Fisioterapia e sexualidade Elaine Spinassé Camillato CMGO 2015

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FISIOTERAPIA E SEXUALIDADE Elaine Spinassé Camillato Especialista em Fisioterapia Pélvica Mestre em Ciências da Saúde Belo Horizonte, 13 de maio de 2015


Sexualidade e Fisioterapia 

A capacidade de expressar a sua sexualidade e se envolver em atividade sexual requer coordenação multissistêmica envolvendo funções psicológicas, a integridade dos sistemas nervoso, hormonal, vascular, imunológico, e estruturas e funções musculares do corpo Bortolami A et al. 2015


Sexualidade 

O desempenho sexual não se refere apenas à técnica de estimulação entre parceiros, mas também da habilidade física da ação muscular individual do assoalho pélvico (AP)

Etienne e Waitman, 2006


Fisioterapia pélvica ou Uroginecológica Funcional 

Envolve a prevenção e tratamento dos distúrbios cinéticofuncionais intercorrentes na pelve


Fisioterapia pélvica e Sexualidade 

AP sadio, contraído de forma consciente e voluntária ajuda a aumentar às sensações vaginais e promover maior satisfação sexual Etienne e Waitman, 2006; Gotardo, 2007, Piassolli et al. 2010

O desequilíbrio das estruturas pélvicos levam aos prolapsos genitais, as disfunções anorretais, urinárias, algias pélvicas e disfunção sexual Weber AM et al. 1995


Disfunção sexual Feminina (DSF) 

A DSF é um problema multifatorial, que pode acometer de 20% a 76% das mulheres Laumann EO et al.1999 Avis NE et al. 2000

51,9% das brasileiras estão insatisfeitas com sua vida sexual Abdo CHN. 2004


Etiologia das DSF Neurogênico  Psicossocial  Uso de medicações  Vasculares  Hormonal/ Endócrina  Condições uroginecológicas  Condições cirúrgicas  Musculares 

Fisioterapia Pélvica


Etiologia Muscular - Hipotonia 

Tendo em mente que o conjunto de músculos pélvicos tem as funções de suporte, qualquer alteração de atividade funcional que se expresse por deficiência ou fraqueza poderá resultar em incontinência – fecal ou urinária – e em prolapso de órgãos pélvicos Kaplan SA, et al. 1997

Messelink EJ.1999


Etiologia Muscular - Hipotonia 

Além de incapacidade orgástica, alteração da sensibilidade da vagina e dificuldade orgástica por lesão nas fibras do músculo pubococcígeo (principalmente quando ocorre durante o parto) Graziottin e Girald, 2006 Da Ros et al, 2009 Piassarolli et al. 2010


Hipotonia - Fisioterapia Frequentemente a mulher não percebe sua falta de tônus e inabilidade muscular  Essas condições podem gerar desconforto que se traduz em dores e/ou inibição do desejo sexual, dificuldade de excitação e disfunção orgástica 

Kegel A. 1948


Etiologia Muscular - Hipertonia 

Por outro lado, se a perturbação funcional for manifestada por hiperatividade muscular, o resultado poderá ser a resistência de fluxo pelo diafragma pélvico – tanto urinário como fecal – o que se traduz em dificuldade na micção, constipação e dispareunia Kaplan SA et al. 1997 Messelink EJ.1999


Hipertonia - Fisioterapia O aumento do tônus provoca uma diminuição do fluxo sanguíneo e da oxigenação para os MAP que leva ao acúmulo de ácido láctico  Sintomas: dor vulvar generalizada ou queimação, dispareunia, sintomas urinários (frequência, hesitação, esvaziamento incompleto), constipação, hemorróidas e fissuras retais 

AUA, 2014


Hipertonia - Fisioterapia 

O exame físico revela eritema onde os músculos inserem no vestíbulo, vários pontos de gatilho, fraqueza muscular e uma incapacidade de manter uma contração sustentada

AUA, 2014


Hipertonia - Fisioterapia O espasmo da musculatura do AP é considerado um dos fatores etiológicos mais comuns da dor pélvica crônica  As causas são múltiplas e a dor é apenas um dos sintomas, mas é o que desencadeia os distúrbios emocionais que por sua vez agrava e perpetua a hiperatividade muscular 

Fall M et al. 2004


Dor Pélvica Crônica (DPC) 

A DPC afeta 14 a 24% mulheres na idade reprodutiva, com impacto direto na vida conjugal, social e profissional Grace V, Zondervan K. 2006

Muitos pacientes com DPC sofrem Disfunção do Assoalho Pélvico (DAP)  A Disfunção Sexual é comum  Mialgia dos levantadores do ânus pode ser uma fonte de DPC 

