Animal Business Brasil 17

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Ano 04 - Número 17 - 2014 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

RECORDE MUNDIAL

Brasil tem mais de 200 faculdades de veterinária, com predominância das particulares

PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA

Está faltando governança

APICULTURA

No mundo, no Brasil e no estado do Rio de Janeiro


O curso de Medicina Veterinária da Universidade Castelo Branco é resultado de uma parceria com a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e uma opção natural para quem quer ingressar na área de medicina animal, pois oferece aos alunos os principais fatores para uma formação de excelência: estrutura, pesquisa, extensão e ensino de alto nível. Com uma área de 150.000 m², o campus Penha destaca-se por sua imensa área verde preservada em uma das regiões mais movimentadas da cidade. Nesse espaço privilegiado, os alunos de Medicina Veterinária têm uma estrutura projetada para oferecer a melhor qualidade de ensino, com clínica-escola, minizoológico, unidade animal, horta orgânica e um projeto otimizado de cultivo de plantas medicinais e ornamentais. Além de segurança, estacionamento próprio e fácil acesso pela Linha Amarela e pela Avenida Brasil.

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uma publicação da:

A

apicultura, atividade de importância transcendental para a agricultura mundial, consequência da atividade polinizadora das abelhas, é a matéria de capa desta 17ª edição. Artigo assinado pelo médico veterinário Edino Camoleze, um defensor dessa exploração zootécnica, nos ensina que o mel de abelha é consumido – de forma extrativista – pelos sumérios há 5 mil anos antes de Cristo, no sul da Mesopotâmia. Mas a ação do homem, principalmente pelo uso de inseticidas, está exterminando esses insetos o que constitui uma preocupação mundial. Trata-se de matéria importante para a qual chamo a atenção do leitor. O economista Fernando Roberto de Freitas Almeida, do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense, analisa o mercado internacional de carne em 2014 enquanto o zootecnista Fábio Ramos, diretor da Agrosuisse discorre sobre o futuro da pecuária sustentável no Brasil, indicando que ela vem conseguindo diversos avanços. O presidente da ABAG-Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, assina importante matéria sobre a possibilidade da economia brasileira ser impulsionada pela demanda mundial de alimentos e de energia renovável. Com mais de 200 faculdades, o Brasil é o recordista mundial dessa atividade sendo que

apenas o estado de São Paulo tem mais escolas de veterinária do que os Estados Unidos e o Canadá somados. O médico veterinário Marcelo Hauaji de Sá Pacheco, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do RJ, num bem fundamentado artigo, defende a tese de que é fundamental relacionar a qualidade da formação acadêmica com o nível de empregabilidade dos egressos das faculdades. “Em 25 anos, os governos federalizaram quase 35% do território nacional, destinando-o a unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos de reforma agrária” – afirma o doutor em ecologia Evaristo de Miranda, e pergunta: “será que o território brasileiro útil para a agricultura está acabando?” Segundo o presidente da Academia Nacional de Agricultura, da SNA, ex-ministro da Agricultura, Coordenador de Agronegócio da FGV e Embaixador Especial da FAO (Nações Unidas) para as Cooperativas, Professor Roberto Rodrigues, “Uma das questões centrais reclamadas pelo agronegócio brasileiro está ligada à governança do sistema de produção agropecuária”. A leitura desse artigo é altamente recomendável para os homens de decisão política do País. As críticas e sugestões dos nossos leitores serão sempre bem aceitas.

Luiz Octavio Pires Leal Editor

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Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta

Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor

comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado

Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade

Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br

CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41

Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br

Presidente:

Roberto Rodrigues

TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Ibsen de Gusmão Câmara John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen

Revisão Andréa Cardoso Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Shutterstock Produção Gráfica Juvenil Siqueira Distribuição Nacional FC Comercial

É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000


Sumário

12 06

15 20

32 28

38

22 45

59 62 06 12 15 20 22 26 28 32

26 50

66

Será que o território brasileiro útil para a agricultura está acabando? Demanda global por alimentos e energia renovável pode impulsionar o País Presente e futuro da cunicultura brasileira

Mercado internacional de carne em 2014

Brasil: potência alimentar

Racionalidade na governança

O futuro da pecuária sustentável no Brasil

Top News

38 45 50 59 62 66

A produtividade da pecuária do RJ ainda é baixa, mas não falta tecnologia para melhorar Raça Crioula Lageana

Apicultura no mundo, no Brasil e no estado do Rio de Janeiro Ciência e Tecnologia

Ensino da Veterinária e Demanda da Sociedade Opinião

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Será que o território brasileiro útil para a agricultura

está acabando? Por:

Evaristo E. de Miranda, agrônomo, doutor em Ecologia, pesquisador e coordenador do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica da EMBRAPA

S

em planejamento estratégico adequado, esse conjunto de territórios resultou essencialmente da lógica e da pressão de diversos grupos sociais e políticos, nacionais e internacionais, cuja legitimidade não se questiona. A questão aqui é outra. Agora, o país está diante de um desafio de gestão territorial, gerador de conflitos cada vez mais agudos, conforme mostram os dados reunidos pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica - GITE da EMBRAPA (FIG. 1). Arquivo

Em 25 anos, os Governos federalizaram quase 35% do território nacional destinando-o a unidades de conservação, terras indígenas, comunidades quilombolas e assentamentos de reforma agrária.

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Segundo o Ministério do Meio Ambiente, até outubro de 2013, 1098 unidades de conservação ocupavam 17% do Brasil. Aqui, na maioria dos casos, as unidades de conservação excluem a presença humana, enquanto na Europa, Ásia e Estados Unidos pode haver agricultura, aldeias e diversas atividades nos parques nacionais, sem evocar a ampla visitação turística (FIG. 2). Nas unidades de conservação, a legislação ambiental brasileira ainda define no seu entorno externo uma zona de amortecimento onde as atividades agrícolas (e outras) são limitadas por determinações da gestão da unidade de conservação (proibição de transgênicos, de pulverizar com aviação agrícola etc.). A largura dessa zona é variável. Estimativas por geoprocessamento avaliam o seu alcance territorial entre 10 a 80 milhões de hectares adicionais (1 a 9% do Brasil), dependendo da largura dessa faixa que pode variar entre as unidades de conservação e mesmo ao longo do perímetro de uma única unidade (FIG. 3). Segundo a FUNAI, 584 terras indígenas ocupam aproximadamente 14% do território nacional. Reunidas, essas duas categorias de áreas protegidas, eliminando-se as sobreposições, ocupam 247 milhões de hectares ou 29% do país (FIG. 4). Com quase 30% de áreas protegidas (unidades de conservação e terras indígenas), o

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (UCs) Unidades de Conservação Área de 140.528.309 ha 1.098 unidades 17% do Brasil

Legenda Unidades de Conservação Terrestres (MMA, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

Figura 2: Repartição espacial das unidades de conservação no Brasil ZONAS DE AMORTECIMENTO DAS UCs

3 cenários de alcance territorial Zona de Amortecimento de 1km Zona de Amortecimento de 4km Zona de Amortecimento de 10km

Área (ha) % do Brasil 9.787.374 1,10% 34.110.735 4,00% 80.095.526 9,30%

Legenda Zona de Amortecimento de 10 km (descontadas TI e UC) Áreas Protegidas -TIs (FUNAI, 2013), UCs (MMA, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

Figura 3: Repartição espacial das unidades de conservação acrescidas de suas respectivas zonas de amortecimento no Brasil TERRAS INDÍGENAS (TIs) Terras Indígenas Área de 114.699.057 ha 584 terras indígenas 13% do Brasil 146 TIs em Estudo

1.098 Unidades de Conservação 584 Terras Indígenas 9.128 Assentamentos 268 Quilombolas 11.078 áreas e 291.534.974 ha a gerenciar 34% do Brasil

Figura 1: Repartição espacial do conjunto das áreas atribuídas legalmente para unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos de reforma agrária e quilombolas no Brasil

Legenda Terras Indígenas (FUNAI, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

Figura 4: Repartição espacial das terras indígenas no Brasil

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UNIDADES DE CONSERVAÇÃO (UCs) E TERRAS INDÍGENAS (TIs)

ASSENTAMENTOS E QUILOMBOLAS

Áreas Protegidas Área de 246.937.840 ha descontadas as sobreposições 1670 áreas protegidas 29% do Brasil

Assentamentos Área de 87.977.794 ha descontados recobrimentos vetoriais 9.128 assentamentos 10,2% do Brasil 14,4% da área “disponível“ (descontadas UCs+TIs) Quilombolas Área de 2.601.838 ha 268 quilombolas 0,3% do Brasil

Legenda Assentamentos (INCRA, 2013) Quilombolas (INCRA, 2013, SEPIR, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

Legenda Terras Indígenas (FUNAI, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

Figura 5: Repartição espacial das áreas legalmente atribuídas às unidades de conservação e terras indígenas no Brasil

Figura 7: Repartição espacial das áreas legalmente atribuídas aos assentamentos de reforma agrária e quilombolas no Brasil

ÁREAS PROTEGIDAS NO BRASIL E NO MUNDO % DE ÁREA PROTEGIDA (países com mais de 2 M km²) 30

20

Cazaquistão

Fonte: IUCN - International Union for Conservation of Nature (2009)

Sudão

Índia

Argentina

Argélia

Canadá

Rússia

Congo

Austrália

Estados Unidos

China

0

Brasil

10

Figura 6: Porcentagem de áreas protegidas nos países com mais de dois milhões de quilômetros quadrados

Brasil é o campeão mundial da preservação (FIG. 5). Segundo a International Union for Conservation of Nature (IUCN), os 11 países com mais de dois milhões de quilômetros quadrados existentes no mundo (China, EUA, Rússia etc.) dedicam 9% em média de seus territórios às áreas protegidas (FIG. 6). A atribuição de terras pelo Governo Federal não acaba por aí. Sob a responsabilidade, existem 9.128 assentamentos, de diversas naturezas e estágios de implantação (FIG. 7). Eles ocupam 88,1 milhões de hectares, ou seja, 10,2% do Brasil ou 14,4% do que resta quan-

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do descontado o território já atribuído às áreas protegidas. Essa área tem um potencial produtivo enorme. Ela equivale em área à quase o dobro da cultivada atualmente em grãos no Brasil, responsável por cerca de 190 milhões de toneladas na última safra. Pelos dados do INCRA e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, as 268 áreas quilombolas já decretadas ocupam cerca de 2,6 milhões de hectares (FIG. 7). No conjunto, mais de 290 milhões de hectares, 34% do território nacional, estão assim atribuídos.


Além de áreas já atribuídas, existem milhares de solicitações adicionais para criar ou ampliar mais unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos agrários e quilombolas.

O mapa do Brasil com mais de 11.000 áreas atribuídas, essencialmente pelo Governo Federal, impressiona e permite visualizar a complexidade territorial da situação atual (FIG. 8). Esse mapa ilustra o tamanho do desafio de gestão territorial e fundiária. Cada uma dessas unidades pede um tipo de gestão, avaliação e monitoramento específicos e transparentes. Há Estados em que boa parte de seu território já foi “federalizada” por decretos federais de atribuição de áreas que estarão por muito tempo sob o controle de órgãos e instituições federais. Além das áreas já atribuídas, existem milhares de solicitações adicionais para criar ou ampliar mais unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos agrários e quilombolas. O Governo Federal continuará atribuindo-se mais e mais extensões de terra que, na maioria dos casos, sairão do controle dos estados e municípios. Cada vez mais, as novas áreas reivindicadas já estarão ocupadas pela agricultura e até por núcleos urbanos. Esse quadro complexo de ocupação e uso territorial representa um enorme desafio de governança fundiária e envolve conflitos graves, processos judiciais, impactos sociais e implicações econômicas significativas. Além das demandas adicionais desses grupos, minorias e movimentos sociais, todos com

CONJUNTO DAS ÁREAS ATRIBUÍDAS LEGALMENTE PARA UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, TERRAS INDÍGENAS, ASSENTAMENTOS DE REFORMA AGRÁRIA E QUILOMBOLAS

Legenda Unidades de Conservação Terrestres (MMA, 2013) Terras Indígenas (FUNAI, 2013) Assentamentos (INCRA, 2013) Quilombolas (INCRA, 2013, SEPIR, 2013) Divisão Estadual (IBGE, 2010)

1.098 Unidades de Conservação 584 Terras Indígenas 9.128 Assentamentos 268 Quilombolas 11.078 áreas e 291.534.974 ha a gerenciar 34% do Brasil

Figura 8: Repartição espacial do conjunto das áreas atribuídas legalmente para unidades de conservação, terras indígenas, assentamentos de reforma agrária e quilombolas no Brasil

sua lógica e legitimidade, há ainda a necessidade de compatibilizar essa realidade territorial com crescimento das cidades, com a destinação de locais para geração e transmissão de energia, para implantação, passagem e ampliação da logística, dos meios de transportes, dos sistemas de abastecimento, armazenagem, mineração etc. O Brasil virou um enorme quebra-cabeça territorial para essas necessidades. Para finalizar, o país campeão da preservação territorial exige que os agricultores assumam o ônus de preservar porções significativas no interior de seus imóveis rurais, como reserva legal ou áreas de preservação permanente, num crescendo que pode começar com 20% e chegar a 80% da área da propriedade na Amazônia. A repercussão do crescimento do preço da terra no custo dos alimentos é apenas um dos reflexos dessa situação. Como disse Maurício Lopes, presidente da Embrapa, em artigo no Correio Brasiliense (8/6/2014), os pesquisadores brasileiros estão cientes de que somente sistemas de gestão territorial estratégicos poderão garantir a compreensão do potencial e dos limites da base de recursos naturais e dos processos de uso e ocupação das terras. E ajudar a superar esse grande e inédito desafio de inteligência territorial. Mas, só pesquisador não basta.

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O agronegócio possui um grande parceiro capaz de contribuir para seu desenvolvimento sustentável em todo o estado. Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que no agronegócio não existe bicho de sete cabeças.

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Demanda global por alimentos e energia renovável

pode impulsionar o País Por:

Luiz Carlos Corrêa Carvalho - Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)

A

té os anos oitenta, seria bem raro alguém se arriscar a dizer que o Brasil galgaria e seria considerado no ranking mundial um pujante celeiro tropical. Naquela época, éramos importadores de muitos alimentos para atender ao abastecimento interno. Com a modernização da produção agropecuária, conquistamos relevante colocação por nossa capacidade de produzir alimentos e energia renovável em larga escala e de forma sustentável. O desafio é continuarmos a conseguir ganhos de produtividade no campo e maior competividade no agronegócio como um todo. No mundo, o aumento da população e da renda per capita, com um processo vigoroso de urbanização nos países asiáticos, alteraram o nível e o padrão de consumo. Isso ficou bem mais evidente neste século. Assistimos a choques de demanda e pressões nas cotações de energia e das commodities agropecuárias. Uma janela de oportunidade foi aberta para o Brasil no horizonte de médio e longo prazos. O país é o terceiro maior exportador no agronegócio, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. Vamos olhar criticamente para os nossos gargalos e desobstruir rapidamente os caminhos para avançarmos. O seguro rural não cobre 10% da produção de grãos. O sistema de transporte deixa o frete interno da soja três a quatro vezes acima do internacional. Além de poucos, os portos são de baixa produtividade em comparação com os nossos concorrentes. Com a criação de unidades de conservação, parques indígenas, área de preservação permanente, reservas legais, dentre outras, a área para agricultura redu12_Animal Business-Brasil

ziu em 50 milhões de hectares, quase 13% do total. Se os outros países tivessem de cumprir o Código Florestal brasileiro, certamente não haveria terra para cultivar. A lista prossegue. Podemos citar outros exemplos na governança, na legislação e nos marcos regulatórios. Além da produção agropecuária, o agronegócio começa antes e vai bem além desse setor, com a exigência de uma visão bem mais ampla. Novos processos, produtos e serviços aparecem e desaparecem constantemente nesse complexo e enorme setor, de fundamental importância para o crescimento e desenvolvimento da economia nacional, responsável por quase um quarto do seu Produto Interno Bruto (PIB) e gerador de divisas superiores a US$ 100 bilhões por ano. Na energia renovável, o quadro atual de indefinição é similar ao experimentado no final da década de 1990. Portanto, não faz muito tempo para esquecermos. Depois de um processo dramático e rijo de desregulamentação, com a extinção do Instituto de Açúcar e do Álcool, o setor deixou de ter o planejamento estatal, cercado de regras e normas, para responder ao mercado. Essa abrupta mudança aconteceu sem uma visão de futuro para o etanol, em termos de políticas públicas, mas trouxe oportunidades. Veio a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), incidente sobre os preços de gasolina e diesel e alíquota zero para o etanol. A incidência da taxação foi forte, de 14% na gasolina, para viabilizar a mistura do etanol na gasolina em condições de mercado, sem nenhum tipo de subsídio. Como a CIDE foi posteriormen-


Divulgação

O Brasil é o terceiro maior exportador do agronegócio, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. O desafio é continuarmos a conseguir ganhos de produtividade no campo e maior competitividade no agronegócio como um todo.

te zerada pelo governo em 2012, o etanol ficou na mesma situação da gasolina. Essa decisão não levou em conta os benefícios das externalidades positivas do etanol em termos ambientais e de saúde pública, que motivaram os Estados Unidos a pagarem um prêmio ao etanol brasileiro por considerá-lo avançado. Passamos, agora, uma fase de tremenda incerteza, com prejuízos e desestímulos aos investimentos, fruto de grave erro na política pública setorial.

Protagonismo global Os impactos de elevada demanda e limites físicos de recursos naturais geram enormes oportunidades. Precisamos arregaçar as mangas. Se as obras de infraestrura e logística acompanhassem essa verdadeira opulência proporcionada pelo agronegócio, certamente o crescimento e o desenvolvimento nacional teriam sido bem maiores. Não temos a mínima dúvida disso. Precisamos de maior agressividade no fechamento de acordos e alianças comerciais, tanto com o mundo desenvolvido como especialmente com as nações asiáticas e africanas, onde a população e o consumo estão em franca expansão. Estamos com marcos regulatórios obsoletos para acompanhar o progresso científico que não para de avançar, com uma lei trabalhista inadequada para a realidade do campo. Isso siginifica perda de competitividade e isolamento do mercado. Mas, para que possamos de fato mostrar externamente que nos caracterizamos e nos firmamos como um vigoroso provedor, a casa precisa estar bem arranjada e planejada.

Temos desafios pela frente para continuarmos nesse avanço. As discussões de cunho global deste século continuarão a debater os temas em torno das inseguranças alimentares, ambientais e energéticas. A sociedade brasileira e o governo precisam se sensibilizar com o setor. Com todo seu enorme potencial, falta-lhe a segurança do investimento. Teremos, também, de contar com profissionais competentes para realizá-lo.

