Relatório Final de ACEUIP I - Os Beirais

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F. L . U . P. FACULDADE DE LETRAS UNIVERSIDADE DO PORTO

PATRIMÓNIO VERNACULAR CONSTRUÍDO os “beirais”- casos de estudo

Ana Sofia Ferreira Ribeiro _ Janeiro . 2015 Trabalho realizado no âmbito da Unidade Curricular de A r q u i t e t u r a Contemporânea, Espaço Urbano e Intervenções no Património I, do Mestrado em História da Arte Portuguesa.


ÍNDICE 2

INTRODUÇÃO

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I - ARQUITETURA E TRADIÇÃO

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II - O PATRIMÓNIO VERNACULAR

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 1. o lugar | 1.1 a geografia do lugar | 1.2 uso do solo

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1.3 traçado viário/vias de comunicação

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2. o edifício | 2.1 a pertinência do beiral | 2.2 a implantação do beiral

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2.3 funções do beiral

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2.4 a orientação do beiral | 2.5 as tipologias dos beirais

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2.6 a estrutura do beiral

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO - BEIRAL DA FEIRA NOVA

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO - BEIRAL DE VILELA

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO - BEIRAL DE VILA VERDE

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO - BEIRAL DE MOURO

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO - BEIRAL DE QUINTÃ

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CONCLUSÃO

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BIBLIOGRAFIA

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INTRODUÇÃO No âmbito da Unidade Curricular de Arquitetura Contemporânea, Espaço Urbano e Intervenções no Património I, surge a proposta de elaborar um relatório cujo tema trata precisamente a questão do Património Vernacular Construído e do que hoje se entende por construções tradicionais.

A estas construções (caso de estudo), no contexto do nosso trabalho, dáse o nome de “beirais”. Tentaremos definir esta denominação e enquadrá-la no âmbito da sua função e localização.

Para além dos nossos casos de estudo estarem distribuídos por toda a região norte do País, há uma maior predominância no Vale do Sousa, sendo que os que iremos estudar estão localizados na freguesia de Caíde de Rei, concelho de Lousada, distrito do Porto. É precisamente neste local que nos iremos debruçar.

Os principais objectivos deste trabalho são, para além de estudar estas construções dentro dos domínios da arquitetura (do ponto de vista da sua localização, organização, orientação, implantação, da estrutura e dos seus materiais construtivos) alertar para a sua existência e adotar estratégias de promoção e sensibilização da população para a importância da proteção e salvaguarda destas edificações. Pretendemos de igual modo apreender e perceber as lições arquitetónicas construtivas dos edifícios e transmiti-los à contemporaneidade, na tentativa de manter activos os princípios “vernaculares” e ecológicos da sustentabilidade.

Começamos, numa fase inicial, por fazer um levantamento fotográfico dos Beirais inseridos no perímetro estabelecido. Posteriormente segue-se um levantamento fotográfico exaustivo, desde panorâmicas a pormenores construtivos, à elaboração de medições e peças desenhadas de modo a que, com tudo isto percebamos melhor a lógica construtiva do edifício, bem como toda a sua envolvente.

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INTRODUÇÃO Contamos com a colaboração dos proprietários dos Beirais quer para estes diversos levantamentos, quer para a recolha de informação essencial para o entendimento do surgimento destas tipologias. Para que este entendimento seja o mais completo possível, é extremamente necessária a caracterização de toda a área do Vale do Sousa, relacionandoa com a sua ainda actual produção e exploração agrícola.

Perante este cenário, é extremamente significativo encararmos estes edifícios como organismos vivos, que desempenham diariamente a função para a qual foram determinados.

No que respeita ao nosso relatório, este irá compor-se por duas partes distintas, sendo a Parte I (Estado da Arte) dedicada ao tratamento de questões mais fundacionais e explicativas do tema e a Parte II (práxis) destinada a um tratamento individualizado de cada um dos Beirais estudados, sendo para esse efeito criados modelos de fichas de inventário para cada uma destas construções a fim de podermos conhece-los e analisá-los de forma mais pormenorizada.

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I - ARQUITETURA E TRADIÇÃO Nas últimas décadas, o interesse e a busca por um sentido de identidade tem vindo a aumentar devido ao fenómeno da globalização. A importância deste conceito, de identidade, é valorizada por tendências filosóficas que defendem e reclamam o direito à diferença, o respeito pelo próximo e o extermínio de qualquer tipo de discriminação. Estes ideais chegaram também à arquitetura e ao urbanismo. Neste sentido, a arquitetura tradicional voltou a ser revalorizada, sendo que as soluções propostas resultam de séculos de empirismo. A relação que cria com o meio acaba por ser a mais apropriada, uma vez que ela própria integra a fonte de vida para todos aqueles que nela vivem. Dessa forma, o meio é cuidadosamente preservado, mantido e transformado com extrema sensibilidade, nunca esquecendo o facto de que será transmitida às gerações vindouras. A partir de meados do século XVIII, o interesse pela arquitetura vernacular desperta e o contacto com a Natureza era agora tido como purificador. Deste panorama surge a arquitetura pitoresca, presente em Inglaterra já nos meados do século XVIII. Em Portugal procurou-se também recuperar alguns elementos da singularidade nacional, na criação de uma imagem ou estilo arquitetónico que se pudesse considerar “português”. Raul Lino assume aqui um grande destaque, deixando-nos obras onde podemos verificar a eficácia da conjugação entre os aspectos práticos da vida doméstica e a tradição local.1

