Caderno TGI II | Soyani Tardiolli

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O DIREITO À CIDADE COMO CONSTRUÇÃO COLETIVA : OCUPAÇÃO EM BUSCA DE UM SONHO

SOYANI TARDIOLLI 2 II TGI


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AUTORIZO A REPRODUCAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRONICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do Instituto de Arquitetura e Urbanismo com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

FSO731?

Figueiredo, Soyani Tardiolli de Figueiredo “O direito à cidade como construção coletiva: ocupação em busca de um sonho” / Soyani Tardiolli de Figueiredo Figueiredo. -- São Carlos, 2018. 100 p. Trabalho de Graduação Integrado (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) -- Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2018. 1. direito à cidade. 2. habitação social. I. Título.

Bibliotecária responsável pela estrutura de catalogação da publicação de acordo com a AACR2: Brianda de Oliveira Ordonho Sígolo - CRB - 8/8229

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SOYANI TARDIOLLI DE FIGUEIREDO

O DIREITO À CIDADE COMO CONSTRUÇÃO COLETIVA: OCUPAÇÃO EM BUSCA DE UM SONHO

Trabalho de Graduação Integrado apresentado ao Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP – Campus de São Carlos.

Aprovado em: BANCA EXAMINADORA:

__________________________________________ Prof. Dr. Luciana Bongiovanni M. Schenk IAU-USP

__________________________________________ Prof. Dr. Manoel Rodrigues Alves IAU-USP

___________________________________________ Prof. Dr. Catherine Otondo

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RESUMO Este trabalho consiste primeiramente em uma reflexão teórica ancorada nos conceitos do direito à cidade com o objetivo de absorver tais questões e transformá-las em um universo projetual. O contexto no qual se insere o exercício é a cidade de São Carlos, no interior do estado de São Paulo, em uma área marcada por um processo de periferização desde sua urbanização. Um dos terrenos que constitui a área escolhida é, atualmente, uma ocupação irregular onde residem 134 famílias em condições mínimas de infraestrutura. Primeiramente, proponho uma interpretação particular da área, reconhecendo a formação histórica e urbanística do lugar, sinalizando suas potencialidades e estabelecendo, a partir da consideração destas leituras, diretrizes de intervenção que tornem possível um novo padrão urbano de conexão desta intervenção com o restante da cidade, já mais consolidada urbanisticamente. No que diz respeito ao projeto em si, a proposta cria uma relação entre habitação e espaço público que difere do que está colocado atualmente nessa parcela da cidade. Desse modo, o trabalho busca traduzir a ideia do direito à moradia digna a partir do exercício de projetar o habitat para além do espaço edificado da habitação.

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09 10

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15 18 49

Leituras do território

Primeiras diretrizes

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Sobre a urbanização de São Carlos

Aproximação com a cidade

O direito à moradia como questão projetual

Introdução

ÍNDICE


INTRODUÇÃO Este trabalho surge a partir da minha trajetória acadêmica no curso de Arquitetura e Urbanismo onde sempre esteve presente o anseio em compreender as dinâmicas da cidade com um olhar crítico inserido em seu contexto histórico. Entender a cidade como um lugar de confrontos ecônomicos e apropriações informais do espaço direcionou reflexões sobre a questão da moradia. Como pensar a arquitetura nesses lugares de conflito? A partir desse questionamento, o trabalho investiga possibilidades de como lidar com o problema de moradia neste contexto específico considerando a ideia de habitação para além do espaço da casa edificada.

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“O direito à cidade é uma maneira de exercer o poder coletivo para configurar o processo de urbanização. Ao observar as configurações ao longo da história do urbanismo, percebe-se como este direito está confinado à uma pequena elite política e econômica a qual molda a cidade de acordo com seus interesses e necessidades, deixando a maioria da população sem possibilidade de escolha. A alteração da morfologia das cidades (que incluía a suburbanização) e consequentemente, o direito das classes trabalhadoras à vida urbana foi deixado em segundo plano pelas classes dominantes. Assim, a cidade configura-se como um “terreno lucrativo para a produção e absorção de excedente de capital (HARVEY, 2008: 74).” 9


O direito à moradia como questão A motivação inicial do trabalho presente está estruturado a partir do meu entendimento de que a habitação, tratada como uma questão social pela qual a arquitetura opera, não deve ser abordada apenas pela noção primeira do espaço edificado da unidade habitacional, mas também pelo acesso aos serviços básicos, mobilidade, lazer e cultura que podem ser também contempladas. Todas essas estruturas, quando articuladas harmonicamente, contribuem para a construção da cidadania e para a ideia de pertencimento que um indivíduo pode ter de seu território.

