Ano 03 - Número 11 - 2013 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
VICTOR OLIVA Empresário bem-sucedido cria cavalos da raça Lusitana
Tocantins
Incentiva pecuária
Kefyr:
O iogurte do século XXI
ISRAEL:
Alta produtividade no deserto
uma publicação da:
V
ictor Oliva, “ex-dono da noite” de São Paulo, é um bem sucedido empresário no ramo da publicidade e apaixonado pela raça Lusitana, considerada de “sangue quente”. São animais ágeis, inteligentes, mansos e facilmente adestráveis. Item importante na seleção é a beleza, e a raça é considerada como a primeira de cavalo de sela do mundo, com uma história comparável à do Puro Sangue Árabe. São animais muito valorizados no mercado. “Já vi Lusitano ser vendido na Europa por 800 mil euros”, afirma Victor Oliva em entrevista ao nosso correspondente em São Paulo, Paulo Roque e que é a matéria de capa desta edição. É revoltante e injustificável a grande mortalidade de animais como consequência da secular seca do Nordeste brasileiro e da não menos importante sede e subnutrição da população. Enquanto isso, o estado de Israel bate recordes mundiais de produção de leite em solo árido e temperatura permanentemente alta, graças ao investimento em alta tecnologia. O Tocantins vem conseguindo bons resultados na bovinocultura graças às boas condições de
solo, disponibilidade de água, de espaços planos e incentivos de diversas naturezas. A raça predominante é a Nelore. O Estado exporta carne para grande parte do Brasil e dispõe de sete frigoríficos bem estruturados. Os alimentos funcionais são assunto da moda pelos benefícios que comprovadamente podem causar à saúde do consumidor. O Kefir, um iogurte com os chamados probióticos, é objeto da pesquisa do cientista Marco Antonio Lemos Miguel, do Instituto de Biologia da UFRJ. O produto, considerado “o iogurte do século XXI” representa uma boa oportunidade de negócio para os empresários do ramo da alimentação. Em artigo muito bem fundamentado o economista agrícola Professor Fernando Roberto de Freitas Almeida explica a estrutura econômica da avicultura brasileira que é uma das mais bem sucedidas do mundo. Matéria interessante que o leitor encontrará nesta 11ª. Edição, além de várias outras, trata da criação e abate de jacarés para a produção de couro – muito valorizado no mercado internacional – e de carne.
Luiz Octavio Pires Leal Editor
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Diretoria executiva
Diretoria técnica
Antonio Mello Alvarenga Neto presidente
Francisco José Vilela Santos
Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente
Hélio Meirelles Cardoso
Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente
José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers
Joel Naegele 3º Vice-presidente
Ronaldo de Albuquerque
Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente
Sérgio Gomes Malta
Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto
Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho
COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979
Academia Nacional de Agricultura
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Cavalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso
Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Acervo Pessoal/Cedida Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial
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Tocantins incentiva investimento na pecuária
Kefir: o iogurte do século XXI
Tecnologia avançada aumenta a produtividade das vacas leiteiras em zonas áridas de Israel Top News
Leite orgânico pasteurizado começa a ser comercializado em Uberaba
Seleção em gado de corte: Combinando a máquina e o olho humano
Ciência e Tecnologia
Ovinocultura: caminho aberto para expansão no mercado
Empresário bem sucedido na área de marketing, Victor Oliva investe no Puro Sangue Lusitano
Criação de cavalos é negócio importante no Brasil
Economia Agrícola
Opinião: A Academia Nacional de Agricultura reúne a inteligência do agronegócio brasileiro
High tech na criação e abate de jacarés
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Tocantins
incentiva investimento na pecuária
Por: Lena
Borges, Welcton de Oliveira e Philipe Bastos
Estado novo e com terras férteis para a produção, o Tocantins vem despontando como possibilidade rentável para bons investimentos em agricultura e pecuária.
C
om a quinta maior reserva de água doce do país, o Estado do Tocantins possui solo fértil e plano (o que facilita a mecanização agrícola), além de clima favorável, com estações de chuva e sol bem definidas. Outro destaque da região é a incidência de luz solar que é bem superior à média nacional, fator que permite mais de uma safra por ano. Com grandes extensões de terra (27,8 milhões de hectares), o Tocantins conta com 7,5 milhões de hectares ocupados com pastagens, fator que permite que a pecuária seja um dos pilares da economia do Tocantins, com um rebanho de bovídeos de 8.090.760 milhões, segundo dados da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec). Dessa forma o Tocantins possui o terceiro maior rebanho da região Norte e o décimo do País, formado predominantemente pela raça Nelore.
Para o secretário de Estado da Agricultura e Pecuária, Jaime Café, vários fatores contribuem para esta realidade, como um considerável número de indústrias frigoríficas, agroindústrias de carnes e produtos não comestíveis (ração e couro), que asseguram a qualidade e segurança alimentar dos produtos.
Bovinocultura
A ovinocaprinocultura é outra atividade crescente no Tocantins. Estas criações proporcionam fácil manejo e bom retorno financeiro, visto que, no âmbito nacional, a demanda é maior do que a oferta por carne de caprinos e ovinos. Além disso, a possibilidade de criação em pequenas propriedades transforma a cultura em uma boa alternativa para investimento. De acordo com dados da Adapec, em 2012, o rebanho de ovinos e caprinos já somava 146.089 animais.
A bovinocultura representa a maior cadeia produtiva do agronegócio e a segunda atividade que mais exporta no Estado. O Tocantins comercializa carne para outros Estados como São Paulo, Goiás e Distrito Federal, e está habilitado para vender para mais de 130 países, proporcionando o envolvimento de mais de 64 mil famílias, com uma cadeia de negócios que conta com sete frigoríficos bem estruturados. No contexto de industrialização de produtores lácteos, são 36 laticínios com inspeção, que atualmente atendem o mercado nacional, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste do país. 6_Animal Business-Brasil
Boi verde O secretário ressalta ainda que, no Tocantins, a alimentação do rebanho está baseada nas pastagens, “boi a pasto”, o chamado Boi Verde. “Este modelo contribui de forma positiva para o crescimento das exportações em virtude do apelo ecológico, que vem ao encontro das exigências do mercado internacional”, reforça Jaime Café.
Ovino / caprinocultura
Avicultura Contando com abatedouros industriais, o Tocantins se insere no processo tecnológico
Arquivo Seagro
Pasto de qualidade garante o bom rendimento da criação
de produção de aves, estruturado em uma rede que envolve as regiões centro e corte do Estado, com mais de sete milhões (7.222.820) de aves comerciais e de subsistência, conforme dados de 2012 da Agencia de Desenvolvimento Agropecuário do Tocantins.
Exportações crescentes A economia tocantinense está assentada em um modelo expansionista de agroexportações e é marcada por seguidos recordes de superávits primários. Apenas no primeiro quadrimestre do ano, a pauta de exportação do Tocantins apresentou números que demonstram crescimento econômico baseado no comércio exterior de grãos e carne bovina. De acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Planejamento, cerca de 58% da exportação do Estado foi soja em grão e cerca de 29% em carne bovina, revelando a forte inclinação agropecuária da região. Ao contrário da balança comercial brasileira, que fechou o primeiro quadrimestre do ano no vermelho, o Tocantins teve um crescimento de
30% na diferença entre os volumes de exportação e importação. Entre janeiro e abril de 2013, o Estado exportou quase US$ 86,4 milhões a mais do que o valor registrado em importações. No acumulado do ano, já foram mais de R$ 168 milhões em produtos vendidos ao exterior. Em 2012 foram US$ 644.145.231,00. De acordo com o diretor de Sustentabilidade no Agronegócio da Secretaria da Agricultura e Pecuária, Corombert Leão, a carne representa para o Estado um ganho muito grande, pois seu valor agregado é muito superior ao da soja. Além disso, entre janeiro e março, período de escassez de soja no mercado, a venda de carne segurou a economia tocantinense no azul, no quesito exportação. “Nos primeiros meses de 2013, tivemos uma venda maior de carne. Já em abril, com a entrada da soja, o volume foi equiparado”, destacou. Principais importadores de produtos tocantinenses, China, Espanha e Rússia representam mais de 71% dos compradores. De acordo com os números do Ministério do Comércio Exterior, Animal Business-Brasil_7
Divulgação
os chineses são os que mais consomem nossos produtos, com um volume de cerca de US$ 60,3 milhões, enquanto os espanhóis compram US$ 32,7 milhões e os russos, US$ 28 milhões.
Sanidade
Arquivo Seagro
A uniformidade é meta sempre perseguida
Madson Maranhão
A ovinocaprinocultura é atividade crescente
Gado holandês
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Atualmente, o Estado conta com unidades locais, escritórios e delegacias da Agência de Defesa Agropecuária (Adapec) presentes nos 139 municípios, além de 30 barreiras fixas, 18 volantes e 10 fluviais, que faz o controle do trânsito de animais. Dessa forma, o Estado vem cumprindo rigorosamente as normas sanitárias estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde Animal, o que garante ao Tocantins o status de livre da aftosa com vacinação há 16 anos. A prova disso, é que nos últimos 10 anos o Estado atingiu os mais altos índices de cobertura vacinal, saindo do índice de 83,81% na primeira etapa em 1998 e alcançando em 2012, índice de 99,64% do rebanho na primeira etapa realizada em maio e 99,5% em novembro. “O Tocantins mantém um status sanitário que possibilita hoje a comercialização dos produtos cárneos para diversos países, isso, graças ao trabalho que o governo do Estado vem realizando em parceria com os produtores rurais, que permitiu o controle de várias doenças que podem afetar o rebanho”, destaca o presidente da Adapec, Marcelo Aguiar Inocente. Os resultados positivos alcançados na pecuária tocantinense têm um forte aliado – o produtor rural que, consciente de sua responsabilidade na manutenção do status sanitário, vem contribuindo significativamente para os índices vacinais contra aftosa. Para o senhor Epaminondas de Andrade, proprietário da Fazenda Vale do Boi, situada no município de Carmolândia, a 414 quilômetros de Palmas, o trabalho que o governo desenvolve para o controle da sanidade do rebanho é evidente nos resultados alcançados com o crescimento das exportações de carne e derivados. “O governo do Tocantins tem feito um excelente trabalho para proteger o nosso rebanho, por meio da realização de campanhas e de um processo de educação sanitária em todos os municípios. Isso demonstra o compromisso do produtor rural e do governo não só com a economia, mas, sobretudo com a saúde pública.”
Em 2012 a indústria cárnea produziu só para o consumo interno no Estado 20,4 milhões de quilos de carne, com abate de 119.481 animais nos frigoríficos com registro no SIE. Na área de laticínio, a produção de leite e derivados é garantida pelos 21 estabelecimentos com registro no serviço de inspeção estadual, todos inspecionados pela Adapec. Atualmente, a grande maioria do gado é criada de modo extensivo, ou seja, solto no pasto, e se destaca pela qualidade da carne, produzida sob o manejo natural. Para atender a demanda de consumo de carne no mercado interno e externo, o Estado conta com sete frigoríficos registrados no Serviço de Inspeção Federal – SIF e seis com registro no Serviço de Inspeção Estadual – SIE.
Incentivos fiscais Além das vantagens de uma natureza rica, o Governo do Tocantins atrai investidores com diversos programas de incentivo fiscal, que reduzem impostos para a instalação e expansão de indústrias e para o comércio de carne, frutas, pescado, atacadista e o setor de mineroquímica. Como exemplo, a Lei nº 1.695, de 13 de junho de 2006, que tem como finalidade beneficiar empresas estaduais. Para abatedouros e frigoríficos com o objetivo de desenvolver a produção de carnes; incentivo à industrialização do couro; estímulo à exportação do produ-
O estado do Tocantins já é um importante centro de produção e exportação de carne bovina e apresenta uma série de vantagens para os investidores to local, a carga tributária do ICMS é de 3% nas operações internas e contribuição de 0,3% (s/ faturamento mensal), ao Fundo de Desenvolvimento Econômico. Outro grande incentivo é a boa malha viária federal e estadual que facilita o escoamento da produção tocantinense. E agora, com a implantação da Ferrovia Norte-Sul, a expectativa é ainda maior já que a obra levará a produção até o Porto de Itaqui, o porto brasileiro mais próximo dos mercados da Ásia, África e Europa, além da possiblidade de envio para os portos de Belém, no Pará.
Desenvolvimento sustentável O Tocantins sai na frente quando o assunto é o Programa ABC - Agricultura de Baixo CarboArquivo Seagro
Produção
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Arquivo Seagro Simara Cavalcante
Abate sob inspeção federal
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Vacinando Aldemir dos Anjos
no. O Estado é o primeiro em número de contratos de financiamentos firmados por meio do programa na região Norte do país. De julho de 2012 a abril de 2013, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) registrou 376 empréstimos por produtores do Tocantins, totalizando R$ 96.171.000,00. O recurso é voltado para adoção de tecnologias que visem recuperação de pastagens degradadas, integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto, florestas plantadas, entre outros. Após a realização da ‘Oficina de Planejamento do Plano ABC’, em novembro de 2012, o Tocantins passou a integrar o seleto grupo dos Estados que já aderiram ao programa do Mapa. Com isso, o Tocantins assumiu uma posição de liderança por também ter sido um dos primeiros a estruturar o Comitê Estadual do Programa ABC, com seminário de sensibilização realizado no ano passado. De acordo com Fernando Garcia, responsável setor de Desenvolvimento Tecnológico da Secretaria da Agricultura e Pecuária, “o plano ABC vem ao encontro das políticas do Governo do Estado que é melhorar a eficiência produtiva para uma baixa emissão de gases do efeito estufa. O aperfeiçoamento dessa eficiência produtiva melhora também a condição de vida do homem que esse é o objetivo maior”, explicou Garcia. O assessor também destacou a participação ativa das instituições nas discussões para traçar as metas e diretrizes para a execução das ações. “Por se tratar de metas em longo prazo, até 2020, essas diretrizes podem ser reajustadas. Mas a princípio, o plano é plausível”, explica Fernando Garcia.
Grupo recebendo instruções sobre o programa ABC
Programa ABC O Programa ABC promoverá a redução das emissões de carbono através do incentivo a processos tecnológicos que neutralizam ou minimizam o impacto dos gases de efeito estufa no campo, com metas e resultados previstos até 2020. Além de estimular os investimentos necessários para a incorporação de tecnologias de baixa emissão de carbono no processo produtivo, o programa também promove ações que permitam ao produtor realizar a regularização ambiental de sua propriedade. Outras metas do programa são estimular a redução do desmatamento de florestas e incentivar a implantação e sistemas produtivos ambientalmente sustentáveis.
Cultura de microrganismos em placa de Petri
Kefir:
o iogurte do século XXI Por: Marco
Antonio Lemos Miguel e Analy Machado Leite, pós-doutoranda – Instituto d Microbiologia da UFRJ
Uma oportunidade de negócio para um produto com ação terapêutica comprovada
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K
efir é um leite fermentado produzido pela ação de bactérias e leveduras que existem em associação simbiótica e compõem os grãos de kefir. A produção artesanal da bebida kefir fundamenta-se na tradição dos povos do Cáucaso, difundida para outras partes do mundo, a partir no final do século passado, integrando suas indicações nutricionais e terapêuticas ao cotidiano alimentar atual. O grande número de microrganismos presentes no kefir, a variabilidade de possíveis compostos bioativos e os vários benefícios associados ao seu consumo fazem com que esta bebida seja considerada um probiótico natural, designado como o iogurte do século XXI. Vários estudos têm demonstrado que o kefir e seus constituintes possuem atividade antimicrobiana, antitumoral, anticarcinogênica, imunomoduladora, melhora da digestão da lactose, entre outras.
Origem A palavra kefir é derivada do turco keyif, que significa “sentir-se bem” após sua ingestão. A bebida é originária das montanhas do Cáucaso, e é um produto tradicional e altamente consumido na Europa Oriental, Rússia e sudoeste Asiático. Atualmente, relata-se um aumento de seu consu-
Controle microbiológico das amostras 12_Animal Business-Brasil
mo em vários países, devido às suas propriedades sensoriais únicas e sua longa história associada aos efeitos benéficos à saúde humana.
No Brasil No Brasil, o conhecimento desta bebida, bem como os benefícios da inclusão deste alimento probiótico na dieta, não são muito difundidos, e sua fabricação é exclusivamente artesanal. O kefir é caracterizado por sabor e aroma distintos, típicos de levedura e um efeito efervescente sentido na boca. Os principais produtos da fermentação no kefir são ácido lático e CO2, que conferem viscosidade e acidez. Compostos minoritários também podem ser encontrados, incluindo, etanol, diacetil, acetaldeído, aminoácidos livres e acetato, contribuindo para a composição do sabor e aroma. Esta bebida difere de outros produtos lácteos fermentados porque não é resultado da atividade metabólica de uma única espécie.
