Animal Business Brasil 13

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Ano 04 - Número 13 - 2014 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

BIOÉTICA

O emprego racional dos animais de laboratório

FALCÕES

Trabalhando pela segurança de voo

NOVO COOPERATIVISMO

O desafio de crescer com sustentabilidade

ITAL

O Instituto de Tecnologia de Alimentos presta serviços importantes para a indústria de produtos de origem animal Animal Business-Brasil_1


A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ

Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)

Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.

www.timeagrobrasil.com.br 2_Animal Business-Brasil


uma publicação da:

O

ITAL – sucessor do antigo CTPTA – Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos, criado em 1963, sob a direção do pioneiro, professor André Tosello, é, em grande parte, responsável pelo desenvolvimento da indústria de alimentos no Brasil. O Instituto desenvolve – em parceria com a indústria – tecnologias inovadoras nos diversos setores do agronegócio, incluídos os produtos de origem animal. Essas tecnologias abrangem um amplo aspecto que vão desde os processos industriais propriamente ditos até as embalagens, passando pelas técnicas de abate, otimização do uso das matérias-primas, desenvolvimento de novos produtos, treinamento de mão de obra e bem-estar animal, sempre levando em consideração o respeito ao meio ambiente. A sede do Ital está localizada em Campinas, no estado de São Paulo. É muito oportuna a matéria sobre a relevância do papel da tecnologia, no aumento da produtividade na agropecuária, assinada pelo Professor Maurício A. Lopes, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e pelo coordenador da Agropensa, Professor Geraldo B.Martha Jr., da mesma Instituição. Igualmente relevante é a matéria sobre o uso dos falcões que trabalham para garantir a segurança do voo nos momentos de pouso e decolagem, combatendo as aves que ameaçam quebrar os para-brisas, deformar a fuselagem e até paralisar as turbinas. Com a experiência e a lucidez que o caracterizam, o engenheiro-agrônomo, professor universitário, Embaixador Especial da FAO (ONU) para as Cooperativas, Coordenador do Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e

ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, assina artigo em que destaca o “notável trabalho que cooperativas do mundo todo estão realizando em benefício dos pequenos produtores rurais”. Ele informa que, em 2012, 48% do valor da produção agropecuária brasileira passou por cooperativas. A validade ou não do uso de animais na pesquisa científica é assunto recorrente na imprensa brasileira e do mundo todo. A grande pergunta é: há justificativa técnica para expor os animais a sacrifícios ainda que para garantir a saúde do ser humano? É possível substituí-los por alternativas como simulações em computador, por exemplo? Qual a posição da bioética? Este editor foi buscar resposta a essas perguntas com quem entende, como poucos, do assunto: o professor Milton Thiago de Mello, Membro-Honorário da Associação Mundial de Veterinária; Membro do World Veterinary Association Committee for Animal Welafare and Ethology; fundador e Vice-Presidente da Sociedade Latino-Americana de Bem-Estar Animal; Membro do ICLA-International Council of Laboratory Animal Science e presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária. Trata-se de matéria obrigatória para quem se interessa pelo assunto. Artigo assinado pelo especialista Adam Harper nos fala sobre o papel-chave da informação para a indústria australiana de carne bovina e como a tecnologia é considerada vital para o alto nível de produtividade nesse campo de atividade daquele país que disputa com o Brasil o título de maior exportador de carne bovina do mundo. Por uma falha nossa deixamos de dar crédito à matéria de capa da edição anterior sobre Mato Grosso: Sinara Alvares (Secom – MT).

Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3


Diretoria executiva

Diretoria técnica

Antonio Mello Alvarenga Neto presidente

Francisco José Vilela Santos

Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente

Hélio Meirelles Cardoso

Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente

José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers

Joel Naegele 3º Vice-presidente

Ronaldo de Albuquerque

Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente

Sérgio Gomes Malta

Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto

Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho

COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979

Academia Nacional de Agricultura

Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br

Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Cavalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso

Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Flávio Torres - ITAL Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial

É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X

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Sumário

12 06

20 23

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29 42

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47 06 12 20 23 26 29 31 34 40 42

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Criação de tilápia gera renda para mais de 5 mil pessoas no Ceará

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O ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos presta serviços importantes à indústria de produtos de origem animal O caviar do Uruguai

Tecnologia como principal norteadora da agricultura brasileira

O mercado brasileiro de medicamentos veterinários para equinos Falcões trabalham pela segurança do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão) Sucesso internacional do hipismo militar alavanca o comércio

Caprinocultura, um mercado promissor

Melhoramento genético simplificado de Gado Zebu

O novo cooperativismo

44 47 50 54 58 62 66

Pesquisa com animais de laboratório a opinião de quem entende Ciência e Tecnologia

A união faz a diferença Investimento em manejo racional vira lucro direto em toda a cadeia da carne Top News Melhor nível de informação é visto como a chave para sustentar a indústria de carne bovina da Austrália Opinião – Feliz 2015

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Criação de tilápia gera renda para mais de 5 mil pessoas no Ceará Por: Livia

Barreira, jornalista

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Arquivo Aceaq

Uma atividade geradora de emprego e renda para mais de 5 mil pessoas e que concentra cerca de 300 projetos em diversos polos produtores. Assim é a tilapicultura no Ceará em números estimados pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). Embora o Brasil seja um dos países com maior potencial hídrico em todo o mundo, a atividade com fins econômicos é algo mais recente. Animal Business-Brasil_7


Arquivo Aceaq

Expansão

A aquicultura já é uma realidade e que só tende a crescer

S

ua introdução em caráter experimental no País, com o cultivo dos peixes em cativeiro remota ao início da década de 1970, quando o DNOCS implementou um programa oficial de produção de alevinos de tilápia para peixamento dos reservatórios públicos do Nordeste. O coordenador de Pesca e Aquicultura do DNOCS, Pedro Eymard, recorda que as primeiras tilápias nilóticas chegaram ao Ceará em 1971, importadas pelo próprio DNOCS, e oriundas da Costa do Marfim, no continente africano. “Em princípio, elas foram postas a reproduzir nas estações de piscicultura do DNOCS, e seus alevinos distribuídos em açudes públicos e particulares, aqui do Ceará e também de outros estados da Federação. Como curiosidade, até o Lago Paranoá, em Brasília, foi povoado com tilápias oriundas do Ceará”, comenta o engenheiro agrônomo. Logo em seguida, foram iniciados os estudos no sentido de se desenvolver pacotes tecnológicos, para fins de criação em cativeiro. Naquela época, como as rações para peixes não eram fabricadas no Brasil, estas experiências foram feitas utilizando-se rações para frangos. “Muitos experimentos foram realizados pelos pesquisadores do DNOCS, e alguns projetos produtivos começaram a ser implantados em fazendas particulares. Entretanto, como somente a população do interior se habituou a consumir tilápias, pois nas capitais o povo praticamente só tinha hábito de consumir peixes marinhos, havia pouco espaço para o crescimento da atividade”, relembra Pedro Eymard.

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A atividade empresarial firmou-se a partir dos anos de 1980, época em que surgiram os empreendimentos pioneiros. O Paraná foi o primeiro estado a organizar-se e ver na atividade um grande potencial, inclusive com a implantação de frigoríficos especializados em beneficiamento de tilápia, com destaque para os municípios de Toledo e Assis Chateaubriand. Desta forma, o estado sulista tornou-se rapidamente o maior produtor da espécie, o que só deixaria de ser em 2003, quando o Ceará despontou no cenário nacional como maior produtor, produzindo 13.000 toneladas, enquanto no mesmo ano o Paraná atingiu 12.782 toneladas. “Ao fim dos anos de 1980, o Paraná começou a despontar como um produtor e consumidor de tilápias, tendo, inclusive, importado da Tailândia uma cepa geneticamente mais pura das tilápias nilóticas, uma vez que as nossas já tinham sofrido um sério problema de consanguinidade”, observa o engenheiro do DNOCS. Pedro Eymard ressalta que no Ceará, apenas após algum tempo, em meados dos anos de 1990, também chegaram alguns exemplares dessas tilápias oriundas do Sul do País através de produtores locais, mas logo se viu que elas também já tinham sofrido o mesmo problema de consanguinidade. “Em vista disso, no ano de 2002, o DNOCS voltou a interferir no assunto, trazendo também da Tailândia precisamente 13.000 alevinos geneticamente puros, além de ter enviado dois de seus servidores para aprenderem as técnicas de preservação genética desses animais”, recorda. Após a criação da Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca e de sua ascensão a Ministério, foram realizados alguns ajustes e estudos para a criação de Parques Aquícolas, locais previamente estudados e determinados como áreas preferenciais aos cultivos aquícolas. O Ceará recebeu os primeiros Parques Aquícolas do Brasil, sendo eles de Alto Santo, Jaguaribara, Jaguaribe e Jaguaretama, todos no açude Castanhão.

Tecnologia Embora não seja possível precisar o valor investido somente em tecnologia, o engenheiro agrônomo faz uma conta, considerando que


os investimentos públicos atualizados provavelmente não tenham chegado a R$ 2 milhões. “Podemos dizer que o dinheiro aplicado foi bem compensado, pois em bons anos de chuva, com os açudes cheios, o Ceará já chegou a produzir cerca de 30.000 toneladas anuais, que transformadas, pelo preço de atacado, a R$5,00/ kg, resultam num valor bruto de R$150 milhões”.

Seca Se há três décadas os fatores que limitavam a produção do peixe eram a falta de pesquisas, conhecimento mais aprofundado das técnicas de cultivo, inexistência de rações adequadas e baixa qualidade dos alevinos; hoje a seca é um dos grandes entraves para os produtores cearenses. Para 2013, a expectativa é que o cultivo da tilápia no Ceará deve se retrair em aproximadamente 17% em relação ao ano anterior, conforme expectativa da Associação Cearense de Aquicultores (Aceaq). A estimativa é que a produção feche em 25 mil toneladas - cinco mil toneladas a menos em comparação com 2012, quando o

A redução de água nos açudes cearenses, provocada pela falta de chuva, contribuiu fortemente para que o segmento fosse atingido.

volume alcançou 30 mil toneladas. A redução de água nos açudes cearenses, provocada pela falta de chuva, contribuiu fortemente para que o segmento fosse atingido. Por conta desse problema, desde 2011, o Estado também perdeu a liderança na produção do produto. Atrás de São Paulo, Paraná e região do Rio São Francisco, o Ceará ocupa a quarta posição no ranking nacional. “Nesse mesmo período, São Paulo saiu de uma produção de 15 mil toneladas para 60 mil toneladas de tilápia/ano. Isso porque o estado aumentou sua área de cultivo”, comenta o titular da Aceaq, Camilo Diógenes.

Arquivo Aceaq

O Ceará vem desenvolvendo tecnologias avançadas para aumentar a produtividade na água

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Consumo Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a média mundial do consumo de pescado é de 18 quilos por habitante/ano. No Brasil, o consumo ainda é baixo, atingindo a média de 9,6 kg/hab/ano, levando-se em conta a produção nacional de tilápias declarada pelo Ministério da Pesca e Aquicultura e a população do Brasil, o consumo dessa espécie atinge cerca de 1 kg/hab/ano.

Potencial

Mudança Com a conclusão das obras de transposição do Rio São Francisco para as bacias do Nordeste Setentrional, o Ceará deve voltar a ocupar posição de destaque na tilapicultura nacional. O coordenador de Pesca e Aquicultura do DNOCS vê com otimismo o futuro da tilapicultura, principalmente olhando para a possibilidade da chegada das águas do Rio, que trará estabilidade para os reservatórios do Ceará. “Teremos condições até de dobrar e também dar estabilidade à produção, pois não sofreremos mais, como agora, o problema da seca”, estima o engenheiro. O Projeto Cinturão das Águas, realizado pelo Governo do Estado do Ceará, também deve-

Arquivo Aceaq

O Ceará hoje responde por apenas 10% da produção de tilápia em cativeiro, o que é considerado muito pouco diante do grande potencial que o Estado possui. A atividade no Ceará tem um perfil familiar e empresarial, formada por micros, pequenos e médios produtores. Os maiores compradores do produto ainda são os supermercados, barracas de praia, feiras e peixarias. Os polos produtores que se destacam atualmente estão localizados nas bacias do Médio e Alto Jaguaribe, especificamente os açu-

des Castanhão e Orós, sendo que no primeiro reservatório citado está concentrada cerca de 40% da produção do Estado. Além das regiões citadas, existe a produção de tilápia em outras cinco bacias estaduais, como a da região Norte, do Curu e Metropolitana.

O manejo dos peixes nos açudes exige mão de obra especializada

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rá contribuir para distribuir melhor e manter os açudes em nível estável, o que, segundo o engenheiro, pode dar a chance ao Ceará de dobrar a produção obtida quatro anos atrás. “E se realmente o DNOCS vier a ter atuação nacional, como está previsto, vamos certamente levar essa história de sucesso para todo o território nacional”, projeta.

A liberação de novas áreas produtoras ainda é entrave. Além da seca, o aumento dos insumos é outro fator impactante. Mas, segundo o titular da Aceaq, esses não são os únicos problemas do setor. “Um grande entrave que enfrentamos no Ceará é a liberação de áreas pertencentes à União para ampliar a produção de tilápia”, afirma. De acordo com o presidente da Aceaq, Camilo Diógenes, 70% das águas represadas no Estado são de domínio da União, necessitando de outorga para serem utilizadas. “Nos 30% pertencentes ao território cearense não temos problema. Estamos utilizando bem a capacidade dos açudes do Estado. Mas nos outros 70%, temos solicitações há mais de cinco anos pendentes na ANA (Agência Nacional de Águas)”. A Aceaq espera por um crescimento sustentável da atividade a médio prazo, devido às ações que vêm sendo praticadas de dois anos para cá. O setor atualmente elabora, colabora ou acompanha diferentes projetos que direcionam para a sustentabilidade dos cultivos, como a normalização da aquicultura nacional, convênio da ABNT/Sebrae Nacional, Manual de Boas Práticas de Cultivo, elaborado no âmbito da Câmara Setorial da Tilápia, eventos sobre capacidade

As boas práticas de manejo são sinônimo de sustentabilidade ambiental, social e de segurança alimentar

Arquivo Aceaq

Novas áreas

Galões de plástico são usados como flutuadores

de suporte, junto à COGERH, disponibilidade de apoio ao monitoramento da qualidade das águas dos açudes, realizado pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente do Estado do Ceará (Conpam), entre outros. Os desafios para a tilapicultura cearense são: avançar na concessão de outorgas federais para ampliar a área de produção; descobrir novos produtos e mercados e trabalhar na eficiência do cultivo.

Manejo As boas práticas de manejo são sinônimo de sustentabilidade ambiental, social e de segurança alimentar. Para o coordenador de Pesca e Aquicultura do DNOCS, Pedro Eymard, o manejo não representa mais um problema grave, na medida em que são realizadas constantes atividades no Centro de Pesquisas em Aquicultura do órgão, no município cearense de Pentecoste. Além disso, os empresários do estado têm procurado embasar seus cultivos com novas tecnologias, participando de feiras e congressos, nacionais e internacionais, além de importar novas ideias adaptadas às realidades locais, no intuito de aumentar a eficiência produtiva com ganhos ambientais e sociais.

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Arquivo ITAL

Exame de características físicas da carne

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O ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos

presta serviços importantes à indústria de produtos de origem animal

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O

CTPTA – Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos foi criado em agosto de 1963 e posteriormente, em 1969, transformado no atual ITAL – Instituto de Tecnologia de Alimentos.

Tecnologia avançada O Instituto realiza parcerias com as empresas e suas entidades representativas com o objetivo de desenvolver tecnologias avançadas nos diversos setores do agronegócio, aí incluídos os produtos de origem animal. Suas operações são realizadas segundo a norma internacional ISO 9001 e seus ensaios seguem os padrões NBR ISO/IEC 17025 acreditados pelo INMETRO. Com a evolução da globalização da economia, a inovação tecnológica passou a ser a chave da competitividade, condição necessária para a sobrevivência das empresas, e os produtos do agronegócio tornaram-se componentes de destaque na pauta das exportações brasileiras.

Arquivo ITAL

Produção experimental de hambúrger

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Para adequar-se a esse novo mercado e atender aos consumidores, cada vez mais exigentes, as indústrias de alimentos e embalagens têm se tornado dependentes de tecnologia.

Demandas atuais As demandas atuais do mercado exigem que as empresas e seus produtos demonstrem respeito ao meio ambiente, qualidade comprovada, inocuidade e rastreabilidade, entre outras. No decorrer da sua existência, o ITAL reestruturou-se diversas vezes para adaptar-se às exigências do mercado, e sua organização atual é consequência desse processo histórico.