AUA,2014


Levator myalgia: why bother? Adams K et al. Int Urogynecol J. 2013

Avaliaram a prevalência de dor nos músculos levantadores do ânus (MLA) em uma população referência em uroginecologia  A prevalência de dor MLA foi de 33% em 6564 mulheres (idade 56,8 – 65,5) 


Levator myalgia: why bother? Adams K et al. Int Urogynecol J. 2013

Mais propensas a relatar um diagnóstico de fibromialgia, depressão, história de abuso sexual e uso analgésicos  A dor MLA é prevalente, e está associada com aproximadamente 50% dos sintomas urinários, de defecação e prolapso 


DPC x Cistite Intersticial (CI) Muitas têm sido diagnosticadas como CI  Apenas em 5 a 10% dos casos de CI são ulcerativas  A CI não ulcerativa é a queixa de dor suprapúbica relacionada à bexiga acompanhada de sintomas, como aumento da frequência diurna e noturna, na ausência de infecção urinária comprovada ou outra patologia óbvia 

AUA, 2014


CI x Assoalho Pélvico 

Aproximadamente 70 a 90% das pacientes com CI têm DAP Peters et al. 2007

A bexiga pode ser inocente  O AP é crucial na micção normal, no funcionamento do intestino e na FS  DAP pode ser a causa de vários sintomas da CI 

AUA, 2014


Randomized Multicenter Feasibility Trial of Myofascial Physical Therapy for the Treatment of urological Chronic Pelvic Pain Syndromes FitGerald MP et al. J Urol. 2013

Comparar Fisioterapia Miofacial e Massagem global em pacientes com prostatite crônica / síndrome de dor pélvica crônica ou cistite intersticial 10 sessões, 1x por semana de 1 hora cada


Randomized Multicenter Feasibility Trial of Myofascial Physical Therapy for the Treatment of urological Chronic Pelvic Pain Syndromes FitGerald MP et al. J Urol. 2013

49% homens e 51% mulheres  51% massagem e 49% fisioterapia  94% completaram o estudo  57% do grupo da fisioterapia miofacial melhoraram enquanto que no grupo da massagem somente 21% (78%) 


Relationship between female pelvic floor dysfunction and sexual dysfunction: An observation study Bortolami A et al. The Journal of Sexual of Medicine, 2015

Investigaram as associações entre o AP e a FS em mulheres que iniciam fisioterapia para o tratamento de disfunções relacionadas ao AP (incontinência urinária, prolapso pélvico, vulvodínea , vaginismo e constipação)


A Relationship between female pelvic floor dysfunction and sexual dysfunction: An observation study Bortolami A et al. Journal Sexual of Medicine, 2015

As mulheres (n=85) tinham em média 38 anos, 33% eram multíparas e 82% tinham hipertonia do AP  Nas mulheres com disfunção do AP, a disfunção sexual parece estar significativamente relacionado a hipertonia do AP 


Função Sexual X IU Mulheres com IU sofrem muitas vezes perdas urinárias durante a relação sexual, odor de urina, cistite recorrente, atrofia muscular e dispareunia  Estão associados com: *↓ da frequência de coito * ↑ queixas sexuais em quase 50 % das mulheres com IU 

Sutherst J, Brown M. 1980; Sen I et al. 2006


IU x Disfunções sexuais 

A IU provoca: * perda de libido * alterações na excitação, orgasmo e lubrificação * ↓ da satisfação Aslan G et al 2005; Sen I et al 2006

* dispareunia Salonia A et al 2004; Paick JS et al 2007


Tipos de IU X Função Sexual 

Os efeitos da IU na função sexual são semelhantes, independentemente se a incontinência é classificada como de esforço, de urgência ou mista

Aslan G et al. 2005; Urwitz-Lane R, Ozel B. 2006


Sexo x IU x parceiro 

A IU também causa dificuldades sexuais em seus parceiros Abrams P et al. 2000

Os homens cujo a parceira é incontinente estão menos satisfeitos com a sua relação sexual quando comparados com parceiros de mulheres continentes Bekker et al. 2010


Tratamento 

As intervenções que tratam com sucesso a IU geralmente podem melhorar a função sexual

Rebecca G. Rogers, MD 2013


Treinamento Assoalho Pélvico (TMAP) 

Vários autores observaram uma melhora significativa das queixas sexuais após o TMAP em mulheres com IU

Bo K et al 2000; Beiji et al 2003; Zahariou et al 2008


Força de AP x Função Sexual 

A força dos músculos do AP se relaciona com o funcionamento sexual Tennfjord et al. 2015

As mulheres com AP forte apresentaram maior pontuação nos domínios do orgasmo e excitação do que mulheres com AP fraco Lowernstein et al. 2010


