Ano 05 - Número 20 - 2015 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
CRIAÇÃO RACIONAL DE ANIMAIS Começou com o estímulo de D. Pedro II
PROGRESSO VERDADEIRO Só com desenvolvimento sustentável
CARNE DE AVESTRUZ Uma opção viável para a indústria
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CASTELO PENHA • Biomedicina • Ciências Biológicas • Medicina Veterinária
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uma publicação da:
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ossa matéria de capa, defende a tese de que a carne de avestruz é adequada para a produção de uma série de produtos de qualidade capaz de competir com os tradicionais. Numa matéria redigida por quem tem a autoridade de pioneiro da primatologia no nosso Pais, o decano da medicina veterinária brasileira, professor Milton Thiago de Mello, presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, destaca a semelhança dos primatas com os humanos, a importância do seu estudo, e chama a atenção para o fato de haver insuficiência de veterinários especializados o que significa boas oportunidades de trabalho. Informa, também, que o Brasil é o país com o maior número de espécies de primatas. Nossos leitores interessados em História, gostarão da matéria assinada pelo médico veterinário Edino Camoleze que nos fala sobre o início da criação técnica de animais no Brasil, incentivada pelo imperador Pedro II através da Carta Régia datada de 25 de junho de 1812. Ronaldo de Albuquerque, diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura – que produz a Animal Business-Brasil, além da centenária A Lavoura – defende a tese de que “o progresso só é verdadeiro quando o desenvolvimento é sustentável”. No seu artigo “Comércio Internacional de Cavalos”, o professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) da Univer-
sidade de São Paulo (USP) nos conta que o potencial brasileiro no comércio mundial de cavalos é superior ao desempenho apresentado nos últimos anos. Segundo Carlos Leal, em entrevista com observadores de aves de Nova Friburgo, que também são excelentes fotógrafos, o estado do Rio de Janeiro abriga 690 espécies, tanto quanto todo o continente europeu. Para os apaixonados por cavalgadas, a região da Mongólia é um programa imperdível, segundo o experiente Paulo Junqueira Arantes. Nicoli Dichoff, da Embrapa/Pantanal desenvolveu um software que mede o nível de sustentabilidade das fazendas da região, envolvendo os aspectos econômicos, sociais e ambientais. O economista agrícola professor Fernando Roberto de Freitas Almeida, PhD, analisa o mercado mundial de carnes em 2015 e informa que as atividades ligadas ao setor veem com expectativa positiva os próximos desenvolvimentos do mercado. Pedro Veiga, Gerente de Tecnologia da Nutron, defende que mesmo durante o período de chuva, para poder apresentar rendimento máximo, os animais precisam receber suplementação alimentar. Esta é a 20ª edição da revista Animal Business-Brasil. Estamos no quinto ano de publicação, sempre abertos a críticas e sugestões e agradecidos pela colaboração dos leitores.
Luiz Octavio Pires Leal Editor
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Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:
Presidente:
Octavio Mello Alvarenga
Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Maurílio Biagi Filho Osaná Sócrates de Araújo Almeida Joel Naegele Tito Bruno Bandeira Ryff Francisco José Vilela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Sérgio Gomes Malta
CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
Presidente 1º vice-presidente 2º vice-presidente 3º vice-presidente 4º vice-presidente Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor Diretor
comissão fiscal Claudine Bichara de Oliveira Maria Cecília Ladeira de Almeida Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otavio Andrade
Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio Freitas Claudio Caiado John Richard Lewis Thompson Fernando Pimentel Jaime Rotstein Hélio Sirimarco José Milton Dallari
Katia Aguiar Marcio E. Sette Fortes de Almeida Maria Helena Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo M. Protásio Roberto Ferreira S. Pinto Rony Rodrigues Oliveira Ruy Barreto Filho
Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br
Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso
Luíz Carlos Corrêa Carvalho TITULAR Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Joel Naegele Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt
Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Ministra Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen
Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Shutterstock Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial
É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Ediouro Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000
Sumário
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Mercado mundial de carnes e o Brasil em 2015
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Software mede nível de sustentabilidade de fazendas no Pantanal
Produtos elaborados com carne de avestruz
Comércio internacional de cavalos
O desafio da pecuária é aumentar a produtividade
A primatologia e a veterinária Pássaros canoros e ornamentais são riquezas que precisam ser preservadas O desafio da gestão eficiente para gerenciar atividades na pecuária
História da produção animal brasileira
Suplementação do pasto para bovinos
45 48 50 52 54 56 62 66
Ciência e Tecnologia
66
O progresso só é verdadeiro quando o desenvolvimento é sustentável Síntese
Uma travessia a cavalo na Mongólia Criador brasileiro contrata a Universidade da Flórida para avaliar gado da raça Senepol Top News
Equoterapia pode ser um bom negócio
Opinião
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Mercado mundial de carnes e o Brasil em 2015 Por:
Prof. Fernando Roberto de Freitas Almeida, PhD, economista agrícola
As expectativas dos brasileiros para 2015 vêm sendo difíceis de avaliar, em razão das indefinições decorrentes de ajustes que se farão necessários, com muita ansiedade quanto a que agentes arcarão com maiores dificuldades ao longo do processo. Em razão da cada vez maior expressividade do agronegócio e do protagonismo brasileiro em vários mercados mundiais de alimentos, com destaque para o das carnes, será um período de decisões difíceis. Não apenas pelas imposições da economia, já que há muita preocupação com a situação climática e a possibilidade de escassez de água e energia.
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esde o final de 2014, tinha-se, da parte das autoridades federais, a afirmação de que serão mantidas prioridades em financiamentos ao setor, apontando que a sustentabilidade dele é fruto de sua própria competência, que continuará garantida por um compromisso com um ambiente juridicamente seguro para os produtores. O compromisso com a manutenção do nível de demanda interna, ou sua ampliação, é uma das grandes questões das políticas públicas para o ano. Externamente, o país vem há tempos se destacando, malgrado tantos problemas, do que usualmente se denomina “Custo Brasil”.
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Problema sério Um problema que poderá se tornar sério tem a ver com a citada escassez hídrica que afeta extensas regiões e poderá afetar a produção e o nível da atividade econômica mas, em geral, aparece com destaque a questão dos preços dos combustíveis, mantidos sob certo controle, em razão da necessidade de conter pressões inflacionárias. É sempre preciso tocar na persistência da grande vulnerabilidade do País, em termos de logística de transportes, destacando-se a preocupação com as hidrovias, como elemento crucial e estratégico, embora seja conhecida a escassez de recursos para investimento. De fato, modais ferroviários deveriam voltar a um lugar de relevo no planejamento, mas as restrições orçamentárias que estão a caminho deverão atrasar todos os planos para o setor.
Expectativa positiva De todo modo, como os preços atuais são considerados atraentes, as atividades ligadas ao setor de carnes em geral veem com expectativa positiva os próximos desenvolvimentos do mercado. Para o mercado externo, o valor da carne suína, por exemplo, até o início do último trimestre de 2014, era 37% superior ao do mesmo período do ano anterior, enquanto o da tonelada da carne bovina subiu 13%, exatamente o dobro da inflação dos doze meses corridos. A carne de frango, porém, não conseguiu boa remuneração e, de fato, reduziu-se 5%. Desse modo, até outubro, a receita anual do setor de carne in natura
Pixabay
A produção de carcaças de qualidade é fundamental para conquistar e manter o mercado mundial
atingiu US$ 9,21 bilhões, 3,5% acima do verificado no mesmo período de 2013. O gado vivo passou a ser um dos principais produtos exportados pelo país (o faturamento com o boi em pé foi 24% maior, chegando a US$ 505 milhões).
Aumento do abate Para 2015, a expectativa é de que os plantéis e a produção globais se expandam. Contudo, como a demanda tende a continuar forte, com a permanência do ingresso de consumidores com suficiente poder aquisitivo para o acesso à proteína animal, os preços deverão ser sustentados em bom nível para a pecuária mundial. A fonte de dados estatísticos mais prestigiada, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América, USDA, projeta para o Brasil uma produção de carne bovina superior a 10 milhões de toneladas, com aumento dos abates. Desse modo, os dois milhões de toneladas que se esperam para as vendas externas brasileiras, em 2014, poderiam chegar ao total de 2,3 milhões de toneladas. No que diz respeito ao tamanho de nossos rebanhos, os analistas locais o avaliam em cerca de 200 milhões de cabeças, bem abaixo do que estimam os americanos: 208 milhões atualmente, e 212 milhões no próximo ano. Será um dos poucos agentes relevantes do mercado a aumentar o plantel.
Concorrentes Os concorrentes brasileiros registram problemas. Por exemplo, na Argentina houve uma grande queda no rebanho, em 2010, e ela vem
se recuperando com vagar. Custos de produção em crescimento, inflação com dificuldades de controle e as limitações governamentais às vendas externas prejudicam a recuperação da atividade mas, apesar disso, o Departamento projeta exportações próximas a 210 mil toneladas, de uma produção de 2,8 milhões de toneladas.
Crise ucraniana Produtores brasileiros deverão continuar sendo beneficiados pelos efeitos da crise ucraniana sobre os negócios entre russos e europeus, e um terceiro país sul-americano relevante no mercado das carnes, o Uruguai, devera voltar-se mais aos EUA, com remuneração mais elevada em suas vendas. Neste último país, continuará a existir o menor rebanho em muito tempo, com menor volume de gado confinado. Em 2010, os americanos tinham um rebanho de 94 milhões de cabeças, que caiu para os 87,7 milhões da atualidade. Suas exportações serão de apenas 1,14 milhão de toneladas de carne bovina.
O mercado Russo Os russos foram, no período corrente, um sustentáculo para os preços brasileiros, especialmente para as aves e os suínos. Sua decisão de retaliar produtos europeus, americanos, canadenses e australianos nos beneficiou, embora alguns dos nossos produtores os considerem compradores instáveis. Desse modo, apenas negócios que seriam feitos com os chineses, a preços menores, estão sendo desviados para o Animal Business-Brasil_7
Os russos foram o sustentáculo dos preços de aves e suínos
mercado russo. Observe-se que a desvalorização do rublo frente ao dólar pode estar indicando que os preços talvez já tinham atingido um limite de alta naquele país, que pode não se repetir em 2015. Destinando sua quota de compras de carne europeia para países sul-americanos (incluiria o Paraguai) haverá boas expectativas. Em 2014, UE e EUA tinham quotas somadas de 120 mil toneladas de carne bovina congelada.
Abate no Uruguai Os rebanhos uruguaios, terão um abate próximo ao que se espera para os argentinos, atingindo algo em torno de 2,45 milhões de toneladas, superando os 2,24 milhões projetados para 2014. Poderão exportar mais do que os argentinos: 435 mil toneladas, com um belo desempenho, 13,5% superior ao deste ano.
Produtores europeus Os produtores europeus possivelmente continuarão tendo problemas com a demanda russa, que deverá estabilizar seus indicadores de produção e de abates na faixa de 26,5 milhões de cabeças e 7,5 milhões de toneladas de carne.
A Índia Um outro participante e concorrente, a Índia, exportadora de carne de búfalo, tem condições de exportar 10% a mais do que no ano corrente, chegando a 2,2 milhões de toneladas. Como um todo, o mercado mundial de carne bovina, em 2015, terá, ao que tudo indica, uma produção de 258 milhões de toneladas (+0,7% em relação a 2014) e o consumo mundial do complexo de aves, suínos e bovinos, poderá totalizar 253,2 milhões de toneladas (contra os 252 milhões de agora).
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Suínos Os suínos, em escala mundial, deverão afinal superar os dois anos de quedas nas exportações mundiais e tendem a apresentar desempenho 4% superior, com 7,2 milhões de toneladas e demanda, mais uma vez, puxada pelo colossal mercado chinês. Estima-se que a produção mundial suba para 111,8 milhões de toneladas, pouco acima do consumo, calculado em 111,2 milhões. A liderança na produção global é dos chineses, com 57,4 milhões de toneladas, e com o Brasil aumentando sua parcela de 3,3 milhões de toneladas, atualmente, para 3,5 milhões.
O maior exportador Assim, o Brasil continuará se destacando, como o maior exportador, pois o mercado mundial da carne bovina será o único do complexo a registrar menor produção no ano que vem, com a diminuição da produção estadunidense, esperada em 1,4% a menos do que a produção de 2014, chegando a 58,7 milhões de toneladas. Pelo lado da demanda, a cidade de Hong Kong, porta de entrada para a China, poderá adquirir até 15% a mais, atingindo compras anuais de 750 mil toneladas, um pouco abaixo das da Rússia (825 mil toneladas). Em termos da exportação de carne de aves, a liderança global é brasileira, e assim continuará, exportando 3,8 milhões de toneladas, mas os EUA estão à frente na produção, com 17,7 milhões de toneladas (no Brasil, são 13,3 milhões). Neste setor, os vizinhos argentinos também começam a se destacar, passando a deter 41% das vendas ao exterior da América do Sul. Assim, embora vários indicadores da economia internacional sinalizem para a continuação de tempos ainda difíceis, com recuperação lenta das economias dos principais países, dificuldades de câmbio e paralisação nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio, o cenário para o mercado mundial das carnes e, em especial, para a posição brasileira, continua positivo. A competência do setor, conforme referência anterior é conhecida e respeitada, no mundo todo.
Software mede nível de sustentabilidade de fazendas no Pantanal Por:
Nicoli Dichoff, Embrapa Pantanal
Tecnologia desenvolvida pela Embrapa avalia todo o processo produtivo da propriedade, envolvendo os aspectos econômicos, sociais e ambientais
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omo saber se uma fazenda produz de forma sustentável? E o que fazer para que ela produza dessa maneira? Um software desenvolvido pela Embrapa deve ajudar o produtor rural a responder essas questões. A Fazenda Pantaneira Sustentável, ou FPS, é uma ferramenta que avalia os processos produtivos
da pecuária de corte local para conhecer o nível de sustentabilidade das propriedades – tanto nos diferentes aspectos que envolvem o sistema de produção quanto na fazenda como um todo. Segundo Sandra Santos, pesquisadora da Embrapa Pantanal que coordena o projeto, com a FPS é possível avaliar o impacto da atividade pecuária sobre o sistema produtivo e identificar quais aspectos estão abaixo do nível desejado para que a propriedade rural se torne sustentável. Para entender a análise feita pela ferramenta, é necessário conhecer o conceito de sustentabilidade, que não significa apenas preservar o meio ambiente. “A sustentabilidade de uma fazenda é um equilíbrio entre os aspectos do sistema produtivo que considera as dimensões econômica, social e ambiental”, diz Sandra. Por isso, ela afirma que essas três áreas são avaliadas igualmen-
Divulgação Korin
O uso da ferramenta é uma das maneiras de viabilizar a sustentabilidade na produção pecuária brasileira
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Silvia Massruha, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária
te na leitura da FPS através da análise dos chamados “indicadores”, que são os itens e fatores relevantes para determinar o grau de sustentabilidade da propriedade, como a manutenção da biodiversidade, conservação dos recursos hídricos, pastagens, manejo e bem-estar animal, além de aspectos financeiros e sociais.
Como funciona Para usar o software, o pecuarista precisa de um computador com acesso à internet. O produtor ou o assistente técnico verifica os diferentes aspectos dos registros sobre a fazenda, a partir de medidas como o escore corporal das vacas, por exemplo. Depois, ele entra no sistema da FPS e dá notas aos indicadores. A partir daí, o software gera uma nota final que integra as informações de todos os índices, produzindo um relatório para dizer se a fazenda está sustentável ou não e mostrando quais aspectos têm que ser melhorados para que ela se aproxime dessa sustentabilidade, segundo Silvia Massruhá, chefe-adjunta de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Informática Agropecuária – unidade parceira da Embrapa Pantanal na criação da FPS. As duas pesquisadoras afirmam que os estudos feitos para definir os indicadores duraram cerca de dez anos e contaram com a contribuição de vários especialistas em diversas áreas. Usando uma técnica de inteligência computacional conhecida como “Fuzzy”, Silvia conta que a avaliação da FPS qualifica os diferentes aspectos da produção rural em conceitos como “adequado”, “inadequado” ou “moderado”, por exemplo, adaptando-se à realidade dinâmica da fazenda. “É um sistema de apoio à tomada de decisão. É importante que ele seja usado com uma consultoria ou em contato com alguém da 10_Animal Business-Brasil
Raquel Brunelli
Lilian Alves
Raquel Brunelli
Leonardo de Barros, presidente da ABPO
Pesquisadora Sandra Santos
Embrapa para que um especialista possa orientar sobre os procedimentos que podem melhorar os processos produtivos”, diz a pesquisadora.
Certificação da carne sustentável Neste ano, a Associação Brasileira de Pecuária Orgânica (ABPO) e a empresa nacional Korin Agropecuária, que trabalha com itens orgânicos e sustentáveis, propuseram uma parceria com a Embrapa para usar a FPS na certificação da carne sustentável do Pantanal. Dessa forma, todos os produtos da região aprovados pela análise da ferramenta teriam um selo comprovando a origem e métodos de produção. Segundo Leonardo de Barros, presidente da ABPO, a FPS será testada pelos técnicos da Associação em breve. “Com a prática, vão surgir questões sobre a ferramenta que vão precisar de adaptações (...). É esse trabalho que vai começar agora: devemos fazer as primeiras avaliações nas propriedades da ABPO nos próximos meses e vamos utilizar essas avaliações para preparar novos técnicos que possam usar a ferramenta”, diz Leonardo. A produção de pecuária orgânica no Pantanal também recebe, desde 2003, o apoio da WWF-Brasil por meio de uma parceria firmada com a ABPO. Para Ivens Domingos, especialista em pecuária sustentável da WWF, a ferramenta da Embrapa tem grande importância para estimular essa atividade produtiva, assim como o consumo desses produtos. “O desafio, agora, é como a gente vai conseguir, junto à Associação e às fazendas, adaptar a FPS para que ela possa ser usada pela ABPO e pelo parceiro comercial como ferramenta de transparência e de marketing”, afirma o técnico. “Esse índice vai ser uma garantia e uma segurança para que não só a WWF, mas outras entidades da sociedade civil possam apoiar essas fazendas”.
Sustentabilidade no campo A FPS começou a ser aplicada em algumas fazendas da região do Pantanal ao longo do ano de 2014. Um dos produtores que testaram a tecnologia foi Paulo Mainieri, proprietário da Fazenda Cantagalo, que fica na região do Paiaguás, Mato Grosso do Sul. “Ao fazer essa parceria com a Embrapa, já conseguimos alguns dados que, de outra forma, seriam bem complicados de se obter, como uma avaliação mais científica do nosso campo”, conta Paulo. Ele fala que a análise da FPS é fundamental em uma região de ambientes tão diversos quanto o Pantanal, onde nenhuma propriedade é igual a outra. “O uso da ferramenta ajuda a identificar as necessidades da fazenda de forma personalizada”, diz o pecuarista. Com a ajuda da Fazenda Pantaneira Sustentável, Paulo diz que avalia as práticas da propriedade para aproximá-las de um modelo sustentável e melhorar a produtividade da fazenda ao mesmo tempo. “É preciso ter essa relação de respeito com a natureza, realizando atividades econômicas e trabalhando em harmonia com o lugar onde você está”, conta. Para alcançar a sustentabilidade, o pecuarista também afirma investir em iniciativas na área social, promovendo a participação dos empregados nos lucros da fazenda como forma de valorizar a mão de obra e o conhecimento tradicional que agregam valor à produção. “A gente tem que estar de mãos dadas com o pessoal local e não acima deles”, completa o pecuarista.