Centro de Tecnologia de Carnes (CTC) Este setor dispõe de abatedouro experimental, planta de processamento e laboratório de análises físicas, químicas, microbiológicas e sensoriais.


Moagem experimental de carne

O Centro atua nas áreas de bovinos, suínos, aves, pescado e controle de qualidade em conformidade com as normas de qualidade internacionais. Destaca-se, também, por sua atuação nas atividades de assistência tecnológica e treinamento de pessoal, oferecendo cursos de curta duração e curso de especialização em tecnologia de carnes. Atividades abrangidas: • Estudo de técnicas de abate de bovinos, suínos, pescado e aves. • Estudo de novas tecnologias de processamento. • Desenvolvimento de novos produtos em planta-piloto. • Otimização de uso de matérias-primas. • Extensão da vida útil de carnes frescas. • Maturação de carne bovina. • Produção de charque e jerked beef. • Irradiação de carne bovina e bubalina. • Rotulagem nutricional. • Bem-estar animal. • Avaliação da qualidade da carne, on line.

• • • • • •

Arquivo ITAL

O ITAL destaca-se também por sua atuação nas atividades de assistência tecnológica e treinamento de pessoal

Análises químicas. Análises microbiológicas. Análises sensoriais. Análises físicas. Análises de água para uso industrial. Treinamento de mão de obra para a indústria.

Centro de Tecnologia de Laticínios (TECNOLAT) Realiza atividades para o desenvolvimento de processos, produtos e inovações tecnológicas e a geração de alternativas para a diversificação de produtos de alto valor agregado. Animal Business-Brasil_15


Antonio Carriero

O ITAL, em Campinas (SP)

Dispõe de equipamentos e instalações para a produção em escala piloto de diversos produtos, inclusive processos de membrana e envase asséptico. Conta também com modernos laboratórios para a realização de pesquisa básica e aplicada e de controle de qualidade. Atividades abrangidas: • Adaptação de tecnologias de produção e de processos de membranas (microfiltração e ultrafiltração) para a inovação da indústria de laticínios. • Desenvolvimento de produtos lácteos, incluindo funcionais (como probióticos, e com fibras) e alimentos com propriedades nutricionais particulares (diet, light, baixo teor de sódio).

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• Obtenção de ingredientes a partir do soro. • Isolamento, taxonomia, seleção tecnológica, melhoramento genético e aplicação industrial de bactérias lácticas e probióticas. • Obtenção de bioingredientes: fermentos lácticos, bacteriocinas e enzimas de bactérias lácticas. • Detecção e isolamento de bacteriófagos. • Controle de qualidade e estimativa de vida de prateleira. • Estudos de viabilidade econômica, análise de investimentos e custos para a implantação de unidades industriais e linhas de produção. • Assistência tecnológica e analítica e monitoramento da produção para o atendimento da demanda do setor industrial.


Análise de embalagem Abaixo: Avaliação sensorial de salsichas

O Instituto conta com modernos laboratórios para a realização de pesquisa básica, aplicada e controle de qualidade

Centro de Tecnologia de Embalagem (CETEA) Arquivo ITAL

Realiza suas atividades voltadas ao atendimento dos setores produtores e usuários de embalagens e de seus insumos, incluindo papel, plástico, metal e vidro, contribuindo para o seu desenvolvimento e se antecipando às demandas futuras da sociedade. Para isso dispõe de pessoal altamente qualificado e de laboratórios atuando nas áreas de cromatografia gasosa e líquida, espectroscopia de emissão atômica, microscopia ótica e eletrônica, técnicas eletroquímicas, colorimétricas, métodos físicos e químicos e de desempenho mecânico. Possui vários ensaios acreditados no INMETRO e certificados pela ABNT, além de apoiar os trabalhos de normatização referentes à embalagem, em comitês e grupos de trabalho da ABNT e da ANVISA. Além desses, o ITAL tem outros Grupos e Centros que trabalham com matérias-primas de origem vegetal.

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Arquivo ITAL

ITAL - Instituto de Tecnologia de Alimentos. e-mail:ital@ital.sp.gov.br Av.Brasil,2880, CP 139 – Jd.Chapadão, Cep 130-70-178 Campinas. SP


Por que financiar a agricultura familiar é bom pra todos? Porque, se por um lado, aumenta a produtividade no campo, por meio do Pronaf, do Governo Federal, por outro, incentiva o comércio e melhora a qualidade dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. E isso é bom pra todos.

@bancodobrasil

/bancodobrasil

bb.com.br/bompratodos

Central de Atendimento BB 4004 0001 ou 0800 729 0001 • SAC 0800 729 0722 Ouvidoria BB 0800 729 5678 • Deficiente Auditivo ou de Fala 0800 729 0088

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Danielle Pedroso Cliente da Ag锚ncia Sto. Ant么nio da Platina (PR)

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O caviar

do Uruguai Por:

Luiz Octavio Pires Leal

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Uruguai não apenas produz como também exporta caviar para os exigentes mercados da Europa e dos Estados Unidos. E estamos falando do verdadeiro caviar, produzido com ovas da fêmea do esturjão que é iguaria para poucos, chegando a custar R$10 mil o quilo. E esturjão não é um peixe único e sim o nome genérico de peixes da família dos Acipenserídeos, com quatro gêneros e 22 espécies.

Projeto antigo A produção uruguaia de caviar não é recente. Ela começou há cerca de 20 anos, numa cidadezinha a pouco mais de 250 quilômetros de Montevidéu com menos de 200 habitantes, chamada Baygorria, com 300 esturjões importados da Rússia. Esses peixes vêm evoluindo há 200 milhões de anos. Nas águas uruguaias, com temperatura média de 27°C, a produção anual é de sete toneladas o que não é pouca coisa diante do alto preço da iguaria. E a própria Rússia, grande produtora, assim como a China e o Japão, importa do nosso vizinho. Na década de 1980, o pioneiro Walter Alcalde – já falecido e sucedido por seus filhos – descobriu um trabalho russo que indicava o Uruguai como uma das melhores regiões do mundo para a criação de esturjão, por questões climáticas, mas isso não evitou o trabalho de pesquisa e aprendizado da família até conseguir resolver os complexos problemas técnicos. Foi necessária a assistência de profissionais russos para a consolidação do negócio que resultou na formação da empresa com o nome internacional de Black River e o local de ERN – Esturiones del Rio Negro. Alguns desses técnicos permanecem trabalhando na Empresa.

Vários tipos A ERN produz diversos tipos de caviar (ovas não fertilizadas de fêmeas do esturjão) e para tanto é necessário abater os animais, antes é feita uma avaliação das ovas em cada uma das fêmeas que para tanto são anestesiadas. Só isso já dá uma ideia da complexidade desse processo da aquicultura. Os tipos de maior valor comercial são o sevruga e o beluga, este o mais caro. Um esturjão adulto pode chegar a cinco metros de comprimento e desde 1307 decreto do rei Eduardo da Inglaterra passou a considerar essa espécie peixe real e todo exemplar deveria ser primeiro oferecido ao monarca no poder.

Complicação De todos os processos da aquicultura, a produção de caviar é o mais complicado. Cada esturjão tem um chip instalado debaixo da pele Animal Business-Brasil_21


De todos os processos da aquicultura, a produção de caviar é o mais complicado

com o objetivo de informar ao pessoal técnico a evolução do seu peso e idade. Durante o ciclo de produção, os esturjões precisam ser transferidos para tanques especializados em cada fase. A reprodução é artificial e depois da cirurgia para extração do ovário com os óvulos (o caviar) os esturjões são vendidos para o mercado de peixes. Uma fêmea de esturjão com 20 kg de peso produz pouco menos de dois quilos de caviar.

Luxo O caviar sempre esteve associado a um mercado de alto luxo e de comemorações especiais em decorrência do seu alto custo. E essa denominação só é corretamente usada, segundo a tradição, para ovas das espécies fêmeas de esturjões selvagens, oriundas da Rússia e do Irã. Modernamente, o nome caviar pode designar, também, as ovas de esturjões produzidas em fazendas de peixes (aquicultura) e até mesmo produtos inferiores, mais baratos, originários de ovas de salmão e de truta.

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Caviar brasileiro Santa Catarina produz um “caviar” (com aspas !) a partir de ovas de tainha e que se chama bottarga. Patriotadas e ufanismos à parte, há quem prefira o brasileiro ao verdadeiro e, como o leitor sabe, gosto não se discute assim como também não se discute que o preço é muito inferior. E, se for levado em consideração o valor nutritivo – o que, aliás, ninguém procura em nenhuma iguaria, que só vale pelo prazer de comer – o bottarga é superior. Tem ômega-3 e “só” custa R$500,00 o quilo. O INPA – Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, através da sua CPTA – Coordenação de Pesquisas em Tecnologia de Alimentos vem desenvolvendo um “caviar” regional com ovas de jaraqui (Semaprochilodus) tidas como semelhantes ao caviar russo, mas a produção do verdadeiro caviar no Brasil ainda permanece como um grande desafio.

Origem da palavra Caviari, (plural), do italiano, ou do francês, caviare, com origem turca khäviar, a palavra significa “ovo”. Ou do persa, xâg-âvar = “gerador de ovos”. O esturjão já era conhecido pelos povos da Antiguidade e foi citado nos estudos de Aristóteles e Heródoto. Há referências cartaginesas do ano 600 a.C. Da próxima vez que o leitor saborear uma torrada bem fininha ornada com um montinho de caviar beluga, precedendo um gole de espumante da região de Champagne, terá uma consciência ainda maior de que há muita história e muita técnica embutidas.


Tecnologia como principal

norteadora da agricultura brasileira Por:

Maurício A. Lopes*, presidente da Embrapa e Geraldo B. Martha Jr.**, coordenador da Agropensa

A

agricultura brasileira, após os anos 1970, é uma história de sucesso. Nos últimos 40 anos, o país foi capaz de transformar sua agricultura tradicional em uma agricultura dinâmica e competitiva fortemente amparada pela ciência. Até os anos 1970, a produção crescia na margem extensiva. Daí em diante, especialmente depois de meados dos anos 1980, a produtividade foi o principal fator que definiu o crescimento da produção. Estudos recentes desenvolvidos pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) – o braço de pesquisa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Brasil – revelaram que a tecnologia já é responsável por quase 70% da expansão da produção agropecuária no país. Em 1970, a produção de arroz, feijão, milho, soja e trigo perfazia um total de 23,4 milhões de toneladas. A produção dessas lavouras aumentou em quase seis vezes, chegando, em 2013, a 180,7 milhões de toneladas. A produção de cana-de-açúcar também apresentou considerável crescimento, passando de 67,8 toneladas para 589 milhões de toneladas entre 1970 e 2013. Nesse período, os ganhos de rendimentos desses cultivos responderam por mais de 60% do crescimento da produção, enquanto a expansão da área cultivada explicou menos de 40% da variação. Tal trajetória positiva é adicionalmente refletida nas taxas de crescimento de produtividade, que aumentaram de 4,4 kg/ha/ano, no período de 1950 a 1975, para 60,8 kg/ha/ano depois disso (1975-2013). *

Presidente da Embrapa. E-mail: presidencia@embrapa.br

Coordenador-geral, Sistema Embrapa de Inteligência Estratégica (Agropensa), Chefe-adjunto de Estudos Estratégicos, Embrapa Estudos e Capacitação. E-mail: Geraldo.martha@ embrapa.br

Presidente Maurício A. Lopes

Produção de carnes O caso da produção de carnes é igualmente bem-sucedido. No período de 1970-2012, a produção de carne bovina, carne suína e de aves elevou-se de 2,7 milhões de toneladas para 22,3 milhões de toneladas1. Do mesmo modo que no caso da produção de lavouras, os ganhos de produtividade foram mais significativos de meados dos anos 1980, em diante. Martha Jr. et al2 examinaram detalhadamente os fatores de crescimento da produção de carne bovina brasileira. A produtividade respondeu por menos de 30% do crescimento da produção até 1985. Naquela época, a expansão da área de pasto era o principal fator por trás do aumento da produção de carne bovina. No entanto, nas últimas duas décadas, a produtividade foi responsável pela maior parte do aumento da produção de carne bovina e a expansão da área de pastos contribuiu com papel secundário. O desempenho animal nos sistemas de pecuária aumentou 130% entre 1985 e 2006, con-

**

1 No caso de carne bovina e suína, considere o equivalente carcaça. 2 Veja Martha et al. Agric. Syst., v. 110, p. 173-177, 2012.

Animal AnimalBusiness-Brasil_23 Business-Brasil_23


tribuindo de maneira significativa para reduzir a intensidade de emissão de gás metano. Tendências similares em ganhos de produtividade e eficiência foram observadas nos setores de suínos e aves.

Efeito poupa-terra Um notável benefício para a dimensão ambiental da sustentabilidade, decorrente de ganhos de produtividade na agricultura brasileira, é o chamado efeito poupa-terra, ou seja, a área de terra que deixou de ser cultivada em razão de progressos tecnológicos que aumentaram a produção agrícola por unidade de área. No período de 19502013, os ganhos de produtividade resultantes do aumento de adoção de tecnologias nas lavouras (arroz, feijão, milho, soja, trigo e cana-de-açúcar) e na pecuária resultaram em efeito poupa-terra superior a 600 milhões de hectares.3 Mais recentemente, os consideráveis ganhos de produtividade em sistemas pastoris permitiram que uma significativa área cultivada com pastagens fosse liberada e, dessa forma, pudesse acomodar a expansão de lavouras, principalmente soja e cana-de-açúcar, mitigando de forma efetiva pressões diretas e indiretas sobre ecossistemas nativos. Essa virtuosa trajetória de crescimento da agricultura brasileira permitiu que o país se projetasse como um dos maiores produtores agrícolas mundiais, ao mesmo tempo em que assegurou que 62% de seu território permanecesse preservado. No caso do Bioma Amazônia, estimativas recentes indicam que cerca de 85% do bioma está preservado. Uma melhor governança, uma ampla variedade de políticas, e um crescente comprometimento do setor privado em adotar tecnologias e práticas de acordo com critérios de sustentabilidade têm sido decisivos para a redução das taxas de desmatamento. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE, 2012) – as taxas de desmatamento na Amazônia Legal atingiram um máximo de 29.059 km2 por ano, em 1995, e um novo pico de 27.772 km2 por ano, em 2004. No entanto, de 2005 em diante, uma forte trajetória de redução das taxas de desmatamento foi observada. No último ano em que as informações estão disponíveis (2012), a taxa de desmatamento foi de 4.656 km2 por ano, representando apenas 16% do máximo registrado em 1995. 3 Martha, Jr., G. B. Expansão da cadeia de cana-de-açúcar e suas implicações para o uso da terra e desenvolvimento do Cerrado. Brasília, Relatório Final – Projeto CNPq 552835/20072, 29 de maio de 2013.

24_Animal Business-Brasil

Apesar desse progresso, é preciso reconhecer a necessidade de avançar ainda mais no caminho da sustentabilidade e sanar alguns contratempos localizados entre a produção agrícola e questões sociais e ambientais. Além disso, ao se vislumbrar as perspectivas futuras para a agricultura brasileira fica claro o papel multidisciplinar que o setor desempenhará nas próximas décadas e sua crescente dependência em conhecimento, tecnologias e inovação.

Papel da produtividade A sociedade brasileira está de maneira crescente mais consciente do papel-chave que a produtividade desempenha no processo de desenvolvimento. Dessa forma, estamos confiantes que o ciclo virtuoso de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I) em agricultura, que foi fundamental nos últimos 40 anos, será intensificado nos próximos 20 anos, fornecendo bases sólidas para que se encontrem as respostas necessárias à medida que forem demandadas. Nesse contexto, a adoção de tecnologias mais eficientes, do tipo ”poupa-insumos e poupa-recursos” na agricultura brasileira crescerá de maneira consistente. O governo brasileiro vê as tecnologias de baixa emissão de carbono como uma alta prioridade para o futuro. De fato, o “Programa Agricultura de Baixo Carbono – ABC”, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), se destaca nos últimos três Planos Agrícola e Pecuário. O Programa ABC visa à ampla adoção de novas tecnologias, tais como sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, plantio direto, recuperação de áreas degradadas, plantio de florestas comerciais, fixação biológica de nitrogênio, tratamento de resíduos animais. Essas tecnologias auxiliam na conservação dos recursos naturais tais como o solo, a água, as florestas e a biodiversidade, e lidam com a adaptação e mitigação do aquecimento global.

