Ano 04 - Número 15 - 2014 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
JERSEY
Uma opção para o produtor de leite ROBERTO RODRIGUES Reforma agrária e cooperativismo
CARNES DE MARCA Mercado aquecido
A AGRICULTURA É A BOLA DA VEZ
Pelé (Embaixador do Time Agro Brasil)
Fruto de uma parceria da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com o Sebrae, o Time Agro Brasil entrou em campo para transformar a agropecuária brasileira em um time campeão. Para isso, o produtor rural está sendo treinado nas mais avançadas tecnologias para modernizar a sua produção, sempre com foco na sustentabilidade. Cursos, palestras, programas de capacitação estão sendo realizados em todo o Brasil para tornar o produtor rural um craque ainda maior na agropecuária, tendo como embaixador o maior craque de todos os campos: Pelé. Time Agro Brasil. Campeão na produção com preservação ambiental.
www.timeagrobrasil.com.br
uma publicação da:
N
ossa matéria de capa defende a tese de que a raça Jersey é uma boa opção para os pequenos produtores de leite, que vêm evoluindo do objetivo de trabalhar pela simples subsistência da família, para produtores comerciais, visando ao lucro. A produtora Maria Rosinete Effting, que assina a matéria, assinala que a indústria do leite vem se transformando ao longo dos anos e que tanto o consumo aumentou muito como também a produção rural evoluiu da subsistência para o empreendedorismo, mesmo entre os pequenos. Ela nos conta que essa raça, originária da ilha de Jersey, do Reino Unido, é a mais antiga raça pura de bovino do mundo e destaca-se por sua docilidade, produtividade, longevidade e precocidade. E é um animal de porte pequeno quando comparado com as outras raças. Roberto Rodrigues, um dos mais destacados ministros da agricultura da história recente do País, nos brinda com um bem fundamentado artigo sobre a reforma agrária, destacando os repetidos erros dos governos que se sucederam no Brasil nos últimos 30 anos e que produziram uma exclusão social muito grande no campo. Ele prova com números que o campo bancou o sucesso do Plano Real. O presidente da Academia Nacional de Agricultura defende um “novo modelo” que não pode prescindir de um protocolo de entendimento entre o órgão responsável pela Reforma Agrária, o INCRA e a OCB-Organização das Cooperativas Brasileiras. Matéria da nossa colaboradora em São Paulo, jornalista Béth Melo, trata das crescentes exigências dos consumidores brasileiros e internacionais relativas às carnes em geral. Ela destaca que “O mercado de carnes especiais vem ampliando os quesitos agregados à marca” e que “Hoje o conceito também incorporou tipos de cortes e embalagens tradicionais, mas que contenham em seus
processos produtivos e industriais os conceitos de qualidade, sustentabilidade, redução de produtos químicos, apelo orgânico e bem-estar animal”. Ronaldo Albuquerque, diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, que produz esta Revista, em seu artigo Objetivos da Política Agrícola, ressalta o fato inconteste de que “O agronegócio tem sido o sustentáculo da balança comercial do País, com um desempenho extraordinário” e que a riqueza gerada por esse setor da economia nacional deverá superar R$ 300 bilhões. Os pesquisadores da Fiocruz, Silvio Valle e Ana Filipecki, nos escreveram a propósito da matéria publicada à página 44 e seguintes da 13ª edição desta Revista, de autoria do Professor Thiago de Mello, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, sob o título “Pesquisa com animais de laboratório, a opinião de quem entende”. Pela importância dos pesquisadores e do conteúdo da carta, decidimos publicá-la na íntegra sob o título “Uso dos animais de laboratório”. “Ser um empresário no Brasil é um ato de heroísmo” afirma o presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de calçados – Abicalçados, Heitor Klein, na matéria “Calçados: uma indústria que resiste”. Ele nos lembra que “Somos castigados por uma carga tributária entre as maiores do mundo e com o pior retorno entre os países de maior tributação... e com uma legislação trabalhista arcaica, infraestrutura logística cara e ineficiente e concorrência desleal com produtos asiáticos, entre outros entraves”. Mas mesmo com todas essas dificuldades os calçados brasileiros – e os de couro têm um nicho especial de mercado – conseguiram conquistar novos clientes em 150 países. Brevemente, Rondônia terá seu terceiro frigorífico especializado no processamento de espécies de peixes nativas.
Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3
Diretoria executiva
Diretoria técnica
Antonio Mello Alvarenga Neto presidente
Francisco José Vilela Santos
Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente
Hélio Meirelles Cardoso
Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente
José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers
Joel Naegele 3º Vice-presidente
Ronaldo de Albuquerque
Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente
Sérgio Gomes Malta
Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto
Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho
COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wenceslão Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979
Academia Nacional de Agricultura
Fundador e Patrono:
Octavio Mello Alvarenga
Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Cavalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso
Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Divulgação Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial
É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000
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Sumário
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A hora e a vez das carnes de marca
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Reforma agrária e cooperativismo O Brasil e as biotecnologias reprodutivas no comércio internacional Jersey, a raça do pequeno produtor
Produção & exportação de Pirarucu
Situação da bovinocultura de corte no Brasil
Top News Sistema inovador na mensuração do consumo de alimentos por bovinos Uso dos animais de laboratório
50 53 56 60 64 66
Objetivos da Política Agrícola
Ciência & Tecnologia Crédito rural: expansão recente, principais desafios e perspectivas Efeito da adição de colostro bovino liofilizado na dieta de pacus e dourados Uma indústria que resiste
Opinião
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A HORA E A VEZ DAS
CARNES DE MARCA Por:
Beth MĂŠlo
Projetos especiais, desenvolvidos no Brasil, tĂŞm como foco o nicho formado por consumidores mais conscientes e mais exigentes 6_Animal Business-Brasil
Rubens Ferreira / Divulgação
Carlos Viacava, criador de Nelore Mocho, dono da Marca CV
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O
mercado de carnes especiais vem ampliando os quesitos agregados à marca. Antigamente, as carnes continham diferenciais, principalmente por serem exóticas, por apresentarem praticidade de consumo e por terem qualidade sensorial diferenciada no sabor, maciez, entre outras. Hoje, o conceito também incorporou tipos de cortes e embalagens que as tradicionais, mas que contenham em seus processos produtivos e industriais os conceitos de qualidade, sustentabilidade, redução de produtos químicos, apelo orgânico e de bem-estar animal.
Nelore natural A marca carne Nelore Natural foi idealizada do criador Carlos Viacava, quando estava à frente da presidência da ACNB (Associação dos Criadores de Nelore do Brasil). De acordo com o criador de Nelore Mocho, dono da Marca CV, até então, só se falava de raças e de cruzamento entre raças. “Na época, não se falava de carne, então, ocorreu-me que o Nelore é uma raça de corte, ou seja, produtora de carne e que, portanto, para promovê-lo, deveríamos falar de carne com os atributos do Nelore, do boi de capim, adaptado ao clima tropical e subtropical que caracteriza a maioria do território brasileiro”, relembra. Essas ideias foram o ponto de partida de um trabalho preparatório, que levou mais de dois anos, com a colaboração do professor Pedro Eduardo de Felício, da Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp, e Eduardo Pedroso, recém-contratado como gerente da ACNB. Após inúmeras visitas a frigoríficos e supermercados, foram preparados os manuais para a orientação da produção e, em setembro de 2001, com a presença do então ministro da Agricultura, Marcus Vinicius Pratini de Moraes, foi realizado o lançamento da Carne Nelore Natural. Atualmente, o Programa de Qualidade Nelore Natural (PQNN), da ACNB, conta com mais de 400 propriedades participantes, e abate, em média, 25.000 animais ao mês. Em 2013, foram comercializadas cerca de mil toneladas de carne Marfrig Nelore Natural, segundo a associação. Viacava considera os requisitos para produzir a carne Nelore Natural o “feijão com arroz” das exigências. “Basta ser um animal Nelore ou anelorado, com 17 a 19 arrobas, idade até 36 meses, criado a pasto, podendo ser terminado em 90 dias de confinamento e com um bom aca8_Animal Business-Brasil
“
O conceito moderno incorporou tipos de cortes e embalagens com exigências de qualidade, sustentabilidade, redução de produtos químicos, apelo orgânico e bem-estar animal
bamento de carcaça”, define. Existem algumas exigências, como a de não ser alimentado com produtos proibidos (cama de frango, por exemplo) e de ser proveniente de propriedades que estejam em conformidade com a legislação trabalhista e ambiental. “O manual explica em detalhes, mas tudo é bastante simples”, avalia.
Angus De acordo com o criador, a marca Nelore Natural abriu espaço para criação de várias marcas de carne no País. “Quem seguiu atrás e hoje nos supera em muito foi a raça Angus, cujo trabalho no Brasil espelhou-se no nosso, com uma defasagem de dois anos, mas nunca abriram mão do Nelore, pois o sucesso da carne Angus no País é de ser proveniente do cruzamento com matrizes Nelore”, pondera. “E por que nos superam?”, questiona, e responde: “Porque exige um esforço permanente de divulgação e também porque o Angus possui 2.000 anos de seleção para corte, produzindo um gado precoce, com carne macia e de bom marmoreio, fruto da valorização desse produto pela instituição, da classificação de `carcaça’, que orienta a comercialização da carne nos Estados Unidos.” Em sua opinião, ainda falta muito para o país tornar-se referência na produção de carne com qualidade. “Temos todos os tipos de carne no Brasil, ótima, boa, média e péssima”, justifica. Segundo Viacava, há muito a evoluir no setor para que aumente a produção de carne com qualidade. “Temos uma enorme concentração de frigoríficos, três deles praticamente dominam as exportações e o mercado interno, além disso, falta visão de longo prazo e um direcionamento para que se incentive, com preço, carne Nelore de boa qualidade”, argumenta.
“Por que Nelore?”, pergunta e arremata: “Porque é a raça mais adequada para se produzir carne no Brasil”, diz. E prossegue: “Hoje, frigoríficos premiam a carne meio sangue Angus, sem levar em conta que, com isso, estão deteriorando o progresso genético do Nelore”, garante Viacava.
midores, em sua grande maioria, não conseguem distinguir um filé mignon de qualidade”, pontua.
Expansão
Na avaliação de Galindo, o sucesso de uma marca de carne envolve uma combinação de fatores. “Uma marca não se sustenta por si só, ela precisa atender às expectativas que quer entregar, por isso, o difícil é estabelecer o padrão, e o que você coloca dentro da embalagem”, salienta.
André Renato Galindo, gerente de Linhas Especiais do Grupo Marfrig, afirma que o mercado consumidor de carne de qualidade está em franca expansão. “O grande nicho é formado por churrascarias que são abastecidas por produtos importados da Argentina e do Uruguai”, afirma e acrescenta: “Agora, as carnes especiais estão chegando ao consumidor, através de programas com todo ciclo produtivo controlado.” Galindo diz que o mercado de carne bovina está passando por muita transformação. “Mas ainda temos um pouco de produto de origem clandestina, o que dificulta a concepção de marca e qualidade do produto. Além disso, os consu-
O Marfrig possui três linhas com posicionamentos diferenciados, como carnes especiais: A Linha Prática (marca Marfrig Nelore Natural), para o dia a dia, com o maior mix de cortes bovinos e em volume. A Premium (marca Montana), comercializada em redes e supermercados de porte maior, que tem como apelo o churrasco. Já a Superpremium (grife Bassi) , também para churrasco, possui conceito de gourmet, de boutiques de carnes. Tem como atrativo cortes em pequenas porções e atender a uma camada de famílias menores e mais exigente. “Também temos a carne relacionada com a raça, Marfrig Angus, com o mesmo nível da Bassi”, compara.
Divulgação
Bifes suculentos e macios, de cortes especiais, só podem ser produzidos com boa tecnologia de dentro e de fora da porteira da fazenda
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Divulgação/Marfrig
Gado Angus
O executivo afirma que os requisitos em sanidade, qualidade e segurança alimentar são iguais para todas as marcas, mas os posicionamentos (maciez e suculência) são diferentes. “De cada 100 animais abatidos (novilho precoce, bem jovem, de cruzamento industrial), obtenho 10 com o posicionamento Bassi, por isso, não há grandes volumes”, exemplifica e anuncia uma novidade: a ampliação do mix de produtos dessa linha em cerca de 90 dias e entrada em outros Estados, além de São Paulo.
Consolidação Com 11 de existência, o Programa Carne Angus Certificada se consolidou como referência no País em certificação de carcaças. Conta com nove parceiros (JBS, Marfrig, VPJ, Frigol, Frigorífico Silva, CooperAliança, Cotripal, Frigorífico da Gruta e Verdi) que abatem animais da raça em 20 plantas industriais distribuídas em sete Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso). No ano passado foram abatidas mais de 250 mil cabeças, crescimento de 20% em relação a 2012. Mais que fomentar o uso da genética Angus em todo o País o grande feito do Programa Angus foi estabelecer um padrão de remuneração ao cria10_Animal Business-Brasil
dor baseado na qualidade do produto entregue no frigorífico, de acordo com o que afirma Fábio Schuller Medeiros, gerente nacional do programa. “Entre as parcerias mais recentes, merece destaque a firmada com o frigorífico Verdi, que marcou a entrada no restrito mercado de Santa Catarina”, informa. “Para este ano, nosso compromisso é chegar a novos mercados, como o de Minas Gerais”, antecipa. Ele informa que o programa também tem trabalhado com os canais de distribuição da carne produzida pelos frigoríficos parceiros. “Contamos com butiques que trabalham 100% com carne Angus e estamos investindo no credenciamento de restaurantes, tendência nos EUA e na Europa. Já contamos com o Fazenda Barba Negra, em Porto Alegre (RS), e com o Lugano, em Pouso Alegre (MG)”, conta. Na visão de Medeiros, os benefícios de produzir uma carne de marca, além da valorização, é a fidelização do consumidor, que deve estar disposto a consumir produtos premium. “Porém, essa fidelização exige qualidade diferenciada, uniformidade, constância no fornecimento e garantia de origem, características que asseguramos por meio do selo de certificação da Associação Brasileira de Angus”, ilustra.
Mercado “O mercado está muito aquecido e a demanda supera em muito a quantidade de carne premium ofertada”, diz e cita que pesquisas recentes têm demonstrado a forte disposição dos consumidores das classes A e B (mais de 20 milhões de pessoas) em consumir produtos premium. “Além disso, nos últimos anos, com a estabilização econômica e a melhora da renda, os demais consumidores passaram a demandar esses produtos em ocasiões especiais”, diz.
Padrão e regularidade Na visão de Roberto Barcellos, diretor da Beef & Veal, para produzir e consolidar uma marca de carne é preciso, primeiro, definir qualidade e foco. Por exemplo, tomando como referência os programas para atender churrascos de fim de semana que existem no mercado, ele afirma que o foco é a produção de animal jovem, bem-acabado com padrão racial preestabelecido. “O desafio é transformar essas características em padrão e em regularidade, até porque não tem como pensar em marca se você não conseguir entregar ao cliente uma padronização com regularidade”, analisa. Barcellos afirma que o mercado tem demanda crescente, o que pode ser medido pelo surgimento de boutiques de carne e pelo interesse dos grandes varejistas em produtos diferenciados, com apelo maior para o consumidor. “Hoje,
se abate menos de 2% em programas de carne de qualidade”, mostra o potencial. Para o sucesso da marca, Barcellos afirma que é preciso apresentar um produto bom, oriundo de um animal bem terminado, resultado de cruzamento industrial. Ele considera como marca top do mercado o Bonsmara Beef, coordenada por 10 produtores de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e São Paulo. “Os produtores inseminam a genética Bonsmara nas matrizes e tem um controle na padronização a partir do sêmen, da sanidade e da nutrição. Isso permite padronização na idade do abate, acabamento e marmoreio, garantindo um produto bem homogêneo, que é o que falta nesse mercado”, comenta.
Outras carnes Em sua opinião, outras carnes (aves e suínos) estão em um patamar acima dos projetos de bovinos, até porque precisam desse trabalho diferenciado, com produtos industrializados e temperados, pois não possuem a característica da carne bovina: “Ninguém consegue comer carne de frango e suínos todos os dias, por isso, é preciso lançar novos produtos com valor agregado para atrair o consumidor”, justifica.
Grife Barcellos tem 15 anos de experiência em carnes de marca e, atualmente, trabalha com
Divulgacão/Marfrig
Um bom churrasco - além de um churrasqueiro competente - depende muito da qualidade da carne
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grupos de produtores que querem desenvolver sua “grife”, frigoríficos que querem lançar produtos de marcas, grupos de varejistas que pretendem ter um produto diferenciado. “Trabalho em todos os pontos da cadeia produtiva, ligando quem produz e quem consome”, diz ele que presta consultoria para empresas que produzem marcas de carne como Marfrig, Bonsmara Beef, Guapiara (Guapiara Farm Beef), Jaguaretê (RS), além de 10 lojas do interior de SP, que leva a sua marca, a Beef & Veal.
que deveríamos respeitar os comportamentos e hábitos naturais dos animais no que tange à alimentação e à vida em grupo. Com isto, também nos tornamos a primeira empresa a ser certificada em bem-estar animal no Brasil”, comenta. A produção de frango orgânico segue os mesmos princípios e vem tornando-se referência em produtos seguros e confiáveis em qualidade diferenciada e em garantia por seguir protocolos produtivos que consideram o bem-estar dos animais.
Carne do Pantanal
Frango sem antibiótico A Korin, seguidora da filosofia de Mokiti Okada, desde 1994, trouxe para o mercado o conceito de uma carne especial de frango sem uso de antibióticos, quimioterápicos, anticoccidianos, melhoradores de desempenho de base antibiótica e também isenta dos subprodutos das próprias aves (farinhas de carne, vísceras, sangue e ossos). A produção busca sempre seguir os princípios da natureza. “Sabíamos, desde o início,
Morikawa anuncia, para breve, o lançamento de um projeto que está desenvolvimento há três anos em parceria com a ABPO (ABPO Pantanal Orgânico): a Carne Bovina Sustentável do Pantanal. A linha será composta por cortes livres de antibióticos, ureia e o uso de vermífugos que será feito somente de forma terapêutica. “Pensando no pecuarista pantaneiro, optamos por produzir apenas novilhas precoces, pois os
Marceno Braga
As poedeiras vermelhas botam ovos de casca colorida que valem mais no mercado
12_Animal Business-Brasil
Marketing e Copa Para melhorar o marketing da carne no Brasil, o Marfrig está patrocinando a Copa do Mundo e realizando uma campanha junto ao consumidor que concorre ao ingresso da copa, quem compra carnes dessa marca. “Como não tem volume carne de marca sobrando, estamos investindo muito em mídia focada (promotoras abordando o cliente, o ponto de venda, explicando a marca).”
