Animal Business Brasil 16

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Ano 04 - Número 16 - 2014 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

BIOLOGIA MOLECULAR

Recurso para aumentar a produtividade

APRENDENDO COM A VACA Boa alimentação é o mais importante

Instituto Cândido Tostes há 79 anos ensinando a fazer

QUEIJO


PROGRAMA PRODUÇÃO DE LEITE DE QUALIDADE O Programa Produção de Leite de Qualidade está mudando a forma de produzir leite nas propriedades do país. O objetivo é capacitar os produtores de leite nas boas práticas de ordenha e gerar mais renda para o produtor. A Instrução Normativa nº 62/2011 (IN 62) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) regulamenta a produção, identidade, coleta e transporte do leite e estabelece os limites de qualidade e os prazos para serem alcançados. Saiba como atender a IN 62, procure o SENAR do seu estado ou o sindicato da sua região. Informe-se e participe deste grande salto de qualidade do leite brasileiro.

www.timeagrobrasil.com.br


uma publicação da:

O

Instituto de Laticínios Cândido Tostes, assunto da nossa matéria de capa, localizado no município mineiro de Juiz de Fora, é um ícone do ensino das modernas técnicas de fabricação de queijos e outros derivados do leite. Criado em maio de 1935, com o nome de Indústria Agrícola Cândico Tostes. abrangia outros assuntos mas, a partir de setembro de 1956, passou a ter a denominação atual e a tratar exclusivamente da indústria do leite. Há cursos de diversos tipos e com durações diferentes: desde cursos avulsos até cursos de três meses, de um e de dois anos. O Instituto, além dos cursos, também presta assistência técnica a fazendeiros e orienta e supervisiona o ensino nas escolas de laticínios mantidas pelo estado de Minas Gerais. Ask the chicken dizia nos idos de 1960 o chefe do Departamento de Ciência Avícola da Universidade do Texas, o famoso cientista John Quisenberry (que proferiu palestras no Brasil) quando alguém fazia a ele alguma pergunta para cuja resposta não dispunha de dados confiáveis. Com isso ele queria dizer que seria necessário “consultar as aves” para saber a resposta correta. Conselho semelhante dá, agora, o ex-secretário de Agricultura do RJ, engenheiro-agrônomo e criador Alberto Figueiredo em relação à produção leiteira. Ele defende a tese de que “é preciso conversar com a vaca, aprender com a Mimosa, para chegar o mais próximo possível da realidade que envolve o criador de vacas de leite”.

Pesquisas realizadas na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP-Universidade de São Paulo, mostraram resultados satisfatórios com uma nova dieta para equinos o que significa que ela pode ser usada com vantagem na alimentação dos cavalos em substituição à dieta tradicional. O especialista Paulo Augusto Franzine, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper nos fala da “reviravolta na ovinocultura, com a queda da lã e as demandas fortíssimas para a carne de cordeiro”. Artigo bem fundamentado de autoria de Raiza Tronquin, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, aborda uma estratégia para reduzir a contaminação das carcaças de frango durante o processamento. O cavalo holandês controlado pela associação criada pela Rainha Beatrix em 1988, com o complicado nome KWPN = Koninklijke Warbloed Paardenstamboek Nederland é um dos mais bonitos, elegantes, inteligentes e versáteis equinos do Planeta. Matéria assinada pelo médico veterinário especialista Roberto Arruda de Souza Lima explica como os holandeses, com seu desenvolvido espírito comercial, transformaram a criação dessa raça num bom negócio. Essas são apenas algumas das matérias desta 16a edição da ANIMAL BUSINESS-BRASIL, produzida pela SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, sempre com o melhor desejo de servir aos pecuaristas e profissionais do agronegócio brasileiro.

Luiz Octavio Pires Leal Editor

Animal Business-Brasil_3


Diretoria executiva

Diretoria técnica

Antonio Mello Alvarenga Neto presidente

Francisco José Vilela Santos

Almirante Ibsen de Gusmão Câmara 1º Vice-presidente

Hélio Meirelles Cardoso

Osaná Sócrates de Araújo Almeida 2º Vice-presidente

José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers

Joel Naegele 3º Vice-presidente

Ronaldo de Albuquerque

Tito Bruno Bandeira Ryff 4º Vice-presidente

Sérgio Gomes Malta

Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto

Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho

COMISSÃO FISCAL Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Sociedade Nacional de Agricultura – Fundada em 16 de Janeiro de 1897 – Reconhecida de Utilidade Pública pela Lei nº 3.459 de 16/10/1918 End.: Av. General Justo, 171 – 7º andar – Tel.: (21) 3231-6350 – Fax (21) 2240-4189 – Caixa Postal 1245 – CEP 20021-130 – Rio de Janeiro – Brasil E-mail: sna@sna.agr.br – www.sna.agr.br Escola Wencesláo Bello / FAGRAM – Av. Brasil, 9727 – Penha – CEP: 21030-000 – Rio de Janeiro / RJ – Tel.: (21) 3977-9979

Academia Nacional de Agricultura

Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Cadeira 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br

Patrono Ennes de Souza Moura Brasil Campos da Paz Barão de Capanema Antonino Fialho Wencesláo Bello Sylvio Rangel Pacheco Leão Lauro Muller Miguel Calmon Lyra Castro Augusto Ramos Simões Lopes Eduardo Cotrim Pedro Osório Trajano de Medeiros Paulino Fernandes Fernando Costa Sérgio de Cavalho Gustavo Dutra José Augusto Trindade Ignácio Tosta José Saturnino Brito José Bonifácio Luiz de Queiroz Carlos Moreira Alberto Sampaio Epaminondas de Souza Alberto Torres Carlos Pereira de Sá Fortes Theodoro Peckolt Ricardo de Carvalho Barbosa Rodrigues Gonzaga de Campos Américo Braga Navarro de Andrade Mello Leitão Aristides Caire Vital Brasil Getúlio Vargas Edgard Teixeira Leite Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso

Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Ana Cristina Ajub/EPAMIG Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial

É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000


Sumário

10 06

14 17

30 28

20

32

23 36

52 46 06 10 14 17 20 23 28 30 32 36

40

60

43

Estratégia do sucesso comercial do cavalo holandês KWPN

62

Crescimento da produção brasileira de peru

66

Ovinocultura Organização é caminho sem volta Julgamento morfofuncional de equinos PAS-Leite Qualidade na produção de leite Biologia molecular é recurso importante para aumentar a produtividade Patê e conserva de tilápia

Ciência & Tecnologia Utilização de resíduos de pescado como alternativa de desenvolvimento sustentável Nova dieta para equinos

40 43 46 52 60 62 66

Estratégia para reduzir a contaminação da carcaça de frango durante o processamento Aprendendo com a vaca Instituto de Laticínios Cândido Tostes: 79 Anos de pesquisa e ensino Top News

Tração animal nos grandes centros gera problemas de bem-estar

High-tech na produção avícola de Israel

Opinião

Animal Business-Brasil_5


Estratégia do sucesso comercial do cavalo

holandês KWPN Por: Roberto

Arruda de Souza Lima - Prof. Dr da ESALQ/USP. Coordenador do Grupo Equonomia

Este artigo busca resgatar, de forma breve, como o espírito de negócios, fortemente presente na Holanda, permitiu que uma associação de criadores de cavalos, em menos de meio século, se tornasse um dos maiores studbooks do mundo, com mais de 28 mil membros e ocupando destaque no ranking mundial tanto de salto quanto de adestramento.

A

té a primeira metade do século passado, não havia preocupação com o mercado de cavalos esportivos na Holanda. A criação de cavalos daquele país dividia-se de acordo com as aptidões e necessidades do trabalho agrícola. Na região norte, de solo argiloso, o trabalho agrícola exigia animais de tração mais fortes e pesados, prevalecendo o cavalo Groninger. Já no centro e sul, de solo mais arenoso, o Gelderlander atendia às necessidades do trabalho na agricultura, além de uso em atrelagem e montaria.

Adriana Busato

Apresentação Novo Chello

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Vocação para o comércio

A forte e tradicional vocação holandesa para o comércio também fez diferença na criação de cavalos. De forma pioneira, passaram a selecionar animais baseado em resultados em competições (performance) e deixaram o purismo da raça para buscar animais de destaque em outras raças para obtenção de melhoria genética. Busato, em quem se baseia esta primeira parte do artigo, apresenta uma excelente revisão sobre estes aspectos da formação do cavalo holandês em texto disponível na internet1. Deve-se destacar que esta mudança de foco na seleção genética, trocando a busca de cavalo de tração por cavalos esportivos, deve-se muito às mudanças pós-Segunda Guerra Mundial, quando os cavalos Gelderlander e Groninger passaram a ser substituídos por tratores e carros.

Cruzamentos

Por muitos anos ocorreram cruzamento entre as raças holandesas, buscando reforçar os Gelderlandrs e refinar os Groningers. Criado somente

em 1969, o Studbook do Cavalo Warmblood Holandês (NWP – Nederland Warmbloed Paardenstamboek), reuniu os studbooks do Groninger e do Gelderlander. Em 1988, a Rainha Beatrix concedeu a designação de “Real” (Koninklijk), passando a associação a ter a denominação KWPN (Koninklijke Warmbloed Paardenstamboek Nederland). O objetivo do KWPN é a criação de cavalos que apresentem bom desempenho em nível Grand Prix de adestramento ou de saltos. Para tanto, os criadores buscam um cavalo com uma boa constituição, com conformação funcional e de preferência atraente, com movimento correto e um caráter agradável, segundo informações do site da própria entidade (http://www.kwpn. org). Desde 2006, o KWPN apresenta quatro linhas de criação: os cavalos de sela (formam o maior grupo, representando 85 a 90% dos animais), que são subdivididas nas modalidades adestramento e salto; os cavalos de atrelagem e o cavalo Gelders. As metas da KWPN vêm sendo atingidas, conforme ilustradas pela Tabela 1.

Tabela 1. FEI WBFSH World Ranking List Rank 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Adestramento Studbook Pontos Koninklijk Warmbloed Paardenstamboek 11.686 Nederland (KWPN) Danish Warmblood Society (DWB) 11.220 Hannoveraner Verband e. V. (HANN) Verband der Züchter des Oldenburger Pferdes e.V. (OLDBG) Westfälisches Pferdestammbuch e.V. (WESTF) Swedish Warmblood Association (SWB) Rheinisches Pferdestammbuch e.V. (RHEIN) Lusitanian (Lusit) Verband der Züchter und Feunde des Ostpreussischen Warmblutpferdes Trakehner Abstammung e.V. (TRAK) Landesverband Bayerischer Pferdezüchtere V. (BAVAR)

Rank 1 2

11.207

3

10.293

4

8.820

5

8.802

6

6.125

7

5.576

8

4.440

9

3.318

10

Salto Studbook Pontos Koninklijk Warmbloed Paardenstamboek 3.478 Nederland (KWPN) Westfälisches Pferdestammbuch e.V. 3.423 (WESTF) Belgisch Warmbloedpaard v.z.w. (BWP) 3.318 Verband der Züchter des Holsteiner 3.120 Pferdes e.V. (HOLST) Stud-book Français du Cheval Selle 3.040 Français (ANSF) (SF) Anglo European Studbook (AES) 2.908 Verband der Züchter des Oldenburger 2.875 Pferdes e.V. (OLDBG) Swedish Warmblood Association (SWB) 2.665 Stud-book sBs, le cheval de Sport Belge (SBS) 2.635 Hannoveraner Verband e. V. (HANN)

2.531

Obs.: Inclui resultados de provas válidas de 01/10/2013 a 31/03/2014. Fonte: http://www.wbfsh.org/GB/Rankings/WBFSH%20rankings.aspx

1

BUSATO, A. A criação holandesa e a influência de Nimmerdor.Disponível em http://www.harasfb.com.br/pdf/NIMMERDOR.pdf.

Animal Business-Brasil_7


Adriana Busato

Sistema de criação intensivo

Garanhão do século As origens do cavalo KWPN na agricultura e a boa qualidade de seus produtos nos desportos podem ser exemplificadas pelo animal que foi eleito, em 2000, o Garanhão do Século pela Associação da raça: Nimmerdor. Sua mãe, Ramonaa (ver Figura1), puxava arado durante a semana, participando de provas de 1,20 m nos finais de semana. E a produção de Nimmerdor foi espetacular (vide artigo anteriormente citado de Busato para maiores detalhes), inclusive com filhos, além de sêmen congelado, no Brasil. Figura 1. Árvore genealógica de Nimmerdor

FARN Holst pref 1959 cast 1.69m NIMMERDOR KWPN pref nasc. 1972 castanho 1,68m RAMONAA NWP ster 1963

FAX I Holst 1954 cast 1.62m

FANATIKER Holst 1940

DORETTE Holst 1945 preta 156m

MONARCH Holst 1941

MARGOT Holst 1938

SCHELLE Holst 1940

KORIDON XX KARAMONT XX XX 1939 XX 1946 POUTZI XX alazão 1.64m XX 1934 FRIEDHILDE II NWP pref 1958 1.63m

SENATOR NWP 1953 FRIEDHILDE NWP 1945

Fonte: adaptado de www.harasfb.com.br/pdf/NIMMERDOR.pdf 8_Animal Business-Brasil

Note que, na Figura 1, aparecem alguns predicados junto aos nomes dos animais (como “pref” e “ster”). Esses predicados são atribuídos pelo studbook aos animais que apresentam destacados atributos de conformação ou de desempenho. Para salto e adestramento podem ser atribuídos os seguintes predicados: Ster, Keur, PROK, IBOP, EPTM, Elite, Sport, Preferent and Prestatie. Para obter o predicado Ster a égua deve apresentar conformação superior e funcional e bom desempenho nas provas esportivas. Os cavalos devem apresentar uma altura mínima na cernelha de 1,60 metro para obter o predicado ster .O predicado Keur informa ao criador que ele tem um animal de qualidade total , com conformação e talento para o esporte acima da média. PROK são as iniciais de Project Röntgenologisch Onderzoek KWPN (projeto de pesquisas radiográficas KWPN). Uma égua com predicado PROK significa que ela tem boa qualidade óssea e que é capaz de transmitir uma boa formação para seus descentes. O IBOP (Individueel Bruikbaarheids Onderzoek Paarden) é um teste de desempenho, estimando o talento para o esporte. O EPTM (Eigen Prestatie Toets Merries) é um teste de talento, mostrando o nível de treinamento do animal. Os animais com o predicado Keur e com PROK bom recebem o predicado “elite”, sendo o maior predicado que uma égua pode obter na área de conformação e de saúde. O predicado Sport é concedido a animias com comprovado bom desempenho em provas. Quando


pelo menos três produtos de um animal tem um bom desempenho (recebem predicado ster, keur ou elite), recebe o predicado Preferent (Pref). O predicado Prestatie (Prest) indica que ao menos três filhos tornaram-se expoentes esportivos. Retornando a Nimmerdor, entre seus descentes no Brasil, há casos curiosos, como Wolhearth (Figura 2), que foi Campeão Paulista de cavalos novos 4 anos e, posteriormente, exportado justamente para Holanda como reprodutor, mais exatamente para o STUD VDL. Figura 2. Árvore genealógica de Wolhearth Heartbreaker Wolhearth Narzisse

Nimmerdor Bacarole Fedor Cirkeness

Fonte: adaptado de www.harastranswaal.com.br

Estratégias adequadas Nesta breve história, relatada nos parágrafos anteriores, observa-se a importância da visão comercial e adoção de estratégias adequadas nos

O objetivo do KWPH é a criação de cavalos que apresentem bom desempenho em nível Grand Prix de adestramento e de salto.

tempos corretos. A partir de cavalos voltados para o uso agrícola, selecionados para esta finalidade (incluindo caráter e inteligência dos animais), reconheceram rapidamente que a tendência do mercado para redução do uso da tração animal e ajustaram suas metas. Não foram radicais, puristas em excesso, ao contrário, souberam identificar nas diversas raças e países os animais que poderiam melhor contribuir para obtenção de bom desempenho esportivo, mercado que apresentava (e ainda apresenta) maior valorização dos produtos. O resultado foi o sucesso comercial do cavalo KWPN aliado ao topo nos rankings esportivos nos últimos anos. “Case” que merece e deve ser analisado em detalhes pelos agentes do mercado de cavalos.

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Crescimento da produção

brasileira de peru Por:

Roberto Arruda de Souza Lima, Prof.Dr. da ESALQ/USP

A

Yousif Waleed

avicultura é um importante segmento da economia brasileira, respondendo por 1,5% do PIB e empregando 3,6 milhões de pessoas, conforme dados da União Brasileira de Avicultura (UBABEF, 2014). Um dos sistemas agroindustriais (SAG) deste segmento é representado pelo peru. Trata-se de um SAG

10_Animal Business-Brasil

que tem apresentado crescente importância, especialmente no desempenho das exportações, conforme será apresentado adiante. Entretanto, no mercado interno, ainda não é competitivo com a carne de frango. As limitações no mercado interno, estão relacionadas ao preço e à sazonalidade (Pulici et al., 2008).


Donald Cook

Figura 1. SAG do Peru Granja de Avós

Incubatório Fábrica de Ração Granja de Matrizes

Incubatório

Granja de Corte

Abatedouro Processamento Armazenagem

Supermercado

Consumidor Final

Fonte: Pulici et al. (2008)

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Fonte: SEAB (2013)

Figura 3. Produção de carne de peru, em milhares de toneladas. 6.000 5.000 4.000 3.000 2.000

Mundo

Estados Unidos

Brasil

Canadá

2013*

2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

2004

2003

0

2002

1.000 2001

Segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), o Brasil é o segundo maior produtor mundial de carne de peru, posto que era ocupado pelo Canadá até o final do século passado. No período de 2000 a 2013, a produção brasileira cresceu, em média, 10,8% ao ano, enquanto a produção mundial, assim como dos Estados Unidos e Canadá cresceram entre 0,5% e 0,6% ao ano, conforme ilustrado na Figura 3. Desta forma, a participação da produção brasileira em relação ao total mundial elevou-se de 2,7% para 9,6% entre os anos de 2000 e 2013.

400 350 300 250 200 150 100 50 0

2000

Segundo maior produtor

Figura 2. Consumo de carne de peru no Brasil, em milhares de toneladas.

Milhares de toneladas

O Sistema Agroindustrial do Peru assemelha-se ao do frango, conforme Figura 1. Em 2013, o mercado interno era o destino de 56% da produção brasileira de peru (UBABEF, 2014). A produção brasileira divide-se em 79% in natura e 21% de industrializados. Internamente, é comercializado tanto inteiro (temperado ou não) quanto segmentado em derivados (salsicha, presunto, blanquet, lasanha, hambúrguer, entre outros). O consumo per capita ainda é muito baixo, cerca de 1 kg/habitante/ano. Em valores absolutos, o consumo de carne no Brasil tem apresentado crescimento a cada ano, conforme ilustrado pela Figura 2.