TMAP X Função Sexual Uma justificativa para esses resultados é que o TMAP melhora o fluxo sanguíneo pélvico, a mobilidade pélvica e a sensibilidade clitoriana  O que potencializa não só a excitação, mas também a lubrificação vaginal e o orgasmo 

Ma Y., Qin H. 2009; Rosenbaum TY.2007; Graber B. et al. 1979


Sexual Function and Quality of Life in women with urinary incontinence treated by a complete pelvic floor rehabilitation program (Biofeedback, funcional electrical stimulation, pelvic floor muscles exercices and vaginal cones) Rivalta Massimo et al. Journal Sexual of Medicine. 2010

Determinar o impacto de um programa de reabilitação do assoalho pélvico (RAP) na FS e QV de mulheres com IU


Sexual Function and Quality of Life in women with urinary incontinence treated by a complete pelvic floor rehabilitation program (Biofeedback, funcional electrical stimulation, pelvic floor muscles exercices and vaginal cones) Rivalta Massimo et al. Journal Sexual of Medicine. 2010

Após RAP nenhuma das pacientes relataram perda de urina durante a atividade sexual  Houve melhora estatisticamente significativa da FS e da QV 5 meses após a conclusão da RAP 


Assessment of sexual function in women with pelvic floor dysfunction Dorothy Kammerer-Doak D, International Urogynecology Journal. 2009

A utilização de questionários validados mostra que as DAP estão associadas com um impacto negativo sobre as funções sexuais  A correção cirúrgica do POP e / ou IU melhora a função sexual em aproximadamente 70% dos pacientes, embora alguns estudos não mostram nenhuma mudança 


Prolapsos de órgãos pélvicos (POP) A integridade do AP diminui as chances de desenvolvimento do POP que, uma vez instalado, pode levar a sintomas como sensação de peso na vagina, dor abdominal, inguinal e lombar  Esses sintomas tendem pioram quanto mais avançado for o estagio do POP 

Ghetti C. et al 2005


TMAP X POP 

O TMAP pré operatório ajuda a melhorar a qualidade de vida e sintomas urinários em mulheres que serão submetidas a cirurgia para POP e também melhoram a qualidade de vida após a cirurgia de POP Lakeman et al. 2012


TMAP X Função Sexual 

O TMAP pode melhorar o transtorno orgástico, pois promove o aumento da força dos músculos que inserem no corpo cavernoso do clitóris Chambless D.L. et al 1984

Que resulta em uma melhor resposta do reflexo sensório-motor (contração involuntária dos MAP durante o orgasmo) Shafik A. 2000


TMAP X Função Sexual 

Tanto TMAP quanto conscientização dos MAP tem sido apontados como técnicas auxiliares no tratamento das disfunções sexuais femininas por alterarem de maneira positiva a vida sexual Rosenbaum T. Y. 2007; Beji N.K. Et al 2003; Napi R.E. et al 2003; Bo K., Finckenhagen HB 2001; Bo K. et al 2000; Kaplan H. S. 1974; Kegel A. 1952


TMAP X Função Sexual 

O tratamento com esse foco frequentemente promoveria o aumento do desejo sexual com maior possibilidade de melhorar a excitação

Etienne M.A. Waitman MC. 2006 Kaplan HS. 1974


Treinamento Assoalho Pélvico • O efeito é maior em mulheres que participam de um programa supervisionado • Deve ser incluído como tratamento conservador de primeira linha nos programas para as mulheres com IU e POP I e II Dumoulin et al. 2010; Price et al. 2010


Tratamento mais promissor da dor nos MAP ou tônus alterado Técnicas de terapia manual para redução de tensões musculares  TMAP para reforçar contração, relaxamento e coordenação normal  Uso suplementar de biofeedback  Possibilidade de estimulação elétrica para dor 

Bo K; Berghmans B et al. 2007


Tratamento mais promissor da dor nos MAP ou tĂ´nus alterado ď‚—

Orientar o paciente sobre o reconhecimento de fatores agravantes e incentivo para aderir e aprimorar os programas de exercĂ­cios

Bo K; Berghmans B et al 2007


Considerações finais 

A FS deve ser rotineiramente avaliada, de preferência através de questionário adaptado e validado para diminuir o constrangimento e facilitar à avaliação de todos os domínios da FS

Uma vez diagnosticado a disfunção sexual a mulher deve ser orientada a procurar tratamento especializado


Considerações finais 

Mulheres com disfunções sexuais devem ser submetidas a uma avaliação muscular funcional, pois a fisioterapia é uma opção de tratamento eficaz quando necessária


OBRIGADA ! elainefisio1@hotmail.com http://fisioterapiapelvica.blogspot.com.br/


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