Avanços científicos Ademais, extraordinários avanços científicos estão em andamento em diferentes campos do conhecimento. Para citar apenas alguns deles, considere o enorme progresso que está sendo feito na genômica, na nanotecnologia, na automação e robótica, e nas tecnologias da informação e comunicação. Todos esses aspectos e também outros avanços científicos, quando adequadamente apropriados pelo setor privado, produzirão ino-


vações que impulsionarão o desenvolvimento de novos sistemas de produção agrícola com maior potencial de agregar valor e assegurar o aumento da produtividade, de forma mais segura e com maior qualidade de alimentos, além de propiciar a geração de outros produtos agrícolas e serviços ambientais. Basicamente, nas próximas décadas, o mundo pode esperar da agricultura brasileira inovações que aumentarão nossa capacidade para compreender e responder aos riscos presentes e futuros e aos desafios em diversas áreas do conhecimento em ambientes tropicais e subtropicais.

Recursos humanos A fim de tornar tais perspectivas uma realidade é fundamental expandir investimentos na capacitação de recursos humanos. Além disso, é fundamental reconhecer que nenhuma instituição possui todas as soluções para responder de forma completa, adequada e rápida aos desafios e oportunidades que estão adiante. Isso significa que instituições de PD&I no Brasil devem fortalecer parcerias e alianças dentro e além das fronteiras do país. Aumentar a cooperação será, assim, essencial para fortalecer um caminho sustentável para as cadeias produtivas na agricultura.

Inteligência estratégica Por fim, mas não menos importante, ao se avaliar a magnitude e complexidade dos desafios futuros, e suas rápidas mudanças, é fácil concluir que a consolidação de “sistemas de inteligência estratégica” que deem sustentação às decisões públicas e privadas devem ser uma prioridade. O atendimento às múltiplas dimensões da sustentabilidade (técnico-econômica, social e ambiental), na agricultura brasileira, de-

penderá crescentemente da capacidade de antecipação de riscos, oportunidades e desafios e da coordenação de processos de tomada de decisão e de ações efetivas em vários níveis. Essa capacidade é essencial ao planejamento de políticas de longo alcance, fornecendo insumos necessários ao processo de tomada de decisão e à realização de objetivos estratégicos para as cadeias produtivas agropecuárias. Alinhada a esta perspectiva, e com estreita conexão com suas atividades de PD&I, a Embrapa recentemente lançou o seu Sistema de Inteligência Estratégica (Agropensa). O propósito do Sistema Agropensa é produzir e disseminar conhecimento e informação para apoiar o planejamento de estratégias de PD&I para a Embrapa e instituições parceiras e fornecer informações para o processo de tomada de decisões dos setores público e privado. O Agropensa também auxilia no mapeamento e apoia a organização, integração e disseminação de bases de dados e informações agropecuárias. Essa abordagem permite a captura e prospecção de tendências e a identificação de possíveis futuros relevantes para a PD&I em agricultura. O Agropensa organizou seus estudos prospectivos em macrotemas, que estão orientados de acordo com uma abordagem de cadeia produtiva (Figura 1). Essa forma de organização auxilia a identificar e a priorizar tópicos a serem solucionados ao longo da cadeia produtiva, o planejamento de cenários envolvendo futuros relevantes para o agro brasileiro, de um modo mais abrangente e sistemático, e, essencialmente, dá foco ao processo de inteligência, ou seja, de captura, organização e análise de dados e informações-chave. Essa abordagem também permite que as recomendações sejam rapidamente difundas e apropriadas pela sociedade.

Figura 1. Macrotemas do Agropensa/Embrapa. Fluxo de inovação na cadeia produtiva Novas ciências: biotecnologia, nanotecnologia, geotecnologia

Automação, ag. de precisão e TIC

Recursos naturais e mudanças climáticas

Segurança zoofitosanitária na cadeia produtiva

Sistemas de produção

Tecnologia agroindustrial, de biomassa e química verde

Segurança dos alimentos, nutrição e saúde

Mercados, políticas e desenvolvimento rural

Fonte: Embrapa/Agropensa (2013). Animal Business-Brasil_25


O mercado brasileiro

de medicamentos veterinários para equinos Por: Roberto

Arruda de Souza Lima, Prof. Dr da ESALQ/USP. Coordenador do Grupo Equonomia

O

mercado mundial de medicamentos veterinários tem crescido de forma consistente nos últimos anos (Figura 1). Em 2012, o faturamento da indústria atingiu 22,5 bilhões de dólares, dos quais 47% ocorreram nas Américas (a Europa respondeu por 31% do faturamento mundial).

Figura 2 – Estados Unidos: distribuição do faturamento de medicamentos veterinários por espécie, 1997 a 2012, em bilhões de reais de 2012 (deflacionado pelo IGP-DI). Companhias 49,9% Equinos 4,6%

Figura 1 – Mundo: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos veterinários, 2002 a 2012, em bilhões de dólares de 2012 (deflacionado pelo IGP-DI).

Aves 3,3% Ruminantes 34,6% Suínos 7,5%

25 20

Fonte: SINDAN (2005)

15 10 5 0

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Fonte: Vetnosis (2013)

As perspectivas são que o faturamento continue crescendo nos próximos anos, mas como o mercado europeu já se encontra consolidado, as apostas mundiais concentram-se em países latino-americanos. Entre estes, destaca-se o Brasil, que já é o segundo maior mercado mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, que fatura cerca de oito bilhões de dólares, dos quais cerca de 5% em produtos para equinos. (Figura 2)

26_Animal Business-Brasil

O mercado de medicamentos veterinários é composto por dois diferentes grupos. Em termos de número de empresas, predominam as nacionais, de menor porte e com atuação em nichos de mercado. Já em termos monetários, as empresas multinacionais respondem pela maior parte do faturamento. Estas, em geral, são empresas que lideram o processo de inovação e muitas vezes têm o segmento veterinário como um complemento à sua atividade principal (saúde humana), atuando na diluição de custos fixos. O interessante é que ambos segmentos convivem regionalmente, com boas oportunidades de crescimento tanto para as empresas multinacionais quanto às locais.


A despeito da forte e recente crise mundial, iniciada em 2008, a indústria de medicamentos veterinários apresentou crescimento nos últimos anos no Brasil (Figura 3). Mesmo corrigindo os valores pela inflação no período (deflacionado pelo IGP-DI da FVG), observa-se crescimento real de 4,2% ao ano (quase 10% a.a. em valores nominais).

A Figura 4 mostra a distribuição do mercado por classes terapêuticas. Observa-se que mais da metade do mercado é composto por produtos biológicos e antiparasitários. Figura 4 – Brasil: mercado de medicamentos veterinários por classe terapêutica, em 2012. Biológ. 27%

Figura 3 – Brasil: evolução do faturamento anual do mercado de medicamentos veterinários, 1997 a 2012, em bilhões de reais de 2012 (deflacionado pelo IGP-DI). 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0

Antiparasit. 25% Antimicrob. 19% Terapêut. 10% Suplem. 7% Outros 12%

Fonte: SINDAN (2013)

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

2002

2001

2000

1999

1998

1997

Fonte: SINDAN (2013)

Analisando o mercado por espécies no Brasil, verifica-se que o mercado de ruminantes sempre tem representado mais da metade do faturamento (Figura 5). Também é possível observar o

Animal Business-Brasil_27


forte crescimento do segmento PET (atualmente denominado cães e gatos), que passou de 9,3% para 13,6% do faturamento da indústria, no período de 2004 a 2012.

Ruminantes

Aves

Suínos

Pets

Equinos

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

100% 80% 60% 40% 20% 0%

2004

Figura 5 – Brasil: faturamento da indústria veterinária, por espécie animal, de 2004 a 2012.

Outros

Fonte: SINDAN (2013)

A Figura 5 ainda apresenta uma informação que merece uma discussão mais detalhada: a participação do segmento de equinos no faturamento da indústria de medicamentos veterinários. A rápida leitura dos números poderia indicar uma crise no setor, pois representava 3% da indústria em meados da década passada e atualmente, pelos dados do SINDAN, representa apenas 1,5%, queda de 50%. Nos próximos parágrafos será realizada uma análise mais detalhada, em que buscará mostrar, ao contrário do que a Figura 5 aparenta, o segmento equino representa boas oportunidades e bom desempenho. Incialmente, deve-se destacar que embora a fonte dos dados seja a mesma, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal – SINDAN, há uma importante mudança na série histórica. As estimativas de mercado do SINDAN são produzidas por empresas de consultoria contratadas para esta finalidade e houve mudança de empresa no meio da série. Assim, a partir de 2008, com a alteração no levantamento de dados, o novo procedimento reduziu a participação do segmento de equinos no total da indústria nacional de 3,0% para 1,5%, muito menor que o verificado em diversos países (vide, por exemplo, os dados anteriormente apresentados na Figura 2 referente ao mercado dos Estados Unidos). Uma questão decorrente do exposto no parágrafo anterior é por que os dados de vendas para equinos não são precisos, podendo sofrer grandes oscilações conforme a fonte? Uma das

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razões é que boa parte do mercado de equinos é ocupada por produtos indevidamente lançados como tendo sido utilizados em bovinos. Há um superdimensionamento do mercado de bovinos e um subdimensionamento do mercado de equinos, sem contar a estimativa de que de 3% a 5% do mercado de medicamentos veterinários para equinos é composto por produtos trazidos – irregularmente – do exterior. Um forte motivo para que isto ocorra é que produtos para equinos, no Brasil, possuem alíquota tributária mais elevada que para outros animais, pois, indevidamente, não se enquadram como animais de produção. Desta forma, opta-se por comprar, por exemplo, vermífugos para bovinos (segundo especificação do fabricante e enquadramento fiscal) para aplicar em equinos, com resultados similares e com menor custo do que se comprado o produto para equinos. Diante dos comentários realizados, pode-se considerar conservador a estimativa de que as vendas de medicamentos veterinários para equinos sejam o dobro do que o informado pelo SINDAN. Ou seja, o faturamento para o segmento equinos das empresas associadas ao SINDAN teria sido, na realidade, em 2012, cerca de R$ 109,8 milhões. Se, adicionalmente, considerarmos o fato do SINDAN representar 80% do mercado, o Brasil teria vendido (soma das empresas associadas e não associadas) R$ 137,25 milhões em medicamentos veterinários para equinos em 2012. Deve-se notar que, mesmo com todos estes ajustes, a fatia de mercado do segmento equino é ainda inferior do que ocorre no restante do mundo. Ou seja, ainda há muito espaço e oportunidade para crescimento do setor. Reforçando esta perspectiva favorável, observa-se crescente aumento do plantel de cavalos destinados ao esporte e lazer, que são os consumidores relevantes de medicamentos. E ainda há cerca de 3,0 milhões de cavalos utilizados para trabalho, com gasto anual de medicamentos inferior a R$ 200 por ano e por cabeça. Conclui-se que há muito que ser explorado no segmento de medicamentos veterinários para equinos no Brasil, justificando novos investimentos tanto de empresas nacionais quanto de multinacionais. Boa expectativa e perspectiva para 2014.


Falcões trabalham pela segurança do Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim (Galeão) Luiz Octavio Pires Leal Luiz Octavio Pires Leal

Por:

F

undada em Salvador (BA) em 2008, o Cepar-Centro de Preservação de Aves de Rapina, é uma empresa pioneira no uso de falcões (gaviões) no controle das aves que vivem nas cercanias do Aeroporto do Galeão, no Rio, e que põem em risco a decolagem e o pouso dos aviões. Mas o trabalho não se limita a aeroportos mas também inclui shoppings-centers, museus, hospitais, grandes condomínios e portos, principalmente os que trabalham com grãos e atraem enormes quantidades de pombos.

Controle da fauna Todo o plano de manejo dos falcões tem como objetivo diminuir o risco de colisão das aves que cercam o aeroporto, como garças, urubus e outras menores, com as aeronaves nos momentos de pouso e de decolagem. E é justamente nesses momentos que os pilotos estão mais ocupados e com muito pouco tempo para tomar qualquer tipo de reação. Pouso e decolagem – sabemos todos nós – são os momentos mais críticos do transporte aéreo. As aves de rapina – falcões = gaviões – são carnívoros predadores e atacam impiedosamente as outras aves ou simplesmente as afugentam. E a área no entorno do Tom Jobim, pantanosa, é muito propícia à criação de pássaros como as garças. A empresa – contratada pela Infraero por R$300.000,00 anuais – usa dois tipos de falcões: o Gavião Asa de Telha, para atacar Aguardando o momento de ir à caça Animal Business-Brasil_29


Luiz Octavio Pires Leal

A intimidade com o dono anula a agressividade natural.

presas de grande porte, como garças, urubus, quero-queros e carcarás (que também são gaviões) e um menor, o Gavião de Coleira para presas de menor porte.

Operação Para poderem ser usadas como aves utilitárias, os falcões precisam ser submetidos a um minucioso treinamento de no mínimo seis meses e no caso do trabalho no Galeão ( e em outros aeroportos) a um treinamento adicional de dois meses em área contígua à pista, para que se acostumem com o grande barulho dos aviões, principalmente durante a decolagem e também dos veículos que circulam na área. Para dar conta do serviço no Galeão, são usados 12 falcões das duas espécies citadas. São feitas rondas diárias nos carros da empresa, em torno das pistas, com a contagem das aves para avaliação do trabalho a ser feito. Mantendo-se em contato permanente com a Torre de Controle, via rádio, os treinadores são informados das “janelas de tempo” em que podem soltar os falcões.

Procedência Todas as aves usadas na falcoaria brasileira são provenientes de criadores comerciais autorizados pelo Ibama. São muito poucos os criadores de elite existentes no Brasil mas a atividade está crescendo e o uso dos falcões para diversas situações está virando moda. Um falcão treinado custa a partir de R$3.000,00, podendo chegar a R$10.000,00. Após o treinamento, o custo sobe para R$15.000,00. 30_Animal Business-Brasil

Um falcão vive, em média, 20 anos e pode trabalhar durante no máximo 10 anos, quando vai para a reprodução. Diferentemente do que acontece com outras aves em que o macho é maior e mais bonito, os falcões apresentam o chamado dimorfismo sexual inverso, ou seja, as fêmeas são maiores do que os machos e têm aparência praticamente igual, mas aves dos dois sexos são utilizadas no trabalho. Em países muçulmanos, a falcoaria tem grande importância entre os sheiks que mantêm e treinam grande quantidade de falcões para caça esportiva. As aves são tratadas com requintes de manejo e assistência veterinária dispondo, inclusive, de hospitais exclusivos, aparelhados com o que há de mais moderno em equipamentos para uso clínico e em cirurgia.

Os números do perigo • No decorrer da sua carreira, os pilotos devem esperar 2 a 3 acidentes com aves. A FAA (Federal Aviation Administration), dos Estados Unidos informa mais de 33 mil ocorrências entre 1990 e 2000: 32% na América do Norte; 42% da Europa e 2% no Caribe e na América do Sul e números menores nos outros continentes pesquisados. • Das colisões com aves, 41% atingem os para-brisas; 41% as turbinas, 7% as asas; 7% a fuselagem; 3% o trem de pouso e 1% a cauda. • 15 a 20% das colisões com aves causam problemas na aeronave. • A maioria das colisões com aves ocorre em altitudes muito baixas: 150 metros acima do nível do solo ou inferiores. • Após uma colisão de ave durante a decolagem ou o pouso, uma aeronave em cada três fica impedida de voar para o destino previsto. Dados da FAA – Federal Aviation Administration, dos Estados Unidos


Foto: Ney Messi

Sucesso internacional do hipismo militar alavanca o comércio Por: Amanda

Abdo Pereira e Roberto Arruda de Souza Lima

O Exército Brasileiro tem sido um grande promotor do hipismo com importantes impactos também nos negócios internacionais. A amazona Luiza Almeida

O

incentivo do Exército Brasileiro ao comércio internacional ocorre há bastante tempo. Pode-se citar, por exemplo, o patrono do Exército Brasileiro, Duque de Caxias que no século XIX estimulou a importação de animais de qualidade superior buscando o melhoramento da qualidade genética do plantel brasileiro. Entretanto, a atuação do Exército no comércio internacional não se limita à importação e exportação de animais, mas, também, na contribuição de sua forte presença nas competições esportivas, expondo a qualidade dos conjuntos, cavaleiro e cavalo, atraindo atenção para o Brasil. Note que o Exército participa de grande parcela dos eventos hípicos (Figura 1). 150

100

50

69 40 40

26 25

53

0 ano 2011

ano 2012

ano 2013

Número de eventos realizados por civis organizados pela CHB Número de eventos realizados pelo Exército Brasileiro

Figura 1 - Brasil: eventos hípicos oficiais, anos 2011 a 2013.

