Boletim do CBC número 179

Page 1

Veículo de Comunicação do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Out. / Nov. / Dez. de 2018 • Nº 179

O maior congresso da cirurgia nacional acontece em maio Brasília sediará o XXXIII Congresso Brasileiro de Cirurgia, de 1 a 4 de maio de 2019, no Centro Internacional de Convenções do Brasil, marcando a comemoração dos 90 anos do CBC, com diversos temas sobre os avanços em várias especialidades cirúrgicas, além de convidados internacionais. Páginas 10 e 11.

www.congressocbc.com.br

Segurança em Cirurgia

Comissão de Mulheres Cirurgiãs

O conceito de Cirurgia Segura envolve medidas adotadas para redução do risco de eventos adversos que podem acontecer antes, durante e depois das operações. Páginas 8 e 9.

No dia 23 de novembro de 2018, o Diretório Nacional, presidido pelo ECBC Savino Gasparini Neto, homologou a Comissão de Mulheres Cirurgiãs. Páginas 6 e 7.


2

NOTAS do Diretório Nacional

Boletim CBC • Nº 179

Diretório Nacional Biênio 2018/2019

CHAPA INOVAÇÃO E CONTINUIDADE

PRESIDENTE NACIONAL ECBC SAVINO GASPARINI - RJ 1º VICE-PRESIDENTE NACIONAL TCBC AUGUSTO CESAR BAPTISTA DE MESQUITA - RJ 2º VICE-PRESIDENTE NACIONAL TCBC EDIVALDO MASSAZO UTIYAMA - SP

O Diretório Nacional do CBC reedita a campanha para a compra simbólica das cadeiras do Auditório A do Centro de Convenções do CBC. Esse é um modelo único com a perpetuação por meio da fixação de uma placa no espaldar da cadeira.

VICE-PRESIDENTE DO N.CENTRAL TCBC JOSÉ MARCUS RASO EULÁLIO - RJ 2º VICE-PRESIDENTE DO N.CENTRAL TCBC LUIZ GUSTAVO DE OLIVEIRA E SILVA - RJ VICE-PRESIDENTE DO SETOR I TCBC GERALDO ISHAK - PA VICE-PRESIDENTE DO SETOR II TCBC FLORENTINO DE ARAÚJO CARDOSO FILHO - CE VICE-PRESIDENTE DO SETOR III TCBC JORGE PINHO FILHO - PE VICE-PRESIDENTE DO SETOR IV TCBC IZIO KOWES - BA VICE-PRESIDENTE DO SETOR V TCBC BRUNO MOREIRA OTTANI -DF VICE-PRESIDENTE DO SETOR VI TCBC FLAVIO DANIEL SAAVEDRA TOMASICH - PR SECRETÁRIO-GERAL TCBC ELIZABETH GOMES DOS SANTOS - RJ 1º SECRETÁRIO TCBC RAFAEL RODRIGUEZ FERREIRA -RJ 2º SECRETÁRIO TCBC FABIO STIVEN LEONETTI - RJ TESOUREIRO-GERAL TCBC PEDRO EDER PORTARI FILHO - RJ TESOUREIRO-ADJUNTO TCBC HELIO MACHADO VIEIRA JR. - RJ DIRETOR DE PUBLICAÇÕES TCBC GUILHERME PINTO BRAVO NETO - RJ DIRETOR DE COMUNICAÇÃO E DE TEC. INF. TCBC ALFREDO GUARISCH - RJ DIRETOR DE DEFESA PROFISSIONAL TCBC LUIZ CARLOS VON BAHTEN - PR PRESIDENTE DO EXERCICIO ANTERIOR TCBC PAULO ROBERTO CORSI - SP

A venda é simbólica, e consiste somente na fixação da placa com o nome do homenageado, não se caracterizando em venda de cadeira cativa. Participe dessa promoção especial. Reserve a sua placa através do e-mail: convencoes@cbc.org.br

