Ano 03 - Número 12 - 2013 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
MATO GROSSO oportunidades de investimento na produção de carne bovina
CAMARÃO BRANCO
produção high-tech
OVO DE GALINHA
o mito do colesterol
MERCADO CHINÊS
ascensão do poderAnimal deBusiness-Brasil_1 compra
A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ
Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)
Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.
www.timeagrobrasil.com.br
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uma publicação da:
A
matéria de capa desta 12ª edição mostra a pujança do estado de Mato Grosso em termos de pecuária e as oportunidades de investimento nesse importante segmento da economia nacional. Segmento que só tende a crescer tanto em função do aumento da população brasileira e mundial como do poder aquisitivo dos países emergentes. É fato notório que a melhora do padrão de vida dos povos tem relação direta com o consumo de proteínas de alto valor biológico como é o caso das carnes. Há poucos lugares com as características da pecuária de Mato Grosso, com seus mais de 900 mil quilômetros quadrados de extensão territorial distribuídos por terras do cerrado, planície pantaneira e também floresta tropical. As condições para a criação de gado indiano, principalmente da raça Nelore, são consideradas excepcionais pelos técnicos. Com cerca de 35 mil produtores, o Estado ocupa a segunda posição como exportador brasileiro e vende carne para 80 países, além de abastecer boa parte do mercado interno.
De tempos em tempos o ovo de galinha alterna de posição entre alimento saudável e prejudicial para a saúde do consumidor, mas estudo detalhado publicado nesta edição defende sua importância e procura desfazer o “mito do colesterol”. As técnicas de reprodução assistida (artificial) aumentam drasticamente a produtividade dos rebanhos o que é ferramenta fundamental para ajudar a combater a fome mundial e garantir o lucro do produtor, como o leitor constatará nesta edição. A criação de produtos do mar em cativeiro é outro importante recurso para aumentar a produção de proteínas de alto valor biológico. Veja a matéria sobre criação intensiva de camarão branco assinada por especialistas da Universidade Federal do Rio Grande. Fernando Roberto de Freitas Almeida, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Fluminense, em “A China e seus mercados em ascensão” fornece informações relevantes sobre esse grande importador do Brasil, e, Alberto Figueiredo, produtor de leite e diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, que produz esta Revista, defende a tese de que “está na hora de olhar para os pequenos produtores”.
Luiz Octavio Pires Leal Editor
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Diretoria executiva
Diretoria técnica
Antonio Mello Alvarenga Neto presidente
Francisco José Vilela Santos
Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente
Hélio Meirelles Cardoso
Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente
José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers
Joel Naegele 3º Vice-presidente
Ronaldo de Albuquerque
Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente
Sérgio Gomes Malta
Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto
Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho
COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979
Academia Nacional de Agricultura
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Cavalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso
Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Abiec Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial
É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000
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O mito do colesterol no ovo Por:
Helenice Mazzuco - Zootecnista, Ph.D., Pesquisadora Embrapa Suínos e Aves, Concordia/SC, helenice.mazzuco@embrapa.br Antonio Gilberto Bertechini - Zootecnista, Dr., Professor Titular, Universidade Federal de Lavras/MG, bertechini@ufla.br
Origem O colesterol é um componente nutricional presente em vários alimentos (Tabela 1), e possuí funções essenciais em nosso organismo como por exemplo, ser precursor de hormônios sexuais (progesterona, testosterona, estradiol), cortisol, lubrificante das artérias e veias, da Vitamina D e sais biliares além de estar presente nas membranas celulares (em mais de 90% de nosso corpo!) auxiliando na manutenção da permeabilidade e flexibilidade das células. Devido tal importância, o próprio organismo se encarregou de produzi-lo no fígado a partir da glicose (carboidratos) consumida, não dependendo de qualquer ingestão para a manutenção da sua concentração nos vários compartimentos do organismo. Dessa forma, não existe exigência dietética para o colesterol sendo que as informações de restrição de consumo dessa substância (300 mg/dia) para adultos, não tem relação com a sua necessidade nutricional mas sim, está atrelada especialmente aos mitos, já que a ingestão de alimentos que contêm colesterol (camarão, caviar, ovos, manteiga, carnes, etc) não encon-
tra-se associada com os níveis sanguíneos nos indivíduos normais (99,5% da população!).
Molécula essencial Essa molécula (essencial à vida!) tem gerado grande interesse público por estar inadequadamente associada à incidência de doenças cardiovasculares. A percepção de que alimentos ricos em colesterol deveriam ser restringidos ou proibidos numa dieta surgiu logo após um único estudo científico utilizando modelos animais (coelhos de laboratório) indicando o aumento dos níveis sanguíneos em associação ao consumo de colesterol presente na dieta. O ovo, particularmente a gema, é fonte de colesterol (um ovo contém em média 213 mg) justamente porque em sua atribuição original, esta substância possuí funções metabólicas essenciais (descritas no inicio dessa matéria), necessárias à formação embrionária de uma ave. No caso dos ovos de mesa, estes não vão gerar um embrião, porém, naturalmente conserva todos os elementos nutritivos essenciais que o ser humano usufrui ao consumi-los.
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Dúvidas As dúvidas sobre a qualidade desse alimento para o consumo humano mantiveram-se durante muito tempo, contudo após vários anos de estudos científicos em diferentes universidades e centros de pesquisas, as evidências foram contrárias, comprovando que os efeitos da concentração de colesterol de certos alimentos (ovos, por exemplo) nos níveis do colesterol sanguíneo são pequenos e clinicamente insignificantes. Por outro lado, o mito ainda prevalece entre a população necessitando sempre algum esclarecimento. A má interpretação originou-se em parte da crença de que o consumo de ovos elevaria os níveis do “mau-colesterol” em todos os indiví8_Animal Business-Brasil
duos e que essa seria a principal fonte da dieta a colaborar no aumento do colesterol sanguíneo. Embora a indicação de ajustes na ingestão de ovos seja apropriada para alguns indivíduos com histórico familiar de doenças cardiovasculares, essa mesma recomendação não é válida para a grande maioria da população. Em nível mundial ocorrem em torno de 18 milhões de óbitos por DCV (Doenças Cardio-Vasculares) o que representa 0,36% da população do planeta. Contudo, o consumo de quantidades equilibradas de proteínas, gorduras, carboidratos, vitaminas e minerais são essenciais para a boa nutrição e controles de todos os nutrientes presentes na circulação sanguínea de cada
indivíduo. O excesso de qualquer um desses nutrientes pode desencadear modificações deletérias no sangue, resultando em problemas circulatórios. Quanto ao colesterol endógeno, o organismo humano o sintetiza naturalmente (75%), sendo o fígado, o principal local de produção enquanto os outros 25% são oriundos da dieta. Um indivíduo adulto pode produzir em torno de 3000 mg de colesterol, dependendo das suas características fisiológicas e também associadas ao hábito alimentar e de ritmo de vida.
O que realmente importa
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A população moderna amplia sua ansiedade com relação a sua saúde e querendo sempre maior longevidade, porém ao mesmo tempo piora seus hábitos diários. Evitar o maior problema do século, que é o estresse e voltar ao básico seria mais interessante. O efeito do estresse é mais prejudicial do que a preocupação com a ingestão de qualquer alimento. O indivíduo estressado tem modificações na síntese de substâncias importantes para a manutenção do funcionamento orgânico. Uma dessas alterações seria a da redução da síntese de lipoproteínas que carregam as gorduras no sangue. Dessa forma, ocorre o aumento dos níveis de gorduras circulantes e este é o principal problema relacionado aos acidentes cardiovasculares. As placas de gordura ou ateromas formados na
parede interna das artérias e veias contêm em sua maior composição, os ácidos graxos principalmente saturados e de cadeia longa (exemplo - ácido esteárico), presente em vários alimentos como margarinas e gorduras animais. O colesterol faz parte também dessa composição (15%), porém, tem função primária, que é a de reparar os danos nas paredes internas de veias e artérias provocados pelos maiores fatores de risco como obesidade, sedentarismo, tabagismo, álcool, hipertensão, estresse, entre outros. Infelizmente, o Brasil está inserido entre os 10 países do mundo com maiores incidências de problemas cardiovasculares. Atualmente, devido ao estilo de vida, a atenção com os níveis de gordura sanguíneo em função de sua contribuição na formação dos ateromas nas artérias é constante. O excesso de colesterol circulante é detectado verificando-se o nível de lipoproteínas de baixa densidade (conhecida como LDL) bem como a concentração dos triglicerídeos no sangue. O colesterol não se perde no organismo sendo reciclado o tempo todo, no entanto, existe uma maneira prática de regular seu nível sanguíneo que consiste no exercício físico regular. Pesquisa de Bertechini (2012) com galinhas poedeiras recebendo dieta baixa em calorias verificou que a ingestão de colesterol marcado resultou na presença de CO2 marcado no ar expirado por essas aves, indicando que o colesterol pode ser fonte primária de energia para o organismo. Durante esse processo de aeróbica, o colesterol circulante é a substância primária que fornece a energia sendo degradado e assim reduzindo a colesterolemia (total de colesterol sanguíneo). Da mesma maneira que é sintetizado, também pode retornar à molécula inicial e fornecer energia ao organismo. Assim, os exercícios físicos como uma simples e regular caminhada é a maneira prática de redução dos níveis de colesterol sanguíneo a baixo custo e este deve ser um hábito a ser seguido.
Bom para a saúde Os alimentos desempenham funções essenciais à manutenção da saúde. Entre a grande variedade de produtos e fontes de nutrientes ao nosso organismo, o ovo possuí, sem dúvida, uma posição de destaque por ser rica e balanceada fonte de proteínas, ácidos graxos, mine-
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rais e vitaminas (Figura 1 e 2). Para termos uma ideia da superioridade em termos de nutrientes presentes no ovo em relação a outros alimentos, a Tabela 2 indica o valor biológico comparativo entre algumas fontes alimentares. Os ovos contêm uma quantidade apreciável de proteínas de fácil digestão e com um perfil de aminoácidos considerado ideal para a nutrição humana. Por essa razão possuí a proteína com maior valor biológico com relação à outros alimentos. Adicionalmente, é um alimento de baixo custo, comparando-se sua riqueza em nutrientes como o ácido fólico, riboflavina, selênio, colina, vitaminas do complexo B, vitaminas lipossolúveis, A, K e D, além de ser um dos poucos alimentos ricos em luteína e zeaxantina, dois potentes antioxidantes cujos efeitos preventivos contra a degeneração ocular (mácula) e formação de catarata, especialmente em idosos, já foram comprovados. Recentemente, pesquisas realizadas com voluntários obesos/com sobrepeso indicaram que a ingestão de ovos (2 unidades) no café da manhã em substituição a carboidratos (pão francês) auxiliaram não apenas na redução do índice de massa corporal (IMC) como também na manutenção da concentração sanguínea de colesterol, triglicerídeos, lipoproteínas de alta e baixa densidade a níveis aceitáveis para idade e sexo. A ingestão de ovos em substituição a carboidratos no café da manhã levam à maior saciedade e à redução da ingestão energética o que conduz a um melhor monitoramento do peso corporal e melhor disposição (decréscimo da fadiga), conforme relatam Vander Val et al. (2008). Os ovos não possuem carboidratos e a energia (90 kcal, para um ovo de 63 g) é derivada praticamente dos lipídeos (gordura) presentes na gema. O perfil nutritivo da gordura presente no ovo é de excelente qualidade uma vez ser distribuída em maior proporção entre os ácidos graxos monoinsaturados (2,3 g) e ácidos graxos poli-insaturados-PUFA (1,2 g), em comparação à concentração dos ácidos graxos saturados (1,97 g, total). Adicionalmente, entre os ácidos graxos poli-insaturados existe uma grande riqueza presente na gema dos ovos em termos de essencialidade à dieta humana, considerando a concentração em PUFA-ômega-3 de cadeia longa como o DHA (22:6 n-3), importante no desenvol-
Figura 1: Contribuição do ovo na nutrição humana Energia Proteínas Gordura/Lipídeos Colina Riboflavina Niacina Ácido fólico Vitamina B12 Vitamina A Vitamina D Vitamina E Biotina Ferro (Fe) Iodo (I) Zinco (Zn) Fósforo (P) Selênio (Se)
3 13,9 6,7 65 11 10,2 7,5 51 9,6 21 8 40,4 13,2 8,6 6 14,8 13,7
Fonte: Instituto de Estudios del Huevo (www.huevo.org.es) – (Adaptado)
Os ovos podem ser considerados os maiores aliados para prevenir doenças vimento psicomotor, coordenação motora, prevenção de déficit de atenção e hiperatividade. Em idosos, o DHA está envolvido na prevenção da doença de Alzheimer. A colina é outro nutriente essencial por estar presente na composição dos fosfolipídios (principais componentes das membranas celulares) e portanto presente em mais de 90% de nosso corpo. A colina também é exigida na síntese do neurotransmissor acetilcolina e com função essencial na atividade cerebral e na memória. Igualmente se destaca na composição do ovo, a presença de nutrientes antioxidantes como a Vitamina E, vitamina B2 (riboflavina), beta-caroteno (pró-vitamina A), zinco e selênio. Esses nutrientes igualmente auxiliam na prevenção de processos degenerativos como câncer, diabetes e doenças cardiovasculares. O ovo também é uma fonte alimentar quase que exclusiva de Vitamina D (colecalciferol) prontamente disponível para utilização em nosso organismo presente apenas na gema. A Vitamina D é exigida para a absorção do cálcio e manutenção da massa óssea, além disso, atua ativamente no fortalecimento do sistema imunitário.
Anexos Tabela 1. Alimentos ou grupo de alimentos que contribuem com a ingestão do colesterol da dieta (Adaptado de Abraham & Carroll, 1981) Alimento Leite e derivados Carnes
Grupo de alimento(s) incluso(s) Yogurte, manteiga, sorvetes, sobremesas à base de leite, queijos Bovina, suína, ovina, aves em geral, subprodutos processados (presuntos, salsichas, etc) “Fast-food” Pizzas, massas em geral, hamburguers itens Peixes e Várias espécies de peixes, pré-processamariscos dos (em lata, em salmoura, congelados ou resfriados) Ovos Apenas as gemas ( qualquer forma de preparo) Fonte: National Center for Health Statistics-NCHS-CDC, consulta em 17/09/2013
Tabela 2. Valor biológico dos alimentos em relação ao valor protéico dos ovos (sendo 100% na escala representando mais alta eficiência do uso da proteína presente no alimento) Ovo Leite Peixe Carne bovina Soja (grão) Arroz (polido) Trigo (integral) Milho Feijão
93,7% 84,5 76,0 74,3 72,8 64,0 64,0 60,0 58,0
Fonte: Food and Agriculture Organization (FAO) FAO Nutritional Studies - No. 24
Em resumo
Figura 2: Composição nutricional do ovo (proporção entre nutrientes)
O ovo comercial é o produto da transformação biológica operada pela galinha de postura moderna. Esta ave consegue transformar recursos alimentares de menor valor biológico em um produto da mais alta qualidade nutricional para o consumo humano. Os ovos podem ser considerados os maiores aliados para reabilitar e prevenir doenças, com contribuições nutricionais importantes a baixo custo. Pesquisas realizadas nesta última década, evidenciam claramente os efeitos benéficos de seu consumo, indicando que é possível a ingestão de até 2 ovos por dia sem que haja riscos à saúde, desvinculando a questão colesterol da dieta à doença cardíaca.
Fonte : USDA, National Nutrient Database (Release 26, August, 2013) Animal Business-Brasil_11
A CHINA
e seus mercados em ascensão Por: Fernando
Roberto de Freitas Almeida, Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense
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Por muito tempo ainda, as carnes suína e de frango predominarão no consumo chinês, mas a bovina cresce de modo estável há anos
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odos os dados disponíveis sobre a República Popular da China são monumentais: um país de 9,57 milhões de km², o terceiro maior do mundo, com a maior população mundial, de 1,354 bilhão de pessoas, em 2012, com aglomerações urbanas de 20,21 milhões de habitantes, como Xangai, seguida por Beijing, com 15,59 milhões e Chongking e Shenzhen, com mais de 9 milhões e Guangzou (Cantão), com 8,9 milhões. Seu Produto Interno Bruto, da ordem de US$ 8 trilhões, já é o segundo maior e, na paridade do poder de compra, para alguns analistas, pode já ser o primeiro. Desde 11/12/2001, a China é membro da Organização Mundial do Comércio, mas desde 6/12/1951 é membro do Codex Alimentarius, da Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais e da Organização Mundial de Saúde Animal. O Rabobank (Coöperatieve Centrale Raiffeisen-Boerenleenbank B.A.) instituição multinacional holandesa, uma das trinta maiores no setor financeiro mundial, sediada em Utrecht, e líder em financiamentos à área de alimentos, produziu interessante estudo sobre o mercado chinês de carnes, traduzido no Brasil pelo site BeefPoint. Ali se destaca como o aumento do nível de renda no país, incessante desde o final dos anos 70, vem modificando os hábitos de consumo milenares do país e promovendo verdadeiras ondas de choque no mundo todo. Como os chineses denominam seu processo de crescimento como “desenvolvimento pacífico”, declaram não ser absolutamente de interesse estratégico do país que haja qualquer turbulência nos mercados internacionais. Desse modo, vêm agindo no sentido de cada vez mais assegurarem seu abastecimento a partir de fontes estrangeiras, sem promover rupturas de quaisquer tipo na ordem internacional. Poucos países terão condições de acompanhar esta expansão e o Brasil é um deles. Por muito tempo ainda, as carnes suína e de frango predominarão no consumo chinês, mas a bovina cresce de modo estável há anos, sendo vista como algo premium, e a produção local já não consegue mais atender a demanda, o que motiva empresários de todos os lugares a se interessarem pela chegada àquele mercado.
