Ano 05 - Número 23 - 2015 - R$ 12,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br
MATÉRIA ESPECIAL Congresso internacional debate cadeia produtiva do leite
DIREITO AGRÁRIO
Um ramo desconhecido do Direito
HIPISMO BRASILEIRO
Movimenta muito dinheiro
I Graficci
Agora tem qualidade com identidade
Em todo o mundo, determinados produtos de qualidade são reconhecidos por sua procedência e originalidade, garantidas por uma certificação de Indicação Geográfica (IG) que, no Brasil, pode ser Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO), registradas pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Cabe a você, consumidor exigente, identificar e buscar produtos com essa marca.
A SNA (Sociedade Nacional de Agricultura) apoia e incentiva esse conceito. Nosso objetivo é promover o valor do agronegócio brasileiro com suas características e origens exclusivas. Prefira produtos com essa marca. Existe uma (IG) de qualidade esperando por você!
(IG) Qualidade com identidade.
uma publicação da:
N
esta 23ª edição, o professor Roberto Arruda de Souza Lima (PhD) e suas colaboradoras da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, nos mostram a importância do hipismo como esporte e como atividade econômica, movimentando milhões de dólares e de euros no mundo todo. Praticado a partir dos anos 1880, primeiramente nos Estados Unidos e na Europa e na lista dos esportes olímpicos desde 1912, o salto é atividade enraizada na cultura desse país e desse continente onde os animais de ponta são considerados verdadeiras joias. Tudo começou nos exércitos antigos quando o cavalo era importante arma, e conseguir saltar um obstáculo podia significar a diferença entre a vida e a morte do cavalo e de seu cavaleiro. Mas nem tudo são flores no campo da criação e emprego do cavalo e dos equídeos em geral, como o leitor constatará lendo o bem fundamentado artigo do Coronel Veterinário RR-1 Edino Camoleze, sobre o Mormo, doença grave que motivou a criação da primeira faculdade de veterinária do Brasil, pelo Capitão Médico Muniz de Aragão – patrono da Medicina Veterinária – no Rio de Janeiro, no início do século XX. A Professora Maria Cecília de Almeida, MSc em Direito pela Universidade de São Paulo e diretora da SNA – Sociedade Nacional de Agricultura, produtora desta Revista, inaugura uma seção sobre Direito Agrário, assunto da sua especialidade e do maior interesse para todos os setores do agronegócio. Alberto Figueiredo, engenheiro-agrônomo, ex-secretário de Agricultura do estado do Rio de Janeiro e diretor da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura, participou do 13º Congresso Internacional, em Porto Alegre, que debateu a cadeia produtiva do leite. Desse importante evento, realizado simultaneamente com a reunião ordinária da Câ-
mara Setorial da Cadeia de Leite e Derivados, órgão consultivo do Ministério da Agricultura resultaram debates da maior importância para o setor que mereceram uma matéria especial nesta edição. O médico veterinário Sílvio Valle, pesquisador da Fiocruz chama a atenção para o fato de que “Enfermidades em animais de produção criam problemas de biossegurança e biosseguridade, impactam a produção sustentável e a produtividade, desequilibram o comércio e as economias locais, regionais e mundiais”. Seu artigo trata da Biossegurança no Controle da Febre Aftosa. Cada vez mais os mercados externo e interno, exigem carne da melhor qualidade, bem embalada, bem conservada, macia e com boa aparência. E isso não se consegue por acaso e sim com emprego das modernas tecnologias de dentro e de fora da porteira da fazenda. O consumidor, cada vez mais, valoriza as carnes de boa qualidade, tanto no que se refere à maciez e ao sabor como também quanto à aparência, e diversos autores vêm dando cada vez mais importância a este assunto. É fato conhecido e cada vez mais divulgado pela imprensa leiga que os animais de estimação e de companhia, notadamente cães e gatos, vêm crescendo de importância no Brasil e movimentando grandes quantias de dinheiro. A quantidade de pet shops e de clínicas veterinárias, cada vez mais sofisticadas cresce na mesma proporção. Para informar o leitor sobre essa atividade de expressão econômica, convidamos o consultor, Sérgio Lobato, médico veterinário, formado em marketing, para assinar a coluna PetBusiness. A julgar pelos e-mails que temos recebido estamos no caminho certo na direção da nossa intenção de produzir, a cada dois meses, uma revista de utilidade para nossos leitores, mas, como sempre, estamos interessados em receber críticas e sugestões.
Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3
Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:
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CADEIRA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41
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Nutrição animal no mundo em transformação
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Síntese
Pet Business: Os desafios da gestão pet
Ciência e Tecnologia
Opinião
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Nutrição animal no mundo em transformação Por:
Alfredo Navarro de Andrade, PhD, Purdue University (USA)
A nutrição tem influência decisiva na produtividade
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P
Fred Lehmann
Para se discutir a Nutrição nos tempos atuais faz-se necessário uma pequena retrospectiva da evolução da alimentação (nutrição animal). Esta viagem ao passado nos dará os fundamentos necessários para se entender o que deverá acontecer daqui para frente.
ode-se afirmar que a alimentação animal começou concomitantemente com a domesticação. A domesticação veio como uma forma de assegurar o acesso aos animais numa área limitada. Até o início da domesticação o homem primitivo vivia da caça, pesca e agricultura exclusivamente extrativista. Quando começou a restringir o espaço dos animais, o homem notou a necessidade de fornecer alimentos a estes animais – tudo era feito da forma mais empírica possível. Procurava-se, de certa forma, imitar as Condições da realidade daquela época, fornecendo algo disponível semelhante ao encontrado na natureza. Não havia conhecimento das necessidades nutricionais dos animais. Os gregos antigos eram grandes pensadores e filósofos, todavia, eram carentes em habilidade para métodos experimentais ou observação científica. Nem dos homens havia grande conhecimento.
Na Antiguidade Hipócrates - Pai da Medicina – conjeturava que uma vez que as pessoas eram as mesmas, independente do que elas comiam (perto da costa, versus dietas do interior, por exemplo) deveria existir um nutriente do qual tudo era feito dele. Os trabalhos mais antigos sobre alimentação de animais, que se pode considerar como os primórdios da nutrição animal, estão documentados no período Védico (1.750 – 1.000 a.C.), pela civilização que ocupou o norte da atual Índia. A civilização védica é a cultura associada ao povo que compôs os textos religiosos conhecidos como Vedas, no subcontinente indiano. Os egípcios antigos também conheciam processos de alimentação animal. Ramsés III (1194-1163 a.C.) construiu seis fileiras de estábulos para 460 cavalos com bebedouros e comedouros. Na tumba de Petosiris, sumo sacerdote de Thot (IV século a.C.) na Hermópolis Magna, foram encontrados desenhos e escritos que mostravam que os egípcios cercavam o gado e forneciam volumosos durante os períodos de cheia do Nilo. Animal Business-Brasil_7
Sabe-se, também, por gravuras e escritos encontrados nas diversas tumbas e pirâmides do Egito, que os egípcios da antiguidade praticavam alimentação forçada de garças, hienas e gansos. Será que foram os egípcios que inventaram o “Foie Gras”??? Sem dúvida havia inúmeros conhecimentos empíricos sobre alguns fatores nutricionais.
O começo O primeiro experimento nutricional realizado está relatado no Livro de Daniel na Bíblia. Daniel estava entre os melhores jovens capturados pelo Rei da Babilônia quando seus exércitos invadiram Israel e foram escolhidos para servir a corte, como escravos. Daniel tinha que ser alimentado com as iguarias e vinhos da mesa do Rei. Daniel não aceitou e preferiu suas próprias escolhas, que incluía vegetais, sementes e água. Santorio Santorio (Nasceu em Capodistria, em 29 de março de 1561 e faleceu em 22 de fevereiro de 1636 em Veneza), também conhecido como Sanctorius de Pádua, foi professor em Pádua entre 1611 e 1624, onde realizou diversas experiências sobre temperatura, respiração e peso. Durante trinta anos, Santorio tomou o seu peso e o de todos os alimentos e bebidas que ingeriu, assim como o peso da sua urina e fezes. Ele comparou o peso do que ingeriu com o das suas excreções, verificando que este último era menor. Formulou a sua teoria da “perspiração insensível” de modo a explicar essa diferença. Embora as suas descobertas tivessem pouco interesse científico, é ainda assim reconhecido pela sua metodologia empírica e famoso pela “cadeira-balança” que construiu para a sua experiência, pioneiro no estudo do metabolismo. A solução para o problema de Sanctorius, a “perspiração insensível”, só veio a ser resolvida no final dos anos 1700, pelo francês, Antoine Lavoisier, que se tornou o “Pai da Nutrição” pelo seu brilhante trabalho em química. Ele criou medidas de peso nos processos químicos, tendo desenhado um calorímetro que media o calor produzido pelo corpo durante trabalho e consumo de diferentes volumes e tipos de alimentos. No entanto, um fato interessante que muito ajudou a compreensão da nutrição, foi o ocorri8_Animal Business-Brasil
do com Dr. William Beaumont and Alexio St. Martine no século 19. Beuamont era um médico do exército estacionado no Forte Mackinac, no norte de Michigan (USA). Alexio St. Martine era um caçador francês, que foi ferido por um tiro no estômago, num bar. Todavia, esta experiência resultou em achados totalmente desconhecidos na época: • Foi determinado que o estômago não era um moedor; • não existia um "espírito" no corpo direcionando alguns alimentos para “bons” propósitos e descartando os “maus”; • a digestão ocorria pela ação de sucos digestivos secretados pelo estômago; • os alimentos são digeridos todos ao mesmo tempo, mas em velocidades diferentes e não separadamente e sequencialmente como pensava-se; • o barulho do estômago nada mais era que contrações; • a gordura era digerida mais lentamente.
A era de ouro O século 20 tornou-se a “Era de Ouro da Nutrição”, quando a maioria das descobertas de nutrientes aconteceu. A população crescia e era cada vez mais importante a produção de proteína animal para alimentar esta população. Melhoravam-se os animais geneticamente, produziam-se melhores ingredientes e a formulação de dietas específicas ganhava força à medida da descoberta de novos fatores nutricionais e a melhoria das condições ambientais e de saúde animal. A metodologia experimental permitia a avaliação das exigências nutricionais por espécie animal e por tipo de exploração fosse para carne, leite ou trabalho. A modelagem científica era como prover uma dieta que proporcionasse um animal com as melhores características do produto final, qualidade de carne com produtividade e menor custo possível. As diversas formas de conversão alimentar ou eficiência nutricional ganharam atenção principal.
Fato marcante foi o ocorrido em 1969, quando uma comissão criada pelo ministério inglês para estudar o uso de antibióticos na produção animal e medicina veterinária, elaborou o denominado “Relatório Swann”. Nele, foram estabelecidos alguns critérios sobre o uso de APC´s (Antibióticos Promotores de Crescimento) visando principalmente evitar a resistência dos microrganismos aos medicamentos. Recomendava, então, que não deveriam ser utilizados como promotores de crescimento os antibióticos utilizados na terapêutica humana e veterinária, bem como aqueles que pudessem oferecer resistência cruzada a estes medicamentos. A modelagem nutricional então é forçada a ser alterada do modelo: Faz-se, então, necessário não mais a simples busca pelo desempenho animal ótimo, mas também pelo atendimento aos desejos dos consumidores. Não resta dúvida que esta nova adequação do modelo força o desenvolvimento de tecnologias e aditivos nutricionais novos que permitam produzir com eficiência e atender às exigências do consumidor.
Pré e probióticos
modelo agora passou a considerar também o meio ambiente. Da eutrofização dos rios e lagos, em função dos efluentes de criatórios ainda ricos em nutrientes principalmente fósforo (P) e nitrogênio (N), à contribuição do efeito estufa por gases oriundos dos dejetos de animais e de seu metabolismo (NH3, NO2 e metano, no caso de ruminantes) aplicam novas regras à nutrição animal. Enzimas e nova relação entre nutrientes (AA) são desenvolvidas, procurando uma vez mais adequar a nutrição aos requisitos da atualidade. Neste período, com uma maior conscientização da desigualdade no mundo e a necessidade de se combater a fome, cria-se um forte movimento de amplitude mundial de combate à fome. O crescente número de habitantes do planeta (7 bilhões atualmente) e as previsões de uma população superior a 9-10 bilhões em 2050, dependendo da fonte utilizada seja ela a FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura Ração inicial de boa qualidade é fundamental para o alto rendimento final da criação Hans Braxmeier
Relatório Swann
Aparecem os conceitos de pró- e pré-biótico, fitogênicos e uma gama de promotores de crescimento não antimicrobianos – Desde óleos essenciais a produtos homeopáticos e novas drogas estimulantes de crescimento (ex: Beta-agonistas) e de melhoria na utilização de ingredientes. Nos últimos 20 anos, novo capítulo se abriu na nutrição animal, a Biotecnologia que resultou na produção de grãos transgênicos. Esta aplicação de transgenia ainda se concentra na maior produtividade de grãos e resistência a pragas. No entanto, o problema de aceitação pelo consumidor final aumentou as preocupações com sua utilização na produção de ingredientes (grãos com maior valor nutricional). Atualmente, todas estas novas tecnologias, hormônios, antibióticos, pro – pré-bióticos, produtos transgênicos e mesmo novos quimioterápicos e uso intensivo de certos ingredientes, associados às altas densidades de criação, colocaram pressão adicional na produção animal, relacionados à poluição ambiental. O Animal Business-Brasil_9
FMVZ/ USP
e Alimentos) ou NGO’s (Organizações Não-Governamentais), fazem com que, alimentar toda esta população, torne-se tarefa das mais árduas e que, certamente, exigirá rompimento de paradigmas. Passa-se a ter sérias discussões com relação a capacidade do planeta de suprir as necessidades nutricionais da crescente população. Inicia-se um debate entre novos Malthusianos (o mundo vai morrer de fome) e os mais serenos que acreditam que adequadas tecnologias irão resolver o problema de acabar com a fome no mundo.
Proteínas de alto valor biológico Dentro deste novo escopo da nutrição animal, produzir proteínas de alto valor biológico, com boa rentabilidade para o produtor, de aceitação pelo consumidor final (qualidade e preço acessível), ambientalmente amigável e garantindo a segurança alimentar, tornam-se necessárias a ruptura de alguns conceitos tidos como imutáveis e a compreensão de que novas tecnologias se farão necessárias para atender à nova complexidade da oferta e demanda.
Segurança alimentar Dentro do conceito de segurança alimentar, podemos inferir que, atualmente, não existe falta de comida no planeta e sim uma tremenda desigualdade na distribuição de alimentos.
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Dois fatores afetam diretamente esta situação: • Um é o grande volume de subsídios pelos países desenvolvidos a suas agriculturas resultando em excessos de produção que forçam a exportação destes excedentes a preços subsidiados, muitas vezes matando a produção doméstica de muitos países que não detêm o mesmo nível de tecnologia. • Outro, são as grandes perdas que ocorrem na produção de grãos. Tanto em países pobres como nos ricos, cerca de 30 a 50% de todo alimento produzido é perdido. A diferença é o local da perda - nos países ricos as perdas ocorrem pós comercialização nos supermercados, restaurantes e lares, enquanto nos países pobres estas perdas se dão ainda no período pós – colheita (armazenagem e transporte).
Modificação no padrão de consumo Um ponto que requer máxima atenção e tem a ver diretamente com a nutrição animal é que este crescimento populacional deverá, segundo a ONU (organização das Nações Unidas), vir acompanhado de uma modificação no padrão de consumo da população mundial. O gráfico a seguir mostra esta alteração: redução no crescimento do consumo de grãos e significativo aumento no consumo de carnes.
Devido ao aumento do poder aquisitivo, principalmente na Índia e China, a demanda por carne e produtos lácteos irá crescer acentuadamente, com menor crescimento para os cereais e raízes ricas em amido. Este gráfico mostra, claramente, a responsabilidade da nutrição animal em permitir que estas previsões se concretizem em um mundo em transformação. A história confirma que a previsão de Malthus feita no século XIX, numa época onde a fome era ainda mais preocupante, face aos conhecimentos científicos existentes, nem sempre se concretiza. No entanto, independente do imenso arsenal tecnológico disponível para o combate à fome, existem dois contingenciamentos que são inexoráveis: tanto a área cultivável como a água disponível são finitas, não existindo mais tempo de se postergar medidas proativas para sua preservação e uso sustentável. No caso da água, nutriente de maior volume e importância na nutrição animal, medidas urgentes para conservação e manutenção da qualidade são de vital importância. Isto sem falar nas mudanças climáticas que afetam diretamente estes dois fatores. Grandes estudiosos das relações internacionais concluem que a probabilidade de confrontos entre nações, no futuro, será basicamente em função de suprimento e posse de água.
Modelagem futura Neste mundo em transformação, considerando toda a complexidade que envolve a produção animal, nós chegamos à conclusão que a modelagem futura tem que ser alterada. A necessidade da produção não é somente eficiência zootécnica mas, sim, produzir sem comprometer o meio ambiente, com aceitabilidade e garantindo segurança alimentar. Neste contexto, as Universidades e Institutos de Pesquisa, no mundo inteiro, procuram tecnologias que possam alterar a eficiência produtiva dentro do novo contingenciamento. Dentro destas novas tecnologias podemos citar: • O uso de promotores de crescimento não antibióticos; • Enzimas mais eficientes; • Proteínas e Aminoácidos;
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Nutrigenética e Nutrigenômica; Nanotecnologia; Modelagem; Novos ingredientes / ingredientes alternativos; Processamento de ingredientes e qualidade na fabricação; Nutrição “in ovo”; Biotecnologia; Rastreabilidade.
Cada uma destas tecnologias daria uma conferência. Desta forma, vamos descrevê-las sucintamente e, mais à frente, nos prenderemos em algumas delas que, em nossa opinião, têm que receber atenção com a maior brevidade possível. • O uso de promotores de crescimento não antimicrobianos, independente do organismo utilizado, já desempenha papel fundamental e ao nível do conhecimento atual, novos microrganismos serão utilizados com ações mais específicas e desenvolvidos por biotecnologia. No mesmo campo cresce a utilização de fitogênicos. • Enzimas mais eficientes e de menor custo, facilitando a utilização de nutrientes, atualmente de baixa disponibilidade, para a espécie alvo. Sejam eles naturalmente produzidos por microrganismos comuns ou geneticamente alterados para estes fins, não somente melhorando a utilização de nutrientes/ingredientes como também reduzindo a eliminação destes para o meio ambiente. • Proteínas e Aminoácidos: Desde a década de 70 já se conhecia o conceito de “Proteína Ideal”. Sabe-se que os animais não têm exigência de proteína bruta (intacta) à exceção dos anticorpos necessários na fase inicial da vida. Fora disso, um completo fornecimento dos aminoácidos individuais necessários a eficiência nutricional ótima resolveria o problema. • Nutrigenética é uma divisão da nutrigenômica que visa identificar a susceptibilidade genética a doenças e variação gênica por efeitos da ingestão de nutrientes no genoma. Nutrigenética não deve ser con-
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fundida com nutrigenômica que foca no papel que determinados nutrientes têm em ativar genes de específica atividade, seja susceptibilidade para doenças ou determinado processo metabólico. Ambas bastante promissoras no tratamento de doenças metabólicas, mas ainda de pouca expressão na produção animal. Nanotecnologia pode a vir ajudar na rastreabilidade e ingredientes melhor processados. Sofre atrasos de implementação face a falta de metodologias adequadas de avaliação de riscos. Novos ingredientes – a eventual competição entre animais e humanos por alimentos, realidade não muito distante, forçará o uso de ingredientes alternativos. Obs.: No México foi proibido o uso de milho branco na alimentação animal – regulamento para garantir “tortilhas”, alimento importante na dieta dos mexicanos. Nossas fábricas de ração estão, segundo especialista do setor, saindo da “era medieval” e entrando na era da qualidade. Serão necessários melhores equipamentos com maior detalhamento dos processos. O alto custo atual e futuro das rações aumenta a necessidade para o desenvolvimento de estratégias alimentares de custo eficiente para produção animal. Modelos matemáticos, bem testados, que representem a utilização de nutrientes para crescimento/produção e que permitam uma aproximação sistemática para a otimização dos programas alimentares, considerando o potencial produtivo local, sexo, ingredientes disponíveis, bem como condições ambientais, econômicas e sociais. As exigências nutricionais devem ser reavaliadas dentro destes novos parâmetros de modelagem.