Expediente Boletim Informativo do Colégio Brasileiro de Cirurgiões Rua Visconde Silva, 52 - 3º andar - Botafogo Rio de Janeiro/RJ - CEP: 22271-092 Tel.: (21) 2138-0650 www.cbc.org.br Tiragem: 5.000 Editor Colaborador: TCBC Elizabeth Santos Editor e jornalista responsável : João Maurício Rodrigues ( Reg. MtB 18.552) E-mail: comunicacao@cbc.org.br Revisão: Lenita Penido Produção Editorial e Projeto Gráfico Libertta Comunicação - E-mail: libertta@libertta.com.br

A impressão deste Boletim é feita pela Editora Atheneu sem custo para o CBC, fruto dos longos anos de parceria e relacionamento entre as instituições.


Out. / Nov. / Dez. 2018

Notícias do CBC

3

Presidente do CBC participa de reunião com o novo Ministro da Saúde

O presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, Savino Gasparini, participou da reunião da Associação Médica Brasileira (AMB) e sociedades médicas de especialidades com o futuro ministro da Saúde, Henrique Mandetta, no dia 19 de dezembro, em Brasília,no auditório do Conselho Federal de Medicina (CFM). "O futuro ministro foi didático, escutou a todos e apresentou suas

ideias de maneira extremamente democrática e participativa, contando com a ação proativa das sociedades de especialidades. O CBC terá uma participação importante nesta reconstrução da Saúde e do Sistema Único de Saúde-SUS", destacou o presidente do CBC, acrescentando que levará as propostas e intenções acordadas na próxima do reunião do Diretório Nacional, em fevereiro de 2019.

Discurso do novo Ministro da Saúde em sua posse

O novo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta defendeu durante o discurso na cerimônia de transmissão de cargo, no dia 2 de janeiro, a criação de um terceiro turno no atendimento das unidades de saúde e a criação de uma carreira de estado para os profissionais de saúde. Na opinião do diretor de Comunicação e TI do CBC, Alfredo Guarischi, pelo seu histórico como médico, gestor e deputado federal, o novo ministro está preparado para a missão e comprometido com a saúde. “Nos últimos 50 anos tivemos 30 ministros da Saúde, que em média ficaram 20 meses no cargo. O aparelhamento político,

impostos extorsivos e renúncias fiscais, geraram prejuízos aos pacientes, profissionais da saúde e empresários. O modelo brasileiro de atendimento não é equitário e portando injusto. A proliferação de faculdades de medicina de má qualidade apenas enriquece seus proprietários. A ausência de compromissos de longo prazo, nomeações políticas até para chefias técnicas, além da falta de um plano de carreira desestruturam o sistema de saúde. O sistema público é o principal responsável pela vacinação, por emergências e transplantes de órgãos”. Nascido em Campo Grande – MT, o novo ministro cursou medicina na Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro, formando-se em 1989. Fez residência em ortopedia na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e uma especialização na mesma área em Atlanta (EUA). Em seu estado, foi dirigente de plano de saúde e secretário municipal da capital. Filiado ao DEM, elegeu-se deputado federal pela primeira vez em 2010 e foi reeleito quatro anos depois.


4

Notícias dos Capítulos

Boletim CBC • Nº 179

SÃO PAULO

Curso Continuado de Cirurgia Geral Programação para 2019 Em 2018, os alunos que foram assíduos participaram de sorteios com inscrições para o Congresso Brasileiro de Cirurgia, que será realizado em Brasília, de 1° a 4 de maio. O Curso Continuado de Cirurgia Geral abordou no último módulo do ano, em 10/11, a temática Urgências Traumáticas, que focou no atendimento ao politraumatizado, ferimentos penetrantes toracoabdominais, videocirurgia do trauma, entre outros assuntos.

