Eric A. A. Oliveira
O DRAGテグ DO VENTRE DE OURO A saga de Carlos Looendvog LIVRO I
O DRAGテグ DO VENTRE DE OURO
Eric A. A. Oliveira
O DRAGÃO DO VENTRE DE OURO A saga de Carlos Looendvog – LIVRO I –
Salvador Bahia 2009
O Dragão do Ventre de Ouro A Saga de Carlos Looendvog LIVRO I
©Eric A. A. Oliveira Edição Solisluna Design Editora Enéas Guerra Valéria Pergentino Design e Editoração Valéria Pergentino Elaine Quirelli Ilustrações Athos Sampaio Preparação dos originais Katherine Funke Revisão do texto Maria José Bacelar Guimarães
Sistema de Bibliotecas – UFBA Oliveira, Eric A. A. A saga de Carlos Looendvog : o dragão do ventre de ouro - livro I / Eric A. A. Oliveira. - Salvador : Solisluna, 2009. 72 p. : il. ISBN 978-85-89059-22-0 1. Literatura infanto-juvenil. 2. Literatura brasileira. I. Título. CDD - 808.899282
www.solislunadesign.com.br editora@solislunadesign.com.br
Aos meus pais, pelo incansável incentivo, aos meus avós e meu irmão, por me apoiarem, e à vida, pelo eterno aprendizado.
SUMÁRIO 9
CAPÍTULO UM
Coisas Estranhas 15
CAPÍTULO DOIS
Viagem com Encontros Inesperados 25
CAPÍTULO TRÊS
Rumo a Valparaíso 36
CAPÍTULO QUATRO
A Fantástica Escola 48
CAPÍTULO CINCO
Confusões e Revelações 52
CAPÍTULO SEIS
A Prova Aquatingue 59
CAPÍTULO SETE
As Portas para o Túmulo. Um Grande Segredo 63
CAPÍTULO OITO
O Segredo de Enácio 67
CAPÍTULO NOVE
O Ovo está em Gragulense
CAPÍTULO UM
COISAS ESTRANHAS
O
s Looendvogs moravam no Chile, de cara para o Pacífico, em um condomínio chamado Derry. Eram uma misteriosa família, quase nunca vista fora de casa. Antigamente, moravam em Santiago e se mudaram para Antofagasta por volta de 2003. Sua nova casa tinha dois andares, mais um sótão e um imenso porão. Carlos era a única criança. Tinha doze anos de idade e uma vida muito parada. Para ele, aquele mês de novembro estava sendo realmente um tédio. Mas não iria durar muito tempo e sua mente parecia confirmar. Ele nem sabia que sua intuição estava correta. E esperou pelo fim daquele mês, que para ele se tornou abominável, até que o último dia de aula passou. Enquanto voltava para casa sem ter ideia do que lhe esperava, o transporte escolar se atrasou. A noite estava fria e tenebrosa. Todos os moradores já dormiam quando o filho dos Looendvogs entrou no Derry e um barulho se ergueu no ar, gelou o coração dele e o deixou profundamente assustado. Tudo parecia tenebroso, mas ficou pior: um vulto negro e apavorante tomou forma através da escuridão. Era um cão gigante, de cento e vinte centímetros de altura e três metros de comprimento. Tinha uma testa larga e vários músculos que desciam em profusão sobre seus pelos castanhos. Parecia um enorme pitbul. O animal olhou com raiva para Carlos. Seus olhos eram alaranjados e brilhantes. Vendo o medo do garoto, latiu em um tom apavorante que o fez desmaiar. –9–
– Carlos! – dizia uma voz masculina que não era desconhecida. Mas o menino estava dormindo profundamente. Uma luz ofuscante surgiu em sua memória e ele acordou. O mais estranho é que não estavam lá seu pai nem sua mãe, só uma enfermeira. Carlos perguntou a ela que lugar era aquele e, então, o pai entrou na sala desesperado. – Você está bem? O que aconteceu? Conte-me tudo! O garoto rememorou os detalhes dos últimos acontecimentos e falou, quase gaguejando: – Bem, o transporte se atrasou. Cheguei aqui na portaria do condomínio, dei de cara com um cão monstruoso e caí desmaiado. O pai, sem rodeios, decidiu: – Filho, vamos nos mudar! Vamos para Valparaíso. Mas não vou poder contar o motivo. É um segredo que está só entre sua mãe e eu, combinado? Carlos captou rápido. – Pai, que lugar é este onde estamos? – O sótão. Eu dei uma arrumada. Outras dúvidas surgiam. – Quando nos mudaremos? – Dia dois de dezembro. Deixe-me ver... depois de amanhã, está bem? – Onde está mamãe? Por que o senhor contratou uma enfermeira se eu apenas desmaiei? – Achei que tinha se machucado. O único filho dos Looendvogs nem suspeitava que muito mais coisas estranhas estavam para acontecer e que outras ainda se preparavam para ocorrer. O dia passou. Carlos se recuperou do desmaio. De noite, ele assistia à novela preferida quando o canal foi interrompido por uma reportagem urgente que dizia: – Boa noite, telespectadores. Aconteceu algo que vocês precisam saber com urgência, em especial os moradores da fronteira com a Bolívia. Um grupo de aproximadamente cem mil vaga-lumes foi visto – 10 –