Perspectivas do mercado Tanto o pecuarista Paulo Mainieri quanto a ABPO e a Korin Agropecuária trabalham para atingir um grupo consumidor de crescente expressividade no mercado – um público que valoriza os benefícios e dá preferência a produtos comprovadamente orgânicos ou sustentáveis, mesmo que eles ainda possuam um preço mais alto em relação aos comuns. Um exemplo disso está nos números da Korin. Segundo Reginaldo Morikawa, diretor-superintendente da empresa, o faturamento em 2007 foi de aproximadamente 17 milhões de reais. Para 2014, a previsão é que a Korin feche o ano com um faturamento de 90 milhões, de acordo com o diretor. “Hoje, temos cerca de 200 itens em venda, com aproximadamente 40 variedades de produtos”, afirma.
Ainda segundo Morikawa, a empresa realizou no fim de 2014 o lançamento oficial da carne bovina sustentável em parceria com a WWF-Brasil, ABPO e o Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável (GTPS). Abatendo atualmente cerca de 90 animais por mês, a expectativa do diretor é que esse número aumente para 150 nos primeiros meses do próximo semestre. Para ele, a certificação emitida pela FPS da Embrapa dá embasamento às informações na embalagem do produto. “Com o bovino sustentável do Pantanal, queremos valorizar o aspecto ambiental, a pureza da carne, a inclusão social e a tradição”, diz Morikawa. “Ao adquirir o produto pantaneiro, o consumidor passa a fazer parte da preservação daquele ambiente”, completa o diretor.
O preço da sustentabilidade Embora o valor pago pelos produtos sustentáveis ainda seja maior que o dos comuns no supermercado, o pecuarista Paulo Mainieri ressalta: “o lucro da venda pode ir para o produtor, mas o benefício que acontece com a terra que ele preserva é para todos”. O estímulo à produção sustentável também pode acontecer em outras regiões do Brasil com a adaptação da FPS, que tem potencial para ser utilizada em diversos locais do País, segundo a pesquisadora Sandra Santos. Ela afirma que o uso da ferramenta para a certificação de produtos é uma das maneiras de viabilizar a sustentabilidade na produção pecuária brasileira. “Vai estimular o retorno econômico para o produtor enquanto ele conserva o meio ambiente, fixando o homem do campo”, diz. Para manter a atividade produtiva sustentável, o presidente da ABPO ressalta a necessidade de conscientizar outros elos da cadeia – como o setor de varejo e os frigoríficos, por exemplo – sobre a importância desse tipo de trabalho. “Quem faz a revolução da sustentabilidade é o consumidor. São as nossas escolhas”, afirma Leonardo. Para Sandra Santos, é nesse ponto que a análise da FPS torna-se necessária: para ajudar a determinar o valor que deve ser atribuído ao que, antes, não era medido. “Enquanto a gente não quantificar a produção sustentável, não temos como lutar para que isso tenha preço. A partir do momento em que nós possuímos uma ferramenta para comprovar que o produtor conserva, temos tudo para que ele receba uma compensação financeira por isso”, conclui. Animal Business-Brasil_11
A pecuária possui um grande parceiro capaz de contribuir para o seu desenvolvimento sustentável em todo o estado.Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que, na pecuária, não existe bicho de sete cabeças.
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Produtos elaborados com carne de avestruz Por:
Rafael Soares Nascimento - Doutorando da UFF, e Zander Barreto Miranda - Prof. Dr. da UFF
Os produtos elaborados com carne de avestruz são uma alternativa viável para a indústria, podendo competir com produtos similares elaborados com carne de outras espécies e atendendo a um nicho crescente no mercado consumidor, que procura o consumo de produtos mais saudáveis. Além
disso, a comercialização de produtos de valor agregado, oriundos da carne de avestruz, pode colaborar com a renda dos produtores e fabricantes e impulsionar a criação e abate desta espécie animal de tão grande potencial de produção e com carne tão saborosa e saudável.
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Hamburguer de Avestruz cru
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interesse e a preocupação crescentes com uma alimentação saudável fazem com que a sociedade e as empresas busquem fontes alternativas de carne, que apresentem baixos teores de gordura e, ao mesmo tempo, nutritivas e saborosas para atender às expectativas do consumidor. As carnes das ratitas, aves que não voam, como a avestruz (Struthio camelus), o emu (Dromaius novaehollandiae), a ema maior (Rhea americana) e a ema menor (Pterocnemia pennata), despertam interesse comercial, e já se encontram disponíveis no comércio especializado em carnes não convencionais. Dentre as ratitas, a carne de avestruz é a mais estabelecida no mercado, em função desta ser criada comercialmente a mais tempo e apresentar maior produção de carne por animal que as demais.
A maior ave A avestruz é a maior ave existente na Terra, com um macho adulto medindo até 2,5 metros (m) de altura e pesando mais de 150 kg. A avestruz é natural da África e Oriente Médio, mas já foi extinta no último. No seu habitat natural, esta se alimenta principalmente de gramíneas, folhas novas e ramos de arbustos e de árvores.
O começo foi na África do Sul A estrutiocultura, criação de avestruzes, se iniciou na África do Sul, em 1863, objetivando a produção de plumas para a indústria da moda e equipamentos de limpeza industrial e doméstica. Com o colapso do mercado de plumas em 1914, a estrutiocultura desapareceu na maioria dos países, exceto na África do Sul. No entanto, a mesma foi restabelecida na década de 80, com o couro como produto mais importante, mas com um crescente mercado para a carne.
No Brasil No Brasil, a estrutiocultura teve início em 1995, como uma nova alternativa pecuária, devido a sua grande produtividade, rusticidade e por não demandar grandes extensões de terra
para sua criação, em virtude de em cada hectare poderem ser criados cerca de 20 reprodutores ou 100 animais para engorda. Apresentando-se, desta forma, como uma atividade vantajosa para pequenas e grandes propriedades. Sendo o Brasil um dos maiores produtores e exportadores mundiais de alimentos, com grandes áreas agrícolas, este tem o potencial de tornar-se um grande produtor de carne, couro e plumas de avestruz. No entanto, o histórico da estrutiocultura no Brasil pode ser dividido em duas fases, sendo a primeira caracterizada pelo início e grande entusiasmo para a criação, com muitos criadores, com a espera de lucro rápido e fácil e as dificuldades inerentes à qualquer atividade pecuária e principalmente, com uma espécie exótica e que possui suas singularidades. Levando à quebra de empresas e criadores, retração e desânimo no mercado. A segunda fase caracteriza-se pela presença de produtores que aplicam novas tecnologias na criação, procurando melhor sistema de criação, melhor qualidade da carne e melhor aproveitamento das plumas e dos subprodutos do abate.
Mercado Uma vez que a avestruz tem alto potencial de produção de carne vermelha saudável, maior que o de bovinos e ovinos criados comercialmente, há um progressivo aumento na estrutiocultura. Além disso, os surtos de encefalopatia espongiforme bovina, popularmente conhecida com doença da vaca louca, no gado da Europa, aumentaram o receio da população de consumir carne bovina e aceleraram a busca por carnes vermelhas alternativas. A febre aftosa no Reino Unido e na França exacerbaram a situação na Europa.
Produtividade Uma fêmea de avestruz tem potencial para produzir 20 ou mais filhotes ao ano, que são abatidos geralmente aos 14 meses de idade, gerando mais de 1,35 m2 de couro de alta qualidade, usado na fabricação de artigos de luxo, obtido a partir do processamento das peles de Animal Business-Brasil_15
Bennati s. r. l
O baixo conteúdo de sódio na carne de avestruz a torna indicada para indivíduos com restrição desse eletrólito, como os hipertensos Presunto de Avestruz
avestruz; 1,10 kg de plumas, para serem vendidas à indústria da moda e carnaval e para confecção de equipamentos de limpeza industrial e doméstica; e 35 kg de carne por ave, com até 90% dos cortes de alto valor comercial, enquanto nas outras espécies aproximadamente 45% o são.
A carne A carne de avestruz é conhecida como uma iguaria, sendo considerada e comercializada nas sociedades ocidentais como uma alternativa saudável às demais carnes vermelhas devido às suas propriedades nutricionais: baixos teores de colesterol, gordura intramuscular e sódio e alta porcentagem de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 e ferro. Sendo também uma opção para comunidades onde a ingestão da carne suína ou bovina é proibida, muçulmanos e hindus, respectivamente, bem como para pessoas alérgicas. O baixo conteúdo de gordura intramuscular na carne de avestruz é uma das mais promissoras características da carne incluídas nas estratégias de “marketing”, sendo recomendada para as pessoas que tentam manter seu peso sob controle, e àquelas que desejam evitar doenças cardiovasculares. O alto teor de ácidos graxos poli-insaturados ômega-3 é uma característica vantajosa para a promoção do produto, uma vez que a ingestão deste ácido graxo diminui a incidência de doenças coronárias e é essencial para o crescimento 16_Animal Business-Brasil
e desenvolvimento humano por todo o ciclo de vida, possuindo ainda propriedades antitrombóticas e antiaterogênicas. Além disso, o baixo conteúdo de sódio na carne de avestruz é indicado para indivíduos com restrição de sódio na dieta, como os hipertensos e seu conteúdo de ferro, maior que o da carne bovina, a recomenda na dieta de pessoas anêmicas e mulheres grávidas. Quanto à cor, a carne crua de avestruz tem uma coloração mais escura que a carne bovina, devido ao alto conteúdo de heme e ao efeito do alto pH, que varia de 5,8 a 6,2, na retenção de água, resultando em menos refletância da luz. Em relação ao sabor e aroma, os consumidores a classificam como mais suave que a carne bovina. A carne de avestruz é caracterizada por um baixo conteúdo de tecido conjuntivo e de colágeno, tornando-a mais macia, característica apreciada pelo consumidor. Apesar disso, a carne de avestruz não deve ser cozida acima de 80ºC, pois a ausência de gordura intramuscular na carne provoca perda de suculência.
Produtos industrializados Desde a Antiguidade, o homem sempre buscou conservar a carne, preservando suas características de qualidade para manter o armazenamento de alimentos, originando-se, assim, processos e tecnologias de transformação. Desde essa época, os seres humanos fabricam diferentes tipos de produtos de salsicharia, embutidos ou não, aumentando a
validade comercial das carnes, diversificando a oferta de seus derivados e atendendo às exigências do consumidor. O pH da carne de avestruz é relativamente alto, tornando essa carne ideal para a industrialização, já que sua capacidade de retenção de água é alta, sendo uma boa característica na elaboração de produtos cárneos, e ainda reduzindo o uso de agentes retentores de água, como os fosfatos. Pesquisadores, no Brasil e no exterior, utilizaram a carne de avestruz na elaboração de produtos cárneos como salames, salsichas, mortadela Bologna, hambúrgueres e presuntos. Sendo que nesses produtos ou a carne de avestruz era a única fonte de carne magra ou estava em adição com carnes de outras espécies de animais de abate. Os pesquisadores analisaram os produtos físico-quimicamente, microbiologicamente e/ ou sensorialmente. Os resultados foram positivos. De um modo geral, a utilização da carne
Renzini Alta Norcineria
Presunto de Avestruz
de avestruz na elaboração de produtos gera um alimento mais saudável, devido às propriedades da carne, mais escuro que os produzidos com carnes de outros animais e bem aceitos sensorialmente.
Linguiça frescal Uma vez que a linguiça é um dos produtos cárneos mais produzidos e consumidos no Brasil, foram elaboradas três formulações de linguiça frescal com a utilização de carne de avestruz como fonte de carne magra: pura, mista de carnes de avestruz e suína, e mista de carnes de avestruz, suína e frango, submetidas à embalagem sem vácuo e com vácuo, conservadas em temperatura de resfriamento, 5 ± 2 ºC. Para a elaboração das formulações não foram utilizados cortes nobres de carne de avestruz, mas recortes e aparas, carne proveniente da desossa e, por isso, considerada menos nobre e menos valorizada, com o objetivo de dar um destino adequado a esta carne, tão saborosa e nutritiva quanto os cortes nobres, mas praticamente sem valor econômico. As formulações atenderam aos padrões físico-quimicos estabelecidos no Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Linguiça, Anexo III da Instrução Normativa nº 4, de 31 de março de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), apresentando maiores teores de proteína e menores valores de lipídeos que os estipulados no mesmo. A linguiça pura apresentou menores teores de cinzas, enquanto o valor do pH variou proporcionalmente à concentração de carne de avestruz na formulação. A coloração das formulações também variou conforme a concentração de carne de avestruz, sendo que quanto maior a concentração, mais escura a linguiça. Com relação às análises bacteriológicas, a linguiça pura foi a que obteve o maior período de validade comercial, 12 dias, armazenada à temperatura de 5 ± 2ºC. As formulações tiveram uma boa aceitação na análise sensorial, sugerindo que o produto poderá ser aceito, do ponto de vista sensorial, pelo mercado consumidor. Animal Business-Brasil_17
ComĂŠrcio internacional de cavalos Marina Marangon Moreira, Rodrigo Degelo Lorenzon, graduandos, e Roberto Arruda de Souza Lima, Prof. Dr. da ESALQ/USP
GTC Brasil
Por:
18_Animal Business-Brasil
O potencial brasileiro no comércio mundial de cavalos é superior ao desempenho apresentado nos últimos anos, tanto em exportações quanto nas importações. Neste artigo é apresentada uma breve análise da evolução observada nos anos recentes até as últimas informações disponíveis e, em seguida, discutida a evolução recente e perspectivas para o comércio internacional de cavalos vivos.
O
s dados mais recentes disponíveis na FAO referem-se ao ano de 2011. Conforme pode ser observado na Figura 1, a quantidade de cavalos vivos exportada pelo Brasil a partir do ano 1990, cresceu ao longo do período, sendo que houve significativo aumento a partir do ano de 2009, aproximando-se de 3,5 mil animais em 2011.
portação está a Polônia, seguida de perto pela Holanda (Figura 2). Figura 2 – Três maiores exportadores e Brasil, em quantidade de cavalos vivos, em 2011. 200.000
185.603
150.000 100.000 50.000 -
19.974 Estados Unidos
19.787
Polonia
Holanda
3.294 Brasil
Fonte: FAO (2014)
Ao se analisar a posição do Brasil perante os principais exportadores mundiais, verifica-se que esta não é muito expressiva. Porém, ao se analisar os principais países inseridos na atividade no Mercosul (Uruguai e Argentina), observa-se que nos últimos anos o Brasil vem crescendo em números de animais exportados, ultrapassando recentemente o Uruguai e a Argentina, que tem apresentado queda nas exportações (Figura 3). Figura 3 – Evolução das exportações de cavalos vivos do Brasil, Argentina e Uruguai, de 1990 a 2011. 12000 10000
Figura1 – Brasil:Exportação de cavalos vivos, em número de animais. 3500
8000 6000
3000 4000
2500 2000
2000
1500 0
1000
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 Brasil
0
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
500
Argentina
Uruguai
Fonte: FAO (2014)
Fonte: FAO (2014)
Posição do Brasil
O principal exportador de cavalos mundialmente são os Estados Unidos, em segundo lugar com quase dez vezes menos volume de ex-
A Figura 4 apresenta dados da quantidade de cavalos vivos importada pelo Brasil entre os anos de 1990 e 2011. A importação apresentou Animal Business-Brasil_19
uma queda entre os anos de 1992 e 2009, mas voltou a crescer no ano de 2010. Figura 4 – Brasil: Importações de cavalos vivos, em número de animais, de 1990 a 2011.
Ao analisar os países do Mercosul na importação, devido a quedas ocorridas nas importações, tanto do Uruguai quanto da Argentina, o Brasil se destaca entre eles nos últimos anos.
2.500
Figura 5 – Importação de cavalos vivos, Brasil, Uruguai e Argentina, de 1990 a 2011.
2.000
8.000
1.500
7.000
3.000
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1.000
5.000
500
4.000
0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
3.000 2.000
Fonte: FAO (2014)
1.000 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
0
Os containers de transporte aéreo de cavalos são projetados de forma a evitar que os animais se machuquem durante a viagem
Brasil
Argentina
Uruguai
Fonte: FAO (2014)
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As mudanças recentes
A tributação e a burocracia são barreiras que impedem o crescimento do transporte e a importação de cavalos
O forte crescimento das importações brasileiras no final do período apresentado nas Figuras 1 e 4 deve-se, em parte, à edição da Instrução normativa n. 1 da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do MAPA, de 29 de dezembro de 2009. Essa Portaria aprovou as normas técnicas para importação e exportação de equídeos para reprodução, competições de hipismo e provas funcionais. Entretanto, essa tendência reverteu-se nos últimos anos, conforme ilustrado na Figura 6. Figura 6 – Brasil: Importação de cavalos vivos no período de 2011 a 2014, em número de animais. 3.500 3.000
2.925 2.629
2.500 2.000 1.500 887
1.000
0 2011
Fonte: VIGIAGRO (2015) 20_Animal Business-Brasil
663
500 2012
2013
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Toda movimentação dos cavalos é suave para reduzir o estresse dos animais, que sempre são acompanhados de veterinários em toda a viagem
Entre diversos fatores que ocasionaram essa reversão está a confirmação de casos de Mormo no Brasil. O Mormo é uma doença infecto-contagiosa dos equídeos que pode ser transmitida a outros animais e também ao homem, a contaminação ocorre pelo contato com material infectante (fezes, urina, pus ou secreção nasal). O controle da doença é muito difícil e deve ser realizado com cautela1, isolando a área que contém animais doentes, sacrifício desses animais positivos, cremação dos corpos, e, por fim, a desinfecção de todo material que entrou em contato com esses animais. Com casos de Mormo confirmados no Brasil2, essa doença tem consequências diretas na equinocultura, como, por exemplo, no transporte de cavalos. Todos os animais transportados, tanto interestadual quanto internacionalmente, devem apresentar comprovante de exame negativo de Mormo. Todos os dados considerados neste artigo são dados oficiais, ou seja, todo mercado que é realizado seguindo todos os padrões exigidos. O MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) oferece uma cartilha com as Normas para o controle e erradicação do mormo. 2 O Brasil é um dos poucos países da Organização Internacional de Saúde Animal em que há registros da doença. 1
Porém, é possível afirmar que ainda existem formas irregulares desse tipo de comércio para diminuir os gastos que existem com tributação, de modo que é possível que tenha ocorrido subestimativa, mas a tendência não deve ser alterada.
O potencial do Brasil é elevado A tributação e a burocracia existentes para que o transporte e demais atividades ligadas às importações e exportações de animais vivos ocorra é uma barreira que impede o crescimento dessas áreas. Além dos custos com tributos e burocracias, a vigilância sanitária também é um aspecto que diminui o alcance desse mercado. Cada vez mais são exigidas normas e regras necessárias para garantir a segurança, tanto dos animais quanto das pessoas envolvidas no processo, o que eleva custos com exames (alguns com eficácia questionada por diversos agentes) e veterinários para o acompanhamento do animal. Entretanto, o potencial do Brasil é elevado, tanto na importação quanto na exportação, bastando que ocorra esforço dos agentes públicos e privados ligados ao comércio internacional para eliminar barreiras existentes, especialmente foco nos aspectos sanitários (destacando o combate ao mormo). Animal Business-Brasil_21
O desafio da pecuária é aumentar a produtividade Por:
Paulo de Castro Marques – presidente da Associação Brasileira de Angus
O Brasil é um dos principais atores da pecuária mundial. Somos o maior exportador de carne vermelha do mundo (mais de 1,8 milhão de toneladas previstas em 2014) e o segundo maior produtor no cenário global (cerca de 9,6 milhões de toneladas/ ano). Em termos de consumo per capita, o brasileiro leva ao prato cerca de 39 kg de carne vermelha por ano, volume igual ao dos norte-americanos.
