Animal Business Brasil 27

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Ano 06 - Número 27 - 2016 - R$ 16,00 www.animalbusinessbrasil.agr.br

CARNE BOVINA

LEITE & DERIVADOS O Brasil está se tornando um importante exportador

O Brasil é um dos três maiores produtores e exportadores do mundo, mas ainda pode crescer muito

CARNE DE CORDEIRO O mercado doméstico está crescendo

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igmais.com.br

Agora tem qualidade com identidade

Foto: APROCAN

Queijo Canastra de Minas Gerais, Produto registrado no INPI com Identificação Procedencia (IP)

Em todo o mundo, determinados produtos de qualidade são reconhecidos por sua procedência e originalidade, garantidas por uma certificação de Indicação Geográfica (IG) que, no Brasil, pode ser Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO), registradas pelo INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Cabe a você, consumidor exigente, identificar e buscar produtos com essa marca.

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A SNA (Sociedade Nacional de Agricultura) apoia e incentiva esse conceito. Nosso objetivo é promover o valor do agronegócio brasileiro com suas características e origens exclusivas. Prefira produtos com essa marca. Existe uma (IG) de qualidade esperando por você!

(IG) Qualidade com identidade.


uma publicação da:

S

ebastião Costa Guedes – da Academia Brasileira de Medicina Veterinária, presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa (GIEFA) e vice-presidente do Conselho Nacional de Pecuária de Corte (CNPC) é o autor da matéria de capa na qual destaca o fato do agronegócio ser responsável por quase 1/3 do nosso Produto Interno Bruto (PIB), com um movimento anual de cerca de R$1 trilhão. Grande parte dessa ótima performance deve-se à pecuária, notadamente a de corte, graças ao nosso rebanho de 212 milhões de cabeças, o segundo maior do mundo. Nos últimos anos, o Brasil produziu mais de 10 milhões de toneladas de carne, 81% consumidas no Brasil, mas ao mesmo tempo, estamos entre os três maiores exportadores do mundo e ainda temos muito potencial de crescimento. Camila Sampaio Cutrim e Marco Antonio Sloboda Cortez – do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal Fluminense (UFF), escrevem artigo didático sobre o mercado de leite e derivados, destacando que o Brasil participa ativamente de negociações envolvendo exportações e importações desses produtos. Mas nossa produtividade de leite é ainda muito baixa, o que significa um grande potencial de crescimento. Enquanto uma vaca brasileira produz 1,52 tonelada de leite por ano, a australiana, produz 5,76 e a americana 10,1 toneladas por ano. Valdomiro Poliselli Junior – presidente da VPJ Alimentos, de Pirassununga (São Paulo), é um entusiasta da carne de cordeiro e nos informa que o mercado doméstico está cada vez mais exigente, não apenas quanto à qualidade mas também quanto à sua procedência. Segundo ele, a produção nacional desse tipo de carne

ainda engatinha, mas o País apresenta inúmeras regiões ideais para a criação dessa espécie. Roberto Arruda de Souza Lima e Fernando Nascimento Magalhães da Silveira – da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, nos contam o que é, como funciona e as implicações econômicas da tradicional corrida de cavalos – o Palio – na cidade italiana de Siena, com sua famosa catedral. Os autores afirmam que esse tipo de corrida poderá ser um bom negócio no Brasil. Ilda de Fátima Ferreira Tinôco e colaboradoras – professoras do Departamento de Engenharia Agrícola da Universidade Federal de Viçosa, valorizam esta 27ª edição com uma excelente matéria sobre Construções Rurais cuja importância é decisiva na obtenção de altos níveis de produtividade. Maria Cecília Ladeira de Almeida – especialista em Direito Agrário de projeção internacional, escreve sobre o importante assunto que é a ocupação territorial do Brasil e a ratificação dos títulos em faixa de fronteira. Trata-se de matéria de consulta da maior importância para os homens de decisão política do País. Antonio Edson Bernardes – produtor, nos conta a história da introdução, no Brasil, do gado Charolês, que, segundo ele, “veio da França para fazer sucesso no Brasil”. Errata: Os autores da matéria sob o título “Integração lavoura/pecuária para aumentar a lucratividade do pequeno produtor rural do RJ” – publicada à página 14 e seguintes da nossa 26ª edição, nos pedem para fazer a seguinte observação: “Ao contrário do que foi publicado, o Programa de Hortas PAIS é uma parceria do Sebrae com a Fundação Banco do Brasil – FBB”.

Luiz Octavio Pires Leal Editor Animal Business-Brasil_3


Academia Nacional de Agricultura Fundador e Patrono:

Octavio Mello Alvarenga

Diretoria Executiva Antonio Mello Alvarenga Neto Osaná Sócrates de Araújo Almeida Tito Bruno Bandeira Ryff Maurílio Biagi Filho Helio Guedes Sirimarco Francisco José Villela Santos Hélio Meirelles Cardoso José Carlos Azevedo de Menezes Luiz Marcus Suplicy Harfers Ronaldo de Albuquerque Sergio Gomes Malta

Diretoria Técnica Alberto Werneck de Figueiredo Antonio de Araújo Freitas Júnior Antonio Salazar Pessôa Brandão Fernando Lobo Pimentel Jaime Rotstein José Milton Dallari Soares Kátia Aguiar Marcio Sette Fortes

Cadeira 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52

Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Vice-Presidente Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo Diretor Executivo

Maria Cecília Ladeira de Almeida Maria Helena Martins Furtado Mauro Rezende Lopes Paulo Manoel Lenz Cesar Protasio Roberto Ferreira da Silva Pinto Rony Rodrigues de Oliveira Ruy Barreto Filho Tulio Arvelo Duran

Comissão Fiscal Claudine Bichara de Oliveira Frederico Price Grechi Plácido Marchon Leão Roberto Paraíso Rocha Rui Otávio Andrade

Diretor responsável Antonio Mello Alvarenga Neto diretoria@sna.agr.br Editor Luiz Octavio Pires Leal piresleal@globo.com Relações Internacionais Marcio Sette Fortes Consultores Alfredo Navarro de Andrade alfredonavarro@terra.com.br Alexandre Moretti cdt@pesagro.rj.gov.br

Fernando Roberto de Freitas Almeida freitasalmeida03@yahoo.com.br Roberto Arruda de Souza Lima raslima@usp.br Secretaria Maria Helena Elguesabal adm.diretoria@sna.agr.br Valéria Manhães valeria@sna.agr.br Revisão Andréa Cardoso andreascardosojm@gmail.com

Presidente:

Luíz Carlos Corrêa Carvalho Titular Roberto Ferreira da Silva Pinto Jaime Rotstein Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira Francelino Pereira Luiz Marcus Suplicy Hafers Ronaldo de Albuquerque Tito Bruno Bandeira Ryff Lindolpho de Carvalho Dias Flávio Miragaia Perri Paulo Manoel Lenz Cesar Protásio Marcus Vinícius Pratini de Moraes Roberto Paulo Cezar de Andrade Rubens Ricúpero Pierre Landolt Luíz Carlos Corrêa Carvalho Israel Klabin José Milton Dallari Soares João de Almeida Sampaio Filho Sylvia Wachsner Antônio Delfim Netto Roberto Paraíso Rocha João Carlos Faveret Porto Sérgio Franklin Quintella Kátia Abreu Antônio Cabrera Mano Filho Jório Dauster Elizabeth Maria Mercier Querido Farina Antonio Melo Alvarenga Neto Arnaldo Jardim John Richard Lewis Thompson José Carlos Azevedo de Menezes Afonso Arinos de Mello Franco Roberto Rodrigues João Carlos de Souza Meirelles Fábio de Salles Meirelles Leopoldo Garcia Brandão Alysson Paolinelli Osaná Sócrates de Araújo Almeida Denise Frossard Luís Carlos Guedes Pinto Erling Lorentzen Gustavo Diniz Junqueira Eliseu Alves Walter Yukio Horita Ronald Levinsohn Francisco Turra Cesário Ramalho da Silva Izabella Mônica Vieira Teixeira João Guilherme Ometto Alberto Werneck de Figueiredo Maurício Antonio Lopes Maurílio Biagi Filho

Diagramação e Arte I Graficci Comunicação e Design igraficci@igraficci.com.br CAPA Klaus Post / FreeImages Produção Gráfica Juvenil Siqueira Circulação DPA Consultores Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br Fone: (11) 3935-5524 Distribuição Nacional FC Comercial

É proibida a reprodução parcial ou total, de qualquer forma, incluindo os meios eletrônicos, sem prévia autorização do editor. O conteúdo das matérias assinadas não reflete, obrigatoriamente, a opinião da Sociedade Nacional de Agricultura. Esta revista foi impressa na Edigráfica Gráfica e Editora Ltda. – End.: Rua Nova Jerusalém, 345 – Parte – Maré – CEP: 21042-235 – Rio de Janeiro, RJ – CNPJ (MF) 04.218.430/0001-35 Código ISSN 2237-132X – Tiragem: 15.000


Sumário

12 06

14 18

34 31

24

38 39

54 46

28 40

59

42 06 12 14 18 24 28 31 34 38 39

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Produção, consumo e mercado de lácteos nos cenários nacional e internacional

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Elos entre indústria, produtor e consumidor de carne de cordeiro devem se estreitar Carne bovina: Brasil ainda tem muito potencial para crescer! Construções rurais e ambiência animal no Brasil Pilares da sustentabilidade e do bem-estar na produção Raça Canindé: caprinos rústicos, prolíferos e bons produtores de carne, leite e couro Ciência e Tecnologia

Gado Charolês veio da França para fazer sucesso no Brasil Abate de bovinos em 2015 a recomposição do rebanho está a caminho Números

Síntese

40 42 46 54 59 61 66

Pet Business Conheça o Palio, uma tradicional corrida de cavalos italiana com implicações econômicas e sociais, e que poderá ser um novo negócio no Brasil A ocupação territorial do Brasil e a ratificação dos títulos em faixa de fronteira: um passo em direção à regularização fundiária do Brasil. Churrasco: mania nacional e negócio internacional São necessárias ações urgentes para enfrentar as mudanças climáticas que interferem na segurança alimentar global Top News

Opinião

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Produção, consumo e mercado de lácteos nos cenários nacional e internacional Camila Sampaio Cutrim e Marco Antonio Sloboda Cortez, do Departamento de Tecnologia de Alimentos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Deborah Breen Whiting / Pixabay

Por:

O mercado lácteo segue crescendo ao longo das décadas e o Brasil participa ativamente de negociações envolvendo exportações e importações de leite e derivados. Por que consumir leite? Quem consome? Como uma fonte concentrada de macro e micronutrientes, o leite e os derivados lácteos desempenham um papel importante na nutrição humana. De acordo com relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, a população mundial já ultrapassou os 7 bilhões de habitantes, e deste total, mais de 6 bilhões de pessoas ao redor de todo o mundo consomem leite e derivados.

Produção de leite e derivados O Brasil é reconhecido mundialmente como um grande produtor de leite, sendo esta atividade, atualmente, uma das principais relacionadas ao agronegócio. Segundo dados do IBGE (2010), a pecuária leiteira está presente em quase todos os municípios brasileiros, restando apenas 67 que não produzem leite. Além disso, dos 100 municípios com maior produção, 53 deles têm a pecuária leiteira como a principal atividade 6_Animal Business-Brasil


StockSnap / Pixabay

econômica. No entanto, ainda não existe homogeneidade entre os produtores e apenas 20% são classificados como grandes produtores. No cenário mundial, o Brasil ocupa posição de destaque, se apresentando como o quarto maior produtor, com uma produção que ultrapassa 35 milhões de toneladas por ano de um total de 635.575.895 de toneladas de leite produzidas no mundo em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) (IBGE, 2014; FAO, 2016).

Produtividade baixa No entanto, a produtividade brasileira, ou seja, a produção de leite por vaca por ano ainda é muito baixa quando comparada com outros países. Em 2014, a média brasileira foi de 1,52 toneladas de leite/vaca/ano, enquanto na Austrália foi de 5,76, na União Europeia, a média dos países foi de 6,78 e nos Estados Unidos a média foi de 10,1 toneladas de leite/vaca/ano (IBGE, 2013; Dairy Australia, 2014; Eurostat, 2015; USDA, 2015c). De forma geral, a atividade pecuária no Brasil ainda é desenvolvida em sistemas de produção pouco especializados, sendo o manejo inadequado da alimentação, a sanidade animal e o baixo potencial genético dos animais para produção leiteira, os principais problemas relacionados à baixa produtividade(Canadian Dairy Information Centre - CDIC, 2011; Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, 2013).

Queda na industrialização Em relação à industrialização, em 2015, no Brasil, foram industrializadas 24 milhões de toneladas, porém, foi observada queda de 2,8% na industrialização em comparação com o ano anterior. Do total de leite adquirido, 92,4% teve origem de estabelecimentos sob inspeção federal; 6,9%, estadual e 0,7%, municipal. Minas Gerais foi responsável por 26,8% da aquisição de leite, seguida pelo Rio Grande do Sul com 14,5%, Paraná com 11,78% e São Paulo com 10,84%.No tocante aos estabelecimentos que adquiriam o leite, destacam-se as grandes indústrias que processam mais de 50 mil L/dia com 83,0% da aquisição, enquanto estabelecimentos com aquisição média de até 10 mil L/ dia foram responsáveis por menos de 4,5% da aquisição (IBGE, 2016).

Produção de derivados cresce Mundialmente, a fabricação de derivados lácteos é crescente ao longo das últimas décadas, de 2000 até 2015 foi observado crescimento na produção dos principais derivados: a produção de manteiga cresceu de 5,43 para 9,58 milhões de toneladas (alta de 76,42%); de queijo 12,65 para 18,8 milhões (48,62%); de leite em pó integral 2,95 para 4,85 milhões (64,41%) e leite em pó desnatado 3,43 para 4,61 milhões (34,4%) (USDA, 2015). A produção mundial de leite é estimada para aumentar em 175 milhões de toneladas (23%) até 2024, quando comparado com os anos-base (2012-14), a maioria dos quais (75%) está prevista para vir de países em desenvolvimento, especialmente da Ásia. Estima-se um aumento da produção mundial dos principais produtos lácteos (manteiga, queijo, leite em pó integral e desnatado) em ritmo semelhante ao da produção de leite (OECD/FAO, 2016).

Consumo Os níveis de consumo per capita de produtos lácteos são determinados por uma série de fatores, incluindo fatores econômicos, tais como níveis de renda e preços relativos, fatores demográficos, como a urbanização, e os fatores sociais e culturais. O crescimento econômico e o aumento da renda têm impulsionado o Animal Business-Brasil_7


Consumo de leite em pó varia pouco A partir da análise dos gastos com aquisição de leite fluido, leite em pó e queijos, são observadas significativas diferenças. O leite em pó é o derivado que apresenta menor variação no consumo nas diferentes classes de renda, sendo o gasto médio mantido praticamente constante nas classes de 2 até 10 Salários Mínimos (SM). O total gasto com leite fluido é mais 8_Animal Business-Brasil

Pixabay PublicDomainPictures / Pixabay

aumento do consumo de produtos de gado em grande parte do mundo em desenvolvimento (Gerosa, Skoe 2013). Com base na população mundial estimada em cerca de sete bilhões de pessoas, o consumo médio per capita de lácteos, em 2013, foi de 109.6 kg (International Dairy Federation- IDF, 2014). Atualmente, o brasileiro consome, ao ano, cerca de 179 kg de lácteos (MAPA, 2015), na Argentina a média de consumo é de 211kg e nos Estados Unidos é de 278 kg (USDA, 2014; USDA, 2015b). Estes dados demonstram que ainda há um grande potencial para ampliação do mercado brasileiro e do consumo per capita de lácteos nos próximos anos. O consumo mundial de lácteos tem crescido entre 2 e 3% ao ano. Estimativas da International Farm Comparison Network (IFCN, 2013) indicam que 50% desse consumo seja devido ao crescimento populacional mundial, e a outra metade seja decorrente do aumento do consumo per capita. A Ásia, a África e América Latina são regiões que detêm grande potencial para crescimento do consumo per capita, como apontado por estudo da FAO que prevê uma lenta expansão do consumo nos países desenvolvidos e um crescimento acelerado do consumo nos países em desenvolvimento (Gerosa, Skoe, 2013). No Brasil, o consumo de derivados lácteos ainda se mostra em déficit em comparação com outros países do mundo (Gráfico 1), porém o aumento da renda da população e a diversificação do portfólio de produtos derivados do leite são estímulos para o aumento do consumo. A Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008-2009 (IBGE, 2010) demonstrou que a média de gastos com consumo de leite e derivados no Brasil corresponde a 11,5% das despesas com alimentação. Ressalta-se também uma significativa variação na quantidade e variedade de lácteos consumidos em relação à renda familiar.


sensível às variações na renda, e observa-se que os grupos com ganhos entre 10 e 15 SM gastam quase 3 vezes mais com leite fluido que as da classe até 2 SM. Já a categoria dos queijos é a que apresenta maior sensibilidade. A despesa aumenta em todas as faixas de rendimento gerando uma diferença de 17,9 vezes do gasto do grupo que ganha mais de 25 SM em relação às famílias que recebem até 2 SM (IBGE, 2010).

leite modificado, movimentando mais de U$ 320 milhões em 2014 (MAPA, 2015). Já em relação às importações de lácteos pelo Brasil, em 2015, foi observado um acréscimo de 25,7% no volume, comparado com o ano anterior, totalizando 134,28 mil toneladas importadas, porém com redução nas despesas de 20,7%, segundo dados do MDIC. Os produtos que fizeram parte das importações foram o leite em pó, com 49,4%; diferentes tipos de queijos, 19,6%; soro de leite em pó, 19,6%; leite UHT, 12,8%; manteiga, 2,6%; e, em menor proporção, o leite modificado para a alimentação infantil (0,6%), o doce de leite (0,5%) e o iogurte (0,5%).

Movimentação Financeira O Brasil é historicamente um importador de lácteos, porém, experimentou a condição de exportador líquido entre os anos 2004 e 2008 (EMBRAPA, 2010). Após 2008, com o aumento do consumo de lácteos, a grande oferta mundial e a desvalorização do dólar, o Brasil voltou a ser importador, continuando nessa condição até hoje, porém, apresentando tendência de mudança da balança comercial para os próximos anos. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em 2014, o Brasil aumentou seu faturamento com as exportações de lácteos em 254,3% e o volume em 118,0% na comparação com 2013. Os principais produtos exportados pelo Brasil foram leite em pó integral, leite condensado, creme de leite, manteiga e

Conclusão Com base nos dados históricos observados sobre a produção e consumo de lácteos no Brasil e no mundo, observa-se que a produção tem crescido a taxas acima do crescimento mundial e que o Brasil se mantém entre os grandes produtores de leite mundiais. Em relação à demanda de produtos lácteos, o cenário é favorável pois a demanda doméstica por lácteos está em expansão, bem como a demanda mundial, caracterizando-se assim como um grande potencial de expansão do mercado brasileiro de leite e derivados.