Valorização junto à sociedade e ao governo Ficamos cada vez mais sensíveis com o conteúdo da comunicação e a relação do agronegócio com a sociedade urbana. Estamos dando passos firmes nessa direção para marcarmos posição. Sentimos uma melhoria sensível no nível do debate, porém devemos intensificar essa discussão com foco nas redes sociais. Nos Estados Unidos, a sua história deixa as marcas de um passado pouco venerado de escravidão que provocou uma guerra civil e o massacre insano Animal Business-Brasil_13


de povos indígenas. Já a Europa conquistou e explorou, com toda força, as suas colônias. A mácula desses registros cabe a toda sociedade. Agora, nesses países, o agronegócio é protegido e estimulado pelos seus governos, independentemente do partido que estiver no poder. As próprias associações e entidades ligadas ao agronegócio montam um calendário de eventos para, ao longo do ano, manterem um programa de intercâmbio com os diferentes públicos, como os da pesquisa, ensino, extensão, nutrição e saúde. A pesquisa “a percepção da população dos grandes centros urbanos sobre o agronegócio brasileiro”, encomendada pela Abag e realizada pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) no ano passado revelou resultados interessantes: Quase 85% dos entrevistados consideravam a profissão do agricultor muito importante para quem mora nas cidades. O setor foi o quinto colocado no quesito “orgulho nacional”, tendo ficado em segundo lugar nas regiões Centro-Oeste e Nordeste. O consumidor espera qualidade de vida, paz do campo, e contato com a natureza, mas sem perder as facilidades que a cidade oferece. É funda­mental, pois, valorizarmos o agronegócio nacional face seu potencial de protagonismo internacional. Falta uma dose de consenso na definição sobre o espaço rural e o urbano no Brasil, com questionamentos frequentes. Como a legislação, de 1938, está desatualizada da realidade, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) aponta a falta de precisão na delimitação dos perímetros urbanos dos municípios. Quando emprega a metodologia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o IPEA mostra que da população brasileira, 39% seriam rurais, 45% urbanos e 16% em situação intermediária. Presente nos 5.570 municípios compilados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o agronegócio envolve um contingente expressivo de eleitores direta e indiretamente. Os países que competem com o Brasil nas commodities agropecuárias comemoram as nossas dificuldades advindas do chamado custo Brasil. Muitas companhias nacionais e multina-

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Os países que competem com o Brasil nas commodities agropecuárias comemoram as nossas dificuldades advindas do chamado Custo Brasil.

cionais, geradoras de produção e empregos, sofrem com isso, tendo de enfrentar sérios problemas para explicar esse nó aos seus acionistas. Isso não só desarticula as cadeias de produção, como cria barreiras para novos investimentos de capital externo, fundamentais para o crescimento da oferta de alimentos e de energias renováveis, baseada na biomassa brasileira. Este é um ano muito particular para o Brasil. O escrutínio para a Presidência da República, governadores de estados e parlamentares do Congresso Nacional é um ato de direito e dever cívico. A nossa leitura política de agora terá suas consequências no futuro. No último dia 04 de agosto, realizamos o 13º Congresso Brasileiro do Agronegócio, com o tema “Agronegócio brasileiro: valorização e protagonismo”. Debatemos o setor diante novas mídias eletrônicas e de uma pesquisa de opinião junto à sociedade. Complementamos os trabalhos com amplo debate sobre as políticas públicas, com base em documento coordenado pelo Centro de Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas e com as contribuições de diversas entidades, a partir de cinco princípios: desenvolvimento sustentável, competitividade, orientação a mercados, segurança jurídica e governança institucional. Vamos, assim, montando a nossa agenda de trabalho para cobrar dos próximos governantes.


PRESENTE E FUTURO DA CUNICULTURA BRASILEIRA

Luiz Carlos Machado - Professor Adjunto, Instituto Federal de Minas Gerais – Campus Bambuí, Presidente da Associação Científica Brasileira de Cunicultura – Brasil (luiz.machado@ifmg. edu.br), e Walter Motta Ferreira - Professor Titular, Universidade Federal Minas Gerais – Brasil (waltermf@ufmg.br)

A cunicultura é uma atividade de criação de coelhos de maneira racional produzindo diversos bens para a sociedade. É uma atividade estratégica, principalmente do ponto de vista da sustentabilidade na produção animal. O Brasil é hoje um país emergente e que apresenta condições favoráveis para o desenvolvimento da cunicultura. Contudo, essa atividade, passou e ainda passa por inúmeras dificuldades relacionadas à tecnologia de produção, além de deficiência organizacional na cadeia produtiva e falta de políticas específicas para o setor. A promoção do diálogo entre seus atores é fundamental para que a atividade seja exercida de maneira mais segura e rentável.

N

a economia brasileira, mesmo em um período de crise e de baixo crescimento mundial, no ano de 2013, houve um crescimento de 2,5% do PIB e de 4,45% do agronegócio. Contudo, previsões feitas pelo FMI e divulgadas, em julho de 2014, apontam que o Brasil crescerá apenas 1,3% em 2014 e 2,0% em 2015, o que sugere que o país passa por um momento de leve recessão. A crise em nível mundial vem afetando também a todos os países emergentes. O Brasil é um país que está despontando para ser o maior exportador de alimentos do mundo. Projeções feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, para os anos de 2012/13 a 2022/23, apontam para uma situação onde o Brasil será o maior produtor e exportador de carnes do mundo no ano de 2023. Quando comparado ao consumo das carnes suína, bovina e de frango, o consu-

Divulgação

Por:

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mo de carne de coelhos é praticamente desprezível. Dados da FAO apontam que a produção de carnes de coelho no Brasil é de 1.635 ton/ano, o que daria um consumo estimado em 0,008 kg/ hab.ano. Sabe-se que a maior parte dos animais é abatida sem fiscalização e esses registros não chegam ao órgão de controle. De qualquer forma, pode-se imaginar assim, a grande capacidade de expansão da cunicultura brasileira.

Mercado No Brasil, os dados sobre a população e produção de coelhos são escassos, inseguros, pouco atualizados, e proporcionam inúmeras dúvidas. O senso agropecuário do IBGE em 2006 apontava uma população total de 295.584 animais, distribuídos em 17.615 estabelecimentos, devendo-se lembrar que a maior parte não é comercial e que também trabalha com “pecuária e criação de outros animais” e “produção de lavouras temporárias”. Realmente, percebe-se que poucos são os estabelecimentos que trabalham exclusivamente com coelhos e que a grande maioria dos cuni-

cultores trabalha com essa atividade de forma secundária. Em 2006, percebia-se que a maior parte dos animais estava localizada na região Sul. Atualmente, mesmo sem dados oficiais, observa-se que a proporção de coelhos, na região Sudeste, aumentou consideravelmente, principalmente a partir da expansão da cunicultura no estado de São Paulo. A maior parte das granjas cunícolas é de pequeno porte (20 a 100 matrizes) e trabalha para a produção de principalmente carne ou coelhos de companhia, embora haja secundariamente pequena produção de peles, adubos, animais para pesquisa, artesanato etc. Deve-se chamar atenção para o fato de que muitos órgãos de fiscalização agropecuária, que fazem o censo dos efetivos de animais, não o realizam da maneira mais adequada e que em várias cidades onde há coelhos, há histórico da ausência desses animais. Além disso, vários coelhos de estimação não são considerados. Assim, se acredita que a população cunícola relatada no censo de 2006, bem como a população estimada pela FAO, estejam subestimadas. Gráfico 01. Evolução da população de coelhos no Brasil 350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0

2007

2008

2009

2010

2011

2012

Fonte: Adaptado de www.sidra.ibge.gov.br

A cunicultura PET cresceu muito nos últimos anos e para essa atividade são utilizadas raças pequenas e anãs 16_Animal Business-Brasil

A maior parte dos cunicultores brasileiros cria animais para abate. Os frigoríficos dão preferência pela aquisição de animais que pesem de 2,3 a 3,0 kg, fornecendo carcaças que variam de 1,2 a 1,6 kg. A maior parte da carne é comercializada na forma de coelho inteiro ou em cortes. Praticamente não há venda de material processado como linguiças, presunto, molho de carne, hambúrguer, etc, o que seria muito importante para facilitar as vendas.


Divulgação

Localização

Galpão de cunicultura – Alojamento de coelhos da raça Nova Zelândia branca, para produção de carne. Divulgação

A maior parte dos produtores de carne está localizada no Centro Sul do Brasil, ainda que próximo a outras metrópoles das demais regiões existam cunicultores. Deve-se destacar o estado de São Paulo, que aloja o frigorífico com maior potencial de abate, sendo o único com habilitação para exportação. Nesse Estado, principalmente nos anos de 2010, 2011 e 2012, a cunicultura foi muito estimulada, através de campanhas diversas, principalmente na mídia televisiva. Atualmente, um grupo de cunicultores da região de Brasília vem verificando, junto ao Governo Federal, a possibilidade de inclusão da carne de coelho na merenda escolar.

Abate ilegal Muitos cunicultores abatem os animais e comercializam por conta própria, estando essa situação em contradição com a legislação brasileira, a qual é extremamente rigorosa e burocrática no que se refere à comercialização de carnes. Além disso, não é uma prática comum na cunicultura brasileira a celebração de contratos entre os envolvidos. Nesse sentido, a todo momento, a cautela tem sido a palavra chave para os novos empreendimentos em cunicultura. Além de produzirem animais para abate, grande parte dos cunicultores aproveita algum subproduto da atividade, mesmo que de forma artesanal, ainda que o grau de aproveitamento esteja aquém do ideal. Alguns comercializam a pele in natura ou processada, embora a maior parte dos cunicultores elimine esse material por não ter condições e volume mínimo para estocar e entregar. Considerando umas poucas exceções, praticamente não há explorações destinadas exclusivamente à produção de peles, utilizando raças específicas.

Peles Há ainda interessados que compram as peles in natura a um preço médio de R$ 2,00. Essa pele é processada para agregação de valor, sendo vendida a preço mais elevado. Deve-se chamar atenção ao fato de haver grande procura por peles brasileiras no mercado internacional, não sendo ainda possível essa exportação, principalmente por problemas logísticos, pois a quantidade necessária para fechar um container

Reunião realizada para criação da Associação de cunicultores Pet e Corte

seria de aproximadamente 70.000 peles, estando acima da capacidade de produção das cooperativas, núcleos e associações de produtores nacionais.

Matrizes Há cunicultores que conseguem diversificar benefícios a partir da atividade. Os mais tradicionais comercializam matrizes e reprodutores adultos que normalmente são vendidos a um preço mínimo de R$ 100,00. O mercado para comercialização de pelo angorá é altamente restrito, existindo no Estado do Rio Grande do Sul, onde pouquíssimos cunicultores ainda exercem essa atividade.

Esterco O esterco de coelhos é um subproduto altamente valorizado, principalmente por horticultores e floricultores. Muitos cunicultores comercializam esse material sendo uma importante fonte para complementação da renda. A partir do abate de animais, poucos criadores e frigoríficos detêm as informações sobre a venda de outros subprodutos como vísceras, sangue, olhos, cérebro etc. Animal Business-Brasil_17


Andreas Krappweis

Pesquisa Laboratórios pagam bem pelos animais destinados à pesquisa e assim, alguns cunicultores vêm conseguindo bons lucros oferecendo animais para esse fim. Esta atividade é realizada com elevada burocracia por parte das empresas que compram, pois a legislação brasileira é muito rigorosa. Dessa maneira, há favorecimento de atravessadores que trabalham muito bem toda a documentação.

Segurança alimentar Há incipiência referente à adoção de uma certificação da qualidade e segurança alimentar na produção da carne de coelhos e tão pouco há exigências por parte de políticas públicas governamentais. Em relação à exportação de carnes no Brasil, não há exportação regular. Deve ser enfatizado que o mercado brasileiro é carente de uma coordenação que faça a comercialização e marketing, o que facilitaria o contato entre os produtores e frigoríficos, além de realizar vendas e coordenar entregas.

Pets A produção de animais de estimação (Pets) é de extrema importância para a cunicultura brasileira. Não se pode esquecer que um proprietário de coelho é também um consumidor de insumos com amplo potencial de compra, ainda que não se tenha muito claro se o mesmo se constitua em consumidor de carne de coelhos. No Brasil, há amplo espaço para crescimento das duas linhas (abate e Pet), sem que haja competição entre as mesmas ou inibição por parte dos consumidores. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação revelaram que, em 2012, o Brasil era o 4° maior país no mundo em número de animais de estimação, havendo 2,17 milhões de outros animais, incluindo coelhos, répteis e pequenos mamíferos e excluindo os peixes de aquário que elevariam em muito este volume. Ainda, em 2012, o setor de animais de estimação movimentou cerca de R$ 14,2 bilhões, sendo o segundo maior mercado, juntamente com o Japão, respondendo por cerca de 8,0% do faturamento mundial. Nos últimos anos, principalmente a partir da popularização da internet, a cunicultura Pet cres-

18_Animal Business-Brasil

ceu de maneira muito significativa. Os coelhos de estimação possuem elevado valor agregado, principalmente os advindos de raças anãs, podendo um animal ser comercializado por cerca de R$ 80,00 a R$ 150,00. Muitos cunicultores entraram recentemente no mercado, estimulados pelo alto valor de venda desses animais, conseguindo bons lucros a partir de um plantel relativamente pequeno. Além dos animais, muitos vendem acessórios como gaiola, roupas, brinquedos bem como ração e feno empacotado, sendo isso fundamental para a elevação dos ganhos e sucesso da atividade. A venda e comercialização dos coelhos de estimação é feita principalmente pela internet, através de sites particulares, sites de venda ou redes sociais. A comercialização também é realizada através de feiras ao ar livre e pet shops. Contudo, há um grande mercado de itens e serviços específicos para mini coelhos a ser explorado. Há pouquíssimas lojas, serviços ou produtos específicos para esses animais. Não há gaiolas para alojamento com tamanho adequado, bem como com itens de enriquecimento ambiental ou alimentos específicos formulados tecnicamente para esta atividade. Chama-se atenção para o fato de que, no ano de 2013, houve a criação de um pequeno negócio de estética cunícola, localizado na cidade de Salvador – Bahia.

Problemas No Brasil, os problemas da cunicultura sempre foram e continuam sendo muitos. A maior parte


está relacionada à falta de estrutura e organização do setor, agravadas ainda pela falta de diálogo. Por um lado o consumo da carne no Brasil é inexpressivo devido à baixa produção, por outro lado a produção é baixa devido ao consumo inexpressivo, tornando-se um círculo vicioso. Embora haja falta de uma política específica para a cunicultura no Brasil, não faltam créditos e oportunidades de empréstimo para pequenos investimentos. O Governo Federal disponibiliza recursos para início das atividades a juros muito baixos, desde que toda a documentação seja satisfeita. Os principais problemas enfrentados são: falta de políticas públicas específicas de incentivo à atividade; trabalho dos cunicultores de forma isolada sem organização; necessidade de melhoria do material genético disponível; falta de abatedouros e inexistência do processamento da carne; falta de especialistas em cunicultura; falta de materiais e equipamentos de boa qualidade, principalmente gaiolas; preconceito e desconhecimento da população em relação às qualidades nutricionais da carne de coelho; falta de investimentos e de estudos referidos à promoção da saúde dos animais e carne de alto preço ao consumidor final. Deve ser enfatizado que a carne do coelho no Brasil ainda é uma mercadoria elitizada, que apresenta alto custo para venda, sendo na maioria das vezes vendida como carne exótica. Além disso, as rações brasileiras para coelhos são, em sua maioria, de baixa qualidade e vendidas a preços elevados. Deve se destacar também o elevado rigor e burocracia da legislação brasileira para a construção de um abatedouro legalizado, o que contribui muito para a elevação da clandestinidade no abate de animais. Além disso, a nova legislação sobre bem-estar animal colabora para que hajam novas barreiras a serem superadas por cunicultores que fornecem animais para laboratórios. Dessa forma, fica clara a dimensão dos problemas da cunicultura brasileira. Não será fácil a resolução da maioria delas em curto prazo. É necessário que o setor se organize, para pouco a pouco minimizar esses problemas. Além disso, um agente para coordenar a comercialização e marketing seria também fundamental.

A produção de animais de estimação (pets) é de extrema importância para a cunicultura brasileira. O proprietário de coelho é também um comprador de insumos.

Perspectivas Ao final do ano de 2013 e início de 2014, percebeu-se que os principais frigoríficos da região Sudeste brasileira aumentaram a procura por animais vivos para abate. Uma notícia relacionada foi noticiada na mídia e vinculada ao site da ACBC. Os quatro principais frigoríficos do sudeste brasileiro manifestaram interesse na aquisição de animais vivos para abate. Atualmente, o valor pago por quilo de animal vivo é de R$ 6,00, sendo o maior valor já alcançado. Há perspectivas de crescimento da produção de carne de coelho, haja vista o envelhecimento da população, maior preocupação com produtos de alta qualidade além de ser uma atividade sustentavelmente correta. Deve-se considerar também que vários estudos vêm apontando o Brasil como o futuro celeiro mundial, o que contribuirá para o crescimento de todas as atividades de produção animal. Não se pode esquecer a grande perspectiva de crescimento do número de animais de estimação, principalmente coelhos, que vêm ganhando destaque por sua docilidade e graciosidade e assim adentrando os lares brasileiros.

Nova associação Em janeiro de 2014, foi criada uma nova associação nacional, a “Associação de Cunicultores Pet e Corte” (ACPEC), que ainda não concluiu seus registros obrigatórios. Esta associação terá papel fundamental na organização dos cunicultores brasileiros, auxiliando também na melhoria do diálogo entre os envolvidos na atividade.

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Mercado internacional

de carne em 2014

Fernando Roberto de Freitas Almeida - Economista, membro do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense

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m 2014, tensões subjacentes diversas explodiram, com os principais exemplos sendo a questão ucraniana e o conflito israelo-palestino, enquanto outras crises, como a venezuelana e a argentina, prosseguiram, sem explodir, embora a segunda prejudique diretamente a atividade de amplos setores da indústria do País. No Brasil, um ano eleitoral e de Copa do Mundo teria mesmo de ser diferente e, ainda por cima, os acontecimentos citados repercutiram e continuarão influenciando por aqui.

Mantendo-se o ciclo de anos de elevação constante da renda média brasileira, o mercado interno foi pressionado em vários setores, malgrado a área industrial não vir apresentando indicadores positivos em algumas áreas de atividade, tanto por problemas domésticos, quanto por influência de acontecimentos externos, destacando-se as dificuldades na Argentina e União Europeia.

Exportação de carne Para o setor de carnes, porém, o desempenho das exportações e os danos provocados pela estiagem às pastagens, que levaram, no primeiro semestre, a maiores despesas com rações, promoveram a maior alta de preços, desde 1999. Caso o episódio do registro de um único caso da doença da vaca louca não tivesse ocorrido, a situação dos preços poderia ser ainda de maior elevação. Isto porque, embora 4 mil animais tenham sido inspecionados na região da ocorrência, com 49 deles abatidos, por segurança, num processo elogiado pela celeridade e transparência, os governos do Peru, Irã e Egito suspenderam as compras do produto brasileiro. A Organização Mundial de Saúde

Com pouca concorrência externa, em razão da redução do rebanho dos Estados Unidos, o maior concorrente brasileiro, o produto do País tem apresentado expressivo crescimento da receita.

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Johannes Raitio

O ano corrente vem sendo caracterizado, no Brasil e no mundo, por uma aceleração de vários processos, mesmo que, em termos econômicos, não se registrem grandes desempenhos, nos países de maior peso, entre eles o nosso. Contudo, embora o conjunto da produção anual, o Produto Interno Bruto, avance pouco por aqui, o mercado de trabalho aquecido continua permitindo bons padrões de consumo.