Potência olímpica Para compreender como o Exército tornou-se uma importante vitrine para o comércio de cavalos, é interessante resgatar a história. O projeto de tornar-se uma potência olímpica, embora não tivesse como objetivo, deu visibilidade ao plantel brasileiro. O hipismo de alto rendimento, durante o regime militar (iniciado em 1964) passou a fazer parte da agenda política, em especial para exposição da imagem do Brasil. Nas palavras de Luciano Bueno, em sua tese de doutorado (FGV, 2008): “externamente, o desenvolvimento do esporte torna-se aspecto fundamental para afirmar o País entre as nações desenvolvidas, espécie de projeto Brasil Potência Olímpica”.

As provas internacionais continuam sendo uma preocupação do Exército Animal Business-Brasil_31


A preocupação com o desempenho nas provas internacionais continua sendo uma das prioridades do exército. De acordo com a Diretriz Técnica do Hipismo Militar 2013, editada pelo Ministério da Defesa do Brasil, o desenvolvimento da modalidade tem, entre seus objetivos, o Campeonato Sul-Americano de Hipismo Militar em 2013, os 6º Jogos Mundiais Militares, na Coreia em 2015.

animais principalmente para os Estados Unidos, conforme ilustrado pela Tabela 1.

Transações internacionais

Foto: Ney Messi

Embora a preocupação não seja mais a mesma que ocorria nos tempos da Guerra Fria, a relevância do Exército permanece. Além da colaboração na evolução do plantel nacional, o que inclui transações internacionais, os resultados obtidos pelos militares colaboram para imagem do hipismo nacional, auxiliando em ações de marketing e oportunidades de negócios também para o setor privado. Importantes iniciativas militares contam com o apoio de empresas como Gerdau e haras nacionais, como a Coudelaria Rocas do Vouga. Exemplificando o sucesso desta parceria entre Exército e iniciativa privada, há a medalhista de bronze por equipe no Pan do Rio em 2007 e medalhista de ouro individual e prata por equipe nos Jogos Mundiais Militares, no Rio de Janeiro, em 2011. A visibilidade da atleta e militar Luiza Almeida, da qual é apresentado um breve resumo da carreira a seguir, é um exemplo de como o desempenho militar pode auxiliar nas transações comerciais. O haras da atleta tem se destacado na exportação de

32_Animal Business-Brasil

Tabela 1: Algumas exportações do Haras Rocas do Vouga Animal

Destino

Admirável do Vouga

Estados Unidos

Alabastro do Vouga

Estados Unidos

Apolo do Mito

Estados Unidos

Arrimo do Vouga

Estados Unidos

Astro do Mito

Canadá

Atlântida do Vouga

Estados Unidos

Aventureiro do Vouga

Estados Unidos

Az do Vouga

Canadá

Bagaceira do Vouga

Canadá

Marfim do Top

Estados Unidos

Ordenado

Portugal

Sol de Vouga

Estados Unidos

Vento da Broa

Estados Unidos

Verdugo OR

Estados Unidos

Vindima do Vouga

Filipinas

Vinha do Vouga

Estados Unidos

Xairel do Mito

Estados Unidos

Xangô do Vouga

Estados Unidos

Xeque SS

Estados Unidos

Xis do Vouga

Estados Unidos

Zaz-Traz do Vouga

Alemanha

Zeppelin do Vouga

Estados Unidos

Zinco do Vouga

Estados Unidos

A visibilidade da atleta Luiza Almeida é um exemplo de como o desempenho militar pode auxiliar nas transações comerciais


Os parceiros do Exército Brasileiro, como o Haras Joter e Rocas do Vouga, atuantes nos negócios internacionais ligados ao cavalo, têm muito a lucrar com os resultados esportivos, como os obtidos por Luiza Almeida, a seguir destacados.

Luiza Tavares de Almeida Atleta da equipe brasileira nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, e 2008 em Pequim/ Hong Kong (onde foi a mais jovem atleta do hipismo em uma Olimpíada), Luiza Novares Tavares de Almeida tem divulgado o hipismo e o Brasil em sua destacada carreira, a seguir comentada. Luiza Almeida é, atualmente, uma das melhores amazonas do mundo. Nascida no dia 07/09/1991 na cidade de São Paulo, onde reside até hoje, é filha do Manuel Tavares de Almeida Filho, dono da cachaça Velho Barreiro e do banco Luso Brasileiro que a patrocina desde menina. Seu pai, além das atividades citadas no parágrafo anterior, também é dono de um haras, e foi o grande incentivador de Luiza Almeida a se tornar o que ela é hoje. Encorajou-a a montar num cavalo, pela primeira vez, aos dois anos de idade, iniciando, então sua carreira e trajetória fascinante e de muita dedicação, no hipismo. Três anos mais tarde, ela saltou pela primeira vez e continuou nessa modalidade até os 13 anos, onde participou diversas vezes de competições de salto. Entretanto, após completar o décimo terceiro aniversário, iniciou treinos na modalidade de adestramento, a fim de melhorar sua postura e seu equilíbrio em cima da sela, já que caia muito durantes os saltos, porém se apaixonou por essa categoria, deixando o salto e praticando apenas o adestramento. Aos 15 anos conquistou a medalha de bronze junto com sua equipe nas disputas do Pan-Americano em 2007, além disso, foi Campeã Brasileira Junior. Entretanto, sua carreira decolou mesmo quando participou das Olimpíadas sediadas em Pequim, no ano de 2008. Em 2008, mostrando não só para o Brasil, mas para o mundo que tinha potencial e capacidade sobrando, já que era a mais jovem atleta do mundo do hipismo participando de uma olimpíada

e que ficou em quadragésimo lugar na competição individual. Nesse mesmo ano, Luiza conquistou o título de Campeã Brasileira Senior Top.

Adestradora de elite Aos 18 anos, Luiza foi convocada para uma competição, World Cup Dressage 2009, sediada na Holanda, na qual apenas os quinze melhores adestradores do mundo participariam. Vale ressaltar que Luiza foi a primeira adestradora da América do Sul a competir na World Cup Dressage. Ainda em 2009, Luiza foi a ganhadora do Prêmio Brasil Olímpico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). O ano 2010 foi um ano de muitas revelações, já que Luiza participou, junto com a equipe brasileira, dos Jogos Equestres Mundiais de Kentucky, nos Estados Unidos da América. Ela ganhou novamente o Prêmio Brasil Olímpico; e para completar, foi convidada a fazer parte das Forças Armadas e competir nos Jogos Mundiais Militares, realizados na cidade do Rio de Janeiro. Nesse ano, Luiza Almeida cursou a Escola de Equitação do Exército e ao terminar se formou como 3ª sargenta da cavalaria. Em 2011, Luiza participou dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara e conquistou o 20º lugar nas competições individuais e o 5º lugar nas competições em equipe. Adicionalmente, Luiza ganhou pela terceira vez consecutiva o Prêmio Brasil Olímpico e ganhou pela segunda vez o título de Campeã Brasileira Senior. Luiza participou da sua segunda Olimpíada em Londres em 2012 e foi a única representante da modalidade de Adestramento da América do Sul. Como curiosidade, a paulista se preparou para essa grande competição treinando boxe a fim de lhe conferir condições físicas para melhor realização dos seus movimentos em cima do cavalo. Hoje, depois de percorrer todos os caminhos, desviando e superando todos os seus desafios e obstáculos, Luiza Almeida é uma das grandes estrelas do esporte hípico brasileiro na modalidade de adestramento para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2016, no Brasil.

Animal Business-Brasil_33


Divulgação

Doreti, do Capril Porto Reserva.

CAPRINOCULTURA,

um mercado promissor 34_Animal Business-Brasil

Por:

Beth Mello


A demanda brasileira por produtos da caprinocultura está longe de ser atendida pela produção local, tanto que o País é grande importador de carne caprina, leite e queijos de cabra.

O

mercado está despertando para o potencial da atividade como importante fonte de renda e tem atraído o interesse de investidores e pecuaristas em razão da alta rentabilidade oferecida em curto e médio prazos. Outro atrativo é a possibilidade de aproveitamento de áreas reduzidas para a criação. De acordo com Caio Graco Bianchi, do Boer Xodó Primeiro, criatório de caprinos localizado em Atibaia, no interior de São Paulo, o Brasil tem a oportunidade de se tornar o maior produtor de carne de cabrito do mundo. “Atualmente o maior exportador é a Austrália, mas temos condições de clima e vegetação que tornam a caprinocultura brasileira potencialmente competitiva”, argumenta. Ele afirma que em todos os Estados do Nordeste tem havido maciça migração da bovinocultura para a caprinocultura, uma vez que o caprino tende a resistir mais às condições da caatinga. “A vegetação desta região é um prato cheio para os caprinos, que comem mais arbustos, enquanto os bovinos preferem grama, que é o primeiro item a faltar na seca”, justifica, lembrando que em outras regiões também têm surgido experiências pioneiras de produção de carne caprina em escala, como em Mato Grosso do Sul, por exemplo.

Dessa forma, ele consegue realizar suas duas grandes paixões: teatro e caprinocultura. O interesse pela criação de caprinos e ovinos vem de longe, de gerações passadas que realizavam a atividade no sertão nordestino, e encontrou apoio em Ferreiras, em terras paulistas.

Mercado Segundo o fundador da Porto Reservas, finalmente, o mercado está acordando para o potencial da caprinocultura como importante fonte de renda para o produtor rural, incluindo pequenos pecuaristas. “Geralmente os investidores chegam tímidos, na intenção de criar por hobby, porém, quando se deparam com uma atividade em pleno crescimento, mudam de ideia e passam a ser criadores comerciais”, comenta. “Estamos em um boom para a raça anglonubiana, praticamente toda nossa produção já está comprometida. O mercado precisa de mais criadores produzindo”, avisa. Em junho de 2013, ele fez um leilão que alcançou a média de R$ 5.000 por lote e faturamento de R$ 120.000. Os preços da carne e do leite são bastante atrativos, o que garante boa remuneração ao produtor, em níveis superiores a outras espécies animais. De acordo com Ferreiras, em São Paulo o quilo da carne de cabrito ao consumidor gira em torno de R$ 15,00 e o litro de leite, R$ 5,00. Segundo Caio Bianchi, o produtor recebe de R$ 6,00 a R$ 7,00 pelo kg vivo nos principais mercados. Equipe do Capril Porto Reserva

A caprinocultura é uma alternativa de negócio para empresários, inclusive para investidores. Um exemplo é o biólogo André Ferreiras, proprietário do Capril Porto Reserva, em Porto Feliz (SP), dono do Teatro Augusta, na capital paulista. “Consigo conciliar muito bem as duas atividades”, garante o empresário, que está adaptando para o palco o livro A cabra sonhadora, da editora pernambucana Cepe. “Pretendo estrear a peça no começo de 2014”, conta ele que também é formado em artes cênicas.

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Alternativa de negócio

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Cuidados com o casco

Ração de boa qualidade é fundamental

Rebanho

Segundo o IBGE, o efetivo nacional de caprinos é de 9,4 milhões de cabeças

Foco em carne Caio Graco Bianchi e Egydio Bianchi, titulares do Boer Xodó Primeiro, possuem cerca de 300 animais Boer com foco na produção de reprodutores e matrizes destinados ao melhoramento de rebanhos de corte. A genética do criatório vem das linhagens campeãs mundiais da África do Sul (berço da raça), Austrália e Estados Unidos. O sistema de criação é em semiconfinamento: os animais ficam no pasto durante o dia e são recolhidos à noite. “O crescimento da caprinocultura tem sido vertiginoso em todo o Brasil, mas ainda muito aquém do que deverá se tornar nos próximos anos. Nesse contexto, a contribuição do Boer tem sido decisiva e impulsiona fortemente o crescimento da caprinocultura paulista e brasileira”, observa Caio Bianchi. 36_Animal Business-Brasil

Conforme o levantamento da Produção da Pecuária Municipal de 2011, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o efetivo nacional de caprinos alcança 9,4 milhões de cabeças. Grande parte do plantel encontra-se no Nordeste, destaque para Bahia (2,74 milhões de cabeças), Pernambuco (1,92 milhões), Piauí (1,38 milhões de cabeças) e Ceará (1,04 milhões de cabeças). O Ministério da Agricultura estima o rebanho atual em 14 milhões de animais, distribuídos entre 436 mil estabelecimentos agropecuários. Segundo os números divulgados pela FAO, em 2012, a produção nacional de carne caprina ficou ao redor de 29,1 mil toneladas e de leite de cabra, 148.149 toneladas. A criação paulista de caprinos se concentra nas cidades mais próximas à Grande São Paulo, em propriedades menores, geralmente com rebanhos leiteiros pequenos. Segundo Caio Bianchi, ainda não há dados confiáveis sobre o rebanho. Em 2011, de acordo com o IBGE, São Paulo contava com cerca de 65 mil animais de corte e leite, um volume baixo se comparado a alguns Estados, especialmente no Nordeste.

Desafios A cadeia produtiva da caprinocultura ainda está em fase de estruturação e o principal desa-


fio é a organização. “A integração do setor (produção animal, processamento industrial, comercialização e distribuição) é um grande desafio, especialmente para pequenos e médios. As formas de associativismo e parcerias deverão ser melhor exploradas para enfrentar tais entraves”, sugere Egydio Bianchi. Outros gargalos, na sua opinião, são a escala de produção e a comercialização, além do abate e do processamento, que ele considera proibitivo para os pequenos e médios criadores. “É alto o investimento para implantar uma unidade industrial, sem contar com as exigências burocráticas”, salienta.

Futuro O momento é favorável à caprinocultura. A maioria dos criadores de Boer tem fila de espera para fornecimento de reprodutores, segundo Caio Bianchi. “Há uma percepção clara de que essa atividade terá futuro no País. Há cerca de 2 anos, o mercado acordou para o potencial da criação.” Na visão de Egydio Bianchi, o futuro do caprino de corte em todo o País está no desenvolvimento intenso da raça Boer, introduzida no Brasil com sucesso há quase duas décadas na Região Nordeste e depois no seguida no Sudeste e Sul brasileiros. “O Boer poderá ter papel de destaque nos programas de segurança alimentar e nutricional do país, sobre-

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Hora do banho

Animais da raça Anglonubiano do rebanho do Capril Porto Reserva

tudo se influenciando geneticamente o imenso rebanho caprino nordestino”, comenta. “A caprinocultura é uma atividade prazerosa e rentável se bem conduzida. O Brasil terá condições de atender à demanda e deixar de importar quando a integração da cadeia produtiva de fato existir e houver investimento suficiente para atingimento de escala de produção”, afirma Caio Bianchi. Entretanto, ele informa que os pequenos produtores precisam definir claramente sua vocação antes de ingressar na atividade. “Produzir genética traz margens mais altas, é compatível com pequenas propriedades, mas requer atenção integral e assistência técnica intensiva. Para produzir carne empresarialmente é preciso escala, o produtor precisa saber fazer as contas”, ensina. Caio Bianchi e Egydio Bianchi são os titulares do Boer Xodó Primeiro, criatório de caprinos localizado em Atibaia, no interior de São Paulo. O rebanho possui cerca de 300 animais Boer com foco na produção de reprodutores e matrizes destinados ao melhoramento de rebanhos de corte. A genética do criatório vem das linhagens campeãs mundiais da África do Sul (berço da raça), Austrália e Estados Unidos. O sistema de criação é em semiconfinamento: animais ficam no pasto durante o dia e são recolhidos à noite. A raça Boer, voltada para carne, produz duas a três crias a cada 2 anos. O peso médio, ao Animal Business-Brasil_37


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não precisa de grandes áreas. Em chácaras e em pequenas propriedades (o grande perfil do interior paulista) pode-se formar criatórios”, destaca. A base do plantel PO do Capril Porto Reserva combina linhagens originárias de importantes rebanhos nordestinos, como os de Sertânia (PE) que têm como base o Anglonubiano Inglês. Também agrega genética de linhagens americanas e canadenses e de reprodutores e matrizes tradicionais criatórios brasileiros, como o Capril Paraguassu, de onde veio o reprodutor Axé do Paraguassu, recordistas de venda de sêmen na Alta Genetics. A criação ocupa uma área de 12 alqueires e a infraestrutura conta com baias para animais confinados e para animais semiconfinados; baias de isolamento (hospital); baias berçário - creep; bretes para manejo com fácil acesso; piquetes cercados de pastagens cultivadas com bebedouros e comedouros; área para armazenamento de alimentos e laboratório para reprodução. Tem até esteira e piscina para condicionamento físico dos animais.