cruzando o Peru nessa direção – o repórter apontou com seu dedo indicador direito para Chiloé e para Antofagasta. – Não conseguimos explicar este fenômeno, mas cientistas acreditam que seja uma migração em massa desses animais que habitam os planaltos alagadas do Peru, especialmente as áreas do lago Titicaca. Protejam-se. Fechem as janelas e as portas. Tenham cuidado. A notícia deixou Carlos agitado com a ideia de ver dezenas de milhares de vaga-lumes sobrevoando sua casa. Minutos depois, o pai apareceu na sala e falou, meio assustado: – O quê? Quer dizer que milhares de vaga-lumes vão... ? Carlos respondeu como se nunca tivesse ouvido aquilo. – Sim, é o que eu vi na TV. – Isso não é possível! – E qual é o problema com os vaga-lumes? O pai se recuperou do susto e revelou: – Nós nunca te contamos, com medo que você se preocupasse demais com isso... – Então deve ser um assunto muito sério. – Nós temos um emprego desconhecido por você, que nos trouxe muitos problemas. – Qual? Agora acomodado em uma poltrona de veludo, o pai pegou uma caneca de cerveja e voltou a conversar. – Caçadores de dragões. – O quê? Continuou tranquilamente o senhor Jimmy Looendvog, como se fosse a coisa mais normal do mundo: – Uma vez, eu estava caçando o famoso e astuto dragão da Costa do Pacífico, quando uma criatura encapuzada apareceu. Era um dos meus amigos. Enácio Choufer. Deu para perceber que ele não estava nada alegre em me ver. Ele estava me odiando, porque aquele dragão – 11 –
era o mais valioso que eu já havia caçado e ele desejava aquele animal para si. Quando começou a trabalhar conosco, Enácio era um dos maiores caçadores que existia, conhecedor de técnicas e feitiços que não possuíamos naquela época. O pai dele deixou um exército sinistro, do qual poucos tinham conhecimento. Era um exército de sombras, ou melhor, ainda é. Esses soldados atacam quando não estamos prestando atenção. Enácio decidiu usar, no dragão que eu caçava, uma maldição antiga... Sem acreditar naquilo tudo, Carlos interrompeu: – Ele enfeitiçou o dragão? Enfeitiçou com o quê? – Com uma maldição que ele descobriu numa tumba datada de três mil antes de Cristo! A maldição fez com que o dragão se transformasse em cem mil vaga-lumes de fogo, aproximadamente, cada um deles com a função de transportá-lo em seu próprio ser. Eram destinados a me matar. E acho que, agora, descobriram onde estou. Quero que você guarde segredo sobre esta conversa. Não conte nem para sua mãe, está bem? Carlos respondeu com toda sinceridade: – Guardarei segredo eterno, até que ele se descubra por si só. Os vaga-lumes se apressaram e já estavam quase chegando na casa dos Looendvogs, quando o Sr. Jimmy gritou, ao olhar pela janela: – Corram, se escondam! Foram para o porão. Dali já dava para ouvir o barulho e ver uma claridade muito forte. Os vaga-lumes se formaram em grandes grupos e, por onde passavam, deixavam destruição e caos. Antes que qualquer morador do condomínio pudesse fazer um único movimento brusco, Carlos presenciou o pior dos testes de sua imensa e invencível coragem. Em menos de dois segundos, os vaga-lumes se organizaram e construíram um ser humano com seus próprios corpos. Pareciam se fundir e se transformaram num homem com capa preta, que se mostrou ameaçador sobre tudo o que havia naquele momento. Com eficácia, a criatura fez surgir em sua mão uma bola flamejante que, numa velocidade incrível, atingiu o porão da casa dos Looendvogs, – 12 –
arrancando Carlos para a rua, através da janela onde aquele monstro encapuzado estava. O mais incrível: sem um arranhão sequer. Logo a criatura começou a falar com voz arrepiante: – Ah! Os Looendvogs têm um filho! Belo rapagão. Carlos perguntou, pasmo e desacreditado. – Enácio? É você? Como se transformou em seu próprio feitiço? – Simples. Percebi que os dragões são feitos de minúsculas partículas de fogo e nessas partículas existem partes que não provocam danos à pele. Com aquele dragão feito de cem mil partes iguais, foi fácil me instalar nele e vir até aqui. E você? Dê-me logo o artefato poderoso de seus pais! – Que artefato? A criatura ergueu a mão, que mais parecia um arbusto terrivelmente verde com cinco galhos secos e afiados. Um líquido roxo flutuava sobre ela, que logo se transformou em um pote da mesma cor, bem enfeitado. – Estou dando uma única oportunidade. Ou você me entrega o artefato ou vai sofrer gravemente as consequências! Carlos respondeu, cabisbaixo: – Mas, senhor, não sei onde se encontra esse artefato. O encapuzado Enácio respondeu com um tom de voz que gelou e fez desmaiar todos os moradores do Derry, menos os Looendvogs. – Então, vai sofrer com as consequências – disse, retirando de seu bolso mais secreto uma pedra de doze centímetros. E, com um manuseador de prata, declamou: – Azacuhai, Azdvold Axidos! Um jato roxo apontou para Carlos que, como magia, se desviou a tempo. Outro jato de luz vermelha surgiu da janela do porão dos Looendvogs e atingiu Enácio em cheio. Ele recuou e desapareceu. O garoto entrou tremendo em casa. A verdade era muito mais espantosa do que poderia parecer. Mesmo depois de descansar por um bom tempo, ele não se recuperou do susto que levou, até seu pai o reconfortar com palavras: – 13 –
– Amanhã vamos partir. Enácio não vai nos achar nunca mais. Com certa ansiedade, Carlos queria saber: – O que era aquela luz que me salvou? Tive a sensação que veio do mesmo porão onde vocês estavam. – Não vou poder contar agora – disse o pai, freneticamente – mas garanto que você saberá na hora certa. – Pai, eu acho que vi uma ligação entre os animais que tentaram me atacar nesses dois dias. Primeiro, um cão gigante. Agora, centenas de milhares de vaga-lumes. O Sr. Jimmy Looendvog apenas esboçou um sorriso: – Eu tenho certeza que esse cão tem ligação com o Enácio.
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