Gary Tamin

Por:


Animal prontamente endossou o laudo brasileiro de que o caso era atípico, o que descarta a possibilidade de um surto da doença. Também persistiram os problemas com o mercado dos EUA. Como os preços internacionais das carnes acabaram fechando o semestre em sua melhor relação frente às cotações dos cereais, as exportações cresceram, com as quatro maiores empresas do setor vendendo ao exterior US$ 5,7 bilhões, 4% a mais do que no mesmo período do ano anterior. Ao contrário, as nove maiores empresas do setor dos grãos obtiveram receita de US$ 14,3 bilhões, com queda de 1% para a mesma época considerada. O Brasil beneficiou-se, agora, não só da força da demanda externa, mas também da redução da oferta de alguns concorrentes internacionais. No mercado interno, em meados do ano, o período igualmente atípico do maior consumo de carne bovina durante os jogos da Copa também contribuiu para o melhor desempenho do setor.

Rússia Para o restante do ano, muitos desses fatores permanecerão e se poderá esperar conseguir benefícios da realização da Cúpula dos Brics, sediada em Fortaleza. O Brasil foi o primeiro dos membros a abrigar a reunião por duas vezes e, no momento, supõe-se que as sanções impostas por EUA e União Europeia à Rússia ampliem nossas exportações para este importante mercado. Os russos já haviam bloqueado o ingresso de carne suína europeia e o Brasil tem atualmente 63 frigoríficos, dos três tipos de carne – aves, bovina e suína – certificados para o mercado russo, sendo oito de suínos. O comércio entre os dois países totalizou US$ 5,6 bilhões em 2013, e deve ser ampliado em 2014, estimando-se que as vendas das carnes poderão crescer ainda mais, ao redor de US$ 800 milhões, atingindo os US$ 2,8 bilhões.

China Também a China que, em 2014, vem respondendo por mais de 21% das exportações brasileiras, é alvo destacado das empresas de nosso país. Embora seu consumo de carne bovina ainda não se destaque, e ela tenha, desde 2012, embargado a carne brasileira, Hong Kong, o grande centro distribuidor para a Ásia, é funda-

As exportações cresceram

mental. Um subproduto do setor, o dos couros bovinos, igualmente vive momento muito favorável, exportando para mais de setenta países. Com pouca concorrência externa, em razão da redução do rebanho dos EUA, o maior concorrente brasileiro, o produto do País tem apresentado expressivo crescimento da receita, e com exportações que chegaram a aumentar 29% no primeiro semestre. Registre-se que, neste ano, a Itália perdeu para a China o primeiro lugar nas vendas brasileiras e que outros países asiáticos, como Coreia do Sul, Tailândia e Vietnã vêm logo a seguir no rol dos compradores.

Carne de aves A carne de aves, por sua vez, poderá beneficiar-se de problema inusitado. Embora o Brasil tenha vendido, em 2013, apenas 2,5 mil toneladas de frango ao Japão, (país cujas compras externas de frango in natura são em 90% provenientes daqui), enquanto a China e a Tailândia venderam, cada, 210 mil toneladas ao arquipélago, os japoneses acabaram de suspender as compras aos chineses. Isto aconteceu em razão de a Shanghai Husi Food, subsidiária da americana OSI Group, ter fornecido carne estragada ao mercado japonês. Por conta disso, redes de fast food atuantes no Japão sondaram fornecedores brasileiros, que estão aptos a substituir os chineses, sabendo-se que os tailandeses não terão condições de abastecer completamente esta nova demanda. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal, caso os produtores brasileiros conseguissem substituir integralmente a oferta chinesa, o país poderia auferir mais US$ 700 milhões, aproximadamente. Como se vê, 2014 não será um ano a esquecer com facilidade. Animal Business-Brasil_21


BRASIL:

POTÊNCIA ALIMENTAR Milton Thiago de Mello, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária.

Raul Moreira

Por:

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sta é uma mensagem de otimismo para a Profissão Veterinária brasileira como parte fundamental da saúde pública e do agronegócio. O Brasil, com justos motivos, é uma Potência Alimentar. Esse é o tema de livro organizado pela Academia Brasileira de Medicina Veterinária e a Sociedade Nacional de Agricultura lançado no 41º Congresso Brasileiro de Medicina Veterinária (Gramado-RS 7 a 10 Agosto 2014). A SNA promove anualmente um importante congresso sobre agronegócio. O último, em novembro de 2013, teve como tema Alimento.

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A exigência torna-se aguda no momento, quanto à quantidade e à qualidade dos alimentos, porque a população humana continua crescendo explosivamente, sobretudo nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil.

Há vários anos o país é um dos maiores produtores/exportadores de alimentos. Em destaque os de origem animal e o importantíssimo papel do veterinário. Muitos obstáculos, entretanto, impedem maior e melhor desempenho da agropecuária brasileira: corrupção em esferas governamentais ou não; falta de mão de obra qualificada em vários níveis; burocracia exagerada; infraestrutura deficiente. Mesmo assim o país continua a bater recordes de produção e produtividade. As barreiras interpostas (tarifária, sanitária, bem-estar, rastreabilidade) são removidas dando confiança aos mercados importadores. Em alguns casos até mesmo países do BRICS, necessitando de nossos produtos, como China e Rússia participam da melhoria de infraestrutura (portos, estradas, ferrovias). A importância dos alimentos para o mundo atual é parte de quatro necessidades básicas da humanidade: alimento, energia, habitação e matéria-prima. A exigência torna-se aguda no


momento, quanto à quantidade e à qualidade dos alimentos porque a população humana continua crescendo explosivamente, sobretudo nos países em desenvolvimento, inclusive no Brasil. Neste caso, um bom exemplo é Brasília: de praticamente zero para mais de 2 milhões de habitantes em 50 anos. E a consequente ocupação também explosiva do Centro-Oeste com o agronegócio. A perspectiva é de aumento da população mundial em mais 2 bilhões de habitantes dentro de 40 anos. E todos têm que comer. A solução para diminuir a explosão demo­ gráfica, mas nem sempre mencionada, é a planificação familiar em massa. Isto envolverá o uso generalizado de anticoncepcionais e, até mesmo aborto, em certas circunstâncias. Entretanto o assunto é submetido a pressões políticas, religiosas e ideológicas, tornando-se quase tabu. De qualquer modo a pirâmide populacional começa a modificar-se nos países mais desenvolvidos e até no Brasil. Essa tendência poderá constituir um novo problema demográfico: o aumento de idosos no mundo inteiro. Antes, mais jovens e poucos idosos; no futuro, mais idosos e menos jovens. Até chegar ao estado de Potência Alimentar, o Brasil levou cinco séculos. Desde o descobrimento, quando Pero Vaz de Caminha escreveu: “em se plantando tudo dá”. Mas tem que plantar... Para isso foram sendo ocupados sucessivamente diversos biomas para a produção de alimentos.

Inicialmente, a Mata Atlântica (vegetais) e o Pampa Gaúcho (gado). Posteriormente, pouco a pouco, parte do Cerrado junto à Mata Atlântica no Sudeste. Mais recentemente para o Centro-Oeste e Sul da Amazônia. E o futuro? Provavelmente outras partes da Amazônia, além do “Arco de Desmatamento”. Também o Pantanal e até mesmo a Caatinga, uma vez corrigida sua suposta infertilidade, como está ocorrendo em pleno sertão de Pernambuco, perto de Petrolina. Imensos cultivos de frutíferas, inclusive uvas para consumo e produção de vinho. No caso, o principal fator limitante era a água, o que foi contornado com as águas do Rio São Francisco. No caso do Cerrado, a ocupação de seus 2 milhões de km2 foi efetuada a partir do Sudeste para o Centro-Oeste. Agora investiu para o Norte, na fronteira quádrupla Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia (MaPiToBa), o novo Eldorado agropecuário. Praticamente todo o Cerrado está sendo ocupado pela agropecuária, principalmente, no Centro-Oeste. O grande fator para essa verdadeira marcha para o Oeste foi a construção de Brasília, em pleno Cerrado. A ocupação dos biomas seguiu uma evolução natural. Os indígenas colhedores, caçadores e pescadores da época do descobrimento obtinham tudo ao alcance da mão como seus antepassados de milênios das cavernas ou por meio de técnicas e utensílios rudimentares: en-

| TAXAS DE CONVERSÃO EM ANIMAIS PRODUTORES DE ALIMENTOS

Bovino 5%

ANIMAIS AQUÁTICOS: Produção em volume

Suíno 15%

Halifaxsxc

Martin Rotovnik

Jean Carneiro

Janne Karin Brodin

ANIMAIS TERRESTRES: Produção em superfície

Ave 25%

Peixe 30% Animal Business-Brasil_23


xadas e pás de madeira, armadilhas, flechas, tacapes, lanças e zagaias. Com o aumento das populações indígenas, exauridas as terras ou diminuídos os peixes e caças, mudavam-se para outros locais. Daí o nomadismo e necessidade de grandes extensões de terra. Isto não ocorre atualmente, na maioria dos casos. Com o descobrimento, novos cultivos e criação com tecnologia europeia permitiram fixação com a introdução de alimentos de outros continentes: gado, cana, café. Durante muitos anos, as atividades dos colhedores, caçadores e pescadores, continuaram quase iguais agora com o nome de extrativismo. Contudo, este não é suficiente para alimentar a população urbana em crescente aumento. Daí a produção em larga escala comercial e tecnificada. No momento, a maior parte dos alimentos produzidos no Brasil para uso interno ou exportação é obtida com tecnologia moderna importada ou em grande parte resultante de pesquisas locais realizadas no último meio século principalmente pela EMBRAPA. Aspecto mais recente da produção em massa é a preocupação com o bem-estar animal como

no caso dos bovinos (abate humanitário), suínos (celas de gestação) e frango (baterias). Uma consequência da massificação da produção agropecuária tem sido a mudança de hábitos alimentares, ainda pelo fator econômico – o preço. A evolução ou a flutuação dos preços determina o consumo e a mudança. O preço para o consumidor é resultado do preço para obtenção do alimento. Um bom exemplo é o da carne bovina. Para sua produção em larga escala (indispensável para suprir o aumento populacional) são efetuadas despesas de vários tipos. Uma delas é relativa à terra, cada vez mais cara. Outra é a ração para os animais, a qual é convertida no produto final. Essa taxa de conversão vária conforme os animais produtores com a respectiva incidência nos preços. Para bovinos a taxa de conversão é 5%, suínos 15%, frango 25% e peixe 30%. Se os bovinos forem tirados do pasto para confinamento, pior ainda porque necessitam de ração (soja, milho). Por outro lado, os três primeiros são criados em superfície com determinado número por metro quadrado. Por isso a tendência alimentar no momento está concentrada no frango. Os alimentos de origem animal fornecem proteínas de alto valor biológico.

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Para um futuro promissor muito contribuirá o trabalho dos veterinários que terão, em grande parte, que orientar suas atividades para satisfazer as exigências da sociedade e do rolo compressor do agronegócio brasileiro.

É claro que pelo menos no caso do Brasil, o futuro a curto prazo será a tendência para o consumo de peixes (produzidos em volume e não em superfície). Eles inevitavelmente substituirão as carnes de animais de sangue quente criados em superfície. Atualmente, a carne de peixe ainda é cara por ser obtida em sua maior parte, no Brasil, quase artesanalmente (diria quase extrativamente) com anzol ou embarcações precárias e redes puxadas a braço. Percebe-se que empresários da indústria de alimentos começam a por seus olhos e dinheiro nesse futuro mais que promissor, corrigindo o absurdo de o país possuir a maior massa de água doce do mundo e uma costa atlântica de milhares de quilômetros e ser um dos menores produtores de pescado a nível mundial. A criação de peixes em massa (tilápia, tambaqui, pirarucu e outros) está começando e os preços do pescado diminuindo. Por exemplo, em Sorriso (Mato Grosso), uma capital da soja começa a ser substituída pela criação de peixes em tanques. Os criadores dizem que “Ganha-se em 1 hectare de criação de peixe o mesmo que em 100 hectares de soja”. Em resumo: o Brasil continuará como Potência Alimentar, com expansão mais lenta da fronteira agropecuária graças à melhora da produtividade e da qualidade dos alimentos, sob o amplo guarda-chuva da segurança alimentar. Para esse futuro promissor muito contribuirá o trabalho dos veterinários que terão em grande parte de reorientar suas atividades para satisfazer as exigências da sociedade e do rolo compressor do agronegócio brasileiro. Termos antes desconhecidos ou pouco usados serão incorporados ao linguajar corrente: sus-

| Biomas brasileiros

Amazônia Mata Atlântica Caatinga Cerrado Pantanal Pampa

tentabilidade, rastreabilidade, transversabilidade, bem-estar animal, informática, boas práticas, etc. A segurança ou inocuidade dos alimentos terá a garantia do secular e eficiente Serviço de Inspeção Federal – SIF ou seus equivalentes estaduais e municipais. Mesmo que o nome seja mudado, a missão permanecerá. Esse futuro otimista é baseado na aplicação generalizada do resultado de pesquisas e modernização de técnicas. Da inseminação artificial à clonagem. Melhores recursos preventivos, diagnósticos e terapêuticos no laboratório, no campo e na clínica. Uso extensivo de informática aplicada, com maior eficiência das ações, economia de tempo e limitação da burocracia. Maquinária moderna computorizada. Agricultura de precisão. Aviões não tripulados (drones, vants), satélites e robôs. Irrigação automática e localizada. Mecanização multifuncional. Plantio direto. Criação de peixes em tanques flutuantes. E muitas outras modernidades e as que certamente serão descobertas que nos permitirão encarar o futuro com um sorriso como em Sorriso. Animal Business-Brasil_25


RACIONALIDADE NA GOVERNANÇA

Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e Presidente da Academia Nacional de Agricultura (SNA)

U

ma das questões centrais reclamadas pelo agronegócio brasileiro está ligada à governança do sistema de produção agropecuário. Nos principais países agrícolas do mundo, o Ministério que cuida do setor se chama Ministério da Agricultura, Floresta e Pesca. Pois aqui temos dois Ministérios lidando com o tema (o MAPA e o MDA), um de Pesca e outro que cuida de florestas, o de Meio Ambiente. No caso deste último, faz todo sentido que trate de florestas nativas, parte fundamental da biodiversidade, mas temas como Reserva Legal e APP estão no dia a dia do produtor rural. O resultado desta pluralidade institucional é que temos quatro Ministros disputando o mesmo orçamento, a mesma atenção do Palácio do Planalto, do Congresso, da mídia, da sociedade em geral. Um desperdício de recursos materiais e humanos que se insere na problemática da eficiência da máquina pública com 39 Ministérios ou Secretarias de mesmo nível. Mas isso não é nada. Tem mais. A inexistência de uma estratégia clara para o desenvolvimento da agricultura e da pecuária elimina toda a chance de um papel protagônico de qualquer Ministério da Agropecuária, ainda que reuníssemos os quatro citados em um único, porque os instrumentos de uma Política Agrícola consistente estariam - como estão hoje - fora dele. O orçamento, por exemplo, é definido pelo Ministério do Planejamento. A liberação dos recursos orçamentários é feita pela Fazenda. Estradas e ferrovias são definidas pelo Ministério dos Trans-

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Danielle Medeiros

Por:


Compromissos eleitorais são cruciais para a escolha do ministro de plantão, ainda que ele não tenha o menor conhecimento das reais questões que envolvem a competitividade da agropecuária brasileira.

portes, assim como os portos ficam com a instituição de mesmo nome; a Agroenergia fica no Ministério de Minas e Energia, além das intervenções da Petrobras, ANP e outras siglas; o Itamaraty é o responsável pelos acordos comerciais, assim como o Ministério da Indústria e Comércio Exterior estabelece regras de comércio, inclusive via Camex, com o suporte da Apex. Registro de defensivos agrícolas passa pelo IBAMA (do MMA) e pela Anvisa (do Ministério da Saúde), o Ministério de Ciência e Tecnologia faz regras para a área de inovação tecnológica, a Casa Civil dá palpite em todos os setores, e ainda temos a importante atuação de INCRA, FUNAI, Instituto Chico Mendes, Inmetro, ANA, IBGE, IPEA, CNPq, e mais um sem número de organismos federais independentes que interferem nas políticas públicas para o campo. Isso sem falar nas instituições ligadas ao próprio MAPA, como CONAB, INMET, EMBRAPA, CEAGESP, CEPLAC e outras, e sem citar também uma quantidade ilimitada de instituições estaduais, municipais e privadas que se somam a estas todas, seguindo um emaranhado de regras, normas e atuações confusas e sobrepostas. E por último: nem sempre a escolha de Ministros ou dirigentes de estatais é feita com base em meritocracia, em competência dos escolhidos. Muitas vezes a seleção é determinada por interesses partidários sem nenhum compromisso com as funções a serem desempenhadas. Compromissos eleitorais sim, são cruciais para a escolha do Ministro de plantão, ainda que ele

não tenha o menor conhecimento das reais questões que envolvem a competitividade da agropecuária brasileira. E se ele for inteligente e bem-intencionado, acabará aprendendo seu mister. Mas quando isso acontecer, talvez os meandros da política partidária já exijam sua substituição por alguém mais habilitado a granjear votos nos processos eletivos. Não é possível continuar assim. Em primeiro lugar, o governo como um todo capitaneado pelo Presidente da República - deve ter clara estratégia para o agronegócio, a agricultura, a pecuária, o abastecimento, a inovação tecnológica e tudo o mais que tiver ligação com a competitividade do setor. Em segundo lugar, esta estratégia deve ser gerenciada por um Ministro escolhido pelo Presidente sob critérios de competência, conhecimento e comprovada honorabilidade, inclusive com autoridade e direito de negociar com superioridade junto a outros Ministérios e/ou instituições afins, os instrumentos fundamentais para o alcance dos resultados propostos na referida estratégia. Em terceiro lugar, o enxugamento da máquina pública, dando mais objetividade ao único Ministério para agronegócio, reduzirá demandas orçamentárias e de pessoal, diminuindo os chamados cargos em comissão ou de confiança, profissionalizando o ministério. Assim, se o Ministro precisar sair por qualquer razão, a máquina continuará sua missão sem solução de continuidade. Em quarto lugar, as relações entre os três poderes, mas especialmente entre Executivo e Legislativo, devem se dar no nível mais elevado, até porque será necessária a revisão de grande quantidade de legislações obsoletas ou inadequadas. E por último, o Ministro escolhido deve ter, no mínimo, bom trânsito junto às representações classistas das cadeias produtivas do agro, o que trará agilidade e legitimidade em decisões sobre caminhos a percorrer. Não é assim tão difícil fazer tudo isso. Depende apenas da vontade política da liderança máxima da Nação. As eleições próximas podem ser um teste para tal mudança, que não é radical: é tão somente racional...

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O FUTURO DA PECUÁRIA

SUSTENTÁVEL NO BRASIL Por:

Fábio Ramos, MSc, zootecnista, diretor da Agrosuisse.