Entende-se assim que a moradia digna é um direito fundamental e uma das necessidades primárias do homem. Entretanto, a realidade da situação da moradia nas cidades não atende todas as classes. O chamado “problema habitacional” tem início no Brasil no século XIX a partir da criação da Lei de Terras de 1850, onde o desenho urbano passa a ser responsabilidade direta do governo que até então, não havia regulamentado a posse de terras. Com as modificações sociais e econômicas pelas quais passava o país, o governo se viu pressionado a organizar esta questão. O conflito do acesso à moradia passa a ser mais palpável a partir da abolição da escravidão, quando a propriedade passa a funcionar como bem de troca. A principal habitação dos trabalhadores na cidade nesta época eram os cortiços e as vilas operárias, que eram inseridos dentro do mercado locatário. No período da Primeira República não houve uma preocupação do governo com a habitação popular e quando havia interferência era através do controle sanitário e estatal dos cortiços (BONDUKI, 2004).

Nesse contexto, proponho aqui exercitar a prática projetual mediada por políticas públicas eficientes. Como ponto de partida, tomei como referência o artigo XXV da Declaração Universal dos Direitos Humanos , de 1948. Segundo o artigo, “todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.” 10


Durante a Era Vargas, surgem as primeiras políticas públicas voltadas para a habitação social. Os aluguéis comprometiam grande parte da renda dos trabalhadores e apenas as melhorias nas condições de trabalho não funcionariam para a melhoria da qualidade de vida e satisfação do trabalhador como um todo, o que naquele governo era uma vontade política evidente. Desta maneira, o governo viabilizou a construção de conjuntos habitacionais e a criação da Lei do Inquilinato. Essas primeiras tentativas de políticas públicas relativas à moradia popular irão se concretizar na criação da Fundação da Casa Popular, em 1946 pelo governo Dutra, primeiro órgão federal brasileiro voltado para produção de habitação social. Durante o regime militar surge o BNH(Banco Nacional de Habitação) com o objetivo de alocar recursos para grandes investimentos urbanos, muitas vezes subordinados a lógicas externas à própria realidade territorial. Sobre a implementação dos fundos do BNH “Podemos afirmar que a política foi efetivamente uma história de parceria entre bancos, construtoras 11

e governo central que, ao invés de ampliar e democratizar o mercado habitacional para todas as faixas de renda, teve como efeito concentrá-lo e produzir um mercado imobiliário artificial cativo e totalmente dependente de recursos públicos” (ROLNIK, 1997, p.53).


A partir da década de 90, com a extinção do BNH, surgem novas discussões em torno da demanda habitacional e uma nova abordagem profissional é formulada, através da Assessoria Técnica em Habitação Social (ATHIS) e da participação intensa dos movimentos sociais de luta por moradia. Em relativa sincronia com essas transformações, surge um modelo de autogestão na produção habitacional que é diretamente ligado à participação da população não só nos processos de construção em forma de mutirão, mas também na concepção projetual. Em anos mais recentes, o programa “Minha Casa Minha Vida”, de 2009, propôs solucionar o problema da moradia pela oferta de unidades habitacionais mínimas muitas e por muitas vezes isoladas dos grandes centros da cidade e sem oferta de serviços adjacentes que permitam aos beneficiados acesso a uma urbanidade plena.

As cidades brasileiras são marcadas por ocupações irregulares em áreas periféricas, o que revela uma a incapacidade ou falta de vontade econômica e política de atuação na resolução de conflitos socioespaciais. As dificuldades de acesso aos serviços de infraestrutura urbana somam-se as menores oportunidades de emprego, maior exposição à violência (marginal ou policial), difícil acesso à justiça oficial, difícil acesso ao lazer, discriminação racial. A exclusão é um todo: social, econômica, ambiental, jurídica e cultural (MARICATO, 2003, p. 78, 79).