Grãos Os grãos desempenham papel de cultura fermentadora durante a produção do kefir e são recuperados após o processo de por coagem
Produção
Grãos de Kefir
do leite. Estes grãos são compostos por uma microbiota imobilizada em uma matriz de polissacarídeo e proteína, onde várias espécies de bactérias e leveduras coexistem em associação simbiótica. Neste ecossistema, há uma população de microrganismos relativamente estável, que interage e influencia outros membros da comunidade. Esta população determina a síntese de metabólitos bioativos, que são essenciais para o crescimento dos grãos e inibição de microrganismos, como microrganismos nocivos e contaminantes do alimento. Os grãos de kefir variam em tamanho de 0,3 a 3,0 cm de diâmetro, são caracterizados por uma superfície irregular, multi-lobular, unida por uma seção central única, e sua cor varia do branco ao branco amarelado (Figura 1). Os grãos são elásticos, e possuem textura viscosa e firme.
Há três maneiras principais de produção do kefir: (1) artesanal; (2) comercial pelo método russo e (3) comercial com culturas puras. Outros substratos também podem ser utilizados como leite de outras espécies animais, leite de coco, leite de soja, suco de frutas e solução de açúcar e melaço. A produção artesanal tradicional envolve a inoculação do leite com uma quantidade varável de grãos, e a fermentação por um período de entre 18 e 24 horas à de temperatura de 25º C. No final da fermentação os grãos são peneirados e podem ser utilizados para uma nova fermentação, ou conservados durante um a sete dias em leite fresco, enquanto que o kefir é estocado à 4º C, pronto para o consumo. O segundo método, conhecido como “método russo”, permite a produção de kefir em maior escala e utiliza fermentações em série a partir do percolado resultante da primeira fermentação com os grãos (sem a cultura mãe) No processo industrial de produção do kefir, diferentes métodos podem ser utilizados, mas baseiam-se no mesmo princípio. O leite é inoculado com culturas puras isoladas de grãos de kefir ou culturas comerciais. A etapa de maturação pode ser realizada ou não, e consiste em manter o kefir à 8-10°C por até 24h, de forma a permitir o crescimento dos microrganismos, principalmente das leveduras que contribuem para sabor específico do produto. A omissão desta etapa está associada ao desenvolvimento de sabor e aroma atípicos no kefir.
Figura 2 – Esquema de produção de kefir artesanal. 1 – Grãos de kefir; 2 – Grãos inoculados em leite; 3- Coagem dos grãos após 24 h de fermentação a 25°C; 4- Bebida kefir pronta para consumo.
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Embora, a bebida comercial esteja disponível em muitos países, nem sempre todas as propriedades do kefir tradicional estão presentes.
Os vários benefícios associados ao seu consumo fazem com que essa bebida seja considerada um probiótico natural
Padronização O uso de culturas comerciais pode padronizar a produção comercial do kefir, se a seleção de espécies e estirpes de leveduras e bactérias for realizada de forma rigorosa e, possibilitando produção de uma bebida “tipo kefir”, com sabor e aroma aceitáveis e boas propriedades de conservação. A bebida comercial pode ter um prazo de validade de até 28 dias, enquanto que recomenda-se que o kefir produzido com os grãos seja consumido entre 3 a 12 dias. No entanto, o produto “tipo kefir” pode não apresentar as mesmas propriedades terapêuticas e probióticas presentes no kefir tradicional. O desenvolvimento de uma bebida “tipo-kefir” não é a única aplicação industrial. Grãos de kefir também já foram estudados quanto à produção de células ricas em proteínas (Single cell protein – SCP) na bioconversão de soro de queijo e aplicação destas proteínas na indústria de alimentos, a fim de melhorar as características sensoriais dos produtos.
Falhas As principais falhas na fabricação do kefir podem ser atribuídas ao sabor e aroma desagradáveis, típicos de levedura. O último pode ser causado pela rápida multiplicação de Sacharomyces cerevisiae, a levedura da cerveja, acompanhado por um aroma típico de vinagre (48). A produção excessiva de ácido acético pode influenciar o aroma do kefir, e ocorre devido ao intenso crescimento de Acetobacter spp. ou presença de Dekkera spp. nos grãos. Um sabor amargo no kefir pode ser causado por fungos como Geotrichum candidum e/ou atividade de algumas leveduras atípicas que podem estar presentes no produto.
Aspectos terapêuticos
Técnico controlando a qualidade do produto 14_Animal Business-Brasil
Historicamente o kefir tem sido recomendado para tratamento de vários quadros clínicos como problemas gastrointestinais, hipertensão, alergia e doença cardíaca isquêmica, porém, a variabilidade inerente às condições utilizadas na produção do kefir em diferentes ensaios, dificulta a comparação entre os resultados científicos relatados. Fermentações a partir de vários nutrientes com grãos têm sido avaliadas, e uma grande variedade de compostos bioativos tem sido encontrada como ácidos orgânicos, CO2, H2O2, etanol, peptídeos bioativos, exopolissacarídeos (kefiran), e antibióticos naturais. Estes compostos podem agir independentemente ou em conjunto para produzir os vários benefícios à saúde atribuídos ao consumo de kefir. Santos e seus colaboradores observaram o comportamento antagônico dos isolados de lactobacilos de grãos de kefir contra as bactérias
causadoras de doenças alimentares: Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Salmonella, Shigella e Yersinia. Em outra pesquisa, Silva e colaboradores observaram inibição da levedura Candida albicans e das bactérias Salmonella, Shigella, Staphylococcus aureus e Escherichia coli por kefir cultivado em açúcar mascavo. Já Chifiriuc e seus colaboradores observaram que todos os leites fermentados com grãos de kefir apresentaram atividade antimicrobiana contra Bacillus subtilis, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Eenterococcus e Salmonella, mas não inibiram Pseudomonas aeruginosa e Candida albicans. Todos estes estudos indicam que a atividade antimicrobiana do kefir está associada à produção de ácidos orgânicos, antibióticos naturais, dióxido de carbono, água oxigenada, etanol e diacetil. Estes compostos podem exercer efeitos benéficos, não só na redução de patógenos alimentares e bactérias deterioradoras, durante a produção do alimento e estocagem, mas também no tratamento e prevenção de gastroenterites e infecções vaginais. Além disso, a atividade antimicrobiana do polissacarídeo kefiran, também foi comprovada contra bactérias e a levedura Candida albicans. A atividade cicatrizante do kefir e do kefiran em camundongos foi evidenciada após sete dias de tratamento com gel de kefir, assim como a atividade anti-inflamatória sobre modelo de indução de tecido granulomatoso e contorções abdominais induzidas por ácido acético, em camundongos. Huseini e seus colaboradores comprovaram a atividade cicatrizante em queimaduras infectadas com Pseudomonas aeruginosa, em camundongos.
Ação no trato gastrintestinal O efeito provocado pelo consumo de kefir na composição da microbiota intestinal pode ser devido a uma combinação de fatores, como: inibição direta de micróbios nocivos pela produção de ácidos e antibióticos naturais, além da exclusão competitiva destes agentes nocivos na mucosa intestinal. Segundo Marquina e colaboradores, o consumo de kefir aumentou significativamente as contagens de bactérias láticas (benéficas ao corpo) na mucosa intestinal e reduziu a população de enterobactérias e clostrídios. Além disso, preveniu a colonização de Campylobacter jejuni no ceco de pintos, e foi eficaz no tratamento pós-operatório e em pacientes com desordem gastrintestinal.
Na Rússia, o kefir tem sido utilizado por pesquisadores no tratamento de pacientes com úlcera péptica no estômago e duodeno.
Efeitos anticarcinogênicos O papel anticarcinogênico exercido por produtos lácteos fermentados pode ser atribuído, de maneira geral, à prevenção de câncer e supressão de tumores iniciais, pelo retardo das atividades enzimáticas, que convertem compostos potencialmente causadores de câncer em causadores, ou pela ativação do sistema imune. Kubo e seus colegas reportaram a inibição da proliferação do tumor ascítico de Ehrlich, transplantado subcutaneamente, em camundongos. Liu e seu grupo de pesquisas observaram inibição do crescimento tumoral em camundongos, indução da lise celular por apoptose do tumor e aumento significativo dos níveis de anticorpos do tipo IgA, sugerindo potencial antitumoral da bebida e promotor da resistência da mucosa a infecções intestinais. Os pesquisadores Guven e Gulmez relataram que camundongos tratados com kefir, apresentaram maior efeito protetor contra os danos induzidos pelo tetracloreto de carbono, indicando que o kefir pode agir como antioxidante.
Estimulação do sistema imune Durante o processo de fermentação ou digestão, a formação de peptídeos bioativos, tem mostrado uma variedade de atividades fisiológicas, incluindo a estimulação do sistema imune, em modelos animais. Thoreux e Schmucker após alimentar camundongos com kefir, observaram um aumento da resposta imune específica de mucosa (anticorpos do tipo IgA) contra a toxina da cólera. A estimulação do sistema imune também pode ocorrer devido à ação de exopolissacarídeos encontrados nos grãos de kefir. Medrano e seus pesquisadores observaram que o kefiran foi capaz de modificar o equilíbrio das células imunes na mucosa intestinal. Vinderola e seus colegas demonstraram a capacidade de imunomodulação de kefir, na resposta imune da mucosa intestinal de camundongos. A administração de kefir também induziu a resposta na mucosa intestinal, sugerindo que componentes do kefir podem estimular células do sistema imunológico inato, suprimindo resposta imune do fenótipo Th2 ou promovendo respostas imunes Animal Business-Brasil_15
mediadas por célula, contra tumores e infecções de patógenos intracelulares. Recentemente, Hong e colaboradores mostraram in vitro, a capacidade imunomoduladora de bactérias láticas isoladas de grãos de kefir, sugerindo sua influência na secreção de citocinas pro-inflamatórias.
Redução do colesterol Os possíveis mecanismos propostos para a atividade hipocolesterolêmica de bactérias láticas podem envolver a inibição de absorção de colesterol exógeno no intestino delgado, pela ligação e incorporação do colesterol com células bacterianas, assimilação do colesterol, bem como uma supressão da reabsorção dos ácidos biliares, pela desconjugação enzimática dos sais biliares, promovida pela enzima bacteriana Hidrolase biliar. Wang e colaboradores observaram uma redução significativa nos níveis séricos de colesterol total, lipoproteínas de baixa densidade (LDL-C) e triacilgliceróis, enquanto que não houve mudança no nível de lipoproteínas de alta densidade (HDL-C), em camundongos alimentados com dieta rica em colesterol, suplementada com Lactobacillus plantarum. Além disso, o colesterol total e triacilgliceróis do fígado também foram reduzidos. Já o colesterol e triacilgliceróis das fezes dos animais aumentaram significativamente. Em outro estudo, também foi observado uma redução dos níveis séricos de triacilglicerol e colesterol, principalmente da fração não-HDL-C. Um resultado contraditório foi relatado por St-Onge e seus colegas, onde o consumo de kefir não reduziu os níveis de colesterol total, LDL-C, HDL-C ou triglicerídeos, mas aumentou as concentrações de ácidos isobutíricos, isovaléricos e propiônicos, assim como, a quantidade total de ácidos graxos de cadeia curta, nas fezes.
Intolerância à lactose A capacidade de redução na concentração de lactose e presença de atividade ß-galactosidase, em produtos lácteos fermentados, os tornam adequados para consumo por pessoas classificadas como intolerantes à lactose. Já foi demonstrado que alguns grãos de kefir possuem atividade da enzima ß-galactosidase, que se mantém ativa quando consumida e que o kefir contém menos lactose que o leite. Um kefir comercial mostrou-se tão efetivo quanto o iogurte 16_Animal Business-Brasil
Professor Marco Antonio Lemos Miguel
na redução de hidrogênio expirado e flatulência em adultos intolerantes à lactose, quando comparado à ingestão de leite. de Vrese e pesquisadores mostraram que porcos alimentados com kefir, apresentaram um aumento significativo, nas concentrações plasmáticas de galactose, sugerindo melhora da hidrólise intestinal da lactose, pela enzima ß-galactosidase microbiana.
Em resumo O kefir tradicional é um exemplo da coexistência de bactérias e leveduras e a importância desta relação simbiótica parece clara, uma vez que é necessária para produção de compostos benéficos para saúde. Embora as evidências não possam ser conclusivas e mais estudos devam ser conduzidos, os já realizados comprovam os benefícios para a saúde relatados empiricamente pelo seu consumo histórico. Atualmente, a aplicação de probióticos na indústria de alimentos está em franca expansão e o entendimento das relações simbióticas entre diferentes microrganismos presentes neste alimento, assim como, estas interações poderiam auxiliar na melhoria dos processos tecnlógicos. A qualidade do kefir tradicional é principalmente influenciada por microrganismos presentes nos grãos e condições de processamento. Embora cientistas e indústrias de alimentos tentem desenvolver uma bebida “tipo-kefir” elaborada por diferentes culturas comerciais de bactérias láticas, ou até mesmo culturas puras isoladas de grãos de kefir, seu sucesso quando comparado ao kefir tradicional é limitado. Porém, do ponto de vista industrial, estes desenvolvimentos são bem-vindos, face à dificuldade de padronização na produção e comercialização do kefir tradicional.
Leite orgânico
pasteurizado começa a ser comercializado em Uberaba
Rubio Marra
É leite de vacas zebu e a tecnologia foi desenvolvida pela FAZU-Faculdades Associadas de Uberaba(MG)
Animal Business-Brasil_17
A
s raças escolhidas foram a Gir e a Indubrasil, esta, em menor quantidade, mas todos os animais participam do controle leiteiro oficial da ABCZ. A produção de apenas 100 litros de diários usados no desenvolvimento desse novo tipo de leite é ainda pequena mas suficiente para iniciar um novo capítulo da produção no Brasil, com um produto supostamente de grande futuro comercial. O processamento inicial do novo leite orgânico está sendo feito pelo Núcleo de Engenharia de Alimentos da FAZU.
Rubio Marra
Luana Barros, que coordenou o projeto, explica que o leite orgânico é um produto es-
18_Animal Business-Brasil
pecial uma vez que as vacas são criadas num sistema natural, recebendo exclusivamente alimentação orgânica e – nos casos em que isso foi necessário- tratamento com medicamentos fitoterápicos e homeopáticos. O futuro dirá, depois de experiências em maior escala, qual a viabilidade econômica da produção e a aceitação pública desse novo produto. Mas a realidade é que existe uma tendência universal e crescente para a utilização, pelo consumidor, de alimentos orgânicos, ou seja, daqueles em cuja produção e conservação sejam dispensados os produtos químicos que, cada vez mais, são apontados como responsáveis ou co-responsáveis por uma série de doenças do consumidor.
Rubio Marra
Existe uma tendência universal e crescente para a utilização, pelo consumidor, de leite orgânico
Desenvolvimento O Projeto de Leite Orgânico de Zebu começou em 2011, graças à parceria estabelecida entre a FAZU, ABCZ e o pecuarista José Henrique Fugazzola Barros e sua ilha Luana Barros. Além de ceder os animais para a pesquisa, o pecuarista colaborou na construção do curral e da sala de ordenha, sob a orientação do professor de zootecnia da Faculdade, Alexandre Bizinoto, visando principalmente o bem-estar dos animais. Foram separadas para o Projeto pastagens de boa qualidade e delimitação das áreas de agricultura e reforma do pasto. O solo de parte da Fazenda-Escola da FAZU foi preparado para plantio de sorgo, destinado à silagem, cana de açúcar, capineira, mandioca, café (como barreira sanitária),plantas medicinais, horta e espécies frutíferas.
Legislação As vacas zebuínas que participaram do Projeto foram alimentadas e manejadas de acordo com as determinações legais impostas para a produção de leite orgânico, vigentes no País. Num sistema de produção de leite orgânico, além do manejo ser feito sem o uso de antibióticos, hormônios, vermífugos, promotores de crescimento, estimulantes do apetite, ureia e demais aditivos, o pecuarista precisa estar comprometido com a preservação do meio ambiente e também propiciar condições adequadas de trabalho para os seus empregados.
Referência Além de uma referência no assunto produção orgânica de leite, o Projeto oferece uma excelente oportunidade de demonstração para os alunos dos cursos de agronomia, de zootecnia e de engenharia de alimentos da Faculdade. especialmente em relação à sustentabilidade da atividade e da propriedade rural. Animal Business-Brasil_19
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Lombo de salmão fatiado sem conservantes A Frescatto, empresa especializada em pescados, desenvolveu, através do seu setor de pesquisas, um novo produto denominado lombo de salmão fatiado. Preparado sem conservantes, é defumado em processo especial em que são utilizadas madeiras nobres. O produto, que já vem pronto para consumo e pode ser utilizado em vários pratos, foi apresentado nas ASPAS 2013, maior feira supermercadista do mundo, realizada em maio no Estado de São Paulo.
