Luiz Caldas da Bahia

Pratos que despertaram sentidos MOINHOS DE VENTO OCuPAM CENÁRIOS DA BAHIA arquitetura e design do CirCuito boÊmio e gastronômiCo

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A SEXTA gERAçãO DE uM CLÁSSICO, O MuSTANg a lanCHa intermarine 55 sai do estúdio bmW

Genial ANO 4 . Nº23 . 2012 . R$ 14,90

O cantor, compositor e instrumentista oxigena a carreira com sua versatilidade

Capa Luiz Caldas por. CLAUDIA PEDREIRA FOTOS. Solange rossini

LUIZ CALDAS da Bahia Reconhecido como pai da axé music, o cantor, compositor e instrumentista revigora a carreira ao investir na produção fértil de música de qualidade

Luiz César Pereira Caldas é um fenômeno desde o nascimento. A mãe deu a luz o garoto em casa.

“Quando a parteira chegou eu já estava lá, ousado.

Não é um queixão?”, pergunta sobre si mesmo, com um sorriso alvo e franco. Aos 4 anos, o feirense foi deixando aos pouquinhos de jogar bola com os amigos para brincar de fazer música com latas vazias (que viravam bateria) e vassouras (que se transformavam em microfone).

Com 7 anos, morando em Vitória da Conquista, Luiz Caldas começou a carreira artística. Passou a tocar no grupo Aquariu’s, que animava bailes de várias cidades. Aos 16, observando o carnaval da capital, planejou tocar para multidões. Foi no palco do trio elétrico do Tapajós que ele começou a mostrar a genialidade, juntando elementos apreendidos em sua trajetória profissional.

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Um tiquinho de ijexá, com a pegada percussiva de terreiros, um toque do funk americano, sca de guitarra, teclados new wave, levada de bumbo, passinhos de dança copiados de quem dançava embaixo do trio, figurino à Montown e... presto! Luiz Caldas se tornou o pai da axé music.

Nos Ăşltimos dois anos Luiz Caldas promoveu uma guinada na carreira, compondo dezenas de mĂşsicas de dezenas de estilos e alterando a imagem que popularizou

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Operário

musical O país passou a cantar, junto com o baiano novidadeiro, sucessos como (dele e de Paulinho Camafeu) a inquietante Fricote. Em 1987 o cabelo de Luiz Caldas tinha sete cores. Ele se apresentava com os pés descalços e dançava de um jeitinho inusitado imitado pelo mundo, mesmo em um tempo em que não existia a internet. Reconhecido como o criador do movimento sonoro que provocou uma onda revolucionária na MPBaiana, o artista foi estampar capa da revista Veja, animar o auditório do Chacrinha (atração nobre da Rede Globo) e embalar emoções de novelas, caso da abertura de Tieta. Tratava-se do rei pop de um furacão que passou a atrair milhares de turistas para o carnaval baiano, aglutinou artistas e os catapultou para shows e festivais internacionais, além de fazê-los figurinhas carimbadas de blocos e micaretas

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que se multiplicaram pelo Brasil.

Mas esta imagem de pai do gênero musical que se tornou um caldeirão de estilos foi sendo, digamos, dilapidada por Luiz Caldas ao longo do tempo.

Hoje aos 49 anos, o cantor, compositor e multi instrumentista busca imprimir uma nova marca, especialmente atrelada à uma produção fértil de música. “Antigamente eu ficava esperando a inspiração. É bom, mas demora”, considera o autor, que um dia escutou o autor, músico e cantor Djavan falar em uma entrevista que trabalhava como um operário, dia a dia. “Pensei: ‘Se eu conheço harmonia, melodia, estas coisas que tornam uma obra bacana, eu vou fazer música assim’”. E aí virou esta coisa do maluco fazendo música a três por quatro.