Produtividade Precisamos avançar em produtividade. Essa responsabilidade tem de ser repartida com vários agentes. Desde as esferas governamentais às instituições de pesquisas, passando pelos técnicos, os produtores e os demais envolvidos na cadeia da carne. Todos podem contribuir. E há ferramentas indispensáveis para impulsionar a oferta de proteína animal no País. Uma delas é a genética aplicada à pecuária. A seleção de animais feita pelo melhoramento genético destinado às raças com aptidão para carne, visando às características produtivas e reprodutivas do animal, é um bom exemplo disso.
Métodos modernos Os valores genéticos dos animais mensurados por Diferença Esperada na Progênie (DEP), por exemplo, que identificam a real capacidade de transmissão da genética do touro para o bezerro, têm sido obtidos pelos mais modernos A uniformidade do plantel é um dos índices de alta produtividade
P
or esses números, pode-se dizer que a bovinocultura nacional cumpre bem o seu papel de fornecedora de proteína vermelha à população. Porém, é possível fazer mais. O Brasil caminha a passos moderados na evolução genética do rebanho bovino. Temos plantel de mais de 200 milhões de cabeças e produzimos menos de 10 milhões de toneladas de carne/ano. Enquanto isso, os Estados Unidos possuem 88 milhões de cabeças e produzem 11,7 milhões de toneladas por ano, como informa o consultor Alexandre Mendonça de Barros.
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Tanto os animais de origem taurina como os de origem zebuína necessitam de trabalho de adaptação ao ambiente
métodos científicos, incluindo a seleção genômica, que possibilita a análise de dados moleculares dos animais. A inclusão de dados genômicos permite que várias características sejam avaliadas, aumentando a acurácia das DEPs dos animais. O trabalho de melhoramento genético visando animais funcionais também é determinante neste processo.
Adaptação Seja o animal de origem taurina ou zebuína, é indiscutível a necessidade de trabalho voltado para a adaptação do indivíduo ao ambiente onde será colocado para trabalhar. Uma boa iniciativa nesse sentido foi a criação do Programa Mais Pecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), que prevê, para os próximos 10 anos, o aumento da produtividade bovina, passando de 1,3 bovinos por hectare para 2,6 bovinos por hectare. Com isso, a proposta é liberar algo em
torno de 46,2 milhões de hectares para outras atividades produtivas. O programa deve funcionar sob quatro eixos, sendo o melhoramento genético o primeiro e principal deles. O segundo passo será expandir as vendas dos produtos, ampliando em 35% o consumo interno de carne bovina e aquecendo as exportações dos produtos derivados.
Excelente notícia Se efetivamente for colocado em prática, se trata de uma excelente notícia para a pecuária brasileira. Afinal, de acordo com a FAO, em 2050 a população mundial contará com nove bilhões de pessoas. E o desafio é de, no mínimo, dobrar a produção de proteína vermelha até lá para atender à crescente demanda. O Brasil tem terra, clima, água e um potencial extraordinário para aumentar a produção. Porém, precisamos avançar em eficiência e o melhoramento genético está aí para nos ajudar a atingir esses objetivos.
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A primatologia e a veterinária Por:
Milton Thiago de Mello-Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária
A primatologia é um dos temas em que existe insuficiência de veterinários, embora seja um campo muito amplo e diversificado. Os primatas não-humanos, comumente chamados de macacos constituem um grande grupo de animais cujos representantes mais evoluídos, como os chimpanzés, gorilas e orangotangos (todos inexistentes no Brasil em condições naturais) têm semelhança com os primatas humanos, até mesmo genética. Por motivo de simplificação a palavra primata é geralmente usada para designar os primatas não humanos.
O
Brasil é o país que tem maior número de espécies de primatas. Esse número está sempre crescendo com novas descobertas quando os pesquisadores se aventuram a penetrar nas florestas dos biomas brasileiros,
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A primatologia brasileira, com suas dezenas de temas para estudo, necessita de veterinários e de profissionais de outras áreas. Existe assunto para diversos tipos de interesse longe dos rios (interflúvios) e estradas. As centenas de espécies brasileiras têm nomes populares diversos conforme a região onde se encontram. As mais comuns são: macaco-prego, sagüí, bugio, macaco-de-cheiro, mico-leão, muriqui, etc. Outras vezes as espécies são descobertas pelo exame de exemplares “esquecidos” em gavetas e armários de museus pelo mundo inteiro. O estudo dos primatas pode ser feito em seu ambiente natural (in situ) ou fora dele em cativeiro, em zoológicos, instituições de pesquisas ou como mascotes (ex situ). No primeiro caso o foco principal é o estudo com vistas à conservação. No segundo, o uso para pesquisas médicas, embora cada vez menos usado.
Não falta assunto A primatologia brasileira com suas dezenas de temas para estudo, necessita dos veterinários e outros profissionais. Assuntos existem para qualquer tipo de interesse intelectual, curiosidade cientifica e orçamento. O Quadro I dá uma idéia do grande número deles. É claro que a maioria é também aplicável para o estudo de outros animais silvestres.
Quadro I: Temas para estudos com primatas BIOLOGIA: Genética. Anatomia. Fisiologia. ZOOLOGIA: Taxonomia. Sistemática. Morfologia. Taxidermia. ECOLOGIA: Hábitats. Zoogeografia. Biodiversidade. Demografia. ETOLOGIA: Comportamentos alimentares e reprodutivos. CONSERVAÇÃO: Impacto Ambiental. Manejo. Reintrodução, Translocação e Introdução. Conceito de Arca de Noé (in situ, ex situ). CAPTURA: Métodos de contenção (Fisicos e Químicos). TRANSPORTE: Por terra, ar e água. MANEJO: Em cativeiro, semi-cativeiro e no hábitat natural. REPRODUÇÃO: Em condições naturais e em cativeiro. Hormônios. Embriotecnologia. Clonagem. PRODUÇÃO ZOOTÉCNICA: Para comércio, pesquisa e conservação. Seleção. Condições físicas, fisiológicas e psicológicas. CLÍNICA VETERINÁRIA: Prevenção e tratamento de doenças. Profilaxia de zoonoses. BEM ESTAR ANIMAL: Cativeiro, transporte. PATOLOGIA: Macro e microscópica. ZOONOSES: Do primata para o homem e vice-versa. MEDICINA DA CONSERVAÇÃO: Integração de diferentes profissões. MEDICINAS ALTERNATIVAS: Acupuntura. Plantas medicinais. Etnomedicina. Homeopatia. ZOOLÓGICOS. COMÉRCIO DE PRIMATAS: Legal (CITES) e ilegal (contrabando). Biopirataria. DESTRUIÇÃO DE HÁBITATS: Causas. Mitigação. Fonte: Mello, 20111
Interesse antigo O interesse da Academia Brasileira de Medicina Veterinária pela Primatologia vem de longa data. Sua primeira publicação há 20 anos foi sobre o assunto2. Em zoologia, a concessão do nome de uma pessoa a uma nova espécie animal é considerada grande honraria. Recentemente duas espécies de primatas foram dedicadas a veterinários brasileiros ambos Membros Titulares da Academia Brasileira de Medicina Veterinária(Fig.1): Alcides Pissinatti, que durante cerca de 40 anos tem trabalhado ininterruptamente no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro e Milton Thiago de Mello, por seus trabalhos com primatas iniciados em 1944 no Instituto Oswaldo Cruz e deMuriqui (Brachyteles arachnoides)
A Profissão Veterinária no Limiar do Futuro – M.T. de Mello, 2ª ed, 2011 Brasília: 208 páginas 2 Primatologia: Uma fronteira em expansão da Veterinária Mundial. M.T de Mello, 1995 Rio de Janeiro: 59 páginas. INEA
1
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pois, com intermitências em várias instituições no Brasil e no estrangeiro.
Alcides Pissinatti A espécie dedicada a Alcides Pissinatti (Pithecia pissinattii) resultou principalmente do estudo de exemplares guardados desde 1925 no Museu Britânico de História Natural, em Londres e posteriormente outros encontrados por vários
INEA
Sagui-leãozinho ou pigmeu (Cebuella pygmaea)
Bugio ruivo (Alouatta guariba clamitans)
pesquisadores na Amazônia. A primatologista Laura K. Marsh, Diretora do “Global Conservation Institute” nos Estados Unidos, estudou exemplares do gênero Pithecia em dezenas de museus de várias partes do mundo e também pesquisou nas florestas da Amazônia. Desse trabalho de vários anos resultou uma completa revisão do gênero Pithecia3 incluindo cinco novas espécies. Primatas desse grupo são conhecidos na Amazônia como saki ou parauacu. Uma delas recebeu o nome de P.pissinatti “Named for Dr. Alcides Pissinatti, a Brazilian veterinarian, director and co-founder of the Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ/ FEEMA), and Vice President of the Brazilian Academy of Veterinary Sciences. For nearly two decades Dr. Pissinatti has almost singlehandedly pioneered captive breeding programs for endangered Brazilian primates, including the successful breeding and management of the muriqui (Brachyteles) in captivity. Because of his genuine kindness and intellect and his devotion to the primates in Brazil including Pithecia, I dedicate this species to him”. Nesse importante trabalho a primatologista Laura Marsh deu o nome de Pithecia cazuzai a outra das 5 novas espécies, em homenagem ao Dr. José de Souza e Silva, mais conhecido como Cazuza, Coordenador de Zoologia do Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, Pará. No momento Cazuza é o mais destacado primatologista brasileiro de campo, descobrido r de várias espécies de primatas nos interflúvios amazônicos. Segundo Laura Marsh, P. cazuzai é uma espécie endêmica, encontrada na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e proximidades, perto de Tefé, no interior do Estado do Amazonas.
Nova espécie
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Durante o XIV Congresso Brasileiro de Primatologia (Curitiba, Nov. 2011) o primatologista José de Souza Silva apresentou nova espécie de um grupo de primatas conhecidos como guigó, zogue-zogue ou titi, conforme a região onde são encontrados. A ela deu o nome de Callicebus
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3 A taxonomic revision of the saki monkeys, Pithecia Desmarest, 1804., L.K.Marsh Neotropical, Primates, vol. 21, nº 1, July 2014: páginas 1-163
Pixabay
miltoni (Fig. 3). A descrição, com muitos detalhes técnicos foi publicada em 20144. “The new species is named in honor of Dr. Milton Thiago de Mello in recognition of his contribution to development of Primatology. In particular, we note his essential participation in the creation of the Brazilian Primatology Society and of the Latin American Primatology Society, and in the education of most primatologists currently active in Brazil and abroad, among them one of the authors of this paper (JSSJ), through specialized Primatology programs that began in the 1980s at the Universidade de Brasilia”
Universidade de Brasília Por outro lado, muitos veterinários têm se voltado para a especialidade. Em 1983 a Universidade de Brasília iniciou um ciclo de cursos de especialização sobre vários aspectos da primatologia. Eram cursos itinerantes para veterinários e graduados de profissões correlatas. Durante quase 25 anos esses cursos, com periodicidade, nomes, patrocínios e locais diferentes “formaram” 130 graduados de várias profissões dos quais 62 eram veterinários e 47 biólogos, conhecedores não só de primatas mas também das atividades de ambientalistas nos biomas Amazônia, Pantanal e Cerrado, além de instituições oficiais ou não, relacionadas com primatas. O sucesso foi grande, com efeito multiplicador (1983-2007) “porém a primatologia brasileira ainda necessita de maior número de veterinários.
Onde estudar Uma pergunta que sempre é feita por pessoas interessadas em primatologia é: “Onde poderei iniciar ou desenvolver meu estudos em primatologia?” São muitas as instituições brasileiras que têm os primatas como seu tema exclusivo ou nas quais esses animais têm lugar de destaque em pesquisas no ambiente natural ou fora dele. A maioria delas aceita pessoas interessadas para trabalho voluntário, estágios remunerados ou não, além de bolsas de iniciação cientifica e outras formas de auxílio. New species of titi monkey, Genus Callicebus Thomas, 1903(Primates, Pitheciidae), from Southern Amazonia, Brazil – J.C. Dalponte, F.E. Silva and J.S. Silva – Júnior. Papeis Avulsos de Zoologia, Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo,vol.54, No.32;2014 págs.457-472. 4
Geneticamente, o chimpanzé é muito parecido com o homem
Quadro II. Instituições onde se desenvolvem trabalhos com primatas. Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), Guapimirim, RJ - Centro Nacional de Primatas (CNP), Ananindeua, Belém, PA - Centro de Primatologia da Universidade de Brasília (UNB), DF - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Manaus, AM - Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), Manaus, AM - Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Tefé, AM - Instituto de Medicina Tropical da Amazônia, Manaus, AM - Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, PA - Instituto Evandro Chagas, Belém, PA - Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém, PA - FIOCRUZ, RJ - Museu Nacional, RJ - Zoológicos - Unidades de Conservação (IBAMA e ICM Bio) - Polícias Ambientais - Sociedade Brasileira de Primatologia - Pesquisadores em Universidades de Pará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Juiz de Fora, Campinas, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre (Federal e Católica) - Outras
A lista dessas instituições (Quadro II) tem por finalidade facilitar a procura das formas de treinamento. A pessoa interessada deverá entrar em contato, agora muito facilitado pela internet. Destaque para os três Centros de Primatologia nos biomas Mata Atlântica (CPRJ), Amazônia (CNP) e Cerrado (UnB). O CPRJ, por exemplo, no Estado do Rio de Janeiro, é uma das principais instituições que recebe desde iniciantes até pesquisadores de renome. Animal Business-Brasil_27
Pássaros canoros e ornamentais são riquezas que precisam ser preservadas Por:
Carlos Leal
Observa-se apenas no Estado do Rio de Janeiro o mesmo número de espécies de aves encontradas em toda a Europa (cerca de 690). Muitas delas estão ao alcance dos nossos olhos, nas cidades ou nas regiões de praias, serras ou matas. Elas são parte importante do bioma onde desempenham diversas funções - como a disseminação de sementes e controle da população de insetos, e sua vida precisa ser preservada. Mas como grande parte dessas aves tem alto valor comercial no exterior, o contrabando é crime recorrente que cabe ao IBAMA e a todos nós conter.
E
xistem observadores de pássaros no mundo todo. Geralmente são pessoas comuns que se deixam encantar pela surpreendente beleza das aves brasileiras (quesó perdem em diversidade para as da Colômbia e do Peru), mas que acabam colaborando com o trabalho dos pesquisadores, os ornitólogos.
Extinção O Brasil é campeão em espécie de pássaros em extinção. Das mais de 1.900 espécies, cerca de 120 estão ameaçadas de extinção, não apenas pelo contrabando, mas também pela apreensão indevida para uso particular em gaiolas e viveiros domésticos com finalidade comercial ou por simples lazer. A lei só permite manter aves da fauna brasileira em cativeiro quando originárias de criatórios registrados no IBAMA. 28_Animal Business-Brasil
Encantamento antigo Desde tempos imemoriais o homem se encanta pelas aves: as pinturas rupestres, os mitos, a poesia, as ciências, os esportes e as artes estão repletos de referências a elas. Tom Jobim, Chico Buarque, Drummond, Mário Quintana, Tchaikovsky, Hans Christian Andersen, entre tantos outros tomaram as aves como seus objetos de inspiração e criação. Na mitologia, quem não se lembra de Ícaro que, brincando de ser ave, grudou asas de gaivota ao seu corpo com mel de abelha para fugir de Creta? Embriagado pelo voo, se aproximou excessivamente do Sol, despencando no Mar Egeu quando a cera que grudava as penas se derreteu. Prometeu teve seu fígado bicado por um pássaro como castigo por roubar o fogo dos deuses e entregá-lo ao homem. A ciência e a preservação têm uma dívida para com os observadores de pássaros. Mesmo não tendo o conhecimento sistematizado dos ornitólogos, são eles que, movidos pela paixão, descobrem e registram novas espécies de aves em todo o mundo.
Pássaros e aves Um observador de aves vagueia sem pressa percorrendo um ambiente ao qual se integra para conquistar a visita de um exemplar. Vale aqui um esclarecimento: pássaros e aves são palavras com significados diferentes. Pássaros são exclusivamente as aves pertencentes à ordem Passeriforme que é uma das 33 desse grupo de animais providos de bicos, penas, desdentados e com o coração com três compartimentos, em vez dos quatro dos mamíferos, dentre eles o homem.
Contemplação e pesquisa A observação de aves pode se limitar à contemplação dos animais em seu ambiente, com ou sem a ajuda de um binóculo, podendo incluir o registro das suas características físicas (cor da plumagem, características anatômicas, comportamento, vocalização, tipo de ninho, etc.) ou ainda envolver a captação fotográfica dos animais. Há aqueles que, além de fotografar, gravam suas emissões sonoras, chamadas tecnicamente de vocalizações. Alguns cuidados devem ser observados para uma boa observação como, por exemplo: horário (cedo pela manhã ou no final da tarde), tipo de roupa (cores esmaecidas ou camufladas, exceto no caso dos beija-flores que se aproximarão com maior probabilidade se estivermos vestidos com cores vibrantes (como as das flores) , calça comprida e bota, filtro solar e chapéu. Há quem
use uma “vestimenta” nas teleobjetivas das máquinas para não assustar as aves e ao mesmo tempo proteger os equipamentos.
Região Serrana do RJ A Região Serrana do Rio de Janeiro é pródiga quanto à diversidade de aves. Somente em Nova Friburgo foram registradas cerca de 333 espécies diferentes. Uma delas, a saudade-de-asa-cinza (Tijuca condita) que por algum capricho na natureza praticamente só é encontrada nas matas deste município. Observadores de pássaros, fotógrafos e ornitólogos de outras cidades ou países vêm à Nova Friburgo em busca de um contato com ela. Sua imagem é um troféu entre os arquivos da mais destacada observadora de aves da cidade, Ana Claudia Lívio Gadini. Ela tem registradas 302 espécies diferentes através
Sabrina Calderaro Pereira
Saíra-lagarta
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Luciano Pereira
Luciano Pereira
Tangará
de 2640 fotos (todas publicadas e disponibilizadas na internet).
Fenômeno curioso Um fenômeno curioso aconteceu após a catástrofe climática que ocorreu na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro (2011) e destruiu uma parte de Nova Friburgo e seu meio ambiente. Imediatamente após a ocorrência as aves se calaram. Segundo Luciano Garcia Pereira (fisioterapeuta iniciado por Ana Gadini na atividade de observação de aves), houve um “silêncio sepulcral” nesta época, que se prolongou por pelo menos duas semanas. Mesmo quando não nos damos conta, habituamo-nos, especialmente nas regiões mais silenciosas, com o som de fundo do pio das aves. Quando ele estanca percebemos como estes animais fazem parte do cotidiano das nossas vidas.