Nota: 2013 estimativa Fonte: FAO (2014) para dados até 2012 e 2013 estimativa do Departamento de Economia Rural da SEAB (2013).

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Entre os anos de 2000 e 2013 a participação brasileira na produção mundial de carne de peru aumentou de 2,7% para 9,6%

Exportação As exportações brasileiras no último quinquênio foram crescentes até 2012, reduzindo 4,8% em 2013. No primeiro semestre de 2014, foi exportado o corresponde a 36% do total exportado em 2013 (Tabela 1). As exportações brasileiras têm sido bastante diversificadas, atingindo diversos destinos. No período de 2009 ao primeiro semestre de 2014, foram realizadas transações com 104 diferentes países, com destaque para os Países Baixos. As exportações para este destino passaram de 35%

Tabela 1. Exportações de carne de peru e de animais vivos, em milhões de dólares. Produto

2009

2010

2011

2012

2013

Peruas e perus, vivos Carnes não cortadas em pedaços, congeladas Carnes em pedaços, miudezas, frescos/refrigerados Carnes em pedaços e miudezas, congeladas Preparações alimentícias e conservas TOTAL

0,12

0

0

0

0

1º sem 2014 0

5,53

2,89

1,91

1,28

0,89

0,08

0

0,05

0

0

0

0

117,02

152,32

170,78

203,30

190,80

69,12

259,22

269,25

271,94

277,70

267,39

96,90

381,90

424,50

444,63

482,29

459,09

166,11

Fonte: MDIC (2014)

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Tabela 2. Destino das exportações brasileiras de carne de peru, em milhares de dólares. País destino

2009

2010

2011

2012

2013

2014

África do Sul

16.145,0

24.722,1

19.015,0

31.737,7

30.446,3

13.768,0

Alemanha

107.210,3

56.995,9

20.926,9

16.285,8

15.121,6

11.213,2

8.487,7

12.472,8

15.785,4

25.305,6

22.294,1

7.668,5

Angola Arábia Saudita

3.179,2

4.680,6

5.875,9

4.945,4

6.408,8

1.142,1

Argentina

1.942,7

2.767,7

5.686,6

2.562,1

1.718,5

48,7

Bélgica

2.652,0

1.710,1

1.240,6

2.373,3

2.330,2

788,0

Benin

14.061,5

11.977,7

19.480,9

31.488,9

25.706,1

9.494,0

Chile

302,0

1.416,1

7.972,3

8.569,9

12.636,7

4.189,6

Congo

4.128,7

4.679,7

7.553,1

9.073,0

7.879,8

3.235,4

Croácia

3.048,3

5.333,5

2.789,4

3.033,5

1.793,1

0,0

Emirados Árabes Un.

1.854,7

1.427,3

1.858,9

743,7

1.828,4

86,9

Espanha

3.994,6

1.704,0

35.711,7

29.097,2

22.940,2

9.355,1

França

19.729,5

10.998,8

5.878,3

2.034,2

4,3

0,0

Gabão

3.511,4

4.081,6

3.335,3

1.898,2

1.636,4

446,3

Gana

1.191,7

876,5

2.172,9

951,6

1.629,3

334,2

Guiné Equatorial

3.824,6

3.040,7

5.997,0

4.634,0

3.903,7

2.639,1

Hong Kong

2.177,1

3.681,3

2.636,4

2.901,1

1.136,2

373,3

Irlanda

1.128,4

735,5

792,8

1.158,3

2.170,9

1.042,4

Itália

8.475,2

9.751,1

11.286,0

8.567,0

12.047,6

5.902,5

667,5

1.000,6

1.129,9

2.129,1

4.086,1

157,2

133.580,7

199.282,3

209.081,8

223.919,2

225.403,6

75.139,2

Peru

1.690,4

3.177,8

3.044,3

3.403,3

5.653,3

4.085,6

Reino Unido

4.482,6

11.877,8

9.556,4

17.383,7

16.061,1

3.496,9

Rússia

12.140,4

23.809,8

25.792,5

27.839,5

16.721,5

4.001,6

Suíça

6.822,7

8.905,4

10.920,2

10.580,7

10.155,6

4.262,3

Outros

15.470,3

13.391,7

9.107,6

9.674,4

7.373,0

3.207,8

Jordânia Países Baixos

Fonte: MDIC (2014)

(em 2009) a 49% (no primeiro semestre de 2014) do volume total exportado. Na Tabela 2, estão apresentados os volumes transacionados com os 25 principais parceiros comercias do Brasil nos últimos anos. Apesar do grande número de países com os quais o Brasil se relaciona, ainda não atingimos alguns dos principais importadores mundiais. Os dez países que mais importam carne de peru são: Alemanha, Arábia Saudita, Áustria, Bélgica, Benin, China, França, México, Países Baixos e

Reino Unido. Destes, não foram realizadas exportações para três países e um deles (França) tem apresentado volumes significativamente decrescentes.

Potencial Observa-se que a criação de peru tem evoluído positiva e consistentemente nos últimos anos. E, mais do que isso, ainda há grande potencial de crescimento, tanto no mercado interno quanto externo.

Animal Business-Brasil_13


VPJ Pecuária

Ovinocultura

Organização é caminho sem volta 14_Animal Business-Brasil


Sabor, maciez e suculência são características da carne de ovino.

Na última década, presenciamos uma reviravolta na ovinocultura, com a queda da lã e as demandas fortíssimas para a carne de cordeiro. Nesta transição, o produtor brasileiro mais uma vez demonstrou sua vocação de produzir alimento, fazendo emergir um mercado que há tempos permanecia adormecido. Agora é preciso arregaçar as mangas e trabalhar mais que nunca para atender às demandas que construímos, além daquelas por qualidade que ainda estão por vir.

S Por:

Paulo Augusto Franzine - presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper), selecionador de ovinos dessas raças em São Roque (SP) e produtor de carne de cordeiro em Campo Grande (MS).

abor, maciez e suculência já são características marcantes do produto nacional, graças ao investimento realizado dentro da porteira, no melhoramento genético do plantel e com o uso de novas tecnologias. O resultado não poderia ser melhor e surpreende mesmo aqueles que resistiam ao consumo por experiências negativas no passado, quando a carne que chegava ao consumidor era de qualidade duvidosa e oriunda de animais abatidos em idade avançada. Hoje, podemos afirmar com convicção que nossa matéria-prima já é superior à boa parte daquela que vem sendo importada de outros países que fazem os ovinocultores brasileiros experimentarem amarga concorrência. Claro, não podemos generalizar. A qualidade do que entra depende diretamente do bolso de quem compra. Vivenciamos um momento especial e que há muitos anos esperávamos. O consumo cresceu, forçando importação do produto num primeiro instante, e agora alavanca a organização de nossa cadeia produtiva. Animal Business-Brasil_15


Indústria tem dificuldade para conseguir cordeiros e honrar seus contratos

gerando borregos superprecoces em menos de 120 dias. A qualidade suprema conferida nesses produtos, inclusive, trouxe para cordeiros cruza Dorper e White Dorper um certificado de qualidade inédito na ovinocultura.

Frigorífico Di Paulo

Casamento perfeito

Escalas constantes Para que isso aconteça de fato, como produtores temos de garantir à indústria escalas constantes para que consigam, ao menos, honrar os contratos firmados. Este elo importante está encontrando muita dificuldade para conseguir cordeiros. A resposta aparece nos preços pagos ao produtor, nunca antes tão atraentes. Em praças importantes como São José do Rio Preto e Marília, no Estado de São Paulo, o quilo de carcaça ovina está cotado a R$ 12,22 ou R$ 184,00/@ (cotação Aspaco), quase o dobro do que ganha um pecuarista que trabalha com bovinos de corte.

Crescimento reduzido Sou empresário, aposto nesse mercado há poucos anos, e para mim não faria sentido permanecer nele se não gerasse lucro. Com um rebanho de 17 milhões de cabeças, que não cresce nem 2% ano (dado do IBGE/FAO), a oferta de cordeiros é e continuará sendo o grande gargalo no Brasil por algum tempo. Traduzindo para o bom português, é o cenário perfeito para quem busca faturar mais ou para o criador de bovinos diversificar a renda, especialmente considerando o ciclo produtivo da espécie, muito inferior ao do boi.

Compensa investir em genética Enquanto, uma fazenda tecnificada abate gado de corte com 24 meses de idade, um cordeiro é terminado com até 150 dias de vida. Propriedades que investem um pouco mais em genética reduzem este intervalo um pouco mais, 16_Animal Business-Brasil

Boi e ovino é um casamento perfeito e duradouro, e que faz grande sucesso nos países onde a ovinocultura é consolidada. Viabiliza o total aproveitamento da terra, hoje uma regra no Brasil. Outro benefício desta integração é a possibilidade de contar com renda extra para enfrentar as oscilações de mercado. Os insumos utilizados são praticamente os mesmos nas duas atividades, com cuidado maior apenas em relação ao controle sanitário do rebanho ovino, que são mais sensíveis a verminoses. Problema facilmente resolvido com vermifugação adequada e adoção do pastejo rotacionado. O boi come a parte de cima do pasto, ovelha, a de baixo. Falando nisso, o mundo produz em regime extensivo e conosco não deve ser diferente. E não se preocupe se está ingressando agora na criação e conhece pouco sobre o manejo. Existem núcleos de produtores espalhados pelo território brasileiro, além das associações, entidades ligadas ao governo e até mesmo os grandes criadores, que estão empenhados em abrir suas propriedades para mostrar de que forma trabalham. Algumas, inclusive, oferecem assistência técnica, consultoria ou mesmo acesso à genética em troca da exclusividade na compra dos cordeiros, inclusive remunerando acima dos preços de mercado por qualidade.

Ovinocultura é excelente opção Caso deseje investir numa atividade de rápido retorno econômico, a ovinocultura é uma excelente opção. O mercado é promissor, mas é preciso atentar ao manejo para que o negócio não vá por água abaixo. Reserve as matrizes saudáveis e férteis e selecione reprodutores funcionais. Controle custos na ponta do lápis e, se não tem condições de formar um lote com número suficiente de animais para abate, una forças com seu vizinho. E que fique a lição mais importante: o consumo só cresce no Brasil por causa da qualidade da carne que produzimos. Agora, é nossa obrigação abastecer o mercado com um produto à altura.


Julgamento morfofuncional

DE EQUINOS Mais que em qualquer outra espécie zootécnica de produção, a correlação entre aparência geral e função nos equinos é maior, tendo em vista que o “produto primário” explorado pelo homem baseia-se em sua capacidade de locomoção. Contudo, muito se questiona nos julgamentos de raças marchadoras quanto à ordem das classificações, em cada quesito. Para melhor entendimento da mecânica do julgamento morfofuncional, é preciso esclarecer que as avaliações de morfologia e andamento são independentes e baseados em conceitos próprios.

Por:

Prof. DSc. Jorge Eduardo C. Lucena

O

jurado de morfologia busca, dentre os animais apresentados, aquele mais equilibrado e com melhores angulações, uma vez que o “balanceamento” gerado pela proporcionalidade das partes e posicionamento angular de algumas regiões corpóreas, pode interferir na forma de locomoção. Além de uma boa proporcionalidade e correção do centro de equilíbrio, existe a necessidade de boas angulações e linhas corretas de aprumos nos membros, uma vez que tais fatores podem indicar tanto uma movimentação mais ampla e elástica (dependendo da capacidade muscular e tendínea) como a longevidade do animal como atleta.

Origem da marcha Em relação à marcha, existem várias hipóteses sobre a sua origem. Embora alguns acreditem que Animal Business-Brasil_17


Richard Butcher

Além de uma boa proporcionalidade e correção do centro de equilíbrio, existe necessidade de boas angulações e linhas corretas de aprumo nos membros.

essa seja uma características relacionada à conformação, estudos indicam que este tipo de andamento está relacionado ao controle neuromotor, comandos neurológicos que coordenam a distribuição dos apoios no solo. É mais provável que certas proposições e angulações apenas favoreçam, em menor ou maior intensidade, o andamento marcha. Tal fator independente pode provocar a discrepância supracitada entre os julgamentos de andamento e morfologia. Para melhor ilustrar a diferença entre os dois quesitos de avaliação, pode ser citada a penalização, por parte do jurado de morfologia, à desproporção corpórea, angular ou mesmo uma má conduta na linha de aprumos de um determinado animal que, minutos antes, havia sido campeão de marcha. Para um melhor entendimento da dicotomia encontrada nos dois julgamentos, é preciso entender alguns conceitos que serão abordados a seguir:

Equilíbrio corporal Quando em estática, os equinos encontram-se em posição de equilíbrio, ou seja, estão 18_Animal Business-Brasil

mantendo o centro de massa corporal dentro da base de sustentação. No caso específico dos quadrúpedes, esta base de apoio deve distribuir o peso corporal nas quatro patas, sem maior sobrecarga em um ou outro membro (Figura 1). Na presença de deformidades dos membros ou em casos de desproporção das regiões corporais, o corpo adota determinadas posturas para atingir um objetivo. Busca por uma postura mais confortável, visando minimizar o desequilíbrio. Figura 1. Distribuição simétrica do peso, de acordo com as linhas de aprumos

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Em situação de equilíbrio, o corpo do cavalo apresenta uma região onde as massas se anulam, chamada Centro de Gravidade (C.G). De acordo com Buchner (2000), o posicionamento desse centro, embora possa variar de acordo com o tipo, raça ou indivíduo, na maioria das vezes encontra-se no ponto gradial costal, imediatamente caudal à linha que separa os terços cranial e médio do corpo (Figura 2).


Figura 2. Posicionamento Centro de Gravidade (C.G)

cional para angulações torna-se um indicativo de boa movimentação e não uma certeza de um andamento marchado de boa qualidade. Figura 3. Pontos de identificação das principais angulações (Bretas 2006)

De acordo com Chieffi & Mello, citado por Lage (2001), a posição do centro de gravidade tem grande importância na estabilidade dos andamentos, pois quanto mais este centro estiver afastado do solo, mais difícil será a manutenção do equilíbrio durante o deslocamento, tendendo a quedas. Quando o cavalo se locomove, o centro de gravidade sofre deslocamentos para frente, para os lados e também para cima. Para frente, graças à progressão do tronco; para os lados, quando há mudança de apoio entre os bípedes laterais; e para cima, por causa da flexão e extensão propulsiva, acentuando-se quando há momento de suspensão (Bretas, 2006). Sendo assim, a locomoção de cavalos mais equilibrados (aqueles que possuem simetria entre as regiões anatômicas, capacidade de se deslocar com rapidez e precisão de forma multidirecional com coordenação e segurança), torna-se mais fácil e com menor comprometimento à integridade física pela ausência de compensações.

Angulações Segundo Barrey (2001), o aparelho locomotor é um complexo sistema que contempla músculos, segmentos ósseos e articulações que são controlados pelo sistema nervoso central, produzindo a movimentação coordenada. Para que haja uma boa coordenação e otimização na qualidade do movimento, faz-se necessário que os membros apresentem ossos, músculos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares íntegros e funcionais. Fatores como elasticidade, amplitude das passadas e absorção de impactos estão relacionados com as angulações dos membros (Figura 3), porém, considerando que a distribuição de apoios apresenta caráter neurológico e que cada indivíduo pode se adaptar as suas limitações físicas - muitas vezes compensando a sua forma de locomoção -, o julgamento morfofun-

A angulação do pescoço em relação ao tronco, amplamente modificada pelos equitadores ou apresentadores dos animais jovens ao cabresto, pode alterar o centro de equilíbrio, fazendo angulações sofrerem mudanças, muitas vezes mascarando uma movimentação do animal. Fatores como treinamento e condicionamento muscular, por exemplo, podem interferir na forma de observação do jurado da morfologia, aumentando ainda mais a possibilidade de não concordância entre dois julgamentos.

Conclusão O julgamento fenotípico tem caráter subjetivo. Para que o mesmo apresente contribuição no melhoramento genético de qualquer raça, é preciso que seja efetuado com maestria por técnicos especializados. A prática de avaliação de componentes do padrão racial de forma separada, como morfologia e andamento, sinaliza aos criadores os indivíduos que mais se aproximam do padrão desejável. Como os padrões de andamento e morfologia são subdivididos em múltiplos itens de avaliação, cada um com pesos distintos e possibilidades de compensações, algumas vezes é difícil haver concordância na classificação, entre os dois quesitos. Para que haja uma contribuição significativa ao melhoramento genético, independentemente da raça, e maior aproximação entre os julgamentos da morfologia e andamento, além de capacidade técnica, é necessário que os animais sejam apresentados da maneira mais natural possível. Animal Business-Brasil_19


PAS-LEITE

Qualidade na produção de leite Por:

Lidia Regina Marins Espindola - gestora do Programa PAS-Leite no Sebrae/RJ; Leda Maria Diniz Barreto - analista do Sebrae/RJ no escritório de Volta Redonda; Marcia Moreira Reis - analista do Sebrae/RJ no escritório de Nova Friburgo ; Mara Cristian Godoy Silva - analista da Gerência de Conhecimento e Competitividade do Sebrae/RJ.

