Ano 05 - Número 19 - 2015 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
Flávio Obino Filho
Recuperação das corridas de cavalo
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uma publicação da:
F
lávio Obino Filho, de tradicional família de criadores e turfistas, no seu bem fundamentado artigo – que é a nossa matéria de capa - apresenta uma série de sugestões para o desenvolvimento da criação do cavalo PSI-Puro Sangue Inglês e a recuperação das corridas de cavalo, que já conheceram dias melhores no Brasil. Na sua opinião, essa atividade viveu, no século passado, o seu auge e também o seu declínio, consequência do futebol como esporte de massa e da multiplicidade das opções de lazer além das diversas oportunidades atuais de tentar a sorte oferecidas pelas loterias oficiais. Matéria que merece uma atenção especial dos leitores em geral, e especialmente dos veterinários interessados em residência nos Estados Unidos, é a entrevista concedida pelo médico veterinário oftalmologista Jorge Pereira à jornalista Béth Melo. Pereira conhece em profundidade como funciona uma faculdade de veterinária do Primeiro Mundo tendo sido Adjunct Assistant Professor no College of Veterinary Medicine University of Florida, uma das quatro mais importantes escolas do ramo dos Estados Unidos. “A pecuária, em geral, precisa urgentemente passar por uma revolução tecnológica intensa para ter melhores condições de competitividade com outras atividades do agronegócio. Apesar de ter evoluído muito nas últimas décadas, a pecuária comercial ainda pode melhorar seus índices de produtividade” – é o que nos diz o presidente da ABCZ – Luiz Cláudio Paranhos em seu artigo.
Luiz Francisco Pfeifer, pesquisador da Embrapa-Rondônia, inventou um aparelho simples e muito útil, chamado Vetscore, uma ferramenta “para a avaliação objetiva da condição corporal (CC) de vacas leiteiras”. Veja como funciona na matéria sob o título “Nova ferramenta para avaliar a condição corporal do rebanho”. O Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Marco Antonio Sloboda Cortez, defende que está na hora das mudanças na nossa cadeia láctea. Ele nos dá conta de que a produção de leite no Brasil, que no início do século XX era de 22 mil toneladas, em 2013 chegou a mais de 32 mil toneladas, uma quantidade que ele considera assustadora “pois origina diversos questionamentos”. “Depois dos mosquitos, os carrapatos hematófagos estão em segundo lugar como fonte de transmissão de patógenos aos seres humanos, mas estão em primeiro lugar como fonte de transmissão de patógenos para os animais” – adverte o MSc Matheus Dias Cordeiro na sua matéria “Ecologia da febre Maculosa”. “Os desafios do crédito rural” – de autoria do Mestre em Desenvolvimento Econômico Felipe Prince Silva é mais uma das várias matérias de grande utilidade para o leitor que nos distingue com a sua atenção, como também a que trata do AgroSoftware, da engenheira eletrônica Vanda Scartezini. Esse recurso da informática representa um volume superior a US$ 300 milhões, superior a 2% do mercado interno brasileiro de software.
Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3
Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:
Presidente:
Octavio Mello Alvarenga
Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Maurílio Biagi Filho Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta
CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor
comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado
Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
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Roberto Rodrigues
TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Antônio Ermírio de Moraes Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Senadora Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen
Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Karol Loureiro Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial
É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000
Sumário
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19 22
34 31
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28 45
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54 66 06 12 19 22 25 28 31 34
A hora de mudanças na nossa cadeia láctea O AgroSoftware, as tendências de tecnologia e as oportunidades do Brasil
A produtividade no foco da pecuária
Novo olhar sobre a equinocultura
Um ano para vencer
Ciência e Tecnologia
Nova ferramenta para avaliar a condição corporal do rebanho A Faculdade de Veterinária da Universidade da Flórida oferece residência para mais de 20 especialidades
40 45 48 54 58 62 66
Os desafios do crédito rural
Ecologia da Febre Maculosa Sugestões para o desenvolvimento do Puro Sangue Inglês e a recuperação das corridas de cavalo no Brasil Top News
Pecuária leiteira: tecnologia para o produtor familiar Sebrae-SC e CIDASC ajudam empresas a se adequarem ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal Opinião
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A hora de mudanças na nossa cadeia láctea Por:
Dr. Marco Antonio Sloboda Cortez - Professor associado da Faculdade de Veterinária da Universidade Federal Fluminense (Inspeção e Tecnologia de Leite e Derivados), Mestre e Doutor em Ciência e Tecnologia de Alimentos
É chegada a hora de mudanças. Na realidade, essas são necessárias. Pensamento; Ideologias; Ética. Chega de valorizar apenas os interesses próprios. E não falo de política, falo em relação a um alimento fundamental para a nutrição humana e para a economia do Brasil: o leite.
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empre ouvimos dizer que o leite é um alimento nobre. Sim, em virtude da qualidade nutricional, da facilidade de transformação industrial, do custo relativamente pouco expressivo de obtenção e comercialização e do grande valor econômico, o leite é um dos alimentos de origem animal mais importantes, não só no Brasil, mas em todo o mundo. E salvo algumas exceções, leite é para todos!
Produção mundial A produção mundial de leite vem aumentando nos últimos anos. Mesmo em tempos de desequilíbrio financeiro, a população mundial não parou de beber leite, muito menos de consumir derivados lácteos. Em 2012, a produção mundial de leite foi de 754 mil toneladas, enquanto que em 2002, a produção foi de 606 mil toneladas. E assim como no mundo, a produção de leite no Brasil tem crescido continuamente. Em 2013, 6_Animal Business-Brasil
ela foi de 32,4 mil toneladas, enquanto que no início do século 20, de aproximadamente 22 mil toneladas (FAO, 2014). Pensar em um volume superior a 30 mil toneladas de leite percorrendo anualmente a cadeia produtiva nacional é uma perspectiva reveladora e assustadora. Reveladora, pois demonstra não apenas a força da nossa pecuária leiteira, mas também a potência do nosso parque industrial e do mercado consumidor que apresenta demanda por essa matéria-prima. Assustadora, pois origina diversos questionamentos.
A qualidade Percebo que um dos principais questionamentos é (ou deveria ser): qual é a qualidade deste leite? A qualidade do leite pode ser definida simploriamente como o produto estar apto para processamento e posterior consumo. Mas não é apenas isso. Nossa legislação (acertadamente) exige que esse conceito de qualidade seja traduzido em características físicas, químicas, microbiológicas, microscópicas e sensoriais e que estejam de acordo com o descrito nas legislações. Características que são mensuradas e determinadas por técnicas laboratoriais já validadas. Na Instrução Normativa número 62, publicada em 2011 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), são observados os requisitos que regularizam a conformidade para o leite cru refrigerado, com destaque para a contagem bacteriana (CPP Contagem Padrão em Placas) e Contagem de Células Somáticas (CCS). Resumidamente, a CPP é uma ferramenta importante, pois apresenta relação com o processo
O leite, um dos mais importantes alimentos da natureza, custa menos do que uma garrafa de refrigerante.
higiênico de ordenha e com a adequada capacidade de refrigeração, uma vez que altas CPP estão relacionadas com a falta de higiene na ordenha que propicia a presença de microrganismos contaminantes, e, com a falta de refrigeração, que invariavelmente ocasiona a multiplicação destes contaminantes. Já a CCS é um indicativo de mastite no rebanho. A mastite é principalmente causada por bactérias (Escherichia coli, Staphylococcus aureos, Streptococcus uberis, S. agalactiae entre outras), e está associada com redução na produção dos principais constituintes do leite pelas células secretoras (caseína, gordura, lactose), aumento dos componentes de origem sanguínea (proteínas do soro, cloretos, enzimas, células somáticas etc.) (CORTEZ; CORTEZ, 2008; CORTEZ et al., 2012). Ambas as contagens, quando elevadas, reduzem a qualidade do leite e são um sério problema na pecuária leiteira nacional.
A organização da produção E como estão organizados nossos produtores? Os dados divulgados pelo MAPA, Embrapa, IBGE e associações de produtores diferiram significativamente, na faixa entre 250 mil e 1,5 milhões de produtores, levando em consideração os que comercializam leite ou os que o utilizam como subsistência. Deste montante, quase a totalidade é composta por produtores que produzem menos de 100 litros por dia, mas que, em virtude do grande número, perfazem mais de um terço do volume produzido.
Precisamos de tantos produtores? Talvez não, ou melhor, precisamos dos produtores mais capacitados e satisfeitos com a atividade que exercem. A tendência que vem sendo observada é a redução do número dos produtores de leite, principalmente em relação aos pequenos. Seja por pressão do mercado ou da economia, a quantidade de pequenos produtores de leite vem diminuindo anualmente. As novas exigências da legislação e do mercado, os custos crescentes com mão de obra (e a falta dela), da eletrificação rural e da energia; estes e outros motivos vêm alterando o perfil dos produtores de leite o Brasil. Basicamente, quem não se qualifica, não permanece na atividade, pois somente com técnicas mais avançadas, a produção de leite apresenta lucro. Vale a máxima: “Uma fazenda leiteira é uma empresa e deve ser trabalhada como tal”. E será que entre os produtores que comercializam leite, todos trabalham com um perfil voltado para a qualidade? Adianto a resposta: Não, nem todos. E neste fato reside um dos principais problemas do Brasil: a baixa produtividade por animal. E a partir deste, outros surgem: problemas de sanidade; falta de alimento de qualidade; manejo inadequado; falta de tecnificação, de informações e de infraestrutura. Isso apenas para citar os problemas que afetam as propriedades rurais, pois temos que avaliar também as dificuldades dos estabelecimentos industriais. Nenhum derivado de qualidade pode ser fabricado a partir de uma matéria-prima de quaAnimal Business-Brasil_7
lidade inferior. Nenhum processo tecnológico consegue corrigir um leite com alterações causadas por uma alta quantidade de microrganismos, que utilizam os componentes do leite e modificam as características físicas, químicas e sensoriais. Se a indústria recebe um leite de péssima qualidade, o destino será a fabricação de um derivado também de baixa qualidade.
A fiscalização Um fator que envolve tanto o leite produzido nas propriedades rurais, quanto os derivados beneficiados pelos estabelecimentos industriais, é a fiscalização. A fiscalização tem como objetivo primordial garantir a inocuidade do alimento e assim, a segurança do consumidor. Envolve também outros aspectos, tais como controle da comercialização, manutenção da competição de forma leal e bem-estar dos colaboradores. Teremos estrutura para fiscalizar adequadamente as diversas indústrias lácteas? Infelizmente, por mais que os Serviços de Inspeção (Federal, Estadual e Municipal) e as Agências de Vigilância Sanitária façam esforços para executar suas atividades de forma adequada, esbarram em deficiências. É notória a falta de estrutura em investimento financeiro do Estado, que reflete deficiências de material humano e nas condições de trabalho.
Sugestões de mudanças Poucos concursos, poucas contratações. Poucos fiscais para tantas indústrias, não apenas na área de leite, mas para todos os alimentos. Aqui começam as sugestões de mudança. Melhorar as condições dos serviços de fiscalização; esse é um ponto fundamental para melhorar a qualidade do nosso alimento. Também, aumentar as exigências para a abertura de novos estabelecimentos industriais e intensificar a fiscalização da matéria-prima e dos produtos beneficiados. Aumentar as punições em casos de irregularidades, com multas mais economicamente significativas, ações judiciais mais drásticas e mesmo o cancelamento da permissão de funcionamento dos estabelecimentos em casos mais graves. Estas são algumas ações que poderiam melhorar as ações dos Serviços de Inspeção. Especificamente em relação à qualidade do leite, algumas ações pontuais que envolvem o interesse de várias camadas da sociedade, são:
Incentivar o pagamento por qualidade O pagamento por qualidade é uma política de premiações onde o produtor que produz leite com melhor qualidade, ganha uma bonificação por esse esforço. A premissa inicial é que a fim de melhorar as condições de produção e por reflexo a qualidade do leite, o produtor precisa investir em alimentação e sanidade animal, higiene e sa-
Claudio Fachel/Palácio Piratini
Uma das principais funções da ordenha automática é a produção de leite de máxima qualidade
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nitização, material genético e em diversos outros detalhes envolvidos com o processo de obtenção. Geralmente a cooperativa ou a indústria utiliza os resultados das análises oficiais do MAPA, realizadas nos laboratórios da Rede Brasileira de Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite, como parâmetro para qualificar os produtores. Nos programas de pagamento por qualidade, geralmente, são pontuados os seguintes itens: contagem de células somáticas e de microrganismos; volume produzido; concentração dos principais componentes, principalmente gordura e proteínas; características físico-químicas; entre outros. O grande sucesso destes programas reside no fato do produtor entender que parte do lucro desta bonificação deve retornar à produção, para manter ou mesmo melhorar ainda mais a qualidade do leite e possibilitar futuras bonificações.
Aumentar a interação entre a academia, os estabelecimentos rurais e as indústrias Apesar de alguns passos nesta direção já terem sidos dados, é importante reduzir ainda mais a distância entre o conhecimento mais teórico praticado nas universidades e escolas e a prática da indústria e do campo. E como se alcança isso? Por meio de incentivo à extensão rural e por editais direcionados dos órgãos de fomento.
Políticas de incentivo ao trabalhador rural Pergunte a qualquer produtor rural: “Qual é a maior dificuldade atual em relação à produção de leite?” Muitos irão responder que é a mão de obra. Faz-se necessário melhorar as condições do trabalhador rural, porém sem onerar muito os custos para o produtor.
Melhorar as condições da agricultura familiar e do pequeno produtor Políticas sociais são fundamentais neste campo. Educação, crédito rural e financiamento facilitados, tecnificação, eletrificação rural, estes são apenas alguns fatores que devem ser observados para melhorar a infraestrutura das propriedades rurais.
Intensificar os programas relacionados com a detecção de fraudes e controle de mastite A fraude no leite é um problema que assola nosso mercado. Consumidores têm medo de utilizar leite na alimentação. Temos que reverter esses danos, intensificando a fiscalização e aumentando as punições em casos de fraudes. Mesmo as mais comuns e aparentemente inócuas, como a adição de água, devem ser punidas com multas pesadas e ações judiciais. É necessário que o governo invista na estruturação de laboratórios regionais e na capacitação de indivíduos para detecção destas fraudes. Quanto à mastite, ações pontuais como treinamento de funcionários e intensificação do trabalho dos médicos veterinários são algumas sugestões que podem reduzir os casos desta enfermidade que tanto reduz a qualidade do leite produzido.
Valorizar a atuação dos órgãos de fiscalização É fundamental investir nos mecanismos de fiscalização. Fornecer condições de trabalho adequadas, abrir novos concursos ou aproveitar aprovados dos concursos passados para preenchimento de vagas. Existe uma demanda real de fiscais. Em algumas localidades, um fiscal é responsável por 20 estabelecimentos de alimentos diferentes. Precisamos possibilitar uma maior capacitação do pessoal envolvido com a inspeção de leite e derivados. Incentivar a educação continuada, por meio de programas de pós-graduação e cursos técnicos específicos. Intensificar a troca de informações e conhecimento, por meio de encontros científicos. Enfim, nossa pecuária leiteira precisa de um movimento de incentivo. Leite é um alimento importante, não apenas em âmbito nutricional, mas também social. Gera empregos, fixa o homem no campo, dá subsídios à agricultura familiar. É importante economicamente para o Brasil. E já que é uma época propícia para mudanças e reflexões, temos que lembrar que mesmo as menores, quanto em prol da coletividade, geram uma ação positiva. Vamos trabalhar com mais qualidade e dar chances para que isso ocorra.
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Primeira regra para ficar feliz com a colheita:
pés na terra, mão na massa e ouvidos abertos às orientações do Sebrae. O agronegócio possui um grande parceiro capaz de contribuir para seu desenvolvimento sustentável em todo o estado. Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que no agronegócio não existe bicho de sete cabeças.
www.sebraerj.com.br | 0800 570 0800
O AgroSoftware, as tendências de tecnologia e as oportunidades do Brasil Por:
Vanda Scartezini- Engª Eletrônica; presidente do Conselho da FITEC
O excelente desempenho brasileiro no agronegócio, suas exportações e a posição de primazia do Brasil em diversos segmentos é de conhecimento geral. Os recordes batidos ano após ano são resultados de uma série de fatores, desde o aumento da produtividade nos campos de nosso país até a conjuntura internacional e o aumento nos preços de commodities. Nesta equação, merecem destaque tanto a excelência da Embrapa quanto a participação cada vez mais presente dos chamados Agro Software.
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AgroSoftware no Brasil vem crescendo sistematicamente desde o começo dos anos 2000, atingindo, em 2012, já um volume significativo de US$ 302 Milhões representando já 2.7% do mercado interno de Software no Brasil. Embora tenha caído em 2013, por questões de redução da economia, ainda mantém um patamar de 2.2% do mercado. Os gráficos abaixo mostram a evolução do Setor de Software e serviço nos últimos 10 anos, a posição do Brasil no mercado mundial, assim como a evolução do Software Agro no mercado interno no País. O setor teve um crescimento importante em 2012, mas caiu em 2013. Os dados apresentados são dos estudos anuais da ABES ( Associação brasileira de Software, contratada junto ao IDC ( a mais relevante instituição de pesquisa do Setor de tecnologia da Informação e Comunicação mundial. Os dados são em dólar, referência para viabilizar a comparação com outros países. São mais de 500 tipos diferentes de software disponíveis e embora as empresas sejam em sua maioria de pequeno porte, estão bastante distribuídas pelo país de modo a garantir uma assistência adequada ao cliente.
Software & Serviços Brasil (US$Bilhões) (ranking mundial) 25,95 23,57 20,52 15,65 9,57
2004 (6º)
11,08
11,8
2005 2006 (12º) (13º)
16,82
18,26
13,42
2007 (13º)
2008 (12º)
2009 (11º)
2010 (11º)
2011 (10º)
2012 (7º)
2013 (8º)
AgroSoftware (US$ Milhões) 302 265 205 150 102 56 24,8
28,7
2004
2005
2006
114
73
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
Soluções de TI, embora não substituam o conhecimento do negócio, permitem controles de grande impacto financeiro, como o consumo otimizado de fertilizantes para minimizar os custos decorrentes da alta dos preços do petróleo, ou exigências de rastreabilidade do gado, por exemplo, indispensável para acesso a determinados mercados. O grau de informatização pode ser tão complexo e completo quanto necessário ou acessível a cada unidade rural. O gerenciamento de todos os recursos do negócio rural é essencial para a operação saudável e rentável, viabilizando novos investimentos para a sua expansão. A vulnerabilidade do negócio pode inclusive ser reduzida, minimizando os impactos de fatores incontroláveis da natureza, como fortes mudanças climáticas, aquecimento global, escassez de água, etc, assim como a gestão eficaz da compra e venda das commodities com controle da margem de cada operação pode aumentar energicamente as margens de lucro do negócio tanto do produtor quanto das próprias trades no processo. Embora dados detalhados disponíveis nos estudos da Embrapa (SW AGRO – EsNão existe pecuária moderna sem o auxílio da informática
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“
O grau de informatização pode ser tão complexo e completo quanto necessário ou acessível a cada unidade rural
Mercado de Software por Segmentos em Números Absolutos Gestão / Controle Agropecuário Outros Gerenciamento / Controle de Rebanho Gestão da Produção / Comercialização Base de Dados / Sistemas de Informação Topografia / Solos e Irrigação / Drenagem Otimização de uso do solo Planejamento Agrícola/ Dimensionamento de Instalações
tudo do Mercado Brasileiro de Agronegócio) sejam referidos a 2008-2010, estudos anuais sobre o segmento de software publicado pelo IDC/ABES nos dá dados mais atualizados (não com a riqueza do trabalho setorial da Embrapa) de um crescimento da ordem de 47.3% de 2012 para 2013, mostrando um vigor importante no crescimento do uso de software no Agronegócio no Brasil.