O Capítulo de São Paulo já está com pré-inscrições abertas para o Curso Continuado de Cirurgia Geral e datas preliminares definidas. Não deixe de conferir todas as informações no site do Capítulo, no seguinte link: https://cbcsp.org.br/curso-continuado/cursocontinuado-de-cirurgia-geral-2019/.

Os demais módulos abordarão urgências não traumáticas, coloproctologia, vias biliares e pâncreas, urologia, tórax e cirurgia de cabeça e pescoço, entre outros. O Curso Continuado de Cirurgia Geral é ministrado aos sábados, um por mês, na sede da Associação Paulista de Medicina, na rua Av. Brigadeiro Luiz Antônio, 278, na Bela Vista, em São Paulo. O evento é voltado para acadêmicos e médicos.

PARANÁ

Programação cientifica preliminar para 2019. MARÇO

Segunda edição do Curso Continuado de Cirurgia: “Escolas Médicas do Paraná”. Curso criado e coordenado pelo CBC e realizado em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Paraná e todas as escolas médicas do estado. O encontro possibilita o intercâmbio de conhecimentos cirúrgicos entre as escolas, integrando os cirurgiões do estado. A programação começa no mês de março, com uma reunião a cada quinze dias. Cada reunião será apresentada por uma escola cirúrgica, sob a coordenação de um membro Titular do Capítulo do CBC do Paraná.

ABRIL

Nos dias 26 e 27 começa a segunda Edição da MARON (Maratona Robótica em Oncologia), que será realizada em parceria com o hospital de câncer de Curitiba, Hospital Erasto Gaertner. A exemplo da primeira edição, acontecerá também a realização de atividades práticas sob a supervisão de convidados internacionais.

SETEMBRO

Na segunda quinzena de setembro, nas dependências da Associação Médica do Paraná, em Curitiba, o capítulo do CBC-PR realizará o Congresso Paranaense de Cirurgia.

VISITE O SITE DO CBC

Notícias, agenda de eventos e uma série de informações para o cirurgião brasileiro. Área exclusiva para membros do CBC.

www.cbc.org.br


Artigo

Out. / Nov. / Dez. 2018

5

CBC promove pesquisa de satisfação anual depois do relacionamento com a Entidade. Criticam a Entidade em público e jamais voltariam a se relacionar com ela, exceto em situações extremas. As notas 7 e 8 caracterizam os membros neutros, aqueles que têm o relacionamento realmente necessários. Não são leais e não são entusiastas da Entidade. As notas 9 e 10 indicam os membros promotores, aqueles que passaram a ter uma vida melhor depois do início do relacionamento com a Entidade, são leais, oferecem feedbacks e são entusiasmados. O resultado do NPS é calculado pela subtração dos membros detratores dos membros promotores. Nesse ano, o NPS foi 54, indicando que, excluídos os membros neutros e detratores, 54% dos membros está satisfeito com a atuação da Entidade e é fiel a ela. As organizações que estão nessa faixa de resultado, chamada Zona de Qualidade, demonstram ter uma preocupação em oferecer uma experiência positiva para os seus clientes, fazendo com que o número de promotores seja bem superior ao de detratores.

Em agosto, o CBC concluiu a pesquisa anual de avaliação da imagem da Entidade junto aos seus membros, buscando a fidelização deles. Com base na metodologia Net Promoter Score , desenvolvida pela Harvard University e consagrada por ser utilizada em empresas como Apple e Amazon, a survey foi enviada para todos os membros, resultando numa amostra probabilística com 719 respostas, garantindo assim um grau de confiabilidade estatística de 95%. A “pergunta definitiva” para avaliação da imagem questiona: “Em uma escala de 0 a 10, o quanto você indicaria o CBC para seus amigos e colegas?”. O resultado da avaliação da escala Likert considera que notas 0 a 6 são típicas de membros detratores, aqueles que indicam que suas vidas pioraram