Integrante do PAS Cadeias Produtivas, o PAS-Leite envolve os elos da produção primária (propriedade rural), transporte e beneficiamento do leite (indústrias) e perpassa por todos os segmentos: produção, processamento, industrialização, armazenamento e distribuição. Objetivo O objetivo é promover a produção de leite com qualidade e segurança, em toda a cadeia produtiva, garantindo a saúde dos consumidores, a satisfação da indústria e o negócio dos produtores. O programa foi desenvolvido para trabalhar com foco na segurança e na qualidade do leite e seus derivados, no controle dos potenciais perigos para os consumidores, e ainda, com relação aos parâmetros de qualidade de CBT (contagem bacteriana total) e CCS (contagem de células somáticas). O elo da produção primária foca no trabalho junto à propriedade rural, proprietário e funcionários envolvidos na produção de leite, a fim de controlar os possíveis perigos originários, de forma que a matéria-prima chegue 20_Animal Business-Brasil

à indústria com a melhor qualidade possível e que atenda ao padrão legal. São tratados como requisitos gerais: instalações, saúde, segurança e treinamento do trabalhador, e como requisitos específicos: segurança da água, manejo da ordenha, higiene e manutenção de equipamentos, utensílios e tanque de refrigeração, armazenamento do leite, manejo sanitário, produção, estocagem e distribuição de alimentos. Quanto ao transporte, as prioridades são a higiene, a capacitação do coletor / transportador e os cuidados procedimentais, de forma que o transporte não prejudique a qualidade do produto. Na indústria, o foco está nos controles e procedimentos necessários para a garantia da qualidade da matéria-prima. A implantação das ferramentas de qualidade exigidas por lei pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, como Boas Práticas de Fabricação, Procedimento Padrão de Higiene Operacional e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle, atendem os elementos do programa de autocontrole. Todos esses elos são articulados na visão de cadeia produtiva. Esse é o diferencial: o trabalho não é realizado isolado em cada elo, mas há uma visão conjunta, na qual a indústria que produz com qualidade se beneficia da matéria-prima que também é de qualidade. Iniciado em 2010, o PAS-Leite funcionou em escala piloto até início de 2012. A partir de julho do mesmo ano, foi realizado o lançamento em rede nacional. Até hoje foram reali-


zados, no âmbito do programa, oito cursos e formados aproximadamente 150 consultores. Também foi feita a qualificação de parceiros fiscais do Mapa e de técnicos de laticínios para atuarem nas implantações. Foi realizada, ainda, implantação do programa em propriedades rurais (aproximadamente 400) nos estados de Santa Catarina, Paraná, Goiás, Minas Gerais, Ceará, Alagoas e Mato Grosso. Atualmente, está em andamento, a implantação em mais 40 propriedades em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

No Rio de Janeiro A implantação do programa no Rio começou em 2012, com a adesão de quatro laticínios: Laticínio P.F. (Valença), Laticínio Sabor da Serra (Cordeiro), Laticínio Frialp (Nova Friburgo) e Laticíno Genève (Teresópolis). Os empresários desse setor indicaram fornecedores com os quais já mantinham parceria para integrarem o projeto. O custo do programa PAS-Leite é subsidiado em 80% pelo Sebrae/RJ, com recursos do Sebraetec - um instrumento do

BENEFÍCIOS DO PAS-Leite Para o produtor rural

Para a indústria

Para o consumidor

Maior valorização do produto: melhor preço e competitividade

Leite mais seguro com baixo índice de resíduos e toxinas

Leite seguro, com menor risco de problemas à saúde

Vacas mais saudáveis e produtivas: menor índice de mastite

Maior rendimento industrial

Melhor sabor, aspecto, cor, durabilidade do produto na geladeira

Leite com maior tempo de vida: menor ocorrência de acidez no leite

Maior prazo de validade Maior valorização do produto Maior abertura do mercado externo

Menor ocorrência de doenças de origem alimentar

Satisfação do consumidor: “quem toma o seu leite?”

Empresa Queijaria Frialp

O desenvolvimento de tecnologia avançada exige intenso trabalho de experimentação.

Animal Business-Brasil_21 21


Sebrae que permite às empresas de qualquer setor acesso subsidiado a serviços em inovação e tecnologia, visando à melhoria de processos e produtos e/ou à introdução de inovações nas empresas e mercados. Esses serviços tecnológicos propiciam melhoria em processos produtivos, produtos, embalagem, gestão e marketing, novos modelos de negócios e matérias-primas, adequação logística e gestão ambiental. Além disso, possibilitam a reorganização do processo de produção da empresa, a fim de obter maior competitividade e sustentabilidade, e orientação na criação de mudanças que permitam agregar tecnologia ao processo de produção. Os produtores rurais podem se beneficiar do Sebraetec, desde que tenham a documentação necessária (inscrição estadual e Declaração de Aptidão ao Pronaf- DAP) e passem por procedimentos de adequação ao programa (participação nas capacitações do PAS-Leite e preenchimento do caderno de campo, que se tornará o Manual de Boas Práticas do produtor). São dadas 63 horas de consultoria num período de seis meses. Na fase piloto, o programa é gratuito para os produtores. É importante ressaltar que as empresas de laticínios são sensibilizadas a reconhecer e a pagar mais pelo leite produzido nas propriedades envolvidas no PAS-Leite. No início do programa, o laticínio assina um termo que confirma sua participação e no qual se compromete a remunerar esses produtores de forma diferenciada pela qualidade obtida. Muitos produtores que aderiram ao PAS-Leite percebem a cada dia a sua importância, pois o programa proporcionou melhoria nas instalações e nos procedimentos técnicos, bem como mais qualidade de vida para o animal (cabra ou gado leiteiro). Alguns produtores passaram a fornecer maior volume de leite por semana e o programa passou a ser visto como investimento e não custo.

Expansão O Sebrae/RJ pretende, em 2014, expandir o programa para atuação em outras regiões (Norte, Noroeste, Serrana, Médio Paraíba e Centro-Sul), a partir da sensibilização de novos laticínios para aderirem ao projeto. 22_Animal Business-Brasil

Empresa Queijaria Frialp

A raça Holandesa vem mantendo seu prestígio como produtora de leite, através dos anos.

Os resultados esperados são ter uma cadeia produtiva mais competitiva, maior ganho dos diversos elos da cadeia, agregação de valor ao leite e seus derivados e posicionamento dos produtos em novos mercados consumidores, inclusive no exterior. Vale ressaltar ainda que há muito o que fazer para atingir toda a cadeia produtiva de lácteos. Para isso, estão sendo pensadas estratégias de mobilização em massa por meio da formação de técnicos de campo de laticínios, que poderão atuar como responsáveis pela implantação do PAS-Leite em seus fornecedores (propriedades), além do aumento de consultores para disponibilizar esse serviço nas instituições parceiras, principalmente com o apoio do Sebrae/RJ.

Como se inscrever O PAS-Leite está disponível em todo o território nacional. Indústrias, cooperativas, associações, grupos e/ou produtores que tiverem interesse em aderir, deverão entrar em contato com o Sebrae, Senar, Senai e Embrapa Gado de Leite em seu estado. Mais informações na Central de Relacionamento do Sebrae/RJ: 0800 570 0800.

Parcerias Com abrangência nacional, o programa tem parceria de vários órgãos governamentais, como o Mapa, o Ministério da Saúde, a Anvisa, o Ministério do Turismo e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e de entidades de classe representativas dos segmentos de alimentos, como Abia, Abima, Abis, Senar, Embrapa, Sest/Senat, Sindirações, Afebras, ABNT, entre outros.


BIOLOGIA MOLECULAR É

RECURSO IMPORTANTE PARA AUMENTAR A PRODUTIVIDADE Natália Monnerat de Souza, Médica Veterinária, Mestre em Clínica Médica

Por muitos anos, a seleção genética de animais e plantas foi feita sem o conhecimento dos genes responsáveis pela determinação das características das plantas e dos animais.

O

qual ficou conhecida como Engenharia Genética e, posteriormente, tecnologia do DNA recombinante, levaram ao desenvolvimento da Biotecnologia Moderna. Mesmo assim, até recentemente, as ferramentas para a identificação de genes responsáveis por diferenças entre indivíduos ou populações ainda não estavam disponíveis. A difusão do conhecimento na área da biologia molecular tem mudado esta situação e permitido a identificação de genes em humanos, plantas e animais em estudos de associação.

Crises anunciadas

crescimento acelerado no campo da biotecnologia ocorreu, principalmente, a partir da década de 70 com o desenvolvimento de técnicas de manipulação do material genético (DNA). Os trabalhos nesta área, a

Em 2050, o mundo provavelmente estará vivendo sob a influência de três grandes crises anunciadas: a diminuição das reservas de petróleo, a escassez de água potável e a falta de alimentos para grande parte da população. O

A base da genética foi desenvolvida com vegetais, em 1865, por Gregório Mendel

Divulgação

Por:

Animal Business-Brasil_23


rência e criopreservação de embriões e a produção in vitro de embriões, enquanto outras ainda permanecem mais restritas a centros de pesquisa como a transgenia e a clonagem.

Divulgação

Segurança alimentar

As experiências no campo da genética exigem equipamentos sofisticados

estabelecimento de uma agropecuária sustentável, que preserve o meio ambiente e proporcione segurança alimentar futura, é um fator primordial para o desenvolvimento da humanidade ante as mudanças climáticas e o declínio das reservas energéticas não renováveis. Diante das previsões de crescimento populacional mundial, atingindo nove bilhões de habitantes até a metade do século XXI, existe o desafio de criar métodos avançados e eficientes para aumentar a produção de alimentos e energia renovável sem, contudo, esgotar os recursos naturais.

Pecuária A pecuária corresponde hoje a mais da metade da produção agrícola em países desenvolvidos e mais de um quarto em países em desenvolvimento. Em resposta ao crescimento populacional e ao padrão de consumo que se eleva conforme a renda do consumidor, a pecuária cresce mais rápido do que outros setores da agricultura. Atualmente, o aumento na produção visa não só à expansão do número de animais, mas, principalmente, ao aumento de sua eficiência. Além da seleção de animais superiores em relação às características de produção, busca-se também o desenvolvimento de biotecnologias reprodutivas com o objetivo de aumentar o desempenho reprodutivo dos rebanhos. Apesar de algumas destas biotécnicas existirem há mais de 50 anos, nos últimos dez anos, houve um grande aprimoramento das já existentes e o desenvolvimento de novas, sendo que muitos centros de pesquisa migraram para locais mais próximos ao produtor. Atualmente, algumas técnicas já apresentam grande aplicabilidade a campo como a inseminação artificial, a sexagem de sêmen, a transfe24_Animal Business-Brasil

A produção de alimentos para a população deve ser priorizada a fim de evitar riscos à segurança alimentar, especialmente em países onde os níveis básicos de fornecimento de alimentos ainda são insuficientes. O maior benefício da biotecnologia para a humanidade, entretanto, será, sem sombra de dúvidas, a produção de animais e plantas melhoradas geneticamente, fornecendo suporte para as exigências atuais e futuras de segurança alimentar, para o desenvolvimento de uma agropecuária sustentável e para a preservação dos recursos naturais. No entanto, o melhoramento genético da performance produtiva e reprodutiva em animais de ambiente tropical requer não somente a implantação das biotécnicas de reprodução, mas também o conhecimento do grau de variação genética e das correlações entre genótipos e fenótipos das características envolvidas. Estas melhorias podem ser conseguidas pela adoção e expansão do conhecimento e das metodologias existentes.

Novos conhecimentos De qualquer modo, há um substancial desenvolvimento de novos conhecimentos e técnicas no campo, amplamente denominado de “biotecnologia”, que oferece a perspectiva de atuar diretamente no melhoramento de animais de produção. A biotecnologia abre novas oportunidades na melhora da produtividade de animais pelo aumento da qualidade da carcaça, maior desenvolvimento ponderal, maiores índices reprodutivos, melhoramento na nutrição e utilização dos alimentos, levando-se em conta a qualidade e a segurança desta produção. Por esta razão, os estudos hoje estão voltados para a elucidação dos mecanismos bioquímicos mediados pela expressão de genes específicos, responsáveis pela manifestação de determinados fenótipos de interesse, área denominada seleção assistida por marcadores, na qual algumas técnicas foram desenvolvidas e vêm sendo utilizadas com grande sucesso. Para


a obtenção desses marcadores pode-se recorrer à busca de genes principais, onde se objetiva estudar os mecanismos fisiológicos envolvidos com a manifestação das características de produção de interesse, na tentativa de pesquisar variações de genes específicos entre indivíduos que apresentem fenótipos diferentes. Mapas genéticos baseados em marcadores moleculares e análise de regiões microssatélites também provêm ferramentas para a detecção e mapeamento de genes de importância econômica. Uma vez identificadas essas regiões e relacionadas com fenótipo de interesse torna-se possível estimar os valores das próximas gerações independentemente da observação fenotípica, o que resulta em diminuição do intervalo entre gerações.

Biotecnologia

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A manipulação genética exige mãos treinadas

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Nesse cenário, a biotecnologia de animais e plantas ocupa papel central na busca de soluções para atenuar os problemas, atuais e futuros, causados pelo estilo de vida adotado pelo homem. As bases fundamentais da biotecnologia agrícola consideram a biologia molecular e as técnicas relacionadas como os eventos mais importantes da história da biotecnologia. Foi na década de 1970 que ocorreu o início das metodologias de uso do DNA recombinante e do sequenciamento do DNA que proporcionaram grandes avanços na ciência de plantas. É marcante como a biotecnologia tem revolucionado a agricultura com modernas tecnologias que nos permitem identificar e selecionar genes que codificam características benéficas para serem usados como marcadores moleculares nos processos de seleção assistida, ou ter a expressão de um determinado gene em outro organismo por transgenia e, assim, com maior precisão, obter novas características agronômicas e nutricionais desejáveis nos cultivos de plantas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que há no mundo mais de 1,2 bilhão de pessoas sem acesso à água potável, representando cerca de 20% da população mundial. A agricultura é responsável por cerca de 70% do consumo de água do planeta, e o uso descontrolado de pesticidas e fertilizantes contribui para a contaminação da água de lençóis freáticos e mananciais subterrâneos.

A pecuária corresponde, hoje, à mais da metade da produção agrícola nos países desenvolvidos e à mais de um quarto nos países em desenvolvimento

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Para aperfeiçoar a eficiência do uso da água na agricultura, a biotecnologia atua em duas frentes: no desenvolvimento de espécies tolerantes à seca, diminuindo a irrigação intensiva e conservando a água no solo, e no melhoramento genético de variedades para resistência a pragas e doenças, reduzindo a necessidade da utilização de produtos químicos nas lavouras. Na produção de alimentos, a biotecnologia pode fornecer meios para o aumento da produção agrícola pela aplicação do conhecimento molecular da função dos genes e das redes regulatórias envolvidas na tolerância a estresse, desenvolvimento e crescimento, “desenhando” novas plantas. A transformação genética de plantas cultivadas possibilita a validação funcional de genes individuais selecionados, bem como a exploração direta dos transgênicos no melhoramento genético, visando à inserção de características agronômicas desejáveis.

Crescimento da agricultura Segundo a FAO (2010), a previsão de crescimento do setor agrícola brasileiro até o ano

de 2019 será de 40%, quando comparado ao período-base 2007- 2009. Nesse mesmo período, Rússia, China e Índia não passarão os 26% de crescimento no setor, enquanto crescimentos mais modestos são esperados para Estados Unidos e Canadá (entre 10% e 15%). A União Europeia não deve ultrapassar os 4%. Essa previsão de crescimento acentuado da produção brasileira se deve, por um lado, às condições econômicas e ambientais favoráveis do país, e, por outro, à adoção massificada de culturas geradas com o auxílio da biotecnologia. Em um futuro próximo, a redução dos custos para o desenvolvimento e a adoção dos produtos da biologia molecular pode aumentar a variedade de plantas transgênicas e a sua disponibilidade para pequenos e médios produtores. A inserção de características antes ausentes na planta pode agregar valor aos seus produtos, multiplicando a renda de pequenos produtores. O desafio que se coloca agora é o de saber tirar partido da informação fornecida pelo sequenciamento dos genomas das culturas para identificar os genes responsáveis pelas características desejadas para se conseguir uma maior e melhor produção de alimentos.

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O maior benefício da biotecnologia para a humanidade é a produção de animais melhorados geneticamente

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Na produção de alimentos, a biotecnologia pode fornecer meios para o aumento da produção agrícola pela aplicação do conhecimento molecular dos genes

Desafios Portanto, alguns importantes desafios colocados à alteração das plantas podem ser resolvidos, pelo menos em parte, manipulando de forma correta o seu próprio genoma, sem necessidade da introdução de genes de outras espécies. Sem dúvida que a engenharia genética permite eliminar a dependência da variabilidade genética existente na espécie em causa, pela transferência de genes de espécies diferentes, até provenientes de organismos de outros reinos, criando espécies transgênicas. O número destas espécies tem estado em constante crescimento e poderá, em breve, incluir muitas das principais culturas agrícolas, à medida que avançam as metodologias para inserção de genes. Há uma “grande batalha” em curso entre opositores e defensores dos organismos transgênicos, mas é inquestionável que estes têm o potencial de aumentar a produtividade das culturas sem a utilização de agroquímicos poluentes, por um lado, mas também o de melhorar o valor nutritivo dos alimentos. Esta tecnologia pode oferecer novas oportunidades para se conseguir uma indispensável segurança alimentar a nível mundial que não se devem desperdiçar, sem prejuízo de se dever estar atento e alerta a eventuais perigos que transportem consigo. Infelizmente, a discussão das aplicações da biologia molecular à agricultura têm-se centrado, quase exclusivamente, na problemática dos transgênicos, mas é chegada a altura de olhar

com outra abrangência para esta nova área do conhecimento e certamente que os resultados para a humanidade serão gratificantes. O melhoramento genético de plantas, agora bem fortalecido com refinadas ferramentas biotecnológicas diante de um rico manancial de genomas tropicais funcionais, traduz-se em um dos principais campos para o desenvolvimento de uma agricultura saudável e competitiva. Nesse sentido, os organismos trangênicos podem se constituir na nova face feliz do Brasil. Plantas que funcionam como biofábricas ou biorreatores podem ser modificadas para que produzam enzimas, vacinas, anticorpos e proteínas terapêuticas, para o setor médico, indústria farmacêutica e para a saúde animal. É uma técnica viável e econômica, e pode-se produzir em grande escala.

Aumento da produtividade No futuro, os ganhos de produção têm de ser conseguidos fundamentalmente por aumentos da produtividade das culturas, pois não existe grande reserva de terra por cultivar, devendo ter-se o cuidado, no entanto, de salvaguardar a qualidade do ambiente. A biologia molecular, ao possibilitar a compreensão da base genética da produtividade dos animais e plantas e a regulação da expressão dos genes envolvidos, vem abrir uma excelente opção que não pode ser ignorada se quisermos satisfazer, de forma sustentável, a procura global crescente de alimentos.

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de Tilápia

A tilápia representa a segunda espécie de pescado de maior importância na piscicultura mundial, sendo superada apenas, em volume de produção, pelas carpas. De acordo com dados da FAO, o mercado mundial da tilápia registrou quase 3,5 milhões de toneladas, em 2010, totalizando US$ 14 bilhões ao ano. A tilápia constitui hoje a espécie de maior produção da aquicultura brasileira, tendo alcançado um total de mais de 155 mil toneladas em 2010. O número representa 40% da aquicultura continental nacional e seu valor de mercado é estimado em R$ 1,3 bilhões ao ano.