Destaque para a biotecnologia Dentro desta plêiade de tecnologias, é nossa opinião que a Biotecnologia seja, neste momento de transformação, a ferramenta que mais benefícios trará à nutrição animal e sua interação com produção, sanidade, sustentabilidade, segurança alimentar e aceitação pelo consumidor.
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CARNE NO CARDÁPIO Demanda Global de Alimentos, 1961 = 100
600 500 400 300 200 100
PREVISÃO 1961 70
80 Carne
90 2000 10
20
30
Laticínios
40
50
0
Cereais
Raízes/Tubérculos Fonte: Food and Agriculture Organization
A Biotecnologia permitirá a obtenção de novos microrganismos que ajudarão os animais a serem menos competitivos com os humanos – um pequeno exemplo: Os cupins dependem, primariamente, de protozoários simbióticos (ex: Trichonympha) que por sua vez dependem de bactérias simbióticas para produção de enzimas digestivas necessárias para digestão de lignina (as ligninases ou lignases e lacases). Estas bactérias (Streptomyces viridosporus T7A, Streptomyces lavendulae REN-7 e Clostridium stercorarium e muitos fungos (Polyporus squamosus, Phlebia radiata e Plerotus ostraetus) têm os genes necessários à produção de lignases. Hoje, os conhecimentos tornam admissível a incorporação destes genes ou parte deles em bactérias e/ou protozoários ruminais, permitindo que ruminantes utilizem resíduos de lavouras e pastos de baixa qualidade que contêm alto índice de lignificação. Efeito estufa – através de biotecnologia haverá grande desenvolvimento de processos fermentativos para criação de novas enzimas de menor custo e melhor atividade fim. Principalmente aqueles que diminuirão a excreção de nitrogênio, cujo produto de sua decomposição resulta em NO2 que é 300 vezes mais poluente que metano. A mesma melhoria em processos fermentativos permitirá a criação de novos aminoácidos de baixo custo que reduzirão, ainda mais, os níveis de proteína bruta
das rações, ajudando também na redução da contaminação ambiental. Isto sem considerar a criação biotécnica de novos ingredientes que terão capacidade imunizadora, a exemplo da banana vacina, que imuniza crianças contra difteria, ainda sem uso por questões de falta de informação à população. Esta mesma biotecnologia, que hoje já aumentou a produtividade dos grãos, passará a atuar na melhoria do valor nutricional dos grãos, não somente aumentando a concentração, como sua biodisponibilidade e, também, na eliminação de fatores antinutricionais que muitos deles contêm e que limitam sua utilização plena.
Animais X humanos O risco da competição entre animais e humanos levará à busca de novos ingredientes, tais como insetos, algas e plantas que, através do uso de novos enzimas e suplementação barata de aminoácidos, se tornarão comuns nos programas de formulação, ao mesmo tempo aliviando a pressão sobre alimentos convencionais que deverão ser dirigidos às populações humanas mais carentes. Rápidos desenvolvimentos em nanociência e nanotecnologias, nos últimos anos, abriram novos horizontes em termos de aplicação nos mais diversos segmentos da cadeia alimentar: • Agricultura: ◦◦ Nanocápsulas para a distribuição mais eficiente de pesticidas, fertilizantes e outros agroquímicos; ◦◦ Nanomateriais para detecção de patógenos animais e vegetais; ◦◦ Nanomateriais para a preservação de identidade (IP) e rastreabilidade; • Embalagens: ◦◦ Nanopartículas (biossensores) para detecção de contaminantes e patógenos; ◦◦ Nanossensores biodegradáveis para monitoramento de umidade e temperatura; ◦◦ Nanoargilas e nanofilmes como materiais para impedir a deterioração e absorção de oxigênio; ◦◦ Nanopartículas como cobertura superficial antimicrobiana e antifúngica;
A biotecnologia é a ferramenta que mais benefícios trará à nutrição animal e sua interação com a produção. • Suplementos alimentares: ◦◦ Suspensões de nanopartículas como agentes antimicrobianos; ◦◦ Nanoencapsulamento de nutracêuticos para alvos específicos (targeted delivery); Todavia, a ampla implementação destas tecnologias sofre adiamento face a total falta de uma metodologia e normas de avaliação de riscos ambientais e de saúde pública. As agências reguladoras temem a repetição do que aconteceu com o amianto e os aerossóis. Exemplo: as nanopartículas poderiam funcionar como “Cavalo de Troia” e levarem substâncias tóxicas e patógenos para diversos órgãos, através da corrente sanguínea. Existe uma rede mundial de estabelecimentos de pesquisa e agências reguladoras para elaborar esta metodologia e facilitar a dispersão da nanotecnologia.
Fabricação de rações Por último, mas não de menor importância, torna-se imperativa a melhoria dos processos de fabricação de rações, desde o tratamento prévio dos ingredientes, seja por limpeza, aplicação de calor, moagem adequada à mistura e processamento posterior como peletização, extrusão e adequação de tamanho de partículas. Enfim, enriquecendo os ingredientes e não diminuindo suas qualidades intrínsecas por causa de processamentos inadequados ou antiquados. A nutrição animal neste mundo em transformação vai produzir uma proteína não mais com máxima performance zootécnica, mas sim com eficiência socioambiental ótima.
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A pecuária possui um grande parceiro capaz de contribuir para o seu desenvolvimento sustentável em todo o estado.Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que, na pecuária, não existe bicho de sete cabeças.
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Por: Paulo
Roque
“Plano Paulista de Prevenção da Influenza Aviária” é o nome do seminário realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, em Orlândia, que teve como meta evitar a entrada da doença na avicultura paulista. Com presença do secretário Arnaldo Jardim, o encontro teve como principal objetivo chamar atenção dos produtores sobre os riscos econômicos e sociais, caso ocorra uma possível entrada do vírus H5N1. A doença tem preocupado os criadores brasileiros depois da identificação de 223 focos da Influenza nos Estados Unidos, forçando, até agora, o sacrifício de 48 milhões de aves em 22 Estados. Até o momento, nenhum foco da enfermidade foi identificado em território brasileiro. “Confiamos no produtor, mas vamos fiscalizar. Todos devem se acautelar porque uma pessoa relapsa pode comprometer toda a cadeia de produção”, ressaltou o secretário Arnaldo Jardim.
João Luiz/SAA
Avicultores da região de Orlândia aprendem a evitar entrada da Influenza Aviária em seus plantéis
Para explicar melhor aos avicultores as consequências do H5N1 em suas propriedades, o médico veterinário Fernando Buchala, da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA), orientou os produtores sobre como podem, por meio de medidas sanitárias corretas, evitar a Influenza em suas granjas. Buchala destacou que a população pode ficar tranquila, pois o H5N1 não chegou ao Brasil e, caso chegue, o Governo do Estado tem eficientes mecanismos de defesa sanitária animal para evitar riscos aos plantéis e às pessoas.
RS inicia exportações de carne suína para a China O Rio Grande do Sul deu início, em agosto, às exportações de carne suína para a China. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) informa que este é o primeiro embarque realizado pelo estado desde a abertura do mercado chinês para a suinocultura brasileira, ocorrida em 2011. De acordo com a associação, o primeiro contrato gaúcho de venda para o mercado chinês foi efetivado pela unidade de Santa Rosa da Alibem Alimentos - habilitada em abril do ano passado. Ao todo, 200 toneladas de carne suína foram exportadas. O mercado chinês é o maior consumidor de carne suína e figura entre os três maiores importadores mundiais da proteína. 16_Animal Business-Brasil
Projeto transforma o Brasil em um dos maiores produtores de tilápia
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Em matéria publicada no Folha de São Paulo, a Tilabras anunciou investimento de US$ 51 milhões num projeto que visa, numa primeira etapa, à transferência para gaiolas flutuantes, no Rio Paraná, de 20 milhões de filhotes de peixe pesando 30 gramas, menos que um pãozinho francês. Seis meses depois, com quase 1 kg, serão o primeiro lote do maior investimento feito no país em aquicultura (produção em cativeiro). O projeto começará com 25 mil toneladas por ano, mas prevê quadruplicar a produção até 2020 e, se o cronograma for seguido, o Brasil chegará perto de dobrar sua produção atual, de 150 mil toneladas anuais. A empresa adquiriu, em Selvíria (MS), um terreno com dimensões equivalentes a um terço do Parque Ibirapuera, localizado na capital paulista, onde será construído, às margens do rio, um frigorífico. Mato Grosso do Sul foi escolhido por ser grande produtor de grãos, e a soja é o principal insumo que compõe a da ração, que será produzida pela própria Tilabras, quando atingir a produção de 50 mil toneladas de tilápia, ponto que viabiliza a fábrica. A empresa planeja exportar 70% de seus peixes em 2020, principalmente para os EUA, maiores consumidores. A Tilabras é uma empresa brasileira formada pela associação da Axial (controladora da Mar e Terra) e Regal Springs (já produz aproximadamente 170 mil toneladas de tilápias na Indonésia, México e Honduras).
São Paulo pesquisa cultivo de garoupa em cativeiro A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por meio do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Norte, do Instituto de Pesca, em Ubatuba, vem desenvolvendo o projeto “Estratégias alimentares para a produção da garoupa-verdadeira (Epinephelus marginatus) em sistema de recirculação de água salgada”. O trabalho é realizado pelo pesquisador Eduardo Gomes Sanches, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), contando também com a participação do pesquisador Paulo Cesar Falanghe Carneiro, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, de Aracaju (SE), bem como de estudantes de mestrado e doutorado orientados pelo pesquisador Eduardo. Segundo Sanches, a tecnologia de produção dessa espécie em cativeiro, bastante complexa, vem sendo desenvolvida no Brasil pelo Instituto de Pesca desde 2005. Já foi possível obter a produção de formas jovens em cativeiro, passo que desata um dos nós para a implantação de cultivos comerciais, mas o conhecimento sobre o manejo da espécie em cultivos de engorda ainda precisa ser aprimorado. Aqui se concentra atualmente a atuação da Secretaria de Agricultura, via Instituto de Pesca, por meio da pesquisa em andamento.
CNA estima crescimento de carne bovina em quase 20% De acordo com previsão da Conferação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o Valor Bruto da Produção (VBP) de carne bovina deve chegar ao fim deste ano em torno de R$ 93 bilhões, o que corresponde a um aumento de 19,23 % em relação aos R$ 78 bilhões do VBP no ano passado. As exportações do setor, segundo a entidade, cresceram 737% em 14 anos, passando de US$ 779 milhões (R$ 2,7 bilhões a preços de hoje), no ano 2000, para US$ 6,4 bilhões(R$ 22,2 bilhões), em 2014. Levantamentos da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) mostram que, em 2014, o Brasil vendeu carne bovina in natura para 151 países e industrializada para 103 países. Animal Business-Brasil_17
Tecnocarne & Leite No último mês de agosto, a cidade de São Paulo sediou, no São Paulo Expo, a Tecnocarne & Leite - 12ª Feira Internacional de Tecnologia para a Indústria da Carne e do Leite, maior evento da América Latina voltado para o segmento de processamento de proteína animal. Participaram mais de 20 mil profissionais qualificados, de mais de 20 países, com alto poder de decisão, o que possibilitou a geração de grandes negócios e novos contatos. Empresas de diversos setores da cadeia industrial da proteína animal, cerca de 500 marcas nacionais e internacionais, que representam cerca de 80% do mercado da indústria de processamento de carne no Brasil, apresentaram as principais inovações tecnológicas e soluções para a indústria de processamento de carne bovina, suína, aves, peixe, além do leite. Dentre as inovações apresentadas, destacam-se equipamentos que tornam os processos industriais mais rápidos, seguros e eficientes; equipamentos para abate humanitário desenvolvidos para atender às exigências de bem-estar animal; ferramentas de detecção de adulteran-
Tecnocarne & Leite Em apenas 2 horas de realização da rodada de negócios, no Meeting Business, polo gerador de negócios e conteúdos dentro da
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tes no leite; testes de DNA para combater a fraude de alimentos; detectores de metais e equipamentos de raio-x para identificar contaminantes nos alimentos, além de conservantes naturais que contribuem para a redução de sódio, baixam o custo de aplicação, mantêm as características sensoriais e favorecem uma rotulagem limpa dos alimentos.
12ª Tecnocarne & Leite, foram gerados mais de R$ 10 milhões em negócios imediatos. O Meeting Business reuniu nove empresas expositoras que congregam importantes setores da feira, como máquinas para processamento de alimentos, embalagens, aditivos e ingredientes, equipamentos para controle de qualidade – processos, entre outros com 12 empresas compradoras que atuam em exportação, como frigoríficos e indústrias de alimentos. Os participantes da Rodada de Negócios tiveram acesso a um debate restrito aos convidados sobre o “Panorama Mundial do mercado de carnes e Desafios e oportunidades para o mercado de carnes e do Varejo no Brasil", com o consultor de Desenvolvimento de Vendas e Clientes - Bovinos, Suínos e Aves do Grupo Pão de Açúcar, André Artin Machado e a coordenadora de Mercados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), Marília Campos.
Fazenda da Grama inicia obras para ampliação do Safiras do Senepol Lançado em 2013, o programa Safiras do Senepol acaba de bater recorde de participação e começa a expandir suas instalações. Foram iniciadas obras para ampliação da estrutura que abriga o teste na Fazenda da Grama, em Pirajuí (SP). Em parceria com a Intergado, mais 24 cochos eletrônicos serão instalados ainda este ano, a fim de dobrar a capacidade de participação de novilhas de todo o Brasil na prova que qualifica as doadoras dos criadores participantes, com coordenação técnica da S+. O Programa Safiras do Senopol é um teste de performance, reconhecido mundialmente, onde já foram avaliadas mais de 500 fêmeas POI. O objetivo do teste é avaliar fêmeas Puras de Origem em idade jovem e chancelá-las quanto ao seu potencial genético e econômico, proporcionando um crescimento sustentável para os criadores, investidores e, consequentemente, para a raça Senepol. As avaliações são coordenadas pela equipe técnica da S+Senepol e contam com a colaboração de renomados pesquisadores da Unesp, Embrapa, Instituto de Zootecnia e Coan Consultoria. A edição 2015.1 começou no final de maio, com a participação recorde de 230 novilhas de 51 criatórios diferentes. É o maior número de jovens fêmeas inscritas no programa implantado em 2009.
ABS Pecplan dobra volume de vendas no Circuito ExpoCorte em MS Durante a 2ª etapa do Circuito ExpoCorte 2015, que reuniu 1420 participantes (sendo 80% pecuaristas) no Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, em Campo Grande (MS), a ABS Pecplan registrou recorde de vendas ao dobrar a quantidade de negócios em relação à edição do evento naquele Estado em 2014. De acordo com o gerente de negócios da empresa, Diego Alves, os bons resultados registrados revelam principalmente o bom momento que a pecuária de corte vive no Brasil. O cenário favorável inclui arroba e bezerro valorizados e produtor rural capitalizado para fazer investimentos. “O que o pecuarista busca é aumentar a produção de carne: mais peso em menos tempo. E isso ele consegue escolhendo bem a genética”, afirmou Alves.
Rio Grande do Sul volta incentivar a minhocultura Depois de cerca de 20 anos, a criação de minhocas para produção de húmus volta a ser incentivada no Rio Grande do Sul. De acordo com reportagem assinada pelo jornalista Leandro Becker, publicada no Jornal Zero Hora, no período de 1996 e 1998, cerca de 2 mil produtores denunciaram um golpe, que foram vítimas, perpetrado pelo empresário norte-americano, Hy Hunter, que se apresentou aos gaúchos como o “Rei da Minhoca” e dono de uma empresa na Califórnia que vendia 1 milhão de animais por dia. Para ingressar na produção, o interessado tinha de pagar R$ 1 mil pelo lote de seis quilos de matrizes. Mas o caso acabou na Justiça após os negócios terem sido cancelados subitamente pela empresa, causando prejuízo estimado em R$ 6 milhões. Animal Business-Brasil_19
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PeixeBR destaca a importância dos agentes responsáveis pela piscicultura no Brasil Em artigo distribuído à imprensa, o presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (PeixeBR), Eduardo Amorim, destacou a importância e a necessidade do fortalecimento do setor através do trabalho do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) e dos demais agentes produtivos, de pesquisas, fomento e crédito como a Embrapa, Bndes, Sebrae, Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), Associação Brasileira de Agronegócio (ABAG). Segundo ele, graças a estes e outros agentes, a piscicultura brasileira se tornará em muito pouco tempo uma atividade ainda maior, mais produtiva e sustentável, já que os aspectos ambientais e sociais fazem parte da própria essência da atividade. De acordo com Amorim, com investimentos e parceria entre os órgãos governamentais e privados, o Brasil ganhará em breve a autossuficiência, se tornando um exportador de peixes cultivados. “Infraestrutura para isso o País tem de sobra. Temos reservas de 12% da água doce do mundo e clima privilegiado. Além disso, contamos com empresários e produtores motivados, líderes empolgados e focados no fomento e na geração de um ciclo virtuoso para a piscicultura”, acentua. O potencial do país é indicado em números: “O Brasil está entre os 15 maiores produtores de peixes cultivados do mundo. Em 2014, foram 585 mil toneladas. Neste ano, serão mais de 600 mil e a previsão é superar 1,2 milhão de toneladas em dez anos. Hoje, a atividade movimenta cerca de R$ 4 bilhões por ano e gera um milhão de empregos”. 20_Animal Business-Brasil
ABIEC lança iniciativas para o futuro sustentável da cadeia da carne bovina A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC) apresentou, em evento realizado no Centro Britânico Brasileiro, em São Paulo, os resultados do primeiro ano de trabalho desenvolvido através de acordo - Protocolo Socioambiental da Indústria da Carne - assinado no ano passado com o Ministério Público Federal, no qual a entidade se comprometeu a estimular o desenvolvimento de uma pecuária sustentável em diversas frentes, entre elas, evitar que a indústria brasileira compre carne bovina procedente de áreas desmatadas na Amazônia ou onde tenham sido constatadas outras irregularidades ambientais e sociais. Entre as iniciativas, estão a criação e implantação de um Programa Setorial de Monitoramento e Melhoria Contínua, estabelecendo um processo de melhoria contínua em relação aos critérios aplicados na compra de gado; o Roadmap para o Sistema Agroindustrial da Carne, desenvolvido pela Agroicone, um projeto que discutirá soluções para a efetiva implementação do Código Florestal e a redução do desmatamento na cadeia da carne; e incentivo ao Cadastro Ambiental Rural. A cadeia da carne bovina no país movimentou R$ 380 bilhões em 2014, segundo estimativa da Agroconsult. Este é um dado inédito elaborado pela consultoria, a pedido da ABIEC. Dono do maior rebanho comercial do mundo, o Brasil é maior exportador e segundo maior produtor de carne bovina do planeta.