Gráfico 1. Consumo per capita (kg) dos principais derivados lácteos em países selecionados em 2013. 120

109

Consumo per capita (Kg)

100 74,1

80 59,9

54,4

60 42,2

35,3

40

35 26,2 12,8

20

6,4

15,3 7,7

9,9 0,4

1

2,5

7,7

12,5 2,6 3,9

15,3

13,4 6,1

3,7

0 Leite fluido

Iogurte Brasil

Argentina

Manteiga EUA

França

Rússia

Queijo Austrália

Fonte: CDIC (2015) e Danone (2013) Animal Business-Brasil_9



O agronegócio possui um grande parceiro capaz de contribuir para seu desenvolvimento sustentável em todo o estado. Por meio de cursos, consultorias e um atendimento especializado, o Sebrae/RJ incentiva e participa de toda a cadeia, desde a criação até a comercialização, sem esquecer da responsabilidade ambiental. Venha conversar com quem sabe que no agronegócio não existe bicho de sete cabeças.

www.sebraerj.com.br | 0800 570 0800


Elos entre indústria, produtor e consumidor de carne de

cordeiro devem se estreitar Por:

Valdomiro Poliselli Júnior-presidente da VPJ Alimentos, sediada em Pirassununga (SP)

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Nunca antes a ovinocultura remunerou tão bem pela carne de cordeiro. Os produtores, enfim, começaram a interpretar nossas leituras do mercado doméstico, cada vez mais exigente quanto à procedência e qualidade dos

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alimentos. Não quero dizer que a produção nacional chegou ao auge em excelência. Na verdade é uma atividade que ainda engatinha, mas temos presenciado o fornecimento de ovinos mais jovens para o abate.


E

Desenvolvimento Sou otimista em relação ao desenvolvimento da ovinocultura de corte no Brasil. Temos inúmeras regiões ideais para a criação. Nossa capacidade natural de produzir alimentos me faz acreditar nisso. Vejam, por exemplo, a bovinocultura de corte. Os produtores atendem o consumo interno e mantêm a liderança nas exportações. Faço essa comparação meramente porque gado e ovino podem caminhar juntos, ocupando a mesma categoria de proteína animal.

Diferenças Existem diferenças entre ambos os segmentos: a arroba do cordeiro de quatro meses é mais valorizada do que a de um boi gordo de 36 meses. O produtor alcança o sucesso quando usa fórmulas bem definidas, como reduzir os índices de mortalidade, descartar animais inférteis, manter a base de matrizes, agregar valor à carne e garantir escalas frequentes para a indústria.

Mercado Refletindo sobre projeções quanto ao baixo crescimento nos próximos anos, cheguei a conclusões que valem ser compartilhadas. O mercado deu um grande salto na última década. Cada vez mais pessoas se surpreendem com o sabor da carne. Ao mesmo tempo, percebemos uma disposição maior do produtor em desempenhar seu papel como nunca. Nossos recursos são abundantes e acumulamos conhecimento suficiente para evitar erros do passado, sem contar o respaldo tecnológico e científico agora abundante. Devagar, mas sempre avançando, nossa ovinocultura entra nos eixos e vai perdendo o estigma de atividade de subsistência.

Divulgação

m muitas regiões, a qualidade já é superior àquela carne vinda de fora, essa, inclusive, é uma concorrência desleal. Cortes diferenciados têm seu público garantido, mas custa caro para fazer. Em contrapartida, os canais de distribuição se conscientizaram de que não dá para tapar sol com peneira se tratando de cordeiro. O cliente reconhece pelo cheiro a diferença entre cordeiro jovem e carneiro velho.

Gargalo Tentando entender essas projeções, conclui que um gargalo que impacta nossa cadeia está em nosso próprio sistema de produção. Vemos técnicos tentando criar modelos, mas sabemos que aquilo que dá certo numa região pode não funcionar em outra. Comparem o Nordeste e o Sul, por exemplo. No primeiro, existe uma concepção de que a ovelha deve parir o ano todo. Entre os sulistas, bom negócio é produzir um cordeiro por ventre/ano. A qualidade sim deve ser padronizada. Este é o caminho!

Analogia Fazendo uma analogia: há três décadas, uma ave demorava até 140 dias para ser abatida. Atualmente não passa de 40 dias. Detalhe: um filé de frango produzido aqui tem a mesma proporção, textura e sabor de um processado na China, Japão ou em qualquer outro lugar.

Cheiro De nada vai adiantar aumentar o volume do rebanho se a qualidade da carne não apresentar a excelência esperada pelo consumidor, que deseja um produto saboroso, macio, suculento e sem cheiro. Estes quesitos são conquistados apenas quando os cordeiros são abatidos aos 120 dias, em média, meta alcançada facialmente quando se utiliza o Dorper e White Dorper nos cruzamentos. Nestes casos, os produtores continuarão desfrutando de boa remuneração sempre. É preciso sempre estar atento aos sinais enviados pela indústria. Este é o elo principal entre o produtor e o consumidor. Animal Business-Brasil_13


Pixabay

CARNE BOVINA: Brasil ainda tem muito potencial para crescer! Por:

Sebastião Costa Guedes, da Academia Brasileira de Medicina Veterinária

O Agronegócio é responsável por quase 1/3 do Produto Interno Bruto (PIB) do País e movimenta cerca de R$ 1 trilhão por ano, sendo o poderoso esteio da balança comercial brasileira.

O

estudo “Projeções do Agronegócio – Brasil 2010/11 a 2020/21” do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, prevê que a carne bovina crescerá 32,3% nos próximos 5 anos. Os ganhos na pecuária chegam a 2,2%, crescendo o dobro do Valor Bruto da Produção Agropecuária no mesmo período e elevam a produção do setor para R$ 169,88 bilhões, segundo estudos e análises da Secretaria de Política Agrícola do MAPA.

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A pecuária tem desempenho melhor por causa dos resultados positivos da carne bovina, que teve incremento de 10,2% no ano passado. O rebanho bovino nacional permite o desenvolvimento de dois segmentos lucrativos: as cadeias produtivas da carne e leite, cujo valor bruto é estimado em R$ 67 bilhões, tendo grande presença em todos os estados brasileiros o que concorre para confirmar a importância econômica e social da bovinocultura no Brasil.

Evolução da pecuária brasileira O Brasil é o quinto maior país do mundo em território, com 8,5 milhões de km² de extensão, sendo superado apenas pela Rússia, Canadá, China e EUA, todavia leva enorme vantagem frente a estes pelas condições climáticas devido a invernos rigorosos e necessidade de estabulação. Nosso país tem cerca de 20% da sua área (169 milhões de hectares) ocupada por pastagens. Em relação às duas décadas atrás já


Tecnologia & treinamento

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Precisamos, todavia, prosseguir com investimentos em tecnologia, capacitação e treinamento profissional. Duas questões são de enorme importância para atendermos exigências dos mercados internacionais: a rastreabilidade, já muito bem implantada pelo nosso vizinho Uruguai, que propicia que o animal seja rastreado do seu nascimento até o abate; e o controle da sanidade animal, onde a expansão da área livre de febre aftosa sem vacinação é fator essencial

para acesso a mercados mais remuneradores. O Brasil necessita evoluir com seu programa contra aftosa- PNEFA- e com coragem ir reduzindo ou retirando a vacinação. Tal medida possibilitará o acesso da carne bovina ao chamado “circuito não-aftósico”, mercado da ordem de US$ 12 bilhões, representado principalmente por Japão, Coréia do Sul, Estados Unidos, Canadá e México. Estes países vão ainda dificultar a entrada de competidores em seus mercados quando o TPP – Parceria Trans-Pacifico se consolidar. Os pecuaristas americanos esperam com este acordo comercial deslocar parte da participação australiana no atraente e lucrativo mercado japonês. A retirada da vacinação contra aftosa também beneficiará os suinocultores, pois atraentes importadores, como Japão, Coréia do Sul e México exigem que a carne suína venha de estados ou regiões sem vacinação. Suinocultores do Rio Grande do Sul e Paraná aguardam com ansiedade a retirada da vacinação contra aftosa nestes estados.

Exigências dos importadores A segurança alimentar e as exigências dos importadores são requisitos ou barreiras perfeitamente alcançáveis para que nosso país mostre ao mundo que temos um eficiente serviço de defesa sanitária e consequentemente, ampliaríamos nosso espaço no cenário mundial, inclusive nos segmentos mais remuneradores. O País é dono do segundo maior rebanho efetivo do mundo, com 212 milhões de bovinos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perdendo apenas para a Índia, que por questões religiosas tem abate

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cedemos mais de 50 milhões de hectares à agricultura. O clima tropical e a extensão territorial do Brasil contribuem para o nosso desempenho produtivo, pois permitem a criação da enorme maioria do nosso rebanho em pastagens. Estas ainda possuem chance de aumentar a densidade animal com adubação, recuperação de pastos depauperados e integração lavoura, pecuária e florestas, a hoje conhecida ILPF. Esta medida, ao lado de outras, nos permitirá elevar nossa taxa de desfrute dos atuais 22% para níveis maiores, como a da Argentina que atinge 28%. Se impulsionarmos o confinamento ainda teremos muito mais a evoluir. Apenas para demonstrar, os EUA possuem um desfrute de 36% graças à forte presença do confinamento ou “feed lot”. Como a maior parte do rebanho brasileiro é criada a pasto, as chuvas interferem diretamente na qualidade das pastagens e, portanto, na oferta e preço do gado de região para região. O confinamento responde por apenas 4 milhões de cabeças, ou seja, no máximo 8% do nosso abate.

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reduzido de bovinos, mas já é um grande exportador de carne de búfalo, concentrando o fornecimento a alguns países árabes, nações da África Oriental e África do Sul. No ano passado, o Brasil abateu mais de 43 milhões de bovinos, com rendimento médio carcaça de 55%, tendo como referência as raças zebuínas. Temos outra grande vantagem, pois 79% de nossa produção são consumidas aqui mesmo e exportamos os outros 21%.

Consumo local No Brasil, o consumo per capita de carne bovina é de aproximadamente 39 kg/habitante, enquanto Argentina e Uruguai ultrapassam o nível de 60 kg/hab e os Estados Unidos está com consumo em torno de 38 kg/hab. Nos últimos anos o Brasil produziu mais de 10 milhões de toneladas de carne, o mercado interno consumiu 81% (8,27m ton) e 19% (2m ton) foram exportadas. A pecuária é um dos principais destaques do agronegócio brasileiro no cenário mundial, despertando medo ou até mesmo inveja nos fortes competidores, como Austrália, Canadá, EUA, Nova Zelândia e até mesmo a Argentina, que perdeu mercado nos últimos anos pela demagogia de seus governantes de então. A grande variedade de sistemas produtivos em um território tão vasto também reflete na diversificação dos produtos. O Brasil, hoje, pode atender qualquer mercado no mundo, sejam nichos específicos, com carnes mais nobres (carne gourmet ou culinária) até cortes de menor valor (carne ingrediente), sejam mais magras ou com maior teor de gordura, sob qualquer demanda de volume.

Evolução da pecuária Na história da evolução da pecuária brasileira, a década de 2000 foi marcada pela consoli16_Animal Business-Brasil

dação do Brasil como potência na produção e exportação de carne bovina, sendo que o Brasil assumiu a primeira colocação dentre os exportadores em 2004. Além disso, desde 2004, assumiu a liderança nas exportações, com um quinto da carne comercializada internacionalmente e vendas em mais de 123 países. Este desempenho só foi possível porque a indústria frigorífica se modernizou e construiu fábricas novas nas regiões para onde a pecuária se deslocou. O parque frigorífico brasileiro é hoje o mais avançado no planeta. Se o pecuarista evoluiu com a produção, não se pode deixar de reconhecer também o notável desenvolvimento do setor industrial e exportador.

Sustentabilidade & tecnologia A tecnologia aplicada à pecuária está cada dia mais presente no rebanho brasileiro. Aliada ao desenvolvimento de pesquisa nacional e de técnicas específicas aos sistemas produtivos, ela está impulsionando os índices de produtividade dos animais e colaborando para uma pecuária cada dia mais eficiente e sustentável. Os avanços são bastante visíveis, de forma que, ocupando exatamente a mesma área, o rebanho bovino brasileiro poderia facilmente dobrar, com a implementação de ferramentas simples de manejo e tecnologia. Hoje, cerca de 80% do rebanho é composto por animais de raças zebuínas (Bos indicus), que são animais de comprovada rusticidade e adaptação ao ambiente predominante no Brasil. Dentre estas raças, destaca-se o Nelore, com 90% desta parcela. O Nelore é um animal extremamente adaptado às condições brasileiras, tanto ao ambiente quanto ao sistema de produção. Criadores de vanguarda na raça Nelore já pesquisam com instituições de pesquisa nacionais e internacionais a seleção de animais com aptidão para carnes mais tenras ou macias, o que poderá resultar em formidável salto competitivo para uma raça que compõe mais de 70% de nosso rebanho de corte. A criação destes animais é predominantemente a pasto, com suplementação mineral. Representando a maioria dos bovinos para corte no Brasil, os zebuínos podem ser encontrados por toda extensão do território. A região Sul do Brasil é caracterizada por baixas temperaturas e pastagens de mais alto valor nutritivo, características estas


Europeus adaptados No Brasil, também há a presença de animais conhecidos como europeus adaptados, representados principalmente pelas raças Bonsmara (desenvolvido na África do Sul) e Senepol. Uma ferramenta cada vez mais utilizada pelos criadores brasileiros, e que vem gerando ótimos resultados é o cruzamento entre raças, ou cruzamento industrial, entre animais zebuínos e europeus, com o objetivo de se usufruir do ganho de heterose (ganho genético decorrente de combinação de características extremas entre as raças), além da complementaridade das características. Os cruzamentos vêm ganhando adeptos com o passar dos anos, permitindo a produção de uma carne mais nobre em ambientes mais rústicos.

Estratégias Com a finalidade se aumentar a eficiência e a produtividade da bovinocultura de corte brasileira, algumas estratégias estão sendo adotadas por criadores de todo o país. O confinamento para terminação, o semiconfinamento, e a suplementação de período seco são algumas delas e contribuem para a redução do ciclo de produção, para a obtenção de uma carcaça mais bem-acabada e consequentemente para um uso mais sustentável da terra e dos recursos naturais. O rebanho bovino brasileiro está em plena evolução, com melhoria contínua dos seus índices zootécnicos, se tornando cada dia mais produtivo e eficiente. A maior e melhor produção em área constante têm permitido que a pecuária brasileira se torne cada vez mais sustentável, uma referência no mundo inteiro.

nais na área de produção e sanidade animal para fornecer ao mundo carne de ótima qualidade, em volumes apreciáveis e a preços competitivos. Nosso mercado doméstico também é robusto e ajuda a reduzir custos na escala. O país precisa apenas investir em logística, parcerias entre produtores e frigoríficos e ter coragem de evoluir com seus programas de defesa sanitária.

Combate à Febre Aftosa Segundo o Conselho Nacional da Pecuária de Corte - CNPC a perspectiva é que a produção de carne bovina deva chegar a 11 milhões de toneladas até 2023. Dentre os principais desafios para o crescimento do setor está a questão da sanidade animal, sendo o combate à Febre Aftosa o mais relevante dentro deste tema. A Febre Aftosa é hoje a principal barreira para a comercialização da carne brasileira no mercado internacional. É importante ressaltar que há 08 anos o país não reporta nenhum caso da doença. Neste sentido, o objetivo do setor é que até 2020 o Brasil seja considerado um país completamente livre da Febre Aftosa. Alguns importantes passos ainda precisam ser dados nesta direção. Os mais importantes são os relativos à descontinuidade da vacinação e também pela instalação de uma política unificada, que garanta a equivalência da inspeção do rebanho bovino de corte em todos os níveis – federais, estaduais e municipais, bem como a devida estruturação dos organismos responsáveis. SEAPEC

que permitiram aos Bos taurus (animais de raças taurinas), de origem europeia, se adaptarem perfeitamente a este ambiente. Dentre as raças de origem europeia podemos citar o Aberdeen Angus, Red Angus, o Hereford, o Simental, entre outros.

Segundo maior produtor do mundo Neste contexto de sustentabilidade, é importante ressaltar que o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, mantendo 68% da área do seu território com florestas preservadas. Em síntese, o Brasil tem clima, disponibilidade de água, genética, indústria de insumos, profissioAnimal Business-Brasil_17


Construções rurais e ambiência animal no Brasil Pilares da sustentabilidade e do bem-estar na produção Por:

Profª Ilda de Fátima Ferreira Tinôco, Profª Cecília de Fátima Souza Ferreira e Prof. Fernando da Costa Baêta (Professores do Depto. de Eng. Agrícola/Universidade Federal de Viçosa e pesquisadores do AMBIAGRO), e Kelle Pardim de Oliveira, Maria de Fátima Araújo Vieira, Múcio André dos Santos Alves Mendes, Leticia Cibele da Silva Ramos Freitas, Márcia Gabrielle Lima Cândido e Robinson Osorio Hernandez (Pós-graduandos e pesquisadores do AMBIAGRO).

O Brasil é um país de destaque no cenário mundial de produção e exportação de proteína de origem animal. De acordo com o ranking divulgado pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos - USDA (2015), o país posiciona-se como segundo produtor, superando a China, primeiro exportador de carne de frango e sétimo produtor mundial de ovos. O Brasil ocupa também a quinta posição no ranking mundial de produção de leite, sendo o segundo produtor e exportador mundial de carne bovina e o quarto produtor e exportador mundial de carne suína. 18_Animal Business-Brasil

P

ara alcançar essa posição de destaque, nos últimos anos, os produtores vêm buscando a implantação de tecnologias relacionadas ao manejo, instalações, nutrição, sanidade e material genético. Dessa forma, o foco atual do processo produtivo é adequar tais tecnologias com o bem-estar animal e sustentabilidade da produção. Nesse sentido, a produção intensiva de animais, principalmente aves e suínos, tem sofrido alterações no intuito de garantir esse bem-estar. A União Europeia tem rígidas regras de bem-estar animal que envolvem todas as espécies de interesse produtivo, atingindo todos os segmentos, incluindo produção, transporte, abate e experimentação. A título de exemplo, uma legislação europeia específica para o bem-estar na produção de suínos foi estabelecida em 2001, implementando a obrigatoriedade de baias coletivas para matrizes, sendo que, em 2013, dos 28 países pertencentes à União Europeia, 17 já tinham adotado as mencionadas baias coletivas. Em se tratando de aves, a União Europeia proibiu a criação de poedeiras em gaiola de bateria convencional desde 2012, sendo permitido apenas criação ao ar livre, em galpões e em gaiolas enriquecidas. No caso específico do Brasil, as iniciativas do governo brasileiro para atender às demandas do mercado consumidor e adequar o sistema de produção animal vigente às exigências interna-


Kelle Pardim

Avicultura de Corte - Granja de Integração da Empresa São Salvador Alimentos SSA/ Itaberaí- Goiás - Brasil

cionais, vem ocorrendo em velocidades crescentes. Atualmente as associações de produtores, juntamente com os centros de pesquisa, setor produtivo e MAPA, vêm definindo novas metas e recomendações e aumentando gradualmente as exigências, tendo como foco o bem-estar e a sustentabilidade na produção animal.