Como registrou o Rabobank, A carne bovina é um produto de nicho na China, representando apenas 8% do consumo per capita de carnes, em contraste com 22% para carne de frango e uma participação passiva de 65% para a carne suína. A carne bovina é geralmente considerada mais um item para uma ocasião especial, do que uma opção de refeição para todos os dias. Essa percepção resulta em diferentes canais para o consumo de carne bovina, comparado com carnes suína e de frango. Diferentemente da carne suína, que é a carne básica, consumida nas casas diariamente, a carne bovina é principalmente consumida quando se come fora. Estima-se que mais de 60% do consumo total de carne bovina é feito fora de casa. As principais opções para se comer fora de casa incluem “hot pot”, restaurantes fast foods como McDonald’s e KFC, restaurantes estilo ocidental e cantinas no trabalho.
A China, de fato, passa por um processo de adaptação ao mundo globalizado de influência principalmente ocidental e, basicamente americana, passando a adotar padrões ocidentais de comportamento em suas imensas cidades. A urbanização favoreceu este tipo de atitude, mas se pode dizer que o governo central efetivamente “administra a globalização”. Assim, a demanda não sazonal pela carne bovina tem aumentado, com a disseminação do consumo rotineiro do produto, ainda caro. Na zona rural, seu consumo anual per capita passou a ser de 3 quilos, em 2012, mas no meio urbano já chegou aos 6 quilos. Atualmente, um pouco mais de 51% da população chinesa moram em cidades e se estima que cerca de 182 milhões serão deslocados às grandes metrópoles até 2020, o que equivale a 90% da atual população brasileira. Serão todos consumidores da nova classe média chinesa. Destaque-se que não apenas o deslocamento de pessoas permitirá o maior acesso às carnes, mas também o fato de melhor infraestrutura ser instalada em todo o país continuará contribuindo para as grandes transformações em curso. Por exemplo, a ampliação da capacidade de refrigeração, que permite expandir o consumo da carne bovina, antes associado ao norte do país, por motivos históricos e culturais. Como o sul ainda
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tem menor capacidade de produção e de oferta, tem ocorrido maior interesse em seu abastecimento, por praticar preços mais elevados. Essa movimentação dos preços, evidentemente, interfere nas projeções do consumo. No total, o consumo de carne bovina na China em uma base per capita deverá aumentar em 24% na próxima década. Entretanto, esse crescimento é, na realidade, abaixo do que deveria ser, à medida que a demanda de carne bovina é restrita pela escassez na oferta e pelos altos preços. Como resultado, a participação de mercado do consumo de carne bovina deverá permanecer estável nos próximos dez anos, embora em termos absolutos. Como citado anteriormente, atualmente, a carne suína domina, com 65% do consumo (aliás, a China sozinha é mais de 50% do consumo mundial dessa carne), seguida pela de frango, com 22%, seguida à distância pela carne bovina, com 8%, ou seja, ainda é um produto de nicho, embora com imenso potencial. Evidentemente, o movimento inevitável de redução das criações extensivas no país, com o aumento do confinamento, onera a produção local, pela disponibilidade dos insumos para o arraçoamento. De acordo com o Rabobank, na província de Hebei, o custo de produção de carne bovina aumentou 135% entre 2005 e 2011, incluindo aumentos de preços na ração fina e na ração mista de 181% e 58%, respectivamente. As produções interioranas são de tipo familiar e muitos não conseguiram permanecer na atividade. Observam-se também problemas com a genética dos rebanhos locais, ainda deficiente. Desde 2010, a China é um importador líquido e suas importações triplicaram em 2012 comparativamente a 2011, chegando a 60 mil toneladas e é interessante observar que tipo de 14_Animal Business-Brasil
importações está aumentando. O país antigamente importava miúdos e, agora, as importações são dominadas pela carne fresca resfriada e congelada. É o reflexo da já citada ocidentalização, com a expansão de restaurantes de feitio ocidental, levando as empresas processadoras locais a atuarem mais no processamento das carnes que oferecem. Seus principais fornecedores oficiais são a Austrália (detentora de 45% das compras), Uruguai, Nova Zelândia e o Brasil, seguindo-se à distância a Argentina e o Canadá. Deve-se atentar para a palavra “oficiais”, pois também entra no país produto clandestino, pelos “canais cinza”. O Gráfico 1 ilustra a dependência chinesa dos principais fornecedores e mostra bem a ascensão brasileira entre eles. Gráfico 1 - China: importações de carne bovina – 2005-2012
Temos no Brasil oito estabelecimentos de abate habilitados pelos chineses para a exportação de carne bovina proveniente da zona livre de febre aftosa, com possibilidades de aumento nesse número. Em termos de carnes de aves foram habilitados, desde 2005, os primeiros estabelecimentos de abate, que, em 2012, eram 25, em transição para um novo patamar, com 47 estabelecimentos qualificados. Para a carne suína, assinou-se um protocolo bilateral, em 2008, permitindo habilitar três estabelecimentos para a exportação, estando-se em vias de incorporar mais dez. Os produtos de carnes exportados pelo Brasil e não sujeitos a quotas tarifárias estão listados na Tabela 1.
Tabela 1 - China: produtos cárneos brasileiros não sujeitos a quotas tarifárias Produto segundo a norma comum do mercosul
Idem Idem Idem
Tarifa aplicada ao Brasil - % 12 12 12
Idem
1,3 yuan/kg
Descrição do país
0201.30.00 – Carnes desossadas de bovino, frescas/refrigeradas 0202.30.00 – Carnes desossadas de bovino, congeladas 0203.29.00 – Outras carnes de suíno, congeladas 0207.12.00 – Carnes de galos/galinhas, não cortadas em pedaços, congeladas
02.07.14.00 – Pedaços e miudezas de galos/galinhas, congelados
Cortes de frangos congelados, com osso Cortes de frangos congelados, não especificados Asas de frango congeladas Garras de frango, frescas, refrigeradas ou congeladas Miudezas de frango congeladas, não especificadas
0,6 yuan/kg 1,0 yuan/kg 0,8 yuan/kg 0,5 yuan/kg 0,5 yuan/kg
Fonte: Omc, 2012
As estruturas das economias brasileira e chinesa mostram diferenças acentuadas, estando a brasileira num processo mais adiantado de avanço do Setor de Serviços, em detrimento dos setores agrícola e industrial, como registra a tabela 2. A renda per capita brasileira situa-se na faixa dos US$ 13.000,00 anuais, enquanto a chinesa, ainda menor do que a metade da brasileira, cerca de US$ 5.500,00 anuais, cresce de modo mais acelerado, apontando para ainda maiores transformações futuras. Tabela 2 - Brasil e China: composição do pib – 2012 País
Composição do pib - % Agricultura Indústria Serviços
Brasil
5,5
27,5
67,0
China
9,6
47,1
43,3
Fonte: Cia
Cabe à sociedade brasileira, governo, empresários, meio acadêmico, empenho no aprimoramento das relações com o grande país asiático, pois até o momento, as relações comerciais entre ambos mostram uma especialização brasileira em produtos simples. Em 2013, os três produtos mais importantes que vendemos aos parceiros chineses foram soja, minério de ferro e
petróleo, que representaram o elevadíssimo percentual de 85% do total vendido. Embora entre os dez produtos mais exportados pelo Brasil estejam materiais industriais, como pastas químicas de madeira, veículos aéreos, ferroligas, cobre refinado e ligas de cobre, além de formas primárias de polímeros, há amplo predomínio dos minérios simples (passaram de US$ 7 bilhões em 2009, para US$ 19,8 bilhões em 2011). O fato de, em 2013, o Brasil estar perdendo espaço no mercado chinês, com recuo no saldo comercial é, além de incômodo, preocupante, dado a presença cada vez maior da China nas transações externas do país. Um esforço de obtenção de informações sobre as necessidades daquele país, sobre seus principais fornecedores, nossos concorrentes, e sobre a logística interna no imenso território chinês é essencial, primeiramente para mantermos nossas posições e, posteriormente, irmos substituindo as exportações por produtos com cada vez maior valor adicionado. Embaixada do Brasil em Beijing Endereço: 27, Guanghua Lu, Chaoyang District, Beijing 100600 Telefone: +86 10 6532 2751 Fax: +86 10 6532 2751 Animal Business-Brasil_15
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Parceria é isso. Trabalhar para fazer o País inteiro crescer. Obrigado, produtor rural.
Os campos brasileiros estão em boas mãos. Mãos responsáveis por 22,1% do PIB e por 33% dos empregos do País. Mãos que receberam do Governo Federal R$ 157 bilhões, o maior Plano Safra da história, e produziram acima do esperado. E é por isso que o Banco do Brasil, em nome dos brasileiros, agradece. Obrigado, produtor rural.
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Marcos Vergueiro
MATO GROSSO: sucesso e desafios do maior rebanho brasileiro
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Com 29 milhões de cabeças de gado espalhadas por 24 milhões de hectares, Mato Grosso tem o maior rebanho do Brasil e faz da pecuária de corte um dos motores da sua economia. Os atributos naturais contribuem para esta performance. Mato Grosso possui uma extensão territorial de 903.357km2, distribuídas pelo cerrado, floresta tropical úmida e planície pantaneira, “condições excepcionais para a pecuária”, principalmente para a criação da raça Nelore. Animal Business-Brasil_19
José Medeiros/Sedtur-MT
Boiadeiros conduzindo uma “comitiva” de gado no pantanal mato-grossense
Exportação Esse cenário faz com que Mato Grosso garanta a segunda posição no ranking de exportações de carne bovina entre as demais unidades da federação, tendo como principais mercados consumidores a Venezuela e os países do Oriente Médio. Com 35 mil produtores, a carne vai para 80 países do mundo e abastece parte do mercado interno, de acordo com Luciano Vacari, superintendente da Associação de Criadores de Mato Grosso (Acrimat) “Vemos pouquíssimos lugares no mundo com as características da pecuária de Mato Grosso. Temos pecuária em todos os municípios do Estado. Ninguém consegue produzir o volume de carne que este Estado produz com preço competitivo, volume e qualidade. Mas faltam linhas de crédito específicas para desenvolver ainda mais esta atividade”, avaliou.
Tecnologia Graças aos investimentos em tecnologia (reforma de pastagem, tecnologia genética e alimentação do gado), Mato Grosso consegue produzir mais em um espaço menor de terra. “ Tivemos ganho em produtividade, reduzimos de 25,7 milhões para 24,9 milhões de hectares a área de pastagem e aumentamos o rebanho de 25 para 29 milhões de cabeças. Nenhum país do mundo produz o que Mato Grosso produz e ainda temos 64% da nossa área preservada. A carne de Mato Grosso é um exemplo de produto sustentável”, atesta Vacari.
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A esperança do produtor é o projeto Mato Grosso Integrado Sustentável e Competitivo que prevê a pavimentação de rodovias em 37 municípios das 12 regiões de Mato Grosso. Ao todo, são cerca de 2.100 quilômetros de estradas de chão que estão em obras para conclusão em 2014. Para Luciano Vacari a logística continua sendo um entrave para o setor. Fazer o transporte de boi vivo na época das chuvas é muito dificil.
Projetos
Edson Rodrigues/Secom-MT
Em Mato Grosso, a Acrimat desenvolve três projetos significativos para alavancar a pecuária de corte: Na medida, Acrimat em Ação e Quality. O objetivo do projeto Quality é difundir o potencial genético de Mato Grosso e fomentar a comercialização de produtos de qualidade. O programa é desenvolvido em parceria com a Associação dos Criadores do Sul de Mato Grosso (Criasul). Em sua terceira edição, o projeto Acrimat em Ação é o maior em termos de abrangência. Entre 18 de março e 27 de maio, o projeto percorreu mais de 10 mil km em todas as regiões do Estado. Durante estes encontros, a Acrimat promove palestras para capacitar os produtores e
ainda coleta dados sobre infraestrutura, logística, mercado e condições de pastagem. O projeto Na Medida foi firmado com a Universidade Estadual Paulista (Unesp), Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), e frigoríficos para buscar pontos de divergência entre produtores e frigoríficos. O projeto propõe o acompanhamento do rebanho do manejo na propriedade até a hora do abate, identificando os motivos da diferença de peso, para que se possa evitar perdas.
Sanidade O trabalho desenvolvido pelo Instituto de Defesa Agropecuária do Estado Mato Grosso (INDEA) fez o Estado ser reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como livre de febre aftosa. Em maio de 2013 só uma etapa de vacinação contra febre aftosa em Mato Grosso alcançou 12 milhões de bovinos e bubalinos até dois anos de idade. A cobertura vacinal completa atinge 99,03 % do rebanho estadual. O último foco da doença ocorreu em 1996. Desde então, uma intensa campanha de vacinação é realizada todos os anos, sendo obrigatória em todo território Estadual exceto baixo pantanal. Os resultados refletem o alto nível de adesão dos produtores rurais, que confiam nessa iniciativa para manter seus rebanhos livres da febre aftosa. As taxas relativas a propriedades rurais com registro de vacinação mantêm-se superiores a 97% desde 2008.
Crédito Conforme o secretário adjunto de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luiz Alécio, a principal linha de crédito para o pecuarista hoje é o Fundo Constitucional do Centro Oeste (FCO). Ele permite prazos de até 12 anos para reformar pastos e fazer a integração lavoura/pecuária. Para o produtor que fizer integração pecuária e floresta o prazo é de 15 anos. Para quem deseja investir em curtumes ou frigoríficos para ovinos, caprinos, suínos, aves, Mato Grosso oferece o Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (PRODEIC) vinculado à Secretaria do Estado de Indústria Comércio, Minas e Energia (SICME). O Gado Nelore Animal Business-Brasil_21
Programa poderá conceder benefício fiscal até o montante do ICMS devido pelo beneficiado.
João de Melo
José Medeiros/Sedtur-MT
Ovinocultura Com um crescimento anual de 27 %, a criação de ovinos em Mato Grosso apresenta um cenário promissor e atrai cada vez mais investidores, atentos a um setor que tem crescido economicamente desde 2007. Desde então, o número de animais saltou de 600 mil para um rebanho de 1,4 milhões de cabeças, alcançando cerca de 11% do rebanho nacional, que é de 17 milhões de animais. O setor gerou, em 2012, R$ 50 mil de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), com a venda a outros estados como São Paulo e Goiás. De acordo com o zootecnista, Paulo de Tarso, que coordenou por 6 anos a Câmara Técnica da Ovinocultura em Mato Grosso, tal cenário é consequência do aumento do consumo da carne, puxado pela população de maior poder aquisitivo que busca novidades e preciosidades nos restaurantes, churrascarias e hotéis finos do país. Paulo de Tarso é otimista, segundo ele “as perspectivas para os próximos anos são as melhores”, afirma. “As condições geográficas, climáticas e o espírito empreendedor do nosso produtor têm elevado os números do rebanho”, explica. “A ovinocultura é uma oportunidade para quem busca otimizar sua produção na atividade agropecuária”, avaliou.
Rafael Manzutti
Frigoríficos
Região Oeste de MT (Cáceres e Pontes e Lacerda) 22_Animal Business-Brasil
Em Mato Grosso, existem três plantas frigoríficas para o abate dos ovinos e caprinos: Rondonópolis e Alta Floresta, aptas a comercializarem em qualquer mercado, de Tangará da Serra, só para consumo dentro do município. Animados com a evolução do setor nos últimos anos, os criadores se espalham em todas as regiões do Estado. Grande parte deles são micro e pequenos e, ainda, as famílias do programa da agricultura familiar. O desafio atual é a produção em larga escala.“Há frigoríficos sedentos pela carne de ovelha. E Mato Grosso tem potencial para atender essa demanda, basta aumentar bem mais sua produção”, acrescenta Paulo de Tarso.