Produto pronto para teste de qualidade

Luiz Octavio Pires Leal

Patê e Conserva

baixo teor de gordura, ausência de espinhos em forma de “Y” e excelente rendimento do filé. Inteiras ou na forma de filés, a tilápia é cada vez mais frequente no mercado brasileiro. Há um grande potencial para o desenvolvimento de novos produtos dentro do Brasil, principalmente, enlatados. Junto a este aspecto, há uma escassez de produtos nacionais industrializados e quando se trata de enlatados, praticamente só existem disponíveis sardinha e atum. O consumo de tilápia é grande, especialmente na forma de filés. Produtos enlatados de tilápia (conserva e patê) são novidades no mercado e não há nenhuma empresa que os ofereça.

Patê

volume de produção tem crescido, principalmente pelas características relevantes da tilápia como, a alta produtividade, adaptação a ambientes diversos, carne saborosa e de ótima qualidade e boa aceitação no mercado. Além disso, é uma excelente fonte de proteínas, minerais, principalmente cálcio e fósforo, vitaminas A, D e complexo B. Apresenta

A Embrapa Agroindústria de Alimentos, localizada no Rio de Janeiro, RJ, vem desenvolvendo pesquisas para o aproveitamento da carne de tilápia na forma de patês e conservas. Os experimentos para obtenção dos produtos foi realizado levando-se em consideração a adequação do tratamento térmico e das quantidades de ingredientes utilizados nas formulações, a fim de se aumentar a vida útil do produto e conservar as suas propriedades sensoriais e nutritivas,

O técnico de laborátorio, Sérgio Macedo, operando o pasteurizador

Preparo do patê Luiz Octavio Pires Leal

Luiz Octavio Pires Leal

O

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Luiz Octavio Pires Leal

O plano piloto

Luiz Octavio Pires Leal

Recravação (fechamento) da lata

Conserva A tilápia em conserva é um produto feito a partir do filé do pescado. Após a filetagem, os filés são acondicionados na embalagem com o líquido de cobertura. Depois de embalado o produto passa por tratamento térmico a fim de garantir sua esterilidade comercial. Assim como o patê, a conserva obteve boa aceitação em testes sensoriais pelas características de consistência e sabor característico agradável.

Destino O beneficiamento da carne de tilápia pode ser adotado por associações de produtores ou produtores de médio e grande portes interessados na agroindustrialização do pescado. Além disso, os produtos desenvolvidos podem ser incorporados à linha de produção de indústrias de conserva de pescado. Autoclavagem do produto Luiz Octavio Pires Leal

principalmente, sabor, textura, teores de ácidos graxos e de proteínas. Dessa forma, o pescado ganha novas formas de comercialização podendo ser ofertado de forma regular num mercado mais amplo que o de pescado in natura. O patê de tilápia é um produto obtido a partir da carne mecanicamente separada (CMS). Após a filetagem, sobram aparas que não são comerciais, mas a partir destas pode-se produzir a CMS, que é obtida através de equipamento separador de carne, ossos e cartilagem. O patê de tilápia é formulado a partir desta CMS, acrescido de outros ingredientes usualmente utilizados em patês. O patê é envasado em latas e submetido a tratamento térmico, a fim de garantir sua esterilidade comercial. O produto final tem consistência firme e boa “espalhabilidade”, sabor agradável e característico da espécie aquática, motivos que levaram a uma significativa aceitação em testes sensoriais.

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Por: Adeildo

Lopes Cavalcante

A Embrapa Pantanal (Corumbá/ MS) e a Universidade Federal de Santa Maria-UFSM, no Rio Grande do Sul, desenvolveram uma vacina, denominada Pitium Vac, que cura a pitiose, doença fatal em equinos. A doença, que provoca um quadro infeccioso na pele e tecido subcutâneo do animal, ocorre em locais alagadiços, especialmente nas regiões de clima tropical e subtropical. O Pantanal brasileiro é a região de maior ocorrência de pitiose, mas a doença ocorre em todo o país e causa prejuízos significativos aos criadores.

Embrapa

O agente causador da doença – o fungo Pythium insidiosum – resiste às drogas antifúngicas existentes e causa a morte ou invalidez na grande maioria dos casos.

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Divulgação

Embrapa e UFSM desenvolvem vacina contra pitiose, doença mortal em equinos

Suplementação alimentar de baixo custo para bovinos com subprodutos da lavoura Segundo pesquisa do Núcleo Embrapa de Gado de Corte, subprodutos da lavoura, tais como farelo (cuim) e quirera (xerém) de arroz, milho quebrado e grãos de soja, podem ser misturados com sal mineralizado (adicionado de minerais) para fornecimento aos bovinos, principalmente durante a seca, quando as pastagens estão com baixo valor nutricional e os animais perdem peso e/ou diminuem a produção de leite. A mistura de baixo custo pode ser formulada na propriedade e tem seu custo cerca de 50 a 70% inferior à encontrada no comércio. Como benefício direto, o aumento no peso (engorda) ou aumento na produção de leite irão promover maior produtividade animal. A mistura poderá ser ajustada, modificada ou adaptada, sob recomendação de especialista em nutrição animal.


APTA

Novidade: Brasil passa a contar com raça leiteira da Oceania O Brasil passou a contar em sua pecuária, pela primeira vez, com uma raça leiteira da Oceania: Illawarra, desenvolvida na Austrália, país pertencente àquele continente. A raça já vem sendo cruzada com algumas raças criadas em nosso país, entre elas a Holandesa, gerando animais rústicos e de alta produção.

Desenvolvida pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), a técnica se baseia no que os pesquisadores denominaram reprodução sincronizada, a qual ocorre a partir da injeção de um hormônio na hipófise (que produz hormônios) do lambari. Desta forma, os peixes atingem a maturidade reprodutiva na mesma época, ordenando e facilitando a produção.

Santa Clara

Sem essa técnica, segundo a APTA, os alevinos (filhotes) vão nascer de forma desordenada. Com isso, os peixes maiores podem comer os menores e causar um problema de logística, pois, na época em que se reproduzem, os produtores podem não ter tanques para colocá-los.

Salada de manga com molho de laranja feita com queijo SanBIOS.

No Brasil, as vacas leiteiras produzem, em média, cinco litros por dia.

Divulgação

Nova técnica pode aumentar em até 80% a produção de lambari

Um dos produtores que vem criando, com sucesso, animais com sangue das raças Illawarra e Holandesa é Daniel Leonel, de Arapongas, no Paraná. Um dos destaques do seu criatório é uma filha de vaca holandesa pura com o touro Illawarra Landmine, a qual, no seu primeiro parto, produziu 22,4 litros em um dia.

Santa Clara desenvolve e lança queijo com probióticos A Cooperativa Santa Clara, um dos mais antigos fabricantes de laticínios do Brasil, com sede no Rio Grande do Sul, desenvolveu e lançou no mercado o SanBIOS, primeiro queijo do país com organismos probióticos, que contribuem para o equilíbrio da flora intestinal. O produto é do tipo Minas Frescal e contém o micro-organismo probiótico Bifidiobacterium Lactis BI-07, que, associado a uma alimentação saudável, é capaz de equilibrar a flora intestinal. O queijo age de maneira eficaz no trato digestivo e auxilia no seu funcionamento, combatendo e excluindo os micro-organismos indesejados. Animal Business-Brasil_31


Utilização de resíduos de pescado como alternativa

de desenvolvimento sustentável Por:

Vet. Maria Lúcia Guerra Monteiro, Pós-doutoranda; Prof.Carlos Adam Conte Jr, PhD; Profa. Eliane Teixeira Mársico,PhD.; Faculdade de Veterinária da UFF

A produção derivada da aquicultura tem demonstrado aumento progressivo nos últimos anos devido, principalmente, à limitação de pescado oriundo da pesca extrativista decorrente da saturação dos estoques naturais aliado à crescente demanda da população por alimentos saudáveis.

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entre as diversas espécies de cultivo, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é a que apresenta melhores índices de produção no Brasil e representa grande potencial para o desenvolvimento da aquicultura nacional devido às promissoras características de produção e de consumo. Todavia, durante o processo de filetagem de peixes são gerados resíduos com elevado valor nutritivo e valor co-

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Tilápia do Nilo

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mercial relativamente baixo, sendo descartados diretamente no meio ambiente sem tratamento adequado, gerando grave impacto ambiental. Este fato ocorre, principalmente, devido à carência de alternativas tecnológicas das indústrias de beneficiamento de pescado com relação à utilização dos resíduos, como matéria-prima altamente nutritiva para elaboração de novos produtos com valor agregado.

Alternativa econômica No Brasil, a aquicultura é uma atividade zootécnica que vem se destacando como alternativa econômica para o pequeno e médio produtor, sendo propícia ao aproveitamento de áreas improdutivas, transformando-as e elevando sua potencialidade e produtividade. Ademais, o potencial brasileiro para o desenvolvimento da aquicultura é imenso, pois o País é constituído por 8.400 km de costa marítima e 5.500.000 hectares de reservatórios de água doce, o que corresponde a aproximadamente 12% da água doce disponível no planeta, clima extremamente favorável para o crescimento dos organismos cultivados, mão de obra abundante e crescente demanda por pescado no mercado interno. Em anos recentes, a produção aquícola nacional apresentou um incremento de 15,3%, alcançando 479.399 toneladas. Seguindo a tendência de anos anteriores, a maior parcela da produção aquícola foi oriunda da piscicultura que representou 82,3% da produção total nacional. A região Sul assinalou a maior produção de pescado do país, com 133.425,1 toneladas, respondendo por 33,8% da produção aquícola nacional. Em seguida, por ordem decrescente, as principais regiões produtoras de peixes provenientes de cultivo foram Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Norte registrando produção de 78.578,5, 70.915,2, 69.840,1 e 41.481,1 toneladas, respectivamente, onde todos os estados brasileiros apresentaram um incremento na produção de origem aquícola.

Destaque Nesse contexto, destaca-se o Rio de Janeiro que apresentou um incremento de 53% na pro-

Resíduos de carcaça de tilápia

Em anos recentes, a produção aquícola nacional apresentou um incremento de 15.3%, alcançando 479.399 toneladas.

dução. Dentre as diversas espécies de cultivo, a tilápia do Nilo (Oreochromis niloticus) é a espécie que apresenta melhores índices de produção no Brasil devido à elevada produtividade, precocidade, adaptabilidade em diversas condições ambientais, excelente conversão alimentar, baixa susceptibilidade a doenças parasitárias e elevada resistência a baixas concentrações de oxigênio. Além disso, a referida espécie possui carne de qualidade superior, tais como ausência de espinhas em “Y”, carne branca de textura firme, sabor delicado e agradável, resultando em elevada aceitação dos consumidores. Os principais produtos comercializados desta espécie são peixes inteiros congelados e filés, que representam a preferência de consumo da carne de tilápia pelos mercados nacional e internacional. Entretanto, embora os diversos aspectos positivos relativos ao cultivo de tilápia, uma das características indesejáveis desta espécie é o baixo rendimento de filé. Ainda que este rendimento dependa da eficiência manual do operário ou de equipamentos, caso a filetagem seja automatizada, da forma anatômica do corpo, do tamanho do peixe bem como do peso das vísceras, pele e nadadeira, os filés e resíduos representavam Animal Business-Brasil_33


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fecções de vestuários, entre outros artefatos, representa há alguns anos, uma fonte alternativa de renda para as indústrias e entrepostos pesqueiros.

Consumo humano

Centrífuga

aproximadamente 35% e 65% do processamento de tilápia, respectivamente. Estes últimos apresentam valor comercial relativamente baixo e são comumente descartados no meio ambiente sem tratamento adequado, resultando em graves problemas ambientais. Além disso, devido à heterogeneidade de crescimento dos peixes, durante a criação,pode ocorrer o descarte de animais que não atingem o tamanho comercial adequado, comprometendo a aceitação dos filés, os quais normalmente representam entre 12 a 14% da produção e são subutilizados como resíduos de produção.

Resíduos da produção Os resíduos apresentam elevado teor de proteínas, minerais e lipídios , incluindo ácidos graxos essenciais, principalmente da série ômega-3, como o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o docosahexaenoico (DHA), responsáveis por diversos efeitos benéficos para a saúde humana, como: diminuição dos riscos de doenças cardiovasculares, diminuição nas taxas de colesterol no sangue, prevenção de câncer, dentre outros.

Produtos Historicamente, uma alternativa viável para o aproveitamento dos resíduos foi a produção de farinha de pescado, amplamente empregada na aquicultura como principal fonte proteica nas rações para a maioria das espécies cultivadas. Em escala reduzida, a elaboração de couro, a partir de peles residuais do processo de filetagem de pescado para a fabricação de carteiras, bolsas, con34_Animal Business-Brasil

Além do aproveitamento dos resíduos destinados ao consumo animal e à produção de artefatos, tais resíduos podem ainda ser transformados em ingredientes para incorporação em produtos de fácil preparo para consumo humano, podendo ser, direta ou indiretamente, aproveitados para enriquecer ou suplementar nutricionalmente a merenda escolar, sendo uma alternativa de baixo custo, viável e sustentável para solucionar problemas de desnutrição da população, especialmente, de baixa renda, incluindo as crianças que, dentre os consumidores brasileiros de peixes, são aquelas que representam a parcela com o menor consumo de pescado. Portanto, torna-se necessário um trabalho de educação nutricional visando estimular o consumo desta matriz, com a finalidade de melhorar a qualidade da dieta deste grupo de indivíduos.

Espécie mais cultivada Atualmente a tilápia (Oreochromis niloticus) é a espécie mais cultivada no Brasil, podendo ser produzida em praticamente todo o território nacional. Segundo os últimos dados disponíveis, esta espécie representou 39,4% do total de pescado proveniente da piscicultura nacional, totalizando 155.450 toneladas, ultrapassando a produção de carpas que contribuiu com 94.579 toneladas no mesmo período. Contudo, o consumo de pescado é bastante variável de acordo com as regiões do país, condições geográficas, clima, aspectos socioeconômicos e culturais locais, havendo predominância de consumo na região Norte, principalmente de peixes de água doce. Vale ressaltar que a indisponibilidade de produtos processados industrializados à base de pescado, em quantidade e qualidade, que sejam providos de praticidade e que apresentem maior validade comercial, consiste no principal entrave para o aumento do consumo dessa matriz alimentar no Brasil. Além disso, a sociedade moderna está direcionada para o consumo de produtos semiprontos ou prontos, denominados ready to eat, mas que possuam elevado valor nutritivo, custos acessíveis, boa apresentação e embalagem de qualidade,


Novos produtos Neste contexto, a elaboração de novos produtos à base de resíduos de pescado poderia representar uma alternativa tecnológica viável, tendo em vista que o pescado é historicamente associado a alimento saudável, permitindo inclusive a utilização de informações nutricionais nos rótulos como, por exemplo, excelente fonte de ômega-3, caracterizando apelo nutricional que determina interesse e escolha dos consumidores. Desta forma, torna-se atrativa e lucrativa a inclusão de novos produtos no mercado que estejam inseridos no contexto de praticidade, saudabilidade e sustentabilidade, fato que pode ser alcançado a partir da utilização de resíduos de pescado, principalmente, de tilápia que, atualmente, apresenta maiores índices de produção na aquicultura nacional. Diante deste cenário, diversos produtos à base de resíduos de tilápia são descritos na literatura como: biscoitos, empanados, salsicha, fishburgers, quibe, patês, bolinho de tilápia, caldo de tilápia, medalhão, linguiça fresca “tipo toscana”, hambúrguer, almôndegas, embutido defumado “tipo mortadela” e sopa instantânea. Recentemente, pesquisadores têm estudado a inserção parcial de filés e farinhas de tilápia em alimentos amplamente consumidos como pão e bolo de chocolate e cenoura visando ao enriquecimento nutricional e elevada aceitabilidade dos mesmos. Neste contexto, torna-se fundamental a realização de estudos que viabilizem a utilização de resíduos como matéria-prima ou ingredientes de baixo valor econômico na formulação de novos produtos derivados de pescado mais acessíveis e de fácil preparo. A tendência atual baseia-se na elaboração de novos produtos que reúnam todos os atributos exigidos pelos consumidores atuais, tanto aqueles pertencentes à população considerada de classe média e alta, quanto para aqueles inseridos na classe de baixa renda. Desta forma, baseada em pesquisas descritas na literatura, a utilização de resíduos de tilápia consiste em uma alternativa comprovadamente viável para elaboração de novos produtos com valor agregado.

Tecnologia sustentável Trata-se de uma estratégia tecnológica sustentável para reduzir o impacto ambiental; elevar a lucratividade das indústrias e/ou entrepostos de pescado; inserir no mercado produtos de elevado valor nutritivo, qualidade e praticidade; fomentar o consumo de pescado no Brasil; e contribuir para o desenvolvimento social, promoção da segurança alimentar e inclusão social de famílias de baixa renda, quando os resíduos são utilizados para enriquecer nutricionalmente alimentos pertencentes à alimentação básica da população brasileira. Neste contexto, torna-se de fundamental relevância a ampliação de pesquisas direcionadas a alternativas sustentáveis visando ao estímulo da utilização de recursos naturais provenientes do patrimônio nacional, reduzindo parcialmente o investimento financeiro destinado à importação para o desenvolvimento e valorização da cadeia produtiva de pescado em nível nacional. Espectrofotômetro Divulgação

destacando-se ultimamente evidências de uma maior preocupação com a saúde e o meio ambiente entre os consumidores.

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Nova dieta

para equinos Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso* e Kátia Feltre**

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Por:

Nova tecnologia pretende simplificar a alimentação dos equinos

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conceito de dietas completas para equinos não é novo. As vantagens do uso de uma dieta completa e compactada foram reconhecidas pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial como forma de alimentar os cavalos durante o serviço de uma maneira prática, que permitisse aproveitar diversas fontes de nutrientes e transformá-las num único material, fácil de armazenar, distribuir e fornecer, sem perder a qualidade nutricional. Dentre os ingredientes, utilizados para a confecção do produto, eram utilizados palha e feno de capim picados de tamanhos que variavam de 0,5 a 2,0 polegadas, aveia, cevada e açúcares (Earle, 1950).

Patente Em 1991, uma patente de Dieta Completa Extrusada foi solicitada e concedida nos Estados Unidos (Alley e Scott, 1991), formulada com feno de alfafa, grãos e diversos subprodutos da agroindústria, destinada a animais em manutenção. Basicamente estes materiais foram balanceados, moídos, misturados e extrusados, resultando em partículas com tamanho de 2-3 polegadas. O diferencial deste produto era a sua baixa densidade *

gobesso.fmvz@usp.br

**

katiafeltre@usp

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energética, com baixo conteúdo de amido, que permite disponibilizar alimentos ad libitum para os cavalos, com baixo risco de complicações clínicas. Isto é possível devido às características anatomofisiológicas desta espécie, que tem um estômago proporcionalmente pequeno, quando comparado ao total do trato digestivo.