Sorvete rico em fibras, com menos açúcar e gorduras Desenvolvido pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, em Piracicaba (SP), o sorvete é feito à base de um preparado lácteo em pó, rico em linhaça e FOS (prebiótico). Com menos açúcar e gorduras e com sabor de mangaba, fruta típica do Brasil, o sorvete possui alto teor de fibra alimentar, cálcio e vitaminas e consideráveis teores de proteína e vitamina C.
Criador faz uso de robô para ordenhar vacas Armando Rabbeas, proprietário da fazenda Santa Cruz de Baixo, na região de Castro, no Paraná, passou a fazer uso, pela primeira vez no Brasil, de um robô para “tirar” leite das vacas do seu plantel. O equipamento, desenvolvido pela empresa De Laval, é dotado de um braço robótico que escaneia, com laser, as tetas e insere uma substância para higienizá-las. Logo após, coloca os sugadores e começa a ordenha. Enquanto isso, o animal recebe alimentação na quantidade estipulada pelo veterinário em computador. Por fim, faz a limpeza das tetas e a remoção dos resíduos pós-ordenha.
20_Animal Business-Brasil
Novo alimento promete revolucionar dieta de equinos no Brasil Testado e aprovado por uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, chefiada pelo professor Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso, surge um novo alimento para equinos denominado Feno Enriquecido Extrusado (FEE). Trata-se de um produto constituído de capim verde, milho e farelo (concentrado) e minerais. Similar, em aparência, a uma ração de equinos, o FEE é produzido através de um processo de peletização com prensagem. “O produto reúne, em sua composição, as três frações usadas tradicionalmente na alimentação de equinos, o que é inédito no Brasil e no mundo”, diz Gobesso. Segundo ele, o novo feno é uma dieta completa para equinos, esclarecendo que rações enriquecidas extrusadas já existem no mercado, mas são direcionadas para outros animais, como bovinos e caprinos.
Abrigo móvel reduz mortalidade de bezerras Aperfeiçoado na Embrapa Pecuária Sudeste, o abrigo é um alojamento individual para bezerras em fase de aleitamento. Sua principal vantagem é que oferece meios para redução da mortalidade de animais, um sério problema enfrentado pelos criadores. O abrigo dispensa o uso de cama ou estrado, utilizado no bezerreiro coletivo, devido à facilidade com que pode ser transferido de um local para outro, evitando a umidade provocada pelo acúmulo de fezes e urina. A bezerra é mantida presa por corrente e coleira, o que facilita o manejo e a condução do animal.
Pecuarista desenvolve raça bovina de corte A raça foi desenvolvida pelo pecuarista Raul Almeida Moraes Neto, proprietário da Fazenda Santa Rita, em Torixoréu, Mato Grosso, com o auxilio do geneticista Gismar Silva Vieira. A nova raça, batizada de Araguaia (em alusão ao rio do mesmo nome que passa por Torixoréu), é resultado de cruzamentos entre as raças Nelore (originária da Índia), Caracu e Blonde D’Aquitaine (ambas europeias). De pelagem clara e adaptada ao clima seco e quente de Mato Grosso, a raça tem como base de sua alimentação pastagens de capins. Características importantes da Araguaia: as fêmeas entram em reprodução mais cedo (entre 14 e 18 meses) e os machos são abatidos em até um ano. Mato Grosso possui o maior rebanho bovino de corte do pais.
Língua eletrônica diferencia padrões básicos de paladar do leite de vaca Trata-se de um sensor gustativo para avaliação de bebidas, entre elas o leite de vaca. Desenvolvido pela Embrapa Instrumentação Agropecuária (São Carlos-SP) em parceria com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o aparelho – denominado língua eletrônica – permite, com rapidez, precisão e simplicidade, diferenciar os padrões básicos de paladar do produto, como: doce, salgado, azedo e amargo, em concentrações abaixo do limite de detecção do ser humano. Além disso, detectar a presença de substâncias nocivas à saúde, como, por exemplo, contaminantes químicos. Animal Business-Brasil_21
Empresรกrio bem sucedido na รกrea de marketing, Victor Oliva investe no Puro Sangue Lusitano Paulo Roque
Terri Miller
Por:
22_Animal Business-Brasil
O empresário Victor Oliva conta sua trajetória como criador de uma das mais nobres raças de cavalo. De um pequeno sítio no interior paulista a uma coudelaria, referência mundial na formação de campeões
Animal Business-Brasil_23
C
É considerado por muitos pesquisadores como a primeira raça de sela do mundo, tendo sido utilizada em combates pelos exércitos de Esparta e do Império Romano, entre outros. Raça milenar, com história comparada à dos cavalos Puro Sangue Inglês e o Puro Sangue Árabe, que por milênios mantiveram seu padrão básico: coragem, resistência e agilidade, entre outras características. Os animais Puro Sangue Lusitano encontram no mercado brasileiro e internacional uma valorização muito grande, comparável a poucas raças.
Cobalto
Terri Miller
Primeira raça de sela
Terri Miller
onsiderado um cavalo nobre, de “sangue quente”, porém dócil, ágil e corajoso, o Puro Sangue Lusitano conquista, cada vez mais, destaque nas competições equestres, principalmente no Brasil, onde muitos criadores vêm apostando na aptidão do animal para estas atividades. Entre eles, destaca-se o empresário da publicidade Victor Oliva, proprietário da Coudelaria Ilha Verde, localizada em Araçoiaba da Serra (SP), reconhecida mundialmente como grande criadora e formadora dos chamados “cavalos atletas”. Além das habilidades esportivas, uma das características da raça que logo chama a atenção é a beleza, considerado um item importante entre os segmentos do mercado do Lusitano. “É um cavalo muito bonito e extremamente manso para montaria. Ao mesmo tempo é ótimo para as lidas da fazenda e para correr pasto. É um cavalo que, costumo dizer, bom para várias coisas. É preciso conhecer o Lusitano. Quando você o conhece, fica apaixonado”, diz Oliva.
Mercado Na opinião de Victor Oliva o mercado está num ótimo momento e destaca o trabalho realizado por Orfeu Ávila à frente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Puro Sangue Lusitano na divulgação e valorização da raça. “Tem potros, estou falando só de animais bons, avaliados em R$10 mil; tem cavalo montado com preço inicial em torno de R$ 25 mil. Já vi Lusitano ser vendido, na Europa, a 800 mil euros”, esclarece Oliva, destacando também o potencial do mercado de sêmen: “Vendo muitas doses de sêmen dos meus garanhões. O 24_Animal Business-Brasil
Victor Oliva com Puros Sangue Lusitano
Já vi Lusitano sendo vendido na Europa por 800 mil euros (Victor Oliva)
preço varia, de acordo com os animais, entre R$ 3 mil e R$ 10 mil”. Os países com o maior número de animais e reprodutores atualmente são Portugal e Brasil, sendo os Estados Unidos um dos maiores compradores de cavalos dessa raça, que encontra a maioria de seus interessados na costa Oeste, no estado da Califórnia. Além desses países, existem plantéis expressivos no México, Canadá, França e Inglaterra, entre outros. Para Oliva, o Puro Sangue Lusitano ainda não é conhecido como deveria, porque “para muitos ainda é o cavalo do circo, o cavalo da tourada e isso não é verdade. É um cavalo com muito mais potencial. Só quem monta um animal da raça passa a entender”.
Cinturão do cavalo Localizada na privilegiada região de Sorocaba, conhecida como “cinturão do cavalo” no Estado de São Paulo, a Coudelaria Ilha Verde ocupa, hoje, uma área de 54 alqueires, 35 dos quais destinados ao pastoreio. São vinte os piquetes formados por Tifton 85 destinados aos animais do plantel, 95% deles “ferro VO”. A infra-estrutura conta com três pavilhões de cocheiras com 60 baias, três pistas de Adestramento (20m x 60m), uma pista coberta (20m x 40m), uma pista para treinos de Equitação de Trabalho e Salto (70m x 80m), e dois redondéis, um deles mecanizado. Também faz parte da área construída a sede e casas de funcionários, dez deles dedicados exclusivamente ao manejo e treinamento dos cavalos.
Porte e marcha de rara beleza, o Puro Sangue Lusitano desperta a atenção logo no primeiro olhar. Daí para a paixão é um pulo. O relato de Oliva comprova isso: “Essa paixão começou quando eu vi o cavalo pela primeira vez e o achei muito bonito, muito dócil, um cavalo apaixonante. Foi amor à primeira vista”. No início dos anos 1990, Oliva, à época casado com Hortência Marcari, heroína do basquete brasileiro, desfrutava do seu “rancho Ilha Verde”, em Araçoiaba da Serra, no interior paulista, como lugar de refúgio nos fins de semana. Criar animais não fazia parte dos planos até que Oliva ganhou de presente do publicitário Eduardo Fischer uma égua Puro Sangue Lusitano. A égua acabou morrendo, e com o dinheiro do seguro, Oliva, que já tinha se encantado pela raça, partiu para novas aquisições, no Brasil e em Portugal. Aos poucos o rancho foi ganhando ares de haras. Pavilhões de cocheiras foram erguidos. Pastos divididos em piquetes; implantadas pastagens adequadas à criação de cavalos, iniciada oficialmente em 1992. Cada etapa era acompanhada com entusiasmo, e em homenagem a Portugal, o empresário também adotou o nome coudelaria. Hoje, o plantel é formado por 80 animais. “Era um pequeno sítio que eu tinha. E, aí, eu passei a gostar do cavalo, comprei umas éguas e foi assim que tudo começou. Já faz 21 anos que estou criando essa raça. E a paixão só aumenta, só complica”, relembra Victor Oliva em tom de brincadeira.
Terri Miller/Divulgação
Paixão
Nilo VO (cavalo que formou conjunto com Roger Clementino em várias conquistas, entre elas a medalha de bronze por equipe nos Jogos Panamericanos do Rio 2007 e membro da equipe nas olimpíadas de Pequim 2008). O Antonio também competiu com esse animal que, hoje, está emprestado para a amazona Gabriela Fischer, filha do publicitário Eduardo Fischer. Animal Business-Brasil_25
Julia Entscher
Empolgação Victor Oliva confessa que os responsáveis por essa empolgação com o Puro Sangue Lusitano, que o levou a investir na preparação de animais para competição, foram seus dois filhos, João Vitor e João Antonio e um funcionário da coudelaria, Roger, que começaram a montar e a fazer provas de adestramento. “E, aí, você quer mais, mais e mais resultados, melhor isso, melhor aquilo e o negócio andou. Eles começaram a participar de campeonatos brasileiros, nas hípicas, campeonatos nos clubes, em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Meu filho
Terri Miller
Dois Lusitanos de pelagem “Isabel” da Coudelaria Ilha Verde
Sede
26_Animal Business-Brasil
maior foi cinco vezes campeão brasileiro, o menor quatro vezes campeão brasileiro, o outro menino que trabalha comigo foi parar na Olimpíada com um cavalo meu e, aí, me apaixonei de uma vez. Havia talento, havia potencial”, conta orgulhoso.
Oliva optou pela seleção de animais que se destaquem pela elegância, mansidão e versatilidade atlética
Lusitanos “ferro VO”
te mercado externo. Para tanto, cada animal é tratado como um “indivíduo”, de maneira que seu potencial possa ser observado e suas peculiaridades exploradas. Desta “receita” têm nascido produtos excepcionais, com resultados nas pistas e na reprodução. Anualmente, eles são apresentados ao mercado no tradicional Leilão Internacional Luso-Brasileiro, realizado desde 1997.
Competição
Vista geral do pavilhão de cocheiras
Julia Entscher/Divulgação
Em 2003, a Coudelaria Ilha Verde começou a marcar presença nas pistas de competição, inicialmente na Equitação de Trabalho, representada por Rogério Silva Clementino e Nilo VO, mas foi no Adestramento Clássico, a partir de 2006, que o conjunto levou o nome do criatório a ser conhecido internacionalmente pela conquista da medalha de bronze por equipe
Terri Miller
Criando com rigor desde a primeira safra de animais, e incorporando a marca “ferro VO” para identificar sua criação, Victor Oliva se decidiu pela seleção de produtos que se destaquem pela elegância, mansidão e versatilidade atlética, sem abrir mão da milenar genética do Puro Sangue Lusitano, conhecido mundialmente por sua contribuição na formação de várias raças, inclusive as brasileiras. Na base do plantel, a Coudelaria Ilha Verde contou com animais “garimpados” nos principais haras portugueses e brasileiros, e em 2006 ganhou reforço com a chegada da tropa selecionada pelo cineasta Jayme Monjardim. O tripé da seleção se baseia na genética, aptidão e manejo. Oliva está em constante busca por animais diferenciados, moldados para o lazer, mas que revelem notória vocação atlética. Os cavalos com “ferro VO” são desenvolvidos para atender às necessidades da criação nacional e também o exigen-
Animais no pasto
Animal Business-Brasil_27
Terri Miller
Animais em liberdade
Ney Messi
Ney Messi/Divulgação
nos Jogos Pan-americanos do Rio 2007, e por integrar a equipe brasileira nas Olimpíadas de Pequim 2008. Nilo VO, aliás, foi o primeiro Lusitano nascido no Brasil a fazer parte de uma equipe pan-americana e olímpica. Depois das Olimpíadas, Nilo VO foi destinado aos irmãos Marcari Oliva. João Victor estreou nas pistas em 2008, e Antonio Victor em 2009. Hoje, eles, Rogério Clementino, Everton Yale Cavalaro e Julia Nemr integram o Ilha Verde Team, a equipe mais premiada e bem estruturada de Adestramento no País. O sonho de produzir um novo conjunto olímpico tem sido o objetivo da Coudelaria Ilha Verde. A tarefa é árdua, e o trabalho de uma equipe multidisciplinar, com participação de profissionais de várias áreas, do Brasil e do exterior, tem sido uma constante.
Roger Clementino e Nilo VO
Assessoria
Hortência ao lado dos dois filhos em 2009, quando Antonio (à esquerda), conquistou o primeiro título de seus três títulos de campeão brasileiro 28_Animal Business-Brasil
Entusiasta, Victor Oliva coloca-se à disposição das pessoas interessadas em iniciar criação de Puro Sangue Lusitano, “para explicar como foi minha trajetória, tudo que fiz de besteira, tudo que fiz de certo. Criar cavalo é uma atividade para gente apaixonada e para gente que faz as coisas bem feitas.”
Por: Fernando
Roberto de Freitas Almeida, economista, pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos da UFF
A estrutura econômica da avicultura brasileira
Lucas Scherer--Embrapa Suinos Aves
A avicultura é uma das atividades criatórias mais antigas no Brasil, embora, por séculos, tenha-se restringido a produções familiares. Tal situação, de fato, perdurou até o início do século XX, quando se começou a investir em aves de melhor qualidade, ainda que a preocupação fosse mais estética do que qualquer outra coisa. Nas três mais ricas unidades da Federação, São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, passou-se a acompanhar o que se fazia com as criações de aves na Europa e nos EUA, evidentemente de modo limitado, dadas as condições de autoabastecimento em que se vivia e a baixa renda da população, além da pouca informação sobre questões alimentares, de modo geral. Animal Business-Brasil_29
O
modelo em que granjeiros abasteciam-se de insumos rústicos e vendiam os animais para abate era generalizado, e persistiu até os anos 60 quando, em Santa Catarina, apareceram as primeiras criações integradas. Em pouco, quem já trabalhava com produção de suínos e de milho começou a se aventurar na venda de carne de frango e o processo de modernização do setor avançou, copiando-se técnicas importadas de manejo, com maiores conhecimentos genéticos e de técnicas sanitárias e ambientais. A importância social da avicultura foi evoluindo aos poucos, nessa história secular. Com forte presença desde sempre no interior do país (sendo hoje principalmente nos estados do Sul e Sudeste) constitui-se em forte base para a alimentação local e nacional, também se impondo no mercado externo, em que as demais aves, como patos e perus, apresentam números comparativamente muito reduzidos.
