Manuel Pinto de Vilalobos - Arquitetura e Engenharia Militar: As fortificações

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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO

Manuel Pinto de Vilalobos Arquitetura e Engenharia Militar – As Fortificações Ana Sofia Ferreira Ribeiro Maio de 2015

Trabalho realizado no âmbito da Unidade Curricular de História da Arquitetura Moderna em Portugal II, do Mestrado em História da Arte Portuguesa.


Índice

Introdução

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Manuel Pinto de Vilalobos – Estado da Questão

P.

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Desenhos de Plantas de Fortificações – Casos de estudo

P.

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Tabela com informação biográfica e obras construídas

P.

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Tabela das obras atribuídas e documentadas: arquitetura civil e religiosa

P.

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Anexo visual

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Conclusão

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Bibliografia

P.

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Introdução

No âmbito da Unidade Curricular de História da Arquitetura Moderna II, do Mestrado de História da Arte Portuguesa, surge-nos a oportunidade de estudar este arquiteto e engenheiro militar, a fim de sistematizar e reunir toda a informação existente na bibliografia, de forma bastante dispersa. Desta forma, começamos por agrupar toda a informação existente na bibliografia, bem como em plataformas de informação virtual, como o SIPA (Sistema de Informação para o Património Arquitetónico), para que possamos ter uma perspectiva geral das obras e estudos levados a cabo pelo arquiteto, traçando de forma sistemática o seu percurso e obra construída. Desta primeira abordagem resulta o nosso estado da questão sobre este mesmo arquiteto. Numa segunda fase, utilizando toda a informação retirada da bibliografia, foram elaboradas tabelas demonstrativas e explicativas da mesma, de forma mais simplificada e seccionada, com o objectivo de melhor «arrumar», distribuir e perceber tudo o que é tratado pelos vários autores. De uma das tabelas consta por um lado dados biográficos, por outro a obra construída, bem como os autores que afirmam cada um destes dados. Outra das tabelas elaboradas trata e segmenta a questão da atribuição de obras e da documentação das mesmas, uma vez que a grande maioria das obras referenciadas pelos autores são apenas atribuídas, sem qualquer fundamentação documental. Numa última fase deste trabalho, na posse das plantas elaboradas por Manuel Pinto de Vilalobos das fortificações do norte do país (Viana do Castelo, Vila Nova de Cerveira, Ínsua, Caminha, Melgaço, Monção, Valença, Chaves e Lindoso), fomos observar através da ferramenta Google Maps o estado de conservação e permanência das mesmas e quais as fidelidades ao desenho do arquiteto. Será de facto interessante verificar a evolução urbana e demográfica destas regiões e o impacto causado em termos de preservação e conservação destas fortalezas.

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Manuel Pinto de Vilalobos – Estado da Questão

Manuel Pinto de Vilalobos é um dos arquitetos e engenheiros militares da Época Moderna dos quais temos alguma dificuldade em destrinçar, nomeadamente pela variedade de autores e teorias que o abordam. Desta forma, começamos por selecionar todas as obras que tratassem Manuel Pinto de Vilalobos sendo que, num ou outro caso não nos foi possível a sua consulta, como no caso da dissertação de mestrado em História da Arte Moderna à Universidade Nova de Lisboa do autor Miguel Conceição Silva Soromenho1, uma vez não ter sido publicada e não estar acessível na Biblioteca Nacional de Portugal. Em algumas outras obras que cuidam da temática da arquitetura, consequentemente da militar, dos séculos XVII e XVIII, não existe qualquer referência ao engenheiro militar em estudo, fazendo-nos referência apenas ao contexto social e político da região onde este terá atuado pontualmente. Falamos da obra dirigida por Paulo Pereira2, onde apenas é referido que as transformações de Braga se deram através da iniciativa dos arcebispos, nomeadamente de D. Diogo de Sousa que, chegado da Roma papal, designa Braga como «aldeia». Sabemos que a política artística deste arcebispo era transformar esta «aldeia» em cidade, dotando o espaço urbano de fontes, abrindo ruas largas e retilíneas e fornecendo equipamentos sociais. Tal como já referimos, vários são os autores que se dedicam ao engenheiro Manuel Pinto de Vilalobos, tentando explicar o que terá sido a sua atividade pessoal e profissional. Na obra de Vítor Serrão3 é-nos possível ter conhecimento de que este Manuel Pinto de Vilalobos, falecido a 1734, terá sido discípulo de Miguel L´École e terá sido tracista de arquitetura civil e de retabulística. Diz-nos também que Manuel Pinto de Vilalobos terá sido o primeiro mestre da Aula de Fortificação de Viana do Castelo, em 1701 e artista no campo da fortificação, engenharia hidráulica e do urbanismo. Vítor Serrão refere a importância do papel deste engenheiro, sendo personalidade influente, também na projeção de ideias e soluções militares-urbanísticas que frutificarão no Brasil através de arquitetos vianenses formados na sua escola e que emigrarão para o Rio de Janeiro. 1