No passado, os edifícios eram construídos usando medidas passivas, simples e engenhosas, devido à carência de tecnologia que permitisse a maximização das condições de conforto sem a utilização dos recursos naturais disponíveis. Estas medidas passavam por preocupações pertinentes, advindas, entre outras, das características geográficas, insolação, orientação, geometria, forma e materiais; (…) Ainda sem dominar o conceito de energia térmica, nem conhecer as leis da termodinâmica, o Homem tinha, por via sensorial e empírica, a noção da relação existente entre o clima, forma, material de construção e o bem-estar físico. 2

1

CENICACELAYA, Javier; BAGANHA, José – Arquitectura Tradicional e Sustentabilidade. [s.ed.] Bilbau, Lisboa, 2004. [pdf] [Em linha] Disponível em: http://www.jbaganha.com/pdf/pt/0201.pdf. 2 FERNANDES, J.; MATEUS, R. – “Arquitectura Vernacular: uma lição de sustentabilidade” in Sustentabilidade na Reabilitação Urbana – O novo paradigma do Mercado da Construção. [s.ed.] Repositório da Universidade do Minho [pdf] Pág. 207. [Em linha] Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/15423/1/arquitectu ra%20vernacular.pdf.

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I - ARQUITETURA E TRADIÇÃO Assistimos hoje, em contraponto, a uma mundialização das exigências à existência de um conforto mínimo, que o betão, o ferro e o vidro possibilitam. Estes ideais e práticas construtivas tradicionais perdem-se com as influências estrangeiras da arquitetura moderna, com o consequente desenvolvimento da indústria e com o próprio desejo de luxo e conforto por parte da população, cada vez mais urbana. Esta industrialização tornou análogos os modos de construir e estimulou a propagação de uma arquitetura universal, descontextualizada do seu meio, muito dependente da energia eléctrica e altamente devastadora de recursos. Por todos estes motivos o conhecimento da arquitetura vernacular, sabedora de técnicas construtivas mais económicas, desperta interesse a nível internacional, associado a uma consciência da necessidade de construções sustentáveis. 3 As variadas assimetrias geográficas e climáticas do território nacional português originaram uma multiplicidade de manifestações de arquitectura vernacular. A sua diferenciação regional é evidente na utilização dos materiais e das técnicas locais, na adaptação às condições climáticas da envolvente e à actividade económica das famílias. Deste modo, regista-se uma profusa diversidade de estratégias de adaptação às condições locais.4 As construções que iremos ver a seguir são claras neste sentido sendo que, até na mesma geografia, há variantes tipológicas diversas.

3

FERNANDES, Jorge; MATEUS, Ricardo; BRAGANÇA, Luís Princípios de Sustentabilidade na Arquitectura Vernacular em Portugal. 4º Congresso Nacional: Congresso Construção, 2012. Coimbra, 2012. [pdf] Pág. 1. Repositório Universidade do Minho. [Em linha] Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/22290/1/CC2012_ Fernandes_Mateus_Braganca.pdf. 4 Idem. Pág. 8.

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II - O PATRIMÓNIO VERNACULAR Em primeiro lugar, cabe-nos demonstrar o que é o Património Vernacular Construído para que consigamos inserir neste contexto os nossos edifícios. Assim, segundo a Carta do Património Vernacular Construído (ICOMOS) 19995, estas são arquiteturas úteis e ao mesmo tempo possuem interesse e beleza. São lugares de vida contemporânea e memória da história de uma sociedade. São tanto fruto do trabalho do homem como criação de um tempo. Em suma, são a expressão fundamental da identidade de uma comunidade, das suas intervenções e relações com o território e, de uma panorâmica geral, a expressão da diversidade cultural do mundo. Este documento diz-nos ainda que o Património Vernacular Construído constitui o ambiente natural e tradicional em que as comunidades terão produzido os seus próprios edifícios, os seus habitats. Ainda assim, reconhecido o valor e a importância deste Património, esta Carta refere ainda que devido à crescente globalização e massificação socio-económicas, as estruturas vernaculares estão demasiadamente expostas, e enfrentam graves problemas de equilíbrio interno e integração. Desta forma, é fundamental a tomada de medidas e estratégias de salvaguarda que garantam a sobrevivência destes edifícios. Ainda na orientação deste mesmo documento, constituem exemplos de arquitetura vernacular casos como: um modo de construir emanado da própria comunidade; um reconhecido carácter local ou regional ligado ao território onde estão inseridos os edifícios, existência de uma coerência construtivo, de estilo, forma e aparência, assim como a utilização de tipos arquitectónicos tradicionalmente estabelecidos; permanência da sabedoria tradicional no desenho e na construção e que é transmitida, de geração em geração, de maneira informal. São também arquiteturas que respondem diretamente às necessidades funcionais, sociais e ambientais e que contêm em si a aplicação de sistemas, ofícios e técnicas tradicionais de construção. É neste contexto específico que inserimos os Beirais que, como iremos perceber ao longo deste trabalho, correspondem exatamente aos princípios deste documento internacional. Perante toda esta panorâmica, não sobram dúvidas de que, estando em condições de maior vulnerabilidade, este Património deve ser cuidadosamente mantido, manuseado e corretamente intervencionado, para que consiga permanecer ao longo do tempo.