Soluções robustas Verifica-se que as empresas de médio, pequeno e micro portes somam 96% do universo de empresas ofertantes de solução de AgroSoftware. Independente de seu tamanho, as soluções ofertadas são em sua maioria robustas e focadas nas condições locais de solo e modalidade do negócio, resultando em benefício ao proprietário do negócio. Soluções de software existentes no Brasil não visam exclusivamente às grandes proprie dades, muitas soluções são destinadas a pequenas propriedades, agricultura familiar, ou cooperativas que as ofertam como serviço a seus associados. Quando analisamos algumas soluções de AgroSoftware ofertadas no Brasil, não encontramos produtos similares fora de nossas fronteiras, demonstrando que há uma enorme oportunidade de mercado também fora do Brasil.
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Imagens (Processamento e Geração) Controle / Análise Financeira GIS / GPS Manejo Ambiental Gerenciamento / Administração de Propriedades Receituário / Prescrição Compostos Simulações Diversas Gerenciamento de Aves Ovinos-Caprino Cultura Outras Culturas Específicas Cálculo / Prescrição de Alimentação Cálculo de Calagem Meteorológico / Zoneamento Climático e Econômico Geoprocessamento Genético Comercialização de commodities, sementes, defensivos
Entrevistas por nós realizadas desde 2008 junto a empresas nacionais de AgroSoftware apontaram que mesmo empresas muito pequenas manifestam interesse pela atividade exportadora e muitas delas até já tiveram a oportunidade de vender soluções pontuais para o exterior, por terem se dedicado a nichos específicos onde apresentam diferencial competitivo suficientemente interessantes para se dedicarem a outros mercados.
Oportunidade de exportação A oportunidade de exportação se apoia em grande parte na excepcional performance do Agronegócio brasileiro no mercado mundial, despertando interesse dos produtores externos nas soluções usadas pelos empresários nacionais. Cabe também aqui dar uma visão mais geral das diversas soluções de AgroSoftware ofertadas pelas empresas no País, até porque muitas delas podem representar oportunidades com boa aceitação no exterior.
País
Há um importante movimento de mercado que pode mudar o perfil das empresas aqui apresentado. Grandes players de soluções TIC estão incorporando unidades menores com soluções de AgroSoftware. Este movimento de fusão no setor é extremamente relevante para o crescimento da exportação, criando empresas mais fortes, com melhores condições de competir no mercado internacional. Principais ações no movimento de fusões–aquisições: Totvs / Virtus / SAP / RBS.
Acesso à Internet Com a baixa expressiva dos custos de PCs e crescimento do acesso à Internet nas regiões rurais, há uma significativa oportunidade de crescimento doméstico do uso de software agrícola nacional. O País é alvo de intensa visitação de produtores agrícolas de todo o mundo, de modo que a expansão do uso do software agrícola no mercado nacional por certo trará correspondente cresci-
No de fazendas
Uso % PCs nas fazendas
Uso % internet nas Fazendas
2 076 000
63 (35% na gestão)
60
Países Baixos
100 000
60
50
Austrália
73 000
56
53
Reino Unido
69 000
55
45
Canadá
107 000
46
71
Alemanha
170 000
44
32
França
330 000
33
8
Itália
260 000
31
4
Rep. Tcheca
175 000
17
2
Polônia
2 000 000
5
0,25
Espanha
1 000 000
4,5
1
Estados Unidos
Fonte ( USDA)
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“
A oportunidade para o setor de agrosoftware se internacionalizar conta com o apoio das políticas públicas e as do incentivo às exportações
mento das exportações. É uma venda de imagem que já associa a excelência de nossa produção agrícola à imagem do software que ajuda a atingir a alta performance que o setor apresenta. A oportunidade para o setor de AgroSoftware se internacionalizar conta também com o apoio de Políticas Públicas como as de incentivo à exportação. Adicionalmente programas importantes de apoio financeiro ao setor como, o PROSOFT e os editais da FINEP, ajudam as empresas a se capitalizarem e a financiarem tanto a comercialização doméstica como suas exportações.
Software brasileiro Se por um lado muitos países já utilizam soluções para alguns segmentos (como o de gestão da produção, comercialização e até controle agropecuário), por outro lado há não apenas determinados nichos de negócios não explorados por concorrentes internacionais como soluções mais convencionais, mas onde o software brasileiro é bastante competitivo. Um dos melhores exemplos é o setor de Gado de Corte, nos EUA, onde apenas 30% das fazendas utilizam o computador na gestão de seus negócios – embora 51% dos fazendeiros desse setor possuam um computador/Internet. A potencialidade do mercado externo para o software nacional pode ser constatada em muitos países onde, diferentemente do Brasil, o uso de computadores na gestão do agronegócio já atinge índices similares aos americanos, como vemos na tabela abaixo. Vale ressaltar ainda que, em alguns países, o percentual de fazendas equipadas com computadores chega a 60%, mas nem todas utilizam ferramentas adequadas para a gestão dos negócios da fazenda, muitas vezes limitando-se a controles precários como simples planilhas de dados, e não soluções integradas.
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Infelizmente não há dados similares disponíveis sobre os países da América Latina.
Questões fundamentais Aproveitando a eminência de um novo governo no Brasil, é importante que os novos dirigentes e a população interessada em geral tomem conhecimento de questões que mesmo parecendo não essenciais no momento, são fundamentais para o progresso da Nação em um futuro não distante. É o caso da Internet das Coisas ou IoT ( do inglês Internet of Things), uma realidade em diversos aspectos do cotidiano, sendo os mais conhecidos os esforços iniciais, que estão sendo feitos no tema “cidades inteligentes”, principalmente em iluminação pública, mas soluções aplicáveis ao Agronegócio começam a se tornar realidade. Na verdade, independentemente das diversas facilidades que a IoT pode trazer para o dia a dia das pessoas, o impacto significativo que ela tem está mais relacionada aos usos públicos. Uma pesquisa recente da Cisco mostra que o valor gerado pela IoT para o setor público, incluindo aí toda a questão da cadeia alimentar, mundialmente, será da ordem de US$ 4.6 Trilhões e para o Brasil seria da ordem da US$ 70.3 Bilhões. São números relevantes que não podem passar ao largo de construção de políticas públicas para nosso País. Aproveitar as áreas nas quais o Brasil já tem excelência e já participa mundialmente parece ser a coisa mais inteligente a fazer. Deveríamos focar por exemplo em Agronegócios, onde o País já é primeiro do mundo em vários segmentos e tem uma base científica na Embrapa, que é também mundialmente famosa; a construção de soluções a serem utilizadas no ambiente do agronegócio, é, além de atrativa do ponto de vista comercial para a indústria, ainda traz ganhos significativos de competitividade ao setor da agricultura e pecuária.
Uma visão rápida das possíveis aplicações, como ilustrada na figura abaixo, deixa mais claro as vantagens que a IoT pode agregar ao Agronegócio.
Fonte Arraes adaptado por Cassia Isabel Costa Mendes; Deise Rocha Martins dos Santos Oliveira; Anderson Rodrigo dos Santos.
Ilustrando as soluções, algumas já em uso, explicitam melhor estas vantagens. Na produção animal, por exemplo, a identificação e controle dos rebanhos, registro da vida e controle da raça, controle de doenças e otimização de alimentação são usos da IoT no ambiente da pecuária.
Na agricultura, um dos maiores ganhos está na disseminação da agricultura de precisão tanto com sensores específicos ligados ao solo e às máquinas para uso na preparação do solo, na colheita automática somente da produção adequadamente madura, na distribuição de sementes, na questão da irrigação do solo entre outras aplicações Na cadeia alimentícia geral com o controle de origem dos alimentos, no controle de erosão de encostas, no controle e alertas de cheias em canais de irrigação e rios, no controle de contaminação em fronteiras e na circulação de produtos naturais de origem externa no país, enfim são inúmeras as oportunidades de soluções para o Agronegócio. Algumas bases relevantes para o uso da IoT já são disponíveis no País, mas é preciso garantir que sejam de fato disponíveis no campo, como por exemplo o IPv6. O IPv6 é um protocolo da Internet (IP) que, por seu volume de endereços, permite que cada coisa, assim como os computadores ou os smartphones, tenham seus próprios endereços de IP e consiga falar com a outra coisa sem interferência humana. A figura a seguir dá uma ideia gráfica do volume deste novo protocolo
IPv4 x IPv6 - tem endereços para tudo?
IPv6 adress: 2001:1878:900:1::4 IPv4 adress: 192.0.38.31
Padrão novo IPv6 - permite 3,4 x 1038 endereços
Padrão IPv4 - permite 4,3 x 109 endereços = 665 x 1038 endereços/m2 na terra
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À primeira vista parecem números exagerados, mas pensando que cada trator, cada animal dos rebanhos, cada árvore, além dos diversos aparelhos domésticos vão ter seu chip com seu endereço IP, não parece tão absurdo. Mas é fundamental que os provedores de acesso ofereçam o IPv6 a seus clientes no campo. As soluções de IoT serão sempre um conjunto de sensores e de software de gestão destas informações com o objetivo de otimizar todas as ações. Neste sentido, o AgroSoftware desempenhará uma função fundamental para o aproveitamento maximizado do IoT no campo. O Agronegócio, pela sua relevância, deve ser um dos primeiros setores a se valer das vantagens tecnológicas disponíveis visando à obtenção de ganhos de produtividade que somente
“
O agronegócio, pela sua relevância, deve ser um dos primeiros setores a se valer das vantagens tecnológicas
a tecnologia agrícola em si não vai conseguir fornecer. As tecnologias da Informação e comunicação é que serão responsáveis por agregar novo valor ao campo.
Sasa Zivaljevic
Neill McShea
David Mark
Creisi
Anette Jaschinski
O mercado de software é amplo e aplicável em praticamente todas as atividades do agronegócio.
18_Animal Business-Brasil
Jadir Bison
Rebanho Tabapua
A produtividade no foco da pecuária Por:
Luiz Claudio Paranhos, presidente da ABCZ
O aumento da produtividade no setor pecuário deve ser encarado pelos pecuaristas brasileiros como objetivo primordial pois este é o caminho mais viável para que o produtor alcance rentabilidade e consiga manter-se no mercado.
A
pecuária em geral precisa urgentemente passar por uma revolução tecnológica intensa para ter melhores condições de competitividade com outras atividades do
agronegócio. Apesar de ter evoluído muito nas últimas décadas, a pecuária comercial ainda pode melhorar seus índices de produtividade. Um ponto essencial nesse contexto é a necessidade de melhoria das pastagens, pois a quantidade de áreas com produtividade aquém do potencial é imensa. Um pasto quando reformado e passando a ser bem manejado reflete positivamente na produtividade do rebanho, permitindo o rápido desenvolvimento de uma pecuária mais lucrativa e sustentável.
Investimento em genética Ainda quando se fala em aumentar a produtividade não há segredo: um dos insumos mais eficientes e com maior custo-benefício é o investimento em genética. Um dos caminhos para Animal Business-Brasil_19
ABCZ
Uma comprovação dessa realidade está na evolução do volume de reprodutores registrados pela ABCZ em 2014, que no final do mês de novembro já havia ultrapassado os valores de 2013, conforme podemos verificar na tabela abaixo: Touros zebuínos registrados pela ABCZ 2009
2010
2011
2012
2013
2014*
35.115 37.690 41.143 44.869 41.537 42.614 *até novembro/2014
Luiz Claudio Paranhos, presidente da ABCZ
evoluir é usar na prática todas as ferramentas que o melhoramento genético nos oferece e fazer com que a genética zebuína, que vem sendo rapidamente melhorada no Brasil, chegue a um número maior de produtores de forma prática e acessível financeiramente. O impacto da utilização de touros melhoradores na atividade de corte é muito significativo. Em condições adequadas de sanidade e nutrição, os bezerros filhos de touros zebuínos registrados são desmamados, em média, com uma arroba de peso a mais do que os bezerros filhos de touros comuns. Pensando nesses números que de certa forma são estimados, a ABCZ está desenvolvendo um grande projeto em parceria com o CEPEA da Esalq exatamente para mensurar com metodologia científica qual o tamanho do impacto da adoção desta genética em propriedades que nunca as utilizaram. A valorização deles segue a mesma ordem e proporção.
Atividade leiteira Na atividade leiteira o conceito é o semelhante na comparação entre as produções e lactações de vacas criadas com ou sem a genética de um touro provado como pai. Sabendo dessas vantagens os pecuaristas, desde os menores, que acessam recursos de Pronaf para adquirir um ou dois reprodutores, por exemplo, até os grandes investidores desse segmento já dão preferência aos animais com genealogia e números. 20_Animal Business-Brasil
O mercado potencial, segundo dados do Anualpec, para atender mais de 78 milhões de ventres, somando as categorias vaca e novilhas de 2 a 3 anos, demanda mais de 400 mil touros novos por ano. Mas apenas uma minoria dos touros que servem às matrizes nas invernadas do Brasil é formada por animais melhoradores. Matrizes
78 milhões cabeças
Inseminação
-10%
Touros em serviço
2,1 milhões
Touros novos
400 mil/ano
fonte: Informa Economics FNP
O processo de melhoria do rebanho nacional seria, sem dúvida, muito mais eficiente se todos os touros que ingressam no complexo de produção tivessem o registro genealógico da ABCZ e, em um segundo momento, também a avaliação genética do PMGZ (Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos). O comprador de touro está cada vez mais bem informado e sabe o que é melhor para a atividade dele e isso reflete na valorização dos bons animais. Os compradores têm buscado de forma incessante touros equilibrados que aliem os quesitos: expressão racial, conformação frigorífica e avaliação genética positiva para imprimir suas características econômicas no rebanho comercial, garantindo maior lucro ao pecuarista.
Um touro para 50 vacas Um touro bem manejado serve 50 vacas em uma estação de monta e permanece no plantel, em média, por seis anos. Se tudo correr bem
com as fêmeas e a taxa de prenhez chegar a 80%, o reprodutor vai fornecer para a fazenda 240 filhos. Essa relação de retorno econômico é clara para muita gente. Porém, há muito trabalho a fazer. Podemos dizer que menos de 10% dos pecuaristas brasileiros utilizam o melhoramento genético como ferramenta no seu dia a dia. E, por isto, este é o grande desafio para a ABCZ nos próximos anos. Segundo um levantamento feito pela Embrapa Gado de corte, ao usar um touro geneticamente superior para cobrir as vacas do rebanho, o criador consegue obter retorno econômico de 9% por bezerro comercializado, justamente, porque melhora a qualidade do produto e o mercado reconhece e paga por isso.
Ações governamentais Mas é claro que dependemos de muitas ações governamentais para ampliar a produtividade do setor. É fundamental que os governos estaduais e federal coloquem o setor pecuário como prioridade em suas agendas. Precisamos avançar muito em áreas como logística, sanidade, linhas de créditos e obtermos maior investimento em pesquisa e aplicação de tecnologias no campo. Fazendo o dever de casa corretamente, teremos grandes chances de fazer crescer os núme-
ros do Agronegócio Brasileiro, que atualmente já são significativos perante a economia nacional: mais de 22% do PIB e de 25% dos empregos. Dessa forma, aumentam também as chances para abertura de novos mercados e a expansão dos já existentes, o que é extremamente importante para o país, especialmente, para que o Brasil continue sendo reconhecido como um gigante no setor agropecuário em nível mundial.
Expectativa positiva A expectativa é muito positiva para os produtos pecuários brasileiros nos próximos anos. Segundo a APEX Brasil, entre 2014 e 2018, a expectativa é de que o consumo mundial de carne cresça anualmente em torno de 5,29%, com destaque para países da Ásia, América Latina, África e Oriente Médio. O consumo de leite e derivados também deve crescer no mesmo período, em torno de 5,53% anualmente. É dever da ABCZ trabalhar para que o Brasil conquiste os mercados onde as raças zebuínas têm plena potencialidade para se desenvolver e auxiliar para que o melhoramento genético esteja cada vez mais presente no rebanho do nosso país, para que a carne e o leite produzidos cheguem com mais qualidade à mesa do consumidor, esteja ele onde estiver.
Jadir Bison
Rebanho Nelore
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Novo olhar sobre a equinocultura Por:
Roberto Arruda de Souza Lima-Prof.Dr da ESALQ/USP – Coordenador do Grupo Equonomia
Um publicitário dinamarquês, Bjarke Rink, que há muitos anos tem contribuído, e muito, para equinocultura brasileira através tanto de sua escola (Desempenho) quanto pelo seu instituto (Homo-Caballus) escreveu um artigo comparando a indústria do cavalo com a indústria automobilística, com o título “Um balanço da horse power do Brasil”. Se faltou robustez econômica (e não era obrigação do autor dominar os aspectos econômicos), foi uma importante peça de marketing, que trouxe à tona a relevância econômica e social da equinocultura. Após trabalhos mais recentes, ainda é interessante retomarmos o exemplo da indústria automobilística para discutirmos a equinocultura brasileira.
A
o longo dos anos, desde Juscelino Kubitschek, os governos têm demonstrado forte preocupação com a indústria automobilística no Brasil. Não foi diferente este ano, logo após as eleições, quando representantes da indústria foram recebidos em Brasília e saíram com a certeza de que o setor permaneceria com políticas de incentivo e apoio. Isto porque é geradora de empregos e movimenta a economia muito além da montagem de veículos. A equinocultura ainda não recebe o mesmo tratamento, embora guarde fortes semelhanças, além de também ser forte geradora de empregos e ter efeito multiplicativo sobre a economia. 22_Animal Business-Brasil
No automobilismo, a elite está na Fórmula 1. Brasileiros de destaque atuam e moram no exterior e é inacessível para a grande maioria da população. Entretanto, seus admiradores movimentam fortemente a economia (quantas camisetas, bonés e outros artigos de escuderias são vendidos anualmente para pessoas que nunca viram uma Ferrari de perto? Há apoio do governo para autódromos e para realização de eventos no Brasil (não apenas Fórmula 1), mas outras categorias. Apoia-se a elite sabendo que tecnologias e benefícios acabam atingindo também toda cadeia, até os carros populares. O novo governo tem a oportunidade de reescrever a política de enxergar que, assim como automobilismo não só o circo da Fórmula 1, o cavalo não é apenas um esporte de elite. Ao contrário, a força está no cavalo de lida e nos animais de esporte e lazer para as diversas classes sociais. Nesse complexo são gerados mais de três milhões de ocupações e seu PIB supera R$ 13,5 bilhões.