Avanços A partir daquela década (1960), os avanços na avicultura se aceleraram. O país estava mais urbanizado, havia mais crédito e mais informação quanto às necessidades de uma alimentação mais saudável. Entre as principais mudanças na produção destacam-se a redução da conversão alimentar, da mortalidade dos animais e da idade de abate. Os anos 60 são também o início do exitoso modelo brasileiro de agronegócio, a partir da implantação do Sistema Nacional de Crédito Rural, em 1967, que promoveu um extenso processo de modernização da agricultura, associado à sua “industrialização”. Ou seja, todas as atividades ligadas à produção rural foram sendo aos poucos amplamente tecnificadas e passaram a depender cada vez mais do fornecimento de insumos diversos. Atualmente, dezenas de milhares de produtores integrados, centenas de empresas beneficiadoras e dezenas de empresas exportadoras compõem um universo de sucesso dentro do agronegócio brasileiro. Como registram os dados da Embrapa, em muitas cidades, a produção de frangos é a principal atividade econômica. Contudo, nos anos 80, o setor avícola brasileiro passou por momentos de estagnação do 30_Animal Business-Brasil
consumo, devido à recessão derivada da crise da dívida externa e da disparada dos índices de inflação, além de dificuldades no setor externo da economia. Quando se realizava a famosa Rodada Uruguai, do Acordo Geral de Tarifas e Comércio, o GATT (1986-1994) o setor avícola brasileiro passava por uma fase de recuperação em suas exportações, em razão dos subsídios europeus e americanos à agricultura. Contudo, tendo aumentado as exigências dos consumidores locais, os produtores procuraram adaptar-se, oferecendo novos produtos, com preços diferenciados, e o setor voltou a crescer. Na última década do século, com o choque derivado do rápido processo de abertura da economia do país à concorrência estrangeira e, em meados da década, com o sucesso, afinal, dos planos de controle da inflação, sendo restabelecido o poder de compra da moeda nacional, pode-se dizer que uma espécie de nova era começou, agora focada em reestruturações tecnológica e administrativa, diminuição de custos e aumento da eficiência. O mercado da carne de frango, por algum tempo, a partir de 1994, exemplificava o sucesso do Plano Real, juntamente ao que houve com iogurte e laticínios e, com os orçamentos familiares podendo ser calculados com maior cuidado, além do cada vez acesso à informação, a indústria buscou novos nichos de mercado. Foram encontrados em novos produtos, com maior valor agregado, como novos cortes de carnes de aves, nuggets, e pizzas, além de lançamentos de produtos variados por redes de lanchonetes nas principais cidades do país.
Reconhecimento internacional Nos primeiros anos do século XXI, o setor continua crescendo, obtendo também cada vez mais reconhecimento internacional. Assim, a produção brasileira de carne de frango, da ordem de 12,64 milhões de toneladas, em 2012, foi a terceira maior do mundo, atrás apenas dos EUA, com 16,48 milhões, e da China, com 13,7 milhões.1 Os vinte e sete membros da União Europeia, em seu conjunto, vêm a seguir, com 9,48 milhões, seguidos pela Índia, com 3,16 milhões de toneladas. O Gráfico 1 mostra o desempenho da produção brasileira, desde o ano 2000. 1
A produção mundial, em 2012, foi de 82,32 milhões de toneladas.
Gráfico 1 Brasil: produção de carne de frango – 2000 a 2012 – milhões de toneladas
2012
2011
2010
2009
2008
2007
9,34 10,31 10,94 10,98 12,23 13,05 12,64
2006
2005
8,49 8,95
2004
7,84
2003
2002
2001
2000
5,98 6,74 7,52
Fonte: União Brasileira de Avicultura
A qualidade sanitária aprimorada, igualmente com a comprovação da ausência de problemas com a gripe aviária, foi um trunfo importante para a expansão incessante da atividade. Evidentemente, o contínuo processo de recuperação do nível interno de renda, propiciado pela recuperação do poder de compra dos salários e pelas políticas compensatórias de redução das desigualdades, deram grande ímpeto ao mercado interno. Evidentemente, no que se refere à qualidade da produção, o abate sob inspeção registrou crescimento expressivo no país. Em 2006, o número de aves abatidas sob inspeção representou 98% da produção nacional e a indústria do frango se deslocou, com sucesso, para regiões não tradicionais, na procura de custos menores de produção. O Gráfico 2 mostra o desempenho do consumo no mercado interno.
2000
29,91
2001
31,82
2002
33,81
2003
33,34
2004
33,89
2005
35,48
2006
35,68
2007
37,02 38,47
2008 2009
38,47
2010
44,09
2011
47,38
2012
45,00
UBABEF
Gráfico 2 Brasil: consumo per capita de carne de frango – 2000 a 2012 – kg/habitante
Fonte: União Brasileira de Avicultura Animal Business-Brasil_31
Progressivamente mais competitivo e com bons indicadores qualitativos, o Brasil tornou-se o maior exportador mundial de frangos: 4 milhões de toneladas/ano, para mais de 150 países Segundo informações da União Brasileira de Avicultura: No Brasil, a avicultura emprega mais de 3,6 milhões de pessoas, direta e indiretamente, e responde por quase 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Em 2011 a produção brasileira atingiu a marca histórica de 13,058 milhões de toneladas, garantindo ao Brasil uma posição entre os três maiores produtores mundiais de carne de frango, com Estados Unidos e China. Desse total, cerca de 69% permanecem no mercado interno, o que comprova a força dessa indústria para o país. O consumo per capita de carne de aves no Brasil está em aproximadamente 39 quilos por ano.
Tornando-se progressivamente mais competitivo e com bons indicadores qualitativos, desde 2004, o Brasil é o maior exportador mundial, exportando na atualidade cerca de 4 milhões de toneladas embarcadas para mais de 150 países.2 O principal estado exportador é o Paraná, com vendas de 1,126 milhão de toneladas em 2012, seguido por Santa Catarina, com 1,023 milhão e Rio Grande do Sul, com 726 mil toneladas remetidas ao mercado externo. Em termos de exportações por tipos de produtos, os cortes responderam por 54,7% do total e os frangos inteiros por 36,2%, seguidos por industrializados (4,6%) e salgados (4,5%). O Gráfico 3 apresenta a evolução das vendas externas brasileiras de frango. Pelo lado da demanda, Japão (855 mil toneladas importadas em 2012) e Arábia Saudita (750 mil toneladas) seguidos pela União Europeia (740 mil toneladas) são os destaques mundiais, cada um com cerca de 10% do total das importações globais, que totalizaram 8,5 milhões de toneladas, no ano passado) 2
32_Animal Business-Brasil
Gráfico 3 Brasil: exportações de frango – 1990-2012 – milhões de toneladas 299
372
481
571
617
916
776 1.266 1.961 2.846 3.287 3.635 3.943
322
433
1991
1993 1995 1997 1999
1990 1992
435
1994
651
1.625 2.470 2.718 3.646 3.820 3.918
1996 1998
2001
2003 2005 2007
2000 2002
2004
2009 2011
2006 2008 2010 2012
Fonte: União Brasileira de Avicultura
No setor de alimentos ligados à avicultura, a renda brasileira, ainda baixa, além da persistência de informações precárias e de velhos tabus alimentares, continuam colocando obstáculos a serem superados para a maior expansão do setor. Por exemplo, segundo a Organização para a Agricultura e Alimentação, da ONU (FAO), o Brasil, tendo atingido quase 1 bilhão de dúzias de ovos produzidas, em 2009, e sendo o sétimo maior produtor mundial, continua com um consumo per capita baixo. De fato, num rol de 168 países pesquisados, ficou apenas na 68ª posição. Os primeiros colocados são todos países de renda elevada: Dinamarca, Holanda e Japão. A China, cuja renda per capita é bem inferior à brasileira, situa-se em quarto lugar. Assim, vê-se que a má posição do país se deve mais a velhos conceitos relacionados a questões alimentares. Outro ponto é que produtos de valor agregado elevado que contenham ovos, como bolos e doces em geral, continuam restritos à menor parte da população consumidora do país, o que também se verifica no que diz respeito às vendas de massas de melhor qualidade. Nesse campo, porém, a ascensão de milhões de famílias a padrões de consumo superiores, nos últimos dez anos, começa a alterar o cenário. Observe-se que a maior abertura do país a hábitos cosmopolitas, neste momento de ampliação das classes de renda média, poderá incrementar o consumo de burgers, ou tortillas, além de, associado à busca, no meio urbano dominante, de alimentos de melhor qualidade, haver uma movi-
UBABEF
As exportações seriam muito ampliadas se os tradicionais gargalos de logística e de tributação fossem resolvidos
O Gráfico 4 mostra a evolução do alojamento de aves de postura no país. Gráfico 4 Brasil: alojamento de aves de postura – 2008 a 2012 – cabeças
mentação no sentido da valorização de produtos relacionados às criações de galinhas caipiras.
Segurança alimentar A crescente ênfase na questão da segurança alimentar deverá favorecer o setor, pois a área de nutrição sabe que, em crianças de até três anos, apenas um ovo consumido diariamente propicia o acesso a 50% de suas necessidades diárias de proteínas. Destaque-se que a atividade exportadora de ovos é ainda incipiente, havendo um grande mercado global como potencial a explorar, usando nossas vantagens comparativas. O Brasil ainda se situa apenas como o 13º maior exportador mundial.
2008 775.031
2009 732.894
2010 866.945
2011 928.234
Fonte: União Brasileira de Avicultura
As vantagens de nosso país na produção e na exportação seriam bastante ampliadas, caso tradicionais gargalos de logística e de tributação fossem resolvidos. Nas condições atuais, mesmo enfrentando problemas diversos, a avicultura brasileira vem sendo capaz de contemplar consumidores, nacionais e de todo o mundo, com um produto de ótima qualidade, seguro em termos nutricionais, num mercado que não para de se expandir. Animal Business-Brasil_33
High tech na criação e abate de jacarés Por:
Cristina Ruffo - empresária
34_Animal Business-Brasil
O Criatório Mr Cayman iniciou suas atividades no ano de 1994 com a criação de jacaré-de-papo-amarelo no sistema “farming em Alagoas. “Sistema Farming” quer dizer: ovos postos pelas fèmeas (matrizes), nos recintos de recria e coletados para serem acomodados em chocadeira elétrica.
O início A criação teve início a partir do surgimento de três animais que chegaram em um lago da nossa propriedade, espontaneamente. Essa descoberta foi surpreendente” – afirma a criadora – “pois havíamos colocado nesse lago, alguns alevinos de peixe tambaqui e um ano após serem acomodados nesse local, resolvemos ver seu crescimento e, juntamente com nossos funcionários passamos a rede para captura-los e fazer a respectiva biometria. Imediatamente vimos que algo mais estava pesando na rede, possivelmente algumas raízes de plantas aquáticas...mas não eram. Eram três jacarés jovens, de tamanho considerável, aproximadamente um metro e meio cada”.
Susto Grande susto! Jamais tínhamos visto um jacaré de tão perto! Naquele exato momento resolvemos, embora assustados, não matá-los (hábito muito comum nas fazendas vizinhas). Colocamos os três animais num recinto que havíamos construído para acomodar alguns peixes que posteriormente iriam para nosso restaurante, na região de Ponta Verde-Maceió.
Animal Business-Brasil_35
Construímos um muro ao redor desse tanque que acomodaria os peixes e os colocamos lá .
Ibama As primeiras providências deveriam ser tomadas, entre elas notificarmos o Ibama local sobre a existência daqueles animais em nossa propriedade e descobrir de que espécie eram;pois lemos na internet que no Brasil existiam algumas espécies de caimans, nada mais do que essa informação. Restava-nos pesquisar sobre o que viria pela frente e como faríamos para legalizar a permanência deles em nossa propriedade. Outra incógnita era...seriam três machos... três fêmeas ou machos e fêmeas? Tudo não passava de suposições. Conseguimos, enfim descobrir que tratava-se de uma espécie em extinção e que poderíamos tentar criá-los em cativeiro, no sistema “farming”, objetivando ajudar a retirá-lo da Lista Vermelha do Meio Ambiente de Animais Ameaçados de
A empresária Cristina Ruffo 36_Animal Business-Brasil
Extinção, mas isso seria lento, teríamos que investir durante muitos anos e do próprio bolso, sem ajuda alguma nem do Estado, nem de órgãos governamentais.
Desafio Aceitamos o desafio e ousamos, mesmo sem conhecer as técnicas de manejo daquela espécie, investir em conhecimento científico. Métodos de cultivo, diferentes experimentações de manejo, acomodação, nutrição e a busca incessante de informações, alavancaram a multiplicação dos animais, alcançando índices de produtividade satisfatórios e superiores aos encontrados em outros criatórios brasileiros. Nosso objetivo maior era atingir bons índices de natalidade, na tentativa de garantir a possibilidade de sustentabilidade da espécie, provando após oito anos de muito trabalho que nosso empenho estava acima da expectativa, gerando filhotes sadios, com melhoramento genético e
com alimentação diferenciada, cinquenta por cento vegetariana. Passamos a investir nosso tempo na criação em cativeiro e nas descobertas que realizávamos com frequente observação em campo, dentro de nosso próprio criatório.
Acasalamentos Passamos a fotografar os acasalamentos, a observar horários em que ocorriam, adentrávamos a noite, passando a madrugada toda coletando dados das matrizes que estavam postando seus ovos, fotografando e registrando todas as ações dos animais. Além de uma pesquisa científica realizada por nós mesmos passou a ser um trabalho prazeroso e a cada dia descobríamos mais e mais. O sonho parecia estar se transformando em realidade. Tudo estava ocorrendo muito acima do esperado. Nesse momento, oito anos após, resolvi iniciar o Curso de Medicina Veterinária; pois como jornalista pouco poderia opinar frente ao mundo científico e...lá fui eu para os bancos da Universidade CESMAC- Marechal Deodoro-Alagoas. Não conclui o curso, entretanto aliei-me a diversos professores que muito contribuíram para o sucesso de meu empreendimento. Muitas etapas tiveram que ser vencidas, entre elas a comprovação de natalidade, através de trabalho realizado no criatório, com acompanhamento do IBAMA, onde desde as dezessete horas até o meio da madrugada, aproximadamente quatro horas, fotografou- se todas as posturas e identificando-se matriz por matriz. A
A hora do almoço
O tanque dos filhotes
realização desse trabalho, foi além de um prazer enorme, uma forma de identificar-se as gerações existentes no plantel. Desta forma, além de estar contribuindo com dados absolutamente fiéis ao crescimento do criatório, ainda obteve- se dados concretos para a criação de um trabalho paralelo:- melhoramento genético. Esse trabalho continua sendo realizado até hoje na época do acasalamento e postura.
Primeiro registro
Botando ovos
No dia 12 de dezembro de 2002, a espécie foi declarada fora da “Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção”, possibilitando o recebimento do Primeiro Registro Comercial do Brasil. Enfim, depois de oito anos de trabalho contínuo e documentado, o Criatório Mister Cayman estava ajudando o mundo científico a subtrair a espécie de risco de extinção. Caiman é um termo latino para jacaré ou qualquer outro tipo de crocodiliano. Animal Business-Brasil_37
Com a boca amarrada não tem perigo A sede
Embora a espécie tenha saído da Lista Vermelha de Animais Ameaçados de Extinção ainda continua figurando na Lista Internacional como ameaçada de Extinção, sob a fiscalização atenta do CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora.
Exportações Para que pudesse iniciar as exportações dos produtos e subprodutos da espécie, houve a necessidade de ir mais além, registrando, através de Projeto Específico, o Criatório Mister Cayman, junto ao Secretariado Internacional- CITES, momento em que obteve-se autorização para exportação da segunda geração de animais de seu plantel, comprovados pelas planilhas zootécnicas controladas pelo IBAMA e CITES. Somente animais comprovadamente, pertencentes à Geração F2 (netos) podem ser exportados, mediante a solicitação do CITES para produtos da espécie. O importador também deve estar autorizado a receber esses produtos, com igual necessidade de informar ao CITES de seu país. O plantel do Criatório Mister Cayman já encontra-se produzindo animais pertencentes à Geração F4.
Abatedouro Em julho de 2011, o Criatório Mister Cayman inaugurou o primeiro abatedouro da espécie do 38_Animal Business-Brasil
nordeste, com técnicas de abate humanitário, iniciando a comercialização da carne em todo estado de Alagoas. O abatedouro está devidamente legalizado no SIE/ADEAL - Secretaria da Agricultura do Estado de Alagoas.
Sapatos e bolsas Em 2012 a Mister Cayman Ltda. lançou sua primeira coleção de sapatos, sandálias, acessórios, bolsas femininas e executivas, no mês de junho, na FRANCAL com o nome de sua Griffe DuMotier, conhecida mundialmente. Completei um ciclo de realizações pessoais com a obtenção do título de Mulher de Negócios, promovido pelo SEBRAE, no estado de Alagoas e no último dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, em Brasília, conquistei o Prêmio Nacional, sendo a Mulher de Negócios Nacional, vindo, pela primeira vez, para Alagoas, na história do Sebrae, o Troféu Ouro .
Maior do mundo A Mister Cayman foi convidada pelo de governo de Pernambuco para implantar no Estado o maior complexo de jacarés do mundo, disponibilizando 45 hectares de área, onde serão construídos: 15 criatórios individuais para atender Investidores, parceiros da Mister Cayman, que ocuparão um hectare cada, com área em sistema de comodato por cinco anos, obedecendo suas técnicas de manejo e sob sua responsabilidade técnica, um criatório modelo da
Cristina recebendo mais um troféu pelo pioneirismo e eficiência do seu trabalho O couro é muito valorizado no mercado externo
A Empresa produz 50 mil filhotes por ano, mas a meta é chegar a 120 mil
Mister Cayman com capacidade de produzir anualmente 50.000 filhotes nos cinco primeiros anos e nos próximos aproximadamente 120.000 filhotes, modernamente instalado, com curtume, abatedouro com SIF-exportação, criando uma Escola Oficina que atenderá as exigências de técnicas internacionais em confecção de produtos com couro de jacarés, alojamento, refeitório e creche para funcionários, estagiários e professores internacionais (que repassarão suas técnicas, criando multiplicadores na região), restaurante especializado em gastronomia com carnes exóticas e um resort-spa urbano que incentivará o turismo da região, transformando Pernambuco no maior pólo do mundo em criação sustentável de jacarés-de-papo-amarelo (Caiman latirostris). A previsão da Empresa Mister Cayman Ltda é gerar 400 empregos diretos num prazo de três anos, na região de Pernambuco, deixando seu criatório piloto, com menor número de animais, instalado em Maceió (Al).