Genética

Equipe do Capril Porto Reserva

nascer é 4 quilos e, aos 10 meses de idade, 40 quilos. Os machos adultos pesam, em média, 95 quilos e as fêmeas, 85 quilos.

Dupla aptidão André Ferreiras, do Capril Porto Reserva, em Porto Feliz, possui um rebanho de 280 animais raça Anglonubiano, dos quais 60 fêmeas e 20 machos elites, além de 200 matrizes. O foco do criatório é o melhoramento genético voltado para a dupla aptidão (carne e leite). Os animais de elite são confinados e as matrizes criadas a pasto. O Anglonubiano é originário da Inglaterra. A cabra produz, em média, 3 crias a cada 2 anos. O peso médio ao nascer é de 3 quilos, e ao desmame, 15 quilos. O peso médio para os machos adultos é de 60 a 70 quilos e de 40 a 50 quilos para as fêmeas. “Trata-se de uma raça rústica, espetacular, boa produtora de carne e leite, tem uma beleza rara, se adapta muito bem em climas quentes e frios e 38_Animal Business-Brasil

O Capril Porto Reserva chama para si o pioneirismo no melhoramento genético de caprinos. “Temos mais de 500 embriões congelados prontos para serem transferidos, além de 8.000 doses de sêmen congelados dos nossos reprodutores”, contabiliza Ferreras que pretende dobrar essa quantidade e faturar cerca de R$ 1 milhão por ano depois da abertura do mercado internacional. Recentemente, Ferreiras investiu R$ 250 mil na construção de um laboratório para armazenar embriões e sêmen, inaugurado em maio deste ano. “Queremos transformar o setor em um grande exportador de sêmen e embriões, mas enfrentamos fortes barreiras sanitárias, que nos impedem de vender animais e genética. Precisamos de melhores políticas de importação e exportação”, reclama e acrescenta que o Brasil só conseguirá atender à demanda e deixar de importar quando tiver uma política comercial internacional mais séria e uma política de incentivo aos criadores.

Leite O leite de cabra é considerado mais saudável que os das outras espécies, comparável ao leite materno. Tem 20% mais cálcio 30% menos colesterol (Veja tabela). Entre as


vantagens estão a sua alta digestibilidade e baixa concentração de caseína, causadoras de alergias. Tanto que é recomendado para crianças, além de ser procurado por pessoas que desejam uma alimentação saudável. Graças ao sabor e textura diferenciados, o leite de cabra produz queijos de alta qualidade, muito valorizados no mercado, inclusive no de alta gastronomia. Por essa razão, a remuneração do produtor pelo litro do leite é muito superior a do leite de vaca.

Entre as carnes vermelhas, a carne caprina também possui a menor quantidade de mau colesterol e gordura saturada. “A carne de caprinos tem 25% de proteína, é a que tem maior índice, além do mais, não tem formação de tecido adiposo”, destaca Ferreiras, do Capril Porto Reserva. O consumo brasileiro de carne caprina não chega a 1 quilo por pessoa por ano, ante 33 quilos per capita de carne bovina. Nos países europeus, o consumo de carne de cabras e bodes atinge 28 quilos per capita. “Para chegar a 3 kg, precisaríamos de cerca de 30 milhões de matrizes produzindo a pleno vapor. Se bem trabalhada (como já tem sido), a carne de cabrito vai se tornar obrigatória em mercados altamente exigentes como São Paulo, e com isso as perspectivas de crescimento da atividade são bastante concretas”, finaliza Caio Bianchi. Mago, do Capril Porto Reserva Divulgação

Entre as carnes vermelhas, a carne caprina tem a menor quantidade de colesterol

Carne sadia

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Melhoramento genético simplificado de Gado Zebu Com apenas alguns cliques, criadores participantes do PMGZ-Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos - têm acesso a informações essenciais para orientá-los no processo seletivo. Seja através dos relatórios periódicos, ou da consulta de ferramentas como as “Tendências Genéticas”, a melhoria do rebanho pode estar ao alcance de todos.

A

tecnologia chegou ao campo definitivamente para somar. No caso específico do melhoramento genético, a tecnologia proporciona ao criador a possibilidade de acesso às informações mais relevantes sobre seu rebanho em apenas alguns cliques, otimizando assim, o processo seletivo de modo geral.

Internet Neste contexto, a internet pode ser considerada a principal parceira do criador, especialmente, daqueles que participam do PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos). Através do site das Comunicações Eletrônicas da ABCZ, no link Sumário de Touros, o criador pode acessar os gráficos das tendências genéticas de seu rebanho, acompanhar a evolução de seus animais e, a partir destas informações, tomar decisões para melhorar os índices do rebanho a partir das características disponibilizadas pelo programa (Peso 120 dias – Efeito Materno, 40_Animal Business-Brasil

Peso 120 – Efeito Direto, Total Maternal 120 dias, Peso Desmama, Total Maternal Desmama, Peso Sobreano, Ganho Pós-Desmama, Idade ao 1º parto e Perímetro Escrotal ao Sobreano). A dica da Assessora do PMGZ, Bruna Hortolani, é que o criador fique atento ao comparativo “Raça X Rebanho”, disponível na área das Tendências Genéticas. Através desta ferramenta é possível comparar o rebanho com a média nacional em relação a cada uma das características disponibilizadas e assim verificar se aquela característica está evoluindo ou não e quanto está evoluindo.

Erro comum Bruna lembra que um erro comum no processo de seleção é o criador escolher os touros para acasalamento observando apenas o fato destes reprodutores estarem no topo do ranking do Sumário. “O fato de o touro apresentar o melhor iABCZ não quer dizer que ele será a opção ideal para o seu rebanho. Outro erro bastante usual é escolher o touro pela acurácia. O criador precisa entender que a acurácia não é uma medida de qualidade e sim de confiabilidade. Os animais com DEPs altas e acurácias altas, apresentam maior confiabilidade, portanto devem ser mais utilizados do que os animais com altas DEPs, porém com baixas acurácias. Os demais touros também devem ser utilizados mas em menor intensidade, como medida de segurança dos resultados. Por isso, é importante que o criador esteja atento às DEPs destes touros e, após uma avaliação do rebanho, verificar o reprodutor que


irá agregar em cada característica a ser melhorada”, explica Bruna. A consulta pela internet também facilita a tomada de decisão do criador no momento do acasalamento. “No sistema do PMGZ, existem filtros onde é possível eliminar as opções indesejadas dos acasalamentos, como por exemplo, em relação ao grau de consanguinidade, bem como definir apenas animais que estejam dentro de um patamar em relação ao iABCZ”, esclarece a assessora do PMGZ.

Como acessar Atualmente, estão disponíveis no Sistema de Avaliação Genética apenas os gráficos com as tendências relacionadas aos rebanhos com aptidão de corte. Para acessar, o criador deve entrar no link das Comunicações Eletrônicas, disponível no site da ABCZ (www.abcz.org.br), fazer o login com senha, clicar em Sumário de Gado de Corte e, em seguida, no link “Tendências Genéticas”, explica o superintendente Técnico Adjunto de Melhoramento Genético da ABCZ, Carlos Henrique Cavallari Machado.

A consulta pela Internet facilita a tomada de decisão do criador no momento do acasalamento

Em breve, a ABCZ deve disponibilizar este tipo de consulta também para os animais participantes do programa com aptidão leiteira.

Atendimento exclusivo Para esclarecer dúvidas, orientar e aproximar os criadores do melhoramento genético, a ABCZ criou um Serviço de Atendimento exclusivo aos participantes do PMGZ. Todos os técnicos de campo da ABCZ estão aptos a esclarecer qualquer dúvida em relação ao PMGZ, porém, caso o criador prefira pode entrar em contato também com a zootecnista Bruna Hortolani, responsável pela assistência aos criadores participantes do programa. A Internet é a principal parceira do criador

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O novo

cooperativismo Por: Roberto

Rodrigues, Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas

N

ão há dúvidas quanto ao notável trabalho que cooperativas do mundo todo estão realizando em benefício de pequenos produtores rurais. A globalização da economia tem sido determinante para reduzir as margens unitárias dos produtos agrícolas, de modo que a única chance de lucro está na escala. Ora, os pequenos não têm escala por definição, e a forma de obtê-la, exclusivamente, é somando-se aos seus iguais em uma cooperativa. E ainda mais na dura batalha da competitividade, não há mais espaço para amadorismo: sem tecnologia adequada, sem gestão eficiente, ninguém compete em nenhuma atividade, principalmente na agricultura. E as cooperativas executam o notável papel de oferecer aos seus associados as mais modernas tecnologias (insumos, equipamentos e máquinas), crédito e seguro rural, assistência técnica, e, eventualmente, agregam valor às matérias-primas através de industrialização e acesso a mercados, interno e externo. Sem falar na assessoria em gestão comercial, financeira, ambiental, de recursos humanos, etc. Não é à toa que no Brasil, em 2012, 48% do valor da produção agropecuária passou por cooperativas do setor. Sabendo que expressiva parcela da produção nacional é realizada por grandes e megaprodutores que não necessitam de cooperativismo, fica evidente o papel crescente destas instituições na inserção comercial dos pequenos. Mas não só para eles: é também crescente a presença dos médios produtores no movimento, dadas as vantagens que podem auferir em termos de reduzir custos de produção, rápido acesso à inovação tecnológica, aumento de produtividade e, sobretudo, na hora da comercialização de suas colheitas. Em geral, estes médios produtores não têm como agregar valor industrializando seus produtos, e o fazem, com vantagens, nas cooperativas.

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Desafio O grande desafio do moderno cooperativismo é crescer sustentavelmente. E isso passa pela profissionalização da gestão. Também aqui acabou o tempo da improvisação e do amadorismo. A Organização das Cooperativas Brasileiras vem trabalhando com muito afinco nesta temática, e acaba de promover um grande e interessante concurso nacional de excelência em gestão. Dezenas de cooperativas se inscreveram voluntariamente para participarem do concurso, organizado em base extremamente séria por equipe profissional treinada para esse fim pela OCB, e ficou evidente que já existe no meio a preocupação - e crescente - com o tema. Mais e mais cooperativas se preocupam com a gestão, com a clara visão de que são empresas, baseadas em princípios e valores, é certo, mas são empresas e ponto final. Nada de sociedades beneficentes ou ajuda entre amigos, empresa que tem que dar resultado para seguir fazendo aquilo para o que foi criada, prestar serviços de interesse dos associados, de modo que esses possam melhorar sua condição econômica e assim avançar na escalada social, exatamente o que prega a doutrina, com seus 7 princípios universalmente aceitos. Conceitualmente, cooperativismo tem sido entendido como a terceira via para o desenvolvimento. Mas essa ideia mudou desde a queda do Muro de Berlim, quando socialismo e capitalismo tomaram novas formas e o liberalismo varreu o mundo. As cooperativas não são mais um rio fluindo entre as margens do capitalismo e do socialismo. São uma ponte entre uma margem que é o mercado - onde devem estar inseridas como empresas e a outra margem , que é o bem-estar coletivo.


O cooperativismo, que hoje já tem um bilhão de associados em todo o mundo, precisa crescer globalmente para ajudar a reduzir a miséria, aumentar a inclusão socioeconômica, mitigar a concentração da riqueza e da renda e assim contribuir pela manutenção da paz planetária. Como fazer isso? Simplesmente fazendo acontecer o sétimo princípio criado em 1995 em Manchester-Inglaterra, na comemoração do centenário da Aliança Cooperativa Internacional: o da preocupação com a comunidade, que significa literalmente que uma cooperativa não pode se ocupar apenas com seus associados, mas também com os demais cidadãos da comunidade em que esteja inserida. O conceito é obvio: uma pessoa não será feliz se seu vizinho for infeliz. Ora, e quais são as preocupações do dia a dia das pessoas, associadas ou não a cooperativas? São as mesmas para ambas: segurança alimentar e energética, qualidade dos alimentos, emprego cidadão, justiça ampla, acesso à educação, saúde, segurança, meio ambiente, água, transporte, desenvolvimento equilibrado, habitação, renda, democracia... Esses são os problemas de todos e, para cumprir o sétimo princípio, as cooperativas precisam estar preparadas para ajudarem as pessoas a resolvê-los, criando as condições para isso. Eis o novo papel deste maravilhoso movimento universal. Ele é também o papel e a preocupação de governos democráticos sérios e decentes. Portanto, cooperativas - que são o braço econômico da organização da sociedade - são parceiras ideais para governos assim. Parceiras, bem entendido, nem dependentes e nem paternalizadas por governos. Esta ideia parte da evidência que diferencia um país desenvolvido de outro não desenvolvido: é o grau de organização da sociedade. Quanto mais organizada for a sociedade, tanto mais moderna, transparente e democrática será. Sendo assim, governos democráticos têm interesse em organizar seus cidadãos , e cooperativas ajudam nessa tarefa.

Comunicação Mas isso implica, finalmente, outra questão central: comunicação. O cooperativismo tem sido craque para dizer a si mesmo como é bonito e importante. Mas tem enorme incapacidade de

Danielle Medeiros

Um bilhão de associados

Uma cooperativa não pode ocupar-se apenas com seus associados, mas deve considerar também os demais cidadãos da comunidade em que está inserida

mostrar isso para fora. Está passando da hora de se comunicar - e se “vender” - exatamente com o objetivo de mostrar os benefícios que pode trazer à sociedade em geral, com o surgimento de novas cooperativas e o crescimento das atuais. Esse é um trabalho que deve ser entregue a profissionais. E já é parte do princípio da Intercooperação, tão necessário e tão pouco praticado. Lideranças visionárias que tragam jovens e mulheres para o movimento e assim preparando a própria sucessão, são essenciais. Isso, aliás, se insere no contexto da Autogestão, a duras penas conquistada na Constituição de 1988 . Com isso, o cooperativismo contribuirá decisivamente para a construção de um mundo melhor e esse é, não por acaso, o desiderato implícito na doutrina que rege este grande movimento. E, assim procedendo, mais cedo ou mais tarde o cooperativismo será reconhecido com o Prêmio Nobel da Paz, a que já faz jus há muito tempo. Animal Business-Brasil_43


Pesquisa com

animais de laboratório

a opinião de quem entende Por:

Luiz Octavio Pires Leal, Titular da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, Jornalista /Editor

A

paixonados, ativistas bem-intencionados mas nem sempre bem informados, irresponsáveis de plantão, baderneiros profissionais. São esses os atores comumente envolvidos na defesa dos animais e que lutam pela suspensão absoluta, total e incondicional do seu uso na pesquisa biológica, aí incluídas: as cirurgias de alta complexidade; a anestesia; o diagnóstico por imagem, de alta definição; o desenvolvimento de fármacos de última geração; os testes de inocuidade; os robôs que operam; os exoesqueletos que permitem que os tetraplégicos voltem a caminhar e os implantes eletrônicos que devolvem a visão aos cegos, para citar alguns exemplos. Nenhum desses avanços seria possível sem o uso dos animais. Mas uso não é sinônimo de abuso, nem da aceitação de sacrifícios inúteis, desproporcionais e descabidos. E o desenvolvimento dessas tecnologias usando como cobaia o próprio homem seria reviver os métodos bárbaros utilizados pelo Doutor Josef Mengele no tempo do nazismo. Ele usava cobaias humanas às quais impingia os mais absurdos sacrifícios que levavam, na maioria das vezes, à morte.