Mercado exigente Tais ações ocorrem devido, principalmente, a um mercado consumidor, cada vez mais atento e exigente, que procura por produtos provenientes de empresas que praticam o manejo com foco no bem-estar animal e que tenham uma política interna pautada na sustentabilidade, principalmente no âmbito ambiental. Dessa forma, um sistema de produção é considerado sustentável quando todas as suas etapas atendem a processos socialmente justos, economicamente viáveis e ambientalmente adequados. Pautadas no objetivo da sustentabilidade, inúmeras inciativas devem ser tomadas. Dentre elas, pode-se mencionar a participação dos gestores em associações e entidades que buscam medidas sustentáveis; ações que visem à segurança do trabalhador; coleta seletiva em todos os setores da cadeia produtiva; preser-

vação de áreas de matas ciliares; manejo de áreas degradadas; compostagem de dejetos, carcaças e animais mortos; produção de gás por meio de biodigestores; utilização de galpões abertos para redução do consumo de energia, entre outros.

Adequação arquitetônica Vale mencionar, contudo, que todas as ações que envolvem a sustentabilidade no ambiente de criação, bem como na circunvizinhança envolvida na atividade de produção animal, têm dependência direta com o clima local e com a adequação arquitetônica, bem como com os sistemas de acondicionamento adotados e praticados no processo produtivo. Nessa matéria, são abordados alguns dos principais pilares que norteiam a sustentabilidade e o bem-estar na produção animal do Brasil e em outras regiões de clima quente, com ênfase nos aspectos relacionados à influência do clima na concepção arquitetônica e no acondicionamento térmico das instalações; efeito do clima no bem-estar e desempenho dos animais; diversidade climática do Brasil, adaptação de espécies e distinção de projetos de unidades para produção animal. Animal Business-Brasil_19


Influência do clima A produção animal brasileira concentra-se principalmente na região intertropical, onde ocorre maior incidência de radiação solar, o que acarreta efeitos prejudiciais na produção, sanidade e bem-estar dos animais de produção. Em países de clima quente, um dos grandes desafios à produção animal refere-se às temperaturas predominantemente elevadas, as quais limitam o bem-estar e a produtividade dos animais de produção. Assim, considerando-se que o Brasil está localizado ao sul da linha do Equador, na faixa mais quente do globo terrestre, onde as médias de temperatura ao longo do ano geralmente são muito superiores ao desejável para o conforto térmico dos animais, especialmente no verão, entende-se que se deve atentar prioritariamente para os problemas relativos ao estresse por calor. Por ser um país predominantemente quente e com pequena amplitude térmica, tem-se

que a maioria das instalações utilizadas para produção animal no Brasil são abertas, sem isolamento, utilizando apenas a ventilação natural ou ventilação mecânica positiva. Em alguns casos, utilizam-se também instalações abertas, conjugadas ao emprego de cortinas para eventuais fechamentos nas laterais, nos momentos em que os valores de temperatura do ar encontram-se abaixo ou acima dos considerados confortáveis aos animais. São os chamados sistemas híbridos de acondicionamento térmico, que consistem na abertura das cortinas em épocas do ano ou períodos do dia com temperaturas mais amenas, quando não seria necessário o acionamento de resfriamento ou aquecimento. Nesse caso, a ventilação natural se torna suficiente para manter a temperatura dentro dos alojamentos, diminuindo assim o investimento inicial na construção e o consumo de energia no acondicionamento, tornando-as mais sustentáveis.

Kelle Pardim

Bovinocultura de Leite – Sala de Ordenha/Portugal

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A eficiência na produção animal é o resultado de uma combinação de fatores que inclui o ambiente.

Esses sistemas híbridos ajudam a dissipar o calor sensível no interior da instalação, embora este efeito se torne nulo quando a temperatura de bulbo seco fica igual à temperatura corporal da ave, havendo necessidade de utilização de métodos de resfriamento evaporativo. O uso destes sistemas possibilita a redução da temperatura de bulbo seco em até 11°C em algumas regiões. No Brasil, a média desta redução é de 6 °C.

Instalações abertas Instalações abertas são econômicas e relativamente eficientes para resolverem problemas de estresse por calor em animais adultos, porém durante a sua primeira fase de vida (por terem o sistema de termorregulação pouco desenvolvido), os animais devem ser protegidos do estresse por frio e de correntes de ar intensas, especialmente durante o inverno, noites e madrugadas frias. Assim, em períodos frios, e/ou durante a fase inicial de vida dos animais, o problema mais frequente é o frio. Torna-se, portanto, necessário evitar a perda de calor das instalações para o ambiente externo, por meio de maior controle das aberturas dos alojamentos, geralmente em detrimento da renovação e qualidade do ar interno.

Efeito do clima no bem-estar A eficiência na produção animal, seja carne, leite ou ovos, é resultado de uma combinação de fatores, tais como: manejo, sanidade, genética, nutrição e ambiência, sendo que, este último, também interfere diretamente na produtividade. Os animais de produção mais significativos no agronegócio brasileiro (bovinos, suínos e aves), são homeotérmicos, ou seja, buscam manter a temperatura corporal relativamente constante

dentro de limites estreitos, mesmo ocorrendo variação da temperatura ambiente. Para isto utilizam uma série de mecanismos fisiológicos, morfológicos e comportamentais. Porém, se a temperatura do ambiente não estiver dentro de uma faixa, chamada zona de conforto térmico, em que há um gasto mínimo de energia para manutenção de sua temperatura corporal, ele terá que produzir calor (para aumentar a temperatura corporal, quando a temperatura do ambiente diminui muito) ou perder calor para o meio (para diminuir a temperatura corporal quando a temperatura do ambiente aumenta) a fim de tentar manter sua temperatura corporal dentro de limites relativamente constantes. Assim, uma vez que o animal está fora de sua zona de conforto, ele terá que disponibilizar energia para produção ou dissipação de calor, o que acarretará redução da sua produtividade. Quando o animal se encontra em estresse por frio, ou seja, inserido em ambiente cujos valores de temperatura do ar estão abaixo daqueles da sua zona de conforto, (situação mais recorrente em animais jovens, os quais ainda não têm seu sistema termorregulador completamente desenvolvido), torna-se necessário que este aumente a produção de calor metabólico para manutenção da sua temperatura corporal dentro do limite fisiológico da espécie. Contudo, ao fazer isso a energia consumida pelo animal será desviada da produção e crescimento para manutenção da sua temperatura corporal, o que prejudicará sua eficiência alimentar, com consequente redução da conversão alimentar.

Efeitos negativos do estresse Dentre os efeitos negativos do estresse pelo frio, tem-se a redução da movimentação e tenAnimal Business-Brasil_21


Kelle Pardim

Avicultura de Corte - Granja de Integração da Empresa São Salvador Alimentos SSA/ Itaberaí- Goiás - Brasil

dência a aglomerações, podendo gerar sufocamento e morte, situação comumente encontrada em pintos submetidos a estresse por frio. Neste cenário, também ocorrem as maiores incidências de esmagamento e refugo de leitões em maternidade. Além disso, animais submetidos a estresse por frio têm redução da sua resposta imune e maior susceptibilidade a patógenos. Por outro lado, em condições de estresse por calor, quando a temperatura do ar ambiente encontra-se acima da zona de conforto térmico animal, situação muito comum no Brasil, país de clima quente, ou ainda no caso de animais de alta produção, ou animais com genética desenvolvida e adaptada, principalmente em países de clima temperado, ocorrem grandes prejuízos para a performance animal. Animais submetidos a estresse térmico por calor terão reduzida taxa de consumo de alimento, o que reflete diretamente no seu desempenho. Vacas em estresse calórico reduzem a produção de leite e aumentam o tempo de retorno ao cio, a mortalidade embrionária e apresentam maior frequência de nascimento de bezerros mais leves. Nos machos, pode ser observada queda da libido, redução no número de espermatozoides e outras espécies de anomalias. 22_Animal Business-Brasil

Nas aves o efeito do estresse se reflete no reduzido ganho de peso em frangos de corte, aumento de ascite e mortes súbitas difundidas nos lotes. Em galinhas poedeiras sob estresse calórico, verifica-se redução tanto na produção de ovos quanto na qualidade da casca, (alterações na espessura e resistência). Todos estes fatores resultam em prejuízos produtivos para a indústria de produção animal, significando que o bem-estar animal comprovadamente foi afetado negativamente. Nesse sentido, é de fundamental importância a adequação do ambiente de criação às necessidades térmicas dos animais de produção, com o objetivo de evitar os efeitos negativos do ambiente no desempenho e no bem-estar das espécies que, consequentemente, afetam a sustentabilidade da atividade de uma maneira geral.

Diversidade climática do Brasil As características térmicas de uma região são avaliadas, principalmente, pela temperatura, radiação solar, umidade relativa e velocidade do ar, pressão atmosférica e chuvas. Essas podem variar de acordo com a altitude do local, com o paisagismo circundante, além da movimentação de massas de ar e, normalmente, são utilizadas


na determinação de índices que caracterizam cada região. O conhecimento dessas características e dos respectivos comportamentos em cada região torna-se fundamental para o projeto e manejo de instalações para produção animal. A obtenção de altos índices zootécnicos no Brasil ainda se limita nas questões de alojamento de animais geneticamente desenvolvidos em climas amenos, em condições de clima quente. Daí a necessidade de se ter instalações adaptadas com características construtivas que garantam o máximo possível de conforto, permitindo ao animal desenvolver todo o seu potencial genético. Como estratégia para adequar o ambiente térmico no interior da instalação às exigências dos animais, deve-se sempre priorizar projetos que amenizem as sensações de desconforto térmico animal atribuídas a climas extremos, como excesso de calor, frio ou vento, bem como proporcionar ambientes que sejam confortáveis para que os animais possam atingir altos níveis de produtividade sem, no entanto, prejudicar suas condições de bem-estar.

pode causar o estresse térmico aos animais, diminuindo a produtividade dos mesmos e aumentando, consequentemente, os custos de produção, percebe-se a importância das estratégias de criação e modificações no ambiente, para que se possa proporcionar melhor condições de bem-estar aos animais. Assim, para que haja conforto térmico dos animais no interior das instalações, há que se considerar a adequação do projeto em termos de materiais utilizados, orientação, topografia local, capacidade de alojamento de animais, clima, dentre outras condutas. São inúmeras as considerações e modificações que podem ser feitas para propiciarem um melhor condicionamento térmico e conforto aos animais. No entanto, é importante que se considere a relação custo/benefício, de tal forma que a sustentabilidade seja plena, não só no que diz respeito aos efeitos ambientais e sociais, mas também do ponto de vista econômico.

Avicultura de postura - Granja Mantiqueira Itanhandu/Minas Gerais - Brasil

Alternativas

Conclusão Com base no exposto, considerando-se que o equívoco na escolha do manejo ambiental

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Nesse contexto, várias alternativas podem ser utilizadas para reduzir os efeitos dos climas regionais sobre o interior das instalações, baseando-se principalmente no acondicionamento térmico natural, como escolha adequada do local, orientação das instalações, materiais de cobertura e fechamentos, paisagismo circundante e ventilação natural. Entretanto, em regiões com climas muito adversos, quando o acondicionamento térmico natural não mais é suficiente para manter o bem-estar dos animais, é necessária a complementação do acondicionamento térmico através de recursos artificiais, para promover melhorias ao ambiente dos animais, tais como resfriamento evaporativo, ventilação artificial, dentre outros. Desse modo, são considerados sistemas de acondicionamento térmico artificial aqueles que utilizam equipamentos de ventilação positiva ou negativa associados ou não a resfriamento adiabático evaporativo.

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Raça Canindé: caprinos rústicos, prolíferos e bons produtores de carne, leite e couro Por:

Bonifácio Benicio de Souza Patos – Paraíba, Professor Associado - UAMV/ CSTR/UFCG, Bolsista de Produtividade do CNPq e Nayanne Lopes Batista Dantas Patos – Paraíba, Médica veterinária, Mestra em Zootecnia e Doutoranda em Medicina Veterinária pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

A caprinocultura tem elevada importância social e econômica para a população rural e para a própria estrutura das regiões onde é desenvolvida. Ela constitui uma alternativa viável e sustentável para diversificar a produção, principalmente para pequenos e médios produtores.

A

espécie caprina tem grande capacidade de adaptação às condições ambientais adversas e aos diferentes regimes alimentares e de manejo. Independente da função explorada, nos últimos anos a cadeia produtiva da caprinocultura brasileira tem experimentado mudanças significativas. A atividade vem despertando mais interesse por parte dos setores público e privado, propiciando mudanças em alguns de seus segmentos. Evidencia-se a intensificação da pesquisa voltada para a produção de animais e agregação de valor aos seus produtos, além do 24_Animal Business-Brasil

crescimento no nível de organização dos produtores, aumento na apropriação do conhecimento e no uso da tecnologia e o incremento da demanda por produtos derivados de caprinos.

Prevalência do Nordeste O efetivo caprino na região Nordeste representa mais de 90% do total brasileiro que é de 9,3 milhões de cabeças. Independente da região geográfica e do tipo de exploração, a caprinocultura está presente em todos os estados brasileiros e o rebanho caprino é constituído por raças exóticas, animais sem padrão racial definido (SRD) e raças tidas como nativas. Apesar da baixa produtividade, os caprinos naturalizados apresentam grande potencial produtivo a ser explorado, pois é possível obter-se índices produtivos muito elevados tendo em vista as condições adversas em que se encontram os animais. Assim, de acordo com Ribeiro, é interessante explorar animais pouco exigentes, que tenham condições de utilizar os recursos já disponíveis, visando minimizar os custos de produção.

Variabilidade genética Além da sua importância como recurso biológico dotado de grande variabilidade genética e do seu valor histórico, os caprinos naturalizados desempenham um papel importante para


a região semiárida do Brasil. Eles têm sido um dos responsáveis pela fixação do homem no campo, por serem uma fonte de proteína animal de alto valor biológico disponível para as populações de baixa renda.

No entanto, a introdução de raças melhoradas com finalidade de aumentar a precocidade - provocando desinteresse na criação das raças naturalizadas - e cruzamento entre as raças naturalizadas ou entre elas e raças melhoradas, devido na maioria das vezes ao tipo de sistema empregado (extensivo), têm se tornado ameaças à preservação do patrimônio genético desses animais. Dessa forma, devem-se reunir esforços e buscar formas equilibradas de exploração, através de programas de melhoramento por cruzamento e seleção, associados a trabalhos de recuperação, preservação e conservação das raças em seu estado de pureza.

Caprinos naturalizados Os caprinos naturalizados no Brasil são descendentes dos tipos trazidos pelos colonizadores portugueses logo após o descobrimento. Devido ao processo de seleção natural que sofreram ao longo de várias gerações, esses animais apresentam alta capacidade de sobrevivência e alta prolificidade nas condições do Nordeste, além de melhor resistência às doenças e parasitas e às condições climáticas severas, entretanto algumas características produtivas ainda podem ser afetadas, entre elas, as relacionadas à reprodução. Apresentam características como: pequeno porte, pelo curto, orelhas eretas e baixa produção de leite. Os de padrão racial definido representam uma minoria, sendo os principais tipos o Moxotó, o Canindé, Repartida e Marota bem como os ecotipos como Gurguéia, Biritinga, Azul, Graúna, Nambi e Orelha de Onça. Os ecotipos: Cabra Azul, Graúna, Marota, Gurguéia e Repartida não têm padrão racial homologado pela Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC), sendo o Canindé e o Moxotó reconhecidos como raças.

Raça Canindé A raça Canindé foi reconhecida como raça pelo Ministério da Agricultura em 1999. Ela tem sua origem provavelmente ligada ao gru-

Divulgação

Melhoramento por cruzamento

Exemplares da raça Canindé.

pamento das pirenaicas, (raças trazidas pelos colonizadores) de acordo com a mais recente classificação efetuada na Espanha e Portugal. Essa raça sofreu o processo de naturalização no Nordeste brasileiro. Alguns afirmam que o nome é oriundo de “Calindé” que era a tanga branca, de algodão rústico, usada pelos escravos. Outros afirmam ter origem na região do Vale do Rio Canindé, no Piauí. O nome consolidou-se como Canindé que significa “faca pontuda”, usada principalmente no sertão cearense ou também pode significar as pedras ou lascas rochosas que serviam para afiar lâminas ou peixeiras no sertão do Piauí. O rebanho estimado em mestiçagem é de 50.000 cabeças. Calcula-se que existam cerca de 25.000 cabeças classificáveis como “puras de origem” (PO). O baixo número de exemplares da raça impõe um risco de extinção. Assim, ações que objetivem a preservação destes animais são importantes para que não seja perdido este material genético de forma definitiva.

Características A Canindé é uma raça nativa do Nordeste brasileiro, encontrada nos estados do Piauí, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. Está atualmente ameaçada de extinção. A cabeça é de tamanho médio e harmoniosa com o corpo (figura 1). Os chifres são de coloração escura, dirigindo-se para trás, para cima e para os lados, Animal Business-Brasil_25


podendo ser frequente a ausência dos mesmos. As orelhas são medianas, alertas e bem inseridas. Seu pescoço é delgado, harmônico e bem implantado. Dorso de linha de apresentação reta. Garupa inclinada e curta. Ossatura forte, mas delicada, os cascos são medianos, escuros e apresentam bons aprumos. A pelagem é preta, mas com o ventre e o lombo listrado de cor castanho claro ou escuro Os caprinos da raça Canindé assemelham-se aos da raça Moxotó e Repartida, em tamanho, forma e função, embora seja a que tem maior aptidão leiteira das três, produzindo até 800 ml de leite por dia. Como nos caprinos da raça Moxotó, apresenta em torno dos olhos manchas amarelas ou brancas, descendo duas listas dessa mesma coloração até a comissura labial. Os pelos são curtos e brilhantes. Os animais são leves e de pequeno porte. A altura é de 55 cm, aproximadamente. A mortalidade situa-se de 15% a 18,6% para animais de até um ano de idade. Para animais com essa idade o peso gira em torno de 15,7 kg. Em sistema de exploração tendo a pastagem da caatinga como principal fonte de alimento, suplementação alimentar durante a época seca, sal mineral e água à disposição

dos animais o ano todo, adotando estação de monta e desmame das crias entre 84 e 90 dias, tem-se obtido os seguintes índices produtivos (conforme tabela 1.)

Capacidade adaptativa Inúmeros estudos foram e estão sendo realizados para avaliar a capacidade adaptativa e os aspectos produtivos da raça Canindé, isoladamente ou em comparação com outras raças caprinas em todo o Brasil. Coelho Silva et al., afirmam que, quando expostas à radiação solar direta, caprinos da raça Canindé ativam mecanismos evaporativos para dissipar o excesso de calor ganho do ambiente, observando diferenças regionais na evaporação cutânea, sendo esta mais intensa na região do pescoço.

