também apresentam forte segregação sexual, com maior proporção de fêmeas ocupando as áreas mais internas da várzea e os machos os canais dos rios principais.

alimento Os botos até muito recentemente eram protegidos por lendas e superstições, no entanto, com o avanço dos meios de comunicação e o aumento da imigração na Amazônia nas últimas décadas, a população humana na região aumentou significativamente, assim como a demanda por mais alimento, recursos naturais e obtenção de recur-


Foto: Nívia do Carmo

Foto: Nívia do Carmo

Filés de Piracatinga comercializados com o nome fantasia “Douradinha” nos mercados e supermercados de Manaus e de outras cidades do Sudeste e Nordeste do Brasil O peixe liso ou bagre, piracatinga ou urubu-d’água (Calophysus macropterus), espécie necrófaga, é pescada com isca de boto-vermelho ou jacaré morto, em decomposição.

sos financeiros. Esses imigrantes, na sua grande maioria, não abraçaram a cultura e as superstições locais existentes, ao contrário, trouxeram novas informações e valores, erodindo nas populações tradicionais as estórias e lendas que originalmente protegeram os golfinhos amazônicos

Isca Hoje, os golfinhos estão sendo mortos para servirem de isca na pesca de um bagre conhecido por piracatinga ou urubu-d’água (Figura 4). O volume desse peixe no mercado brasileiro aumentou exponencialmente nos últimos anos, evidenciando a intensa captura e, consequentemente, o aumento do número de botos mortos para esse fim. Estudos recentes mostraram que, em certas regiões da Amazônia brasileira, a mortalidade dos golfinhos na última década aumentou mais do que o dobro por causa dessa pesca, e que essa taxa de mortalidade não é sustentável. Isso significa que se essa taxa se mantiver, a espécie poderá desaparecer em um futuro não muito distante.

Exportação A piracatinga é um bagre necrófago que até muito pouco tempo nem era consumido na

Amazônia nem pescado comercialmente. No entanto, a demanda por um tipo similar de um peixe que foi sobrepescado na Colômbia levou pescadores a capturarem e exportarem a piracatinga em grandes quantidades para esse país onde é comercializado com o nome de capaz. Mais recentemente, entretanto, passou a ser comercializado filetado e congelado nos mercados de várias cidades brasileiras, incluindo Manaus, com o nome fantasia de douradinha.

Ameaça Outra grande ameaça que o boto-vermelho enfrenta, são as inúmeras construções de hidrelétricas nos rios da região. O barramento dos rios fragmenta as populações de botos que acabam isoladas em lagos de hidrelétricas, impedindo o fluxo gênico. No Brasil, todas as espécies de cetáceos estão protegidas por lei federal e o boto-vermelho não é exceção. Caçar, matar, perseguir ou molestar esse animal é crime (Lei nº 7.643 de 1987). No entanto, devido à falta de fiscalização mais efetiva, apesar de protegido, o boto-vermelho continua a ser morto para servir de isca na pesca da piracatinga. Será que o boto da Amazônia vai se tornar uma lenda? Laboratório de Mamíferos Aquáticos – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – LMA/INPA e 2 Associação Amigos do Peixe-boi- AMPA. 1

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a voz das ruas

E A VOz DO CAMPO

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Fotomoreira

O

mês de junho de 2013 ficou marcado por uma inesperada e intensa mobilização popular. Jovens da classe média dos grandes centros urbanos iniciaram um movimento de contestação que se alastrou por cidades de menor porte e, ao mesmo tempo, envolveu pessoas de todas as idades e posições sociais. Milhões de brasileiros saíram às ruas bradando bordões do tipo “Vem pra rua” e “O povo acordou”. Apresentavam as mais diversas e difusas contestações. A maioria da população aplaudiu, solidarizou-se e apoiou esses manifestantes – atitude que demonstrou a existência de uma flagrante insatisfação no país. A inflação, a desorientada política econômica, as inúmeras denúncias de corrupção, a falta de transparência e a sensação de impunidade são algumas das causas dessa revolta incontida, que veio à tona de forma inesperada e dramática. A verdade é que a população está desencantada com os governos, com os partidos e, principalmente, com as práticas políticas vigentes. A utilização das redes sociais como ferramenta para convocar as manifestações foi um sucesso surpreendente. Não houve o envolvimento de partidos políticos, de organizações religiosas ou instituições da sociedade civil, como a OAB e a ABI, que no passado lideravam tais movimentos. Os analistas mais experientes se mostraram incapazes de prever, identificar e entender o estopim dessas manifestações e, principalmente, avaliar suas consequências. Aparentemente, os governantes e os políticos compreenderam o recado das ruas. Apreensivos, e de forma desordenada, procuram saídas. No entanto, a ausência da participação de grupos políticos ou de organizações estruturadas dificulta o entendimento e o diálogo. E a voz do campo? Como está o ânimo daqueles que trabalham duro em nossa agropecuária para fornecer alimentação farta e de qua-

lidade para os 200 milhões de brasileiros? O que pensam os heróis de nossa economia, que exportam mais de U$ 100 bilhões de dólares por ano e suportam o enorme déficit da balança comercial dos demais setores? O campo também está insatisfeito e tem suas reivindicações. O produtor rural sofre com a insegurança jurídica, a deficiente infraestrutura, o descompasso e a demora na implementação de políticas públicas para o setor. A questão indígena; os sistemas de transporte, armazenagem e exportação; as ameaças da legislação trabalhista, e os encargos do novo Código Florestal são alguns exemplos dos problemas que afligem e prejudicam o produtor rural. Nossa agricultura é uma das maiores e mais avançadas do planeta. Somos campeões em produtividade e sustentabilidade. O campo está colhendo a maior safra de toda a história do país, mas ainda não tem o reconhecimento que lhe é devido. Não bastam discursos empolgados e recursos destinados aos planos da safra 2013/14 para a agricultura empresarial, familiar e do semi-árido. A população das cidades acordou e foi para as ruas. Será que os homens do campo precisarão fazer o mesmo para serem ouvidos? *antonio Mello alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


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