5 Carta del património vernáculo construído (1999), ICOMOS. México,

Outubro de 1999.

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II - O PATRIMÓNIO VERNACULAR Encarar o património vernacular como um factor privilegiado de desenvolvimento local é o ponto de partida para a sua valorização e protecção. Este poderá ter um contributo para a dinamização das economias locais através da investigação, formação de profissionais nas técnicas tradicionais e pelas próprias acções de conservação ou adaptação do património vernacular existente. A disseminação e o sucesso destas acções poderão mesmo vir a fomentar o renascer das pequenas indústrias de materiais tradicionais locais.6 A utilização de materiais locais é indubitavelmente uma das características mais significativas da arquitectura vernacular que, para Paul Oliver, esta arquitectura sem arquitectos só é vernácula se for do povo, feita pelo povo, em que há uma ligação tradicional e herdada entre o homem e o meio (…)7 Poderíamos chamar-lhe também arquitectura popular, tendo em conta os seus protagonistas e a ausência de mediadores qualificados e institucionais (arquitectos, técnicos, empresas de construção, imobiliárias, serviços municipais) 8 A forma como os materiais se expressam plasticamente e se agregam nas construções é também um factor identitário e diferenciador das mesmas. De forma geral, pode-se afirmar que onde existe pedra constrói-se com ela, onde escasseia produz-se com terra, adobe ou tijolo, madeira ou outros materiais vegetais. Os materiais utilizados pelas populações baseavam-se apenas às propriedades geológicas do local onde se implanta o edifício. A utilização destes recursos apresenta variadas vantagens que importa referir e sumariar: são recursos locais no âmbito mais restrito de abrangência territorial, não necessitando de transporte; necessitam de pouco processamento e consequentemente possuem baixa energia incorporada e reduzidas emissões de dióxido de carbono; são materiais naturais, várias vezes orgânicos, biodegradáveis e renováveis. 9 6 FERNANDES, J.; MATEUS, R. – “Arquitectura Vernacular: uma lição

de sustentabilidade” in Sustentabilidade na Reabilitação Urbana – O novo paradigma do Mercado da Construção. [s.ed.] Repositório da Universidade do Minho [pdf] Pág. 212. [Em linha] Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/15423/1/arquitectu ra%20vernacular.pdf. 7 HELDER, Herberto. Prefácio da 4ª edição da obra Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2004. ISBN: 972-97668-7-8. 8 9

Idem. FERNANDES, Jorge; MATEUS, Ricardo; BRAGANÇA, Luís Princípios de Sustentabilidade na Arquitectura Vernacular em Portugal. 4º Congresso Nacional: Congresso Construção, 2012. Coimbra, 2012. [pdf] Pág. 9. Repositório Universidade do Minho. [Em linha] Disponível em: http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/22290/1/CC2012_ Fernandes_Mateus_Braganca.pdf.

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II - O PATRIMÓNIO VERNACULAR É fundamental garantir o fabrico e disponibilização destes materiais de construção tradicionais para a preservação deste Património, de forma a resistir ao facilitismo e à standardização e para que, juntamente com eles, não se acresçam demasiadamente os custos destes materiais pouco comuns.10 Todas estas questões são extremamente importantes, no entanto não podemos deixar de referenciar o local onde se inserem. Tal como já referimos anteriormente, a área de estudo onde se encontram estas arquitecturas é a zona do Vale do Sousa. O Vale do Sousa é, por sua vez, uma região situada a Norte de Portugal e que se caracteriza principalmente pelas práticas de policultura intensiva (produção de forrageiras, animais, cereais, leguminosas secas e batatas) para autoconsumo. Alguns produtores vendem também parte daquilo que produzem. Mas esta região foi sendo progressivamente descurada pelo rápido processo de industrialização. 11 Ao nível da paisagem, o Vale do Sousa apresenta como características dominantes um relevo sinuoso, com vales encetados e profundos, que irão determinar a implantação dos aglomerados populacionais, práticas agrícolas e traçados viários. Nos locais mais baixos e de meia encosta, os campos são explorados por meio de agricultura intensiva (milho, vinho, produtos hortícolas, pastagens e produção de cereais) que prevaleciam as pequenas propriedades. É possível assinalarmos no território a presença de diversos povoados, pontuados tanto por solares, as grandes casas e mosteiros, as grandes casas de produção agrícola (como as quintas) e os pequenos aglomerados onde predominam as arquitecturas tradicionais, de cariz rudimentar. A agricultura permanece como principal fonte económica da região até meados do século XIX sendo que, com a desamortização dos bens das Ordens Religiosas e dos Morgadios da Nobreza, a propriedade rural existente até então sofre uma profunda decadência.12 É precisamente nesta cronologia que inserimos a construção do «Beiral».

10 SOEIRO, Teresa; Rosas, Lúcia; FAUVRELLE, Natália – O Património

Vernacular Construído do Alto Douro Vinhateiro: ritmos e valores. DOURO – Estudos & Documentos, vol. VII (14), 2002 (4º), 147-163. [pdf] Pág. 162. [Em linha] Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9621.pdf. 11 Estudo sobre Novas Áreas de Criação de Emprego/Empresas e Respectivas Formas de Apoio. [pdf] CENTENO, Dr. Luís Gomes [coord]; SARMENTO, Dra. Ana Leonor [coord], SILVA, Dr. Carvalho [coord.]. Consórcio CIDEC/ Deloitte & Touche. [s.l.] 1998. [Em linha] Disponível em: http://www.valsousa.pt/documentacao/relatorios-e-estudos. 12 Rota do Românico. [s.a.] [s.l] [s.ed.] [pdf ] Disponível em: http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocuments/PerfilHisto r i a d o r / Te r r i t o r i o _ e _ P a i s a g e m _ n o _ Va l e _ d o _ S o u s a . p d f .