Crédito Há necessidade de crédito rural com a mesma facilidade de acesso para as demais atividades agropecuárias. A tração animal deve ter linhas de fomento iguais, ou, pela sua relevância social, maiores que aquelas para a frota mecanizada. A Fórmula 1 da equinocultura, com suas provas de velocidade com Puro Sangue Inglês e Quarto de Milha, deve ser olhada com a atenção similar ao automobilismo, dedicando cuidados, inclusive fiscais, aos hipódromos e toda indústria que movimenta, como a de saúde animal. Não faz sentido diferenciar tributariamente medicamentos para equinos daqueles para,
por exemplo, bovinos. Seu uso não é predominantemente para elite e hobby, mas para uma atividade pecuária produtiva e forte geradora de empregos.
Saúde A saúde da tropa, historicamente pouco contemplada nos recursos da Defesa Animal deve ser priorizada. Não se pode tolerar a ocorrência de doenças como o Mormo nem faltar com prevenção de outras, como a Febre do Oeste do Nilo. Necessita-se de recursos financeiros e humanos.
Infraestrutura Da mesma forma, a infraestrutura deve ser revista e receber obras urgentes. O Brasil conta apenas com um aeroporto preparado para o transporte (importação e exportação), Viracopos, sendo montadas estruturas provisórias para eventos em outras regiões, implicando em soluções não ótimas do ponto vista econômico.
Mão de obra A formação de mão de obra requer apoio urgente. O segmento de selaria, responsável por mais de 10 mil postos de trabalho direto pode desaparecer em prazo não muito longo caso não seja valorizada a formação de jovens ingressantes, que hoje são atraídos para outras atividades, especialmente as urbanas. Ainda no aspecto formação de mão de obra, há necessidade de regulamentar as inúmeras escolas de hipismo. Trata-se desde aspectos de segurança para os alunos até a evolução técnica, com ênfase no bem-estar. Os pontos destacados nos parágrafos são importantes e devem constar das tarefas a serem realizadas no curto prazo pelo novo governo. Mas há um ponto igualmente importante que é pré-requisito para diversas ações. Não se pode fazer uma política eficiente, tomar ações corretas, se não conhecemos a real dimensão da tropa, do número de cavalos existentes no Brasil. Para alguns pode ser surpreendente, mas não sabemos o efetivo exato.
Projeto Equoterapia ESALQ-USP
A equoterapia é universalmente aceita como auxiliar no tratamento de determinados distúrbios neurológicos
Animal Business-Brasil_23
Regimento de Polícia Montada (RPMon) “9 de Julho”
“
A cada divulgação do Censo Agropecuário há um ajuste nas estimativas da PPM - Pesquisa Pecuária Municipal
A Polícia Montada é eficiente no controle de distúrbios nas grandes cidades.
Dimensão da tropa Os dados oficiais, em nível nacional, encontram-se em dois levantamentos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE): Censo Agropecuário (realizado esporadicamente) e Pesquisa Pecuária Municipal (PPM, realizada anualmente). E os números são divergentes, como pode-se observar na Figura 1. Figura 1 - Brasil: Evolução do efetivo de equinos, de 1970 a 2012 Milhões de cabeças
7,0 6,5 6,0 5,5
de coleta do IBGE, que obtém os informes e subsídios para a consolidação dos resultados finais”. É interessante observar que a cada divulgação do Censo Agropecuário há um ajuste nas estimativas do PPM. Mas a dificuldade está além da divergência de valores entre os levantamentos. Nem as duas pesquisas mensuram adequadamente todos os estabelecimentos onde há cavalos. Tanto o Censo Agropecuário quanto a PPM foram desenhados para estudos sobre o meio rural, onde se encontra o gado bovino, mas muitos cavalos vivem em centros urbanos. Os animais das baias nos jóqueis clubes e hípicas das cidades, como Rio de Janeiro e São Paulo não existem para efeito das pesquisas citadas.
5,0
Levantamento criterioso
4,5 2012 2010 2008 2006 2004 2002 2000 1998 1996 1994 1992 1990 1988 1986 1984 1982 1980 1978 1976 1974 1972 1970
4,0
PPM
Censo
Fonte: IBGE (2014)
Enquanto o Censo é uma pesquisa que visita os estabelecimentos, a PPM é uma estimativa. Segundo o próprio IBGE, na Pesquisa Pecuária Municipal “os dados são obtidos pela Rede de Coleta do IBGE, mediante consulta a entidades pública e privada, produtores, técnicos e órgãos ligados direta ou indiretamente à produção, comercialização, industrialização, fiscalização, fomento e assistência técnica à agropecuária. A coleta de dados baseia-se num sistema de fontes de informação representativo de cada município, gerenciado pelo agente 24_Animal Business-Brasil
Assim, há necessidade de realizar um levantamento criterioso do efetivo da tropa brasileira em substituição aos números do Censo ou da PPM. Tal levantamento é essencial para o adequado dimensionamento das políticas, assim como para refinar as estimativas econômicas ligadas à equinocultura. Há muito que fazer pela equinocultura nacional. Novas políticas são necessárias, algumas prioridades foram citadas ao longo desse texto, mas, principalmente, é fundamental um novo olhar. Enxergar que a equinocultura é uma atividade pecuária com relevância econômica e social, muito além de um hobby elitista, merecendo cuidados e políticas ao menos similares às outras atividades pecuárias e, como dito, não distante da protegida indústria automobilística.
Um ano para VENCER Roberto Rodrigues – Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas e Presidente da Academia Nacional de Agricultura (SNA )
No momento em que um novo governo federal se instala em Brasília (a Presidente da República é a mesma, mas o resto do time principal está bastante mudado), vivemos um cenário muito difícil para os próximos meses ou até anos. O crescimento do PIB brasileiro de 2014 mal chegou a 0,3%, as contas públicas estão tão desarrumadas que o governo precisou mudar as regras do superávit primário para não ficar fora da lei, depois de muitos anos, tivemos déficit comercial, a inflação deu um susto, o mundo não está bem das pernas (salvo os Estados Unidos), e os economistas fazem sombrias previsões.
Ajustes complicados Raul Moreira
Por:
Calculam que em 2015 a nova equipe econômica, que goza da confiança do mercado, terá que fazer ajustes complicados. Virá um aumento de impostos para alimentar os exauridos cofres federais, a taxa de juros deve subir, dei-
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“
O agro brasileiro segue marcando sua inegável capacidade de produzir com sustentabilidade e competitividade
xando o crédito mais restritivo e seletivo, o real seguirá desvalorizado, talvez o emprego não cresça... Tudo isso pode reduzir investimentos, o que leva a menos desenvolvimento, com crescimento também pífio, ao redor de 0,5%. Neste quadro sombrio, o problema da corrupção na Petrobras e outras instituições, somado a um Parlamento renovado em cerca de 30%, mas ainda fragmentado, são outros fatos negativos, além da disputa dos diferentes partidos da base por cargos no alto escalão. Certamente voltará muito depressa o tripé fundamental do combate à inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal, mas a combalida indústria, a paradeira na construção civil, a falta de água e eventual problema de suprimento de energia e a queda dos preços das commodities não permitirão uma rápida recuperação da economia.
Sem inflação nem recessão Mesmo assim, a opinião geral nos meios acadêmicos é que não teremos inflação nem recessão e o desemprego não deverá aumentar significativamente. Em outras palavras, temos que confiar na nova equipe econômica e no novo ministério, dando ao governo o tempo necessário para corrigir rumos e buscar a retomada de investimentos, única maneira de reverter o quadro atual e voltar a crescer com consistência. Aliás, empresários de todo o mundo estão esperando um sinal positivo, com segurança jurídica, para investir no Brasil. Afinal, não estão sobrando muitos países grandes onde se
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possa investir tranquilamente. A própria China começa a dar sinais de redução de seu notável modelo expansionista.
A inegável capacidade de produzir do agro Enquanto isso, o agro brasileiro segue marcando sua inegável capacidade de produzir com sustentabilidade e competitividade. O crescimento do PIB do setor em 2014 foi maior do que o nacional, como de resto tem sido sistematicamente. Mesmo a brutal seca que afetou duramente as principais culturas permanentes ou semipermanentes do centro-sul e do sudeste, como a cana-de-açúcar e a laranja, reduzindo a produtividade, os agricultores não desanimaram e seguem sua missão de gerar empregos, riqueza e renda para ao país. O café, também atingido pela seca, teve aumento de preços, compensando parte das perdas, fato que não ocorreu com açúcar e suco de laranja por causa da grande oferta mundial destes produtos. O saldo comercial do país só não foi mais desastroso graças ao desempenho positivo das exportações do agro, apesar da queda de preços internacionais de várias commodities como soja, milho e algodão.
As carnes superaram as expectativas É bem verdade que as carnes superaram toda e qualquer expectativa mais otimista, com expressivo aumento de preços, seja por causa
da reduzida oferta global com demanda crescente, seja pela decisão de americanos e europeus de boicotar a exportação de carnes para a Rússia, abrindo espaços para nós. Conab e IBGE informam uma outra possível safra recorde de grãos em 2015. Talvez isso não ocorra em função do atraso das chuvas da primavera, o que empurrou o plantio da primeira safra para a frente, perturbando a possibilidade de boa segunda safra, especialmente de milho. Mas será uma grande colheita, de qualquer maneira. Com todos estes problemas, o agro ainda salvará as contas brasileiras em 2015. Haverá algum sofrimento, sobretudo nas áreas de fronteira, em que as margens serão mais estreitas em função também da logística ainda precária. Mas não haverá uma crise de renda como a que tivemos em 2004/2005, quando os preços caíram, os custos subiram e a seca arrebentou com as safras do sul e do centro-oeste. O único setor sob grave risco é o sucroenergético, mas espera-se que o novo time retome a CIDE sobre a gasolina, aliviando a profunda crise aí instalada pelo fato do governo ter decidido combater a inflação segurando os preços da gasolina enquanto os custos do etanol subiram, tirando-lhe competitividade.
É imperioso investir em infraestrutura Em todo caso, é essencial olhar com redobrada atenção para o campo. Os custos subirão em 2015 por causa do dólar mais valorizado, os preços das commodities não deverão subir, dada a crescente oferta mundial, de modo que medidas fortes precisarão ser tomadas em defesa da renda rural, em um cenário, descrito acima, de duro ajuste fiscal e monetário pela frente. Portanto, 2016 pode ser um ano de problemas maiores no Brasil agropecuário. Mais do que nunca é imperioso investir em infraestrutura, numa política de renda com ên-
fase para o seguro rural (que inclua os riscos de mercado e não apenas o climático), numa política comercial mais agressiva com acordos bilaterais com grandes países consumidores, abrindo a porta para agregação de valor, com atenção para a defesa sanitária, com mais investimentos em tecnologia e, em suma, com uma articulada estratégia para o setor, há tanto tempo reclamada.
Kátia Abreu sabe do que o setor precisa E temos grande chance de isso acontecer: além de uma competente e firme equipe econômica, teremos no Ministério da Agricultura a presidente da CNA, senadora Kátia Abreu, maior líder da agropecuária brasileira, que sabe perfeitamente o que o setor necessita para seguir sendo o eixo da roda do desenvolvimento da economia nacional. Contará também com a ajuda do novo Ministro de Indústria e Comércio Exterior, Armando Monteiro. Ele próprio um líder de seu segmento, e que sempre apoiou, como presidente da CNI, as demandas nossas. E, principalmente, Kátia é amiga pessoal da Presidente Dilma, cacife fundamental para o sucesso de um Ministro da Agricultura. “La lucha es cruel y es mucha”, cantaram Mores e Discepollo em seu famoso tango “Uno”. Mas temos o essencial para vencê-la: gente capaz, decidida e corajosa.
Uma luta maravilhosa Essa mesma gente que fará o Brasil ser o campeão mundial da segurança alimentar e, consequentemente, o campeão mundial da paz, visto que não haverá paz sem mesa farta para todos. Este é o nosso formidável desafio. Esta é a nossa luta maravilhosa. Vamos a ela, com confiança e destemor.
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Lopes Cavalcante
Nova técnica multiplica número de abelhas-rainhas Desenvolvida por pesquisadores do Núcleo Amazônia Oriental EMBRAPA, da Universidade de São Paulo e da Universidade Federal Rural do Semiárido, a técnica transforma todas as abelha sem ferrão recém-nascidas na colmeia em abelhas-rainhas e pode facilitar a polinização de lavouras no país, aumentando a produtividade dessas plantações em até 40%. Para multiplicar o número de rainhas, as larvas recebem uma quantidade seis vezes maior de alimento – uma mistura de pólen com secreções de abelhas operárias – do que o normal. Dessa forma, todas as abelhas fêmeas superalimentadas se tornam rainhas, o que não ocorre normalmente.
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Pelo de Poodle é similar à lã de carneiro e pode virar roupa para pets, mostra pesquisa Os pelos de cães da raça Poodle apresentam características idênticas à lã de carneiro e podem ser utilizados pela indústria têxtil para fabricar roupas, entre elas as de cães de estimação (pet, em inglês). É o que mostra a dissertação de mestrado do pesquisador Renato Nogueirol Lobo, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. “Trata-se de uma alternativa para diminuir a quantidade de pelos descartados em pet shops por meio da reciclagem desses resíduos”, diz o pesquisador, explicando que os testes realizados com fios de pelo de Poodle constataram que eles são semelhantes aos de lã de carneiro quanto à maciez, tingibilidade (capacidade de receber corante), alongamento, absorção de líquido e isolamento térmico.
Renato Nogueirol Lobo
Divulgação
Por: Adeildo
JBS produz biodiesel de sebo bovino com tecnologia própria e exporta
JBS
A JBS, empresa que atua na produção e comercialização de carne bovina, entre outras atividades, passou a produzir, com tecnologia própria, biodiesel de sebo bovino e já registra uma conquista importante: fechou o primeiro contrato para exportação de uma parte do produto. São 6,7 milhões de litros, adquiridos pela empresa holandesa Argos, maior distribuidora independente de combustíveis do norte da Europa. Essa é a primeira vez que o Brasil exporta combustível dessa espécie. O sebo bovino é a segunda matéria-prima mais utilizada no país para produção de biodiesel e antes de seu aproveitamento com essa finalidade era considerado um resíduo da indústria frigorífica e, na maioria dos casos, descartado no meio ambiente.
Carne suína: menos colesterol do que a carne de boi e de frango Pesquisa realizada na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), em Campinas (SP), mostra que o teor de colesterol da carne suína (bisteca e lombinho) é de 49 miligramas em cada 100 gramas, enquanto na carne bovina (contrafilé) o índice é de 51 miligramas. Na de frango, é de 58 miligramas. O teor de colesterol do pernil suíno é de 50 miligramas em cada 100 gramas, enquanto na carne escura do frango o índice é de 80 e, no coxão duro do boi, 56. Comentando o resultado da pesquisa, a zootecnista Neura Bragagnolo, autora do estudo, diz que ele “joga por terra o conceito generalizado de que a carne de suíno é prejudicial à saúde”.
Fabricante de rações e suplementos para animais, a Guabi desenvolveu um produto para equinos inédito no Brasil. É o Horsecrek, suplemento alimentar para ser utilizado em cavalos após passeios, competições e treinamentos. De sabor de caramelo, o suplemento é indicado para desestressar o cavalo após um dia na lida. Ele contém, entre outros elementos, o tripofano, que é um aminoácido essencial para o cérebro, com vitaminas, magnésio e cromo para a produção de serotonina, que proporciona bem-estar ao animal. Divulgação
Divulgação
Guabi desenvolve e lança no mercado produto inédito para cavalos
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Divulgação
Novo soro para diarreia de bezerro, doença mortal (na maioria dos casos) Trata-se de uma solução adaptada por pesquisadores do Núcleo Pecuária Sudeste da EMBRAPA, empresa de pesquisa agropecuária do governo federal. O medicamento contém íons bicarbonato, sódio, cloreto, potássio e glicose e pode ser misturado e produzido na propriedade rural, prevenindo a desidratação e a acidose me-
tabólica, que são as causas mais frequentes de morte em bezerros com diarreia. A administração é via oral (de quatro a sete litros por dia) logo após o aparecimento dos primeiros sintomas da diarreia. A utilização precoce da soroterapia evita a necessidade de tratamentos por via endovenosa, necessários em casos graves.
Divulgação
Primeira vacina brasileira contra salmonelose aviária
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A vacina, desenvolvida na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), em São Paulo, na unidade Jaboticabal, foi preparada com bactérias vivas e imuniza aves de corte e postura contra infecção por salmoneloses, entre elas o tifo aviário, que pode provocar a morte de até 80% das aves afetadas. A forma de uso da vacina é oral (adicionada à água de bebida dos animais), dispensando a aplicação individual. Dotada de uma cepa bacteriana geneticamente modificada, o medicamento evita o estresse de manejo por injeção e elimina os riscos de lesões por manipulação, proporcionando o bem-estar das aves.
Nova ferramenta para avaliar a condição corporal do rebanho Por:
Luiz Francisco Pfeifer – pesquisador da Embrapa Rondônia e inventor do Vetscore
O Vetscore, ferramenta para avaliação objetiva da condição corporal (CC) de vacas leiteiras, surgiu para contribuir com o produtor, principalmente no que diz respeito à tomada de decisões do manejo nutricional que, consequentemente, terão impacto direto na produção de leite e na eficiência reprodutiva do rebanho. É o primeiro
método preciso de avaliação de condição corporal de bovinos desenvolvido e já foi realizado o depósito de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Agora, a Embrapa estuda estratégias para disponibilizar o produto no mercado. A Embrapa prevê que o Vetscore já esteja disponível no mercado brasileiro em breve.
Renata Silva
Pesquisador Luiz mostra o Vetscore para Gilsonmar
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Renata Silva
O Vetstrone é fácil de usar
O
dispositivo surgiu da necessidade do produtor em aumentar a eficiência reprodutiva e de produção de leite do rebanho, eventos que somente melhoram com o adequado manejo nutricional. Vacas desnutridas ou com alimentação desbalanceada produzem menos, possuem pior eficiência reprodutiva e são mais susceptíveis às doenças, principalmente no período após o parto, no qual a exigência nutricional é maior. A soma desses fatores levam à infertilidade e o consequente descarte precoce do animal do rebanho. Além disso, quanto mais especializado na produção de leite é o animal, maior é a exigência nutricional. Dessa forma, podemos observar que para um rebanho obter bons índices de produção leiteira associada a uma adequada performance reprodutiva é necessário que a vaca esteja com suas exigências nutricionais supridas. Assim, para que o produtor possa monitorar a exigência nutricional através da avaliação da condição corporal dos animais é que o Vetscore foi concebido, tornando-se um forte aliado do produtor.