SOROMENHO, Miguel Conceição Silva - Manuel Pinto de Vilalobos: [texto policopiado]: da engenharia militar à arquitectura. Lisboa: [s.n.] 1991. Referenciada na Biblioteca Nacional de Portugal. 2 História da Arte Portuguesa: do Barroco à contemporaneidade. PEREIRA, Paulo [coord.] Lisboa: Círculo de Leitores, 1995-1999. 3º Vol. ISBN: 972-759-010-1. Pág. 47. 3 História da Arte em Portugal – O Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. Pág. 141,142.

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No que respeita à sua obra, Vítor Serrão aponta o conhecimento que Vilalobos detinha da tratadística, dada à redação do Calendario Perpetuo (1724 BNL) e também pela tradução da enciclopédia de N. Bergeron e do Trattato del Moto de Torricelli (c. 1641). Edifícios como a casa solarenga dos Barros Lima, a Casa da Vedoria (Viana do Castelo), a dos Gomes de Abreu Távora, a dos Barbosa Maciel, a dos Barreto da Gama em Viana e o Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, são igualmente obras atribuídas ao engenheiro militar na mesma obra deste autor. Numa outra obra, Dicionário de Arte Barroca em Portugal4, deparamo-nos com a existência de três engenheiros militares de nome Manuel Pinto de Vilalobos, ao que são na obra designados por Manuel Pinto de Vilalobos I, II e III. A obra inicia designando os Vilalobos como sendo engenheiros arquitetos do século XVII e XVIII, cuja atividade se desenvolveu principalmente na província do Minho. No que respeita ao Manuel Pinto de Vilalobos I (-1704), diz-se ser natural do Porto e filho de Manuel Pinto Vilalobos surrador, que por sua vez é oriundo de Évora. Este terá sido provavelmente o engenheiro ajudante do Minho que em 1684 fez uma vistoria juntamente com dois mestres pedreiros à casa torre da câmara do porto. Não há qualquer referência a obra edificada, apenas que existem problemas de identificação justificados pela igualdade do nome. De Manuel Pinto Vilalobos II (-1734) a obra diz ser filho de Manuel Pinto de Vilalobos I, e natural de Viana do Castelo. Terá sido coronel de engenharia e mestre da Academia de Fortificações (Aula de Fortificação) criada por D. Pedro II, mencionado também um notável arquiteto. Ainda no seguimento da análise da obra Dicionário de Arte Barroca5, como engenheiro militar, Manuel Pinto de Vilalobos II trabalhou na fortificação de praças em Trás-os-Montes, Beira e Minho, principalmente em Monção e Caminha, dirigindo igualmente trabalhos hidráulicos no rio Douro e Mondego. Nos inícios do séc. XVIII estaria ligado às obras no aqueduto do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde. Foi autor do projeto de reedificação (c. 1716) da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, Monção e nas igrejas paroquiais de Mazedo e Pias e no Mosteiro de Cabanas em Afife. É-lhe atribuída a autoria de diversos projetos de casas como a dos Barros Lima, a Casa da Vedoria, a dos Gomes de Abreu, a dos Barretos da Gama e a dos Barbosa Maciel. Dada a sua enorme fama, o arcebispo de 4

PEREIRA, José Fernandes [dir.]; PEREIRA, Paulo [coord.] Dicionário de Arte Barroca em Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 1989. Pág. 530, 531. 5 Idem.

