O Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro

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O Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro


Em arquitectura desenham-se sempre o pensamento e as necessidades de uma sociedade e, por isso, ainda que opacamente, ela ĂŠ o mais extraordinĂĄrio e avassalador testemunho da histĂłria humana. Carlos Alberto Ferreira de Almeida


Localizado num largo vale, o Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro (Felgueiras) é privilegiado pela sua implantação, circundado pelas melhores e mais férteis terras agrícolas e pelo fácil acesso a água. Considerado um dos mosteiros beneditinos mais ricos e influentes do norte de Portugal, pensa-se ter sido fundado no ano 1059, enquadrando-se dentro da corrente artística denominada por Românico.


A igreja, tal como a vemos hoje, apesar da sua enorme alteração nos séculos XVII e XVIII, terá sido iniciada em meados do século XIII. A presença da rosácea protogótica na fachada ocidental, bem como a escultura e o alçado do portal axial são claros neste sentido. Quando falamos de arquitectura românica, falamos não só de edifícios que formam elementos coordenados entre si, mas igualmente de um pensamento conceptual, de acções e práticas humanas, influenciadas por questões históricas, políticas, sociais, religiosas e económicas. Para além de um grande estaleiro construtivo da época medieval, o mosteiro caracteriza-se também por toda a riqueza que possuía, oriunda das generosas doações régias e das famílias da alta nobreza. Destaca-se por isso, como sendo um dos mais ricos e importantes mosteiros beneditinos de Entre – Douro – e – Minho.


Apesar das inúmeras alterações da Época Moderna a que esteve exposto, fundamentalmente no período Barroco, a igreja é própria de uma arquitectura românica local, com a presença de diversas nuances do românico minhoto e tardio do sul do Lima. As igrejas românicas alteradas na Época Moderna mantêm normalmente a sua estrutura original, no entanto as cabeceiras semicirculares românicas dão lugar a umas mais alongadas, alteradas a nível de proporção e métrica primitiva, adaptando-as às novas necessidades. A cabeceira da igreja do Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro foi sem dúvida um dos elementos bastante alterados no século XVIII, principalmente pela sua elevada profundidade, obtendo um desenho rectangular muito acentuado.


O claustro foi outro elemento claramente modificado, sendo alvo de intervenções de campanha Neoclássica, nunca terminadas devido à extinção das Ordens Religiosas em 1834.

Planta da igreja e do mosteiro de Sta. Maria do Pombeiro

Claustro do Mosteiro de intervenções Neoclássicas.


Dada a importância do Mosteiro, foram elaboradas campanhas de escavações arqueológicas. Estas têm vindo a mostrar o grande património arqueológico ligado à produção artesanal de sinos na Época Medieval.

Vista do fosso de fundição. Fot. Ricardo Erasun.

No Mosteiro, quatro são as áreas de fundição, localizadas na nave central da igreja, por baixo do coro alto, pela sua proximidade às torres sineiras, bem como no claustro. Esta prática evitava essencialmente os custos de transporte.

Vista da câmara de cozedura do fosso. Fot. Ricardo Erasun.


No Mosteiro conservam-se também dois programas de pintura mural do século XVI, um na capela lateral do lado do Evangelho, outra na capela lateral do lado da Epístola, estando estas últimas melhor conservadas. Dois santos beneditinos parecem representados, S. Mauro e S. Plácido, discípulos de S. Bento, acreditando-se que estivesse também representado numa figuração ao centro, entretanto desaparecida.

Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro. Absidíolo do lado da Epístola S. Mauro (esquerda) e S. Plácido (direita).


A representação destes santos é semelhante a outras existentes na igreja de Vila Martim e Bravães (na sucessão de planos indicativa de profundidade do espaço, no mesmo traço de desenho e sombreado do rosto, das mãos e dos enquadramentos) sendo muito provavelmente resultados da mesma oficina.

Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro. Absidíolo do lado do Evangelho. Veneração a S. Brás.

Assim, fica claro que não só o Mosteiro de Pombeiro detinha um grande papel como centro encomendador de pintura mural durante a primeira metade do século XVI, como também as igrejas de que detinha padroado.


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Concelho: Felgueiras Dia do Orago: Santa Maria Maior - 5 de Agosto Horário do Culto: Domingo, feriados e dias santos – 08h00 e 10h45 Horário da Visita: verão (do último domingo de Março ao último domingo de Outubro): quarta-feira a domingo (10h00-13h00 e 14h00-18h00); inverno: sexta-feira a domingo (09h00-13h00 e 14h00-17h00). Telefone: 255 810 706 / 918 116 488 Localização: Lugar do Mosteiro, freguesia de Pombeiro de Ribavizela, concelho de Felgueiras, distrito do Porto. Coordenadas Geográficas: 41° 22' 58.091" N / 8° 13' 32.597" O


Para saber mais… 1

Arte Românica em Portugal. [pdf] PÉREZ GONZALÉZ,

José Maria [direc.] ROSAS, Lúcia [coord. científica]; BOTELHO, Maria Leonor [coord. científica]. Fundación Santa María la Real: Aguilar de Campoo, 2010. Disponível em: http://sgfm.elcorteingles.es/SGFM/FRA/recursos/doc/Lib ros/879611670_1042012165947.pdf. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de – História da Arte em Portugal: O românico. Lisboa: Publicações Alfa, S.A., 1986. BESSA, Paula – Pintura Mural em Santa Marinha de Vila

Marim, S. Martinho de Penacova, Santa Maria de Pombeiro e na Capela Funerária anexa à igreja de S. Dinis de Vila Real: Parentescos Pictóricos e Institucionais e as encomendas do Abade D. António Melo. [pdf] Instituto de Ciências Sociais Universidade do Minho. Separata de Caderno do Noroeste, Série História 3, vol. 20 (1-2). 2003. Disponível em Rcaap: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/1192 8/4/SCAN0004.pdf. (*) BOTELHO, Maria Leonor - A Historiografia da

Arquitectura da Época Românica em Portugal (18702010). [pdf] Faculdade de Letras da Universidade do Porto: [s.e.] 2010. Disponível em: http://repositorio-


aberto.up.pt/bitstream/10216/55076/2/tesedoutleonorbote lho1000123702.pdf. ERASUN CORTÉZ, Ricardo – A fundição de sinos no Mosteiro de Santa Maria de Pombeiro. Revista Oppidum. 2008. Disponível em: http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocument s/Romanico_Mais%20Informacao/Revista%20OPPIDU /A_fundicao_de_sinos_no_Mosteiro_de_Santa_Maria_de_Pomb eiro_pp.131-149.pdf. (*) As fotografias são de autor, excepto as relativas à pintura mural e à fundição de sinos, sendo retiradas das obras assinalada por (*). Algumas imagens foram igualmente retiradas do SIPA e do Google. As informações sobre os horários e localização do Mosteiro foram tidas através do site da Rota do Românico.



Trabalho realizado por Ana Sofia Ferreira Ribeiro para a unidade curricular de Hist贸ria da Arquitectura Medieval em Portugal I, do Mestrado em Hist贸ria da Arte Portuguesa.

FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO


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