Alimento diferente Em 2008, foi proposta por um grupo de irmãos empreendedores a ideia da produção de um alimento novo e diferente, que seria utilizado inicialmente para cabras e ovelhas, e que permitisse facilitar a logística do arraçoamento destes animais, por fornecer somente um ingrediente por refeição, reduzir os custos decorrentes dos desperdícios com o manejo do alimento volumoso bem como diminuir os custos com frete, armazenamento, manejo e a mão de obra, sem sacrificar a qualidade nutricional nem induzir transtornos digestivos. Esse novo produto possibilitaria preencher lacunas nos mercados brasileiro e internacional, por ser disponível para o criador em todas as épocas do ano, dispensando a necessidade de estocar alimento nos meses de pouca oferta.


Desenvolvimento da dieta completa Para verificar tecnicamente a viabilidade do uso do produto, em 2008, foi realizado um ex-

Resultados satisfatórios: todos os equinos ganharam peso e não tiveram alterações intestinais

perimento no Laboratório de Pesquisa em Alimentação e Fisiologia do Exercício de Equinos (LABEQUI) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP de Pirassununga/SP, sob coordenação do professor doutor Alexandre Augusto de Oliveira Gobesso, para avaliar a digestibilidade, aceitabilidade, comportamento alimentar, consumo de água e a resposta glicêmica e insulinêmica, bem como a viabilidade econômica e industrial da fabricação do produto. Foram reunidas, em um só produto, as duas frações usadas tradicionalmente na alimentação desses animais: em torno de 40% de volumoso (feno, capim verde, etc.) e em torno de 60% de ração, também conhecida como concentrado (milho, farelo, minerais, etc). Esse tipo de produto existia no mercado, mas eram direcionadas geralmente para outros animais como bovinos e caprinos. Para a realização desse trabalho, foram utilizadas 4 potras testadas sob 4 níveis de substituição da dieta tradicional (feno + ração) pelo o produto. As inclusões estabelecidas foram de 0, 33, 66 e 100% da Dieta Completa na dieta controle, ou seja, no primeiro tratamento, o cavalo foi alimentado com feno e ração sem o produto a ser testado; no segundo, a dieta incorporou 33% de feno enriquecido extrusado em substituição à dieta-controle; no terceiro, 66% de feno enriquecido; e, no último, somente o produto a ser testado. Durante o experimento, os animais foram monitorados quanto à saúde. Os resultados obtidos foram satisfatórios e não encontraram alterações no comportamento alimentar, na aceitabilidade da dieta e no con-

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O desafio inicial dos inventores era descobrir o tamanho mínimo de corte da fibra vegetal presente no alimento que atendesse às necessidades digestivas dos animais, sem prejudicar a função digestiva do alimento. Essa informação foi obtida por meio da mensuração das partículas de fibra presentes nas fezes dos equinos. Alimentos contendo fibras curtas ou um volumoso excessivamente picado (<2 cm) podem ser deglutidos sem mastigação e com isso causar obstipações e, por esse motivo, a fibra longa entra como importante componente da dieta dos cavalos. Dietas com baixo nível de fibra deprimem a fermentação microbiana no intestino grosso desfavorecendo o processo digestivo dos equinos. A princípio, por causa de problemas com superaquecimento dos dutos com risco de danificar o equipamento, esse grupo de irmãos adaptou uma máquina extrusora para que suportasse a presença da fibra em tamanho maior durante o processo. Seguiram o conceito de um moedor de carne manual, porém, com uma faca forjada com metal flexível, cuja lâmina não trincasse quando submetida a altas temperaturas da extrusora. O produto inovador, denominado Feno Enriquecido Extrusado (FEE), poderia ser utilizado na alimentação de cavalos e outras espécies de interesse zootécnico, possibilitando o processo de patente da nova tecnologia. Porém, o conhecimento utilizado foi puramente empírico.

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As vantagens das dietas completas e compactas foram reconhecidas pelo exército alemão durante a Segunda Guerra Mundial

sumo de água com melhores respostas glicêmicas quando se utilizou 100% de FEE, ou seja, o produto poderia ser usado na dieta dos cavalos, em substituição à dieta tradicional de alta qualidade. Todos os animais ganharam peso e não tiveram alterações intestinais e clínicas. Segundo o professor Gobesso “houve apenas uma diferença em relação à digestibilidade, devido à baixa qualidade do volumoso usado no FEE em comparação ao feno de alta qualidade utilizado na dieta controle”.

Viabilidade econômica Com relação à viabilidade econômica, o estudo foi realizado pelo Laboratório de Análises Econômicas (LAE) da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP de Pirassununga/SP, sob coordenação do professor doutor

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Augusto Hauber Gameiro. As planilhas que sustentaram esse estudo levaram em conta o capital imobilizado (imóveis, equipamentos, veículos), pessoal (operacional e administrativo), os insumos (agrícolas e industriais), as despesas (operacionais e administrativas), o planejamento da produção (volume, preço etc.), a equivalência nutricional (dieta completa), as tributações (municipal, estadual e federal), transporte (até mercado consumidor), Demonstrativo de Resultado do Exercício (DRE, mensal), Fluxo de Caixa (anual, para 30 anos). Os resultados apontaram que o processo de produção e venda do FEE seria viável desde que houvesse um mercado consumidor em escala adequada para garantir o consumo da produção. O cenário, simulado no ano de 2008, apontou que o produto custaria em torno de R$0,59/kg e poderia ser vendido ao criador com o preço de R$0,82/kg com a vantagem de não haver desperdício de volumoso onde o animal retira do cocho, pisa e não come mais e que, segundo o professor Alexandre Gobesso, pode chegar a 30%. O retorno do investimento incial (Payback simples) dessa proposta ficaria em torno de 4 anos com Valor Presente Líquido (VPL) de R$6.091.375,00. Em outra simulação, quando o preço ao criador fosse 10% acima do preço inicial, ou seja, R$0,91/kg, o retorno do investimento cairia para 2 anos e o VPL praticamente triplicaria para R$18.848.257,00, evidenciando as vantagens econômicas da produção do FEE.

Aspectos fisiológicos Por natureza, os cavalos são animais herbívoros, ou seja, se alimentam de forragens verdes e são adaptados morfofisiologicamente para digerir essas fibras por meio da fermentação microbiana no ceco e cólon, os quais são sobremaneira funcionais. Porém, na prática, esses animais são muitas vezes alimentados com grandes quantidades de concentrados e com baixa quantidade de volumoso em refeições limitadas, reflexo da preferência do proprietário por acreditar que as baias são ambientes adequados para manter e assistir esses animais, da


dificuldade de manejar a pastagem, visto que as pesquisas voltadas para essa área são escassas e também pelo tipo de trabalho que os cavalos são destinados. Quando um volume maior de alimento é oferecido apenas uma vez ao dia, pode ocorrer aumento da taxa de passagem, resultando em redução no tempo de digestão e, consequentemente, menor aproveitamento dos nutrientes (Warner, 1981 e Pearson et al., 2001). Além disso, o fornecimento de níveis de amido acima de 4 g do peso vivo em uma refeição pode diminuir a digestão do amido no intestino delgado e intestino grosso levando à fermentação com a produção de gás (Potter et al., 1992), podendo causar prejuízos à saúde física e, indiretamente, mental dos animais. Para Pearson et al. (2001) o fato de dividir o total da refeição em pequenas porções no decorrer do dia não só se aproxima do comportamento animal em pastagens, como também pode reduzir a taxa de passagem do alimento, estimular a digestibilidade com maior aproveitamento dos nutrientes, bem como pode reduzir os riscos de cólica ou outros distúrbios gastrointestinais. Em contrapartida, estudos realizados, utilizando dieta completa peletizada com quantidade de fibra bruta relativamente alta (24%), não encontraram diferenças na digestibilidade quando os animais foram alimentados com 1 e 6 (Houpt et al., 1988) ou 12 refeições (Clarke et al., 1990; Gill et al., 1998) em um período de 24 horas. Com isso, o desenvolvimento de dietas únicas completas que agrupem todos os ingredientes necessários à alimentação sem causar danos à saúde física e mental dos cavalos tem sido alvo de pesquisas no ambiente acadêmico. O foco está no setor esportivo (principalmente para cavalos confinados em criatórios de manejo intensivo ou estabulados em centros urbanos), animais alocados em baias em regiões onde a disponibilidade forrageira durante o ano é crítica, considerando, nesse aspecto, os problemas imprevisíveis com o clima (secas ou chuvas prolongadas) que podem interferir na qualidade do feno, os batalhões

A viabilidade econômica foi testada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP / Pirassununga

de cavalaria, onde os animais são mantidos boa parte do dia em baias e também situações onde o preço do feno é muito maior do que o de fertilizantes e combustíveis.

Perspectivas Visando à produção em escala, foi concretizada uma parceria com o laboratório Vencofarma para criação da empresa Nutriltex a ser instalada na cidade de Londrina/PR, com previsão de disponibilização do produto ao mercado em 2014. As modificações, tanto no processo produtivo quanto na composição da dieta completa, estão em processo de avaliação para fornecer ao proprietário mais segurança na alimentação dos cavalos. A empresa sugeriu mudanças no tipo de equipamento utilizado para produzir a dieta completa. Ao invés de uma extrusora, agora a ideia é utilizar uma peletizadora de biomassa mais adequada à fabricação do produto. A equipe do Labequi continua participando do desenvolvimento do produto e tem projetos de testar novas fontes de fibra longa que possam facilitar o processo de produção e melhorar a qualidade do produto, a aceitabilidade dos animais e comportamento alimentar, bem como analisar os custos de produção com as novas fontes de fibra. Em breve, os proprietários poderão contar com um produto inovador e acessível com a qualidade que um cavalo necessita para viver em plena saúde e bem-estar.

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Estratégia para reduzir a contaminação

da carcaça de frango

durante o processamento Por:

Raiza Tronquin - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz-USP

Considerado o terceiro maior produtor de carne de frango do mundo, o Brasil ocupa também a primeira posição como exportador do produto. Com isso, o agronegócio do frango de corte desempenha cada vez mais relevância na economia brasileira. Embora o cenário seja satisfatório, o cumprimento de normas e padrões de qualidade, exigidos para segurança do alimento e aceitação no mercado internacional, demanda esforço na linha de produção dos abatedouros.

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iante deste contexto, Juliana Montesino de Freitas Nascimento, mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos, pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (USP/ESALQ), desenvolveu um projeto com a finalidade de diminuir a contaminação visível de carcaças de frango durante a evisceração, bem como os consequentes riscos microbiológicos.

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“Devido à sua composição de nutrientes, pH, atividade de água e potencial redox favoráveis, a carne de aves serve de substrato ideal para a multiplicação de microrganismos, apresentando expressiva representatividade associada às Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA)”, observa a pesquisadora.

Contaminação A contaminação ocorre durante o processo de abate, devido ao corte ou ruptura do intestino e extravasamento do conteúdo gastrointestinal. Juliana conta que isso se deve a diversos fatores, como o tempo de retirada da ração e a quantidade de material presente no trato digestivo ou até mesmo à eficiência dos funcionários da evisceração e a regulagem de equipamentos ao tamanho das aves. “O intestino das aves é, em geral, fortemente colonizado por bactérias patogênicas como Campylobacter e Salmonella. Isso ocorre desde a granja, onde há uma alta concentração de animais compartilhando o mesmo espaço (comedouros, bebedouros e cama de frango) e, consequentemente, uma facilidade de disseminação de microrganismos e doenças entre os animais”.

Passo a passo O projeto foi realizado em um abatedouro do estado de São Paulo, onde ressaltou-se, além dos aspectos técnico-operacionais e conhecimento de microbiologia, higiene e segurança alimentar, o ajuste das competências comportamentais dos funcionários, a fim de reduzir a


Treinamento é a solução Com base nos resultados da pesquisa, ficou evidenciado que o investimento em um treinamento com metodologia adequada pode ser a

Juliana Montesino de Freitas Nascimento

Evisceração Juliana Montesino de Freitas Nascimento

contaminação visível. A estratégia educacional elaborada, constituída de três módulos, foi ministrada aos funcionários do setor de evisceração por meio de recursos audiovisuais. “No conteúdo, procurei explicitar a relação entre as inadequações técnicas e comportamentais do setor de evisceração, que resultam em ruptura do trato gastrointestinal, contaminação visível das carcaças e possibilidade de multiplicação de microrganismos patogênicos”, conta a pesquisadora. O primeiro módulo forneceu informações básicas de higiene e segurança alimentar, como a existência de microrganismos, possibilidade de contaminação e ocorrência de doenças. O segundo módulo discutiu os aspectos técnicos de etapas críticas do abate que causam a problemática mencionada, durante as etapas de corte abdominal, eventração e evisceração do frango. O terceiro módulo enfocou as competências comportamentais e buscou a sensibilização para a realização correta das tarefas, como forma de prevenir casos ou surtos de DTA, bem como problemas para a empresa. Os dados sobre a contaminação foram coletados durante um mês e comparados entre os períodos antes e após o treinamento. “A identificação da persistência de carcaças contaminadas visíveis, antes de entrar no tanque de resfriamento, foi realizada de acordo com o procedimento matadouro por amostragem sistemática de 100 carcaças por hora, verificando, por inspeção visual, contaminações fecal, biliar e gástrica”, ressalta Juliana. A estratégia adotada resultou na diminuição significativa dos picos de persistência de contaminação e, consequentemente, na redução da variabilidade da porcentagem contaminada quando comparada à fase antes do treinamento. De acordo com a pesquisadora, os dias com persistência de contaminação visível maior ou igual a 1% foram reduzidos de 38% para 4% (contaminação fecal), de 45% para 26% (contaminação biliar) e de 41% para 35% (contaminação gástrica).

Contaminação visível no processo de evisceração

ação de melhor relação custo-benefício. “O treinamento buscou não só o fornecimento de informações e a valorização dos aspectos técnicos, mas priorizou o ajuste das competências comportamentais e a sensibilização dos funcionários para as DTAs, a fim de conduzir maior conscientização e atitude proativa, além de proporcionar um alimento seguro ao consumidor”, conclui a pesquisadora. O projeto foi orientado pela professora Gilma Lucazechi Sturion, do Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição, e contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Animal Business-Brasil_41


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APRENDENDO

COM A VACA

Eng.-Agro. Alberto Figueiredo - Zootecnista Luiz Roldão Marques Menezes

Em um hipotético diálogo com a Mimosa, à busca de suas necessidades, no sentido de, em linguagem simples, decifrá-las e transformá-las em ações por parte de criadores e tratadores, pretendemos oferecer algumas sugestões com a intenção de minimizar causas de insucesso no desenvolvimento da atividade de produção de leite.

O

trabalho procura se livrar de compromissos científicos, para, com a bota suja de bosta, ser o mais próximo possível da realidade que envolve o criador de vacas de leite. Como toda produção depende de resultado econômico, sem o qual não se justificaria, seguem considerações com o intuito de responder a este chamado.

Na verdade, para considerarmos uma área de capim como pasto para vacas (pasto este que terá importância fundamental na composição da alimentação diária delas), precisaremos observar alguns aspectos. Os principais são: • Evitar ocupação com pastagens, de áreas que, pelas características de declividade e tipo de solo, deveriam ser destinadas a outros tipos de cobertura, principalmente florestas, por estarem em área de preservação da natureza. • Aumentar a produtividade por hectare , tanto em carne quanto em leite, principalmente corrigindo a fertilidade do solo. • Assumir conceitos de conforto animal, preparando áreas com sombras para este fim. É importante “ouvir” o que a Mimosa tem a dizer. Andy Stafiniak

Por:

Alimentação A alimentação das vacas de leite e suas crias, constitui o fator mais importante, principalmente pelos custos envolvidos, assim jogaremos mais foco sobre as diversas alternativas. Muitos criadores acreditam que qualquer erva que brote em um terreno que foi desmatado ou utilizado anteriormente por outras culturas, serve de alimento para vacas de leite.

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Alfapress Comunicações

Pasto de boa qualidade é fundamental para conseguir alta produtividade e lucro.

Refletindo sobre o que conversamos até agora, parece que está suficientemente clara a nossa responsabilidade, enquanto criadores, no sentido de encarar as pastagens, não mais como uma obrigação da natureza, mas como resultado de investimentos planejados e tecnicamente conduzidos, objetivando transformá-las em uma cultura comercial como a do café, da soja ou do tomate, para que tenhamos condições de produzir o maior volume possível de nutrientes, em cada área assim administrada. Sendo os ruminantes dotados de competências capazes de transformarem o que ingerem no pasto em proteína e energia (base de sua nutrição), sendo essa a fonte mais barata desses nutrientes, é necessário darmos a devida atenção a ela.

Formação das pastagens Para a formação de pastagens, é aconselhável que procuremos o apoio técnico de profissionais com conhecimentos adequados nesse sentido. Engenheiros–agrônomos, zootecnistas, e técnicos-agrícolas, são profissionais com currículo mais adequado. Vários aspectos deverão ser levados em consideração, tais como:

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• Verificação de necessidade de drenagem (eliminação do excesso de umidade) da terra. • Conhecer as condições físicas e químicas do solo onde pretendemos plantar as gramíneas ou leguminosas destinadas à pastagem, contando com análises em laboratórios. • Escolha das gramíneas e leguminosas que mais se adequam à realidade local, entre outras. É preciso tomar cuidado com as propagandas e com os modismos. Nem todas as espécies são as mais indicadas para uma determinada região. Concluído o passo anterior, teremos nossos pastos (ou parte deles) formados. É hora de providenciar as cercas. Podemos afirmar que a melhor alternativa é a cerca eletrificada, que permite a divisão dos pastos em piquetes, para que as vacas consumam sempre vegetais de qualidade, com brotações recentes. Não podemos deixar de citar que, em países tropicais como o nosso, os bovinos sentem necessidade de proteção em relação aos raios solares, principalmente nas horas mais quentes do dia.


A sombra ideal é a composta por árvores. Podemos aproveitar um bosque já existente, ou mesmo plantá-lo, escolhendo as árvores que melhor se adaptem à região. Enquanto não for possível o uso de sombra natural, é importante que se providencie uma opção artificial, como o uso de sombrites, bambus, etc.