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Braga D. Rodrigo de Moura Teles tê-lo-á escolhido para as obras de transformação no Santuário do Bom Jesus do Monte da mesma cidade, sendo o engenheiro responsável pela traça da igreja do santuário construída nessa altura (c. 1722) mas que mais tarde uma outra de Carlos Amarante veio a substituir. Por fim, Manuel Pinto Vilalobos III é tido como filho de Manuel Pinto Vilalobos II. Terá sido sargento-mor de engenharia onde haverá colaborado com o pai na sua grande obra arquitetural. Em 1746 executa o desenho de umas grades «em forma de baranda» para serem colocadas no retábulo da Árvore de Jessé da igreja de S. Domingos de Viana do Castelo. Sousa Viterbo6 é outro dos autores consultados para a elaboração deste panorama geral sobre este tão misterioso engenheiro. Ao contrário das obras analisadas até agora, Sousa Viterbo baseia o seu discurso em documentos arquivísticos, sendo a única obra consultada com valor documental. Em termos biográficos, podemos constatar que Manuel Pinto de Vilalobos, a 26 de maio de 1627, era já ajudante de engenheiro recebendo a quantia mensal de 2$000 réis; a 11 de março de 1688 recebe a patente de capitão engenheiro da Província de Entre Douro e Minho com a condição de que serviria também de capitão de artilharia para ensinar aos aprendizes. Quanto à sua obra construída, Sousa Viterbo afirma atribuir-se «a um» Vilalobos a construção do castelo e do aqueduto de Vila do Conde. De uma forma geral, da documentação, Sousa Viterbo retira informações como a presença e reabilitação por parte do engenheiro a mosteiros de religiosas como o Mosteiro do Salvador de Braga e o Convento de S. Francisco de Monção, atualmente inexistente. Sabe-se igualmente que Manuel Pinto de Vilalobos terá executado risco do retábulo da Capela do Rosário da igreja do extinto convento de S. Domingos de Viana do Castelo. Esta documentação baseia-se em correspondência trocada essencialmente entre o engenheiro Manuel Pinto Vilalobos e o arcebispo de Braga, D. João de Sousa. Outro meio informativo que utilizamos foi a plataforma do SIPA (Sistema de Informação para o Património Arquitectónico). Verificamos que algumas das obras 6

VITERBO, Sousa - Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses. Lisboa: INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988. ISBN: 9789722700702. Pág. 281,282, 283 (vol. II) 405, 406, 407 (vol. III).

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edificadas, mencionadas pelos autores acima indicados, são nesta plataforma igualmente atribuídas ao engenheiro Manuel Pinto de Vilalobos, sendo que em alguns casos apenas se verifica a sua participação em partes de projectos, não estando o edifício atribuído na sua totalidade. Destas obras atribuídas a Vilalobos temos a Praça de Mouzinho de Albuquerque (Braga); o plano geral, com o alargamento e regularização das rampas, construção de oito novas capelas, de que apenas restam as duas primeiras, e o escadório dos 5 Sentidos do Santuário Bom Jesus do Monte (Braga); a Praça-forte de Valença; a Misericórdia de Viana do Castelo; Aqueduto de Vila do Conde; o Palácio da Vedoria (Edifício do Arquivo Distrital de Viana do Castelo); Casa de Nossa Senhora da Aurora, ou Casa do Arrabalde (Ponte de Lima) e, finalmente, o Forte de S. João Baptista (Vila do Conde).