José Medeiros/Sedtur-MT
Hoje, Mato Grosso exporta o cordeiro gordo vivo e importa o produto manufaturado. A expectativa dele é que o Estado passe de exportador de matéria-prima e comece a processar esta carne. “A ovinocultura é uma oportunidade para que o produtor agregue valor aos grãos e transforme proteína vegetal em proteína animal. Nosso grande desafio é a organização da produção para transformar a atividade em lucros direto para o produtor. Em Terra Nova do Norte, próximo da divisa com o Pará, uma cooperativa está investindo em uma planta frigorífica que eu acredito vai viabilizar a exportação dessa carne”, comemorou. Uma das ações realizadas no desenvolvimento desta cadeia produtiva foi a criação do Grupo Gestor da Ovinocaprinocultura, cujo compromisso é fortalecer de modo capacitado todas as estruturas do setor, para que haja o crescimento da atividade.
Suínos A criação de suínos em Mato Grosso passa por um momento de abertura de mercados e apresenta um cenário promissor. A Acrismat, aponta que Mato Grosso possui 120 mil cabeças de suínos com uma média anual de abate em torno de 2,8 milhões. “É uma média muito grande e o Estado tem conseguido novos mercados para exportação. Entendemos que esta cadeia vai continuar crescendo. Os desafios são a questão ambiental, logística e tributos”, conforme Paulo Lucion, presidente da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat).
Em 2012 Mato Grosso exportou 11,7 milhões de kg de carne suína, principalmente para Hong Kong, Tailândia, Japão, Dinamarca, Ucrânia, Rússia e Bielorrússia
O Estado tem expressivo potencial para expandir seu rebanho de suínos, porque produz 27% da soja brasileira, 5% do milho, boa oferta de energia, infraestrutura de transporte e logística em consolidação, política ambiental exigente e bem fundamentada, conduzindo à sustentabilidade das operações. Em 2012 Mato Grosso exportou 11,7 milhões de kg de carne suína. Entre os principais clientes do Estado estão Hong Kong, Tailândia, Japão, Dinamarca, Ucrânia, Rússia e Bielorrússia. Os dados são da Federação das Indústrias no Estado de Mato Grosso (Fiemt).
Pecuária em Números
29 milhões número do rebanho bovi-
no/ Zebuíno
120 mil rebanho suíno 1,4 milhões rebanho ovino e caprino 109.498 Propriedades dedicadas a
agropecuária em Mato Grosso
66% Crescimento no número do rebanho (2001- 2011)
18% expectativa de crescimento do número do rebanho
Fonte - Acrimat e Imea - referência 2011
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O futuro da
equinocultura Por:
Aluisio Marins, MV Universidade do Cavalo
O
segmento equestre é um mundo como qualquer mundo de qualquer negócio específico. Tem suas características próprias, seu universo de profissionais e aparatos, seus desenhos particulares e modelos de negócios dentro do mercado. É um mercado amplo, onde ao mesmo tempo em que a paixão pelo cavalo é comum, a segmentação interna é ampla e inacreditavelmente diversificada. Quem cria uma determinada raça vive dentro de um universo totalmente focado somente naqueles interesses. Um vizinho que crie outra raça vive em outro mundo, mas sempre todos têm o cavalo como fonte principal de motivação. A evolução ou desenvolvimento do Brasil como país vem mostrando em todos os mercados uma sinalização de amadurecimento, de desenvolvimento. Com os cavalos não é diferente. Estamos hoje experimentando transformações interessantes do ponto de vista de conceitos, filosofias de trabalho, abordagens empresariais e situações do dia a dia que estão fazendo cada vez mais com que quem vive deste mercado tenha que mudar, se adaptar. Para que tudo isto seja aplicado de forma consistente, como nos países já maduros em cavalos, devemos passar um pouco por fatores históricos que nos levam a pensar nosso mercado.
História Historicamente falando o Brasil não tem nem idade nem tempo suficiente de ser maduro em termos de conhecimento, técnicas e conceitos. Em um país de aproximadamente 500 anos, podemos considerar que a utilização do cavalo é muito recente comparada à Europa e mesmo EUA, e ainda de uma forma diferente destas localidades. Enquanto as descobertas e guerras foram feitas a cavalo, no Brasil a utilização do cavalo veio de forma diferente. Sim, nas fazendas o cavalo trabalhava no dia a dia, mas muitas vezes em situações que não demandavam de conhecimento amplo, pois não era o cavalo meio de sobrevivência, mas sim na maioria 24_Animal Business-Brasil
das vezes de trabalho diário. Assim, por exemplo, quando um cavalo não trabalhava bem, era trocado. Quando um cavalo não atendia às necessidade do patrão, também era descartado. Isto fez com que se criasse no Brasil uma característica interessante: por não ter o cavalo como meio exclusivo de sobrevivência, a maioria das pessoas que andam a cavalo o fazem historicamente por esporte ou lazer. E, desta forma, não criou-se no Brasil a chamada cultura equestre em termos de conhecimentos amplos sobre Cavalos.
Mercado Caminhando por esta estrada, temos a melhora da economia nacional a partir dos anos 90, e com isto mais pessoas procurando o cavalo como alternativa de lazer. Aumentam-se os praticantes das modalidades equestres em geral, há um incremento considerável no mundo das cavalgadas de finais de semana e com isto os ciclos de possíveis baixas começam a ocorrer com menos frequência, tornando o mercado do cavalo brasileiro mais forte eco-
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nomicamente falando. Insumos, equipamentos, prestação de serviços e toda a cadeia começa e enxergar, ainda que timidamente, uma opção interessante de mercado. Mas, ainda que como um resquício da própria história passada, quem abastece o mercado economicamente o faz sem critérios qualitativos, ao contrário, quantitativos. A criação explode com mais cabeças do que a demanda em algumas raças, há uma invasão de produtos e equipamentos de baixa qualidade técnica, somente focados no “cliente pessoa”e não no “cliente cavalo” como deve ser e como é nos mercados já maduros. As importações chegam a galope, oferecendo uma grande leva de cavalos medianos. O mercado de cavalos mostra-se promissor, encantador e principalmente como uma oportunidade de se ganhar dinheiro. Talvez uma falsa verdade, ou uma verdade com restrições.
Obstáculos Diante de todos estes novos componentes, alguns fatores ainda seguem sendo “obstáculos” no mercado. Aumentamos o volume geral em detrimento do aumento das pessoas que entraram para o nosso mercado, mas estas pessoas não têm conhecimento sobre cavalos, e precisam disto. Então, temos muita gente gastando muito com o cavalo, mas com pouco conhecimento. E isto reflete diretamente na evolução do nosso mercado, pois sem o conhecimento toda a cadeia sofre. Exemplos como equipamentos bonitos e de baixa qualidade técnica ainda são rotineiros no nosso mercado. O mesmo ocorre com cavalos, que muitas vezes são considerados excelentes somente pelas linhagens genéticas, sem uma análise criteriosa de aspectos morfológicos. Assim, há atualmente uma evolução mais Animal Business-Brasil_25
Grande futuro Este artigo pode parecer pessimista ou mesmo negativo, mas não o é. Ao contrário, é uma constatação percebida por muitos, e, além disto, uma oportunidade de reflexão e principalmente de planejamento do futuro do mercado. Quando comparamos nosso mercado equestre à Eurpoa ou EUA, devemos também constatar que estes são economicamente maduros, com pouco crescimento e sem muitas perspectivas de crescimento amplo. Todos os consumidores já têm tudo o que precisam, e somente existe a reposição sem entradas novas no mercado. Da mesma forma, a tecnologia vem sendo encarada como o principal concorrente para a entrada de novos adeptos ao mundo dos cavalos, tanto na Europa com nos EUA. Em palestras que assisti na Federação Equestre Alemã, em março, deste ano, uma das reais preocupações expostas foi a da baixa taxa de renovação do quadro de associados. E, por este e tantos outros cenários inversos encontrados no Brasil, vemos que temos um grande futuro no segmento. Acredito primeiramente que precisamos aumentar consideravelmente o volume de oportunidades de conhecimento. Cursos, 26_Animal Business-Brasil
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baseada em erros e acertos, experiências custosas e um certo empirismo do que poderíamos ter. Um segundo fator de extrema importância e mudança no contexto do nosso mercado tradicional para o atual é que mais de 70% de quem participa deste mercado como cliente (ou seja, que abastece financeiramente o mercado) são pessoas que querem o cavalo como hobby, e estão envolvidos com o cavalo há menos de 6 anos em média. Isto faz toda a diferença, pois estes entram com necessidade de conhecimento, precisam de profissionais altamente qualificados e têm, em média as referências visuais e de sensações mais fortes do que as técnicas nas tomadas de decisões cotidianas. Então, por parte dos profissionais, empresas e prestadores de serviços, há que se ter uma enorme mudança na forma de atender estas pessoas. Um vendedor não vende mais ração, mas sim bem-estar, saúde, economia e qualidade. Por quê? Porque quem compra atualmente não compra ração. Compra satisfação em ver seu cavalo feliz, saudável e bem tratado. É o que podemos chamar da migração do cavalo de animal de produção quase que para o mercado “pet”.
palestras, workshops, seminários, já vêm sendo realizados em escala consideravelmente boa. O volume de profissionais estrangeiros ministrando cursos e participando de eventos no Brasil é muito grande. E isto mostra uma evolução grande do nosso mercado. Mas ainda é pouco, pois pensando o segmento como um todo, analisamos que somente uma parcela das pessoas pode participar destes eventos especiais. É preciso formar profissionais.
Formação profissional Quando falamos em formação profissional para o segmento, nos vem à mente o Médico Veterinário, o Zootecnista, o Engenheiro Agrônomo. Profissões nobres e tradicionais, de extrema importância para o segmento equestre, e que fazem parte da cadeia de produção do cavalo, assim como são os tradicionais solucionadores do mercado. Mas, para este novo cliente, precisamos de
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sos e diferentes centros equestres. Entram como conhecedores específicos em um segmento dentro do segmento do cavalo. São formados academicamente, em aulas diárias em cursos que vão de 15 dias a 4 ou 5 anos. Nossa principal função é colocar no mercado as profissões que mais hoje fazem falta, e por isso nossos cursos não possuem pré-requisitos ou necessidade de muito conhecimento. Queremos formar quem quer trabalhar no mercado. São diversas opções e muitas oportunidades de trabalho. Conhecimento pode não ser a única chave para o sucesso e evolução do nosso mercado, mas com certeza é uma das mais importantes.
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mais. Um bom veterinário não pode se ocupar de cargos no dia a dia dos cavalos, mas sim do atendimento clínico destes, assim como os outros profissionais. Então, acredito que o próximo passo do Brasil será criar as reais profissões técnicas que o mercado precisa. Formar tratadores, ferradores, instrutores, treinadores, enfermeiros, administradores. As chamadas profissões técnicas são essenciais como parte da evolução e amadurecimento do mercado. Por quê? Porque ao se formar técnico com certificação por entidades de renome, cria-se uma profissão. E, com a certificação de empresas e instituições de renome no mercado pela qualidade, conteúdo vai valer muito. Este vem sendo o papel da Universidade do Cavalo. Oferecer formação e capacitação nas profissões técnicas do dia a dia do mercado de cavalos. Em cursos de longa duração, tratadores, treinadores, instrutores, gestores em equinocultura vêm sendo apresentados ao mercado e conseguindo importantes colocações em diverAnimal Business-Brasil_27
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Feito raro na pecuária: obtidos seis clones de fêmea bovina O feito ocorreu com a clonagem da fêmea Ribalta da Araguaia da raça Tabapuã (de corte). Pertencente ao criador Giorgio Arnaldi, titular da Fazenda Buona Sorte, em Mozarlândia (GO). Ribalta tem quase 20 anos e descende da genética Pampulha, uma das linhagens que deram origem à raça Tabapuã. Os clones – os primeiros da raça Tabapuã – já foram registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ). Eles têm, em média, oito meses de vida e foram desenvolvidos pela empresa mineira Cenatte Embriões através de uma técnica de reprodução denominada transferência nuclear.
Agroceres desenvolve e lança nova versão de matriz suína A fêmea, que recebeu o nome de Camborough, é fruto de estudos da PIC, empresa de genética suína pertencente ao grupo Agroceres. “Trata-se de um animal que reúne importantes características, como melhor peso pós-desmama, menor intervalo desmama-cobertura, fácil detecção de cio e longevidade reprodutiva”, explica o diretor de Serviços Técnicos da PIC, José Henrique Piva. Já os leitões, segundo ele, apresentam vantagens, como: crescimento rápido, alto rendimento de carne magra e ótima conversão alimentar; ou seja: rendem mais carne comendo menos alimento. A conversão alimentar é um dos fatores que mais contribuem para redução dos custos das criações. 28_Animal Business-Brasil
Mistura gasosa conserva carne suína resfriada por mais tempo
Aurora implanta sistema inédito para rastreamento de leite A Cooperativa Central Aurora de Alimentos, de Santa Catarina, implantou um sistema inédito no Brasil para rastreamento de leite longa vida. Desenvolvido pela empresa Tetra Pak, o sistema consiste de um conjunto de softwares (programas de computador) que reúne informações, como: data de produção, unidade de processamento, validade, início e fim da produção, cooperativas fornecedoras do leite, análise de qualidade da matéria-prima e tabela de nutrientes. O sistema, segundo o presidente da Aurora, Mario Lanznastere, é um diferencial competitivo importante que agrega valor às marcas de leite longa vida produzidas pela cooperativa: Aurora e a Aurolat. Mais detalhes sobre o sistema: www auroraalimenos.com.br
Rã: tecnologia para produção de patê, salsicha e conserva de carne A Embrapa Agroindústria de Alimentos, em parceria com o Centro de Tecnologia de Alimentos e Bebidas do SENAI, desenvolveu tecnologia que permite o aproveitamento da carne do dorso de rã para produção de patê, salsicha e conserva de carne desfiada. Para os pesquisadores, a utilização do dorso para a fabricação dos derivados é uma alternativa de bons negócios para criadores de rã ou para quem pretende investir na ranicultura. Essa parte da rã representa 50% do animal, mas, por causa da grande quantidade de ossos e cartilagem, é baixa a sua procura no mercado consumidor.
A combinação de oxigênio e gás carbônico garante a conservação de cortes de carne suína resfriada por até quinze dias. A conclusão é de pesquisa realizada na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da Universidade de São Paulo (unidade de Pirassununga-SP). As análises feitas pela zootecnista Alessandra Fernandes Rosa atestaram que as carnes embaladas com altas concentrações de oxigênio, por preservarem a cor original durante todo o período, possuem maior aceitação entre os consumidores. Normalmente, a carne resfriada vendida em bandejas nos supermercados possui vida útil de sete dias. A pesquisa concluiu também que a composição gasosa impede a proliferação de microorganismos. Com os estudos, orientados pelo professor Paulo José do Amaral Sobral, Alessandra obteve o doutorado em Zootecnia na FZEA.
Comedouro especial para leitões em maternidade Desenvolvido pelo setor de tecnologia da empresa GSI, fabricante de equipamentos e instalações para o setor pecuário, o comedouro possui o tamanho ideal para alimentar leitões em início de desmame. Ele permite acesso fácil até mesmo aos menores leitões, condicionando os animais para alimentação com ração (seca ou úmida). Através de um sistema de fixação por gancho e mola, o comedouro pode ser preso a qualquer tipo de piso vazado (plástico, metálico ou concreto). De fácil remoção para limpeza, a instalação (construída em polipropileno), possui parede de espessura reforçada que resiste aos esforços causados pelos leitões. Animal Business-Brasil_29
Prensa manual barateia feno para bovinos, caprinos e ovinos Baixo custo e praticidade para os criadores de bovinos, caprinos e ovinos no enfardamento de feno. Essas são as principais vantagens da prensa manual desenvolvida pela Embrapa, empresa oficial que cuida da pesquisa agropecuária no país. A fenação é uma técnica de alimentação complementar para os animais durante a seca, período em que há escassez de pastagem. Embora a fenação seja uma boa opção para enfrentar a seca, muitos criadores não usam a técnica por considerarem o processo mecânico de alto custo. A prensa vem justamente diminuir as despesas com a confecção dos fardos. Construída em madeira e de fácil manuseio, ela pode ser deslocada para locais de produção dos fardos.
Viçosa desenvolve kit para diagnóstico de doenças em aves A veterinária Bernadete Miranda dos Santos, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, desenvolveu um kit para diagnóstico e monitoramento de doenças que atacam frango de corte, galinha e peru. Denominado kit de testes Elisa para aves (Elisa é a sigla em inglês para Enzime Linked Immuno Sorbent Assay), o dispositivo serve para quantificar os níveis de anticorpos contra o pneumovírus, causador da síndrome da cabeça inchada em frangos e galinhas, bronquite infecciosa das aves e rinotraqueíte infecciosa em perus. Como os kits atualmente utilizados são importados e de custos elevados, o kit desenvolvido na UFV poderá substituir as importações e reduzir os custos de produção na avicultura nacional, favorecendo um monitoramento mais preciso. Além de aplicação na avicultura, o kit pode ser usado para identificar doenças em bovinos, caprinos, ovinos e equinos. 30_Animal Business-Brasil
Melhoramento genético
high-tech Por:
Wagner Arbex - Doutor em Engenharia de Sistemas e Computação, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa
Há pouco tempo, ninguém seria capaz de imaginar que, em um programa de auditório em televisão aberta, um participante seria desafiado mediante procedimentos científicos e de laboratório. Hoje, contudo, não é incomum que apresentadores de sucesso “organizem o circo” no qual, juntamente com a plateia aos brados, desafiam um possível progenitor, que parece estar entregue aos leões – ou seria aos ratinhos: “faz DNA?”. Sem dúvida, isto é pesquisa científica aplicada como poucas vezes se vê.