“
O mercado está muito aquecido e a demanda supera em muito a quantidade de carne premium ofertada Fernanda Silvestre
animais machos têm comércio garantido, mas 50% dos nascimentos são de fêmeas que não conseguem agregar o mesmo valor comercial. Dessa forma, estaremos garantindo a eles uma melhoria da renda com a mesma quantidade de animais sendo criados”, justifica. “Como será um animal jovem e saudável, vamos oferecer ao mercado uma carne muito macia, saborosa e sustentável, uma vez que está sendo produzida na região do pantanal mato-grossense.” “Nosso objetivo junto com a ABPO é mostrar à sociedade brasileira e ao mundo a qualidade da carne verde e sustentável produzida no Pantanal que, em função de sua alimentação ser à base de espécies de vegetais, é mais magra, nutritiva e saborosa”, argumenta e acrescenta que, apesar da enorme área de pastagem que as novilhas têm, a carne é macia e a vida do animal, livre e solta. Na opinião de Morikawa, o sucesso de uma marca de carne pode estar relacionado à região de origem. “Nossa aves são produzidas em Ipeúna, SP, que tem uma tradição de longa data na avicultura. Assim todos os funcionários da empresa, de alguma forma, têm em sua história afinidades, conferindo esmero na realização de suas atividades. O mesmo acontece com o Pantanal na produção das novilhas Korin”, exemplifica. Conforme explica Reginaldo Morikawa, diretor superintendente da Korin Agropecuária, muito mais que praticidade – graças ao avanço dos processos de comunicação e da melhoria de seu acesso promovido pela internet, QR code, TV a cabo e a própria mídia em geral, que hoje é disponível na palma da mão, em qualquer lugar que estiver –, o consumidor está mais atento aos acontecimentos com as empresas, seus produtos, seu engajamento dentro dos conceitos de sustentabilidade, além das ocorrências que envolvem os alimentos provocando a fragilidade da saúde.
A carne de frango pode ser produzida de maneira ecológica
A visão de Carlos Viacava é outra: “Perdemos, aqui, uma ótima oportunidade para divulgar a carne brasileira, o boi de capim, o Nelore Natural, quem sabe possamos acordar antes das Olimpíadas”, observa. Viacava considera que o sucesso de marca de carne depende de uniformidade, qualidade e marketing. “Temos Nelore uniforme, de qualidade, mas falta marketing”, avalia e acrescenta que os desafios para a consolidação de uma marca de carne passam por persistência e trabalho, além de marketing. Para melhorar o marketing, de Roberto Barcellos, diretor da Beef & Veal, diz que é preciso fazer a informações de como a carne foi produzida chegar ao consumidor. “Como o mundo conhece o Brasil como produtor de commodity, a Copa do Mundo é uma ótima oportunidade para mostrar que o País possui e produz carne de alta qualidade, no mesmo nível ou até superior às mais famosas do mundo: Argentina, Uruguai, EUA e Austrália”, ensina. Na avaliação do executivo da Korin, a divulgação da carne brasileira na Copa do Mundo já ocorreu com êxito. “Este evento mundial abriu portas para empresas de alimentos diferenciados, que conseguiu ampliar muito seu leque de fornecimento, principalmente em restaurantes Animal Business-Brasil_13
que incluíram os produtos em seu cardápio”, afirma. “Com certeza a preocupação das delegações e visitantes internacionais com a qualidade dos alimentos é muito grande, por isso as solicitações não param de chegar.” De acordo Morikawa, dados da OMS revelam que os países desenvolvidos, inclusive o Brasil, já consomem mais proteínas animais do que é recomendado, por isso, ele considera que não há necessidade de aumentar as ações publicitárias sobre as carnes no Brasil. “Devemos direcionar nossas estratégias de marketing-mix principalmente no item “P” de Produto, promovendo a melhoria de sua qualidade no que tange a utilização de substâncias químicas, além de implantar de processos cada vez mais sustentáveis e com bem-estar animal”, enfatiza. Divulgação/Marfrig
Porcionado
Divulgação/Marfrig
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Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que os países desenvolvidos já consomem mais proteínas animais do que é recomendado
Carne desossada
“Seriedade, obsessão pela qualidade, e foco no consumidor, entender as características realmente valorizadas pelo consumidor e buscá-las incessantemente, eis a chave de sucesso nesse segmento”, salienta Fábio Schuller Medeiros, do Programa de Carne Angus. Em sua opinião, as demais proteínas não afetam o mercado de produtos premium. “No Brasil, a preferência definida e absoluta é pela carne bovina, o que independe da classe social.” Educar e fidelizar o consumidor têm sido um processo natural na cadeia da carne e de alimentos como um todo. “A própria diferenciação de produtos por características como procedência, segurança, qualidade tem atraído a atenção dos consumidores que muitas vezes buscam mais que alimentos commodity”, comenta Medeiros. Nesse processo, ele vê a certificação como fundamental, pois que garante a credibilidade dessas características anunciadas pela marca. “Não menos importante são o marketing e a propaganda para informar aos consumidores sobre os diferenciais de cada produto.”
Exemplo do Uruguai Medeiros acrescenta que exemplos como o do Uruguai são importantes quando se busca a promoção de um produto com a marca. “Precisamos mostrar aos consumidores a qualidade do produto nacional e o respeito que o processo de produção tem com o meio ambiente, e com a preservação da cultura das diferentes regiões. Esses são os atributos que devem sustentar o marketing da carne no País”, ensina. Ele acrescenta que a Abiec, por meio do Programa Brazillian Beef, tem feito muito sucesso em termos de marketing para promover a qualidade da carne brasileira. “Essa será a bola da vez na promoção da nossa carne para o mercado externo e para os estrangeiros que virão para a Copa e as Olimpíadas.” 14_Animal Business-Brasil
REFORMA AGRÁRIA E COOPERATIVISMO
Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e Presidente da Academia Nacional de Agricultura (SNA)
Embora ideologizado e partidarizado, o tema Reforma Agrária deve ser tratado com respeito e à luz de fatos históricos que o justifiquem.
FGV
Por:
E
rros repetidos por governos que se sucederam no Brasil nos últimos 30 anos produziram uma exclusão social muito grande no campo. Milhares de pequenos produtores rurais no sul, no sudeste e no nordeste, e de grandes e médios no centro-oeste, foram expulsos de suas fazendas por falta de políticas públicas adequadas como as que existem nos países desenvolvidos para manter a renda e a atividade agropecuária ou, pior, por políticas completamente equivocadas que levaram a essa exclusão compulsória. Exemplos mais recentes deste segundo caso foram às consequências trágicas dos Planos de estabilização da economia de 1990 - o Plano Collor, e de 1994 - o Plano Real.
Esbulho contábil No primeiro caso, houve um esbulho contábil contra os produtores rurais, uma vez que o Plano entrou em vigor no dia 15 de março de 1990, entre o plantio da safra de verão do centro-sul e sua colheita: os preços mínimos foram corrigidos por um índice, a BTN, no valor de 41,3% e as dívidas de crédito rural por outro índice, o IPC, no valor de 84,3%. Com isso, o agricultor que no dia 14 de março tinha dormido com uma safra no valor de 120 para colher e uma dívida no valor de 100 junto ao Banco, acordou devendo 184 e com a safra pendente valendo 170! Um roubo sem precedentes, que excluiu da atividade produtiva milhares de pessoas de bem.
O Eng - Agrônomo Roberto Rodrigues já foi ministro da Agricultura
Logo depois veio o Plano Real, e outro esbulho ocorreu: as dívidas dos agricultores foram corrigidas pela famigerada TR, dobrando de valor em um ano, enquanto os preços caiam até 20% no mesmo período, com a estabilização da moeda. Com isso, o campo “bancou” o sucesso do Plano, e os produtos agrícolas foram chamados de “âncora verde” do Real. Quem não se lembra do preço do frango, baixíssimo, induzindo seu consumo a níveis nunca antes observados?
Exclusão social Como resultado destes dois momentos dramáticos para a agropecuária brasileira, a exclusão social foi brutal, inclusive com a perda de milhares de empregos no setor. Mais tarde, diante da quebradeira nas principais regiões produtoras, o goAnimal Business-Brasil_15
verno fez algumas ações corretivas, prorrogando e alongando dívidas, inclusive com cooperativas, cuja sobrevivência fora também comprometida. Mas era tarde, o estrago já estava feito. No entanto, esses dois momentos serviram para engrossar os assim chamados movimentos sociais, que faziam da reforma agrária uma bandeira ideológica para mudar o regime, tudo dentro da melhor prática democrática. E ficava evidente a necessidade de uma reforma agrária verdadeira, legítima, sem vícios ou tendências partidárias: era imperioso um modelo de redistribuição de terras que permitisse a reparação da injustiça praticada por diferentes governos que expulsaram inocentes do campo. E não uma redistribuição pura e simples, porque isso seria criar miséria no campo: a terra valeria menos de um quarto dos investimentos necessários, sendo indispensáveis outros bens para a reforma se sustentar, desde a assistência técnica, passando pelo suprimento de insumos e equipamentos, construções rurais, energia, mecanismos de comercialização das colheitas, etc, etc. Em suma, seria uma reforma capitalista, que permitisse ao assentado as condições mínimas de progresso material e escalada social. Nada de assistencialismo sem resultados. Note-se que não foram apenas estes dois momentos - Planos Collor e Real - os únicos fatores determinantes da exclusão no campo. Crises pontuais haviam ocorrido antes, como a que acabou com a cotonicultura familiar em São Paulo e Paraná nos anos 80, a que quase matou a triticultura no mesmo período e as cíclicas quebras de renda na cafeicultura, no setor canavieiro e no citrícola, inclusive causadas por diversas geadas nos anos 70 e 80, mas principalmente pela falta de atenção governamental.
Reforma reparadora Tudo isso era e ainda é argumento mais do que suficiente para proceder a uma reforma agrária reparadora de tantos erros e omissões do setor público federal. Mas veio a Assembleia Nacional Constituinte e esse tema virou um dos mais polêmicos dos trabalhos em busca de uma nova Constituição. As posições em torno dele se radicalizaram, fortalecendo o MST e outras organizações políti-
16_Animal Business-Brasil
“
O radicalismo levou a uma propaganda enganosa sobre o tema e gente inocente foi usada para engrossar a demanda por terras
cas, e dando oportunidade a reações em contrário, como foi a criação da poderosa UDR, mais tarde emagrecida com a promulgação da nova Constituição em 1988. As discussões sobre a assim chamada RA se polarizaram, perderam legitimidade, ataques pessoais entre parlamentares cresceram e a violência se instalou no campo, com invasões agressivas a propriedades consideradas improdutivas pelos invasores.
Propaganda enganosa Remendos legais foram costurados, mas nada se fazia de verdade em relação ao que era legítimo: uma reforma agrária que purgasse os erros do passado, permitindo a volta ao campo de profissionais injustamente expulsos. O radicalismo levou a uma propaganda enganosa sobre o tema, e gente inocente foi usada para engrossar a demanda por terras. Quem não gostaria de receber terras de graça? E pessoas não vocacionadas para a atividade rural se apressaram a se inscrever em programas de RA, dando a impressão que a demanda por terras era realmente enorme, que grande injustiça grassava no campo e que era imperiosa uma grande onda de desapropriações. Isso tudo se misturou com eleições e o barulho cresceu com a posse do Presidente Lula. Este realmente ampliou as desapropriações, mas principalmente seguiu uma linha mais realista - embora ainda não empresarial - de assentar pessoas que tivessem assistência dos órgãos federais, não ficando abandonadas à própria sorte em seus lotes. No entanto, uma reviravolta econômica importante aconteceu: os programas de inclusão social do Governo Lula, continuados no atual governo, geraram milhões de novos empregos sustenta-
dos, criaram uma exuberante classe média, e a RA perdeu um pouco o sentido, pelo menos no nível ideológico anterior. O tema esvaziou um pouco. Mas os reais fatores determinantes dela ainda persistem. Ainda temos que realizar a tal Reforma Agrária capitalista para pagar os pecados cometidos por governantes do passado. Para isso insisto desde 1985, quando assumi a presidência da OCB, num projeto capitaneado por cooperativas agropecuárias exitosas.
Novo modelo Como seria este modelo? Em primeiro lugar, haveria um protocolo de entendimentos ou algum convênio entre o órgão governamental responsável pela RA, o INCRA, e a OCB, legítima representante do Movimento Cooperativista Brasileiro. Quando o INCRA desapropriasse uma área para fins de Reforma Agrária, imediatamente os conveniados tratariam de identificar quais as vocações agrícolas naturais da região onde se situaria a área. E, ato contínuo, a OCB encontraria uma cooperativa preexistente especializada no produto vocacionado que fosse exemplar na atividade referida. Identificada a cooperativa, esta, no âmbito do convênio entre INCRA e OCB, faria uma extensão de sua base para a área desapropriada, montando aí, com créditos fornecidos pelo governo federal, uma estrutura mínima para operar o produto definido. Este investimento consideraria até mesmo a necessidade de energia e logística. A seguir, ainda no espírito do acordo, a cooperativa identificada e o INCRA fariam a seleção dos candidatos ao assentamento, sempre considerando a história de cada candidato e sua real vocação para a atividade agropecuária. Escalados os assentados, estes se associariam de imediato à cooperativa, condição sine qua non para receberem seu título de proprietários.
Todo mundo ganha Com esse mecanismo, todo mundo ganha. Ganha o assentado porque já entra em um “trem em movimento”, não tem que criar uma cooperativa ou qualquer outro tipo de associação. E dessa forma ele recebe a indispensável
orientação técnica de profissionais contratados pela cooperativa (e não pelo governo), compra com financiamento repassado pela cooperativa e a prazo de safra os insumos necessários e tecnicamente recomendados, inclusive equipamentos, planta, cultiva e colhe sua safra que é entregue para comercialização em “pool”, o que lhe garante melhor margem, etc, etc. Ganha o governo porque não gasta um centavo a fundo perdido. Todas as despesas de logística e infraestrutura serão pagas pela cooperativa, eventualmente através de financiamento público, e não doação. Além disso, o governo não terá que cuidar de contratações de profissionais técnicos, uma vez que estes serão funcionários da cooperativas, treinados e bancados por ela, porque a ela interessa o sucesso dos assentados, com produtividade alta e volumes expressivos de produção. Ganha a cooperativa, inclusive os cooperados da base anterior, porque ela aumentará seu poder de barganha no mercado com maior volume de produtos para vender e de insumos (adubos, sementes, defensivos, corretivos, peças de reposição, etc) para comprar, o que lhe permitirá margens maiores. E ganha a sociedade toda porque não terá que pagar impostos para o processo. O aumento de produção garantirá oferta permanente a custos adequados, diminuindo risco de desabastecimento ou de inflação. Esta proposta foi encaminhada a todos os governos desde 1985, mas nunca foi implementada.
Uma doutrina Cooperativismo é uma doutrina que visa corrigir o social através do econômico, e, portanto, seu instrumento, a cooperativa, pode jogar um papel formidável na execução da Reforma Agrária consistente, coerente com o modelo de desenvolvimento escolhido pelo Brasil. Parece algo óbvio, e, no entanto, jamais este modelo foi considerado. Por que seria? Que interesses seriam contrariados com sua implantação? Talvez apenas os interesses de quem não quer resolver, de uma vez por todas, esta questão. Melhor será manter sempre a bandeira da RA desfraldada. Isso dá visibilidade política e gera alguns possíveis rendimentos...
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Um puro sangue da raรงa Quarto de Milha custa entre R$ 6 mil e R$ 20 mil e uma simples cobertura de um reprodutor de elite pode valer R$ 20 mil 18_Animal Business-Brasil
O Brasil e as biotecnologias
reprodutivas no comércio internacional Por:
Roberto Arruda de Souza Lima, Prof. Dr da ESALQ/USP. Coordenador do Grupo Equonomia
O
uso de biotecnologias reprodutivas apresenta maior relevância quando se refere aos bovinos. Entretanto, outras espécies vêm apresentando crescimento na sua utilização, o que tem contribuído para elevação do fluxo de comércio internacional. Neste artigo serão apresentadas algumas estatísticas desse comércio, em termos amplos, e discutido, particularmente, o potencial da contribuição para a equinocultura. Para maior facilidade no comércio internacional e elaboração de bancos de dados e estatísticas comparáveis entre os diversos países, foi criado um método internacional de classificação de mercadorias, denominado Sistema Harmonizado de Designação e de Codificação de Mercadorias, ou simplesmente Sistema Harmonizado (SH). De acordo com essa classificação, há três códigos em que se enquadram as biotecnologias reprodutivas, nomeadamente: 05111000 sêmen de bovino, 05119920 sêmen animal e 05119910 embriões de animais. Os dados oficiais referentes ao comércio internacional, mostram que o fluxo, que corresponde à soma de exportações e importações, apresentou grande crescimento no último quinquênio, elevando o volume em 71,4%, passando de US$ 20.048.590
em 2009 para US$ 34.370.356 em 2013, conforme apresentado na Figura 1. Figura 1. Brasil: Fluxo de comércio internacional de biotecnologia reprodutiva animal, em milhões de dólares, período 2009 a 2013. 40 30 20 10 0
2009
2010 Exportações
2011
2012
2013
Importações
Fonte: MDIC (2014).