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Desenhos de Plantas de Fortificações – Casos de estudo Após a observação das plantas que o arquiteto Manuel Pinto de Vilalobos elaborou, datadas de 1713, e das vistas satélite a partir do Google Maps, é possível tecer algumas considerações a cerca da sua preservação e evolução ao longo do tempo, nomeadamente pelas questões do urbanismo, e perceber a dimensão da fidelidade entre o desenho do arquiteto com o que existe atualmente, uma vez que estes desenhos eram estudos e representações de fortificações já construídas. O desenho da fortificação de Viana do Castelo, junto ao rio, apresenta na sua legenda uma série de elementos constituintes da mesma, como o castelo de Viana, como designa Vilalobos, na parte central da fortificação; porta principal e portas falsas; baluartes atribuídos a santos, como S. Rafael, S. Gabriel e S. Pedro; casas-mata com os seus corredores; um poço; quarteis e almargens. Confrontando este desenho com o seu contexto atual, percebemos que muitas são as permanências, nomeadamente pelo acesso principal que ainda se mantem, bem como o fosso aquático que circunda a fortificação, os quartéis, a igreja e as casas-mata presentes na planta. Este foi de facto um dos casos que melhor se preservaram até aos dias de hoje, provavelmente pela sua localização, talvez por não estar situada no centro da cidade, e por isso não ter sido necessária a sua alteração e adaptação às vivências da mesma. No caso de Vila Nova de Cerveira, esta apresenta-nos três fortificações distintas, mas próximas entre si. No seu plano, Vilalobos menciona as três fortificações: a de Vila Nova de Cerveira propriamente dita, o Forte de Azevedo, mais a norte da primeira e o Forte de Payao da parte da Galiza, segundo a sua designação. Percebemos pelo desenho a ausência de infraestruturas construídas, o que no caso da fortificação central de Vila Nova de Cerveira, atualmente, não se verifica. Devido ao seu crescimento urbano, pelo facto de estar situada no coração da cidade, junto ao rio, esta fortificação encontra-se hoje repleta de casario e infraestruturas necessárias às vivências da população. Resta, desta fortificação, apenas um baluarte e alguns resquícios de muralha. Quanto ao forte de Azevedo, mais a norte do primeiro já tratado, é notório o seu completo abandono, pela presença intensa de vegetação e pela ausência de infraestruturas de apoio. O forte de Payao, da outra margem do rio, na fronteira espanhola, apresenta-se tal como o forte de Azevedo, sem quaisquer estruturas

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edificadas, não obstante, exceto o forte central de Vila Nova de Cerveira, estes dois últimos apresentam-se em conformidade com a planta desenhada pelo arquiteto. No que respeita à fortificação da Ínsua, observamos na planta desenhada que esta possuía essencialmente o convento dos capuchos, almargens e alojamentos. Ao confrontarmos esta planimetria com a realidade atual, reparamos que houve fidelidade por parte de Vilalobos na representação da fortificação, uma vez que esta ainda se mostra intacta, sendo o convento dos capuchos ainda existente nos nossos dias. Quanto aos alojamentos, estes apresentam-se já bastante degradados, apresentando-se sem cobertura. Se por um lado a fortificação de Caminha é uma das mais bem elaboradas e mais complexas de todo o conjunto que analisamos, por outro, é igualmente uma das mais alteradas e urbanizadas. A presença desta fortificação é notória nos baluartes e na muralha que ainda persiste. Segundo