Canindé X Moxotó Comparando caprinos das raças Canindé e Moxotó, Chagas da Silva et al., obtiveram resultados que comprovam que ambas as raças respondem positivamente às condições ambientais de estresse térmico que lhes foram impostas, o que se consegue pela alta resistência a climas mais severos que estes animais possuem. E em-

Tabela 1. índices produtivos de caprinos da raça Canindé. Taxa de parição

80 a 90%

Taxa de sobrevivência ao desmame

89 a 94%

Prolificidade

1,6 crias/cabra parida

Proporção sexual ao nascimento (machos/fêmeas)

50%

Partos simples

23%

Partos duplos

66%

Partos triplos

11%

Peso médio ao nascer - macho

2,1 kg

Peso médio ao nascer - fêmea

1,9 kg

Peso médio ao desmame - macho

7,9 kg

Peso médio ao desmame - fêmea

7,6 kg

Peso médio da matriz adulta

35 a 40 kg

Peso médio do macho adulto

45 a 55 kg

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Os caprinos da raça Canindé são rústicos, prolíferos, pouco exigentes e resistentes às doenças.

bora apresentem geralmente melhores resultados, percebe-se que os animais da raça Canindé são ligeiramente mais sensíveis às variações das condições ambientais. Quanto ao comportamento ingestivo, Barreto et al., concluíram que caprinos das raças Moxotó e Canindé são muito seletivos e preferem as menores partículas da dieta, independentemente do seu nível energético. Assim, dietas com alto nível de energia favorecem a eficiência alimentar e de ruminação em caprinos Moxotó e Canindé em confinamento. Corroborando com o estudo referido anteriormente, Ribeiro et al. (2006) asseguram que os animais das raças Moxotó e Canindé possuem comportamento ingestivo semelhante. Os autores atribuem esse fato às semelhanças nas características corporais das duas raças, visto que caprinos Moxotó e Canindé atingem, na idade adulta, tamanho corporal muito próximo e possuem velocidade de crescimento semelhante, além de serem animais que foram submetidos às mesmas condições de ambiente no processo de adaptação ao semiárido do Nordeste do Brasil. Utilizando a mesma justificativa e partindo do pressuposto teórico que os séculos de pressão de seleção natural promoveram elevada capacidade adaptativa em relação a ambientes de desconforto térmico para as raças Canindé e Mo-

xotó, Lucena et al., verificaram que não houve efeito de raça para nenhuma das variáveis fisiológicas estudadas, a saber: TR (temperatura retal), FR (frequência respiratória), FC (frequência cardíaca), TPELO (temperatura do pelo) e TPELE (temperatura da pele); quando provocada situação de estresse térmico. Além disso, concluíram que temperaturas de 20,6 a 27,8 °C podem ser consideradas dentro da zona de conforto térmico para ambas as raças; em temperaturas de 31,6 °C, os animais elevaram a frequência cardíaca e respiratória e a temperatura da pele, caracterizando situação de estresse térmico e o índice de temperatura e umidade (ITU) acima de 81,3 pode ser considerado estressante para caprinos das raças Canindé e Moxotó.

Conclusão Os caprinos da raça Canindé são rústicos, prolíferos, pouco exigentes e resistentes às doenças, além de possuírem aptidão para produção de carne, leite e pele. A exploração caprina deve levar em consideração programas de melhoramento que visem à preservação do patrimônio genético das raças nativas. É importante o estudo do efeito das variáveis climáticas sobre o desempenho animal, a fim de amenizar o estresse imposto pelas condições ambientais e maximizar o potencial produtivo.

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Por: Adeildo

Lopes Cavalcante

Patrick Walrab von Buttlar/Pixabay

Técnica de células-tronco faz cavalo acidentado voltar às pistas de corrida Trata-se do cavalo Urbanesco, do Haras Ereporã, localizado no Rio de Janeiro. Ele sofreu uma fratura grave em um dos joelhos durante um campeonato de corrida de cavalos, mas, graças a um tratamento que recebeu com células-tronco, o qual consistiu na substituição de células doentes por células novas e sadias, o animal teve o joelho recuperado, possibilitando a sua volta às pistas de corrida. Urbanesco, antes de receber a terapia com células-tronco (realizada por uma equipe de veterinários do Laboratório Regenera Stem Cell, de Campinas, em São Paulo), passou por tratamentos convencionais, que não deram resultado. Por causa da lesão ele ficou oito meses inativo e correu o risco de ser afastado para sempre das pistas.

As carcaças do pirarucu, hoje descartadas após a retirada dos filés do peixe, podem virar matéria-prima para a indústria alimentícia. Isto se tornou possível graças a uma técnica desenvolvida por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), a qual consiste em transformar os resíduos daquele peixe em uma substância líquida chamada hidrolisado proteico de pirarucu, capaz de enriquecer alimentos com baixo teor de proteína, como pães, cereais e biscoitos 28_Animal Business-Brasil

Divulgação

Tecnologia permite usar resíduos do peixe pirarucu para enriquecer alimentos com baixo teor de proteína

O líquido, segundo Rogério Souza de Jesus, especialista em ciência de alimentos do INPA, também pode ser usado em alimentos para pessoas que não digerem a proteína (lactose) do leite de vaca. O pedido de patente já foi feito pelos dois órgãos ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial.


UNICAMP: Pesquisadora desenvolve salame italiano com menos sal de cozinha O novo produto, fruto de pesquisa realizada pela farmacêutica Bibiana Alves dos Santos na Universidade Estadual de Campinas, em Campinas (SP), é, segundo ela, mais saudável que o comercializado no mercado. Para desenvolver o salame, Bibiana inovou: utilizou o cloreto de potássio (KCI) em substituição a 50% do cloreto de sódio (NaCI), o chamado sal de cozinha, sem prejuízos à qualidade físico-química, microbiológica, bioquímica e no sabor do produto. O salame, produzido com 50% de redução de NaCl e com a adição de 50% de KCl, manteve as características similares ao produto

MSD Saúde Animal desenvolve vacina para suínos inédita no Brasil Os criadores de suínos passaram a dispor, pela primeira vez no país, de uma vacina (Circumvent PCV M) capaz de proteger os animais contra duas das principais doenças que afetam as criações: a circovirose e a pneumonia enzoótica. Ela foi desenvolvida pelo setor de pesquisa da MSD Saúde Animal, empresa que desenvolve, fabrica e comercializa medicamentos para as principais espécies animais. O uso da vacina, segundo a empresa, resulta em redução da mortalidade e da perda de peso durante todo o período de terminação (engorda para abate), aumentando a lucratividade do produtor. Para prevenção das doenças, a vacina deve ser aplicada em leitões, por via intramuscular, a partir de três semanas de idade.

tradicional durante o processamento e vida de prateleira de 90 dias. Com a pesquisa Bibiana obteve o título de Doutor em Tecnologia de Alimentos na Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP.

Divulgação

Agroforn

A Agroforn, fabricante de máquinas para a agropecuária, desenvolveu, com tecnologia própria, uma minienfardadeira que possibilita o preparo, em forma de fardo cilíndrico, de feno de capim (utilizado na alimentação do gado). Acoplada a um trator (foto), a máquina é de fácil manuseio e baixo custo de manutenção. Por ser de pequeno porte, a enfardadeira pode operar em locais estreitos e de difícil acesso. O fardo cilíndrico tem melhor resistência às intempéries (vento forte, temporal, seca, calor excessivo e geada), garantindo a qualidade do feno (em propriedades nutritivas).

MSD Saúde Animal

Agroforn lança minienfardadeira projetada com tecnologia própria

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Divulgação

UNEB desenvolve ração para gado mais nutritiva e de baixo custo

Já disponível no mercado com o nome de Indumel, o produto é um suplemento energético em pó e foi desenvolvido pelo grupo paulista Bioserv com base em estudos da Universidade Federal de Minas Gerais e da Universidade Federal de Viçosa (esta localizada na cidade do mesmo nome em Minas). O suplemento é um subproduto da agroindústria da cana-de-açúcar e do álcool e pode ser utilizado na alimentação de bovinos, suínos, aves, ovinos, caprinos, equinos e peixes. O alimento se destaca por apresentar uma grande vantagem: melhora o paladar e aroma dos alimentos fornecidos aos animais. No caso de bovinos, ele permite um melhor aproveitamento pelos animais de componentes de menor palatabilidade, capins picados, farelos, palhas e sabugos triturados. 30_Animal Business-Brasil

Divulgação

Bioserv desenvolve melaço de cana para bovinos, equinos, ovinos, caprinos, suínos, aves e peixes

O produto resulta de estudo de professores e estudantes do curso de engenharia agronômica da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no núcleo do município de Barreiras, e foi preparado com milho e casca de caroço do algodão. O alimento, que se destina a animais criados em confinamento ou soltos no pasto, foi testado, com sucesso, na alimentação de quinze animais da raça Nelore de propriedade do pecuarista Cizino Menezes. O estudo, que contou com apoio da Petrobras e da Fundação Juazeirense para o Desenvolvimento Científico, Tecnológico, Econômico, Sociocultural e Ambiental, teve por fim buscar novas fontes de alimentação para o gado em Barreiras, principalmente na época da seca quando há escassez de pasto na região. “A ração, na seca, vai ser muito utilizada em Barreiras”, diz Cizino.


Dr Nelson Klas

Gado Charolês veio da França para fazer sucesso no Brasil Por:

Antonio Edson Bernardes, produtor

A porta de entrada do Charolês no Brasil foi o Rio Grande do Sul, e lá se vão 133 anos.... Que outra raça bovina ostenta o privilégio de ter sua introdução oficialmente registrada há tanto tempo? Os anais da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas confirmam esse fato.

U

ma decisão governamental determinou que se criasse naquela cidade, a Imperial Escola de Medicina Veterinária e Agricultura Prática, no ano de 1883, que foi inaugurada pelo Imperador Dom Pedro ll com a Princesa Isabel e membros da Corte. As dificuldades eram imensas naqueles tempos, tudo carecia de logística. Para que o novo educandário começasse a funcionar, o Governo Imperial mandou vir dos Estados Unidos o material básico. Foram chegando mesas, bancos, escrivaninhas, quadros-negros, mapas, globos etc. Tudo aqui chegado e instalado, a Escola deparou-se com uma dificuldade ainda maior: faltavam professores. Animal Business-Brasil_31


Travava-se naquele período, uma luta insana contra varíola, que grassava vitoriosa no Rio de Janeiro. Como o antídoto era muito caro, o Governo Imperial resolveu mandar vir da França o Dr. Claude Marie Rebourgeon, oriundo da famosa Escola Veterinária de Alfort e discípulo de Pausteur, que desembarcou então, na capital do Império, com a missão de produzir o antígeno. Tendo lá chegado e constatado que não havia as condições ideais para desenvolver seu trabalho, a solução foi enviá-lo para Pelotas, onde poderia estabelecer-se, já que ali fora inaugurada a Imperial Escola de Medicina Veterinária e Agricultura Prática. Ergueu-se, então, um laboratório (uma casinha com banheiro) para que ele desenvolvesse suas pesquisas e produzisse o tão almejado antídoto. No ano de 1884, o professor Rebourgeon excursionava pela Europa, de onde chegou a 26 de dezembro. Vinham com ele dois touros da raça Charolês, dois cavalos da raça Percheron, oito ovelhas e dois carneiros Disherley-Rambouillet e sementes “das principais árvores, plantas, hortaliças, etc...,que se cultivam na Europa”.

Os primeiros animais Os touros foram entregues para dois dos mais renomados criadores da região de Pelotas, que os utilizaram em cruzamentos com vacas já adaptadas. O Serviço de Registro Genealógico brasileiro, que tivera início do ano de 1906, por iniciativa do Dr. Leonardo Brasil Collares, um filho de Bagé, no Rio Grande do Sul, já havia sido consolidado. Ele era formado em agronomia na segunda turma da Faculdade Eliseu Maciel. No ano de 1900, foram importadas, da França, as primeiras fêmeas da raça Charolesa. Essa primazia coube ao criador Cypriano de Souza

32_Animal Business-Brasil

Conexão Charolês Brasil

Conexão Charolês Brasil

Luta contra a varíola

Mascarenhas, da Fazenda Rodeio Bonito, localizada no município de Júlio de Castilhos, no Rio Grande do Sul. No mês de abril do ano de 1927, ele importou Fadette e Formose, ambas nascidas em Fevereiro de 1926 e procedentes da criação de “Achilee Nandim et Fils”. Com Fadette o Herd-Book Collares abriu o Livro Genealógico da raça. Fadette é motivo de júbilo para o Charolês brasileiro, além de ter sido o primeiro animal da raça a ser registrado em nosso país, deixou um legado de 17 crias, num tempo em que não havia as modernas tecnologias reprodutivas.

Raça longeva e prolífera Naquele tempo, impensáveis eram as inseminações artificiais, as transferências embrionárias, as fertilizações in vitro e as transferências nucleares (clonagens). Mas Fedette não se importava com isso. Ela cumpriu tudo que se esperava dela, excedendo, em muito, qualquer expectativa e provando, já desde o início, duas das mais excepcionais qualidades do Charolês, no que tange à reprodução: a raça é excepcionalmente longeva e prolífera. Fadette morreu em 11 de novembro de 1948, Formose também deixou seu brilhante legado. Tendo morrido em 30 de março de 1944, deixou nove filhos registrados.

A raça A raça Charolesa tem sua origem na França, mais precisamente no vilarejo de Charolais região da Borgonha. Sua carne, caracterizada por um vermelho vivo, é apreciada internacionalmente. A pelagem do charolês costuma ter tons de branco ou creme de maneira uniforme. Atualmente, há animais puros em vários países mas houve formação de raças utilizando Charolês, tais como, Chara nos Estados Unidos, com 5/8


Potencial da ganho de peso A raça tem um grande potencial de crescimento e de ganho de peso, graças à sua extraordinária capacidade de conversão alimentar.

Fêmeas Maternais As vacas são muito leiteiras, chegando a produzir, no pico da lactação, 9 kg de leite, e seu instinto maternal é também muito desenvolvido.

Rusticidade Sua capacidade de se adaptar a diversos climas e ambientes é outra vantagem do gado charolês, tanto é que hoje ele está presente em cerca de 70 países. Essa adaptabilidade se deve muito à capacidade do seu organismo de fazer reservas de gordura para períodos de escassez de alimentos.

Docilidade Por ser uma raça dócil e de fácil lida, o charolês proporciona ganho de tempo, e mais segu-

Conexão Charolês Brasil

Conexão Charolês Brasil

de charolês e 3/8 de Brahman, e Canchim 5/8 charolês e 3/8 zebu, no Brasil. O charolês não é importante somente dentro da França, mas também fora dela. Isso se deve a inúmeras qualidades da raça, desde a produção de carne, até qualidades funcionais, além da docilidade. Os machos têm grande porte: podem pesar entre 1.100 a 1.500 quilos, enquanto o peso das fêmeas varia de 750 a 1.000 quilos. O peso médio da carcaça de novilhos com 17 meses de vida gira em torno de 420 quilos, com rendimento de peso vivo/peso de carcaça em torno de 59%. Além disso, sua carne é renomada por seu sabor, o que a faz ser uma das mais utilizadas por grandes chefs na culinária na França. Por isso, a raça está entre as melhores na produção de carne de qualidade e quantidade.

rança aos criadores, facilitando o manejo diário na propriedade.

Charolês no Brasil A Associação Brasileira de Criadores de Charolês (ABCC) foi fundada por produtores rurais gaúchos em 15 de dezembro de 1958, no município de Júlio de Castilhos, estado do Rio Grande do Sul (RS). Com 23 núcleos de criadores em atividade, a entidade possui 600 associados. Agregando modernidade e driblando com sabedoria os percalços dos modismos, a raça Charolês experimenta uma fase de invejável qualificação e crescimento. Padronizada e fixada num tipo de animal funcional de performance comprovada, a raça e a genética charolesa passam a ser solicitadas e por certo francamente ofertada no mercado como verdadeiro remédio para otimizar a produtividade dos rebanhos de corte Brasil afora. Não é à toa que se afirma que o Charolês é a “cruza que dá padrão”. Principalmente os neloristas, detentores de mais de 90% do rebanho de corte nacional, vêm descobrindo os benefícios do ingresso da genética do Charolês em adequados programas de cruzamentos industriais com zebuínos.

No Paraná Embora o berço da raça Charolesa, no Brasil, tenha sido o Rio Grande do Sul, atualmente o núcleo de criadores de Campos Gerais, no Paraná, se coloca em posição de postular o título de “a capital do Charolês”, pois, em 2015, realizou pelo segundo ano seguido a maior exposição da raça no país, que sobrepujou Esteio em número de animais, e, dentre os criadores, a Cabanha Tesourão, no Município de Palmeira, de propriedade do Dr. Nelson João Klas. Em 2014, conquistou, pela quarta vez consecutiva, o título de Campeão do Ranking Nacional, tanto como criador quanto como expositor.

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Abate de bovinos em 2015 a recomposição do rebanho está a caminho Por:

Gustavo Aguiar, zootecnista da SCOT Consultoria.

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O

Em meados de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados referentes ao abate inspecionado de bovinos no último trimestre de 2015. Era um balanço aguardado pelo mercado, já que permite a análise da participação de fêmeas no abate total de bovinos no fechamento do ano.

indicador de participação de vacas e novilhas no abate total é utilizado para medir a força com que se espera que o rebanho cresça ou diminua. Além disso, aponta como estão as expectativas dos produtores quanto ao mercado do bezerro e dá uma ideia da safra para o próximo ciclo produtivo.

Bela Magrela, Fazenda Alta Bagagem

Os abates Os dados apresentados são referentes apenas aos abates inspecionados, portanto, não refletem o volume absoluto de abates do país no período. Segundo o IBGE, foram abatidos, em estabelecimentos inspecionados, 30,64 milhões de cabeças de bovinos. Frente as 33,91 milhões de cabeças abatidas em 2014, houve uma queda de 9,6% nos abates no ano passado. Quando decompomos estes números em machos (bois e novilhos) e fêmeas (vacas e novilhas), fica evidente a diferença de comportamento. Foram abatidas 18,71 milhões de cabeças de machos e 11,93 milhões de cabeças de fêmeas, uma queda de 5,2% e 15,8% frente a 2014, respectivamente. Em resumo, houve queda nos abates de machos e fêmeas, mas de maneira bem mais pronunciada para as fêmeas. Computando estes dados, tivemos a primeira queda considerável para a participação de fêmeas no abate desde 2010. Figura 1. Esta tendência aponta estímulos positivos para a atividade de cria, com o preço do bezerro

Figura 1. Participação das fêmeas no abate total bovinos em cada ano. 150,0 140,0 130,0 120,0 110,0 100,0 90,0 80,0

jan

fev mar abr mai jun 2010

2011

2012

jul

ago set 2013

out nov dez 2014

2015

Fonte: IBGE / Elaborado pela Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br Animal Business-Brasil_35


exercendo forte influência na decisão do produtor em manter as matrizes em produção. Para efeito de comparação, enquanto a cotação da arroba do boi gordo subiu em média 22,7% e 15,1% em 2014 e 2015, respectivamente, considerando a cotação média de São Paulo, a cotação média do bezerro desmamado (6@) subiu, no mesmo período, 31,7% e 30,6%, respectivamente.