O significado do canto O canto das aves sempre encantou o homem pela beleza, harmonia e diversidade. Para os observadores, além do encantamento, a vocalização é um elemento fundamental para a identificação das espécies. Quando saem a campo levam gravadores contendo um banco de sons com duas finalidades: atraí-las e identificar que ave emitiu determinado som. Sabrina Calderaro (professora de educação física, recém iniciada na atividade de observação de aves) diz que Ana Gadini tem uma memória acústica prodigiosa: é capaz de identificar imediatamente centenas de aves tão logo ouve seus piados. 30_Animal Business-Brasil
Surucuá-variado
A vocalização das aves tem uma função expressiva: a comunicação. Há pios específicos de alarme, no caso de algum perigo na região. Curiosamente, o pio de alerta de uma determinada espécie é assim interpretado por indivíduos de outra espécie. Os rituais de acasalamento são acompanhados pelo canto: costuma ser harmonioso e alegre, estando também presente nos momentos da nidificação. Já o chamado, pio geralmente monótono, persistente e repetitivo, tem a função de orientar o companheiro sobre a sua localização.
Enigma Um certo enigma cerca alguns sons produzidos por algumas aves. Além do pio, elas podem produzir ruídos estranhos para se comunicar: estalam o bico, vibram ou rufam as penas das asas ou da cauda, batem as asas. Os pica-paus tamborilam com o bico mesmo quando não estão em busca de insetos - provavelmente para demarcar o território. É curioso o fato de que certas aves imitam o piado de espécies diferentes da sua, como faz o Gritador ou Melro que pode imitar o canto de um canário. O nome popular de certas espécies faz referência a sua vocalização. É o caso do chupa-dentes: quando canta parece mimetizar o som de uma pessoa mal-educada quando está chupando os dentes para limpá-los.
Curiosidades Os observadores de aves informam sobre o cuidado que se deve ter ao emitir sons de gravador no campo de observação. Há relatos de
aves que ficam tão excitadas com o ruído que podem morrer em decorrência dele. Provavelmente por infarto do miocárdio. O observador Luciano Pereira desfaz o mito de que os rituais de disputa pela fêmea para o acasalamento precise, necessariamente, envolver violência ou a morte dos opositores. Seu troféu fotográfico é o registro do ritual de acasalamento dos Tangarás. Ele teve o privilégio de participar da cerimônia a menos de cinco metros de distância. A Tangará fêmea fica pousada em um galho, geralmente horizontal, e é cercada por três a cinco indivíduos enfileirados que dão início a uma dança de forma alternada. Aquele que consegue a melhor performance - segundo o juízo dela, naturalmente - acasalará. Não há briga. Os perdedores se retiram do ambiente, resignadamente. Este comportamento não é raro entre as aves, informa Luciano. Algumas espécies permitem ou até apreciam o contato corporal com os humanos. Um exemplo é oferecido por Sabrina Calderaro cujo troféu fotográfico é o registro - a curtíssima distância - de um exemplar da espécie mãe-da-Lua. A ave estava pousada num toco de árvore no solo, confundindo-se com ele. A observadora especula que a autoconfiança do animal (na sua competência para camuflar) é tamanha que ele não acredita que seu truque possa ser desvendado.
ampliação dos conhecimentos. Conhecer, saber mais da interessantíssima vida das aves é o primeiro passo para estimular o sentimento de conservar a natureza, que atualmente passa por tantos perigos”.
A maior descoberta Em 2013 aconteceu a maior descoberta da ornitologia dos últimos 140 anos. Quinze novas espécies de aves da Amazônia nacional foram descritas simultaneamente! Desde a segunda metade do século XIX a ornitologia brasileira não dava uma contribuição tão significativa para ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade planetária segundo informa a Revista Pesquisa Fapesp, Ed. 207.
Avifauna em números Total de espécies registradas no Mundo: 9.000 Total de espécies registradas no Brasil: 1902 (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2014)
Número aproximado de espécies no Estado do Rio de Janeiro: 654 (www.wikiaves.com.br)
Número aproximado de espécies em Nova Friburgo: 333 (www.wikiaves.com.br)
Observação e preservação Ana Gadini e Luciano Pereira em passarinhada na região do Pico do Caledônia Sabrina Calderaro Pereira
Preserva-se o que se conhece e o que se aprendeu a valorizar. Só cuidamos daquilo que damos valor. Por isto é fundamental conhecer. Os observadores de aves e os ornitólogos nos apresentam, através das aves, à nossa terra com os seus riquíssimos biomas. Não há preservação possível das aves e demais animais silvestres, sem a conservação dos biomas que lhes abrigam. O Brasil vive a situação paradoxal de, simultaneamente, possuir a terceira maior reserva em variedades de aves do Planeta, e de ser campeão no que diz respeito ao número de espécies ameaçadas de extinção. A propósito da relação entre a preservação da Natureza e a ornitologia cito pronunciamento de Hemut Sick, famoso ornitólogo, em sua obra “Ornitologia Brasileira”: “Na ornitologia de todos os países, os amadores contribuem consideravelmente para a
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O desafio da gestão eficiente para gerenciar atividades na pecuária Por:
Paulo Ribeiro- Mestre em Engenharia de Produção pela UNESP, MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, Consultor na CS Soluções em Gestão Empresarial e professor do curso de Pós-Graduação em Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas.
Gestão eficiente, com redução de custos e melhoria dos indicadores operacionais, é uma busca incessante das empresas de todas as áreas de atuação. Mas será que há conhecimento efetivo do real significado de gestão eficiente? No dicionário, eficiência está relacionada com quem desenvolve alguma atividade (trabalho ou tarefa), de modo correto e sem erros e que que alcança bons resultados com um mínimo de desperdício.
E
ficiência na produção significa garantir a velocidade necessária sem abrir mão da qualidade, para que não haja necessidade de retrabalho. E, para alcançar essa gestão eficiente, a empresa deve estar atenta ao seu desempenho organizacional. Ou seja, é preciso que a alta administração tenha controle pleno de tudo o que acontece, seja no micro ou macro ambiente.
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Busca contínua O gestor deve ter em mente que a busca pela excelência é contínua – o mercado não permite descuidos com relação à qualidade do produto oferecido, mas, ao mesmo tempo, não quer pagar mais por isso. Dessa forma, se justifica a necessidade de um rígido controle de processo produtivo, com indicadores nas suas várias fases, para garantir uniformidade do início ao fim.
Inovação Nesse sentido, inovação é a palavra de ordem para garantir a diferenciação no mercado. E, para inovar, é necessário que a empresa tenha velocidade na tomada de decisão que, por sua vez, deve ser amparada por informações gerenciais precisas e, portanto, confiáveis. A pecuária brasileira cresce ano após ano, assim como a necessidade de o produtor de se profissionalizar e buscar tecnologias que o auxiliem na busca por rentabilidade. É necessário produzir mais e melhor, gastando menos, com o uso de tecnologias que possibilitam longevidade aos sistemas pecuários, os quais – normalmente – são passados por gerações.
Aumento de escala É importante observar a forma de crescimento das empresas pecuárias para que isso não se transforme em um problema futuro. Os investimentos devem ser planejados para garantir o aumento de escala, no qual o custo
O maior desafio não é desenvolver um bom planejamento e sim colocá-lo em prática
rias a melhorar o seu modelo de gestão. A dica é extrair o melhor dessas ferramentas, de forma a desenvolver um modelo próprio de gestão, de acordo com as particularidades e recursos disponíveis de cada organização. O mais importante é que esses processos sejam utilizados de forma integrada entre todas as áreas e não caminhem individualmente.
O maior desafio de produção se mantenha ou, melhor ainda, diminua. Há milhares de exemplos de empresas que passaram por esse processo e contabilizaram grandes prejuízos, comprometendo seriamente seu negócio e até desaparecendo. Por isso, é preciso fazer planejamento eficaz de longo prazo para proporcionar a segurança necessária para o empresário poder tomar a decisão correta.
Boa notícia A boa notícia é que há mercado e diversas ferramentas que auxiliam as empresas pecuá-
Porém, o maior desafio não é desenvolver um bom planejamento, mas sim colocá-lo em prática. Para isso, é preciso ajuda de especialistas. Eles desenvolvem alternativas para propriedades pecuárias e têm know-how na atividade, podendo auxiliar as empresas nesse processo com soluções que permitem transformar o negócio de forma integrada, fornecendo informações precisas em tempo real. Esse processo garante agilidade no compartilhamento de informações com a alta direção e respostas rápidas às oscilações do mercado, colaborando para a redução dos custos com vistas à excelência produtiva. Animal Business-Brasil_33
História da produção animal brasileira Por:
Edino Camoleze, Cel Med Vet RR/1 – Exército Brasileiro; MSc em Tecnologia de Alimentos, FUA, 1975; Gestão, Planejamento
O ponto de partida foi a criação do ensino oficial superior das ciências agrárias e biológicas com o Imperial Instituto Baiano de Agricultura e a Escola Agrária, na província da Bahia, em 1859, por D. Pedro II.
A
Carta Régia de D. João, de 25 junho de 1812, que antecedeu a criação do Instituto, recomendava ao diretor do curso, prof. Domingos Borges de Barros, que na grade curricular constassem como matérias a serem lecionadas: “os princípios de botânica, química e medicina, indispensáveis à inteligência da entendida cultura, e economia, e arquitetura rural”; aplicar as doutrinas estudadas aos princípios da agricultura; o aprimoramento das culturas “indígenas e exóticas”; fomentar a “invenção e prática dos melhores métodos de propagar os vegetais, a física dos bosques, o corte e reprodução das matas, os prados artificiais, a criação dos animais e o aproveitamento dos seus produtos”.
Outros institutos Com essa plataforma educacional, técnica e científica arquitetada e perpetrada pelo governo imperial em parceria com o governador da Bahia, referência para o Brasil e América do Sul, surgiram no Império, outros Institutos espalhados por todo o território nacional:Pernambuco, em 1859; Sergipe e Rio de Janeiro, 1860, e Rio Grande do Sul, em 1861. 34_Animal Business-Brasil
O Ministério da Agricultura Formalizados com a criação da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, em 1860, atual Ministério da Agricultura, estavam construídas no Império as bases políticas, técnicas e educacionais estruturantes, marco inicial legal do desenvolvimento da produção animal nacional.
Pecuária O Brasil com a extensão territorial de 8 500 000 Km², quatro variedades climáticas: subtropical, tropical, semiárido e equatorial, variáveis regionalmente, de acordo com a topografia, altitude e dinâmica das correntes e massa de ar, tem uma composição vegetal variável e diversificada, própria para a criação da pecuária extensiva, principalmente, nas Regiões Sul, Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste, são 180 milhões de hectares de pastagens naturais. Sabe-se que os primeiros bovinos que aportaram ao solo brasileiro, em 1535, foram trazidos pelos colonizadores, Martim e Tomé de Souza. A maior quantidade foi transportada pela lendária Caravela “Galga” de Cabo Verde e Açores, para Salvador. O gado, primeiramente introduzido, “Bos taurus”, chamado de “crioulo”, das raças Caracu, mestiçagem do cruzamento das raças Minhota, Barrosã, Arouquesa, Mirandesa, Turino e Malabar, era destinado aos trabalhos nos engenhos, tração de arado e carro de boi, produção de carne e leite e desbravação da terra desconhecida, do litoral para o interior. Esse gado rústico e mestiço foi a matriz inicial da pecuária brasileira que, da Bahia, se estendeu para o nordeste e norte do Brasil, acompanhando os grandes engenhos da cana-de-açúcar e os
bandeirantes. A carne de boi usada na alimentação dos núcleos coloniais, na falta de frios para conservação, era transformada em carne seca, carne de sol e paçoca, tendo o sal como conservante. Esse beneficiamento e costume perduram em todo o norte e nordeste, até os dias de hoje. A historiografia da dispersão do gado no território brasileiro de acordo com a sua aclimatação e adaptação, desde o Brasil Colônia, registra: o gado Curraleiro Pé-Duro, adaptou-se às regiões de clima quente e seco do Centro-Oeste e Nordeste, sendo, portanto, muito rústico e resistente. O gado Pantaneiro desenvolveu-se no Pantanal do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e foi decisivo para a ocupação das extensas áreas alagáveis daquela região. O Crioulo Lageano, habitante do sul, adaptou-se às variações climáticas características da região que correspondem a extremos de frio e calor. Acredita-se que a raça Mocho Nacional tenha surgido no estado de Goiás, mas, no entanto, pode ser encontrada em São Paulo e Minas Gerais. Estão em risco de extinção: a Curraleiro Pé-Duro, a Pantaneira, o Crioulo Lageano e a Mocho Nacional.
Frauke Feind
Na bovinocultura de leite, de carne, na avicultura, na suinocultura e em outras espécies, o Brasil alcançou altos níveis de produção e de produtividade
No decorrer do tempo, por interesses governamental e privado, foi acrescentado a essa base inicial crioula, o gado europeu no Sul do Brasil, proveniente de importação da Europa, Argentina, Uruguai e Paraguai. Joaquim Francisco de Assis Brasil, em 1896 -1906, introduziu as raças Jersey e Devon, no município de Erval; Leornardo Collares Sobrinho, o Abeerden Angus, em 1906, importado do Uruguai, no município de Bagé; Antonio Nunes Ribeiro Magalhães, o pardo-suíço, importado da Inglaterra também em Bagé. O Charolês, recomendado pelo Imperador D Pedro II, foi importado da França, em 1901, por Heliodoro de Azevedo Souza para Pelotas. O Hereford que constitui, hoje, 65% do rebanho gaúcho, importado por Laurindo Brasil, dos EEUU, para Bagé. Bagé, concentrava, no início do século XX, a maior variedade de raças europeias, de onde se espalharam para todo o Estado. A raça holandesa (Fries-Holland Veeslay, Dutch Friesian ou Zwarbont) nas variedades preto e branco e vermelho e branco, a mais difundida em todo o mundo e especializada na produção de leite, chegou ao Brasil por volta de 1530-1535, na época das capitanias hereditárias. Em Portugal, conforme Eduardo Cotrim, no seu livro “ A Fazenda Moderna”, 1913, era denominada Holstein Frísia. Outra versão aponta sua chegada ao Brasil, durante a invasão holandesa por Maurício de Nassau (1630-1954). Em 1980, o Brasil já tinha o maior rebanho holandês vermelho e branco do mundo. O ventre holandês foi a base fundamental para a mestiçagem da raça Holandesa com animais zebuínos, dando origens a duas raças sintéticas brasileiras: a Girolanda e a Guzolanda. O magistral ganho da pecuária nacional foi a chegada oficial ao Brasil, na metade do séc XIX, do sangue Zebu, originário da Índia, importado por fazendeiros tradicionais brasileiros, situados no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, para melhoria do rebanho fluminense e mineiro. João Antonio de Morais, 1º Barão de Duas Barras, 1870, importou touro Guzerá para sua fazenda em Cantagalo-RJ; Henrique Hermeto Carneiro Leão, Barão do Paraná, trouxe de Londres um casal de Ongole (Nelore), em 1877, para Sapucaia-RJ; Manoel Ubelhart Lemgruber, em 1878, adquiriu um lote de Nelore, vacas e touros, para sua fazenda também, em Sapucaia-RJ, onde, sob controle científico, iniciou o controle Animal Business-Brasil_35
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da raça; e Antônio Clemente Pinto e seu irmão Bernardo Clemente Pinto, filhos do Barão de Nova Friburgo que, em 1887, importaram três lotes de Nelore da Índia para seus criatórios em Cantagalo-RJ e Porto Novo do Cunha-Rj, tornando essas fazendas o mais antigo e famoso criatório de gado Nelore do Brasil; e o Gir, importado por Teófilo Godoy, em 1906, da Índia para Araguari-MG e Wirmondes Machado Borges, em 1918, para Uberaba, foram os introdutores dessas raças zebuínas no Brasil. Com aptidões para a produção de carne e leite, o Nelore, Guzerá e o Gir, cruzaram com o gado europeu existente no Brasil dando origem a uma fenomenal diversidade sanguínea mestiça que adaptado às terras brasileiras, representa hoje o maior rebanho comercial do mundo e uma das principais commodities da balança comercial brasileira.
Avicultura Tudo indica que começou no Rio de Janeiro, em 1503, com a expedição de Gonçalo Coelho que trazia exemplares da galinha d’Angola viva. Muito apreciada, rústica e de hábitos selvagens, servia para a alimentação da tripulação. A afirmativa, parece ser verdadeira, visto que essa ave era muito criada e consumida na colônia portuguesa de Angola, emprestando seu nome à raça. Pelas pesquisas realizadas, a avicultura brasileira num período de mais de 430 anos ficou adormecida como atividade econômica, espalhada pelo litoral e interior brasileiro, dispersa e sem raça definida, resumindo-se na criação de 36_Animal Business-Brasil
subsistência domiciliar por agricultores em seus quintais, para produção de carne e ovos, para o comércio varejista em feiras livres. Os galos, “mestiços”, eram usados nas rinhas como galos de briga. Somente com a chegada dos imigrantes japoneses em São Paulo, (Jaqueri, Suzano e Cotia, em 1926), o setor avícola ganhou dinamismo, com os nikeis criando galinhas para obtenção de estrume e adubação de frutas e hortaliças. Até então, criava-se a chamada “galinha caipira”, de cores vermelha, preta ou carijó, que botavam ovos avermelhados. Mudar a preferência do consumidor não foi fácil quando, em 1928, apareceram no mercado os ovos brancos procedentes da postura de galinha Leghorn, introduzida pelos nipônicos. O domínio da avicultura pertencia aos japoneses em São Paulo que, numa evolução crescente de experimentos zootécnicos e produtividade, através da genética de melhoramento (cross breeding) conseguiram criar duas linhagens para postura de 300 e 302 ovos anuais. Em 1935, Ysamu Yuba e companheiros adquiriram uma propriedade de 40 alqueires em Formosa, Mirandópolis -SP, montando uma fazenda comunitária. Dez anos depois, possuíam um plantel de 220 mil aves poedeiras e tornava-se a maior granja avícola da América do Sul. Em 1948, com a ampliação das atividades, montaram um armazém para seleção e empacotamento de ovos e também uma casa para produção de ração. Começava a produção intensiva e industrial da avicultura no Brasil. Com a organização da primeira Sociedade Nacional de Avicultura em 1913, que reunia aviculto-
O magistral ganho da pecuária nacional foi consequência da chegada ao Brasil de sangue zebu, originário da Índia, na metade do século XIX
res de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, o setor produtivo avícola ganha personalidade jurídica, para junto com o poder público, privado, produtores e empresários avícolas, normatizar e organizar a política de gestão desenvolvimentista e econômica avícola do país. Nas décadas de 1940 e 1950 teve início a avicultura industrial de abate no Estado de Santa Catarina, com a instalação das empresas Sadia e Perdigão. Posteriormente, o crescimento da produção de frangos no Sul do Brasil e a recente expansão da avicultura nas regiões Centro-Oeste e Norte, demonstram uma trajetória de mudanças e/ou permanências em nível técnico, econômico e social. A expansão das granjas regionais avícolas, principalmente nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, deveu-se sobretudo à estrutura de posse da terra conformada no processo de imigração estrangeira e que hoje se encontra consolidada. É acentuada ainda mais pela concentração nesses estados da produção dos insumos básicos da alimentação e produção avícola - soja e milho, o que implica em menores custos globais comerciais, mesmo que se tenha que transportar posteriormente o produto final para um mercado consumidor distante. Na trajetória pujante da avicultura brasileira, destaca-se a década de 1970, que envolveu o consumo, os aspectos tecnológicos e o comércio internacional. As diversas cadeias produtivas mercantis se constituíram apresentando características próprias em termos de produto, mercado, tecnologia, localização geográfica e organização da produção.