ABS lança Catálogo Europeu Corte 2016 A ABS Pecplan lançou seu novo Catálogo Europeu Corte. Com 89 opções de genética diferentes, sendo 30 novos touros, a bateria foi planejada para atender às várias necessidades do produtor rural. O Catálogo 2016 conta com 15 raças diferentes, sendo que os animais Angus e Red Angus representam mais de 60% dos produtos apresentados. A tendência, de acordo com Marcelo Selistre, gerente de Produto Europeu Corte da ABS Pecplan, é que o produtor também invista cada vez mais em touros com fertilidade comprovada, facilmente identificada nos reprodutores certificados com o SELO IATF da ABS Pecplan. O Catálogo apresenta mais dois touros com Selo Ouro IATF: RAMPAGE e FINAL PRODUCT, que se juntam aos já veteranos BIG MAC, CURVE BENDER e SOLLID GOLD. O novo Catálogo Europeu Corte está disponível no portal da ABS Pecplan (http://www.abspecplan.com.br/catalogos/ ABS-Pecplan_Corte-Europeu_2016.pdf). Os interessados também podem retirar, gratuitamente, um exemplar diretamente com o representante ABS mais próximo.
Girolando 1
Girolando 2
A partir do último mês de agosto, cidades do Amazonas passaram a realizar um circuito de Seminários de Pecuária de Corte e de Leite. Entre os temas abordados, o melhoramento genético dos rebanhos leiteiros, estratégias de cruzamentos para formação da raça Girolando no Estado e o uso de touros de alta qualidade genética para aumento da produtividade nas propridades. A demanda pelo Girolando na região é grande devido ao fato da raça permitir uma produção de leite de qualidade e com menor custo, ou seja, de forma sustentável. O Girolando consegue manter boa produção de leite tanto em regiões de clima mais quente quanto nas de clima temperado e podem contribuir para aumentar a produção leiteira no Amazonas. Na oportunidade também será divulgado o Programa de Melhoramento Genético da Raça Girolando (PMGG) e, ao mesmo tempo, serão cadastradas propriedades para atuarem como Rebanho Colaborador do Teste de Progênie da raça. Essas fazendas cadastradas receberão gratuitamente sêmen de touros Girolando participantes do Teste de Progênie.
O governo de Alagoas, que também quer ampliar a produção de leite do Estado e, para isso, pretende implantar um programa de melhoria da qualidade genética do rebanho leiteiro. O secretário de Agricultura de Alagoas, Álvaro José do Monte Vasconcelos, e representante estadual da Girolando em Alagoas, Domício José Gregório A. Silva, reuniram-se em Belo Horizonte (MG) com o gerente de projetos da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Bruno de Barros, para definir como será feita a implantação do programa Pró-Fêmeas. Segundo o Anaualpec 2015, o rebanho leiteiro alagoano é composto por mais de 600 mil cabeças e a produção gira em torno de 160 mil l/ano, a maioria está concentrada em pequenas e médias propriedades. O Pró-Fêmeas é direcionado a este público e tem como objetivo aumentar a produtividade dos rebanhos, garantindo mais renda aos produtores rurais. Isso ocorre por meio da aquisição de fêmeas geneticamente superiores, que, além de produzirem mais leite, geram bezerros de melhor qualidade para a pecuária comercial. O Pró-Fêmeas está em funcionamento em Minas Gerais desde o início do ano e também será implantado em Rondônia. Animal Business-Brasil_21
Hans Braxmeier
Frigorífico vai estimular a criação de caprinos e ovinos no Tocantins A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, lançou, em Aliança do Tocantins, a pedra fundamental do Frigorífico de Pequenos Animais, no Complexo Agroindustrial de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável da Cadeia Produtiva de Ovinocultura do Matopiba (região formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O frigorífico vai absorver a produção de ovinos e caprinos local e será construído com recursos de uma emenda parlamentar de sua autoria em 2013, quando exercia o mandato de senadora pelo Tocantins. A verba também vai garantir a construção de uma fábrica de ração. Será gerido em forma de comodato com a prefeitura de Aliança por uma cooperativa, que será criada para esse fim. A Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) vai cooperar com o projeto. A planta precisará de cerca de 20 mil matrizes para começar a operar, número alcançável, já que, no entorno de 100 km do frigorífico, há atualmente 12 a 15 mil cabeças. Entre as ações de estímulo a essa cadeia, também está a ampliação da rodoviária de Aliança, um centro de convenções para oferecer capacitação aos produtores e o shopping do carneiro.
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Equideocultura 2
Devido o surgimento de nove casos de Mormo registrados em Goiás, nos primeiros oito meses do ano e a necessidade de um cadastro mais efetivo dos proprietários de equídeos, a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), juntamente com o Senar-Goiás, os Sindicatos Rurais e o Instituto Inovar, realizou o 1º Seminário de Equideocultura, na capital do Estado. A ideia do seminário foi mostrar ao produtor a importância da atividade no cenário nacional, os benefícios do controle sanitário, a importância do cuidado com o bem-estar animal e as perspectivas para a cadeia produtiva da equideocultura. Segundo a Faeg, no Estado, cerca de 320 mil pessoas vivem, direta ou indiretamente, da atividade. O Mormo, causado pela bactéria Burkholderia mallei, é transmitido pelo contato direto ou indireto - através de alimentos e água contaminados – com os animais doentes. A bactéria tem como hospedeiro principal os cavalos, mas outros mamíferos domésticos, como o homem, podem ser infectados. Não há tratamento e nem vacina contra o Mormo e, de acordo com a legislação sanitária animal, os animais com a doença confirmada deverão ser sacrificados.
O Brasil conta hoje com 7.487.657 cabeças, entre equinos, muares e asininos - o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Além disso, é o 8º maior exportador da carne equina no mundo, que deixa o país rumo, principalmente, a Rússia, Bélgica, Itália, Japão e Vietnã, onde o alimento é uma iguaria. Goiás possui o 4º maior rebanho do Brasil, com 446.219 cabeças, entre equinos, muares e asininos. No Brasil, o cavalo é um animal mais utilizado para estimação e esporte, mas a exportação da carne já é uma realidade, ainda que pequena. Em todo o país, em 2014, faturamos R$ 4,1 milhões com a venda de animais vivos e R$ 6,6 milhões com a venda de carnes. Em 2015, de janeiro a junho, foram exportados US$ 3,90 milhões em carne de cavalo e US$ 1,92 milhão em cavalos vivos, respectivamente ocorrendo aumento expressivo de 66% e 40%, comparando com o mesmo período de 2014. Além da carne, existem ainda outros subprodutos provenientes do abate de equídeos – equinos, muares e asininos -, como pincéis, ração para outros animais, vacinas opoterápicas, mortadelas e salsicharias.
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Borreliose Aviária: impacto negativo na avicultura familiar Marcio Barizon Cepeda e Matheus Dias Cordeiro, UFRRJ
A agricultura familiar no Brasil produz atualmente mais de 80% da engrenagem que movimenta o setor rural e 40% da produção agrícola. Este tipo de atividade favorece a introdução de práticas produtivas ecologicamente estáveis, onde o sistema orgânico instalado contribui de maneira contundente para a diversidade dos cultivos e da criação dos animais, menor utilização dos insumos industrializados e manutenção da variabilidade genética.
A
avicultura na agricultura familiar é um instrumento de desenvolvimento das famílias de baixa renda e pequenos agricultores, criando oportunidades de estabelecer cooperativas através da produção de carne e ovos.
Photl
Por:
Galinha caipira Com a introdução da galinha caipira colonial no sistema orgânico, a avicultura familiar tem crescido de forma interessante, em virtude da simplicidade do manejo e o barateamento do custo de produção. Em contrapartida, este tipo de sistema pode também trazer desvantagens em relação à sanidade do plantel e das instalações. As aves ficam mais expostas a agentes Animal Business-Brasil_23
Perda na produção
Examinando a ave no laboratório
patogênicos e ao parasitismo. Uma enfermidade de importância econômica neste sistema de produção é a borreliose ou espiroquetose aviária. A borreliose aviária é uma doença de importância econômica para produção de aves, particularmente no sistema orgânico, por causar alta mortalidade nos animais jovens.
Doença aguda A borreliose aviária é uma doença aguda e septicêmica que acomete uma ampla variedade de espécies de aves. Esta enfermidade é causada por uma espécie de bactéria espiroqueta conhecida como Borrelia anserina. A transmissão biológica ocorre através da picada de um carrapato infectado, embora possam também ser transmitidas mecanicamente por mosquitos e pulgas. Esta doença foi relatada pela primeira vez em 1891 durante investigações de surtos ocorridos em gansos (anseriformes) no Caucasus, região da Rússia. Entretanto, somente no ano de 1903, a doença foi descrita no Brasil após a observação de casos infecciosos em galinhas domésticas, que culminou em grandes mortalidades das aves de criações rústicas. 24_Animal Business-Brasil
O intenso parasitismo e o quadro clínico estabelecido pela infecção podem causar uma grave perda na produção animal. O animal perde o interesse pelo alimento, permanece prostrado, interferindo no seu ganho de peso e produção de ovos, afetando a criação de corte e postura respectivamente. Essa queda brusca na produção foi observada experimentalmente em um plantel aviário jovem para corte, como mostra na figura 1. Nota-se uma queda no ganho de peso nas aves infectadas pela B. anserina. Essa redução ocorre entre o quarto e o oitavo dia após a infecção pelo carrapato (G3 – infectado) em comparação às aves não infectadas (G2 e G4 – controle). Atualmente, são raros os relatos da espiroquetose aviária ou até mesmos não são detectados. Este fato pode ser explicado pelo uso constante de antibióticos em rações, com o objetivo de proporcionar aumento no ganho de peso, melhora da conversão alimentar e redução da mortalidade no plantel. Entretanto, o uso desses produtos está sendo questionado devido à possível relação com a resistência aos antibióticos usados na antibioticoterapia humana, pois na maioria das vezes o uso é feito de maneira irracional em níveis subterapêuticos.
Ciclo biológico do carrapato vetor O vetor biológico responsável pela transmissão da bactéria é um carrapato mole, pertencente ao gênero Argas. A única espécie encontrada no Brasil é o Argas (Persicargas) miniatus, conhecido vulgarmente por “carrapato de galinha” ou “carrapato de galinheiro”. Este carrapato pode ser encontrado na maioria dos casos em pequenas e médias propriedades, onde o sistema orgânico está fortemente inserido na criação das aves domésticas. São heteroxenos, ou seja, necessitam de dois ou mais hospedeiros para completar o seu ciclo de vida, compreendendo os estágios de ovo, larva, ninfa (até cinco fases ninfais) e adulto. Esta espécie de carrapato alimenta-se preferencialmente durante a noite, quando as aves encontram-se em repouso e aglomeradas, fatores estes que facilitam a dispersão de larvas e ninfas entre os animais. Ao final de cada repasto sanguíneo das ninfas, ocorre uma ecdise e as fêmeas adultas são capazes de realizar postura com no mínimo uma cópula inicial. Em determinadas regiões do galinheiro, como frestas ou buracos na
Esta doença foi relatada pela primeira vez em 1891 durante investigações de surtos ocorridos em gansos na Rússia. parede, abrigam-se da luz intensa em sua fase de vida livre, realizando as etapas de muda, período de ecdise e cópula.
Patogenia A Borrelia anserina pode acometer aves dos grupos dos galiformes, anatídeos, passeriformes, columbiformes e algumas aves silvestres. Esta bactéria parasita, principalmente, aves de produção como a galinha doméstica, gansos, perus, patos e faisões, estes funcionando como verdadeiros reservatórios naturais. A detecção da primeira espiroqueta no sangue periférico das aves enfermas varia de 4 a 6 dias (período pré-patente) e os primeiros sintomas ocorrem em média de 3 a 8 dias após a infecção quando transmitida pelo carrapato (período de incubação).
Transmissão A espiroqueta pode ser transmitida por via transestadial (de larva para ninfa, ninfa para ninfa e ninfa para adulto) e transovariana (fêmea adulta para ovos), portanto todos os estágios evolutivos do carrapato são potencialmente transmissores da doença. A bactéria é transmitida para ave no momento do repasto sanguíneo, através da saliva e principalmente pelo líquido coxal (líquido transparente liberado quando o carrapato alcança seu máximo ingurgitamento), ambos contendo inúmeras espiroquetas, quando de sua penetração nos microtraumas causados pela picada do carrapato. Existe uma intensa relação da patogenia da doença com a participação do carrapato vetor. A passagem da borrelia pelo carrapato potencializa o poder de infecção pelo agente, assim como sua multiplicação no parasita. Espiroquetas podem sobreviver por longos períodos nesta espécie de carrapato, tornando-os reservatórios naturais.
Sintomatologia clínica Clinicamente a enfermidade caracteriza-se inicialmente por uma hipertermia (febre) seguida de uma intensa ingestão de água, fraqueza muscular, sonolência, penas arrepiadas, falta de apetite, presença de uma diarreia verde escura (devido à injúria hepática causada pela doença levando a processos obstrutivos). Com a evolução do quadro clínico, mais ainda na fase aguda da doença, a ave entra em estado cianótico (azulada), apresentando as mucosas pálidas (mais evidentes na crista e barbela) e hipotermia (temperatura baixa) que podem levar ao óbito. Em casos que a infestação estabelecida é maciça, a ave pode apresentar ainda transtornos paralíticos de asas e patas. Nos animais doentes, o fígado e o baço são os órgãos mais acometidos, apresentando-se congestos, aumentados de tamanho e com focos dispersos de necrose. Ocorrem também alterações renais e intestinais que se mostram evidentes à necropsia. As aves que se recuperam da crise infecciosa desenvolvem uma resposta imunológica eficiente e duradoura, que as fazem resistir a uma futura infecção pelo carrapato.
Diagnóstico O diagnóstico da borreliose aviária é mais eficaz na fase aguda da doença, onde se pode realizar desde exames de visualização direta das espiroquetas, até exames sorológicos (como o ensaio de imunoadsorção enzimático e a técnica de imunofluorescência indireta) e moleculares. Podem ser feitos esfregaços sanguíneos das aves enfermas e/ou visualização direta das espiroquetas no soro da ave ou no líquido coxal dos carrapatos. Exames histopatológicos também são eficientes para auxiliar no diagnóstico. Os tecidos acometidos são corados pela hematoxilina-eosina (HE) para visualização das alterações teciduais e celulares. Utilizam-se também o emprego da técnica de coloração de prata para visualização das espiroquetas nos diversos tecidos da ave. Todas estas técnicas devem ser acompanhadas pelo histórico do ambiente onde as aves vivem, como a presença do carrapato vetor no galinheiro, assim como de larvas ingurgitadas no corpo das aves para fechar o diagnóstico. Animal Business-Brasil_25
Prevenção, controle e tratamento A profilaxia consiste em identificar os locais no galinheiro onde os carrapatos podem se esconder, como pedaços velhos de tronco, buracos na parede, saliências na cama dos frangos, ou seja, elementos que possam vir a favorecer a permanência e o abrigo dos carrapatos. Outro passo diz respeito ao saneamento do galinheiro e do plantel. Deve-se sempre retirar as fezes para não encobrir os carrapatos e dificultar sua visualização, assim como a manutenção da cama das aves e a limpeza do local. O uso racional de acaricidas também é uma ótima ferramenta de controle. As instalações devem ser maiores, com paredes lisas, sem muitos acúmulos de madeira ou outro material. Essas medidas auxiliam não só na prevenção contra o carrapato, mas também de outros ectoparasitos como alguns ácaros causadores de sarna.
Penicilina A antibioticoterapia surge como a forma mais eficaz para o tratamento das aves doentes. A penicilina possui alto poder curativo e proporciona resultados satisfatórios. A ave doente sempre
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Criadas soltas, as aves têm menos risco de contrair doenças
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procura um ambiente com sombra e tranquilidade para descansar, nesse período deve-se manejar a ave o mínimo possível e oferecer água abundante. Em casos avançados ou graves, dificilmente ocorre cura, mas quando a infecção é rapidamente diagnosticada a ave possui boas chances de se recuperar.
Vacina Há algumas décadas, a borreliose aviária era uma das doenças mais importantes em criações de frangos por todo o mundo, o que levou vários países ao desenvolvimento de vacinas inativadas. Atualmente, existe pouco ou nenhum interesse dos laboratórios veterinários para a produção de vacinas contra a espiroquetose aviária. A nova tendência mundial é a mudança dos sistemas de criações convencionais para o sistema orgânico. Assim, o aparecimento de novos surtos da doença pode ocorrer, uma vez que esse tipo de sistema favorece o estabelecimento do vetor. Por esse motivo, o conhecimento da borreliose aviária se torna importante para que haja uma vigilância bem elaborada, de modo que esse possível surto reemergente não seja devastador causando sérios impactos na produção.
Michal Jarmoluk
Direito Agrário: Que ramo do direito é esse ? Por:
Maria Cecilia Ladeira de Almeida - Mestre em Direito/USP. Advogada. Professora de Direito Civil, Agrário e Ambiental/Univ Mackenzie/SP. Associada da Unione Mondiale degli Agraristi Universitari/UMAU, Pisa, (Itália) e Sociedade Nacional da Agricultura/SNA, Rio de Janeiro.
Direito Agrário? Que ramo do Direito é esse? É o que normalmente se perguntam as pessoas não afetas na área agrária. Um ramo do Direito que é desconhecido, muito embora esse ramo tenha sido instituído e ganhado autonomia em outubro de 1964, com a Emenda Constitucional n.º 10, que alterou e introduziu diversos dispositivos na Constituição Federal de 1946, então em vigor. Não é difícil constatar que temas próprios do Direito Agrário, ciência com autonomia científica e legal, sejam tratados em outras esferas do Direito.
N
esta coluna vai-se, a cada edição, tratar de temas próprios do Direito Agrário e de interesse dos leitores. Agricultura familiar, empresa rural, agronegócio, cadastro de imóvel rural, tributação imobiliária rural, proteção agroambiental, crimes agroambientais, função social da
propriedade imobiliária rural, contratos agrários, regularização fundiária, Cédula de Produto Rural, restrições aos imóveis relativas a faixas de fronteiras, às áreas indígenas, embate entre áreas cultiváveis e exercício de atividades de mineração, terras quilombolas, expansão de áreas urbanas, trabalho rural, serão alguns dos temas que serão tratados na coluna que ora se inaugura.