Outra questão analisada na pesquisa foi: “Como você avalia o CBC como Entidade que congrega e representa os cirurgiões brasileiros na promoção da excelência na educação e na prática médica?”. Dentre os comentários recebidos, 20% estão plenamente satisfeitos, 15% solicitam maior atuação fora do eixo RJ/SP (nos demais Capítulos estaduais), 14% solicitam eventos de capacitação por EAD, 12% sentem um certo enfraquecimento da Entidade perante às demais entidades das subespecialidades, 10% pedem melhoria da comunicação, 9% reivindicam mais luta por honorários médicos, 6% solicitam fortalecimento profissional para os jovens cirurgiões, e 6% solicitam fortalecimento da cirurgia geral. Ainda, a pergunta “Como você avalia os serviços prestados e os benefícios oferecidos pelo CBC aos seus membros?”, mostrou que 24% estão satisfeitos com os benefícios, 15% desconhecem os serviços ofertados pelo CBC, 13% assinalam deficiência de eventos de capacitação por EAD, 12% relatam deficiência de eventos fora do eixo RJ/SP (mais atuação dos Capítulos estaduais), 5% reclamam de valores elevados (anuidades, congressos e revista), e 4% relatam deficiência na defesa pelos honorários médicos. Jerônimo Lima – Estratégico do CBC.

Consultor

do

Planejamento


6

Artigo

Boletim CBC • Nº 179

Comissão de Mulheres Cirurgiãs Com o aumento do poder da igreja e a imposição de requisitos impossíveis de serem alcançados por mulheres para a prática da medicina, elas perderam progressivamente o acesso à formação acadêmica. Guy de Chauliac, o mais respeitado médico da idade média, no final dos anos 1300 era contra a presença de mulheres mesmo que como práticas ou ajudantes afirmando que “as mulheres são idiotas que misturam ervas com bobagens”.

As mulheres têm se envolvido com a cirurgia desde sempre. Se olharmos para trás na história, podemos ver que eram elas “as curadoras”, “as doutoras”. Desde a Mesopotâmia, achados arqueológicos de instrumentos cirúrgicos na tumba de Shubad ou Puabi, da cidade de Ur, trouxeram evidências de que as mulheres já estavam envolvidas com a cirurgia. Nos papiros egípcios há relatos de que Sekhmet, mulher de Ptach foi, talvez, a primeira ortopedista de que se tem conhecimento. Da Grécia antiga chegaram vários relatos de mulheres que ocupavam o posto de parteiras e eram conhecedoras de plantas e seus efeitos medicinais. Em Roma esse conhecimento lhes valeu a perigosa alcunha de “envenenadoras”. Plínio, o velho, em seus escritos fez referências às mulheres que praticavam medicina no século I a.e.c. e Galeno no século II menciona em especial Metrodora, autora do primeiro tratado de ginecologia escrito por uma mulher. Nas palavras de Gillian Clark, referindo-se às mulheres dos primeiros séculos d.e.c.: A medicina era parte das vidas das mulheres comuns... supervisionavam dietas e remédios em geral... A partir do século XIII as mulheres passaram a ter dificuldades de exercer o que na época era a medicina. Com a criação da Escola de Medicina da Universidade de Paris, em 1220, veio junto a exigência de que para ser médico o indivíduo deveria ser solteiro, e em 1311 uma lei obrigava a uma prova com um cirurgião já experiente para o exercício do ofício. Em 1322, três mulheres foram julgadas e condenadas por exercício ilegal, já que não tinham o certificado.