O desenvolvimento da pecuária bovina vai enfrentar diversos desafios para os próximos anos, no Brasil e no mundo. A dinâmica do setor está em processo de adequação às novas exigências movidas pelo mercado que aponta para a tendência de mudança de hábitos quanto ao consumo de carne.

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o Brasil, especificamente, esta tendência é movida pela mudança da legislação (código florestal, políticas sociais, legislação trabalhista, segurança alimentar). Os segmentos envolvidos se mobilizam para a adequação, tanto o setor produtivo quanto o setor industrial, passando pelos setores financeiros e instituições governamentais. A criação de espaços (fóruns) de discussões sobre a cadeia da carne, a atuação de entidades públicas, privadas e do terceiro setor, intensificam suas ações para o desenvolvimento de um modelo de pecuária sustentável que atenda a este cenário já atual e futuro. O mercado exige, cada vez mais, carne de qualidade.

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Avanços Todo este esforço inicia-se no setor produtivo. A produção pecuária no Brasil obteve diversos avanços no modelo tecnológico (manejo reprodutivo, manejo sanitário e manejo nutricional). No entanto, este mesmo modelo gerou passivos ambientais que influenciaram diretamente nos resultados os produtores. O melhor exemplo foi relacionado ao estado geral dos pastos, principal fator de produção da pecuária. Segundo diversas pesquisas nos últimos anos, constatou-se que nossas pastagens apresentavam níveis de degradação que inviabilizaram o modelo produtivo. Problemas como erosões, solos compactados, ataque de cigarrinha, compactação dos solos e presença de cupim, entre outros, foram responsáveis pela queda da produtividade e consequentemente da taxa de desfrute do rebanho nacional.

Recuperação A partir desta constatação foi possível iniciar um ciclo de recuperação deste fator de de produção, indo ao encontro de um novo modelo de pecuária que tenha como base a sustentabilidade. De acordo com a pesquisadora Ana Maria Primavesi: “Sabe-se que em cada área pastada, não importando se de pampa, campo limpo, campo sujo, cerrado, caatinga ou pastagem plantada, existe uma relação estreita entre o solo, o gado e a vegetação usada para nutrir os animais. Nem todos os solos são capazes de nutrir animais novos ou vacas leiteiras. O gado influi sobre o solo diretamente pelo pisoteio e a compactação, e indiretamente, através do pastoreio seletivo, descobrindo o solo e permitindo processos erosivos”. (Primavesi, Ana,1984).

Modelo O modelo de pecuária sustentável a ser consolidado no Brasil vai abranger a adequação da produção, o processamento e a comercialização dos alimentos às demandas dos consumidores globais: seriedade, ética, comprometimento com a qualidade, a informação, segurança alimentar, inovação e finalmente o alinhamento da cadeia produtiva da pecuária. Além disto, tem como premissa o respeito aos animais e ao meio ambiente. Um dos caminhos para o desenvolvimento da pecuária sustentável é ter como base os prin-

cípios da Pecuária Orgânica, baseada em uma legislação nacional (Lei 10.831, dezembro de 2003), que através de seus decretos e instruções normativas, definem os critérios que orientam uma nova base tecnológica para o setor.

Vantagens A Pecuária Orgânica está em pleno desenvolvimento nos Estados Unidos, na Austrália, na Argentina, na Alemanha, na Itália e em outros países. O Brasil possui inúmeras vantagens competitivas para desenvolver sistemas de produção com base na pecuária orgânica. Os países desenvolvidos sinalizam que o mercado consumidor para carne orgânica é crescente. Neste sentido, no Brasil, o resultado da pesquisa que fizemos para a nossa tese de mestrado demonstrou que 58% dos entrevistados desconhecem o que é carne orgânica. Paralelamente, 42 a 78% dos estabelecimentos comerciais afirmaram que têm interesse em vender esse produto. E a procura só vem aumentando. O consumidor está disposto a pagar entre 5 e 30% a mais pela carne orgânica do que costuma pagar pelo produto convencional. Entre 30 e 59% dos entrevistados concordam que a carne orgânica é de melhor qualidade.

Desconhecimento O desconhecimento sobre a carne orgânica significa que o fluxo de informações nas redes de produção e de consumo é insuficiente para forAnimal Business-Brasil_29


Maciez e baixo teor de gordura são duas qualidades importantes.

talecer as relações entre os agentes das pontas da cadeia (produtor-consumidor). Apesar desse desconhecimento, os agentes que representam os canais de comercialização mostram interesse em vender o produto. De um lado existe insuficiência de informação para o consumidor e de outro a intenção de venda, pelo mercado. Essa distância pode ser avaliada como a mesma que existe entre a produção e o consumo de qualquer carne diferenciada pela qualidade.

Intenção de consumo O consumidor tem propensão para pagar mais pelo produto de melhor qualidade. Essa demanda está relacionada com sua intenção de consumo e não com a efetiva compra do produto, quando ofertado no mercado. A demanda é confirmada na crença do consumidor sobre a superioridade da carne orgânica quanto à sua qualidade.

Pistas Os resultados da nossa pesquisa mostram algumas pistas sobre as tendências da demanda do consumo de carne. O padrão tecnológico reflete o padrão de qualidade e é diretamente re30_Animal Business-Brasil

lacionado às percepções do consumidor quanto ao consumo. Segundo o especialista Perosa, o padrão de consumo nos países industrializados, preocupados com a saúde e com o meio ambiente, vem, gradativamente, sinalizando aos agentes econômicos que participam da cadeia da carne bovina para uma tendência para o comportamento do consumidor brasileiro e segundo a nossa pesquisa, o consumidor brasileiro apresenta intenção de comprar um alimento que beneficie sua saúde e está disposto a pagar mais pela carne orgânica. Existe, de fato, uma tendência para a mudança de comportamento.

Fatores que dificultam Há fatores que ainda dificultam a aceitação da carne orgânica, como: sua reduzida disponibilidade nos pontos de venda; a inexistência de uma padronização adequada; deficiência de marketing e de divulgação e pouco conhecimento das vantagens da carne orgânica. Como destacaram os pesquisadores Maria Cristina Galvão Rosa Campo (médica veterinária) e Helinton J. Rocha (engenheiro-agrônomo), por definição, a agropecuária orgânica faz parte de


um amplo e variado espectro de técnicas e práticas rurais, adaptáveis conforme a realidade local e de acordo com os princípios sociais, biológicos e ecológicos sempre respeitando o bem-estar dos seus elementos de vegetal, animal e do homem e da reciclagem dos seus recursos naturais.

Procura crescente Como ressaltam os pesquisadores citados, os alimentos orgânicos têm sido mundialmente procurados por agregar qualidade aos produtos e por oferecerem segurança de saúde aos consumidores, reduzindo a incerteza sobre contaminação por substâncias tóxicas, cancerígenas ou capazes de provocar qualquer tipo de dano à saúde humana ou animal.

Os alimentos orgânicos têm sido mundialmente procurados por agregar qualidade aos produtos e por oferecerem segurança de saúde aos consumidores, reduzindo a incerteza sobre contaminação.

tunidades muito boas tanto em termos de produção como de venda nos mercados interno e externo.

Conceito

Certificação O sistema de certificação é a base da credibilidade dos produtos orgânicos que, dificilmente, podem ser reconhecidos pelo consumidor visto que sua aparência, na imensa maioria dos casos,é idêntica à dos não orgânicos.

Mercado Os mercados nacional e mundial de carne orgânica está em franco crescimento e o Brasil tem opor-

A produção orgânica encerra um conceito mais amplo do que o seu nome indica. Ela leva em conta, também, a harmonização da relação solo-planta-animal e homem, no globo terrestre. Esta relação deve incluir a reciclagem que é como as espécies são preservadas dentro do conceito de sustentabilidade. A produção orgânica respeita a natureza, recebendo dela o que tem para oferecer e devolvendo a ela o que ela necessita.

| MODELO DE PRODUÇÃO DE PECUÁRIA SUSTENTÁVEL NO BRASIL PLANEJAMENTO

Aptidão e Vocação – região e área Condições Edafoclimáticas – solo e clima Divisão de áreas – legislação ambiental Modelo de produção sustentável – manejo

DIVERSIFICAÇÃO DE FORRAGEIRAS

Escolha das forrageiras – aptidão e vocação Escolha das sementes – nativas e exóticas Pastagens consorciadas – gramíneas e leguminosas Integração de lavouras de ciclo curto – rodízio de áreas Integração de lavouras de ciclo longo – recuperação

SISTEMA SILVIPASTORIL

Manter vegetação nativa arbustiva Pastagens com sombreamento Manutenção da fertilidade natural dos solos Manter Fauna e Flora nativa do bioma

MANEJO DOS PASTOS

Capacidade de suporte dos pastos Lotação adequada Sistema de Rodízio – descanso, reposição de matéria orgânica e pastejo.

Fonte: AGROSUISSE, 2012; Animal Business-Brasil_31


Por: Paulo

Roque

Países em desenvolvimento serão os maiores consumidores de carne

Jakub Kapusnak

“Você compra carne bovina ou um conceito? Quando você vende commodities, simplesmente aceita os preços, quando vende um conceito, cobra quanto quiser”. Essa foi uma das “provocações” feitas pelo consultor especialista no segmento de proteína animal, Osler Desouzart, em sua palestra “Cenários da Indústria de Carne e Perspectivas a 2022 – 2014 um divisor de águas?”, que abriu as etapas da edição de 2014 do Circuito ExpoCorte, em Campo Grande (MS). Ao indicar alguns rumos que a atividade deve tomar nos próximos anos, Osler ressaltou que os países em desenvolvimento são e serão os vetores da demanda, produção e das importações de carnes. Segundo ele, a produção mundial de alimentos seguirá superando o crescimento demográfico e que 80% do crescimento da produção de carne até 2022, ou 43 milhões de toneladas, virão de países em desenvolvimento. Com relação ao consumo, 92% do crescimento virão da Ásia (40%), América Latina (30%) e África (22%).Em sua opinião, como a China não tem como aumentar a produção de carnes bovinas por falta de recursos hídricos, a demanda daquele país seguirá em crescimento até o início da próxima década, o que irá beneficiar o Brasil que, para suprir essa demanda, deverá seguir o modelo americano e mexicano, com 95% do rebanho estabulado.

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Famato diz que MT vai se destacar no mercado mundial por carnes Para a Federação da Agricultura de Mato Grosso (Famato) o estado poderá se destacar nas exportações brasileiras de carne, graças ao aumento do consumo em países em desenvolvimento, como a China, principal destino da soja mato-grossense, responsável por 67% das exportações da safra 2013/2014, e a reabertura do mercado russo na compra do produto nacional. De acordo com a entidade, enquanto nossos principais concorrentes na pecuária passam por dificuldades, o Brasil se consolida como o maior exportador mundial de carne. Somente em 2013, por exemplo, a receita chegou a US$ 6,6 bilhões, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). A expectativa para este ano é alcançar US$ 8 bilhões. Neste cenário, Mato Grosso, Estado que detém o maior rebanho bovino do Brasil (28 milhões de cabeças), além de se destacar na produção de carnes de aves e suínos, deverá ocupar posição estratégica.


Breno Lobato

A Embrapa Cerrados pretende se tornar um centro de referência nacional em avaliação de touros jovens, e dar mais uma contribuição para a disseminação de genética de qualidade aos pecuaristas brasileiros. É com esse objetivo que o centro de pesquisa está promovendo pela primeira vez nos campos experimentais de Planaltina (DF) o Teste de Desempenho de Touros Jovens (TDTJ) Embrapa/ACZP/AGCZ para o Planalto Central. O pontapé inicial foi dado no último dia 29 de julho, com a pesagem de entrada dos 61 animais participantes. Os bovinos são provenientes de 14 fazendas de Goiás, Minas Gerais, Distrito Federal e São Paulo, além do rebanho da Embrapa Cerrados. Promovidos desde 1998 pela Embrapa em parceria com a Associação Goiana de Criadores de Zebu (AGCZ), os TDTJ já são consagrados na região Centro-Oeste, tendo fornecido 14 touros para centrais de inseminação. Os testes são conduzidos na Embrapa Arroz e Feijão, em Santo Antônio de Goiás (GO). Em Planaltina, o TDTJ

Caren Henrique

Embrapa Cerrados inicia teste de desempenho de touros jovens em Planaltina

é realizado em cooperação técnica com a Associação dos Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), e faz parte do Programa de Integração Lavoura e Pecuária (PILP) da Embrapa. Além das avaliações tradicionais do teste, realizadas pela Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), todos os animais serão avaliados geneticamente pelo Programa Nelore Brasil, coordenado pela Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP).

Desempenho do setor agropecuário supera crescimento do PIB nacional Impulsionado pelo crescimento da produção e pela alta dos preços, o Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária cresceu 0,99% em maio, elevando para 3,49% a variação positiva no acumulado do ano. Os dados são da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq/USP). O PIB da pecuária cresceu, em maio, 1,36%, o que elevou para 4,23% o resultado acumulado em 2014. Preços 3,42% superiores, aliados ao crescimento de 7,23% da produção, justificam o desempenho positivo e permitem projetar elevação de 10,45% no faturamento médio para o conjunto das atividades primárias do segmento.

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Arranjo tecnológico no tratamento de dejetos suínos O Arranjo Tecnológico no Tratamento de Dejetos Suínos para a Produção de Fertilizante Orgânico é o resultado de mais de dez anos de pesquisas na área. A partir de 2011, em parceria com a Seara/Marfrig e algumas empresas, a Embrapa viabilizou a primeira experiência prática. O arranjo tecnológico inclui a produção de suínos, com os dejetos servindo de matéria-prima para a produção de composto orgânico e o enriquecimento do fertilizante. Depois, os dejetos são distribuídos por uma máquina em um leito de compostagem com serragem proveniente de madeira de reflorestamento. E, por fim, a fábrica de adubo onde o composto orgânico é peneirado e embalado para comercialização.

O futuro da avicultura de postura no Congresso de Ovos APA 2015

Stuart Webster

Grande polo do setor sucroalcooleiro, a cidade paulista de Ribeirão Preto vai sediar o 13º Congresso APA de Produção e Comercialização de Ovos, de 17 a 19 de março de 2015, que vai reunir os principais especialistas da avicultura mundial para discutirem os desafios e as oportunidades do setor. Além dos debates sobre pesquisas e tecnologias, as palestras abordarão, também, temas da legislação e seus impactos na atividade. O encontro, que tradicionalmente abre o calendário de eventos do ano, é o mais tradicional da avicultura de postura do País, consagrado pelo elevado nível técnico das palestras e por reunir as principais empresas do setor em uma reunião de representantes de todos os elos da cadeia produtiva. Realizado pela Associação Paulista de Avicultura (APA, SP), o congresso apresentará, também, temas ligados às novas tecnologias, manejo, nutrição, saúde animal, bem-estar animal, ambiência, patologia e comercialização de ovos.

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Agenda Nacional da Carne Suína A Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS, Brasília/DF) realizou a 2ª edição da Agenda Nacional da Carne Suína, simultaneamente à Semana Nacional da Carne Suína (SNCS), durante o mês de setembro, em todas as lojas da rede Pão de Açúcar e Extra. Através da campanha “A Carne Suína é 10!”, foram destacados os potenciais da proteína e sua diversidade de cortes. Com peças como “Filé mignon suíno é 10” ou “Costelinha é 10 para sua família”, a entidade chamou a atenção do consumidor para as possibilidades de preparo e utilização no dia a dia. O objetivo foi mobilizar o setor e fortalecer ainda mais o período em que a carne suína está em destaque nas lojas do maior grupo de varejo do País com ações de endomarketing no setor.


A Embrapa Gado de Corte apresentou, também, sua nova variedade de braquiária, BRS Paiaguás e de panicum, BRS Zuri. A BRS Paiaguás mostrou ser uma boa alternativa para recuperar pasto com agricultura e é o primeiro material selecionado para integração lavoura-pecuária. Como pasto demostrou resultados vantajosos em termos de ganho médio diário e taxas de lotação em unidades animal por hectare (UA/ha), na média de três ciclos de águas e três de secas. A BRS Zuri tem alto grau de resistência à mancha das folhas, causada pelo fungo Bipolaris maydis, e é indicada como mais uma opção para diversificar e intensificar o sistema produtivo e também em substituição ao Tanzânia em propriedades atingidas pelo referido fungo. Ela apresenta, ainda, alta resistência à cigarrinha-das-pastagens sendo sugerida para manejo sob pastejo rotacionado, devido ao crescimento cespitoso da planta e vigoroso em condições de solo com alta fertilidade.

Esalq oferece treinamento em boas práticas de higiene em açougues A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) realizou a primeira edição do “Treinamento em boas práticas de higiene em açougues”. O curso tem como objetivo qualificar profissionais ou futuros funcionários de estabelecimentos que comercializam carnes quanto aos procedimentos de higiene visando a garantir a segurança do alimento e evitar prejuízos econômicos decorrentes de doenças de origem alimentar (DTA) e perdas de matéria-prima. O curso é voltado para manipuladores de alimentos e gerentes de açougues, cujo planejamento envolveu visita a 10 açougues com aplicação de lista de verificação para o levantamento das situações mais críticas na manipulação. Trata-sede uma realização do Grupo de Extensão em Segurança dos Alimentos (GESEA) com apoio da Fundação de Estudos Agrários “Luiz de Queiroz” (Fealq).

Neil Palmer (CIAT)

Cultivares de braquiária

Desafios no planejamento da terminação de bovinos Um dos destaques da Interconf 2014, que aconteceu em Goiânia, em setembro, foi o painel “Como planejar o investimento na terminação de bovinos”, apresentado por Dan Loy, da Iowa State University, no qual o especialista norte-americano apontou os desafios no planejamento da terminação de bovinos e as formas para o pecuarista aumentar sua produtividade e garantir a rentabilidade da fazenda. Também será abordada a utilização dos diferentes sistemas de produção em gado de corte para viabilizar o investimento na atividade. De acordo com Loy, mesmo que os sistemas de produção possam variar entre regiões e países, o processo de planejamento e os princípios de gestão importantes são semelhantes. Os sistemas que melhoram a eficiência possuem menor custo de produção e potencializam a ocupação. “O Brasil está entre as regiões que mais crescem no mundo em produção de carne em confinamento. Porém, a maioria dos confinamentos trabalha durante determinado período do ano. Dessa forma, como é preciso considerar a produção durante o ano todo, os métodos mais especializados podem ser muito úteis”, destacou. Animal Business-Brasil_35


Divulgação

Raça Texel lança programa para bem-estar animal A Associação Brasileira de Criadores de Texel- Brastexel, preocupada com o bem-estar dos animais, em especial dos ovinos que participam de feiras agropecuárias, lançou, durante a Expointer 2014, o Programa Descole Humanitário. Ele objetiva estandardizar esse procedimento nos ovinos da raça Texel, e ainda chama a atenção para essas questões à luz do bem-estar dos animais. Ao explicar os benefícios da adesão a esta bandeira defendida pela Brastexel, a médica veterinária, Norma Centeno Rodrigues, disse que “o descole em ovinos é uma prática utilizada pelos criadores. Porém poucos sabem o que esse procedimento implica em termos do bem-estar animal. Muito utilizado em ovinos que vão a julgamento e venda em exposições rurais, é comum observar animais sem nenhuma cola. Essa prática pode expor os animais a problemas sérios de saúde. A preocupação é mais com a estética do que o bem-estar dos animais que sofrem esse procedimento. Normas e procedimentos de descole em ovinos já estão plenamente estabelecidos em outros países avançados na ovinocultura, porém, são ainda inexistentes e desconhecidos no Brasil”.