Brasil No fluxo de comércio envolvendo o Brasil, destacam-se as importações. Estas se referem a mercadorias (sêmen e embriões) provenientes de poucos países, com destaque para os Estados Unidos e Canadá, conforme pode ser observado na Figura 2. Nas Tabelas 1 a 3 estão detalhadas as importações realizadas nos últimos cinco anos (2009 a 2013). Animal Business-Brasil_19
Figura 2. Brasil: Origem das importações, volume em US$ acumulado de 2009 a 2013. Sêmen de bovino
Sêmen de animais (exceto bovino) Argentina 3,1%
Reino Unido 38,1% Estados Unidos 24,7% Canadá 9,4% Alemanha 8,4%
Reino Unido 2,2%
Portugal 4,3%
Outros 5,5%
Austrália 3,5%
Estados Unidos 55,2%
Holanda 3,3% Nova Zelândia 3,2%
Canadá 26,3%
Bélgica 2,3%
Holanda 7,7%
Outros 2,8%
Embriões de animais Estados Unidos 27,8% Canadá 24,2% África do Sul 24,0% Austrália 9,7% Argentina 6,5% Nova Zelândia 4,1% Outros 3,7% Fonte: MDIC (2014)
Tabela 1. Brasil: Importações de sêmen bovino, em mil US$. País (Origem) Alemanha Argentina Austrália Áustria Canadá Colômbia Dinamarca Espanha Estados Unidos Franca Itália Noruega Nova Zelândia Países Baixos (Holanda) Portugal Reino Unido Suécia Suíça Republica Tcheca Uruguai Total Fonte: MDIC (2014) 20_Animal Business-Brasil
2009 40 726 184 11 3.443 0 0 204 8.563 309 51 0 85 2.132 0 327 0 13 0 5
2010 109 682 166 0 6.171 0 0 226 9.727 181 28 0 186 2.039 0 348 0 10 108 86
2011 108 677 331 0 8.640 13 0 313 14.354 171 146 5 246 2.440 0 545 20 6 150 48
2012 87 1.127 184 19 7.501 0 18 180 18.592 182 32 0 208 1.514 0 741 0 3 354 69
2013 115 697 209 0 7.312 0 14 397 18.134 219 100 0 656 1.530 16 791 0 5 85 149
16.096
20.069
28.216
30.813
30.432
Tabela 2. Brasil: Exportações de sêmen, exceto bovino, em mil US$. País (Origem) Alemanha Austrália Bélgica Canadá Chile Espanha Estados Unidos França Itália Nova Zelândia Países Baixos (Holanda) Portugal Reino Unido Uruguai Total
2009 75 50 7 27 0 0 32 1 7 0 22 4 0 4
2010 20 0 0 29 0 0 47 5 0 0 13 7 0 0
2011 16 14 0 34 1 0 110 0 5 38 14 2 159 0
2012 41 3 27 68 1 2 147 7 0 23 2 2 312 0
2013 7 0 10 21 0 6 132 4 8 0 11 68 251 1
229
122
394
634
519
Fonte: MDIC (2014)
Tabela 6. Brasil: Importações de embriões, em mil US$. País (Origem) Alemanha Argentina Austrália Áustria Canadá Colômbia Estados Unidos Índia Nova Zelândia Países Baixos (Holanda) Reino Unido África do Sul Uruguai
2009 3 124 411 26 126 0 584 0 0 0 0 1.309 12
2010 0 111 603 0 470 0 711 40 100 0 0 973 55
2011 0 146 62 0 885 28 295 140 179 38 0 59 12
2012 0 69 21 0 486 0 946 0 0 0 0 124 46
2013 0 282 0 0 777 0 610 0 183 0 9 259 11
Total
2.594
3.063
1.843
1.692
2.132
Fonte: MDIC (2014)
Exportações Já as exportações ocorreram em volume bem menor e para países diferentes, em sua maioria, daqueles que se relacionaram com o Brasil nas importações relatadas anteriormente. Nos destinos das exportações brasileiras, surgem, com destaque, países latino-americanos, conforme pode ser observado na Figura 3. Nas Tabelas 4 a 6 estão detalhadas as exportações realizadas nos últimos cinco anos (2009 a 2013). Animal Business-Brasil_21
Figura 3. Brasil: Destino das exportações, volume em US$ acumulado de 2009 a 2013. Sêmen de bovino
Sêmen de animais (exceto bovino)
Paraguai 35,2%S Colômbia 24,7%
Estados Unidos 64,6%
Equador 8,2% Venezuela 8,0%
Sudão 18,3%
Panamá 6,4%
Equador 9,9%
Argentina 2,6%
Argentina 3,5%
Senegal 2,5%
Panamá 2,3%
Peru 2,1%
México 1,3%
Outros 10,3%
Outros 0,0%
Embriões de animais
Panamá 35,3% Paraguai 32,6% Canadá 32,2%
Fonte: MDIC (2014)
Tabela 4. Brasil: Exportações de sêmen bovino, em mil US$. País (Destino) Burkina Faso Angola Argentina Bolívia Colômbia Equador Emir. Árabes Unidos Gabão Malásia Moçambique Panamá Paraguai Peru Quênia Rep. Dominicana Senegal Sri Lanka Sudão Tanzânia Uruguai Venezuela
2009 0 0 2 0 205 150 0 24 0 0 100 315 43 0 0 18 0 0 0 7 100
2010 0 2 4 17 321 66 0 4 0 0 50 520 22 11 0 28 0 0 0 11 395
2011 0 82 69 0 316 139 0 0 0 5 140 500 36 0 0 54 0 0 0 4 25
2012 0 6 68 0 314 95 42 4 9 0 91 555 28 0 106 64 76 32 7 8 0
2013 17 32 23 56 446 78 73 4 0 0 36 390 6 0 0 0 23 0 0 3 0
Total
964
1.452
1.371
1.506
1.187
Fonte: MDIC (2014) 22_Animal Business-Brasil
Tabela 5. Brasil: Exportações de sêmen, exceto bovino, em mil US$. País (Destino)
2009
2010
2011
2012
2013
Alemanha
0
0
0
1
1
Argentina
11
0
0
0
0
Bélgica
0
0
0
0
2
Equador
0
0
0
0
31
Estados Unidos
49
11
27
113
4
Franca
0
0
1
0
0
México
4
0
0
0
0
Panamá
0
0
0
0
7
Portugal
0
0
0
0
0
Sudão
0
0
0
58
0
Uruguai
0
0
1
0
0
64
11
28
172
46
Total
Fonte: MDIC (2014)
Tabela 6. Brasil: Exportações de embriões, em mil US$. País (Destino)
2009
2010
2011
2012
Técnica de reprodução assistida
0
4
0
81
34
Panamá
102
0
0
28
0
Paraguai
0
0
39
59
21
102
4
39
167
55
Fonte: MDIC (2014)
Potencial Os números apresentados mostram, entre outros fatos, que o crescimento das transações não relacionadas com bovinos contribuiu para o maior aumento nas importações totais e menor queda nas exportações totais dentre as operações analisadas, embora, em valores absolutos, ainda tenham pouca expressão. A equinocultura é uma atividade que apresenta potencial para tornar esses números mais robustos. Diversas biotecnologias reprodutivas estão à disposição dos brasileiros (vide Quadro 1), sendo que gradativamente as técnicas têm sido aceitas por maior número de associações de criadores.
Características
Inseminação Artificial
• Aumentar o número de produtos obtidos por um determinado garanhão • Ganho genético com importação • Seguro em caso de morte de reprodutores de alto valor
Transferência de Embrião
• Eficiência do programa de TE é relativamente baixa (Custos ficam mais altos)
Produção “in vitro” de embriões (FIV)
• Resultados bem inferiores aos obtidos em outras espécies
Transferência de oócitos (TO)
• Baixos resultados
Clonagem animal
• Mais sucesso do que com bovinos (que têm problemas imunológicos)
2013
Canadá
Total
Quadro 1. Biotecnologias reprodutivas aplicadas a equinos
Fonte: ALVARENGA & CARMO (2007)
O Brasil já responde, junto com Estados Unidos, por 70% dos embriões transferidos no mundo, com milhares de prenhezes por ano de TE (transferência de embriões) e dezenas de centros de TE em equinos (Centrais e próprio haras). O aumento do uso de biotecnologia reprodutiva eleva o potencial exportador, inclusive o leque de opções de venda: cavalos, sêmen e embriões. A expectativa é que ocorra aumento das transações envolvendo a equinocultura brasileira, o que auxiliará na expansão do fluxo de comércio internacional nos próximos anos. ALVARENGA, M.A.; CARMO, M.T. Biotecnologia em Reprodução Equina: O que há de novo para o Veterinário de Campo? Revista Brasileira de Medicina Equina, n.14. São Paulo-SP. Nov/dez 2007 Animal Business-Brasil_23
JERSEY, A RAร A DO
PEQUENO PRODUTOR Por:
Maria Rosinete Souza Effting - Produtora
Plantel de gado Jersey, raรงa mansa e boa produtora de leite
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Divulgação
A família rural sempre foi conhecida por seu perfil de trabalho dedicado à subsistência da propriedade e da renda mensal, sem visar a um algo mais. Porém os tempos mudaram e, hoje, para o produtor a lucratividade é fator importante dentro do dia a dia. E, aqui, vamos enfatizar o produtor de leite.
Animal Business-Brasil_25
Q
uando conversamos com pessoas de mais idade, ou quando escutamos histórias de nossos avós, sempre quando o leite entra no assunto vem a história da vaquinha que sustentava a família, ou do tambor ou latão de leite, ou o pequeno rebanho que somente era solto no pasto, enquanto o leite era tirado à mão. Ou seja, a produtividade era pequena. Porém, a indústria do leite se transformou ao longo dos anos, e o consumo aumentou consideravelmente, como também a produção rural mudou da subsistência para o empreendedorismo. O produtor investe cada dia mais em tecnologia, e o leite entrou em uma nova era. Estes são tempos em que a qualidade do produto importa na hora de sua comercialização e os consumidores estão à procura de um leite de boa qualidade e também de seus derivados. E, aí, entra a busca por um bom rebanho associado com boa tecnologia.
Maior produtividade Apesar de existirem produtores de leite com diferentes características e finalidades, a grande maioria tem o mesmo objetivo, uma maior produtividade e qualidade do leite com o menor custo possível, e é aqui que entra a raça Jersey. O gado Jersey é excepcionalmente adequado para estes tempos, sua versatilidade faz com que a adaptação ocorra nos mais variados sistemas de produção, clima, nível de técnico e tamanho de rebanho, sendo uma ótima opção para as propriedades pequenas e com relevo acidentado, características essas da grande maioria das propriedades de Santa Catarina.
Origem Raça originária da pequena Ilha de Jersey, pertencente ao Reino Unido, o gado Jersey tem origem no cruzamento do pequeno gado negro da Bretanha e os grandes bovinos vermelhos da Normandia, a partir do ano de 1.100. É a mais antiga criação de bovino puro do mundo.
Destaques A raça destaca-se por sua docilidade, produtividade, longevidade e precocidade. É um animal com menor tamanho e peso comparado a outras raças, por volta de 350 a 400 kg na idade adulta. Por isso na criação de Jersey é possível 26_Animal Business-Brasil
aumentar a carga animal por hectare de solo. Outros fatores importantes são a eficiente adaptação a diferentes tipos de manejos nutritivos e a menor necessidade de energia dos alimentos para seu sustento corporal. Em relação ao seu comportamento produtivo, são animais precoces. Acelerando seu ingresso na vida reprodutiva, sua longevidade faz com que seus custos de criação sejam diluídos e assim deixam maior lucro na sua vida produtiva. Outra vantagem é o menor tempo de intervalo entre partos, sendo que a Jersey retorna ao cio rapidamente. Há relatos de animal que ao longo de 21 anos de idade produziu 126.857 kg/leite e 6,150 kg/gordura. Seu leite é diferenciado pelo sabor e altos teores de sólidos totais, sendo assim preferido pela indústria pelo seu alto rendimento na produção dos derivados. A Cabanha Guinther, através de seu controle leiteiro oficial apresenta as seguintes médias nos últimos 12 meses: Leite-----20,84 kg vaca/dia Gordura----4,52% Proteína----3,72% Células Somáticas----379
Manejo Estes dados são obtidos em um manejo onde recebem alimentação de silagem de milho e ração por mérito duas vezes ao dia, logo após as duas ordenhas. Em seguida, percorrem uma distância considerável até o pasto onde permanecem durante o dia e a noite, assim ficam expostos ao frio Catarinense no inverno e ao calor que atinge 40° C com certa facilidade no verão, aliada à umidade alta. A raça em si já é uma grande aliada do pequeno produtor de leite, mas existem grandes desafios que devem ser perseguidos diariamente para que os animais consigam chegar ao seu ápice produtivo: controle sanitário, manejo, nutrição, boa escolha do manejo reprodutivo de acordo com as condições da propriedade, e o que é considerado de extrema importância, a qualidade genética do rebanho.
Genética A genética evoluiu bastante na sua capacidade de entregar ao produtor soluções que atendam às suas necessidades específicas. O melhora-
Divulgação
“
A raça já conquistou os mais variados tipos de produtores de leite
A produtora Maria Rosinete vem ganhando um bom dinheiro com leite na sua fazenda criando animais da raça Jersey
mento genético é uma poderosa ferramenta que tem como objetivo agregar valor ao negócio do leite. Uma das tendências é a busca por animais P.O. (puros de origem) onde os antecedentes e suas características são previamente conhecidos, o que traz uma maior certeza sobre a qualidade do animal e de seu futuro produtivo e reprodutivo. Quem controla, fomenta e gerencia todas essas informações, além de emitir os registros em Santa Catarina é a ACCB (Associação de Criadores de Bovinos), a qual presta serviço às raças Jersey e Holandesa. Através de núcleos regionais são organizados eventos com destaque para feiras e exposições agropecuárias com julgamentos morfológicos, concursos leiteiros e leilões. Dessa forma os produtores poderão se organizar e ter maior força política junto a captadores do produto e aos governos.
Associação Catarinense de Criadores de Bovinos A Associação Catarinense de Criadores de Bovinos (ACCB) conta com 376 associados cadastrados e 50.327 registros emitidos em Santa Catarina nos últimos cinco anos. Graças ao controle leiteiro se tem acesso a números de grande importância para o setor. Na na raça Jersey, a entidade tem 79 rebanhos controlados. A simpatia da raça já conquistou os mais variados tipos de produtores de leite, sejam os que criam por hobby, subsistência, ou comercialmente, em todos os níveis. Desta forma sua expansão pelo Brasil e pelo mundo impressiona, sendo a raça que mais cresce entre as raças leiteiras. Na América do Norte, já é possível encontrar empreendimentos com mais de 20.000 animais em lactação. Enquanto isso, por aqui, as Jerseys estão se espalhando cada vez mais pelas pequenas propriedades e tomando o lugar de outras raças Brasil afora. Animal Business-Brasil_27
Produção & exportação
de Pirarucu Fontes:
DCI / CNA
E
specializada na criação e processamento de espécies de peixes nativos brasileiros, a empresa Mar & Terra planeja instalar em 2014 seu terceiro frigorífico no País, dessa vez no município de Cacoal, em Rondônia, de olho em um dos maiores e mais saborosos peixes do Brasil, o pirarucu, uma espécie sem espinhas nem odor forte, cuja produção cultivada em criatórios começa a ser sistematizada na região, contribuindo para reduzir a pressão da pesca predatória. A ideia é abastecer melhor o mercado interno e exportar com licença ambiental. O projeto específico da planta frigorífica de Rondônia já está pronto e custou R$ 100 mil. A
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obra deverá ter um custo de R$ 15 milhões. A expectativa é de geração de 150 empregos diretos, dentro da planta industrial, e mais de 1.500 empregos indiretos, relacionados aos produtores. O trabalho da Mar & Terra é um dos ícones de experiências bem-sucedidas na reprodução da espécie. Em novembro de 2013, foi uma das demonstrações apresentadas no III Workshop do Cultivo do Pirarucu, realizado paralelamente à programação do IV Congresso Brasileiro de Aquicultura de Espécies Nativas, em Belém do Pará. “Temos muitos desafios a vencer, mas já avançamos bastante”, afirmou o veterinário Arno Seerig, que é gerente da Unidade de Peixes Amazônicos da Mar & Terra.
Exportação
Produção dos alevinos
Por semana, a empresa exporta uma tonelada de filé de pirarucu para os EUA, Alemanha e Suíça. Mensalmente, a empresa processa 30 toneladas de pirarucu oriundas de Rondônia, em sua unidade de Itaporã (MS). Toda a carne exportada vem de produtores com licença ambiental e matrizes com chips eletrônicos. Em dezembro, em audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado, em Pimenta Bueno (RO), representantes de piscicultores reivindicaram a construção de um frigorífico para beneficiar o pescado da região, principalmente pirarucu e tambaqui. Nesse sentido, o senador Acir Gurgacz (PDT-RO) propôs a criação de uma câmara técnica para discutir os custos não só do frigorífico como também de entreposto, fábrica de gelo e melhorias das rodovias da região.
O maior empecilho para a criação do pirarucu era a produção dos alevinos, mas o Projeto desenvolveu boas práticas, o que aumentou, significativamente, a qualidade e a produção de larvas e alevinos em cativeiro. De acordo com Eduardo Ono, um dos autores do manual de reprodução e assessor da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), apenas cerca de 20% a 30% dos alevinos produzidos chegam ao mercado consumido por diversas questões, a exemplo da falta de preparo do produtor para manter a sobrevivência dos peixes juvenis. “Hoje temos muito mais perguntas do que respostas prontas”, afirmou Ono, alertando sobre a ameaça de outros países tomarem a dianteira no cultivo da espécie, como é o caso do Chile, que já aprovou regras para a exportação do pirarucu.
Principal investimento
Único caminho
Segundo a Mar & Terra, o principal investimento da empresa em Rondônia ocorreu na reprodução da espécie, que sempre foi o grande gargalo na criação do pirarucu. Esse fato também motivou o trabalho desenvolvido pelo Projeto Estruturante do Pirarucu da Amazônia, realizado nos últimos quatro anos pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas). A organização lançou dois manuais sobre o cultivo do peixe. Um manual trata da produção e o outro de reprodução da espécie, cujas características já que o fizeram ser apelidado como o “Bacalhau do Brasil”, algo hoje substituído pelo apelo amazônico.