Água Outro aspecto não menos importante está no fornecimento de água. Esta deve ser abundante e de ótima qualidade, haja vista que respondem por mais de 80% do peso do animal. É fundamental nos conscientizarmos de que bovinos precisam ter água à disposição durante as 24 horas de cada dia de suas vidas. Cabe comentar que existem outras opções de volumosos principalmente para suplementar as pastagens no período seco do ano (cana, silagem, pré-secados, fenos). Para completar as necessidades nutricionais das vacas, usamos produtos industriais genericamente chamados de:

Concentrados Pesquisas, realizadas ao longo dos tempos, foram capazes de produzir tabelas, através das quais podemos calcular, com razoável precisão, as necessidades nutricionais de um determinado animal, relacionadas ao seu peso vivo; estágio de gestação ou crescimento; níveis de produção; teor de gordura do leite etc. Nessa hora, é fundamental que tenhamos em mente que o cálculo das eventuais necessidades de suplementações alimentares, leve em consideração os custos envolvidos. A maioria dos alimentos existentes no mercado (soja, milho, trigo, algodão, etc.), pode ser usada para a alimentação dos animais. São utilizados, também, subprodutos resultantes de resíduos de processos industriais: a cevada úmida, que resulta do processo de produção de cerveja; a polpa de laranja, resultante do esmagamento da fruta para extração de suco, servem como exemplos. Outros resíduos, em função da disponibilidade regional, também poderão ser usados.

Para o adequado manejo dos animais, são necessárias:

Instalações Temos que nos lembrar de algumas informações fundamentais: • Construções não produzem leite nem carne. Portanto, gaste o mínimo possível com esse tipo de investimento. • Qualquer que seja o material a ser utilizado, tenha em mente que deve oferecer um ambiente confortável, não só para os animais, mas também para os tratadores. Assim, as coberturas devem ser suficientes para oferecerem proteção em relação ao sol para os animais que as frequentam. Devem ser arejadas, portanto bem ventiladas. Precisam ser claras, aproveitando a iluminação natural. O piso precisa ser impermeabilizado por questão de higiene, facilitando a limpeza. Não se esqueça da qualidade das casas destinadas aos seus colaboradores. Responda sempre à seguinte pergunta: “Eu moraria naquela casa com a minha família?” Bem, agora que teoricamente já providenciamos os alimentos (volumosos, concentrados e água) e as instalações principais prontas, que tal procurarmos as vacas para habitá-las?

Compra das vacas No caso de compra, também será uma oportunidade de ouvir diferentes opiniões. Precisamos de animais produtivos, adaptados às nossas condições de manejo, e com saúde comprovada. Exija a repetição de exames de brucelose e tuberculose, e, se possível, verifique se foram feitos exames de doenças que interferem na reprodução – como é o caso da leptospirose –, além de testes de índices de células somáticas, uma vez que algumas vacas possuem infecções nos tetos altamente transmissíveis, o que pode provocar grandes prejuízos financeiros. No mais, faça parte das estatísticas brasileiras entre os produtores de leite e...boa sorte!

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INSTITUTO DE LATICÍNIOS CÂNDIDO TOSTES:

79 ANOS DE PESQUISA E ENSINO Por:

Luiza Carvalhaes de Albuquerque - Técnica em Leite e Derivados pelo Instituto de Laticínios Cândido Tostes/EPAMIG. Especialista em Marketing e Gestão pela Qualidade. Coordenadora de Transferência e Difusão de Tecnologia do Centro de Ensino e Pesquisa/Instituto de Laticínios Cândido Tostes/EPAMIG. E-mail: luiza.albuquerque@epamig.br e luiza@acessa.com

N

o início da década de 1930, quando já consolidado o terceiro estágio de desenvolvimento da indústria de laticínios no Brasil, era patente a importância deste setor como poderoso suporte da economia nacional. Para que esta nova indústria tivesse assegurado seu desenvolvimento em bases econômicas e tecnológicas viáveis era de fundamental importância que o país dispusesse, dentre outros instrumentos, de uma atividade voltada exclusivamente para a definição e adaptação de tecnologia à feição de sua necessidade e característica, bem como dedicada à formação e treinamento de pessoal, de forma a emprestar-lhe a necessária independência. Diante disso e da condição que Minas Gerais já ostentava no contexto nacional, o governador estadual, preocupado em dar suporte técnico à “mais mineira das indústrias” - à de laticínios, promulgou o Decreto nº 50, de 14 de maio de 1935, criando em Juiz de Fora (MG), a Indústria Agrícola Cândido Tostes. O Decreto foi publicado no Jornal Minas Gerais, de 17 de maio de 1935.

Finalidades Estava, assim, lançada a semente e iniciava-se o que podemos chamar de quarto estágio de desenvolvimento da indústria de laticínios no Brasil, a criação do Instituto de Laticínios Cândido Tostes que tinha como finalidades: Cultural: Ministrar o ensino das matérias necessárias à formação de técnicos e práticos na fabricação de laticínios e industrialização de carnes, bem como prestar assistência técnica aos fazendeiros pela divulgação dos processos racionais de tratamento do gado leiteiro e de cor46_Animal Business-Brasil

te, higiene na ordenha, transporte do leite e da carne, objetivando maior produção. Industrial: Produção de queijos, manteiga, derivados do leite, bem como a carne e todos os seus derivados, tendo em vista as possibilidades de consumo de cada tipo de produto e as exigências dos mercados consumidores. Em 1943, o estabelecimento passou a denominar-se Fábrica Escola de Laticínios Cândido Tostes, através do Dec. Lei nº 983, do governo de Minas Gerais. No mesmo ano, obteve do governo federal o reconhecimento de seu curso pela Superintendência do Ensino Agrícola e Veterinário (SEAV), através do Dec. Lei 13.999. No dia 03 de setembro de 1956, portanto, 16 anos após sua inauguração, passa a denominar-se Instituto de Laticínios Cândido Tostes, através da Lei nº 1.476, integrado à estrutura da Secretaria de Estado da Agricultura do Estado de Minas Gerais, com as seguintes finalidades: a) Ministrar ensino das matérias necessárias à formação de laticinistas, mantendo para este fim quatro cursos: 1. Curso Técnico de laticínios, com a duração de dois anos, exigindo-se para ingresso no mesmo o curso ginasial. 2. Curso de especialização, com duração de um ano, para agrônomos, veterinários, químicos e técnicos em laticínios. 3. Curso prático, com duração de três meses, para formação de operários especializados. 4. Curso Avulso para estudo intensivo de industrialização do leite.


Fernando Priamo

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Ana Cristina Ajub

O Instituto é pioneiro na produção de queijos de alta qualidade.

b) Orientar e supervisionar o ensino nas escolas de laticínios instaladas e mantidas pelo estado. c) Prestar assistência técnica aos fazendeiros, pela divulgação e ensino de processos racionais de criação e tratamento do gado leiteiro, higiene e ordenha e transporte do leite, objetivando maior e melhor produção. d) Realizar pesquisas e estudos destinados ao aprimoramento das indústrias lácteas. e) Propor a criação e a localização de escolas de laticínios e a adoção de medidas destinadas ao aperfeiçoamento e expansão das indústrias lácteas.

Tempo integral No dia 3 de setembro de 1956, portanto, 16 anos após sua inauguração, passa a denominar-se Instituto de Laticínios Cândido Tostes, através da Lei 1.476, integrado à estrutura da Secre48_Animal Business-Brasil

taria de Estado da Agricultura de Minas Gerais, usufruindo de todas as prerrogativas que o novo título possa lhe conferir. O Instituto adiantou-se à concepção social de educação, vigente nos dias atuais, que propõe a vinculação da escola ao mundo do trabalho. Ali, esta circulação vem ocorrendo de forma equilibrada favorecendo o diálogo escola e empresa pela articulação natural entre a teoria e a prática. O aluno é o portador das tecnologias de ponta, colhidas na escola e novos produtos, ali desenvolvidos, para a empresa e dela traz as demandas que o mercado consumidor exige. Sua infraestrutura permitiu consolidar ainda mais a formação especial, com destaque para o setor de estágio supervisionado. Vale ressaltar que grande parte deste processo deve-se ao fato da instituição trabalhar em regime de tempo integral, o que torna possível realizar uma carga horária com cerca de 2.500 horas/aula, em um período de dois anos.


Ensino e pesquisa Segundo a coordenadora de Ensino e Pesquisa, Regina Célia Mancini, os programas de ensino e pesquisa são executados em perfeita integração, sendo que os trabalhos desenvolvidos pela pesquisa constituem instrumento básico no aprimoramento técnico do ensino em laticínios. Casamento perfeito entre duas atividades fins: ensino e pesquisa, algo sonhado pela universidade brasileira, presente na realidade de uma escola de ensino técnico. A institucionalização da pesquisa através da EPAMIG tomou impulso rápido pela base que encontrou no ILCT. O espírito de pesquisa estava instalado desde a criação, na distante década de 1930. Desde então até 1980, contou-se com o frutífero trabalho de tecnologia estrangeira, notadamente europeia, de fabricação de queijos, manteiga e outros produtos lácteos, em que os processos, adequados às condições brasileiras, eram de imediato transferidos à indústria nacional. O Programa de Pesquisa Agroindustrial da EPAMIG conta atualmente com 22 pesquisadores atuando efetivamente em áreas que incluem a produção de leite e derivados. Diversos projetos vêm sendo aprovados, seja em órgãos de

fomento ou em parceria com a iniciativa privada, o que tem gerado aumento crescente nas atividades do programa, desde que foi criado em 1998. Dentro das linhas de pesquisa desenvolvidas estão: Tecnologia de produtos lácteos concentrados e desidratados; Projeto de engenharia de laticínios; Aspectos ambientais na cadeia de leite e derivados; Tecnologia de processos e inovações em leite e derivados; Higienização na cadeia de lácteos. Minas Gerais é o estado brasileiro que mais produz leite. Devido a essa vocação, o estado também se destaca na produção de derivados lácteos, incluindo-se o produto mais apreciado e de maior destaque quando se fala em Minas Gerais - o queijo. Não só aqueles em que são empregadas tecnologias cada vez mais avançadas, como os artesanais, tão tradicionais e representantes típicos das propriedades mineiras. Dentre as regiões que se destacam no estado na produção de queijos, o Sul de Minas e a Zona da Mata são considerados berços de muitas variedades. Nessas regiões, imigrantes europeus instalaram suas fábricas em meio às montanhas, adaptando tecnologias às condições brasileiras, muitas vezes diferentes das europeias, e em outras, gerando tecnologias próprias que se perpetuam ao longo de várias gerações.

Ana Cristina Ajub

Em 1974, o governo de Minas Gerais, através da Lei n.º 6.310, autorizou a constituição da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (EPAMIG), que deslocou o Instituto de Laticínios Cândido Tostes da estrutura da Secretaria da Agricultura, transferindo-o à recém-criada empresa.

O Programa de Pesquisa Agroindustrial conta com 22 pesquisadores atuando nas áreas de tecnologia do leite e derivados.

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Os queijos artesanais mineiros, de grande importância cultural e socioeconômica para a população, são alvo de pesquisas do Programa Agroindustrial.

Geração de tecnologia Em consonância com os objetivos das pesquisas realizadas pela EPAMIG está a continuidade desse trabalho de gerar tecnologia e/ou adaptá-las às condições de cada região do estado. Os queijos artesanais mineiros, de grande importância cultural e socioeconômica para a população, são alvo de pesquisas do Programa Agroindustrial da EPAMIG como forma de garantia da segurança alimentar do consumidor e maior agregação de valor ao produtor. Esses produtos são fabricados de diferentes formas, segundo a tradição de cada região do estado, como os de Araxá, Serra da Canastra, Serra do Salitre e Serro. A padronização dos processos, otimização da produção, efeito do processo de “cura” na qualidade, orientações de higienização de equipamentos e no processo de fabricação são resultantes de estudos realizados com recursos da FAPEMIG e que já geraram tecnologias, como o tratamento da casca de queijos artesanais com resina e a padronização da tecnologia de produção de queijo artesanal, ambos na Serra da Canastra. Outras tecnologias geradas pelo Programa Agroindustrial da EPAMIG, com recursos da FINEP são: adaptação de tecnologia de produção de queijo de coalho para atender às futuras instalações na Fazenda Experimental em Acauã, atendendo à população do Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha, além da adaptação de tecnologia de produção de manteiga de garrafa, também objetivando alternativa para o desenvolvimento dessa região. 50_Animal Business-Brasil

Entre os projetos de pesquisa em andamento, sejam em parceria com a iniciativa privada ou com recursos da FAPEMIG, estão a geração de tecnologia em bebidas lácteas, leite UHT, requeijão e queijos, além de produtos concentrados como leite condensado e doce de leite que, em breve, estarão publicados em periódicos e/ou disponíveis para aplicação pela indústria de laticínios de Minas Gerais e do Brasil. Além das atividades de pesquisa, treinamento e produção especializada, o Núcleo Industrial do ILCT tem servido também como base para o desenvolvimento das pesquisas do programa que, em breve, contará com uma planta-piloto para incrementar ainda mais os trabalhos em produtos lácteos. A pesquisa em laticínios conta ainda com o suporte técnico dos laboratórios, onde são realizadas análises físico-químicas, microbiológicas, microscópicas e sensoriais. A estrutura também atender às demandas das indústrias do país.

Atividades • Curso Técnico em Leite e Derivados; • Pesquisas em tecnologia de leite e derivados; • Estágios curriculares e industriais: uma atividade permanente; • Preparação de mão de obra especializada; • Cursos avulsos de formação básica profissional; • Curso de Especialização de pós-graduação: Tecnologia em Leite e Derivados; • Revista do ILCT: uma produção científica; • Congresso Nacional de Laticínios/Semana do Laticinista/Minas Láctea; • Análises laboratoriais/consultorias/assessorias.

Vinculação escola-empresa A vinculação escola-empresa ali existe, uma vez que a articulação do ensino com o mundo do trabalho é uma realidade, desde que os estágios significam uma ida à indústria em busca da confirmação da teoria apreendida na sala de aula e conhecimento dos avanços tecnológicos presentes na indústria, que têm de atender às demandas do mercado consumidor. Passan-


Ana Cristina Ajub

Aula sobre controle da qualidade de leite e derivados

do por diferentes momentos em sua evolução, nunca esteve estacionado. O espírito criativo de muitas pessoas sempre se mostrou generoso na busca de mudanças. A proposta curricular é dinâmica, avaliada permanentemente, conforme os recursos humanos demandados pelo mercado, procurando oferecer conteúdos que mantenham à frente o conhecimento técnico dos alunos para que possam compreender os avanços da indústria, quando os encontrarem. O sucesso na colocação dos alunos egressos prova que o ILCT venceu a barreira da discriminação, o preconceito de que o ensino profissionalizante foi criado para os “filhos dos outros”, enquanto os “nossos” fazendeiros e políticos seriam bacharéis, pois a seleção foi necessária desde que a idade deixou de ser barreira para a entrada. A seleção se faz entre muitos, uma média de 15 inscritos por cada vaga oferecida. Assim, vê-se que o trabalho da fábrica-escola de laticínios Cândido Tostes evoluiu e atravessou décadas, trocando de nomes, de mantenedores, conquistando a credibilidade que ultrapassa as fronteiras do município, do estado e até do país que a abrigou, trazendo alunos de outras plagas, sempre que algum profissional nela formado chegue e mostre seus conhecimentos e sua competência teórica e prática. O “marketing” do ILCT é o sucesso de seu aluno, reflexo do compromisso estabelecido pelo vínculo de satisfação dos objetivos buscados entre as partes.

Ideal pedagógico A união entre ensino, pesquisa e extensão é a concretização do grande “ideal pedagógico” que permeia a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96, no capítulo que trata da educação. Atualmente é parceiro da Universidade Federal de Juiz de Fora e Embrapa na oferta anual do curso de Mestrado profissional, aprovado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), na área de leite e derivados. Professores do ILCT ministram aulas teóricas e práticas utilizando as instalações físicas da escola, inclusive laboratórios, e também são orientadores de teses de mestrado, compondo bancas de conclusão do curso. Isto, como escola de ensino médio, que é.

Revista A Revista do ILCT é a principal atividade de difusão de tecnologia do ILCT, dando suporte técnico-científico a diversas áreas do setor laticinista, e publicando trabalhos originais de pesquisa com informações relevantes para a área de leite e derivados. Instituto de Laticínios Cândido Tostes Rua Tenente Luiz de Freitas, 116, bairro Santa Terezinha - Juiz de Fora (MG) - CEP 36045-560 (32)3224-3116 ilct@epamig.br Animal Business-Brasil_51


Por: Paulo

Roque

Novo sistema de produção leiteira pode ajudar pequeno pecuarista Um novo método de gestão para os produtores de leite que não dispõem de recursos suficientes para investir em tecnologia recebeu o aval do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que o recomenda, principalmente, como forma de resolver o problema da falta de mão de obra para a cadeira leiteira. Trata-se de sharemilking, no qual os donos das vacas leiteiras e da fazenda passam a administração do negócio para um profissional (o sharemilker) que, como parceiro, tem participação na receita, conforme o contrato assinado. Segundo o zootecnista Eric Gandhi Silveira, consultor da empresa Alcance Consultoria e Planejamento Rural, produtor e criador das raças Gir Leiteiro e Girolando, em Pirapora (MG) “o sharemilking também resolveria o problema atual da sucessão familiar no Brasil, já que os donos envelheceram e os filhos dos proprietários rurais, por causa da baixa lucratividade do setor, não têm demonstrado muito interesse em dar continuidade ao negócio da família.” O sistema foi criado e é amparado por lei na Nova Zelândia, onde Silveira fez um treinamento em uma fazenda particular daquele país, a Beth Farm, no estado do Canterbury. “Aos poucos, o sistema está sendo divulgado no Brasil, mas ainda não há registro de proprietários rurais que tenham aderido a ele. Isto porque, para assinar um contrato, é preciso ter honestidade na gestão e um pensamento de que, ao final do processo, ambas as partes vão lucrar”, acrescenta.

Brasil aguarda a retomada das exportações de carne para o Peru Missão peruana visitou o Brasil e estuda a suspensão do embargo de importação de carne e produtos que contenham carne bovina, miúdos e vísceras. O Ministério brasileiro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aguarda a retomada das exportações. A missão, composta por três médicos veterinários, esteve no Mato Grosso visitando o Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), propriedades rurais, frigorífico, graxaria e fábrica de ração. O embargo peruano foi motivado pela ocorrência de um caso atípico de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no estado matogrossense e, em abril, o Brasil enviou missão ao Peru com intuito de suspendê-lo. Os técnicos peruanos avaliaram o sistema implantado no Brasil de prevenção à 52_Animal Business-Brasil

doença e apresentarão um relatório às autoridades de seu país. Para a Coordenadora Geral de Combate às Doenças, do Departamento de Saúde Animal da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/Mapa), Denise Euclydes Mariano da Costa, os auditores peruanos ficaram satisfeitos com o que observaram. “A expectativa do Departamento é positiva e espera-se a retirada do embargo peruano aos produtos bovinos brasileiros.”