Os efeitos econômicos e tecnológicos, as condições ambientais, sociais, culturais e políticas, diferenciados e característicos de cada lugar, participantes no conjunto da atividade agroindustrial, representavam os diferentes modos e comportamentos de relação do complexo agroindustrial com o território. Cronologicamente, a criação de algumas entidades institucionais representativas do setor e seus presidentes empreendedores: a União Brasileira de Avicultura, fundada no Rio de Janeiro em 1963 e seu presidente, Cyro Wernech de Souza e Silva; a revista Avicultura Brasileira fundada por Lauriston von Schmidt; Zoé Silveira D’ Ávila, que presidiu a UBA durante 12 anos, período de grande progresso da entidade; a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frango - ABEF, em 1976, com a missão principal de acompanhar os processos de acesso a novos mercados exportadores para carne de frango e monitorar as barreiras tarifárias e não tarifárias impostas pelos países importadores, trabalhando em conjunto com as empresas associadas e interligando-as aos poderes públicos. A atual União Brasileira de Avicultura (UBABEF), resultante da fusão da antiga UBA com a Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Frangos (ABEF), em 2010, em São Paulo, representa hoje a entidade máxima da avicultura brasileira. O Brasil é, atualmente, um dos gigantes da produção de carne de aves e ovos do mundo, ficando atrás apenas dos EEEU e China. É o maior exportador mundial de carne de frango, produzindo em 2012, 12,6 milhões de toneladas e balança comercial de US$ 8.362 bilhões de dólares, exportando para mais de 120 países. A inclusão da produção de outras aves: peru, pato, ganso e codorna, na cadeia produtiva, tem a tendência de aumentar e diversificar cada vez mais a produção avícola, com uma destinação promissora no cenário mundial. No entanto, tudo isto está sendo possível, graças a eficiência da cadeia relacionada a vários fatores, como: melhoramento de linhagens e insumos, investimentos em tecnologias de automatização do sistema produtivo, controle das condições sanitárias de criação, aperfeiçoamento do pessoal no manejo das aves, além do sistema de produção integrado: empresário-produtor, e os papéis desempenhados pela Comissão Nacional de Avicultura - CNA, presidida pelo Eng.Agrônomo Animal Business-Brasil_37
Equinocultura Pelos registros oficiais, o Brasil detém atualmente o terceiro maior rebanho equino do mundo, 5,75 milhões de cabeças, perdendo apenas para a China, 7,9 milhões, e México com 6,3 milhões de animais. A formação desse rebanho deveu-se, originariamente, à introdução do cavalo (Equus cabalus) - originário das Ilhas Canárias e Cabo Verde, de porte pequeno, e mestiços de Garranos e Pôneis, do norte de Portugal e dos Sorraias do Sul - pelos colonizadores portugueses nos anos de 1530, e asininos, (Equus asinus) que, cruzando entre si, originaram os híbridos, muares, que utilizados secularmente, como animais de guerra, tiro, esporte, tração e carga, ajudaram na colonização, conquista e desbravamento do Brasil. Os equinos, junto com os bovinos e os muares, foram até a década de 1950, início da indústria automobilística do Brasil, a mola propulsora para o progresso e desenvolvimento do País, empregados sobretudo na agricultura e no transporte e defesa do território brasileiro. Afora os tradicionais fazendeiros e criadores de cavalos que contribuíram com o melhoramento do cavalo nacional: Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, com o garanhão Sublime, da raça Lusitana, doado por D.João VI, em 1821; Germano Domingos, 1953, importando da Espanha, os garanhões Lusitanos, Gallito e Bijou, para Minas Gerais, na tentativa de criar cavalos toureiros, como na Espanha e Portugal, não dando certo e João Alfredo de Castilho, 1960, importando o garanhão Xiquito, da Coudelaria Nacional de Portugal, para melhorar o plantel de Campolina que o criador selecionava em Barbacena (MG), apesar dos esforços privados, essa e outras raças importadas pouco contribuíram na melhoria genética do rebanho nacional. Há que se ressaltar, no entanto, sem desmerecer a iniciativa privada, que a grande contribuição para a melhoria, formação e fomento do cavalo nacional, veio do Exército Brasileiro. O cavalo e o muar utilizados como elementos de guerra, pelas unidades de cavalaria, artilharia, infantaria e intendência, principalmente, fizeram com que o Exército criasse fazendas e coudela38_Animal Business-Brasil
rias, especializadas para atender às necessidades da tropa. Até 1960, o Exército possuía 09 coudelarias e 12 fazendas, espalhadas em todo o território nacional e o maior efetivo de equinos do Brasil. As coudelarias de Tindiquera-PR, Rincão-RS, Saicã-RS, Pouso Alegre-MG e Campo Grande-MS, especializadas nas raças Bretã e Percherron; Avelar-RJ e Campos-RJ, produção de muares; Colina-SP, Puro Sangue Inglês-PSI, eram centros de reprodução e fomento que emprestavam seus reprodutores aos fazendeiros para cruzar éguas crioulas das várias regiões brasileiras, produzindo melhoramentos genéticos, com sangues novos, mestiços, na equinocultura brasileira. Outra contribuição do Exército, eram os Regimentos de Cavalaria situados em toda as faixas de fronteira brasileira do Rio Grande do Sul até Mato Grosso, que com cavalos de hipismo, polo e serviços, disseminavam a cultura e tradições cavalariaO Brasil é um importante produtor e exportador de cavalos de raça
Alois Wohlfahrt
e Jornalista Mario Vilhena e do Projeto ETA-42, Escritório Técnico de Agricultura Brasil-Estados Unidos, na difusão das modernas tecnologias de produção e industrialização.
nas e o cavalo como elemento de integração e sustentação social: consolidação dos núcleos de fronteira. (O cavalo e o Burro de Guerra e de Paz. Branco Ribeiro). O reconhecimento do magnífico trabalho realizado pelo Exército veio com a criação da Comissão Coordenadora da Criação do Cavalo Nacional -CCCCN, Lei nº 2.820, de 10 de julho de 1956, subordinada ao Ministério da Agricultura, que em parceria com o EB, regularizava as atividades hípicas em todo o território nacional. Hoje no Brasil, fruto desse trabalho, temos reconhecidas as seguintes raças brasileiras: Mangalarga, Campolina, Crioula, Piquira, Pantaneira, Marajoara, Campeira, Nordestina e Brasileiro de Hipismo. O Cavalo Brasileiro de Hipismo-CBH é a última grande contribuição do Exército Brasileiro à melhoria do rebanho nacional, cuja raça criada em Colina-SP, continua sendo aperfeiçoada, selecionada e melhorada na Coudelaria do Rincão-RS.
Suinocultura A suinocultura brasileira desponta no mundo e na América do Sul como uma atividade zootécnica e econômica avançada, promissora e em expansão. Com um rebanho de cerca de 39 milhões de cabeças, o quarto do mundo, contribui apenas com 3.1% da produção mundial de 104.363 milhões de toneladas. A China é o maior produtor mundial com 50% desse total, estando a União Europeia, vinte e sete países, em segundo lugar, com 22.75 milhões/t e os EEUU em terceiro com 10.575 mil/t. Os hábitos e costumes tradicionais dos países europeus mostram que o maior consumidor de carne suína e derivados é a Áustria, com 65.6 kg per capita, seguido da Alemanha, 54.6 kg. A China consome 37.30 kg e o Brasil apenas 13.36 kg, sendo preferência do povo brasileiro a carne bovina e frango. O rebanho suíno, até o aparecimento da indústria de óleos vegetais para a culinária, era composto de raças especializadas na produção de banha: Canastrão, Canastra, Nilo, Piau, Caruncho, Macau e Piratininga, eram as raças principais. Elas e seus mestiços, no comércio do atacado ou varejo, forneciam banha “in natura” de toucinho, para o consumo doméstico e para a indústria. A Matarazzo, de Francesco Antonio
Maria Matarazzo (em São Paulo), foi a maior da América do Sul. Com a restrição da banha na nutrição e dieta alimentar, por motivos de saúde, economia e comodidade, o porco tipo misto, carne e banha, resultante do cruzamento de raças europeias e americanas: Duroc, Poland China, Hampshire, Yorkshire, Montana, Landrace, Wessex, Pietrain etc, com as raças nativas, marca o início da transição e transformações dos tipos suínos, com objetivo de melhorar a produtividade e aumentar a produção de carne. Em 1958, por iniciativa da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), iniciam-se as importações oficiais, registro genealógico e melhoramento genético das raças e cruzamentos. Um grande revés na suinocultura nacional, com graves prejuízos econômicos e zootécnicos, aconteceu no ano de 1978, com a descoberta por pesquisadores do Instituto de Biologia Animal-IBA, Km 47, de um foco de Peste Suína Africana-PSA no sítio Floresta, Rio de Janeiro, com a morte de 150 animais de um plantel de 1 000, em uma semana, alastrando essa doença, com 223 focos adicionais, entre 1978-1981, pelas Regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul. Providências sanitárias severas foram tomadas pelo Ministério da Agricultura, Vigilância Sanitária, fazendo barreiras sanitárias, realizando quarentena, sacrifícios de animais e proibindo o trânsito e comercialização de suínos vivos e carcaças em todo o estado. Notificação obrigatória internacional, fez com que países tradicionais compradores de carne e derivados do Brasil, interrompessem a importação, acarretando onerosos prejuízos financeiros na balança comercial brasileira. Com uma perda de 66.966 animais em todo o território nacional, equivalendo, na época, a 44 milhões de dólares. Depois de exaustivos trabalhos de pesquisa e análises laboratoriais, tendo a frente dessa valorosa equipe o veterinário Dr. Sérgio Coube Bogado, um profissional consagrado, o Brasil foi declarado livre da PSA em 5 de dezembro de 1984. Refeito dessa tragédia que se abateu sobre a suinocultura brasileira e após mais de 30 anos do ocorrido, o Brasil caminha celeremente no ranking mundial de produção de carne suína, para atingir os primeiros lugares, não só pela fartura de alimentos mas, também, pela varieAnimal Business-Brasil_39
dade de clima e adaptação das raças importadas de climas frios e tropicais, nas granjas e fazendas, em todo o território nacional. Com o rebanho concentrado nos estados da Região Sul e alastrando-se para Minas, Bahia e Região Centro-Oeste, novas e promissoras fronteiras de produção sustentada, principalmente, pela soja e o milho. No melhoramento animal, entre as empresas que se têm destacado na genética, a Biriba´s Genética de Suínos, localizada em Cascavel-PR, que desde 1953, mais de meio século, vem trabalhando continuamente na seleção de linhagens, matrizes e reprodutores. A produção e a comercialização de suínos das raças puras Landrace, Large White, Duroc, Hampshire e Wessex, marcou o início dessa atividade como geradora de melhoramento genético e difusora de reprodutores de alto valor genético, com foco nos produtores de suínos das regiões Sul e Sudeste do Brasil, e agora, para as demais regiões do território nacional. Na inovação tecnológica foi a pioneira na inseminação artificial com sêmen congelado, acelerando todo o processo de seleção e progênie, e armazenamento de sêmen, banco genético. O reconhecimento nacional e internacional da empresa coloca o Brasil, na atualidade, entre os maiores países avançados, geradores de biotecnologia, genética molecular: manipulação de DNA, na reprodução de suínos. Com o agronegócio fortalecido, baseado na parceria existente entre os Ministérios da Agricultura-MAPA, Desenvolvimento Agrário-MDA, a indústria, os empresários e os produtores, a suinocultura brasileira pode orgulhar-se de ser uma das mais avançadas do mundo e de colaborar firmemente para o desenvolvimento e o progresso do Brasil.
Ovinocaprinocultura Dois animais domésticos semelhantes, porém com origens, espécies, domesticação e finalidades zootécnicas diferentes. Os ovinos, (Ovis,sp) com origem no mediterrâneo, região da Sardenha, sendo o primeiro animal domesticado pelo homem, 12.000 anos a.C. e produção de carne e lã. Os caprinos, (Capra, sp) asiáticos, europeus e africanos, 7 000 anos a.C., para a produção de carne e leite. Segundo os arquivos históricos, persistem dúvidas de alguns autores sobre essas datas, locais e atividades humanas. 40_Animal Business-Brasil
O certo é que esses animais participaram da evolução do homem, secularmente, servindo para a sua subsistência, na produção de alimentos, couro e lã. No Brasil, segundo versões históricas, esses animais foram introduzidos de formas diferentes: os ovinos, provavelmente por Tomé de Souza, em 1549, que trouxe os primeiros exemplares (Bordaleiros, Merinos e Asiáticos) para a Bahia, ao fundar Salvador, como primeiro governador Geral, e estimular a agricultura. Também, no Rio Grande do Sul, em 1682, as raças Merina e Crioula, foram introduzidas pelos jesuítas e índios guaranis, no município de São Francisco de São Borja, oriundas da Argentina, Uruguai e Paraguai, adquiridas ou em migrações naturais acompanhando os núcleos populacionais primitivos religiosos e indígenas, daquela região. Os caprinos parecem ter a mesma história. Para alguns foram introduzidos durante o Brasil Colônia nos anos de 1530, oriundos da Ilha de Cabo Verde, possivelmente as raças Charnequeira e Serpentina e pelos holandeses, no Nordeste, em 1634, com as raças Moxotó e Gurgueia. Considerando a bioclimatologia da ilha de Cabo Verde e do Brasil, vê-se que não há muita diferença de temperatura e umidade, fatores que facilitaram a adaptação, aclimatação e desenvolvimento dessas raças rústicas no nordeste brasileiro. Essas raças de ovinos e caprinos iniciais têm baixa precocidade, fertilidade, produtividade e valor genético, mas perduraram, sem domínio técnico, durante séculos, em criações extensivas, em granjas, cabanas e fazendas. Houve a necessidade de se estabelecer Programas de Melhoramento para aprimorar o padrão zootécnico dessas raças puras e dos seus mestiços. Nesse contexto, os ovinos por terem o maior rebanho, representatividade, criatórios, ovinocultores e interesse comercial, produção de lã e carne, foram os primeiros contemplados. A Associação Brasileira de Criadores de Ovinos, que sucedeu a ARCO, realizou na década de 1980, as primeiras avaliações objetivas para a produção e melhoria da qualidade da lã, envolvendo as raças Merina, Ideal e Corriedale, de âmbito regional.
Yvonne Huijbens Simeon Eichmann
A ovinocultura e a caprinocultura vêm se desenvolvendo muito no sul e no nordeste, respectivamente
O PROMOVI, Programa Nacional de Melhoramento Genético de Ovinos, lançado em 1977, de início no Rio Grande do Sul e depois abrangendo os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo, tinha como referência a raça Corriedale, de produção mista, carne e lã, visto que esse produto tinha perdido o valor comercial, e a Corriedale marcava a transição da produção de lã para a carne. Com a crise da lã, no final da década de 80, a ovinocultura de corte brasileira teve ascenção. A importação das raças especializadas em carne: Hampshire Down, Suffok, Ile-de-France e Te-
xel, para produzir “meio sangue”, para o abate, salvou as cooperativas, os ovinocultores e abriu um novo mercado no Brasil. O Teste de Velocidade de Crescimento-TVC, com o melhoramento genético se espalhou nos rebanhos do Sul e Centro-Oeste, ficando de fora o rebanho do nordeste, principalmente as raças deslanadas Santa Inês e Morada Nova. No nordeste, as avaliações de melhoramento genético e seleção da raça Santa Inês é feita pela Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba-EMEPA, com o Programa Avaliação de Desempenho de Ovinos Santa Inês. Os caprinos, com maior rebanho no nordeste brasileiro, até 1980, não tinham um Programa de Melhoramento Genético definido, tendo alguns registros oficiais feitos, até aquela data, pela EMEPA. Somente no decorrer daquele ano, a EMBRAPA lança o Programa de Melhoramento Genético de Caprinos, com o objetivo de selecionar e preservar as raças nativas como Moxotó, Canindé, Repartida, Marota e as raças exóticas importadas, Anglo-nubiana, Bhuj, Pardo Alemã, Mambrina, Saanen e Toggenburg e seus mestiços. Atualmente, a EMBRAPA realiza um Programa de Melhoramento Genético de ovinos e caprinos, com o objetivo de promover em bases racionais e técnicas a produção de carne e couros de ovinos e caprinos com melhoria genética e rebanhos selecionados. O sistema integrado de produção agregando empresas, institutos, faculdades, associações de produtores, cooperativas e empresários, com a moderna biotecnologia, com inseminação artificial, transferência de embrião, clonagem e banco de DNA, tem produzido resultados auspiciosos para a ovinocaprinocultura brasileira. Com um mercado cada vez maior, essa atividade é a que representa maior possibilidade de crescimento nos mercados nacional e internacional. Dados estatísticos recentes do IBGE mostram o seguinte quadro: Rebanho de ovinos e caprinos: 26.98 milhões de cabeças. Ovinos 17.6 mil/ cab ; caprinos 9.38 mil/c. O Brasil não é autossuficiente na produção de carne ovina. Em 2012, importou 6.52 mil/t, no valor de US$ 36,1 milhões de dólares. Animal Business-Brasil_41
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Produção de bovinos criados a pasto
Suplementação do pasto para bovinos Por:
Pedro Veiga, Gerente de Tecnologia, Cargill/Nutron
Muitos pecuaristas imaginam, erroneamente, que no período de chuvas (normalmente de outubro a março) o animal não precisa receber suplementação adequada. Pelo contrário, como o pasto de melhor qualidade oferece condições para que o 42_Animal Business-Brasil
animal ganhe mais peso, suas exigências de minerais e vitaminas são aumentadas. Portanto, uma correta suplementação de mineral-vitamínico é o mínimo que se deve fazer nessa época. Além, é claro, de garantir disponibilidade de pasto.
A
arte e a ciência de manejo do pastejo evoluíram muito ultimamente e, hoje, já se discute não só qual deve ser a quantidade total de massa de forragem disponível, mas também quanto dessa massa é potencialmente digestível e de que forma está disponível ao animal, uma vez que a estrutura do pasto e não somente sua quantidade/qualidade interfere no hábito de pastejo do bovino e, consequentemente, na sua capacidade de colheita do capim que será, em última instância, traduzida em ganho de peso.
Maximizando o valor econômico Seja por questões mercadológicas (compra e venda de animais de acordo com oportunidades de mercado), de clima (precipitação, temperatura etc), disponibilidade e qualidade de mão de obra, infraestrutura disponível (divisões de pasto, aguadas, cochos etc), método de pastejo (contínuo ou rotacionado) etc, o manejo do pastejo está, na maioria das situações, um pouco aquém do ideal. Mas isso não significa que não se possa otimizar a produtividade, por animal e por área, maximizando o retorno econômico.