a legenda

presente no desenho,

esta fortificação continha

essencialmente o corpo da vila velha com as suas muralhas, revelim, trincheiras, igreja, Misericórdia, Convento das Freiras de Santa Clara e Convento dos Padres Capuchos, sendo que muitas destas infraestruturas estão hoje desaparecidas devido à ocupação demográfica e ao aumento urbanístico da cidade. É interessante verificar que a fortificação está recuada do Rio Minho, ao contrário da planta, e que este desenvolvimento urbano respeita as linhas gerais definidoras da primitiva fortificação, ocupando, tanto as vias de circulação como o casario, os locais de muralha. A fortificação de Chaves é muito peculiar pelo facto de ter continuidade nas duas margens do rio Tâmega. O desenho de Vilalobos mostra-nos, através da legenda, que esta continha a vila antiga, o castelo, ainda existente, com seu baluarte, uma contraguarda, um meio baluarte e o Convento de S. Francisco. Estas eram as infraestruturas de maior relevo pertencentes à fortificação. O que vemos hoje é a repleta ocupação do espaço interior desta fortificação, respeitando por completo a traça primitiva, ficando desta forma recortada no terreno. Ainda assim, é notória a semelhança e a correspondência entre o desenho e a realidade atual. No que respeita a Melgaço, Vilalobos mostra-nos na sua planta a existência e a localização da vila de Melgaço, o seu muro antigo, a porta principal, o castelo, a igreja matriz, a Misericórdia, a Ermida de Santo António e portas exteriores. Ao confrontarmos esta informação com a realidade atual, observamos que o único elemento

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visível, ainda permanente, é o castelo, sendo que os restantes elementos acabaram por desaparecer com a evolução urbana. A fortificação de Monção é bastante singular na sua forma, pela sua articulação com o rio. Está situada junto a ele e voltada com os seus baluartes para a fronteira terrestre. No desenho que Vilalobos nos apresenta, temos presente o corpo da praça de Monção, a igreja matriz, a Misericórdia nova, o convento de freiras de S. Francisco, a fonte de abastecimento de água da vila, e um aspeto muito interessante que é o facto de o rio atravessar toda a fortaleza transversalmente. O que verificamos atualmente não é, de todo, o que podemos contemplar na planta do arquiteto chegada até nós, uma vez que alguns destes elementos já desapareceram, como o caso do convento de freiras de S. Francisco. Observamos ainda a evolução urbana através de fatores como a comunicação viária, que rasga a fortaleza, bem como todo o casario e infraestruturas construídas, necessárias às vivências da população que aí reside. Através dos poucos baluartes que ainda restam hoje, podemos concluir a compatibilidade e proximidade da planta com a fortaleza efetivamente construída. Valença é um dos casos excecionalmente melhor preservado de todo o conjunto de fortificações analisadas. O desenho de Manuel Pinto de Vilalobos mostra-nos a complexidade da fortificação, obtida também pela sua grande dimensão, na medida em que nos apresenta o corpo da praça de Valença com o convento de Santo Estevão, a fonte da vila, almargens, revelins e baluartes. O que notamos através da visualização satélite do local é a permanência e a coerência existentes entre a presença atual e a planta. Apesar do interior da fortaleza ser alterado quase na sua totalidade, é notório o limite e a definição do mesmo pelo pano murário original da construção, ainda assim as intervenções a nível de interior mantiveram a unidade e a relação à fortificação, na medida em que não foram rasgadas faixas viárias que atravessassem e rasguem a mesma, nem construídos grandes edifícios contemporâneos que prejudicassem a leitura do espaço. Por fim, o caso de Lindoso aparece-nos como uma fortificação de dimensões relativamente pequenas, constituída essencialmente pelo castelo, torre de menagem almargens, uma capela, cisterna e barbacã exterior e parapeito da estrada. Esta fortificação localiza-se na fronteira entre Portugal e Espanha e é construída a uma cota elevada em relação às edificações envolventes. Confrontando o desenho do engenheiro com a existência atual, reparamos que as alterações não são significativas, ou seja, não

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obstante de todos os elementos referidos, existe apenas a torre e toda a sua aparência formal e estrutural mantem-se praticamente inalterável. Sabemos que os elementos constituintes da fortificação propriamente dita são, de entre muitos outros, os baluartes, barbacãs, esplanadas, fosso, circundando a fortificação, cisterna, o portão de armas, contraguardas, ponte, revelim, cavalo de frisa, gabião, paliçada, escarpa e cortina. Porém, nos nossos casos de estudo, o que podemos observar, para além da existência de alguns destes elementos, é também a presença de outras infraestruturas relacionadas com a questão do culto, essencialmente. Assim, nas plantas do arquiteto Vilalobos, vemos a presença de Igrejas, Misericórdias, Conventos, bem como castelos, corpo da praça, almargens e ermidas. Este fenómeno acontece uma vez que algumas destas fortificações foram construídas envolta de cidades ou vilas já construídas anteriormente.