Evolução A primeira relação humana jurídica surge em razão da captura de animais e frutos para sua sobrevivência. A partir do advento da agricultura, o homem se fixa à terra, deixa de ser nômade. E aí surge a atividade agrária, a que se referirá mais abaixo. Todavia, o Direito Agrário moderno surge no final do século XIX. Com a Revolução Industrial, instala-se o êxodo rural, e a sociedade vai aos poucos deixando de ser rural, para se tornar uma sociedade urbana. Entretanto, a mudança da zona rural para a zona urbana trouxe uma difícil equação, pois, cada vez mais, menos pessoas que permaneceram na zona rural têm que produzir mais alimentos para uma população urbana cada vez maior. Quem foi para a cidade deixou no campo seus animais, além de perder suas áreas de cultivo. Antes do êxodo rural, a alimentação exigia relações jurídicas extremamente simples: a pessoa ia ao fundo do seu quintal e colhia o que era necessário para sua alimentação. Com a ida para as cidades, obter alimentos tornou-se uma operação que se torna mais complexa. Leite não dá na caixinha e frango não nasce na gôndola do supermercado. Existem centenas de relações jurídicas de toda ordem envolvidas para que hoje o consumidor Animal Business-Brasil_27
tome leite no café da manhã ou ponha frango na mesa na hora do almoço ou jantar. Essa evolução das relações que envolvem a agricultura exigiu também uma evolução no Direito, criando um ramo autônomo do Direito que viesse a atender tais relações cada vez mais complexas. Hoje, para tomar leite, implica no exercício de diversas atividades que se submetem a diversas relações jurídicas permeadas pela agrariedade, tanto na esfera da propriedade imobiliária onde se cria o gado, como nas relações trabalhistas dos empregados do imóvel rural, como nas implicações legais de circulação e tributação do transporte do leite que cruza as fronteiras estaduais, como nas questões sanitárias da usina que processa o leite ,etc. Ficou lá atrás a simples e direta ordenha da “Mimosa”.
econômica e social que, em outra oportunidade, serão tratadas nesta coluna. Hoje alguns estudiosos já falam em um direito do agronegócio, diverso do direito agrário. Creio ainda ser muito cedo para falar em novo ramo do direito, muito embora as características complexas do agronegócio exijam um corpo legal próprio. A partir dos anos 80 do século XX, a questão da tutela dos recursos naturais, no exercício da atividade agrária, tornou-se uma constante. Não se pode pensar na atividade agrária sem observar as normas que tutelam o meio ambiente. O exercício da agricultura exige cuidados especiais que são disciplinados não só com o direito agrário, mas também em legislação ambiental própria, até mesmo com implicações criminais, em caso de sua não observância.
O surgimento
Direito fundamental
Assim, é possível falar em surgimento do Direito Agrário a partir do êxodo rural provocado pela Revolução Industrial. Mas é especialmente a partir do término da II Guerra Mundial (1939-1945) que se pode falar em nascimento do moderno Direito Agrário, em face de implemento de orientações de conteúdo social e econômico. Merece registro que, já em 1922, em Florença, Itália, surge o Observatório de Direito Agrário, hoje Istituto de Diritto Agrário Internacionale e Comparato, onde emerge o movimento de autonomia do Direito Agrário que ganha o mundo, pois a atividade agrária sentia a necessidade de um corpo legal próprio em razão de suas peculiaridades. A necessidade de implementar a produção agrícola, no pós-guerra, permitiu que o direito agrário na Europa se preocupasse mais com a empresa agrária e os contratos agrários. Já na América Latina, a regularização e/ou modificação das estruturas fundiárias foi tema central dos estudos que, em muitos países, ainda não se esgotaram. Mas, a par dessa questão, popularmente conhecida como questão agrária, surgiu, pela necessidade de suprimento alimentar para a população urbana, a preocupação com a agricultura em larga escala e a empresa rural (produção para o mercado consumidor) exigiram que os jusagraristas se debruçassem sobre tais temas. O agronegócio, mola propulsora das exportações brasileiras, passa a ter grande importância no direito pátrio, com inúmeros reflexos de ordem legal, 28_Animal Business-Brasil
Na evolução do direito agrário sempre procurando tutelar o exercício da atividade agrária, em suas múltiplas facetas, o Direito Agrário tem sido considerado nos dias de hoje como direito humano fundamental. Se, por um lado, o acesso à propriedade imobiliária é direito de todos, como acesso à moradia, por outro lado, o direito à alimentação também é garantia fundamental. A segurança alimentar é uma constante preocupação de todos, governantes e governados. De tal sorte, que o exercício da atividade agrária, deve garantir bem-estar aos homens, pois garante seus direitos fundamentais. Sempre, entretanto, tendo em comum o fundamento social e econômico.
Conceito Conforme o local e a época em que tenha vivido o doutrinador, ele definiu Direito Agrário dando a ele um centro de interesse. A definição considerada universal é aquela que considera o Direito Agrário como aquele que disciplina o exercício da atividade agrária com base na função social da propriedade imobiliária rural. Sem dúvida, a atividade agrária é o cerne do Direito Agrário, quer seja na agricultura familiar quer seja na empresa rural. Atividade essa que é única, pois ela implica no exercício de uma atividade que se utiliza do ciclo agrobiológico e onde o homem sofre os riscos correlatos à natureza. Pois por mais que se aplique tecnologia onde ao
O Direito Agrário disciplina o exercício da atividade com base na função social da propriedade imobiliária rural.
exercício da atividade, a natureza é incontrolável, de modo que, para dizer que se exerce uma atividade agrária e que, portanto, incidem as normas do Direito Agrário, é preciso que o homem que a exerce suporte os riscos inerentes à natureza. Riscos inerentes não são forças violentas da natureza, mas sim o processo evolutivo natural que compreende clima, temperatura, ar, água, solo, e fatores negativos como as pragas etc.
Conteúdo Três elementos formam o conteúdo do Direito Agrário: o homem, a terra e a produção agrícola. O homem compreendendo o proprietário rural, o posseiro, o empregado assalariado que executa a atividade agrária como preposto do empreendedor que sofre os riscos da empresa; o parceiro, o arrendatário, o parceleiro, é imprescindível, eis que sua participação em toda a atividade agrária faz parte do conjunto de exploração rural e dela depende, em grande parte, do êxito ou fracasso do empreendimento. A terra é base física para atos poderem ser executados; instrumento para formação dos vegetais ou animais que darão em resultado os frutos ou produtos visados pela exploração, seja como elemento próprio, natural ou matéria-prima para transformação, seja para alimentação e sustento do gado e dos animais em geral. Hoje, o conteúdo terra se estende à água (cultivo hidropônico) e outras bases onde se pode cultivar em face de novas tecnologias. A terra, como base física, é a fonte da política fundiária.
A produção, significando a participação do homem acrescida da terra num processo onde natureza participa de forma preponderante, transformando a semente em planta; os animais para abate ou procriação, é a fonte da política agrícola. “A terra germina, o homem produz”.
Política Agrícola Assim, política agrícola não se confunde com política agrária. A política agrícola, definida no Estatuto da Terra, e posteriormente recepcionada pela Constituição Federal, pode ser definida como movimento permanente em eterna renovação para acoplar os recursos da tecnologia e da necessidade de retirar riquezas cada vez mais densas da terra, sem a exaurir, sem a esgotar. “É o conjunto de providências de amparo à própria terra que se destina a orientar, no interesse da economia rural, as atividades agropecuárias seja no sentido de garantir-lhes o pleno emprego, seja no de harmonizá-las com o processo de industrialização do País”. Já Política Agrária, nos termos da doutrina, regula a propriedade e a posse dos imóveis rurais, visando a sua regularização e indefinição onde tais situações sejam encontradas. Assim, essa política fundiária se reúne com a política agrícola, visando incrementar o setor produtivo nacional. A Lei Agrícola, em 1991, define os pressupostos da Política Agrícola como sendo: 1. Os recursos naturais envolvidos devem ser utilizados e gerenciados, subordinando-se às normas e aos princípios de interesse público, de forma que seja cumprida a função social e econômica da propriedade; 2. Os diversos segmentos do setor agrícola devem responder diferentemente às políticas públicas e às forças de mercado; 3. Agricultura deve proporcionar rentabilidade compatível com a de outros setores da economia, para os rurícolas; 4. Segurança alimentar, como condição básica para garantir a tranquilidade social, ordem pública e processo de desenvolvimento econômico-social; 5. A produção agrícola deve ser realizada em estabelecimentos rurais heterogêneos; 6. O acesso aos serviços essenciais. Animal Business-Brasil_29
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13º congresso internacional debateu A CADEIA PRODUTIVA DO LEITE Por:
Alberto Figueiredo- Engenheiro-Agrônomo, ex-Secretário de Agricultura do RJ, Diretor da SNASociedade Nacional de Agricultura
No período de 28 a 30 de julho de 2015, Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, se transformou na capital mundial do leite, por ocasião da realização do CONGRESSO INTERNACIOANAL, com realização simultânea de reunião ordinária da CÂMARA SETORIAL DA CADEIA DE LEITE E DERIVADOS, órgão consultivo vinculado ao Ministério da Agricultura e da Pecuária.
D
urante a reunião ordinária de nº 42 da Câmara Setorial do leite, realizada no dia 28 de julho, Dia do Agricultor, foram debatidos temas de interesse do setor, desde as contribuições oferecidas por todos os segmentos ao novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal RIISPOA, que está em fase de adaptação no âmbito do Ministério da Agricultura, até relatos sobre a realização do 2º Encontro Pan-Americano de Jovens Produtores de Leite, agendado para Juiz de Fora, Minas Gerais, no período de 15 a 17 de setembro de 2015, tendo ainda debatido temas da maior importância para o setor, como:
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• Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose
Foram apresentadas pela profissional da Divisão de Sanidade Animal do MAPA, Bárbara Rosa, as linhas gerais do programa, que estão em fase de elaboração, mostrando estatísticas nacionais, as disparidades relativas ao controle nas diversas regiões do país, além de informar que o assunto está em debate, e que seriam bem-vindas as eventuais contribuições de interessados.
• Programa Campo Futuro (Custos de Produção)
A cargo da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária – CNA, está sendo feito levantamento periódico de custos de produção de diversos produtos, entre eles o leite. Entre gráficos e dados estatísticos, o responsável pela apresentação, Carlos Magno conseguiu mostrar um panorama das propriedades que representam as características das diversas regiões produtoras brasileiras, no que diz respeito à relação entre valor de venda do produto e custos de produção, aí incluídas as depreciações de equipamentos, além da remuneração do capital investido, além da terra.
Embrapa
Foram definidas 3 categorias de custos: CT
COT e remuneração do capital
COT
COE, depreciações e pró-labore
COE
Mão de obra, insumos, impostos, energia, administração, reparos de máquinas e benfeitorias
Primeiros resultados Os primeiros resultados das pesquisas dão conta de que a grande maioria dos entrevistados consegue, com o valor de venda do produto, remunerar os custos diretos de produção (COE), alguns conseguem remunerar parcialmente as depreciações de equipamentos e benfeitorias (COT), mas, talvez por conta da valorização das terras, nenhum dos entrevistados apresentou condições de, com a renda do negócio, remunerar o capital investido (CT), com taxas comparadas a outras aplicações do mercado. Possivelmente será escrito com exclusividade para a AB um artigo com maiores detalhes sobre as conclusões preliminares desses estudos.
Resfriadores Coletivos Por sugestão de um dos membros efetivos da Câmara Setorial, foram iniciados os debates sobre coleta de amostras nesses tanques, se de forma coletiva ou individualizada, em relação a todos os produtores vinculados às respectivas unidades.
O Congresso Internacional do Leite teve sua abertura oficial no dia 29 de julho de 2015, em ato solene que contou com a participação de diversas autoridades do âmbito federal, estadual do Rio Grande do Sul, e diversos prefeitos e secretários municipais de agricultura. Ao saudar os membros da mesa e participantes, o Doutor Paulo do Carmo Martins, chefe geral do Centro Nacional de Pesquisa em Gado de Leite da Embrapa, como organizador e anfitrião do evento, ressaltou alguns temas como organizações de produtores, aumento da participação das mulheres nos sistemas de produção; constatou que os fatores terra e mão de obra experimentaram incremento real de custos, falou sobre a necessidade de racionalização de custos de produção dentro das propriedades rurais e encerrou sua fala com comentários sobre novos sistemas de transferência de tecnologia que estão sendo adotados pela Embrapa, objetivando encurtar caminhos entre as pesquisas e os reais interessados em seus resultados. O Sr. Gilberto Piccinini, que preside o Instituto Gaúcho do Leite, explicou o objetivo do referido instituto, que reúne representantes de todos os elos da cadeia produtiva do leite gaúcho, inclusive o comércio. Além de exaltar o comprometimento do Governo do Estado com leis e decretos de interesse do setor. Enquanto o Diretor de transferência de tecnologia da Embrapa, Dr. Waldyr Stumpf Junior, Animal Business-Brasil_33
procurou focar sua participação na estrutura de centros nacionais da empresa em todas as unidades da federação, o Secretário Nacional de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo, que no ato solene representou a Sra. Ministra Kátia Abreu, teceu considerações sobre a relação negativa entre crescimento de produção nacional em torno de 4% em média ao ano, enquanto o consumo experimenta crescimento de 3%. Salientou ainda o Dr. Caio a intenção do Ministério de desenvolvimento de políticas de interesse direto dos produtores rurais, passando pela assistência técnica, melhoramento genético, programas de financiamento às inovações, vontade de desburocratizar, além de um empenho direto da Ministra da Agricultura na busca de novos mercados para o leite e derivados. Houve um pequeno intervalo nas falas para que fossem premiadas três prefeituras do Estado dentro do programa estadual “Amigos do Leite”, através do qual são analisados os resultados dos projetos de incentivo a cargo da cada município. Encerrando as falas da solenidade de abertura do evento, o Vice-Governador do Estado do Rio Grande do Sul, Sr. José Paulo Dornelles Cairoli, apresentou um cenário otimista para o futuro do Estado, afirmando que “não pode o estado atrapalhar as iniciativas privadas voltadas para o desenvolvimento”, não escondendo, no entanto, o período difícil pelo qual passa aquela unidade da Federação, inclusive com possibilidade iminente de carência de recursos para honrar o pagamento de todos os salários do funcionalismo estadual. Ao final da solenidade, nos moldes das competições automobilísticas americanas, foi oferecido aos membros da mesa um copo de leite que todos usaram para brindar e beber.
Painéis O Congresso foi organizado em painéis, que congregaram 7 temas do maior interesse para o setor. A Revista Animal Business ofereceu suas páginas à maioria dos palestrantes, no sentido de detalharem seus temas para os leitores.
Mercado internacional O primeiro tema abordado focou no mercado internacional e interno para o leite e seus derivados. 34_Animal Business-Brasil
O Congresso foi organizado em sete temas do maior interesse para o setor. O Sr. Andrés Humberto Padilla Villaveces, analista sênior, discorreu sobre o mercado internacional, mostrando a significativa retração de demanda pela China (menos 50%) em passado recente, em parte explicado por uma estratégia do governo daquele país, no sentido de estimular a implantação de mega fazendas de produção, que já abastecem parte da necessidade interna. Também a Rússia, segundo o mesmo palestrante, reduziu sua demanda, em parte por motivos políticos, em aproximadamente 42%. Enquanto outros países aumentaram a demanda internacional, fazendo com que o comércio internacional experimentasse uma retranca de aproximadamente 4% a 5% no último trimestre de 2014 e 1º de 2015. Concluiu com a expectativa de recuperação do comércio internacional a partir do segundo semestre de 2016 na razão de 2,5%. Quanto à oferta, fez referência aos principais países produtores, com a liderança dos Estados Unidos da América, seguido pela comunidade europeia, pela Austrália e o Brasil como quarto colocado no volume de produção, seguido por Argentina e Uruguai. Foram apresentados gráficos de remuneração histórica dos produtores no mundo, fazendo comparação entre a Nova Zelândia (vinte e cinco centavos do euro) e o Brasil (vinte e nove centavos da mesma moeda). Ainda na comparação, demonstrou o incremento de produtividade média de leite por vaca por ano na Nova Zelândia de 3 para 4 mil e quinhentos litros, enquanto o Brasil patina no patamar de mil duzentos e cinquenta litros por vaca por ano. Falou sobre o potencial produtivo de alguns países, sobre a economia de escala em plantas industriais, como necessidade. Sobre as consequências para o Brasil, o palestrante estima que haverá incentivos a importações e desestímulo às exportações, fazendo
com que a balança comercial do país seja negativa, pelo menos até final de 2016.
Sobre o mercado nacional, fez a palestra o Sr. Ricardo Cota Ferreira, Diretor da Vivalácteos. Confirmou o crescimento da produção do país em média de 4,1% ao ano nos últimos 10 anos, comparando com o incremento chinês de 7,4%, da Índia na casa dos 5,7%. Novamente enfatizou a questão da produtividade, demonstrando que a da Nova Zelândia é ao redor de 6 vezes a brasileira, por área. Demonstrou que a competitividade da atividade brasileira é baixa, a começar pela pulverização da produção em muitos produtores, dificultando e encarecendo a coleta diária pelas indústrias, novamente fazendo comparação com a Nova Zelândia, cuja média de produção por produtor é mais de 15 vezes a do Brasil, além dos fatores de qualidade e falta de especialização do rebanho nacional. Demonstrou a dificuldade de escala industrial brasileira em relação ao mundo, afirmando que entre as maiores internacionais, a de menor volume de industrialização anual manipula 4 bilhões de litros, enquanto a melhor indústria nacional não consegue alcançar o patamar de 2 bilhões anuais, mostrando a fragilidade e a fragmentação do parque industrial brasileiro, onde as 12 maiores indústrias manipulam menos de 40% da produção nacional. Esse quadro, somado à crise brasileira, que reduz salários e aumenta custos, principalmente por conta de preços administrados pelo governo, já provocou queda de consumo de leite pasteurizado ao redor de 26%. Concluiu sua palestra com a sinalização no sentido da necessidade de fusões e incorporações no setor industrial, além do necessário investimento em produtos de maior valor agregado e marca.