A idade média se revelou uma catástrofe para o desenvolvimento da medicina em geral e, especificamente, para as mulheres que queriam ter algum conhecimento médico/cirúrgico. No século XIV Henrique VIII disse: “Nenhum carpinteiro, ferreiro, tecelão ou mulher pode praticar medicina”. A maior parte das mulheres conhecedoras das ervas, rituais de cura e remédios foram consideradas maléficas, pelos próprios senhores que procuravam seu auxílio, e condenadas a morrer na fogueira como bruxas. Nessa época, Trótula de Ruggiero, a Doutora de Salerno, foi a mais proeminente aluna da importante Escola Médica de Salerno até que foi fechada por Napoleão em 1811. Deixou escrito um compêndio sobre enfermidades ginecológicas e seus tratamentos. Segundo Jeanne Achterber, muitas coisas aconteceram no final do século XIII que ditaram o futuro das mulheres como médicas. Baseados principalmente em duas doutrinas – o pecado original; e a inferioridade feminina (a mulher era apenas o objeto necessário para a preservação da espécie), teve início uma caça implacável às “bruxas” dizimando nas fogueiras mulheres, em uma proporção de dez para 1 homem, que durou 700 anos. Na Inglaterra, o acesso às Universidade de Cambridge e Oxford era totalmente proibido às mulheres e em 1421 uma lei passou a proibir absolutamente o exercício da medicina a quem não houvesse estudado nestas universidades. Depois de 1551, muito lentamente a situação das mulheres foi mudando, mas ainda seriam precisos


Artigo

Out. / Nov. / Dez. 2018

mais trezentos anos para que fossem reconhecidas como médicas e cirurgiãs. Até o início do século XIX, quando o exercício da Medicina ainda não dependia de licenças dadas por cursos oficiais, que não aceitavam mulheres, há várias referências a mulheres cirurgiãs. A atração pela cirurgia, portanto, sempre existiu. O caso mais notório é o de Miranda Stewart (1795 -1865) que, sob o nome de James Barry, formou-se pela Edinburgh Medical School, e foi o principal oficial médico e cirurgião da Armada Britânica, onde serviu durante 40 anos, mostrando “grande habilidade cirúrgica, maneiras agressivas e pontaria perfeita”. Só se descobriu que era uma mulher após a sua morte. O ingresso nas universidades foi autorizado para o sexo feminino, nas décadas de 1850, nos Estados Unidos, e 1870, na Inglaterra, na França e no Brasil, mas isso não tornou nada mais fácil. As mulheres mesmo quando mais capazes tinham inúmeros obstáculos a vencer. Chantagens, assédios, difamação e ridicularizações fizeram parte da evolução das mulheres na Medicina, particularmente na Cirurgia, de forma mais intensa no passado. Em 1905, Guilherme II, da Alemanha, dizia ironicamente que: “a mulher deve ocupar-se exclusivamente dos três Ks: Küche, Kirche e Kinder (cozinha, igreja e filhos).” No Brasil, a partir de 1879, com a reforma Leôncio de Carvalho, foi autorizada a matrícula de mulheres nas escolas superiores. A autorização legal, entretanto, em nada mudou a situação, em vista dos arraigados preconceitos sociais. O caminho foi lento e tortuoso, com total falta de apoio, muitas vezes, inclusive, da família. Embora atualmente os preconceitos tenham mudado sua apresentação, visto que, qualquer atitude hoje em dia pode ser classificada como assédio moral, com todas as suas implicações; eles ainda existem. É menos frequente, mas ainda se percebe, mesmo veladamente, que a opinião de Championnaire subsiste em muitos: “As mulheres não podem, seriamente, seguir a carreira médica, a não ser que deixem de ser mulheres. Devido às leis fisiológicas, mulheres médicas são ambíguas, hermafroditas ou assexuadas, monstros sob todos os pontos de vista”.