A partir desse cenário, o trabalho presente busca retomar o que foi formulado e experimentado ao longo de tantas décadas e refletir sobre o cenário atual. Com a regulamentação da Assessoria Técnica em Habitação como Lei Federal desde 2008, os arquitetos passam, em tese, a ter mais autonomia no processo de projeto e conseguem incorporar de maneira aguda as questões colocadas pelos moradores com o intuito de absorver suas demandas no processo de projeto.

União da Juta. Uma das primeiras experiências com ATHIS desenvolvida pela USINA CTAH. Fonte: Usina: Entre o projeto e o canteiro, 2014.

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APROXIMAÇÃO COM A CIDADE SÃO CARLOS-SP

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O Município de São Carlos está situado a 236 km da capital São Paulo e tem seu desenvolvimento originalmente associado à economia do café a partir de meados do século XIX. Esse ciclo econômico ganhou força a partir da construção de ferrovias, que distribuíam a produção para os portos e desempenharam um papel decisivo da estruturação do território paulista. A morfologia em grade proposta originalmente para a cidade denota a presença de um plano elaborado a partir de paradigmas da época: a técnica traçava malha ortogonal sobre terreno com aclives e declives, com clara intenção de regulação do território. Os córregos presentes nesse sítio, assim como o limite imposto pela linha férrea que serpenteava buscando cotas apropriadas, resultaram num desenho de morfologias justapostas. Os rios e os trilhos, limites naturais e artificiais alteravam a disposição das ruas, truncando a continuidade do traçado regular, contribuindo assim na conformação de bairros com distintas ocupações.

O crescimento urbano da cidade também parece ter seguido a lógica de expansão da maior parte dos municípios brasileiros: glebas de terra postas a parcelamento quando da proximidade com a cidade; trechos de terra deixados no meio do caminho à espera de valorização para entrada no jogo urbano em melhores condições de valor (ROLNIK, 2003).

HISTORIOGRAFIA As décadas de 50 e 70 foram marcadas pelo aumento considerável da população, que resultou na expansão da cidade em todas as direções, sendo que no início da formação da cidade a população se concentrava nas áreas centrais. Em 1953 foi criada na cidade a Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, em 1968 foi criada a Universidade Federal de São Carlos, além de outras universidades particulares (Faculdades Integradas São Carlos, criada em 1964, e 14


Centro Universitário Central Paulista, implantado em 1972). Isso contribuiu fortemente para o desenvolvimento urbano,tecnológico e educacional de São Carlos e para o aumento das migrações. Na década de 1970, a expansão urbana se deu de maneira mais fragmentada, constituindo os bairros periféricos habitados pela população de baixa renda. Os principais vetores de expansão, definidos pelo Plano Diretor de São Carlos, são em direção oeste e norte, sendo que as regiões leste e sul não são adequadas para a ocupação urbana, devido ao solo frágil com grande capacidade erosiva. Na região sudeste, localiza-se a Área de Proteção Ambiental do Corumbataí, e na região leste, a Área de Proteção da Bacia do Feijão. As regiões oeste e norte apresentam características ambientais e físicas propícias para a expansão urbana. Na região oeste existe a presença de elementos que atraem os interesses da especulação imobiliária, como o Shopping Center Iguatemi.

Fonte: POLI, M.N. (2004). Elaboração do autor

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A região norte é marcada pela presença de grandes industrias como a Eletrolux e a Tecumseh, além do campus da Universidade Federal de São Carlos, o Centro Tecnológico da TAM e os empreendimentos imobiliários da urbanizadora Damha, que consistem em condomínios residenciais fechados, centro de compras e o maior parque urbano do município, considerado também o maior parque privado da região.


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LEITURA DO TERRITÓRIO Cidade Área de Intervenção Ocupação em busca de um sonho

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Mancha Urbana ao longo do tempo

Decréscimo e acréscimo populacional

Decréscimo >19% Decréscimo <19% Acréscimo <30% Acréscimo de 31% a 80% Acréscimo de 51% a 80% Acréscimo >80%

Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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A urbanização de São Carlos foi rápida, espontânea e de forma não planejada. É ímpar destacar que tal dinâmica seguiu o “processo de fracionamento da terra por proprietários imobiliários motivados em transformar parcelas territoriais em valor monetário” (DEVESCOVI, 1987, p.181). De acordo com os registros, a urbanização se deu através do centro em direção às bordas da cidade, tal processo resultou em grandes parcelas do território que são ocupadas por edificações precárias e conjuntos habitacionais extensos e distantes das principais centralidades da cidade. Os vetores de expansão urbana da cidade demonstram uma contradição do Plano Diretor com a realidade, tendo em vista que a mancha urbana cresce em direção sul, refletindo em um isolamento dessa parcela do restante da cidade. Nas chamadas “bordas” da cidade, amplia-se o crescimento desordenado dos bairros periféricos nas proximidades de cursos d´água. No segundo mapa, a cor mais escura representa que o acréscimo populacional nesse trecho foi superior a 80%, o que reforça que a expansão urbana continua em sentido ao sul da cidade.

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Padrão Habitacional

Renda

hab/salários mínimos

0a2 2a5 5 a 10 10 a 20 20 ou mais Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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No primeiro mapa estão indicados em azul as áreas com edificações populares e essa mesma região no segundo mapa corresponde a maior taxa de acréscimo populacionalEssa mesma parcela da população de baixa renda e que residem em más condições está relativamente distante , e depende do transporte público para ter acesso aos serviços e aos seus empregos.O processo de espraiamento da cidade direciona a necessidade em construir novos equipamentos para atender a população mais afastada.

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Áres especiais de interesse social

Vazios Urbanos

Vazios Urbanos Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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Na primeira cartografia, a mancha em laranja indicada como Zona 3 descrita como recuperação e ocupação controlada corresponde a parcela da cidade caracterizada por uma intensa segregação socio espacial. Ainda assim, essa área sofre uma urbanização constante, decorrente dos interesses imobiliários de ocupação do centro. Outra característica da área é a presença de dois empreendimentos do programa Minha Casa Minha Vida faixa um, que indicam que os eixos de expansão podem seguir, muitas vezes, manobras políticas e econômicas. Em vermelho, no segundo mapa, estão indicadas áreas consideradas vazios urbanos. Nota-se que a maioria dessas áreas estão distribuídas nas bordas da cidade e grande parte na parcela sul da mancha urbana. Esse fator evidencia ainda mais que a questão habitacional também é reflexo de uma política pública ineficente, na medida em que propõe ocupar novas áreas ao invés de estabelecer uma combinação de diretrizes que proponha usos para as grandes parcelas de solo não utilizadas mais próximas do centro da cidade.

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Equipamentos públicos linhas de ônibus + pólos de precariedade

Ocupações e assentamentos irregulares

Pólos de precariedade Cultura Educação Saúde

1-Ocupação em Busca de Um Sonho 2-Assentamento Nova São Carlos 3-Assentamento Capão das Antas Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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De acordo com o levantamento do PLHIS (Plano Local de Habitação de Interesse Social) são considerados pólos de precariedade áreas com escassez de infraestrutura urbana e com poucas condições habitacionais. Através dessa sobreposição de cartografia fica evidente que apesar da presença de inúmeros equipamentos e linhas de ônibus no bairro Cidade Aracy, a área é considerada um pólo de precariedade. Em sobreposição à cartografia das áreas de precariedade, estão sinalizadas 3 das principais ocupações irregulares na cidade. Tais ocupações foram assim sinalizadas de acordo com suas situações de inadequação fundiária. 1- Ocupação em Busca de Um Sonho 2- Assentamento Nova São Carlos 3- Assentamento Capão das Antas

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Polos de emprego

Aglomeração intramuros

Indústrias e comércios

Condomínios de Alto/Médio padrão Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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As centralidades com a presença de indústrias e pólos de emprego estão distribuídas quase sempre na região central da cidade, o que agrava ainda mais as questões que envolvem a mobilidade das áreas mais afastadas, principalmente no eixo sul da mancha urbana. A marcação das aglomerações intramuros espacializam a localização dos condomínios fechados na cidade. Essa cartografia reforça o processo de segregação socio espacial presente e destaca que no eixo sul da cidade não há nenhum condomínio de alto/médio padrão, pelo contrário, essa parcela da cidade é marcada por programas habitacionais massivos e por novas ocupações .

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LEITURA DO TERRITÓRIO Cidade Área de Intervenção Ocupação em busca de um sonho

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2010

2004


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2018

2013


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Plano original para o bairro e processo de regularização

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No plano de loteamento original da década de 80, está proposto um conjunto de espaços destinados a um sistema de lazer. Em grande parte, esses espaços não foram construídos e o que é evidente na área são grandes parcelas sem nenhum uso ou muitas vezes ocupadas como espaços de estar pelos própios moradores com mobiliários improvisados.