Fortalecimento da marca “Essa história de ‘Bacalhau do Brasil’ é coisa do passado. Hoje esse peixe tem que ser reconhecido como o Pirarucu da Amazônia”, afirma Newman Costa, analista da Unidade de Agronegócios do Sebrae Nacional e coordenadora nacional do Projeto Estruturante Pirarucu da Amazônia. O objetivo é fortalecer a marca do Pirarucu da Amazônia como um fator de diferenciação de marco e valorização da Região.
Nos manuais é feito o alerta de que as novas tecnologias são o único caminho para a reversão da pesca predatória da qual provém boa parte do pirarucu consumido no Brasil, com ameaça à sobrevivência da espécie na natureza. Atualmente, a maior parte do pirarucu consumido no País é proveniente da pesca predatória. O diretor de Administração e Finanças do Sebrae em Rondônia, Osvino Juraszek, destacou que o cultivo do pirarucu, além de ser ecologicamente correto, é mais viável economicamente por significar um produto de alta qualidade. “O cultivo do pirarucu é mais rentável do que a produção extrativista”. Uma comitiva visitou as instalações de engorda da fazenda Andrera Piscicultura, no município de Bonito, a 145 km de Belém. Lá funciona uma estação do Projeto Estruturante Pirarucu da Amazônia, com resultados animadores sobre o cultivo da espécie. De acordo com o gerente Samuel Benigno, o projeto, iniciado em janeiro de 2013, reuniu alevinos com menos de 10 gramas de peso. Hoje, já há espécies com 10 quilos de peso, prevendo-se o início da comercialização para muito breve. “Podemos comercializar o pirarucu a R$ 20,00 por quilo, enquanto o custo de produção gira em torno de R$ 7,00 por quilo”. Animal Business-Brasil_29
ASSOCON
Boa ração no cocho acelera o desenvolvimento
Situação da
bovinocultura
de corte no Brasil Por:
Juliane da Silva Gomes – Zootecnista – Assistente Técnica.
30_Animal Business-Brasil
A
pecuária de corte nos últimos anos mostrou-se capaz de interagir e reagir aos acontecimentos mundiais e domésticos. O aumento da expectativa de vida e o crescimento populacional levam a um aumento considerável da demanda alimentar, cenário favorável ao crescimento da produção animal, aumento dos rebanhos e maior número de animais abatidos. Um cenário favorável também para o aumento de investimento em confinamento. Uma vez que trata-se de um sistema de terminação animal capaz de disponibilizar ao mercado carne nos padrões exigidos a um tempo mais curto. O Brasil tem recursos suficientes para expandir, tem pasto e esse crescente mercado à espera, aliados ao crescente uso de técnicas no setor são indicadores que apontam que temos muito a crescer.
O objetivo é evitar que, em período de crise, o produtor venda as matrizes para se recapitalizar, o que geralmente acontece, com isso não haverá comprometimento da produção futura de bezerros e, consequentemente, das etapas seguintes de produção. O projeto possui especificações para se conseguir o crédito, entre elas, o produtor deverá investir em tecnologia genética, seja por meio de Inseminação Artificial, de Inseminação Artificial por Tempo Fixa (IATF) ou de reprodutores Pura Origem (P.O). Segundo o economista e consultor técnico da Acrimat, Amado de Oliveira Filho, o maior legado desta linha é garantir produção de qualidade. “Não será um instrumento somente para aquisição de capital de giro. O pecuarista vai precisar melhorar ou manter a qualidade dos bezerros que produz”.
Estímulo ao melhoramento genético
Abate
Atentos a isso, o estado do Mato Grosso disponibilizará uma linha de crédito que visa estimular o melhoramento genético na bovinocultura do estado. A iniciativa, voltada para o segmento de cria, passa a ser disponibilizada a partir de 2014.
No ano de 2012, foram abatidos 31,1 milhões de cabeças em todo o país, sendo que Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Pará e Rondônia, lideram os abates, com 70,6% dos abates no país. Fonte: IBGE
7,0
Bovinos
Animais abatidos 2012* (Cabeças)
%
Brasil
31.117.549
100,00
Pará
Principais estados produtores MT
5.015.717
16,1
MS
3.988.813
12,8
SP
3.348.472
10,8
GO
2.922.751
9,4
MG
2.480.113
8,0
PA
2.177.806
7,0
RO
2.046.868
6,6
6,6 Rondônia
16,1
Mato Grosso
9,4
Goiás
12,8 Mato Grosso do Sul
10,8
8,0
Minas Gerais
São Paulo
Fonte: IBGE - Levantamento janeiro a dezembro 2012 Animal Business-Brasil_31
Analisando o abate de bovinos no 3º trimestre de 2013 (8,91 milhões de cabeças), pode-se observar seu aumento de 10,7% em relação ao mesmo período de 2012 e de 4,4% em relação ao volume do trimestre imediatamente anterior. A produção de carcaças também cresceu, chegando a 2,137 milhões de toneladas, aumento de 11,4% frente ao mesmo período em 2012. Todas as grandes regiões apresentaram aumento da quantidade de bovinos abatidos, no
ranking do abate de bovinos, destacam-se as regiões da Região Centro-Oeste, ocupando o topo da lista os estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, respectivamente. Uma projeção feita feita pelo MAPA para o segmento, mostra que o futuro da pecuária de corte de 2013 a 2023 e, as projeções mostram que o futuro do setor pecuário será promissor, tanto para produção, consumo e exportação.
Brasil e Unidade da Federação Brasil
Trimestre Janeiro-Março 2013
Abril-Junho 2013
Julho-Setembro 2013
8.127.654
8.536.412
8.913.417
547.414
563.814
582.271
95.376
104.504
2.098
Rondônia Acre Amazonas
57.213
55.540
53.745
Roraima
17.692
18.158
19.809
563.463
600.158
618.489
X
X
X
Tocantins
284.907
307.739
315.581
Maranhão
156.657
160.619
198.356
Piauí
45.532
46.953
50.778
Ceará
64.090
66.865
69.820
Rio Grande do Norte
26.385
28.941
31.843
Paraíba
19.282
21.552
22.783
Pernambuco
73.718
78.405
80.958
Alagoas
52.219
49.450
54.054
Sergipe
23.218
24.554
25.433
Bahia
292.328
320.118
336.757
Minas Gerais
685.741
783.202
792.842
Pará Amapá
Espírito Santo
68.199
73.585
83.946
Rio de Janeiro
48.817
43.171
51.097
São Paulo
840.616
871.208
930.485
Paraná
328.770
36.504
356.695
89.127
96.291
100.237
465.468
430.995
466.168
Mato Grosso do Sul
1.092.625
1.016.884
1.009.406
Mato Grosso
1.386.736
1.441.812
1.584.067
767.468
923.669
927.069
X
X
X
Santa Catarina Rio Grande do Sul
Goiás Distrito Federal Fonte: IBGE - Pesquisa trimestral do abate de animais
32_Animal Business-Brasil
Produção
Consumo de Carne Bovina
No período avaliado, a produção de carne bovina mostra-se crescente em todo o período, assumindo variações entre 1,87% a 2,23%, entre os anos.
Ano
Projeção
Lsup.
2013
7.233
-
2014
7.495
8.871
2015
7.767
9.857
2016
8.049
10.777
Lsup.
2017
8.341
11.684
Produção de Carne Bovina Ano
Projeção
2013
8.930
-
2018
8.644
12.559
2014
9.130
10.047
2019
8.958
13.534
2015
9.331
10.627
2020
9.283
14.997
2016
9.531
11.118
2021
9.619
15.492
2017
9.732
11.564
2022
9.968
16.525
2018
9.932
11.981
2023
10.330
17.599
2019
10.133
12.337
2020
10.333
12.757
2021
10.534
13.125
2022
10.734
13.483
2023
10.935
13.832
10.000 8.000 6.000
Projeção
4.000
2023
2022
2021
2020
2019
2018
2017
2015
2016
0
12.000
2014
14.000
2013
2.000
16.000
Mil Toneladas
12.000
Mil Toneladas
Fonte: Elaboração da AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA com dado da CONAB. *Modelo utilizado: modelo RA
Fonte: Elaboração da AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA com dado da CONAB. *Modelo utilizado: modelo RA
10.000
Fonte: AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA
8.000
Projeção
6.000
Lsup.
4.000
2023
2022
2021
2020
2019
2018
2017
2016
2015
2014
0
2013
2.000
Fonte: AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA
Consumo As projeções do consumo mostram a preferência dos consumidores brasileiros pela carne bovina. O crescimento projetado para o consumo da carne é de 3,6%aa no período 2013 a 2023. Isso significa um aumento de 42,8% no consumo nos próximos 10 anos.
Exportação Quanto às exportações, as projeções indicam elevadas taxas de crescimento, as estimativas projetam um quadro favorável para as exportações brasileiras. A carne bovina, juntamente coma suína, lideram as taxas de crescimento anual das exportações para os próximos anos, atingindo uma média anual de 2,5%. As exportações de carnes destinam-se para numerosos países, em 2012 a carne bovina foi destinada a 142 mercados, sendo o principal a Rússia, a expectativa é que esse mercado se consolide de forma crescente para que sejam factíveis as projeções realizadas.
Animal Business-Brasil_33
Exportação Ano
Projeção
Lsup.
2013
1.769
-
2014
1.832
2.131
2015
1.886
2.396
2016
1.937
2.621
2017
1.986
2.818
2018
2.036
2.995
2019
2.085
3.158
2020
2.134
3.310
2021
2.183
3.454
2022
2.232
3.592
2023
2.280
3.724
Fonte: Elaboração da AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA com dado da CONAB. *Modelo utilizado: modelo RA
além de assoreamento causado por pastagens degradadas são os principais efeitos negativos da pecuária em relação à água. A tabela abaixo mostra o consumo de água gasto na indústria têxtil e no campo ao produzir alimento. Consumo de Água Indústria Para Produzir
Utiliza
Utiliza
1 kg de couro
16,6 mil L
1 kg de carne bovina
15 mil L
1 calça jeans
15 mil L
1 kg de carne suína
4,9 mil L
1 camiseta de algodão
3,7 mil L
1 kg de carne frango
3,5 mil L
1 kg de papel
324 L
1 hambúrguer
2,4 mil L
1 kg de malha tingida
110 L
1 kg de milho
900 L
1 kg de aço
95 L
1 kg de batata
500 L
1 L de gasolina
10 L
1 maça
70 L
4.000 3.500
Mil Toneladas
3.000 2.500 Projeção
2.000
Lsup.
1.500 1.000
2023
2022
2021
2020
2019
2018
2017
2016
2015
2014
0
2013
500
Fonte: AGE/MAPA e SGE/EMBRAPA
Tecnologia A pecuária de corte bovina brasileira apresentou um processo crescente de modernização nos últimos dez anos, a adoção do uso de técnicas de reprodução como IA (inseminação artificial), IATF (inseminação artificial em tempo fixo), os programas de melhoramento genético, sistemas de identificação animal, suplementação e incremento nutricional além das técnicas no manejo como balanças e troncos de contenção que preconizam o bem-estar animal. A determinação das tecnologias adequadas que serão empregadas na propriedade tornou-se um fator crucial para que haja sucesso na intensificação da atividade.
Problemas ambientais Água: Contaminação da água com dejetos animais,produtos utilizados no cultivo de rações, 34_Animal Business-Brasil
Agropecuária Para Produzir
Fonte:UNESCO e ONU
Emissão de Gases: O setor de agropecuária é responsável por 18% das emissões de gases causadores do efeito estufa (medidos pela concentração de dióxido de carbono - CO2). Emissão superior que a de carros, caminhões e veículos utilitários esportivos. Esse número exemplifica os impactos causados pelo setor pecuário para alimentar os bilhões de animais de produção do mundo. Emissão de dejetos: No sistema de confinamento, os animais são mantidos juntos, em grupos numa área cercada, o que resulta em um grande volume de dejetos de animais concentrado em áreas pequenas. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estimou que os animais confinados gerassem aproximadamente 500 milhões de toneladas de esterco por ano, três vezes mais resíduos brutos do que os gerados pela população norte-americana.. A produção animal gera bilhões de toneladas de esterco a cada ano em todo o mundo.
ASSOCON
Os animais são identificados com brincos (etiquetas) nas orelhas para um melhor controle da produtividade
Desmatamento: De acordo com a FAO, o desmatamento para a produção de rebanhos é responsável por bilhões de toneladas de CO2 por ano. Um estudo realizado pelo Centro Internacional de Pesquisa Florestal (CIFOR) demonstrou que a área total de florestas desmatadas subiu consideravelmente nos últimos anos. Em apenas 10 anos, uma área duas vezes maior do que Portugal foi perdida, e a maior parte dessa área foi usada como pastagem para animais de produção.
Linhas de crédito Há disponíveis no mercado linhas de crédito para o setor rural, viabilizam investimentos em várias áreas como compra de animais, reforma de pastagens, aquisição de maquinários e equipamentos entre outros. Os juros variam de uma instituição para outra, a Caixa Econômica Federal, por exemplo, oferece a linha de crédito com juros de 5,5% ao ano.
Gestão Ter um bom planejamento e organizar a produção é fundamental para garantir a segurança e a sustentabilidade de uma propriedade rural. Selecionar o quadro de pessoal, fazer um planejamento desde as tarefas de campo, de custos de produção, eficiência, ganho e rentabilidade são necessárias. É preciso executar e gerenciar
as atividades da propriedade, registrar, controlar e avaliar tudo o que foi realizado. Para suprir essa necessidade de gestão, há disponíveis no mercado softwares específicos para gestão de propriedades rurais.
Profissionalização Com o crescente mercado da agropecuária, o capital humano é um dos recursos mais importantes e o investimento na capacitação de funcionários tem sido um diferencial. Para atingir o crescimento da propriedade que setor e o mercado oferecem às empresas rurais, só são possíveis se os profissionais forem vistos como os principais agentes de mudança. Os que enxergam esse cenário e capacitam sua mão de obra, têm atingido resultados sustentáveis a curto, médio e longo prazos.
Futuro O futuro da bovinocultura de corte no Brasil é promissor, possuímos um sistema produtivo sustentável, estamos investindo em tecnologia, mão de obra qualificada, programas de gestão visando aumentar a produtividade e buscando cada vez mais, causar menos danos ao meio ambiente. Atender à demanda mundial em quantidade e principalmente qualidade de carne é o foco da pecuária de corte no Brasil. Animal Business-Brasil_35
Por: Paulo
Roque
ABIEC promove carne bovina brasileira na Europa e Ásia Uma delegação da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC) viajou à Espanha e Cingapura para promover a qualidade da carne bovina brasileira. Em Barcelona, a delegação participou do Salão Internacional da Alimentação e Benbida (Expoalimentaria) e, em Cingapura, de um churrasco para promoção da carne brasileira, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Embaixada local, além de participação na FHA – Food&HotelAsia. Para ABIEC, Europa e Ásia são dois mercados muito importantes e o presidente da entidade, Antônio Jorge Camardelli, lembrou que a União Europeia “já foi nosso principal importador e temos trabalhado muito para reconquistar espaços na região, enquanto o continente asiático representa o futuro para o segmento alimentício”. É a primeira vez que a indústria brasileira de carne bovina participa do Salão Internacional da Alimentação e Bebidas (Expoalimentaria) e da FHA.
Divulgação
Mercado de sêmen 1
Lino Rodrigues, presidente da Asbia. 36_Animal Business-Brasil 36_Animal Business-Brasil
A venda de sêmen das empresas associadas à Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia) cresceu 5,54% em 2013 (ante12,3 milhões de doses comercializadas no ano anterior),alcançando 13 milhões de doses, sendo 6.69 milhões (50,62%) de genética nacional e 6,43 milhões (49,38%) de sêmen importado. O anúncio foi feito pelo presidente da entidade, Lino Rodrigues,baseado no estudo realizado todos anos sobre o mercado de sêmen no país. A Asbia projeta o mercado total em de 14,3 milhões de doses e, de acordo com o estudo, o destaque foi a pecuária leiteira, que evoluiu 9,59%, com a venda de 5,36 milhões de doses. No corte, a expansão foi de 2,87%, com o total de 7,65 milhões. Com o resultado, a participação do mercado de corte foi de 58,79% e, de leite, 41,21%.
Divulgação
Mapa reforça medidas sanitárias adotadas para suínos importados Devido à ocorrência de surtos de enfermidades como a Diarreia Epidêmica Suína (PED, em inglês) em vários países, o governo brasileiro anunciou o reforço de ações visando à segurança sanitária. Para aumentar a segurança nas importações dos Estados Unidos (onde há ocorrências da PED desde maio do ano passado) e de todos os países que exportam suínos vivos de alta genética, material genético suídeo e insumos para ração, o Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (DSA/ Mapa) adotou procedimentos técnicos como o aumento do rigor dos requisitos sanitários para essas transações. Está prevista, também, uma viagem de fiscais federais agropecuários do Mapa aos Estados Unidos para averiguar in loco o cumprimento das condições sanitárias exigidas pelo governo brasileiro. Além disso, todas as importações de suínos para o Brasil somente ocorrem após exames no país de origem e quarentena de no mínimo 30 dias em uma ilha de biossegurança máxima em Cananéia (SP), o que afasta a possibilidade da entrada de doenças como a PED, entre outras, em território nacional. Outra ação adotada diz respeito às Superintendências Federais de Agricultura (SFAs) dos estados. O DSA/Mapa determinou que todas as solicitações de importação devem ser remetidas para análise e aprovação exclusivamente do Departamento, em Brasília.