Sistemas intensivos Em sistemas mais intensivos de produção, que se caracterizam por maior uso de insumos, com práticas de correção e adubação de pastagens implementadas de forma regular, associadas a manejo correto dos pastos, em que o ajuste da taxa de lotação é controlado com maior rigor de forma a se manter uma pressão de pastejo ótima, a forragem produzida e disponível ao animal certamente apresentará características nutricionais distintas de um pasto mantido e manejado sob um controle do manejador não tão intenso.
Plano nutricional Dessa forma, o delineamento do plano nutricional a ser implementado (suplementação energética ou proteica, por exemplo) deve levar em consideração as características do sistema de produção, principalmente no que se refere à forma como a pastagem é manejada e o capim oferecido ao animal, como também de outros fatores primordiais, como meta de desempenho almejada, objetivos do sistema
produtivo, categoria animal, capacidade de investimento, disponibilidade de infraestrutura e de mão de obra etc.
Suplementação energética Pastos adubados e submetidos ao manejo preconizado nas alturas ideais de entrada e resíduo pós-pastejo permitem elevadas taxas de ganho de peso, sendo energia, muito provavelmente, o nutriente mais limitante para se maximizar o ganho de peso. Nessa cirscunstância, a suplementação energética é a mais indicada, sendo o nível de oferta de suplemento a ser fornecido dependente da taxa de ganho almejada, bem como da taxa de lotação, visto que por meio da suplementação e da exploração do efeito substitutivo do pasto por concentrado torna-se possível manipular a taxa de lotação de uma área de pastagem.
Uso de proteinado Em condições médias, ou seja, que representam a grande maioria dos sistemas de produção de bovinos de corte no país, a pastagem tropical, mesmo durante o período das águas, pode não apresentar conteúdo de proteína suficiente para maximizar o ganho de peso. Assim, o uso de um proteinado durante o período das águas ajuda a eliminar a flutuação do teor de proteína bruta do pasto, mantendo o desempenho dos animais mais constante. Nessas circunstâncias, portanto, o uso de suplementação proteica apresenta-se como uma grande oportunidade para maximizar o ganho por animal e por área. No entanto, caso o pecuarista não disponha de infraestrutura de cocho, ou em cenários em que a logística de distribuição do suplemento não seja favorável, ainda assim é possível explorar ganhos de peso superiores apenas pela dupla pasto + mineral de boa qualidade. Isso é possível a partir do uso de suplemento mineral aditivado, que nada mais é do que um sal mineral adicionado de um aditivo melhorador de desempenho. Subindo-se a escada da intensificação e adotando-se suplementos proteicos de baixo/médio consumo (0,1 – 0,3 % do PV), os ganhos adicionais podem chegar a 130 – 220 g/animal/dia, otimizando o ambiente ruminal para maior digestibilidade da fração fibrosa (FDN) do capim, Animal Business-Brasil_43
A energia é muito provavelmente o item limitante para maximizar o ganho de peso
lores para mortalidade de 1%, e, então, incluímos os seguintes planos nutricionais: 1. Sal mineral 60 – Probeef 60: bastante usado em sistemas de recria a pasto nas águas, por ser de menor custo por cabeça 2. Sal aditivado com Flavomicima – linha Probeef Pasto Bom 3. Sal Proteinado – linha Probeef Proteinado 30, com consumo de 0.1 % do PV
permitindo maior consumo pelo animal, o que dará suporte e maior ganho. Diferenciais de ganho de peso superiores a esse também podem ser obtidos, porém níveis maiores de oferta de concentrado a pasto passam a ser requeridos, situação em que haverá substituição de parte da forragem por suplemento.
Suplementação nas águas Para se ter uma ideia da oportunidade em se maximizar o resultado econômico com a suplementação nas águas, fizemos uma simulação usando uma das ferramentas do portfólio de serviços que a Cargill Alimentos tem à disposição de seus clientes, que pode ser aplicada facilmente a vários sistemas de produção de bovinos criados a pasto no Brasil. Consideramos um garrote em recria, com peso de 250 kg na entrada das águas, dia 1º de novembro, a preço de mercado de R$ 1.300,00. Consideramos também o custo do pasto como sendo R$ 20,00/mês (equivalente ao aluguel de pasto), e computamos todos os demais custos (mão de obra, vacinas, vermífugos, frete, fornecimento do suplemento utilizado etc). Ajustamos os va-
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Pasto de melhor qualidade oferece condições para que o animal ganhe mais peso
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Considerando-se também o custo de cada um desses produtos e os ganhos de peso esperados com o uso de cada linha, calculamos o lucro por animal no período, assumindo rendimento de carcaça de 50% e preço da arroba de R$ 140,00 (arroba de boi magro). O resultado é mostrado no gráfico abaixo: Lucratividade (R$/boi) de diferentes alternativas tecnológicas de suplementação de garrotes em recria no período das águas 300 250
R$ 256,04
R$ 256,18
Pasto Bom
Proteinado 30
R$ 211,37
200 150 100 50 0 Probeef 60
Conforme pode ser observado na figura, o uso de suplemento mineral aditivado ou de um proteinado de baixo consumo permitiria a obtenção de quase R$ 50,00 a mais por animal de lucro líquido, somente durante o período das águas. Se a análise for estendida para uma situação em que os animais são confinados no final das águas e na entrada da estação seca, o resultado seria ainda mais notável, uma vez que animais que entram no confinamento vindos de um melhor plano nutricional na recria tendem a ficar menos tempo no cocho para atingir peso de abate, se adaptam muito mais rápido à dieta, apresentam melhor rendimento de carcaça e, consequentemente, deixam mais dinheiro no bolso.
Lopes Cavalcante
ESALQ desenvolve mortadela com menos 66% de gordura A substituição da gordura animal pela vegetal na fabricação de mortadela reduziu em 66% a percentagem total de gordura no produto em uma pesquisa realizada no Laboratório de Qualidade e Processamento de Carne da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), da Universidade de São Paulo. A legislação brasileira admite até 30% de gordura na mortadela e no novo produto esse limite ficou em torno de 13%. Outra conclusão da pesquisa: os testes com a nova mortadela mostraram que o produto possui menos ácidos graxos saturados, substâncias
Chip Inside
Empresa desenvolve produto inédito para aumentar a produtividade de vacas leiteiras
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Por: Adeildo
nocivas à saúde. A nova mortadela é do tipo Bologna, feita somente com carne bovina e suína.
Desenvolvido por pesquisadores da Chip Inside, empresa ligada à Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, o produto (coleira com processador e sensores) fornece informações importantes para aumentar a produtividade das vacas leiteiras, destacando-se a detecção precisa do cio e horário de ocorrência. A identificação correta do cio é muito importante para o sucesso da inseminação artificial. Isto porque falhas na detecção do cio afetam a taxa de gestação, prolongam o intervalo entre partos e, consequentemente, reduzem a produção de leite e de bezerros durante a vida útil dos animais.
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pixabay
Pesquisa da FMVZ: produção de carne bovina por hectare pode ser acelerada Cada hectare de terra, na pecuária de corte tradicional brasileira, é usado para a pastagem de um único animal, obtendo-se uma produção anual média de carne em torno de 54 quilos/ hectare. Porém, neste mesmo espaço, é possível criar, ao mesmo tempo, oito animais e elevar a produção de carne para 600 quilos/hectare ao ano. Essa alta produtividade foi obtida no sistema de pastagens de alta lotação de animais, desenvolvido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), da Universidade de São Paulo, em Pirassununga (SP). “Essa produção elevada decorre de uma série de fatores, destacando-se o nível alto de adubação da pastagem com nitrogênio e o confina-
mento do gado durante os meses de inverno. explica o professor Luis Felipe Prada e Silva, do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ.
Thomas Schiewer
Brasil tem primeiro soro contra veneno de abelha do mundo
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A conquista resulta de pesquisas realizadas por três órgãos sediados em São Paulo: Instituto Butantã, Universidade de São Paulo e Universidade Estadual Paulista. Para chegar ao soro, os pesquisadores injetaram veneno de abelha em cavalo e, após a produção de anticorpos específicos pelo animal, foram recolhidas amostras de sangue para obtenção do plasma e, posteriormente, preparo do soro. A importância do soro pode ser avaliada pelo fato de que, ao ser picado por muitas abelhas, o corpo de uma pessoa adulta recebe uma quantidade de veneno suficiente para provocar lesões nos rins, fígado e coração. Isso pode debilitar esses órgãos e levar a pessoa à morte (quadro que poderá ser revertido com o emprego do soro).
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O núcleo Caprinos e Ovinos da EMBRAPA, empresa de pesquisa agropecuária do governo federal, fez adaptações no kit de ordenha manual já utilizada, com sucesso, por aquela empresa em gado leiteiro e lançou um kit para uso na ordenha de cabras também. O kit possibilita uma ordenha mais higiênica e correta, conseguindo diminuir em até 98% a quantidade de bactérias encontradas no leite. Desse modo, evita-se doenças e contaminação dos produtos derivados, como queijos, iogurtes e doces.
Novo equipamento torna o manejo alimentar do gado mais eficiente e econômico Desenvolvido pela Schemaq - Indústria de Implementos Agrícolas, localizada no Paraná, o equipamento auxilia o criador nas tarefas ligadas à alimentação do gado. Para isso é dotado de um mecanismo que retira, carrega e descarrega ração e silagem (alimento conservado em silos, como capim e milho), economizando mão de obra e reduzindo tempo e esforços. O equipamento, que pode ser acoplado a diversos tipos de tratores e possue motores hidráulicos (movidos por bomba hidráulica), apresenta ainda as seguintes vantagens: faz a descarga lateral direta no cocho, apresenta reduzido custo de manutenção e evita desperdício de alimento.
Embrapa Gado de Leite
Ordenha manual de cabras: kit melhora a qualidade do leite
Carne em pó auxilia pacientes com dificuldades de mastigação Pesquisadores da Universidade de São Paulo-USP e da Universidade Estadual Paulista-UNESP desenvolveram com carne bovina uma mistura protéica em pó solúvel para a dieta de pessoas que não podem mastigar alimentos sólidos, atendendo suas necessidades nutricionais. Denominada carne em pó, a mistura foi testada, com sucesso, entre pacientes que fizeram cirurgias bariátricas (redução de estômago). “Além dessas cirurgias, o novo produto é indicado para pacientes portadores de Parkinson, Alzheimer, AVC (acidente vascular cerebral) e câncer, entre outras doenças”, explica a nutricionista e pesquisadora da USP, Suely Prieto de Barros, responsável pela ideia da carne em pó.
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O progresso só é verdadeiro quando o desenvolvimento é sustentável Por:
Ronaldo de Albuquerque, diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura
A vida evolui e traz, logicamente, maior amplitude ao círculo dos nossos conhecimentos e maior poder aos nossos meios de ação. Uma mentalidade nova nasceu com o progresso técnico. Os meios de ação que a técnica pode por hoje à disposição do homem são poderosos e provam que a vontade humana pode ajudar a compreender a natureza e aproveitá-la racionalmente, criando riquezas e serviços de promoção social dos homens.
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mais perto uns dos outros e o nosso mundo tornou-se menor. Hoje é rápida a divulgação das ideias e instantânea a transmissão dos acontecimentos. Tudo isso faz criar, por cima das etnias ou das raças, um robustecimento do conceito de comunidade humana, onde estão implícitas a noção de interdependência e a necessidade de cooperação.
Desequilíbrio As regiões subdesenvolvidas aparecem hoje, não como problemas isolados, que poderão aguardar uma solução, mas sim como verdadeiros pontos fracos de uma economia nacional, capazes de fazer perigar o todo pelos desequilíbrios que provocam ou pelas deformações e tensões sociais que produzem e alimentam. É sabido que a debilidade econômica de uma região gera, pela própria natureza dos mecanismos econômicos, um ciclo vicioso de estagnação, baixo nível de vida, baixo poder de compra da população, anula a capacidade de produzir e, portanto, incapacidade de se criar riqueza.
Realidades regionais esde que as distâncias passaram a ter por medida o tempo gasto em percorrê-la, os homens passaram a viver
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Há por esses motivos razões suficientes para, ao encararem-se medidas impulsionadoras de um desenvolvimento sustentável, se
Dieter Ludwig Scharnagl
Um ambiente ideal de harmonia entre a cidade e o campo, na Suíça
O desenvolvimento civilizado de um país exige a preservação dos recursos da natureza sem prejuízo da sua utilização racional atender ao conjunto das potencialidades e das realidades regionais. Não é possível nos dias de hoje, e muito menos o será no futuro, incentivar o desenvolvimento sustentável, sem se criar uma mentalidade nova que leve ao homem da região o sopro vivificador que possibilite a sua efetiva participação no processo.
O maior desafio O progresso do século XX baseou-se em visão puramente de desenvolvimento econômico. O resultado é a falta de compatibilização do desenvolvimento com a vida. Não vale o processo que polui ou destrói a natureza. O en-
tendimento do progresso com a vida é o maior desafio do homem. O desenvolvimento de um país exige a preservação dos recursos da natureza, sem prejuízo da sua utilização racional. Daí o surgimento do desenvolvimento sustentável, que terá na ciência e na tecnologia, o apoio que permitirá compatibilizar o crescimento econômico, em bases técnicas consistentes, com a conservação e a reprodução dos sistemas ecológicos.
Consciência desperta O fato não deixa de ser um sintoma bastante significativo, pois na medida em que se fala, se escreve ou se preocupa, prova-se que a consciência nacional está desperta. O saudoso almirante Ibsen de Gusmão Câmara, quando Presidente da Sociedade Brasileira de Proteção Ambiental (SOBRAPA), dizia com muita propriedade: “Países há que não podem se esquivar de conviver com desertos; o Brasil necessita compreender que também deverá conviver para sempre com suas extensas florestas. A história não nos perdoará se, por razões de interesse imediato, cupidez ou ignorância, continuarmos a perpetrar a sucessão de atos vandálicos que tem caracterizado nossas relações com a natureza”. (Revista A Lavoura-SNA-Rio nº605/23). Animal Business-Brasil_49
Nos últimos 40 anos, o Brasil deixou de ser um país importador de alimentos e passou a uma invejável posição de destaque na exportação de produtos da agropecuária. Antonio Alvarenga Presidente da SNA - Sociedade Nacional de Agricultura •••
O USDA- Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, projeta para o Brasil uma produção de carne bovina superior a 10 milhões de toneladas em 2015. Fernando Roberto de Freitas Almeida Economista agrícola, PhD •••
Como saber se uma fazenda produz de forma sustentável? Um software desenvolvido pela Embrapa ajuda o produtor a responder a essa pergunta. Nicoli Dichoff Embrapa Pantanal •••
Para quem tem paixão por cavalos, a Mongólia deve estar na lista de lugares onde cavalgar um dia. Paulo Junqueira Arantes Presidente da Cavalgadas Brasil •••
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No estado do Rio de Janeiro há a mesma quantidade de espécies de pássaros (cerca de 690) do que em toda a Europa. Carlos Leal em matéria sobre observadores de pássaros de Nova Friburgo •••
Os produtos de carne de avestruz são uma alternativa viável para a indústria. Rafael Soares Nascimento e Zander Barreto Miranda PhD- UFF •••
O potencial brasileiro no comércio mundial de cavalos é superior ao desempenho apresentado nos últimos anos. Roberto Arruda de Souza Lima PhD - ESALQ/USP e colaboradores •••
A Senepol Nova Vida montou uma base nos Estados Unidos para melhor controlar o aprimoramento genético dessa raça no Brasil. João Arantes Neto Diretor da Senepol •••
Não é possível nos dias de hoje, e muito menos o será no futuro, incentivar o desenvolvimento sustentável sem se criar uma menta-
lidade nova que leve ao homem da região o sopro vivificador que possibilite a sua efetiva participação no progresso. Ronaldo de Albuquerque Diretor da SNA - Sociedade Nacional de Agricultura •••
A história da produção racional de animais no Brasil começou com a criação do ensino oficial superior das ciências agrárias e biológicas no Imperial Instituto Baiano de Agricultura e na Escola Agrária, na província da Bahia, em 1859, por D. Pedro II. Edino Camoleze Cel.Med.Veterinário – RR/1 •••
A primatologia é um dos temas em que existe insuficiência de veterinários, embora seja um campo muito amplo e diversificado. Prof. Milton Thiago de Mello Presidente da Academia Brasileira de Medicina Veterinária •••
Eficiência na produção significa garantir a velocidade necessária sem abrir mão da qualidade, para que não haja necessidade de retrabalho.
A bovinocultura nacional cumpre bem o seu papel de fornecedora de proteína vermelha à população, mas é possível fazer mais. Os Estados Unidos, com 88 milhões de cabeças, produzem 11,7 milhões de toneladas/ano, e o Brasil, com 200 milhões de cabeças, menos de 10 milhões de toneladas/ano. Paulo de Castro Marques Presidente da Associação Brasileira de Angus •••
A arte e a ciência de manejo do pastejo evoluíram muito ultimamente e hoje já se discute não só qual deve ser a quantidade total de massa de forragem disponível, mas também quanto dessa massa é potencialmente digestível e de que forma está disponível para o animal. Pedro Veiga Gerente de tecnologia – Cargill/Nutron •••
Estudos recentes têm mostrado que a equoterapia apresenta importante contribuição econômica, além dos conhecidos benefícios sociais e terapêuticos. Roberto Arruda de Souza Lima PhD, Professor da ESALQ/USP
Paulo Ribeiro MSc em Engenharia da produção da UNESP •••
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Uma travessia a cavalo na Mongólia Por:
Paulo Junqueira Arantes
Para quem tem paixão por cavalos como eu (e provavelmente você, leitor), a Mongólia é um destino que deve estar em nossa lista de lugares para conhecer um dia. Eu já cavalguei em quase todo o Brasil e em mais de 15 países de quatro continentes. Mas, recentemente, consegui realizar um sonho: cavalgar na Mongólia. Localizada entre a Rússia e a China, a Mongólia é um país de muitos contrastes. Com a menor população do mundo e com quase um cavalo por habitante, lá o animal faz parte da família.
S
egundo relatos chineses que remontam a séculos antes de Cristo, a região correspondente à Mongólia atual foi ocupada por diversas tribos nômades. Os Hunos, que foram os maiores cavaleiros da história, aparentemente migraram para oeste a partir das estepes da Mongólia. No final do século XII, um jovem chamado Temujin unificou algumas tribos mongóis e turcas, e depois de vencer várias ba-
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talhas, foi aclamado por todos os mongóis como Genghis Khan “poderoso governante”, e a partir daí saiu com a maior cavalaria de todos os tempos para conquistar o mundo. A tradição equestre mongol é um patrimônio cultural vivo desde o tempo dos hunos e Genghis Khan. Ainda hoje, os mongóis criam seus cavalos livremente, em uma condição semisselvagem em grupos de éguas com um garanhão.
