Conversa entre Fernanda Lopes e Jorge Soledar

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Texto da exposição “Como me tornei insens ível”, Galeria Ibeu 
 Conversa entre Fernanda Lopes e Jorge Soledar em maio de 2013.

Fernanda. Talvez um bom come ço seja falar sobre o nome da mostra e sobre a ideia de sujeição, que te interessa. Jorge. Pedi a palavra emprestada de outro para designar a mostra como título de um retrato - elemento que une os trabalhos desta exposi ção. A frase “como me tornei insens ível” foi primeiro dita por uma pessoa encarcerada em uma pris ão norte-americana. Por considerar-me uma pessoa muito sensível, ouvir essa frase me tocou por corresponder a algo estranho, mas familiar, quando em meus trabalhos me "insensibilizo" ao fazer do outro minha própria escultura. É em geral em torno do desejo pela posse do outro e das imagens que disto derivam (t ão conflituosas e sens íveis a todos nós) que a exposição consiste. Neste sentido, ainda para falar em termos de posse, não se trata apenas de um dilema meu, mas sobretudo de compartilhar um traço de sombra do humano. A sujei ção corresponde à estranha humanidade de estar à sombra das sombras do outro, e ao mesmo tempo, de estar fisicamente cedido enquanto estatu ária invertida a quem age - assim como eu, da posse moment ânea de alguém como escultura viva e autorretrato. Fernanda. Qual o lugar da fotografia no seu trabalho? Atravessamento (2013), como outras obras suas, parece estar em um lugar entre. Aqui, mais especificamente, entre a escultura, a performance, e a fotografia (mesmo sem a presença física, literal, da fotografia). Jorge. São muitas camadas de leitura, e isso me alegra considerando a natureza sintética do trabalho. Atravessamento é uma proposição simples e recente, uma imagem no tecido real, ao mesmo tempo em que 
 representa uma diferenciação de experiências semelhantes, como Elvira (2010 -11), mais centradas na constru ção de objetos para tens ão e imobilidade f ísicas. Agora me interessa experimentar o pr óprio engessamento da a ção diante de mim e de você, no espaço de vida. E desse modo, ao enquadrar, fixando o ato como espécie de imagem dura, é possível questionarmos seu estatuto entre escultura e fotografia, entre performance e instala ção. Contudo, o que procuro fazer antes de tratar com linguagens, é dar conta existencial daquela posse que mencionei antes, decalcando ent ão meu autorretrato sobre a imagem de algu ém - como talha bruta formada ao longo de um presente contínuo e perversamente sens ível.


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