Irã suspende embargo da carne bovina de MT “Estou muito contente com mais esta conquista, visto que o estado de Mato Grosso tem toda a capacidade para exportar carne bovina não só para o Irã, mas também para outros países”, colocou Geller. O país havia embargado a carne bovina de MT em maio deste ano devido à constatação do caso atípico de vaca louca no estado. “O trabalho rápido do serviço veterinário oficial, do Brasil, demonstrou que o animal identificado foi caso isolado e não representou risco algum para a sanidade animal e à saúde pública”, explicou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Neri Geller. Nos outros estados, as exportações de carne para o país não foram interrompidas. Neste ano, até o momento, foram exportados 52 milhões de quilos de carne bovina para o Irã, num total de US$ 238 milhões.

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Embrapa lança tecnologias na 37ª Expointer Entre as tecnologias para a pecuária, lançadas pela Embrapa durante a Expointer, em Esteio (RS), mereceram destaque uma nova linhagem suína - a fêmea MO25C -, três cultivares de leguminosas forrageiras, e uma publicação que reúne os resultados obtidos numa pesquisa de seleção genômica de touros Hereford e Braford, que possibilitou identificar, por meio da seleção genômica, animais mais resistentes a este ectoparasito, que é um dos principais problemas da pecuária no Sul do Brasil. A MO25C foi concebida para ser versátil, com boa produção de leitões e transmissora de melhor qualidade de carne aos suínos de abate. A principal característica da carne dos cevados produzidos por matrizes MO25C está na suculência (marmoreio), percebida principalmente na fabricação de produtos curados, que não ficam tão secos. A carne também tem diferenças no sabor, maciez e na cor, um pouco mais vermelha que a carne industrial. As novas cultivares de leguminosas forrageiras são recomendadas para formação de pastagens cultivadas consorciadas e para sobressemeadura em pastagens naturais na região sul do Brasil. Uma delas é a BRS URS Entrevero de trevo-branco, recomendada para sobressemeadura em campos naturais e consórcios com gramíneas forrageiras de inverno em áreas mais baixas, planas e com bom teor de umidade. Já a cultivar URS BRS Posteiro de cornichão é recomendada para sobressemeadura em campos naturais e consórcios com gramíneas forrageiras de inverno em áreas mais altas e bem drenadas de toda a região sul do Brasil. A terceira cultivar, BRS Piquete de trevo vesiculoso, também é recomendada para áreas mais altas e bem drenadas e, por ser anual, pode ser mais facilmente utilizada para compor sistemas de integração lavoura-pecuária.

Mais tecnologias da Embrapa na Expointer Além dos lançamentos, onze Unidades da Embrapa, presentes na feira, apresentaram outras das tecnologias desenvolvidas para a pecuária. Entre elas: Misturador de ração - Um dos maiores problemas observados em propriedades suinícolas é o desconhecimento do controle de qualidade no preparo de rações. Desenvolvido pela Embrapa Suínos e Aves e Bergamini Industrial, o misturador de ração é indicado para ração seca ou com adição de líquido, silagem de grão úmido de milho e sal mineral. O equipamento garante menor tempo de mistura e tem temporizador, visor grande, dosador de líquido, dupla descarga, grade de proteção, janela de inspeção, porta de limpeza e baixa velocidade. O misturador tem capacidade para 500 kg e motor de 5 cv e é ideal para pequenas fábricas de ração. Poedeira colonial Embrapa 051 - A poedeira colonial Embrapa 051 produz de 280 a 300 ovos a cada ciclo, enquanto uma galinha colonial comum atinge 80. A galinha também é considerada de duplo propósito, com capacidade para produção de ovos pelas fêmeas e de carne pelos machos. A poedeira se destina a criações semiconfinadas ou agroecológicas. Apesar de apresentar características coloniais, a Embrapa 051 tem todas as vantagens da avicultura comercial, como o controle sanitário e a garantia de qualidade do produto oferecido ao consumidor.

Régua de manejo de pastagem Ferramenta criada pela Embrapa Gado de Corte para facilitar a vida do criador. O instrumento tem o objetivo de apontar o momento correto de entrada e saída do gado na pastagem, indicando a altura certa de vários capins.

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A produtividade da pecuária do RJ ainda é baixa, mas não falta tecnologia para melhorar Por:

Alberto Figueiredo, Eng. Agr., ex-secretário de Agricultura

A pecuária bovina está sendo desenvolvida no Estado do Rio de Janeiro desde sempre e experimentando os mesmos desafios da atividade nos níveis nacional e internacional. Vem procurando se adaptar, implementando a aplicação de tecnologias, na medida em que vão sendo testadas, quer pelo empreendedorismo de alguns poucos ou pelo insucesso de muitos, com importante contribuição de resultados de pesquisas realizadas por órgãos públicos especializados, com destaque para a EMBRAPA.

A

realidade, no entanto, demonstrada pelas estatísticas, é a de que, quer no caso da cadeia produtiva do leite ou da pecuária de corte, os índices de produtividade estão muito aquém do que se poderia almejar. 38_Animal Business-Brasil

A natural insegurança, em relação aos resultados financeiros dos investimentos nas tecnologias disponíveis, tem mantido no extrativismo um representativo número de produtores.

Os números Os dados disponíveis no site do IBGE, complementados com informações fornecidas pelo setor de estatísticas do leite do Centro Nacional de Gado de Leite da EMBRAPA, apresentam produtividades ao redor de 1.456 litros de leite por vaca por ano, e 436 litros de leite por hectare de pastagens, por ano, podendo-se, facilmente concluir que há uma longa distância a ser percorrida para nos localizarmos nos patamares possíveis de 10.000 litros de leite por hectare por ano, ou mesmo para atingirmos a média de 4.000 litros por vaca por ano. “A produção mundial de leite de vaca foi de 625,7 bilhões de toneladas em 2012, sendo 34% desse volume produzido na Europa e 29% na América. A expansão da produção tem registrado crescimento maior nos países em desenvolvimento, com destaque para os asiáticos e latino-americanos. O Brasil é o 4º produtor, com aproximadamente 33,5 bilhões de litros anuais. Nos últimos 10 anos, a produção brasileira aumentou 42%, passando de 23,5 bilhões de litros em 2004 para 33,5 bilhões em 2013. Os principais países produtores mundiais são: EUA, Índia, China, Rússia, Alemanha, segundo dados disponíveis.


Neste mesmo período, a produção mundial cresceu 19,5%, ou seja, a expansão da oferta no Brasil foi duas vezes superior à média mundial. Os seis Estados de maior produção do País são, nesta ordem, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Goiás, Santa Catarina e São Paulo que respondem por 78% da oferta brasileira.” (EMBRAPA – CNPGL-SITE). O Estado do Rio de Janeiro, com área territorial de 443.696 km², possui 1.282.300 ha (*) ocupados com pastagens, correspondendo a 34% de seu território. Essa área abriga um rebanho bovino de 1.924.217 cabeças, o que corresponde a uma lotação de 1,5 cabeça por hectare. A produção anual estimada para 2013, segundo a EMBRAPA –CNPGL foi de 560 milhões de litros de leite o que indica produtividade, de 1.293 litros de leite por vaca ordenhada (433.309) por ano e de 436 litros por hectare por ano. Estão envolvidas na atividade 127.180 pessoas, o que corresponde a um índice de 9,2 litros produzidos por pessoa envolvida, por dia. A série histórica da produção aponta para volumes de 323 milhões de litros na década de 70, 452 milhões litros na década de 80, 434 milhões de litros na de 90 e 560 milhões em 2013 – última informação oficial disponível, o que equivale a um aumento de produção de 24% nos últimos 40 (quarenta) anos, contra um incremento nacional de 288% no mesmo período. Valendo refletir que o volume apresentado, nas estatísticas, pode estar sendo mascarado (incrementado) por produções importadas de outros estados para beneficiamento em usinas instaladas no Estado do Rio de Janeiro. Nesse período, a população brasileira aumentou 106% e a do Estado do Rio de Janeiro 225%. Quando comparada ao consumo estimado, a produção interna atendia a 68% desse consumo na década de 70 e atualmente se situa ao redor de 22,5% da necessidade. Os 15 principais municípios produtores respondem por 54% da produção estadual.

Entraves/Sugestões Parece pacífica a afirmativa de que há necessidade de aproveitamento cada vez mais racional das terras utilizadas para o processo de produ-

ção, visto que, de acordo com o observado na estatística do setor, a produtividade de 436 litros por hectare por ano, está muito aquém dos padrões mínimos de 10.000litros/ha/ano recomendados para a atividade de produção de leite, não só para promover aumento de renda para os envolvidos, quanto também para permitir o cumprimento dos compromissos ambientais pautados na legislação e na consciência dos envolvidos. Parece também correto afirmar que esse aproveitamento racional das terras esbarra atualmente: 1. Na inexistência de Identificação, por métodos científicos, das regiões do Estado com maior conjunto de fatores naturais favoráveis ao desenvolvimento de projetos pecuários sustentáveis. Sugestão: Aprimoramento e sistematização dos estudos de favorabilidade dos solos agrícolas do Estado do Rio de Janeiro, com foco específico na indicação de Zonas Especiais de Pecuária. Ex.: Favorabilidade Agropedoclimática para Pastagem Município de Campos dos Goytacazes - RJ Legenda Rodovia Campo dos Goytacazes Estado do Rio de Janeiro Favorabili Muito Baixa Baixa Média Baixa Média Alta Alta Muito Alta Urbano Água

Fonte: Trabalho científico da UENF.

Concentrar investimentos, crédito rural, assistência técnica e qualquer tipo Animal Business-Brasil_39


Sylvia Wachsner

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de incentivo em propriedades localizadas nessas áreas. Na incipiente base tecnológica que permita a utilização mais intensa das áreas planas. Sugestão: Incrementar capacitações técnicas para atuação nessas áreas de forma ambientalmente correta. Na praticamente inexistente oferta de serviços especializados em planejamento e execução de projetos de irrigação e drenagem. Sugestão: Permitir que as patrulhas mecanizadas já existentes possam executar, mediante contrato remunerado, esses serviços no interior das propriedades rurais. Na quase inexistente oferta de serviços especializados em processos que exigem mecanização, como drenagem, preparo de terra, ensilagem, etc. Sugestão: Instituição de um programa de incentivo creditício, com participação governamental, para a formação de patrulhas mecanizadas nos municípios, sob administração público-privada. Na insuficiente infraestrutura de estradas de acesso. Sugestão: Ampliar convênios financeiros com os municípios, de modo a viabilizar a manutenção corretiva das estradas rurais.

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A acomodação forçada dos dirigentes cooperativistas e a consequente ausência de profissionalização do sistema foram, repentinamente, colocadas, à prova quando o poder público, de forma abrupta, retirou todas as tutelas que havia instituído.

6. Na inexistência ou pouca difusão de pesquisas que demonstrem a viabilidade financeira relativa, ao conjunto de investimentos necessários e os prazos de retorno dos mesmos, quando da introdução de processos tecnológicos mais adequados. Sugestão: Incorporar, nos projetos de pesquisa, os impactos financeiros positivos, relativos ao incremento de produtividade esperada, e negativos, decorrentes dos investimentos necessários ou do incremento de custos decorrentes de novo processo tecnológico, principalmente nos campos da alimentação do rebanho. Talvez seja esse o ponto mais importante, visto que o produtor tem receio de que, aumentando a conta de insumos, não consiga pagá-la no final do mês. 7. Na inexistência de programas complementares de educação específicos para jovens rurais. Sugestão: Oferta, nos municípios incluídos na Zona Especial de Pecuária, de informações específicas sobre as atividades, para estudantes do primeiro e segundo graus, em horários alternativos. 8. Na dificuldade logística para aproveitamento de animais de descarte. Sugestão: Estabelecer normas legais adequadas à viabilização de matadouros


Comercialização Eventualmente satisfeitas as condições de produção, superados todos os obstáculos iniciais já citados, os produtores rurais enfrentam um grande desafio no momento de comercializar o fruto de seu esforço, seja o leite ou os animais para abate. O poder público impôs a organização dos produtores em torno de cooperativas na década de 40. No bojo dessa legislação, foi artificialmente tentada a reserva territorial de mercado para as cooperativas que se constituíam a ponto de impedir a legalização de novas cooperativas, pela negação da Autorização de Funcionamento, atributo do poder público federal. Juntando-se a “chapa branca” imposta ao sistema cooperativista, que contraria o principal pressuposto do cooperativismo, qual seja o da iniciativa consciente e livre adesão, com a completa tutela a partir do tabelamento detalhado de valores para o leite e para as atividades de transporte, beneficiamento e comercialização, retirou-se do cooperativismo lácteo, durante muito tempo, o principal atributo de sucesso coA ordenha mecânica é cada vez mais utilizada. Liany Cavalaro

municipais integrados aos respectivos comércios varejistas. 9. Nas dificuldades crescentes em relação à disponibilidade de mão de obra para as atividades rurais, em especial no campo da pecuária, tanto no quesito quantidade, quanto, principalmente, no de qualidade. Sugestão: Desenvolver estudo específico visando identificar alternativas. 10. Na insuficiência de assistência técnica em vários tópicos fundamentais, quando da implantação de projetos, ou mesmo nas tentativas de modificá-los, principalmente: • No planejamento técnico e econômico da atividade. • Na confecção de levantamentos topográficos e plantas de construções ou sistemas de pastagens. • No assessoramento para a seleção de animais (matrizes) para a composição do rebanho. • No manejo geral e, principalmente, reprodutivo. • Na alimentação equilibrada do rebanho. • Nos cuidados sanitários básicos. • No armazenamento do produto na fazenda. • No acompanhamento econômico financeiro do negócio. Sugestão: Desenvolver política específica de incremento à assistência técnica, tanto pública quanto privada. Nesse campo, parece importante ressaltar que a assistência técnica necessária é aquela decorrente de parceria entre o técnico e o produtor, que começa por metodologia motivacional e permanece durante todo o processo, desde o interesse, adoção, prática e resultados, que só se consegue com visitas periódicas e muita mão na massa, para tirar dúvidas. É a capacidade que tem que ter o técnico de se colocar na posição difícil do produtor na hora da tomada da decisão mais simples, ajudando-o a refletir e, principalmente, garantindo que a nova situação será melhor do que a anterior.

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mercial qual seja o da livre concorrência e competição saudável por melhor performance, quer junto dos fornecedores (nesse caso produtores rurais), quer compradores (o mercado varejista). A acomodação forçada dos dirigentes cooperativistas e a consequente ausência de profissionalização do sistema foram, repentinamente, colocadas, à prova quando o poder público, de forma abrupta, retirou todas as tutelas que havia instituído. Os preços em todos os níveis passaram a ser regidos pelo mercado, a legislação do cooperativismo foi alterada, agora inibindo qualquer controle por parte do poder público, e novos sistemas de embalagens foram introduzidos, de modo a aumentar a vida útil do leite industrializado. Basta que tenhamos em mente que, em, 1990, o volume de leite UHT (Longa Vida) em relação ao total comercializado representava apenas 4% do total, representando, na atualidade, expressivos 88%. Em espaço de tempo relativamente curto, o leite produzido ou importado e embalado em outros estados passou a invadir o mercado do Rio de Janeiro, até então mantido confortavelmente

Satisfeitas as condições de produção, os ruralistas enfrentam um grande desafio no momento de comercializar o fruto do seu esforço, seja o leite ou os animais para abate.

pelos laticínios locais que empacotavam o famoso “barriga mole”, (leite em sacos plásticos). Consequência disso é a queda vertiginosa de participação da produção interna em relação ao consumo, de quase 70% em 1970 para 22,5% na atualidade. Esse processo, em plena fase de implantação, tem provocado a inviabilização da maioria das cooperativas não só no Estado do Rio, como no Brasil. Leite de boa qualidade é alimento essencial

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A necessidade de economia de escala, a cada dia, se torna mais evidente, e vão se consolidando grupos econômicos multidisciplinares regionalmente hegemônicos. Paradoxalmente, no entanto, algumas sequelas, provocadas pelo bairrismo, pelo peleguismo e pela ausência de números confiáveis, coexistem com essa nova realidade, a começar: • Pelo desperdício decorrente da coincidência total ou parcial das linhas de transporte de leite de primeiro percurso, às vezes de dois ou mais compradores. • Pela ociosidade nas plataformas de algumas usinas de beneficiamento de leite espalhadas pelo Estado. • Pela desorganização do processo de comercialização, ainda em parte sob a responsabilidade de distribuidores financeiramente frágeis, o que coloca as usinas de beneficiamento em constante risco. • Pela ausência quase completa de um programa de análise da pós-venda, de modo a medir os graus de satisfação de varejistas e consumidores, ou mesmo alternativas estratégicas de produtos ou embalagens. O conjunto de engrenagens, algumas faltando dentes, outras folgadas pelo desgaste do tempo e falta de manutenção, somado ao incremento exponencial de margem financeira conquistado pelo sistema varejista, tem provocado, por um lado, desperdício de recursos, por outro, diminuição da renda de todos os segmentos da cadeia produtiva do leite, em especial a do produtor rural, principal alvo de preocupação deste trabalho. A redução do número de pessoas envolvidas na atividade nos últimos anos é uma das consequências desse processo de diminuição de renda decorrente, principalmente: • Da insegurança em relação à perspectiva de variação dos valores de remuneração pelos produtos durante o ano. Sugestão: Estimular, através de metodologia adequada, o associativismo participativo entre os produtores. • Do isolamento a que os produtores estão submetidos, ou às vezes se im-

põem, mesmo aqueles vinculados a associações ou às poucas cooperativas existentes, que se limitam a executar um precário comércio dos produtos de seus associados. Sugestões: I. Estimular, através de metodologia própria, a maior integração e fortalecimento do sistema associativo e cooperativista existente no Estado, de modo a viabilizar a melhoria do processo de comercialização, e de prestação de serviços. II. Estimular, através de metodologia adequada, o aumento do nível de integração e prestação de serviços entre cooperativas ou associações e seus respectivos associados.

Incentivo fiscal O Estado do Rio de Janeiro tem sido persistente e pródigo nas tentativas de fomento à produção interna de leite através de programas que implicam em renúncia fiscal. Tão logo houve adesão do Estado ao convênio nacional que resultou no início da tributação do leite através do ICMS, (1984) o Governo tentou privilegiar os produtores locais de leite B, adquirindo toda a produção para o programa de merenda escolar. Nunca foi possível comprovar que a iniciativa tenha efetivamente beneficiado os produtores locais, visto que as indústrias de beneficiamento incluíram o Estado como apenas mais um freguês, conferindo preços de mercado aos produtores, independentemente da proporção vendida. Posteriormente nova tentativa do Poder Público, intitulada Leite Rio, (1988), com renúncia fiscal total por um período de 6 meses, inclusive com obrigatoriedade da identificação nas embalagens de leite pasteurizado em usinas instaladas no Estado, com produto originário de produtores do Estado. Nunca foi possível provar que apenas o volume de leite efetivamente produzido no Estado teria recebido a tarja e, consequentemente, os benefícios oriundos da renúncia fiscal.