Fonte: Acervo pessoal. Junho de 2018. Fonte: Secretaria de Planejamento da Cidade de São Carlos.

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Já em 2004, posteriormente ao processo de regularização do bairro, nota-se a implantação de um conjunto de equipamentos públicos de educação e saúde. Esse fator comprova que muitas vezes os índices urbanísticos podem ser enganosos, à medida que, mesmo com a presença de equipamentos de uso público, a região do Cidade Aracy ainda possui uma baixa infraestrutura urbana. Ao falar do acesso a cidade é indispensável abordar as ruas, não apenas como caminhos e tráfego, mas como espaço público e espaço urbano por excelência. Na área de intervenção, as ruas funcionam como uma extensão da casa e são apropriadas pelos moradores como um espaço de convívio coletivo. A situação das ruas em 2001 é marcada pela ausência de pavimentação. Algumas das ruas sinalizadas já foram pavimentadas atualmente, porém a principal via de ligação com a cidade permanece como um caminho de terra.

Fonte: Google Street View

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Horta da Dona Sueli. Rua Pedro de Paula, Cidade Aracy. Fonte: Acervo pessoal, Junho de 2018

Outro aspecto relevante do plano de regularização é a definição de uma área para uma Horta Comunitária. Isso mostra que houve uma leitura preliminar dos usos e das atividades que os moradores desenvolvem nessa área. A horta não foi implementada, porém vários terrenos são utilizados atualmente pelos moradores para atividades agrícolas.

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Densidade

Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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Equipamentos e linhas de ônibus

Fonte: elaborado a partir do Plano Diretor Estratégico do Município de São Carlos.

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LEITURA DO TERRITÓRIO Cidade Área de Intervenção Ocupação em busca de um sonho

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Usos segundo o Plano Diretor EstratĂŠgico

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Usos Existentes

Caminho de terra Área usada como quadra Atividade agrícola Área verde não utilizada Equipamentos públicos existentes Residencial Ocupação com 134 famílias Marcenaria coletiva e centro de reuniões

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Equipamentos Públicos

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Precariedade

AEIS

Vazios

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AÇÕES PROJETUAIS

1

Promover a conexão da área com a malha urbana existente

2

Requalificar os espaços de sociabilidade já existentes

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3

Reassentamento das 134 famílias da ocupação


4

Propor novos edíficios de uso institucional

5

Promover novos espaços públicos de qualidade

50

6

Novos polos de comércio e serviços


INSTRUMENTOS PROJETUAIS

Diversidade de soluções tipológicas

Fachada ativa (térreo comercial/serviços)

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Espaços públicos (praças)

Hortas Comunitárias

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DIRETRIZES GERAIS

Hortas Comunitárias Novos Comércios Uso Institucional Lazer e esporte Habitação

Ocupação em Busca de um Sonho Linha de ônibus existente Nova via

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Plano geral de urbanização A primeira manifestação das intenções de projeto acontece através da espacialização dos usos existentes na área em conjunto com as percepções das dinâmicas do lugar. Todas essas diretrizes gerais estão ancoradas pela conexão viária ao restante da cidade de São Carlos, que permite pensar um novo padrão urbano. O bairro deixa de ser borda e passa a ser conexão com a mancha urbana. Uma das caraterísticas mais marcantes da região sul da cidade, mais especificamente do bairro Cidade Aracy, é a ausência de infraestrutura urbana somada a grandes porções de espaço público subutilizados. A produção da moradia nessa área, em grande parte, foi realizada através de autoconstrução em condições precárias de habitabilidade.Em suma, as principais ações são no sentido de promover novos usos para essa área valorizando as pré-existências e aos espaços de sociabilidade que resistiram a todo o processo de urbanização do bairro. Outro aspecto fundamental foi pensar o reassentamento de modo que as novas tipologias ocupassem espaços não utilizados da área de intervenção, no intuito de fortalecer ainda mais as pré-existencias.