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II - O PATRIMÓNIO VERNACULAR Será neste contexto das práticas agrícolas que surgirão os Beirais, estruturas edificadas maioritariamente em pedra granítica (típica do local) que respondessem às necessidades dos seus proprietários, nomeadamente o tratamento e secagem do milho, o armazenamento e a arrecadação das alfaias agrícolas e toda a maquinaria rústica, bem como as ferramentas necessárias à sua produção. Mais do que mimetizar formas de outras épocas e outras vivências, importa saber se é possível preservar algumas delas com novas funcionalidades, mas mantendo a coerência de conjuntos que são verdadeiras lições da arte de construir, com economia de meios e estreita relação com o sítio.13

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HELDER, Herberto. Prefácio da 4ª edição da obra Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2004. ISBN: 97297668-7-8.

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3. Capítulo- O Beiral (Estudo de Caso)

III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 1. O Lugar

Localização Geográfica da Área de Estudo

1.1 A geografia do lugar Como já anteriormente se referiu, os Beirais estão situados em propriedades agrícolas que geograficamente são caracterizadas por terrenos com maior ou menor pendor altimétrico; torna-se por isso difícil encontrar um terreno integralmente de nível regular plano ou com um certo constante nível altimétrico. O conjunto resulta num terreno pontuado por vales de profundidade variável, com orientações cardiais diversas, próprios da zona de estudo em questão, o Vale do Sousa. Geologicamente, o granito é o material pétreo que impera, nomeadamente nos seus tons cinza e azul que, em consonância com os castanheiros e pinheiros, as árvores tipo que caracterizam o lugar, criam no seu conjunto uma mancha dominada por tons contrastantes entre as sensações térmicas de calor (madeira) e o frio (pedra). 1.2 Uso do solo Idos são os tempos em que a exploração agrícola, nas suas variadas vertentes, é o uso primordial que a população faz destes irregulares mas produtivos solos. Assim, intensificou-se ao longo dos tempos a exploração da cultura do milho, vinho, produtos hortícolas, pastagens e produção de cereais, que prevaleciam essencialmente nas pequenas propriedades. Destes factores resulta a agricultura como principal factor económico da região. Como resultado do cruzamento entre a típica geografia do lugar e a exploração agrícola que do mesmo se faz, obtemos pequenas propriedades que constituem unidades agrícolas de reduzidas dimensões – podemos nomear as quintas ou granjas como exemplos destas unidades. Como apoio imprescindível ao uso que se faz deste solo, o Beiral (como outras estruturas arquitectónicas) funciona como uma estrutura auxiliar no processo da cultura agrícola.

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 1.3 Traçado viário/ Vias de comunicação Caracterizar o traçado viário é importante para explicar, não só como se processa o acesso ao Beiral, mas também como o mesmo se relaciona com este, primordialmente ao nível da sua implantação. Hierarquicamente, a “estrada nacional” é a via que, conectando as várias localidades, interliga os municípios da região; a mesma, respeitando a geografia do lugar, serpenteia os vales, acompanha a morfologia e segue a altimetria do lugar, à medida que percorre o espaço. Partindo desta “estrada nacional”, cria-se uma malha viária, que se expande pelo terreno, criando o necessário acesso às unidades agrícolas mais remotas ou isoladas. Estas, como já referido, pela sua génese criam

Beiral do Mouro - percurso de aceso ao beiral

um retalhamento do lugar, cujas vias são obrigadas a

Beiral de Vila Verde - percurso de acesso ao beiral

respeitar, ao seguirem os limites sinuosos destas mesmas propriedades agrícolas. Assim, da estrada nacional onde se congrega todo o tráfego automóvel possível, partem as vias de acesso local, de perfil mais reduzido, em pavimento empedrado regular - os comuns «paralelos» - e de cariz urbanístico muito simples, que por sua vez se transformam em vias rurais. À medida que vamos penetrando no terreno, até às unidades agrícolas e o dito Beiral, estas últimas vias caracterizam-se por caminhos simples em terra batida, por onde já só circulam maioritariamente pessoas, animais e os veículos agrícolas, como os tractores.

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2 O edifício 2.1 A pertinência do Beiral

Devido à exploração agrícola existente, um conjunto de estruturas arquitectónicas foram criadas e estrategicamente implantadas para, funcionalmente, apoiarem esta prática. Assim o Beiral, com a sua polivalência funcional, vem cumprir com um conjunto vasto de necessidades, entre elas o armazenamento, secagem e tratamento do milho, bem como arrumo das alfaias agrícolas.

2.2 A implantação do Beiral Os Beirais, por norma, implantam-se contiguamente à casa do senhorio ou, eventualmente, afastados da mesma – o objectivo desta proximidade do Beiral com a casa prende-se com os casos de roubo, muito frequentes, que faziam com que por vezes os proprietários passassem a noite no Beiral.