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Fertilidade Atuo na área de reprodução animal na Embrapa Rondônia e sempre convivi com o desafio de aumentar a fertilidade do rebanho leiteiro, entretanto, todos os estudos e a vivência demonstravam que para se iniciar um bom programa de reprodução em um rebanho, era necessário acertar as dietas e o manejo nutricional, caso contrário os protocolos de inseminação e inseminação em tempo-fixo não iriam ter sucesso. Dessa forma, o desafio era desenvolver um método onde o próprio produtor poderia detectar quais animais necessitam de suplementação e/ ou melhorar a dieta para que somente depois melhorasse o manejo reprodutivo. Desde a concepção da ideia até o desenvolvimento do dispositivo Vetscore foram necessários quase três anos de estudos e avaliações. Para validar a técnica e o funcionamento do dispositivo foram avaliadas vacas Girolando e Nelore de rebanhos do estado de Rondônia. Por enquanto o método está validado para essas raças, entretanto,
“
O aparelho não fornece nenhum número para o produtor e sim um diagnóstico sobre a condição de cada animal
ações de pesquisa já estão em andamento para se realizar dispositivos Vetscore para as raças de bovinos Angus, Hereford, Jersey e Holandês, além de ovinos deslanados e caprinos.
Aparelho simples O Vetscore é um aparelho simples que mede o grau de deposição de gordura corporal do animal. Vacas de leite, principalmente, passam por períodos críticos de estresse nutricional pós-parto, onde o animal perde condição corporal pela “queima de gordura” depositada. Essa perda de CC leva o rebanho a diminuir o potencial produtivo e afeta drasticamente a performance reprodutiva durante os primeiros meses de lactação. Portanto, o monitoramento da CC durante este período é de suma importância para que o produtor possa adotar medidas de manejo nutricional para reduzir as perdas de CC e, consequentemente, aumentar a lucratividade e o potencial produtivo do rebanho. Neste âmbito é que o Vetscore pode auxiliar o produtor, pois com a utilização dessa ferramenta, ele pode monitorar o estado nutricional do rebanho de forma rápida, simples, barata e precisa. Uma das vantagens do Vetscore em relação ao método tradicional de avaliar CC (visual, subjetivo), é que essa tecnologia é de fácil aplicação e qualquer produtor pode utilizá-la, mesmo aqueles sem o mínimo conhecimento anatômico do animal e/ou conhecimento das exigências nutricionais do rebanho. Além disso, a avaliação da CC através do Vetscore pode ser feita no próprio local de ordenha, pois não há necessidade de uma ampla visão de todo o corpo do animal, como é o caso das avaliações subjetivas “a olho nu”. Estima-se que se o produtor adotar a prática de utilizar o Vetscore quinzenalmente e tomar as medidas nutricionais necessárias para que o animal possa atingir seu máximo potencial produtivo, a produtividade do rebanho pode aumentar em pelo menos 25%.
Outra vantagem do Vetscore em relação ao método tradicional é que ele não fornece nenhum número para o produtor, e sim um diagnóstico sobre a condição nutricional de cada animal. O Vetscore indica se o animal está com CC baixa, adequada ou muito alta, permitindo que o produtor possa tomar a decisão mais acertada para o manejo daqueles animais que se apresentam em CC baixa e muito alta.
Como funciona O Vetscore é um dispositivo que converte diretamente o ângulo formado entre os dois lados da garupa de fêmeas bovinas em escalas de condição corporal. Ele foi desenvolvido para avaliar a condição corporal exclusivamente de fêmeas, tanto de leite quanto de corte e possui uma precisão de mais de 80%. Para a avaliação, o aparelho deve ser colocado na região da garupa da vaca, aproximadamente na porção média. O Vetscore converte o ângulo formado em três escalas de cores que indicaram o estado nutricional do animal: vermelho, indicando que o animal está abaixo da CC adequada; verde, indicando CC adequada; e o amarelo, indica que o animal está com excesso de gordura. A utilização da escala por cores facilita a avaliação imediata do animal e torna-se mais rápida e prática ao produtor, principalmente ao avaliar muitos animais. Com essas informações em mão e associadas às práticas agropecuárias adequadas, o produtor pode atingir o máximo de eficiência do rebanho e, consequentemente, obter maior retorno econômico. Por meio do adequado uso da informação obtida com o Vetscore, o proprietário terá o máximo retorno com cada animal. As ações de manejo permitirão, por exemplo, que as fêmeas retornem logo ao cio após o parto e, consequentemente, melhorem as taxas de serviço e concepção logo após o período voluntário de espera (PVE – Período de Descanso do Animal Após o Parto). Se usado adequadamente, essa prática pode ainda representar um ganho na produção de leite do rebanho, pois quanto maior a eficiência reprodutiva, maior será a produção de leite ao longo do tempo. Para citar um exemplo, em vez das fêmeas terem um parto a cada 22 meses – média no estado de Rondônia –, as fêmeas podem ter um parto a cada 14 a 16 meses, se adotadas as medidas nutricionais adequadas. Animal Business-Brasil_33
A Faculdade de Veterinária da Universidade da Flórida oferece residência para mais de 20 especialidades Por:
Béth Melo entrevista Jorge Pereira
Assim como o Brasil, um dos mais importantes países do mundo na produção de proteínas de origem animal, e no petbusiness, os Estados Unidos têm ótimas faculdades de medicina veterinária dentre as quais a da Flórida é uma referência. Jorge Pereira foi Adjunct assistant professor do College of Veterinary Medicine University of Florida (CVMUF) no período de 2002 a 2005. Atual diretor do Centro de Estudos, Pesquisa e Oftalmologia Veterinária (CEPOV Rio) e da Clínica Animal Teresópolis, fala, em entrevista exclusiva para a Animal Business, sobre o ensino de medicina veterinária nos Estados Unidos, com destaque para a Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida (CVMUF). Instituição única deste Estado norte-americano, o CVMU é referência em qualidade. “Seu programa de residência abrange mais de 20 especialidades e é disputado por graduados de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil. O programa da pós-graduação strictu sensu, por exemplo ( níveis mestrado, doutorado e pósdoutorado) completa 530 diplomados mestres ou doutores. 34_Animal Business-Brasil
Revista Animal Business – Faça um breve resumo sobre o ensino de medicina veterinária nas universidades norte-americanas. Jorge Pereira - No período entre a última metade do século XIX e meados do século XX, 41 escolas de Medicina Veterinária nos EUA, a maioria delas privada, deixaram de existir. Hoje, nos EUA, existem apenas 28 escolas de Medicina Veterinária, a primeira delas fundada em 1879. Destas, 18 foram estabelecidas até 1959. Entre 1973 e 1998, mais dez escolas foram abertas. Estudiosos da história da Medicina veterinária afirmaram que, na década de 1970, o escritor James Herriot (James Alfred Wight) despertou um interesse tão fenomenal pela medicina veterinária com seus livros sobre animais e seu envolvimento com os seres humanos, que os governos estaduais foram forçados a construir faculdades, para que a população tivesse acesso a uma educação nesta área. Hoje permanecem 28 escolas nos EUA e apenas 5 no Canadá. AB - Quando foi fundada a Faculdade de Veterinária da Universidade da Flórida? JP - A escola de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida (CVMUF) – a única deste Estado norte-americano – foi fundada em 1975, com destinação de uma parte da área de 2000 acres da Universidade para o Hospital Veterinário e o ensino de Medicina Veterinária (VTH), a oeste do campus, na UF Archer Road, no total de 120 acres, e que veio a se transformar no Centro de Ciências da Saúde. Conta, atualmente, com cerca de 550 estudantes, distribuídos
nos diversos períodos letivos e contabiliza 2762 alunos, entre atuais ex-alunos. Em seu programa de residência, que contempla mais de 20 especialidades, encontram-se graduados de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil. O programa da pós-graduação strictu sensu – níveis mestrado, doutorado e pós-doutorado – totaliza 530 diplomados mestres ou doutores. AB - Qual a filosofia básica da Instituição? JP - A missão da escola de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida tem sido, desde a sua fundação, principalmente educar estudantes para atender às necessidades da Flórida e de outras localidades além do Estado; proporcionar experiências educativas clínicas com todas as principais espécies animais para os estudantes, estagiários e residentes de serviços, incluindo veterinários e donos de animais, através dos hospitais veterinários da UF e dos programas de extensão; desenvolver novos conhecimentos por meio de pesquisas de ciência básica,
pesquisa clínica e programas educacionais; disseminar conhecimento para os veterinários e outros grupos que necessitam dos serviços do colégio; preparar a próxima geração de educadores e pesquisadores por meio dos programas de pós-graduação nível mestrado e doutorado, estágios e residência; e trabalhar em sinergia com o Instituto de Alimentos e Ciências Agrárias e do Centro Acadêmico de Saúde da UF, para o avanço do conhecimento biomédico e agrícola, importante para a medicina veterinária. AB - Como foi a evolução do CVMUF? JP - Em 1976, uma primeira turma, com 40 alunos, foi admitida na faculdade de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida. Em 1977, o CVMUF montou o primeiro serviço diferencial do Estado, dedicado exclusivamente à medicina de animais silvestres. Foi no ano de 1980 que a escola recebeu a acreditação plena, concedida pela Associação de Medicina Veterinária do Estado da Flórida,
Dr Maurilio Rosa, DVM - MsC
O oncologista Kelvin Kow examinando o olho de um cão na Enfermaria Oncológica.
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Dr Maurilio Rosa, DVM - MsC Dr Maurilio Rosa, DVM - MsC
Cavalo em preparo para Tomografia
Câmara Bariátrica
por ocasião da formatura de sua primeira turma. Seguindo o propósito de se tornar uma das mais conceituadas e competitivas escolas de Medicina Veterinária dos Estados Unidos, após a nomeação, em 1981, do Dr. Kirk Gelatt como decano da Faculdade, no ano seguinte foi criada por especialistas em Medicina de Equinos da entidade a primeira unidade de cuidados intensivos (“Intensive Care Unit – ICU” ou UTI no Brasil), exclusivamente para potros neonatos. No ano seguinte, com esforços dos Drs. Maarten Drost e Wyland Cripe, pioneiros em transferência de embriões, a instituição reproduziu o primeiro
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búfalo através desta técnica. Esta tecnologia, desenvolvida pelo Hospital Escola de Medicina Veterinária da Universidade da Flórida, também permitiu que fossem produzidos cordeiros gêmeos idênticos, cada um com uma resistência natural a um parasito que prejudica a ovinocultura no Estado. Em 1986, o Hospital Escola criou o primeiro programa oficial para Câncer em animais no Estado, tendo como seu primeiro diretor o Dr. James Thompson. Um novo prédio acadêmio para a Escola de Medicina Veterinária, contendo laboratórios de pesquisa, salas de aula e espaço de apoio administrativo, foi construído nesse mesmo ano, com investimentos de U$ 24.000.000. Inaugurado, foi considerado a pedra angular fundamental para a expansão da faculdade nessa década. AB - Qual a origem dos investimentos para a sua constituição e construção? JP - Os recursos iniciais foram de origem estadual. No entanto, a faculdade recebeu vários aportes financeiros, públicos e privados, ao longo dos anos. Em 1987, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, por exemplo, concedeu uma verba de U$ 5 milhões, uma das maiores bolsas para veterinários, para expandir as pesquisas em biotecnologia orientada para o desenvolvimento de vacinas e testes, diagnósticos mais avançados para as duas principais doenças do gado: Anaplasmose e Babesiose. Até mesmo a Walt Disney World Company concedeu à UF, em 1993, uma verba de U$ 750 mil, a título de investimentos em pesquisa sobre uma doença respiratória potencialmente devastadora, que acomete as “tartarugas de Gopher” no Estado da Flórida. Vale destacar que, em 2002, a faculdade recebeu doação de US$ 1 milhão doação, dos criadores de gado Bob F. e Evelyn B. Deriso, em reconhecimento às contribuições do Dr. Paul Nicoletti para o controle da brucelose bovina. AB - Como ocorreu a evolução do CVMUF na área de equinos? JP - Em 1990, dois novos grandes hospitais de animais foram construídos, sendo um deles para acomodar a medicina de equinos, em exponencial crescimento no Estado. Para se ter
uma ideia do volume de investimentos, apenas na primeira fase das instalações da expansão, foram alocados U$ 36 milhões para atender a um conjunto de requisitos de acreditação exigidos pela Associação Americana de Medicina Veterinária (AVMA). O Hospital Universitário Equino, que recebeu o nome de P. Alec e Louise H., teve suas obras finalizadas e em 1994 abriu suas portas oferecendo amplas instalações de assistência pública voltada para equinos. Também inaugurou um setor de treinamento de equinos na região de Ocala, cidade próxima a Gainesville e considerada a “Capital do Cavalo de Corrida” nos EUA. Em 1995, a divisão de apostas em corridas de cavalo Pari – Mutuel, do Estado da Flórida, financiou o novo estudo de uma droga para equinos, com investimentos de US$ 530.000, com o objetivo de atualizar as normas que poderiam ser usadas para beneficiar a indústria de corridas de cavalos. Nesse mesmo ano, o Dr. Wayne Raiser foi agraciado por suas grandes colaborações à Universidade da Flórida, no campo da Patologia Animal, e o prêmio serviu para ajudar a fundação do Laboratório de Patologia ósseas e articulares Wayne H. Riser. Uma doação de US$ 1 milhão do espólio de Philip B. e Georgia B. Hofmann, entusiastas de corrida puro-sangue, em 2000, permitiu que a faculdade atendesse às metas de campanha UF.
A UTI neonatal de equinos foi, então, renomeada em homenagem aos Hofmanns. AB - Fale sobre as atividades direcionadas para animais selvagens. JP - Em 1994, foi firmado um acordo exclusivo com o “White Oak Plantation” para permitir que os residentes do serviço de medicina de vida selvagem e zoológica da faculdade pudessem estagiar no terceiro ano de faculdade, acompanhando os Médicos Veterinários em tempo integral. Em 2003, os clínicos de medicina de animais dessas espécies, juntamente com os patologistas da faculdade, realizaram o primeiro diagnóstico de vírus do Nilo Ocidental em jacarés. O grupo de animais selvagens, liderados pelo Dr. Elliott Jacobson, criou um banco de dados de sangue tartarugas marinhas, para ajudar grupos de reabilitação a melhor avaliar a saúde destes animais. AB - Quais as ações e programas voltados para o segmento pet? JP - Em 1995, o CVMUF criou o “Programa de Memorial Pet”, que, desde então, vem permitindo aos proprietários a oportunidade de fazerem doações para a faculdade em homenagem a um animal de estimação de sua propriedade, que,
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Pôr do Sol na Faculdade
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eventualmente, tenha falecido no hospital. O programa reflete um modelo de negócio a nível nacional único e parceria com os profissionais da comunidade na área de Ocala. Um novo Hospital de Pequenos Animais, com investimentos de U$ 58 milhões, em uma área de 9 mil metros quadrados, foi inaugurado em 2010, triplicando o espaço existente, oferecendo tecnologias modernas, incluindo um acelerador linear com “cone-beam CT” exclusivo na Flórida e nos EUA, além de um laboratório de cateterismo. Um Centro de Acupuntura e de Reabilitação dedicado a pequenos animais foi inaugurado em 2012 no VTHUF. Entre as novidades estão uma piscina e equipamento adicional de esteira subaquática para hidroterapia. Um modelo de parceria única e pioneiro com profissionais da comunidade de Ocala foi inaugurado nesse mesmo ano, com a abertura do novo Serviço de emergência a Pet, da UF, superando os objetivos de número de casos em seu primeiro ano. Ainda em 2012, U$ 14,7 milhões, em doações de caridade, é atingido, um recorde faculdade. AB - Cite algumas iniciativas pioneiras da CVMUF. JP - O primeiro transplante de rins em animais do Estado da Flórida foi realizado em 1997, em um gato, sob a liderança do Dr. Gary Ellison. Vários programas sociais envolvendo, por exemplo, a doação de bolsas de estudo para estudantes menos favorecidos, a esterilização de gatos selvagens na comunidade, o investimento na área específica de medicina holística, entre outros, ocorreram até o ano 2000. Neste período, entre muitas realizações, o VTH desencobriu um tratamento avançado para a infertilidade equina através da utilização da ocitocina natural, sob a liderança da Dra. Michelle Leblanc, com importante impacto financeiro na criação de equinos. Em um grande avanço científico, Dr. Janet Yamamoto desenvolveu uma vacina contra a aids felina e obteve a aprovação do governo federal para o uso comercial. Foi a segunda instituição de veterinária no país a realizar um procedimento de transplante de rim em um paciente canino de propriedade privada, quando o Dr. Chris Adin realizou a operação bem-sucedida em um poodle. De volta às atividades veterinárias, ainda em 2004, Dr. Cynda Crawford declarou que o vírus da gripe equina saltou espécie para cães e, pro38_Animal Business-Brasil
vavelmente, teria causado um surto de doença respiratória que resultou em oito mortes de cães galgos em corridas na Flórida. O novo patógeno é agora conhecido como vírus da gripe canina. No ano de 2005, Dr. Dennis Brooks, professor de oftalmologia da UF, contabilizou o centésimo transplante de córnea na UF, o equivalente a mais da metade de todos os procedimentos dessa natureza ocorridos nos Estados Unidos. No mesmo ano, Dr. Janet Yamamoto relatou uma ligação inesperada entre os vírus que causam aids em felinos e em humanos. Os gatos vacinados com uma cepa experimental do vírus da aids humana parece ser pelo menos tão bem protegido contra a aids felina como aqueles imunizados com a vacina utilizada por veterinários. Em 2006, foi realizada a primeira cirurgia cardíaca aberta em um cão com o objetivo de retirar um corpo estranho do coração do mesmo. AB - Conte sobre o programa voltado para mamíferos marinhos. JP - O único programa de Saúde de Animais Aquáticos do Colégio foi reforçado com uma subvenção estatal de U$ 810.000, em 2000, compartilhada com o Laboratório de Whitney para Biosciência Marinha em St. Augustine. O financiamento permitiu que a UF estabelecesse um programa de formação única em mamíferos marinhos. Tal programa de saúde complementa os projetos em andamento, de aquicultura e da pesca. AB - Fale sobre outras iniciativas do CVMUF. JP - Em 2003, o CVMUF criou o primeiro programa de educação continuada, que oferece educação livre para praticantes em todo o estado, iniciando assim uma nova tradição na prática da Medicina Veterinária. Vale lembrar que a faculdade não age apenas no seu âmbito. Em 2004 o CVMUF enviou uma equipe para prestar assistência no rescaldo do furacão Charley. Isso levou a esforços mais organizados, em colaboração com órgãos estaduais e federais, de resposta a desastres semelhantes nos anos seguintes. Em 2013, o professor emérito da UF, Dr. Paul Nicoletti, doou U$ 1 milhão para o Programa Oportunidades Escolares que visa beneficiar estudantes oriundos de baixa renda que aspiram às carreiras na medicina veterinária. Funcionários estaduais nomearam a Universidade da Flórida como uma das duas universidades mais
Dr Maurilio Rosa, DVM - MsC
Procedimento dental pela Dra. Amy Stone
proeminentes em pesquisa, uma designação que carrega U$ 15 milhões em financiamento anual provindos do Estado. Neste mesmo ano, o CVMUF se juntou a outras faculdades de Medicina Veterinária na campanha de pesquisas proeminentes e iniciou um planejamento estratégico em todas as áreas de faculdade, de acordo com a sua missão original. AB - Quais os principais programas de pósgraduação do CVMUF? JP - Como anteriormente citado, o CVMUF recebe alunos em nível de graduação e pósgraduação do Estado da Flórida, de outros Estados americanos e de outros países, além dos programas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Os valores para a graduação estão na faixa de U$ 28.000 ao ano, portanto, não diferem sobremaneira das melhores escolas particulares brasileiras. Os programas de pós-graduação compreendem principalmente: Fellowships: Cardiologia (Coordenador: Amara Estrada), Patologia Forense (Coordenador: Lisa Farina), e Oncologia (Coordenador: Kelvin Kow). Internato: Animais Aquáticos; Dermatologia (Coordenador: Dunbar Gram); Cirurgia de grandes animais, Oncologia (Coordenador: Kelvin Kow);
Emergência de Pequenos Animais (Coordenador: Carsten Bandt); Medicina Interna de Pequenos Animais (Coordenador: Justin Shmalberg); Internato rotacional em Pequenos Animais (Coordenador: Gareth Buckley); Cirurgia de Pequenos Animais (Coordenador: Stanley Kim). Programas de residência: Anatomia Patológica; Anestesia e Tratamento da Dor; Saúde de Animais aquáticos; Cardiologia (Coordenador: Amara Estrada); Patologia Clínica (Coordenador: Jennifer Owen); Dermatologia (Coordenador: Dunbar Gram); e Diagnóstico por Imagem Radiologia (Coordenador: Matt Inverno); e Fazendas: Medicina Interna de Grandes animais; Cirurgia em Grandes animais; Neurology (Coordenador: Shelia Carerra-Justiz); Oncologia Coordenador: Kelvin Kow); Oftalmologia; Medicina de abrigos de animais; Medicina de Emergência em Pequenos Animais (Coordenador: Carsten Bandt); Medicina Interna de pequenos Animais( Coordenador: Kirsten Cooke); Cirurgia de Pequenos Animais (Coordenador: Dan Lewis); Técnico de Veterinário enfermeiro; Medicina de animais de Zoológico (Coordenador: Jim Wellehan). Mais informações sobre como aplicar em todos os níveis para a CVMUF podem ser obtidas através do link http:// education.vetmed.ufl.edu/admissions Animal Business-Brasil_39
Os desafios do crédito rural Por:
Felipe Prince Silva -Economista e Mestre em Desenvolvimento Econômico pela UNICAMP, Economista-sócio da Consultoria Agrosecurity e Agrometrika Informática
A finalidade deste artigo é apontar os principais desafios do governo em relação ao crédito rural no Brasil. Através do crédito, são direcionados recursos excedentes do “credor”, para um agente que necessita de recursos, o “devedor”. Do ponto de vista de fonte de recursos, o crédito pode ser classificado: 1) Público: recursos arrecadados pelo Estado e 2) Privado: recursos das famílias e de empresas.