7

Parece desconcertante que em pleno século XXI, no terceiro milênio, existam questões nesse campo a serem discutidas: “mulher pode ou não pode ser cirurgiã de verdade”? Ainda há preconceito e discriminação. O homem já foi à lua, a guerra fria já acabou, a AIDS já foi dominada, a cirurgia robótica já é praticada com regularidade, e ainda poucas mulheres optam pela cirurgia como carreira. Estatísticas globais mostram que menos de 1/3 dos cirurgiões registrados são mulheres. A Demografia Médica (CFM) de 2018 mostra que desde 2004 o sexo feminino já é a maioria nas escolas médicas, mas a mesma correspondência não aconteceu na Cirurgia Geral. Dos 30.768 médicos registrados no CFM até janeiro de 2018, como “Cirurgião Geral” as mulheres correspondem apenas a 1/5 do total (6.447) em uma razão de 3,77 homens para cada mulher. Esta situação continua em evolução. Se considerarmos os médicos jovens, entre 30 e 34 anos, as cirurgiãs estão em maioria (53.7%). Um dado animador. São várias as associações de mulheres cirurgiãs, que foram criadas com o objetivo de discutir, ajudar e oferecer suporte às cirurgiãs. Nos Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, Australásia, todos os colégios de cirurgiões têm suas Comissões de Mulheres Cirurgiãs, e todas têm o mesmo pensamento: ser mulher não é impedimento para ser “um excelente cirurgião”, embora, a cirurgia ainda seja vista, pelas mulheres inclusive, como o “clube da bolinha”. O futuro é agora. Chegará o dia em que tais questões serão anedóticas. O equilíbrio ainda é tendencioso. Eliminar todas as barreiras é uma ação de longa duração. Mudanças sociais não são simples. É preciso entender que as oportunidades não podem ser limitadas por gênero. Mulheres cirurgiãs precisam mostrar que não importa se são 12, 20 ou 50%, mas que as que estão no campo desejam fazer de suas carreiras, um sucesso, e que o façam bem feito. O Colégio Brasileiro de Cirurgiões se une a todos os outros homologando a sua Comissão de Mulheres Cirurgiãs, cujo objetivo é trabalhar em favor da igualdade. Partilhar ideias, dividir dificuldades, incentivar, e sugerir ações que possam transformar positivamente a vida das mulheres cirurgiãs.

“Parece desconcertante que em pleno século XXI, existam questões nesse campo a serem discutidas: “mulher pode ou não

pode ser cirurgiã de verdade?"


8

Artigo

Boletim CBC • Nº 179

Segurança em Cirurgia

O tema segurança em Cirurgia surgiu como meta do segundo desafio global lançado pela Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 2007 e 2008, tendo como marco a campanha “Cirurgia Segura Salva Vidas”. Tal campanha teve como objetivo estimular os gestores de instituições hospitalares bem como os profissionais de saúde a mobilizarem esforços no sentido de criar padrão de práticas que promovesse a segurança em cirurgia, fosse aplicável em qualquer parte do mundo e em diferentes cenários cirúrgicos e, permitisse a mensuração de indicadores visando a promoção de vigilância epidemiológica. O conceito de Cirurgia Segura envolve medidas adotadas para redução do risco de eventos adversos que podem acontecer antes, durante e depois das operações. Eventos adversos cirúrgicos são incidentes que resultam em dano ao paciente. A OMS estabeleceu um programa para garantir a segurança em atos cirúrgicos que consiste na

verificação de itens essenciais do processo. O objetivo é garantir que o procedimento seja realizado conforme o planejado, atendendo a cinco pontos principais: paciente, procedimento, lateralidade, posicionamento e equipamentos. Embora o desafio global “Cirurgia Segura Salva Vidas” tenha sido lançado há dez anos, por meio de várias ações que contemplam pontos essenciais referentes ao ato cirúrgico, ainda há um longo caminho a percorrer na promoção da segurança em cirurgia. O checklist é o instrumento desenvolvido para a conferência dessas etapas essenciais. Mais do que o preenchimento burocrático, serve também para que os profissionais envolvidos com o ato anestésico-cirúrgico resgatem as origens de sua formação humanística e ética. Essa é tarefa de todos os envolvidos no processo: profissionais, educadores, pesquisadores, pacientes e gestores. Neste mister, a Profa. Dra. Eliane da Silva Grazziano, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem da UFSCar, São Paulo (SP), apresenta um questionamento simples para verificar o quanto estamos colaborando para esse processo: “caso