No entanto, o Beiral, por razões geográficas, porque o terreno entorno da casa é reduzido ou até devido à extensão da exploração agrícola, poderse-á encontrar distante da casa habitacional – exemplo do beiral da Quinta de Almeida.

É importante também salientar que o Beiral encontra-se por norma próximo das vias rurais de acesso, anteriormente descritas, para facilitar o acesso dos transportes mecânicos (tractores) ou animal (carroças).

Beiral da Feira Nova - estruturas e equipamentos de apoio à produção agrícola

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.3 Funções do Beiral

O Beiral serve, desta forma, como estrutura de apoio à prática agrícola, nomeadamente à cultura do milho, eventualmente do feijão. Numa primeira fase, após ser recolhido em espigas, estas são transportadas para o beiral, onde são depositadas e espalhadas por todo o soalho do pavimento do primeiro piso - possuindo este as características ambientais para esta função, sendo um local fresco e seco. Seguidamente, as espigas necessitam de ser debangadas manualmente e espalhadas para a sua secagem -estas etapas são cumpridas na eira, que é um espaço exterior com as características próprias para estas necessidades Beiral e Eira da Quintã

A eira, situada exteriormente e na continuidade do alçado frontal do Beiral, voltado a sul

Beiral e Eira da Feira Nova

para uma melhor e maior recepção de sol (orientação esta essencial para uma eficaz secagem do mesmo), a eira assume-se como um espaço aberto e amplo, com traçado rectangular. Define-se então como um autêntico «recinto», que permite que os grãos de milho sejam uniformemente espalhados ao início do dia, permitindo uma total recepção solar por parte dos mesmos e que, no final do dia, são recolhidos e armazenados no piso résdo-chão do Beiral. Aqui são igualmente arrumados todas as alfaias agrícolas que serviram de apoio a esta tarefa do processo do tratamento do milho.

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.4 A orientação do Beiral Importa salientar então que o conjunto protagonizado pelo beiral e respectiva eira que lhe serve de apoio, encontram-se orientados a sul (ou seja, a fachada principal do Beiral está voltada a sul). Com esta orientação consegue-se obter o máximo de recepção solar diária possível essencial ao processo de secagem do grão do milho. Também com esta orientação, e durante o processo de secagem, o milho está protegido pelo Beiral dos ventos frios e húmidos que provêm do lado Norte.

2.5 As tipologias dos Beirais Beiral e Eira da Feira Nova - Tipo 2

Os beirais podem ser de dois tipos consoante a estrutura construtiva do piso 1: enquanto que a eira e o piso 0 são comuns a todos os Beirais, quer estrutural, quer funcionalmente, o piso 1 diferencia-se em dois tipos consoante o material em que é constituído: o

Beiral e Eira da Quintã - Tipo 1

primeiro tipo é quando o piso 1 é o prolongamento da estrutura do piso rés-do-chão, sendo o armazenamento das espigas de milho é de curta duração; o segundo tipo é quando o piso 1 é integralmente constituído por um ripado assente sobre uma estrutura de madeira,

Beiral de Vila Verde - Tipo 1

possibilitando um tempo de armazenagem das espigas maior. Isto porque, o ripado de madeira, ao contrário das paredes maciças em alvenaria de granito perimetrais do tipo 1, permite a circulação interna do ar exterior, diminuindo desta forma o grau de humidade do ambiente interno, mantendo o nível térmico do ar.

Beiral de Vilela - Tipo 1

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.6 A estrutura do Beiral

A caracterização estrutural, e por conseguinte construtiva, do Beiral seguirá uma lógica semelhante à mesma a que os mesmos são na realidade erigidos: partindo das fundações, seguir-se-á a descrição da estrutura do suporte vertical, o pavimento do rés-dochão, o pavimento do piso 1 e, por fim, a cobertura.

As fundações

Num lugar previamente escolhido, que respeita a lógica anteriormente já descrita sobre “os lugares de implantação dos beirais”, caboucos são feitos para a colocação das fundações – os caboucos correspondem a buracos feitos na terra, com uma profundidade média de 1 metro, disposto no terreno com a forma rectangular que o Beiral vai assumir.

No fundo destes, é depositada uma camada de aglomerado pétreo que vai constituir a base de assentamento da pedra de fundação propriamente dita – esta, em alvenaria de granito, constituirá a base de arranque sobre a qual as paredes perimetrais estruturais, também elas da mesma alvenaria, se elevarão até à cobertura. Estes caboucos são posteriormente preenchidos com terra vegetal até ao nível do solo.

Esquema tipo de uma fundação em alvenaria de granito, com o respectivo lajeado do pavimento interno externo.

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.6 A estrutura do Beiral O piso rés-do-chão

Dando continuidade ao pavimento da eira, o pavimento do rés-do-chão é também ele constituído por um lajeado em pedra granítica – este lajeado está assente sobre, à semelhança das fundações, sobre um aglomerado pétreo que constitui a base de assentamento. Este lajeado é constituído por pedras em forma “chata”, ou seja, têm uma altura reduzida face ao comprimento das mesmas, podendo variar entre os 0,5 a 1 metro.

Espacialmente, o piso é por norma definido por três paredes perimetrais dispostas em forma de U (lados nascente, norte e poente), que arrancam da fundação e seguem até ao piso1. O lado sul é aberto para o exterior através de tramos de vãos, de número variável (consoante o maior ou menor tamanho do edifícios), constituídos

Feira Nova - ripado do piso 1 sobre alvenaria Quintã - sistema integral estrutual coluna-lintel

pelo sistema “pilar – lintel”. Estes vãos constituem, na sua totalidade, os acessos ao interior do Beiral, onde funcionam portadas de folha única, e constituídas por ripado ou portadas em madeira.