“Tenho consciência total de que sou só um condutor. O meu dever é fazer o que Deus me deu como ofício, que é fazer música. E faço isso sem pensar em ganhar grana”

CRIADOR de tudo O primeiro fruto desta guinada de atitude foi mostrado ao público em 2011, com o lançamento de dezenas de músicas, num só “pacote”. Jô Soares ficou admirado quando, ao entrevistar o baiano em seu programa na TV, recebeu de presente um pendrive com as canções inéditas: “Mas tem 130 músicas aqui?”. O projeto espantou fãs e especialistas pela diversidade. “Noventa por cento dos artistas da axé music começaram tocando em barzinho. Eu não toquei. Toquei em bailes, que eram uma universidade de música”, considera o artista, que estudou até a quarta série do primário mas é mestre e doutor em música. Cheio de virtudes, vai do solo de Slash, do Guns N’Roses, para um solo de Pinduca.

O novo desafio do cara é lançar, nos próximos meses, mais 120 músicas, gravadas em 12 discos, com cada novo álbum sendo apresentando mensalmente ao público, via rede social. O primeiro da lista é Natal é Amor, que será disponibilizado na internet em dezembro. O jornalista César Rasec, parceiro de 70 músicas e biógrafo do artista, diz que no estúdio a brincadeira mais comum é a seguinte: “Nosso passaporte para o céu está garantido”.

Com uma enorme tatuagem dedicada a Oxóssi estampada no braço, Luiz parece a versão perfeita do sincretismo da terrinha. Ele diz que todas as religiões merecem respeito. “Eu creio em alguma coisa que eu chamo Deus, que é criador de tudo. Veja só a música, ela é feita a partir de sete notas. Mas na verdade tudo já está feito. Você só descobre”. E como descobre coisa, este Luiz Caldas!

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Capa Luiz Caldas

Álbuns no forno “São duas rosas unidas / São duas rosas nascidas /Talvez no mesmo arrebol / Vivendo no mesmo galho / Da mesma gota de orvalho / Do mesmo raio de sol”. Estes são versos de Duas Flores, poema de Castro Alves, que atravessou séculos para ganhar ar moderno e pop na bela canção gravada por Luiz Caldas no disco que irá reunir dez autores brasileiros e que integra o projeto de 120 músicas inéditas que serão lançadas a partir de dezembro. Com isto o artista repete o feito de 2009, quando reuniu 130 obras em um conjunto de CDs - com canções de gêneros variados como a MPB, incluindo a bossa nova, samba, brega, tupi, instrumental, frevo, forró, axé e rock. “Para fazer um projeto como este é preciso fazer bem feito”, salienta o jornalista, crítico musical e parceiro de Luiz em 70 composições, César Rasec. É certo que muitos ainda se surpreendem (e até criticam) o fato de Luiz Caldas surgir à vontade, em meio a diversos ritmos. “Quando comecei a fazer bailes aos 7 anos peguei meu preconceito musical e joguei por terra”, diz ele, e dá amostras de um reggae do bom ou apresenta um trecho de gravação dance.

E não há como não admirar o consistente disco de chorinho, dedicando à mulheres que ele respeitava na Rua Santos Dumont, em Vitória da Conquista. Pelo que se vê e ouve, no estúdio da casa no Caminho das Árvores, rótulos não existem para este sujeito sem medo. Com a neta Maria Alice, de 10 anos, Luiz Caldas compôs uma gostosa canção folclórica. No lado oposto, promete virar punk no DVD que terá cenário inspirado na série Terra dos Gigantes. “Você vai ficar com nojo de olhar para mim”, anuncia aos risos.

DIS CO GRA FIA 48

LET'S GO BAHIA

1980

Ave Caetano

Luiz explica que perdeu preconceitos musicais aos 7 anos, quando começou a tocar em bailes

1981

Jubileu de Prata

1982

Cristal Liso

1983

Compacto simples

1985

Magia

Em

FORMA Rosto emoldurado por cachinhos, roupas com detalhes rococós, passinhos de dança frenéticos e um baita carisma pop. Não à toa, no início da carreira, Luiz Caldas foi comparado, jocosamente, com Michael Jackson. E a partir de um comentário do jornalista Hagamenon Brito foi cunhado o termo axé music.