Impactos no mercado A participação de fêmeas no abate de bovinos é um dos principais indicadores que devemos acompanhar para antecipar mudanças no rumo do mercado do boi. Dessa forma, 2015 sinalizara que algo começara a mudar. Porém, as respostas normalmente ocorrem em um ritmo lento e gradual no mercado do boi. No último ciclo, como podemos ver na figura 1, a redução da participação das fêmeas no abate de bovinos ocorreu por quatro anos consecutivos. Este é um intervalo condizente com um ciclo produtivo da pecuária, na média nacional. Fazendo uma analogia, podemos esperar que a retenção de vacas ocorra por pelo menos mais dois anos. A resposta mais rápida desse movimento deve ser, como o verificado no ano passado, o enxugamento da oferta de bovinos. A menor quantidade de fêmeas disponível para o abate faz diferença nas escalas dos frigoríficos, o que deverá manter sustentado o mercado do boi em curto prazo. Contudo, aos poucos, a oferta será recomposta até o ponto dos preços perderem sustentação, e isso vale para todas as categorias. A cotação do bezerro é a que primeiro sinaliza esse aumento de oferta. Esperamos que, a partir de 2017, tenhamos uma perceptível melhora na disponibilidade das categorias jovens (impulsionada pela retenção de fêmeas de 2015). Além disso, nas fases de recomposição de rebanho, ocorre o que podemos chamar de correção dos preços do bezerro frente ao do boi. Observe a figura 2. Estivemos, no fim de 2015, diante da pior relação de troca para o comprador de bezerro 36_Animal Business-Brasil

Figura 2. Arrobas de boi gordo necessárias para a aquisição de um bezerro desmamado (6@) em São Paulo e a média dos últimos dez anos. 120,00 115,00 110,00 105,00 100,00 95,00

jan

fev mar abr mai jun

jul

ago set

out nov dez

Fonte: Scot Consultoria - www.scotconsultoria.com.br

nos últimos vinte anos. Nos primeiros meses de 2016, a relação já melhorou para o recriador. Acreditamos que, nos próximos anos, esta tendência se consolide, não somente em razão do comportamento histórico, mas também em função do patamar vigente da relação, que se distanciou da média. O mercado tende a responder mais rápido nestas situações, neste caso, através da redução de demanda por bezerros.

Para onde olhar Para correlacionar os dados de abate de fêmeas com os preços do bezerro em várias regiões, analisamos os catorze estados pesquisados pela Scot Consultoria para o preço do bezerro e os dados do IBGE para abate de fêmeas. Para avaliar os últimos dados disponíveis de preço anual fechado e validar a análise geográfica, comparamos a variação anual da participação de fêmeas no abate em 2013 e a variação anual de preço do bezerro em 2015, em função do intervalo de tempo entre concepção e oferta do bezerro no mercado. Os resultados estão na figura 2. Fica evidente a ligação entre a magnitude de abate de fêmeas e resposta do preço do bezerro. Em estados com maiores aumentos da participação de fêmeas no abate em 2013, o preço do bezerro reagiu com maior força em 2015. E vice-versa.


Podemos esperar que a retenção de vacas ocorra pelo menos durante mais dois anos. Esperamos que a partir de 2017 tenhamos uma perceptível melhora na disponibilidade das categorias jovens.

Em nível nacional, a variação da participação das fêmeas nos abates ficou em 0,2% em 2013, tendo o bezerro subido 33,6% na média de todos os estados pesquisados. Tomemos como exemplo os extremos, Bahia e Rondônia. Na Bahia, com aumento de 15,8% da participação de fêmeas no abate em 2013, a cotação do bezerro disparou 47,9% em 2015. Já em Rondônia, com a redução de 11,6% na participação de fêmeas no abate em 2013, a cotação do bezerro subiu 15,7% em 2015, a menor variação anual verificada. É importante ressaltar que o aumento ou redução da participação de fêmeas no abate não é o único fator determinante do preço do bezerro. Temos também a taxa de natalidade regional (influenciada pela condição climática) e em casos extremos a taxa de mortalidade do rebanho (de fêmeas e bezerros), como a verificada na região Nordeste em anos de calamidade climática. Além disso, o comportamento do preço do boi, que pode ser influenciado por outros fato-

res, também exerce pressão sobre os preços do bezerro, em função das expectativas de preço futuro dos agentes de mercado. Tendo verificada a proximidade do comportamento das grandezas apresentadas, podemos fazer uma análise geográfica para os preços do bezerro, com base nos abates de fêmeas de 2014 e 2015. Tabela 1.

Figura 2. Comportamentos da variação anual da participação de fêmeas no abate (2013) e da variação anual dos preços do bezerro desmamado (2015), por estado. 50%

47,9%

48,9% 41,1% 38,2%

40%

34,6%

32,7%

32,1%

35,1% 30,6%

27,8%

30%

30,8%

29,7%

32,3%

20% 15,8%

15,7% 9,5%

10%

8,6%

5,8%

5,7%

3,5%

3,1%

1,6%

1,6%

0% -5,6% -10,8%

-11,6% Rondônia

-4,6%

Rio de Janeiro

-3,4%

-10%

Variação anual na participação de fêmeas no abate (2013)

Mato Grosso do Sul

Rio Grande do Sul

São Paulo

Paraná

Mato Grosso

Tocantins

Minas Gerais

Santa Catarina

Pará

Goiás

Maranhão

Bahia

-20%

Variação anual no preço (2015)

Fonte: IBGE / Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br Animal Business-Brasil_37


Por: Béth

O abate de suínos cresceu 5,7% em 2015 em relação ao ano anterior: 39,3 milhões de cabeças foram abatidas – o maior número desde 2005. Já o abate de frango, aumentou 5,4%, alcançando o recorde de 5,8 bilhões de cabeças. A evolução deve-se aos bons preços do frango e do suíno. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Mélo

O Iraque quer comprar até 500 mil bovinos para desenvolver a pecuária em seu país. A venda de bois vivos para esse país do Oriente Médio começou no ano passado, com embarque de cerca de 10 mil animais, um negócio de US$ 11 milhões. Em 2016, o Brasil deverá vender 60 mil bois ao mercado iraquiano. Câmara Brasil Iraque

O Brasil possui cerca de 168 milhões de hectares de pastagens, dos quais 48 milhões de hectares são degradados. O rebanho brasileiro, estimado em 250 milhões de cabeças, pode chegar a 324 milhões de cabeças com boas práticas agrícolas. Sem a aplicação do programa ABC, seriam necessários mais 100 milhões de hectares de pastos para atingir este rebanho.

Em 2015, o brasileiro consumiu, em média, 30,6 quilos de carne bovina, queda de 8,4% em relação ao ano anterior. Em contrapartida, as carnes de frango e de suíno ocuparam o espaço, alcançando o maior consumo per capita desde 1997: 44,4 kg e 14,8 kg, respectivamente.

Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa

Os gastos com importações de leite e derivados, em dólar, na segunda semana de abril de 2016, foram 18,9% maiores que os do mesmo mês do ano passado e 18,8% superiores a março de 2016, quando as compras brasileiras de lácteos totalizaram 16,90 mil toneladas, aumento de 124,1% em relação a fevereiro. O leite em pó puxou a demanda com 11,60 mil toneladas, o equivalente a US$ 27,77 milhões.

No período de 1990 a 2014, a produção pecuária avançou 1,65 arroba por hectare ao ano, para 4,2 arrobas, um salto de 154,5% na produtividade. Enquanto o número de bovinos abatidos aumentou 105,8% entre 1997 e 2015, o peso total das carcaças cresceu 124,6%, saindo de 3,33 milhões para 7,49 milhões/t. O peso médio por carcaça, no mesmo período, subiu de 224,0 kg para 244,5 kg. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

As exportações brasileiras de carne de frango in natura registraram expansão próxima de 8% em 2015 e devem manter o mesmo ritmo em 2016. Já a produção, deverá aumentar 3,00%, abaixo do registrado em 2015 (3,58%), em razão da recessão interna e do alto custo alimentar. USDA – Departamento de Agricultura dos EUA

O consumo per capita de ovos no Brasil chegou a cerca de 192 unidades, no ano passado, um aumento de 5% sobre o ano anterior, quando atingiu 182 ovos. Em 2016, se alcançar o mesmo índice de 2015, o consumo poderá chegar a 201 ovos por habitante, porém, abaixo de países como o México, com consumo per capita superior a 350 ovos. Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA)

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MBAgro

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)

Os segmentos de laticínios e de couros receberam recursos de R$ 69,9 milhões, sendo R$ 44,8 milhões da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e o restante das entidades representativas dos setores. Desde o início do convênio entre o Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) e Apex, as vendas do couro nacional ao mercado externo passaram de US$ 760 milhões (2000) para US$ 2,3 bilhões (2015), aumento superior a 200%. Apex-Brasil

O Programa Leite Saudável recebeu recursos de R$ 18,6 milhões que serão utilizados, durante 24 meses, na assistência técnica e gerencial a pecuaristas de 3.620 propriedades rurais nos Estados de Goiás, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


A fim de manter e ampliar nossas vendas externas de carnes, pescados, ovos, laticínios e mel, é fundamental apresentar aos importadores atestados de sanidade, oficiais, confiáveis. Esta garantia é fornecida pelo Serviço de Inspeção Federal-SIF.

oportunidades de negócios para empresários brasileiros.

Antonio Alvarenga Presidente da SNA-Sociedade Nacional de Agricultura

A produção animal brasileira concentra-se principalmente na região intertropical, onde ocorre maior incidência de radiação solar, o que acarreta efeitos prejudiciais na produção, sanidade e bem-estar dos animais de produção.

•••

A caprinocultura constitui uma alternativa econômica viável e sustentável para diversificar a produção, principalmente para pequenos e médios produtores. Bonifácio Benício de Souza Patos e colaboradores Universidade Federal de Campina Grande (Paraíba) •••

Esperamos que a partir de 2017 tenhamos uma perceptível melhora na disponibilidade das categorias jovens (de bovinos), impulsionada pela retenção de fêmeas de 2015. Gustavo Aguiar Zootecnista da SCOT Consultoria •••

Atravessando barreiras geográficas oceânicas e chegando com sucesso aos continentes europeu e asiático, o churrasco brasileiro, que nasceu no solo gaúcho, se alastra por terras de além-mar criando

Edino Camoleze Coronel-Veterinário, reformado •••

Ilda de Fátima Ferreira Tinôco Universidade Federal de Viçosa •••

Palio, a tradicional corrida de cavalos da cidade italiana de Siena, tem implicações econômicas e sociais e poderá vir a ser um bom negócio se for implantada no Brasil. Roberto Arruda de Souza Lima Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) •••

A raça Charolesa tem sua origem na França (Charolais) e um grande potencial de crescimento e de ganho de peso graças à sua extraordinária capacidade de conversão alimentar. Sua carne é renomada pelo sabor, o que a faz uma das mais utilizadas pelos grandes chefes da culinária francesa. Antonio Edson Bernardes Produtor rural

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Desafio Por:

Sérgio Lobato, Médico Veterinário, Consultor

Pixabay

Um dos maiores desafios que encontro no dia a dia de orientação junto aos clientes que me procuram é, em um primeiro momento, decidir quais são as necessidades e demandas que eles acreditam ter em confronto com as reais necessidades que eles sequer imaginam que possam ter.

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E

sse contraponto é um momento fundamental na decisão daquilo que devemos acreditar ser o caminho para atender a esse desejo de mudança da situação atual em suas clínicas, petshops e centros de estética para uma situação onde novos resultados e posturas diferenciadas sejam capazes de resolver os problemas e trazer um novo momento para suas carreiras e empresas.

Como começar Primeiro fazer um exercício de reconhecimento e autoanálise onde sejam listados os problemas que incomodam, as situações que levam a pensar em mudanças e as condições nas quais


você considera que haja alguma inadequação, algum problema ou insatisfação com os resultados. Posteriormente tente dividir esses problemas e situações em grupos: - Problemas Comportamentais – da Equipe e seus (importante dar o exemplo sempre, não se esqueça disso!) - Problemas Técnicos – Como anda sua formação técnica? - Problemas Gerenciais – Como andam as contas? Como está o controle de estoque? - Problemas Promocionais – Como está sua comunicação empresarial? De posse dessa lista de itens a serem abordados em seu processo de mudança, converse com sua equipe e decida qual o item mais urgente a ser abordado em um processo de reestruturação. Analise o impacto dessas mudanças: - Quanto vai custar? - Quanto tempo vai levar? - Quantos recursos terei que envolver na mudança? - Tenho equipe preparada para prestar esse serviço? - Minha equipe de trabalho está preparada para entender o processo de mudança?

KeystonePetPlace/Pixabay

Organizar a estratégia de mudança não é fácil, e por isso o auxílio de um profissional externo é, muitas vezes, o melhor caminho para orientar o processo.

- Minha equipe de trabalho está comprometida com os objetivos da mudança? - Ela entende o porquê dessa mudança? - Será que eu sei o impacto dessa mudança no meu trabalho? Organizar a estratégia de mudança não é fácil, e por isso o auxílio de um profissional externo é muitas vezes o caminho para orientar o processo como um todo, separar as etapas e organizar a sequência de decisões. Projetar o processo de mudança deve ser feito de forma tranquila, sem afobações e sem pular etapas, o que tem sido um dos maiores problemas nas mudanças que vejo acontecer por aí. Há uma inversão de prioridades e alterações não muito práticas, são realizadas sem que haja uma real mudança no conceito de gestão dos estabelecimentos e no conceito de posicionamento empresarial por parte de todos os envolvidos no processo.

Não mude apenas por mudar Não entre em uma ciranda de transformações sem que você saiba exatamente o que quer, onde quer chegar, o que quer mudar e o que deseja alcançar. Sem essas definições, todo o esforço terá sido em vão. Animal Business-Brasil_41


Mirco Mugnai

Conheça o Palio, uma tradicional corrida de cavalos italiana com implicações econômicas e sociais, e que poderá ser um novo negócio no Brasil Por:

Roberto Arruda de Souza Lima, Prof. Dr. da ESALQ/USP e Fernando Nascimento Magalhães da Silveira, Graduando em Engenharia Agronômica (ESALQ-USP)

Em uma cidade da Toscana Italiana, Siena, ocorre uma competição há mais de 700 anos, o tradicionalíssimo Palio. Na verdade, Palio é um prêmio em forma 42_Animal Business-Brasil

de estandarte que se dá ao vencedor da corrida. Entretanto, para os italianos, vai além de um simples prêmio que se dá ao vencedor de uma corrida de cavalos.


T

rata-se de uma grande festa que atrai pessoas de diversas partes do mundo, configurando-se como um importante negócio para a economia, tanto local quanto para o agronegócio do cavalo. O Palio também se destaca por aspectos sociais e contribui para o desenvolvimento econômico pelo seu capital social. Por essas características, adaptações para a realidade brasileira potencialmente é um excelente negócio.

De Siena para o mundo A corrida em si é fácil de ser compreendida. Na cidade de Siena (Itália), atualmente, a competição é disputada por 17 “Contradas” (bairros da cidade, cada contrada tem nome de um animal), porém antes da corrida é realizado um sorteio que permite somente que 10 “Contradas” disputem a competição. A emocionante corrida dura cerca de 90 segundos, na qual os cavalos

realizam três voltas em um circuito oval, com muitas derrapadas e quedas. O vencedor não é o cavaleiro e sim o cavalo: mesmo sem ninguém montado, o cavalo que chegar primeiro se sagra o grande campeão. O Palio ganhou proporções mundiais, após os produtores dos documentários “Senna” e “Amy” realizarem um filme sobre a tradicional festa de Siena. O filme exalta a beleza da festa, as rivalidades entre as “Contradas” e o cavalo. O documentário ganhou vários prêmios mundo a fora, inclusive sendo exposto com êxito no festival de Cannes. Entretanto, engana-se quem pensa que o Palio é exclusivamente da cidade de Siena. Um dos mais famosos Palios fora de Siena, é o Palio de Feltri, (pista de um hectare) que atrai centenas de espectadores todos os anos. No calendário oficial de provas de Palio de 2016 constam 23 eventos, conforme apresentado na Tabela 1.

Tabela 1. Calendário Oficial das provas de Palio na Itália em 2016. Data

Local

Evento

17 de Janeiro

Buti (PI)

Palio di Sant’Antonio

25 de Abril

Bomarzo (VT)

Palio di Sant’Anselmo

15 de Maio

Valentano (VT)

Palio del Giglio

22 de Maio

Fucecchio (FI)

Palio delle Contrade

27 de Maio

Legnano (MI)

Provaccia del Palio “Memorial Favari”

29 de Maio

Ferrara

Palio

29 de Maio

Legnano (MI)

Palio delle Contrade

7 de junho

San Secondo Parmense (PR)

Palio delle Contrade

12 de junho

Abbiategrasso (MI)

Palio di San Pietro

12 de junho

Mordano (BO)

Palio di San Pietro

19 de junho

Castiglion Fiorentino (AR)

Palio dei Rioni Castiglionesi

27 de junho

Fossano (CN)

Palio dei Borghi e Giostra dell’Oca

10 de julho

Casole d’Elsa (SI)

Palio di Sant’Isidoro

17 de julho

Bientina (PI)

Palio di San Valentino

30 e 31 de julho

Amelia (TR)

Palio degli esordienti

6 e 7 de Agosto

Feltre (BL)

Palio

7 de Agosto

Fonni (NU)

Palio dei Comuni

15 de Agosto

Fermo

Cavalcata dell’Assunta

18 de Agosto

Piancastagnaio (SI)

Palio

21 de Agosto

Badia Tedalda (AR)

Palio dei Castelli

6 de Setembro

Montagnana (PD)

Palio dei 10 Comuni

8 de Setembro

Castel del Piano (GR)

Palio delle Contrade

18 de Setembro

Asti

Palio Animal Business-Brasil_43


Capital social

Figura 1. Conjunto de estoques de capitais que condicionam o crescimento das economias. Capital Físico

O capital social descreve circunstâncias nas quais os indivíduos podem utilizar filiação em grupos e redes de relacionamentos para assegurarem benefícios. Robert Putnam, importante estudioso do assunto, visualizou capital social como um conjunto de associações horizontais entre pessoas que cooperam para o benefício mútuo da comunidade. O capital social corresponde ao tecido social, à cola invisível que mantém a coesão das sociedades. É um dos elementos que compõem o conjunto de estoques de capitais que condicionam o crescimento econômico (Figura 1). Uma das principais referências sobre capital social é o trabalho em que Putnam analisou o desempenho institucional nas diferentes regiões da Itália, verificando a correspondência entre alto desempenho com elevado nível de capital social. Se observarmos o mapa com os locais das provas – que constam da Tabela 1 - com o mapa realizado a partir do estudo de Putnam, a correlação é evidente, como se pode observar na Figura 2. Pode-se inferir que o Palio relaciona-se ao capital social (e a importância da Contradas) e, consequentemente, com o desenvolvimento institucional e econômico da região.

Capital Financeiro

(Construções, tecnologias, equipamentos etc.)

(Crédito, poupança, títulos etc.)

Capital Humano

Capital Natural

(Solo, subsolo, clima etc.)

(Educação, saúde etc.)

Capital Social

(Confiança, grupos, civilidade etc.)

Figura 2. O Palio e o capital social.

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Bom para o Brasil

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(a) Provas de Palio em 2016

(b) Desenvolvimento Institucional (Putnam)

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Então surge a grande pergunta: por que não expandir o Palio para o Brasil? O advogado gaúcho, Braz Cavalli, que desde 2007 tem um projeto registrado como “Palio Horse Race”, responde algumas perguntas para a expansão do Palio no Brasil. Segundo Braz, o Palio é de fácil entendimento e possui um apelo emocional que chamaria a atenção do público. Além disso, o cenário para a entrada do Palio no Brasil é favorável, pois o cavalo é subaproveitado, e temos a obrigação de aproveitar mais já que possuímos a terceira maior tropa de cavalos do mundo. Segundo Braz, existem diversos aficionados por cavalos no Brasil que adoram ver corridas de cavalos, porém o Turfe (que é a maior forma de corrida regularizada no Brasil) não atende satisfatoriamente a esse mercado de espectadores.