Pelas funções desempenhadas neste piso e sobretudo pelas dimensões tipo que se encontra por norma para as peças de granito que vão constituir o pilar e o lintel (peças entre os 2 e os 2,50 metros de comprimento) os vãos vão assim ficar metricamente definidos à priori, tendo por isso o piso normalmente um pé direito de 2,20 metros, bem como cada vão de acesso.

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.6 A estrutura do Beiral O Piso 1

O acesso ao piso 1 é feito, em regra, através

Beiral da Quintã - escada de acesso ao piso 1.

de uma escada exterior, também ela em alvenaria de granito e adossada à parede nascente do beiral, que se inicia na eira e termina num patamar em forma quadrangular ao qual se acede a uma porta de acesso a este piso. Esta porta em madeira, de folha única, enquadra-

Beiral de Vilela - escada de acesso ao piso 1

se num simples vão na fachada.

O pavimento do piso 1 é constituído por um sistema de vigas de madeira em forma circular, com diâmetro de 25 centímetros, dispostas transversalmente e que assentam directamente na parede do lado norte e

Beiral da Quintã - pormenor da caixilharia do piso 0

no pilar correspondente do lado sul. Sobre estas assenta sobre o soalho de madeira, tábuas com espessura de 3 centímetros e largura de 12, simplesmente pregadas, o que vulgarmente denomina-mos de soalho de madeira. Feira Nova - estrutura do pavimento do piso 1

Espacialmente, o piso 1 repete a fórmula do piso 0 - as mesmas paredes estruturais, os mesmos tramos e o mesmo sistema “pilar-lintel” define este piso até à cobertura final. Logicamente que, do ponto de vista

Feira Nova - pormenor do pavimento do piso 1

métrico, o modelo do piso rés-do-chão repete-se também aqui.

Internamente, regra geral na região em estudo, os pisos não se encontram compartimentados – assim, eles assumem-se como espaços com a dimensão plena do perímetro estrutural do Beiral.

Beiral de Vilela - piso 1

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III - O BEIRAL (ESTUDO DE CASO) 2.6 A estrutura do Beiral A cobertura

A cobertura é naturalmente o elemento de

Beiral - aspecto geral da cobertura

fecho do Beiral. Regra geral, ela é composta por duas águas, com inclinação e orientação norte/sul (ou seja, a pendente das águas desenvolve-se para o alçado norte e para o alçado sul).

Construtivamente, ela vai assentar sobre

Beiral da Mouro - pormenor da cobertura

as paredes estruturais em forma de U (fachadas nascente, norte e poente) e sobre os lintéis dos tramos do piso1 (fachada sul). A cobertura é formada por panos únicos, sem qualquer abertura ou vão para o exterior.

A cobertura propriamente dita, é constituída

Feira Nova - pormenor do interior da cobertura

por um telhado em estrutura de madeira. Essa estrutura assenta nas duas fachadas laterais (nascente e poente), sendo que consoante o comprimento do beiral, existem metricamente sistemas de asnas, alinhadas aos pilares de cada um dos tramos e que sustentam a cobertura transversalmente. Beiral de Vilela - pormenor do beiral da cobertura

A estrutura de madeira é constituída por uma malha hierarquicamente composta por vigas, barrotes e sarrafos que, colocados em contrafiado, recebem finalmente, a telha cerâmica de tipo marselha ou chapas de zinco, que funcionarão como o elemento de encerramento final.

Beiral de Quintã - pormenor do rufo da cobertura

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO BEIRAL DA FEIRA NOVA Lugar da Feira Nova Cronologia: séc. XIX [?] Descrição: encostado ao terreno, aproveita o seu declive para se implantar. Contém dois andares, sendo que a escada de acesso ao primeiro piso é inexistente, uma vez que o acesso é feito a partir do terreno superior. O edifício é definido por três tramos, definido pelo sistema estrutural coluna-lintel. O último tramo do edifício (mais à direita na fotografia) é completamente amplo ao nível do piso 0, apoiando-se o pavimento do piso 1 em dois pilares perimetrais. A cobertura, de duas águas, é formada por uma estrutura em madeira, encerrada por chapa ondulada em zinco. Acessos: O acesso, pedonal, é feito por um caminho em terra batida do lado sul e o acesso automóvel, unicamente tractor, provém do lado norte; ambos os caminhos se encontram na eira contígua ao beiral. Enquadramento: Rural. Terreno em declive. Implantado no socalco do terreno pelo lado sul, de onde parte todo o seu desenvolvimento. Características particulares: Implantado lateralmente num socalco, onde se apoia pelo seu alçado sul. Piso um constituído integralmente em ripado de madeira, sendo por isso, funcionalmente um beiral do tipo dois, estando em pleno funcionamento. Materiais: PISO 0: Aparelho irregular em alvenaria de pedra granítica; pilares constituídos por esteios em granito; Portadas em estrutura e ripado de madeira de castanho. PISO 1: paredes perimetrais em ripado de madeira, pavimento em soalho de madeira de castanho; portadas dos vãos em estrutura de madeira, seguindo o mesmo ripado das paredes no seu preenchimento. Cobertura, de duas águas, constituída estruturalmente por sistema em vigas de madeira de castanho e chapas de zinco.