Extensão Rural Depois que tanta gente ressaltou a importância estratégica da melhoria na produtividade da pecuária leiteira nacional, o Congresso reservou o segundo painel à extensão rural. Desde uma visão internacional a cargo do Sr. Johannes Bouwe Schiere, Consultor holandês,
Photl
Mercado nacional
O leite de boa qualidade é um dos alimentos mais completos.
que centrou seu depoimento no binômio: “o que fazer? e como fazer?” caracterizando a assistência técnica como organizadora de fluxo de informações, ouvimos o Diretor da Embrapa, Waldyr S. Junior, apresentar um histórico da assistência técnica e extensão rural desde 1859, com a constituição do Instituto Imperial de Agricultura por D. Pedro II, até a recente constituição da ANATER em 2013/2014, tendo apresentado estatísticas relativas à predominância numérica de agricultores familiares, inclusive em relação ao leite. Ainda sobre o tema, falou o Sr. Marcelo Rezende, diretor de uma cooperativa de assistência técnica com especialização na pecuária leiteira, que exaltou o fato de destinar a assistência dos técnicos da cooperativa aos produtores que demonstrem “querer” se desenvolver, visto que, para isso, há necessidade de algumas mudanças de hábitos, como, por exemplo, anotar dados zootécnicos e financeiros das respectivas propriedades, objetivando buscar metas de melhores índices, principalmente no que se refere ao aumento de produção por área, através de investimentos em melhoria de pastagens, genética e alimentação do rebanho, etc. Animal Business-Brasil_35
Mão de obra Mantendo a linha didática, o Congresso reservou o terceiro painel para o debate sobre um dos fatores de produção, qual seja a mão de obra. O Sr. Luis Fernando Laranja da Fonseca, de Mato Grosso, apresentou a constatação de que está cada vez mais escassa a mão de obra tradicional, que opera a força muscular, sendo substituída por um perfil de profissionais com melhor nível educacional que, manejando equipamentos mais sofisticados, trabalham mais com a cabeça e apresentam melhor rendimento em relação ao número de animais pelos quais são responsáveis.
entre os membros da família, no sentido de permitir que todos participem das decisões no processo de produção e que tenham oportunidades de participação. Sendo necessária a capacitação dos integrantes da célula familiar, além de viabilizar, através de melhor organização da contabilidade do negócio, a renda necessária para o sustento e o projeto de vida de todos os que se interessarem pelo negócio. E terminou sua fala afirmando que: “em muitos casos, filhos saem de casa à procura de alternativas, geralmente na zona urbana, pelo simples motivo do pai nunca ter perguntado sobre o interesse de permanência no negócio”.
Qualificação
Leite na alimentação
Alertou para a crescente responsabilidade dos proprietários, relativamente ao cumprimento da legislação trabalhista e promover melhor qualidade de vida aos empregados no setor. Resumiu sua palestra em uma palavra: qualificação.
Sucessão e herança Como alternativa à questão da mão de obra, no mesmo painel o Sr. Lucildo Ahlert, de Lajeado, no Rio Grande do Sul, abordou o tema Sucessão e Herança na propriedade rural, que ressaltou a necessidade de intensificar o diálogo
Seria natural que, com tanta preocupação com cifras e tecnologias, fosse aberto espaço no congresso de leite para a importância do leite e seus derivados na alimentação humana. O Sr. Rafael Cornes Lucas, do Uruguai, que iniciou sua fala afirmando existirem, segundo estudos da FAO, 870 milhões de pessoas que apresentam algum quadro de subnutrição, sendo que a grande maioria dessas pessoas está em países em desenvolvimento. Paradoxalmente, segundo o mesmo palestrante, o consumo exagerado de alimentos com
Embrapa
Pasto de boa qualidade e sombra para proteger do calor são importantes para aumentar a produtividade das vacas.
36_Animal Business-Brasil
excesso de gorduras, açúcares e sódio, alinha esses consumidores, junto aos que sofrem de subnutrição, em um contingente que se destina a engrossar as filas dos hospitais à procura de solução para seus problemas de saúde. Assim, “torna-se urgente a implementação de programas voltados para alimentação saudável”. Na expectativa, segundo a FAO de uma população mundial em 2050 de 9,5 bilhões de pessoas, equivalente a um crescimento de 34% sobre o patamar atual, sendo que o maior crescimento será experimentado em países em desenvolvimento. Para suprir as carências atuais, e atender a esse incremento, será necessário que, nos países em desenvolvimento, a produção agrícola praticamente dobre em relação à atual marca. Sendo a proteína animal um alimento essencial para a nutrição humana, destaca-se o leite, pela composição natural como fonte de cálcio e proteína de qualidade. Em consonância com o palestrante anterior, a professora Neila Richards, da Universidade Federal de Santa Maria (RGS), fez comentários sobre o tempo de existência de indústrias de laticínios no mundo, e sua adaptação ao gosto dos consumidores. Afirmou que o leite e seus produtos derivados fornecem todos os nutrientes exigidos para uma vida saudável, em todas as etapas da vida humana, de mamando a caducando. “O desenvolvimento de novos produtos, como lácteos de rápido consumo e de conveniência, é o novo “gap” do mercado”. Nesse aspecto, o painel foi complementado pela intervenção do Sr. Celso Gabriel Vinderola (Argentina), que teceu comentários sobre a importância das bactérias tanto para a preservação da saúde, quanto para doenças. A presença de muitas delas no intestino dos mamíferos, denominadas em conjunto como microbiota intestinal, que, quando desbalanceadas, provocam doenças como diabetes, obesidade e câncer. À medida que essa microbiota intestinal vai se consolidando no decorrer da vida, há necessidade de ingestão de alimentos saudáveis para promover esse desenvolvimento. O termo “probiótico” foi introduzido na literatura por um pesquisador (Roy Fuller) em 1989, definido como um suplemento alimentício micro-
Para suprir as carências atuais e atender ao aumento da população será necessário que, nos países em desenvolvimento, a produção de alimentos praticamente dobre em relação à atual. biano vivo que beneficia quem o consome, por conta de seu balanço microbiano intestinal. Assim, estudos estão sendo desenvolvidos no mundo todo, no sentido de identificar quais os probióticos realmente úteis à saúde humana, para que sejam, gradativamente mais introduzidos em produtos lácteos, melhorando, ainda mais, sua utilidade para a saúde.
Inovações tecnológicas Mudando um pouco o foco, o quinto painel do congresso iluminou as questões relativas às inovações tecnológicas e organizacionais para a pecuária leiteira. O Doutor Marcelo H. Otenio, da Embrapa Gado de Leite, abordou a questão do reaproveitamento da água nos sistemas de produção de leite. Tanto pelas questões ambientais envolvidas, relativas ao escoamento de dejetos “in natura” em cursos d’agua, quanto pela escassez do produto, há que se colocar em prática, de forma mais eficaz todas as formas possíveis de reaproveitamento, quer seja para ferti-irrigação, ou, concomitantemente, produção de gás, através de processo de biodigestão, etc.
Terapêutica de precisão No mesmo painel, o também pesquisador da Embrapa, Humberto de Mello Brandão, abordou a questão da terapêutica de precisão, definindo-a como a gestão das individualidades sob a ótica da saúde, utilizando-se técnicas consagradas e ou emergentes, para atingir objetivos específicos. Animal Business-Brasil_37
Alina Souza/Especial Palácio Piratini
Exemplificou com a necessidade terapêutica de um mesmo agente infeccioso que, de acordo com o sistema de confinamento do animal, raça, idade, tempo de lactação, etc. pode exigir protocolos diferenciados. Assim, coitados dos animais que, sem consideração de todos os fatores envolvidos, são submetidos a protocolos tradicionais, às vezes sem resultado esperado, além do prejuízo para seus proprietários que jogam, no ralo, verdadeiras fortunas anualmente.
A seguir o pesquisador Cláudio Nápolis Costa teceu comentários sobre a gestão informatizada de sistemas de produção de leite (GISLEITE: gisleite.cnpgl.embrapa.br). Trata-se de um sistema de informação desenvolvido para orientar a tomada de decisão dos agentes do segmento produtivo da cadeia do leite. É um software livre, desenvolvido para o ambiente Web e acesso remoto pela internet. Registrados os dados, são calculados indicadores de desempenho produtivo e reprodutivo dos animais, de produtividade do rebanho e de eficiência econômica de sistemas de produção de leite. Na mesma linha de administração eficiente, o Chefe Geral do CNPGL, Paulo do C. Martins, fez referência ao GepLeite, como um projeto dedicado a coletar dados de propriedades de produtores vinculados a indústrias de laticínios, na forma de convênio de cooperação técnica, permitindo a indicação de procedimentos de mudança de atitudes a partir da análise dos dados coletados. Encerrando o painel, o Sr. Gilberto Piccinini, presidente do Instituto Gaúcho do Leite, fez um histórico dos motivos que levaram à união de representantes dos vários segmentos da cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul, a partir de 2013, bem como a utilidade desse importante fórum de debates e indicações de correções necessárias e úteis para todos os envolvidos.
Sustentabilidade O sexto e penúltimo painel não poderia deixar de reservar espaço para a questão da sustentabilidade. O painel foi iniciado pelo Dr. Pedro Braga Arcuri, da EMBRAPA, articulador junto à FAO, que 38_Animal Business-Brasil
Marjuliê Martini/ MPRS
Gestão informatizada
Higiene e tecnologia avançada são fundamentais para produzir leite de boa qualidade.
iniciou afirmando que o conceito de desenvolvimento sustentável foi proposto na reunião realizada pela ONU em Estocolmo em 1972, tendo, a mesma instituição em documento de 1987, definido o conceito de desenvolvimento sustentável como aquele que “satisfaz as necessidades da geração presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”. Segundo o palestrante, “as emissões de gases causadores do efeito estufa pelas diferentes cadeias pecuárias são estimadas em 7,1 Giga-toneladas de equivalentes CO2 por ano, representando 14,5% de todas as emissões GEE causadas pela humanidade. Existem, segundo o mesmo palestrante, práticas para redução de produção de GEE, no entanto, ainda pouco adotadas por produtores, em especial nos países em desenvolvimento. Afirmou também que cada agente da cadeia produtiva leiteira passou a ter responsabilidades que antes não lhes eram atribuídas (preservação dos recursos naturais, garantia dos direitos sociais).
A seguir o pesquisador Geraldo Stachetti Rodrigues, também da Embrapa, se referiu a indicadores de sustentabilidade e gestão ambiental na agropecuária brasileira, demonstrando existirem várias ferramentas informatizadas que permitem as avaliações de impactos ambientais (AIA), dando exemplo dos resultados obtidos com a aplicação das tecnologias de produção preconizadas pelo programa “Balde Cheio” também orientado pela Embrapa, como redutores de impactos ambientais. Encerrando o painel a Sra. Secretária de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Rio Grande do Sul apresentou, com apoio de um assessor, algumas iniciativas de sustentabilidade adotadas no estado, identificando normas específicas para a região dos Pampas, como resultado prático dessas iniciativas.
Governança O sétimo e último painel do Congresso jogou foco sobre governança e sustentabilidade. Em continuidade ao painel anterior, o pesquisador Vanderley Porfírio da Silva, da Embrapa Floresta no Paraná, teceu considerações sobre o sistema silvipastoril na produção de leite, indicando que 65% da madeira utilizada no país ainda vêm de floresta nativa, e que, sem prejuízo às pastagens, podem ser incorporadas em torno de 222 árvores de eucaliptos por hectare, gerando, além do necessário sombreamento para o conforto animal, alternativa de renda extra para os produtores. Falou em seguida a Sra. Roberta Mara Zuge, consultora com sede em Curitiba, que desenvolveu seu raciocínio a partir da tomada de consciência por parte do consumidor em relação à qualidade dos produtos de origem agropecuária que adquire. Abordou os diversos vértices do sistema de produção, desde os aspectos humanos relacionados com as pessoas envolvidas no sistema de produção, passando, no caso da pecuária pelo rebanho, em relação à sua sanidade e oferta de ambiente saudável, que garanta o bem-estar dos animais, as responsabilidades com os controles de doenças que podem acometer os rebanhos, agindo em conformidade com os programas oficiais de controle de zoonoses de órgãos públicos. No manejo nutricional, alertou para a necessidade de oferta aos animais de água de qualidade,
além de nutrientes adequados, através de insumos também de qualidade e fácil digestibilidade.
Cuidados com a ordenha Teceu considerações especiais sobre os cuidados com a ordenha dos animais, evitando-se, tanto a contaminação do leite, quanto dos animais com doenças no sistema mamário. E, além de outras importantes considerações, salientou a questão ambiental como uma preocupação importante dos produtores. Ouvimos também o pesquisador Marcelo Bonnet Alvarenga, que teceu considerações sobre o controle de qualidade do leite, fazendo referência à rede de laboratórios credenciados e os controles que se ampliam por parte dos produtores, em relação à qualidade do produto que oferecem, bem como a tomada de consciência, por parte das indústrias, em relação à remuneração do produto pelos padrões de qualidade.
Pesquisa do TCU O encerramento do congresso se deu através de uma palestra bem articulada e ilustrada, proferida pelo Ministro do Tribunal de Contas da União, Dr. João Augusto Ribeiro Nardes, que demonstrou através de resultados de pesquisa feita entre todos os municípios, estados e órgãos do Governo Federal, ter o Tribunal chegado à conclusão de que 86% dos pesquisados apresentaram índices de governança baixo, existindo quase exclusivamente para administrar folhas de pagamento. São 11 milhões de funcionários públicos e mais 4 milhões de terceirizados, “administrados” sem avaliação ou qualquer critério de meritocracia. Afirmou ter o Brasil a necessidade de restabelecer a credibilidade junto às instituições públicas, necessitando crescer a economia no mínimo 3% a 4% ao ano. Encerrou homenageando o agronegócio brasileiro pela importante contribuição dada ao produto interno bruto nacional e à balança comercial que só é positiva graças ao agronegócio. Entendemos que o Congresso cumpriu sua finalidade e que, todos os 1.200 presentes, além dos 800 que acompanharam pela internet, tiveram a oportunidade de receber informações bem atuais e amplas sobre o segmento da pecuária de leite no Brasil e no mundo. Animal Business-Brasil_39
O salto do hipismo brasileiro Por:
Roberto Arruda de Souza Lima; Rafaella Mazza; Leticia Junqueira e Ana Carolina Vettorazzi – ESALQ/USP
Os esportes equestres, entre eles o salto, são responsáveis por eventos e competições que movimentam grandes quantias de dinheiro em diversas partes do mundo. Esse investimento é feito em diversos setores como equipamentos, compra e manutenção do animal, reprodução, manutenção da estabulagem, veterinária, ferragem, mão de obra e treinamento. Essa movimentação financeira não se limita às atividades diretamente ligadas ao esporte, mas também a atividades de apoio, como a organização e realização de leilões e sua divulgação em diversas mídias. O Brasil é um país que possui grandes oportunidades de negócios nesta área.
Da guerra para o esporte Devido ao importante papel do cavalo como arma de guerra, por longo período os militares foram os protagonistas das atividades equestres. Pode-se destacar, por exemplo, que o modo atual de montar é enormemente influenciado pelo “Il sistema naturale di equitazione” do Capitão da Cavalaria Federio Caprilli, cuja escola, no final do século 19 e início do 20, ensinava a 40_Animal Business-Brasil
montar em compasso com o movimento natural do cavalo – a fim de se obter, num limitado período de tempo, as habilidades necessárias do militar da cavalaria. Até então, na hora de saltar, o cavaleiro jogava o corpo para trás ao invés de para frente. Assim, não é surpreendente observar que os esportes equestres têm sua origem junto aos militares e à guerra, pois num primeiro momento ensinar seu cavalo a saltar poderia significar a diferença entre a vida e a morte no campo de batalha. A cultura equestre permanece forte entre os militares no Brasil, que foram os primeiros a participar de provas de salto. O salto em si tornou-se um esporte nos anos 1880, praticado primeiramente nos EUA e na Europa, e até hoje está enraizado na cultura dessas sociedades. Já os Jogos Olímpicos modernos datam de 1896, mas o hipismo só começou a fazer parte da agenda em 1912. Vale ressaltar que a FEI (Federação Equestre Internacional), a qual padronizou as regras internacionais do esporte, só surgiu em 1921. No Quadro 1 estão listados os principais eventos nacionais e internacionais de salto. São eventos que geram negócios em atividades “antes da porteira” (indústrias de medicamentos e de rações, por exemplo), “dentro da porteira” (treinadores e veterinários, por exemplo) e “depois da porteira” (seguros e mídias, por exemplo), sendo importantes impulsionadores da atividade equestre.
O número de eventos internacionais ligados ao salto tem crescido tanto no Brasil como no exterior
Quadro 1. Principais eventos nacionais e internacionais de salto Eventos Nacionais
Eventos Internacionais
CSN2 Torneio de Verão – CHSA
Olympic Games (Jogos Olímpicos)
CSN Atlântida Beach Jumping
Jogos Pan-Americanos
CSN Summer Tour
Global Champions Tour - Longines Global Champions Tour
Circuito BH - CHSA
Concurso de Salto Internacional 5* de s´Hertogenbosch
Circuito CBH
Jogos Pan-Americanos
CSN Agromen
Athina Onassis Horse Show
Campeonato Brasileiro Sênior Top
Rolex Grand Slam of Show Jumping
Campeonato Brasileiro de Master
Winter Equestrian Festival
Campeonato Brasileiro de Amazona Top
Standard Show
Campeonato Brasileiro de Saltos para Jovens Cavaleiros
FEI World Equestrian Games
Copa São Paulo
World Championship
CSN Copa JK de Hipismo
FEI World Cup Final
CSN – Derby Cidade de São Paulo
World Master Final
Campeonato Brasileiro de Amadores
Para-Equestrian Games World Challenge Final
A harmonia entre cavaleiro e montaria faz a beleza do salto
No Quadro 2 é apresentado o desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Equestres Mundiais ao longo dos anos. Observa-se que o Brasil obteve resultados expressivos em diversas ocasiões, inclusive medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2004. Animal Business-Brasil_41
Quadro 2. Desempenhos do Brasil nos Jogos Olímpicos e nos Jogos Equestres Mundiais
Jogos Equestres Mundiais
Jogos Olímpicos
Evento
Ano
Local
Desempenho
1948
Londres Inglaterra
Primeira Olimpíada em que o Brasil participou. Equipe formada somente por militares
1952
Helsinque Finlândia
O Brasil registrou um ótimo resultado: 4º lugar no Individual e 4º por equipe.
1956
Estocolmo Suécia
O Brasil acabou em 10º por equipes.
1960
Roma Itália
–
1964
Tóquio Japão
Nelson Pessoa Filho terminou empatado em 5º lugar.
1968
Cidade do México México
O Brasil obteve a 7ª colocação. Na disputa individual, terminou em 12º lugar.
1972
Munique Alemanha
–
1980
Moscou Rússia
O Brasil não foi representado.
1984
Los Angeles Estados Unidos
A equipe ficou em 10º lugar.
1988
Seul Coréia do Sul
8ª colocação por equipe.
1992
Barcelona Espanha
Brasil conquistou o 10º lugar por equipe.
1996
Atlanta Estados Unidos
Conquista do Bronze por equipes e 7º lugar no individual.
2000
Sydney Austrália
O Brasil conquistou sua segunda medalha de Bronze por equipe e na disputa individual ficou em 4º lugar.
2004
Atenas Grécia
A primeira medalha olímpica individual. A equipe ficou em 10º lugar.
2008
Hong Kong China
A equipe foi a 10ª colocada e foi obtido 9º no individual.
1990
Estocolmo Suécia
Equipe classificada em 8º lugar e 12º lugar no individual.
1994
Haia Holanda
4ª colocação por equipe e 5º lugar no individual.