Expansão A Mister Cayman vem expandido a atividade no Brasil, difundindo a necessidade de crescimento desse mercado altamente lucrativo, instalando em propriedades dentro da região da Mata Atlântica, (em locais devidamente legalizados pelo Instituto do Meio Ambiente IMA e IBAMA) criatórios individuais sob sua responsabilidade técnica, em diversos estados brasileiros, entre eles: Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco e Alagoas, alertando que o clima mais quente é, evidentemente, mais propício e com custo operacional baixíssimo para manutenção e proliferação da espécie. Hoje, orgulho-me de dizer que vou do ovo ao produto final e que a Mister Cayman sai com seus produtos...de Pernambuco para o Mundo! Utilizo sempre uma frase que ouvi do meu marido quando iniciou a criação: “As ideias caminham com as pernas dos homens”...isso resume tudo em minha trajetória de sucesso. Animal Business-Brasil_39
O Grupo Cayman ficará cada vez mais fortalecido e capaz de compor um número maior de animais para abate, podendo aumentar a produção de pele, carne e consequentemente de produtos finais. A Mister Cayman orgulha-se do pioneirismo, de ter obtido o primeiro Registro Comercial do Brasil e de hoje ser a única autorizada no mundo, perante o CITES a exportar peles e produtos finais oriundos de seu plantel, geração F2.
Diferencial O diferencial obtido, através de técnicas de manejo particulares, criadas por Silvio Garabuggio, meu marido, italiano, amante da observação do comportamento animal, trouxe ao criatório meios de obtenção de pele, excepcionais. As peles dos caimans, normalmente não ultrapassavam 35 cm lineares, de barriga. Essa medida refere-se à parte mais larga da barriga do animal. A Mister Cayman difere-se dos demais criadores por conseguir, através de técnicas de manejo e criação em estufas proporcionar peles entre 45 e 65 cm de barriga. Os preços atribuídos a essas peles totalmente diferenciadas das demais, é convidativo.Um centímetro linear, medida da barriga do animal, está sendo comercializado, no Brasil a R$46,00, podendo ser em corte Belly ou Horn Back.
Esse diferencial proporciona a confecção de bolsas, utilizando- se uma só pele, sem emendas, tornando seus produtos cobiçados por grandes estilistas do mundo fashion.
Alto preço de venda Uma bolsa de jacaré da Griffe DuMotier pode ser encontrada a venda, no Brasil acima de R$8.000,00, enquanto que empresas internacionais europeias comercializam bolsas a um valor superior a 20.000 euros, utilizando as mesmas peles Mister Cayman. Os produtos de sua grife utilizam peles em dois cortes distintos: Corte Belly (barriga do animal em evidência- esfola-se pelo dorso do animal) e Corte Horn Back (dorso do animal em evidência- esfola-se pela barriga do animal).
Peles para clientes VIP O processo de abate dos animais obedece normas sanitárias e humanitárias dentro dos padrões exigidos internacionalmente, embora o abatedouro ainda não tenha requisitado o SIF – Serviço de Inspeção Federal em Alagoas, embora em Pernambuco já exista o projeto para construção de um abatedouro moderníssimo com SIF. A Mister Cayman já alcançou um plantel de 21.000 animais, sendo a maior do mundo e referência internacional em peles de Caiman latirostris, tendo como clientes vip carros da Ferrari, iates da Ferretti, bancos de iates dos árabes em Dubai, bolsas da Gucci e outras empresas conhecidas e renomadas internacionalmente.
Carne & cremes Um kg de carne com osso custa R$45,00 e partes nobres filetadas podem ser encontradas entre R$80,00 e R$120,00 o kg. De um jacaré nada se perde, tudo é aproveitado. A DuMotier vai lançar no mercado uma linha de cremes medicinais, elaborados com a gordura do animal e em 2014 estará nas prateleiras das maiores perfumarias do mundo com os perfumes: masculino, feminino e juvenil DuMotier, além de levar ao consumidor final outras novidades em termos de artesanato. Carne congelada 40_Animal Business-Brasil
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Tecnologia avançada aumenta a produtividade das vacas leiteiras em
zonas áridas de Israel Por: Rafael Eldad – embaixador de Israel no Apoio: Ministério da Agricultura de Israel, Dr.
Brasil Doron Bar, Cientista Chefe da SCR Tecnologias e Assossiação Israelense de Criadores de Gado
No mercado agropecuário competitivo de hoje, é vital que cada vaca no rebanho leiteiro renda o máximo possível. Enquanto este é um feito difícil de ser alcançado nas melhores condições climáticas, em ambientes áridos - especialmente naqueles quentes – demandam desafios distintos aos produtores de leite.
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Condições difíceis Quando confrontados com os obstáculos ambientais das zonas áridas, os produtores de leite precisam de uma vantagem extra para manter cada vaca produzindo de forma eficiente. As condições de criação de vacas em Israel são difíceis. O país é pequeno e tem áreas limitadas de terra cultivada e irrigada, e que sofrem com as limitações de água. A precipitação ocorre somente no inverno, no Norte, e muito raramente, ou nunca, no Sul. O clima e o pequeno tamanho do país são as razões pelas quais o gado não pode ser deixado no campo, para pastagem natural . Os animais são alimentados com forragem produzida com irrigação, complementada com grãos importados. Estas condições locais também exigem que a criação esteja na vanguarda do progresso. Além das observações visuais de rotina diária, os produtores precisam de ferramentas tecnológicas adequadas que conduzam à melhoria da produção de leite: maiores taxas de gravidez, e uma melhor saúde integral da vaca.
Desenvolvimento de tecnologias avançadas Israel é o terreno ideal para o desenvolvimento de tecnologias avançadas de leite. Apesar da falta de recursos naturais (incluindo água e terra), e castigável clima quente, Israel é o país que produz mais leite por vaca no mundo. De acordo com dados coletados pelo Conselho de Laticínios de Israel, a produção de leite média anual por vaca aumentou 150% de 1950-2006. A porcentagem de gordura e proteína também aumentou dramaticamente, atingindo assim o nível mais elevado de sempre (3,55% de gordura e 3,25% de proteína), tornando a porcentagen de gordura e proteína, por vaca, em Israel, a mais alta do mundo. A questão que produtores de leite em todo o mundo perguntam é: Como um país com menos recursos e um dos climas mais inóspitos gera a indústria de laticínios mais avançada no mundo? Este feito notável não foi alcançado por sorte, mas sim por uma longa história de investimento, desenvolvimento, inovação e pioneirismo pela indústria agropecuária local. Um fator-chave que levou Israel à vanguarda das tecnologias de leite foi o desenvolvimento da raça ideal de vaca específi42_Animal Business-Brasil
ca para as condições climáticas. Israel desenvolveu a sua própria raça especializada, cruzando a raça local Damasco com vacas de raça holandesa Holstein-Friesian. Após gerações de cruzamento contínuo, a raça Friesian de Israel foi obtida com sucesso - uma vaca com a maior produção de leite do mundo e uma notável resistência ao calor.
Modelo econômico O modelo econômico exclusivo para cooperativas agrícolas que se desenvolveu em Israel também contribuíu. Cerca de 60% das vacas leiteiras do país são criadas em kibutzim (espécie de coo-
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perativas agícolas), onde equipamentos, meios de produção, conhecimento e as responsabilidades são partilhadas, criando uma indústria agropecuária mais competente, viável e inteligente. A Gestão Nacional de Laticínios também desempenha um papel no sucesso da indústria de laticínios da fazenda israelense, com os produtores de leite l aproveitando a coleta de dados extensos e a análise feita pela Organização. Por fim, 90% das vacas leiteiras israelenses estão registradas no livro do rebanho nacional, e 88% do efetivo estão matriculados na Associação de Melhoramento do Rebanho.
Necessidade: a mãe da invenção É fato que Israel é um dos principais centros de alta tecnologia do mundo e que caracteriza-se pela inovação e pensamento out-of-the-box. Grande parte desse esforço é dedicado a atender às necessidades criadas pela falta de recursos naturais. Com este mesmo espírito, a indústria de laticínios em Israel adapta constantemente novas ideias e encontra soluções criativas para superar as condições climáticas e outros desafios. Muitos inovadores, como a SCR, empresa israelense líder em desenvolvimento, fabricação Animal Business-Brasil_43
Tecnologia inovadora de exploração leiteira Saúde individual e bem-estar do animal são fundamentais para o sucesso de uma fazenda de gado leiteiro. Especialmente em climas severos, é fundamental obter o máximo de rendimento por cada vaca. É por isso que a empresa opera sob a premissa de “Toda a vaca é importante.” Vacas saudáveis e produtivas são o ativo mais valioso de uma fazenda de gado leiteiro. Vacas saudáveis produzem mais e melhor leite, e pro bezerros saudáveis.
Ruminação A ruminação é um indicador direto comprovado de bem-estar e saúde da vaca. Os produtores de leite, veterinários e nutricionistas têm observado por muito tempo as imagens e sons da ruminação - como um monitor chave da saúde vaca lacta. Vacas leiteiras ruminam 450-500 minutos por dia, e uma queda no tempo de ruminação é um sinal claro de que há algo impactante na função ruminal ou bem-estar animal. Como tal, o monitoramento de ruminação - especialmente em climas quentes e secos, onde as condições externas podem facilmente ter um efeito adverso - desempenha um papel importante em termos de saúde e produtividade. Mudanças na ruminação, como resultado de doença ou outra alteração no bem-estar de uma vaca ocorre muito rapidamente, muitas vezes antes que os sinais físicos e sintomas clínicos aparecam e antes da produção de leite ser afetada. Acompanhar de perto a ruminação pode fornecer uma indicação precoce de uma nova situação ou problema em desenvolvimento. É por isso que boa inteligência é tão importante. O monitormento, tanto da atividade ro44_Animal Business-Brasil
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e comercialização de soluções de Inteligência agropecuária de ordenha, têm desempenhado um papel importantíssimo no desenvolvimento da agricultura de alta tecnologia para a indústria de laticínios. A empresa tem uma longa história de procurar exatamente o que os agricultores precisam e oferecer uma solução adequada para aumentar a produtividade e o bem-estar dos animais criados em um ambiente pobre de recursos
Aparelho SCR Heatime em detalhes
tineira como da ruminação pode fornecer uma indicação muito precisa da saúde, bem-estar e estado do animal. A observação visual para detecção de calor, tanto como a observação visual da ruminação, são bastante limitadas, especialmente porque a ruminação ocorre de vez em quando ao longo do dia, e mais significativamente durante a noite. Mais importante ainda, porque ruminação é altamente individual, precisa ser medida por vaca com cada uma atuando como referência para si mesma. Tecnologia israelense permite os produtores de leite utilizar uma combinação de dados de atividade e de ruminação como ferramenta de vigilância sanitária individual, e detecção de calor. O Heatime Sistema HR SCR, impulsionado pela tag pescoço HR, que monitora constantemente a atividade e ruminação de vacas individuais é um exemplo desta tecnologia. A tag HR é a primeira tecnologia no monitoramento de ruminação. Sua tecnologia exclusiva inclui um sensor de movimento que detecta a atividade, um microprocessador, memória e um microfone especialmente afinado que detecta sons da ruminação da vaca. Cada tag HR coleta informações e transmite para o sistema SCR em tempo real, algumas vezes por hora, usando a tecnologia RF (radio frequência), para que a informação no sistema seja em tempo real em todos os momentos, não importa onde a vaca se encontre. Ambos os dados de ruminação e atividade são registrados no tag e armazenados em blocos de duas horas, para que os produtores possam facilmente identificar o perfil comportamental exato de cada animal. Os dados da ruminação são, então, analisados pelo sistema usando algoritmos que fornecem aos pecuaristas, com o índice de saúde de cada vaca, apresentando alertas, listas e relatórios de fácil compreensão.
Esta forma única de análise revoluciona a gestão duma fazenda de gado leiteiro, possibilitando uma bem-cronometrada tomada de decisões relativas à detecção de calor e saúde da vaca com base em dados reais.
Detecção precisa de calor para otimizar a reprodução Fertilidade e reprodução estão entre os aspectos mais importantes na administração da fazenda. O sucesso de uma fazenda depende da capacidade de gerenciar com eficiência e lucratividade a reprodução das vacas. Em qualquer exploração leiteira, a identificação precisa das vacas é crucial. O monitoramento de ruminação junto com o monitoramento da atividade pode proporcionar um aumento significativo na detecção de calor. Como quase todas as vacas no cio apresentam uma queda correspondente na ruminação, monitorar individualmente esta atividade pode fornecer informações importantes das vacas no cio. Em regiões quentes e áridas, há um impacto ambiental direto sobre a reprodução do gado, o que torna mais difícil conseguir vacas prenhas. Muitas vezes, como é o caso em Israel, a reprodução é quase inteiramente baseada na inseminação artificial (IA), o que significa que o tempo é tudo. Para poupar tempo, esforço, dinheiro e trauma para a vaca, e simultâneamente aumentar as chances de inseminação bem-sucedida, é pertinente que os agricultores identifiquem com precisão o calor - algo que só é possível com um sistema de monitoramento eletrônico. A detecção de calor eletrônico permite ao produtor identificar o calor que em muitos casos não pode ser detectado com a observação visual.
Indicadores precoces de doenças e subnutrição O comportamento da ruminação é influenciado por muitos fatores, principalmente pelas características da dieta e fatores nutricionais, como a digestibilidade dos alimentos, consumo de ração, e qualidade da forragem. Em zonas áridas, onde os custos de alimentação são geralmente muito altos, os agricultores estão constantemente buscando racionar a
quantidade de forragem para manter os custos baixos. O monitoramento de ruminação em particular é útil em termos de avaliação do impacto desse racionamento. Ao mesmo tempo, o monitoramento adequado da ruminação também assegura que as vacas sejam alimentadas corretamente, tanto para o seu bem-estar geral, como sua capacidade de máxima produção. Mudanças de ração e reformulações de alimentação podem afetar muito rapidamente a saúde de vaca. Embora os efeitos possam não ser perceptíveis no nível de rebanho, os dados de monitoramento eletrônico de ruminação podem mostrar como as vacas individuais reagem às mudanças e fornecem alertas precoces de problemas de saúde do rúmen que poderiam ter sido desenvolvidos como resultado de mudanças da quantidade de alimentos fornecida.
Estresse provocado pelo calor Outro problema comum para vacas em zonas áridas é o estresse de calor, que pode afetar significativamente a vaca, muitas vezes causando um declínio na produção de leite. Como o estresse de alta temperatura afeta tanto a produção como o desempenho reprodutivo, é importante observar os diferentes efeitos do calor. Padrões alimentares tendem a mudar de acordo com o ambiente. Vacas que sofrem de estresse por calor comem menos. Para complicar ainda mais, porque elas estão tentando dissipar o calor do corpo, ficam em pé, o que é problemático para a ruminação, que geralmente ocorre quando deitadas. A mastigação e a ruminação ficam prejudicadas em vacas com estresse de temperatura, e é muito provável que elas não sejam capazes de produzir num nível superior. Para manter o desempenho das vacas e a produção de leite, é portanto, importante medir a ruminação em todos os momentos, para identificar com rapidez e precisão a angústia, e lidar com os sintomas adequadamente. Por exemplo, para as vacas colocadas num ambiente quente de forma consistente, é mais eficiente deslocar uma grande parte da sua ingestão de alimento para as horas noturnas, pois a evaporação a partir do animal para o meio ambiente é reduzida durante a noite, resultando Animal Business-Brasil_45
em menor gasto de energia durante do dia. Ao produzir menos calor metabólico durante as horas mais quentes do dia, as cargas de calor das vacas são reduzidas. Com o monitoramento da ruminação, os agricultores podem também mudar os horários de alimentação para um grupo de vacas, e verificar se essas mudanças afetam positivamente a ruminação de um grupo, para chegar à melhor estratégia de alimentação em tempo quente para a manada como um todo. Além disso, em climas áridos, onde os picos de temperatura e secas são comuns, monitorar cuidadosamente a ruminação pode permitir estratégias mais eficazes de redução de calor como a adição de ventiladores e aspersores no tempo de retenção no estábulo, ou aumentar o tempo na sombra, para evitar perdas na produção de leite, da ingestão alimentar e no desempenho reprodutivo.