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istoricamente, no Brasil, a atuação dos recursos de fonte pública no financiamento ao setor agropecuário é expressiva. A forte participação do Estado no fornecimento de crédito rural possui três justificativas principais:1) Essencialidade da produção agropecuária para a população; 2) Importância dos produtos agropecuários para o saldo da balança
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comercial e 3) Ambiente de alto risco da atividade agropecuária, o que dificulta que as fontes privadas, através da livre iniciativa, possam oferecer crédito suficiente para atender toda a demanda do setor.
Políticas predominantes Nos últimos anos, as políticas públicas predominantes de crédito rural têm sido baseadas em dois pontos: 1) Taxa de juros subsidiadas, atualmente em 6,5% a.a. para crédito de custeio e 2) Alta participação dos bancos públicos, que representam 64% do crédito rural total ofertado, contabilizado pelo Banco Central em 2012. A Figura 1 ilustra esse mecanismo. Figura 1. Modelo atual de política de crédito rural no Brasil Política de Crédito Atual vigente baseada em: 1) Taxa de juros subsidiadas 2) Alta participação de recurso públicos
Bancos públicos => 64% Bancos privados => 36%
Falta crédito Apesar da importância dessas medidas, o volume ofertado de crédito ainda é insuficiente para atender toda a demanda do setor. Segun-
Arquivo do autor
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Economista MSc Felipe Prince Silva.
O ambiente de crédito rural é marcado por riscos mais elevados em relação aos demais setores da economia
do dados do IBGE, em 2012, a área total cultivada no Brasil foi de 69,2 milhões de hectares e, segundo dados do Banco Central, a área financiada com o crédito rural foi de 27,2 milhões de hectares, o que representa 39,4% da área total. Portanto, em 2012, 60,6% da área cultivada no país não foi financiada com crédito rural oficial, o que demonstra o significativo déficit de recursos que ainda existe nesse campo. Destaca-se que existe ainda o crédito comercial ou informal, mas que não é contabilizado pelo Banco Central.
Para atender a esse déficit, torna-se cada vez mais difícil o aumento do crédito de fontes públicas, pois o contexto atual é de dificuldades de obtenção de superávit primário pelo Governo Federal e de forte pressão inflacionária na economia brasileira. Assim, a alternativa mais favorável é o aumento da participação do capital privado na matriz de financiamento dos produtores rurais brasileiros.
Riscos mais elevados No entanto, como já citado anteriormente, o ambiente de crédito rural é marcado por riscos mais elevados em relação aos demais setores da economia, o que provoca uma certa aversão dos financiadores privados ao setor. Então, para que haja maior participação do crédito privado no meio rural brasileiro, é necessário o desenvolvimento de um ambiente institucional favorável para que os bancos e investidores privados possam concorrer para ofertar crédito em volume suficiente. A Figura 2 demonstra os dois caminhos para aumentar o volume de crédito rural no país.
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Figura 2. Alternativas para aumento do crédito rural no Brasil Alternativa 1: Aumento do Crédito Público. Essa política já tem sido adotada e torna-se cada vez mais difícil a sua expansão, face às outras demandas da sociedade, dificuldades de obtenção de superávit primário e pressão inflacionária.
Alternativa 2: Aumento do Crédito Privado. Para isso, é necessário a adoção de medidas para resolução do gargalos estruturais e melhoria do ambiente institucional que afeta o setor para que haja atratividade para o capital privado (vide Tabela 1).
Nesse sentido, na Tabela 1, estamos elencando dez itens com a descrição dos principais desafios do próximo governo para a melhoria dos mecanismos de oferta do crédito rural. Os itens estão classificados em três categorias: 1- Macroeconômicos; 2 – Estruturais e 3 – Setoriais. O primeiro grupo de desafios contém três itens e refere-se a fatores de ordem macroeconômica.
Controle inflacionário É necessário o controle da subida generalizada dos preços, hoje muito superior à meta de inflação (4,5% a.a.), através de equilíbrio das contas públicas e aumento da oferta para evitar distorções contratuais e perda de poder aquisitivo por parte da população de menor renda, o que prejudica os diferentes setores da economia, inclusive o agronegócio.
Controle do endividamento público e transparência fiscal A obtenção de superávit primário, transparência e responsabilidade fiscal é importante para evitar a aceleração do processo inflacionário e aumentar a confiança dos investidores para aumentar os investimentos, o emprego e a renda.
Reforma tributária Para a promoção de “desburocratização” e diminuição dos custos de transação do processo produtivo, hoje muito elevados no país. 42_Animal Business-Brasil
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O Brasil possui ainda um enorme déficit de infraestrutura na malha de transportes, caracterizada pela alta dependência (52% contra 28% , nos Estados Unidos ) do transporte rodoviário
Como segundo grupo de desafios, estão os aspectos denominados “estruturais”.
Aumento do investimento em infraestrutura e logística O Brasil possui ainda um enorme déficit de infraestrutura na malha de transportes, caracterizada pela alta dependência do modal rodoviário (52% do total, contra 28% nos EUA). Deve-se aumentar o investimento, especialmente no Centro-Oeste e Norte, para diminuir os altos custos de transporte da “porteira para fora”, em direção aos portos, o que aumenta o chamado “custo Brasil”.
Fortalecimento dos acordos comerciais internacionais É necessário o alinhamento adequado com os países de maior renda e incentivar a maior agregação de valor ao produto exportado, especialmente na cadeia de carnes, em que o valor agregado aos produtos de exportação ainda é baixo no país. Como terceiro grupo de desafios, estão os aspectos “setoriais”, ligados diretamente ao agronegócio. A resolução desses itens é imprescindível para o controle do ambiente de risco de crédito existente atualmente no agronegócio brasileiro e que diminui o interesse do capital privado para financiar o setor. São cinco os desafios enumerados nessa categoria.
Desenvolvimento do mercado de seguro rural
Regulamentação do mercado de terras
Hoje o mercado de seguro rural é pouco desenvolvido no país (apenas cerca de 15% da área é segurada no Brasil, enquanto na Argentina essa proporção é de 90%) e apresenta alta necessidade de subvenção do Estado. É necessário o desenvolvimento desse mercado para provocar diminuição dos riscos de inadimplência para os financiadores. Esse processo tenderá a aumentar a oferta de crédito e, consequentemente, diminuir a taxa de juros para o setor como um todo.
É necessário o fortalecimento dos trabalhos interministeriais e com instituições financeiras para unificar os cadastros de terras, hoje baseados em cartórios pulverizados e sem registro eletrônico. Esse processo tende a melhorar a gestão documental e a diminuir os custos das operações de crédito rural, já que os imóveis rurais são amplamente utilizados como bens de garantias (hipotecas) nas operações de crédito.
Tabela 1. Crédito rural: desafios do próximo governo 1- Macroeconômicos Desafio
Objetivo
1.1 - Controle inflacionário
Evitar distorções contratuais, desconfiança dos investidores e perda de poder de aquisição do consumidor, especialmente de menor renda.
1.2 - Controle do endividamento público e transparência fiscal
Evitar processos inflacionários e aumentar a confiança de investidores na economia.
1.3 - Reforma Tributária
Desburocratização e diminuição dos custos de transação no processo produtivo. 2 - Estruturais
Desafio
Objetivo
2.1 - Aumento do investimento em infraestrutura e logística
Diminuição de custos de escoamento da produção e melhora do preço recebido pelos produtores na origem.
2.2 - Fortalecimento dos acordos comerciais internacionais
Abertura de novos mercados para os produtos brasileiros com maior agregação de valor na mercadoria. 3 - Setoriais
Desafio
Objetivo
3.1 - Fortalecimento do mercado de seguro rural
Diminuição de risco para os financiadores e aumento da participação dos bancos privados no financiamento aos produtores rurais.
3.2 - Regulamentação do mercado de terras
Maior transparência no processo de concessão de garantias e diminuição dos custos de transação.
3.3 - Assistência Técnica e extensão rural no campo
Melhoria da utilização do fator capital humano e utilização mais intensa do capital aplicado.
3.4 - Mecanismos privados de proteção de preços
Estabilidade da renda dos produtores em momentos de volatilidade do mercado de commodities agropecuários e do câmbio.
3.5 - Melhora das informações públicas
Diminuição das assimetrias de informações existentes entre o financiador e o produtor. Animal Business-Brasil_43
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A diminuição da dependência do setor público é importante para evitar que a conta de um setor seja paga por toda a sociedade e evitar os “vícios políticos”
Assistência técnica e extensão rural no campo A fim de melhorar a produtividade do trabalho no campo e provocar utilização mais intensiva do capital aplicado no processo de produção, especialmente nas regiões menos desenvolvidas do país.
Mecanismos privados de proteção de preços Existe uma grande volatilidade dos preços no mercado global de commodities agropecuárias, o que afeta diretamente a renda dos produtores no Brasil. Portanto, a existência de mecanismos privados de proteção de preços das commodities é fundamental para manter a estabilidade da renda da atividade e diminuir os riscos financeiros associados a ela. Hoje, as políticas governamentais de preço mínimo são insuficientes para atender toda a demanda existente.
Melhora da divulgação das informações do setor Para que ocorra diminuição das assimetrias de informação existente entre o produtor e o financiador e diminuição do “risco moral”, no âmbito microeconômico. Portanto, os tópicos do Quadro 1 apontam a necessidade do desenvolvimento de um ambiente institucional mais adequado no Brasil, com a resolução dos problemas que afetam os diferentes agentes participantes da sociedade, de forma individual e coletiva.
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Financiamento privado A resolução desses pontos incentivará a entrada de financiadores privados no agronegócio brasileiro, tanto via mercado de crédito, quanto via mercado de capitais. Nesse sentido, será natural a obtenção de taxas de juros mais baixas, em um cenário de maior oferta de recursos, com a diminuição da necessidade de subsídios governamentais e ônus para a sociedade, como é adotado no modelo atual esquematizado na Figura 1. Obviamente, como existe grande heterogeneidade regional e entre as diferentes cadeias do agronegócio brasileiro – tais como carnes, leite, grãos, sucroalcooleiro, hortifrútis –, essas especificidades devem ser levadas em conta pelos formuladores de políticas públicas para que possam aperfeiçoar as regras de distribuição e a oferta de crédito rural no país.
Menos dependência do setor público Em suma, a diminuição da dependência do setor público é importante para evitar que a conta de um setor seja paga por toda a sociedade e principalmente para evitar os “vícios políticos” das tomadas de decisões, que poderão ser melhor orientadas pelos movimentos de mercado, desde que controlado por um Estado que tenha um pensamento de construção de uma nação e que não seja dominado por um viés ideológico de um grupo restrito de interesses. Os retornos dos investimentos públicos serão mais elevados se forem direcionados para as melhorias das instituições e remoções dos gargalos estruturais que afetam a sociedade como um todo.
Ecologia da Febre Maculosa MSc.Matheus Dias Cordeiro - Laboratório de Doenças Parasitárias / UFRR, Doutorando em Ciências Veterinárias.
Depois dos mosquitos, os carrapatos hematófagos estão em segundo lugar como fonte de transmissão de patógenos aos seres humanos, mas estão em primeiro lugar como fonte de transmissão de patógenos para os animais.
D
evido a sua dependência de sangue, o longo período de íntima associação com o hospedeiro é apontado como componente mais importante da sua competência vetorial. Atualmente, muitos patógenos virais, bacterianos e parasitários têm sido associados com a transmissão por carrapatos em todo o mundo. A importante disseminação de patógenos por uma maior mobilidade das populações humanas e animais, combinada com mudanças nos ecossistemas favoráveis para a sobrevivência de ectoparasitos, levaram ao reconhecimento de doenças transmitidas por carrapatos em áreas normalmente consideradas como livre dessas infecções.
No Brasil No Brasil, algumas doenças causadas pela transmissão de agentes através de carrapatos têm revelado grande importância tanto para a saúde coletiva quanto para a sanidade animal. Dentre elas, a Febre Maculosa (FM) vem despertando preocupação de profissionais da saúde e de entidades governamentais responsáveis pela vigilância e controle epidemiológicos em diversos estados da federação.
Prof. Dr. Nathalie da Costa Cunha - UFF
Por:
Fêmea de Amblyomma aureolatum semi-ingurgitada retirada de um cão em área endêmica para Febre Maculosa
A FM é uma zoonose causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e se não for diagnosticada e tratada a tempo pode levar a pessoa a óbito. Essa enfermidade foi descrita nos Estados Unidos no ano de 1909. No Brasil, a FM foi relatada em 1929, quando apareceram os primeiros casos diagnosticados. Porém, somente no ano de 2001 foi considerada, pelo Ministério da Saúde, uma doença humana de notificação obrigatória.
Biologia dos vetores Até o momento, as duas principais espécies de carrapatos transmissoras desta bactéria a humanos e animais são Amblyomma sculptum (complexo Amblyomma cajenense) e Amblyomma aureolatum, conhecidos vulgarmente como carrapato-estrela ou carrapato-do-cavalo e carrapato-amarelo-do-cão, respectivamente. Uma terceira espécie, o Amblyomma dubitatum, o carrapato da capivara, pode estar relacionada com o ciclo enzoótico da R. rickettsii e, até mesmo, agindo como vetor para o ser humano. Essas espécies são consideradas trioxenos “carrapatos de três hospedeiros”, ou seja, necessitam de um hospedeiro para cada fase de vida (larva, ninfa e Animal Business-Brasil_45
adulto). Porém o ciclo de vida de cada espécie é diferenciado, principalmente pelos hospedeiros de predileção e o tipo de ambiente em que vivem. As larvas e ninfas de A. sculptum conhecidas vulgarmente como “micuins” e “vermelhinhos”, respectivamente, têm uma menor preferência parasitária e, podem parasitar várias espécies de aves e mamíferos. Já na sua fase adulta são encontrados, principalmente, em animais de grande porte como cavalos, capivaras, antas e bovinos. Por outro lado, os hospedeiros de predileção de larvas e ninfas de A. aureolatum são aves passeriformes e preás, enquanto que os adultos parasitam principalmente canídeos silvestres.