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E
Acervo da Embrapa Gado de Leite
ssa observação foi feita durante um encontro acadêmico sobre genômica e melhoramento genético na Universidade Federal de Viçosa, há quase oito anos, quando o palestrante, que também é o autor desse texto, estava intencionado a mostrar onde a computação e a genômica haviam chegado, naquele momento. A proposta de um exame de DNA para verificação de paternidade é um exemplo claro da união de técnicas da genômica, com recursos da química e da bioquímica, entre outras, em um procedimento operacionalizado por ferramentas surgidas a partir do avanço tecnológico, a partir de fundamentos da computação e seus recursos. Na época, a união da genômica e da computação não era desconhecida, pois já existiam diversos trabalhos desenvolvidos pela comunidade acadêmica onde, essas duas áreas, caso não estivessem juntas, não seria possível o desenvolvimento de tais trabalhos.
Animais do rebanho da Embrapa Gado de Leite 32_Animal Business-Brasil
À primeira vista, a junção de áreas tão diferentes causava alguma estranheza no público presente e, apesar do imenso avanço e das inúmeras aplicações dessas áreas, essa mesma percepção ainda é notada até hoje. Entretanto, atualmente, a maioria dos profissionais que atuam na genômica e, ainda, outra grande parcela dos profissionais da computação, percebem claramente que suas atividades formam uma espécie de ciclo, no sentido de que uma é a continuidade da outra. Dessa forma, alguns métodos utilizados na ciência da computação tornaram-se essenciais para a solução de problemas da genômica. Mas, em contrapartida, somente a aplicação desses métodos, para solucionar problemas dessa natureza, possibilita o desenvolvimento de novos métodos e recursos da própria ciência da computação. As ações da pesquisa em genética e genômica, que antes se encontravam quase totalmente limitadas “às bancadas”, já não existem mais sem
Acervo da Embrapa Gado de Leite
que sejam complementadas com procedimentos computacionais. Assim, os dados obtidos nas bancadas podem ser devidamente identificados, armazenados, organizados, agrupados e classificados para que, posteriormente, possam ser recuperados, apresentados e, ainda, utilizados como um novo atributo de informação. Dessa forma, o que antes podia parecer estranho, pela distância que existia entre os dois conceitos, hoje, pode ainda não ser totalmente entendido, mas pela proximidade e “mistura” das aplicações desses conceitos.
Genética e computação
DNA “precipitado” durante o processo de extração
Acervo da Embrapa Gado de Leite
Historicamente, os trabalhos e avanços do melhoramento genético sempre estiveram relacionados à computação – ou melhor, à disponibilidade dos recursos adequados para as atividades de melhoramento genético – pois, devido à natureza dos trabalhos de pesquisa, quer seja por meio de cruzamento ou de seleção, os conjuntos de dados envolvidos nas ações de pesquisa e desenvolvimento importam tanto na quantidade quanto na qualidade dos mesmos. Por exemplo, atividades em prol do melhoramento genético animal, quase sempre, devem envolver a realização de avaliações tradicionais dos animais, conhecidas como avaliações genéticas para a identificação e seleção de animais com potencial genético diferenciado e próprio para o fenótipo de interesse. Por sua vez, essas avaliações de animais, que são realizadas com o uso de dados fenotípicos e de pedigree dos animais, podem – aliás, podem e devem – envolver um número considerável de informações pois, a confiabilidade dos resultados dessas avaliações baseiam-se fortemente na quantidade de informações obtidas de cada animal e de seus descendentes e antecedentes. Para essas avaliações genéticas, a computação importa não só pelos métodos de tratamento dos dados, mas também pelas estratégias para execução das avaliações em si. Os modelos matemáticos para a execução das avaliações genéticas, atualmente utilizados em programas de melhoramento por todo mundo, só foram desenvolvidos graças aos modelos e estratégias computacionais para suportá-los. Isto é, mais uma vez, os conceitos e as técnicas próprias das áreas diretamente relacionadas
Preparo de amostra no Laboratório de Genética Molecular
Historicamente, os trabalhos e avanços do melhoramento genético sempre estiveram relacionados à computação
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Acervo da Embrapa Gado de Leite
Animais do rebanho da Embrapa Gado de Leite no Complexo Multiusuario de Bioeficiencia e Sustentabilidade da Pecuária
ao objetivo fim, foram aplicadas a partir da participação e das contribuições da ciência da computação e do uso de recursos computacionais.
Modelos matemáticos Nesse ponto, introduz-se a ideia de modelos, no caso, modelos matemáticos e/ou computacionais, que são, de uma maneira ampla, representações de problemas do “mundo real” com o uso de técnicas matemáticas e/ou computacionais. Acrescenta-se a essa ideia o fato de que esses modelos podem evoluir ao longo dos anos, com o avanço das técnicas matemáticas e computacionais e, se esses avanços, puderem ser sistematizados e aplicados às “necessidades e desejos” da área específica do estudo – por exemplo, genômica ou melhoramento genético 34_Animal Business-Brasil
– então podem surgir novas formas de se buscar o avanço nessas áreas. Em específico, a seleção genômica é exemplo de uma ferramenta para o melhoramento genético, que faz avançar meios e conhecimento para a seleção de animais. A seleção genômica é realizada por meio de milhares de marcadores distribuídos ao longo do genoma dos animais avaliados, para análise e investigação do seu potencial genético, antes de que possam expressar seus fenótipos. Isto é, antes que seja possível mensurar seus atributos relacionados com a característica fenotípica que se quer avaliar. Com o desenvolvimento do conhecimento científico e da tecnologia, em torno da genômica e da computação, tornou-se possível
a identificação de conjuntos com milhares de marcadores moleculares do tipo SNP1, sendo que, cada conjunto de marcadores moleculares, pode estar associado a diferentes características fenotípicas. Sob o ponto de vista da genômica, algumas das dificuldades para a avaliação e seleção genômica podem ser a identificação dos elementos dos conjuntos de marcadores – isto é, quais são os marcadores relacionados com a característica fenotípica de interesse – e a dimensão dos conjuntos de marcadores – visto que, atualmente, pode-se chegar a quase 800 mil marcadores para cada animal a ser avaliado.
Tratamento dos dados As dificuldades no aspecto da genômica deixam claro que, no aspecto da computação, o tratamento dos dados, por si, já é um fator de dificuldade, pois, as informações sobre os marcadores moleculares dos indivíduos avaliados, podem tratar-se de arquivos de dados da ordem de terabytes. Esses dois aspectos de tratamento do problema da avaliação e seleção genômica, remetem ao que foi abordado há pouco, onde conceitos e técnicas próprias genômica só SNP, do inglês, single nucleotide polymorphism ou polimorfismo de base única.
podem ser aplicadas – e consequentemente, chegar-se ao resultado esperado – a partir do desenvolvimento e uso adequado de métodos e estratégias da computação.
Computação científica e genômica A Embrapa realizou o TACG – Talking About Computing and Genomics2, um evento que reuniu as equipes técnicas de dois projetos que tratam de genômica animal e de modelos computacionais para bioinformática e biologia computacional, coordenados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e desenvolvidos em parceira com dezenas de instituições de ensino e pesquisa e instituições do setor produtivo voltadas para o agronegócio. Como o próprio nome do evento sugere, o TACG permitiu uma ampla discussão de trabalhos em desenvolvimento em diferentes estágios onde pesquisadores das áreas envolvidas conheceram como a genômica pode avançar com o uso de novos recursos computacionais e, da mesma forma, para onde a computação deve voltar suas pesquisas para conseguir responder às expectativas. Os trabalhos do evento chegaram a ser surpreendentes e deixaram claro como a genômica “clássica” pode beneficiar-se de métodos compu-
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Maiores informações em <http://www.cnpgl.embrapa.br/tacg/>.
Acervo da Embrapa Gado de Leite
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Há vários anos são utilizados marcadores moleculares para a identificação de “locais” nas sequências genéticas, onde se encontram as informações sobre as características fenotípicas
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Acervo da Embrapa Gado de Leite
Animais do rebanho da Embrapa Gado de Leite no Complexo Multiusuario de Bioeficiencia e Sustentabilidade da Pecuária
tacionais e matemáticos para avançar na direção da fronteira do conhecimento em biotecnologia.
SNPs Há vários anos são utilizados marcadores moleculares para a identificação de “locais” nas sequências genéticas onde se encontram as informações sobre as características fenotípicas. Entretanto, com a computação e a bioinformática, uma nova perspectiva foi aberta, frente ao volume de informações passíveis de serem tratados, assim como, às novas ferramentas e modelos computacionais que estão sendo utilizados. Nesse caso, destacam-se a identificação dos chamados “snips”, isto é, polimorfismos de base única, do inglês single nucleotide polymorphisms (SNPs), que são modificações de um único nucleotídeo, em uma dada sequência, quando comparada a outra, como exemplificado na ilustração ao lado. Ou seja, SNPs são pares de bases, ou base pairs (bp), em uma única posição no DNA genômico, que se apresentam com diferentes alternativas nas sequências e podem ser encontrados no genoma de indivíduos normais em algumas populações ou grupos de indivíduos. O que difere um indivíduo dos demais da sua espécie é o código genético, que, em sua essência, são as sequências de nucleotídeos que for36_Animal Business-Brasil
Exemplo hipotético de um SNP, em uma “janela” com tamanho de 10 bp.
mam as moléculas e sequências de DNA, RNA e proteínas, que, por sua vez, interagem e formam as células, as quais também, por sua vez, interagem e formam os tecidos, os órgãos, até que, finalmente, formam os indivíduos. Ou seja, no código genético, as diferenças se iniciam na ordem em que os nucleotídeos se apresentam para, posteriormente, após um complexo processo, originarem as proteínas. Essa é a importância dos SNPs, pois, em síntese, a alteração de um único nucleotídeo, uma única base, em uma dada sequência, pode alterar a produção de uma certa proteína e, se for o caso, o conjunto dessas alterações pode provocar variações nas características dos indivíduos da espécie.
Produção intensiva
de camarão branco Litopenaeus vannamei utilizando sistema de bioflocos (bft)
Wilson Wasielesky Jr., Geraldo K. Fóes, Luís H. Poersch & Dariano Krummenauer Universidade Federal do Rio Grande-FURG • Instituto de Oceanografia Estação Marinha de Aquacultura • E-mail: manow@mikrus.com.br
Nas últimas décadas houve uma escassez da oferta de alimento de origem aquática, principalmente nos países em desenvolvimento, com isso, a produção mundial de camarões apresentou um crescimento considerável.
Katia Dias
Por:
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E
ntretanto, paralelamente com este crescimento, surgiram alguns problemas relacionados à poluição de águas, através da emissão de efluentes sem tratamento, crescente demanda por farinha e óleo de peixe utilizados na formulação de rações e também a disseminação de doenças. O surgimento de doenças, como a Síndrome de Taura, Mancha Branca, entre outras, prejudicou a atividade em diferentes países ao redor do mundo (Wasielesky et al., 2006). O cultivo de camarões marinhos nas Américas e no Brasil pode ser dividido em três fases distintas. A primeira fase, na década de 1980, foi marcada pela construção de grandes viveiros, com áreas superiores a 5,0 hectares (ha), e utilização de baixas densidades de estocagem (3 a 8 camarões m2). Neste período, as produtividades alcançavam em média 1000 kg ha ano. A segunda fase, a partir do ano de 1990, caracterizou-se pela melhor qualificação da mão de obra empregada na produção e aumento de tecnologia aplicada nos cultivos, passando pela utilização de aeração artificial, emprego de rações comerciais de melhor qualidade e a utilização de bandejas de alimentação, o que possibilitou o aumento de densidades para 20-30 camarões m2. Com a adoção destas práticas a produtividade nos viveiros de camarões aumentou para 6000 kg ha ano. As elevadas produtividades perduraram até o início do presente século, quando foram detectadas doenças causadas pelo vírus da mancha branca (WSSV) e da mionecrose (IMNV), além de dificuldades na exportação do camarão produzido no país. A terceira fase iniciou-se com a melhora no quadro econômico do país nos últimos anos, onde o mercado interno passou a absorver o camarão produzido nas fazendas, e os produtores passaram a ter maiores cuidados com a qualidade da água e do solo dos viveiros, além de utilização de pós-larvas com genética favorecendo o crescimento e resistência a enfermidades. Entretanto, desde a década de 1990, pesquisadores vêm desenvolvendo técnicas de cultivo ambientalmente mais amigáveis, preconizando a operação em empreendimentos biosseguros e a diminuição da renovação de água. Vários fatores foram responsáveis por estes estudos e pela adoção destas técnicas de cultivo. Podem-se citar fatores externos, tais como: regulamentações dos órgãos ambientais para a redução na emissão de efluentes ricos e nutrientes e matéria
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orgânica para o meio ambiente; (2) a opinião pública (consumidor) tornou-se relevante no que diz respeito a produtores que adotam técnicas ambientalmente amigáveis; a atuação de centros de pesquisas que disponibilizam novas tecnologias de cultivo; a necessidade da adoção de sistemas biosseguros de produção, principalmente nas regiões afetadas por enfermidades. Existem também fatores internos relacionados à lucratividade do empreendimento, tais como: aumento de produtividade; melhoria da conversão alimentar; redução do tempo de cultivo; (4) aumento da lucratividade, entre outros.
O sistema bft Entre as novas tecnologias de produção que estão sendo estudadas e que já estão sendo utilizadas atualmente, se encontra o sistema de cultivo em meio aos bioflocos (Sistema BFT = Biofloc Technology System), que são formados por agregados de bactérias, ciliados, flagelados, rotíferos, frústulas de diatomáceas, entre outros microorganismos (Figura 1). O principio do sistema BFT está na transformação dos compostos nitrogenados dissolvidos na água, os quais são tóxicos em concentrações elevadas, através dos microorganismos presentes nos bioflocos, mediante a adição de fontes de carbono no sistema de cultivo (melaço, dextrose, farelo, entre outros) e consequente aumento da biomassa microbiana. Outro importante aspecto em relação aos agregados microbianos é o melhor aproveitamento dos nutrientes originados pelos bioflocos e pela ração não consumida pelos camarões, acarretando assim além do aumento da produtividade primária, possibilitando a melhoria da conversão alimentar e pela potencial diminuição da quantidade de proteína bruta fornecida nas rações. Estudos realizados em uma fazenda comercial, utilizando o sistema BFT, demonstraram que 29 % do alimento consumido pelo camarão Litopenaeus vannamei pode ser proveniente do floco microbiano presente na água do cultivo. Este complemento alimentar possibilita o aumento da densidade de estocagem de camarões, aumentando assim a produtividade do empreendimento. Além de aumentar a produtividade, o sistema BFT possibilita a produção de camarões em condições de baixa ou até ausência de renovação de água, acarretando maior biosseguran-
ça, pois diminuindo a troca de água, há redução do risco de introdução de doenças. Ainda, com a redução da renovação de água, há melhor utilização deste recurso, resultando também na diminuição da emissão de efluentes.
Desde a década de 1990, pesquisadores vêm desenvolvendo técnicas de cultivo ambientalmente mais amigáveis À primeira vista, a adoção do sistema BFT acarreta em elevação dos custos de instalação e operação, porém este sistema permite um aumento da produtividade, em função das maiores densidades de camarões por área, na ordem de 3 a 5 vezes se comparado aos sistemas tradicionais. Na tabela 1 é possível comparar as produtividades obtidas em sistemas convencionais e BFT.
Figura 1: Imagem dos flocos microbianos tirada no viveiro de cultivo e em microscópio ótico(detalhe). Foto: Gabriele Lara, 2010.
O sistema BFT apresenta vantagens e desvantagens sobre os sistemas convencionais. Apesar dessas, os mesmos não são excludentes, pois para cada região, para cada mercado ou até mesmo para cada tipo de investidor, um sistema ou o outro pode ser mais favorável. Tabela 1. Principais vantagens e desvantagens do sistema BFT de cultivo para camarões marinhos Vantagens Aumento da produtividade Utilização de menores áreas de cultivo Aumento da biossegurança Diminuição ou isenção da renovação de água Maior estabilidade do sistema Diminuição da quantidade de proteína nas rações Maior disponibilidade de alimento natural Comunidade microbiana atuando como probiótico Menores unidades de cultivo com maior controle Menor impacto ambiental Possibilidade de cultivo em regiões afastadas da costa Desvantagens Maior custo de instalação Maiores gastos de energia (aeração) Maior custo operacional Acúmulo de fósforo no sistema (risco com cianobactérias)
Tabela 2. Comparação das características principais dos sistemas de cultivo tradicional (semi-intensivo) com o sistema de flocos microbianos (BFT) em viveiros escavados. Sistemas de cultivo
Tradicional
Bioflocos
Densidade (cam m-2)
20-30
120
Litros de água/ kg camarão
65.000
1.380
Conversão alimentar
1,5
1,3
Sobrevivência (%)
60 - 70
80 - 90
Produtividade (kg ha-1)
2.500
2.500
Fonte: Poersch et al. 2012.