A palavra de quem entende Para esgotar esse assunto que, de tempos em tempos,merece destaque no noticiário, ouçamos o que tem a dizer o presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, Professor Milton Thiago de Mello. Antes porém, vale anotar algumas das credenciais que o autorizam a opinar sobre o assunto. 44_Animal Business-Brasil

O desenvolvimento das tecnologias modernas usando como cobaia o próprio homem seria reviver os tempos bárbaros do nazismo

Thiago de Mello, o decano da Medicina Veterinária brasileira, tem, entre muitos outros, os seguintes títulos: 1. Membro Honorário da Associação Mundial de Veterinária. 2. Membro do World Veterinary Association Committee for Animal Welfare and Ethology. 3. Fundador e Vice-Presidente da Sociedade Latino-Americana de Bem-Estar Animal. 4. Membro do ICLAS-International Council of Laboratory Animal Science. Segundo o Professor, “a explosão de violência num laboratório de S.Paulo, no final de 2013, quando e onde vândalos travestidos de defensores dos animais libertaram cães que lá eram mantidos para pesquisas médicas, merece comentários sensatos”. Prossegue Thiago de Mello: “A experimentação com animais em pesquisas era, é e será indispensável em benefício da humanidade. É


Os ratos são indispensáveis na pesquisa biológica

claro que depois de alguns séculos, na medida em que novas tecnologias foram surgindo, a maioria das experiências com animais foi sendo desnecessária. Entretanto, até que surjam outras novas tecnologias, algumas ainda são imprescindíveis.” “A maior parte das pesquisas tem como objetivo final a obtenção de algum benefício para a saúde humana e também de algumas espécies animais domésticos ou silvestres”. “Numa lógica que não se justifica, os oponentes da experimentação com animais têm uma linha de pensamento absurda: Se o destino final é um benefício para o homem ou para alguns de seus animais, não se justifica o uso de animais de outra espécie. Esse raciocínio leva à conclusão de que tais experiências somente teriam valor se feitas no homem ou nos animais domésticos ou silvestres com objetivo final”. “Alguns ativistas mais extremados recomendam que essas experiências sejam feitas em prisioneiros. Exatamente isso foi feito pelos cientistas e médicos nazistas com prisioneiros judeus. O símbolo desse tipo de atitude foi o médico nazista Mengele”. “Sem os requintes sádicos dos nazistas, a indústria farmacêutica de alguns países tem usado cobaias humanas, principalmente pessoas de baixa condição financeira, geralmente da Turquia e de países da Europa Central. Com esse raciocínio chega-se à conclusão absurda de que é preferível fazer experiências no homem, com ou sem consequências perigosas de que num cachorro, coelho ou camundongo”.

Bem-estar animal De longa data, pesquisadores do mundo todo, preocupam-se com o bem-estar animal. Segundo o Professor Thiago de Mello: “Durante alguns anos, tive participação intensa no início do interesse pelo assunto, no Brasil, porque fazia parte do Comitê de Bem-Estar Animal da Associação Mundial de Veterinária, sob a liderança de Eli Mayer, já falecido. Em duas reuniões internacionais externei pontos de vista: entre os dos defensores do bem-estar animal a qualquer custo e os dos pesquisadores usuários de animais”. “No XXIV Congresso Mundial de Veterinária, realizado no Rio de Janeiro em 1991, como presidente da Comissão Científica, inclui na programação, pela primeira vez num congresso mundial, o bem-estar animal, inaugurando numa plenária com destacados veterinários especialistas no assunto. Muitas resoluções importantes foram aprovadas. Nos 20 anos após o Congresso, muitos grupos de veterinários formaram-se no País, completamente dedicados ao bem-estar animal e seus desdobramentos: bioética, direitos dos animais, interação homem/animal, pesquisas com animais, etc.”

Antivivissecção “O interesse pelo bem-estar animal começou há mais de um século e meio na Inglaterra com o nome de antivivissecção” – recorda o Professor Thiago de Mello – “Quase dois séculos de interesse e discussão sobre proteção contra Animal Business-Brasil_45


Sem a utilização dos macacos não teria sido possível alcançar os resultados das pesquisas permitindo a movimentação dos paraplégicos

crueldade, evoluiu para o que hoje é chamado de bem-estar animal. A preocupação organizada pelo bem-estar animal teve suas raízes no movimento contra vivissecção, em meados do século XIX, antes da descoberta e do uso generalizado dos anestésicos”. Vivissecção, sabemos todos nós, é qualquer operação feita em animais com objetivo de estudo ou experimentação. Há muitos anos só é feita com anestesia geral.

Experimentação A experimentação animal é um tema que tem profunda ligação com o bem-estar animal e com a bioética. “Os membros mais radicais das sociedades protetoras de animais são totalmente contrários a essa prática” – afirma Thiago de Mello – “entretanto, os avanços da medicina preventiva e curativa só foram possíveis graças ao uso de animais de experimentação, também chamados de animais de laboratório. Exemplo da sua importância é o fato da maioria dos Prêmios Nobel da Medicina e Fisiologia ter sido concedida a cientistas que usaram animais em suas pesquisas”.

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“Sem a utilização dos macacos não teria sido possível a Nicolelis alcançar os resultados das suas pesquisas inovadoras – de repercussão mundial visando a obter a interação cérebro-máquina, possibilitando a movimentação de paraplégicos, à distância, sem fios, apenas pelo pensamento.”

Em defesa da pesquisa Em defesa das pesquisas utilizando animais, o presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária relata que mais de 50 cientistas importantes da Alemanha e da Suíça reuniram-se em Basel, em novembro de 2010, para divulgar o propósito de suas pesquisas e declarar que “o assunto animal para pesquisa nunca desaparecerá. Esse ponto de vista é compartilhado por cientistas de importantes centros de pesquisa.

Comissão de ética Cada país tem legislação apropriada, associando a criação e a experimentação aos princípios éticos. “Uma das medidas principais relativas à experimentação animal” – lembra o Professor – “é a existência de uma Comissão de Ética na instituição”.


Por: Adeildo

Lopes Cavalcante

Fazenda Santa Maria

O criador de gado holandês, Armando Menge (na foto com o clone), proprietário da Fazenda Santa Maria, em Pouso Alegre (MG), passou a contar, pela primeira vez no Brasil, com um clone da raça Holandesa desenvolvido no país. O clone (bezerra) é uma cópia da melhor matriz do criatório: Menge Spirte Taormina. “Essa fêmea, gerada através da técnica de transferência de embrião, sintetiza tudo o que temos buscado de melhor em uma vaca de leite em termos de produtividade, longevidade e sanidade”, diz Menge, informando que ela é a atual recordista mineira com a lactação de 21.700 kg de leite em 365. Com o clone, desenvolvido pela empresa paulista In Vitro Brasil por solicitação do criador e com registro genealógico na Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, Menge amplia seu programa de seleção genética de animais visando melhorar a qualidade do seu plantel, formado por 710 cabeças.

UFJF

Criador tem primeiro clone da raça Holandesa desenvolvido no Brasil

Universidade Federal de Juiz de Fora desenvolve aparelho contra fraude no leite Um equipamento portátil desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Física da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais, promete baratear e agilizar os testes para detecção de fraudes na produção de leite, como acréscimo de água e outras substâncias. Atualmente, este tipo de teste precisa ser feito em laboratório, demorando até um mês para se obter o resultado. Já o novo aparelho, até então inexistente no Brasil, permite que a avaliação seja feita na hora, ainda no campo. O aparelho, que recebeu o nome de Milk Tech, foi patenteado e deve ser lançado no mercado no decorrer de 1914.

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APTA

Primeiro jumento brasileiro gerado a partir de sêmen congelado A novidade é uma conquista da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) e da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista - UNESP (unidade de Botucatu). “O uso do sêmen congelado de jumentos, apesar dos bons resultados laboratoriais verificados, somente resultou em índices aceitáveis de prenhez quando empregado em éguas, pois as taxas de gestações em jumentas são nulas ou muito baixas”, dizem os pesquisadores José Victor de Oliveira e Anita Schmidek (ambos da APTA) e o professor Frederico Ozanam Papa (da UNESP). O Brasil tem o quarto maior rebanho equídeo do mundo e, segundo os pesquisadores, existe forte demanda no mercado de asininos como reprodutores e doadores de sêmen para uso tanto em jumentas quanto em éguas.

Embrapa desenvolve capim para bovinos, equinos e ovinos Depois de mais de 25 anos de estudos, a Embrapa, empresa oficial que cuida da pesquisa agropecuária no país, desenvolveu, através de seu núcleo de Gado Corte, em Mato Grosso, uma variedade do capim massai, de múltiplo uso. Apesar das pesquisas concentrarem a atenção nas vantagens desse capim para a pecuária de corte, também foi constatada a aceitação da forrageira por equinos e ovinos. Considerada uma das principais conquistas da Embrapa desde que esta entidade foi criada em 1972, o capim massai apresenta uma série de vantagens, destacando-se entre elas a de ser mais resistente ao ataque das cigarrinhas das pastagens, que causam sérios danos a essas fontes de alimentação, provocando redução da oferta de forragem aos animais e, dependendo do grau de infestação, a sua falta. Além disso, possui bom teor de proteína: 12,5% nas folhas e 8,5% nos colmos.

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UFLA

Pesquisadora desenvolve técnica que identifica sexo de aves

Novo alimento para bovinos: silagem de milho reidratado

A pesquisadora Juliana Terra, do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas, em Campinas (SP), desenvolveu uma técnica capaz de identificar, em poucos minutos, o sexo de aves com características físicas insuficientes para evidenciar se são fêmeas ou machos. O método, inédito, utiliza sinais de raios X da pelugem dos animais para diferenciar os sexos. Ao contrário dos procedimentos tradicionais, a técnica não gera estresse ao animal e é de baixo custo. A técnica foi testada, com sucesso, em pintinhos recém-nascidos. A diferenciação preliminar do sexo na avicultura é fundamental para a criação e comercialização destes animais. Resultados mostraram 100% de acerto na classificação, que pode ser obtida em 5 minutos. Em aves silvestres, a sexagem, como é chamada esta distinção, é importante para o sucesso reprodutivo de espécies em extinção.

Silo-tubo: nova forma de armazenar silagem

Sinueto

Uma equipe de pesquisadores do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras - UFLA (Lavras - MG), chefiada pelo veterinário Marcos Neves Pereira, testou e aprovou um novo alimento para bovinos denominado Silagem de Milho Reidratado. O produto consiste basicamente na hidratação do grão maduro moído; em seguida, ele é colocado em silo, onde, depois de passar por um processo de fermentação, fica armazenado para posterior fornecimento aos animais. O uso desta técnica pode beneficiar criadores que não possuem equipamentos para a colheita do milho no ponto de maturação e aqueles que não possuem área suficiente para plantar milho para a colheita de grãos.

A Sinueto Genética e Tecnologia, sediada em Curitiba (PR), desenvolveu e lançou no mercado uma linha completa de máquinas silos-tubos para armazenagem de silagem. O sistema é composto por uma máquina que embute a silagem dentro de plástico flexível com diâmetro de 2m a 3m X 60m a 75m de comprimento. Um dos destaques da nova tecnologia é um modelo com tubo de 2m de diâmetro e 60m de comprimento. Ele tem capacidade de ensilar duas vezes mais que os equipamentos conhecidos e elimina perdas de 15 a 25% que ocorrem nos processos convencionais de ensilagem. Animal Business-Brasil_49


Jairo Backes

Leitões do MS-115, o suíno light da Embrapa

A união faz

a diferença 50_Animal Business-Brasil


Há 15 anos a agroindústria se uniu em torno de uma Associação e ajudou a mudar o cenário do mercado da carne suína brasileira

E

ntre os anos 60 e 70 a suinocultura começou a se expandir no Brasil. A necessidade de desenvolver tecnologias para o setor levou à criação, em junho de 1975, em Concórdia (SC), do Centro Nacional de Pesquisa de Suínos da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). A partir de então, todos os problemas relacionados a melhoramento genético, manejo, sanidade e nutrição foram trabalhados e resultaram no sucesso dessa cadeia produtiva, destacando-se a excelência das agroindústrias, a capacidade dos produtores e o apoio do poder público. Dos laboratórios da Embrapa Suínos e Aves surgiram conhecimentos que mudaram a trajetória da atividade. Um dos pontos culminantes da pesquisa foi a criação do suíno light MS-115, também conhecido popularmente como “porco tipo carne”, com baixo teor de gordura, que veio atender as exigências de um mercado consumidor cada vez mais exigente, que clama por produtos mais saudáveis. Dentro da porteira o produtor respondeu rapidamente às recomendações da pesquisa, inclusive no que diz respeito ao gerenciamento, uma vez que ganhou força no país a criação integrada, com a agroindústria garantindo a compra da produção e transmitindo orientações técnicas, inclusive como administrar a propriedade. Porém, além do forte mercado interno, a suinocultura brasileira precisava conquistar espaço no mercado externo. Em 1988, para se ter uma ideia, o Brasil exportava basicamente carcaça. Diante desse quadro e do potencial do mercado que podia se abrir para o Brasil, há 15 anos, a agroindústria se uniu e criou a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), que ajudou a mudar radicalmente este quadro.

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Cenário Hoje, a entidade comemora as grandes conquistas. A partir da sua criação, o Brasil passou a ocupar o quarto posto no rancking mundial dos exportadores de carne suína, ficando atrás dos Estados Unidos, União Europeia (27 países) e Canadá. O presidente da entidade, Rui Eduardo Saldanha Vargas, lembra que em 1988, quando a Abipecs foi criada, 95% das exportações brasileiras eram concentradas na Argentina, em Hong Kong e no Uruguai. “Hoje, os 10 principais destinos para a carne suína do Brasil, entre eles Rússia, Hong Kong, Ucrânia, Angola, Cingapura e Uruguai, representam 81% das nossas exportações. Até agosto de 2013, já exportamos para 69 países”, diz Vargas. Durante esses anos houve, também, diversificação dos cortes suínos. De exportador de carcaça, atualmente, as exportações abrangem cortes variados e miúdos, categorias que respondem por 85% das exportações. De acordo com a Abipecs, em 1988, o Brasil exportou 81.565 toneladas de carne suína; em 2012, foram embarcadas 581.477 toneladas – um aumento superior a 600%. Agora, até agosto de 2013, as exportações totalizaram 343.293 toneladas. Com relação à produção, em 1988 totalizavam 2,49 milhões de toneladas e, em 2012, foram produzidas 3,89 milhões de toneladas de carne suína, um aumento de 40,2%. Animal Business-Brasil_51


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Armazenagem de produtos embutidos

Para o presidente da Abipecs, não tem sido fácil para o Brasil manter-se na quarta posição como exportador, isso porque a indústria de carne suína perdeu competitividade nos últimos anos. Segundo ele, “a participação da mão de obra no custo da produção está muito semelhante à dos países concorrentes. Os custos de logística são bem mais altos que o dos Estados Unidos, nosso principal concorrente e, também, o preço de produzir no campo se aproxima ao do norte-americano. Os custos com despesas portuárias e de frete são mais elevados e retiram boa parte da competitividade brasileira”. Além disso,destaca, as barreiras sanitárias são obstáculos chave para as exportações de carne suína.

Meta difícil De acordo com Rui Vargas, “a meta de exportação de 600 mil toneladas, em 2013, deve ficar mais difícil de ser atingida, considerando-se que a estimativa de exportação mensal, nos próxi52_Animal Business-Brasil

mos três meses, é em média de 50 mil t”. Em setembro, as exportações caíram em volume e receita, na comparação com setembro de 2012. O Brasil exportou 45.996 toneladas e contabilizou receita de US$ 123,65 milhões, o que representou retração de 23,90% em volume e 21,56% em valor. O preço médio, porém, aumentou 3,07% (US$ 2.688 a tonelada). “Os números repercutiram o cenário do momento em relação à redução dos abates, reação dos preços, consumo interno, e dificuldades de logística nos portos durante uma semana, em setembro. Esse conjunto de fatores determinou a queda das exportações. Não devemos desconsiderar que setembro também foi o mês de negociações de preços e volumes para os principais mercados do Brasil, especialmente para as vendas do final do ano”, explica . Tanto que as previsões da Abipecs para o mês de outubro (último levantamento da entidade durante a realização dessa matéria) se con-


firmaram: as exportações somaram 52 mil toneladas. Mesmo que a média de vendas externas, nos últimos três meses do ano, se mantenha em torno de 50 mil t, 2013 não deverá terminar com um resultado acima de 540 mil.