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REASSENTAMENTO

Área da Ocupação em Busca de um Sonho

Área destinada ao reassentamento

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Diretrizes Gerais A Ocupação em Busca de um Sonho é formada por 134 famílias que ocupam o terreno destinado ao uso institucional desde 2013. As moradias são improvisadas com papelão e madeira e as instalações hidráulicas e elétricas são irregulares. A escolha dos terrenos destinados ao reassentamento é feita no sentido de ocupar e qualificar áreas inutilizadas pelos moradores e pelo poder público. Os três terrenos escolhidos estão implantados em meio a um sistema viário já consolidado que facilita a mobilidade das moradias e o acessos aos serviços de coleta de lixo e saneamento. A proposta do reassentamento se justifica a partir da busca por uma pluraridade de usos em uma mesma área, o que modifica a lógica monofuncional do lugar. É proposto, ainda, qualificar a área no sentido de criar de novas centralidades de uso institucional, o que indica um aumento a abrangência da intervenção para além da área imediata do Antenor Garcia.

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INSERÇÃO URBANA

UPA Vila Prado

SESI

Residencial Jd. Zavaglia Global Pet Reciclagem

De Car Automóveis

Antenor Garcia

Cidade Aracy

Residencial Planalto Verde

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Viagens realizadas de carro todo dia Fonte: Revisão do Plano Diretor do Município de São Carlos, 2011

Linha de ônibus existente Nova linha de ônibus Novo ponto de ônibus Ponto de ônibus existente

Viagens realizadas de ônibus todo dia Fonte: Revisão do Plano Diretor do Município de São Carlos, 2011

Partindo do príncipio que a mobilidade urbana envolve a ideia de acesso aos pólos de emprego e serviçoes de um lugar, é fundamental estabalecer uma conexão direta da área de intervenção com o restante da cidade de São Carlos. Essa conexão se dá principalmente através do transporte público e é um fator determinante para o desencadeamento das ações projetuais. Assume-se também como uma diretriz de mobilidade, a criação de uma via que integra uma nova linha de ônibus com um ponto de espera.

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PROPOSTA

Mobilidade

Via compartilhada Vias locais Linha de Ă´nibus

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Antenor Garcia

Cidade Aracy Novo traçado viário

Antenor Garcia

Cidade Aracy Novo Ponto de ônibus

Cidade Aracy Novos percursos a pé

Entende-se a rua não só como uma ferramenta de mobilidade mas também como um espaço público de convívio, onde os moradores podem existir de maneira diversa. Nas áreas mais precárias das cidades, as ruas funcionam como uma extensão da moradia e possuem um uso vital a dinâmica do lugar. Esse aspecto é visível na área e orna-se claro que apenas propor novas conexões não basta; é imprescindivel pensar esse novo lugar associado a um sistema viário de qualidade. A autora Jane Jacobs procura explicar a importância da vida nas ruas e calçadas na constituição de um ambiente urbano dinâmico e rico em experiências de sociabilidade. Residencialda cidade, a rua e a calçada, Residencial Residencial Tais elementos não tem como único objetivo a circulação, Planalto Verde Planalto Verde Planalto Verde mas também permitem a percepção do ambiente habitado e suas características tasis como segurança e contato com o desconhecido. Desse modo, Jacobs propõe a desconstrução do imaginário que associa o perigoso ao desconhecido, a partir da análise de cidades norte-americanas. Apesar dessa leitura possuir um recorte específico de tempo e espaço, é possível apreender estes conceitos explicitados pela autora de modo a relacioná-los com um contexto urbano geral e desdobrá-los para esta situação específica. 61


PROPOSTA 4

Uso institucional 1.Restaurante comunitário 2.Centro comunitário 3.Centro de Referência da Mulher 4.Clube de Mães 5.EJA

3 1

Uso dos

5 2

Uso Misto Uso Residencial Tipo 1 Uso Residencial Tipo 2 Uso Residencial Tipo 3

62


Corte Área total da intervenção: 33.252m2 Densidade: 161 hab/ha

10m

5m

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PROPOSTA

2

Espaços livres

1

Uso do Centro Comunitário Uso das hortas comunitárias Uso da privado dos moradores Uso público

Ruas

64


Centro Comunitário

Requalificação da área de lazer

1 65

2


HORTAS

PROPOSTA

Horta comunitรกria

Hortas Comunitรกrias

66


PRODUÇÃO AGRÍCOLA LOCAL COMO POLÍTICA PÚBLICA Horta comunitária

Espaços de permanência 67

Moradia

Comércio

Fluxos de pedestre


PROPOSTA 1

Novas vias

2

3

Novas vias compartilhadas Linha de Ă´nibus Via local existente Caminhos peatonais Novo ponto de Ă´nibus