Infraestrutura necessária O consumo de oxigênio pelos camarões em elevadas densidades de estocagem e pelos bioflocos é muito elevado no sistema de cultivo BFT, sendo necessária a utilização constante de aeração artificial. Como a formação e manutenção dos bioflocos dependem do material particulado em suspensão, necessariamente os aeradores não podem ser desligados em momento nenhum. Para viveiros escavados recomenda-se o uso de aeradores de pá (paddle wheel) em uma relação de 500 kg de camarões por HP, durante o ciclo de produção. Sendo assim, é importante o empreendimento dispor de algum sistema emergencial de fornecimento de energia, tais como geradores movidos a óleo diesel, caso haja interrupção do fornecimento de energia pela concessionária (Figura 2). Animal Business-Brasil_39
Katia Dias
Figura 2: Aeradores do tipo ‘paddle wheel’ em funcionamento nos viveiros da Estação Marinha de Aquacultura/IO/FURG, RS.
Os viveiros utilizados para este sistema de cultivo também precisam ser revestidos com mantas de geomembrana (PEAD, EPDM, etc), como também solo cimento ou concreto. Este isolamento é necessário para evitar perda de oxigênio devido a respiração do solo, percolação de água para o lençol freático, também evita a resuspensão de sedimento e a incorporação de matéria orgânica no sedimento, formando zonas anóxicas, além de facilitar a limpeza após o ciclo de cultivo (Figura 3).
Estudos com sistema bft
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A Estação Marinha de Aquacultura/IO da Universidade Federal do Rio Grande possui 10 viveiros revestidos com mantas de PEAD, totalizando uma área de 5.000 m². Vários experimentos, desde 2004, foram desenvolvidos nestas estruturas de produção (Figura 4), na tabela 3, alguns resultados representam os melhores resultados alcançados pela equipe da FURG e são apresentados como forma de estimular os produtores a adotar esta nova tecnologia para produção de camarões (sistema BFT).
Figura 3: Viveiro recoberto com geomembrana (PEAD), localizado na Estação Marinha de Aquacultura/IO/ FURG, RS.
Ano 2009 2010 2011 2012 2013 Dias de cultivo 117 120 105 70-140 110 Densidade 12075 85 50 100 (camarões/m²) 180 Sobrevivência (%) 86-95 95 80-98 65-95 90 8,510,5Peso Final (g) 86-95 10,2 14,3 10,5 25,0 Produtividade 8600- 6700- 12600- 830012500 (kg/ha) 9200 8800 14500 9600
Paulo Iribarrem
Conclusão
Figura 4. Estruturas de cultivo da Estação Marinha de Aquacultura/IO/FURG. Em primeiro plano, os viveiros revestidos. Ao fundo, a estufa com os tanques de produção superintensivos.
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A produção intensiva de camarões em viveiros escavados utilizando sistemas com bioflocos permite o aumento da produtividade, devido ao suprimento de alimento complementar proveniente da comunidade microbiana, melhorando também a conversão alimentar e reduzindo a utilização de ração comercial. Como o sistema requer menor quantidade de água, esta tecnologia torna a atividade mais sustentável, conservando os ambientes adjacentes da emissão de efluentes ricos em nutrientes e matéria orgânica. Além disso, o sistema com utilização dos bioflocos aumenta a biossegurança, viabilizando a produção de camarões em regiões afetadas por enfermidades, principalmente virais. * As referencias bibliográficas podem ser adquiridas diretamente com os autores.
Roque
Agrostock
Por: Paulo
Avicultura paranaense quer retomar crescimento Maior exportador de carne de frango em volume, o Paraná está caminhando para a recuperação do setor após a crise enfrentada em 2012. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) mostram que as exportações paranaenses de carne de frango atingiram 83,84 mil toneladas em agosto deste ano, resultado 22,42% maior em relação ao mesmo período de 2012. Já em receita, houve crescimento de 31,85%, com um faturamento de US$ 102,64 milhões no último mês. O cenário tende a ser melhor neste segundo semestre, já que é cheio e concentra os melhores meses para exportação que são outubro e novembro. Estimativas da União Brasileira de Avicultura (Ubabef) indicam que a exportação de carne de frango deve crescer de 2 a 3% este ano.
Restrições russas ainda atingem 10 empresas Diante da posição da Rússia em manter o embargo a alguns frigoríficos brasileiros, representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS) e da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) se reuniram para definir estratégias que impeçam as restrições temporárias a dez empresas de carnes bovina e suína impostas pela Rússia. Na oportunidade, distribuíram nota de esclarecimento à imprensa, na qual afirmam que as exigências são resultado da missão realizada por aquele país em julho deste ano e garantem que grande parte das considerações do governo russo já vem sendo atendida. Por este motivo, diz, ainda, a nota, o Mapa enviará às autoridades russas, assim que concluído, um documento reiterando as ações que estão sendo desenvolvidas pelo setor privado com acompanhamento do governo brasileiro, além de se comprometer a corrigir as não-conformidades identificadas por aquele país. Animal Business-Brasil_41
28ª Reunião Anual do CBNA
Sucessão familiar é novidade no Circuito Feicorte Uma das principais novidades da 4ª Etapa do Circuito Feicorte, que aconteceu em Ji-Paraná (RO), no Parque de Exposições Hermínio Victorelli, foi a palestra do consultor Francisco Vila sobre “Sucessão Familiar – Estratégia para a sustentabilidade no negócio agropecuário”. O tema, considerado relevante para Rondônia, já que grande parte da pecuária da sua região é composta por pequenos produtores, abordou aspectos humanos, jurídicos, mercadológicos e patrimoniais do processo de sucessão familiar. “Sucessão é um assunto obrigatório e não facultativo. Podemos decidir não tecnificar, ampliar ou diversificar nossa produção rural, no entanto, não podemos ‘fugir’ da tarefa de passar o bastão à próxima geração. Quanto maior for o prazo de preparação, mais suave será a mudança do presente para o futuro. Isto vale tanto para a evolução da família quanto para a trajetória do negócio”, explica o consultor.
Demanda brasileira de lácteos A demanda do mercado consumidor de produtos lácteos no Brasil cresceu 3% na última década, impulsionado pelo crescimento das populações urbanas, pelo incremento da oferta de produtos derivados do leite e pelo aumento do poder aquisitivo da população, de acordo com a Embrapa. Atualmente, o consumo nacional de leite é de 32 bilhões de litros e, conforme projeções do governo federal, a demanda potencial do país é de 40 bilhões de litros em 2021/2022. 42_Animal 42_AnimalBusiness-Brasil Business-Brasil
Foi realizada em Campinas, no auditório do IAC, a 28ª Reunião Anual do CBNA: Congresso sobre Nutrição de Animais Jovens – Aves e Suínos, evento tradicional do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal e considerado um dos mais aguardados por quem atua na área técnica-científica de alimentação balanceada. Um dos principais temas apresentado à indústria foi uma visão prática dos ingredientes e forma física das dietas iniciais, uma atualização sobre os avanços e conhecimentos mais recentes em torno do crescimento muscular na fase inicial das aves e suínos e seu link com a qualidade da carne.
Exportações da avicultura atingem US$ 5,8 bi Segundo a Ubabef - União Brasileira de Avicultura, as exportações da avicultura brasileira (carne de frango, peru, patos e marrecos, ovos, ovos férteis e material genético) somaram 2,684 milhões de toneladas de janeiro a agosto de 2013, resultado 2,6% menor em relação ao mesmo período do ano passado. Em contrapartida, a receita cresceu 7,4%, com US$ 5,8 bilhões. Já as vendas externas de carne de frango totalizaram 2,562 milhões de toneladas no acumulado de janeiro e agosto, 2% menor em comparação com o mesmo período do ano passado, e a receita ampliou 8,62%, com US$ 5,413 bilhões. O Oriente Médio continua sendo o principal importador de carne de frango do Brasil, com 991,4 mil toneladas, superando em 9,4% o resultado do mesmo período do ano passado.
Divulgado o primeiro censo aquícola do País O MPA - Ministério da Pesca e Aquicultura acaba de disponibilizar o Censo Aquícola de 2008, o primeiro desenvolvido no Brasil, voltado apenas a empreendimentos com finalidade comercial. A coleta dos dados foi realizada entre outubro de 2009 a outubro de 2011, e registrou todas as atividades aquícolas e as suas interações socioeconômicas, considerando o número e o porte das unidades produtivas, o perfil dos produtores, as espécies cultivadas, os métodos de produção, as estruturas de escoamento da produção. Cerca de 30 mil unidades de produção foram visitadas, das quais 19.494 consideradas, por terem objetivo comercial. Foram identificados 15.469 produtores de pescado no continente, dos quais, 8.855 criam tilápia, sendo 41% deles na Região Sul, 31% na região Nordeste, 22% na região Sudeste, 3% na região Norte e 3% no Centro-Oeste. Na área da maricultura foram registrados 1.585 produtores.
Backup é filho de touro do Instituto de Zootecnia A APTA – Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios garante a comprovação da paternidade de Backup, recordista mundial de venda de sêmen. Backup é filho do Gabinete do IZ, produzido e comercializado pelo Instituto de Zootecnia (IZ-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Já foram vendidos mais de 650 mil doses de sêmen do Backup, o que o torna recordista mundial de venda. Ao todo, 21.100 filhos do touro já foram avaliados e tiveram qualidade comprovada. O IZ é um dos únicos Institutos de Pesquisa do país a ter um programa de melhoramento genético da raça Nelore com rebanho próprio e contribui ativamente para aumentar a produtividade de carne brasileira. A paternidade do touro Backup causou polêmica no início de 2013. Acreditava-se que o animal fosse filho de Fajardo. Uma pesquisa realizada pela empresa Conexão Delta G e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita” (Unesp) comprovou que o animal era filho de Gabinete do IZ, nascido em 1987. A paternidade foi anunciada em agosto deste ano, após exame de contraprova produzido pela empresa CRV Lagoa, que comercializa com exclusividade o sêmen do Backup. O IZ, assim como outras instituições de pesquisa da área, forneceram materiais genéticos para a empresa Conexão Delta G e a Unesp para a realização dos testes de DNA.
Sindirações tem novo presidente O empresário Roberto Ignacio Betancourt é o novo presidente do Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações). Roberto, que substitui Maurício Nacif de Faria, é diretor da Btech Tecnologia Agropecuária, localizada em Valinhos (SP) e assumiu o cargo no último dia 1º de setembro. Foram eleitos para a diretoria executiva: Adriano Cesar Marcon/Cargill Nutron como diretor vice-presidente; Sérgio Carlo Franco Morgulis/Minerthal, diretor tesoureiro; Maurício Nacif de Faria/Agroceres Multimix, diretor secretário; Luiz Adalberto Stabile Benício/ BRFoods, Nilton Ribera Perez/In vivo e Patrick Louis Lieven Pauwelyn/Impextraco como diretores. O vice-presidente executivo e CEO responsável pelo staff e atividades do dia a dia, cargo escolhido pelo presidente eleito, continua sendo do colaborador e médico veterinário Ariovaldo Zani. Animal Business-Brasil_43
Campanha contra tráfico de animais selvagens O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) lançou a Campanha de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens, crime considerado a terceira maior atividade clandestina no mundo e que movimenta cerca de R$ 2,5 bilhões por ano no Brasil. Cerca de 38 milhões de animais são retirados da natureza todos os anos, sendo que 90% deles morrem antes mesmo de chegarem ao seu destino final. O objetivo principal é conscientizar e engajar a sociedade, não apenas por ser um agente fiscalizador, mas também por ser potencial consumidor. Segundo estudos da Renctas – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Selvagens, as maiores vítimas são as aves, representando 82% do total. Por conta da diversidade de espécies, o Brasil é um grande alvo dos traficantes. A rota do tráfico no país começa com os animais capturados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e escoados para as regiões Sul e Sudeste, principalmente para os estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. As vendas acontecem em feiras livres e muitos são exportados para países da Europa e América do Norte. Uma importante ferramenta da Campanha será o hotsite, que vai abrir informações sobre o tráfico, número, notícias e até uma galeria de imagens: www.cfmv.gov.br/traficodeanimais.
Compêndio de Alimentação Animal 2013 O Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) lançou a 4ª edição do Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal. Fruto da parceria entre suas empresas
associadas, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e institutos de pesquisa, o guia é leitura obrigatória para profissionais da indústria fornecedora de nutrição animal, equipamentos, análises laboratoriais e soluções tecnológicas. Esta quarta edição já pode ser considerada a fonte de consulta mais completa já disponibilizada para o setor, uma vez que seu conteúdo atende desde fornecedores de insumos e serviços, importadores, laboratórios, fábricas de rações, premixes e suplementos, ou mesmo agências certificadoras de Qualidade e Sistemas, Centros de Pesquisa e Universidades, além de servir como referência aos órgãos governamentais, instituições de pesquisa, acadêmicos, consultores independentes, estudantes e entusiastas em geral. Para adquirir o Compêndio Brasileiro de Alimentação Animal 2013, basta entrar em contato com o Sindirações pelo e-mail compendio@sindiracoes.org.br ou pelo telefone (11) 3541-1212 (ramais 3 ou 4).
Cai restrição da ABCZ para receptora meio sangue A restrição de mercado para uso de receptoras meio sangue em cruzamentos, aprovada em 2012 pela ABCZ – Associação Brasileira de Criadores de Zebu, prevista para entrar em vigor em janeiro de 2014, foi homologada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Segundo a SBTE - Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões, se fosse mantida, a normativa anterior seria responsável por causar impacto negativo em todas as conquistas do processo biotecnológico, da transferência de embriões, fertilização in vitro, até clonagem e trangênese, o que implicaria um significativo retrocesso na pecuária brasileira. Uma nova redação foi aplicada ao artigo 105 do regulamento da ABCZ, liberando o uso de animais cruzados (taurinos x zebuínos ou taurinos x taurinos) nos processos de TE e FIV para as raças Brahman, Cangaiam, Indubrasil e Nelore, a partir de 1º de janeiro de 2014. 44_Animal Business-Brasil
Ilhas Fiji querem distribuir carne de frango brasileira Em reunião na sede da União Brasileira de Avicultura (UBABEF), em São Paulo, o embaixador das Ilhas Fiji no Brasil, Cama Tuiquila Tuiloma, propôs ações para agilizar a abertura da República de Fiji para a carne de frango exportada pelo Brasil e, além de abastecer seu próprio mercado, se consolidar como um dos distribuidores do produto brasileiro para os países do Pacífico. O embaixador foi recebido pelo diretor de Mercados da UBABEF, Ricardo Santin, e o gerente de Relações com o Mercado, Adriano Zerbini. Durante o encontro, Santin e Zerbini destacaram o potencial exportador da cadeia avícola brasileira, líder mundial em exportações de carne de frango, com atuação em mais de 150 países.
A ovinocultura em debate no III Simpósio FarmPoint Com o principal objetivo de difundir conhecimentos na área da ovinocultura e discutir a situação atual da atividade no Brasil, foi realizado no auditório do Senar, em Cuiabá (MT), o III Simpósio FarmPoint: mercado, custos e manejo. Pela primeira vez no Centro-Oeste, o evento abordou temas atuais e relevantes para a atividade no estado de Mato Grosso e no Brasil. A programação do evento atingiu diversas áreas e contou com profissionais e pesquisadores de renome e atuantes no setor. O evento contou ainda com o apoio da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso).
Carne bovina: vendas externas aumentam 21% As vendas externas de carne bovina cresceram 20,57% no acumulado de janeiro a agosto, totalizando 944 mil toneladas. Já o faturamento, alcançou US$ 4,168 bilhões, aumento de 14,12% em relação ao mesmo período de 2012, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), que prevê rendimento superior a US$ 6 bilhões, em 2013, com as exportações. A Rússia liderou o ranking de compradores internacionais da carne bovina brasileira em agosto, com 32 mil toneladas embarcadas, acima de Hong Kong, com 29 mil toneladas. Das 56 plantas de carne bovina brasileiras cadastradas para exportação com destino à Rússia, 14 estão autorizadas a exportar, 32 estão com restrições temporárias e 4 em controle reforçado. Outras 6 plantas aguardam o resultado de análise laboratorial da amostra colhida.