Ano de 2013 “O setor avalia positivamente o resultado obtido com as vendas externas no acumulado do ano, levando-se em conta que no primeiro semestre houve o fechamento do mercado da Ucrânia por cerca de três meses – de março a maio. Os estoques remanescentes foram exportados em junho e julho. O mercado externo permanece comprador, mas a menor oferta interna tem impedido o fechamento de volumes maiores. As exportações, em outubro, sinalizaram certa recuperação do que se deixou de vender no primeiro semestre. Além disso, o preço médio subiu 1,83% (US$ 2.744 a tonelada), em relação a outubro de 2012 (US$ 2.695)”, diz Rui Eduardo Saldanha Vargas. De janeiro a outubro deste ano, o Brasil exportou 441.311 t, queda de 9,93% ante o mesmo período de 2012 (489.972 t), com uma receita de US$ 1,16 bilhão, inferior em 7,86% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado (US$ 1,25 bilhão). Na retração de 15,74% das exportações de outubro, frente ao mesmo mês de 2012, pesou a queda de 54% nos embarques para a Ucrânia, um dos principais mercados para a carne suína brasileira. O Brasil vendeu para aquele país apenas 7.859 t, em relação a 17.083 t em outubro de 2012. Os principais destinos das vendas, em outubro, foram Rússia, com 11.659 t, crescimento de 7,76% na comparação com o mesmo mês de 2012; Hong Kong, com 11.096 t, aumento de 0,98%; Ucrânia, com 7.859 t, queda de 54%; Angola, com 5.332, retração de 4,58% na compara-

ção com outubro do ano passado; e Venezuela, com 3.506 t, encolhimento de 31,96%. O preço médio, no acumulado do ano, aumentou 2,31%, passando de US$ 2.560 para US$ 2.619. Os principais estados exportadores são Santa Catarina (146.497 t); Rio Grande do Sul (141.106 t); Goiás (59.232 t); Minas Gerais (40.092 t); Paraná (35.367 t) e Mato Grosso do Sul (12.252 t).

Consumo interno Segundo a Abipecs, o consumo interno de carne suína permaneceu estável entre 14 e 15 kg per capita nos últimos 15 anos. Em 1988, o consumo aparente foi estimado em 14,5 kg por habitante. Em 2012, a estimativa foi de 14,9 kg por habitante. O presidente da entidade explica que, em alguns momentos, o consumo interno foi maior, acompanhando o ciclo de crescimento da economia brasileira e de preços altos das carnes concorrentes. Em outros momentos, o consumo foi menor porque as exportações estiveram mais atrativas do que as vendas do mercado interno. Vargas acentuou que um dos principais desafios da Abipecs será conseguir que Coreia do Sul, México e União Europeia comprem a carne suína brasileira e que as negociações já estão em andamento. Destacou, ainda, que nos próximos 15 anos, com vistas à conquista e novos e fortalecimento dos atuais mercados, a principal missão da entidade será liderar a transformação política e estratégica da cadeia produtiva, tornando-a referência mundial. Instalações modernas de suínos

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Segundo a ABIPECS, o consumo interno de carne suína permaneceu estável entre 14 e 15 kg/hab/ano nos últimos 15 anos

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Divulgação Beckhauser

Investimento em manejo racional

vira lucro direto em toda a cadeia da carne Por: Renato

dos Santos, Médico veterinário e responsável pela área de Manejo Racional da Beckhauser

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O manejo correto amansa os animais

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Profissionais da pecuária de corte e pesquisadores da área descobriram que o bem-estar de animais de produção é economicamente interessante e viável, mesmo que envolva custos iniciais para mudar o manejo em toda a cadeia da carne.

em-estar não é sentimentalismo ou dó do animal. É um fator econômico que deve ser agregado à empresa rural. O pecuarista precisa entender que a implantação das boas práticas de manejo é sempre acompanhada de adequação nas instalações, especialmente no curral. Também é vital melhorar as condições de trabalho da fazenda, para que o funcionário seja estimulado a colaborar com a produção, seja diminuindo as perdas ou melhorando o rendimento de carcaça. Segundo um estudo realizado pelo Etco (Grupo de Estudos em Etologia e Ecologia Animal, da Universidade Estadual de São Paulo, em Jaboticabal - SP), coordenado pelo professor Mateus Paranhos, animais contundidos – cerca de 40% do que chega ao frigorífico – representam um prejuízo de, no mínimo, 12 milhões de quilos de carne em um ano, ao Brasil. As lesões são provocadas por pancadas, estresse (rompimento dos vasos sanguíneos), choque elétrico, mistura de lotes, entre outros. Já os abscessos, também desclassificados, ocorrem em virtude de vacinas mal aplicadas (higiene, local aplicado e manejo inadequado). Além disso, o estresse provocado pelo manejo pré-abate aumenta o pH da carne, tornando-a mais escura e dura. Segundo o estudo, cerca de 40% das lesões ocorrem nos pastos e currais. Em currais tradicionais, é praticamente inútil o esforço para evitar o estresse, especialmente no embarque, o que tem reflexos até os corredores do frigorífico. É um problema que provoca prejuízos em toda a cadeia. Por isso, a responsabilidade da fazenda é ainda maior que os 40%, já que o problema só pode ser resolvido quando os animais chegam ao frigorífico com baixa reatividade, em função de um manejo adequado na fazenda. Esse trabalho reduz drasticamente contusões, fibroses, abscessos vacinais, estresse, entre outros também no transporte e no manejo pré-abate.

Treinamento e faturamento Para resolver a questão dentro da fazenda, os funcionários devem ser convocados a trabalhar de forma menos agressiva, calma, respeitando os animais. A participação do proprietário no processo muitas vezes ainda está aquém do necessário, visto que são poucas as fazendas que oferecem benefícios aos tratadores pela melhoAnimal Business-Brasil_55


ria do produto carne. Por vezes, até evitam que tenham acesso a informações que lhes permitam entender a mudança. Pesquisa da consultoria Flor de Leles, de Goiás, realizada em uma fazenda com 5.000 animais durante um ano, comprovou que treinamento e manejo adequado geram resultado. Após a mão de obra ser treinada para o manejo racional, os animais tiveram ganho extra médio de uma arroba no peso. O rendimento de carcaça também aumentou, passando de 53,4% para 56%. Segundo dados da consultoria, no final de um ano(2006), a fazenda teve um ganho de R$ 280 mil, resultado do manejo adequado realizado com os bovinos. As pesquisas comprovam que rebanho bem cuidado paga mais. Ou melhor: reses maltratadas fazem o produtor perder dinheiro. O primeiro cálculo é simples e objetivo. Se a estrutura da fazenda for mal feita, o gado pode sofrer contusões, pancadas, escoriações, entre

outros. A lesão faz o animal alimentar-se mal e emagrecer, ou engordar menos do que a maioria. O criador, então, se vê obrigado a reformar as instalações, e no fim acaba gastando mais do que se tivesse investido de modo correto anteriormente. Mas é preciso que a mão de obra esteja treinada para utilizar a estrutura do curral com o mínimo de estresse possível para o animal. Apesar das possíveis falhas no curral, o manejo é o grande responsável pelo prejuízo oriundo do descarte de carne no frigorífico. Não é raro encontrar fazendas com infraestrutura excelente, mas cujos resultados não são tão bons quanto o esperado. As práticas errôneas na lida com o gado acabam provocando mais lesões do que o próprio curral.

Grito e choque dão prejuízo O uso indiscriminado de gritos, choques e laços, além de pancadas, bastões e até pedras só resulta em ferimentos que, mais tarde, serão

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Manuseio e instalações adequadas reduzem a porcentagem de descarte

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É comum a indústria pagar menos pela carcaça por causa dos descartes decorrentes do manejo incorreto

descartados no frigorífico. É comum a indústria pagar menos pela carcaça justamente por causa dos descartes decorrentes do manejo incorreto. A lida convencional, presente ainda em boa parte das fazendas, é um dos fatores que mais prejudicam a qualidade final da carcaça. Em contrapartida, é o ponto mais barato de se resolver, afinal, mudança de atitude não custa nada. No entanto, o treinamento precisa ser constante para que antigos erros não voltem à tona. Depoimentos de pecuaristas que investiram em treinamento da mão de obra para a implantação do manejo racional mostram os reflexos reais da mudança de atitude no rendimento da atividade. Recorrer a treinamentos e conhecer fazendas que aplicam o bem-estar animal é gratificante a quem planeja deixar de gastar mais e receber menos em virtude dos métodos aplicados em sua fazenda. Uma visita a fazendas que já usam as boas práticas pode mostrar ao vaqueiro como o gado responde sem o uso de violência.

Ganhando dos dois lados Com manejo adequado, o produtor pode ganhar dos dois lados. Da porteira para dentro, consegue produzir com mais eficiência, diminuir gastos, engordar o gado mais rapidamente e produzir uma carcaça com rendimento melhor, além de melhorar a qualidade do trabalho de quem está na lida. Da porteira para fora, pode negociar melhores condições com o frigorífico, já que está entregando um produto com qualidade acima da média. Os conceitos de bem-estar animal chegam a pesquisadores, universitários, técnicos e pecuaristas com muita facilidade. Mas, como não são eles que trabalham o gado no dia a dia, esse conhecimento pode não passar da teoria. É da mão de obra que dependem os resultados, e é por isso que sua capacitação não pode ser falha.

Treinamento de peões

Profissionalização dá lucro Medidas que levam à profissionalização para dentro da fazenda produzem resultado. O que pode inicialmente ser visto como gasto, na verdade é investimento que permitirá que o produtor tenha um ganho extra – e muitas vezes, esse ganho vem em um curto espaço de tempo, apenas com a adoção de medidas simples, mas eficazes, como o uso do tronco de contenção para vacinação. Ou o uso de uma bandeirola para manejar o gado, sem a necessidade de ferrão ou outros tipos de agressão. Os produtores mais modernos estão descobrindo as vantagens que as boas práticas produzem para o negócio da carne. O tempo de deixar o gado crescendo sozinho no pasto para, quatro anos depois, colocá-lo à força no caminhão já ficou para trás. Fazendas terminam o rebanho em menor tempo apenas com a adoção do manejo racional e com menos mão de obra, já que um rebanho bem manejado exige menos trabalho. O mercado oferece ferramentas de gestão e manejo que ajudam o pecuarista a melhorar seu negócio. Entretanto, para que essas ferramentas deem o resultado esperado, é necessário que aqueles que estão na lida direta – ou seja, os vaqueiros – saibam usá-las. Sem treinar seu pessoal, as aquisições feitas para melhorar o negócio acabam tornando-se gastos, e não investimentos. Animal Business-Brasil_57


Por: Paulo

Roque

ABIPECS avalia mercado externo

Dorper conquista os paulistas As raças Dorper e White Dorper conquistam, cada vez mais, os caprinocultores da Região Sudeste. Isso foi comprovado durante a 7ª Exposição Nacional da Raça Dorper, que aconteceu em Jaguariúna, no interior de São Paulo, quando centenas de novos criadores puderam constatar a rusticidade e capacidade de imprimirem qualidade de carne em cruzamentos com outras raças. Um dos destaques foi a Buriá Dorper, propriedade dos criadores Luiz e Eduardo Teixeira, na região de Senhor do Bonfim, que fez um trabalho considerado exemplar, selecionando e disseminando essa genética há 14 anos. Mesmos sem dados oficiais, acredita-se que o segundo maior plantel da raça Dorper e White Dorper do Brasil está na Bahia. O sucesso da raça pode ser explicado pelo mercado - O consumo de carne ovina e caprina é um hábito bastante comum nas regiões Nordeste e Sul do País. No Sudeste, especialmente em São Paulo, é mais elitizado e a preferência é por animais abatidos ainda jovens. Os cordeiros produzidos a partir de reprodutores das raças Dorper e White Dorper são abatidos entre 120 e 150 dias pesando de 35 a 40 quilos. Nessas idades, a carne não sofre alterações de sabor, ocasionadas por descargas de hormônios quando o animal atinge a maturidade sexual. 58_Animal Business-Brasil

Com relação à carne suína, as previsões da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) se confirmaram: em outubro, as exportações somaram 52 mil toneladas. A entidade prevê que, mesmo que a média de vendas externas, nos últimos três meses do ano, se mantenha em torno de 50 mil t, 2013 não deverá terminar com um resultado acima de 540 mil t. Os principais destinos das vendas, em outubro, foram Rússia, com 11.659 t, crescimento de 7,76% na comparação com o mesmo mês de 2012; Hong Kong, com 11.096 t, aumento de 0,98%; Ucrânia, com 7.859 t, queda de 54%; Angola, com 5.332, retração de 4,58% na comparação com outubro do ano passado; e Venezuela, com 3.506 t, encolhimento de 31,96%. Rui Eduardo Saldanha Vargas, presidente da Abipecs, explica que o mercado externo permanece comprador, mas a menor oferta interna tem impedido o fechamento de volumes maiores. De janeiro a outubro, o Brasil exportou 441.311 t, queda de 9,93% ante o mesmo período de 2012 (489.972 t), com uma receita de US$ 1,16 bilhão, inferior em 7,86% na comparação com o mesmo intervalo do ano passado (US$ 1,25 bilhão).


China inspeciona frigoríficos para por fim ao embargo à carne Missão da Administração de Inspeção de Qualidade e Quarentena da China (AQSIQ) esteve no Brasil, em dezembro, para inspecionar as instalações de frigoríficos. O objetivo da visita é avaliar a sanidade do rebanho brasileiro, e é resultado da iniciativa da presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, que liderou, em novembro, comitiva brasileira àquele país asiático. O embargo chinês à carne bovina fornecida pelo Brasil foi imposto em função do registro de um caso do mal da vaca louca, descoberto em 2010, no Paraná. Também há interesse na ampliação do número de fornecedores. Enquanto o Brasil tem nove frigoríficos habilitados a vender carne bovina para a China continental, a Argentina tem 18 e o Uruguai, 22. O Brasil conseguiu, também, a liberação para que cinco plantas de frango comecem a exportar e que mais oito plantas devem ser inspecionadas e habilitadas pelo governo chinês em breve. O consumo médio per capita de carne de frango na China é de 9,7 quilos.

Brasil quer abertura de mercado com a Malásia Uma missão veterinária da Malásia veio ao Brasil para conhecer estabelecimentos que utilizam o método de abate hallal. Atualmente, 15 frigoríficos de carne bovina estão habilitados para exportar para outros países muçulmanos. A missão visitou quatro estabelecimentos em Rondônia, onde visitaram um frigorífico da empresa Minerva Indústria e Comércio de Alimentos, a Marfring Frigoríficos Brasil e duas unidades da JBS. A inspeção de estabelecimentos de carne bovina em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Goiás, Minas Gerais, São Paulo e no Pará também fizeram parte da programação. O abate hallal cumpre regras e normas de qualidade estabelecidas pelo Serviço de Inspeção Islâmica, de acordo com as leis islâmicas. No Brasil, são produzidas 8,75 mil toneladas de carne bovina por dia obedecendo ao método. A Malásia tem capacidade de adquirir 20% dessa produção.

Carne de frango: Brasil quer conquistar a Ásia O gerente de Relações com o Mercado da União Brasileira de Avicultura (UBABEF), Adriano Zerbini, iniciou uma missão com foco na abertura de mercados asiáticos para exportações de carne de frango e ovos. Juntamente com o diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), Fernando Sampaio, participou de uma série de encontros em Singapura, importante importador de carne de aves. Em seguida, foi a Pequim, juntar-se à comitiva da CNA, onde ajudou a agilizar a publicação da habilitação de novas plantas avícolas do Brasil para exportações para aquele mercado. Encerrou a viagem em Yangon, em Mianmar, para buscar a abertura deste mercado à carne de frango brasileira. Animal Business-Brasil_59


Frango atinge volume histórico

Projeto capixaba é pioneiro em criação de peixes no mar O Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) vai realizar o primeiro cultivo experimental de peixes das espécies Beijupirás e Garoupas em ambiente marinho. Duas gaiolas circulares já foram instaladas no mar, na Praia de Meaípe, em Guarapari, litoral sul do Espírito Santo. O projeto será realizado durante 24 meses, mas a busca pelo desenvolvimento e aprimoramento das técnicas de produção de peixes no mar será uma prática constante nos próximos anos, gerando conhecimentos e resultados acerca deste cultivo experimental que futuramente ajudarão projetos com fins comerciais. O projeto conta com a participação de diversos parceiros como: Incaper, Instituto Peroá, Associação de Pescadores de Meaípe, Ifes – Piúma, Samarco Mineração S.A., Instituto de Pesca de São Paulo, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Prefeitura Municipal de Guarapari, FACTO, Pisceotec, Laboratório Kerber, Josceli da APESCAL e MPA, além dos pescadores locais.

Levantamentos feitos pela União Brasileira de Avicultura (UBABEF) mostram que as exportações brasileiras de carne de frango atingiram 355 mil toneladas em outubro, resultado recorde histórico para o mês e 3,5% maior em relação ao mesmo período de 2012. Em receita, houve queda de 4,9%, com US$ 682,44 milhões. No acumulado do ano, os embarques de carne de frango totalizaram 3,22 milhões de toneladas, resultado 1,4% menor em relação aos dez primeiros meses do ano passado. Em receita, houve aumento de 5,43%, com US$ 6,672 bilhões. Segundo o presidente executivo da UBABEF, Francisco Turra, as exportações seguem as previsões feitas pela entidade no fim do primeiro semestre, de recuperação dos níveis de volume exportado na comparação com 2012.