Seguindo mamíferos Com objetivo de contribuir para a definição de estratégias e ações em prol da conservação da biodiversidade, o biólogo Marcelo Magioli registrou pegadas e coletou dados sobre a presença de 27 mamíferos de médio e grande portes, como a onça parda, em áreas rurais, fortemente impactadas pela ação do homem, nos municípios paulistas de Campinas, Artur Nogueira, Cosmópolis, Holambra, Paulínia e Jaguariuna. O trabalho faz parte do seu do estudo, apresentado como dissertação de mestrado no Programa de Pós-graduação em Recursos Florestais, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ). “O relato de espécies de mamíferos de médio e grande portes é algo inédito nessa região do Estado, caracterizada por altos índices de urbanização e industrialização, além da presença de uma movimentada malha rodoviária. No entanto, a maior surpresa foi poder relatar sete espécies em risco de extinção, entre elas o tamanduá-bandeira, um mamífero típico do cerrado, bioma presente em alguns fragmentos de medidas reduzidas na região”, comenta o autor da pesquisa.
Malásia habilita oito frigoríficos brasileiros O Departamento de Serviços Veterinários da Malásia (DVS) encaminhou à Embaixada Brasileira, em Kuala Lumpur, certificados de aprovação de oito estabelecimentos brasileiros produtores de carne bovina. Os frigoríficos estão localizados em Rondônia, Mato Grosso, Tocantins, Pará e Mato Grosso do Sul. Em Rondônia: SIF 791 (Minerva), 4333 (JBS) e 4334 (Marfrig); no Mato Grosso: 1751 (Marfrig) e 4490 (Vale Grande); em Tocantins: 1940 (Minerva); no Pará: 2583 (Frigol); e no Mato Grosso do Sul: 3181 (JBS). Com a aprovação desses estabelecimentos, o Brasil, que até então contava com apenas dois produtores de carne bovina habilitados, deverá ampliar a exportação para a Malásia e assegurar importante credencial para acessar outros mercados, por ser capaz de cumprir alguns dos mais rígidos requisitos de certificação “halal” do mundo. Animal Business-Brasil_37
Tecnologia Nelore BRGN é transferida a produtores em leilão Durante o 4º Leilão de Touros e Matrizes Nelore BRGN, realizado pela Embrapa Cerrados foi comprovada, mais uma vez, a valorização da genética desenvolvida pela empresa de pesquisa. Considerado um grande evento de transferência de tecnologia, no leilão foram comercializados todos os 71 bovinos, distribuídos em 34 lotes de machos e fêmeas Nelore puros de origem (PO) e comerciais. A arrecadação bruta foi de mais de R$ 300 mil e o valor líquido será repassado ao Tesouro Nacional. O evento foi promovido em parceria com a empresa Mult Leilões. A arrecadação bruta foi de mais de R$ 300 mil. O Programa Nelore BRGN foi iniciado em 2000 e cerca de 30 mil touros com a genética já foram incorporados à pecuária brasileira. A marca Brasil Genética Nelore (BRGN) é reconhecida pelo seu diferencial dentro da raça Nelore, oferecendo ao mercado animais com a rusticidade necessária às condições do bioma Cerrado, além de características econômicas que garantem mais produtividade e rentabilidade ao pecuarista brasileiro.
Regionalização de frigoríficos em Minas Gerais atrai empreendedores Um grupo de empreendedores mineiros do setor de frigoríficos já iniciou contatos com a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa) para participar do Programa de Regionalização de Frigoríficos de Minas Gerais (Profrig), criado com o objetivo de ampliar o abastecimento de carnes inspecionadas, principalmente nos pequenos municípios. O anúncio foi feito pelo secretário Zé Silva, após encontro, em Belo Horizonte, com dirigentes da Associação de Frigoríficos de Minas Gerais, Espírito Santo e Distrito Federal (Afrig). Por meio do Profrig, será estimulada inicialmente a criação em Minas Gerais de cerca de 20 frigoríficos capacitados para o abate inspecionado de bovinos, suínos, caprinos e ovinos.
Embrapa lança nova cultivar de milheto Já está à disposição dos produtores a cultivar de milheto BRS 1501, desenvolvida pela Embrapa Milho e Sorgo, recomendada para as regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, mas, pode ser cultivado em qualquer região produtora de grãos. Apresenta rápido crescimento, em 30-40 dias tem a capacidade de oferecer cerca de 40 toneladas de massa para cobertura do solo. É uma alternativa de forrageira para atender às necessidades nutricionais diárias do gado em pastejo, apresentando rápida recuperação, hábito ereto, desenvolvimento uniforme e boa capacidade de perfilhamento. O milheto BRS 1501 tem até 24% de proteína bruta, boa palatabilidade e digestibilidade em pastejo. Quanto ao potencial produtivo de forragem, pode alcançar até 60 toneladas de massa verde e 20 toneladas de matéria seca por hectare quando cultivado no início da primavera. Se for utilizado sob pastejo, com animais de recria, pode proporcionar ganhos de até 600 quilos por hectare de peso vivo, ou 20 arrobas por hectare de carne em 150 dias o equivalente a ganhos médios diários de 950 gramas por animal, com 4,2 animais por hectare. Interessados em adquirir sementes podem entrar em contato pelos telefones: (61) 3333-0417 / 3333-7878 ou no e-mail spm.ebsb@embrapa.br. O endereço é Estrada Parque Contorno Taguatinga/Gama, Km 03, Fazenda Sucupira - Riacho Fundo II - Brasília – DF. CEP: 71.720-971. 38_Animal Business-Brasil
Divulgação
Setor Lácteo quer mudar Guia Alimentar do Ministério da Saúde Peixes nativos, atividade em expansão no Brasil A criação de peixes nativos passa por uma fase de acelerado crescimento. Para melhorar a eficiência da atividade, os arranjos da produção estão se modificando e para obter competitividade, as cadeias estão se consolidando através do domínio de técnicas para o cultivo, pacotes tecnológicos e também com estratégias fora da porteira. As oportunidades de mercado são promissoras, tanto para substituição de importações quanto para atender ao aumento do consumo interno de pescado, que deverá alcançar o recomendado pela OMS – Organização Mundial da Saúde (12 quilos por habitante/ano) até o fim de 2014. Segundo o consultor técnico em piscicultura e doutor em produção animal, Darci Carlos Fornai, apesar de o déficit comercial de pescados no Brasil ser elevado, o futuro da piscicultura mundial passa por aqui e as espécies nativas terão grande participação nesse negócio, por sua adaptação, desempenho zootécnico e potencial gastronômico. As espécies mais importantes na criação de peixes nativos são o tambaqui, o pintado amazônico e o pirarucu.
Representantes da cadeia produtiva de lácteos irão propor mudanças no Guia Alimentar da População Brasileira, documento do Ministério da Saúde (MS) que traz recomendações para uma alimentação saudável no Brasil, preocupa o setor por trazer informações equivocadas sobre leite e derivados, o que pode desestimular o consumo destes produtos. As propostas foram validadas pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e, através de argumentos científicos mostrar que os produtos lácteos são tão saudáveis quanto outros produtos recomendados pelo guia, como os produtos in natura. Pelo guia do MS, apenas o leite pasteurizado foi classificado como recomendável para uma alimentação saudável. Outros itens como queijos e bebidas lácteas adocicadas, devem ser evitados, segundo a versão inicial do documento do ministério.
Rally da Pecuária vai avaliar Programa ABC O Rally da Pecuária 2014 inicia sua quarta edição com uma novidade: além de avaliar o desempenho das áreas de cria, recria,engorda e confinamento em regiões que respondem por mais de 75% do rebanho do país, também vai avaliar o Programa ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Com foco na avaliação das condições da bovinocultura nas principais regiões produtoras, o evento, considerado a maior expedição técnica privada do Brasil, vai a campo com cinco equipes técnicas, que visitarão propriedades em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rondônia, São Paulo e Tocantins, que respondem por 85% da produção brasileira de carne. No total, serão 165 municípios percorridos em um total de 50 mil quilômetros, com a realização de 12 eventos sobre o mercado destinados a produtores. Animal Business-Brasil_39
Foto Perigo/Adilson Silva
Definida equipe brasileira de Rédeas para os Jogos Equestres Mundiais
Mercado de sêmen 2 Entre as raças de corte, a Angus obteve o melhor resultado, evoluiu 24,50% e passou a liderar o mercado, com participação de 43,17%, superando a raça Nelore, que ficou com a segunda posição do ranking, com 38,16%. No total, foram comercializadas 3,36 milhões de doses da raça Angus (Aberdeen e Red), evolução de 14,5% sobre o ano anterior. Na pecuária de leite, as raças europeias continuam na liderança do ranking. Em 2013, o mercado absorveu 3,12 milhões de doses de sêmen do gado Holandês, aumento de 8,61% em relação ao ano anterior. O Jersey ficou na segunda posição, com 898,9 mil doses (21%) e o Gir Leiteiro em terceiro, com 683,9 mil doses (1,15%). 40_Animal Business-Brasil
Leonardo Sanches
Após duas seletivas realizadas no Brasil pela Confederação Brasileira de Hipismo em parceria com a Federação Equestre Internacional e a Associação Nacional de Cavalo de Rédeas, saíram os primeiros nomes da equipe brasileira para os Jogos Equestres Mundiais da Normandia, na França. Os conjuntos Paulo Koury Neto / Dont Whiz WRB, Gilson Diniz Vieira Filho / Stepping Off Sparks, Wellington Teixeira / SJ Rodopio e Laércio Casalecchi / He’s a Question QH serão os integrantes da equipe de Rédeas na competição, que acontece entre 23 de agosto e 7 de setembro na cidade de Caen, na França. Em 2010, nos Jogos Equestres Mundiais de Kentucky, nos Estados Unidos, a equipe brasileira de Rédeas ficou em sétimo lugar entre 14 países. O melhor brasileiro no individual foi Wellington Teixeira, montando SJ Rodopio, que terminou a competição em 14° lugar.
Surto de gripe aviária leva Japão a abater aves Nasce a maior associação de proteína animal do Brasil A União Brasileira de Avicultura (UBABEF) e a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), representantes das empresas das cadeias agroindustriais de aves, ovos e suínos de todo o Brasil uniram-se em uma só entidade, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Francisco Turra, ex-presidente da UBABEF, foi indicado para assumir o cargo de presidente executivo da nova associação, que contará com duas vice-presidências: de aves, assumida pelo ex-diretor de Mercados da UBABEF, Ricardo Santin; e de suínos, comandada pelo ex-presidente da ABIPECS, Rui Eduardo Saldanha Vargas. A ABPA já nasce como maior entidade representativa do setor de proteína animal do Brasil: são 132 associados. Com a União, a meta é chegar a 150 associados. A ABPA nasce para dar mais força institucional à cadeia da proteína animal brasileira, seja no mercado interno ou nas exportações.
Depois que as autoridades confirmaram infecções de gripe aviária em uma granja na região Sul do país, o governo do Japão ordenou o abate de cerca de 112 mil frangos.Testes de DNA confirmaram a cepa do vírus H5 em uma fazenda em Kumamoto, onde a prefeitura mantinha 56 mil aves. Outras 56 mil aves também foram abatidas em uma outra propriedade, depois de o Ministério da Agricultura japonês considerá-la como local de possível infecção. Este é o segundo surto de gripe aviária confirmado no Japão em três anos. O Ministério, entretanto, tem alertado sobre os riscos de infecção, citando a expansão da doença na Ásia, incluindo a vizinha Coreia do Sul.
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Sistema inovador na
mensuração do consumo de alimentos por bovinos Por: Dra. Sarah Figueiredo Martins Bonilha, pesquisadora científica do Instituto de Zootecnia-Sertãozinho / SP
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Brasil possui hoje números surpreendentes em produção e exportação de carne bovina. Vários fatores contribuíram para esse fato, entre eles avanços no conhecimento de técnicas de criação e manejo, nutrição, melhoramento animal e comercialização. Para chegarmos a esses números, e superá-los a cada dia, é imprescindível que a produção seja eficiente, caracterizada por encurtamento de ciclos, produtos de melhor qualidade, uso eficiente de alimentos, baixo impacto ambiental e menores custos de produção. A dieta, por meio da qualidade e quantidade ingerida de nutrientes, representa forte determinante do desempenho animal, sendo o item de maior importância econômica dentro dos sistemas de produção de carne. Assim, melhorias na eficiência de uso dos alimentos, bem como dos
seus nutrientes, devem ser sempre objetivos de pesquisas. Estudos recentes reportaram que um incremento de 5% na eficiência alimentar tem impacto econômico quatro vezes superior ao obtido, por exemplo, com a melhoria de 5% na taxa de ganho médio diário de peso. Uma alternativa para melhoria da lucratividade na produção de carne bovina seria a seleção para características de eficiência alimentar. Porém, a dificuldade de mensurar o consumo alimentar individual em bovinos de corte fez com que a seleção para essas características fosse adiada por algum tempo. A maneira mais simples para medir o consumo individual dos animais seria alojá-los em instalações com cochos que permitam o acesso individual do animal, sendo diariamente pesados, alimento oferecido e sobras. Este método, porém, exige uma grande infraestrutura, é extrema-
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Este sistema moderno de mensuração de precisão do consumo de alimentos exige pesados investimentos em equipamento
mente trabalhoso e apresenta custo proibitivo, já que é altamente dependente de mão de obra. E ainda, estudos demonstraram que animais alojados individualmente podem ter seu desempenho significativamente alterado em relação aos alimentados em ambientes de produção. A coleta com precisão de informações individuais de animais em ambiente de produção é um grande desafio tecnológico. A produção animal ocorre em ambiente extremamente difícil para a eletrônica, pois é robusto, empoeirado e úmido. A empresa canadense GrowSafe Systems Ltd. vem trabalhando para superar tais desafios desde a década de 1990 e adquiriu reputação global por desenvolver sistemas de aquisição de dados baseados em identificação por radiofrequência (RFID), possibilitando a avaliação individual de animais em ambientes de produção. O GrowSafe é o único sistema de mensuração de consumo individual de bovinos que permite o monitoramento contínuo de informações. O transponder RFID de identificação dos animais é lido a cada segundo durante o período em que os animais permanecem nos cochos e os mecanismos de carregamento de informações e outros sensores são amostrados continuadamente, o que assegura que todas as atividades são detectadas pelo sistema e corretamente designadas para o animal que a realizou. O software que controla o sistema audita continuamente todas as informações capturadas e calcula os erros que podem vir de fatores externos como
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A coleta com precisão de informações individuais de animais em ambiente de produção é um grande desafio tecnológico
chuva, vento excessivo ou transponders perdidos. Além disso, o sistema foi programado para não permitir que um usuário faça alterações nos dados brutos, o que garante a segurança das informações coletadas. A precisão do sistema na leitura dos transponders e a acurácia das informações coletadas aproxima-se de 100%, devido a amostragens múltiplas e diagnóstico extensivo, que mantêm o funcionamento do sistema e reportam em caso de falhas, para definir os padrões de tolerância aceitáveis. O sistema oferece automação incomparável, precisão da medição e é de fácil operação. O Instituto de Zootecnia foi a primeira instituição de pesquisa do Brasil a adquirir o sistema GrowSafe e vem utilizando o equipamento nos testes de desempenho e eficiência alimentar desde 2011. Isto permitiu a inclusão de características de eficiência alimentar no programa de melhoramento genético em andamento na instituição há 35 anos, já que o uso do sistema possibilitou a avaliação do consumo individual de alimentos de um maior número de
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Sistema GrowSafe em funcionamento no Centro APTA Bovinos de Corte do Instituto de Zootecnia, Sertãozinho/SP.
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O Instituto de Zootecnia de Sertãozinho (SP) foi a primeira instituição de pesquisa do Brasil a usar o sistema GrowSafe nos testes de desempenho e eficiência alimentar animais. Assim, o Instituto de Zootecnia pôde oferecer à sociedade resultados do uso do sistema, bem como os produtos desse uso, disponibilizando aos criadores sêmen, embriões e animais geneticamente melhorados para características de eficiência.
Funcionamento • Cada animal é identificado com um transponder (brinco RFID) na orelha. Cada transponder possui um número único. • Uma antena RFID é colocada diretamente na borda dos cochos de alimentação para identificar os brincos quando os animais se aproximarem dos cochos para se alimentarem. • Os cochos equipados com as antenas RFID são suspensos sobre células de carga (balanças).
• Cada segundo em que o animal está presente no cocho alimentando-se é digitalizado, e o alimento desaparecido é medido em resolução de 10 gramas. • As informações coletadas são transferidas para o computador que controla o sistema e são automaticamente analisadas e auditadas pelo software.
Mensurações • Duração e consumo para cada evento de alimentação individual (o critério para evento de alimentação é definido pelo usuário). • Entrada e saída do animal no cocho sem que tenha havido consumo de alimento. • Desaparecimento de alimento durante o evento de alimentação individual. • Frequência de alimentação. • Cálculo automático do fornecimento de alimento. • Taxa de alimentação durante o evento de alimentação individual. • Tempo de cada evento de alimentação individual. • Intervalos entre eventos de alimentação individual. • Número de animais que se alimentam simultaneamente. • Hierarquia social (quem são os primeiros a se alimentarem).
Vigilância 24 horas Sistema monitora a ingestão de alimentos e comportamento de cada animal
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Controle preciso Os animais recebem brincos especiais com transponder que identifica cada vez que abaixam a cabeça para se alimentar no cocho, além disso, uma balança calcula a quantidade de ração que ele está comendo.
Adaptado de Revista Globo Rural
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Informação em tempo real As informações captadas são enviadas por antenas até o computador: o software mostra instantaneamente qual animal está se alimentando e quanto ele está comendo. Essas informações são ainda enviadas em tempo real para a auditoria.
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Eficiência comprovada Ao final do processo, os dados de alimentação e de ganho de peso são auditados pela empresa GrowSafe e pela Universidade do Texas. Os animais que convertem melhor a ração em peso (eficiência alimentar) são selecionados para reprodução.