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A seguir, em 1994, foi publicada Resolução da Secretaria de Fazenda, (Nº 2417/94) inclusive redigida a quatro mãos com representantes da classe produtora, a partir da qual se constitui a tese do Crédito Presumido, através do qual as aquisições de leite “in natura” de produtores comprovadamente fluminenses, por usinas também instaladas no território estadual, gerariam para essas usinas um crédito hipotético, visto que o produto é isento de tributação nessa fase de comercialização. Apropriando-se desse crédito, as usinas de beneficiamento praticamente anulavam as respectivas responsabilidades de recolhimento do valor correspondente ao ICMS incidente sobre o leite pasteurizado e outros produtos industriais. Mais uma vez, a condição estabelecida era a de que a maior parte dessa nova Renúncia Fiscal retornasse aos produtores, teoricamente aumentando a remuneração dos mesmos, de modo a promover estímulo à produção. Essa mesma tese vigora até o momento, com sucessivas reedições daquela resolução inicial com transformações, por um período como resolução conjunta com a Secretaria de Agricultura, posteriormente como Decreto Governamental e, a partir de dezembro de 2008, com uma lei, que alterou o procedimento tributário sobre o leite UHT comercializado no território do Estado, regulamentada por decretos específicos. A realidade é que, a par de todas essas tentativas, os valores pagos aos produtores de leite do Estado do Rio, quando comparados aos pagos pelas mesmas usinas de beneficiamento ou por indústrias de outros estados, aos produtores de outras unidades da federação, não apresentam diferença correspondente, sendo, de quando em vez, até menores. As próprias indústrias consultadas por ocasião da elaboração do Diagnóstico de 2003 informaram que “o mercado define os preços pagos ao produtor”, concluindo o mesmo trabalho (diagnóstico), que o valor do produtor é a diferença entre o que a indústria recebe pelo produto do distribuidor ou do varejista, menos os custos operacionais de administração e industrialização. A conclusão é que a cadeia produtiva, organizada nos parâmetros atuais, não tem condições de intermediar iniciativas de fomento financeiro 44_Animal Business-Brasil

ao produtor com recursos públicos originários de renúncia fiscal. Parte dos valores acaba sendo incorporada ao capital de giro das indústrias e parte, talvez a maior delas, tenha sido transferida para o sistema varejista, por consequência de um processo pulverizado e frágil de comercialização no atacado. | CÁLCULO ESTIMATIVO DOS VALORES ENVOLVIDOS COM A RENÚNCIA FISCAL ATUAL Produção anual Preço médio anual

R$0,90

Faturamento anual (produtores)

R$504.000.000,00

Incentivo Fiscal Renúncia Fiscal anual Renúncia Fiscal mensal

560.000.000 litros

12,08% R$60.883.200,00 R$5.073.600,00

Sugestão: Constituir um Fundo Especial de Fomento à Pecuária, a partir dos recursos da renúncia fiscal já existente, com o objetivo principal de implantar unidades demonstrativas de tecnologias disponíveis, visando à facilitação de sua adoção pelo método demonstrativo e fazendo valer o velho ditado de São Tomé: “É ver para crer.”

Sites e e-mails sobre o assunto www.ibge.gov.br www.cepea.esalq.usp.br www.cnpgl.embrapa.br www.fgv.org.br www.leitebrasil.org.br www.cileite.com.br www.agricultura.gov.br www.ocb.org.br rosangela.zoccal@embrapa.br maria.veloso@fgv.br mauro.lopes@fgv.br leitecepea@esalq.usp.br


Gabriel da Costa Rodrigues Alves

RAÇA

CRIOULA LAGEANA Por:

Vera Maria Villamil Martins – médica veterinária e produtora

Docilidade de vaca Crioula Lageana

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Edison Martins

Touro da raça Crioula Lageana variedade Mocha

Os bovinos da raça Crioula Lageana têm como ancestrais aqueles de origem ibérica introduzidos pelos colonizadores portugueses e espanhóis no Brasil à época do descobrimento. As missões jesuíticas colaboraram muito com a manutenção de um grupamento genético remanescente, ao transportarem animais da região das Missões, com o objetivo de evitar o roubo de gado da região missioneira para os Campos de Cima da Serra, nos dois lados do rio Pelotas ocultando, assim, um grande rebanho para futuramente alimentar os povos das Missões. Com a expulsão dos jesuítas, esses animais ficaram isolados sob um processo de seleção natural, onde floresceu um rebanho de gado xucro, resistente e bem adaptado às condições ambientais do Planalto Serrano Catarinense, a região mais fria do Brasil e que serviu de esteio para a economia da região até meados do século XX, quando então se iniciou a exploração extrativista da madeira, preponderantemente da araucária. 46_Animal Business-Brasil

Cinco séculos de seleção A grande variação fisionômica dos campos do Planalto Sul com diversidade de espécies e seus inerentes valores nutricionais, contribuiu com a capacidade adaptativa à qual a raça Crioula Lageana foi submetida durante cinco séculos de seleção, neste ambiente de extrema variabilidade. Reforçando, assim, o que os criadores mais antigos falam com grande orgulho, que o gado crioulo se cria a campo e com poucos recursos, ou seja, sem a necessidade de grandes investimentos. Não é raro para os criadores da raça, observar durante o inverno, a entrada e permanência dos bovinos nas matas, alimentando-se de folhas, arbustos e musgos, que os mantêm no período de escassez de alimento. Os campos naturais do Planalto Serrano Catarinense representam um valioso recurso forrageiro de que se dispõe para uma pecuária extensiva, sendo a alternativa mais interessante para a produção animal, por necessitar de menos insumos e tecnologias importadas, além de ser uma forma de preservar este ecossistema, um patrimônio nacional, cuja riqueza ainda não foi suficientemente avaliada. Esses bovinos rústicos e bem-adaptados às condições do Planalto Serrano Catarinense foram gradativamente substituídos por raças exó-


Pela seleção natural que sofreu o bovino Crioulo Lageano, os animais são fortes, longevos e de alta fertilidade.

ticas europeias e zebuínas selecionadas em países desenvolvidos e que eram consideradas mais produtivas do que os bovinos crioulos, ainda que aos crioulos não tivessem oferecido a oportunidade de qualquer avaliação científica que permitisse fazer inferências sobre os mesmos. Muitas décadas antes de se ouvir falar da importância da diversidade genética, biotecnologia, conservação de germoplasma ou núcleos de conservação de animais, eram os bovinos crioulos que compunham o rebanho do Planalto Serrano Catarinense. Naquele tempo, eles estavam presentes nas grandes fazendas e sustentaram as famílias que habitavam na região, permitindo inclusive a manutenção dos filhos dos criadores em centros mais desenvolvidos para sua formação profissional.

Risco de extinção Esses animais só não foram extintos por dois relevantes motivos. O primeiro, mais contundente foi a perseverança de dois produtores catarinenses em manter os bovinos crioulos, por acreditarem em seu potencial e o segundo e vital, a simbiose realizada com diversas instituições de pesquisa e ensino, o que muito contribuiu nos avanços no conhecimento científico e a manutenção do desenvolvimento da raça. Esses fatores estimularam a criação da Associação Brasileira de Criadores de Bovinos da Raça Crioula Lageana – ABCCL no ano de 2003, com sede em Lages – SC, culminando com o reconhecimento da raça pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, no mês de outubro de 2008. As parcerias institucionais bem consolidadas permitem continuamente a realização de estudos para a conservação da base genética da raça sem que se perca o foco no desenvolvimento de cadeias mercadológicas de produtos nacionais com potencial de agregação de valor e renda aos produtores. O fruto do trabalho de tantos pesquisadores é a demonstração do quanto esta raça brasileira pode contribuir com os programas de seleção e melhoramento genético animal, com vistas a novos paradigmas na pecuária nacional.

Vera Maria Villamil Martins

Docilidade de vaca Crioula Lageana

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Características da raça Pela seleção natural que sofreu o bovino Crioulo Lageano, culminando com sua perfeita adaptação ao ecossistema do Planalto Serrano Catarinense, os animais são fortes, longevos e de alta fertilidade, sendo comum a parição de vacas até os 21 anos de idade. As fêmeas atingem a puberdade aos 14 meses e os machos entre 18 e 24 meses, quando colocados em pastagens cultivadas durante o período de inverno. O peso dos terneiros ao nascerem varia entre 28,2 kg para machos e 26,7 kg para fêmeas, sendo muito rara a incidência de distocias. As vacas têm boa habilidade materna e defendem suas crias mantendo afastados os predadores naturais. O peso ao desmame realizado aos 208 dias é de aproximadamente 180 kg .Os touros atingem os 800 kg de peso vivo e as vacas entre 550 e

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600 kg. Os animais quando corretamente manejados apresentam temperamento dócil procurando a aproximação, mesmo a campo, com as pessoas com quem tem contato. Na raça Crioula Lageana, há duas variedades, a aspada e a mocha. A variedade aspada com longos chifres que, a partir de sua inserção tem saída lateral em linha reta, para depois se dirigirem para frente e, em seguida, para cima, confere ao animal uma aparência de altivez que juntamente com a paisagem formam um conjunto harmônico de beleza singular. A variedade mocha, além de outras qualidades mencionadas anteriormente, apresenta a facilidade de manejo, pela ausência de chifres. O bovino Crioulo Lageano apresenta perfil de cabeça retilíneo ou subconcavilíneo e mucosas pigmentadas, orelhas arredondadas,


pequenas e leves. Nas duas variedades, a pele é grossa e pigmentada, coberta de pelos curtos, o que propicia menor infestação por ectoparasitas. A coloração do pelo varia do branco ao preto ou vermelho e as mais variadas combinações e intensidades de cor, sendo que a pele tem um valor comercial diferenciado no mercado. A pigmentação das mucosas acompanha a pigmentação dos chifres e dos cascos do animal. O corpo é cilíndrico, de tamanho entre mediano e grande com tórax profundo e costelas pouco arqueadas, com uma boa conformação de garupa.

Qualidade da carne

Edison Martins

Nos últimos anos, o setor pecuário tem se deparado com uma crescente demanda do mercado, por produtos de alta qualidade gustativa e visual,

Rebanho de bovinos da raça Crioula Lageana

Entre os aspectos intrínsecos à qualidade da carne, a composição de ácidos graxos tem grande importância, pois influencia as propriedades nutricionais e os aspectos organolépticos.

aliados à segurança. Os atributos da qualidade da carne incluem a qualidade visual, gustativa e nutricional que ofereçam ao consumidor uma imagem favorável do produto como alimento adequado à vida saudável. A carne do bovino Crioulo Lageano possui atributos importantes incluindo o marmoreio, relacionando-se com a suculência, aroma e maciez. Além disso, apresenta características de carcaça, como proporções cortes: carcaça, composição química e textura que a indicam como candidata a oferecer um produto diferenciado, que poderia também ser utilizado para cruzamentos industriais. Entre os aspectos intrínsecos à qualidade de carne, a composição de ácidos graxos tem grande importância, pois influencia as propriedades nutricionais e os aspectos organolépticos. O perfil lipídico é influenciado por fatores genéticos e ambientais, sendo que este último inclui principalmente a alimentação. A carne de ruminantes alimentados a pasto é uma fonte interessante de ácidos graxos poli-insaturados n-3, devido à presença do ácido α- linolênico. O sistema de criação a pasto, praticado com os bovinos Crioulos Lageanos, influencia na produção de ácidos graxos poli-insaturados benéficos, associados à diminuição do risco de doenças coronarianas além dos efeitos antitrombótico, anti-inflamatório e hipotensor. Desse modo, a fração lipídica da carne do bovino Crioulo Lageano apresenta características que possibilitam a sua inserção de modo competitivo no mercado consumidor, permitindo a consolidação da cadeia produtiva e mercadológica desta raça, e a conservação deste importante recurso genético brasileiro. Animal Business-Brasil_49


APICULTURA NO MUNDO,

NO BRASIL E NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Por:

Edino Camoleze - Cel Med Vet RR/1 - Exército Brasileiro, MS em Tecnologia de Alimentos, FUA, 1975; Gestão, Planejamento.

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va na natureza. Foram os egípcios e gregos, no entanto, que nos tempos antigos desenvolveram as rudimentares técnicas de domesticar as abelhas, só aperfeiçoadas no final do séc. XVII, por apicultores europeus e americanos, destacando o estadunidense reverendo Lorenzo Langstroth, que desenvolveu a apicultura moderna, considerado pai dos apicultores americanos.

As abelhas são animais invertebrados pertencentes ao reino Animalia, classe Insecta, ordem Hymenoptera, família Apídae e gênero Apis, cujo conhecimento da humanidade data de 135 milhões de anos. Evoluída das vespas, atualmente se conhecem mais de 20 mil espécies, mas, segundo os pesquisadores e historiadores, acreditam-se existir no mundo milhares de espécies ainda não descritas. Do total das espécies conhecidas, somente 2% são sociáveis e produzem mel. As do gênero Apis são as mais conhecidas, domesticadas e difundidas.

O

mel, produto da atividade das abelhas, originário do pólen ou néctar das flores, para alimentar os enxames, já era conhecido e consumido pelos sumérios há 5 000 anos antes de Cristo. Esses povos, localizados no Sul da Mesopotâmia, alimentavam-se do mel na forma bruta, não separando o mel dos favos, e ingerindo-o com ovos, larvas, pupas e a cera, ou seja de forma integral, como se apresenta-

O papel das abelhas na natureza Na natureza, além de produzirem a cera e o mel utilizados pelo homem milenarmente para fins econômicos, alimentícios, medicamentosos e industriais, as abelhas são os mais importantes polinizadores do universo. Delas depende a sobrevivência de milhares de espécies vegetais no planeta, inclusive a humana. “Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, a espécie humana teria somente mais quatro anos de vida. Sem abelhas, não há polinização, ou seja, sem plantas, sem animais, sem homens.” Tal assertiva, creditada ao físico alemão Albert Einstein, ilustra bem o papel vital exercido por esses insetos no mundo. Nesse contexto, o cenário atual não é de tranquilidade. Isso desde que, em 2011, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura ( FAO ) emitiu um alerta sobre as consequências que o sumiço das abelhas pode causar. O desaparecimento de colônias desses animais, antes limitado à Europa (onde o fenômeno começou a ser notado no fim da década de 1960) e à América do Norte, ultimamente está sendo também observado na África (Egito) e na Ásia (China e Japão). Pesquisadores da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, estimam que um terço dos alimentos consumidos pelo homem é diretamente dependente do papel das abelhas na natureza, e que elas são responsáveis pela polinização de 80% dos cultivos existentes. As monoculturas, a intensificação do uso de agrotóxicos e as queimadas são prováveis causas da diminuição acelerada desses insetos. A domesticação para a produção de mel também é citada, visto que, nesse caso, as espécies descendentes geralmente não conseguem mais sobreviver na natureza. A recente guerra no Iraque, com uso de explosivos em larga escala, causou a diminuição de 90% das colônias naquele país, constatam os cientistas americanos. Animal Business-Brasil_51


Desaparecimento Reforçando e enfatizando a advertência do físico Albert Einstein que se as abelhas desaparecessem a humanidade seguiria o mesmo rumo, num período de 4 anos, teoria também confirmada pelo físico matemático Isaac Newton e o economista britânico Thomas Maltus, e hoje confirmada pelos estudos e pesquisas modernos, mostra que um dos motivos para o desaparecimento das abelhas seriam as plantas transgênicas, largamente utilizadas nos cultivos industriais de alimentos, em substituição às plantas naturais. O mais importante estudo sobre o comportamento das plantas transgênicas jamais feito em escala nacional, foi elaborado ao longo de quatro anos pela tetracentenária academia científica britânica, a Royal Society of London, e assestou um golpe mortal à indústria de alimentos geneticamente modificados no Reino Unido e por extensão na Europa. O informe, publicado num dos mais sérios veículos de informação científica, o Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences da Royal Society, resultou numa vitória para as plantas convencionais. A série de experiências constatou que as plantas geneticamente modificadas causam sérios danos à fauna e flora silvestres. Os estudos demonstraram que os poderosos pesticidas que essas plantas tolerariam, causam significativos danos às áreas rurais que hoje se encontram devastadas pela agricultura intensiva. Os cientistas monitoraram cuidadosamente as flores selvagens, gramas, sementes e abelhas. Havia menos abelhas e borboletas em plantas transgênicas. Em face desta realidade, o Secretário do Meio Ambiente, Tim Yeo, prometeu que não mais serão cultivadas plantas geneticamente modificadas com intuito comercial até que a ciência prove que elas não são prejudiciais aos seres humanos nem ao meio ambiente; e, principalmente, sem que haja um termo de responsabilidade para os casos de contaminação. Segundo Les Firbank, do Centro para a Ecologia e Hidrologia de Lancaster, que chefiou o projeto, havia um terço a menos de sementes de flores de folhas largas nas fazendas de transgênicos, em comparação com os lugares onde foram cultivadas colzas tradicionais. “Essas diferenças ainda estavam presentes dois anos depois da se52_Animal Business-Brasil

Albert Einstein achava fundamental a importância das abelhas para a humanidade.

mente ter sido plantada. Então, temos uma diferença biológica significativa que se mantém estação após estação”, declarou o ecologista.

Pesticidas Entre os principais motivos apontados está o uso de pesticidas, especialmente os neonicotinoides, uma das classes mais utilizadas por agricultores. “Os neonicotinoides têm uma segurança grande com relação aos mamíferos, principalmente o homem, por isso são bastante utilizados. O problema é que eles afetam não apenas os insetos que são considerados pragas, mas os polinizadores também, explica Aroni Sattler, professor de agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cujo trabalho envolve ajudar apicultores a descobrir a causa da perda de suas abelhas. As suspeitas levaram a União Europeia a banir os neonicotinoides por um período de dois anos, iniciado em julho de 2013, apesar dos protestos de produtores agrícolas e as multinacionais químicas e agroalimentícias. Nesse intervalo, será avaliado o impacto da proibição na agricultura e nas abelhas, para se decidir se a regra será mantida por mais tempo. “A medida é radical, mas necessária”, diz Paulo de Souza.


“Foi uma medida de precaução, mesmo critério adotado na criação do Protocolo de Kyoto.”

Doença Uma das explicações para o misterioso sumiço das abelhas no hemisfério norte, denominada pelos cientistas de CCD - Colony Collapse Disorder (desordem do colapso das colônias) seria uma doença causada por um vírus. A estranha doença dizima as colmeias e as abelhas desaparecem, sem deixar vestígios e cadáveres, foi chamada de Aids das abelhas quando começou a surgir nos Estados Unidos e Europa. A possibilidade de ser um vírus o causador do sumiço de bilhões de abelhas nos Estados Unidos, que intriga apicultores e biólogos há anos, é um vírus que teria sido levado para o país num carregamento de abelhas australianas. Traços desse vírus, identificado no país em 2004, são encontrados em colônias, quase todas as vezes que se procura por ele. Já as colônias que até agora aparecem livres do CCD não apresentam o vírus. Parece provável então que a doença funcione como um sinal para que a colmeia seja colocada em quarentena. Um dos mais famosos pesquisadores da doença, Dr. May Berenbaum, entomologista da Universidade de Ilinois, chefiou recentemente uma análise sobre o declínio de abelhas melíferas e outros polinizadores na América do Norte. Para Berenbaum, o CCD é apenas o último de uma série de problemas que têm devastado a população de abelhas na região. Por seu papel como polinizadores de plantas, calcula-se que as abelhas respondam por US$ 15 bilhões anuais à agricultura norte-americana.