Ordenha inteligente Israel tem desenvolvido uma série de soluções de ordenha que são projetadas para economizar tempo e dinheiro e proteger o bem-estar da vaca. Estas soluções são tomadas para otimizar o equipamento de ordenha que os produtores já têm na fazenda, sem a necessidade de mudanças. Um dos dispositivos mais populares do é o Free Flow - um aparelho de medição de leite de alta precisão, sem partes móveis, que fornece dados contínuos de produção de leite, de alta resolução. O sistema de fluxo livre dá aos agricultores a possibilidade de medir o fluxo de leite por raio infravermelho, sem que nada realmente toque no leite. O sistema necessita de manutenção zero, e com as suas pequenas dimensões, ocupa pouco espaço. Hoje, em fazendas ao redor do mundo existem mais de 300 mil desses medidores de leite eletrônicos altamente eficientes.
Pulsadores Outro marco importante da indústria veio com o desenvolvimento dos primeiros pulsadores inteligentes. Os pulsadores podem ser ativados usando pulsação estimulada com uma pequena elevação da taxa de pulsação para estimular o fluxo de leite imediato. A relação de pulsação maior aumenta a velocidade média de leite em 46_Animal Business-Brasil
até 20 vezes. Isso ajuda a proteger o úbere e evitar o excesso de ordenha. Para a verdadeira eficiência, todas as soluções de monitoramento e ordenha de vaca SCR podem ser gerenciados por um sistema central - o PC DataFlow II. Esta solução integrada de gestão e controlhe de ordenha proporcionam informações em tempo real sobre a reprodução, a saúde e o estado de bem-estar da vaca, bem como o processo de ordenha. A informação é recolhida pelo calor e as etiquetas de monitoramento da saúde e pelos pontos de ordenha e, em seguida, enviado para o sistema. O impacto de excelente inteligência e tecnologias de ordenha podem ser vistos em ação no Kibbutz Kalia, localizado junto ao Mar Morto, cerca de 400m abaixo do nível do mar, com temperaturas de verão regularmente elevando-se acima de 50ºC. Com a ajuda de monitoramento e tecnologias para lidar com um dos ambientes de produção de leite mais difíceis do mundo, o kibbutz vem progredindo continuamente até atingir um rendimento médio anual de 11.063 kg de leite por vaca. Da mesma forma,o Kibbutz Yotvata, localizado no deserto de Negev, não muito longe de Eilat, conseguiu superar o ambiente quente para se tornar um dos maiores e mais bem sucedidos laticínios em Israel. Resumindo, tecnologia inteligente, adaptável, que pode satisfazer as necessidades de cada fazenda, mesmo em zonas áridas, é uma ferramenta vital para o aumento da produção de leite e criação de gado em geral.
Vencendo os desafios de um ambiente árido A pecuária leiteira é um desafio, mesmo sob as condições mais ideais. Os produtores que operam em zonas áridas têm o desafio adicional de lidar com um duro ambiente natural. Os produtores de leite de Israel não só superam esses desafios, mas também os padrões de desempenho estabelecidos, conquistando recordes mundiais de produção e produtividade. A chave para o sucesso é a tecnologia certa, para monitorar adequadamente a ruminação de cada vaca e padrões de atividade, para garantir vacas saudáveis e férteis para uma fazenda verdadeiramente produtiva.
Por: Paulo
Roque
Circuito Feicorte NFT reúne 1.300 pessoas Com a presença de 1.300 pessoas, o Agrocentro realizou em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a segunda etapa do Circuito Feicorte NFT, no Centro de Convenções Albano Franco. A discussão em torno da qualidade da carne e as formas de obter o produto desejado pelo consumidor tiveram bastante destaque no evento, bem como as estratégias necessárias para não perder produtividade com a frente fria atípica que atingiu a região do Mato Grosso do Sul durante o mês de julho, prejudicando as pastagens e exigindo dos pecuaristas mudanças em suplementação e decisão de confinamento. Participaram do evento produtores rurais de 10 estados
brasileiros (MS, MT, GO, MG, PA, PR, RJ, RS, SC e SP), além de uma comitiva de 16 pecuaristas da Bolívia “O tema eficiência foi abordado no workshop em 14 palestras com grandes especialistas brasileiros e em ricos debates que mostraram a disposição do setor em evoluir para tornar a atividade cada vez mais produtiva e rentável. Além disso, os visitantes puderam conferir as novidades tecnológicas trazidas pelas empresas na feira de negócios, que são ferramentas fundamentais para a evolução da pecuária junto com o conhecimento”, afirma o gestor da NFT Alliance, também promotora do evento, Alessandro Roppa.
Feileite 2013 não acontecerá A Feileite 2013 não acontecerá. Segundo o Agrocentro Empreendimentos e Participações, promotora e detentora da marca Feileite - Feira Internacional da Cadeia Produtiva do Leite, em nota distribuída à imprensa, anunciou que, devido à impossibilidade técnica e econômico-financeira a 7ª edição da feira não será realizada. A possibilidade de o evento ser realizado em outro local também não foi anunciada. Animal Business-Brasil_47
APTA desenvolve caviar de truta O consumidor brasileiro poderá comer caviar ao preço de R$ 20,00 o pote de 40 g. Claro que não é o de esturjão, que varia de R$ 480,00 a R$ 1.500,00 e, sim, de produto similar desenvolvido
II Congresso CBNA em Maringá A realização do II Congresso CBNA sobre Tecnologia da Produção de Alimentos para Animais, em Maringá, no Paraná,tem uma explicação: além de ser sede de dezenas de unidades de indústrias do setor, está situado numa região que congrega cerca de 110 municípios, reunindo cooperativas agroindustriais e diversos fabricantes de alimentos balanceados para animais, com um público altamente qualificado. O objetivo do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal foi superar as expectativas desse público, composto por integrantes das cooperativas e agroindústrias nacionais que trabalham na região — incluindo membros da indústria de sal mineralizado e pet food. O Congresso aconteceu paralelamente à Expo Feed — Feira da Tecnologia em Nutrição Animal e atraiu participantes de todos os países da América do Sul, com destaque para a Argentina. 48_Animal Business-Brasil
a partir de ovas de truta arco-íris, desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Instituto de Pesca (IP-APTA), e a Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento de Campos do Jordão. Trata-se de trabalho científico inédito, realizado em Campos de Jordão, SP. A UPD da APTA é a única instituição de pesquisa brasileira que estuda a truta. O caviar tem ovas pequenas, com sabor intenso, salgadinho e com odor marinho, já o de truta tem ovas maiores e sabor e odor delicados”, afirma Thaís Moron Machado, pesquisadora do IP-APTA. O sucedâneo de caviar de truta pode ser produzido com ovas de coloração amarela, chamada golden, ou com ovas salmonadas. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o caviar e sucedâneos importados no Brasil são consumidos basicamente em São Paulo e no Rio de Janeiro e indicam que em 2001 foram importados 457 quilos destes produtos, já em 2010, o número saltou para 6.931 quilos, ou seja, um incremento de 758%. Até abril de 2011, o país importou 864 kg de caviar e sucedâneos, sendo 166 kg por São Paulo e 698 kg pelo Rio de Janeiro.
Mapa tem novo secretário de relações internacionais Marcelo Junqueira Ferraz assumiu a Secretaria de Relações Internacionais do Agronegócio do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SRI/Mapa). Funcionário da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) há 33 anos, Marcelo foi superintendente da empresa pública no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Nos últimos três anos, ele ocupou o cargo de diretor do Departamento de Promoção Internacional do Agronegócio. A expectativa, segundo ele, é dar sequência ao trabalho que vem sendo feito sob orientação do ministro da Agricultura, Antônio Andrade. O trabalho focará na ampliação da pauta exportadora do agronegócio brasileiro e na abertura de novos mercados, bem como na exportação de produtos de maior valor agregado.
ONU por um planeta melhor
Queijo artesanal pode ser comercializado em todo o país
Daniela Villar
A revisão da norma que irá facilitar o registro de queijos artesanais tradicionalmente produzidos a partir de leite cru foi divulgada pelo ministro da Agricultura Antônio Andrade em solenidade realizada em Belo Horizonte com a presença do governador de Minas Gerais, Antonio Anastasia, e do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel. Com a publicação dessa instrução normativa, o produtor desse tipo de queijo, maturado em período inferiores a 60 dias, poderá comercializar seu produto por todo País. A nova norma determina que, além de produtores com propriedades certificadas pelo Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT), aqueles que tiverem suas propriedades controladas para brucelose e tuberculose pelos órgãos estaduais de Defesa Sanitária Animal no prazo de três anos, a contar da data da publicação, também poderão comercializar os queijos artesanais. A comercialização estava restrita a queijarias situadas em região de indicação geográfica e propriedades certificadas pelo PNCEBT.
No Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), lançado em maio deste ano, que identifica os seis setores com mais oportunidades para o desenvolvimento de uma economia verde, fundamental para o desenvolvimento sustentável e o futuro do planeta, estão a pesca e a aquicultura. A pesca certificada, de acordo com Quinta da Estância, fazenda de turismo rural pedagógico do Brasil, que apoia o relatório, já contabiliza uma captura anual de 18 milhões de toneladas de peixes e frutos do mar. Isso representa cerca 17% da pesca internacional - e a demanda ainda supera a oferta. Além disso, prevê-se que o valor total de produtos marinhos coletados de acordo com padrões de certificação sustentável aumente dos US$ 300 milhões, em 2008, para U$1,2 bilhão até 2015.
Frio aumenta movimento em pet shops gaúchos Graças às baixas temperaturas registradas, principalmente durante o mês de julho, na capital gaúcha, o segmento pet apresentou crescimento médio de 30% em vendas em relação ao ano passado, de acordo com levantamento feito pelo Sindilojas Porto Alegre com lojistas especializados da capital. Roupas, camas e cobertores foram os produtos mais procurados, assim como os medicamentos também apresentaram aumento. A expectativa é que o crescimento continue mesmo sem o frio. “Constatamos que os serviços de banho e tosa reduzem nesta época do ano, por outro lado, cresce a compra de produtos para aquecer os animais. O setor está aquecido”, revelou o presidente da Entidade, Ronaldo Sielichow.
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Exportação de carnes é tema de encontro Brasil-EUA
A carne que todo mundo quer A Scot Consultoria destacou o trabalho de melhoramento genético iniciado há cerca de 30 anos por um grupo de criadores da raça bovina Caracu. Para tanto, estes pecuaristas buscaram a assessoria das principais fontes pesquisadoras do país: o Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR; a Embrapa Gado de Corte; o Geneplus; e mais recentemente, os marcadores moleculares no Igenety. Esse trabalho mensurou os avanços e comprovou, com dados, que o Novo Caracu tem potencial para participar de cruzamentos no Brasil tropical, aumentando a produtividade dos rebanhos e incorporando maciez e suculência à carne da cruza, qualidades que passaram a fazer parte da exigência do consumidor brasileiro. Segundo a Scot Consultoria, essa carne vem de fora e domina nosso mercado de topo, com uma lucratividade muito mais atrativa e que não poderemos ficar de fora dessa e que a mudança começa na mentalidade do pecuarista de corte, que deve assumir compromissos com os consumidores do seu produto, e não deixando isto, exclusivamente, a cargo das indústrias frigoríficas. “A preocupação com o animal, seu tamanho, rendimento de carcaça ou mesmo o modismo das raças, tirou o foco do produtor do mais importante: a carne”, afirma a empresa de consultoria, acrescentando que, “hoje, se abre uma nova oportunidade de virada para todos os empreendedores que têm visão e coragem para inovar. O futuro promete, haja vista o presente”. 50_Animal Business-Brasil
A entrada de carne bovina in natura no mercado norte-americano foi o tema principal do encontro do ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, com o secretário de Agricultura norte-americano, Thomas J. Vilsack, que visitou o Brasil acompanhado dos senadores Debbie Stabenow e Roy Blunt, e mais uma delegação composta por 21 pessoas, para tratar da relação comercial com os Estados Unidos. As exportações americanas de bovinos vivos, carne suína e bovina foram temas tratados pelas autoridades dos EUA. Segundo o Mapa, haverá esforço, por parte dos EUA, para tentar resolver alguns problemas em relação a esta demanda até a visita da Presidenta Dilma Rousseff àquele país, marcada para outubro de 2013. “Como grandes produtores de alimentos, precisamos olhar as oportunidades mundiais em conjunto. Entendo que essa é uma parceria estratégica no cenário mundial”, afirmou Antônio Andrade. O Brasil e os Estados Unidos, como grandes produtores, estão mais para parceiros do que concorrentes, especialmente no que se refere à China, mercado de grande interesse dos dois países. Para o secretário Thomas J. Vilsack, a experiência brasileira em agricultura tropical deve ser passada também aos países da África, regiões com semelhanças de solo, clima e com grande potencial de crescimento no agronegócio.
México importa carne de frango do Brasil Os mexicanos aceitaram as garantias sanitárias do Brasil e, pela primeira vez, importarão carne e ovos férteis de frango brasileiros. A documentação que viabiliza a relação comercial já foi enviada pelos mexicanos para o Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As negociações com os mexicanos fazem parte da estratégia do governo federal para a abertura de novos mercados na América Latina para produtos do agronegócio brasileiro. No primeiro semestre deste ano, o país vendeu ao mercado internacional 1,8 milhão de toneladas de carne de frango, totalizando US$ 3,8 bilhões (alta de 7,9% em relação ao mesmo período do ano passado).