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Tabela com informação biográfica e obras construídas

Bibliografia

Biografia

Obra

SERRÃO, Vítor: História da Arte em Portugal – O Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. Pág. 141, 142.

Discípulo de Miguel L’École. Manuel p. Vilalobos (?-1734), tracista de arquitetura civil e de retabulística. 1º Mestre da Aula de Fortificação de Viana do Castelo, em 1701, e foi artista no campo da fortificação, engenharia hidráulica e do urbanismo. Neste campo mostra-se sucessor das teses de Luís Serrão Pimentel. Importância do seu papel (M. Soromenho), sendo personalidade influente, também na projeção de ideias e soluções militaresurbanísticas que frutificarão no Brasil através de arquitetos vianenses formados na sua escola e que emigrarão para o Rio. António Matos Reis (1995) e Miguel Soromenho (1992) estudaram igualmente este arquiteto.

Vilalobos detinha uma sólida cultura tratadística: escreveu o Calendario Perpetuo (1724 BNL) e foi tradutor da enciclopédia de N. Bergeron e do Trattato del Moto de Torricelli. Casa solarenga dos Barros Lima, a Casa da Vedoria (1691), a dos Gomes de Abreu Távora (*) (16911705), a dos Barbosa Maciel (*) e a dos Barreto da Gama em Viana. (*) Atribuição do Santuário do Bom Jesus de Braga.

PEREIRA, José Fernandes [dir.]; PEREIRA, Paulo [coord.] Dicionário de Arte Barroca em Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 1989. Pág. 530, 531.

Vilalobos, Engenheiros. Engenheiros arquitetos do séc. XVII e XVIII, cuja atividade se desenvolveu principalmente na província do Minho.

Manuel Pinto Vilalobos I (?1704) Natural do Porto é referido no trabalho de Alberto Meira como filho de Manuel Pinto Vilalobos surrador (peles ou couros), por sua vez oriundo de Évora. Problemas de 11

As obras assinaladas com (*) não encontram correspondência no SIPA.


identificação de obras com as do seu filho. Provavelmente o engenheiro terá realizado, em 1684, uma vistoria juntamente com dois mestres pedreiros à casa torre da câmara do porto. Manuel Pinto Vilalobos II (?-1734) Filho de MPV I, natural de Viana do Castelo. Coronel de Engenharia e mestre da Academia de Fortificações (aula) criada por D. Pedro II. Foi também um notável arquiteto.

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Como engenheiro militar trabalhou na fortificação de praças em Trás-os-Montes, Beira e Minho, principalmente em Monção e Caminha (Figueiredo Guerra). Este autor diz ainda que dirigiu trabalhos hidráulicos no rio Douro e Mondego. Inícios do séc. XVIII ligado às obras no aqueduto do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde. Foi autor do projeto de reedificação (a partir de 1716) da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, Monção e nas igrejas paroquiais de Mazedo e Pias e no Mosteiro de Cabanas em Afife. É-lhe atribuída a autoria de diversos projetos para casas em Viana: a dos Barros Lima, a Casa da Vedoria (16919, a dos Gomes de Abreu, a dos Barretos da Gama e a dos Barbosa Maciel (1720). Pela sua fama, o arcebispo de Braga, D. Rodrigo de Moura Teles tê-lo-á escolhido para as obras de transformação no Santuário do Bom Jesus do Monte. O arquiteto seria o responsável pela traça da igreja do santuário construída nessa altura (c. 1722) mas que mais tarde uma outra de Carlos Amarante veio substituir.