Ana Limp
O macaco Rhesus é usado na pesquisa biológica e o fator Rh do sangue tem essa denominação por causa das duas letras iniciais desse primata
Uso dos
animais de laboratório Por: Silvio Valle e Ana Filipecki
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A respeito da matéria sob o título “Pesquisa com animais de laboratório- a opinião de quem entende”, publicada à página 44 e seguintes, da 13ª. Edição desta Revista, recebemos correspondência dos pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Silvio Valle e Ana Filipecki, que reproduzimos na íntegra
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eitores menos assíduos do oportuno periódico Animal Business- Brasil, editado pela Sociedade Nacional de Agricultura, podem se surpreender com a diversidade e qualidade das matérias publicadas, cuja proposta é tratar de “assuntos relacionados com a produção, a industrialização e a comercialização interna e externa de animais e de produtos de origem animal (POA), enfatizando o agronegócio”. A diversidade é uma das qualidades do periódico, um dos elementos que compõe sua identidade editorial. Reconhecemos que selecionar as matérias para publicação não deva ser tarefa fácil para o editor, visando manter a consistência ou coerência interna da revista. O eixo que baliza a maior parte das publicações é de natureza socioeconômica. Todavia, é o componente legal (social) que se sobressalta no estabelecimento de vínculos entre textos tão distintos como, por exemplo, “Deputado quer delegacia especializada para defender animais”, “Vital Brasil- há quase 100 anos salvando vidas”, “Reprodução High Tech” e “Pesquisa com animais de laboratório – a opinião de quem entende”. Para trazer à luz a dimensão legal que vincula grande parte dos textos publicados neste periódico, recorremos ao artigo assinado pelo editor Dr. Luiz Octavio Pires Leal, que entrevista o eminente acadêmico e defensor pioneiro do bem-estar animal, prof. Dr. Milton Thiago de Mello. O artigo é particularmente rico para pensarmos as mudanças no cenário regulatório envolvendo animais.
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Cenário regulatório No editorial, Pires Leal argumenta, com propriedade, que “a validade ou não do uso de animais na pesquisa científica é assunto recorrente na imprensa brasileira e do mundo todo”. E inicia o texto apresentando os “atores comumente envolvidos na defesa dos animais”. Do mesmo modo, o primeiro extrato da entrevista com Thiago de Mello, faz referência à invasão do Instituto Royal: “explosão de violência num laboratório de São Paulo, no final de 2013” por “vândalos travestidos de defensores dos animais (...)”. A menção aos “defensores dos animais” nos remete obrigatoriamente ao Projeto de Lei (PL n. 1.153/1995) que deu origem a Lei Nº 11.794/2008, que hoje regulamenta o uso didático-científico dos animais no Brasil. O “conflito entre ambientalistas e pesquisadores” foi uma das justificativas apresentadas pelo autor do PL, deputado Sérgio Arouca. Ao longo do processo de tramitação do PL no Congresso Nacional, os relatores João Paulo Cunha (em 2001) e Fernando Gabeira (em 2003) fizeram referências explícitas à intensificação das pressões exercidas pelos protetores dos direitos dos animais, ao crescimento de projetos de lei estaduais relativos à experimentação animal, a presença mais ativa dos pesquisadores e das sociedades científicas na mídia em defesa de suas práticas e a preocupação das organizações de pesquisa e ensino em implementar Comissões de Ética no Uso de Animais (CEUAs). Observamos que as mudanças regulatórias globais decorrem da intensificação dos movimentos de proteção aos animais na Europa Ocidental e na América do Norte. Esses movimentos não são recentes como ressalta Thiago de Mello em sua referência ao movimento contra vivissecção na Inglaterra do século XIX. A legislação de proteção animal do país é reconhecida internacionalmente como sendo uma das mais severas.
Ativismo Para as Sociedades Protetoras dos Animais, a inserção dos animais no Art. 225 da Constituição Federal de 1988 e no Art. 32, §1º da Lei de Crimes Ambientais (Lei Nº 9605/1998) são decorrentes das pressões que exerceram junto ao Congresso Nacional. Como a pressão da Sociedade Civil nos processos regulatórios é inquestionável, é preciso
Peter Ilicciev
Pesquisador da Fiocruz Dr. Silvio Valle
ficar atento e ser cauteloso na maneira como nos referimos às distintas formas de “ativismo”. A associação entre a defesa dos animais e o perfil dos “atores comumente envolvidos (...)”, presente no texto de Pires Leal, exige cautela. O ativismo em favor dos direitos dos animais é diferente do ativismo em prol do bem-estar animal. Entre os extremos do espectro abolicionistas e bem-estaristas, encontramos um perfil diversificado de atores. Existem bem-estaristas “apaixonados” e “nem sempre bem informados”. Os abolicionistas que “lutam pela suspensão absoluta, total e incondicional do seu uso na pesquisa biológica” encontram-se no primeiro grupo, mas nem todos deste grupo utilizam estratégias criminosas. O prof. Thiago de Mello é um ativista pioneiro e exemplar do bem-estar animal no cenário nacional. Na entrevista, menciona algumas
mudanças positivas decorrentes de 20 anos de ativismo: “(...) muitos grupos de veterinários formaram-se no País, completamente dedicados ao bem-estar animal e seus desdobramentos: bioética, direitos dos animais, interação homem/ animal, pesquisas com animais, etc.”. Sobre o ativismo dos pesquisadores e das sociedades científicas em defesa de suas práticas, é interessante retomar a referência de Thiago de Mello à Declaração da Basiléia, emitida em novembro de 2010. A Declaração visa “mobilizar a comunidade cientifica para avançar na implementação de princípios éticos, como os 3Rs”, e “pedir mais confiança, transparência e comunicação sobre o sensível tópico de animais em pesquisa”. Os 3Rs orientam as legislações e manuais internacionais. Consistem, em síntese, em Reduzir (R1) o número de animais utilizados nos experimentos sem comprometer a integridade científica da investigação, Refinar (R2) as técnicas de criação, manutenção e utilização dos animais e Repor (R3) ou substituir os animais mais sensíveis à dor, stress e sofrimento por outros menos sensíveis ou por métodos alternativos, in vitro e in silico. Todavia, a reunião na Basiléia revela, acima de tudo, a preocupação dos cientistas com legislações restritivas ao uso de animais na pesquisa básica. Por esse motivo, o documento afirma: “A pesquisa biomédica em particular não pode ser separada entre investigação ‘básica’ e ‘aplicada’, uma vez que há uma continuidade entre o estudo dos processos fisiológicos fundamentais para compreensão das causas das doenças e o desenvolvimento de terapias”. O documento, explica Abbott (Nature, v.468, 9/12/2010), “contesta vigorosamente os esforços recentes para declarar a utilização de animais na pesquisa básica menos aceitável do que em experimentos que podem render resultados práticos”. Abbot cita casos ocorridos na Suíça e na Alemanha em que estudos de neurociência utilizando macacos não foram permitidos pelas autoridades porque foram considerados muito distantes de sua aplicação. Portanto, a Declaração manifesta-se contra um regime legal que desequilibra o direito à pesquisa entre cientistas que estão situados no início e no final do elo da pesquisa pré-clínica e clínica da cadeia de produção do conhecimento biomédico. Além disso, a reunião na Basiléia ocorreu dois anos antes do final do prazo da transposição da nova Diretiva (Directive 86/609/EEC) para as Animal Business-Brasil_47
legislações nacionais dos estados membros da Comunidade Econômica Europeia. Os ativistas da Basiléia eram defensores da pesquisa com animais, preocupados com as novas regras decorrentes da harmonização da regulamentação, em especial com as restrições ao uso de primatas não humanos e às pesquisas sobre dor.
Compromissos Os signatários da Declaração da Basiléia, que não mais se resumem aos 50 cientistas reunidos na cidade, assumem 10 compromissos, dos quais destacamos: promover “uma melhor compreensão da ciência pelo público” e “o diálogo sobre bem-estar animal em investigação, comunicando com o público de modo transparente e com recurso a informação factual”. Em contrapartida, solicitam aos meios de comunicação, fazedores de opinião e professores “que “que discutam questões sensíveis, relativas à investigação que envolve o uso de animais, de modo imparcial e que promovam um diálogo equilibrado com os investigadores”.
Argumento central O argumento central dos ativistas que defendem a pesquisa com animais repousa nos benefícios da pesquisa com animais, especialmente no desenvolvimento de fármacos, vacinas e medicamentos. Entretanto, aqui encontramos outra linha divisória entre as posições dos pesquisadores. Para ilustrar, citamos o Editorial publicado por Michael Ball, pesquisador reconhecido internacionalmente, na revista “Alternatives to Laboratory Animals” (ATLA 39, 497-500, 2011). Ball, no texto intitulado “Animal Experimentation and the Labelling of Drugs”, utiliza o debate na reunião da Câmara dos Comuns de 7/12/2011 sobre a transposição da nova Diretiva para a legislação britânica. Visando esclarecer a população sobre a importância dos animais na pesquisa biomédica, um dos Lords sugeriu que, similar ao aviso sobre os malefícios do cigarro que está estampado no maço, fosse registrado na bula dos medicamentos que aquela droga só estava sendo possível de ser consumida por humanos porque foi testada em animais. Balls, baseado na análise das bulas dos medicamentos que utiliza, argumenta que a informação mais adequada deveria ser a seguinte: 48_Animal Business-Brasil
Incertezas Testes em animais: Apesar do fato de que milhares de animais foram usadosna descoberta e no desenvolvimento deste produto, nenhuma garantia pode ser oferecida que irá funcionar ou ser suficientemente seguro no seu caso. Isto porque os animais e os seres humanos são significativamente diferentes em termos de sua fisiologia, patologia e respostas às drogas, assim animais de laboratório normalmente podem fornecer apenas modelos pobres de doenças humanas e respostas a possíveis terapias. Além disso, os testes com animais realizados levaram em conta pouca ou nenhuma variação da genética humana, as diferenças geográficas, os fatores sociais, ocupacionais ou estilo de vida, da incidência simultânea de outras drogas. É por estas razões que deve ser admitido que existem incertezas insuperáveissobre a eficácia do produto e do risco de potencialmente graves efeitos colaterais de muitos tipos”.
Controvérsias As controvérsias refletem a diversidade de interesses dos atores que se manifestam sobre os animais em pesquisa e apontam para a fluidez da fronteira entre bem e mal informados. Por exemplo, um pesquisador de laboratório, que aplica os 3Rs em sua área de pesquisa é necessariamente bem informado para julgar se um projeto de pesquisa de conservação ambiental, que utiliza animais silvestres, é moralmente válido? Podemos ir além, e refletir sobre as idiossincrasias da pesquisa de campo com animais silvestres, com animais domésticos (controle de zoonoses, por exemplo) e com animais de produção. A Lei Nº 11.794/2008 se aplica exclusivamente e somente aos animais vertebrados, de laboratório, de ensino, e de campo utilizados em pesquisas. Reconhecer os limites do nosso conhecimento é fundamental para construir manuais de pesquisa que atendam satisfatoriamente às diferentes práticas. Não podemos esquecer que há mal informados e mal formados, até mesmo “irresponsáveis de plantão” entre usuários, produtores, técnicos, cuidadores e fornecedores de animais. Olhar criticamente
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A defesa responsável do bem-estar animal na pesquisa de laboratório depende da competência dos profissionais
para o nosso telhado de vidro pode nos ajudar a distribuir responsabilidades e fazer accountable os envolvidos com a educação/treinamento e a fiscalização das práticas com animais.
Fiscalização Particularmente em relação à fiscalização da pesquisa com animais, observamos a ausência de regulamentação específica sobre o tema. A Lei Nº 11.794/2008 estabelece que a atividade “fica a cargo dos órgãos dos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Saúde, da Educação, da Ciência e Tecnologia e do Meio Ambiente, nas respectivas áreas de competência” (Art. 21). O vazio regulamentar tem sido preenchido, de certa forma, pelas Sociedades Protetoras dos Animais, por intermédio do Ministério Público. Ao mesmo tempo, observamos a ausência de indicações das Sociedades Protetoras dos Animais para representá-las nas CEUAs, como prescreve a Lei Nº 11.794/2008. Os assentos estão sendo ocupados por atores, direta ou indiretamente envolvidos com instituições de pesquisa, porque a grande maioria dos representantes das SPAs não possui o nível acadêmico- profissional exigido pelo Decreto Nº 6.899/2009.
responsável do bem-estar animal na pesquisa de laboratório, de campo e ensino depende da competência (conhecimentos, habilidades e atitude) dos profissionais ligados à Ciência de Animais de Laboratório. A pesquisa transdisciplinar em bem-estar animal é fundamental para a aplicação dos 3Rs. O controle social sobre as práticas de pesquisa e ensino é positivo porque estimula ações educativas, a comunicação dos cientistas com o público, a transparência e a accountabilidade. A experiência internacional tem mostrado que a resposta aos excessos do ativismo extremado em defesa dos direitos dos animais é a judicialização. Os estudos científicos sobre os movimentos sociais de proteção aos animais fornecem subsídios para o ativismo em defesa das práticas de pesquisa e ensino com animais. A Medicina Veterinária pode colaborar em muito com o debate, pois é competência legal e exclusiva do Médico Veterinário exercer a responsabilidade técnica das atividades envolvendo experimentação e ensino, utilizando animais de laboratório. Correspondência: ana.filipecki@gmail.com Os caprinos podem ser usados nas pesquisas, mas - como acontece com os outros animais - é preciso obedecer à legislação específica
No Brasil, a utilização de animais na pesquisa, ensino e outras finalidades científicas está regulamentada pela Lei Nº 11.794/2008 e outros dispositivos legais correlatos. O princípio ético que norteia a regulamentação brasileira é similar ao arcabouço regulatório internacional de proteção aos animais. Assim, a proteção do bem-estar do animal de pesquisa e ensino não é mais uma escolha e sim uma obrigação legal no cenário internacional. Todavia, a defesa
Fiocruz - Cecal
Conclusão
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Objetivos da
Política Agrícola Por:
Ronaldo Albuquerque, diretor da SNA
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entre os principais objetivos da política agrícola situam-se os de assegurar aos capitais investidos uma remuneração equitativa; e de permitir à agricultura tornar-se mais competitiva e eficiente. Segundo Vasco Leônidas, “a Política Agrária abrange a totalidade das relações da população rural entre si e com os restantes setores da economia. Pode-se definir como o conjunto de medidas e disposições pelas quais o Estado ou outras instituições do Poder Político exercem influência sobre a agricultura”. (Aspectos Fundamentais da Política Agrária - Junta de Colonização Interna - Portugal). A melhoria da produtividade agrícola é condição indispensável ao desenvolvimento econômico. Os desequilíbrios da economia são reduzidos pela agricultura produtiva. O agronegócio passou a ser uma referência percebida pelo projeto agrário brasileiro. Ele tem sido o sustentáculo da balança comercial do país, com um desempenho extraordinário. A colheita de grãos na safra 2012/2013 baterá um novo recorde na história da agricultura brasileira. Serão 185 milhões de toneladas. A riqueza gerada deverá superar 300 bilhões de reais. O Brasil, através da Embrapa, investe mais em tecnologia. Conseguirá um saldo de 83 bilhões de dólares para a nossa balança comercial. Significa produção vinculada ao mercado dentro de uma cadeia econômica de relacionamento empresarial. O agronegócio sofre crítica, infundada, de vários segmentos da sociedade, com a alegação de que ela só visa à exportação, criando, com isso, desigualdades sociais. A propriedade particular da terra impõe deveres. A lei mostra que a unidade produtiva não
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é vinculada ao sujeito como pessoa abstrata. Mas como titular de um direito - dever. Por isso a política agrícola deve estimular a criação de empresas familiares, transformando o agricultor familiar em empresário, organizando-se, no âmbito econômico, social e político, próprio da agricultura contemporânea. Com o objetivo de aperfeiçoar a política agrícola no país e estruturar o agronegócio, visando aumentar a produtividade, sugerimos: 1º) União de esforços entre o Governo Federal e o setor produtivo, visando criar melhores condições de investimento e organizar uma agenda de desenvolvimento de ações em longo prazo; 2º) Apoio e incentivo do Governo Federal à pesquisa agrícola, com a finalidade do desenvolvimento sustentável do setor agropecuário; 3º) Ampliação da área agrícola; 4º) Reduzir a tributação de insumos; 5º) Estudo de logística exportadora e fazer marketing internacional; 6º) Expandir a EMBRAPA, estatal de excelência, com mais recursos, para difundir suas pesquisas e experimentação no campo; 7º) Aplicação de tecnologia de alta precisão na agropecuária; 8º) Melhoria da matriz de transporte, dando incentivo ao uso de ferrovias e hidrovias; 9º) Melhoria da malha viária para possibilitar o fácil escoamento da produção; 10º) Melhoria da infraestrutura dos portos e armazenagem; 11º) Melhoria no sistema de vigilância sanitária no complexo carne e na pesquisa, prevenção e controle sanitário; 12º) Executar a política agrícola com preceitos legais que modelem condições técnicas, econômicas e humanas. O mundo rural, de tão grandes e arraigadas tradições, encontra-se sujeito a uma evolução permanente, esperançosa e renovadora.