Seleção em gado de corte: Combinando a máquina e o olho humano Por: Luiz
Antonio Josahkian Superintendente Técnico da ABCZ Professor de Melhoramento Animal da FAZU
O
s processos produtivos em gado de corte resultam da interação entre a genética e o meio ambiente. Portanto, devemos nos atentar para o fato de que o sucesso da produção está diretamente ligado à harmonização destes dois componentes. Na seleção dos animais domésticos, é preciso perceber os animais como organismos vivos inseridos em um
sistema de produção, do qual eles retiram energia e a transformam no seu próprio crescimento, na sua reprodução e na produção dos produtos que consumimos (carne, leite, lã, ovos etc.). Compete, então, aos criadores, intervirem da melhor maneira possível, otimizando essa relação de troca de energia entre o animal e o ambiente. No caso das raças bovinas de corte, verificamos uma plasticidade genética formidável e esse é um desafio adicional para o selecionador: decidir, entre várias opções e modismos, qual o modelo mais adequado para o seu sistema de produção. Animal Business-Brasil_51
Jadir Bison
A uniformidade do gado é consequência de uma boa seleção genética
A seleção de gado de corte atual está equipada com um amplo ferramental. Modelos matemáticos avançados trabalhando com bases de dados corretas, permitem-nos conhecer, com relativa precisão, o valor genético do indivíduo para determinadas características. São as denominadas DEPs – Diferenças Esperadas na Progênie, que têm sido agregadas cada vez mais ao processo seletivo. DEPs só podem ser obtidas para características que são medidas na população e cujo conjunto de dados final apresente, o que chamamos em estatística, comportamento de distribuição normal. Entretanto, nem todas as características que queremos ou precisamos melhorar podem ser medidas dessa forma nos animais. Algumas não podem ser medidas pela relação custo x benefício desfavorável, em queos ganhos possíveis de serem alcançados a partir delas não compensam sua mensuração. Outras, pela simples im52_Animal Business-Brasil
possibilidade de medi-las pela ausência de um instrumento que o faça, como, por exemplo, a harmonia do conjunto do corpo do animal – uma característica complexa que não se encontra em nenhuma parte específica do corpo, mas que se traduz pela relação entre as partes e tem uma íntima relação com um fator importantíssimo na criação: o valor adaptativo dos animais. Valor adaptativo (fitness, em inglês) é uma expressão que significa a capacidade natural de um indivíduo estar bem em um dado ambiente. O valor adaptativo pode ser comprometido de forma relativamente fácil, caso os critérios de seleção dos animais não contemplem uma visão sistêmica, holística. Como é típico em nossa sociedade, confundimos os avanços tecnológicos com uma necessária obsolescência das tecnologias anteriores. Temos uma tendência muito forte de adotar a tecnologia da hora como sendo a redentora e única, e nessa esteira estamos “depeizando” exageradamente a seleção. Não que as DEPs não devam ser urgentemente incorporadas e valorizadas como critério de seleção – isso seria anacrônico –, mas é preciso relativizá-las e entendê-las exatamente como elas são: as melhores estimativas de valor genético do gameta médio de um animal para uma dada característica em um dado momento. E acreditem, isso é muito, mas não é tudo. E exatamente por requerermos mais dos animais do que as DEP’s hoje disponíveis fornecem que temos que buscar critérios adicionais que minimizem o efeito de uma seleção desestabilizadora. Nesse momento é que entra em cena a percepção humana, representada pelas tradicionais avaliações visuais de tipo dos animais. Elas ainda se colocam como fortes instrumentos de seleção e foram, durante muito tempo e ao longo dos milhares de anos de domesticação dos animais, a única ferramenta disponível para a humanidade. O olho humano tem sido utilizado desde o início do processo de domesticação dos animais e é a mais antiga ferramenta de seleção de bovinos que atende às características desejadas pelo homem, não existindo nenhum instrumento capaz de ser tão integrador de informações obtidas através de imagens. Como seleção em bovinos demanda muitas gerações, e gerações em bovinos são longas, não seria demais afirmar que grande parte da genética que
A seleção em gado de corte, hoje, precisa ter um olho na tela do computador e outro no curral temos hoje foi obtida com base em critérios que consideravam, em determinado momento, também olhar para os animais para constatar se os poucos números disponíveis correspondiam a indivíduos zootecnicamente adequados. Mas as avaliações visuais, para serem aplicadas hoje, precisam estar contextualizadas e associadas aos resultados que o moderno melhoramento genético disponibiliza hoje, caso contrário perderiam seu sentido técnico. As ciências estão claramente se unindo. Física, química e biologia têm um inter-relacionamento sem precedentes na história da humanidade e nos permitem entender melhor o relacionamento dos seres vivos com o ambiente. Essa concepção precisa ser empregada na seleção – e muito especialmente quando estamos adotando as avaliações visuais - porque estamos, em última análise, trabalhando com transformações e uso dos recursos naturais que interagem com, pelo menos, essas três ciências. Não raro surgem questionamentos se a aplicação das avaliações visuais é ciência ou arte. Deste ponto de vista, é interessante analisar se a seleção em si é uma ciência puramente ou um misto de ciência e aptidões pessoais não convencionalmente estabelecidas. Ciência é impessoal, apartidária e autônoma e tem que se submeter a regras rígidas e replicáveis. A princípio parece que devemos concordar unanimemente que a seleção deva ser absolutamente aplicação de ciência, tal qual ela é dogmaticamente estabelecida. Porém, não há como negar que existe algo de pessoal, subjetivo e imponderável na seleção; e ainda, que ela não é absolutamente replicável. E nesse ponto pode surgir um questionamento: não deveria ser a seleção impessoal, científica e replicável? O mais provável é que não, embora não pareça ser possível responder com
absoluta certeza essa pergunta, mas realmente se espera de um bom selecionador que ele tenha algum meio supra-genético de conhecer os méritos genéticos, apesar de duvidoso, porque lida com características invisíveis (ABCZ, 1998). Cabe ao selecionador encontrar o equilíbrio perfeito entre o rigor científico (e sempre ser obediente a ele) e sua percepção pessoal da situação. Essa capacidade extra torna-o talentoso, diferenciado e capaz de mover culturas inteiras em diferentes sentidos, o que aumenta ainda mais sua responsabilidade. A situação da seleção em gado de corte é uma conjunção muito peculiar de análises críticas fundamentadas em bases científicas (parte objetiva) e a capacidade preditiva e de inferência do selecionador para predizer situações futuras ou imaginadas (parte subjetiva). Olhar para trás e examinar o real ou realizado deve ser feito de forma objetiva/científica. Agora, usar isto para predizer o futuro e/ou onde e como usar cada tecnologia em um sistema de produção imaginário (futuro) para maximizar nosso objetivo, contém sempre um elemento imponderável e que pode apenas ser predito. Mesmo usando computadores e todo o acúmulo de informações, existe uma margem de erros e riscos, assim como ocorre nos mercados de capitais. Nenhuma metodologia é absolutamente perfeita para predizer valores, seja em que ramo da ciência estiver sendo usada. Todas contêm uma margem de erro e é preciso saber conviver com essa margem de insegurança. Não foi dada ao ser humano, em nenhum momento, a capacidade plena de prever o futuro. Nós podemos apenas, a partir dos fatos conhecidos, elaborar suposições de comportamentos futuros, que serão tanto mais próximos de sua realização verdadeira quanto maior e melhor for o conhecimento da situação atual e passada. O sucesso de uma sociedade depende, em grande parte, da sua capacidade de realizar predições corretas: à medida que elas conseguem predizer preferências e situações de mercado, tendências populacionais e tomar decisões consequentes, o sucesso ou não dessa sociedade se estabelece e vai se acumulando. A seleção em gado de corte, hoje, precisa ter um olho na tela do computador e outro no curral. Sem dúvida, este é um bom acasalamento. Animal Business-Brasil_53
Ile de France
Ovinocultura:
caminho aberto para expansão no mercado Por:
André Rocha Engenheiro Agrônomo
O
mercado da ovinocultura, no Brasil, deve tanto suprir o mercado interno, como garantir a exportação de seus produtos. A ovinocultura já tem uma história, em nosso país, desde a vinda dos primeiros exploradores europeus, embora a preferência dos brasileiros ainda esteja focada nas carnes bovina e suína, além da carne de aves. Mas as mudanças no gosto de consumo estão sempre acontecendo,
54_Animal Business-Brasil
assim como o aperfeiçoamento genético das diversas raças e de sistemas de criação dos ovinos. Isso gera, a cada ano, o crescimento do consumo, em especial, da carne dos ovinos, como também da lã, dos queijos e do couro.
Principais raças criadas no Brasil Para a produção de lã, destacam-se as raças australianas Ideal ou Polwarth e Merino australiano, todas bem adaptadas, suportam climas
Em várias propriedades do Brasil já se utiliza a transferência de embriões com a finalidade de melhoria dos rebanhos quentes e pastagens em solos pouco férteis. No entanto, não suportam alta umidade. Dentre as raças lanadas, produtoras de carne, destacam-se as inglesas Hampshere Down e Suffolk, esta última prefere climas amenos e mais disponibilidade de alimentos. Da mesma forma, destacamos a raça francesa Ile de France, que produz cordeiros com alta velocidade de crescimento. Já dentre as raças deslanadas, produtoras de carne, destacam-se a Morada Mova, esta com larga adaptação ao nordeste e bons ganhos de peso, e a Santa Inês, do sul do país, descendente de uma raça italiana leiteira, produtora de cordeiros com alta capacidade de engorda. Uma das raças de ovinos que se destaca na produção de pele é a Karakul, que gera cordeiros com as melhores peles, chamadas de astracã. Na produção de leite, destacam-se as raças Lacaune, Bergamácia e Wilstermarch, todas ideais para a produção de queijos finos.
Manejo Atualmente, a produção de ovinos pode ser feita de forma extensiva, intensiva ou um misto dos dois sistemas. Quando no sistema extensivo, a formação de pastos com qualidade, bem como a rotação no uso destes são de extrema importância para a boa manutenção e nutrição do rebanho. No sistema intensivo, a nutrição feita por meio de rações e suplementos merece destaque pela busca de matérias-primas de qualidade, para que ocorra a nutrição e engorda adequada dos ovinos, com custo-benefício conforme o mercado.
O bom manejo reprodutivo é imprescindível para a qualidade dos rebanhos de ovinos. Geralmente, o manejo se inicia com os animais pesando em torno de 40 kg, aos 18 meses de idade. Há várias modalidades de cruzamentos industriais, adotadas de acordo com a raça e com o produto desejado. A utilização de inseminação artificial é uma forma bem técnica e deve ser adotada conforme o custo-benéfico apresentado. Em várias propriedades do Brasil, já se utiliza a transferência de embriões com a finalidade de melhoria dos rebanhos. Outro aspecto primordial para o sucesso da criação de ovinos são as instalações utilizadas, pois muitos criadores, acostumados apenas com bovinos, têm tendência de adaptar as instalações pré-existentes erroneamente. Por isso, é preciso definir que tipo de produção será feita – lã, carne ou leite – além de estimar o tamanho do rebanho, no auge da produção, para se projetar os abrigos, os centros de manejo, as maternidades, os confinamentos para engorda ou terminação e outros.
Gestão Como em toda a cadeia produtiva da agricultura-pecuária, uma gestão bem feita é fundamental para se garantir uma produção com custos enxutos, visando ao mercado consumidor e à remuneração do produtor. O produtor deve fazer um estudo de mercado para identificar os seus nichos, bem como quais os produtos a serem absorvidos por ele. Em seguida, deve-se traçar um planejamento visando alcançar metas e organizar as tarefas para se fornecer produtos de qualidade. Um organograma bem feito de atividades para saber o momento certo de se investir é imprescindível, bem como o fluxo de caixa exato para se controlar os momentos de saída e entrada de capital. É preciso garantir consistência na produção, ou seja, produção ao longo do ano inteiro, para ser qualificado como bom fornecedor. Somente conduzindo as atividades produtivas da maneira planejada é que se torna possível avaliar os resultados. Isso é feito verificando a liquidez do negócio, se a cadeia administrativa está fluindo bem e se a produção tem qualidade e giro. Dessa forma, chega-se ao ponto de criticar o que está em andamento, fazer as muAnimal Business-Brasil_55
Suffolk
danças condizentes, replanejar os investimentos e melhorar os estrangulamentos técnicos, melhorando assim a viabilidade. Daí a produção de ovinos entra em um ciclo produtivo interessante, tornando o negócio viável e rentável.
6,5%, e Nova Zelândia, com 5,6%. Quanto ao Brasil, este produz 0,9 %. Os principais produtores de lã são a China, com 18,9%, a Austrália, com 18,7%, e a Nova Zelândia, com 8,1%.
Estatística
Distribuição do rebanho no Brasil:
Tradicionalmente, o Brasil concentra o seu rebanho ovino nas regiões Sul e Nordeste. Mas a realidade hoje é que o maior crescimento desse tipo de pecuária se dá nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Atualmente, o rebanho brasileiro, segundo o IBGE está estimado em 17,6 milhões de cabeças, produtoras de lã e carne. Isso representa cerca de 1,6% da produção mundial. Segundo dados da FAO de 2010, o maior produtor de ovinos, no mundo, é a Ásia, com 42,1% da produção mundial, seguida pela África, com 27,8%, Europa, com 12,1%, Oceania, com 9,3%, América do Sul, com 7%, e Américas do Norte e Central, com 1,4%. Já os principais produtores de carne, segundo os mesmos dados, são a China, com 24,3% da produção mundial, seguida da Austrália, com 56_Animal Business-Brasil
Nordeste - 57% Sul - 29% Centro-Oeste - 7% Sudeste - 4% Norte - 3%
9567 7762
10000
4808
6000
5568
547
396
400
693
2000
762
4000
1128
X 1000 cabeças
8000
0 Sul
Nordeste
Centro-Oeste
2000
Sudeste
Norte
2009
Dados: IBGE 2012
Mercado Atualmente, o principal produto da criação de ovinos, no Brasil, é a carne. No nordeste e no sul, sempre houve a tradição do consumo da carne de ovinos, em feiras, em churrascarias e em fes-
adaptar para substituir a produção de carneiros por cordeiros. Atualmente, existe tecnologia para se produzir cordeiros bem precoces, chega-se a produzir cordeiros em 8 meses. Estes podem ser abatidos com 35 e 40 kg, de peso vivo, e alto rendimento de carcaça, com um mercado que gira em torno de R$ 13,00 /kg. Há algum tempo, os produtores estavam desanimados com os preços pagos pela indústria, pela falta de qualidade dos animais distribuídos. Mas com o aumento da qualidade, o rendimento da carcaça dos ovinos passou de 46% para 50% (há produtores alcançando 58%). Existem indústrias que bonificam os produtores que entregam cordeiros de 8 meses com rendimento de carcaça maior que 50%. Assim, quem produz um carcaça de 15 quilos de aproveitamento, pelos preços praticados mais a bonificação, receberá em torno de R$ 200,00, bem superior à arroba de boi. Em alguns mercados, chega-se ao dobro dela, o que vem gerando aumento da ovinocultura profissional.
Red Engandine
tas populares. A matéria-prima utilizada no abate sempre foram ovinos adultos, de 3 a 4 anos, com qualidade muito variada nas texturas, e consistência dura e sabor forte, no resultado final, o que gerava uma certa resistência quanto ao seu consumo. Com o aprimoramento constante na produção e o refinamento no gosto da população, finalmente chegou-se a um crescimento na venda de carne de cordeiro. Um padrão ideal já foi desenhado pelo consumidor brasileiro e pela indústria, com isso, a cadeia produtiva teve de se
Os números indicam uma demanda maior do mercado e mudanças positivas no hábito do consumidor (de carne) Animal Business-Brasil_57
Número de abates no Brasil
Estados
Mato Grosso do Sul
que, nos próximos 10 anos, ainda não consigamos atingir a autossuficiência.
3,5
Bahia
Exportação 14,8
São Paulo
23,8
Rio Grande do Sul
190,8
Brasil
237,5
0
50
100
150
200
250
X 1000 cabeças
Dados: Ministério da fazenda 2012
Nosso país é muito dependente da importação de ovinos, tanto de animais vivos, quanto da carne. De janeiro a fevereiro de 2013, foram gastos US$ 54,3 mil. No mesmo período de 2012, foram gastos US$ 65,7 mil, o que demonstra o exposto acima. Nossos maiores parceiros comerciais estão no MERCOSUL, em ordem de importância: o Uruguai, a Argentina e o Chile. Mas também importamos ovinos da Nova Zelândia e da Austrália.
Futuro A ovinocultura tende a crescer muito em nosso país, pois temos condições climáticas e área suficiente para isso. No entanto, os produtores precisam apostar em modelos de gestão moderna e atualização de tecnologias. O mercado já aponta a direção para onde vai o consumo interno. O consórcio de ovinos com bovinos pode ser uma das saídas para o aumento do rebanho, pois ambos são ruminantes e possuem algumas similaridades no processo, entretanto, os ovinos exigem um pouco mais de manejo.
Consumo Hoje o consumo de carne de carneiro, no Brasil, é da ordem de 0,7 kg/ano por pessoa. Para que o consumo passe para 2,5 kg/ano por pessoa, é preciso um rebanho de 50 milhões de cabeças contra os atuais 17,6 milhões. A estimativa é Santa Inês 58_Animal Business-Brasil
Há pouco tempo, fomos procurados pelo Oriente Médio para atender um demanda de carne de ovinos e tivemos de recusá-la. Fora a demanda existente nos E.U.A e na União Europeia. Os números indicam uma demanda no mercado e mudanças de hábito positivas no consumo. Os produtores estão se adaptando a formas mais modernas de tecnológicas de produção. Quem pode duvidar que está no momento de os ovinos se transformarem em um dos principais produtos da pecuária em nosso país? Para aprimorar os seus conhecimentos a respeito da criação e do manejo de ovinos, bem como das espécies mais conhecidas e rentáveis para o produtor, acesse o site www.cpt.com.br, do CPT - Centro de Produções Técnicas. Nele, você poderá encontrar os mais diversos cursos da Área Ovinos, todos constituídos de livros interativos, com filmes em DVD, que mostram, de forma bem clara e objetiva, prática e teoria. Além disso, os cursos têm uma carga horária de 40 horas e são ministrados pelos especialistas, Edson R. De Siqueira, Doutor em Zootecnia da Unesp, e Cristiane Leal dos Santos, Doutora em Zootecnia da UESB. Ao fazer os cursos na área, você receberá um Certificado de Especialista, emitido pela UOV - Universidade On-line de Viçosa, afiliada mantenedora da ABED - Associação Brasileira de Educação a Distância.
Criação de cavalos
André G. Cintra
é negócio importante no Brasil
Domesticado há mais de cinco mil anos o cavalo teve importância fundamental nas guerras antigas, e ainda é usado no transporte, na tração, no policiamento, no esporte e no lazer
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A
través deste artigo do especialista, Médico Veterinário, Professor e autor de livros, André Galvão Cintra, o leitor ampliará seus conhecimentos sobre essa bela espécie animal. O mercado de cavalos está em franca expansão, no Brasil. Em valores atualizados, o País tem 5.550.000 equinos e o agronegócio cavalo movimenta 10 bilhões de reais por ano, empregando mais de 3 milhões de pessoas direta e indiretamente. O setor de alimentação animal conta com mais de 100 fábricas de ração, pertencentes a mais de 70 empresas nacionais e multinacionais, e mais de 40 empresas de suplementos. Isso para alimentar cerca de 1.500.000 equinos que contam com tratamento diferenciado.
Todas as raças estão crescendo Todas as raças de equinos tem apresentado crescimento em seus plantéis, configurando um investimento crescente no setor, de norte a sul do Brasil. Isso certamente configura mais ainda uma busca pela melhor relação homem & cavalo, quer seja pelo ponto de vista emocional para o homem, quer seja pela relação financeira que isso pode trazer ao mercado brasileiro.