Bem-estar animal Um assunto que está em alta, é o bem-estar animal. O Palio poderia dar sua contribuição nesse tema através de um regulamento geral


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respeitoso com o animal (que é o foco do esporte), duro com questões de dopings e maus tratos, e ainda poderia ser um instrumento para fortalecer a política pública de vacinação e enfermidades de equinos. O projeto piloto imaginado por Braz – uma iniciativa privada em questão do financiamento – visaria algumas regiões onde são realizadas cavalgadas, que geralmente acabam em parques agropecuários, ou CTGs (sendo que muitos desses encontram-se subaproveitados). Buscar-se-á atrair aficionados, sindicatos rurais e algumas marcas de empresas relacionados à equinocultura, montar algumas equipes (como se fosse F1) e estabelecer um calendário regional. Desta forma, será possível atrair patrocinadores, gerando renda. O esporte seria regionalizado, trazendo diferentes emoções para a prova. O Palio no Brasil seria uma fonte de geração de emprego e de agregação de valor ao cavalo.

Braz sugeriu usar como teste inicial, a cidade de Imperatriz, no Maranhão, que possui uma grande feira agropecuária, e um grande parque agropecuário com uma arena montada, que seria ideal para o circuito do Palio. Sendo um lugar com um alto aproveitamento financeiro, e popularizaria o esporte. O Brasil é um país que adora esportes com grandes emoções como futebol, UFC, vôlei e possui um grande rebanho de cavalos, por que não unir essas duas paixões? Assim seria possível contribuir com a equideocultura brasileira e também proporcionar um novo entretenimento à população.


A ocupação territorial do Brasil e a ratificação dos títulos em faixa de fronteira: um passo em direção à regularização fundiária do Brasil. Por:

Maria Cecilia Ladeira de Almeida. Advogada. Mestre em Direito/USP. Especilista em Derecho Agrario/Asociacion Espanola de Derecho Agrario. Especialista em Derecho Cooperativa pela Universidad Politécnica de Madrid. Professora de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie/SPaulo. Membro da Diretoria Técnica da Sociedade Nacional da Agricultura. Membro da Comissão Agrária do Instituto dos Advogados Brasileiros; Membro da Unione Mondiale degli Agraristi Universitari, Pisa, Italia.

Preâmbulo Quando se fala em regularização fundiária do Brasil, sempre se vem à mente a ideia da Reforma Agrária. De fato, essa é uma das mais conhecidas formas de regularização fundiária. Mas academicamente, é considerada a última forma a ser adotada, quando se tem outras questões a serem prioritariamente resolvidas. Não que não se possa adotar programas de reforma agrária, no sentido estrito do termo, concomitantemente a outros processos de regularização fundiária. Mas sempre por seu alto valor, sua traumática aplicação, o poder público deve adotar outras medidas que podem resolver o problema fundiário nacional, a valores infinitamente menores e que, de qualquer forma, é obrigação do Estado. Regularização fundiária é processo que visa resolver o problema de indefinição fundiária. Assim, primordialmente, não se sabe quem é dono e se é, confirmar a aquisição do particular, por processo legítimo, qualquer que seja a época em que tenha havido a aquisição originária, ou sua ratificação. São partes desse processo a legitimação de posse e a regularização da propriedade, a colonização, a não mais existente usucapião em terras devolutas (regida pela Lei 46_Animal Business-Brasil

n.º 6969/81 e que não foi recepcionada na Constituição federal em 1988), etc. Implica, pois, em utilização das enormes vastidões das terras públicas e devolutas para transferi-las para os particulares, por processo previsto em lei. Já a reforma agrária implica não atendimento da função social do imóvel rural particular. Desta forma a disfunção levará à desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária, e sua consequente transferência a outros particulares. Assim, reforma agrária integra o programa de regularização fundiária, no sentido mais amplo da palavra, mas com ela não se confunde. Se estes conceitos são doutrinários, na nossa Constituição eles se tornaram sinônimos, vale dizer, pode-se usar o termo Reforma Agrária, como qualquer forma de regularização fundiária. Na verdade, além de fazer cumprir a Constituição, desapropriando os imóveis que não cumprem sua função social, e transferi-los aos particulares que se habilitem de acordo com sua capacitação nos termos da lei, o estado brasileiro deve se preocupar com essa vastidão de terras sem titulação ou com títulos ainda questionáveis, pois o mosaico de imóveis rurais titulados no Brasil ainda é muito pequeno.


Nesse contexto, é bem-vinda a Lei nº 13.178, de 22 de outubro de 2015, que tentará resolver uma parte desse problema, qual seja, a ratificação da titulação de imóveis rurais realizada em faixa de fronteira. Neste artigo os termos regularização fundiária e reforma agrária serão usados conforme as suas definições doutrinárias.

Para se compreender o tamanho do problema é preciso fazer uma rápida incursão na formação territorial do Brasil. Nesse sentido, pode-se dividir essa formação em três grandes fases, a saber: fase de sesmarias, fase extralegal ou “regime das posses” e finalmente, fase de sistematização jurídica. 1.1. FASE DAS SESMARIAS. Compreende o período de 22 de abril de 1500 até 17de julho de 1822. Com a descoberta do Brasil, em 1504 é concedida a ilha de São João ao armador Fernão de Noronha. Já em 1532 é concedida a Martim Afonso de Souza, a sesmaria de São Vicente, por D. João III. Martim Afonso chega ao Brasil trazendo além das aproximadamente 400 pessoas, animais e a lei do reino português, datada do ano de 1375. A Lei de Sesmarias dispõe que as glebas serão concedidas com obrigatoriedade de lavrar a terra, de transferir a área não ocupada para terceiros que se propusessem a lavrar a terra e, caso não ocupasse e/ou não transferisse, automaticamente a sesmaria seria devolvida à Coroa portuguesa. “Terra Devolvida” é terra devoluta. Todavia, o controle das concessões de sesmarias que também foi delegada pelo Rei aos sesmeiros, não aconteceu de forma eficaz. Durante esse período de 322 anos, o maior período na formação territorial do Brasil, muitas normas (Ordenações do Reino) exigiram o registro de tais concessões, bem como sua demarcação. Entretanto, não produziram um registro eficaz, fazendo com que até hoje tenha-se, no País, essa enorme extensão contínua ou não de terras devolutas. Assim, historicamente, terra devoluta é terra que em poder do particular, por processo legítimo à época, foi reintegrada ao patrimônio do Rei, e depois do Imperador e, finalmente, vão para o poder público, por força do advento da República (Constituição de 1891).

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1. FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL

1.2. FASE EXTRALEGAL OU REGIME DAS POSSES. Período compreendido de 17 de julho de 1822 a 18 de setembro de 1850. A Resolução de Consulta da Mesa do Desembargo do Paço de nº 76 inaugura essa fase. Por ela são suspensas as concessões de sesmarias, determina-se a constituição de uma assembleia para elaborar uma lei de terras para o Brasil e a manutenção das posses de quem as detinha com vistas à regularização futura. As principais características dessa fase são a ausência de lei para regular a propriedade, o descaso aos títulos até então concedidos e a extrema violência no campo. Tudo imaginando a futura titulação quando da nova lei. Em 7 de setembro, acontece a Independência. Animal Business-Brasil_47


1.3. FASE DE SISTEMATIZAÇÃO JURÍDICA. Inaugurada em 18 de setembro de 1850, chega até os dias atuais. Nessa data, entra em vigor a "Lei Imperial de Terras”, Lei nº 601, de 1850. A Lei de Terras define legalmente o que eram terras devolutas, nos termos do artigo 3º, reestrutura as situações fundiárias existentes, nos artigos 1º, 4º e 5º, determina a discriminação do domínio público do particular, no artigo 10, entre outras regras. A definição de terras devolutas é alterada e ampliada. Da definição histórica, de terra devolvida ao Rei para Terra Devoluta passa a ser toda a área não ocupada e impossível de ser revalidada ou legitimada pela Lei nº 601 de 1850. A lei foi regulamentada pelo Decreto nº 1.318 de 1854, que entre outras disposições regula o que passou a ser conhecido como Registro do Vigário (artigo 97 e seguintes). Dez anos depois, surge o “Registro Geral e de Hypothecas”, nos termos da Lei nº 1.237, em 1864. Em 1916, o Código Civil regulamenta a propriedade, sem diferenciar propriedade imobiliária urbana da rural. Em 30 de novembro de 1964, surge então o Estatuto da Terra, Lei nº 4.504, que extrema do Direito Civil as questões que envolvam o imóvel rural e a atividade agrária.

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Se a Lei de Sesmarias dizia que era devolvida automaticamente todas as sesmarias não utilizadas, o Decreto nº 1.318, de 1854, permitiu que qualquer pessoa se declarasse posseiro, visando à regularização posterior que não aconteceu eficazmente, bem como ampliou o conceito de terra devoluta para toda e qualquer área não ocupada e que não fosse passível de legitimação ou revalidadas nos termos do artigo 3º da Lei Imperial de Terras. Mais ainda, o artigo 102 determinava que o interessado deveria cumprir certos requisitos para fazer o competente registro, mas “...se as partes insistirem no registro de suas declarações pelo modo por que se acharem feitas, os Vigários não poderão recusá-las.” Se o registro das concessões de sesmarias não foi efetivado, no tempo da Coroa Portuguesa, a tentativa de solução já no Império do Brasil também não. Eis o início do caos fundiário que persiste nos dias de hoje e almeja uma solução. A legislação do Império previa a discriminação das terras devolutas, de forma que uma vez arrecadadas pelo poder público, seriam transferidas ao particular pelos processos legítimos existentes. Entre eles, a Colonização. Várias leis vieram regulamentar o processo discriminatório, sendo hoje tratado na Lei nº 6383/76, sem uma solução definitiva, pelos mais diversos motivos, inclusive pelos intrincados caminhos do processo judicial.

2. COLONIZAÇÃO A Colonização é um dos processos de regularização fundiária tratada na Lei nº 4504/64, Estatuto da Terra, combinado com o Decreto nº 58.891/65 e Decreto nº 59.428/66. A colonização é definida como uma atividade oficial ou particular que se destine a promover o aproveitamento econômico da terra, pela sua divisão em propriedades familiares. É o conjunto de medidas que visem promover melhor distribuição da terra, mediante modificação no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. A colonização pode ser oficial ou particular. A Oficial implica na entrega de terras já incorporadas ao patrimônio do Estado em forma de propriedade familiar àqueles que se dedicam à atividade agrária. A Particular, por sua vez, é feita por


pessoa natural ou jurídica, que tenha em seus objetivos a colonização e que seja proprietária de grandes áreas rurais, que pode loteá-las do tamanho do módulo rural da região. A Colonização permitiu e permite a regularização fundiária de vastos espaços territoriais rurais. Por meio dela, o País pôde administrar a ocupação do espaço físico, de maneira legítima, posto que há ainda vastas extensões não habitadas. Também permite a regularização das áreas ocupadas a qualquer título não legítimo. Uma dessas questões controvertidas diz respeito à faixa de fronteira.

3. RATIFICAÇÃO DE TITULOS CONCEDIDOS NA FAIXA DE FRONTEIRA. A LEI Nº 13.178/15 Foi publicada, em 23 de outubro passado, a lei que visa pôr fim a uma das mais controvertidas questões dominiais do País. Diz respeito ao domínio de particular em áreas rurais contidas na faixa de fronteira do Brasil. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, permite-se fazer uma pequena digressão sobre faixa de fronteira. A faixa de fronteira seca corresponde à fronteira do Brasil com 10 países, abrangendo 11 estados da federação, mais de 500 municípios e mais de 30 cidades gêmeas, considerada área de segurança nacional. Abrange 15.719 quilômetros de fronteira onde vivem em torno de dez milhões de pessoas. Tal faixa não é homogênea, por diversos fatores geográficos, sociais e econômicos. Assim é possível dividi-la em 3 grandes regiões a saber: Arco Norte, Arco Central (RO, MT e MS) e Arco Sul (PR, SC e RS). Nesses arcos, encontram-se desde populações indígenas com ou sem contato, como populações de descendentes de imigrantes europeus, atividades extrativas, agrícolas familiares e agronegócios, exploração madeireira e exploração mineral, exploração escrava, contrabando de toda ordem. Isso, quando não, todas essas atividades se sobrepõem. Nesse universo estão aqueles que exercem a atividade agrária, nos seus mais diversos perfis, quer como proprietário familiar, arrendatários, parceiros, assentados, detentores de agronegócio etc.

A distância das faixas de fronteiras dos grandes centros, muitas vezes da capital do estado federado onde estejam localizadas, torna-as segregadas, com uma população muitas vezes “esquecidas”, das políticas públicas sociais e econômicas eficazes de desenvolvimento. A própria incerteza dos eventuais proprietários relativa aos títulos sobre a terra que possuem, no sentido mais amplo da palavra, por si gera a enorme insegurança para a aplicação de políticas públicas, para aplicação de investimentos, para o empreendedorismo, fatores que impulsionam o desenvolvimento e que se encontram em outras regiões. Não é difícil encontrar títulos emitidos pelos estados federados em área da União ou sem que tenham sido emitidos sem o procedimento correto exigido na época de sua concessão ou alienação. A necessária regularização fundiária do País passa pela faixa de fronteira que merece um tratamento jurídico, que dê certeza ao seu ocupante do que possui e do quanto pode transformar seu imóvel num bem de capital. Especialmente, quando se fala em cooperação e interdependência internacional, globalização etc. Por via terrestre, a faixa de fronteira é a primeira área de atuação. Foi, no Brasil do século XIX, que surge o conceito de faixa de fronteira vinculado à ideia de segurança nacional, em face das diversas guerras que se alastraram na América do Sul, como a Guerra da Cisplatina, a Guerra do Paraguai etc. Era preciso firmar a soberania, legitimando a propriedade do País sobre seus limites geográficos, enfim, sobre a faixa de fronteira. Assim, a Constituição de 1891 (primeira constituição da República) inaugura a questão. Ela determina que o Congresso Nacional adotasse regime conveniente à segurança das fronteiras. Daí para frente, as Constituições e legislações infraconstitucionais disciplinaram a matéria, fixando, inclusive, limites para a faixa de fronteira: 10 léguas, 100 quilômetros e, finalmente 150 quilômetros de um ponto seco na fronteira para o interior do Brasil. Todavia, já em 1850, por força da Lei nº 601 (Lei Imperial de Terras), se por um lado, determinava a proibição de aquisição de terras devolutas por outra forma que não fosse o da compra, por outro lado admitia a exceção da aquisição

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gratuita na faixa de fronteira, que correspondia a 10 léguas sesmeiras que corresponde a 66 quilômetros. O Decreto nº 1.318, de 1854, por sua vez, determinava que nessa faixa, o Governo deveria estabelecer Colônias Militares. Uma vez estabelecida a Colônia Militar, a área remanescente seria transferida gratuitamente a colonos. Destacadas as áreas de domínio da União para construção das fortificações militares, estradas de ferro federais e das colônias militares, as áreas remanescentes eram de domínio da província. Em 1934, a Constituição Federal determinou que numa área de 100 quilômetros não poderia haver nenhuma concessão sem a audiência do Conselho Superior de Segurança Nacional, órgão criado pela Carta Constitucional. Foi estabelecida a dúvida: a faixa de fronteira foi estendida de 66 para 100 quilômetros ou havia uma “faixa de fronteira” e uma “faixa de segurança nacional”. Quer parecer que a segunda opção está mais de acordo com o texto do artigo 166. Os estados membros continuavam a ter a dominialidade da faixa, mas qualquer concessão deveria passar pelo Conselho. A faixa de fronteira continuava a ter 66 quilômetros e a faixa de segurança nacional, incluindo nela a faixa dos 66 quilômetros, tinha 100 quilômetros. Em 1937, a Constituição estendeu a faixa de segurança nacional para 150 quilômetros, mantendo a faixa de fronteira com 66 quilômetros. A Lei nº 2.597, de 12 de setembro de 1955, com base no artigo 180 da Constituição de 1946, define de uma vez por todas que a faixa de fronteira é de 150 quilômetros, acabando, assim, com as diversas medidas em faixa de fronteira e faixa de segurança nacional. A Emenda Constitucional de 1969, por sua vez, definiu que toda a faixa de fronteira era de segurança nacional. Portanto, a partir daí todos os títulos concedidos pelos estados membros da federação exigiam ratificação junto à União. Os tribunais superiores do País firmaram entendimento de que, desde a Constituição de 1946, as terras devolutas em faixa de fronteira são da União, devendo toda concessão de transferência de domínio, feito pelos estados membros, deve ser ratificado pela União. Na constituição de 1988, a regra do domínio da União sobre as terras devolutas em faixa de 50_Animal Business-Brasil

fronteira permanece. Não só sobre as indispensáveis à defesa das fronteiras, mas todas aquelas que lhe foram concedidas pela Constituição de 1946. Dessa forma, a União, por seus órgãos competentes, tem competência para alienar, conceder, permitir a ocupação, enfim, dispor das terras devolutas na faixa de fronteira de 150 quilômetros a partir da linha da fronteira seca. Hoje, por todos os fatores de segurança e desenvolvimento, exigem a certeza jurídica dos títulos dos que habitam tais regiões. Não é possível continuar olhando para a enorme faixa de fronteira do Brasil e considerá-la “ terra de ninguém”. Esse caos das situações de fato, aliados ao caos legislativo que se construiu, ainda que com a melhor das intenções, faz com que o legislador novamente venha apresentar nova legislação que pretende corrigir os equívocos passados, visando preservar os direitos adquiridos e ratificando os títulos concedidos, para pôr um fim a esse emaranhado legal e permitir que com a segurança fundiária, possa haver o tão almejado desenvolvimento da região, com as ocupações regularizadas, com o incremento da produção agrícola (qualquer que seja o seu perfil), inclusive a extrativista, com a redução da clandestinidade a que está submetida a região. Nesse contexto a Lei nº 13.178/15 é bem-vinda, na medida em que busca corrigir todas as distorções legais ocorridas, ratificando os títulos emitidos desde a primeira República até agora. Espera-se que seu intento seja almejado. Da primeira impressão sobre a lei em questão, verifica-se que o legislador considerou o trabalho de ratificação hercúleo, de tal sorte que deu um prazo de quatro anos para que o particular promova a sua ratificação perante o órgão competente, a partir da data da publicação da lei, isto é, do dia 23 de outubro de 2015. Portanto, a data fatal para a ratificação será dia 23 de outubro de 2019. Impossível dizer se é o bastante. A começar com o despreparo aliado ao desmanche das autarquias que devem atuar como entidades que atuarão na ratificação. As áreas passíveis de ratificação são todas aquelas que tenham registro no competente cartório de registro de imóveis da circunscrição do imóvel em questão, até a data da publicação da lei, vale dizer 23 de outubro de 2015. Incluem-se,


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Capitania de San Vicente (São Vicente, Est de São Paulo)