Epidemiologia A bactéria R. rickettsii é transmitida aos humanos e animais através da picada de carrapato infectado. Para que haja a transmissão, os carrapatos devem permanecer fixados à pele do hospedeiro por um período variável entre 6 e 10 horas, o suficiente para que a bactéria seja reativada na glândula salivar e em seguida inoculada. Os carrapatos, além de vetores, são também reservatórios e amplificadores de R. rickettsii, ou seja, são responsáveis pela manutenção dessa bactéria na natureza. As rickettsias se multiplicam nos tecidos dos carrapatos e são transmitidas para as gerações seguintes através da transmissão transovariana, ou seja, passa da fêmea progenitora para os seus descendentes (larvas) e perpetua pelo resto de sua vida (larva-ninfa-adulto). Porém, essa bactéria também tem um grau de patogenicidade ao próprio carrapato, sendo assim, poucos espécimes permanecem viáveis para seguir o ciclo. Entretanto, para a manutenção da bactéria na natureza faz-se necessário a presença de hospedeiros amplificadores para infectar novos carrapatos para que, assim, se multiplique o número de carrapatos positivos. Hospedeiros mamíferos amplificadores são animais susceptíveis à infecção por R. rickettsii, mantendo níveis circulantes da bactéria na corrente sanguínea, o suficiente para causar infecção de carrapatos que nele se alimentem. Além disso, um bom amplificador precisa ser abundante em área endêmica para FM, ser um bom hospedeiro natural do carrapato vetor e ter elevada taxa de renovação populacional, que significa a capacidade de entrada no meio ambiente de novos animais susceptíveis à doença. 46_Animal Business-Brasil
Capivara A capivara preenche esses requisitos e, por esse motivo, é o principal amplificador de rickettsias em algumas áreas endêmicas para a doença. O desequilíbrio causado pelo homem através das expansões de monoculturas, como o cultivo de cana-de-açúcar, as restrições à caça e a falta de predadores causaram um crescimento populacional desses roedores em várias áreas na América do Sul. O vetor A. sculptum tem a capivara como um excelente hospedeiro natural. Portanto, em área onde há a presença de capivaras existem grandes infestações por este carrapato. O carrapato A. sculptum completa apenas uma geração por ano. Os três estágios parasitários estão marcadamente distribuídos ao longo do ano. As larvas ocorrem basicamente entre os meses de março a julho, enquanto que as ninfas de julho a novembro e os adultos de novembro a março. Em algumas áreas endêmicas, nas quais A. sculptum é o principal transmissor, têm se constatado, por anos consecutivos, que os casos humanos de FM vêm ocorrendo na sua grande maioria entre os meses de maio a novembro, indicando um caráter sazonal desta zoonose, coincidindo com os meses de maior infestação por larvas e ninfas. As fases imaturas (larvas e ninfas) do carrapato vetor, além de possuírem uma menor especificidade por hospedeiro, têm sua picada menos dolorida, assim as pessoas tendem a não senti-las, e elas permanecem aderidas à pele por mais tempo, aumentando assim o risco de transmissão.
Outros animais Outras espécies de mamíferos como o canino doméstico, gambás e alguns roedores também são suscetíveis às rickettsias, mas estão epidemiologicamente contextualizados de maneira diferente em outras áreas. Em áreas onde o principal vetor é o carrapato A. aureolatum, o cão doméstico tem um papel muito importante. Nessas áreas foi evidenciado que apenas o estágio adulto de A. aureolatum parasita os cães domésticos e eventualmente os humanos, sendo que não há sazonalidade nessa associação. Apesar da picada do carrapato adulto ser mais dolorida foi constatado que carrapatos previamente alimentados em outro hospedeiro podem perder a especificidade e transmitir R. rickettsii em menos tempo, uma vez que a bactéria já foi
Daniela Marques Maciel Dabus
MSc Matheus Dias Cordeiro
ativada no primeiro contato. Essa transmissão pode ocorrer em até 10 minutos de exposição.
Sinais clínicos O tempo entre a picada e o início dos primeiros sintomas varia de 2 a 14 dias, com média de 7 dias. Em humanos, quando não tratada, a letalidade da doença, pode passar de 80%. A doença inicia-se subitamente, com uma febre (moderada a alta), com duração média de 2 a 3 semanas podendo estar acompanhada de cefaleia, calafrios e congestão das conjuntivas. Por volta do terceiro e quarto dias, o paciente pode apresentar exantema maculopapular róseo nas extremidades, progredindo pelos membros, até alcançar o tórax e o abdômen. Quando as máculas chegam a essa proporção o quadro clínico já está bem grave, tornando o prognóstico de reservado a desfavorável. Os cães geralmente são menos sensíveis, quando infectados desenvolvem uma forma branda da doença, que geralmente evolui para cura, porém alguns podem apresentar quadros clínicos graves, podendo chegar ao óbito. A febre maculosa clínica em cães pode se confundir com os sinais da Ehrlichiose canina, outra doença transmitida por carrapatos aos cães. Os equinos parecem ser refratários. O tratamento da FM tanto em humanos quanto nos animais se baseia na antibioticoterapia. Quanto mais precoce for o diagnóstico, maior será a chance de sucesso.
Prevenção A primeira recomendação para prevenir e controlar a FM é manter a população de A. sculptum sob controle. Para isso, deve-se fazer um controle rígido com carrapaticidas em criações de equídeos e, principalmente, em regiões onde estejam presentes as capivaras.
Além disso, existem várias medidas simples que podem evitar a FM. Uma delas é utilizar vestimentas adequadas, como botas fechadas e blusas com mangas compridas durante o trabalho a campo ou caminhadas em áreas onde há infestação por carrapatos, principalmente no período em que os carrapatos costumam ser encontrados na forma imatura. Usar barreiras físicas no corpo, como calças compridas com a parte inferior por dentro de botas; bainhas de tecido ou fita de dupla face na parte superior de botas também são recomendadas. Outra recomendação é evitar caminhar em áreas conhecidamente infestadas, e quando isto ocorrer, procurar caminhar sempre por trilhas, evitando passar por áreas com mato, mesmo que este esteja baixo. Além disso, o trabalhador deve fazer inspeções constantes pelo corpo, em intervalos de 2 a 3 horas durante essa caminhada e ao final do dia, pois quanto mais rápido for retirado um carrapato fixado, menores serão os riscos de contrair a doença.
Captura dos carrapatos Para capturar os carrapatos, a melhor maneira é utilizar o lado adesivo de esparadrapo. Quando capturados jogue-os em água fervente ou os queime. Nunca se deve espremer entre os dedos, pois dessa forma pode-se liberar a bactéria que tem a capacidade de penetrar através de microlesões na pele. Deve-se ter um alerta para o contato de cães com carrapatos, especialmente em comunidades onde os caninos têm acesso livre a matas. Nestes locais costumam acontecer casos graves de FM. Portanto, restrinja-se ao máximo o acesso desses animais, para que eles não retornem com carrapatos do meio silvestre. O ideal é que eles sejam tratados imediatamente após o retorno de áreas infestadas por carrapatos. Se entre dois e 14 dias, a pessoa que teve contato com o carrapato apresentar sintomas como febre alta, dores de cabeça fortes, dores pelo corpo, falta de apetite, enjoo, calafrios e desânimo deve procurar um profissional de saúde com urgência. Como nem sempre as manchas estão presentes, é importante relatar ao médico que houve contato com carrapato. É importante salientar que o tratamento é mais eficiente quando a doença é diagnosticada logo no início. Animal Business-Brasil_47
Sugestões para o desenvolvimento do Puro Sangue Inglês e a recuperação das corridas de cavalo no Brasil Por:
Flávio Obino Filho - criador, turfista e presidente da Câmara de Equideocultura do Ministério da Agricultura.
O turfe foi o primeiro esporte a se estruturar de forma organizada no país. Mesmo antes do remo e do futebol, o turfe já surgia como gerador de postos de trabalho e fonte de inserção social, levando grande público aos hipódromos. A mídia esportiva era dominada pelas corridas de cavalo.
A
s corridas de cavalo tinham como característica se constituírem em atividade ecumênica. Neste sentido, a Gazeta de Notícias do Rio de Janeiro destacava na sua edição recente: “todas as classes da sociedade concorrem com seu contingente, vai povo de todos os pontos e de todas as castas, é que há ali com que satisfazer a todos os paladares, vamos pois às corridas, ricos e pobres, moços e velhos, velhas e moças”.
Ascensão e queda No século passado, a crise viveu o seu auge e também assistiu ao seu declínio. O crescimento 48_Animal Business-Brasil
do futebol como esporte de massas e as diferentes opções de lazer tiraram as novas gerações dos hipódromos. Paralelamente, o monopólio do turfe nas apostas foi deixando de existir. Primeiro as loterias dos governos e depois a facilidade do jogo pela internet esvaziaram a fonte de sustentação da atividade. É neste novo cenário que temos que pensar o turfe e a criação do cavalo de corridas.
O papel do Ministério da Agricultura O turfe e a criação do cavalo de corrida são atividades reguladas no Brasil pela Lei nº 7.291/84, que dispõe sobre a equideocultura. Estas atividades são coordenadas, fiscalizadas e orientadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, tendo como órgão de natureza consultiva a Câmara Setorial de Equideocultura. Compreendem-se como atividades relacionadas com a equideocultura: a criação nacional; fomento, pesquisas, preservação das raças e defesa sanitária; emprego dos equídeos; atividades turfísticas; combate ao “dopping”; abate de equídeos; e exportação e importação. O referido marco legal estabelece que a realização de corridas de cavalo, com exploração de apostas, é permitida no País com a finalidade de suprir os recursos necessários à coordenação e fiscalização da equideocultura nacional. A autorização a entidades turfísticas para explora-
Karol Loureiro
A criação de cavalos de corrida exige muita técnica e capital
ção de apostas, atestada sua viabilidade técnica e econômica, é concedida através de carta patente expedida pelo Ministério da Agricultura, juntamente com a homologação do Plano Geral de Apostas. O referido diploma legal é regulamentado pelo Decreto n. 96.993/88. Neste cenário, o turfe e a criação do cavalo PSI têm sua interlocução com o Governo Federal através do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA. Na primeira década deste século sempre fomos vistos como o patinho feio da pasta. O quadro era de Jockeys inadimplentes, estrutura mínima voltada apenas para a fiscalização e lançamento de dívidas e nenhuma ação de fomento à atividade. Um ministro do Presidente Lula chegou a afirmar que o turfe estava morto e que somente os dirigentes dos clubes ainda não haviam se apercebido disso. O objetivo era desvincular o turfe do MAPA.
Uma nova história Essa história começou a ser reescrita no governo, com a chegada do ministro Mendes Ribeiro Filho e com a primeira conquista do que chamo de “turfe unido” – ABCPCC, JCB, JCSP, JCRGS e JCPR – que foi a mudança da base de cálculo da taxa incidente sobre as apostas. Essa movimentação coincidiu com minha primeira eleição para a presidência da Câmara de Equideocultura. Naquela oportunidade, tivemos condições de, garantindo a adimplência dos
Jockeys a partir daquele momento, assumir o compromisso de que todos os Jockeys regularizariam ou justificariam infrações apontadas pelo órgão, a fim de criar uma agenda positiva no Ministério do Trabalho. Na oportunidade, o Secretário Caio Rocha foi destacado para a interlocução das questões do turfe com a Câmara de Equideocultura. A primeira ação foi modificar um aspecto da IN nº 48 que estabelecia que alterações nos planos de apostas e aberturas de novas agências estavam condicionadas à inexistência de débitos dos Jockeys. Depois de muito debate e exame de questões jurídicas, o MAPA firmou posicionamento de que a condição de adimplência seria admitida caso as entidades apresentassem certidões positivas com efeitos negativos, o que hoje permite a movimentação que o Jockey Club Brasileiro e o Jockey Club de São Paulo estão fazendo para a abertura de novas agências. O desafio maior, contudo, foi a adequação de todos os marcos legais da atividade, tais como, exportação e importação de cavalos, apostas e agências (atual IN 48), Código Nacional de Corrida e normativa de classificação dos hipódromos em categorias.
A manutenção das câmaras setoriais Nesta interlocução do setor com o Governo Federal, entendo importantíssima a valorização das câmaras setoriais. Assim, espero que neste Animal Business-Brasil_49
novo governo Dilma as câmaras sejam mantidas e ainda mais valorizadas. A Câmara de Equideocultura é um órgão consultivo que articula os agentes públicos e privados da cadeia produtiva na definição de ações prioritárias de interesse comum. Assim, o papel é de colaboração. Especificamente em relação à normativa dos planos de apostas, a proposta inicial foi da área técnica do MAPA e foram apresentadas sugestões de alterações pela Câmara, a partir de propostas do GT de Turfe - ABCPCC, JCB, JCSP, JCRGS e JCPR. A quase totalidade das sugestões foram aceitas pelo MAPA.
Importância do novo marco legal A criação do cavalo PSI no Brasil depende do fortalecimento do nosso mercado interno de corridas de cavalo. Hoje a nossa tropa está reduzida a 15.000 animais, sendo em torno de 6.000
em idade de competição, número insuficiente para a manutenção dos hipódromos brasileiros. A nova proposta reúne, na minha avaliação, tudo o que criadores, proprietários e turfistas sempre defenderam: totalização única, fim do atual sistema de simulcasting nacional, em que é melhor captar apostas de outro hipódromo do que organizar a própria corrida, desburocratização da abertura de agentes credenciados, apostas remotas e por internet (novo conceito que permite capilaridade na captação de apostas), e simulcasting internacional de mão dupla e com totalização pelo hipódromo fornecedor da corrida. A proposta foi submetida à consulta pública e pela primeira vez os criadores e proprietários do cavalo PSI participaram do processo de construção das regras que nortearão as apostas no território brasileiro. Espero que ainda neste Governo a nova normativa seja publicada, criando os marcos legais para o desenvolvimento da atividade nas próximas décadas.
Karol Loureiro
Fim do simulcasting
O Puro Sangue Inglês (PSI) é uma harmoniosa máquina de corrida 50_Animal Business-Brasil
O primeiro aspecto positivo é o fim do chamado simulcasting nacional, o sistema que permite que um Jockey capte apostas nas corridas promovidas por outro hipódromo nacional. Por mais de vinte anos a prática tem sido adotada e perversamente criou uma situação em que é melhor jogar nas corridas dos outros do que organizar as próprias corridas. O impacto deste modelo foi a diminuição das corridas e consequentemente de cavalos competindo, o que explica a diminuição em 50% das matrizes da raça PSI, afetando a criação do cavalo. A nova normativa proíbe o simulcasting nacional, mas permite que os Jockeys aumentem suas redes de captação de apostas desburocratizando o processo de credenciamento de agentes e permitindo que estes incorporem pontos remotos de recebimento de apostas em terminais que poderão ser instalados em qualquer lugar e que possam oferecer outros produtos além das corridas de cavalo. A regulamentação da captação de apostas pela internet diretamente pelos Jockeys também é um ponto positivo. Como as corridas locais são insuficientes para oferecer ao apostador um cardápio completo de corridas, a alternativa é o simulcasting internacional.
Corridas internacionais Há uma década estamos oferecendo no Brasil corridas internacionais com resultados interessantes, mas abaixo do potencial do país. Uma das reclamações é de que as apostas internacionais canibalizam as apostas locais. A situação efetivamente pode ocorrer. Por esta razão estamos propondo alteração no modelo que acreditamos seja aceita pelo Ministério da Agricultura. Todos os criadores e proprietários de cavalo PSI entendem que o modelo ideal é o simulcasting internacional de mão dupla (apostas feitas no Brasil em corridas internacionais e apostas feitas no exterior nas corridas locais). Não foi outra a regra geral inserida na proposta apresentada. O funcionamento ideal do sistema foi, inclusive, detalhado pela Câmara de Equideocultura, nos seguintes termos: 1. Um hipódromo brasileiro envia, em tempo real, a imagem de suas corridas para o exterior e, de igual forma, recebe imagens de corridas do exterior em sua programação de carreiras. Com isso, cria-se a condição fundamental para que apostadores do exterior possam jogar nas corridas brasileiras e apostadores brasileiros nas corridas do exterior. 2. O valor das apostas estrangeiras realizadas nas corridas brasileiras é imediatamente convertido na moeda nacional (reais, no caso) – pelo Ptax de fechamento do dólar americano ao dia anterior à corrida –, sendo 100% integrado ao totalizador do hipódromo brasileiro que enviou a imagem (regime de apostas pari-mutuel). 3. O valor apostado pelo apostador do exterior não é transferido para o Brasil, apenas considerado para o cálculo do dividendo. As apostas vencedoras são pagas pelo hipódromo que as captou, convertendo os valores em reais pelo Ptax do fechamento do dólar americano do dia anterior à corrida. 4. O Jockey Club Brasileiro, que enviou a imagem de suas corridas para o exterior, recebe da instituição estrangeira destinatária uma percentagem sobre o total das apostas no exterior (percentual negociado) nas referidas corridas.
5. Do valor total apostado no exterior é descontado pelo Jockey Club do Brasil o percentual de 1,5% conforme determinado na Lei nº 7.291/84, com redação dada pela Lei nº 12.546/11. 6. O valor das apostas brasileiras realizadas nas corridas disputadas no exterior é imediatamente convertido na moeda do país do hipódromo que envia a corrida pelo Ptax de fechamento do dólar americano do dia anterior à corrida – sendo 100% integrado ao totalizador do hipódromo do exterior que enviou a imagem (regime de apostas pari-mutuel). 7. O valor apostado pelo apostador brasileiro não é transferido para o exterior, apenas é considerado para o cálculo do dividendo. As apostas vencedoras são pagas pelo hipódromo que captou a aposta no Brasil, o qual converte os valores em reais pelo Ptax do fechamento do dólar americano do dia anterior à corrida. 8. O Jockey Club estrangeiro que enviou a imagem de suas corridas para o Brasil recebe do Jockey Club local uma percentagem sobre o total das apostas feitas no exterior (percentual negociado) realizadas nas referidas corridas. 9. Do valor total apostado no Brasil em corridas do exterior, é descontado pelo Jockey Club Brasileiro, que captou a aposta, o percentual de 1,5% conforme determinado na Lei nº 7.291/84, com a redação dada pela Lei nº 12.546/11. 10. Ao final de certo período (que pode ser mensal ou semanal, conforme desejo das partes), as instituições participantes do simulcasting internacional pari-mutuel procedem à liquidação da percentagem acima referida, através de invoices de câmbio, via rede bancária. A mecânica de liquidação do simulcasting internacional pari-mutuel é similar à das operações de exportadores brasileiros em Bolsas internacionais de commodities agrícolas (soja, farelo de soja, café, açúcar, carne etc), quando esses exportadores têm de operar em bolsas do exterior para defenderem o preço de suas vendas aos mercados internacionais (hedge) e receber o eventual lucro das posições tomadas. Animal Business-Brasil_51
Transição A ideia inicial era estabelecer uma regra de transição permitindo a manutenção do simulcasting internacional sem o cumprimento dos requisitos pelo prazo máximo de um ano. Nesse período, os Jockeys teriam de melhorar o produto corridas (imagem, transmissão, informações no padrão internacional etc). Entretanto, os estudos jurídicos iniciais apontam para barreiras que poderão ser intransponíveis na legislação brasileira tributária e de internação de valores para adoção do sistema de totalização das apostas no exterior. Segundo o apurado, as taxas seriam maiores do que a própria retirada dos Jockeys, o que inviabilizaria o simulcasting internacional. Dentro deste cenário, a amarra inicial poderia implicar na impossibilidade de adoção do simulcasting internacional, pelo que prevaleceu a ideia da excepcionalidade de aprovação pelo MAPA quanto à totalização no hipódromo promotor da corrida, que poderá ser acionada caso a questão da taxação não seja equacionada, o que particularmente não espero. O modelo de mão dupla e a totalização na entidade promotora da corrida é o que deve ser perseguido pelo turfe brasileiro, mas não podemos criar mordaças que inviabilizem o simulcasting, propriamente dito. Assim, finalizada a etapa da publicação da nova normativa, precisamos do Governo Federal a fim de viabilizar o simulcasting internacional de mão dupla e com totalização no sistema do promotor da corrida, caso contrário, o MAPA terá que lançar mão da regra de excepcionalidade para que se viabilize o simulcasting internacional de mão dupla.