Apesar do levantamento de várias suspeitas do misterioso desaparecimento das abelhas e pesquisas realizadas, os cientistas ainda não têm uma resposta científica verdadeira.

Subprodutos A apicultura gera vários produtos, incluindo mel, cera, pólen, própolis, geleia real e aapitoxina. Porém, o produto mais explorado é o mel, devido à grande demanda pelas indústrias alimentícias, farmacêuticas e cosméticas, em função das suas ações terapêuticas. Ademais, o consumo de mel contribui para a saúde, já que contém fermentos, vitaminas, minerais, ácidos e aminoácidos, semelhantes a hormônios, substâncias bactericidas e aromáticas. A origem da floral do mel é um fator importante que contribui para a sua qualidade, pois determina a cor, o aroma e o sabor do mel. Este último é também uma indicação da riqueza mineral.

Produção mundial No mundo, mais de 130 países desenvolvem a apicultura. Entre 2001 e 2011, a produção mundial de mel passou de 1.269.633 t para 1.632.569 t, ou seja, um aumento de quase 29%. Os dez maiores do mundo produziram juntos 62% da produção mundial total. A China se destaca com (446. 089 t), 27% da produção mundial, seguida da Turquia (94 245 t); Ucrânia (70.300 t); Estados Unidos (67.294); Rússia (60.010 t); Índia (60.000 t); Argentina (59.000 t); México (57.783 t); Etiópia (53. 675 t) e Irã (47.000 t). O Brasil segue, em 2011, na 11ª posição do ranking mundial com (41.604 t).

Favo de mel

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O destaque da produção de mel e subprodutos na China em relação aos demais países no mundo é determinado pela organização da cadeia produtiva, cooperativas produtoras, biotecnologia, manejo das colmeias, pasto melífero, melhoramento genético das abelhas e incentivo fiscal do governo na produção e comercialização dos produtos.

Produção brasileira

Erika Thorpe

A apicultura, como atividade econômica no Brasil, inicia-se em 1840, quando as abelhas da espécie Apis mellifera foram introduzidas, oriundas da Espanha e Portugal, trazidas pelo Padre Antônio Carneiro. Provavelmente as subespécies, Apis mellifera mellifera (abelha preta ou alemã) e Apis mellifera carnica, tenham sido as primeiras abelhas a chegar em nosso país. Em 1845, imigrantes alemães introduziram no Sul do País a abelha Apis mellifera mellifera. Entre os anos de 1870 a 1880, as abelhas italianas, Apis mellifera ligustica foram introduzidas no Sul e na Bahia. Em meados de 1950, a apicultura sofreu um grande baque em razão de problemas com a sanidade, em função do surgimento de doenças e

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pragas (nosemose, acariose e cria pútrida europeia), o que dizimou 80% das colmeias do País e diminuiu a produção apícola drasticamente. Diante desse quadro, ficou evidente que era preciso aumentar a resistência das abelhas no País e implantar um programa de melhoria genética, para recuperar a apicultura brasileira. Coube ao Ministério da Agricultura essa árdua missão. Assim, em 1956, designado pelo ministério, o prof. Warwick Estevan Ker, em missão brasileira, dirigiu-se ao continente africano para selecionar rainhas de colmeias africanas produtivas e resistentes a doenças. A intenção era realizar pesquisas comparando a produtividade, rusticidade e agressividade entre as abelhas europeias, africanas e seus híbridos e, após os resultados conclusivos, recomendar a abelha mais apropriada as nossas condições ecológicas. Dessa forma, em 1957, 49 rainhas foram levadas ao apiário experimental de Rio Claro - SP para serem testadas e comparadas com as abelhas italianas e pretas. Entretanto, nada se concluiu desse experimento, pois, em virtude de um acidente, 26 das colmeias africanas enxamearam 45 dias após a introdução, se espalhando sem controle na Região. A liberação dessas abelhas muito produtivas, porém muito agressivas, criou um grande problema para o Brasil. O pavor desse inseto invadiu o mundo em razão de notícias sensacionalistas nas televisões, jornais e revistas internacionais, que não condiziam exatamente com a verdade, mas ajudavam nas publicidades e vendas. As “abelhas assassinas” eram consideradas pragas da apicultura e começaram a surgir campanhas para a sua erradicação, não só dos apiários, mas também das matas, com a aplicação de inseticidas em todo o País. Essa atitude, além de ser uma operação de alto custo, provocaria um desastre ecológico de tamanho incalculável, prejudicando a apicultura brasileira, tanto interna como internacionalmente. Hoje, apesar de muitas controvérsias geradas pela introdução das abelhas africanas no Brasil, as abelhas chamadas “brasileiras”, por terem herdado muitas características das abelhas africanas, são consideradas como as responsáveis pelo desenvolvimento apícola do País, de modo que o Brasil, que era o 28º produtor mundial de mel (5 mil t/ano), passou para o 6º (20 mil t) em 2001. A agressividade é considerada por muitos apicultores como um forte


aliado para se evitar roubo da sua produção e ainda veem a vantagem de serem tolerantes a várias pragas e doenças que assolam a atividade em todo o mundo, mas não tem acarretado impacto econômico no Brasil. Sem ainda ter uma espécie geneticamente consolidada, visto a grande variedade de cruzamentos da Apis mellifera com as abelhas africanas Apis mellifera scutellata, no meio ambiente e ainda ter que recuperar 80% das colmeias perdidas, o Brasil ocupa, hoje, o 11º lugar do ranking mundial, podendo crescer não só na produção do mel, mas também, de subprodutos, como: geleia real, pólen, cera, apitoxina e própolis.

Agronegócio apícola Segundo dados da CBA (2007), o agronegócio apícola envolve mais de 350 mil apicultores e 212 estabelecimentos industriais com Sistema de Inspeção Federal – (SIF) (entrepostos/agroindústrias) e centenas de estabelecimentos com Sistemas de Inspeção Estadual e Municipal (SIE e SIM). O setor gera 450 mil ocupações diretas no campo e 16 mil empregos diretos no setor industrial, sendo 9 mil na indústria de processamento (entrepostos) e 7 mil na indústria de insumos (materiais e equipamentos). No Brasil, as Regiões Sul e Nordeste são as que mais produzem mel. Juntas, elas representaram 78% da produção nacional em 2011 (IBGE). Neste mesmo ano, a produção de mel foi avaliada em R$ 233.071.000. Os Estados que mais produzem mel são Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Piauí, e Minas Gerais. Apesar de a região Norte ser uma das regiões com produção reduzida, a produção cresceu bastante nos últimos anos. Entre 2005 e 2010, a região teve a segunda maior taxa de crescimento do país (217%).

Produção no Rio de Janeiro A análise estatística conjuntural da apicultura fluminense nas últimas décadas, apesar de esforços da Secretaria de Estado da Agricultura, SEAPEC, Federação de Apicultura do Estado do Rio, FAERJ, Associações e empresários do setor, vem apresentando pouca produtividade e participação na economia do Estado. Segundo o censo apícola realizado em 2006, pelo MAPA/UFRRJ, os fatores conjunturais que influem diretamente na produção, em 72 municípios pesquisados

O agronegócio apícola envolve mais de 350 mil apicultores e 212 estabelecimentos industriais com sistema de inspeção federal e centenas de estabelecimentos com inspeção estadual.

são: pequeno número de colmeias por apicultor, a maioria 10 colmeias; produção anual por colmeia, menos de 15kg; doença por parasitas nos enxames 54%; invasão de formiga na colmeia, 25%; abandono de enxame, 15%; traça, 3%; furto, manejo, fogo e cupim, 2%; outras causas 1%. Na análise efetuada, verificou-se o baixo índice sanitário apresentado nos apiários, falta de assistência técnica no manejo das colmeias, substituição das rainhas, material e equipamento inadequado para a criação das abelhas e perda na extração do mel. Os apicultores, em sua maioria, não têm capacitação técnica para lidar com as abelhas, sendo que a maioria pratica a atividade artesanalmente com a cultura e aprendizagem tradicional familiar. No mesmo censo, constatou que numa produção de 442. 834 kg de mel, se produziu 21.070 kg de pólen; cera 13.508 kg ; própolis 12.843 kg; geleia real, 739 kg; enxames 1.250 e rainhas 1.200. Que os subprodutos são, na maioria, artesanais, sendo obtidos pelos apicultores, sem a intervenção de órgãos oficiais do governo. Que dos municípios pertencentes às mesorregiões administrativas do Estado, as que mais produziram foram: Metropolitana, 142.301 kg; Centro 111. 362 kg; Sul 86. 755 kg; Noroeste 34. 433 kg e Baixada, 9.265. Que os municípios que mais produziram mel foram: São Fidélis, 46.666 kg; Barra do Piraí, 34.914 kg e Itaboraí, 31.905 kg. E os que menos produziram: Conceição de Macabu, 50 kg; Nova Iguaçu, 75 kg e Areal 200 kg. Mostrando na análise efetuada que há necessidade de intervenção do Estado nos municípios nas políticas públicas para fomentar e estimular a produção na cadeia produtiva do mel e derivados. Animal Business-Brasil_55


Existe interesse em dispor de um novo centro de estudos sobre abelhas na Universidade Rural (km 47) para resgatar a memória técnicocientífica do Setor de Apicultura destruído num incêndio em 1975.

É importante notar que na década de 2000 para melhorar a produção apícola no Estado, um importante evento veio traduzir o interesse técnico-científico dos apicultores do Estado do Rio de Janeiro para acompanhar os novos desafios e o desenvolvimento apícola fluminense e que vem ocorrendo em muitas regiões brasileiras. Trata-se da criação da Câmara Técnica Setorial de Apicultura, pela Secretaria do Estado de Agricultura, Abastecimento, Pesca e Desenvolvimento do Interior (SEAAPI). Durante suas reuniões, apicultores, profissionais e especialistas apresentam suas necessidades, de modo a empreender uma apicultura amadurecida e produtiva. Dentre as propostas, existe o interesse em dispor de um novo centro de estudos sobre abelhas na Universidade Rural, para substituir o extinto e resgatar a memória técnico-científica do Setor de Apicultura, destruído num trágico incêndio, ocorrido no ano de 1975. Ressalta-se que o Setor de Apicultura da Universidade Rural, vinculado ao Setor de Zootecnia, foi criado pelo Decreto-Lei nº 8 547, de 03 jan de 1946, e por mais de 29 anos, foi a referência para o desenvolvimento científico e tecnológico em Apicultura para o Brasil e o Estado do Rio. Considerando o admirável trabalho técnico “ “Indicadores & Desafios da Apicultura Fluminense Maria Cristina Lorenzon (org.) ... [et al.].“ – Vila Velha Above Publicações, 2012. Constata-se que é preciso implantar efetivamente um Programa de Ações que garanta seu crescimento e desenvolvimento sustentável. O censo de 2006 e o levantamento efetuado em 2009 indicam claramente que as ações a serem tomadas precisam ser mais participativas. 56_Animal Business-Brasil

Para isto a integração entre o governo e as entidades apícolas é fundamental. Somente por meio da ação conjunta, de órgãos públicos e entidades de classe apícola, será possível frear o encolhimento produtivo que se apresenta e ensejar o pleno desenvolvimento do segmento apícola fluminense.

Recomendações (1) Cadastro dos apicultores – Atualização permanente do cadastramento dos apicultores com perdas de colmeias, pelo menos na região mais afetada. Manter o cadastramento atualizado, na busca por novos produtores, ou que encerram seu negócio. (2) Assistência técnica – Para facilitar a identificação das condições vivenciadas pelos produtores em situação “de risco”. A assistência técnica deve ser lançada para o público em geral através da mídia, brochuras de informação, folhetos e se necessário via endereço eletrônico. Devem ser lançadas cartilhas aos produtores para que adotem as boas práticas na apicultura, ampliar a difusão de informações e participar de reuniões e ações que envolvem a apicultura do local. (3) Vigilância sanitária – Notificar e georreferenciar os apiários com doença, em especial dos casos já registrados e ampliar o monitoramento para outros apiários num raio de até 25 km, para determinar a extensão da contaminação, que deve ser georreferenciada. Caracterizar o nível de perdas em número de colmeias afetadas e extintas. Todos os apiários suspeitos de contaminação devem ser inspecionados antes de serem considerados livres do vetor. (4) Barreira sanitária – Fazer barreira sanitária imediata na região, através do Guia de Trânsito Animal- GTA, para prevenir a entrada e a saída de enxames, rainhas e outros produtos apícolas. A erradicação das doenças de abelha é altamente dependente da prontidão desta medida. Certamente, a barreira sanitária exigirá firmeza e persistência, por ser a migração de colmeias uma necessidade para certos apicultores, que procuram outras regiões, seja para repor ou, aumentar a safra de mel. (5) Monitoramento de doenças – Todas as informações a respeito de focos da doença devem


Mateusz Atroszko

ser buscadas junto a apicultores cadastrados ou não, junto às associações e empresas agrícolas. Deve ser também reforçada a informação sobre os riscos que podem sofrer com a falta de consciência os apicultores não registrados no programa de erradicação. (6) Políticas públicas – É premente que a Defesa Agropecuária da Secretaria de Agricultura e Pecuária (SEAPEC) seja mais atuante no setor apícola, pela promoção de ações educativas e fiscalizadoras. O aperfeiçoamento de seu pessoal deve ser constante e incentivado. As principais ações já determinadas como prioridades pela Defesa devem ser implantadas: cadastramento de produtores, guia de trânsito animal (GTA), Plano Estadual de Sanidade. Estes aspectos de interesse da Defesa e do setor apícola devem ser garantidos por meio de farto material educativo. (7) Plano de sanidade – Para garantir a implantação do Programa Estadual de Sanidade Apícola é essencial que seu coordenador eleja um técnico que possa monitorar as principais regiões atingidas por doenças, que estão bem definidas neste estudo. Desta forma será viável efetuar campanhas educativas, realizar cursos para técnicos, estabelecer metas de controle da doença e manter atualizado o cadastro nestas regiões. (8) Capacitação técnica – Deve haver um programa de capacitação que contemple técnicos e produtores. A capacitação deve girar em torno dos fatores que propiciam a redução das deficiências tecnológicas. A capacitação precisa de continuidade e de que se dê atenção especial à carência regional para melhorar seus índices de produtividade. Propõe-se a realização de um congresso estadual anual, para prover um fórum de discussões, informações, oportunidade de negócios e capacitação, que deverá ser acessível a toda a cadeia produtiva apícola e de pesquisa do estado. (9) Cadeia comercial – É fundamental o apoio à pequena empresa e o fortalecimento do empreendimento associativista, com vistas à criação de um elo cooperativista para auxiliar na melhoria organizacional e econômica de escala. São escassas as linhas de crédito para produtores iniciantes. É necessária a ampliação e melhoria destas para facilitar o engajamento na cadeia produtiva e comercial. (10) Diversidade – Deve-se avançar na produção de méis diferenciados pela origem botânica

O mel já era conhecido pelos sumérios há 5 mil anos antes de Cristo

(os chamados méis monoflorais), para permitir a identificação e valorização, por meio da denominação de sua origem regional, tais como os chamados méis de “morrão-de-candeia”, “cambará”, “eucalipto” e “assa-peixe”, cuja produção é expressiva no estado do Rio. (11) Apoio do governo – É necessário que os produtores se aproximem das instâncias governamentais para ensejar a promoção do setor e a disponibilidade de recursos públicos. Que os agentes públicos estadual e municipal possam prever recursos públicos nos seus planos plurianuais de gestão para fomentar e incentivar a produção melífera. Deve haver compreensão mútua das limitações de trabalho de produtores e técnicos agropecuários. Somente juntos é possível vencer a maratona de dificuldades que se antepõem.

Recuperação da produção no Estado Após a implantação de cada passo deste planejamento, será visível a restauração do equilíbrio apícola fluminense pelas melhorias das práticas de manejo e produção que permitam maximizar a produção. O declínio produtivo cessará, as perdas devem se estabilizar em patamares aceitáveis e uma nova força motriz, guiada pela mudança de comportamento e pelo compromisso de ambos os lados, se estabelecerá para almejar novos rumos, um crescimento ordenado e progressivo para a apicultura, tanto para o pequeno quanto para o grande apicultor. Animal Business-Brasil_57


O trabalho de polinização das abelhas é indispensável para a agricultura.

Carta apícola

Brasil tem características especiais

É necessário que cada estado da federação e municípios considerem a apicultura como atividade econômica e comercial, com os produtos produzidos dentro das normas e padrões técnicos preconizados na legislação brasileira. Para dar visibilidade estatística da produção, produtividade, estado sanitário das colmeias e situação dos apiários, que haja no estado e municípios a Carta Apícola, georreferenciada atualizada para localização do produtor, certificação das unidades produtivas e status da produção.

O Brasil apresenta características especiais de flora e clima que, aliado à presença da abelha africanizada, lhe conferem um potencial fabuloso para a atividade apícola, ainda pouco explorado. Nesse sentido, a Embrapa, vem apoiando o desenvolvimento da apicultura no Brasil, especialmente na região Nordeste, por intermédio da Embrapa Meio-Norte, que tem como um de seus objetivos promover a geração e transferência de tecnologias, que visem à melhoria do desempenho do agronegócio apícola, contribuindo dessa forma com o aumento de produtividade e a melhoria da qualidade dos produtos da colmeia. Apesar de mais de um século e meio da longa história da implantação da apicultura no território brasileiro, o País não tem ainda um modelo próprio de produção apícola que satisfaça ao todo brasileiro, de forma politicamente correta e ecologicamente equilibrada. As abelhas precisam ser cuidadas, protegidas e monitoradas para que possam cumprir seu papel na natureza, polinização das plantas e satisfazer as necessidades humanas nas principais aplicações do mel e derivados: indústria de produção de alimentos e medicamentos.

Importância da apicultura A apicultura, como função zootécnica, é uma das atividades capazes de causar impactos positivos, tanto sociais quanto econômicos, além de contribuir para a manutenção e preservação dos ecossistemas existentes. A cadeia produtiva da apicultura propicia a geração de inúmeros postos de trabalho, empregos e fluxo de renda, principalmente no ambiente da agricultura familiar, sendo, dessa forma, determinante na melhoria da qualidade de vida e fixação do homem no meio rural. 58_Animal Business-Brasil


Lopes Cavalcante

Araguaia: primeira raça bovina certificada pela ABCZ no Centro-Oeste Desenvolvida na Fazenda Santa Rita, no estado do Mato Grosso, a raça Araguaia (de corte) já começa a gerar frutos: os animais desta raça foram os primeiros a receber o Certificado de Controle de Genealogia (CCG) da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) na região Centro-Oeste do país. Os bovinos são resultado de cruzamentos entre animais de três raças: Nelore (nativa da Índia), Caracu e Blonde D’Aquitaine (estas nativas da Europa). O CCG é um passo importante no processo de registro da raça no Ministério da Agricultura. A ABCZ costuma certificar vários

Fazenda Santa Rita

Por: Adeildo

cruzamentos raciais. Mas, para corte, segundo a entidade, essa foi a primeira vez que ela certifica animais de cruzamentos entre Nelore e raças europeias no Centro-Oeste.