O ancestral O ancestral mais antigo do cavalo, o Hyracotherium ou Eohippus, data de 55 milhões de anos. Desde essa época, no período Eoceno, até chegar aos cavalos atuais, Equus sp, muito se modificou no cavalo, porém quatro aspectos ainda permanecem imutáveis, sendo o que denominamos de ‘Preceitos Equestres’: Presa, Gregário, Liberdade e Alimentação. O equino evoluiu como presa, sempre fugindo de tudo que pode colocar em risco sua sobrevivência, sendo esta sempre sua atitude inicial. O ataque, eventual, somente ocorre se a fuga não for possível. Como animal gregário necessita de companhia, preferencialmente de seus pares. Evoluiu como animal que estima e preza a liberdade, pois esta lhe permite manter-se a salvo de seus predadores. E por fim, alimen60_Animal Business-Brasil
tação baseada em forrageiras, cujas necessidades de fibras longas são fundamentais para sua sobrevivência.
Domesticação A domesticação do cavalo pelo homem, há cerca de cinco ou seis mil anos, incorre em um fator interessante, pois sendo presa, sua atitude natural seria de fuga; porém, com o fim do último período glacial, há dez mil anos, as florestas começam a tomar conta do cenário mundial, diminuindo os campos de pastagens que permitiram ao equino sobreviver de forma eficiente. Nesta mesma época, entre dez e doze mil anos atrás, o homem começa os primeiros passos da agricultura, se fixando em determinadas áreas e não permitindo o avanço das florestas ao seu redor. Provavelmente essa aproximação foi que permitiu a sobrevivência do cavalo como hoje o conhecemos, pois sua área de alimento natural estava diminuindo, impedido apenas pela fixação do homem no campo.
Fonte de alimento Inicialmente, o homem utilizou o cavalo como mais uma fonte de alimento, mas percebeu que poderia utilizá-lo como meio de transporte, iniciando-se aí uma parceria de sucesso, que permitiu ultrapassar barreiras dantes nunca possível, como velocidade e distância percorridas. Desde então, a parceria homem & cavalo estreitou-se até o início do século XX, sendo este o único século desde a domesticação, em que o homem rompeu a relação com o equino, sendo esta retomada de forma mais intensa no final dos anos 80.
De companheiro a inconveniente Após a dependência do cavalo para contato com as civilizações mais distantes que ocorreram desde há seis mil anos até o início do século XX, com a invenção do automóvel, o equino passou de companheiro indispensável a obstáculo inconveniente, pois sujava as cidades e exigia um constante cuidado com alimentação, ferrageamento, equipamentos, etc.
Camilla Cintra
Cavalo Mangalarga Marchador em liberdade
Desta forma, populações inteiras de equinos quase foram exterminadas no início do século XX, relegando ao cavalo um plano jamais visto pelo homem, sendo preservado apenas em algumas culturas, em esporte de elite e no interior rural de muitos países.
Volta ao passado Com o advento da tecnologia, a partir da segunda metade do século XX, que fixou o homem nas cidades, levando a jornadas de trabalho cada vez mais extenuantes, com maior ênfase no final do século, o homem busca um retorno às suas origens e nada mais natural que essa busca recaia no equino, animal que sempre o acompanhou nas mais diversas conquistas dos últimos 50-60 séculos.
Apesar da domesticação prover ao equino abrigo, alimento, cuidados de saúde e proteção contra predadores, limitou sua liberdade, a livre reprodução, e obrigou o animal a despender energia em benefício de outra espécie. Algumas características comportamentais do equino mostram uma predisposição a uma relação benéfica com o homem, porém, até poucos anos, este deu exagerada importância à sua dominância, pouco se importando com uma relação de companheirismo com o cavalo. Isto tem se modificado de forma muito intensa, com diversos pesquisadores e profissionais que, buscando compreender a natureza do equino e suas origens, almejam prevenir os efeitos deletérios que o homem causa ao animal. Ao se entender os equinos, porque se comportam de determinada forma, o homem pode Animal Business-Brasil_61
Cavalo tem sentimentos Como todos os animais, e a ciência o comprova em estudos bem recentes, o cavalo é um ser senciente, isto é, tem a capacidade de ter sentimentos e possui consciência do mundo que o cerca. Sendo assim, nada melhor que buscar uma relação de paz e sobriedade com este animal que há tanto tempo nos acompanha. Darwin, em “A Origem das Espécies” já estabelecia que os animais possuem 06 sentimentos básicos: Surpresa, Felicidade, Tristeza, Aversão, Raiva, Medo. Mais recentemente, Jaak Panksepp nomeia 07 sentimentos básicos: 04 positivos Busca, Brincar, Cuidados, Luxúria e 03 negativos - Raiva, Medo, Pânico; porém todos fundamentais para a sobrevivência de uma espécie. A pesquisadora científica Temple Grandim, um dos maiores nomes do comportamento animal de nossa era, é quem mais trabalha nesse sentido relacionando emoções, sentimentos e comportamento como fatores intrínsecos e ex-
Camilla Cintra
controlá-lo e conviver com ele de forma mais eficaz e eficiente.
André G. Cintra
Iniciando o processo de interação homem e cavalo nas primeiras horas de vida
Baia aberta
trínsecos ao animal e todos juntos são responsáveis pelas atitudes do animal em relação ao meio. Essa pesquisadora destaca que, para um melhor relacionamento com os animais, deve-
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mos estimular as emoções positivas o máximo possível e as negativas o mínimo necessário. Uma discussão recente, abordada por cientistas europeus que comprovam que cavalos sentem depressão, mostram que eles estão em busca desse entendimento para tratar a depressão humana - vai aqui uma recomendação pessoal: eles deveriam recomendar mais contato com cavalos a essas pessoas, pois certamente a depressão seria mais rapidamente tratada. Aprofundando um pouco mais com relação aos sentimentos dos animais, quais sentimentos os animais possuem, cientificamente, quer sejam por observação ou não, são aceitos os citados acima por Darwin e Panksepp, mas vou mais longe, através de percepção pessoal oriunda de alguns anos de convivência com animais e aprofundado por leituras e estudos: ouso dizer que os animais possuem todos os sentimentos e emoções que os humanos possuem. Mas, e aqui cabe uma grande ressalva e compreensão, são
Comunicação Com relação à comunicação equina, para se falar melhor o ‘cavalês’, devemos entender como os animais se comunicam. Eles o fazem utilizando de seus seis sentidos: visão, audição, olfato, tato, paladar e empatia. Claro que os sentidos de visão, audição, olfato, tato e paladar funcionam de forma específica e característica da espécie (para conhecer melhor esses sentidos, estão bem descritos no livro “O Cavalo: Características, Manejo e Alimentação”), mas são bem conhecidos do homem.
A ciência comprovou em estudos recentes que o cavalo tem sentimentos e consciência do mundo que o cerca do que a cerca. A concepção do ‘sentir o que o outro sente’, é um estado puramente emocional e expressa claramente como os animais nos percebem, porque nossa atitude e postura ao se aproximar de um animal podem definir a forma como ele reage, pois ele ‘percebe’ nossas intenções e estado emocional muito antes de o tocarCamilla Cintra
sentimentos dos animais. Podemos até dar nomes humanos para os sentimentos e emoções dos animais, porém, jamais devemos achar que eles os sentem como os humanos os sentem. Sendo assim, um cavalo sente dor, ódio, raiva, amor, ciúmes, depressão, medo, etc., A forma como os sentimentos e emoções evoluem em uma espécie, é a forma mais eficiente que permitiu a sobrevivência desta espécie nos milhões de anos de seu processo evolutivo. E fica claro que a forma de sobrevivência do cavalo foi diferente da do cão, que é diferente da do gato, que é diferente da do bovino, do caprino, do homem, etc. A melhor convivência possível do homem com um animal passa essencialmente através desta compreensão de seu comportamento.
Empatia Interessante aqui, para aprofundar a relação homem & cavalo, é conhecer melhor o ‘sexto sentido’, a empatia. Do ponto de vista da psicologia humana, empatia é definida como ‘colocar-se no lugar de alguém’. Do ponto de vista etimológico, esta definição está errada, pois empatia vem do grego empatheia, “paixão, estado de emoção”, formado por en-, “em”, mais pathos, “emoção, sentimento”; a ideia é estar “dentro” do sentimento alheio, ou ainda ‘sentir o que o outro sente’. A psicologia humana, com sua definição, busca racionalizar a emoção, pois ‘colocar-me no lugar de alguém’ exige reflexão e racionalidade do que e como a pessoa em questão age e reage às diversas atitudes e momentos do munAo lado: animal em liberdade
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Camilla Cintra
Cavalo Bretão em liberdade
mos. E este último sentido é que explica o porquê, ao controlar sua respiração e seu estado emocional, isso permite que nos acheguemos com mais facilidade ao animal.
Racionalidade e Consciência A racionalidade dos animais vem sendo observada, e apesar de ainda não cientificamente comprovada como muitos assim o exigem, está cada vez mais sendo aceita e menos discutida. Uma questão que sempre se posiciona contra essa racionalidade, tem relação com a consciência dos animais. Como pode existir racionalidade se não há consciência, ou ao menos prova da consciência dos animais? (Curiosamente, até há poucos meses não havia se comprovado a existência da consciência dos humanos, mas esta nunca foi questionada – por motivos óbvios, pois se estou aqui a escrever, e você a ler isso, é porque temos consciência de algo). Mas nestes últimos meses, um dos maiores cientistas do mundo atual, o canadense Philipe Low, em um trabalho com o físico Stephen Hawking, conseguiu mapear a consciência dos humanos. Utilizando o mesmo método em animais, ele ob64_Animal Business-Brasil
servou que as áreas aceitas como responsáveis pela consciência dos humanos são ativadas também nos animais sob os mesmos estímulos, o que comprova, agora de forma científica, que os animais possuem consciência.
Organização social Um dos principais fatores que permitem que o cavalo se aproxime de nós e que obtenhamos dele uma resposta positiva é a questão de organização social. Toda sociedade animal exige um comportamento social com uma organização hierárquica eficaz, e essa eficácia é traduzida pela sobrevivência do grupo e pelo estabelecimento de uma hierarquia no grupo, onde temos estratificação de quem lidera e quem é liderado, e isso ocorre em diversos níveis, e não apenas um manda e todos o seguem. Os cavalos estão sempre em busca de um líder, que seja confiável e que permita a convivência pacífica e que disponibilize todos os proventos necessários para sua sobrevivência. Sendo assim, aproveitando-se disto, ou melhor ainda, integrando esse comportamento na-
Os cavalos estão sempre em busca de um líder que seja confiável e que permita a convivência pacífica
tural dos animais às nossas necessidades é que podemos e devemos buscar ser líderes, onde isso se traduza em uma melhor convivência para ambas as espécies.
A busca de um líder Atenção deve ser dada que a busca do cavalo é por um líder, aquele a quem se deseja seguir, cujos passos são inspiração e desejosos de serem adotados, e não pela busca de um chefe, aquele que se impõe, aquele que se obedece por medo ou insegurança. É a diferença da busca da relação ‘homem & cavalo’ e não ‘homem x cavalo’. Pessoalmente tenho buscado essa filosofia em minha vida e daqueles que me cercam. Trabalho com equinos desde 1978, quando meu pai adquiriu as primeiras éguas da raça Quarto-de-milha. Por motivos do mercado da época, em 1981 começamos a criar Mangalarga, até a crise do mercado no início dos anos 90. Em 1995, comecei a criar cavalos Bretão, tendo sido presidente da entidade por duas gestões e vice-presidente por outras duas gestões. Entrei na faculdade de veterinária nos anos 80 com o intuito de trabalhar com cavalos, o que, com a graça de Deus continuo a fazer até hoje. Trabalhei por 5 anos em uma multinacional da indústria de alimentação animal, que me permitiu conhecer o mercado brasileiro quase em sua totalidade. Há 12 anos saí da indústria para trabalhar como consultor, docente e estudioso do cavalo. Nesse período, buscando atender a grande demanda do mercado equestre e a au-
sência de literatura brasileira específica, publiquei dois livros sobre cavalos.
Bons resultados Tenho me dedicado ao estudo de nutrição e do comportamento do cavalo buscando cada vez mais integrar o homem e essa espécie animal. Graças a isso, tenho tido resultados tanto na área nutricional como de relação homem & cavalo que me permitem obter resultados extremamente positivos para ambos. A quantidade de ração administrada a meus animais, de 1,5 a 4 kg por dia (para uma égua bretã de 850 kg de peso) me trazem benefícios econômicos e praticamente excluem riscos de doenças por excessos, quer sejam quadros de cólicas como outros que daí possam advir. Além disso, tive resultados na criação de alguns potros trabalhando de forma bastante adversa da tradicional, como desmamar entre 9 e até mesmo 11 meses, sem nenhum prejuízo físico aos animais, mas muitos benefícios psicológicos, e iniciar o relacionamento com esses potros a partir da 5ª hora de vida, respeitando a interação inicial do potro com sua mãe, fundamental para a sobrevida física e mental deste animal. Essa intensa relação permite, com uma criação exclusiva em liberdade, me aproximar de meus animais a qualquer momento, sem estresse de nenhuma das partes, pois pude tornar interessante para eles a convivência com o homem. Pude passar isso de forma bastante eficaz para minha filha como pode ser observado nas fotos que ilustram essa matéria. Presente em eventos equestres desde os 20 dias de vida, ela assimilou a compreensão e paixão pelos cavalos de forma bastante perspicaz, o que lhe permite uma liderança e excelente convivência com os cavalos. Hoje, em vias de entrar na faculdade de medicina veterinária, já realiza trabalho remunerado como cavaleira, montando e corrigindo cavalos com o uso de conhecimentos comportamentais e equitação a um nível elevado e com resultados bastante interessantes. Certamente, muito ainda há por aprender, pois muito ainda há por estudar, mas o caminho está sendo traçado de forma a aproveitar o conhecimento e utilizá-lo visando a melhor convivência com o cavalo. Animal Business-Brasil_65
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oberto Rodrigues assumiu, no dia 15 de agosto, a presidência da Academia Nacional de Agricultura. Na mesma oportunidade, foram empossados os novos acadêmicos Elizabeth Farina, Luiz Carlos Guedes, José Milton Dallari e Sergio Quintella. Todos são referências em termos de conhecimento do setor. A Academia Nacional de Agricultura é o “crème de la crème” da inteligência do agronegócio no país. Um fórum onde se encontram os principais pensadores e líderes do setor rural brasileiro. Graças à sua composição pluralista, congrega personalidades de diversas áreas do conhecimento, como os ex-ministros Delfim Neto, Alysson Paolinelli, Pratini de Morais, Antonio Cabrera, Rubens Ricupero; produtores tradicionais e inovadores como Lindolpho de Carvalho Dias, Osaná de Almeida, Luiz Suplicy Hafers, Joel Naegele, Fabio Meirelles, José Carlos Menezes e Pierre Landolt; bem como juristas, economistas e ambientalistas, como Ibsen Câmara, Flávio Perri e Israel Klabin. A Academia é um órgão integrante e mantido pela Sociedade Nacional de Agricultura, a mais antiga instituição do país voltada para a promoção do agronegócio e da sustentabilidade. Fundada há 116 anos, a SNA ganha relevância na difusão de conhecimentos, funcionando ainda como eficiente meio de interação entre o setor rural, a sociedade urbana e o governo. Em sua posse, Roberto Rodrigues afirmou que pretende transformar a Academia Nacional de Agricultura no “chapéu pensador do agronegócio brasileiro”. Um fórum qualificado para discutir temas relevantes para o setor, dentro de uma visão ampla, sem perder a objetividade. “Não dá mais para viver de diagnósticos, precisamos de propostas concretas”, afirmou o novo presidente.
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Sebastião Marinho
Academia Nacional de Agricultura reúne a inteligência do agronegócio brasileiro
Ex-ministros da Agricultura, Roberto Rodrigues, Alysson Paolinelli e Luiz Carlos Guedes, em recente reunião na Academia Nacional de Agricultura
Dessa forma, a Academia vai procurar unir esforços para apresentar ao governo, ao poder legislativo, judiciário e à sociedade civil, propostas objetivas de ações concretas visando à solução de problemas que dificultam o desenvolvimento do setor. O Brasil possui uma das maiores e mais avançadas agriculturas do planeta. Somos campeões em produtividade e sustentabilidade. Enquanto isso, nosso produtor rural sofre com a insegurança jurídica, a deficiente infraestrutura e o descompasso das políticas públicas. Também fazem parte dos dissabores de nossa agropecuária os descontrolados processos de delimitação das terras indígenas e das reservas ambientais, as ameaças da legislação trabalhista e os encargos do novo Código Florestal. Um setor que exporta US$ 100 bilhões por ano deveria merecer maior consideração por parte do governo e da sociedade. É difícil imaginar o que seria da economia brasileira se não fosse o agronegócio. O agribusiness nacional pode e deve continuar contribuindo de forma consistente para o desenvolvimento econômico e social do país. Temos grandes oportunidades, ainda pouco exploradas, na produção de agroenergia e na agregação de valor das commodities agrícolas que exportamos in natura. A Academia Nacional de Agricultura, agora sob a batuta de Roberto Rodrigues, tem competência, conhecimento e seriedade para contribuir, de forma efetiva, na superação dos gargalos de nosso agronegócio. * Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
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