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nas ratificações, os imóveis obtidos por concessão de terras devolutas e alienação por títulos, expedidos pelos estados federados. Também estão incluídos no processo de ratificação os desmembramentos e remembramentos de referidas áreas. A partir daí, o legislador separa os procedimentos para a ratificação de imóveis de até 15 módulos fiscais e para áreas acima de 15 módulos fiscais. Finalmente, para os imóveis com mais de 2500 hectares, traz outras exigências em consonância com a Constituição de 1988. Os imóveis com área de até 15 módulos fiscais terão seus registros ratificados, desde que não tenham o domínio questionado ou reivindicado na esfera administrativa ou judicial pela Administração Pública ou ação de desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária até a data da publicação da lei, isto é, 23 de outubro de 2015. Naturalmente se houver sobreposição da área a ser ratificada com outra área particular, a ratificação só acontecerá quando resolvida a questão entre particulares. Para as áreas de mais de 15 módulos fiscais, a obrigatoriedade da certificação do georreferenciamento, para iniciar o processo de ratificação por si, já diz tudo, em termos de entrave. O georreferenciamento, previsto na Lei nº 10.267/01, tem sofrido diversas prorrogações quanto ao prazo fatal para o georreferenciamento e certificação. Se por um lado, os interessados deixam para a última hora, aguardando uma nova prorrogação, o que aconteceu sistematicamente; por outro, o INCRA não foi aparelhado suficientemente com pessoal necessário para atender à demanda criada, mesmo por que as pequenas propriedades rurais deveriam ter seu georreferenciamento feito pelo próprio Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, INCRA, órgão executor da política fundiária no País. Nestes casos, se o interessado não promover a ratificação ou ela for impossível, no prazo de 4 anos, permitirá a União que requeira o registro do imóvel em nome da União. Mas se não houver solução para a ratificação requerida no prazo de 2 anos, isto não implicará em ratificação compulsória. Em que pese o interesse público do tratamento diferenciado, não se podendo ver tal diversidade como privilégio, mas como precaução

Expedição de Martim Afonso

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Para áreas de mais de 15 módulos fiscais, a obrigatoriedade da certificação do georreferenciamento, já diz tudo em termos de entrave.

com o patrimônio público, não se pode deixar de pensar que, com isso, o Poder Público pode se deixar levar por seu insistente descaso com a regularização fundiária do País, que iniciado com a legislação do Brasil colônia (veja-se as Ordenações do Reino que, paulatinamente foram exigindo medir, marcar para registrar as áreas concedidas), até hoje não conseguiu eficazmente arrecadar o patrimônio de terras devolutas, não conseguiu ter o mosaico das propriedades rurais em todo o País. A insegurança da regularização fundiária é fundamental para o desenvolvimento do País. A partir daí, a legislação discrimina o seu alcance em razão das diversas mudanças da largura da faixa de fronteira, em relação ao tempo, já acima mencionado. De qualquer forma, quer parecer que está respeitando, como não poderia deixar de ser, o direito adquirido. Quem adquiriu no período “X” era possível até tal metragem, dentro da área de fronteira que era “Y”. Todavia, cria aqui um problema, pois entre os limites e restrições da época, a obrigatoriedade que previa aprovação do Congresso Nacional para áreas acima de 2500 hectares surge em 1988, com a promulgação da Constituição de então. Como exigir tal aprovação em aquisições anteriores? O Congresso não se manifestava em épocas passadas, não deve se manifestar agora, nas referidas ratificações. Somente nas aquisições posteriores a 05 de outubro de 1988. Está se ferindo o ato jurídico perfeito e o direito adquirido. A lei, finalmente, excepciona alguns procedimentos de ratificação como os casos de imóveis que já estejam envolvidos em processo judicial

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de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária e que não comprovem a legitimidade de seu destaque do patrimônio público, embora tenham registro imobiliário. Nestes casos, deverá haver a citação do estado membro da federação, para participar do processo. O valor da indenização permanecerá depositado até que resolvida a questão do destaque, cujo vencedor suportará, então, a desapropriação, nos termos da Lei 8.629/93. Questão controvertida será relativa às áreas que não forem ratificadas. Como já dito acima, as áreas que não forem ratificadas serão registradas em nome da União. Neste caso o que fazer com as benfeitorias e acessões realizadas pelos particulares nas respectivas áreas, enquanto ocuparam o imóvel? Reza a doutrina e legislação que toda e qualquer benfeitoria em imóvel público é de má-fé e como tal não podem ser indenizadas, com exceção das necessárias. Por outro lado, também reza a legislação agrária que o poder público não pode deter para si imóvel rural, devendo transferir para processos de regularização fundiária. Desta forma, as áreas arrecadadas pelas áreas e registradas em nome da União serão destinadas para programas de regularização fundiária. Neste caso, os ocupantes anteriores têm preferência na aquisição de tais parcelas, como posseiros que agora serão considerados, nos termos das demais legislações agrárias em vigor. É preciso que todos os envolvidos atuem com bom senso, pois a segurança da dominialidade permitirá o empreendedorismo, o incremento do setor agrícola, a mitigação da clandestinidade, enfim o desenvolvimento nacional.


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Churrasco: mania nacional e negócio internacional Por:

Edino Camoleze - Cel med vet mil RR/1- EB; MSc Tec Alim. FUA, 1981

Agronegócio que no Brasil caiu no gosto do brasileiro, envolve milhões de pessoas e toneladas de carnes in natura e processada.

A

palavra churrasco vem do espanhol, churrascar, uma variedade de socarrar, “chamuscar, queimar”, de origem pré-romana e da mesma procedência que o vasco dialetal sukarra “chamas, incêndio”. O ato de sentar ao redor do fogo, espetar pedaços de carnes e expô-las ao calor das chamas é tão antigo quanto a própria civilização, quando do domínio do fogo, a mais de 1,8 milhões de anos. “É uma técnica instintiva, natural, de lógica primária. Todos os povos caçadores a praticaram”, afirma Câmara Cascudo. Aliás, expor os alimentos ao fogo para cocção foi o que nos fez civilizados. Além de melhorar o sabor e a textura dos alimentos, o desenvolvimento de habilidades culinárias usando o fogo marca a nossa transição da natureza para a cultura, explica o professor. Do ponto de vista antropológico, o churrasco exerce também função social desde a era primitiva. “Estar ao redor do fogo em grupo, para comer, estabelece laços de amizade, pertencimento e proteção para os indivíduos”, “O churrasco nos remete a algo ancestral, primitivo e ao mesmo tempo sofisticado”.

No Brasil Há registros da realização de churrascos na América do Sul por parte dos jesuítas, colonizadores e exploradores, entre os séculos XVIII e XIX, 54_Animal Business-Brasil

tanto na Argentina quanto no Brasil. O mais antigo deles, na Argentina, em que gaudérios (mistura de gaúchos e índios) abatiam o boi, tiravam o couro e ali mesmo, no mato, chamuscavam as partes fincadas em espetos cravados no chão e reclinados sobre fogo a lenha. Mas, o que garante a origem brasileira do churrasco é o fato de que os bois chegaram à América por aqui. Os historiadores argentinos e brasileiros não têm mais dúvidas de que o gado bovino entrou no Brasil através de São Vicente, por iniciativa de Martim Afonso, 1º Governador Geral do Brasil, em 1532.

Tipos de churrasco Assar a carne sobre brasas, com sal para torná-la mais macia, palatável e saborosa não é exclusividade da carne bovina, a preferência nacional. De acordo com as tradições regionais, hábitos e costumes, outras carnes de animais domésticos e selvagens e o peixe, são também preferidas para confecção dessa iguaria que se tornou prazer e mania nacional. Assim, na região Norte, Amazônia e Pará, o tambaqui, o pirarucu e a pirapitinga, são os preferidos, assados e servidos na folha de bananeira; no Centro-Oeste, o pacu e o pintado, assados na telha de barro, além da carne de porco monteiro e javali; no Nordeste o bode e o carneiro, principalmente nas festas e feiras do interior, têm a preferência do nordestino; no Sudeste e Sul, a carne bovina, suína e o frango, predominam na mesa dos brasileiros descendentes dos imigrantes dos países europeus: italianos, pomeranos e alemães. Apesar dessas preferências regionais, a carne bovina ainda predomina em grande parte do país. A exuberância e riqueza de enorme variedade de carnes deve-se, sobretudo, às condições topo-


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gráficas, à vegetação e ao clima, do vasto território nacional que propicia aos rebanhos nativos e exóticos, condições naturais favoráveis, conditio sine qua non, para seu desenvolvimento e reprodução.

Das estâncias às churrascarias Na história e folclore gaúchos consta que o padre jesuíta Cristóbal de Mendonza, em 1634, preocupado com a fome que assolava as Missões, trouxe da Argentina mil cabeças de gado bovino, distribuindo em pequenos rebanhos pelas “estâncias” ou cabanhas, locais destinados à criação bovina. As estâncias, como fazendas de criação de gado, cresceram e possuíam uma hierarquia social funcional, assim determinada: casa de patrão, do proprietário; casa de capataz, do administrador; galpão, onde viviam os peões e tralhas; potreiro, currais para encerrar e cuidar o gado e piquete, invernada onde o gado era mantido e criado. Nas estâncias, o gado era abatido por ordem do capataz e distribuído à peonada. A carne despedaçada e espetada em espetos de varas de madeira, assada sobre o braseiro, formado em valas de chão, era o processo artesanal genuíno do verdadeiro churrasco gaúcho. Este procedimento era também feito com ovelhas.

Mania nacional Após três séculos e meio de existência, o artesanal churrasco gaúcho se sofisticou, popularizou-se, ganhou chão, virou mania nacional e se elitizou. Divulgado e dispersado em todo o território nacional, principalmente através dos Centros de Tradições Gaúchas - CTGs, acompanhado das legítimas tradições gaúchas: danças,

chimarrão, músicas e poesias, tornou-se uma instituição nacional. Atualmente, existe em qualquer parte do País, em feiras, exposições, restaurantes, festas populares, banquetes e sofisticadas churrascarias.

Tipos de carne e cortes Detentor de uma das maiores pecuárias do mundo, ocupando as primeiras posições no ranking mundial de produção e exportação de carnes de bovinos, suínos e frango, fundamentada e respaldada numa tecnologia moderna avançada, melhoramento animal, sanidade e controle de qualidade, o Brasil tem realizado um comércio doméstico e internacional diversificado de carnes e cortes: carcaças retalhadas e tipificadas, na forma resfriada e congelada, atendendo aos gostos mais exigentes do mercado consumidor interno e externo. Assim, com relação ao churrasco, fica fácil entender a facilidade que têm as sofisticadas churrascarias nacionais e internacionais de oferecer um churrasco de rodízio, com vários cortes de carne a gosto do consumidor. Nesse particular, “churrasco a rodízio” , vale ressaltar que esse sistema foi inventado no Brasil: Conta a lenda que, em uma churrascaria do Sul, o sistema nasceu por causa de um atrapalhado garçom. Ao entregar as carnes às mesas, ele trocou os pedidos, oferecendo a picanha a quem havia pedido costela, a maminha a quem solicitou cupim e assim por diante, generalizando a confusão. Para acalmar o ânimo dos clientes, o Sr. Albino Ongaratto, dono da churrascaria, resolveu passar todas as carnes em todas as mesas e cobrar um preço único pelo almoço. Estava criado o rodízio, um sistema que agrada a gregos e troianos, gaúchos e baianos. Animal Business-Brasil_55


Modelo gastronômico exportado Atravessando as barreiras geográficas oceânicas dos dois maiores oceanos do mundo, o Atlântico e o Pacífico, chegando com sucesso aos continentes europeu e asiático, o churrasco brasileiro que nasceu no solo gaúcho, atualmente se alastra por terras do além-mar, com grandes bônus e dividendos para a cultura e o agronegócio nacional. Empresários e empresas brasileiras consorciadas com estrangeiras e franchising, têm revelado ao mundo os valores étnico e cultural do nosso povo e o valor extraordinário de nossa genuína e variada gastronomia.

Competindo com os maiores restaurantes e casas de carne do mundo, as churrascarias já estão estabelecidas nas seguintes metrópoles: • Estados Unidos. Localizada no nº 4 300 da Beltline Road,em Dallas,Texas, o “Fogo de Chão”, sem perder as tradições gaúchas, conquistou o paladar e o bolso dos texanos. Segundo seu proprietário Arrai Coser, o faturamento do negócio chega a 100 milhões de dólares/ano. Com 30 variedades de corte de carne e 20 tipos de salada e dezenas de sobremesas, o Fogo de Chão conquistou o gosto dos ameri-

PRINCIPAIS TIPOS DE CHURRASCOS, CARNES E CORTES Churrasco Modo Português Grelhada Bem passada Tipos de Churrasco Modo Mal passada Ao ponto Carnes Cortes cupim cupim paleta paleta chuleta chuleta alcatra alcatra picanha picanha Bovino Cow maminha de alcatra maminha contra- filé contra- filé costela curta costela curta filé filé fraldinha fraldinha carré de carneiro carré costela costela Ovinos pernil de ovelha pernil mutton costelinha costelinha lombinho lombinho lombo de porco lombo pernil de porco pernil costela de porco costela Suínos Pork picanha de porco picanha lombinho de porco lombinho javali javali coxa de frango coxa peito de frango peito coração de frango coração Frango Chicken sobre coxa frango sobre coxa fígado de frango fígado asa de frango asa Fonte: Churrascaria - Ulisses Wehby de Carvalho 56_Animal Business-Brasil

Inglês Grilled Well Done Rare Medium Done hump steak lamb leg prime ribs rump steak filé steak sirloin tri tip sirloin seak short ribs filet mingnon flank steak lamb loin chop lamb ribs lamb short leg lamb spareribs lamb tenderloin pork loin pork ham pork ribs pork sirloins pork tenderloins wild boar chiken drumsticks chiken breast chiken hearts chiken thigh chiken liver chiken wing


elites japonesas.

Operação delicada A saga pelo mundo tem sido complicada. A internacionalização de um produto como o churrasco envolve uma operação delicada. Coser, da Fogo de Chão, por exemplo, levou quase cinco anos para concretizar a ideia de abrir uma filial em Dallas. Ele e seus amigos tiveram de encontrar o melhor ponto e os fornecedores certos,

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Churrasria em Galpão

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canos e se espalha por outros estados americanos e Nova York. São os gaúchos invadindo as terras do Tio Sam. • Na China. Coube a Célio José Cella essa façanha. Por solicitação do ministro da Agricultura da China que veio ao Brasil, em 1993, e provou do nosso churrasco em Concórdia, Santa Catarina, ficou encantado e pediu ao empresário que abrisse uma churrascaria em Pequim. Um ano depois, abriu a Beijing Jingba Churrascaria Company, com chineses paramentados de gaúchos: bombachas, botas de couro com esporas, adagas na cintura e lenços no pescoço. Com um faturamento acima de 1milhão de dólares anual e consumo de mais de 2,5 toneladas de carne, a Beijing Jingba, é uma churrascaria de luxo e espalha-se na maior capital do mundo. • Em Portugal e na Espanha. Coube a Zeno Augusto Cunha a conquista dos nossos hermanos portugueses e espanhóis, com a compra da franquia do” Porcão” e instalação dessa famosa churrascaria brasileira nesses países ibéricos. Situadas em Lisboa e Barcelona são hoje um diferencial de qualidade e gosto nessas tradicionais capitais consumidoras de carne. • No Japão. Com matriz em Tokyo e filial em Osaka, e mais de uma dezena de churrascarias espalhadas em outras cidades japonesas, a Barbacoa Shibuya. Especializada em rodízio de carnes variadas e saladas, é uma preferência dos japoneses, não só pela fartura de carnes, mas pela qualidade e bons serviços. As churrascarias no Japão são consideradas artigos de luxo, frequentadas pelas

Currasco campeiro

treinar pessoal, aprender um pouco de inglês, conseguir vistos de trabalho para 16 assadores e garçons brasileiros e até contornar dificuldades geradas por restrições de ordem comercial. Nos Estados Unidos, por exemplo, carne in natura brasileira não entra. Os americanos justificam o veto, alegando razões sanitárias - há sempre o medo da Febre Aftosa. Diante da restrição, os donos da Fogo de Chão tiveram que ensinar os frigoríficos americanos a fazer os cortes usados comumente nas churrascarias brasileiras. Há empecilhos também na Inglaterra. A mineira Sílvia Oliveira e o inglês Mike Nayla, seu marido e sócio, passaram dois anos às voltas com o rigor das leis inglesas até obter a licença para a abertura de sua churrascaria, em Londres, a Rico, em 1997. Foi preciso, por exemplo, autorização legal para que o facão de churrasco, usado para auxiliar o corte da carne no espeto, pudesse circular entre as mesas. Construir uma churrasqueira no meio do salão foi outro problema. “Os ingleses acham que tudo pode comprometer a segurança do lugar”, diz Sílvia. Na Argentina. Parece uma loucura estabelecer-se na terra dos reis do churrasco. A ousadia ficou por conta de Júlio Konrad, outro gaúcho da região de Nova Bréscia, dono da Spettus, uma rede com casas em Brasília, Recife, Maceió e Petrolina. Há dois anos, Konrad fincou a marAnimal Business-Brasil_57


Robert Owen-Wahl / Pixabay

ca Spettus em pleno Puerto Madero, um templo da gastronomia internacional que funciona nos armazéns do antigo porto de Buenos Aires. O argentino também enlouquece quando se vê diante da abundância do rodízio. A churrascaria, com 300 lugares, recebe 10.000 pessoas por mês, atraídas, sobretudo, pelo preço fixo. Numa boa casa de Puerto Madero, um assado de tira custa 11 pesos (11 dólares), fora os acompanhamentos, cobrados à parte. Já o espeto corrido custa 24 pesos por pessoa. No próximo ano, a Spettus vai inaugurar uma filial na Calle Florida, no centro da capital. Exportar churrasco é bom para todos. Que o digam os funcionários gaúchos da filial de Nova York da Plataforma. Eles ganham cerca de 1.500 dólares por semana, quantia que nunca tirariam trabalhando na matriz no Brasil. Seus patrões também estão forrando o poncho de dinheiro, como se diz em Nova Bréscia. Os empresários brasileiros, em consenso afirmam: “Não há dúvida, porém, que exportar o churrasco se converteu num excelente negócio“. Quando perguntam a Coser, da Fogo de Chão, o que ele faria se ganhasse 10 milhões de reais, ele responde sem hesitar: “Abriria mais cinco churrascarias fora do Brasil”.

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Curiosidades • O churrasquinho de gato existiu e ainda existe. Também conhecido por “Churrasgato” foi criado por Pedro Américo, quando do Grito da Independência do Brasil. Percebendo o movimento próximo ao riacho Ipiranga e a chegada do futuro imperador, aproveitou a data festiva para ganhar uns trocados. Esta atividade continua em franca expansão nos dias atuais, principalmente depois da criação dos vários estádios de futebol, feiras, exposições e festas populares onde a “iguaria” (?) é servida nas barracas. • O maior churrasco do mundo aconteceu na cidade de General Pico, Argentina. O evento aconteceu em 2011, em comemoração ao aniversário de 30 anos da cidade. Foram consumidos 13.713 kg de carne e 30 toneladas de lenha; 600 peões foram usados para assar e servir a 20.000 convidados. • No Brasil, a cidade gaúcha de Lagoa Vermelha “Terra da Amizade”, é considerada a Capital Nacional do Churrasco.


São necessárias ações urgentes para enfrentar as mudanças climáticas que interferem na segurança alimentar global Por: Alan Bojanic, representante da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) no Brasil.