1998
Roma Itália
A equipe que ficou em 5º lugar. Conquista ouro no individual.
2002
Jerez de La Frontera Espanha
O Brasil ficou em 9º lugar por equipe.
2006
Aachen Alemanha
O time terminou em 10º lugar e no individual obteve o 13º lugar.
2010
Lexington Estados Unidos
Equipe terminou em 4ª na colocação e no individual ficou em 4º lugar.
2014
Normandia França
–
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O número de eventos internacionais ligados ao salto tem crescido tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Conforme pode ser observado na Figura 1, nos últimos dez anos o número de eventos internacionais no Brasil triplicou. Figura 1. Evolução do número de eventos internacionais de salto. 800
14
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2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 Mundo
0
Brasil
Fonte: FEI (2015)
A raça Brasileira de Hipismo A Associação Brasileira de Criadores de Cavalo de Hipismo - ABCCH foi fundada em 1977
com o objetivo de criar e desenvolver no Brasil uma raça de cavalos de boa estrutura, conformação e com aptidão para os esportes hípicos. A ABCCH teve como sócios criadores e fundadores: Enio Monte (Haras Itapuã, vide Box 1), Angelo L. Zaparolli, Donald Noble Marshal, Gabriel Penteado de Moraes, João de Moraes Barros, José Júlio Coutinho e Luiz Fernando Cirne Lima - com a ajuda do Dr. Pedro Gonzalez (na época, presidente da Comissão de Coordenação e Criação do Cavalo Nacional) e Dr. João Nelson Frota Junior. O produto desse trabalho é o cavalo BH, que além dos esportes hípicos como salto e adestramento - também atende às exigências e necessidades da Polícia Militar. Dentre as Raças Formadoras, com origens principalmente na Alemanha, França e Bélgica, estão o hanoveriano, o westfalen, o holsteiner, o puro sangue inglês e trakehner. Para atender às exigências do cavalo de salto, a raça foi sendo conformada através da seleção e cruzamento de animais que apresentassem altura, estrutura óssea e andadura adequadas. Os garanhões importados ou nacionais - e as éguas brasileiras que iniciaram os cruzamentos tinham aptidão reconhecida não só para o salto, mas também para
Haras Itapuã O Haras Itapuã fica na região de Avaré – SP, tem 1200 ha e é pioneiro na criação de cavalos BH (Brasileiro de Hipismo); também cria cavalos Andaluz. Seu proprietário é Enio Monte, idealizador do cavalo BH. Enio diz ter iniciado a criação dessa raça porque no Brasil não havia cavalos apropriados para o esporte hípico, usava-se refugos do jockey ou então se importava da Argentina, Uruguai e Chile. A criação do BH foi iniciada com a importação de três garanhões e trinta éguas Anglo Argentinas das melhores linhagens de salto selecionadas na Argentina e, posteriormente, dez garanhões das raças Trakehner,Hanoveriana, Holsteiner e Oldenburger e duas éguas ,aprovados para reprodução na Alemanha, e mais duas éguas Anglo Trakehners da Coudelaria Paulista de Colina e mais algumas éguas campeãs de salto aposentadas nas hípicas de São Paulo. O Haras Itapuã tem uma linhagem de alto potencial genético e sua criação se dá total-
mente a campo, conforme o Sistema Brasileiro de Produção de Equinos (SBPE) preconizado por Losito. Lá se realiza doma racional e treinamento natural, a fim de dar aos potros autoconfiança, musculatura, flexibilização e retidão. Todos os animais criados no haras são vendidos e muitos se destacaram no salto (como Ipiranga Itapuã montado por Doda, Alpes Itapuã montado por Luis Felipe de Azevedo e Marcelo Blessman), adestramento (Imirim e Jacarei Itapuã montados por Silvia Boher) e CCE (Eden Itapuã montado por Serguei Foffanov). Entre 1990 e 1995 o Haras Itapuã exportou dezoito cavalos para EUA, Argentina, Colômbia, França, Espanha, Portugal e África do Sul. Daí em diante o Haras Itapuã passou a vender toda sua produção anual de cavalos novos domados com adestramento básico diretamente no Haras, sem fazer reservas. Animal Business-Brasil_43
Roberto Gregori Jr
Figura 2. Novos talentos brasileiros no esporte equestre: David Rittner Gregori
o adestramento, CCE e polo. Atualmente, o cavalo BH faz parte do World Breeding Federation of Sport Horses, a entidade internacional que reúne as associações de raças de esportes hípicos. O cavalo BH pode ser novo comparado a outras raças, mas já vem fazendo nome em grandes títulos: o bronze da Equipe Brasileira de Hipismo nas Olimpíadas de Atlanta (1996) e Sydney (2000) e 3 medalhas de ouro por equipe em Jogos Pan-Americanos. Um cavalo novo atinge preços que variam de US$10.000 a US$ 40.000. No entanto, animais de boa linhagem, após empistados e com desempenho em nível de Jogos Olímpicos, atingem preços de US$ 500.000 até US$1.000.000.
Atletas brasileiros de destaque De acordo com a Federação Equestre Internacional (FEI) o Brasil contava, em 31 de maio de 2015, com 68 cavaleiros no seu principal ran-
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Os animais de boa linhagem, com desempenho em nível de jogos olímpicos, atingem preços entre U$500 mil e US$ 1 milhão. king, o Longines, (considerando resultados obtidos entre junho de 2014 e maio de 2015). Entre os 100 primeiros lugares, havia quatro cavaleiros brasileiros: Marlon Modolo Zanotelli (1.845 pontos, em 35º lugar), Doda de Miranda (1.510 pontos, em 55º lugar), Pedro Veniss (1.403 pontos,
“Tal pai, tal filho” Nelson Pessoa, o “Neco”, carioca nascido em 1935, cavaleiro e treinador de hipismo, pai do também cavaleiro Rodrigo Pessoa, foi precursor do movimento de ida dos cavaleiros brasileiros para a Europa e um dos primeiros civis a competir no salto quando esta modalidade era dominada pelos militares. Após mais de uma década de experiência no Brasil, tendo já estreado nos Jogos Olímpicos na edição de Estocolmo, na Suécia, foi nos anos 60 para a França. No Campeonato da Europa, foi campeão em 1966 e vice em 1967. Neco é tetracampeão Brasileiro, tem duas medalhas de prata da Copa do Mundo de Hipismo (1984 e 1991), medalha de ouro individual e prata por equipe nos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg (1967). Em 1992, nas Olimpíadas de Barcelona, Neco, aos 56 anos, competiu ao lado do filho Rodrigo Pessoa, então com 19 anos – os dois fizeram história por serem o cavaleiro mais velho e mais jovem daqueles Jogos.
Rodrigo herdou o talento do pai e deu continuidade ao nome Pessoa no hipismo mundial: bronze por equipes nas Olimpíadas de Atlanta (1996) e de Sidney (2000), e campeão olímpico em Atenas (2004) – os dois últimos títulos com Baloubet du Rouet. Além disso, Rodrigo Pessoa foi campeão mundial em Roma, em 1998, e tricampeão da Copa do Mundo de Hipismo (1998, 1999 e 2000) novamente com Baloubet du Rouet – o único cavalo a ganhar três vezes esse campeonato, com o mesmo cavaleiro. Quanto aos Jogos Pan-Americanos, em 1995 conquistou ouro com a equipe na Argentina, em 2007 conquistou o ouro por equipe e a prata individual no Rio de Janeiro, e em 2011 conquistou a prata por equipes, em Guadalajara. Atualmente, Neco está tentando criar o “novo Baloubet”, com grandes esperanças no filho do garanhão que tantos títulos lhes trouxe: Jiminy Cricket - quem sabe não será outra história de “tal pai, tal filho”?
em 64º lugar) e Rodrigo Pessoa (1.224 pontos, em 97º lugar). O líder do ranking era Scott Brash, da Grã-Bretanha, com 2.979 pontos. A posição de destaque dos cavaleiros se reflete também em maiores oportunidades de negócios. Por exemplo, Rodrigo Pessoa (vide Box 2) empresta seu nome (e recebe royalties para tanto) a fabricantes de sela na Inglaterra e Argentina. Além dos consagrados cavaleiros citados no parágrafo anterior, chama atenção o surgimento de novos talentos, como Stephan de Freitas Barcha e David Rittner Gregori (vide Figura 2).
por cavalo, uma importante receita imediata), seria interessante a busca de resultados não tão imediatos. A forte entrada de cavalos, principalmente europeus, tem desestimulado criadores sem representar ganhos para o esporte. A imposição de limites mínimos para permissão de importação (por exemplo, autorizar importação apenas de animais de alta categoria, para provas de no mínimo 1,40 m), seria saudável para o desenvolvimento do esporte brasileiro e dos negócios a ele associados. Adicionalmente, diante do crescimento do esporte, tanto em quantidade de eventos quanto na qualidade de seus talentos, há oportunidades, ainda pouco exploradas, de negócios, especialmente patrocínios para atletas e eventos. É importante notar que, a exemplo do automobilismo, o potencial de negócios vai além dos praticantes. Itens de vestuário, acessórios, joias, perfumes, entre outros itens, compõem o potencial de mercado para admiradores do esporte equestre.
Desafios e oportunidades de negócios Apesar do Brasil produzir animais de reconhecida qualidade, das melhores linhagens mundiais, ainda somos um país vulnerável no mercado mundial. Apesar da atrativa receita associada com importações (um parecer de importação, por exemplo, custa em média R$ 3.700
Animal Business-Brasil_45
Biossegurança no Controle da Febre Aftosa Por:
Sílvio Valle, MV, pesquisador da Fiocruz
Enfermidades em animais de produção criam problemas de Biossegurança e Biosseguridade, impactam a produção sustentável e a produtividade, desequilibram o comércio e as economias locais, regionais e mundiais.
A
Febre Aftosa (FA) afeta a cadeia produtiva nacional do agronegócio, desestabilizando produtores, empresários e trabalhadores do campo, além de incidir negativamente sobre as atividades de exportação em decorrência das barreiras sanitárias impostas internacionalmente, prejudicando produtores e consumidores. Segundo a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), os países e regiões podem ser classificados como Livres da FA de acordo com os seguintes status: País Livre de Febre Aftosa sem Vacinação, País Livre de Febre Aftosa com Vacinação, Zona Livre de Febre Aftosa sem Vacinação, Zona Livre de Febre Aftosa com Vacinação. O vírus da FA é altamente contagioso, manipulado em NB IV de Biossegurança, preconizado pela Instrução Normativa Nº 5/2012 do Ministério da Agricultura.
Manipulação do vírus Segundo o Art. 3º, “O vírus da febre aftosa somente poderá ser manipulado em instala-
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ções que atendam às condições de biossegurança apresentadas nesta Instrução Normativa e baseadas no Nível de BIOSSEGURANÇA 4 - NB 4 OIE - recomendado pela Organização Mundial de Saúde Animal”. A Biossegurança é o conjunto de saberes e ações de prevenção, minimização ou eliminação de riscos inerentes às atividades de pesquisa, produção, ensino, desenvolvimento tecnológico e prestação de serviços, as quais possam comprometer a saúde do homem, dos animais e do meio ambiente. Já a Biosseguridade é o conjunto de medidas, procedimentos, legislações e normativas que visam proporcionar aos indivíduos e à sociedade o maior grau de Biossegurança, considerando os aspectos científicos, econômicos, sociais, culturais e morais. Surtos de FA já ocorreram por falha na segurança biológica em laboratórios. Por exemplo, em 2007, o comitê de segurança e saúde animal da Grã-Bretanha identificou falhas no manuseio de efluentes líquidos proveniente das instalações laboratoriais. O Brasil lidera o ranking de maior exportador de carne bovina do mundo, seu rebanho conta com 200 milhões de cabeças. A preocupação com a segurança dos alimentos é de importância crescente, ganhando espaço no comércio multilateral, ora pela necessidade de garantir que os alimentos sejam seguros, ora para afastar a aplicação de barreiras não tarifárias. Medidas sanitárias visam proteger a saúde humana e animal dos riscos oriundos de toxinas, agrotóxicos e organismos causadores de doenças. As restrições à importação de carne, por causa de doenças como FA e gripe do frango e suína, são exemplos de medidas sanitárias que
A Biossegurança é um conjunto de saberes e ações de prevenção, minimização ou eliminação de riscos que possam comprometer a saúde do homem. podem comprometer o papel que o país desempenha no cenário mundial. Constatamos que ocorreram avanços nos procedimentos de Biossegurança relacionados ao agente etiológico da FA, impulsionados pelo desenvolvimento científico, pela implantação de instalações laboratoriais harmonizadas com as normas internacionais e da formação de pessoal qualificado. A Instrução Normativa Nº 5/2012 é um exemplo positivo de instrumento normativo preocupado em eliminar ou reduzir ao máximo, falhas humanas na manipulação do vírus, pois foi elaborada com a melhor técnica aplicável na ma-
nipulação do vírus da FA, segundo diretrizes internacionais. Considerada um dos maiores avanços normativos de Biossegurança. A Instrução Normativa Nº4/2015 do Ministério da Agricultura contradiz os preceitos dos demais artigos da Instrução Normativa Nº 5/2012, sendo um retrocesso nos aspectos de Biossegurança na produção de vacinas. A análise das alterações impostas pela Instrução Normativa Nº 4/2015, orientada pela noção de biosseguridade, aponta sua total inconsistência e demonstra que sua adoção é uma temeridade. Seguir a Instrução Normativa Nº 4/2015 representa um retrocesso do que já avançamos em competência técnica nacional na construção, manutenção e operação de laboratórios com alta confiabilidade relativa à segurança biológica. Vivemos uma insegurança política e econômica e com a adoção da Instrução Normativa Nº 4/2015, incorporaremos uma vulnerabilidade biológica na sanidade animal. A transmissão de FA de animal para animal já não ocorre há algum tempo. Assim, o risco iminente é que novas contaminações venham, basicamente, de países fronteiriços ou pela contaminação na manipulação do vírus em laboratórios.
Peter Ilicciev - Fiocruz
Sílvio Valle
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Rio Grande do Sul tem quase a metade dos haras de cavalos de corrida do Brasil, mas o Rio concentra a maior parte dos Puro Sangue Inglês Flávio Obino Filho - Presidente da Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Estudo, ainda inédito, elaborado pelo Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ, por solicitação da Associação Brasileira dos Criadores e Proprietários do Cavalo de Corrida - ABCPCC, conclui que a tropa de animais da raça PSI no país é de aproximadamente 15.000. Estes animais estão divididos em dois grandes grupos. O primeiro contempla animais alojados em haras, onde predominam matrizes, reprodutores e potros de até dois anos. O segundo reúne os animais em treinamento que ficam alojados nos próprios hipódromos ou em centros próximos aos locais de competição. 48_Animal Business-Brasil
C
onsiderando apenas os animais alojados em haras, o Rio Grande do Sul concentra 44,29% do rebanho nacional, sendo inquestionavelmente o principal polo de criação da raça no país. Em segundo lugar, vem o Paraná com 26,19%, tendo ultrapassado São Paulo, que agora concentra 18,92% dos animais chamados de reprodução. Chama a atenção que existe atualmente uma grande concentração da atividade em poucos estabelecimentos criacionais, sendo certo que 40% do plantel de animais de reprodução está reunido nos 25 maiores haras do país (cerca de 5% do total de criadores). O número de éguas cobertas por ano gira em Peter Wright
Por:
torno de 3.500, resultando em uma produção nacional média de 2.600 exemplares.
Cavalos em treinamento Esta distribuição é completamente diferente quando consideramos apenas os animais em treinamento. Como o principal hipódromo nacional é o do Jockey Club Brasileiro (Hipódromo da Gávea), o Rio de Janeiro é quem possui o maior rebanho de cavalos em treinamento (em torno de 65%). Em que pese o crescimento da população alojada em Porto Alegre, resultante dos números crescentes da atividade no Jockey Club do Rio Grande do Sul, e da diminuição do número de cavalos treinados nos Hipódromos de Cidade Jardim (São Paulo) e Tarumã (Curitiba), reflexo da crise vivida pela atividade no estado, São Paulo ainda é o segundo colocado em número de animais, seguido do Rio Grande do Sul.
Custo de manutenção O custo médio de manutenção de um cavalo de corrida da raça PSI (considerados os alojados em haras ou hipódromos) é de R$ 1.370,00 sendo que a mão de obra responde por 52% deste total e a alimentação por 20%. A movimentação financeira da chamada “indústria do PSI” atinge o montante anual de R$ 790 milhões, gerando 5.400 empregos diretos em um total de 27.300 postos de trabalho. Assim, podemos concluir que cada cavalo PSI responde por uma movimentação financeira anual
Como o principal hipódromo nacional é o Jockey Clube Brasileiro (Hipódromo da Gávea), o Rio de Janeiro concentra o maior rebanho (cerca de 65%) de animais em treinamento. de R$ 52,4 mil, gerando 1,82 postos de trabalho, sendo 0,36 diretos.
Movimentação financeira Mesmo com a desaceleração da atividade turfística nos últimos 25 anos, decorrente da crise dos jockeys clubs, a movimentação financeira ainda é robusta e significativa. Se considerarmos que há aproximadamente vinte anos a nossa tropa era o dobro da atual, podemos afirmar que com políticas públicas adequadas e o incremento das apostas nas corridas de cavalo, poderemos ter, no curto prazo, uma multiplicação por dois dos números da atividade.
Redução da tributação Falando em crise dos jockeys clubs e em políticas públicas de enfrentamento desta, merecem destaque as alterações legislativas patrocinadas pela Câmara de Equideocultura e pelo
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O Ministério da Agricultura, com a ativa participação dos criadores de PSI e dos jóqueis clubes, está estabelecendo um novo marco legal valorizando a realização de corridas pelas entidades turfísticas, em detrimento do chamado "simulcasting nacional".
O Puro Sangue Inglês (PSI) é o Fórmula Um das raças de cavalo
MAPA produzidas nos últimos anos e que diminuíram em muito a tributação incidente sobre as apostas e permitiram negociações com diminuição de valores de dívidas históricas das entidades turfísticas. O Ministério da Agricultura, com ativa participação dos criadores do PSI e dos jockeys clubs, está estabelecendo um novo marco legal para a atividade, valorizando a realização de corridas pelas entidades turfísticas (proteção ao criador, proprietário e profissionais do turfe) em detrimento do chamado simulcasting nacional (apostas em corridas realizadas por outros hipódromos); criando condições para que sejam auferidas receitas extras com a captação de apostas em corridas realizadas no exterior e a venda das nossas corridas para apostas internacionais; estabelecendo regras que permitem o acesso de todas as entidades turísticas a uma rede nacional de agências de apostas; regulamentando as apostas remotas (internet e telefone); desburocratizando o processo de abertura de agências; e incorporando o conceito de captação de apostas por terminais de autoatendimento.