Livro sobre a história da inseminação artificial Durante a reunião anual da SBTE - Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões, a Asbia - Associação Brasileira de Inseminação Artificial, lançou o livro História Ilustrada da Inseminação Artificial, tecnologia que democratizou o uso de reprodutores melhoradores em todos os recantos do mundo. A publicação conta a trajetória da técnica no mundo e foi escrita pelo médico veterinário Neimar Correa Severo. Segundo a Asbia, o Brasil insemina muito pouco em relação a outros países, cerca de 10% do rebanho bovino, muito menos nos rebanhos ovinos e caprinos, sem falar nos equinos onde a IA ainda é insipiente. Nas aves, em especial nos perus, a técnica já é utilizada em grande escala, um exemplo para a pecuária. Animal Business-Brasil_45
Embrapa Pecuária
Está na hora de olhar para os pequenos produtores de leite do Rio de Janeiro Por:
Engº Agrº Alberto Figueiredo Diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura
O Brasil é o sexto produtor, mundial de leite, com aproximadamente 30,48 bilhões de litros estimados em 2010. Nos últimos 10 anos, a produção brasileira aumentou 54,7%, passando de 19,7bilhões de litros em 2000 para 30,48 bilhões em 2010.
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este mesmo período a produção mundial cresceu 21,8%, ou seja, a expansão da oferta no Brasil foi duas vezes e meia superior à média mundial. Os principais países produtores mundiais são: EEUU; Índia; China; Rússia; Alemanha, segundo dados disponíveis. Existe uma vasta gama de informações em sites de empresas e de instituições públicas e privadas, teses universitárias, revistas impressas e eletrônicas, e em projetos e programas, que demonstram claramente que a cadeia produtiva de leite de vaca aponta espaços para um amplo debate sobre o assunto. As estatísticas mostram que, comparada a outros países, a produção de leite no Brasil tem ainda uma estrutura bastante pulverizada em termos de unidades de produção. Mostram, também, a importância da mão de obra familiar na produção, a exemplo do que ocorreu na maioria das fazendas de leite da Europa e dos Estados Unidos, onde a família representa a principal, senão a única, força de trabalho no curral, o que configura um indicador que merece atenção especial. No Brasil, segundo o Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, o mais atualizado que se encontra, mais de 80% dos produtores rurais são agricultores familiares. Além disso, outros dados estatísticos também confirmam que, em 80% das propriedades consideradas de agricultura familiar, a atividade pecuária está presente. O que confirma o aspecto social dos projetos que envolvem o setor. Dentro de um contexto geral, é pertinente afirmar que vários são os elementos que justificam a implantação de projetos de transformação social e que, integrar esforços nos movimentos em benefício do crescimento organizado, trata-se de desafio ímpar para o enfrentamento das mazelas sociais dos dias de hoje.
As estatísticas mostram que a produção de leite no Brasil tem ainda uma estrutura bastante pulverizada A conjugação das informações oficiais anteriormente especificadas, nos fazem chegar a uma conclusão lógica: a de que a maioria dos produtores de leite do Brasil convive com rendas familiares baixas, que, constantemente se tornam insuficientes para a garantia da sobrevivência digna, forçando-os, mesmo a contragosto, ao deslocamento para centros urbanos à procura, quase sempre desesperada, de novas alternativas, muitas vezes engrossando as fileiras dos candidatos a programas sociais diversos de garantia de renda.
Baixa renda e baixa produtividade A produtividade de 370 litros de leite por hectare por ano, está muito aquém dos padrões mínimos de 10.000litros/ha/ano recomendados para a atividade, havendo exemplos de produtividades em torno de 35.000 litros por hectare por ano.
Alberto Figueiredo
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MB Comun Emater - RS
Diante desse quadro, torna-se urgente o desenvolvimento de ações conjugadas de instituições públicas e privadas, voltadas para a melhoria da renda e das condições sociais dos pequenos produtores de leite. São diversos, com destaque para o PRONAF, os projetos voltados à oferta de recursos com custos reduzidos. Acontece, e isto é fácil de ser comprovado, que a grande maioria desses produtores, por insegurança, não tem coragem de assumir compromissos financeiros, mesmo a custos reduzidos.
Círculo vicioso Mantém-se, assim um círculo vicioso em que, a falta de investimentos gera resultados de baixa produtividade, por consequência, também, baixa renda, provocando a queda das condições de vida, o desânimo, a insegurança e o desencorajamento. A transformação dessa situação terá que passar, sem sombra de dúvida, pelo incremento de produtividade, que gerará, com racionalidade, aumento de renda e certamente, vontade de continuar progredindo.
A importância do pasto O incremento de produtividade na propriedade produtora de leite, passa, obrigatoriamente, pelo aumento da capacidade de produção de 48_Animal Business-Brasil
alimentos na propriedade, com prioridade para o mais econômico deles, que é o pasto. As técnicas de produção de pastos de boa qualidade para rebanhos bovinos leiteiros é conhecida e relativamente simples de ser implementada. No entanto, todos os esforços no sentido de conquista de novos produtores interessados, através dos métodos de oferta de assistência técnica e financiamentos, têm apresentado resultados pífios, tanto em número de produtores envolvidos, quanto de áreas beneficiadas, a ponto de não alterar as estatísticas do setor, nas últimas décadas.
O que fazer A proposta consiste na formatação de um programa de implantação de unidades demonstrativas de pastagens racionais nas pequenas propriedades, utilizando-se recursos públicos e privados, nacionais ou internacionais. As vantagens, além da imediata renovação de esperanças para famílias na zona rural, também avançarão pela perspectiva de diversificações de atividades e da adoção, de fato, de práticas de conservação ambiental, também tão necessárias e urgentes. A menos que queiramos continuar convivendo com brasileiros vivendo em condições insatisfatórias no meio rural de norte a sul do país, a menos que queiramos assistir às constantes e silenciosas romarias de homens, mulheres, jovens e crianças, do campo para a cidade, será necessária a conjugação de esforços e recursos capazes de interferir no processo de produção de leite nas pequenas propriedades, modificando o quadro letárgico em que se encontram. Não se pode esquecer, também, que a postura irresponsável de meros espectadores, adotada pelas instituições públicas e privadas, em relação às cooperativas às quais esses pequenos produtores estão associados, contribui para o quadro de desamparo em que se encontram.
Entrevista
Faria
Patrick Villa Nova Pereira
Empresa multinacional brasileira
atua com sucesso em reprodução animal assistida A utilização da inseminação artificial tem crescido bastante no Brasil, principalmente devido ao uso da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), mas apesar disso apenas 7% do rebanho de vacas são inseminadas
1. Um pouco do seu currículo, da sua história pessoal. Graduado no ano de 2000 pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Já realizou até os dias de hoje mais de 40.000 aspirações foliculares. É sócio proprietário da empresa Nova Consultoria Reprodutiva Animal especializada em Aspiração Folicular (OPU), Animal Business-Brasil_49
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2. Nome da sua empresa, quando foi fundada, porque foi fundada, como foi fundada. Localização. Números que dêem ideia da sua dimensão. O Grupo Biovitro é composto por seis empresas, são elas: Nova Consultoria, Laboratório Biovitro, Laboratório Biovitro Guará, Laboratório Bioembryo, Multigen e a Ventre Vivo. O Grupo está estrategicamente localizado em território nacional em Uberaba – MG, Belo Horizonte - MG e Bauru – SP e possuí uma unidade no México e na Colômbia. As empresas produzem atualmente mais de 70 mil embriões/ano.
3. História da reprodução artificial ou assistida do gado Zebu no Brasil. Como tudo começou? Quando começou? Os pioneiros A reprodução artificial ou assistida engloba várias tecnologias, dentre elas a Inseminação artificial (I.A.), criopreservação de gametas (oócitos e sêmen) e de embriões, superovulação e transferência de embriões (T.E.), recuperação de oócitos, fertilização in vitro (FIV), se-
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xagem espermática e embrionária, clonagem e trangenia. A primeira Inseminação Artificial (I.A.), que se tem notícia no Brasil, foi desenvolvida pelos veterinários L.P. Jordão, J.S. Veiga e J. G. Vieira na estação experimental de Pindamonhangaba, SP, a partir de 1938. Em 1943 foi realizado o primeiro curso de Inseminação Artificial para veterinários do Ministério da Agricultura na Estação Experimental do Instituto de Biologia Animal em Deodoro, RJ, Brasil. Em 1950 a técnica foi utilizada no nível de campo, porém alcançou impulso comercial somente a partir de 1970 com o aparecimento das primeiras empresas especializadas no ramo. O primeiro bezerro brasileiro nascido pela técnica de transferência de embriões foi no ano de 1978, por experimento realizado pelo vete-
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fundada no ano de 2004 e sócio do Laboratório Biovitro empresa especializada em produção de embriões In Vitro fundada no ano de 2007.
rinário Jorge Nicolau na Fazenda Experimental São Pedro, em Sorocaba, SP. Em maio de 1979, o Dr. Aureliano Menarim Junior realizou coleta de embriões de vacas Nelore na Fazenda Campo Verde, no município de Senhor do Bomfim, na Bahia, obtendo o nascimento dos primeiros cinco bezerros Nelore no mundo. A tecnologia de Produção in Vitro no Brasil teve início em 1993 liderada pelo professor Enoch
Borges de Oliveira, da Faculdade de Veterinária da Unesp, Campus Jaboticabal, quando obteve o primeiro bezerro produzido totalmente in vitro. Em 1999 foi fundada a primeira empresa de fertilização In vitro no Brasil, a Vitrogen. Em um curto período de tempo multiplicaram-se as empresas dedicadas a prestação de serviço, fazendo com que o Brasil se tornasse uma liderança mundial na produção in vitro de embriões. Em 2004 o Brasil iniciou com a tecnologia de sexagem de sêmen com a parceria entre as empresas ABS e Goyaike. Esta técnica permite ao produtor escolher o sexo do bezerro antes mesmo do nascimento, podendo programar o seu rebanho de acordo com as necessidades. A tecnologia de clonagem teve início no Brasil em 2001, com o nascimento da bezerra Vitó-
A técnica de sexagem permite ao produtor escolher o sexo do bezerro
ria, experimento realizado pela equipe do Cenargem da Embrapa. Comercialmente a tecnologia já esta no mercado desde 2005.
4. Evolução da reprodução artificial no Brasil. A dimensão que essa técnica alcançou no País. A utilização da inseminação artificial tem crescido bastante no Brasil, principalmente devido ao uso crescente da Inseminação Artificial
em Tempo Fixo (IATF). A IA brasileira apresentou evolução de 30% nos dez últimos anos. Para as raças de corte, o incremento nas vendas foi de 88,1%, neste período. Para as raças leiteiras o aumento na comercialização foi menor, 30,7%. Considerando a participação de sêmen de bovinos de corte e leite, em 2011, foram vendidas 11,91 milhões de doses. Os negócios com sêmen nacional e importado tiveram comportamento praticamente semelhante. No entanto, no Brasil, são inseminadas cerca de 7% do rebanho, apesar de toda a evolução nos últimos dez anos. A IA no Brasil tem grande potencialidade de crescimento, o que favorece o desenvolvimento e crescimento do mercado, seja de corte ou leite. A produção in vitro de embriões no mundo aumentou pelo sexto ano consecutivo em 2011. O número total de embriões produzidos in vitro e transferidos no mundo foi de 373.836. O Brasil foi responsável por 85% do mercado global. Este marco pode ser atribuído ao elevado número de oócitos recuperados após a aspiração de doadoras zebuínas, principalmente da raça Nelore permitindo a aplicação comercial da in Vitro em larga escala.
5. Descrição da tecnologia avançada da reprodução assistida. As diversas técnicas. O passo a passo. Fecundação In Vitro A fecundação in vitro consiste em primeiramente realizar a punção folicular guiada por ultrassonografia (OPU). Após este passo os oócitos são colocados em uma placa contendo meio de maturação, onde permanecem por 24 horas até a completa maturação oocitária. Então é realizada a fecundação in vitro dos embriões, onde o sêmen é processado e colocado em contato direto com os oócitos para ocorrer a fertilização. Após 7 dias, os embriões já estão desenvolvidos e prontos para serem transferidos para receptoras. O índice de conversão médio para embriões zebuínos é de 40%, enquanto que para taurinos este valor cai para 20%. As receptoras passam previamente por um processo por um processo de sincronização para estarem com o útero preparado para receber os embriões. Após 30 dias é diagnosticada a prenhez e aos 60 dias é
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6. As grandes vantagens da reprodução assistida (ou artificial) em relação ao aumento da produtividade. Com a fecundação in vitro ocorre um grande aumento na produção de indivíduos. A técnica pode ser realizada 1 a 2 vezes a cada mês, isso colocando numa média nacional, por exemplo, na raça Nelore, uma doadora sendo coletada de 30 em 30 dias, produziria 8 embriões transferidos, resultando em 3 prenhezes, ou seja, 36 prenhezes por ano. Considerando 1 coleta mensal apenas!!! Em outras tecnologias, como a IA (inseminação artificial) a vaca produziria apenas 1 prenhez por ano. Já na coleta convencional (TE), teríamos que respeitar intervalos médios de 60 dias, entre as coletas, por conta dos hormônios utilizados na doadora. O aproveitamento de doadoras gestantes, deve ser citado. Na FIV podemos coletar vacas gestantes, já que a técnica de aspiração folicular, consiste em retirar óvulos dos ovários das fêmeas, não precisando ir ao útero. Isso serve também para bezerras, pré-púberes (ainda não ciclaram pela primeira vez). Elas podem ser coletadas, já que as fêmeas mamíferas já nascem com todos os seus óvulos nos ovários. Com o passar do tempo eles vão migrando para a periferia dos ovários. Por isso é que podemos coletar animais jovens, a partir de aproximadamente 8 meses. Isso diminui o intervalo entre as gerações. Uma bezerra pode ter descendentes antes mesmo de parir.
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realizado a sexagem dos embriões. A média de prenhez aos 60 dias é de 40%, este valor não difere para embriões taurinos ou zebuínos.
Coletar doadoras velhas ou com problemas reprodutivos, que as impossibilitariam de gestar, é possível porque na FIV temos apenas que retirar os óvulos dos ovários. Otimização de sêmens raros e caros, ja que uma dose de sêmen pode fecundar em média óvulos de 10 doadoras. Em outras técnicas usaríamos 1 dose por doadora. Podemos usar a técnica para testar sêmens, servindo de ferramenta para as centrais de coleta de sêmen.
7. Quais os valores dos diversos procedimentos ? Para a realização da técnica, o cliente terá o custo da retirada dos óvulos das doadoras (OPU), a produção dos embriões no laboratório (FIV), a transferência destes embriões nas barrigas de aluguel/receptoras (TE) e depois a sexagem fetal (para ver o sexo do bezerro). Também terá que adquirir as receptoras, caso não as tenha. A esse pacote chamamos de “prenhez confirmada aos 60 dias de gestação”. O investimento se aproxima de R$ 2.500,00 por cada receptora gestante, já incluindo os serviços citados acima.
A evolução da suinocultura brasileira nos últimos dez anos Por:
Gustavo J. M. M. de Lima Embrapa Suínos e Aves
A produção de suínos é uma das atividades da Agricultura Brasileira que mais transformações sofreu nos últimos dez anos. Sempre atrelada ao desenvolvimento da avicultura, devido à atuação simultânea das agroindústrias nas duas cadeias, a cadeia produtiva de suínos apresentou nesse período profunda evolução tecnológica, o que garantiu aumento expressivo da produtividade e conquista de novos mercados no exterior. Ao mesmo tempo, entretanto, ocorreu redução das margens de ganho, maior concentração de animais por granja e a exclusão de grande parte dos produtores que existiam no início da década anterior.
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ara melhor identificar os fatos que causaram impacto na cadeia nos últimos dez anos, vinte profissionais foram consultados, selecionados por serem líderes influentes no Setor e apresentarem atuação em pelo menos uma das áreas de conhecimento: economia, meio ambiente, produção, sanidade, genética e nutrição de suínos. Atuam como produtores, técnicos, consultores e empresários, ligados aos setores público e privado. A partir das suas respostas, foram levantadas as transformações mais relevantes.