Segurança alimentar no comate à fome O homem deve respeitar os limites dos ecossistemas regionais, que podem sustentar a população local e manter os serviços ambientais. A agenda do planeta, definido e chamado pela ONU como “sistemas planetários”, são assim designadas: segurança climática, alimentar, energética, hídrica, a biodiversidade, a justiça e a paz. O direito humano à alimentação adequada (DHAA), segundo Jean Ziegler, relator da ONU para o Direito à Alimentação: “é um Direito Humano inerente a todas as pessoas a ter acesso regular, permanente e irrestrito, a alimentos seguros e saudáveis, em quantidade e qualidade adequadas e suficientes, correspondentes às tradições culturais do seu povo e que garanta uma vida livre do medo, digna e plena nas dimensões física e mental, individual e coletiva”. O art. 3º da Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) – Lei nº 11.346, de 15/09/06, diz: “A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam: ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis”. A ministra Izabella Mônica Teixeira fez o seguinte pronunciamento no 12º Congresso de Agribusiness, organizado pela SNA: “Numa agenda ambiental de um país como o Brasil, que tem um desafio monumental na segurança alimentar, é um desafio saber usar os seus ativos ambientais e traduzi-los em riqueza e sustentabilidade”. Economia verde, ou seja, segurança alimentar, energética e preservação dos recursos naturais, são componentes indispensáveis para que o Brasil, futuramente, possa alimentar o mundo. Já dispõe de água, solo, terra, tecnologia e capacidade empresarial. Foi divulgado pela imprensa um relatório da ONU para a alimentação e agricultura (FAO). Estima-se que uma em cada oito pessoas no planeta sofre de fome crônica. O problema atinge 842,3 milhões de pessoas. Concentra-se nos países em desenvolvimento, onde vivem 826,6 milhões de pessoas nessa situação. Em termos proporcionais a África tem 23,6% da população
em situação de fome crônica, quase uma em cada quatro pessoas. O representante da FAO no Brasil, Alan Bojanic, afirma que, além da produtividade mundial não crescer na mesma proporção da demanda de alimentos, a elevação da renda tem puxado o consumo e os problemas climáticos estão aumentando os custos de energia. Diz que neste contexto, o Brasil se destaca como fornecedor de alimentos e conhecimento e que até 2050 o Brasil deve responder por 40% do crescimento da produção mundial. Defende a criação de um grupo estratégico de pensadores sobre o papel do Brasil nesse futuro. No Brasil, o CONSEA- Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, criado em 2003, auxilia a formulação de políticas do governo para garantir o direito dos cidadãos à alimentação. O homem considera que a responsabilidade pela fome aguda ou crônica e a origem da sua privação, não é o fatalismo e sim a sociedade. Reage contra a estrutura e organizações sociais que o estariam marginalizando e penalizando. Roberto Rodrigues afirma que para o Brasil assumir a liderança mundial de um projeto planetário de economia verde, é preciso fazer a lição de casa que implica numa estratégia de nação e lidar com alguns assuntos, como o Código Florestal, a questão ambiental, a logística, a infraestrutura, a política de renda, a lei do seguro rural e a lei do preço mínimo ( anais do 12º Congresso de Agribusiness, pág.24). Com o objetivo de aperfeiçoar a Política Agrícola no país e estruturar o agronegócio, visando aumentar a produtividade, é necessário expandir o sistema elétrico nacional. Ele é fundamental para a segurança alimentar e suas infraestruturas de suporte. A ONU deve dar ênfase na recuperação das chamadas populações subnormais. Partimos do ponto de vista de que a miséria é uma consequência socioeconômica de solução distorcida dada a um problema. Existisse no mundo uma agricultura produzindo frutos generosos, à questão pobreza estaria minimizada. Daí, nosso redobrado interesse em ver o aumento da produtividade agrícola ser atacada com mais agressividade e eficiência. Devemos levar em consideração que os estímulos são tão importantes para a saúde como são os alimentos. Animal Business-Brasil_51
52_Animal Business-Brasil
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Criatório produz leite de cabra fermentado com tecnologia do SENAI
Divulgação
O produto resulta de uma parceria entre a Fazenda Geneve, em Teresópolis (RJ), e o Centro de Tecnologia de Alimentos e Bebidas do SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), sediado em Vassouras (sul fluminense), e já vem sendo fabricado naquela propriedade. Segundo o zootecnista Reinaldo Pires, administrador da fazenda (na foto com o produto), o leite de cabra tem glóbulos de gordura muito menores do que os de vaca e, por isso, é digerido mais facilmente. Além disso, sua concentração de minerais é mais alta, o que torna a bebida e seus derivados mais nutritivos. Segundo o SENAI, o produto é obtido a partir da ação de micro-organismos lácteos. Ou seja, é o resultado da combinação de leite in natura, soro de leite e o cultivo de bactérias lácticas. O leite de cabra fermentado é uma alternativa para pessoas com intolerância ao leite de vaca, principalmente crianças.
Pesquisadores dos departamentos de Zootecnia e de Informática da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, desenvolveram dois softwares (programas de computador) capazes de calcular a quantidade exata de cada nutriente para bovinos. O software CQBAL 3.0 é a versão on-line da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos para Ruminantes (entre eles bovinos, caprinos e ovinos) e contém todos os tipos de alimentos e seus derivados. Nele o produtor pode escolher o alimento e acessar a sua composição nutricional. Já no software BR Corte, que é baseado na tabela de exigências nutricionais de bovinos de corte do Brasil, é possível formular dietas a um custo mais baixo e calcular o ganho de peso dos animais a partir de uma dieta já elaborada. Além disso, os softwares permitem a inclusão de dados de novos alimentos. Ambos são grátis e estão disponíveis on-line: COBAL: http://www.ufv.br/cobal; BR Corte: http://www.brcorte.com.br
Danielle Kiffer
Universidade de Viçosa: softwares para cálculo de alimento para bovinos
Animal Business-Brasil_53
Divulgação
Boas práticas permitem redução de gastos no controle de verminose em ovinos Práticas simples de manejo do rebanho ovino podem propiciar um controle eficiente de verminoses. O resultado aparece no ganho de peso dos animais e na redução de gastos do produtor com uso de vermífugos. Essa foi a principal conclusão a que se chegou em pesquisa realizada no núcleo Pecuária Sudeste da EMBRAPA, empresa de pesquisa agropecuária do governo federal. De acordo com a pesquisadora Ana Carolina Chagas, apenas os animais que realmente precisam de tratamento devem ser vermifugados. O produtor também deve evitar a troca frequente de vermífugos, pois essa prática aumenta a resistência em médio prazo. A alimentação precisa ser adequada a cada categoria animal, porque uma dieta pobre em proteína pode deixar os animais vulneráveis à verminose.
Ourofino
Ourofino e UNESP: novo produto para combate aos carrapatos em bovinos
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O produto (Fluatac Duo) foi desenvolvido pela empresa Ourofino Agronegócio em parceria com o Centro de Pesquisa em Sanidade Animal da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Trata-se de um produto antiparasitário que possui uma formulação única no mundo e é mais eficiente no controle de carrapatos em bovinos (um dos maiores problemas da pecuária no Brasil). “Fluatac Duo é uma alternativa promissora no combate ao carrapato com um período longo de proteção, maior que o dos similares,” diz o coordenador da pesquisa do parasiticida, Alvimar José da Costa, observando que “o desenvolvimento do produto mostra que o investimento em pesquisas dá resultados, beneficiando a empresa e o país”.
USP
Saber se um alimento está impróprio para o consumo não depende apenas da data de validade impressa na embalagem. Para evitar qualquer dúvida nesse sentido, pesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveram uma embalagem que muda de cor para indicar o estado de conservação de um alimento. Trata-se de uma película, parecida com um filme plástico de embalagens, feita à base de fécula de mandioca, matéria-prima orgânica, renovável e biodegradável. A película recebe um pigmento retirado da casca da uva chamado antocianina, que é responsável pela variação da cor da embalagem quando o produto está se deteriorando. O pigmento faz a embalagem mudar de coloração à medida que o pH (grau de acidez) do alimento se altera, devido à sua decomposição.
Husqvarna
Embalagem indica se alimento está impróprio para consumo
Husqvarna desenvolve equipamentos para melhorar produtividade de criações de frangos A Husqvarna, empresa sueca que atua no Brasil produzindo equipamentos para o setor agropecuário, desenvolveu, através do seu departamento de pesquisa, o que denominou kit aviário, o qual tem por objetivo melhorar a produtividade das criações de frangos de corte. O kit compreende o motocultivador TR 430 (foto) e dois sopradores (125Bx e 356BTx). Segundo o fabricante, o TR 430 é ideal para revolver a cama aviária e deixar a superfície mais fofa, evitando assim a formação de calosidade nos frangos, problema que prejudica a produtividade do criatório. Com a ação do equipamento, a qualidade da carne do frango é aprimorada, valorizando a produção do criador. Já os sopradores, de acordo com a empresa, são próprios para a limpeza interna e externa de penas, impurezas e ventilação dos galpões de alojamento de aves.
A tecnologia, desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, consiste em enriquecer a alimentação de codornas com óleos de linhaça e canola que contêm ácido linolênico (ômega 3). Dessa forma, os ovos postos a partir desse tratamento terão em sua composição esse ácido. Uma das razões que levaram à tecnologia é que o ácido linolênico desempenha papel importante na prevenção de diversas doenças (como as cardiovasculares) e no envelhecimento precoce. Antes da criação da tecnologia, o ácido era encontrado apenas em algas e animais marinhos e em alguns óleos de origem vegetal, como linhaça e canola.
Divulgação
Viçosa desenvolve tecnologia que faz codorna produzir ovo com ômega 3
Animal Business-Brasil_55
Crédito rural:
expansão recente, principais desafios e perspectivas Por:
Felipe Prince Silva, mestre em Economia Agrícola – UNICAMP e economista-sócio da Agrosecurity Consultoria e Agrometrika
Expansão recente do crédito rural O crédito é um dos instrumento de política relevante utilizado para fomentar a atividade econômica. Recentemente, observa-se no Brasil um crescimento significativo da taxa de contratação do crédito em diversos setores. Para fins de comparação, a proporção do volume total de crédito contratado, em 2013, em relação ao PIB (Produto Interno Bruto, que se refere ao total de produtos e serviços da economia brasileira) foi de 56%. Há 10 anos atrás, essa proporção era de 26%; em 2011 e 2012, era de 49% e 53%, respectivamente. Ou seja, há um crescimento expressivo do volume de contratação do crédito no Brasil. Em comparação a outros países, no entanto, a proporção do crédito em relação ao PIB ainda é baixa. Para exemplificar, nos EUA, essa proporção é de 164%, na Alemanha é de 98% e no Chile é de 82%. No agronegócio, em consonância com os demais setores da economia, observa-se também o movimento de expansão do crédito. Segundo dados do Banco Central do Brasil, entre 2002 e 2012, o volume de crédito rural oficial contabilizado pelo Sistema Nacional de Crédito Rural1 O Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR) não contabiliza os créditos comerciais ou mercantis, disponibilizados por agentes a montante e a jusante, tais como tradings, cerealistas, distribuidores de insumos e cooperativas de produção. Portanto, esses valores não são contabilizados nessa taxa de crescimento.
1
56_Animal Business-Brasil
teve aumento real (acima da inflação2) de 275%, passando de R$ 22,5 bilhões em 2002 para R$ 114,8 bilhões em 2012. Nesse mesmo período, a taxa de crescimento média anual real do crédito para a agricultura foi de 9,3%, enquanto para a pecuária foi de 14,1%. A Figura 1 demonstra essa evolução: Figura 1. Evolução do Crédito Rural no Brasil (bilhões de R$) 77,5
17,1 5,4
24,4 6,7
32,2 8,3
31,5 10,4
31,7
49,8
54,3
16,4
20,9
56,9
37,4
12,1 13,8
25,1
64,9
29,2
37,3
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Agrícola
Pecuário
Fonte: Banco Central do Brasil
Aumento de tecnologia e produtividade Segundo dados do IBGE, a área de cultivo de culturas anuais no Brasil passou de 48,1 milhões de hectares em 2002 para 63,0 milhões de hectares em 2012, o que representa taxa de cresci2 Os valores reais foram calculados com base na inflação segundo o IGP-DI, da Fundação Getúlio Vargas.
Divulgação
mento anual médio de 2,73% no período. Por sua vez, ainda segundo o órgão, a área de culturas perenes caiu de 6,4 milhões de hectares para 6,2 milhões de hectares, ou seja, queda de 0,32% ao ano. A Figura 2 demonstra essa evolução: Figura 2. Evolução de áreas de cultivo no Brasil (milhões de hectares) 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0
61,8 63,0 56,7 58,0 56,1 55,9 59,0 59,4 59,1 48,1 52,1
6,4
6,4
6,4
6,4
6,5
6,5
6,5
6,3
6,3
6,3
6,2
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Culturas Anuais
Culturas Perenes
Fonte: IBGE – Produção Agrícola Municipal
Já o rebanho bovino aumentou de 185,4 milhões de unidades em 2002 para 211,2 milhões de unidades em 2012, o que representa taxa de crescimento médio anual de 1,32%. A Figura 3 demonstra a evolução: Figura 3. Evolução do Rebanho Bovino no Brasil (milhões de cabeças) 212,8 211,3 215,0 209,5 207,2 205,9 210,0 205,3 204,5 202,3 205,0 199,8 200,0 195,6 195,0 190,0 185,3 185,0 180,0 175,0 170,0 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Felipe Prince Silva é Mestre em Economia Agrícola
Tabela 1. Produtividade (quilos por hectare) das principais culturas no Brasil Safra 2002/03
Safra 2012/13
Taxa de crescimento anual médio
Soja
2.816
2.938
0,43%
Milho
3.585
5.120
3,63%
Arroz
3.254
4.913
4,21%
732
909
2,19%
2.123
2.311
0,85%
Cultura
Feijão Trigo
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
Fonte: Companhia Nacional de Abastecimento
Considerando-se os dados das Figuras 1, 2 e 3, nota-se que a relação entre o volume de crédito contratado pela agricultura passou de R$ 313 por hectare na Safra 2002/03 para R$ 1.120 por hectare na Safra 2012/13, o que representa um incremento médio de R$ 81 por hectare ao ano. Esses números indicam maior utilização de capital de terceiros na atividade rural brasileira, o que tem como consequência o maior emprego de tecnologia e produtividade. O crescimento da produtividade das principais culturas no Brasil é demonstrado na Tabela 1:
O aumento do volume de vendas de tratores e colheitadeiras para a agropecuária também é um indício da aplicação de maior tecnologia, em função do aumento da aplicação de crédito. A Figura 4 demonstra a evolução de venda no mercado interno, segundo dados da ANFAVEA (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). O significativo aumento do volume no biênio 2012-13 reflete não apenas a maior disponibilidade de crédito, mas também os bons preços pagos aos produtores nas principais cadeias do agronegócio. Animal Business-Brasil_57
Figura 4. Evolução de venda de máquinas agrícolas no Brasil (mil unidades) 66,1
70 60 50 40 30 20 10 0
42,6
44,7
4,3
3,7
2008
2009
56,9
56,5
53,3
4,5
5,3
6,3
8,5
2010
2011
2012
2013
31,1 18,0
20,4
1,5
1,0
2,3
2005
2006
2007
Tratores
Colheitadeiras
Fonte: ANFAVEA
O crescimento das vendas de máquinas agropecuárias pode ser atribuído, em grande parte, às políticas de crédito fomentadas pelo governo brasileiro, tal como o PSI – BK (Programa de Sustentação do Investimento, para aquisição de Bens de Capital). Essa é uma linha de crédito com a finalidade de financiar máquinas e equipamentos agrícolas novos aos produtores rurais. Segundo dados do Ministério da Agricultura, o volume de crédito contratado pelo PSI-BK passou de R$ 2,6 bilhões no período de julho a outubro de 2012 para R$ 3,9 bilhões no mesmo período de 2013, o que representa aumento de 53,6%. O programa tem carência de 3 a 24 meses, prazo de pagamento de até 120 meses e juros de 3,0% a 3,5% ao ano.
Papel das políticas públicas Em 2012, o crédito rural oriundo dos bancos públicos federais representou 60,1% do total de crédito contratado no Brasil pelo setor. Isso significa um incremento razoável em comparação a 2008, quando a participação dos bancos públicos representava 50,6% do crédito rural total. De certa forma, essa evolução reflete a postura do governo federal na criação de políticas anticíclicas para o setor no momento de crise de 2007/08 nos EUA e em 2009 na Europa. Porém, ainda há muitos produtores que possuem pouco acesso ao crédito rural no país. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, havia 5,18 milhões de estabelecimentos agropecuários no país. Já segundo dados do Banco Central, o número de contratos de crédito em 2012 foi de 2,6 milhões. Assim, nesse ano, a relação entre número de contratos e o número de estabelecimentos agropecuários foi de 51%. 58_Animal Business-Brasil
Assim, caso seja 1 (um) contrato adquirido por produtor (hipótese que é conservadora, visto que parte significativa dos produtores possuem mais de um contrato de crédito, para finalidades distintas, como investimento, custeio e comercialização), no mínimo, 49% dos estabelecimentos agropecuários não acessaram o mercado de crédito rural oficial em 2012 no Brasil. Portanto, ainda há muito espaço para crescimento.
Alternativas de financiamento fora do crédito oficial Fora do Sistema Nacional de Crédito Rural, existem alternativas importantes de financiamento aos produtores, com a atuação de tradings e fornecedores de insumos. São mecanismos importantes, especialmente porque auxiliam o produtor em sua gestão, pois muitas delas acompanham o hedging natural do preço de venda e, assim, minimizam o risco de câmbio e preço das commodities. Porém, nesses casos, como as taxas são de mercado, e não subvencionadas, como ocorrem com as linhas de crédito oficial, o crédito torna-se mais caro para o produtor, em função dos maiores riscos assumidos pelo financiador. Segundo dados da Agrosecurity, o financiamento fora do Sistema Nacional de Crédito Rural chega a representar cerca de 47% do mercado de crédito para financiamento da soja no Centro-Oeste. Em 2013, uma fonte importante de financiamento a grandes produtores foi a LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), que é um título emitido por bancos para seus clientes investidores. Segundo dados do Jornal DCI - Diário do Comércio & Indústria, em matéria publicada em 08-janeiro-2013, a emissão de LCA registrada na BM&F-Bovespa subiu para R$ 89,9 bilhões em 2013, o que representa crescimento de 147% em relação a 2012. A LCA é um dos “Novos Títulos do Agronegócio” - criados pela Lei n. 11.076/04 -, que ganham maior importância no financiamento ao produtor rural no Brasil.