68


1

2

3 69


Corte

10m

5m

70


Uso dos edifĂ­cios

Uso Misto

RECORTE

Uso Residencial Tipologia 1 Uso Residencial Tipologia 2 Uso Residencial Tipologia 3

71


Espaços livres

RECORTE

Uso das hortas comunitárias Uso da privado dos moradores Uso público

Ruas

72


73


RECORTE

Tipologias

Uso Misto Uso Residencial Tipologia 1 Uso Residencial Tipologia 2 Uso Residencial Tipologia 3

74


Multifamiliar vertical Uso misto Unidades de 50 m²

Trecho 1 TO: 35% | CA: 0,98 60 unidades de 50 m² sendo 9 destinadas a uso comercial 14 unidades de 60 m² (tipologia casa isolada)

Unifamiliar horizontal casa isolada

140 unidades

60 m²

Trecho 2 TO: 28% | CA: 0,58 16 unidades de 50 m² sendo 4 destinadas á uso comercial 6 unidades de 60 m² (tipologia casa isolada) 12 unidades sobrepostas

Unidade sobreposta 50 m2 Trecho 3 TO: 21% | CA: 0,29 12 unidades de 50 m² sendo 3 destinadas á uso comercial 9 unidades de 60 m² (tipologia casa isolada) 12 unidades sobrepostas 75


Novas vias

RECORTE

Novas vias compartilhadas Via local existente Caminhos peatonais

76


Via compartilhada

Via exclusiva para pedestres

Esquema do uso de bolsões Fonte: Guia de boas práticas para os espaços públicos da cidade de Sâo Paulo, 2016

77


Corte

Edifício Uso Misto

10m

Escola de Jovens e Adultos

5m

78

Clube de Mães


79


RECORTE

Proposta do Trecho 1

10m

80

5m


Corte do Trecho 1

10m

5m

81


Corte

Espaço de estar entre o edíficio e a Escola

10m

5m

82


83


RECORTE

Proposta do trecho 2

10m

84

5m


Corte do trecho 2

10m

5m

85


Corte

Espaço de estar entre o edíficio e a Escola

10m

5m

86


87


RECORTE

Proposta do trecho 3

10m

88

5m


Corte do trecho 3

10m

5m

89


90


Corte do Trecho 3

10m

5m

91


TIPOLOGIA

Aproximações Projetuais Casa sobreposta

92


Planta de pavimento superior

5m

Elevação esquemática

2,5m

93


TIPOLOGIA

Aproximações Projetuais

94


Planta Pavimento Tipo

Planta Térreo (uso comercial) Elevação esquemática 10m

5m 95


Referências Bibliográficas BONDUKI, N. Os pioneiros da habitação social – cem anos de política pública no Brasil. Editora UNESP. São Paulo –SP. 2014 BORTOLUCCI, M.A.P.C.S. MORADIAS URBANAS construídas em São Carlos no período cafeeiro. Tese (doutorado em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1991. DEVESCOVI, R. C. B. Urbanização e Acumulação: Um estudo sobre a cidade de São Carlos. Arquivo de História Contemporânea – UFSCar, São Carlos, 1987 FERREIRA, Regina Fátima Cordeiro Fonseca. Movimentos de moradia,autogestão e política habitacional no Brasil: do acesso à moradia ao direito cidade. II Fórum de Sociologia Justiça Social e Democratização. Buenos Aires,v. 1, 2012. FIORI, Daniela Sarone; NEGRELOS, Eulalia Portela. Políticas de habitação social: permanência de tipologias em um século de experiências – um estudo em São Carlos. Anais.. São Paulo: USP/Pró-Reitoria de Pesquisa, 2017. GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2. ed. São Paulo:edusp, 1997. HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo.São Paulo: Boitempo, 2011. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003. GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. 2. ed. São Paulo:Edusp, 1997. HARVEY, David. O enigma do capital e as crises do capitalismo.São Paulo: Boitempo, 2011. HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento. A gramática moral dos conflitos sociais. São Paulo: Editora 34, 2003.

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