9

Out. / Nov. / Dez. 2018

eu necessite de um procedimento anestésicocirúrgico, o quanto me sentiria seguro em ser submetido a uma cirurgia em meu próprio local de trabalho?”. É fundamental que as instituições implementem a cultura de segurança baseada em liderança, trabalho de equipe, comunicação, capacidade de aprender com os erros, justiça (reconhecendo os erros como falhas no sistema, ao invés de falhas individuais e, ao mesmo tempo, não coibindo a responsabilização dos indivíduos por suas ações), cuidado centrado no paciente e prática baseada em evidência. O Colégio Brasileiro de Cirurgiões na presidência do TCBC Edmundo Ferraz, atendendo à normativa do Ministério da Saúde, desenvolveu e publicou material sobre o checklist de Cirurgia Segura proposto pela OMS. Posteriormente na gestão do TCBC Heládio Feitosa (2015) houve a publicação de manual de Cirurgia Segura que está disponível no portal do CBC. Posteriormente, o CBC e o Consórcio Brasileiro de Acreditação (CBA) desenvolveram modelo de certificação com o objetivo de assegurar a eficiência nos procedimentos cirúrgicos dos hospitais brasileiros e dar mais assertividade a esses métodos com “A Certificação em Segurança e Qualidade em Cirurgia Segura e Procedimentos Invasivos”. Contudo, estes produtos não foram incorporados na prática diária de hospitais brasileiros. Infelizmente, o conceito de Cirurgia Segura não foi adequadamente difundido entre os cirurgiões brasileiros, apesar de bastante propagado, principalmente, em hospitais que possuem qualquer tipo de acreditação, pois é um dos itens obrigatórios como requisito para a acreditação hospitalar. Assim, o tema continua muito incipiente tanto na discussão, bem como na incorporação das práticas de segurança e qualidade em procedimentos cirúrgicos no Brasil. Por outro lado, nos Estados Unidos, o conceito de Cirurgia Segura tem sido amplamente divulgado, implementado e avaliado. O American College of Surgeons (ACS), nos últimos dez anos, vem estudando e publicando vários artigos e editoriais sobre a importância da segurança e da qualidade nas mais diversas especialidades

cirúrgicas. A relevância do tema é tão presente que o ACS lançou o manual de qualidade e segurança em cirurgia, o chamado Red Book, e anualmente, desde 2016, organiza um simpósio de Qualidade e Segurança, exclusivo e independente do Congresso Clínico do ACS. O CBC também entende que esta lacuna em Segurança e Qualidade é um dos pontos primordiais a serem abordados, discutidos e implementados em nosso país. Assim, em 2018, o Diretório Nacional constituiu a Comissão de Qualidade e Segurança em Cirurgia, que tem por objetivo retomar a discussão do tema entre a comunidade cirúrgica brasileira, e desenvolver os parâmetros brasileiros de qualidade e segurança, bem como foi feito pelo ACS. Em outubro de 2018, durante o Congresso Clínico do ACS, foi firmado protocolo de cooperação entre o ACS e o CBC para que possamos usufruir da experiência ampla de nossos colegas e, desta forma, podermos desenvolver adequados padrões brasileiros na área de Segurança e Qualidade. O CBC obteve a permissão para a tradução do Red Book, que acreditamos será o guia para todos os cirurgiões no mundo inteiro. A Comissão do CBC está preparando uma série de eventos como parte do programa do Congresso Brasileiro de Cirurgia, que será realizado em Brasília, em maio de 2019, onde serão discutidos vários assuntos relativos a este relevante e delicado tema. Contaremos com vários colegas do ACS com ampla experiência no Programa de Qualidade, e esperamos que as discussões sejam profícuas e estimuladoras para despertar em nós este importante conceito que já é realidade em vários países no mundo com resultados auspiciosos de melhoria no atendimento a pacientes cirúrgicos.