Principais desafios para ampliação e difusão do crédito rural O processo de ampliação do crédito é positivo ao setor; no entanto, é necessário que haja distribuição e difusão para produtores de diferentes perfis, em diferentes culturas e regiões, no senti-
do de homogeneizar o acesso à tecnologia. Junto com o processo de difusão de crédito, é necessário que existam políticas de assistência técnica e qualificação dos produtores rurais, para a melhoria da gestão e utilização adequada da terra e dos insumos. Isso porque mais importante que o volume de crédito é a sua aplicação correta, o que exige produtores rurais qualificados e com boa capacidade de gestão produtiva e financeira. Como o agronegócio vem apresentando maior taxa de crescimento na economia brasileira nos últimos dois anos, há um interesse crescente dos bancos privados em aumentar a participação de suas carteiras no setor. No entanto, existem falhas institucionais que impedem a maior difusão do crédito rural no Brasil por parte dos financiadores privados, tais como: assimetria de informação entre o financiador e o produtor, o que gera o problema conhecido como risco moral (moral hazard) na teoria econômica; insuficiência de dados estatísticos confiáveis e baixa taxa de adesão de seguro rural, que representa cerca de 20% da produção brasileira. A resolução desses gargalos são indispensáveis para a criação de um ambiente que favoreça a difusão de crédito de forma eficiente e a um custo de contratação mais baixo para os produtores. Hoje, a atuação do Estado é importante, no sentido de subvencionar as taxas de juros e direcionar os recursos para crédito de maturação maior, como máquinas, equipamentos e construção de armazéns. No entanto, para que o setor cresça de maneira dinâmica e sustentável, é necessária a maior participação de agentes privados. O benefício dessa participação seria geral, com a desoneração das contas públicas. Os problemas de infraestrutura e logística também precisam ser enfrentados, visto que afetam negativamente os fornecedores de crédito, já que os custos e os riscos tornam-se maiores para toda a cadeia, especialmente para aquelas voltadas para a exportação, como os grãos, açúcar e carnes.
Perspectivas para a Safra 2013/14 Do lado da oferta, a programação de aplicação de recursos para o financiamento rural de custeio e comercialização da Safra 2013/14 é de R$ 97,6 bilhões, segundo dados do Ministério da Agricultura, o que representa aumento de 9,7%
“
Há muitos produtores com pouco acesso ao crédito rural no Brasil
sobre o valor programado da Safra 2012/13. Já para o crédito de investimento, a programação de aplicação de recursos apresenta taxa de crescimento significativamente mais elevada, de 46,1%, com destinação de R$ 38,4 bilhões na Safra 2013/14. Destaca-se a recente entrada da Caixa Econômica Federal como instituição financiadora do agronegócio. Já do lado da demanda, para a Safra 2013/14, existe perspectiva de diminuição de preço da soja, em função da maior oferta oriunda da safra da América do Sul e recomposição dos estoques mundiais. Porém, como o câmbio deve ficar mais desvalorizado em 2014 no Brasil, há uma compensação sobre os preços em R$ para os produtores. Para o café, apesar da expectativa de safra menor em 2014 em comparação a 2012 e 2013, o setor ainda deve apresentar dificuldades para recompor a renda, em função dos altos estoques. No setor de carnes, os preços apresentam tendência de alta devido à previsão de crescimento da demanda acima da oferta. Dessa forma, em 2014, a demanda pelo crédito rural deve continuar aquecida, o que é uma oportunidade para as empresas que atuam na cadeia, especialmente as de máquinas e equipamentos, que necessitam de uma maior aplicação de capital. E, também, uma oportunidade para o aumento da produtividade dos produtores rurais brasileiros, com aumento da competitividade a nível internacional e melhoria da renda no médio e longo prazos. Porém, para que o aumento do crédito seja convertido em renda, é necessário qualificação técnica no campo, com investimento em educação e melhoria de infraestrutura e logística para escoamento dos insumos e da safra. Animal Business-Brasil_59
Gerhard Waller
O material ĂŠ trabalhado em placas de Petri
60_Animal Business-Brasil
Efeito da adição de colostro bovino liofilizado na
dieta de pacus e dourados Por:
Gerhard Waller, Esalq/USP
Animal Business-Brasil_61
O
consumo de peixe no mundo alcançou níveis históricos em 2010, atingindo uma média de 17 kg por pessoa, com uma taxa anual de crescimento de 7% nos últimos anos. No entanto, esse aumento no consumo está atrelado ao refinamento das exigências do consumidor, que hoje busca informações com propósito de obter produtos alimentícios com qualidade em toda a cadeia produtiva. Para atender a essa necessidade, o setor produtivo e a comunidade científica têm direcionado esforços para adequar boas práticas de manejo voltadas tanto para as condições ambientais, ao controle de qualidade da água, da ração ofertada, da limpeza e manutenção do cultivo e das condições de sanidade dos animais. Um desses estudos, coordenado pelo professor Raul Machado Neto, do Departamento de Zootecnia (LZT) da ESALQ, envolve pesquisadores do Laboratório de Anatomia e Fisiologia Animal e do Setor de Piscicultura do LZT, este sob liderança do professor José Eurico Possebon Cyrino.
Colostro bovino Com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e estudantes de iniciação científica trabalham, desde 2006, na análise da viabilidade da adição de colostro bovino liofilizado (CBL) como fonte proteica suplementar à ração
Gerhard Waller
Equipe do prof. Raul Machado
62_Animal Business-Brasil
de peixes endêmicos e neotropicais com diferentes hábitos alimentares. O foco do projeto são pacus e dourados, que apresentam dieta onívora e carnívora, respectivamente. “Já estudamos a importância do colostro para recém-nascidos caprinos, equinos, suínos e bovinos, mas a adição de colostro bovino na dieta de peixes é uma proposta inovadora”, conta professor Raul Machado. O colostro – É a primeira secreção láctea produzida pelos mamíferos, constituindo uma mistura de secreções produzidas pela glândula mamária e de elementos originados no soro sanguíneo. “Trata-se de uma rica fonte de proteína de origem animal e peptídeos bioativos, excedente em regiões produtoras de leite, constitui-se em uma alternativa complementar a ser considerada para a nutrição de peixes, podendo vir a ser inovador quando acrescido como fonte parcial de proteína para espécies nacionais como o pacu e o dourado”, comenta a zootecnista Thaline Maira Pachelli da Cruz, autora da dissertação defendida no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal em Pastagens (PPG-CAP), que estudou características do tecido intestinal dos peixes alimentados com dietas contendo colostro. Segundo o professor Raul Machado, o colostro é essencial para os animais domésticos, porque toda imunidade inicial vem dessa secreção láctea. “Nas regiões leiteiras, as vacas produzem uma grande quantidade de colostro e a utilização do excedente vem sendo estudado por pesquisadores para que possam transferir esse potencial de proteção para outros animais”. Equipe – Uma das etapas do projeto está sob responsabilidade da pós-doutoranda Dra. Débora Botéquio Moretti, que investiga o colostro como fonte de macromoléculas (no caso, a imunoglobulina G -IgG) marcadoras da absorção intestinal. Na iniciação científica, Jessica Pampolini (graduanda em Ciências Biológicas) e Mayra Maniero Rodrigues (graduanda em Engenharia Agronômica) realizam o trabalho de divisão de células no epitélio intestinal e atividade da lisozima no soro sanguíneo dos juvenis de pacu e dourado alimentados com colostro bovino, respectivamente. Também no PPG-CAP, doutoranda MSc. Wiolene Montanari Nordi está avaliando, em seu doutorado, a influência do fator bioativo IGF-I presente no colostro bovino liofilizado sobre as características do epitélio in-
Gerhard Waller
Pesquisa observa efeito da adição de colostro bovino liofilizado na dieta de pacus e dourados
testinal. “O colostro é rico em proteínas, principalmente as imunoglobulinas e fatores bioativos, como o fator de crescimento semelhante à insulina (IGF-I) e o seu armazenamento na forma liofilizada preserva a sua qualidade e características originais”, conta Thaline. Ficou por conta de orientandos do professor José Eurico o auxílio logístico para a realização dos ensaios. Em campo – Para coleta das informações, juvenis de pacu e dourado foram alimentados com três dietas experimentais contendo 0, 10 e 20% de colostro bovino liofilizado. O fornecimento de dietas contendo anticorpos bovinos possibilitará, através da determinação sérica de imunoglobulina G bovina, utilizar estas macromoléculas como marcadores biológicos da absorção intestinal, pois trata-se de uma proteína heteróloga e filogeneticamente distante dos peixes. Serão ainda investigados aspectos citológicos e morfológicos do epitélio intestinal, bem como a absorção do IGF-I. Com a proposta de avaliar o desenvolvimento dos tecidos entérico, muscular e hepático estão sendo analisadas as alterações da atividade de enzimas da parede intestinal, no conteúdo proteico e de nucleotídeos. O professor José Eurico comenta sobre
a importância de buscar a melhor dieta ou alternativas de dietas para espécies tanto nacionais quanto as de origem estrangeiras. “Não só para as espécies nacionais, definir dietas de alta eficiência nutricional para qualquer espécie é fundamental para reduzir os custos e aumentar a produtividade dos sistemas de piscicultura”. Sobre espécies endêmicas como pacu e dourado, a relevância na obtenção de informações sobre dietas é ainda mais aguda. “A importância é mais acentuada para as espécies nacionais porque o “corpo” de informações sobre que temos sobre elas é ainda incipiente, ou seja, qualquer pequeno avanço é considerável”. Para chegar às informações assertivas sobre os níveis de inclusão do CBL e seus efeitos no comportamento dos peixes, a equipe do professor Raul Machado continuará mapeando as reações no intestino. “Queremos conhecer o mecanismo intestinal em sua plenitude, considerando todos os elementos que permitem avaliar as diferentes dietas fornecidas para diferentes espécies e que isso possa representar, ao final desse processo. Esperamos contribuir para o estabelecimento de alternativas de melhor custo e eficiência para o produtor”, finalizou Raul Machado. Animal Business-Brasil_63
Uma indústria
que resiste S
er empresário no Brasil é um ato de heroísmo. Quando se trata dos setores de manufaturados, especialmente dos mais intensivos em mão de obra, como o caso do calçadista, o heroísmo deve ser potencializado. Maior irresignação ainda é saber contar com um dos mais completos clusters do mundo, aqui temos toda a cadeia necessária para a fabricação de um calçado de excelência -, e não conseguir concorrer no mercado interno e externo por conta do Custo Brasil e inércia das autoridades nas questões urgentes de defesa comercial e resolução de entraves burocráticos e políticos com os nossos principais parceiros. Somos castigados por uma carga tributária entre as maiores do mundo e com o pior retorno entre os países de maior tributação – fato comprovado em recente pesquisa do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação -, uma legislação trabalhista arcaica, infraestrutura logística cara e ineficiente, concorrência desleal com produtos asiáticos, entre outros entraves. No mercado externo, a volatilidade do câmbio e a consequente dificuldade na formação de preços, as recessões nos principais mercados, leia-se Europa e Estados Unidos, os entraves burocráticos e o protecionismo crescente da Argentina, fazem as exportações despencarem ano a ano.
Quedas Para ilustrar o quadro, em 2008 o saldo da balança comercial de calçados era de US$ 1,6 bilhão, três vezes maior do que o registrado em 2013 (US$ 522 milhões). Em 2014, infelizmente, a tendência é de manutenção deste quadro. Conforme dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), no primeiro trimestre, o faturamento com as exportações de calçados caiu 2,3% no comparativo com o mesmo período de 2013 (de US$ 281,1 milhões para US$ 274,6 milhões), que, diga-se de passagem, foi um ano terrível para a indústria nacional. 64_Animal Business-Brasil
Não bastasse a quedas dos embarques, estamos assistindo uma verdadeira invasão de produtos asiáticos com preços muito abaixo dos praticados no mercado. A aplicação do direito antidumping instituído contra o produto chinês em 2010, infelizmente, não foi o suficiente para frear o calçado daquele país. Embora, desde aquele ano, tenhamos registrado uma queda nas importações da China, notamos que as compras de calçados de países próximos – leia-se Vietnã e Indonésia -, cresceram exponencialmente. Entre 2010 e 2013 as exportações de calçados daqueles países para o Brasil aumentaram cerca de 160% (a soma dos dois países foi de US$ 191 milhões em 2010 e US$ 415 milhões em 2013). Aproveitando a chegada dos eventos esportivos internacionais que deveriam beneficiar as produtoras nacionais, no primeiro bimestre de 2014, o ritmo das importações segue forte. Nos três primeiros meses entrou no Brasil o equivalente a US$ 171 milhões, 16,3% mais do que no mesmo período do ano passado. Mais de 70% dos produtos eram provenientes, justamente, do Vietnã e da Indonésia. A suspeita é de que ocorra um processo de elisão fiscal chamado de triangulação das importações, quando o calçado chinês é montado em outro país e remetido para o Brasil sem a taxa de antidumping. Além das importações desses países, cresce a entrada de produtos via Paraguai, onde a atividade calçadista é praticamente nula. No caso do Paraguai, a questão é ainda mais grave, pois os produtos entram sem qualquer imposto, já que aquele país é signatário do Mercosul. A concorrência é inviável! Além dos calçados prontos, produtos desmontados, a maioria proveniente da China, também continuam entrando no Brasil num claro processo de elisão fiscal que afronta o direito antidumping, que prevê tarifa também para as partes dos produtos sujeitos à legislação. São os mesmos cal-
Juarez Machado
A produção de calçados chegou a 900 milhões de pares em 2013
çados chineses, só que desmontados e sujeitos à mera colagem em solo brasileiro. Aqui os impostos também são menores, de 18% (para calçados prontos a tarifa externa praticada é de 35%).
Força Mesmo com todas as adversidades listadas, os calçados brasileiros conseguiram galgar novos clientes no mercado externo. Vendendo em menor volume, a indústria nacional conseguiu pulverizar sua produção para 150 países nos últimos anos. Nos anos 2000, para efeito comparativo, eram 90 países os destinos dos produtos. Somada à qualificação do produto brasileiro, o investimento em tecnologia e moda, o trabalho de apoio às exportações e promoção comercial do Brazilian Footwear, um programa gerido pela Abicalçados com o apoio da Agência Brasileira de Promoção das Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), foi fundamental. Desde o início da década passada, o Programa aporta recursos significativos para que o calçado brasileiro galgue novos rumos além-fronteiras através da participação em feiras comerciais, missões, estudos de mercados, entre outras ferramentas de divulgação e vendas. Temos a convicção de que o calçado brasileiro, se produzido em condições ideais de competição, não ficaria atrás de nenhum outro produto ligado à moda no Mundo. A conquista do mercado internacional, mesmo em meio a tantas adversidades, é de extremo orgulho para a Abicalçados e nos dá a certeza de que, recuperadas as condições de competitividade no cenário internacional, as exportações voltarão aos patamares anteriores.
Couro Em consonância com a temática deste importante veículo de comunicação, não poderíamos deixar de citar a importância do couro no calçado brasileiro. Mesmo que tenhamos notado, nos últimos anos, uma queda na utilização da matéria-prima nos calçados, devido justamente a fatores de prejuízo da competitividade já elencados, o couro ainda é uma forma de agregação de valor sem precedentes. A qualidade das peles é um dos fatores de fortalecimento da cadeia coureiro-calçadista nacional. O Programa Brazilian Footwear tem como fundamento e objetivo a exportação de produtos com valor agregado, com design diferenciado e sob marca própria. Neste contexto, o uso preferencial da matéria-prima couro adquire relevância. Assim, inobstante observamos, nos últimos anos, uma forte redução nos volumes de exportação de calçados com a aplicação de couro (de US$ 934 milhões e 35 milhões de pares em 2010 para US$ 514 milhões e 18 milhões de pares em 2013, ou seja, redução de 45% em valor e de 49% em pares), há uma percepção acentuada de emprego de couro nas exportações de calçados nos próximos anos. Esta percepção se fundamenta na estratégia estabelecida pelo Programa na seleção dos mercados-alvo (África do Sul, China, Colômbia, Emirados Árabes, Estados Unidos, França, Itália e Rússia) e na agregação de valor e design diferenciado, o que remete à aplicação de materiais nobres. Animal Business-Brasil_65
Débora 70
As novidades do Plano Safra 2014/15 para o setor animal Antonio Alvarenga (*)
A
tendendo a uma reivindicação dos pecuaristas e, ao mesmo tempo, com o objetivo de aumentar a oferta de carne e melhorar a produtividade, o governo federal incluiu o setor animal no Plano Safra 2014/15. Os criadores poderão financiar a aquisição de animais para engorda em regime de confinamento, assim como a retenção de matrizes (com até três anos para pagamento) e a aquisição de reprodudores e matrizes, com limite de R$ 1 milhão por beneficiário e até cinco anos para pagamento, sendo dois de carência. Para incentivar a inovação tecnológica, serão aperfeiçoadas as condições de financiamento à avicultura, suinocultura e pecuária de leite por meio do Programa Inovagro. Por esta modalidade, foram programados R$ 1,7 bilhão em recursos (um crescimento de 70% em relação ao ano anterior), com limite de R$ 1 milhão por produtor para ser pago em até 10 anos, sendo três de carência. O anúncio foi bem recebido pelo setor. O financiamento para a retenção de matrizes constitui medida importantíssima, que poderá evitar a continuidade no abate de fêmeas – conforme se verificou nos últimos dois anos – provocando escassez de bezerros no mercado e, consequentemente, significativa alta no preço desses animais. Os recursos para o Programa ABC, que trata da integração pecuária-lavoura-floresta, foram ampliados. Em nossa opinião, essa linha de financiamento poderia ter sido contemplada com juros menores para incentivar as práticas conservacionistas abrangidas pelo programa. Como se sabe, a pecuária é uma atividade de longo prazo, sendo imprescindível dar atenção
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especial aos investimentos em tecnologia, com o objetivo de promover a recuperação e reforma das pastagens e conquistar ganhos de produtividade. Nossa pecuária ainda é muito extensiva. Precisamos produzir mais carne em áreas de pastagens menores. A expansão da produção agrícola em algumas importantes regiões do país depende, em grande parte, da incorporação de áreas de pastagens que são liberadas com o aumento da produtividade de nossa pecuária. Durante a solenidade de lançamento do Plano Safra, a presidente Dilma disse expressamente que não faltarão recursos para a agropecuária. Caso as dotações inicialmente previstas forem consumidas e houver demanda por mais crédito, teremos a liberação de novos recursos. Como se vê, as notícias são positivas. O problema é o excesso de burocracia na concessão e liberação dos financiamentos. O governo federal reconhece esse entrave. O Plano Safra 2014/15 prevê a criação um grupo de trabalho para tentar equacionar uma possível saída para essa questão. Vamos conferir ! (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
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