Agronegócio exporta US$ 86,42 bi em 2013 De acordo com a Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SRI/Mapa), as exportações do agronegócio brasileiro de janeiro a outubro deste ano somaram US$ 86,42 bilhões, crescimento de 6,9% em relação aos US$ 80,88 bilhões obtidos no mesmo período do ano anterior. As importações alcançaram US$ 14,29 bilhões e o saldo da balança comercial foi de US$ 72,13 bilhões. As carnes apresentaram o segundo melhor resultado em vendas, alcançando US$ 13,96 bilhões, ficando atrás somente do complexo soja, com US$ 29,19 bilhões, isto é, 18,4% superior à cifra alcançada em 2012. 60_Animal Business-Brasil


Recorde na exportação de carne bovina Para o presidente da ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne), Antônio Jorge Camardelli, o ano de 2013 foi excepcional para a agropecuária nacional e consolidou o papel do Brasil na liderança no mercado exportador de carne bovina no mundo. De julho a agosto de 2013, os frigoríficos brasileiros voltaram a bater recorde tanto de faturamento quanto de volume de carne bovina, ao negociar um total de US$ 659,5 mil, equivalente a 147,8 mil toneladas do produto. No acumulado entre janeiro e outubro, foi registrado crescimento de 18,8% no volume e 12,5% no faturamento. No período, foram negociadas 1,2 milhão de toneladas do produto, com um faturamento de US$ 5,449 bilhões. Os números têm sido resultado do amplo crescimento de mercados importadores como Hong Kong (83,4%), Venezuela (90,7%), Argélia (48,5%) e Estados Unidos (24%). A carne in natura continua sendo a categoria mais desejada pelos importadores, totalizando faturamento de US$ 4,3 bilhões e volume exportado de 968,7 mil toneladas (jan-out/2013).

Guia avalia melhores árvores para pastagens A Embrapa lançou o Guia Arbopasto: manual de identificação e seleção de espécies arbóreas para sistemas silvipastoris. O guia descreve 51 espécies diferentes que ocorrem naturalmente em pastagens e traz duas modalidades de classificação: as que possuem melhores características para fornecimento de serviços, tais como qualidade da sombra, dos frutos, de fornecimento de nitrogênio e as melhores árvores para produção de madeira. No total, foram avaliadas 15 características de cada espécie. Foram catalogadas árvores de pastagens no Acre e Rondônia, mas a maioria das espécies ocorre, também, nos outros biomas brasileiros. Segundo um dos editores técnicos do Guia, o pesquisador da Embrapa Acre, Carlos Maurício de Andrade, das espécies avaliadas, 100% estão presentes na região Norte, 76% no centro oeste, 53% no nordeste, 31% no sudeste e 20% no sul do Brasil. Trata-se de um guia de abrangência nacional e internacional, porque existem paisagens parecidas nos países que fazem fronteira com o Brasil, como Peru, Bolívia, Colômbia e Equador.

MT no combate sobre à morte súbita de pastagens Maior produtor de grãos do país, Mato Grosso também é um dos principais Estados produtores de carne bovina. Preocupada com a produtividade dos seus rebanhos, a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), através da sua Comissão de Pecuária de Corte, em parceria com os Sindicatos Rurais e a DowAgroSciences, realiza, desde o início do ano uma série de palestras sobre Morte Súbita de Pastagens. Durante o mês de novembro, pecuaristas de oito municípios da região norte do Estado - Carlinda, Paranaíta, Nova Bandeirantes, Nova Monte Verde, Apiacás, Cotriguaçu, Juruena e Castanheira – receberam a orientação de técnicos e pesquisadores da entidade. A morte súbita de pastagem, também conhecida como Síndrome da Morte do Braquiarão, é a consequência de diversos fatores que durante muito tempo acarretam na perda de pastagens. Diante do avanço dessa síndrome em grandes áreas, ela está deixando o pecuarista com menos pastos disponíveis para alimentação do seu rebanho.

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Melhor nível de informação é visto como a chave para

sustentar a indústria de carne bovina da Austrália Por: Adam

Harper

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Organização para Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth

C

ientistas agrícolas da Austrália e especialistas de TI estão testando novas tecnologias para ajudar os criadores de gado e outros pecuaristas a entenderem melhor e gerenciar suas grandes fazendas com apenas o clique de um mouse ou o toque de um botão no seu telefone. A tecnologia é considerada vital para o futuro da agricultura na Austrália - especialmente para os criadores de gado, que estão constantemente procurando maneiras de melhorarem a produtividade e a rentabilidade, após uma década de preços estáticos e aumentos significativos nos custos de produção. A Austrália é um país enorme, apenas atrás do Brasil em termos de tamanho, mas tem uma população pequena de 23 milhões de pessoas (equivalente a pouco mais de 10 por cento da população do Brasil), e o problema de escassez de água é uma preocupação constante na maior parte do país. No entanto, em mais da metade de sua massa territorial (61% ou mais de 417 milhões de hectares) são cultivadas lavouras, pastagens ou florestas. Fazendeiros australianos produzem 93 por cento do abastecimento alimentar do país e 60 por cento da exportação nacional. Como no Brasil, o setor agrícola australiano é um elemento-chave na economia do país, com as exportações agrícolas superiores a 32.000 milhões de dólares no ano passado. Portanto, é só um pequeno número de agricultores na Austrália que controla grandes extensões de terra, que contribui para o abastecimento alimentar australiano e enriquece o país. Eles são os gerentes vitais do ambiente.

A energia solar carrega o equipamento transmissor de informações Animal Business-Brasil_63


Organização para Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth

Gado com o colar sem fio

Este é certamente o caso quando se trata da produção de gado. Todos os dias, pecuaristas ao longo do dia, do nascer ao pôr do sol gastam muito de seu tempo rastreando e observando o gado e tomando decisões com base no que eles viram com os próprios olhos. Será que os animais precisam ser movidos para novas pastagens, quais são os níveis de armazenamento de água, como as vacas ganham peso, será que o gado está pronto para o mercado e será que está em boas condições? Embora possa parecer bastante simples, o próprio ato de observar o rebanho pode ser uma tarefa dispendiosa e difícil em várias partes da Austrália. Stephen Andersen, por exemplo, é o gerente da Estação de pesquisa de carne ‘Spyglass’, do Departamento de Agricultura, Pesca e Silvicultura de Queensland (QDAFF) em Charters Towers. A estação tem um pouco menos de 40 mil hectares (100.000 acres), o que é bastante espaço para que as 3.500 cabeças de gado possam se

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espalhar. Computar, por alto, quantos destes animais estão no local nem sempre é tão simples quanto parece. Muitas vezes, Stephen usa um helicóptero para localizar, monitorar, avaliar e reunir o gado. Isto custa mais de US$ 375 por hora. Outro custo no tempo e nas finanças de Stephen é a verificação dos níveis do tanque de água da estação. Stephen leva uma hora e meia de carro até os principais reservatórios de água da propriedade, que mantêm cinco bebedouros em três pastagens. Isto resulta em uma viagem de quatro horas. São nestas áreas onde pesquisadores australianos acreditam que a ciência e a inovação podem desempenhar um papel crucial na fazenda e nas decisões ambientais. Uma nova pesquisa da agência nacional de ciência da Austrália, a Commonwealth Scientific e Industrial Research Organisation (CSIRO), apoiada pela James Cook University, pelo Departamento de Agricultura, Pescas e Florestas de Queensland (QDAFF) e pela Universidade de Tecnologia de Queensland irá ajudar a mudar a maneira como pecuaristas de todo o país obtêm as informações e tomam decisões, tudo sem sair de casa. A era digital agora oferece “olhos” que não dormem e com a capacidade de realizar tarefas que atualmente demoram para serem realizadas por seres humanos. Na vanguarda dessas tecnologias está o “Homestead Digital ‘- uma plataforma ou painel online, em fase de teste, que permitirá que os pecuaristas tenham em suas mãos um conjunto de informações sobre os seus bens e valores, bem como as previsões meteorológicas e ambientais, os preços das commodities e os mercados nacionais e internacionais. Imagine as possibilidades. Câmeras nos tanques de água poderiam transmitir imagens ao vivo para o painel. Então, ao invés de Stephen passar quatro horas para desempenhar tal tarefa, a operação levaria apenas quatro minutos. Stephen também seria capaz de saber a localização por GPS de cada animal através de coleiras eletrônicas, bem como o seu comportamento, peso atual e condição através do equipamento de varredura localizado nos troncos de


contenção. Ele também seria capaz de acessar aos dados via satélite para determinar a qualidade da alimentação em diferentes pastagens. “A informação é crucial”, diz Stephen, “se você pode tomar decisões de gestão sobre seus animais com base em informações que são atualizadas e precisas, salvando incontáveis ​​horas e enormes despesas...”. Uma das tecnologias em fase de teste é um colar sem fio à base de energia solar para o gado, que reúne informações como a localização atual do animal, bem como o seu comportamento; se o gado está caminhando, comendo, dormindo ou ruminando. “Esse tipo de informação é vital para a tomada de decisões do pecuarista sobre o fornecimento de alimentos, gestão ambiental e preparação para o mercado”, disse Dave Henry, Líder do Projeto CSIRO para o Homestead Digital. “Os diferentes fluxos de informação que estamos agregando – provenientes às vezes de milhares de quilômetros de distância - podem

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Dave Henry, Líder do Projeto CSIRO para o Homestead Digital

Uma das tecnologias em fase de teste é um colar sem fio, com energia solar, que reúne uma série de informações sobre o animal

ajudar a fazer com que fazendas sejam mais produtivas, rentáveis e ambientalmente amigáveis, bem como fornecer suporte relacionado e serviços sociais aos moradores rurais.” Outros instrumentos tecnológicos em fase de teste pelo CSIRO são dispositivos de imagem a laser e equipamentos de imagem estéreos ambos os quais verificam automaticamente se um animal vem por meio dos apartadouros, proporcionando uma imagem tridimensional que pode ser capaz de estimar a condição do animal. Com as marcas auriculares eletrônicas, é possível identificar cada animal individualmente, fornecendo, assim, um conjunto abrangente de informações para os pecuaristas. Se adicionarmos esta informação ao peso do animal, que também é medido, uma vez que ele se aproxima da plataforma para pesagem, o fazendeiro tem um quadro preciso dos componentes-chave de sua carne bovina. Dr. Dave disse: “Os pecuaristas já são capazes de obter algumas dessas informações por conta própria, mas não tão facilmente e não com tanta precisão e, certamente, não a partir de um só local. A verdadeira inovação aqui é a integração desses sistemas inteligentes, que permitem que os pecuaristas tomem decisões rápidas e baseadas em dados fornecidos em tempo real”. Para a indústria de carne bovina australiana sobreviver e prosperar, ela precisa ser sustentável econômica e ambientalmente. Fazendeiros australianos estão se voltando para tecnologias como o “Digital Homestead” para garantir o ganho de peso contínuo do gado por meio do acesso constante desses animais à água limpa e melhor qualidade de pastagens.

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Raul Moreira

Feliz 2015 Antonio Alvarenga (*) 2014 será um ano atípico, pautado pelo “vale tudo” eleitoral. Assistiremos a diversas artimanhas políticas em acirradas disputas pela Presidência da República, governos estaduais, Senado, Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas Estaduais. A presidente Dilma brigará por sua reeleição e pela renovação de sua base partidária com múltiplas alianças, ávidas por recursos públicos. A inflação permanecerá elevada, com indicadores reprimidos por meio dos preços administrados. O ambiente externo deverá se complicar com os prováveis ajustes na política econômica dos Estados Unidos. O dólar e as bolsas flutuarão ao sabor do vai e vem das pesquisas eleitorais. O favoritismo da presidente Dilma será testado nas urnas em meio aos anseios populares por mudanças. Os dois principais candidatos de oposição irão bombardear as políticas e programas do atual governo. Não lhes faltará munição. Há muitos equívocos, principalmente em nossa política econômica. Os artifícios utilizados para mascarar alguns indicadores não conseguem disfarçar a deterioração dos fundamentos de nossa economia. Ao contrário, essas manobras reforçam o descrédito na atual governança econômica do país. O senador Aécio Neves é um político experiente. Tem capacidade para aglutinar pessoas e reunir uma equipe de qualidade. No entanto, sua estrutura partidária é frágil. Terá dificuldade de enfrentar o rolo compressor do Planalto. O governador Eduardo Campos, que sinalizava com uma esperança de renovação, perdeu-se na armadilha do voto fácil, ao aliar-se com a ex-senadora Marina Silva, inimiga declarada do agronegócio. Na eleição passada ela conseguiu catalisar os votos dos descontentes e obter cerca de 20% do eleitorado. Mas trata-se de um fenômeno típico de “voo de galinha”. À primeira vista agrada aos ingênuos e bem intencionados defensores do meio ambiente, mas não há como disfarçar seu despreparo, ideias confusas e ultrapassadas. Seu histórico e atitudes sempre foram contrárias ao agro. Não é crível sua súbita transformação e adesão ao setor. Trata-se de um disfarce - temporário - com o objetivo de angariar os votos dos desavisados. 66_Animal Business-Brasil

Nos últimos anos, o agronegócio ganhou maior importância econômica e política. Temos uma das maiores e mais avançadas agriculturas do planeta. Somos campeões em produtividade e sustentabilidade. Trabalhamos duro e enfrentamos dificuldades de todo tipo para fornecer alimentos para 200 milhões de brasileiros e gerar excedentes exportáveis de U$ 100 bilhões de dólares por ano - recursos indispensáveis ao equilíbrio de nossa balança de pagamentos. Somos responsáveis por um terço dos empregos do país. Nas eleições de 2014, os candidatos precisarão mostrar com objetividade quais serão seus compromissos em relação ao desenvolvimento de nossa agropecuária. Esse é o momento dos produtores rurais se unirem para conquistar maior reconhecimento e um espaço político compatível com sua importância no cenário econômico e social. Dessa forma, poderemos ver atendidas suas legítimas reivindicações. Precisamos renovar e consolidar a bancada ruralista no Congresso, que já demonstrou sua capacidade de mobilização, alcançando significativos resultados em favor do homem do campo. Vamos trabalhar, promover articulações e torcer para atravessar 2014 sem grandes sobressaltos. E que ao final do ano tenhamos novos governantes, livres das obrigações eleitorais de curto prazo que possam brindar-nos com um feliz e próspero 2015. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


O curso de Medicina Veterinária da Universidade Castelo Branco é resultado de uma cursoa de MedicinaNacional Veterinária Universidade Castelo resultado uma parceriaO com Sociedade de da Agricultura (SNA) e umaBranco opção énatural paradequem parceria com ana Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) aos e uma opção parafatores quem quer ingressar área de medicina animal, pois oferece alunos os natural principais quer uma ingressar na área de medicina animal, pois ofereceextensão aos alunos os principais para formação de excelência: estrutura, pesquisa, e ensino de alto fatores nível. para uma formação de excelência: estrutura, pesquisa, extensão e ensino de alto nível. Com uma área de 150.000 m², o campus Penha destaca-se por sua imensa área verde Comem uma área deregiões 150.000 m²,movimentadas o campus Penha por espaço sua imensa área verde preservada uma das mais da destaca-se cidade. Nesse privilegiado, os preservada em uma Veterinária das regiõestêm maisuma movimentadas da cidade. espaço privilegiado, os alunos de Medicina estrutura projetada paraNesse oferecer a melhor qualidade alunos de Medicina Veterináriaminizoológico, têm uma estrutura projetada para oferecer qualidade de ensino, com clínica-escola, unidade animal, horta orgânica ae melhor um projeto otimide ensino, com de clínica-escola, minizoológico, unidade Além animal, orgânica e um projeto otimizado de cultivo plantas medicinais e ornamentais. dehorta segurança, estacionamento prózadoede cultivo de pela plantas medicinais prio fácil acesso Linha Amarela ee ornamentais. pela Avenida Além Brasil.de segurança, estacionamento próprio e fácil acesso pela Linha Amarela e pela Avenida Brasil. CAMPUS PENHA - Av. Brasil, 9.727 - Penha CAMPUS PENHA - Av. Brasil, 9.727 - Penha 3216 7700 | www.castelobranco.br 3216 7700 | www.castelobranco.br Curta /universidadecastelobranco Curta

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