“Mas a brincadeira ficou séria quando Luiz vendeu cem mil discos, sem sair da Bahia”, considera o pesquisador César Rasec. Com o álbum solo de estreia, Magia, com a banda Acordes Verdes, vendeu 360 mil exemplares, residindo em um estado com mercado ainda incipiente.

Da glória ao comando de trios independentes, Rasec explica que uma mudança foi necessária para posicionar de novo o trabalho de Luiz. Em 2009 ele cortou os cachos e passou a calçar sapatos em cena.

1986

Flor Cigana

1987

Lá Vem o Guarda

1988

Muito Obrigado

Nada que comprometesse os valores de quem sempre segurou as rédeas da carreira e que, após tentar gravar seu trabalho no eixo Rio-São Paulo, e ser (mal) recebido com um “mais um baiano aqui não” (em tempos de final de Tropicalismo), voltou para casa com a certeza de que as gravadoras iriam um dia bater à porta. Passou a fazer shows no Circo Troca de Segredos, gravando no estúdio WR. Hoje Luiz Caldas aparece no palco com camisas coloridas e moderninhas, jeans justo e botas ou tênis. Continua “sem problema” para maquiar o olho, a boca e pintar as unhas, com as quais dedilha o instrumento com perfeição enebriante. Diz que está mais magro do que deve, com seus 65 quilos, e por isso está dando uma paradinha na corrida que pratica no bosque, perto de casa. Mas não abre mão de pedalar bicicleta na Lagoa de Pituaçu.

1989

Timbres

1991 Nós

1992

Retrato

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Capa Luiz Caldas

A casa onde o cantor e compositor vive com a grande família conta com um equipado estúdio

1993

Minha História

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1994

Luiz Caldas

1998

Forró de Cabo a Rabo

1999

15 Anos de Axé Music

2001

Luz e Fogueira

2002

Janela Aberta

“As pessoas se preocupam muito com os resultados.

Estou fazendo música porque estou parindo”

Moço de

família Sandra Sacramento, de Itabuna, não queria conversa com aquele artista que vivia pela cidade. “Ela tinha aversão total a mim. Mas eu era homem e ela tinha um corpão, sabe como é, né?” relembra divertido o sujeito que soube chegar. “Ela é tranqüila, por isso o casamento já tem 30 anos”, complementa o marido feliz e pai de três filhos. André Mikcelle, o filho mais velho, tem 29 anos e escolheu seguir a vida artística.

Toca percussão com o pai. Ele é pai de Maria Alice (10 anos) e do novo xodó da família, Luiz Vicente (oito meses). Aiac Steifanes, 26, é arquiteto. Akauan Lake, 24, acaba de se formar em cinema e vai trabalhar no documentário sobre seu pai, que será dirigido por Lili Bandeira, para a Anhangabaú Produções.

Por certo o filme vai destacar o domínio que Luiz tem

2004

Melosofia

2006

ao Vivo em Salvador

de vários instrumentos (violão, guitarra, cavaquinho, contrabaixo, bandolim, charango, graviola, piano, bateria, guitarra baiana, percussão, escaleto, dentre outros). Uma bela coleção montada no estúdio inclui uma guitarra semi acústica de jazz. Na grande casa, Luiz diz que não existe muita rigidez, com exigências como todo mundo junto na hora da refeição - sempre foi panela com comida no fogão, para quem quiser comer. Os bichos da casa até parece que percebem isso e vivem numa vida boa e criativa. O fofo cachorro Onofre que o diga! “Família é uma coisa maravilhosa.

Dá freios e acelera seu pé, quando você precisa. Você sabe que várias pessoas dependem de você. E isso dá um bom estímulo!”, raciocina Luiz, o sexto filho da dona de casa Zuleika, que vivia cantando boa música, e do patrulheiro Durval, que batucava caixa de fósforo.