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO BEIRAL DE VILELA Lugar de Vilela Cronologia: Séc. XIX [?] Descrição: Composto por dois andares e escada exterior de acesso ao primeiro piso na fachada lateral. O milho estende-se pela eira aquando do processo de secagem. No piso do rés-do-chão (Piso 0) arrecada-se o milho já limpo, em sacos, onde permanecerá arrecadado. No primeiro piso (Piso 1) estão colocadas as espigas que aguardam o mesmo processo de tratamento. O edifício é definido por três tramos, sendo que os vãos inferiores alinham-se com os superiores. No primeiro tramo (mais à esquerda), o edifício está em balanço, apoiando-se em dois esteios em pedra. Cobertura de duas águas em telha do tipo marselha. Acessos: Da via pública, surge um caminho estreito, de carácter privado, em terra batida, que permite a circulação pedonal e automóvel, que desemboca num pátio central, onde se localiza o beiral. Enquadramento: Rural, em terreno plano, com a fachada principal do beiral orientada para Sul, onde se encontra contiguamente a eira. Características particulares: Situado em torno de um pátio central, espaço este que congrega todas as unidades construtivas que compõem a quinta: casa do senhorio, arrecadação, ect. Funcionalmente, é um beiral do tipo um, encontrando-se em pleno funcionamento. Materiais: PISO 0: Aparelho irregular em pedra Granítica (paredes estruturais em U); pilares em granito; madeira de castanho nos vãos; pregos, fechaduras em fecho de canhão e dobradiças em ferro; PISO 1: Paredes estruturais em U em pedra granítica e soalho em madeira de castanho; pregos. Cobertura de duas águas

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO BEIRAL DE VILA VERDE Lugar da Quinta de Vila Verde Cronologia: Séc. XIX [?] Descrição: Semelhante ao Beiral de Vilela, segue por isso o mesmo sistema construtivo - composto por dois pisos e escada exterior, de acesso ao primeiro piso, ao seu lado direito. O edifício é definido por quatro tramos, com uma métrica regular, ao nível da definição dos vãos. A eira encontra-se defronte da fachada principal. A cobertura é de duas águas. Acessos: Da estrada nacional, acede-se ao núcleo habitacional da esploração agrícola; daqui, um caminho rural em terra batida, percorre os campos que se encontram a jusante, permitindo o acesso a estes e ao beiral, que aqui se encontra implantado. Enquadramento: Rural. Terreno com uma suave pendente para o lado Sul, lado este onde se desenvolve os terrenos agrícolas. Características particulares: Localizado numa vasta propriedade de exploração agrícola (Quinta de Vila Verde), encontra-se por isso afastado da casa do senhorio. Funcionalmente, é um beiral do tipo um. Atualmente encontra-se abandonado e degradado, não estando por isso em utilização. Materiais: PISO 0: Aparelho irregular em pedra Granítica (paredes estruturais em U); pilares em granito; madeira de castanho nos vãos; pregos, fechaduras em fecho de canhão e dobradiças em ferro; PISO 1: Paredes estruturais em U em pedra granítica e soalho em madeira de castanho; pregos. Cobertura de duas águas com telha do tipo marselha.

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO BEIRAL DO MOURO Lugar do Mouro Cronologia: Séc. XIX [?] Descrição: Semelhante ao beiral da Feira Nova, possuindo no entanto maiores dimensões e uma estrutura mais forte. O terreno onde se implanta está sobreelevado face à via pública, constituindo-se por isso como um autêntico patamar, servindo de base de assentamento do Beiral. Com dois pisos, e uma escada de acesso interna em madeira, o beiral possui três tramos, onde, à semelhança dos restantes exemplares, ambos os pavimentos se encontram conpletamente amplos. A cobertura de duas águas é em telha do tipo marselha. Acessos: Esta unidade agrícola situa-se bem próximo da via pública; assim, a partir desta, acedemos a um pátio privado que congrega em si todas as estruturas da unidade agrícola, entre elas o referido Beiral. Enquadramento: Rural, integra-se plenamente na unidade agrícola, onde um pátio privado, implantado a um cota elevada face à via pública, congrega toda a vicência da quinta do Lugar do Mouro - a casa do Senhorio, a eira e o terreno agrícola que se estende para sudeste. Características particulares: Funcionalmente, é um beiral do tipo dois (tal como o Beiral da Feira Nova), onde o piso 1, integralmente contituído por um ripado de madeira, assenta sobre uma estrutura em alvenaria de granito. Em pleno funcionamento apesar de uma certa degradação latente. Materiais: PISO 0: Aparelho irregular em pedra Granítica (paredes estruturais em U); pilares em granito; pregos, fechaduras em fecho de canhão e dobradiças em ferro; pilares em pedra granítica. PISO 1: Ripado de madeira envolvente, assente sobre a alvenaria de granito e pavimento em soalho de madeira de castanho; pregos. Cobertura de duas águas com telha do tipo marselha.