O que se pode esperar do Novo Governo na defesa do turfe e da criação do cavalo PSI? Fui presidente de entidade turfística e conheço as limitações da atividade no país. Não tenho ilusões de que o Governo possa subsidiar a atividade como ocorre na França, na Irlanda e, de alguma forma, no Uruguai. Podemos buscar com o Governo autorização para a exploração de máquinas e jogos lotéricos, com resultados que revertam para a atividade. São discussões complexas e de médio 52_Animal Business-Brasil
prazo. As entidades turfísticas têm o manto legal que permite a captação de apostas em corridas e a extensão para jogos lotéricos e slot-machines e perfeitamente viável, desde que os resultados revertam para o fomento das corridas de cavalo e consequentemente da criação do PSI e da própria equideocultura nacional. Esta agenda estará presente nas nossas conversações com o novo governo.
Medidas positivas foram tomadas De outra parte, precisamos reconhecer que o Governo fez nestes dois últimos anos do Governo Dilma o que era possível. Reduziu a quase zero a taxação das apostas, permitiu o recálculo das dívidas dos Jockeys com base na nova legislação e as duas espadas que sempre estiveram sobre as cabeças dos gestores não existem mais. Com a nova instrução normativa estará facilitada a captação de apostas por meios remotos, internet, e estarão consagrados o modelo de Pedra Única (fim do simulcasting nacional) e o simulcasting internacional de mão dupla. Os programas de refinanciamento também nos garantem um tratamento de adimplentes. O passado que não permitia que os gestores olhassem para frente não existe mais. As soluções que existem dentro do turfe estão postas e normatizadas. A partir de agora, Jockey que não crescer é por problema de gestão. Temos de aprender a viver como pobres. Fizemos isso no Jockey Club do Rio Grande do Sul. Desde 1998, um mesmo grupo (hoje talvez não se deva falar em grupo, mas em todos) administra a entidade. Pagamos contas, atrasamos prêmios, conquistamos isenção de IPTU, enxugamos o quadro de empregados, renegociamos dívidas, fizemos escambo, cortamos na carne, mas sobrevivemos e renascemos. Hoje, o custo médio do trato no Cristal é de R$ 650,00. Milagre? Não. Cavalo ganhador e que se coloca se paga. Os nossos prêmios são pagos um dia depois da corrida. Milagre? Temos uma operação imobiliária, mas o dinheiro que entra está carimbado para as corridas. Não temos sócios que não sejam do turfe e não temos receita social. Somos uma entidade exclusivamente de turfe. Nunca deixamos de ser criativos. Festa do Cavalo, Ladies Day/ Torneio de Joquetas, GP dos Tordilhos, Páreos
de Amadores são iniciativas do meu período de administração - uma época de vacas magras - que foram mantidas. Desafio dos Campeões (Ricardo x Baze), novas pistas de areia e de grama, Outubro Rosa nas corridas, Confraria do Chapéu, Tríplice Coroa Juvenil, turfe gaúcho (cancha reta), bônus para provas de 2 e de 3 anos e novas modalidades de garantia de apostas são iniciativas atuais ou anteriores, que vão se somando. Aqui, quem entra acrescenta e não destrói. Humildemente o modelo do JCRGS deve ser adotado pelas demais entidades. Esperamos que esta seja a lógica também no Ministério da Agricultura em relação ao turfe e a criação do cavalo de corrida: manter o que foi feito de bom nos dois últimos anos e estreitar a parceria com o setor produtivo em busca de medidas de fomento à atividade.
Regras sanitárias especiais
Karol Loureiro
Outra expectativa que o setor nutre é de avanços na adoção de regras sanitárias especiais para os cavalos de competição que permitam o livre trânsito destes animais pelo mundo. Hoje o Brasil, em razão dos casos de mormo, tem di-
ficuldade na exportação de cavalos de corrida para a Europa e há anos não consegue estabelecer o trânsito para os Emirados Árabes e outros países asiáticos. O papel pró-ativo do Governo brasileiro nestas questões é necessário.
Imposto de renda Finalmente, esperamos ter o apoio do Governo Federal em nosso projeto de alteração do imposto de renda incidente sobre prêmios recebidos por proprietários e criadores de cavalo PSI hoje previsto no § 2º do art. 32 da Lei nº 7.713/88. A nossa proposta mantém a alíquota em 15%, sendo apenas 1% do total descontado na fonte, incidindo o restante sobre o rendimento líquido obtido em cada exercício financeiro, ou seja, descontando dos prêmios auferidos as despesas de manutenção dos cavalos. Acreditamos no turfe e na criação do PSI como atividade rentável e com potencial de geração de emprego e renda. A revitalização e o fortalecimento passam por inciativas conjuntas construídas pelo Governo Federal e pelos produtores, sendo a Câmara de Equideocultura o espaço reservado para esta construção.
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Por: Paulo
Roque
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No momento são oferecidos somente cortes nobres, como o contra-filé, mas serão lançados alguns provenientes do dianteiro, como hambúrguer, quibe, almôndega, mortadela e carne moída congelada. Divulgação
Desde o último mês de outubro, está à venda em alguns pontos de varejo brasileiro, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, a “Carne Sustentável do Pantanal”, produzida com responsabilidade ambiental, originária de um gado criado solto na região pantaneira, cuja alimentação está baseada em pastagens livres de agrotóxicos e adubos químicos no solo, ureia ou antibióticos utilizados na engorda de animais. O produto é comprovado pela Embrapa e é fruto de uma parceria entre a Korin Agropecuária, a Associação Brasileira de Produtores Orgânicos (ABPO), com o apoio do WWF-Brasil. De acordo com Edson Shiguemoto, diretor comercial da Korin Agropecuária, a carne é de novilha e, além de conferir uma maciez ao produto, o rendimento é bem inferior ao do boi gordo. “A remuneração que pagaremos ao produtor é equivalente ao boi gordo, que é de 10 a 15% superior”, explica Shiguemoto, justificando o preço ao consumidor. Na capital paulista, no Mercado Santa Luzia, na região dos Jardins, o quilo do filé mignon está a R$79,00; fraldinha, R$48,00; contra-filé, R$55,00; Noix, R$61,00; e picanha, R$88,00, outros cortes. O diretor da Korin, outros cortes como patinho, coxão mole, acém, paleta, costela, ficarão mais acessíveis. Para que um maior número de pessoas tenha acesso a esta carne, a Korin está planejando o lançamento de vários produtos no próximo ano, como hambúrguer, quibe, almôndega, mortadela e carne moída congelada. Isso, explica Shiguemoto, “para ajudar a escoar os cortes do dianteiro, que têm um volume maior com menor demanda”.
Divulgação
Chega ao mercado brasileiro a Carne Sustentável do Pantanal
Edson Shiguemoto, diretor da Korin Agropecuária, tem certeza que o produto tem tudo para ser um novo case em vendas.
Em menos de oito meses, a unificação da União Brasileira de Avicultura (UBABEF) e da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS) em uma única entidade, Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), se consolidou e já trouxe excelentes resultados para o setor. Dentre eles, na Ásia, estão o acordo firmado com a China para cooperação e intercâmbio técnico e de mercado, inclusive com habilitação de novas plantas, e o expressivo crescimento dos embarques de carne suína para mercados como o Japão. Outros pontos a destacar são a
Chega ao mercado sêmen de clone gir A ABS Pecplan já disponibilizou para o mercado o sêmen do clone de um dos mais importantes touros da história do gir leiteiro, Teatro da Silvânia, considerado um dos ícones da raça. Apesar da difusão da tecnologia de clonagem e desse tipo de processo em todo o mundo, essa é a primeira vez que sêmen de um clone da raça Gir é colocado à venda para os pecuaristas brasileiros. Teatro da Silvânia morreu aos 15 anos em outubro de 2013, depois de 13 anos em coleta na unidade da ABS, em Uberaba, onde produziu mais de 200.000 doses convencionais e 25.500 sexadas. Estoque que, segundo Fernando Vilela, gerente de produção da ABS Pecplan, está chegando ao fim, mas a genética referência para a pecuária leiteira continuará no mercado através do material produzido pelo clone. O Teatro II tem dois anos de idade e, segundo Vilela, é uma réplica perfeita do original, inclusive quanto à produção de sêmen. “Ele está produzindo doses de alta qualidade, com concentração e espermatozoides normais para a idade. É um touro perfeito, sadio”, garante o gerente da ABS.
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A união faz a força
expansão das exportações para a Rússia e a reabertura da África do Sul para a carne suína, além da renovação da cota de exportação de carne de frango e a viabilização de uma nova cota de carne de peru para o México. A ABPA está otimista com a expectativa de expansão de vendas no mercado externo e aumento do consumo doméstico, em substituição à carne bovina.A previsão de aumento das exportações de frango é de 3% a 4%, um incremento de 4,839 milhões de toneladas. Para a carne suína, embora a previsão seja de estabilidade, a entidade vislumbra um potencial de crescimento das exportações em até 559 mil toneladas.
Divulgação
Divulgação
Diretoria da ABPA comemora os resultados da união das entidades que representam a suinocultura e a avicultura.
A ABS Pecplan é a primeira empresa a colocar à venda material genético de um clone da raça Gir leiteiro
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Abemel/Divulgação
Abemel/Divulgação
Joelma Lambertucci, secretária executiva da Abemel: “setor tem se profissionalizado e se posicionado como referência em produtos apícolas.”
Mel brasileiro é valorizado no exterior
Scot Consultoria
O Brasil produz mel de excelente qualidade. Cerca de 80% do produto é destinado aos Estados Unidos e à Europa e é orgânico. Outros países também se destacam como importadores, tais como Canadá, Bélgica, Reino Unido e Israel. Segundo Joelma Lambertucci, secretária executiva da Abemel (Associação Brasileira dos Exportadores de Mel), a apicultura brasileira tem crescido em produtividade e qualidade nas últimas décadas, colocando o País como um dos polos mundiais produtores de mel e própolis. “As abelhas brasileiras são africanizadas, portanto, mais ágeis e resistentes às doenças, a tal ponto de os apicultores não utilizarem medicamentos na atividade”, observa. Conforme explica, essa característica, associada à biodiversidade nacional, possibilita a produção com qualidade garantida. De acordo com Joelma, o País tem capacidade para produzir quatro vezes mais. Atualmente, a produção nacional alcança 50 mil toneladas anuais, mas pode chegar a 200 mil toneladas e a melhora da capacitação, por meio de um ‘manejo adequado’, pode triplicar a produtividade média nacional, de 16 kg para 48 kg/colmeia por ano. “Atualmente explora-se apenas 15% do potencial da flora apícola. Estima-se que o Brasil tem um potencial inexplorado que geraria, pelo menos, 200 mil toneladas de mel, além dos demais produtos como própolis, pólen, cera e outros subprodutos”, calcula.
Cenários do mercado de carne bovina Um dos mais importantes eventos da pecuária brasileira, Encontro de Analistas, realizado pela Scot Consultoria, reuniu profissionais do mercado pecuário, nichos de carnes especiais e economia para debater sobre os principais assuntos que marcaram 2014 e traçar cenários e expectativas para os seguintes. Entre as conclusões merecem destaque:
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A Scot Consultoria reuniu especialistas para debater os principais temas que marcaram a pecuária em 2014.
• A nomeação do novo ministro da Fazenda, vista com bons olhos pelo mercado, porém, há incertezas sobre a real autonomia das mudanças necessárias para colocar o país novamente nos trilhos. • Para o mercado do boi gordo, a expectativa é de mercado firme em 2015, mas é preciso ficar de olho na economia e nas intempéries que ela pode gerar no consumo de certos cortes de carnes. A desvalorização do real frente ao dólar deverá favorecer as exportações de carne bovina brasileira. • Com relação à qualidade da carne, ficou claro que padronização, regularidade, castração, genética apurada e bem-estar animal são essenciais na produção de uma carne de qualidade. • Do lado do consumidor, destacou-se que a maciez é o atributo mais valorizado, muito à frente da suculência e do sabor.
Édi Pereira / Hórus Photograph 2011
Setor de ração animal comemora saldo positivo Depois de dois anos consecutivos de queda, o Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal (Sindirações) comemora o saldo positivo do setor que encerrou 2014 com produção de 67,3 milhões de toneladas (rações e sal mineral), crescimento de 4,1% em relação a 2013 quando foram produzidas 64,6 milhões de toneladas. Os investimentos dos pecuaristas em suplementação mineral foram responsáveis pela recuperação, segundo Ariovaldo Zani, vice-presidente da entidade. Ele aponta um quadro de estabilidade para 2015, com crescimento ao redor de 3%, o equivalente a 69,3 milhões de toneladas. Na visão do executivo, a abertura das exportações brasileiras de carne para os mercados da Rússia e Japão devem favorecer a cadeia produtiva em 2015. “O setor, porém, deve ficar atento à demanda interna. Em razão de ajustes na economia, o consumidor poderá migrar para outras fontes de proteína”, alerta. O Brasil é o terceiro maior produtor de rações do mundo. O setor representa uma receita anual superior a R$ 40 bilhões.
Marcelo Machado
Os investimentos dos pecuaristas em Suplementação mineral foram responsáveis pela recuperação do setor, afirma Ariovaldo Zani, vice-presidente do Sindirações
Antônio Camardelli, presidente da Abiec, afirma que as negociações com o mercado norte-americano deverão avançar.
ABIEC comemora bons resultados Ao celebrar os 100 anos da primeira exportação de carne bovina do Brasil, a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (ABIEC), que completou 35 anos de existência, comemorou os bons resultados de 2014: 1,4 milhões de toneladas exportadas e faturamento recorde de US$ 7 bilhões. Para 2015, as perspectivas são ainda mais otimistas, a previsão é atingir US$ 8 bilhões e 1,7 milhão de toneladas. Segundo o presidente da ABIEC, Antônio Jorge Camardelli, a retomada de importantes mercados, como a China, Irã e Egito, bem como as perspectivas positivas para o anúncio do fim do embargo da Arábia Saudita e do Japão, permitem manter uma previsão muito boa para 2015. Acentuou, ainda, que existem indicativos de que as negociações com o mercado norte-americano para a carne in natura deverão avançar, abrindo possibilidades também para atingir outros países do NAFTA, bem como Caribe e América Central.
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Pecuária leiteira: tecnologia para o produtor familiar Por:
Rhuan Lima-Analista de Transferência de Tecnologia da Embrapa/Rondônia
O fortalecimento da agricultura familiar é um desafio assumido mundialmente por diversas instituições. Tamanha é a importância deste tema que, em 2014, foi definido como o Ano Internacional da Agricultura Familiar pela Assembleia Geral das Nações Unidas. O intuito é despertar a consciência da sociedade civil para a importância de apoiar a agricultura familiar e promover em todos os países políticas públicas que favoreçam o desenvolvimento sustentável de sistemas de produção de base familiar, possibilitando ao produtor rural aumentar sua produção, reduzir custos e torná-la sustentável.
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orte componente dentre as atividades praticadas nas propriedades familiares, e de elevada importância econômica e social, a pecuária leiteira tem destaque no cenário agropecuário nacional. O Brasil destaca-se em nível mundial com sua produção de leite de cerca de 32,3 bilhões de litros (dados de 2012) segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar do expressivo volume, a produtividade dos nossos rebanhos ainda deixa muito a desejar, com uma média de produção de apenas 1.417 kg/vaca/ano, dados que nos colocam em 96° lugar no ranking mundial de produtividade, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), de 2012. Essa pequena produtividade reflete o baixo padrão tecnológico adotado nas propriedades leiteiras do Brasil. Diante deste ce-
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A produção de leite tem destaque na agropecuária familiar brasileira.
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nário, diversos produtores questionam se temos tecnologia para melhorar a produção, produzindo mais, com menor custo, em menor área e de maneira sustentável, e a resposta é: temos, sim, tecnologia para sermos muito mais produtivos. Quando tratamos de tecnologias para sistemas de produção, seja de leite ou de qualquer outra cultura, é fundamental considerar a grande extensão territorial do nosso país, e as diferenças existentes entre as regiões. Por sermos um país de dimensões continentais temos diferentes condições de clima e de solo ao longo do nosso território, e as tecnologias e recomendações para uma região nem sempre são compatíveis com as outras. Um erro comumente praticado por produtores é a tentativa de usar tecnologias que não são compatíveis com as suas condições, quer sejam de clima e solo ou mesmo de nível tecnológico. Essas tentativas frustradas podem acarretar prejuízos ao produtor e desestimular a atividade e a adoção de tecnologias adequadas. Como foi dito, temos as tecnologias adequadas. A Embrapa é referência por seu trabalho na agropecuária. A Instituição desenvolveu e desenvolve tecnologias para as várias condições de produção, e todas as tecnologias produzidas pela Embrapa estão disponíveis para consulta e qualquer pessoa interessada em conhecer essas tecnologias pode acessar o portal da Embrapa (www.embrapa.br) ou realizar uma visita a uma das 46 unidades ou 12 escritórios distribuídos pelo País. Embora as tecnologias existam, é necessária uma interação de muita importância para que elas cheguem ao produtor: a união entre pesquisa e assistência técnica/extensão rural. Assim, acreditamos que o caminho para que as tecnologias cheguem aos produtores passa pela assistência técnica. Toda empresa tem em menor ou maior grau suporte e orientação de profissionais. Uma propriedade rural também é uma empresa e nela não pode ser diferente. Outro ponto que influencia na adoção de tecnologias por parte do criador é o receio em acreditar em mudanças do modo tradicional de fazer, a dificuldade em transpor a barreira da tradição, do modo de fazer do pai, do avô. Essa realidade vem aos poucos se modificando, e produtores que buscam e aplicam tecnologias preconizadas para as suas condições, em geral se destacam na atividade e conseguem com isso bons resultados.