VITERBO, Sousa Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses. Edição/reimpressão: 1988 Editor: INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda ISBN: 9789722700702. Pág. 281,282, 283 (vol. II) 405, 406, 407 (vol. III)

Manuel Pinto Vilalobos III Filho de Manuel Pinto Vilalobos II. Sargento-mor de engenharia deve ter colaborado com o pai na sua grande obra arquitetural.

Em 1746 executou o desenho de umas grades «em forma de baranda» para serem colocadas no retábulo da Árvore de Jessé da igreja de S. Domingos de Viana do Castelo.

26 Maio de 1687 é ajudante de engenheiro e foi-lhe dada a quantia mensal de 2$000 réis. 11 de Março de 1688 patente de capitão engenheiro da província de Entre – Douro e Minho com a clausula de que serviria também de capitão de artilharia para ensinar aos oficiais menores .

Atribui-se a um Vilalobos a construção do castelo e do aqueduto de Vila do Conde. Risco do retábulo da capela do Rosário da igreja do extinto convento de S. Domingos de Viana, executado em 1746 pelo escultor Domingos de Magalhães. Vistoria do mosteiro da N. Sra. dos Remédios de Braga e intervenções no Mosteiro do Salvador de Braga (varandas) e no Convento de S. Francisco de Monção (fundado no séc. XVI – 1563), atualmente inexistente. Ambos conventos de religiosas.

AZEVEDO, José de, Subsídios para a História do Aqueduto de Vila do Conde, Ed. Caixa de Crédito Agrícola Mútuo da Póvoa de Varzim e Vila do Conde, 1988. Pág. 41

Remodelação do Aqueduto de Vila do Conde por Manuel de Pinto Vilalobos

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Tabela das obras atribuídas e documentadas: arquitetura civil e religiosa

Obras atribuídas

Obras documentadas

Autor

Casa solarenga dos Barros Lima

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531;

Casa da Vedoria (Palácio da Vedoria, Arquivo Distrital de Viana do Castelo)

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531; SIPA

Casa dos Gomes de Abreu Távora

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531;

Casa dos Barbosa Maciel

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531;

Casa de Nossa Senhora da Aurora ou Casa do Arrabalde, Ponte de Lima

SIPA

Casa dos Barreto da Gama, Viana do Castelo

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531;

Fortificação de praças em Trásos-Montes, Beira e Minho, Monção e Caminha

Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531.

Obras no aqueduto do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde.

Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531; Sousa Viterbo, pp. 281. Vol. II; José de Azevedo, pp. 41; SIPA

Forte de S. João Batista, Vila do Conde

Sousa Viterbo, pp. 281. Vol. II; SIPA

Praça de Mouzinho Albuquerque, Braga

SIPA

de

Praça-forte de Valença

SIPA

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Forte Augusto Brasil)

(São

Paulo,

Obras atribuídas

SIPA

Obras documentadas

Autor

Santuário do Bom Jesus do Monte, Braga

Vítor Serrão; Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531; SIPA

Projeto de reedificação (a partir de 1716) da Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Viana do Castelo, Monção e igrejas paroquiais de Mazedo e Pias e no Mosteiro de Cabanas em Afife.

Dicionário de Arte Barroca Portuguesa pp. 530, 531; SIPA

Risco do retábulo da capela do Sousa Viterbo, pp. 283. Rosário da igreja do extinto Vol. II convento de S. Domingos de Viana Intervenções nas varandas do Sousa Viterbo, pp. 405. Mosteiro do Salvador de Braga Vol. III Intervenção nas grades do Sousa Viterbo, pp. 407. Convento de S. Francisco de Vol. III Monção

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Anexo visual

Fig. 1 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Viana do Castelo. BNP [Em linha].

Fig. 2 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Viana do Castelo. BNP [Em linha].

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Fig. 3 Vista satélite da fortificação de Viana do Castelo.

Fig. 4 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Vila Nova de Cerveira. BNP. [Em linha].

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Fig. 5 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Vila Nova de Cerveira. BNP. [Em linha].

Fig. 6 Vista satélite de uma das fortificações de Vila Nova de Cerveira, pertencente ao conjunto. Corpo central da praça.