Vários dias sem ver uma cerca Boa parte do território do país é ocupada por estepes e desertos. As estepes da Mongólia são as únicas intactas no mundo. Gobi no idioma mongol significa deserto e o deserto de Gobi cobre um terço do país. O restante são campos sem cercas! Os pastores que representam quase metade da população, levam uma vida seminômade, mudando seus animais com as estações do ano, como fizeram durante séculos. Tendo mantido grande parte da sua milenar tradição nômade, a Mongólia é um dos poucos lugares do mundo aonde você pode realmente interagir com povos nômades, com sua cultura única, (centrada na vida de pastoreio), a paisagem agreste e a vida selvagem. Cavalgar por zonas de transição do Gobi , estepes, dunas e grandes formações rochosas, foi uma experiência impressionante. Na Mongólia existem milhares de camelos bactrianos e muitos deles ainda são selvagens. Claro que também experimentamos “cavalgar” entre suas duas corcovas. Mesmo que lentos para nossos parâmetros equestres, eles cobrem 5 km por hora, com capacidade de carga e resistência incríveis. No convívio com esse povo entendi a importância dos animais na vida dos nômades. O
Também visitamos o Parque Nacional Hustai, que abrange 50 mil hectares de estepe e floresta e é lar de muitas espécies de mamíferos e aves. Ele é mais conhecido por sediar o projeto de conservação para proteger o Takhi, última raça de cavalos realmente selvagens, também conhecido como o cavalo de Przewalski, que tinha desaparecido completamente de seu habitat natural. Apenas alguns exemplares ainda estavam presentes em zoológicos ao redor do mundo. Um programa de reprodução e reintrodução foi iniciado em 1992 (durou 10 anos) com o apoio de ONGs da Europa, resultando em uma população selvagem e sustentável dentro do Parque Hustai, que agora conta com cerca de 300 indivíduos. Tambem fomos a Karakorum, antiga capital do Império Mongol, fundada em 1235 por Ogodei , filho de Genghis Khan. Lá visitamos o Mosteiro Erdene Zuu, que durante séculos foi o templo religioso mais importante na Mongólia. Finalizamos a viagem no Parque Khogno Khan que surpreende a todos com suas formações rochosas, falésias moldadas pela erosão e vastas planícies semidesérticas. O Parque tem enormes dunas de areia, oferecendo uma variedade de paisagens deslumbrantes que deram a região o apelido de “Mini Gobi” ou seja “mini deserto”. Foi uma oportunidade para cavalgar na típica paisagem do deserto de Gobi, entre os paredões do Mini - Gobi, através de estepes semidesérticas, até chegar a uma área de imensas dunas de areia dourada chamada Elsentasarhaï. Durante a cavalgada ficamos em acampamentos Yurt e visitamos várias famílias, onde pude-
O autor e as tendas típicas da Mongólia
Eduardo Rocha
A última raça de cavalo selvagem
Eduardo Rocha
contato muitas vezes se deu pela linguagem da mímica, mas ajudado por minha guia local, consegui aprender muitos de seus costumes. Tomar um tarãg, iogurte de leite de iaque, ver como fazem aguardente de leite de égua fermentado, como maneiam os cavalos e como fazem seus equipamentos, tudo muito simples e prático. Em julho acontece o maior evento do país, o Festival Naadam. Ao acompanhar as disputas que envolvem corrida de cavalo (com crianças) arquearia e lutas, vivi algumas das experiências mais inesquecíveis desta viagem.
mos acompanhar suas atividades e conhecer um pouco de seu dia a dia, pontuado pelo cuidado dos rebanhos: ordenha de éguas, ovelhas, cabras e dris (fêmeas de iaques ), cuidar de animais doentes ou debilitados e mover animais para novas pastagens. As mulheres cuidam das crianças, cozinham, preparam diferentes produtos lácteos (manteiga, queijo, leite fermentado de égua) e mantêm o interior da tenda. Os homens cuidam dos animais, manutenção de equipamentos e arreios e cortam lenha para cozinhar. www.cavalgadasbrasil.com.br Animal Business-Brasil_53
Criador brasileiro contrata a Universidade da Flórida para avaliar gado da raça Senepol Por:
João Arantes Neto
A Senepol Nova Vida, pioneira na implantação desta raça no Brasil, preocupada com a melhoria genética e com a necessidade de aumento de oferta de novas linhagens, montou uma base nos Estados Unidos, para dar prosseguimento a esse novo projeto.
E
m 2013, a empresa adquiriu todo o rebanho Senepol POI da Sacramento Farms na Florida, o maior e mais variado rebanho Senepol dos Estados Unidos. Segundo informação do sócio da empresa, João Arantes Neto, ele considera o rebanho adquirido na Florida, como um verdadeiro tesouro genético, pois
é fruto de um trabalho de seleção da Sacramento Farms de mais de 18 anos, e encontrou nesse rebanho as quatro linhagens mais importantes da raça no exterior. O Rebanho da Senepol Nova Vida em território americano, possui várias doadoras importadas diretamente de St Croix, berço da raça no mundo, animais das marcas CN (Castle Nugent) e WC (Anally Farms). Essas duas famílias são os verdadeiros fundadores da raça, nas Ilhas Virgens,onde o Senepol foi criado desde a década de 1940. A fazenda na Flórida conta também com dezenas de doadoras do PRR (Prime Rate Ranch) do famoso criador Art Martinez, falecido em 2013, e as demais doadoras e novilhas são crioulas do plantel da SCR ( Sacramento Farms), um trabalho criterioso de seleção de mais de 18 anos.
Fabio Fatori
Animais Senepol Nova Vida da primeira desmama realizada no 1º semestre de 2014
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Base genética De posse desse tesouro genético, a Nova Vida prossegue com o trabalho de seleção, multiplicação e avaliação do plantel. Para dar respaldo científico na avaliação do rebanho, o sócio da empresa, Neto Arantes, visitou a UF (University of Florida) em Marianna e ficou impressionado com as instalações e com o corpo técnico da Universidade, chefiada pelo Dr. Cliff Lamb, Master e Ph.D em Reprodução Animal pela Kansas State University.
O contrato A Senepol Nova Vida contratou a UF (University of Florida) para avaliar os 50 melhores bezerros da primeira desmama realizada no 1o semestre de 2014. Os animais foram enviados para a prova de avaliação em novembro de 2014 e a Universidade realizará várias medições e avaliações no rebanho; entre elas, teste de eficiência alimentar, prova de ganho de peso, medição da altura de costela, ultrassom da área de lombo, testes de docilidade e velocidade de entrada e saída dos animais no tronco e avaliações reprodutivas.
Grow safe De posse dos resultados dos testes, a Senepol Nova Vida terá uma excelente ferramenta para dar continuidade ao aprimoramento e crescimento da raça. As instalações da UF para realização dos testes de performance são todas equipadas pelo sistema “Grow Safe” do Canadá e permite uma medição exata no que diz respeito à eficiência alimentar dos animais. O sistema é eletrônico e controla individualmente quanto cada animal consome de ração e silagem por dia e quanto desse alimento consumido é convertido em ganho de peso diário. Certamente, esse é hoje o sistema mais moderno para este tipo de controle na pecuária.
Certificado Os animais da prova receberão um certificado individual emitido pela UF contendo todas as medições e resultados do teste. Após trinta dias de prova, a UF informará ao sócio da empresa, que no grupo de animais já podem ser vistos alguns expoentes, tourinhos jovens com ganhos de peso extraordinários e
também algumas novilhas jovens com desempenho surpreendente.
Filosofia Levando adiante a filosofia do fundador da Nova Vida, João Arantes Jr., já falecido, seus filhos e diretores, Neto e Ricardo, estarão promovendo novamente a “democratização dessa genética internacional POI rara” aos criadores do mundo todo, e, para isso, pretendem promover o 1o Leilão Internacional da raça Senepol para o mundo, com a venda dos grandes destaques da prova de eficiência alimentar da UF (University of Florida). O evento acontecerá em data ainda a ser marcada, nesse ano. A Nova Vida continuará sócia dos animais nos Estados Unidos e apresentará com antecedência aos interessados nessa genética internacional, os procedimentos e custos para coleta de embriões, coleta de sêmen e despesas com as exportações.
Mercado internacional O mercado internacional dessa raça está tão aquecido quanto o brasileiro, e prova disto são as recentes exposições de Senepol realizadas com sucesso em diversos países da América do Sul e América Central, conta o sócio da empresa, Neto Arantes, que hoje é membro da diretoria da SCBA (Senepol Cattle Breeders Association), a associação mais antiga e mais tradicional da raça no mundo. Existem, atualmente, 12 associações ativas espalhadas nos continentes; nas três Américas, África e Oceania. A raça desponta com muita velocidade para se firmar nos países de clima quente, tropical e subtropical.
Oportunidades Segundo opinião do membro da SCBA e também sócio da Senepol Nova Vida, Neto Arantes, as oportunidades são enormes e o processo está apenas no começo. Neto acredita muito no ingresso da Senapol em vários países asiáticos, como China, Vietnã e Malásia entre outro. A maior população mundial está na Ásia que, da mesma forma que o Brasil, procura uma raça para acelerar a produtividade de carne a campo com o cruzamento industrial por monta natural. Esse mesmo conceito deverá se repetir nos demais continentes. Animal Business-Brasil_55
Por: Paulo
Roque
Brasil exporta sêmen zebuíno para Índia Depois de cinco anos de negociações de protocolos sanitários, a ABS Pecplan conseguiu autorização para exportar material genético para a Índia. Na primeira remessa foram enviadas mil doses de sêmen de zebu brasileiro para o país que é o berço da espécie. As doses enviadas foram de dois dos principais touros provados da bateria Leite Tropical da ABS, Diamante de Brasília e Castelo TE Kubera, ambos da raça Gir leiteiro. O embarque do material foi feito no Aeroporto de Viracopos, de onde seguiu para Nova Deli, capital indiana. Os produtos foram enviados para a ABS Índia, que ficará responsável pela comercialização do sêmen por lá. A Índia tem um volume de inseminações cerca de 10 vezes maior que o Brasil, atingindo mais de 120 milhões. Segundo o gerente de produção da ABS Pecplan, Fernando Vilela Vieira, a Índia, apesar de ter sido o berço do zebu, não teve a mesma competência em fazer uma seleção como a que fizemos no Brasil, animais leiteiros foram cruzados com raças de corte e grande parte desta genética se
A genetica de Diamante TE de Brasilia, numero 1 da raca Gir Leiteiro, foi uma das escolhidas pelos indianos
perdeu ao longo do tempo. O início das exportações de sêmen marca um novo e importante capítulo da história do zebu brasileiro. Os primeiros animais da espécie chegaram ao Brasil há mais de 100 anos, importados da Índia, de onde foram trazidos até a década de 60, quando as importações foram proibidas. Recentemente, foi autorizada nova importação, desta vez de embriões.
O crescimento do confinamento no Brasil Baseado nas estatísticas do Rabobank de que o volume de animais confinados no Brasil deverá mais do que dobrar nos próximos 10 anos, superando as 9 milhões de cabeças até 2023, na opinião de Eduardo Moura, presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), confirmada essa expectativa, a pecuária de ciclo curto crescerá dos atuais 10% para pelo menos 15% do total de bovinos abatidos por ano. Segundo ele, o confinamento é uma tecnologia importante para o contínuo crescimento da pecuária brasileira, que passa por um consistente processo de profissionalização. Destaca, ainda, que a atividade convive com intensos investimentos em melhoramento genético, objetivando aumentar a produtividade, contando para isso com nutrição e controle sanitário cada vez mais eficazes. 56_Animal Business-Brasil
Veterinária alerta sobre a importância do melhoramento genético A veterinária Franciele Borges Fortunato da Fazenda Nelore Três Barras,de Campo Grande (MS), alerta os pecuaristas que pretendem maior rentabilidade em 2015 sobre a necessidade da atenção voltada à selecão genética. “Com investimento em genética e com constante atualização tecnológica, os pecuaristas vão avançar verticalmente neste ano, deixando de abrir novas áreas e apostando na qualidade do rebanho”, afirma. “Entre os benefícios do investimento em reprodutores Puro de Origem estão a desmama de bezerros mais pesados, a maior precocidade dos animais e ganho em carcaça, o que pode trazer melhoria da renda aos pecuaristas e estimular sua fixação no campo”, finaliza Franciele.
Defesa agropecuária será prioridade máxima do Mapa Durante a solenidade de posse da nova diretoria do Fórum Nacional dos Executores de Sanidade Agropecuária (Fonesa), a ministra Kátia Abreu (Agricultura, Pecuária e Abastecimento) disse que defesa agropecuária será “prioridade máxima” da pasta nesta gestão. A ministra apresentou os principais pontos do Planejamento Nacional de Defesa Agropecuária, projeto que está sendo elaborado pelo Ministério em parceria com estados e entidades que atuam na área e espera que o Plano Safra deste ano reserve mais recursos federais para a área, demanda que foi levada ao ministro Joaquim Levy (Fazenda) durante reunião no início do mês de março. O programa, que também tentará diminuir entraves burocráticos, deverá ser lançado nacionalmente durante cerimônia no Palácio do Planalto, com presença de organismos internacionais. “Temos que diminuir a carga e a pressão da burocracia em cima dos produtores, mas dar duro na fiscalização quando houver algo de errado”, completou. Os recursos para defesa agropecuária serão distribuídos aos estados de acordo com regras “técnicas e rigorosas”, afirmou Kátia Abreu. Alguns dos critérios serão localização em região de fronteira, participação em programas de erradicação de doenças e pragas, alimentação em dia da base de dados da Plataforma de Gestão Agropecuária (PGA) e fundos emergenciais para doenças.
ABS contrata campeão touro jovem da Expoinel Durante a Expoinel 2015, a equipe ABS Pecplan contratou um dos campeões da feira para reforçar a bateria Corte Zebu da empresa. Landau da Di Gênio, que foi premiado como o melhor Touro Jovem nas pistas do Parque Fernando Costa, irá para a central em Uberaba (MG) para produção de sêmen. Para o gerente do departamento Corte Zebu ABS, Gustavo Morales, a contratação representa uma grande conquista para os clientes, já que o Landau apresenta todas as características idealizadas pela pecuária atual. “É um touro diferenciado, com biotipo extremamente moderno e tem muito a contribuir com a raça Nelore. Ele veio para desmistificar essa separação criada entre prova e pista. Sem dúvida, é o animal que colocará isso no passado”, comenta. Landau da Di Genio é filho do touro Brado em vaca Fajardo, genealogia que chama atenção do mercado. Vale destacar que, perto de completar dois anos, o touro já acumula outros prêmios como o de reservado Júnior Maior na Expoinel nacional, conquistado em setembro de 2014. A expectativa é que o material genético de Landau seja disponibilizado ao mercado ainda este ano. Landau da Di Genio, campeao touro jovem da Expoinel 2015, e contratado pela ABS
Animal Business-Brasil_57
Em comemoração ao Dia Mundial da Vida Selvagem, no último dia 3 de março, chegou ao Brasil um casal de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii) nascidas em Berlim, Alemanha. A iniciativa se insere no âmbito do Projeto Ararinha na Natureza e faz parte da parceria entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, e a Agência Federal Alemã de Conservação da Natureza (Bundesamtfür Naturschutz, BfN). As duas instituições trabalham em parceria há mais de dez anos no Programa de Cativeiro da espécie. O casal Carla e Tiago é filho de uma fêmea de propriedade do governo brasileiro, chamada Bonita, levada para a Alemanha em 2013 para formar par com o macho Ferdinando na ONG alemã Associação para Conservação de Papagaios em Extinção (ACTP).
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Cooperação Brasil-Alemanha traz ao país casal de ararinhas-azuis
Preço médio das terras no Brasil teve valorização acima de 300% nos últimos anos
Resolução 1071/2014 do Conselho Federal de Medicina Veterinária já está em vigor
Estudo realizado pela Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (AGE/Mapa), em conjunto com pesquisador da Universidade de Brasília, aponta uma valorização média de 308% entre 2002 e 2013. Em termos comparativos, a taxa de inflação dada pelo IGP-DI da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi de 121,9% no mesmo período. Em algumas regiões, como no estado do Tocantins, o aumento chegou a quase 700%. A terra representa no Brasil 70,5% do valor dos bens existentes nos estabelecimentos agropecuários. Os demais valores são distribuídos em prédios, instalações e benfeitorias, lavouras permanentes e temporárias, matas e outros bens, como veículos, máquinas e animais. Segundo José Gasques, da AGE, um dos autores do estudo, cerca de 60% do valor das terras do país encontram-se em estabelecimentos acima de 200 hectares; estes somavam 252,4 mil estabelecimentos no Censo de 2006 e representam 5,0% do total dos estabelecimentos levantados pelo IBGE.
Já está em vigor, desde março, a Resolução 1071/2014 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) que padroniza as regras para os documentos emitidos pelos estabelecimentos veterinários. A partir de agora os serviços veterinários de clínica e cirurgia contam com regras específicas quanto à emissão de documentos, além de serem obrigados a guardá-los por no mínimo cinco anos. Os documentos de autorização ou consentimento a serem emitidos para procedimentos clínicos e/ou cirúrgicos em serviços veterinários são: autorização para exames ou procedimentos terapêuticos que possam oferecer riscos iminentes de reação adversa ou morte; autorização para internação e tratamento clínico ou cirúrgico; autorização para procedimentos cirúrgicos de qualquer natureza; autorização para procedimentos anestésicos; consentimento para procedimento de eutanásia.
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GTA eletrônica está disponível para abate de bovinos em Mato Grosso Está disponível no site do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT, Cuiabá/ MT) o sistema on-line de consulta de saldo animal e emissão de Guia de Trânsito Animal Eletrônica (e-GTA) no Módulo do Produtor. Neste primeiro momento, a emissão da e-GTA é possível apenas para finalidade de abate de bovinos destinados a frigoríficos de Mato Grosso sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) devidamente cadastrados. O produtor poderá consultar o saldo animal em suas respectivas fichas e emitir a e-GTA para abate de qualquer local e horário, por meio de internet, sem precisar se deslocar aos escritórios do Indea. O produtor também pode acessar, no Módulo do Produtor, as taxas do Fundo Emergencial de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso (Fesa-MT), Fundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab), Fundo de Apoio à Bovinocultura de Corte (Fabov) e do Indea para recolhimento conforme a faixa etária e a quantidade de animais multiplicados ao fator multiplicador da Unidade de Padrão Fiscal (UPF). Para mais informações acesse o Informativo Técnico sobre o assunto: http:// www.feedfood.com.br/gta-eletronica-esta-disponivel-para-abate-de-bovinos-em-mato-grosso/#sthash.3j2DgWNG.dpuf
Agroindústria busca expansão para frango no Oriente Médio
Alternativa para engorda de bovinos no Norte de Minas Segundo a Emater-MG, a implantação de grandes estruturas de confinamento para engorda de bovinos está mudando a realidade da pecuária do Norte de Minas. Nos últimos anos, cinco empreendimentos desta modalidade foram instalados na região. Estes locais são uma alternativa para aqueles pecuaristas que não têm condições de engordar os animais na própria propriedade por falta de pasto, principalmente no período da seca. Com a existência destas estruturas, o produtor passa ter a garantia de engordar o animal para o abate. Estão instaladas nos municípios de Pirapora, Buritizeiro, Itacarambi, São João do Ponte e Janaúba. Cada uma, em média, tem a capacidade para manter cerca de 10 mil animais em regime de engorda ao mesmo tempo. Outra modalidade é o sistema de “boitel”, uma referência a “hotel do boi”. Trata-se de uma prática adotada em vários países para a engorda de bovinos em confinamento na forma de prestação de serviço. O produtor paga uma diária para cada animal confinado. Ao final do período de engorda, o pecuarista proprietário dos animais se encarrega de comercializar o boi gordo para o frigorífico de sua escolha. Existe ainda a opção de parceria entre o dono dos animais e o confinador, que recebe bois magros para engorda. Na hora da venda para o frigorífico, a negociação pode ser feita entre as três partes. Neste sistema de parceria, o produtor lucra com a valorização da arroba do boi após a engorda.