Gestão eficiente Cabe agora aos jockeys cumprir a lição de casa. Gestão eficiente é a palavra de ordem. O Jockey Club do Rio Grande do Sul é um exemplo a ser seguido. Nos últimos doze meses, enquanto o Jockey Club de São Paulo definhou e o Jockey Club Brasileiro permaneceu nos mesmos níveis de apostas e de páreos realizados, a entidade que administra o Hipódromo do Cristal em Porto Alegre aumentou em 10% o número de 50_Animal Business-Brasil
páreos realizados e o volume de apostas cresceu impressionantes 40% (quarenta por cento). As corridas do Cristal são hoje as únicas com visibilidade internacional no que se refere às apostas. Em todo o Uruguai, no Panamá e futuramente em Nova York, já se aposta nas corridas gaúchas que são transmitidas em tempo real para estes países. Outra novidade gaúcha é que o prêmio para proprietários e criadores é pago no dia imediatamente posterior ao de realização da corrida. Dá para acreditar na revitalização do turfe nacional. A receita gaúcha é simples: estabilidade administrativa. Enquanto nas outras três principais entidades, grupos políticos se revezam na administração, geralmente destruindo o pouco que os antecessores construíram, o JCRGS é gerido, há dezessete anos, por um mesmo grupo de turfistas e criadores. Os resultados aparecem.
Melhora da qualidade Outro aspecto que merece destaque é a melhora da qualidade do cavalo PSI nacional nos últimos vinte anos, ou seja, no mesmo período em que a atividade, em nascimentos anuais, diminuiu pela metade, a qualidade deu um grande salto. Sobreviveram os mais eficientes e isto refletiu no aumento da qualidade. É este diferencial de qualidade que o comprador busca. Mesmo em crise, os valores médios dos portos mais caros nos leilões têm crescido. São vendidos entre R$ 80 e 150 mil. Reprodutoras com vitória em provas de grupo ou produtoras de animais grupados, ou seja, aquelas que venceram
provas de seleção ou produziram cavalos nestas condições, também alcançam preços acima de R$ 100 mil. Coberturas de garanhões de ponta são comercializadas por R$ 20 mil reais.
Importação por temporada Nos últimos anos, criadores brasileiros trouxeram em regime de schuttling (como as temporadas de cobertura nos dois hemisférios são diferentes, é possível importar garanhões por temporada que depois retornam ao seu país de origem) reprodutores de nível superior, verdadeiros raçadores em seus ambientes, que emprestam seus serviços ao rebanho nacional. Estes garanhões têm sido responsáveis pela melhora dos nossos produtos. Nos últimos anos, cavalos da qualidade de Manduro, Sulamani, Holly Roman Emperor, Roderic O’Connor, Soldier Of Fortune, Rock of Gibraltar, Macho Uno, Point Given, Shanghai Bobby e Discreet Cat serviram no Brasil e retornaram aos seus países de origem. Seus descendentes certamente farão diferença na nossa criação. São cavalos com coberturas negociadas na Europa e América em média por U$ 40 mil, que servem no Brasil com coberturas fixadas em preços que correspondem a 1/5 do valor internacional.
Mercado O mercado dos melhores continua aquecido no país. A sindicalização por quase dois milhões de reais do garanhão japonês Agnes Gold demonstra que o mercado de qualidade permanece estável. No outro extremo, reprodutoras médias acabam não sendo incorporadas aos haras de ponta e seu valor de mercado é praticamente zero. Potros que não apresentam diferencial de qualidade também não têm mercado e muitas vezes são vendidos por valores que não cobrem os investimentos do criador - o valor de R$ 18 mil pode ser considerado como o custo de criação de um cavalo PSI. A aproximação de qualidade e preço entre os que estão na ponta e na base da cadeia produtiva do PSI é um desafio. A criação de cavalo no Brasil voltada para produtos diferenciados é economicamente viável, mas esta elitização tem tirado mercado dos médios e pequenos criadores que não têm acesso aos reprodutores importados e dependem do proprietário avulso para sobreviverem. Como estes proprietários têm poucas perspectivas de ganhos com a crise no turfe e a competição é cada vez mais acirrada com os melhores, estes
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Pasto da melhor qualidade é importante para produzir campeões
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Peter Wright
também estão diminuindo. Neste cenário, 2015 tem sido marcado pelo encerramento da atividade de haras importantes que dependiam do turfe local e dos pequenos proprietários. Com o turfe estagnado no Rio de Janeiro e claudicante em São Paulo, os criadores que dependem dos pequenos proprietários estão desaparecendo.
A mais alta premiação do mundo Na ponta de cima, os cavalos brasileiros continuam conquistando o mundo. Glória de Campeão, criado no Paraná pelo Haras Valente, venceu a Dubai World Cup – prova com a mais alta premiação no mundo – e a Singapore International Cup, faturando mais de U$ 9.400.000 em prêmios. Está de volta ao Brasil como garanhão e em sua primeira fornada já produziu uma líder de geração. Os craques nacionais Einstein (criado por Fazendas Mondesir/RS) e Leroidesanimaux (criado pelo Haras Bagé do Sul/RS), depois de empilharem triunfos em provas de Grupo na América, são agora respeitáveis reprodutores no hemisfério norte. Mais recentemente criamos um craque como Bal a Bali, dos campos do principal haras do país, o Santa Maria de Araras/RS, que venceu a tríplice coroa do JCB e vendido por aproximadamente U$ 2 milhões, logo na sua estreia, nos Estados Unidos, venceu prova de grupo. 52_Animal Business-Brasil
Exportação Continuamos exportando bastante para o Uruguai que tem um turfe revitalizado. Ano a ano, são os cavalos brasileiros que vencem as principais provas do país. Na temporada de 2015, os nacionais Hielo e Whoppe Maker foram os grandes destaques naquele país. Na Argentina, os triunfos brasileiros também se acumularam. Mesmo criando menos do que a metade do número de PSIs produzidos na Argentina, podemos hoje afirmar que a nossa qualidade é melhor que a do país vizinho. A exportação dos nossos craques é uma realidade, mas ainda muito tímida comparada com os resultados internacionais que nossos cavalos têm obtido.
Realidades distintas O turfe e a criação do PSI no Brasil apresentam realidades distintas. Temos resultados e qualidade de primeiro mundo na elite e um cenário desolador no que concerne à grande maioria dos criadores e nos hipódromos. A retomada da atividade de forma mais democrática depende de eficiente gestão nas entidades turfísticas, de apoio governamental e de políticas de fomento. Acredito que temos as condições para ganhar este jogo.
MORMO, uma grave zoonose reemergente Edino Camoleze, Cel. Veterinário, RR 1
Doença altamente infectocontagiosa que, durante o séc. XIX e início do séc. XX, causava pesadas perdas animais e humanas, principalmente nos Exércitos da América do Sul, que tinham suas forças militares calcadas na cavalaria e no transporte, que, em geral, nas cidades era feito em bondes, carroças e charretes, movidos por cavalos e burros.
O
mormo ou lamparão, como era conhecido, que grassava nas estrebarias e cocheiras das cidades e quartéis, foi diagnosticado pela primeira vez no Continente Americano pelo pesquisador Capitão Médico João Moniz Barreto de Aragão, no Laboratório de Microscopia Clínica e Bacteriologia do Exército, em Benfica-RJ, atual Instituto de Biologia do
Arquivo
Por:
Mormo: Forma Pulmonar. Corrimento mucopurulento nasal.
Exército - IBEx, após investigação científica intensa e exaustivos testes e exames laboratoriais. Ressalva-se que o Laboratório do Exército fora inaugurado em 1896, sob orientação técnica e científica do Instituto Pasteur, de Paris, para pesquisar as doenças que acometiam os animais com elevados índices de morbidade e mortalidade e transmitidas aos militares, reduzindo os efetivos das tropas. Desta forma, entre os anos de 1904 e 1910, o então Capitão Moniz de Aragão dedicou-se à bacteriologia e patologia dos animais domésticos, destacando-se seus estudos sobre o Mormo no homem e a Febre Aftosa Animal Business-Brasil_53
no município de Cantagalo (RJ), sendo que esse último estudo foi uma incumbência recebida da Academia Nacional de Medicina. O prodigioso feito científico alcançado por Moniz de Aragão, inédito em isolar e purificar o bacilo Malleomyces mallei, à época, para produzir um PPD-maleína e diagnosticar o mormo em equídeos, ainda na fase aguda, quando a bacteriologia era incipiente no Brasil, despertou atenção da comunidade científica internacional, deu notoriedade a Moniz de Aragão e levou o Laboratório do Exército a ser considerado entre os melhores do mundo.
Epidemiologia Com uma cadeia epidemiológica variada que inclui animais domésticos e selvagens, hospedeiros e reservatórios, a infecção e a transmissão podem ocorrer naturalmente entre equinos, asininos e muares e ocasionalmente no cão, gato e cabra; entre os selvagens, o furão, o rato, o camundongo e a toupeira, são os mais susceptíveis. O agente etiológico da doença é uma bactéria gram-negativa, Burkholderia mallei, 1 isolada por Wilhelm Schütz e Friedrich Löffler, 1882, de fígado e baço de cavalos contaminados. A transmissão pode ser feita pelo contato direto com animais contaminados e pelo contágio, indiretamente, de fluídos corporais dos animais doentes, como: suor, pús, urina, secreção nasal e fezes. A água, alimentos, cocheiras e arreios contaminados são considerados fontes de contágio. O reservatório do mormo são animais portadores da doença nas formas latente e crônica não diagnosticadas.
Arquivo
Mormo: Exame clínico da cavidade nasal ulcerada.
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Sintomas • Em humanos O homem infecta-se pelo contato com animais doentes. A transmissão ocorre por meio de pequenas feridas e abrasões na pele, podendo também ocorrer por ingestão ou inalação. Os sinais clínicos observados são: febre, pústulas cutâneas, edema de septo nasal, pneumonia e abscesso em diversas partes do corpo. É uma doença ocupacional que pode ocorrer em tratadores, veterinários e trabalhadores rurais. No ser humano, podem ocorrer quatro formas da doença: pulmonar, generalizada ou septicêmica, localizada e crônica. Os sinais clínicos dependem da forma de manifestação da doença, mas de maneira geral, são semelhantes aos apresentados pelos animais. Quando manifestada na forma pulmonar ou generalizada é fatal em 95% dos casos. O tratamento em humanos é feito à base de uma combinação de antibióticos e pode durar cerca de 6 meses. O período de incubação em humanos varia de poucos dias a meses, porém, usualmente é de um a 14 dias; no entanto, foram descritos casos de infecções latentes com manifestação da doença após muitos anos. • Em animais O Mormo pode manifestar-se logo em seguida à infecção ou tornar-se latente. Em equídeos os sinais são classificados em três categorias: nasal, pulmonar e cutânea. Na forma nasal, úlceras profundas e nódulos ocorrem dentro das passagens nasais, resultando numa espessa descarga purulenta de cor amarelada. Essa descarga pode ser unilateral ou bilateral e tornar-se sanguinolenta. Pode ocorrer a perfuração nasal. Os nódulos linfáticos submaxilares podem tornar-se aumentados e endurecidos; muitos podem supurar e drenar. As úlceras cicatrizadas adquirem a forma estrelada. Na forma pulmonar, são encontrados nódulos e abscessos nos pulmões. Algumas infecções são inaparentes, outras variam de ligeira dispneia à doença respiratória grave, incluindo tosse, episódios febris e debilitação progressiva. Podem ser observadas diarreia e poliúria. As descargas dos abscessos pulmonares po-
Farina
Desinfecção de arreios, equipamentos e materiais usados na cavalaria. SEAP-RS.
FC - Prova sorológica oficial recomendada pelo MAPA para o diagnóstico do Mormo.
dem disseminar a infecção para o trato respiratório superior. Na forma cutânea, a pele contém nódulos que se rompem e ulceram, descarregando um exsudato oleoso-purulento de coloração amarelada. Os vasos linfáticos regionais e os linfonodos tornam-se aumentados de volume. Os vasos linfáticos são preenchidos com um exsudato purulento. Além disso, pode ser encontrado inchaço nas articulações e edema dolorido dos membros locomotores. A orquite(inflamação dos testículos) é uma manifestação comum nos machos. Os casos clínicos são uma combinação dessas formas e podem ocorrer como uma doença de manifestação aguda, crônica ou latente. A doença aguda é mais comum em jumentos, enquanto a forma crônica ou latente é mais frequente em cavalos. Os sinais pulmonares e nasais são usualmente observados na forma aguda, incluindo sintomas como febre alta, diminuição do apetite, tosse, dispneia progressiva, descarga nasal, ulcerações e formação de nódulos nas cavidades nasais.
Crostas sanguinolentas podem ser encontradas nas narinas e podem ocorrer descargas oculares purulentas. Os linfonodos submaxilares usualmente estão aumentados de volume e são doloridos. Sinais neurológicos também foram relatados em cavalos experimentalmente infectados, provavelmente como resultado de infecções bacterianas secundárias, comprometendo a barreira hematoencefálica.Os animais acometidos de forma aguda usualmente morrem em poucos dias ou em semanas. A forma crônica desenvolve-se insidiosamente, subclínica, e resulta em enfraquecimento progressivo do animal. Os sintomas podem incluir tosse, dispneia, febre intermitente, aumento dos nódulos linfáticos, descarga nasal crônica, ulcerações, nódulos e cicatrizes estreladas na mucosa nasal. A pele e os vasos linfáticos também podem estar envolvidos. A forma crônica é lentamente progressiva e frequentemente fatal; entretanto, os animais acometidos podem viver por anos antes o desfecho fatal. Na forma latente poucos são os sinais observados, a não ser uma descarga nasal e dificuldade ocasional da respiração. As lesões são encontradas somente nos pulmões.
Diagnóstico de laboratório O Mormo, em equídeos, pode ser confundido com outras doenças como: gripe equina, influenza, garrotilho e linfangites. Afora o diagnóstico clínico diferencial feito por médicos veterinários, são necessários exames laboratoriais para confirmação da doença, sendo recomendados no Brasil pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, conforme a Instrução Normativa Nº 24, de cinco de abril 2004, (Normas para Controle e Erradicação do Mormo), as provas de Fixação de Complemento e PPD-maleina. • Prova de Fixação de Complemento - FC É um teste sorológico em que se utiliza um antígeno purificado e estabilizado da bactéria Burkholderia mallei que vai reagir com anticorpos do animal doente apresentando uma reação antígeno-anticorpo positiva ou negativa. O teste tem como via clássica a fixação do complemento que se liga ao sítio ativo formado pelo com-
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Mapa. Áreas do Território Nacional com e sem ocorrência de Mormo 2014
RR 01
AP
AM
PA 06
CE 10
MA PI
AC
RO 08
TO BA 07
MT 18
RN 05 10 PB 95 PE 01 AL 01 SE
DF
GO 01
MG 07
MS SP 26
PR 02
Estados com ocorrência de Mormo Estados sem ocorrência de Mormo
04
ES
RJ
SC RS
plexo antígeno-anticorpo. Interpretação: Negativo, quando ocorre a hemólise e liberação de material intracelular. Positivo quando não ocorre hemólise das hemácias. • Derivado Protéico Purificado - PPD Maleína O PPD - maleina é uma solução aquosa contendo frações proteicas de B. mallei tratada pelo calor, não tóxica para animais sadios, que aplicada em cavalos infectados determina reação de hipersensibilidade local e sistêmica, mas que pode produzir resultados não conclusivos em casos clínicos avançados em cavalos e casos 56_Animal Business-Brasil
agudos em jumentos e mulas. O teste deve ser realizado através da aplicação do PPD-maleina, na dose de 0.1ml por via intradérmica, na pálpebra inferior do olho do animal, e o procedimento da leitura da reação após 48 horas após a aplicação. Interpretação: o resultado é considerado Positivo quando houver marcante edema da pálpebra, lacrimejamento, fotossensibilidade, podendo ocorrer descarga ocular purulenta, geralmente acompanhada de aumento da temperatura corporal. O teste é considerado Negativo, quando não ocorre reação ou discreta reação no local da inoculação.
Ocorrência do Mormo no Mundo e no Brasil • No Mundo O Mormo é conhecido no planeta desde a antiguidade, havendo relatos de Hipócrates e Aristóteles descrevendo casos de doenças em cavalos na Grécia, onde Aristóteles denominou-a de Mellis, passando a Malleus na versão latina. Na Idade Média, difundiu-se em muitos países, em virtude das inúmeras guerras, continuando a dispersão durante a 2ª Grande Guerra Mundial. No início do séc. XX, o Mormo era largamente distribuído nos Estados Unidos, Europa e Canadá, diminuindo sua difusão após a motorização do transporte em substituição ao transporte animal. O Mormo foi erradicado da América do Norte e da maioria dos países europeus, na década de 1950, sendo enzoótica atualmente em alguns países africanos, asiáticos, no Oriente Médio e nas América Central e do Sul. Atualmente, o Mormo continua ocorrendo no Brasil, China, Irã, Iraque, Índia, Paquistão, Turquia e Emirados Árabes Unidos. A doença é considerada endêmica em várias regiões do Oriente Médio, Ásia, África e América do Sul. • No Brasil A doença foi descrita pela primeira vez em 1811, possivelmente com importação de animais vindo da Europa. Em 1968, foi considerada erradicada. De 1968 a 2000, não houve registro da doença no território nacional. Em 2000, foram registrados casos de Mormo nos estados de Pernambuco e Alagoas em cavalos utilizados em trabalhos rurais e em animais que participavam de vaquejadas e cavalgadas na Zona da Mata daqueles estados, evidenciando a reemergência da zoonose. A partir dessa constatação e atuação da Vigilância Sanitária do MAPA, os focos e casos foram aumentando e verificados em outros estados. De acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal – OIE - os casos oficiais registrados no período de 1999-2011, foram mais de 1300, em 12 estados da federação, sendo notadamente nos estados da Região Nordeste e Norte do país. No período de 2011 a 2014, o Mormo tem sido notificado em São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Rio Grande do
O Mormo continua ocorrendo no Brasil, na China, Irã, Iraque, Índia, Paquistão, Turquia e Emirados Árabes Unidos.
Sul, preocupando as autoridades sanitárias brasileira e a Comissão Coordenadora de Criação de Cavalo Nacional - CCCCN.
Prejuízos Econômicos à Equideocultura Nacional O Brasil possui o maior rebanho de equinos na América Latina e o terceiro mundial. Somados aos muares (mulas) e asininos (asnos) são oito milhões de cabeças, movimentando R$ 7,3 bilhões, somente com a produção de cavalos. O rebanho envolve mais de 30 segmentos, distribuídos entre insumos, criação e destinação final e compõe a base do chamado Complexo do Agronegócio Cavalo, responsável pela geração de 3,2 milhões de empregos diretos e indiretos. Quando o assunto é exportação de cavalos vivos, os números são significativos: a expansão alcançou 524% entre 1997 e 2009, passando de US$ 702,8 mil para US$ 4,4 milhões. O Brasil é o oitavo maior exportador de carne equina. Bélgica, Holanda, Itália, Japão e França são os principais importadores da carne, também consumida nos Estados Unidos. A maior população de equinos encontra-se na região Sudeste, seguida das regiões Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Norte. Destaque para o Nordeste, que além de equinos, concentra maior registro de asininos e muares. Usado unicamente como meio de transporte durante muitos anos, os equídeos têm conquistado outras áreas de atuação, com forte tenAnimal Business-Brasil_57
O controle eletrônico de cada a animal com chip implantado por veterinários credenciados pelo Ministério da Agricultura, é uma forma segura de rastreamento.