Nas áreas de Economia e Organização da Produção foram destacados os seguintes pontos: • Apesar do contínuo crescimento no Sul do país, a Suinocultura apresentou uma grande expansão da atividade na região Centro-Oeste do Brasil, atraída pela oferta de milho e soja a preços reduzidos. Isto promoveu a mudança do perfil de produção, caracterizada por atuação mais concentrada nas grandes integrações, com avanço dos contratos de comodato e parceria. Este direcionamento das grandes integrações criou novas alternativas a regiões até então sem tradição de criação de suínos, proporcionando um grande desenvolvimento econômico; • As Agroindústrias, com a concentração da produção, na forma de contratos de comodato e integração, passaram a deter os fatores mais importantes da produção, restando ao produtor a responsabilidade, principalmente, com mão de obra, instalações e tratamento e destino dos dejetos. Foi determinante também a institucionalização da produção piramidal, com o estabelecimento de granjas núcleo, multiplicadoras e comerciais; • A década foi marcada por intensas e longas crises econômicas no setor de produção de suínos. A principal causa ainda é a falta de uma política de planejamento da oferta de suínos, mas outros fatores foram igualmente importantes, como o aumento dos preços dos grãos, causando elevação dos custos de produção e bloqueios internacionais à exportação de nossa carne. Estes ocorreram com as alegações de riscos sanitários ou da existênAnimal Business-Brasil_53
cia de resíduos e contaminantes. Entretanto, os bloqueios aconteceram, muitas vezes, sem uma razão plausível; • Houve a abertura de novos mercados internacionais consumidores de carne suína, constituindo-se em importante oportunidade da participação nacional no suprimento mundial de carnes. Paralelamente, o consumo de carne suína per capta no Brasil permaneceu baixo, mas avanços foram observados como resultado do aumento do preço da carne bovina e de alternativas para escoamento do excedente, como o incentivo ao consumo de cortes e os esclarecimentos realizados pelas associações de criadores. Há necessidade, no entanto, de melhorar a qualidade da carne, em especial quando se trata do consumo “in natura”; • Aconteceu uma grande evolução na produtividade do setor, mas infelizmente os ganhos não se reverteram em lucros ao produtor; • As crises constantes observadas no setor de produção de suínos e o direcionamento por projetos de granjas cada vez maiores promoveram uma grande concentração da produção. Paralelamente à maior profissionalização dos produtores, houve a marginalização dos menos eficientes, ocasionando o êxodo rural, especialmente na Região Sul; • Os problemas com recrutamento de mão de obra qualificada em todas as regiões produtoras agravaram-se tanto nas granjas, de todas as escalas, como nas indústrias pertencentes à cadeia produtiva. Isto pressionou pela adoção da automação dos processos; • No início da década passada, deu-se a continuidade do pagamento por qualidade da carcaça. Isto determinou o incremento no uso de tecnologias para a produção de carne. Entretanto, no início desta década observa-se que já não há tanto interesse das indústrias em bonificar as carcaças com maior percentual de carne. Duas razões básicas são apontadas: (1) as agroindústrias têm grande controle sobre a escolha do material genético e 54_Animal Business-Brasil
adoção de práticas de manejo e nutrição que favorecem a deposição de carne; e (2) as genéticas atingiram um alto patamar tecnológico de evolução neste critério, o que dispensaria o estímulo; • Houve melhor administração e gerenciamento das propriedades, principalmente em decorrência do aumento da escala, da profissionalização e do uso da informática; • Embora as informações tenham sido obtidas e compartilhadas rapidamente em decorrência da revolução da comunicação digital, as restrições ao acesso às estatísticas do setor ainda persistem; • A década passada foi marcada também pelo aumento da burocratização e documentação para produzir e comercializar os suínos.
Sanidade A saúde dos animais sempre teve grande relevância na produção de suínos. Entretanto, os últimos dez anos foram marcados pelo aparecimento de novas doenças como a emergência da infecção pelo PCV2, Circovirose, e doenças respiratórias associadas, que causaram grande prejuízo até o aparecimento da vacina contra circovirose suína. Tivemos também o aparecimento da infecção pelo vírus da influenza H1N1 em todo o mundo, causando grande impacto no mercado de carnes. Embora fosse possível manter o território livre da Síndrome Reprodutiva Respiratória dos Suínos, doença exótica causadora de grandes perdas econômicas e conhecida pela sigla PRRS, o Brasil não conseguiu escapar da ocorrência de problemas sanitários em percentuais elevados, verificados nos principais países produtores. Esses problemas foram decorrentes, em parte, do aumento da concentração da produção, com granjas com alta densidade de animais, e também pela imposição da retirada do uso de medicações preventivas e redução do emprego de aditivos antibióticos e quimioterápicos como melhoradores de desempenho.
Exigências ambientais O atendimento às exigências ambientais do setor produtivo marcou a última década. Considerando-se que em 1990 eram poucas as pesquisas sobre o tema no Brasil, houve uma
Gustavo J. M. M. de Lima
grande evolução na área, com benefício ao meio ambiente e a quebra de um paradigma: os dejetos dos animais podem se transformar em fonte de renda para os produtores. Nessa área, destacaram-se os seguintes aspectos: Houve maior cobrança quanto ao impacto ambiental da atividade, especialmente pela ação do Ministério Público e surgimento de legislações mais restritivas; O produtor de suínos respondeu positivamente às pressões da sociedade dispensando maior atenção ao manejo ambiental e buscando o licenciamento ambiental da sua atividade; Houve grande adesão ao emprego de tecnologias nas propriedades, como o uso de sistemas de armazenamento e tratamento de dejetos, produção de biogás e redução da emissão de metano na atmosfera, geração de energia elétrica, melhor aproveitamento dos nutrientes como fertilizantes agrícolas e fonte de matéria orgânica para o solo;
Apesar de não ter oferecido o sucesso esperado, houve uma grande implantação de biodigestores, causando impacto indiscutível.
Aumento da produtividade Conforme mencionado, houve um grande crescimento de produtividade, especialmente em termos de prolificidade e conversão alimentar. O principal fator que desencadeou essas respostas foi a seleção genética dos animais para essas características. Isto aconteceu no Brasil de maneira simultânea aos avanços genéticos e de geração de novos insumos ocorridos em países líderes na produção de suínos. Foi notável também a crescente contribuição das técnicas moleculares no melhoramento genético de suínos nos últimos anos. Outro fator importante que colaborou para o aumento da produtividade das matrizes suínas foi a aplicação de novas técnicas de reprodução com resultados positivos na taxa de partos e número de leitões nascidos. Animal Business-Brasil_55
Acervo Embrapa Suínos e Aves
Bem-estar Houve aumento da preocupação do setor produtivo com o bem-estar dos animais, especialmente como reflexo às pressões oriundas das exigências da Comunidade Europeia com relação à melhoria do conforto dos animais, redução das lesões e mortes e com o abate humanitário dos animais. Houve uma grande melhoria do manejo da criação de suínos na última década, em especial do manejo pré-abate, envolvendo as etapas de carregamento, transporte e alojamento dos animais no frigorífico. Entretanto, há muito que se implementar como, por exemplo, o alojamento de porcas em baias coletivas durante a gestação. No final da década, passou a ser adotada a castração imunológica dos machos inteiros para aumentar a produtividade e evitar procedimentos que causam dor e desconforto aos animais.
Instabilidade Gustavo Lima
Aspectos regulatórios Os aspectos regulatórios ganharam maior importância na última década em todas as áreas do setor produtivo. Na área de produção de alimentos para os animais, houve um grande impacto do controle de qualidade através da adoção e do atendimento das exigências de Boas Práticas de Fabricação. Através de trabalho conjunto do setor produtivo e dos órgãos governamentais, as BPFs tornaram mais fáceis as adoções de restrições e controle do uso de aditivos antibióticos e quimioterápicos como melhoradores de desempenho, melhorando os processos e a qualidade dos alimentos balanceados. Paralelamente, foi adotado o conceito da nutrição de precisão através do aumento significativo do emprego de enzimas nas dietas, o uso de ingredientes que auxiliam na resposta imune dos animais frente aos desafios sanitários e da geração de exigências nutricionais dos suínos obtidas em condições brasileiras. A última década ficou marcada pelo uso de ingredientes com alta especificidade como aminoácidos industriais, plasma suíno, ractopamina, fitase e minerais orgânicos. Além de melhorar a saúde dos animais, esses ingredientes foram muito importantes para garantir que os genótipos animais expressassem o máximo do potencial produtivo, com menor custo de produção e impacto poluente sobre o meio ambiente. 56_Animal Business-Brasil
A Suinocultura Brasileira está muito longe de se constituir em uma atividade econômica estável frente à volatilidade do mercado internacional, o baixo consumo interno e os altos custos de produção. Embora o setor tecnológico venha respondendo rapidamente às transformações, a falta de equidade da distribuição de renda entre os segmentos da cadeia poderá alterar drasticamente o seu futuro, assim como influenciou o desenrolar da atividade na última década. Outra preocupação constante é a vulnerabilidade da situação sanitária dos rebanhos brasileiros devido à falta de estrutura e de uma política mais austera e presente, que tem motivado, mesmo que em alguns casos indevidamente, a suspensão de importações e dificultado a conquista de novos mercados ou a fixação de mercados importadores cativos. Assim como outros setores da economia, o desenvolvimento da suinocultura é freado e perde competitividade, frente aos mercados externos, pelos problemas de logística, especialmente pela escassez de redes ferroviárias para movimentação de grãos e produtos para os centros consumidores e portos, além da excessiva carga tributária. Muito se fez nos últimos dez anos para que a Suinocultura Brasileira atingisse o estágio atual. Entretanto, o futuro incerto faz com que cada ator da cadeia produtiva tenha o sentimento comum de que é necessário melhor organização e trabalho árduo para permanecer na atividade.
Instituto biolÓgico:
referência em medicina veterinária diagnóstica Destaca-se como uma das melhores e mais completas instituições de pesquisa científica nacional, bem como no atendimento ao setor pecuário com enorme abrangência de diagnóstico laboratorial de enfermidades que acometem animais de produção.
O Arquivo LVB/IB
Instituto Biológico pertence à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, está vinculado a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegó-
cios; possui como missão desenvolver e transferir conhecimento científico e tecnológico para o negócio agropecuário nas áreas de sanidade animal e vegetal e proteção ambiental. Conta com equipamentos, infraestrutura e tecnologia de última geração e profissionais altamente qualificados, especializados e focados no atendimento de excelência às demandas nacionais e internacionais. Os investimentos recebidos nos últimos anos permitiram a ampliação de suas competências e especialidades, consagrando a Instituição como a mais consistente estrutura de diagnósti-
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No ano passado o Instituto produziu mais de 2,5 milhões de doses de antígenos para diagnóstico de tuberculose e de brucelose
co zoosanitário nacional, colocando São Paulo em uma posição de vanguarda nessa área. Os programas implantados pelo Governo Estadual para modernização e adequação da estrutura às necessidades atuais, permitiram, principalmente, intensificar sua presença no auxílio à definição de políticas públicas para promover a saúde animal, dar respostas rápidas aos problemas emergentes que impactam a sanidade e na ampliação das parcerias com instituições governamentais e privadas nacionais e internacionais.
A produção de imunobiológicos para uso em diagnóstico de brucelose e tuberculose foi um dos grandes destaques no período. O Instituto Biológico atingiu a marca de 2.582.670 doses no ano de 2012 com 100% de aprovação junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Isso faz do IB um importante produtor desses insumos para atendimento à pecuária nacional, podendo expandir sua produção e atender aos países vizinhos. Em 2011 deu inicio à primeira exportação de antígeno para diagnóstico de brucelose para o Peru e em 2012 para a Venezuela e ainda está desenvolvendo kits para diagnóstico de Micoplasmose aviária, em atendimento à solicitação do setor avícola.
Laboratórios
Arquivo LVB/IB
Seus laboratórios estão distribuídos nos Centros de Pesquisa e Desenvolvimento de Sani-
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dade Animal, Vegetal e Proteção Ambiental, na sede em São Paulo e nos Centro Avançado de Tecnologia do Agronegócio Avícola, no município de Descalvado, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento, em Bastos, e no Centro Experimental Central, em Campinas. Algumas conquistas recentes indicam o esforço da equipe do IB para manter a qualidade dos serviços, em sintonia com a necessidade do agronegócio, tais como as certificações Iso 9001 obtidas em áreas de reconhecida importância como a Produção de imunobiológicos; publicação de artigos e comunicações científicas para o desenvolvimento das ciências agrárias no Brasil; diagnóstico de fungos em plantas frutíferas, florestais, oleráceas e ornamentais; diagnóstico de vírus em plantas; diagnóstico de fungos em sementes; identificação de insetos e curadoria das coleções científicas “Adolph Hempel” e “Oscar Monte”; diagnóstico de enfermidades animais por meio de técnicas de microscopia eletrônica, anatomopatológicas, bacteriológicas e sorológicas; análise
Arquivo LVB/IB
Imunobiológicos
de parâmetros físicos e químicos da qualidade da água; gestão de documentos históricos; atividades de ensaios bacteriológicos, sorológicos e bromatológicos em amostras de origens diversas; análise qualitativa e quantitativa de bioinseticidas a base de fungos entomopatogênicos; divulgação científica e cultural em entomologia. Possui acreditação pelo Inmetro na NBR ISO/IEC 17025:2005 para análise de resíduos de pesticidas em alimentos e bebidas com o número de acreditação CRL 0382, Laboratório de Resíduos e Pesticidas.
Diagnósticos Todos os exames que seu rebanho precisa em um só lugar! No Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Animal, os treze laboratórios realizam mais de 150.000 exames por ano, identificando precocemente doenças animais, certificando produtos, para garantir a inocuidade, tornando o produto brasileiro mais competitivo. Seus expertises orientam na definição de ações de prevenção, controle e erradicação de doenças, monitoramento da eficiência dos programas de vigilância sanitária animal melhorando quantitativamente e qualitativamente a produção animal. Emprega as mais avançadas técnicas e aparelhos de última geração que viabilizam decisões rápidas e informações precisas para a melhor condução de cada caso nas criações de bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos, suínos, aves e equinos, nas áreas de bacteriologia, virologia, micologia, parasitologia, biologia molecular e patologia animal. Dentre os exames realizados pelo IB destacam-se os credenciados pelo Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA como brucelose, febre aftosa, estomatite vesicular, língua azul, peste suína clássica, doença de Aujeszky, raiva, encefalopatia espongiforme bovina (vaca louca), anemia infecciosa equina. Essas ações, sem dúvida, geram desenvolvimento ao setor agropecuário, reduzindo o risco de difusão de doenças, consequentemente promovendo a redução de custos de produção, a inclusão social e a sustentabilidade ambiental; mas, sobretudo, importante vigilância à segurança alimentar com enorme impacto na saúde da população humana através da garantia de sanidade dos animais desde a origem.
Os investimentos em tecnologia de ponta, o acompanhamento dos recursos científicos e tecnológicos, o talento, a técnica e o desempenho dos profissionais do IB levam a Instituição a uma posição de referência no setor.
Geração de conhecimento Os Centros de Pesquisa colocam o IB sempre na fronteira do conhecimento, construindo pontes para intercâmbio entre os órgãos de defesa sanitária animal nas esferas federal, estadual e municipal, universidades, outros centros de pesquisa, setor produtivo; bem como com organizações internacionais. A sinergia de ações e a cooperação favorecem sobremaneira sua atuação em prol do consumidor final e foco principal das cadeias produtivas. Direciona a realização da pesquisa científica para a demanda setorial, com desenvolvimento de vacinas e imunorreagentes, aprimoramento de métodos diagnósticos e epidemiologia molecular associados as ocorrências clínicas a campo. Promove e estimula reuniões, conferências e simpósios científicos e de debates de temas relevantes e emergenciais.
Transferência de tecnologia O Instituto Biológico, em parceria com a Empresa A.R.G., tem mantido cooperação com a República da Guiné Equatorial com o objetivo de transferir tecnologia que possibilite o desenvolvimento daquele país e com expectativa de expansão para outras regiões que necessitem desenvolver o setor agropecuário. O papel do Instituto nesta parceria foi coordenar o desenvolvimento de laboratórios móveis para promover a sanidade animal em regiões distantes, inacessíveis e/ou com poucos recursos, com o objetivo de difundir o conhecimento, para identificar enfermidades e dar suporte às ações de defesa sanitária com o objetivo de aumentar a oferta de proteína à população. Os laboratórios foram montados em containers e envolveram as principais áreas da medicina veterinária, como virologia, bacteriologia, parasitologia, hematologia, entre outras, com foco em animais de produção, sendo totalmente móveis e independentes, podendo ser transportados como carga convencional em navios ou caminhões. Nos laboratórios é possível maAnimal Business-Brasil_59
a saúde pública, o comércio pecuário e a segurança alimentar. Estas informações podem subsidiar as políticas estratégicas sanitárias brasileiras, auxiliando no enfrentamento das doenças.
Márcia Rebouças
Espaço cultural
nipular agentes com potencial zoonótico. Estes foram montados no Instituto Biológico e transportados para a Guiné Equatorial onde 10 funcionários previamente treinados no IB trabalham para levantar as principais enfermidades que acometem os animais naquele país, objetivando estabelecer normas para prevenção e controle de doenças, dando suporte ao clínico do campo e realizando monitoramento de trânsito animal e de produtos.