Não é de hoje que as questões ambientais permeiam as discussões de vários setores das sociedades do mundo. Há tempos que o Planeta não é mais o mesmo. Com frequência chegam dos mais diversos cantos notícias de catástrofes, desastres ambientais, secas, crises hídricas, elevação de temperatura e degelo, entre outros. Esses sinais devem servir de alerta vermelho para todos.

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FAO estima que em 2050, o mundo terá mais de nove bilhões de habitantes, para depois a população se estabilizar. A produção de alimentos (carnes, grãos, lácteos, etc.) terá de crescer cerca de 60% a mais do que temos atualmente. O cenário representa um importante desafio para a agricultura. Temos duas vias que precisam dialogar, pois a agricultura ao mesmo tempo em que contribui com gases de efeito estufa, é igualmente afetada pela destruição dos recursos naturais.

Contaminação do ar O setor já está ciente e os dados mostram que a agricultura representa uma fonte de contaminação do ar, principalmente em áreas de desmatamento e de pastagem. O setor agrícola também é a fonte antropogênica dominante de amônio. Apenas a pecuária chega a ser responsável por cerca de 40% das emissões globais da agricultura. E o cenário futuro não é nada animador. Segundo as projeções, em 2030 as emissões de amônio e metano procedentes do gado nos países em desenvolvimento será 60% maior do que o registrado nos dias de hoje.

Risco adicional Ao mesmo tempo não é difícil encontrar casos de agricultores que perdem toda a safra, seja porque não choveu, por excesso de água, ou outros fatores ligados à instabilidade das condições ambientais. As mudanças climáticas afetam de forma

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Metas ambiciosas

significativa a agricultura, principalmente a produtividade, a estabilidade e a renda agrícola. A situação se reflete em um fator de estresse e risco adicional em áreas onde a insegurança alimentar e nutricional já é elevada.

As metas dos ODS são ambiciosas, mas necessárias e possíveis. Dos 17 objetivos, oito estão estritamente ligados ao enfrentamento das mudanças climáticas, da gestão sustentável dos recursos naturais, como a preservação das águas, a luta contra desertificação, degradação dos solos e ainda a construção de infraestruturas cada vez mais resilientes.

Diminuição das exportações O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apontou em um recente estudo que nos anos 2050, apenas na América Latina e Caribe, as exportações agrícolas podem diminuir devido ao resultado dos efeitos das mudanças climáticas nos rendimentos das safras. Até 2020, a região pode sofrer uma queda nos rendimentos do milho, soja, trigo e arroz calculados na casa dos 10 milhões de dólares.

Resiliência E esse é o nosso maior desafio, alcançar a resiliência. Entre outros pontos, devemos buscar alternativas para que a agricultura possa produzir cada vez mais de forma sustentável. Estimular a produção agrícola de baixo carbono com boas práticas de manejo dos solos, diversificar a produção rural e a integração da agricultura e pecuária, promover políticas agroambientais que vinculem a produção agropecuária com o manejo adequado dos recursos naturais, incorporar boas práticas na agricultura familiar para que os pequenos agricultores possam reduzir os riscos, incorporar e aprovar propostas em âmbito governamentais. O meio em que vivemos diz muito sobre o ambiente que queremos ter no futuro. As mudanças dependem de nossos objetivos e metas. Façamos da melhor forma a parte que nos toca. Um mundo sustentável é possível.

Mudanças climáticas As mudanças climáticas estão modificando a configuração de riscos, alterando as frequências dos eventos e colocando em exposição a vulnerabilidade da população. As ações para enfrentar e mitigar esses efeitos são urgentes e emergenciais. A FAO está atenta a todas essas transformações e tem levado o tema a todos os países membros da Organização. A agenda está posta com a aprovação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS).

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Por: Paulo

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Microbacias para conservação do solo e da água

O melhor da cadeia produtiva da carne na InterCorte

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Nos dias 16 e 17 de junho, a capital paulista sedia o principal evento da cadeia produtiva da carne bovina. A InterCorte – Exposição Tecnológica da Cadeia Produtiva da Carne será na Bienal de São Paulo e envolve diversas iniciativas para difundir informação e tecnologia a todos os envolvidos na produção e consumo de carne. A InterCorte em SP será uma etapa do Circuito InterCorte, evento itinerante que vem percorrendo desde 2012 alguns dos principais polos de produção pecuária do País para levar informação, discussão e tecnologia aos produtores. Além disso, outras atrações compõem o evento, como o Caminho do Boi, projeto que mostra na prática de forma interativa a importância da integração dos elos da cadeia da carne; um espaço para degustação de diversos cortes de carnes e diferentes tipos de preparo; a Beef Week, iniciativa que envolve restaurantes e lojas de carne para estimular o consumo e celebrar a carne bovina; o Leilão Pecuária Solidária e exposições de artes e livros sobre o tema.

Fiscais federais agropecuários aproveitaram o Dia Nacional da Conservação do Solo (15/4) para lembrar da importância do manejo das microbacias hidrográficas na preservação do solo e da água. Algumas regiões do País enfrentam sérios problemas relacionados à escassez da água. Essa situação pode estar relacionada à falta de planejamento de uso dos recursos naturais, não só em atividades agropecuárias, mas também em expansões urbanas. Pode-se dizer que a microbacia hidrográfica é uma área geográfica delimitada por divisores de água, drenada por um rio ou córrego, para onde escorrem as águas das chuvas. Uma bacia hidrográfica reúne várias microbacias, que têm nos solos verdadeiras caixas d’água para suprir as plantas e abastecer os lençóis freáticos. O planejamento de uso dos recursos naturais dessas microbacias significa ajustar as tecnologias agropecuárias à capacidade de uso do solo, da água e da própria biodiversidade, imprimindo, assim, o verdadeiro desenvolvimento sustentável, tendo como beneficiários diretos as comunidades rurais. Animal Business-Brasil_61


Programa de boas práticas na cadeia da carne pode gerar economia de US$ 1 bilhão

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O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aprovou o Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Ambientes Coralíneos – PAN Corais. O objetivo é proteger esses sensíveis ecossistemas, que vêm sofrendo um rápido processo de degradação por causa das atividades humanas. Além de melhorar o estado de conservação dos ambientes coralíneos por meio da redução dos impactos antrópicos (produzidos pelo homem) e da ampliação da proteção e do conhecimento, o PAN Corais busca conservar 52 espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçadas de extinção, entre elas anêmonas e cavalos-marinhos. Para isso, foram definidas 146 ações, distribuídas em dez objetivos específicos, que deverão ser realizadas no prazo de cinco anos. Essas ações serão desenvolvidas em 18 áreas-foco, ao longo do litoral brasileiro, incluindo regiões no interior da Zona Econômica Exclusiva, além do mar territorial, do Maranhão até Santa Catarina.

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Um programa que mostra como o Brasil pode implementar medidas que aumentem a produtividade e reduzam as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na pecuária de corte foi concebido por Especialistas internacionais do Carbon Trust, consultoria de estímulo à economia de baixo carbono, e financiado pela Embaixada Britânica em Brasília (DF), com o apoio do Ministério da Agricultura (MAPA), Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), além da indústria local, instituições especializadas e ONGs. Segundo o Carbon Trust, se o Brasil superar as ineficiências na cadeia da carne bovina, o País poderia economizar centenas de bilhões de dólares em custos de energia e evitar bilhões de toneladas de emissões de GEE. O programa visa implementar boas práticas em um grupo que integra cada subsetor da cadeia de fornecimento de carne, do campo ao varejo, para mostrar que poderia haver uma economia de US$ 1 bilhão em custos de energia e redução de emissões de GEE em pelo menos 16 milhões de toneladas de CO2, uma quantidade similar ao total de emissões anuais da Bolívia. No entanto, apesar da sua relevância econômica, aponta o Carbon Trust, a produção de carne tem um impacto ambiental muito alto. Atualmente, a pecuária é diretamente responsável por 17% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Indiretamente, o setor também é responsável por uma grande parte do desmatamento e degradação da terra contínuos, que respondem por mais de 24% do impacto do país sobre as mudanças climáticas. A cadeia de abastecimento de carne é, portanto, responsável por mais de 40% do impacto total do Brasil sobre as mudanças climáticas.

Governo lança o plano nacional para proteger corais


De acordo com a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o Valor Bruto da Produção do setor agropecuário, no qual é calculado o faturamento bruto da atividade rural “dentro da porteira”, deve crescer 4,7% em 2016 na comparação com o ano passado, totalizando R$ 559, 9 bilhões. O resultado será puxado pela agricultura, que terá alta de 7,7% na receita (R$ 360,5 bilhões), segundo a entidade. O VBP da pecuária será praticamente estável em relação a 2015, ficando em R$ 200,1 bilhões. Para o cálculo do VBP, o Núcleo Econômico da CNA levou em conta as estimativas de produção e os preços de março. Para os produtos da pecuária, cujo crescimento do VBP será praticamente nulo, apenas o leite deve ter alta, de somente 1%. “A estimativa é de que o aumento no faturamento se dê moderadamente por meio da ampliação da produção, enquanto os preços devem permanecer em patamares semelhantes ao ano anterior”, informa o Núcleo Econômico da CNA. Carne bovina, ovos e suínos estão com previsões de queda de 0,7%, 0,4% e 7%, respectivamente.

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Faturamento do setor agropecuário deve crescer 4,7% em 2016

Trouw Nutrition inaugura centro de pesquisas A Trouw Nutrition inaugurou, na Holanda, onde esta instalada sua sede mundial, um novo centro de pesquisas para o desenvolvimento de estudos e inovações em nutrição de ruminantes. A nova unidade conta com infraestrutura e equipamentos de última geração e irá desenvolver estudos avançados em parceria com outros dois centros de pesquisas de lácteos pertencentes grupo. O centro de pesquisa conta com um espaço livre para o cultivo de gado, duas seções dedicadas aos vitelos de criação (uma com bezerreiros individuais e outro em grupo com alimentadores automáticos que monitoram o comportamento alimentar dos animais de forma individual) e uma unidade de metabolismo para estudos fisiológicos e digestibilidade, tanto dos bezerros, como de gados já maiores.

ABS Global anuncia lançamento da genética TransitionRight para Jersey A ABS Global anunciou a segunda versão da ferramenta de seleção genética desenvolvida para ajudar os produtores de leite na solução de problemas durante o período de transição das vacas: TransitionRight Jersey. A tecnologia, lançada em agosto de 2015 voltada para Touros Holandeses, permite que os produtores ao redor do mundo selecionem uma genética que minimize a necessidade de medidas preventivas e curativas que, muitas vezes, ocorrem durante o Período de Transição. Imediatamente antes e depois do parto, a saúde da vaca é impactada por um balanço energético negativo e a uma supressão do sistema imunológico, o que pode levá-la a desenvolver graves problemas de saúde, como a metrite, cetose, mastite, e outros distúrbios. Com 75% das enfermidades em vacas leiteiras ocorrendo nos primeiros 30 dias em leite e afetando cerca de 50% de vacas de alta produção, os distúrbios durante o período de transição tomam uma grande porcentagem das fazendas de leite. Em um ano, os produtores podem perder até 10% de seus rebanhos nos primeiros dois meses após o parto. Agora, a prevenção através da genética está disponível com uma ferramenta exclusiva da ABS.

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Brasil “livre de aftosa sem vacinação” I O presidente-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra, participou da Comissão Sul-Americana para a Luta contra a Febre Aftosa (COSALFA), em Punta del Este (Uruguai). Em encontro paralelo ao evento, o presidente da ABPA se reuniu com o presidente da Comissão Regional da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) nas Américas, Guilherme Marques (que também é diretor de saúde animal no Ministério da Agricultura do Brasil), além de autoridades sanitárias pan-americanas e representações da Secretaria de Agricultura e da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Em pauta, a discussão da ampliação do reconhecimento, pela OIE, de “Zona Livre de Aftosa Sem Vacinação” em bovinos para outros estados do país. Atualmente, só Santa Catarina detém este status.

Brasil “livre de aftosa sem vacinação” II Ainda durante a 43° edição, o encontro da COSALFA, o presidente do Grupo Interamericano para Erradicação da Febre Aftosa–GIEFA, Sebastião Guedes, que também é o vice-presidente do CNCP – Conselho Nacional da Pecuária de Corte, apresentou uma pesquisa iniciada em novembro do ano passado durante o fórum “2020 – O Futuro do Brasil sem Aftosa”, realizado em São Paulo. A pesquisa aponta que mais de 90% dos pesquisados desejam o fim progressivo da vacinação dos plantéis nacionais até 2020, pois consideram que a aftosa já está praticamente erradicada na maior parte do Brasil e que, sem a vacinação, os pecuaristas poderão expandir as receitas com seus rebanhos e fazer com que se tornem mais competitivos no mercado mundial de carne bovina no chamado “segmento ou circuito não-aftósico”. Atualmente, o Brasil não participa desse mercado, hoje avaliado em U$ 12 bilhões, devido à insegurança dos países importadores – como Japão, Coréia do Sul, Singapura, México, Estados Unidos e Canadá entre outros – que não compram carne resfriada ou congelada de países que ainda usam a vacinação, pois têm dúvidas sobre a ocorrência da aftosa no gado vacinado.

Embrapa realiza Dias de Campo sobre ILPF e sustentabilidade A Rede de Fomento ILPF, integrada pela Embrapa, promoveu Dia de Campo sobre Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) na Fazenda Santa Brígida, em Ipameri (GO). O evento teve o apoio da Prefeitura Municipal de Ipameri e da Universidade Estadual de Goiás e marcou os 10 anos de adoção do sistema de produção na propriedade de Marize Porto Costa. Participaram cerca de 1 mil pessoas, entre produtores rurais, representantes de cooperativas, estudantes de ciências agrárias e técnicos. Os sistemas de ILPF combinam as atividades agrícola, pecuária e/ou florestal na mesma área ou gleba, por meio da consorciação, da sucessão e/ou da rotação de culturas. O Dia de Campo busca fomentar a adoção desses sistemas como estratégia de intensificação sustentável da agricultura. Neste ano, o tema do evento é “Sustentabilidade: produção de alimentos e preservação ambiental”. Os participantes percoreram quatro estações temáticas. Foram abordadas as vantagens dos sistemas ILPF para intensificar a produção agropecuária de forma sustentável, além de questões ligadas à fertilidade do solo, diversificação de cultivos, práticas de manejo e serviços ambientais dos agroecossistemas. 64_Animal Business-Brasil


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Em um cenário de queda nas margens de lucro e aumento médio de 20% nos custos de produção, teve início no último mês de abril o Rally da Pecuária 2016. Realizado pela Agroconsult, tem como objetivo mapear e ampliar as informações sobre a pecuária de corte no Brasil. Para gerar conhecimento e criar parâmetros que possibilitem aos pecuaristas ter mais eficiência e preservar a renda dos próximos anos, o Rally fará entrevistas com produtores e ampliará a pesquisa com consultores independentes e os alocados em empresas de insumos, técnicos e pesquisadores. Uma nova metodologia que busca melhorar a qualidade das informações sobre a pecuária de corte brasileira também estará em campo, com visitas a cerca de 150 propriedades e pesquisas específicas. Nas pastagens, o foco será avaliar o índice de degradação e historiar o manejo nos últimos anos. Entre os dias 11 de abril e 10 de junho, 7 equipes técnicas do Rally da Pecuária 2016 visitarão 11 estados - Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins, Pará, Rondônia e Acre,

ABS anuncia novo slogan A ABS Global apresentou oficialmente ao mercado seu novo slogan: Progresso Genético

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Começou o Rally da Pecuária 2016

que respondem por mais de 83% do rebanho bovino e 90% da produção nacional de carne. No total, serão percorridos cerca de 60 mil quilômetros, com a realização de 13 eventos para discutir tendências de mercado, cenários e iniciativas para aumentar a rentabilidade na pecuária, em tópicos como sanidade, nutrição, controle de invasoras, índices zootécnicos (reprodução), garantia da fertilidade do solo, qualidade das pastagens, estratégias de hedge, confinamento etc.

Gerando Lucro (Profit from Genetic Progress). A nova comunicação da empresa já começou a ser adotada nas peças publicitárias em todo o mundo. O anúncio foi feito no momento em que a ABS Global completa 75 anos, e, por isso, a mudança de slogan é global. Até então, cada unidade usava um diferente. Na Argentina, por exemplo, era Service, Science, Success. Já na Índia e no Reino Unido, falávamos sobre Breeding Long Life Cows. E, no Brasil, Com Você.

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Raul Moreira

Um programa para melhorar a produtividade de nossa pecuária leiteira Antonio Alvarenga (*)

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os últimos dias de sua gestão à frente do Ministério da Agricultura, Kátia Abreu lançou o Sistema de Monitoramento da Qualidade de Leite - uma plataforma que reunirá dados de produção do setor. Desenvolvido por meio de uma parceria entre o MAPA, a Embrapa e a iniciativa privada, o sistema integra o programa Leite Saudável, lançado em 2015. Assim, a plataforma pretende reforçar o objetivo de promover as boas práticas na cadeia produtiva da pecuária leiteira. Com atualização semanal, as informações coletadas vão permitir um acompanhamento mais eficiente da quantidade e da qualidade do produto entregue aos laticínios. A Embrapa estima que a quantidade de amostras de leite analisadas pelo MAPA saltará de três milhões para mais de 50 milhões, com a elaboração de mapas de produção e qualidade do produto. Para tanto, serão utilizados dez laboratórios localizados em vários estados, que integram a Rede Brasileira de Qualidade do Leite, responsável pela realização de análises com base nas amostras coletadas. Até agora os dados de produção e qualidade eram apurados de forma isolada, e não havia um sistema que possibilitasse uma observação consolidada. As informações coletadas e unificadas pela plataforma serão utilizadas para o estabelecimento de um Plano Nacional de Qualidade do Leite, a ser implementado pelo MAPA, junto ao setor produtivo. O programa irá garantir condições para identificar os produtores que estão com indicadores abaixo dos padrões recomendados e, por meio

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da assistência técnica, poderá orientá-los no sentido de melhorar a qualidade e produtividade. Como se sabe, a pecuária leiteira é de grande importância econômica e social para o Brasil, estando presente em praticamente todos os municípios, com cerca de 1,3 milhão de produtores em atividade. O monitoramento da qualidade do leite, com a adoção de ações diretas, irá beneficiar toda a cadeia produtiva, e abrirá mercados para a exportação do produto, possibilitando melhoria na renda dos produtores. O sistema também irá auxiliar as indústrias de laticínios, permitindo melhorar a competitividade do setor, cujo faturamento é estimado em R$ 78 bilhões. Durante o lançamento do sistema, foram prorrogadas por dois anos as alterações na Instrução Normativa (IN) 62, que define os critérios de qualidade do leite. Os novos padrões, que entrariam em vigor em julho deste ano para as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, passarão a valer a partir de 1/7/2018. Já para as regiões Norte e Nordeste, a validade é a partir de 01/7/2019. A prorrogação permitirá a adoção de medidas mais eficazes para a melhoria da qualidade do leite, sem causar prejuízos a produtores, indústrias e consumidores. Em resumo, o programa pretende coletar informações, gerenciar bases de dados e promover ações mais efetivas para otimizar a produtividade da nossa pecuária leiteira. Importantíssimo para o País. (*) Antonio Alvarenga é presidente da Sociedade Nacional de Agricultura


Fotos: Cristina Baran

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