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Fig. 7 Vista satélite de uma das fortificações de Vila Nova de Cerveira, pertencente ao conjunto.

Fig. 8 Vista satélite do forte de Payao, Vila Nova de Cerveira, pertencente ao conjunto, situada na fronteira espanhola.

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Fig. 9 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação da Ínsua. BNP. [Em linha].

Fig. 10 Vista satélite da fortificação da Ínsua.

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Fig. 11 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Caminha. BNP [Em linha].

Fig. 12 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Caminha. BNP [Em linha].

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Fig. 13 Vista satélite da fortificação de Caminha.

Fig. 14 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Melgaço. BNP [Em linha].

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Fig. 15 Vista satélite da fortificação de Melgaço.

Fig. 16 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Monção. BNP [Em linha].

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Fig. 17 Vista satélite da fortificação de Monção.

Fig. 18 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Valença. BNP [Em linha].

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Fig. 19 Vista satélite da fortificação de Valença.

Fig.

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VILALOBOS,

Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Chaves. BNP [Em linha].

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Fig. 21 Vista satélite da fortificação de Chaves.

Fig. 22 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Lindoso. BNP [Em linha].

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Fig. 23 VILALOBOS, Manuel Pinto de - Planta da fortificação de Lindoso. BNP [Em linha].

Fig. 24 Vista satélite da fortificação de Lindoso.

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Conclusão

Após a realização deste trabalho é possível concluir que há muito para conhecer e estudar sobre este arquiteto e engenheiro militar, na medida em que se pôde observar que muitas das obras edificadas são atribuídas a este sem, no entanto, existir qualquer base documental. Apesar dos obstáculos encontrados ao longo da realização deste trabalho, nomeadamente ao que respeita à quase ausência de informação na bibliografia, mesmo devido ao facto de alguma dela não estar acessível, como o caso do trabalho de Miguel Soromenho, sobre este mesmo arquiteto em estudo, foi sem dúvida um trabalho muito interessante e entusiasmante, na medida em que nos foi possível conhecer e perceber algumas das fortificações ainda existentes a norte do País, bem como compreender a existência de alguns elementos característicos das fortificações ou, pelo contrário, outros que existiram simplesmente por pertencerem já ao local, na altura em que este fortificado. Estas fortificações são, podemos dizer, resultado e símbolo de uma época e como tal, foram mantidas e preservadas na sua grande maioria, no que respeita aos casos de estudo analisados. Nos casos onde a fortificação propriamente dita já não existe, notamos ainda o respeito pelo desenvolvimento urbano através das linhas dos baluartes e barbacãs das mesmas, desenhando-se de forma perpétua no terreno a fortificação que outrora existira naquele local. A construção e existência das fortificações justifica-se pela necessidade de proteger uma área ou local específico, face ao progressivo desenvolvimento da artilharia, em locais estratégicos de grande importância, para que não só estes locais fossem protegidos, mas também para que deles fosse possível defender outros mais. 28


Bibliografia

História da Arte em Portugal – O Barroco. Lisboa: Editorial Presença, 2003. Pág. 141,142. História da Arte Portuguesa: do Barroco à contemporaneidade. PEREIRA, Paulo [coord.] Lisboa: Círculo de Leitores, 1995-1999. 3º Vol. ISBN: 972-759-010-1. Pág. 47.

PEREIRA, José Fernandes [dir.]; PEREIRA, Paulo [coord.] Dicionário de Arte Barroca em Portugal. Lisboa: Editorial Presença, 1989. Pág. 530, 531.

VITERBO, Sousa - Dicionário Histórico e Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses. Lisboa: INCM – Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1988. ISBN: 9789722700702. Pág. 281,282, 283 (vol. II) 405, 406, 407 (vol. III).

Recursos disponíveis online:

Biblioteca Nacional de Portugal http://purl.pt/index/geral/aut/PT/633692.html (Obras digitalizadas de Manuel Pinto de Vilalobos). Google Maps https://www.google.pt/maps

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