Peixes ornamentais: técnica permite fornecer ração fixada às paredes do aquário Desenvolvida pela empresa Miramar Pet com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro, a ração, em forma de pastilhas, é fornecida aos peixes de forma inovadora: fixada às paredes do aquário. Desse modo, o alimento atrai os peixes para o vidro, evitando sobra e proliferação de bactérias, que geralmente causam a morte dos animais. “Desenvolvemos sistemas de criação para pequenos e médios produtores nos quais problemas como esses não acontecem”, diz Fernando Quinto, responsável pela empresa, e explica: “fizemos pastilhas de diferentes tamanhos, de modo que os criadores possam oferecer a dose ideal de alimento aos peixes”.

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UNESP desenvolve sistema para geração de energia com resíduos de frango O zootecnista Airon Magno Aires desenvolveu um equipamento (foto) para produção de biogás com dejetos da criação de frangos de corte – conhecido como cama de frango (mistura de produtos, como serragem, além de dejetos e carcaças de animais). O biogás é produzido com o carbono contido nos resíduos da criação e o nitrogênio presente nos dejetos. Esse combustível pode ser usado pelo próprio avicultor para substituir tanto a eletricidade necessária para a iluminação de galpões e funcionamento de equipamentos, quanto a lenha usada para aquecimento de pintos. Com o estudo, Aires obteve o título de Doutor em Zootecnia na UNESP e recebeu o prêmio Ubabef (União Brasileira de Avicultura) de Pesquisa Avícola Aplicável, durante o 23º Congresso Brasileiro de Avicultura.

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Uma técnica inédita desenvolvida pelo veterinário mineiro Marcelo Melo permite a utilização de mulas (animais estéreis) como barriga de aluguel de embriões originados do cruzamento entre éguas e jumentos. A técnica, batizada de transferência de embriões extraespecíficos, consiste no transplante in vitro de embriões originários de éguas fecundadas artificialmente pelo sêmen de jumentos em mulas, ou seja, a mula faz a gestação do embrião de uma possível nova mula ou um burro. O veterinário explica que, embora a mula não possa gerar crias, ela tem o aparelho reprodutivo completo, permitindo o desenvolvimento dos filhotes dentro dela. Uma grande vantagem desse processo está relacionada à preservação da égua doadora, que poderá gerar embriões sem desgastar o animal. Erica Burrell

UNESP

Técnica permite uso de mula (animal estéril) como barriga de aluguel


EMBRAPA desenvolve plataforma portátil de pesagem de bovinos A plataforma foi desenvolvida pelo Núcleo Pecuária Sul da EMBRAPA, empresa oficial encarregada da pesquisa agropecuária no país, que pode ser transportada em veículos de qualquer porte. É montada e desmontada rapidamente, se ajustando aos mais diferentes formatos e tamanhos de bretes (projetados para conter e imobilizar animais), e impedem que os animais se machuquem enfiando as patas no espaço entre o brete e a plataforma. A plataforma foi desenvolvida especialmente para pequenos produtores para que possam viabilizar a pesagem regular de seus animais, seja para controle de produção ou para venda, através da compra e uso compartilhado do sistema por diversos produtores. Além de bovinos, a plataforma pode ser utilizada também para pesagem de caprinos e ovinos.

Um equipamento inovador, projetado pela Casale para atender à demanda de criadores de bovinos, chega ao mercado: o feeder, que permite alimentar o gado criado no pasto ou em sistema de semiconfinamento. Entre seus principais diferenciais destacam-se: pesagem com uso de GPS e um software desenvolvido para monitorar o abastecimento e consumo em todos os locais de distribuição da ração. Segundo os técnicos da empresa, o lançamento permite uma sensível redução nos gastos do criador com a alimentação, um dos fatores de maior peso no custo da pecuária. Mais informações: www.casale.com.br.

Casale

BRUM, Juliana

Casale: equipamento inovador reduz despesa com alimentação do gado

EMBRAPA: novos produtos de carne de peixes do Pantanal O núcleo Pantanal (Corumbá-MS) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) vem desenvolvendo um projeto de pesquisa para a obtenção de produtos de carne de peixes nativos do Pantanal e já obteve três alimentos: hambúrguer, quibe e nugget. Os dois primeiros derivam de carne mecanicamente separada, processo realizado em um equipamento chamado despolpadora, o qual permite a formação de uma “pasta” de carne de peixe. O nugget também é feito da mesma base que o hambúrguer e o quibe, só que recebe um empanamento com farinha adequada (de milho ou de rosca). Em média, cada produto levou dois anos para ser desenvolvido. Animal Business-Brasil_61


Ensino da Veterinária

e Demanda da Sociedade Por:

Marcelo Hauaji de Sá Pacheco – vice-pesidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do RJ e Irineu Machado Benevides Filho

Em meados do século VI, foi identificado, na atual Istambul, um tratado enciclopédico, que tratava da criação dos animais e de suas doenças. Escrito por diversos autores, era chamado de Hipiatria. Só bem mais tarde, no ano de 1763, em uma modesta pensão em Lyon, na França, Claude Bourgelat, um advogado apaixonado por cavalos, fundou com apenas 08 alunos a primeira escola de Veterinária do mundo.

M

esmo antes da existência do ensino formal em veterinária, no início da era Cristã, havia grande esforço no controle de doenças animais, sobretudo das tropas militares. A importância militar do cavalo justificava o estudo. Posteriormente, com o surgimento de grandes epidemias no continente Europeu, criaram-se as primeiras escolas de Veterinária. Nesse período, os esforços concentravam-se no controle das enfermidades animais e no controle higiênico-sanitário em matadouros. Havia suspeita que enfermidades humanas estariam associadas ao consumo de alimentos de origem animal. Essas ações estabeleceram as bases da inserção do médico veterinário como um profissional de saúde pública. Além disso, foram lançados os fundamentos das ações extensionistas, visto que percebeu-se a necessidade de associação da competência técnica com a comunicação aos produtores, para eficiente controle das enfermidades. Desde o início, o ensino da Veterinária buscava, portanto, atender aos anseios da sociedade.

Luiz Octavio

A pioneira escola de veterinária em Alfort, perto de Paris (vista parcial).

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Divulgação

Epidemiologia Com o aprofundamento do conhecimento científico surge, no início dos anos 60, a compreensão da importância da epidemiologia, que promove estudos sobre a população e não somente do indivíduo, reforçando o conceito preventivo da Veterinária, como poderoso instrumento de Saúde Pública.

Brasil é recordista mundial na quantidade de escolas de veterinária No Brasil, somente no início do século XX, foram criadas as duas primeiras instituições de ensino de Veterinária: a Escola de Veterinária do Exército (1910) e a Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária (1913), ambas na cidade do Rio de Janeiro. A partir dos anos 90, com a expansão do mercado de ensino privado, a oferta de cursos de Veterinária sofre forte incentivo e atualmente o Brasil é o país recordista em números de escolas veterinárias e de veterinários registrados em todo o mundo. Em recente encontro promovido pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, foram apresentados dados onde o número de cursos de graduação em Veterinária já ultrapassou a barreira de 200 instituições, sendo a grande maioria de caráter privado. Para que se tenha uma ideia de grandeza, a Rússia, segunda colocada, possui cerca de 40 escolas e São Paulo, o estado com maior número de escolas no Brasil, possui mais cursos de Veterinária do que Canadá e Estados Unidos juntos. Além disso, principalmente nas instituições privadas, observa-se uma tendência de priorizar o ensino da clínica médica de animais de estimação em detrimento de outras áreas basilares da ciência Veterinária e fundamentais para a saúde pública.

Qualidade e empregabilidade Diante desse novo cenário, parece-nos fundamental relacionar a qualidade da formação acadêmica com o nível de empregabilidade dos egressos. Nesse sentido, sob a ótica da transformação do aprendiz, a articulação com o mercado de trabalho e a implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais se mostram como ferramentas indispensáveis ao desenvolvimento das competências demandadas pela sociedade. Entretanto, apesar das DCNs terem

Irineu Machado Benevides Filho (esquerda) e Marcelo Huaji Pacheco

O número de cursos de graduação em veterinária, no Brasil, já ultrapassou a barreira de 200. São Paulo tem mais faculdades de veterinária do que os Estados Unidos e Canadá somados. Somos recordistas mundiais em quantidade.

sido divulgadas pelo MEC há mais de 10 anos, sua implantação ainda não se consolidou na maioria dos cursos. Na verdade, a grande maioria das matrizes curriculares ainda tem como base a estrutura do currículo mínimo de 1984, sendo divididas em disciplinas básicas e profissionais, ministradas de forma isoladas e desconectadas do mundo do trabalho. Além disso, os Projetos Pedagógicos não definem estratégias capazes de formar profissionais com as competências e habilidades gerais estabelecidas nas Diretrizes e exigidas pelo Mercado, como a tomada de decisões, liderança, trabalho em equipe, comunicação e gerenciamento e, muitas vezes, por priorizar a formação técnica, dissociada de um compromisso com a Animal Business-Brasil_63


“ sociedade, não garantem a desejada formação generalista, humanista, crítica e reflexiva.

Evolução do mercado de trabalho Nas últimas décadas o mercado Veterinário, em todas as áreas, tem experimentado grande evolução tecnológica e profissional. Como consequência, cresce a exigência por profissionais, que agreguem a seus conhecimentos técnicos habilidades como liderança, noções de planejamento, de gestão, capacidade de trabalhar em equipe, solucionar problemas, etc... No entanto estes temas, em que pese a importância, ainda não são contemplados nos Projetos Pedagógicos dos cursos e, portanto, desconsiderados no processo de ensino e aprendizagem. Com isso, cria-se uma lacuna na formação destes profissionais que impacta a inserção profissional em áreas emergentes e dificulta a competitividade com outras profissões. Especificamente focando na evolução tecnológica e profissional do agronegócio brasileiro numa análise superficial das cadeias produtivas, que são basilares para o desenvolvimento nacional e apresentam grandes nichos de oportunidades e expansão estratégica para a profissão demonstra considerável expansão. De acordo com o Perfil do Agronegócio Brasileiro, traçado pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais(2011), o volume de leite inspecionado no Brasil obteve acréscimo de 7% em 9 anos (2000 - 2009), o que em valores absolutos se traduziu em aumento de 7 64_Animal Business-Brasil

O advogado Claude Bourgelat foi o criador da medicina veterinária científica, fundando a primeira escola do mundo.

bilhões de litros de leite inspecionados. Quando avaliada a produção de carne brasileira, constata-se que o consumo per capita de carne bovina passou de 36,9 kg no ano de 2008, para 37,4 kg em 2009. Também houve expansão expressiva do rebanho bovino brasileiro, que apresentava em 2006 - 169 milhões de cabeças e em 2009 - 205 milhões. Na mesma proporção cresceu o volume de abate de bovinos, saltando de 17,1 milhões em 2006, para 28,1 milhões de cabeças abatidas em 2009. A ampliação da taxa de abate foi de 13,7%, revelando aumento de 3,6% em relação ao ano de 2006.

Crescimento das cadeias de produção Outra cadeia importante do agronegócio brasileiro, com reflexos na empregabilidade do médico veterinário, é a cadeia produtiva suína. Ainda segundo o Perfil do Agronegócio Brasileiro, ela apresenta resultados bastante positivos, com a expansão do rebanho suíno, de 31,5 milhões, em 2006, para 38 milhões de cabeças em 2009. A taxa de abate, que apresenta uma curva expressiva, apresentava em 2006 uma taxa de abate de 52,4%, para 81,3% em 2009, com um ganho de produtividade de 28%. De acordo com as Projeções do Agronegócio – Brasil 2012/13 a 2022/23, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2013), a produção de leite no Brasil tem uma projeção de crescimento de 34.230 para 41.304 milhões de litros com variação de 20,7% na produção, 20,2% no consumo, 12,0% na importação


e 33,3% na exportação do produto, mostrando um desenvolvimento da cadeia produtiva e consequentemente nas oportunidades para os profissionais do setor. Se avaliarmos o crescimento da produção de carnes no Brasil, a de carne de frango deve crescer 46,4%, 22,5% na carne bovina e 20,6% na carne suína até 2022/23. Apesar de todas as oportunidades observadas no agronegócio brasileiro na última década, os Cursos de Medicina Veterinária tratam o ensino dos conteúdos da área de alimentos de origem animal, de forma isolada, sem considerá-las como parte de uma cadeia de produção e suas articulações com o mercado. Na verdade, já falamos que as matrizes curriculares, dos cursos de Medicina Veterinária do Brasil, ainda têm como base a estrutura do currículo mínimo de 1984, ministrando disciplinas de forma isolada e desconectada do mundo do trabalho. O modelo adotado obedece à lógica de que, ao final dos estudos, o acadêmico será capaz de agrupar os conteúdos ministrados, fragmentadamente, ao longo do curso. Isso dificulta a visão do todo, não trata a cadeia de produção como um processo. Tal prática fragiliza a formação e interfere negativamente na vida profissional de egressos, com reflexos no desenvolvimento de competências, taxa de inserção e crescimento no mercado e nível de remuneração.

Demanda crescente de produtos inovadores A cada dia surgem novos hábitos, crenças e interesses, que geram constante demanda por produtos inovadores. Além disso, o crescimento da população mundial exige grande esforço no sentido de aumentar a produção de alimentos, de forma sustentável e com qualidade. Essas forças pressionam o varejo da venda de produtos de origem animal – POA que, em efeito cascata, forçam os segmentos subsequentes a melhorarem seus processos, produtos e serviços, na tentativa de atender às necessidades demandadas pela sociedade. Esse processo, complexo, de grande geração de riqueza e de grandes demandas tecnológicas necessita de profissionais com novas competências exigidas para esse processo em constante transformação. Nesse sentido, numa visão contemporânea, as Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN, para o ensino da Medicina

Veterinária, apresentam importantes sugestões que contemplam uma formação que vai além dos conhecimentos técnicos-específicos da profissão. Entretanto, apesar dos dez anos da publicação das Diretrizes Curriculares, ainda não constata-se, de forma consistente, reflexos na operacionalização dos projetos pedagógicos o que dificulta a utilização de um processo de aprendizado dinâmico e consonante com a sociedade em constantes transformações. Embora as Universidades tentem acompanhar a evolução das necessidades da sociedade, elas não conseguem abranger todas as tendências, implementar mudanças dos processos internos e se adaptar às vicissitudes do mercado. No mundo atual, as estruturas das relações, por não serem bem definidas ou previsíveis, exigem que os profissionais possuam certos conhecimentos, habilidades e atitudes que extrapolam os métodos, conceitos e técnicas normalmente fornecidos pelas universidades. A Academia deve ir além disso e desconstruir conceitos e paradigmas enraizados no corpo acadêmico, para que possa descobrir novos caminhos, desenvolver a criatividade em seus alunos e estimulá-los a pensar de forma multidisciplinar e inovadora.

Potencial de expansão da área de alimentos Vimos pelos dados e projeções que o mercado de trabalho da área de alimentos possui excelente potencial de expansão, tanto na indústria, quanto no segmento de serviços. A tendência é que haja ampliação de oportunidades, em quantidade e, principalmente, em qualidade e que surjam novas demandas de profissionais que executem a lógica da produção, que busquem a eficiência e a eficácia dos processos. Dentro deste aspecto, levando em conta o volume e a dinâmica dos processos de produção e consumo de alimentos, há que se entender que a cadeia produtiva se enriquece da cadeia de valor. É exatamente nesse ponto que precisamos vislumbrar novas oportunidades e incluirmos métodos e estratégias pedagógicos que promovam o desenvolvimento de outras competências e habilidades na formação do Médico Veterinário sem, necessariamente, exigir inclusão de novas disciplinas, aumento de carga horária e contratação de docentes. Animal Business-Brasil_65


Raul Moreira

2015: Ano Internacional do Solo Antonio Alvarenga (*)

O

Brasil possui grandes extensões de terras degradadas no cerrado e em algumas regiões da Amazônia, em decorrência de seu uso equivocado e da adoção de práticas inadequadas de manejo. Sabemos que a melhor alternativa para a expansão das áreas de produção agrícola é a reabilitação desses espaços degradados. Temos tecnologia para fazê-lo. No entanto, falta-nos uma política nacional de uso sustentável dos solos e um programa que propicie incentivos adequados para a reabilitação das terras deterioradas. A política de ocupação de nosso território é conduzida por diversos órgãos governamentais, na maioria das vezes sem qualquer coordenação. O Ministério da Agricultura cuida da produção e expansão de novas fronteiras agrícolas; o Ministério do Meio Ambiente trata da criação das unidades de conservação e da regularização ambiental das propriedades rurais por meio do Cadastro Ambiental Rural - CAR; a Funai demarca as terras indígenas; o Ministério do Desenvolvimento Agrário promove a regularização de áreas rurais na região amazônica e a criação dos projetos de assentamento. Há também iniciativas estaduais que influenciam o uso do solo, como é o caso dos zoneamentos ecológicos e econômicos, que orientam e restringem as atividades econômicas em diversas localidades do país. Como se sabe, os solos constituem um recurso natural finito e não renovável, com papel essencial na produção de alimentos, fibras e energia. Precisamos reconhecer e valorizar sua importância como base da segurança alimentar, bem como seu papel fundamental na disponibilidade de água e na ciclagem de nutrientes, sua relação com as mudanças climáticas e sua atuação como fonte ou sumidouro de gases do efeito estufa. Algumas instituições nacionais têm estudado o problema. No entanto, falta prioridade no trato

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do assunto. Precisamos conhecer os solos com mais profundidade e estabelecer regras de uso responsável, garantindo sua conservação para as gerações futuras. Hoje, o conhecimento está fragmentado e desatualizado, dificultando o planejamento do uso das terras em zoneamentos adequados e baseados em tecnologia apropriada, que subsidiem a aplicação de políticas públicas nos âmbitos nacional, estadual e municipal. É necessário e urgente enfrentar esse desafio, implementando um programa nacional de levantamento e mapeamento de solos, que possibilite a obtenção de dados atualizados e permita a elaboração de mapas em escala adequada para identificar nossas potencialidades e fragilidades, as áreas de degradação, riscos de erosão e de contaminação dos solos, dentre outros. Há notável progresso tecnológico em métodos e técnicas de observação dos solos, com o uso de sensores remotos e tecnologia da informação para levantamento dos dados relevantes. Com isso, poderemos suprir a carência de informações e estabelecer políticas mais eficazes de uso de nosso território. A ONU declarou que 2015 será o Ano Internacional dos Solos. A Sociedade Nacional de Agricultura está engajada no debate em torno desse tema tão relevante para o país, com o propósito de lançar as bases para que possamos conhecer melhor nosso território e, assim, proporcionar condições de produzir mais e melhor alimentos, fibras e energia. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


Foto: Eduardo Carvalho

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Foto: Cristina Baran

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