Health e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-MAPA: Instrução Normativa nº 24, para controle e erradicação do Mormo - Secretaria de Defesa Agropecuária. O controle eletrônico de cada animal com chip implantado por veterinários credenciados pelo MAPA, nos estados e municípios, além de ser uma forma segura de rastreamento e identificação animal, poderá servir como elemento facilitador na confecção da Guia de Transporte Animal-GTA e no controle da sanidade através do registro dos testes de Fixação de Complemento - FC e PPD-maleína, preconizados pelo MAPA.
Bioterrorismo dência para lazer, esportes e até terapia. Uma de suas principais funções, contudo, continua sendo o trabalho diário nas atividades agropecuárias, onde aproximadamente cinco milhões de animais são utilizados, principalmente, para o manejo do gado bovino. A presença do Mormo na equinocultura nacional, sendo considerada endêmica, certamente, além de ser um problema grave de saúde pública causa prejuízos sérios à economia brasileira e compromete toda a cadeia produtiva do agronegócio equídeo.
Prevenção e Controle Em função da curva crescente de casos de Mormo suspeitos e confirmados em mais da metade dos estados da Federação, atingindo todas as regiões geográficas brasileiras, um robusto e rigoroso Programa de Prevenção e Erradicação deve ser instituído pelo MAPA, envolvendo a CCCCN e Associações de Criadores de Cavalo, tipo o SISBOV para bovinos, para identificação e certificação individual de equinos, asininos e muares, para monitorar e rastrear os equídeos em todo o território nacional. O ship eletrônico implantado em cada animal, desde o nascimento e durante toda sua vida, com todas as informações possíveis, pode ser uma ferramenta importante para que sejam cumpridas as determinações e recomendações das medidas de controle e prevenção preconizadas pela World Organization for Animal
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O Carbúnculo como o Mormo, por sua alta contagiosidade, infecciosidade e fácil transmissão por fômites (objetos contaminados), exsudatos e tecidos humanos e animais contaminados, nas formas clínicas cutânea, respiratória e digestiva tem sido cogitado como emprego em bioterrorismo. A União Soviética desenvolveu um programa de larga escala de pesquisa, desenvolvimento, produção, armazenamento e “distribuição” de armas biológicas. A “Biopreparat”, agência governamental que executava o programa, chegou a ter mais de 40.000 funcionários em 60 localidades. Entre outras doenças e agentes infecciosos pesquisados para uso como armas biológicas, estão a Varíola (Orthopoxvirus), o Antraz (Bacillus antracis); a Tularemia (Francisella tularensis), o Mormo (Burkholderia mallei), a Meliloidose (Burkholderia pseudomallei), a Peste (Yersinia pestis), a Brucelose (espécies do gênero Brucella), os Filovírus (Ebola, Marburg) e o Arenavírus (Machupo), a maioria de origem animal.
Quarentenário Atualmente, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento através da Secretaria de Defesa Animal está recolhendo na Estação Quarentenária de Cananeia, EQC-MAPA, São Paulo, todos os animais soro-positivos para estudos avançados, testes laboratoriais e necrópsias, para dotar o Brasil dos melhores recursos técnicos e científicos, afim de controlar e erradicar a doença em todo o território Nacional.
A exportação de carnes processadas e de produtos lácteos melhora o perfil das vendas externas do agronegócio, com aumento no valor agregado dos produtos. Antonio Alvarenga Presidente da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura
A Febre Aftosa afeta a cadeia produtiva nacional do agronegócio, desestabilizando produtores, empresários e trabalhadores do campo, além de incidir negativamente sobre as atividades de exportação em decorrência das barreiras sanitárias impostas internacionalmente. Sílvio Valle Pesquisador da Fiocruz
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É possível falar em surgimento do Direito Agrário a partir do êxodo rural provocado pela Revolução Industrial. Mas é especialmente a partir do término da II Guerra Mundial (19391945) que se pode falar no nascimento dessa especialidade do Direito. Maria Cecília Ladeira de Almeida MSc em Direito Agrário e Diretora da SNASociedade Nacional de Agricultura •••
Os esportes equestres, entre eles o salto, são responsáveis por eventos e competições que movimentam grandes quantias de dinheiro em diversas partes do mundo. Roberto Arruda de Souza Lima PhD, Professor da ESALQ/USP •••
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Considerando-se apenas os animais alojados em haras, o Rio Grande do Sul concentra 44,29% do rebanho nacional de cavalos. Em segundo lugar vem o Paraná, com 26,19%, tendo ultrapassado São Paulo. Flávio Obino Filho Criador de cavalos de corrida e Presidente da Câmara Setorial de Equideocultura do Ministério da Agricultura
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O século XX tornou-se a “Era de Ouro da Nutrição”, quando a maioria das descobertas de nutrientes aconteceu. Alfredo Navarro de Andrade PhD em Nutrição Animal pela Universidade de Purdue (USA)
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Os desafios da gestão pet Por:
Sérgio Lobato, MV - consultor
Como início de nossa seção Pet Business, creio não haver melhor tema do que orientar nosso leitor no caminho da gestão de empreendimentos destinados a atender os proprietários de animais de estimação seja através da prestação de serviços, seja na oferta de produtos de consumo.
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Photl
O
mercado pet brasileiro consolida-se ano a ano como o segundo maior mercado no mundo, perdendo apenas para o gigante norte-americano. Essa informação se fosse avaliada de forma imediatista e apenas superficial seria motivo de celebração e de promoção desse crescimento como prova indiscutível de que é um excelente setor para investidores nacionais e estrangeiros. Mas ao analisar apenas o crescimento quantitativo desse mercado, cometeremos o perigoso erro estratégico de não analisar realmente o comportamento desse mercado, suas nuances e suas peculiaridades, e ainda a distribuição desse crescimento em toda a cadeia produtiva pet envolvida nessa geração de riqueza.
Um mercado que é incessantemente promovido como um eldorado para investidores que tenham ou não alguma ligação com este segmento, o Mercado Pet apresenta detalhes comportamentais que o classificam como um território minado, composto pelos desafios de nosso título.
Os principais desafios
Qualificação Profissional Deficiente
Mão de Obra sem treinamento e com formação inadequada, indefinição de cargos e funções, curriculuns defasados em relação às exigências do Mercado atual. E com isso a indefinição das funções de cada profissional do setor.
Legislação Restritiva
A legislação jamais acompanha o alto poder de criação e transformação do mercado, em seus formatos e propostas gerando um impasse entre a inovação e a clássica burocracia, entre o crescimento do setor e o entrave estatutário.
Crescimento Desordenado
A disseminação do conceito de eldorado de serviços acaba atraindo investidores sem a menor qualificação e mesmo conhecimento sobre o que é o mercado pet, estimulando o surgimento de empresas e profissionais sem lastro capaz de suportar os primeiros anos de consolidação da sua marca.
Carga Tributária
Excessiva como em todos os setores, a interferência do governo, prejudica a livre iniciativa, a geração de empregos no setor e impacta como um freio no crescimento do setor.
Pressão Social
Com o uso desordenado e sem leis das mídias sociais, o mercado pet passa a ser ainda o “alvo da vez” em questões como bem-estar animal, maus-tratos, responsabilidades comerciais e civis, processos e difamações que geram graves problemas de imagem às empresas e profissionais do segmento que passam a ser execrados no ambiente virtual, sofrendo danos e perdas irreparáveis em suas imagens profissionais e empresariais.
Toda empresa do mercado pet que se pretenda competitiva e possa realmente navegar tranquilamente pelo "oceano business" deverá ter sua organização baseada numa estrutura profissional de todos os setores.
Como reagir a esse cenário O melhor conselho que qualquer consultor poderia dar nesse momento é buscar a qualificação profissional através de cursos e ferramentas educacionais, presenciais ou virtuais, que possam aumentar seu conhecimento sobre questões muito importantes como gestão de estoque, gestão de clientela, bem-estar animal, orientação jurídica e treinamento de equipe.
E após obter esse conhecimento? Posicionar-se como um gestor ativo! De nada adianta virar um ”estudante profissional” e não aplicar e avaliar o resultado de cada ferramenta aprendida e aplicada em seu negócio. É uma releitura do velho “mãos à obra”. É realmente entender que controlar a rotina diária de seus estabelecimentos, é a chance de obter dados e informações que possam te orientar, te servir como um guia para decisões importantes, como por exemplo investir em um novo mobiliário para sua loja, oferecer um novo serviço em seu setor de estética, modificar o horário de atendimento de seu setor veterinário tornando-o 24 horas, por exemplo. As decisões deverão ser tomadas após o confronto com cada um dos itens, vamos tomar por exemplo a questão da qualificação profissional. Animal Business-Brasil_61
O melhor conselho que qualquer consultor pode dar é buscar a qualificação profissional através de cursos e ferramentas educacionais
Que tal definir, antes de contratar as funções do cargo que você precisa?
Vendedor do Petshop
Atendimento aos clientes Arrumação de Prateleiras Controle do Estoque Entrega de Produtos Recepção dos animais da Tosa Limpeza da Loja
Dica importante E uma dica preciosa e importante é entender que toda empresa do mercado pet que se pretenda profissional e possa realmente navegar tranquilamente pelo “oceano azul Business” deverá ter sua organização baseada em uma estruturação profissional de todos os seus membros e setores, como podemos ver no organograma abaixo, onde a função técnica e a função administrativa apresentam-se como gestoras nos patamares mais altos do gráfico, explicando de forma clara a necessidade da organização e da divisão de tarefas, bem como a subordinação em um nível profissional e sem o fardo negativo que a palavra carrega em si.
Ao posicionar-se como um empreendedor capaz de fazer frente aos desafios, buscando a qualificação profissional, entendendo seu mercado, coordenando suas ações e buscando entender que somente com planejamento estratégico embasado em conhecimento, você poderá fazer parte da cadeia produtiva do mercado pet em um nível acima do meramente quantitativo, e sim com a sonhada e desejada sustentabilidade baseada no crescimento qualitativo de sua empresa. Pense nisso! Para mais informações: sergiorslvet@hotmail.com
Direção
Responsabilidade Técnica
Equipe
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Vendas
Estética
Veterinária
Por: Adeildo
Lopes Cavalcante
Empresa lança primeiro creme de leite de vaca sem lactose do Brasil
Photl
A empresa de laticínios Verde Campo, localizada em Lavras, em Minas Gerais, desenvolveu e lançou no mercado o primeiro creme de leite de vaca sem lactose do país (muitas pessoas são incapazes de digerir lactose e, por isso, não podem consumi-la, pois causa incômodos (náuseas, diarreia e dor no estômago). "O novo produto pode ser utilizado para a produção de chantilly e outras receitas tradicionais das festas de final de ano", explica Álvaro Gazolla, diretor comercial da empresa, acrescentando: "o produto tem exatamente as mesmas características do creme de leite fresco; a única coisa que muda é o processo para quebra da lactose; o sabor e a garantia de um produto fresco continuam".
A EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, passou a fazer uso, em estudos no setor de bovinocultura, de um cocho automatizado para medir, com maior rapidez e precisão, gases de efeito estufa emitidos pelo gado (esses gases estão entre os poluentes que provocam elevação da temperatura em todo mundo (aquecimento global). Desenvolvido pela empresa norte-americana C.Lock, o cocho, (batizado de Green Feed), é dotado de uma tecnologia inovadora: reconhece o animal pelo brinco eletrônico assim que a cabeça entra no equipamento. No mesmo momento, um exaustor aspira e mede a cada segundo os gases emitidos durante a alimentação. Desse modo, é possível monitorar individualmente as taxas de emissão ao longo do tempo.
Gisele Rosso
Novidade: EMBRAPA utiliza cocho automatizado para medir gases emitidos pelo gado
O uso do cocho, segundo a EMBRAPA, permite que se detecte quais dietas fornecidas aos animais são mais eficientes para a redução dos gases de efeito estufa na pecuária.
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FreeImages
Simlandês: nova raça de leite brasileira desenvolvida por criadores do Paraná A raça é uma mistura de sangue das raças Simental e Holandesa, oriundas da Suíça e da Holanda, respectivamente, e resulta de cruzamentos desenvolvidos nos últimos oito anos por criadores do Paraná ligados ao Pool ABC (Arapoti/Batavo e Castrolanda), entidade que integra um grupo de cooperativas de sucesso no país. A Simlandês é formada por animais com pelagens parecidas com as das raças Simental (avermelhada com mancha branca) e Holandesa (malhada de preto e branco) e se destaca por possuir alto potencial reprodutivo, uma das razões que levaram os produtores a selecioná-la, pois um grande número deles enfrenta problemas com baixos índices reprodutivos em suas criações. Com o uso da genética da nova raça, já tem criadores, ligados ao Pool ABC, produzindo (com menor intervalo entre partos) mais leite e bezerros por vaca/ano.
Energia solar pode reduzir gastos nas criações de frangos e galinhas
ABCRSS/Divulgação
A utilização de placas solares para gerar energia elétrica nos criatórios de frangos de corte e galinhas de postura pode ser a solução para redução dos custos para o produtor. A conclusão é do diretor de engenharia da Solar Energy, localizada em Mato Grosso do Sul, Henderson Martins, e baseia-se em pesquisa realizada por aquela empresa sobre o uso de energia solar em granjas de aves de corte e de postura. Segundo Martins, caso o produtor instale na sua propriedade placas solares voltaicas, que usam a radiação solar para obter forma contínua de corrente elétrica, poderá diminuir totalmente sua conta, pagando apenas a tarifa mínima da concessionária. “A quantidade de energia obtida com as placas pode atingir 100% do consumo”, diz ele.
Piscicultura: nova linhagem de pintado ganha mais peso em menos tempo no Mato Grosso do Sul
Divulgação
A linhagem abre novas oportunidades de negócios para o segmento de criação de pintado no Mato Grosso do Sul (uma das atividades econômicas mais importantes daquele estado). O
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novo produto foi desenvolvido pelo Projeto Pacu Aquicultura Ltda., primeiro programa brasileiro de piscicultura a investir na criação de espécies nativas (entre elas o pintado). A nova linhagem apresenta uma grande vantagem em relação ao pintado criado atualmente no estado: ganha mais peso em menos tempo, ficando pronto para o abate com 1,7 kg a 1,8 kg em sete a nove meses; já a linhagem tradicional, só alcança 1,3 kg a 1,4 kg entre 12 a 14 meses. O pintado corre risco de extinção, no Mato Grosso do Sul, por falta, principalmente, de atrativos para a criação da espécie.
Pesquisa da ESALQ: análise de imagens revela estresse de aves poedeiras
Pixabay
Foi desenvolvida na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), ligada à Universidade de São Paulo, uma metodologia de processamento e análise de imagens que acompanha a movimentação de aves poedeiras no criatório. A técnica, de autoria da física Valéria Cristina Rodrigues, pesquisadora do Núcleo de Pesquisa em Ambiência daquela universidade, fornece dados que demonstram o efeito da temperatura e da umidade no comportamento dos animais. Para mostrar a importância dos estudos de ambiência na criação animal, Valéria cita a principal conclusão de sua pesquisa: “quando as aves estão estressadas, costumam ficar mais perto do bebedouro, e depois de alguma agitação inicial se deslocam menos para poupar energia; quando o estresse é maior, a ave se alimenta menos e não ganha peso, comprometendo sua fisiologia e a produção.”
As partes do camarão-rosa normalmente desprezadas pelo consumidor (cabeça, casca e cauda) são justamente as que apresentam altos valores de proteínas e óleo rico em ácidos graxos com valores consideráveis de ômega três (gorduras essenciais ao funcionamento do organismo). A descoberta foi feita pela engenheira química Andrea Del Pilar Sánchez Camargo em pesquisa desenvolvida na Faculdade de Engenharia de Alimentos da Universidade Estadual de Campinas, em Campinas (SP). Em seu estudo, a pesquisadora descobriu também que cerca de 50% do crustáceo (na forma de resíduos) são descartados no meio ambiente, ou às vezes usados para ração animal (boa parte). “A meu ver, diz ela, os resíduos poderiam ser utilizados como suplemento alimentar e no desenvolvimento de um novo produto”.
Katharina Heer
Camarão-rosa: partes desprezadas do crustáceo têm alto valor proteico, revela pesquisa
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Raul Moreira
Indicações Geográficas para valorizar nossa agropecuária Antonio Alvarenga (*) Em todo o mundo, determinados produtos possuem um certificado de procedência, que lhes atribui uma identidade própria, diferenciada dos demais gêneros da mesma natureza disponíveis no mercado. São produtos que apresentam uma qualidade única, proveniente de suas características naturais, tais como solo, clima, cultivo e processamento. O certificado atesta sua origem e garante o controle de sua qualidade dentro de determinados padrões. Os países europeus, principalmente França, Itália e Portugal, são campeões nesse tipo de certificação - e valorização - de seus produtos. Alguns exemplos são os vinhos tintos da região de Bordeaux, os presuntos de Parma e os queijos Roquefort. O champanhe é um espumante, que passou a ser conhecido apenas por sua denominação de origem. As "Indicações Geográficas" foram ganhando reputação ao longo do tempo, na medida em que os consumidores começaram a reconhecer que os produtos certificados apresentavam qualidades particulares, atribuíveis à sua origem geográfica. Nesses casos, a certificação passou a agregar valor econômico, beneficiando seus produtores. No Brasil, as certificações de Indicação Geográfica (IG) são registradas pelo INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Pode ser uma Indicação de Procedência (IP), referindo-se ao nome do local que se tornou conhecido por produzir, extrair ou fabricar o produto ou uma Denominação de Origem (DO), que corresponde ao nome do local que intitula determinados produtos cujas qualidades e características diferenciadas são atribuídas à sua origem geográfica. 66_Animal Business-Brasil
O registro no INPI é fundamental para evitar a utilização indevida de uma Indicação Geográfica, garantindo a proteção do nome geográfico e permitindo a diferenciação do produto no mercado. O registro de IG restringe o uso da certificação aos produtores da região, que são geralmente organizados em associações. Na Brasil, há uma grande variedade de produtos de origem animal que poderão ser certificados com IG. Temos lácteos, carnes e peixes que possuem características específicas, conforme sua origem geográfica. Já possuímos alguns produtos de origem animal com Identificação de Procedência (IP), tais como os queijos do Serro e Canastra, em Minas Gerais; o couro do Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul; a carne bovina do Pampa Gaucho. No caso de Denominação de Origem (DO), temos o camarão da Costa Negra, do Ceará e o própolis dos manguezais de Alagoas. O selo de indicação geográfica também é uma garantia para o consumidor, pois comprova que o produto é genuíno e possui qualidades particulares ligadas à sua origem. Com o objetivo de valorizar produtos do agronegócio brasileiro, a Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) possui um programa para apoiar, divulgar e incentivar o conceito das IGs no país. Os interessados podem consultar o Portal IG, (www.indicacaogeografica.com.br) para conhecer melhor as IGs no Brasil e ficar a par das últimas novidades sobre o assunto. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura
Fotos: Cristina Baran
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