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IV - FICHAS DE INVENTÁRIO BEIRAL DA QUINTÃ Lugar da Quintã Cronologia: séc. XIX [?] Descrição: semelhante ao Beiral de Vila Verde, possui cinco tramos (sendo o beiral de maior comprimento), possui dois pisos e uma escada de acesso exterior. Estruturalmente, é integralmente constituído em alvenaria de granito, com cobertura de duas águas. A eira, como é regra, situa-se na continuidade da fachada principlamente, estando voltada a sul. Acessos: um caminho rural, sinuoso, irregular e estreito, em lajeado granítico, conduz-nos inocentemente a um recinto aberto, quadrangular e pelo seu lado nascente, recinto este que se constitui como o centro nevrálgico desta exploração agrícola no Lugar da Quintã. Enquadramento: o recinto, em terreno completamento plano, é definido espacialmente por três unidades, que se relacionam funcionalmente: a norte o Beiral com a respectiva eira, a sul a unidade habitacional - casa do senhorio, e a oeste o terreno agrícola. Características particulares: é um beiral do tipo um e provavelmente o que em melhores condições e de maiores dimensões se encontra em toda a região de estudo. Está em pleno funcionamento. Materiais: PISO 0: aparelho irregular em pedra Granítica (paredes estruturais em U); pilares em granito; madeira de castanho nos vãos; pregos, fechaduras em fecho de canhão e dobradiças em ferro; PISO 1: Paredes estruturais em U em pedra granítica e soalho em madeira de castanho; pregos. Cobertura de duas águas com telha do tipo marselha.

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CONCLUSÃO A realização deste trabalho foi bastante entusiasmante e muito enriquecedora, não só pelo facto destas construções serem bastante familiares para nós, mas também pelo contacto mais prático e físico com as questões da arquitectura. Este contacto tornou possível uma maior e melhor vivência destes espaços, bem como um melhor entendimento das suas formas construtivas e dos seus materiais.

Todo este conhecimento que obtivemos deve-se igualmente ao arquitecto Manuel Miranda, que desde cedo nos ajudou na realização de questões técnico-práticas (registos fotográficos, conceitos e terminologia), bem como nas explicações que ia consequentemente prestando para que conseguíssemos, de uma forma autónoma, descrever e captar o essencial do edifício, partindo de uma análise geral para uma mais detalhada, referindo obviamente os sistemas construtivos, aparelhos, fundações, orientações, materiais construtivos, entre outros. A sua ajuda foi sem dúvida imprescindível.

A elaboração do Estado da Arte (Parte I) foi bastante relevante, na medida em que nos permitiu tomar conhecimento do que já havia sido dito e escrito sobre o tema, e as referências bibliográficas que fomos fazendo ao longo de toda esta primeira parte é bastante clara no sentido em que, o tema da Arquitectura Vernacular ou Popular, foi já bastante tratado e aparece constantemente referenciado.

Apesar de tudo isso, o que nos parece primordial é a questão da sensibilização e consciencialização que deve, sem dúvida, ser desenvolvida. Mais do que penas valore estético, estas construções são resultado de uma necessidade e, consequentemente, de uma memória, de um povo, como tal não deve ser nem desvalorizada nem sobrevalorizada e pretexto para mais explorações turísticas excessivas, que é normalmente o que acontece com o Património, em geral.

A segunda parte foca-se fundamentalmente nos edifícios e na definição de um modelo-tipo de Beiral, frequentes no norte do país como sabemos, e pretende evidenciar essencialmente as «lições» construtivas, ou seja, aquilo que faz com que estas arquitecturas sejam únicas, exemplares e irrepetíveis.

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BIBLIOGRAFIA Carta del património vernáculo construído (1999), ICOMOS. México, Outubro de 1999.

CENICACELAYA, Javier; BAGANHA, José – Arquitectura Tradicional e Sustentabilidade. [s.ed.] Bilbau, Lisboa, 2004. [pdf] [Em linha] Disponível em: http://www.jbaganha.com/pdf/pt/0201.pdf.

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FERNANDES, J.; MATEUS, R. – “Arquitectura Vernacular: uma lição de sustentabilidade” in Sustentabilidade na Reabilitação Urbana – O novo paradigma do Mercado da Construção. [s.ed.] Repositório da Universidade do Minho [pdf]. [Em linha] D i s p o n í v e l e m : http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/15423/1/arquitectura%20vernacular.pdf.

FERNANDES, J.; MATEUS, R. – “Arquitectura Vernacular: uma lição de sustentabilidade” in Sustentabilidade na Reabilitação Urbana – O novo paradigma do Mercado da Construção. [s.ed.] Repositório da Universidade do Minho [pdf] Pág. 212. [ E m l i n h a ] D i s p o n í v e l e m : http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/15423/1/arquitectura%20vernacular.pdf

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HELDER, Herberto. Prefácio da 4ª edição da obra Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2004. ISBN: 972-97668-7-8.

HELDER, Herberto. Prefácio da 4ª edição da obra Arquitectura Popular em Portugal. Lisboa: Ordem dos Arquitectos, 2004. ISBN: 972-97668-7-8. Rota do Românico. [s.a.] [s.l] [s.ed.] [pdf ] Disponível em: http://www.rotadoromanico.com/SiteCollectionDocuments/PerfilHistoriador/Territorio_ e_Paisagem_no_Vale_do_Sousa.pdf.

SOEIRO, Teresa; Rosas, Lúcia; FAUVRELLE, Natália – O Património Vernacular Construído do Alto Douro Vinhateiro: ritmos e valores. DOURO – Estudos & Documentos, vol. VII (14), 2002 (4º), 147-163. [pdf] Pág. 162. [Em linha] Disponível em: http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/9621.pdf.

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