A comissão* *Alfredo Guarischi, Flávio Tomasichi, Heládio Feitosa, M. Isabel T. D. Correia, Pedro Portari, Ramiro Colleoni

“O conceito de Cirurgia Segura envolve medidas adotadas para redução do risco de eventos adversos que podem acontecer antes, durante e depois das operações.


10

Boletim CBC • Nº 179

Congresso Brasileiro de Cirurgia terá uma programação abrangente “Foi preparada uma programação abrangente de várias áreas de atuação dos cirurgiões brasileiros, de temas sobre avanços tecnológicos e recentes recomendações para o cuidado do paciente cirúrgico. Além da Cirurgia Geral, outras especialidades cirúrgicas estarão contempladas, sempre entendendo que o Colégio Brasileiro de Cirurgiões é a Casa de todos que atuam na Cirurgia. Como não poderia deixar de ser, houve uma preocupação especial com residentes e estudandes: presente e futuro da cirurgia nacional. A participação de convidados nacionais e internacionais contribuirá para aumentar a qualidade das palestras e do ensino da Cirurgia como ciência e arte. Esperamos contar com a participação de todos para este encontro de comemorações e realizações técnicas e científicas.”

ECBC Savino Gasparini – Presidente do CBC

Inscrição de trabalhos científicos até 11/02/2019 | www.congressocbc.com.br


11

Out. / Nov. / Dez. 2018

Inscrições

Pagamento com cartão de crédito / Descontos para grupos.

Convidados Internacionais ALEX B. HAYNES- EUA Cirurgia Oncológica/ Cirurgia Segura

MARCO BRAGA – ITALIA Cirurgia Oncológica / Cirurgia Pancreática

ANTONIO MARTTOS - EUA Cirurgia do Trauma

MARIANO GIMENEZ – ARGENTINA Cirurgia Hepatobiliopancratica / Cirurgia Percutânea

Massachusetts General Hospital/ Harvard Medical School, Boston, EUA.

Director of Global e-Health/Trauma Telemedicine at the William Lehman Injury Research Center - University of Miami Miller School of Medicine, EUA.

DAVID B. HOYT - EUA Cirurgia do Trauma / Qualidade e Segurança em Cirurgia

Diretor Executivo, American College of Surgeons, Chicago, EUA.

Ospedale San Raffaele, Milão, Italia.

Facultad de Medicina, Universidad de Buenos Aires, Argentina / Université de Strasbourg, França.

MAURICIO SIERRA – MÉXICO Cirurgia Bariátrica / Cirurgia Endócrina / Cirurgia Minimamente Invasiva

Instituto Nacional de Ciencias Médicas y Nutrición Salvador Zubirán, Cidade do México, México.

FABIANO PERDIGÃO COTTA - FRANÇA Cirurgia Hepatobiliar / Transplante Hepático Assistance publique – Hôpitaux de Paris, França.

IGOR BELYANSKY - EUA Hérnias

Director of Abdominal Wall Reconstruction Program, Anne Arundel Medical Center, Annapolis, EUA.

MARTIN R WEISER - EUA Cirurgia Colorretal

Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, Nova York, EUA.

OSCAR GUILLAMONDEGUI – EUA Cirurgia do Trauma / Qualidade e Segurança em Cirurgia Vanderbilt University, Nashville, EUA.

JULIAN VARAS COHEN – CHILE Cirurgia Geral / Ensino Médico

Centro de Simulaçión de la Pontificia Universidad Catolica de Chile.

KAMAL M. F. ITANI – EUA Infecção Cirúrgica / Hérnias / Ensino Médico Boston University, USA.

STEVEN HOCHWALD - EUA Cirurgia Oncológica

Roswell Park Cancer Institute / Jacobs School of Medicine and Biomedical Sciences , Buffalo, EUA.



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.