Minas reforça programa de leite Com o objetivo de fortalecer o Minas Leite (Programa Estadual da Cadeia Produtiva do Leite), o governo mineiro anunciou o fortalecimento de parceria com instituições privadas, através da assinatura, por ocasião da 45ª Exposição Agropecuária de Governador Valadares, de um Termo de Cooperação Técnica com a participação da Seapa e suas vinculadas Emater-MG e Epamig, do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo de Minas Gerais (Sescoop/ Ocemg) e Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Minas Gerais (Silemg). O objetivo do Minas Leite é promover a qualidade de vida dos produtores e suas famílias, por meio da qualificação gerencial e técnica dos sistemas de produção de leite, proporcionando-lhes ganhos econômicos, sociais e ambientais. Atualmente, o programa atende a 1.301 propriedades mineiras cuja produção média é de até 200 litros de leite, tendo na atividade a sua principal base econômico-financeira.

ESALQ recebe equipamento de genotipagem de DNA

O objetivo do Minas Leite é melhorar a qualidade de vida dos produtores e de suas famílias

John Boyer

O Laboratório de Biotencologia Animal, do Departamento de Zootecnia (LZT) da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/ USP) passou a contar, com mais um equipamento que incrementará as pesquisas de genotipagem de DNA. Inserido no âmbito do Programa Parceiros da ESALQ, a empresa Affymetrix assinou o termo de doação de uma Plataforma Microarray Automatizada GeneTitan®, no valor de US$ 250 mil. De acordo com o coordenador do Laboratório e professor do DLZT, Luiz Lehmann Coutinho, “o equipamento está disponível para toda a comunidade de pesquisadores que tenham interesse em estudos de melhoramento. Trata-se de um equipamento único no Brasil, ótimo para avaliação de variação genética em plantas, animais e seres humanos. Com essa tecnologia é possível melhorar a eficiência e a abrangência das nossas análises”. O equipamento GeneTitan é um sistema que analisa com rapidez e confiabilidade, altos volumes de amostras para genotipagem ou análise de perfis de expressão gênica, a preços acessíveis, além de proporcionar maior confiabilidade em resultados que podem ser analisados facilmente através de softwares intuitivos e gratuitos disponibilizados no próprio website da Affymetrix.

VBP do setor agropecuário crescerá 8,3% em 2014 O Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária deve atingir R$ 465,6 bilhões em 2014, alta de 8,3% em relação ao ano passado, segundo estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O crescimento do faturamento “dentro da porteira” será puxado principalmente pela previsão recorde de colheita de grãos e fibras nesta safra, de 193,57 milhões de toneladas. Em relação à pecuária, estima-se aumento de 8,3% no faturamento para este ano em relação a 2013, com o VBP somando R$ 167,2 bilhões. Um dos destaques é a carne bovina, cuja receita deve crescer 13,3% e chegar a R$ 74,9 bilhões. A alta do VBP do leite está estimada em 6,5%, podendo alcançar R$ 38,5 bilhões em 2014, por conta da elevação do preço da matéria-prima pago ao produtor, em razão do período de entressafra. Animal Business-Brasil_53


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Produtos pet e para solteiros são segmentos promissores para os pequenos negócios

Divulgação

Um estudo do Sebrae/SC analisou o comportamento e perfil do consumidor e os nichos de mercado brasileiro para traçar potenciais negócios para investimento nos próximos anos. A pesquisa aponta nove tendências de consumo: consumo exigente, consumo+60 anos, consumo saudável, consumo responsável, consumo de baixa renda, consumo precoce, consumo online, consumo prático e consumo de nichos. Dentro dessas categorias, foram selecionados os principais segmentos. No topo da lista está o Mundo Pet, que gera mais de três milhões de empregos no Brasil e movimentam R$ 14 bilhões por ano. As famílias gastam em média R$ 350 por mês com seus animais de estimação. Nesse segmento, algumas tendências de negócio são apontadas, como serviço de estética para animais, spas, cosméticos para cães e gatos e moda pet, como roupas e acessórios para os animais. O “mundo dos sozinhos” também é tendência. No Brasil, 72 milhões de pessoas moram sozinhas e a quantidade de casas de solteiros triplicou nas últimas três décadas. Levando isso em consideração, alguns negócios tendem a ser certeiros daqui para frente, como a construção de imóveis compactos, a produção de produtos fracionados e em pequenas porções, alimentos pré-prontos e serviços de administradores de lares.

Brasil busca mercados para genética avícola na América Central O Diretor de Produção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ariel Antônio Mendes, realizou uma série de visitas a potenciais mercados para exportação de material genético da avicultura brasileira na América Central. A primeira visita foi às representações do Departamento de Saúde Animal da Costa Rica, em San Jose. De lá, seguiu para San Salvador, onde se reuniu com representações do governo, autoridades sanitárias do país e com a diretoria da Associação Nacional de Avicultores de El Salvador (AVES) para pedir apoio da iniciativa privada local no processo de abertura de mercado. Ariel Mendes participou, ainda, de encontros com a Associação Latinoamericana de Avicultura Brasil quer aumentar (ALA), em Havana (Cuba) e, também, de encontros com o Comitê Interameexportação de ricano de Sanidade Avícola (CISA), que contou com a presença da Organização material genético para Mundial de Saúde Animal (OIE). A ABPA prevê novas missões com os mesmos América Central. objetivos para Guatemala, Nicarágua e Honduras, ainda em 2014. Um dos principais temas debatidos nas reuniões foi a situação sanitária mexicana, que ainda sofre os impactos causados pelos focos de Influenza Aviária em seu território. De acordo com Mendes, “a crise sanitária da avicultura no México pressionou o mercado norte-americano em termos de oferta e preço de material genético. Surgiu uma ótima oportunidade para as casas genéticas do Brasil, que possuem capacidade de fornecimento e qualidade que colocaram o país como plataforma exportadora. A recepção nos dois países à proposta foi excelente, e há forte interesse em viabilizar este comércio”. 54_Animal Business-Brasil


Estudo publicado pela conceituada revista Science e a apresentação de uma pesquisa na reunião da Organização das Nações Unidas (ONU), além de relatório de sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), mostram que o Brasil produz alimentos sem abrir novas áreas de produção, preservando o meio ambiente. A avaliação da Science tomou como base estudo do “Earth Innovation Institute”, que aponta o Brasil como o único país que conseguiu, ao mesmo tempo, aumentar a produção agropecuária e reduzir o desmatamento nos últimos anos. Segundo o artigo, desde 2006, os produtores brasileiros pouparam cerca de 86 mil quilômetros quadrados de floresta tropical na Amazônia, o que equivale a 14,3 milhões de campos de futebol. O Brasil é, de acordo com a publicação, o país que mais reduz a emissão de dióxido de carbono (CO2) sem comprometer a atividade rural. No período, o desmatamento da Amazônia caiu de 19,5 mil para 5,8 mil quilômetros quadrados. As conclusões da revista norte-americana confirmam o entendimento de outro grupo de cientistas, também dos Estados Unidos, Union of Concerned Scientists, no qual desta que o Brasil conseguiu se distanciar da liderança mundial em desmatamento e do terceiro lugar em emissões de gases. “As mudanças na Amazônia brasileira na década passada e sua contribuição para retardar o aquecimento global não têm precedentes”, aponta o relatório, divulgado em reunião da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas, que aconteceu em Bonn, na Alemanha. Segundo relatório de sustentabilidade divulgado pela CNA, o setor agropecuário é capaz de reduzir em 22,5% a emissão de Gases do Efeito Estufa (GEE), contribuindo para que o País cumpra o compromisso assumido, em 2009, durante a 15ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15). O Brasil já cumpriu 88% da meta de redução do desmatamento prevista para 2020. O aumento de mais de 178% na produtividade do campo, entre 1976 e 2013, também comprova a sustentabilidade da agropecuária brasileira.

Campolina Marchador adotará exame antidoping em exposições A partir da 34ª Semana Nacional do Cavalo Campolina, agendada para outubro, em Belo Horizonte, a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Campolina (Campolina Marchador) adotará o exame antidoping em suas exposições. Para tanto, o Conselho Deliberativo Técnico (CDT) da Associação adotará um estatuto igual ou parecido ao da Federação Equestre Internacional (FEI). O primeiro controle de doping no Brasil ocorreu em 1940, em cavalos de corrida e 63 anos depois surgiu o primeiro código mundial, regulamentando o procedimento em animais de competição. A FEI publica periodicamente uma listagem de substâncias, classificando-as em classes e graus de punição diferentes. A coleta de amostras deve ser feita por técnicos credenciados, e de preferência até 60 minutos ao fim da prova. Amostras de urina ou sangue são lacradas e enviadas para análise em laboratórios oficiais. Em Minas Gerais, ainda não existem centros com equipamentos necessários e os exames que costumavam ser feitos no Rio de Janeiro passam a ser realizados em São Paulo.

Marcio Monken

Science mostra que Brasil conjugou a redução do desmatamento ao aumento da produção de alimentos

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Atenção pecuarista em dívida com a União

Pisacoop tem resultados positivos no Paraná

Os imóveis rurais penhorados em dívidas com a União podem ser destinados à reforma agrária. É o que determina portaria divulgada pela Advocacia Geral da União (AGU) e pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA), que regula os processos de execução de dívidas de produtores rurais. A Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), bem como entidades que representam agropecuaristas de outros estados brasileiros, orientam aos produtores rurais que estejam passando por este tipo de processo para procurarem seus advogados e se informarem sobre a situação. De acordo com o analista de Assuntos Trabalhistas e Tributários da Famato, Namir Jacob, “até então, os imóveis rurais penhorados por dívidas com o Governo Federal iam para leilão e o valor arrecadado era utilizado para pagamento das dívidas do produtor. Agora, com a nova portaria que entrou em vigor imediatamente, o Incra pode solicitar à AGU que a propriedade não seja leiloada e seja destinada para assentar trabalhadores rurais na reforma agrária”.

Jean Carneiro

Imóveis penhorados correm o risco de serem desapropriados para a Reforma Agrária

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No Paraná, segundo o governo federal, o Programa de Produção Integrada de Sistemas Agropecuários em Cooperativismo e Associativismo Rural da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Pisacoop/SDC/Mapa) está promovendo de forma acelerada a transformação da atual situação do pequeno e médio produtor, pela disponibilização de assistência técnica e capacitação. Até o momento, 15 produtores de leite e de hortícolas aderiram voluntariamente ao Programa e já estão tendo resultados positivos nas propriedades. O foco principal do Pisacoop é a implantação de Unidades Comparativas (UCs) na área do produtor para levar a consciência da organização social e o alcance da viabilidade econômica de suas atividades, consideradas condições importantes para a sobrevivência desses produtores. As ferramentas utilizadas na implantação e no desenvolvimento das UCs vão desde a Integração LavouraPecuária-Floresta (iLPF) até as Boas Práticas Agropecuárias, Bem-estar Animal, Plantio Direto, dentre outros sistemas e tecnologias sustentáveis disponíveis. Agora, o desafio para a região é agregar ao Pisacoop a inserção dos Programas CooperGênero – Programa de Gênero e Cooperativismo e o ProcoopJovem – Programa de Estímulo e Promoção do Cooperativismo para a Juventude, com a finalidade de envolver e consolidar a participação da mulher e do jovem nos trabalhos de produção, pós-colheita e agroindustrialização, assim como evitar o êxodo e recompor as famílias às áreas de produção.


Projeto de lei proíbe uso de fogos em eventos com a participação de animais Foi protocolado na Assembleia Legislativa de São Paulo projeto de lei do deputado Feliciano Filho (PEN-SP) que proíbe o manuseio, a utilização, a queima e a soltura de fogos de artifício e artefatos pirotécnicos em eventos realizados com a participação de animais ou em áreas próximas a locais onde ficam abrigados. A multa prevista para infrações pode chegar a R$ 60 mil para pessoa física e R$ 200 mil para pessoa jurídica, dobrando em caso de reincidência. Empresas podem também ter suas atividades interditadas. Um dos argumentos do deputado é o episódio ocorrido durante a Festa do Peão de Hortolândia, interior de São Paulo, quando seis cavalos se assustaram com os fogos, fugiram do confinamento, invadiram a pista e foram atropelados. Dez carros se envolveram no acidente e nove pessoas ficaram gravemente feridas. O projeto, que será avaliado pelas comissões competentes antes de seguir para votação em plenário, veta a utilização de qualquer tipo de fogos de artifício num raio de dois quilômetros de rodeios, cavalgadas, eventos de exposição ou venda de animais, qualquer local que abrigue, exponha ou conte com a participação de animais, canis públicos ou privados, zoológicos, santuários, matas, parques públicos e áreas de preservação permanente. Também veta fabricar, transportar e soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas.

Rally da Pecuária mostra resultados do Plano ABC O Rally da Pecuária/ABC apresentou os resultados para a pecuária no Brasil e em relação à utilização das técnicas de manejo sustentável do Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC). A pesquisa realizada em conjunto pela Agroconsult e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), mostrou que mais de 20% dos produtores entrevistados durante o Rally já adotam tecnologias fomentadas diretamente pelo Plano ABC e que 24% da área de pastagem são conduzidos com tecnologias diretamente ligadas ao plano de redução nas emissões de carbono. Em 18,5% da área que foi estudada, houve a conversão do pasto em área agrícola. As principais tecnologias do Plano ABC, aplicadas em campo, foram a conversão de áreas em agricultura (113,9 mil hectares), a recuperação de áreas degradadas (46,6 mil hectares), o plantio direto (32,8 mil hectares) e a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iPLF). A pesquisa mostrou ainda que 47,2% da amostragem estão em processo de degradação e precisam sofrer intervenção nos próximos meses. As cinco equipes técnicas do Rally visitaram, durante 34 dias, propriedades em 169 municípios dos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Rondônia e Minas Gerais, em um total de 55 mil quilômetros percorridos, mapeando e fotografando pastagens, e entrevistando cerca de 120 pecuaristas. A edição 2014 realizou o levantamento de informações, in loco, das condições das pastagens e da bovinocultura das áreas de cria, recria, engorda e confinamento do país. Animal Business-Brasil_57


Martin Boulanger

Samantha Villagran

Setor avícola brasileiro ganha mercado no México e na Ásia

Depois de receber aprovação para exportação de carne de frango aos mexicanos em 2013, o Brasil vendeu mais de 3,5 mil toneladas para o México durante os primeiros cinco meses deste ano, e deve chegar a 30 mil toneladas exportadas até o final do ano, segundo projeção do vice-presidente para Aves na Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin,em matéria publicada pelo DCI. O Brasil tem atualmente cinco frigoríficos de aves aprovados pelo México, mas este número deve aumentar ainda este ano, em parte devido às lutas em curso para o setor de suínos da América do Norte contra o vírus da diarreia epidêmica de suínos (PEDv), o que aumenta a demanda por aves, disse Santin. O México está entre os três maiores mercados do mundo para a importação de carne de frango, e comprou cerca de 700 mil toneladas em 2013. O Sudeste da Ásia e a África também são pontos focais para novas negociações comerciais de aves brasileiras este ano, porque possuem forte potencial de crescimento da renda, disse. Na China, 29 frigoríficos brasileiros foram aprovados até junho para exportação de carne de frango àquele país, e Santin espera até mais para ganhar a aprovação este ano. A China ficou em terceiro lugar nas exportações brasileiras de aves durante os primeiros cinco meses deste ano, com 89,9 mil toneladas, um aumento de 15,8% ante um ano atrás.

Rastreabilidade uruguaia é reconhecida como um caso de sucesso A Cúpula Mundial da Sociedade de Informação premiou o Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca (MGAP) do Uruguai por seu Sistema Nacional de Informação Pecuária (SNIG). O modelo foi eleito entre 140 casos de sucesso apresentados por governos e outras organizações públicas e privadas. De acordo com matéria postada no site valorcarne.com, a Cúpula, que está integrada pelas Nações Unidas, governos e setor privado, tem por objetivo eliminar a brecha digital existente no acesso às tecnologias de informação e na comunicação pela internet. O júri destacou que o SNIG proporciona as funções necessárias para manter atualizados os estoques de gado e a localização exata do rebanho. Dá suporte à rastreabilidade individual de cada animal, incluindo dados sobre registros, movimentos, mudanças de titularidade, controles sanitários, entre outros. Uma coisa importante é que a informação chega sem interrupções ao sistema, através de meios eletrônicos, abrindo um amplo espaço de possibilidades para os usuários da tecnologia.

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CRI lança novo catálogo de touros A CRI Genética lançou a nova edição do catálogo de produto corte taurino. A coleção 2014/2015 conta com cerca de 40 novas contratações, adicionando e renovando a seleção da central. É possível encontrar opções nas raças Aberdeen Angus, Red Angus, Brangus, Red Brangus, Pooled Hereford, Braford, Charolês, Canchim, Simental, Simental Preto, Bonsmara, Senepol, Caracu e Wagyu. Só na raça Angus, entre Aberdeen e Red, são 33 novos touros. Tendo em vista o significativo crescimento no mercado de inseminação artificial para a raça taurina em 2013, a demanda por produtos de qualidade superior é crescente. De acordo com Daniel de Carvalho, gerente de produto corte da empresa, as avaliações genéticas dos touros são completas. “No caso do Angus, 23 itens são avaliados”, comenta. Ainda nesse sentido, de acordo com Sérgio Saud, diretor executivo da CRI, a central é exclusiva ao apresentar DEPs de índices econômicos, como DEP$ Confinamento e DEP$ Qualidade de carcaça nas provas. Para a empresa, na hora de lançar os catálogos, é primordial oferecer ao mercado novas gerações de touros, em que os filhos são melhores que os pais, contribuindo constantemente para o melhoramento genético dos rebanhos.

Novo surto de diarreia suína epidêmica (PEDv), na Colômbia, que recentemente comunicou à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) a existência de 45 focos, reforça a necessidade de um controle especial das autoridades sanitárias brasileiras para evitar a entrada da doença no Brasil. A preocupação com a ampliação de focos da PEDv no continente tem sido demonstrada pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) desde março e agora é reiterada ao Ministério da Agricultura, principalmente porque o evento na Colômbia tem como suspeita a introdução de novos animais vivos. A ABPA defendeu junto ao MAPA, meses atrás, a proibição da entrada de suínos vivos no Brasil, bem como de material genético do animal. O ministério optou, na ocasião, pela quarentena, enquanto a França se tornou o primeiro país a adotar a suspensão de importações de animais vivos. O Brasil exporta carne suína para mais de 70 países e tem sido procurado, nos últimos meses, por mercados que importam o produto de países afetados pela PEDv, como os Estados Unidos, o México e o Canadá. Essa posição da qual o País tem se beneficiado, por ter atingido status sanitário condizente com as normas da OIE, precisa ser preservada, reforça Francisco Turra, presidente da ABPA.