As aulas práticas no campo são muito eficientes
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Embora as tecnologias existam, é necessária uma interação de muita importância para que elas cheguem ao produtor
A situação em Rondônia Em Rondônia, a agropecuária se desponta como o maior segmento econômico do estado, e a pecuária leiteira, em especial, tem dado importante contribuição. Segundo dados da Agência de Defesa Agropecuária do Estado (Idaron, 2012), o rebanho de bovinos leiteiros encontra-se distribuído em aproximadamente 41 mil propriedades rurais, com área menor de 200 hectares. O estado é o que mais produz leite na região Norte. Com uma produção próxima de 717 milhões de litros/ano, responde por 43,2% do volume de produção na região e, 2,22% da produção nacional (IBGE, 2014). Com um perfil Animal Business-Brasil_59
nada para a industrialização, demonstra o grande potencial de crescimento da pecuária leiteira no estado. Considerando todo este potencial, a adoção de tecnologias básicas, preconizadas para as condições específicas do estado, propiciará exponencial ganho de produtividade aos pecuaristas rondonienses.
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Ações de transferência de tecnologia
A ordenha mecânica vem ganhando um número crescente de adeptos
eminentemente de base familiar, a produção de leite do estado apresentou crescimento na última década, mas este aumento se pautou, em grande parte, pelo aumento das áreas exploradas e do rebanho, sendo ainda considerada como uma produção de baixo nível tecnológico. Apesar do baixo índice de adoção de tecnologias, Rondônia figura como o 9° estado brasileiro em produção de leite, o que, aliado às características produtivas do estado como o baixo custo de produção relacionado à mão de obra familiar, abundância de chuvas, viabilidade de sistemas de produção de leite a pasto e produção direcio60_Animal Business-Brasil
É considerando este contexto, que definimos nossas estratégias de transferência de tecnologias. O setor de transferência de tecnologia da Embrapa Rondônia trabalha hoje pautando suas ações na capacitação de profissionais que atuam em assistência técnica e extensão rural, capazes de difundir e multiplicar o alcance dessas tecnologias, bem como na estruturação de unidades demonstrativas as quais consideramos ferramenta chave para difusão de tecnologias, devido à capacidade de sensibilização e demonstração prática quanto às potencialidades das tecnologias propostas. Os produtores rurais de uma maneira geral, não só os pecuaristas, são ávidos por tecnologias que possam aumentar sua produção, reduzir custos, melhorar a qualidade do seu produto e facilitar a produção, entretanto ao mesmo tempo, são muito receosos na adoção destas tecnologias. Um bom exemplo foi observado por meio do trabalho realizado pela Embrapa Rondônia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Porto Velho, que visa levar tecnologias aos produtores de base familiar, isso fica claro na fala do produtor Rubens Rocha, de Rio Pardo, distrito de Porto Velho (RO). “Quando vieram me procurar pela primeira vez eu não acreditei e não aceitei adotar tecnologias na minha propriedade. Mas depois eu pensei melhor e vi que podia dar certo. Aí abracei a causa e conseguimos muita coisa já nos últimos 11 meses. Agora posso ser modelo para os demais da região e hoje agradeço por ter aceitado o desafio”, são palavras do produtor e parceiro na implantação de uma unidade demonstrativa de sistema de produção de leite.
O sucesso das unidades demonstrativas A metodologia de unidades demonstrativas é eficiente em quebrar essa “barreira”. Temos
experiências positivas com a implantação de unidades demonstrativas em áreas de produtores parceiros. Outros produtores se identificam com as tecnologias quando estão empregadas em ambientes semelhantes ao seu, e ao observar os resultados obtidos neste contexto se convencem a adotar as tecnologias. O mais importante neste tipo de trabalho é a mudança de visão do produtor, a conscientização de que existem tecnologias que são acessíveis a todos e que trazem bons resultados. Como impacto inicial deste trabalho realizado em Rio Pardo, cerca de 20 produtores da região já se interessaram e aguardam para participar do projeto. Como disse o senhor Rubens, “Eram pessoas que, assim como eu, não acreditavam em tecnologia, aliás, achavam que tecnologia não era pra gente, pequeno produtor, mas é sim! Tá aí na minha propriedade pra quem quiser ver”. Neste projeto iniciamos as ações pautados em garantir a oferta de alimento de qualidade ao rebanho, trabalhando na renovação das pastagens, adotando o capim Mombaça, que tem alto potencial produtivo, em sistema de pastejo rotacionado, com atenção especial para o manejo da pastagem com o objetivo de garantir o máximo aproveitamento do potencial da forrageira. Em estratégia, a redução da produção do capim durante o período seco do ano, optamos por produzir cana-de-açúcar para suplementar as vacas durante este período, utilizando cana+ureia+enxofre. Com o trabalho na pastagem, a área necessária para manter as 17 vacas em lactação foi reduzida em oito vezes e a produção saltou de 70 litros/dias para 130 litros/dia com os mesmos animais. Este aumento na produção foi observado apenas nove meses após o início da utilização das tecnologias
e propiciou ao produtor maior renda, pois, apesar de agregar produtividade, não aumentou seu custo de produção, possibilitando também renda advinda de possíveis arrendamentos das áreas não utilizadas.
Alimentação eficiente no período seco Com planejamento e utilização da cana+ ureia+enxofre foi possível manter boa alimentação para o rebanho durante o período seco, sem apresentar assim a marcante sazonalidade da produção leiteira. Sem redução da produção no período, o produtor pode aproveitar os melhores preços pagos ao leite durante a entressafra. Nas próximas etapas, serão trabalhadas tecnologias relacionadas à qualidade do leite, que incluem cuidados com a higiene da ordenha e controle de mastite, práticas reprodutivas e de melhoramento genético. Este foi apenas um exemplo das ações da Embrapa Rondônia, que atua em articulação com diversas instituições públicas e privadas de assistência técnica e extensão rural para promover o desenvolvimento sustentável do meio rural, pois acreditamos que apenas com tecnologia no campo poderemos impulsionar a agricultura familiar, tornando-a mais competitiva e sustentável. Leite de boa qualidade é alimento de alto valor biológico Embrapa/Rondônia
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Com planejamento e a utilização de cana + ureia + enxofre foi possível manter boa alimentação para o rebanho durante o período seco
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Sebrae-SC e CIDASC ajudam empresas a se adequarem ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal Por:
Camila Latrova
Saber a procedência e, principalmente, as condições em que um alimento chega à mesa da população é fator determinante para que este tenha espaço no mercado cada vez mais competitivo. Por isso, uma parceria realizada pelo Sebrae-SC a pedido da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (CIDASC) colabora para que empresas catarinenses consigam ampliar sua presença no comércio nacional com produtos de qualidade, que estejam de acordo com as normas do Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI), que impõe altos padrões de segurança sanitária e de qualidade dos produtos de origem animal, dando garantias ao consumidor.
O
esquema faz parte do Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA), padronizando os procedimentos de inspeção de produtos de origem animal para garantir a segurança alimentar no País. Santa Catarina aderiu oficialmente ao Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI) em 2013, quando o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
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(Mapa) atendeu à reivindicação da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, reconhecendo a equivalência do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Governo do Estado, executado pela CIDASC.
Equivalência Pela lei, os estados e os municípios podem solicitar a equivalência dos seus serviços de inspeção com o Serviço Coordenador do SISBI. Para obtê-la, é necessário comprovar que as condições de avaliação possuam a mesma eficiência do Ministério da Agricultura. Com este reconhecimento, o estado está credenciado no Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (SUASA) para realizar inspeção nas empresas catarinenses, agilizando todo o processo e tendo a CIDASC como responsável pela a inspeção higiênico-sanitária e tecnológica em conformidade com as normas do MAPA.
Venda em todo o Brasil Assim, os estabelecimentos que comercializam produtos de origem animal (carne, leite e seus derivados) inspecionados e aprovados pela CIDASC, com vistas ao SISBI/SUASA, poderão vender seus produtos em todo Brasil. “Hoje no estado existem apenas 11 empresas cadastradas e com o selo de inspeção, estamos trabalhando para mudar isso”, destaca Luana Carvalho Baixo, analista técnica do Sebrae-SC. As primeiras empresas a aderirem ao SISBI foram Laticínios Gran Paladare, de Chapecó; Avícola
Jan Vašek
Os produtos de origem animal, como as carnes, os frutos do mar, o leite, os ovos e o mel de abelha, só têm qualidade garantida quando são inspecionados pelos órgãos oficiais.
Fragnani, de Cocal do Sul; Matadouro Frigorífico de Ovinos e Caprinos Guatapará, de Guatambu; Distriboi - Distribuidora de Carnes, de Camboriú; Embutidos e Defumados Marca Olho, de Pomerode; e a Cooperativa Vilmon, de Ipuaçu e atualmente estão em processo de adequação 82 empresas no estado que estão mudando e melhorando seus procedimentos em busca da adequação. Além disso, a CIDASC conta com 800 agroindústrias catarinenses cadastradas na inspeção estadual. “A meta é que em dois anos, pelo menos 380 recebam o selo do SISBI/SUASA com o projeto do Sebrae”, destaca.
Projeto Ela conta que o projeto foi iniciado no final de 2013, com a assinatura de uma cooperação técnica entre o Sebrae-SC e a CIDASC. De acordo com o termo, em um primeiro momento, a Companhia visita as indústrias que buscam a certificação e orienta-as quanto às adequações necessárias para a habilitação. Em seguida, o Sebrae-SC prestará consultoria a essas empresas, orientando-as sobre a melhor maneira de fazerem as adequações solicitadas.
O projeto não está focado somente em orientar na adequação das agroindústrias, mas também na parte da gestão das empresas e cenário atual. “Também trabalhamos pensando no mercado, em que os participantes terão o apoio para participar de eventos onde poderão conhecer o ambiente comercial, trocar ideias com outras empresas e mostrar seus produtos”. Segundo ela, o objetivo final é melhorar a qualidade, facilitar o acesso e fomentar a expansão dos produtos catarinenses de origem animal no mercado brasileiro. “As ações desenvolvidas no Sebrae são de consultoria para adequar as empresas às normas do SISBI/ SUASA, apresentar as regras de preparação correta de rotulagem e embalagem, promover treinamentos e capacitações em gestão e dar apoio e orientação às empresas que buscam o mercado, por meio de rodadas de negócios e da participação nas principais feiras nacionais do setor de alimentos.”
Adesão De acordo com a especialista, a adesão dos empreendimentos ao projeto não está condi-
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cionada à qualificação destes ao SISBI. “A exigência do selo de inspeção não é obrigatória, é uma opção para as agroindústrias”. No entanto, somente com o selo SISBI/SUASA as empresas poderão vender seus produtos em outros estados. “A proposta é, em primeiro lugar, adequar os empreendimentos para uma gestão sanitária correta e de qualidade total, promovendo a sensibilização destes para a referida adesão ao SISBI/SUASA no estado de Santa Catarina e consequentemente, facilitando a prospecção de mercados nacionais e internacionais”.
Vantagens Os requisitos e procedimentos necessários para a adesão ao SISBI são definidos pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do Ministério da Agricultura. Quesitos como infraestrutura administrativa, inocuidade dos produtos, qualidade dos itens, normas de prevenção, controle ambiental e o combate contra fraude estão previstas segundo o Sistema. São aptas a participar do processo de adesão, micro e pequenas agroindustriais de produtos de origem animal no estado, que já passaram pela inspeção estadual ou municipal. Entre as principais vantagens em aderir ao SISBI está a melhoria do valor agregado dos produtos, a abertura de novos mercados, o aumento da competitividade da produção e o maior desenvolvimento do setor, fator fundamental para valorizar o trabalho dos empresários de Santa Catarina. “Quanto ao consumidor, o principal benefício é que o Sistema garante a padronização e harmonização dos procedimentos de produção e inspeção dos produtos, garantindo a qua-
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Os requisitos e procedimentos necessários para a adesão ao SISBI são definidos pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do Ministério da Agricultura
lidade e segurança dos itens comercializados, abrindo espaço para a venda dos produtos catarinenses em diversos lugares”, afirma Luana. Dados do Sebrae indicam que a habilitação ao SISBI abre a cada empresa um mercado potencial de 200 milhões de consumidores.
Dificuldade No entanto, de acordo com a analista, as empresas catarinenses têm dificuldade em se enquadrar às regras do Sistema. A legislação brasileira para certificação de qualidade higiênica e sanitária dos produtos de origem animal com inspeção Federal tem frustrado muitas iniciativas. “As pequenas e médias agroindústrias, muitas familiares, não têm estrutura física suficiente ao atendimento da legislação e demandam muito investimento, ou mesmo a construção de uma nova indústria, ficando além da capacidade de gestão dos empreendedores”, avalia.
Igor Cardozo
A boa aparência da carne não garante a sua qualidade, é preciso o carimbo da inspeção oficial.
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Cenário estadual Apesar de poucas empresas atuando no mercado nacional e internacional, Santa Catarina possui um status sanitário diferenciado por ser o único estado brasileiro livre de Febre Aftosa sem vacinação, reconhecido pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A certificação garante que a carne suína catarinense pode ser exportada para países extremamente exigentes. A carne de frango produzida no estado também é vendida em nações do mundo todo, inclusive no mercado japonês, considerado de grande exigência nos padrões higiênico-sanitários.
Ganhos crescem Os ganhos dos produtos de origem animal nos últimos anos também cresceram no Estado. Um relatório de atividades da CIDASC aponta que o valor em US$ pago por quilo exportado de carne suína obteve um incremento em torno de 20% entre 2011 e 2014. E que apenas a indústria alimentar de Santa Catarina empregou, em 2013, 103,3 mil trabalhadores diretos em suas 3.346 indústrias, segundo dados da Federação das Indústrias de Santa Catarina.
Exportação Além da produção para consumo no mercado interno, a exportação do agronegócio catarinense tem grande impacto na balança comercial do Estado. No ano de 2013, segundo dados do Governo Federal, aproximadamente 61% das exportações do Estado foram geradas no agronegócio. Para manter esse status e garantir a defesa sanitária animal e vegetal do estado, a CIDASC conta com 63 barreiras sanitárias com o Paraná, Rio Grande do Sul e Argentina que controlam a entrada e a saída de produtos agropecuários. Hoje Santa Catarina possui seis corredores sanitários por onde é permitida a passagem de animais e produtos de origem animal com o uso de lacres. Para a exportação de produtos de origem animal, a inspeção e a fiscalização continuam sob a competência exclusiva do Serviço de Inspeção Federal (SIF) do Ministério da Agricultura.
Saiba mais • Para a atividade de produção de produtos de origem animal será necessário o alvará da Vigilância Sanitária. • Caso a sua cidade tenha Vigilância Sanitária Municipal, os documentos podem ser diferentes, portanto, deve-se consultar a Prefeitura Municipal da sua cidade para maiores informações. • A empresa deverá ainda, pleitear um registro junto a CIDASC, o SIE - Serviço Estadual de Inspeção de Produtos de Origem Animal. • Caso a empresa queira comercializar o produto fora do âmbito estadual, deverá providenciar o registro exigido pelo Ministério da Agricultura e do Abastecimento, o SIF -Serviço Federal de Inspeção de Produtos de Origem Animal. • Para dar início a esse processo a empresa deve encaminhar ofício ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, solicitando laudo do estabelecimento. • É preciso um técnico para vistoria e verificação das condições da empresa e orientação. O serviço é gratuito. • Alguns municípios mantêm serviços de inspeção municipal (SIM) para vendas dentro do município. Procure informações na Prefeitura, se for o caso. • Os órgãos de fiscalização orientam e auxiliam o empresário no planejamento e construção de seu estabelecimento de abate e industrialização de produtos de origem animal. • Eles também o registram e realizam a inspeção sanitária e industrial desses estabelecimentos, bem como registram e aprovam rotulagem dos produtos comercializados pelos mesmos. • Recomenda-se sempre haver um veterinário responsável pelo estabelecimento de produção. Fonte: Sebrae-SC www.sebrae.com.br
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Raul Moreira
Um Ministério da Agricultura com mais diálogo e eficiência Antonio Alvarenga (*)
A
nova ministra da agricultura, Kátia Abreu, conhece como poucos a realidade de nossa agropecuária. No entanto, fez questão de iniciar sua atuação à frente do ministério convocando todos os segmentos do setor para conversar sobre seus respectivos problemas e propostas. Dinâmica e articulada, a ministra ouve seus interlocutores com atenção, comenta e faz perguntas pertinentes. Pede explicações sobre assuntos específicos. Procura entender as questões e equacionar alternativas dentro de sua visão pragmática. Kátia Abreu está cheia de planos para o agronegócio. Pretende modernizar o Ministério da Agricultura e solucionar os principais gargalos do setor adotando um modelo de gestão orientada a resultados. A constituição de uma escola para capacitar os funcionários do ministério e dos órgãos estaduais e municipais de apoio aos produtores rurais, faz parte de sua estratégia de modernização. Para solucionar os sérios entraves no escoamento da produção, a ministra pretende acompanhar de perto os projetos de infraestrutura em andamento e incentivar programas de utilização de hidrovias - um modal de custo reduzido, mas muito pouco utilizado no país. Obstinada pelo desenvolvimento do agronegócio, estabeleceu dentre suas metas dobrar a classe média rural. Para alcançar esse ambicioso alvo, deverá impulsionar os sistemas de assistência técnica e extensão rural e demais mecanismos que proporcionem maior competitividade aos pequenos e médios produtores, especialmente o cooperativismo. No caso da pecuária, pretende estimular a criação de novos frigoríficos e abrir mercados para os produtos brasileiros no exterior. Nesse caso, os programas de sanidade animal, certificação e rastreabilidade serão merecedores de atenção prioritária. 66_Animal Business-Brasil
Um novo plano de defesa agropecuária deverá ser elaborado e colocado em prática com a participação dos secretários estaduais de agricultura. A Plataforma de Gestão Agropecuária(PGA), desenvolvida por meio de parceria entre o ministério e a CNA, será uma importante ferramenta. O extenso programa para impulsionar o desenvolvimento do setor inclui ainda a adoção de medidas para ampliação do seguro rural, a desburocratização do crédito rural e o redesenho da política de preços mínimos e estoques governamentais. A ministra tem permanente preocupação com os aspectos ambientais, o uso consciente da água e dos solos. É uma implacável advogada da sustentabilidade. Com efeito, o crescimento de nossa produção agropecuária nos próximos anos poderá ser alcançado por meio da recuperação das áreas de solos degradados e do aumento da produtividade, com ênfase na adoção de práticas conservacionistas. No campo jurídico, a ministra reconhece a necessidade de uma revisão geral das normas da legislação trabalhista, aplicável às atividades agropecuárias, adequando-as às especificidades do trabalho no campo. A manutenção de um ambiente de segurança jurídica aos produtores deverá ser uma referência na gestão da nova ministra da agricultura. Possuindo sólidos princípios liberais, Kátia Abreu sempre foi uma intransigente defensora da economia de mercado, da livre iniciativa e da garantia dos direitos de propriedade e dos contratos. São valores fundamentais para os produtores rurais. O agro está de parabéns. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
Foto: Eduardo Carvalho
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Foto: Cristina Baran
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www.agrosustenta.com.br
Instituto de Estudos e Pesquisas Sociais e do Agronegócio