Pós-graduação O programa de Pós-Graduação em Sanidade, Segurança Alimentar e Ambiental no Agronegócio, em nível de mestrado, iniciou em 2007, e em julho de 2013 teve início o doutorado. A finalidade do curso é a capacitação de profissionais com perfil multidisciplinar, qualificando-os para exercerem atividades de investigação científica e docência nas diferentes áreas das ciências agrárias, gerando conhecimento e transferência de tecnologia ao agronegócio. Seu caráter inovador está relacionado ao desafio de formar profissionais para compreender e intervir no processo de desenvolvimento do agronegócio e na geração de políticas públicas, tendo como base o uso correto e sustentável dos recursos naturais, para contribuir na melhoria da quantidade e qualidade dos alimentos, mediante pesquisa em diagnóstico, prevenção, monitoramento, controle e erradicação de pragas e doenças e no atendimento de novas demandas econômicas, sociais e ambientais. Já foram defendidas mais de 100 dissertações, fundamentando cientificamente ocorrências zoosanitárias que colocam em risco a saúde animal, 60_Animal Business-Brasil
Instalado num bosque arborizado ao lado da sede de São Paulo, o espaço cultural atende a todos que se interessam pela pesquisa científica e sua historia. Recebe estudantes de ensinos fundamental e médio, graduandos universitários e pós-graduados, profissionais e a comunidade em geral. Por meio do programa IB/Escolas, o Instituto Biológico procura estimular as crianças e adolescentes ao conhecimento de enfermidades infecciosas e parasitárias dos animais, suas consequências para a saúde humana, aprendendo as boas práticas para evitar doenças contagiosas de origem animal. A exposição Planeta Inseto é considerada um zoológico de insetos, cuja finalidade é mostrar a importância desses organismos na vida humana e ao ambiente. A exposição retrata, de forma lúdica e interativa, diversos aspectos sobre a vida dos insetos, sensibilizando o público para sua importância na sustentabilidade ambiental, produção de alimentos e saúde pública. Considerando os anos de 2011 a 2013 de atividades do Planeta Inseto, o Museu do IB recebeu um público de cerca de 100.000 visitantes que conheceram o único jardim zoológico de insetos do Brasil. Na biblioteca, o IB mantém um importante acervo, com aproximadamente 100.000 exemplares de periódicos científicos, 2.500 livros e 4.000 boletins sobre agentes infecciosos e parasitários que causam doenças em animais e plantas, incluindo zoonoses; dentre eles são encontrados volumes históricos e raros. O IB também é responsável pela publicação periódica de revista científica denominada “Arquivos do Instituto Biológico” e outra para divulgação técnica “O Biológico”, além de uma série de boletins técnicos de áreas relacionadas ao setor agropecuário, que orientam profissionais e produtores na condução de seu trabalho em propriedades rurais e no agronegócio. Enfim, uma instituição multidisciplinar! Tudo no Instituto Biológico reflete a preocupação com o setor produtivo.
Oportunidades comerciais
para muares e asininos Por:
Roberto Arruda de Souza Lima • Prof. Dr da ESALQ/USP, Coordenador do Grupo Equonomia Maria Julia Takano Malavolta • Graduanda da ESALQ/USP
Os muares são resultado do cruzamento entre o jumento e a égua, originando animais estéreis devido ao número ímpar de cromossomos. A versão feminina desse cruzamento é conhecida como mula, e o indivíduo masculino é chamado de burro. Há também o muar bardoto, também estéril, oriundo do cruzamento entre uma jumenta e um cavalo.
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eralmente os muares são relacionados às suas características físicas, tais como força; maior período de vida; menor exigência quanto à alimentação fornecida – quando comparados aos cavalos – entre outras. No entanto, é necessário quebrar paradigmas e lembrar também da sua inteligência e docilidade, fazendo com que passem de animais de trabalho para também animais com grande valor comercial.
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Temperamento Devido à sua estabilidade temperamental, prudência e outros adjetivos positivos, os muares apresentam ótimo desempenho em tarefas que variam desde a lida com o gado até como animais de passeio. Tais animais apresentam grande rapidez e facilidade no aprendizado de comandos vocais no processo de doma de sela e no desempenho de serviços de tração, pois apresentam audição extremamente sensível. A visão e o tato dos muares também são muito desenvolvidos, conferindo-lhes a cautela necessária para circular por terrenos acidentados. Já o paladar não é muito aguçado, o que facilita a sua alimentação devido a menor seletividade de alimentos. A Tabela 1 mostra que tanto os muares quanto os asininos distribuem-se por estabelecimentos com as mais diversas atividades produtivas, de acordo com dados do último Censo Agropecuário. Tabela 1 – Brasil: Distribuição do plantel de asininos e muares por atividades desenvolvidas nos estabelecimentos agropecuários. Atividade
Estabelecimentos
No Cabeças
Asininos Muares Asininos Muares
Lavoura temporária Horticultura e floricult. Lavoura permanente Formas propag. Vegetal Pecuária Florestas plantadas Florestas nativas Pesca Aquicultura
33,08% 22,89%
30,93%
16,23%
1,50%
0,99%
1,09%
6,24% 11,93%
5,71%
9,95%
0,04%
0,03%
0,04%
0,02%
54,63% 60,81%
57,40%
70,53%
1,16%
1,31%
1,04%
1,23%
0,85%
3,32%
1,61%
3,48%
1,16%
0,14%
0,05%
0,12%
0,03%
0,08%
0,14%
0,10%
0,15%
Fonte: IBGE (2013)
Pêga Os muares da raça Pêga, que resultam do cruzamento entre Jumento Pêga e uma égua, são bons exemplos de animais de altíssima qualidade usados para o trabalho rural e também para o lazer, sendo utilizados nesse caso em cavalgadas de longa distância e provas de marcha. Além da 62_Animal Business-Brasil
inteligência, boa memória e maciez, apresentam os benefícios de uma maior rusticidade em relação aos equinos, tais como a sua adaptação em diferentes regiões e climas, a sua longevidade, a sua baixa mortalidade e baixo consumo, tornando-os extremamente viáveis economicamente.
Distribuição Os asininos são criados em 124 países, mas sua distribuição não é uniforme. Os três maiores plantéis, representando 40% da população mundial desses animais, estão localizados na Etiópia, China e Paquistão. O Brasil aparece na 11ª posição, conforme mostrado na Tabela 2. Tabela 2 – Distribuição de asininos no mundo em 2011 País Etiópia China Paquistão Egito México Nigéria Iran Afeganistão Nigéria Burkina Faso Brasil Marrocos Mali Outros Total
Cabeças
Perc.
6.575.540 6.397.000 4.700.000 3.355.000 3.260.000 1.631.584 1.600.000 1.466.000 1.220.000 1.071.346 974.688 950.190 899.981 9.129.461 43.230.790
15,21% 14,80% 10,87% 7,76% 7,54% 3,77% 3,70% 3,39% 2,82% 2,48% 2,25% 2,20% 2,08% 21,12%
Fonte: FAO (2011)
A população de muares, distribuída por 81 países, é ainda mais concentrada: os três maio-
1
Asininos
2000 2003 2006 2009
0 1991 1994 1997
Perc. 31,37% 25,79% 12,14% 4,45% 3,84% 2,92% 1,77% 1,67% 1,63% 1,41% 13,02%
2
1982 1985 1988
Cabeças 3.280.000 2.697.000 1.269.403 465.240 401.460 305.000 185.000 175.000 170.000 147.088 1.361.944 10.457.135
3
1970 1973 1976 1979
País México China Brasil Marrocos Etiópia Peru Argentina Iran Paquistão Colômbia Outros Total
4
1961 1964 1967
Tabela 3 – Distribuição de muares no mundo em 2011
Figura 2 – Brasil: evolução do efetivo de asinino e muares entre 1961 e 2011, em milhões de cabeças. Milhões de cabeças
res plantéis – mexicano, chinês e brasileiro, respectivamente – representam cerca de 70% do efetivo mundial da espécie. Como apresentado na Tabela 3, o Brasil destaca-se na terceira posição, com quase o triplo da população do quarto colocado, o Marrocos.
Muares
Fonte: FAO (2013)
Distribuição no Brasil As tropas de asininos e muares estão distribuídas de forma distinta no território nacional, embora ambas estejam concentradas na Região Nordeste. No caso dos muares, as Regiões Sudeste e Centro-Oeste, além dos estados do Pará e Tocantins, também apresentam importantes plantéis, conforme apresentado na Figura 3.
Fonte: FAO (2011)
25% 20% 15% 10% 5% 0% Asininos
70 60 50 40 30 20 10 0
Muares
Fonte: IBGE (2013)
1961 1964 1967 1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009
Milhões de cabeças
Figura 1 – Mundo: evolução do efetivo de asinino e muares entre 1961 e 2011, em milhões de cabeças.
30%
BA CE PI MA PE RN PB MG PA TO SE AL SP GO MT MS RO RJ PR ES RS SC AC AM AP DF
A população mundial de asininos e muares não apresentou importantes flutuações nos últimos 50 anos, tanto em nível mundial (Figura 1) quanto no Brasil1 (Figura 2). Enquanto em nível mundial, predominam os asininos (80,5% do plantel), no Brasil os muares são maioria (56,6% do plantel).
Figura 3 – Distribuição dos plantéis de asininos e muares no Brasil, em 2011.
Asininos
Muares
Fonte: FAO (2013) 1 No caso do Brasil, por ocasião dos Censos Agropecuários, como o de 1995/96, ocorre revisão das estimativas das populações. Assim, as flutuações mais fortes e pontuais, apresentadas na Figura 2, correspondem a ajustes nas estimativas e não alterações reais na população.
Os muares da raça Pêga são bons exemplos de animais de altíssima qualidade para o trabalho rural e para o lazer Animal Business-Brasil_63
Comércio internacional A relevância da quantidade de asininos e muares, destacada nos parágrafos anteriores, coloca o Brasil como candidato natural a protagonista no comércio internacional. No entanto, este potencial ainda não foi explorado adequadamente, embora tenham ocorridas exportações e importações em maior quantidade no período recente, conforme apresentado na Figura 4.
Nos últimos quinze anos, foram realizadas exportações de asininos e muares para 11 países. Destacam-se os países africanos e sul-americanos, sendo que Angola concentrou 57,5% das exportações brasileiras. A Tabela 4 apresenta os portos de saída dos animais no mesmo período. Figura 5 – Brasil: Destino das exportações de asininos e muares no período de 1997 a 2012.
Figura 4 – Brasil: evolução das exportações e importações no período de 2000 a 2012, em quantidade de cabeças.
Angola 57,55% Venezuela 15,10% Argentina 7,35% Uruguai 6,53% Congo 4,08% Alemanha 2,45% Espanha 2,45% Panamá 2,04% Estados Unidos 1,63% Bélgica 0,41% Senegal 0,41%
60 50 40 30 20 10 0 2000
2002
2004
Exportações Fonte: MDIC (2013) 64_Animal Business-Brasil
2006
2008
2010
2012
Importações Fonte: MDIC (2013)
Tabela 4 – Brasil: portos de saída das exportações de asininos e muares, no período de 1997 a 2012. Porto São Sebastião – SP Campinas – Aeroporto – SP Pacaraima – RR Foz do Iguaçu – Rodovia – PR Barcarena – PA Bagé – RS São Paulo – Aeroporto – SP Rio de Janeiro – Aeroporto – RJ Santana do Livramento – Rodovia – RS Jaguarão – Aeroporto – RS
Participação 37,96% 23,67% 15,10% 7,35% 4,08% 3,67% 2,86% 2,45% 2,45% 0,41%
Fonte: MDIC (2013)
O Brasil, nos últimos 15 anos, apresentou um número menor de parceiros comerciais nas importações. Foram importados animais de apenas seis países, destacando-se Estados Unidos e Bélgica (Figura 6). Os portos de entrada desses animais estão apresentados na Figura 7). Figura 6 – Brasil: Destino das exportações de asininos e muares no período de 1997 a 2012.
Suiça 14,81% Argentina 14,81% Uruguai 11,11% França 11,11% Estados Unidos 25,93% Bélgica 22,22%
Fonte: MDIC (2013)
Figura 7 – Brasil: portos de entrada das importações de asininos e muares, no período de 1997 a 2012.
Campinas - Aeroporto SP 48,15% São Paulo - Aeroporto SP 25,93% Chui - RS 11,11% Uruguaiana - Rodovia RS 14,81%
Fonte: MDIC (2013)
Perspectivas Embora a experiência, até o momento, tenha sido em pequena escala, a exportação de asininos e muares apresenta boas perspectivas diante da crescente qualidade do plantel brasileiro. Para tanto, é necessário permanecer com atenção na obtenção de produtos com diferenciados atributos.
Reprodução A reprodução visando muares deve ser sempre realizada utilizando as técnicas adequadas e visando a qualidade e o bem-estar animal. No entanto, a raça da égua para o cruzamento com o jumento da raça Pêga pode variar, devendo ser definida de acordo com a competência e o interesse do produtor. A escolha da égua a ser utilizada permite obter muares com determinadas peculiaridades. Como exemplo pode-se citar o uso de éguas de sela para a obtenção de bons muares de sela. Se a intenção é muares de tração, o ideal é utilizar éguas de maior compleição. Dessa forma, aliando os atributos positivos das raças do jumento e da égua é possível gerar diversos tipos de muares, sendo geralmente mais vantajosa a produção de marchadores.
Valores elevados Dependendo de suas aptidões, os muares, assim como os equinos, podem atingir elevados valores. Dessa forma, a criação de muares de raça, apesar de pequena quando comparada à de equinos, pode ser uma atividade extremamente lucrativa e gratificante, uma vez que, quando realizadas corretamente, produz animais rentáveis e de altíssima qualidade. Animal Business-Brasil_65
Antonio Alvarenga (*)
U
m dos maiores problemas do agronegócio brasileiro é a confusa gestão de nossas políticas públicas. Temos um Ministério da Agricultura, mas grande parte das decisões relativas ao setor está subordinada a outros órgãos. Muitas vezes não há qualquer tipo de integração ou sinergia entre as ações governamentais. A política econômica voltada para o agro é da alçada dos ministérios da Fazenda e do Planejamento, que estabelecem os recursos, condições de financiamento, subsídios e impostos, dentre outros instrumentos de incentivo à produção, armazenamento, comercialização e exportação dos produtos agropecuários. Nossa caótica infraestrutura é conduzida pelos ministérios dos Transportes e dos Portos. Neste caso, a falta de planejamento e o descompasso com as necessidades do setor rural são flagrantes. Todos os anos presenciamos grande parte de nossa safra “armazenada” em caminhões, que ficam estacionados em filas quilométricas nas estradas esburacadas, à espera para descarregar nos terminais. Os prejuízos são incalculáveis e quem perde é o produtor. A agricultura familiar está sob a responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário. É como se agricultura familiar não fosse agricultura. O INCRA - órgão do MDA - cuida da reforma agrária, dos assentamentos e do Cadastro de Imóveis Rurais. No entanto, o recém-criado Cadastro Ambiental Rural está submetido à esfera do Ministério do Meio Ambiente, responsável pela aplicação do Código Florestal, dentre outras questões que afligem o setor agropecuário nacional. A criação de peixes, incluindo a produção em áreas rurais, está subordinada ao Ministério da Pesca. O setor sucroalcooleiro tem sua atuação pautada pelo Ministério de Minas e Energia. As exportações de produtos do agronegócio são conduzidas no âmbito do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
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Débora 70
Quem manda no agronegócio? As demarcações de terras indígenas são tratadas pela Funai, que atua em visível descompasso com os interesses da produção rural, desrespeitando direitos de propriedade e estimulando conflitos com os proprietários rurais. Existem ainda ações específicas, desenvolvidas pelos ministérios da Ciência e Tecnologia, Educação e Assuntos Estratégicos, dentre outros. Como se vê, são inúmeros órgãos, com as mais diversas interferências políticas, que dificultam a interlocução do agro com o governo. Nossos produtores são obrigados a cumprir diversos dispositivos legais, que se alteram e multiplicam, nas esferas fundiária, ambiental e econômica. Os entraves burocráticos são fantásticos. Essa governança – ou melhor, desgovernança - é uma demonstração inequívoca do apreço governamental pela robustez da máquina pública. Uma situação lamentável para todos nós, contribuintes, que assistimos à dispersão de esforços e ao desperdício de recursos. Precisamos de um Ministério de Agricultura fortalecido, com prestígio e a atribuição de consolidar e coordenar todas as políticas governamentais para o nosso agronegócio. Temos uma das maiores e mais avançadas agriculturas do planeta. Somos campeões em produtividade e sustentabilidade. Estamos colhendo a maior safra de toda a história do país, com 186 milhões de toneladas de grãos. Trabalhamos duro e enfrentamos dificuldades de toda ordem, a fim de fornecer alimentação para 200 milhões de brasileiros e ainda gerar excedentes exportáveis de U$100 bilhões de dólares por ano. Chegou a hora dos produtores rurais se unirem para conquistar o reconhecimento de um espaço compatível com sua importância no cenário econômico e social do país. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
SAC CAIXA: 0800 726 0101 (informações, reclamações, sugestões e elogios) Para pessoas com deficiência auditiva ou de fala: 0800 726 2492 Ouvidoria: 0800 725 7474 Ou acesse caixa.gov.br
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R A T N E M
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