Com o objetivo de divulgar a qualidade do frango halal nacional, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), em parceria com a Apex-Brasil, participou, da Gulfood 2015, maior exposição comercial de empresas de alimentos do Oriente Médio, em Dubai (Emirados Árabes Unidos). A entidade levou 14 agroindústrias brasileiras. Entre elas a Frango Bello, Aurora, Globoaves, Cocari, Copacol, Agrogen, Coasul, JBS, GTFoods, Avenorte, Jaguafrangos, Averama, Pioneiro Alimentos e Frango Granjeiro. Animal Business-Brasil_59
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Cresce o fornecimento de carne ovina no Espírito Santo Desde o início de 2015, uma parceria entre a Associação de Criadores de Ovinos e Caprinos do Espírito Santo – ACCOES e produtores locais ampliou o fornecimento da carne de cordeiro na Grande Vitória e interior. Agora, o estado conta com o abate mensal de cordeiros, a fim de ampliar a comercialização e difundir o consumo do produto. A venda é feita por meio do restaurante Ponto do Criador, localizado no município da Serra. A boa notícia para os apreciadores da carne de cordeiro é que a compra ou encomenda também pode ser feita por telefone (27 3328-2928), com a facilidade da entrega no local desejado, sem custo adicional. O kit, que será acondicionado em uma caixa térmica, conterá: 1 lombo, 1 costela, 1 paleta, 1 pernil, 1 pescoço fatiado, 1 Short Rack e 1 French Rack, num peso total que poderá variar entre 6 e 8 kg. “Essa nova fase da ovinocaprinocultura no Espírito Santo vai valorizar os que já estão no campo e estimular a entrada de novos produtores”, acredita o criador Neuzedino Alves Victor de Assis, que participa do projeto.
Pecuária bovina: preços seguem firmes em 2015 Segundo avaliação do boletim Ativos da Pecuária de Corte, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), os preços do boi gordo e dos bezerros devem continuar firmes em 2015, reflexo da redução de animais para abate e da seca de anos anteriores, além da valorização do dólar frente ao Real, que deve favorecer as exportações. De acodo com a publicação, mesmo que chova com mais regularidade neste ano, não há como esperar altas expressivas na oferta de animais para reposição ou prontos para abate em curto prazo, uma vez que a seca observada desde 2013 prejudicou não apenas o tempo de engorda dos animais, mas também a taxa de prenhez das matrizes (fêmeas), o intervalo entre partos e o desenvol60_Animal Business-Brasil
vimento de bezerros e garrotes, além de, possivelmente, ter contribuído para elevar o índice de mortalidade dos animais. Do lado da demanda, explica o boletim, apesar das projeções de baixo crescimento econômico, não há perspectivas de redução do consumo interno e das vendas externas. Todos estes fatores influenciaram na restrição dos índices de abate e um dos desafios para os pecuaristas é conseguir cobrir os custos totais de produção, que subiu expressivamente em 2014, por conta da valorização dos bezerros. Os animais de reposição responderam por 50% dos custos totais de produção da pecuária de corte em 2014, 10 pontos percentuais a mais do que no ano anterior. Este índice é reflexo da forte alta dos preços dos animais de reposição, que chegou a 35%.
Assocon participa dos debates para definição da Agenda Prioritária do Agronegócio em 2015 A Associação Nacional dos Confinadores (Assocon) marcou presença no ciclo de debates com as principais entidades da agropecuária, em Brasília, iniciativa da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), por meio do Instituto Pensar Agro (IPA). O objetivo é estabelecer as prioridades a serem defendidas no âmbito dos poderes Executivo e Legislativo em 2015. Algumas bandeiras serão mantidas na agenda de trabalho e outras novas do interesse do agronegócio brasileiro estão sendo incorporadas. O trabalho final – Plano Estratégico – será apresentado aos cerca de 260 deputados e senadores membros da FPA/Pensar Agro, todos comprometidos com o campo. Entre as prioridades estão infraestrutura e logística, política agrícola, defesa agropecuária, direito de propriedade ambiental e trabalhista. A Assocon articula ativamente em duas frentes: Política Agrícola e a Defesa Agropecuária. Outros assuntos de destaque debatidos são o projeto de lei que consolida as legislações sanitárias da agropecuária no Brasil, proposta de formulação de uma lei agrícola plurianual (em substituição ao Plano Safra) e central de gravames (para reduzir os custos e burocracia no crédito rural).
Iraque e África do Sul reabrem mercados para carne bovina brasileira Iraque e África do Sul, dois importantes mercados para a carne bovina brasileira anunciaram a retomada das exportações do produto nacional. O Iraque tinha optado pela imposição de embargo em função do caso atípico de BSE, ocorrido no Estado do Mato Grosso, em 2014. Atestada a inocuidade do sistema brasileiro pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que manteve o status de risco do país como “insignificante”, as negociações bilaterais pela reabertura foram iniciadas. Em 2012, o Brasil exportou mais de 5,6 mil toneladas de carne para o Iraque, registrando um faturamento acima de US$ 24 milhões. No final de fevereiro, a África do Sul também reabriu o mercado para exportações brasileiras de carne bovina desossada. O país havia embargado a entrada desses produtos, pela ocorrência de febre aftosa e pelo caso atípico de encefalopatia espongiforme bovina (EEB) no Brasil. O Brasil já chegou a exportar mais de 11 mil toneladas para este país com faturamento de US$ 16 milhões. Para 2015, o setor ainda tem boas perspectivas com o fim definitivo dos embargos de China, Arábia Saudita e Japão, além da possibilidade de abertura para os Estados Unidos.
RS faz alerta sobre o controle da raiva O número crescente da raiva bovina no Rio Grande do Sul é motivo de preocupação das autoridades. O estado registrou em 2014 mais de 160 focos de raiva bovina e mais de 30 mil animais foram contaminados com a doença, que é transmitida por morcegos hematófagos. Por isso, os pecuaristas foram alertados sobre a importância da vacinação, especialmente em localidades onde existem refúgios para morcegos. Conforme a chefe do departamento de Educação Sanitária da Secretaria da Agricultura e Pecuária, Rosane Collares, a vacina só terá seu efeito completo com reaplicação após 21 dias da primeira dose. “A aplicação das doses não é obrigatória pelo calendário oficial, entretanto é fundamental para evitar problemas maiores e até mesmo a contaminação de seres humanos nas localidades que tiverem recomendação das inspetorias”. Os principais sintomas nos animais são agitação, falta de apetite e nervosismo. Depois, isolamento, fraqueza e paralisia dos membros, salivação abundante e dificuldade para engolir. Os sintomas evoluem para dificuldade para levantar-se e, finalmente, morte entre quatro e seis dias após o início dos sintomas. Em caso de suspeita, o produtor deve notificar imediatamente a Inspetoria Veterinária da região e buscar atendimento em um posto de saúde. A raiva é uma zoonose, portanto pode ser transmitida a seres humanos que tiverem contato com saliva do animal infectado. Animal Business-Brasil_61
Lidiane Dri Manfiolete
Equoterapia pode ser um bom negócio Por:
Roberto Arruda de Souza Lima, Prof. Dr. da ESALQ/USP
Muitas vezes a palavra negócio associada com atividades terapêuticas é mal vista por ambos lados: um não crê em oportunidades de lucros e outro receia ser objeto de exploração. Este artigo busca romper com os dois preconceitos, mostrando que a equoterapia é um segmento de negócio importante para o equobusiness e que muitos praticantes podem ser beneficiados com uma visão empresarial da atividade. 62_Animal Business-Brasil
O
uso do cavalo em práticas terapêuticas já era documentado na Grécia Antiga desde o sáculo V a.C. Hipócrates recomendava práticas equestres como solução para casos de insônia e Asclepíodes avançava mais, relatando casos de tratamento de epilepsia e paralisia através da equoterapia. Mas apenas no século XX a equoterapia passou a receber maior atenção da medicina moderna, Desde então, diversos centros com tratamentos realizados com uso do cavalo surgiram, mas, como regra geral, através de iniciativas filantrópicas, com grande uso de tra-
balho voluntário e recebimento de subsídios para sua sustentação financeira.
Importância econômica e social Estudos mais recentes têm mostrado que a equoterapia apresenta importante contribuição econômica, além dos conhecidos benefícios sociais e terapêuticos. O Brasil, segundo dados da ANDE-BRASIL (Associação Nacional de Equoterapia), possui cerca de 280 centros de equoterapia distribuídos por todo território nacional. A Figura 1 apresenta a localização de 243 Centros ligados à ANDE-BRASIL1, lembrando que não há obrigatoriedade de vínculo com a ANDE-BRASIL. Cada um desses centros conta com infraestrutura física, profissionais de diversas formações e animais, cuja movimentação financeira anual é estimada em 70 milhões de reais. Figura 1 – Distribuição geográfica dos centros de equoterapia ligados à ANDE-BRASIL. RR 1
AP 0
AM 1
AC
1
MA 0
PA 2
RO
TO 1 5
MT 6
PI
1
BA
DF 9 GO 9
MS 4 PR 14 RS 35
SP 83
CE 3
MG 25
RN 1 PB 2 PE 1 4 AL 1 SE
A equoterapia divide-se em quatro programas básicos: • Hipoterapia. Consiste na utilização do cavalo como agente cinesioterapêutico contribuindo para o desenvolvimento neuropsicomotor de portadores de necessidades especiais. • Educação e Reeducação equestre. Programa em que o praticante inicia a independência na montaria e a equipe envolvida atua com o objetivo da vinculação afetiva e esportiva do praticante por meio de atividades lúdicas e psicomotoras. • Pré-esportivo / Hipismo adaptado. Com a introdução ao esporte equestre. Além do desenvolvimento neuropsicomotor, o praticante desenvolve uma imagem pessoal positiva refletindo-se substancialmente na elevação da autoestima. Muitos portadores de necessidades especiais experimentam através da montaria e consequente domínio do cavalo, pela primeira vez em suas vidas, a sensação de independência. • Esportivo paraequestre. Programa em que o praticante possui domínio independente sobre o cavalo, aprimorando-se cada vez mais a sua capacidade técnica de conduzi-lo sozinho.
5
Equipe multidisciplinar 2 ES
12 RJ
SC 15
Fonte: ANDE-BRASIL (2015)
Os Centros de Equoterapia ligados à ANDE-BRASIL dividem-se em Filiados e Agregados. Os Filiados são aqueles que têm o reconhecimento do método equoterápico pelo Conselho Federal de Medicina, com equipes habilitadas pela ANDE-BRASIL e que realizam os atendimentos dentro da doutrina e fundamentos difundidos pela ANDE-BRASIL. Já os Centros de Equoterapia Agregados são aqueles que possuem ainda uma ligação genérica com a ANDE-BRASIL. Estão com documentação de filiação e a equipe multidisciplinar ainda incompletas e sem habilitação e reconhecimento da ANDE-BRASIL. 1
Quatro programas
Para desenvolver esses programas, cada Centro de Equoterapia conta com uma equipe multidisciplinar. No mínimo, o centro deve contar com fisioterapeuta, psicólogo e professor de equitação. Mas, muitas vezes, há o concurso de outros profissionais. Somente com recursos humanos, o gasto mensal supera R$ 3.000,00. O custeio de um centro para atender 150 praticantes atinge valores superiores a 30 mil reais. Além das atividades ligadas diretamente ao cavalo e aos praticantes, os negócios no segmento da equoterapia atingem também outras áreas, como a educacional. Profissionais de diversas formações2 e de diversos países fre2 Enfermagem; fisioterapia; fonoaudiologia; medicina; psicologia; terapia ocupacional; educação especial; educação física; magistério; pedagogia; equitação; veterinária; zootecnia; administração; assistência social; massoterapia, entre outras.
Animal Business-Brasil_63
Figura 2. Número e origem de alunos de outros países em cursos da ANDE-BRASIL
quentam cursos de capacitação em equoterapia no Brasil. Um curso básico, com carga de 40 horas, implica em investimento de mil reais por inscrição (aluno). A Tabela 1 mostra a origem dos alunos nacionais e a Figura 2 apresenta a distribuição dos alunos estrangeiros, por país de origem.
1 7 1 19
Tabela 1. Número e origem de alunos em cursos de capacitação em equoterapia, da ANDE-BRASIL
AC
31
0
AL
53
34
AP
7
0
AM
35
0
BA
81
0
CE
50
0
DF
875
0
ES
69
0
GO
349
194
MA
48
0
MT
159
0
MS
187
0
MG
723
167
PA
106
0
PB
74
141
PE
96
203
PI
43
45
PR
386
47
RJ
209
227
RN
13
0
RO
38
0
RR
19
52
RS
173
652
SC
209
136
SP
1017
2516
SE
13
0
TO
15
0
5.128
4.414
Total 64_Animal Business-Brasil
20
Realizado em outros locais
1
2
2
ARG
PAR
BOL
POR
CHI
SUI
ITA
URU
PAN
VEN
1
1
Obs.: ARG: Argentina; BOL: Bolívia; CHI: Chile; ITA: Itália; PAN: Panamá; PAR: Paraguai; POR: Portugal; SUI: Suíça; URU: Uruguai; e, VEN: Venezuela. Fonte: ANDE-BRASIL
O movimento suave do cavalo ajuda a desenvolver o equilíbrio da criança excepcional
Equoterapia ESALQ-USP
UF
Realizado na ANDE-BRASIL
Quadro 1. Ações para atender à Lei 9.492/95 Passo
Ação
Responsável
1
Contata a empresa e faz proposta
CENTRO
2
Aprova a proposta
DOADOR
3
Informa à Ande, prepara e envia o Projeto de Captação com Plano de Trabalho
CENTRO
4
Aprova o Projeto e Plano de Trabalho do Centro, prepara Contrato para ser assinado pelo Doador com a ANDE e da ANDE com o Centro
ANDE
5
O Centro assina o contrato e remete para Ande
CENTRO
6
O Doador aprova o Projeto da ANDE e assina o Contrato remete para ANDE
DOADOR
7
Assina os Contratos e remete 1 via para Centro e outra para Doador
ANDE
8
Deposita Doção na conta da ANDE e informa via e-mail para financeiro@ equoterapia.org.br
DOADOR
9
Recebe a Doação e emite o Recibo Padrão para Doador (original via correio) para Centro cópia escaneada via e-mail
ANDE
10
Recebe o apoio financeiro da ANDE e envia recibo original, via Correios com logo própria do Centro e cópia escaneada por e-mail para financeiro@equoterapia.org.br
CENTRO
11
Até o 5º dia do mês subsequente apresenta a prestação de contas (Recibos ou NF e etc.)
CENTRO
12
Após contas aprovadas remete-se um relatório para o Doador mensalmente
ANDE
Fonte: ANDE-BRASIL (2014)
Valores diferentes Cerca de 6 mil praticantes são atendidos no Brasil, pagando valores bem diferentes de acordo com o Centro e condição do praticante. Em muitos casos, há subsídio, podendo ser inclusive gratuita. Em outros casos ocorre cobertura de planos de saúde, inclusive pelo SUS, e há Centros que cobram valores mensais superiores a R$ 500 por praticante. Observa-se, assim, que há oportunidade de negócios nas mais diversas condições para quem deseja trabalhar com Centros de Equoterapia, sendo que a demanda não tem sido atendida pela atual oferta de vagas. Uma oportunidade de negócio está ligada aos Centros subsidiados com benefícios fiscais e apoiados pela ANDE-BRASIL. Através da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995, a ANDE-BRASIL pode receber doações e destinar até 95% desse valor (se a doação for de até R$ 200.000,00 ou 92,5%, caso a doação supere esse valor) a um Centro filiado, desde que haja um projeto sócio-assistencial adequado. O quadro 1 apresenta os passos necessários para atender à legislação.
Há oportunidade de negócio nas mais diversas condições para quem deseja trabalhar com centros de equoterapia. A demanda é maior do que a oferta. Oportunidades de negócio Pelo exposto, há oportunidades de negócio envolvendo a equoterapia, que corretamente explorados resultarão em benefícios tanto para praticantes quanto para empresas, podendo estas se beneficiarem financeiramente tanto por receitas quanto por benefícios fiscais, com elevado ganho de imagem ao associar seu nome à esta milenar terapia. Animal Business-Brasil_65
AVSC
Governabilidade e Segurança Antonio Alvarenga (*)
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Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, onde pontifica uma generalizada crise de confiança. Somos bombardeados diariamente com denúncias de corrupção nunca vistas na história desse país, envolvendo políticos, empresários e funcionários do executivo e do judiciário. Na economia, estamos atravessando uma combinação de indicadores negativos que alguns denominam de “tempestade perfeita”, com inflação em alta, estagnação econômica, déficit nas contas públicas, juros elevados, dívida pública em crescimento e perspectivas de desemprego. Na área política instalou-se uma verdadeira balbúrdia. No entanto, não podemos permitir que esse clima negativo paralise o país. A incerteza é um dos maiores inimigos do desenvolvimento. Ela amedronta os consumidores, inibe os empreendedores e afugenta os investidores. Em meio a essa crise sem precedentes, temos a oportunidade de passar a limpo o país, enfrentar e superar nossos problemas. É preciso ser implacável na punição dos corruptos e corruptores. Mas não se pode confundir essa questão criminal com a necessidade de reorganizar nossa economia. Não deve ser fácil para a presidente Dilma Rousseff implementar uma política econômica que não faz parte de seu ideário histórico e, ainda que indiretamente, admitir os erros cometidos em seu primeiro mandato. Não é hora de amaldiçoá-la diariamente, como temos assistido. É preciso proporcionar a ela condições de governabilidade para que sua gestão encontre o caminho do equilíbrio econômico e da segurança institucional e política. Dilma entregou o controle da economia para um profissional competente, e a articulação política para o mais experiente de seus aliados. Esperamos que ambos devolvam tranquilidade à nação e
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garantam o equilíbrio das contas públicas, com a consequente melhoria de nossos indicadores econômicos. Há muito o que fazer para ajustar a economia e recolocar o país em uma trajetória de crescimento sustentável. O agronegócio já mostrou sua importância. Fornece comida farta, boa e barata na mesa dos 200 milhões de brasileiros e, ao mesmo tempo, proporciona exportações de US$ 100 bilhões que garantem o equilíbrio de nossa balança comercial, pressionada pelo gigantesco déficit do setor industrial. O bom senso econômico indica que os ajustes da economia devem garantir continuidade ao desenvolvimento de nossa agropecuária, mantendo e ampliando os programas governamentais de apoio ao setor, inclusive quanto ao financiamento rural. Vamos aproveitar nossa vantagem comparativa. Temos disponibilidade de terras, clima adequado e tecnologia apropriada para avançar na produção de alimentos, fibras, energia e florestas. Somos competitivos na produção, mas precisamos melhorar nossa precária infraestrutura de armazenagem e escoamento da produção. Finalmente, não é justo que os produtores, verdadeiros heróis de nossa economia, permaneçam em estado de constante insegurança, à mercê dos eventuais problemas climáticos e das ocorrências de doenças e pragas. Está na hora de resolver essa questão por meio de um eficiente e amplo sistema de seguro rural que lhes proporcione garantia de renda. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
Foto: Eduardo Carvalho
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Foto: Cristina Baran
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Foto: Cristina Baran
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