Juan Carlos Garavito

CRI Genética

Diarreia suína: ABPA reitera necessidade de reforço na vigilância sanitária

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Tração animal nos

grandes centros gera problemas de bem-estar Por:

Natália Monnerat de Souza, médica veterinária, Mestre em Clínica Médica

É notório como, nos dias atuais, ainda verificarmos na periferia de várias cidades do país, a presença de equídeos tracionando carroças.

uma realidade muito comum, e, por mais paradoxal que seja, nos tempos modernos, ainda hoje, as carroças constituem o meio de transporte mais barato para as necessidades do dia a dia, desde o carreto de móveis a entulho, materiais de construção, lixo, assegurando a subsistência de muitos trabalhadores do setor informal. Considerando o número de animais envolvidos e as pessoas que se utilizam dessa atividade, sendo às vezes a principal ou até a única fonte de renda de um grupo familiar, ou o meio de transporte fundamental de uma localidade, essa prática se impõe como importante questão de bem-estar, animal e humano.

manejo inadequado. Tudo isso gera graves problemas de bem-estar para esses animais. Sabemos no entanto que, em sua grande maioria, esses animais são mantidos e utilizados pela população de menor poder aquisitivo e, comumente, de baixo grau de escolaridade. Submetidos, muitas das vezes, a ferrageamentos inadequados, esses animais provavelmente, considerando-se as exceções, são alvos de pressão e maus-tratos, levando horas sem comer, beber ou descansar, carregando peso superior ao recomendado. Concomitantemente, por falta de recursos de seus proprietários, também não recebem qualquer tipo de assistência veterinária, seja preventiva ou curativa, tal como vacinação, mineralização, vermifugação, controle de ectoparasitas e tratamento para determinadas doenças e ferimentos. Como se não bastasse, os implementos que os prendem à carroça, causam-lhes geralmente ferimentos e desconforto, além de ficarem expostos às intempéries, como sol forte ou chuva e frio. Afastados de suas condições naturais de vida, à noite, ficam presos em determinados ambientes ou amarrados em arbustos próximos às casas dos carroceiros (seus proprietários), ou quando não saem a perambular, procurando certamente por abrigo e ou comida.

Estresse

Doenças transmissíveis

Os equídeos são usados para tração de carroças, principalmente na área urbana e costumam enfrentar desde cedo muitas situações estressantes e ameaçadoras como a colocação de arreios e peias, a subnutrição, a confusão do trânsito e o barulho e movimento nas ruas, o excesso de carga e o horário prolongado de trabalho, o descanso insuficiente, o

Sendo o cavalo uma fauna sinantrópica (que vive perto da habitação do homem) reemergente, é fundamental que se adotem estratégias de prevenção ao aparecimento de zoonoses (doenças transmitidas entre o homem e os animais). Dentre as principais potencialmente transmitidas pelo cavalo estão a raiva, a leptospirose, a febre

Transmissor de doenças

É

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Educação sanitária Dessa forma, torna-se fundamental o esclarecimento e a educação sanitária dessas famílias quanto ao correto manejo dos equinos e demais animais por eles mantidos, bem como a promoção de melhores condições de trabalho para essas pessoas, visando à promoção da Saúde Coletiva. A Constituição do Brasil, no capítulo sobre Meio Ambiente - artigo 225 - veda práticas que submetam os animais à crueldade. A chamada Lei dos Crimes Ambientais (Lei Federal n° 9.605), sancionada em 1998, através de seu artigo 32, transformou o ato de praticar abusos, maus-tratos, ferir ou mutilar animais de quaisquer espécies em crime, com pena de detenção de três meses a um ano e multa, ressaltando que a pena é aumentada de um sexto a um terço se ocorrer morte do animal. Algumas cidades brasileiras já possuem leis disciplinando especificamente a questão dos animais de tração. O panorama é complexo, envolvendo os aspectos da atividade, sejam eles: o animal , o homem e o meio ambiente. E a busca das soluções passa pela educação, necessitando de ações conjuntas das políticas públicas, escolas, universidades, empresas e sociedade. A grande estratégia é promover a inovação e o empreendedorismo, saindo do assistencialismo decadente de algumas políticas públicas.

Divulgação

maculosa e a doença de Lyme ou borreliose essas duas últimas transmitidas pelo carrapato do cavalo. Há ainda outras doenças como a rinopneumonite equina, o mormo e a brucelose. Apesar dos casos dessas doenças serem relativamente raros, não se pode descartar a presença de seus agentes etiológicos na população equina e a possibilidade do aparecimento de doenças. Como os carroceiros percorrem grandes distâncias pela cidade, podem transmitir essas enfermidades a populações controladas como as de jóqueis, centros hípicos, regimentos de cavalaria, centros de treinamento e haras da região, constituindo-se numa problemática para a Saúde Pública, principalmente quando não tomadas as devidas medidas profiláticas. Nesse contexto, é imprescindível que se promova a melhoria das condições de vida dos carroceiros, dos seus familiares e desses animais de tração, garantindo-lhes o bem-estar. Claro que isso demanda um grande esforço conjunto das autoridades governamentais, dos legisladores, e da própria sociedade, para que se crie uma consciência de respeito em relação a esses animais e para que se garantam as condições mínimas necessárias para a sua manutenção e o controle da sua utilização. Com essa preocupação, atualmente, algumas instituições têm procurado desenvolver programas, buscando melhorar as condições de trabalho e vida dos carroceiros, bem como o bem-estar dos animais.

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High-tech na produção

avícola de Israel Por:

Dr. Ziv Dubensky- Cientista Chefe e fundador da Metabolic Robots- Israel

A procura de proteína de alta qualidade está em crescimento no mundo motivada pelo aumento da população , mudança nas dietas devido à procura de melhorias na saúde e pelo preço, já que frango normalmente é mais barato do que carne vermelha e peixe. Por outro lado, os produtores de aves continuamente buscam aumentar a eficiência na produção desta fonte de alimento para atender a esta tendência crescente.

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O

setor avícola de Israel é responsável por quase um quinto da produção agrícola total do país. O consumo per capita de frangos de corte, carne de peru e ovos está entre os mais altos do mundo. Além disso, avestruzes são criadas para produção de couro e carne, principalmente para a exportação. Cerca de 1,75 bilhão de ovos de mesa, quatrocentos mil toneladas de carne de frango e cem mil toneladas de carne de peru são produzidas a cada ano. As condições de clima quente em Israel exigiram o desenvolvimento de alta produtividade e raças de aves resistentes a doenças. Caracterizado por excelentes taxas de conversão alimentar, e taxa de crescimento rápido, alta produção de ovos (uma média de 250 ovos por ave/ano) e carne com pouca gordura, raças locais de frango são amplamente exportadas, principalmente para países de clima excepcionalmente quente. Em Israel, os regulamentos estipulam quotas de produção de ovos para 2014 e definem uma série de alterações nos regulamentos existentes. Entre outras coisas, foi decidido pôr em prática uma nova quota de produção de quinhentos mil ovos em vez dos duzentos e cinquenta mil de 2013. Isto foi estabelecido para incentivar os produtores a adotarem medidas para melhorar a qualidade dos ovos comercializados em Israel, para melhorar o bem-estar das galinhas e para manter a saúde pública, através da criação de novas granjas modernas, por um lado, e, por outro, para fortalecer os pequenos produtores e incentivar os mais jovens da próxima geração para se tornarem parte da indústria e incentivar os produtores de ovos atuais a transformarem seus negócios em atividades mais eficientes e rentáveis.


A tecnologia é cada vez mais a ferramenta usada pelos produtores para atender aos regulamentos e à crescente demanda por produtos avícolas aumentando assim a produção, e ao mesmo tempo diminuindo o custo. Estas tecnologias são aplicadas em todos os segmentos da cadeia produtiva especialmente no que diz respeito à alimentação e saúde das aves.

Divulgação

Tecnologia e alimentação

Tabela 1. Consumo de aves domésticas por regiões (kg/pessoa/ano) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 África

4.2

4.3

4.5

4.7

4.6

4.7

4.8

5.2

5.4

5.5

Américas 31.8 32.1 33.0 33.3 34.9 34.3 35.3 36.1 37.0 35.9 Ásia

6.7

6.6

6.8

7.0

7.0

7.5

7.7

8.2

8.6

Robô aumenta produtividade da avicultura de Israel

8.8

Europa

16.0 17.9 18.6 18.3 19.0 19.3 19.2 20.3 21.1 21.9

Oceania

30.2 30.4 32.4 33.6 33.5 35.7 35.8 37.0 35.5 35.7

WORLD

11.1 11.3 11.6 11.8 12.1 12.3 12.6 13.1 13.6 13.6

Figura 1. Consumo Mundial de aves domésticas

• Sistemas de arrefecimento; • Sistemas de aquecimento; • Sistemas de controle de eletricidade e backup. É estimado que 37% dos grãos produzidos no mundo são usados na alimentação de gado e aves. Considerando que o cenário ambiental global não está favorecendo a agricultura, combinando com o aumento do custo de combustível usado para transportar esse produto, controlar o desperdício na alimentação das aves é crucial.

Uso de robô Fonte: Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)

Em Israel, o cenário não é diferente do resto do mundo uma vez de que sua população tende a crescer. Com desvantagem de seu pequeno território, Israel aplica sua vantagem tecnológica e espírito empreendedor para atender à sua demanda doméstica e externa. A moderna tecnologia é aplicada em todos os pontos chave na criação de aves em escala industrial, como em: • Pontos de alimentação; • Bebedouros; • Sistemas de ventilação;

Recentemente um cientista israelense e fundador da Metabolic Robots, Ziv Dubinsky, desenvolveu um estudo sobre a saúde animal num ambiente industrial usando software e sensores padrão para testar a melhor forma de alimentação que não só produzisse mais aves, mas que as mantivesse saudáveis com uma taxa menor de mortalidade. Ele desenvolveu um robô que foi testado por dois anos, a partir de 2010, em vinte granjas no sul e norte de Israel, e que apresentou resultados surpreendentes de redução de desperdício alimentar de 6% e mortes de até 30%. Os testes foram conduzidos com base em sistemas de alimentação já existentes onde um robô foi montado para ajustar automaticamente a ração disponível num determinado momento, baseado na raça, idade, hora do dia e as condiAnimal Business-Brasil_63


A tecnologia é cada vez mais a ferramenta usada pelos produtores para atender aos regulamentos e à crescente demanda por produtos avícolas. Os granjeiros, usando o robô, têm a opção de alimentar parte da granja em idades diferentes.

ções de iluminação da granja. O sistema coleta dados valiosos e os envia ao criador, usando o sistema SMS padrão. Sendo um sistema barato, o robô funciona com ou sem o sistema de comunicação. Os granjeiros usando o robô têm a opção de alimentar parte da granja em idades diferentes. Aqueles usando o sistema informatizado terão a chance de obter informações relacionadas à saúde dos animais e detectar doenças com até três dias de antecipação às possíveis mortes. Desde o início de 2014, este sistema já foi implementado em granjas na Alemanha e no Equador. Foi observado que as poedeiras, em particular, comem além da sua necessidade biológica resultando em galinhas obesas e consequentemente originando problemas de saúde e uma fonte de proteína mais gorda. Este robô é então programado para calibrar a frequência e quantidade de ração oferecida. A simplicidade da ideia é o que atrai neste sistema. A ideia não é mudar os sistemas já existentes mas sim otimizá-los através de uma série de modificações em pequenos passos baseados na observação do sistema existente. A outra vantagem deste sistema informatizado é que o produtor pode acompanhar de longe o estado de saúde das aves e fazer os ajustes necessários: desde o controle da ração à liberação para abate. O professor Amichai Arieli da Faculdade de Agricultura da Universidade Hebraica de Jerusalém, que é um expert em nutrição animal, analisou os dados armazenados pelos produtores e verificou 12% de melhoria na eficiência biológica dos animais e 6% de redução do consumo de grãos. 64_Animal Business-Brasil

Controle da ventilação Por causa das mudanças em curso na indústria avícola israelense, mais e mais granjas mudam-se para áreas que sofrem com maiores extremos de temperatura do que aqueles encontrados no centro do País. Esta mudança representa um sério desafio ambiental para a indústria, ou seja, a forma de elevar a produção com um custo mínimo de eletricidade e alimentação. O sistema de ventilação mais utilizado em Israel é, ON-OFF, que não proporciona a flexibilidade necessária. Como o custo da ventilação corresponde a 75% dos custos de eletriciddae, é importante encontrar alternativas. O Departamento Israelense de Serviços de Extensão em Agricultura e Avicultura fez testes de ventilação contínua ajustando rapidamente a velocidade dos ventiladores de acordo com a quantidade e qualidade do ar através de um sistema de controle informatizado que atua de acordo com os parâmetros de temperatura e umidade previamente estabelecidos. Os efeitos desta mudança foram medidos em relação ao custo de energia, grau de produção e qualidade do ar. Os resultados mostraram que: • Não houve diferenças significativas no peso das aves na primeira rodada de testes, mas, na segunda rodada, o galpãoteste produziu aves mais pesadas. • A temperatura e a umidade no galpão de teste permaneceram muito mais uniformes do que as do galpão de controle. • A quantidade de ração consumida no galpão-teste foi significativamente menor do que no galpãp de controle. Em relação à renda e aos gastos, o estudo mostrou que: • Os gastos ficaram 5,52% mais baixos. • A renda aumentou 7,95% devido ao aumento de peso das aves. • Eficiência na alimentação e menor tempo de espera para abate uma vez que as aves cresceram mais rápido. Resumindo: a manutenção da ventilação ligada todo o tempo, mas com a flexibilidade de ajustar o volume de trabalho do sistema de acordo com o ambiente, porpocionou uma redução de custo e aumentou a velocidade de produção.


Shauqee Pauzi

Controle da temperatura O controle da temperatura não se limita à construção adequada de granjas e ventilação eficientes, é preciso medir adequadamente a temperatura dos animais. Os cientistas S. Yahav and M. Giloh do Instituto da Ciência Animal do Volcani Centre publicaram, em 2012, um estudo sobre termografia infravermella para a deteção da temperatura das aves, num esforço para promover a saúde, reduzindo a perda de danos por morte. Eles defedem que “Embora a temperatura central do corpo seja o parâmetro que melhor reflete o estado térmico de uma ave,individualmente, obstáculos práticos e fisiológicos tornam-se irrelevantes como fonte de informação sobre o estado térmico de rebanhos comerciais. Avanços na tecnologia de imagem

térmica infravermelha permitiram medições altamente precisas, sem contato e não-invasivos, de temperatura da superfície da pele. Considerando que a temperatura da superfície da pele correlaciona-se com a temperatura do corpo, pode-se admitir que esta tecnologia poderá permitir a aquisição de informações confiáveis ​​sobre o estado térmico dos animais, melhorando assim o diagnóstico de estresse ambiental em um rebanho”. No estudo foram efetuados testes de concentrações plasmáticas de corticosterona no sangue, hormônios da tireoide e arginina, vasotocina que confirmaram que a atividade metabólica foi baixa após aclimatação à exposição crônica ao calor. Eles recomendam então o uso desta tecnologia no melhor controle de temperatura das granjas. Animal Business-Brasil_65


Raul Moreira

As reivindicações do agronegócio Antonio Alvarenga (*)

A

Sociedade Nacional de Agricultura participou da elaboração de dois documentos encaminhados aos candidatos à presidência da República, que contêm as reivindicações do agronegócio. São contribuições do setor para o estabelecimento de um programa de ações no próximo governo. Um dos documentos foi elaborado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), com a participação de diversas instituições. O outro foi coordenado pelo ex-ministro Roberto Rodrigues, presidente da Academia Nacional de Agricultura, que contou com a colaboração de diversos técnicos e entidades que atuam no agro. Apesar das abordagens diferenciadas, as sugestões possuem base comum. E não poderia ser de outra forma. Afinal, os problemas e necessidades do setor são conhecidos. Na maioria das questões, o bom senso sugere soluções simples e eficazes. De maneira geral, há recomendações relativas à desburocratização do crédito rural, à ampliação do seguro rural e, obviamente, à melhoria de nossa precária infraestrutura. Não são apenas os produtores de grãos que sofrem com o nosso deficiente sistema de transporte. Há muito o que ganhar na logística de comercialização, abate, industrialização e exportação dos produtos de origem animal. Os documentos destacam ainda a necessidade de fortalecer o sistema de defesa e sanidade agropecuária, com apoio às agências estaduais e maior envolvimento dos profissionais da área. Recomenda-se também uma participação mais ampla dos agentes privados na oferta de serviços, diagnósticos e análises especializadas, bem como na garantia da qualidade dos produtos. Outro fator importante a ser equacionado pelo próximo governo é a maior racionalização, agilidade e simplificação dos processos de análise e aprovação de novos medicamentos. No âmbito internacional, onde o Brasil é o principal protagonista na exportação de carnes, um 66_Animal Business-Brasil

aspecto a ser perseguido é o estabelecimento de acordos comerciais internacionais, bilaterais, regionais e multilaterais, que reduzam tanto as barreiras tarifárias como as não tarifárias. Precisamos eliminar o excesso de regulação zoo ou fitossanitária na exportação, exceto quando a demanda vier dos países importadores. Devemos ainda exigir maior transparência e rigor científico na regulamentação internacional referente à saúde animal. Também em relação ao mercado externo, recomenda-se a implementação de ações que promovam maior competitividade do setor, visando a ampliar o acesso dos produtos brasileiros aos mercados consumidores. Procurei ressaltar neste artigo os pontos de maior interesse para as cadeias produtivas da área animal. No entanto, os documentos apresentam diversas outras recomendações de natureza geral, como o incentivo à pesquisa e desenvolvimento tecnológico, bem como de caráter específico, como a criação dos Fundos de Investimento no Agronegócio à semelhança dos Fundos de Investimento Imobiliário. Cada governo que se inicia é uma esperança que se renova. Estamos fazendo a nossa parte. Vamos torcer para que as propostas sejam aproveitadas no próximo período governamental, e que, assim, o agronegócio brasileiro possa evoluir com firmeza em sua trajetória de sucesso. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


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