2009

Castelo de Gelo

2009

Uma Maria

2009 Gongá

2009

Festa de Sanfoneiros

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Capa Luiz Caldas “A história da canção Fricote merece registro à parte.

Desligado do Trio Tapajós e trabalhando na WR, Luiz Caldas realizava shows com a Banda Acordes Verdes, fazendo aflorar a carreira solo. Mantendo a amizade com os integrantes do Tapajós, foi até Simões Filho assistir aos colegas. Na praça principal da cidade, num barzinho, encontrou com Paulinho de Camafeu, cantor e compositor que vinha se destacando na cena local junto ao afoxé Filhos de Ghandi. Entre uma conversa e outra, em meio à movimentação, batucando numa mesa de improviso, tomando cerveja, o entendimento fluía sobre os novos trabalhos, até que um diálogo popular, tipo gozação, entre um rapaz e uma garota, chamou a atenção. – Pega ela aí pra passar batom! Pega ela aí pra passar batom!

A frase interessante e engraçada surgia como insight para a criação de uma canção a partir de uma história que acontecia diante dos olhos dos dois observadores. Do assistido, Luiz Caldas escreveu mais alguma coisa e juntou com o que Paulinho de Camafeu já tinha feito. Da alquimia espontânea, surgia Nega do Cabelo Duro, música de letra simples e pequena que viria ser o carro-chefe do disco que estava sendo concebido na WR.

Frutos da

retomadA O jornalista César Rasec conheceu Luiz Caldas fazendo entrevista para a revista Neon, de Sergio Matos. Com a amizade e a parceria profissional, firmou-se como seu biógrafo oficial. Para uma tese de mestrado, analisou a cena baiana e brasileira, ouviu discos, reviu programas de TV e conferiu publicações. “No carnaval de Salvador todas as músicas tinham uma linhagem específica, com guitarra baiana e tudo o mais, ligada ao frevo pernambucano. Luiz começa a incorporar o repertório autoral do Tapajós com a música Oxumalá, matriz da axé music”, analisa. Como criador do gênero, o artista recebeu o Lifetime Achievement Award 2010 em Miami, no Broward Center For The Performing Arts de Fort Lauderdale. Com agenda movimentada, em agosto deste ano o baiano foi ao festival de cinema de Gramado, onde a trilha de Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!, com arranjos de André Abujamra e participação de Luiz Caldas, ficou com o Kikito. Após gravar músicas com companhias de peso como Seu Jorge, Saulo Fernandes, Sandra de Sá e André Abujamra, o cantor e compositor aguarda, animado, o lançamento do livro A Trajetória de Vida de Luiz Caldas, de Rasec (leia trecho ao lado).

2009

2009

Oxóssi Perguntas e respostas

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LET'S GO BAHIA

2009

Brasil Superpopular

Depois de pronta, lembra Luiz Caldas, a alquimia sonora de Fricote juntou-se à dança das pessoas que pipocavam ao lado dos trios independentes, num movimento espontâneo dos braços, das pernas e da cintura. A dança, então, foi ganhando rapidamente a simpatia popular, como se o povo estivesse legitimando diante do espelho a própria espontaneidade.

Antes de ser lançada no álbum Magia, em 1984, nos shows com a banda Acordes Verdes, a canção era pedida pelo público. Numa apresentação no Teatro Castro Alves, no show Verso e Reverso, Fricote foi gravada ao vivo e passou a ser executada em algumas rádios de Salvador, como a Itapuã, vindo a ser bem tocada por causa dos muitos pedidos dos ouvintes. Quando o disco Magia chegou às lojas, em 1985, o sucesso de Nega do Cabelo Duro alavancou as vendagens, superando a marca de 100 mil cópias.”

Trecho de A Trajetória de Vida de Luiz Caldas – Ascensão, Inflexão e Retomada, de César Rasec

2009

Brasil Pandeiro

2009

Nheengara Recé Taba

2009

O Trio Elétrico